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A CONDIÇÃO JURÍDICA DO
TRABALHADOR IMIGRANTE NO
DIREITO BRASILEIRO
BELO HORIZONTE
FACULDADE DE DIREITO DA UFMG
JULHO DE 2010
PEDRO AUGUSTO GRAVATÁ NICOLI
A CONDIÇÃO JURÍDICA DO
TRABALHADOR IMIGRANTE NO
DIREITO BRASILEIRO
BELO HORIZONTE
FACULDADE DE DIREITO DA UFMG
JULHO DE 2010
A dissertação intitulada A condição jurídica do trabalhador imigrante no Direito brasileiro, de
autoria do mestrando PEDRO AUGUSTO GRAVATÁ NICOLI, foi considerada
________________________ pela banca examinadora, composta pelos seguintes
Professores Doutores:
__________________________________________________
PROFESSORA DOUTORA GABRIELA NEVES DELGADO
__________________________________________________
__________________________________________________
Aos meus pais, FERNANDO e LETÍCIA,
com amor e gratidão infinitos.
AGRADECIMENTOS
Aos Professores, funcionários, colegas e alunos da Faculdade de Direito da
Universidade Federal de Minas Gerais, em especial do Programa de Pós-Graduação
em Direito, por me proporcionarem anos de rico debate e momentos intensos.
Aos meus amigos tão queridos, que me ajudam de todas as formas e fazem
de mim uma pessoa melhor, com meu sincero amor e gratidão, em especial ao
THIAGO, meu irmão para toda vida, PAULA GABRIELA, MARCELO CAETANO,
CRISTIAN, GLÁUCIA e MARIA CLARA.
CAROLINA, por agregarem tanto à nossa vida e se fazerem verdadeira irmãs. E, em
especial à minha irmã RENATA, alma das mais virtuosas que conheço, a quem
devoto toda a minha admiração e respeito, com amor profundo.
RESUMO
ABSTRACT
This research deals with the legal condition of migrant workers under Brazilian Law,
addressing the main aspects concerning the treatment given to them by Labor Law.
Based upon the idea of universalizing the protection of labor — conceived in the
philosophical framework of the human dignity — it is postulated that immigrants,
either regular or irregular in terms of immigration status, deserve legal protection as
to the work by them performed. Then, the main legal guidelines at the international
level on the protection of labor, nondiscrimination and specific regulation of the
migration issue are analyzed. Additionally, the history of the formation of the
normative standards in Brazilian on that subject is examined, under the influence of
migration flows to Brazil over time, besides the current regulatory framework of
migration. Emphasis is given to the so-called undocumented immigrants, to reach
the conclusion that the labor protection is mandatory, under the light of the
international norms and through the total incidence of the Labor Law theory of
nullities to the employment contracts entered into by them. Still regarding the
undocumented migrants, the need to combat trafficking and smuggling of persons
and migrants is analyzed, and also forced labor. It is reasserted, then, the necessary
protection of the dignity of workers, which cannot be postponed.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 02
CAPÍTULO I
REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE A CONDIÇÃO DE IMIGRANTE
E A FORMAÇÃO DAS BASES JURÍDICAS DE PROTEÇÃO
AO TRABALHO POR ELE PRESTADO............................................................... 07
CAPÍTULO II
OS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA PROTEÇÃO
AO TRABALHADOR IMIGRANTE........................................................................ 34
6. AS NORMAS INTERNACIONAIS ESPECÍFICAS DE PROTEÇÃO AO IMIGRANTE ..... 53
6.1. Proteção ao imigrante no âmbito da Organização das Nações Unidas........ 57
6.2. Proteção ao trabalhador imigrante no âmbito da Organização
Internacional do Trabalho ................................................................................... 63
6.2.1. A Convenção n. 97 da OIT: não discriminação dos imigrantes em
condição de regularidade ................................................................................... 65
6.2.2. A Convenção n. 143 da OIT: proteção de todos os trabalhadores
migrantes ............................................................................................................. 67
6.3. Instrumentos regionais de proteção ao imigrante ............................................ 71
CAPÍTULO III
A IMIGRAÇÃO DE TRABALHADORES PARA O BRASIL .......................... 73
CAPÍTULO IV
A PROTEÇÃO JUSTRABALHISTA DO IMIGRANTE EM
CONDIÇÃO DE LEGALIDADE ............................................................................ 103
CAPÍTULO V
O TRATAMENTO JUSTRABALHISTA DO IMIGRANTE
EM CONDIÇÃO DE IRREGULARIDADE NO BRASIL ............................. 149
17. TRÁFICO DE PESSOAS E TRÁFICO DE IMIGRANTES NO CONTEXTO DAS
IMIGRAÇÕES IRREGULARES ...................................................................................... 166
“Quando vim da minha terra, Rígida cerca de arame,
Se é que vim da minha terra Na mais anônima célula,
(não estou morto por lá?), E um chão, um riso, uma voz
a correnteza do rio Ressoam incessantemente
me sussurrou vagamente Em nossas fundas paredes.
que eu havia de quedar Novas coisas, sucedendo-se,
lá donde me despedia. Iludem a nossa fome
Os morros, empalidecidos De primitivo alimento.
No entrecerrar-se da tarde, As descobertas são máscaras
Pareciam me dizer Do mais obscuro real,
Que não se pode voltar, Essa ferida alastrada
Porque tudo é conseqüência Na pele de nossas almas.
De um certo nascer ali. Quando vim da minha terra,
Quando vim, se é que vim Não vim, perdi-me no espaço,
De algum para outro lugar, Na ilusão de ter saído.
O mundo girava, alheio Ai de mim, nunca saí.
À minha baça pessoa, Lá estou eu, enterrado
E no seu giro entrevi Por baixo de falas mansas,
Que não se vai nem se volta Por baixo de negras sombras,
De sitio algum a nenhum. Por baixo de lavras de ouro,
Que carregamos as coisas, Por baixo de gerações,
Moldura da nossa vida, Por baixo, eu sei, de mim mesmo,
Estive vivente enganando, enganoso”.
INTRODUÇÃO
2
cruzadas quase sempre no intento da busca por melhores condições de vida, o que
é, regra geral, mediado pelo trabalho. Isso porque, afinal, o trabalho é a alavanca de
todas as realizações daquilo que se pode denominar “cultura humana”, como bem
pontua ANTÔNIO ÁLVARES DA SILVA2.
2 SILVA, Antônio Álvares da. Flexibilização das relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p. 19.
3
4
3 Cf. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Voto concorrente. In CORTE
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Condición jurídica y derechos de los
migrantes indocumentados. Opinião consultiva OC-18/03. São José da Costa Rica, 17 de setembro
de 2003. Disponível em http://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_18_esp.pdf. Acesso em
14 de abril de 2010.
5
4 DELGADO, Mauricio Godinho. Capitalismo, trabalho e emprego: entre o paradigma da destruição e
jurisdicional. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, Campo Grande, 13, p. 17-35, 2008,
p. 34.
6
CAPÍTULO I
REFLEXÕES FILOSÓFICAS SOBRE A CONDIÇÃO DE IMIGRANTE E
A FORMAÇÃO DAS BASES JURÍDICAS DE PROTEÇÃO AO
TRABALHO POR ELE PRESTADO
1. A CONDIÇÃO DE IMIGRANTE
7
Teresa (orgs.). Políticas migratórias: fronteiras dos direitos humanos no século XXI. Rio de Janeiro:
Renovar, 2003, p. 02.
7 Aponta CRISTIANE MARIA SBALQUEIRO LOPES que a nacionalidade não é necessariamente o
8
8 CARVALHO, Aluísio Dardeau de. Situação jurídica do estrangeiro no Brasil. São Paulo: Sugestões
9
diagrama de interações com o país que receptor, diagrama este que é muito mais
complexo para com os imigrantes do que com os estrangeiros em geral.
10
11 TEXIDÓ, Ezequiel, BAER, Gladys. Inserción sociolaboral de los migrantes. In TEXIDÓ,
11
12
14 SAYAD, A imigração ou os paradoxos da alteridade, cit., p. 54-55.
15 Cf. CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Voto concorrente. In CORTE
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Condición jurídica y derechos de los
migrantes indocumentados. Opinião consultiva OC-18/03. São José da Costa Rica, 17 de setembro
de 2003. Disponível em http://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_18_esp.pdf. Acesso em
14 de abril de 2010. No original: “Los migrantes (...) se encuentran frecuentemente en una situación
de gran vulnerabilidad, ante el riesgo del empleo precario (en la llamada ‘economía informal’), de la
explotación laboral, del propio desempleo y la perpetuación en la pobreza (también en el país
receptor)”. Tradução do autor.
13
16 O quadro do desemprego em massa, na lição de ANTÔNIO ÁLVARES DA SILVA, atinge
especialmente a mão de obra sem qualificação, que, por muitas vezes, é aquela que atravessa
fronteiras nacionais em busca de melhores oportunidades de trabalho. Nesse sentido, pontifica o
autor que “quanto mais rude e desqualificado é o trabalhador, mais difícil se torna a sua
permanência ou, se dispensado, sua volta ao mercado de trabalho”. Consultar: SILVA, Antônio
Álvares da. Flexibilização das relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p. 37.
17 Atualizando o conceito marxiano de proletariado ou classe trabalhadora, RICARDO ANTUNES fala
sus derechos. Valencia: Germania Serveis Gráfics, 2001, p. 56, apud LOPES, O direito do estrangeiro
numa perspectiva de Direitos Humanos, cit., p. 45. No original: “la verdad es que el test de la integración
[do imigrante] es el reconocimiento de los derechos: cuando los inmigrantes tienen derechos, se
integran”. Tradução do autor.
14
19 O tema da regularidade x irregularidade será detalhadamente abordado nos capítulos IV e V da
15
20 LOPES, O direito do estrangeiro numa perspectiva de Direitos Humanos, cit., p. 35.
21 PASPALANOVA, Mila. Undocumented vs. illegal migrant: towards terminological coherence.
16
O que resta claro, desde já, é que para o esboço de qualquer resposta à
pergunta que inaugura o presente capítulo (“o que é um imigrante?”), ao mesmo
tempo em que se que se trabalha numa zona conceitual clara (i.e., o imigrante é um
estrangeiro que permanece no país de destino), desvelam-se as complexidades do
tema. O estudo jurídico do trabalho prestado por imigrante, portanto, receberá
influxos destas intrincadas ligações, o que se refletirá numa regulação por vezes
problemática.
17
22 O termo alteridade é tomado, aqui, e ao longo de todo o presente estudo, em sua ampla acepção
filosófica (como referência genérica “ao outro”), e não no jargão clássico do Direito do Trabalho
(como característica específica do contrato de emprego, no qual, segundo ALICE MONTEIRO DE
BARROS, “o empregado desempenha suas tarefas por conta alheia”). Vide BARROS, Alice
Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p. 215.
23 Do jurisconsulto CELSO, citado por ULPIANO, em 533 d.C., no Livro I do Digesto de
JUSTINIANO.
24 ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. Trad. Alfredo Bossi. 5. ed. São Paulo: Martins
18
excelentes são aqueles que são livres, isto é, aqueles que não dependem de outros para existir e que
19
A justiça em sentido amplo é a própria virtude, a ser implantada pela lei que
promove o bem comum. Na apresentação da justiça lato sensu, em sua Ética a
Nicômaco, ARISTÓTELES já enfatiza o seu caráter relacional e prático:
têm em si mesmos seu próprio fim. (...) São mais excelentes as ações cujo fim se encontra nelas
mesmas e menos excelentes aquelas cujo fim lhe é exterior”. Consultar: CHAUI, Marilena.
Introdução à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Aristóteles. 2. ed. Vol. 1. São Paulo: Companhia
das Letras, 2002, p. 332.
26 Sobre as virtudes éticas no sistema aristotélico, diz GIOVANNI REALE: “As virtudes éticas
derivam em nós do hábito (...). Realizando atos justos tornamo-nos justos, adquirimos a virtude da
justiça, que, depois, permanece em nós como um habitus”. REALE, Giovanni. História da Filosofia
antiga. Vol. 2. Trad. Henrique Cláudio de Lima Vaz e Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 1994, p.
413.
27 ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2005, 1129b,
29.
28 SALGADO, Joaquim Carlos. A idéia de justiça em Kant: seu fundamento na liberdade e na
20
21
32 LÉVINAS, Emmanuel. Humanismo do outro homem. Trad. Pergentino Stefano Pivatto. Petrópolis:
22
34 MELO, Nélio Vieira de. A ética da alteridade em Emmanuel Lévinas. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2003, p. 284.
35 LÉVINAS, Entre nós, cit., p. 294.
23
36 A reflexão sobre a alteridade atinge tanto aos estrangeiros quanto aos imigrantes. A distinção
entre os dois conceitos, contudo, é bem marcada, como visto neste capítulo. Relembre-se, por
oportuno, a lição de ABDELMALEK SAYAD, que sintetiza: “um estrangeiro, segundo a definição do
termo, é estrangeiro, claro, até as fronteiras; continua sendo estrangeiro enquanto puder
permanecer no país. Um imigrante é estrangeiro, claro, até as fronteiras, mas apenas até as
fronteiras. Depois que passou a fronteira deixa de ser um estrangeiro comum para tornar-se um
imigrante. Se ‘estrangeiro’ é a definição jurídica de um estatuto, ‘imigrante’ é antes de tudo uma
condição social”. Consultar: SAYAD, A imigração ou os paradoxos da alteridade, cit., p. 243.
37 ARISTÓTELES, Ética a Nicômaco, cit., 1130a.
24
25
40 O tema da nulidade dos contratos de emprego celebrados por imigrantes em condição de
26
não se convence do argumento corriqueiro (...) de que todo homem é livre e igual, capaz em
direitos e obrigações, por isso apto a celebrar e cumprir o contrato que desejar com as cláusulas que
bem entender (...). Para se ter uma serena compreensão, lúcida e honesta, não se pode desprezar a
certeza de que a parte mais fraca se torna uma presa muito fácil para a parte mais forte”. Consultar:
RENAULT, Luiz Otávio Linhares. Que é isto – O Direito do Trabalho? In PIMENTA, José
Roberto Freire et al. Direito do Trabalho: evolução, crise, perspectivas. São Paulo: LTr, 2004.
42 A reflexão está contida essencialmente na obra Direito fundamental ao trabalho digno. Cf.
DELGADO, Gabriela Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. São Paulo: LTr, 2006.
27
43 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 236.
44 SILVA, Flexibilização das relações de trabalho, cit., p. 19.
45 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 23.
28
valor “essencial para o trabalho humano sob qualquer uma de suas formas e em
qualquer processo histórico”46.
46 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 242.
47 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 26.
48 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 26.
49 DELGADO, Gabriela Neves. O trabalho digno enquanto suporte de valor, Âmbito Jurídico, Rio
29
51 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 26.
52 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 71.
53 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 207.
54 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 214.
30
Ressalta a autora que tais direitos devem ser deferidos de maneira irrestrita,
firmando “expectativa de regulamentação de toda e qualquer relação de trabalho que
se demonstre digna, por meio da universalização da proteção direcionada pelo
Direito do Trabalho”57. As únicas exclusões aceitáveis, ainda segundo GABRIELA
NEVES DELGADO, são aquelas referidas “às relações de trabalho que não sejam
capazes de dignificar o homem”58, como, por exemplo, o trabalho escravo.
55 DELGADO, Direito fundamental ao trabalho digno, cit., p. 214-215.
56 A proposição dos eixos de direitos trabalhistas de indisponibilidade absoluta encontra-se na obra
31
do que justificada está a não proteção do dispêndio de energia humana pelo Direito
do Trabalho.
como forma de “trabalho” ou são sujeitos a trabalho em condição análoga à de escravo, temas a
serem tratados no capítulo V. Nessas hipóteses, contudo, não é a situação migratória que elimina o
traço dignificante do trabalho, mas as próprias finalidades a que se dirige ou as condições em que
este é prestado.
32
Feitas estas reflexões acerca das bases jusfilosóficas sobre as quais se erige a
proteção ao trabalhador imigrante, a compreensão das normas que formam o
substrato jurídico propriamente dito dessa proteção se fará de maneira mais
orientada, sem nunca perder de vista o grande panorama no qual se inserem os
diplomas e regulamentos.
61 DELGADO, Gabriela Neves, NUNES, Raquel Portugal. Subterrâneos da imigração. Estado de
33
CAPÍTULO II
OS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA PROTEÇÃO AO TRABALHADOR
IMIGRANTE
62 Noticie-se a controvérsia terminológica em relação às expressões “direitos fundamentais”,
“direitos humanos” e afins, quanto à extensão de seu alcance e significado. Cf., nesse sentido,
SIMM, Zeno. Os direitos fundamentais na relação de trabalho. Revista LTr, São Paulo, v. 69, n. 11,
p. 1287-1303, 2005. De toda sorte, no presente trabalho, serão empregadas as expressões de
34
maneira sinônima, no escólio de DALMO DALLARI, para quem “a expressão ‘direitos humanos’ é
uma forma abreviada de mencionar os direitos fundamentais da pessoa humana”. Sobre tais
direitos, DALLARI ensina que “são considerados fundamentais porque sem eles a pessoa humana
não consegue existir ou não é capaz de se desenvolver e de participar plenamente da vida”.
DALLARI, Dalmo. Direitos humanos: noção e significado. Disponível em
http://www.dhnet.org.br/direitos/textos/oquee/oquedh.htm. Acesso em 22 de fevereiro de 2009.
63 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional positivo. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2001,
p. 289-290.
64 MORAES, Guilherme Peña de. Direito Constitucional: teoria dos direitos fundamentais. Rio de
35
36
67 SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. A Fúria. Revista LTr, São Paulo, v. 66, n. 11, p. 1287-1309, 2002, p.
1289.
68 DELGADO, Mauricio Godinho. Direitos fundamentais na relação de trabalho. In SILVA,
Alessandro da, SOUTO MAIOR, Jorge Luiz, FELIPPE, Kenarik Boujikian, SEMER, Marcelo
(orgs.). Direitos humanos: essência do Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2007, p. 67-68.
69 Não se ignora, aqui, o momento de crise e transição pelo qual vem passando o Direito do
Trabalho desde a década de 1970 em todo o mundo. O que se está a afirmar é que no Estado
Democrático de Direito, as bases axiológicas da proteção ao trabalho estão decantadas e formou-se
um robusto conjunto normativo a encampá-la, tanto no plano internacional quanto nas ordens
constitucionais.
37
Esclareça-se, aqui, que os direitos sociais (que por vezes são evocados
também pela alcunha amplificada de direitos econômicos, sociais e culturais) não
contemplam tão somente os direitos afetos ao trabalho. Divergem os autores
quanto à extensão desta categoria de direitos71, incluindo, por vezes, direitos
atinentes à educação, saúde, lazer, desporto, turismo, entre outros. Reconhecem,
contudo, de forma unânime, a centralidade dos direitos trabalhistas, verdadeira
condição para a integralidade de uma existência digna.
direitos sociais vide HORTA, José Luiz Borges. Filosofia dos direitos fundamentais. In
BROCHADO, Mariá, HORTA, José Luiz Borges. Estudos jusfilosóficos: homenagem a Joaquim
Carlos Salgado. (no prelo).
72 SILVA, Curso de Direito Constitucional positivo, cit., p. 185.
38
39
Também nesta linha caminha ZENO SIMM, ao afirmar que “os direitos
fundamentais do trabalhador devem ter a idéia de universalidade, no sentido de serem
atribuídos com características de generalidade a todos os trabalhadores”77.
77 SIMM, Os direitos fundamentais na relação de trabalho, Revista LTr, cit., p. 1303.
78 DELGADO, Gabriela Neves. Princípios internacionais do Direito do Trabalho e do Direito
Previdenciário. Revista LTr, São Paulo, a. 74, t. I, n. 03, p. 337-342, mar. 2010, p. 339.
79 SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr, 2000, p. 17.
40
1992, p. 20.
82 DELGADO, Mauricio Godinho. Direitos fundamentais na relação de trabalho. In SILVA,
41
83 COMPARATO, Fundamentos dos Direitos Humanos, Revista Jurídica Consulex, cit., p. 54.
42
84 O dicionário da língua portuguesa CALDAS AULETE apresenta para o verbete discriminar a
seguinte definição: “diferençar, distinguir, separar, dividir, retalhar. Discernir”. CALDAS AULETE.
Dicionário contemporâneo da Língua Portuguesa. 5. ed. V. II. Rio de Janeiro: Delta, 1986, p. 600.
85 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 774.
86 SCHMIDT, Martha Halfeld Furtado de Mendonça. Proteção contra discriminação por motivo de
orientação sexual. In VIANA, Márcio Túlio, RENAULT, Luiz Otávio Linhares (coords.). O que há
de novo em Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1997, p. 369.
87 SCHMIDT, Proteção contra discriminação por motivo de orientação sexual. In VIANA,
RENAULT, O que há de novo em Direito do Trabalho, cit., p. 369. A autora, em seu texto, trata da
43
discriminação por motivo de orientação sexual. O esquema geral das causas de discriminação,
contudo, aplica-se à situação dos imigrantes.
88 PLÁ RODRIGUEZ, Américo. Princípios de Direito do Trabalho. 3. ed. Trad. Wagner Giglio. São
44
89 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2005, p. 1066-1067.
90 Sobre a relação entre igualdade e não discriminação, explica LUIZ DE PINHO PEDREIRA DA
SILVA: “Em sua face positiva, o princípio da igualdade é constituído (...) por normas que criam aos
destinatários deveres de agir em certos moldes. No princípio da não discriminação se especifica o
da igualdade. Ele é o aspecto negativo do princípio da igualdade”. SILVA, Luiz de Pinho Pedreira
da. Principiologia do Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1997, p. 136.
45
91 Não adentrará o presente estudo na antiga discussão acerca da força normativa da Declaração
Universal dos Direitos do Homem de 1948. A referência a este documento é feita como forma de
evidenciar a abrangência do princípio da não discriminação no plano internacional, o que é
reforçado por diversos outros tratados (Convenções 100 e 111 da OIT, por exemplo) e pelas
Constituições ao redor do mundo. A título de registro, perfilha-se, no presente estudo, da opinião
de FÁBIO KONDER COMPARATO e ANTÔNIO AUGUSTO CANÇADO TRINDADE, que, dentre
muitos outros autores, entendem pela força jurídica dos conteúdos axiológicos plasmados da
Declaração de 1948. Vide, nesse sentido, COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos
Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 210, e CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto.
Reflexões sobre o valor jurídico das Declarações Universal e Americana de Direitos Humanos de
1948 por ocasião de seu quadragésimo aniversário. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v. 99, p.
9-18, 1988, p. 12.
92 Sobre o contexto da edição da Declaração da OIT sobre Princípios e Direitos Fundamentais no
46
47
93 Cf. PIMENTEL, Silvia. Evolução dos direitos da mulher. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1978.
48
Por outro lado, como forma de dar precisão à ideia do que é e do que não é
discriminação vedada pela Convenção, o art. 1º, 2, estabelece que “toda distinção,
exclusão ou preferência com base em qualificações exigidas para um determinado
trabalho, não deverão ser consideradas como discriminação”.
49
94 O Relatório Global de 2003, intitulado “Time for equality at work” (em tradução livre, “tempo de
50
51
97 MURADAS, Contributo ao Direito Internacional do Trabalho, cit., p. 208.
98 SÜSSEKIND, Direito Internacional do Trabalho, cit., p. 363.
52
99 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Voto concorrente. In CORTE INTERAMERICANA
Aconcagua Libros, 2005, p. 26, apud LOPES, O direito do estrangeiro numa perspectiva de Direitos
Humanos, cit., p. 10.
53
protection des travailleurs étrangers a même été considérée à l’origine comme le but essentiel, sinon
exclusif, du droit international ouvrier”. Tradução do autor.
102 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Departamento de Assuntos Econômicos e
Sociais. International migration report 2006: a global assessment. Nova Iorque, 2009. Disponível em
54
55
103 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. A proteção internacional dos direitos humanos:
56
Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias encontra-se no anexo II da presente
pesquisa.
57
Direitos Humanos. Fact sheet n. 24: the rights of migrant workers. Genebra, 2005. Disponível em
http://www.ohchr.org/Documents/Publications/FactSheet24rev.1en.pdf. Acesso em 06 de julho
de 2009. No original: “The Convention opens a new chapter in the history of determining the
rights of migrant workers and ensuring that those rights are protected and respected. It
incorporates the results of over 30 years of discussion, including United Nations human rights
studies, conclusions and recommendations of meetings of experts, and debates and resolutions in
the United Nations on migrant workers”. Tradução do autor.
58
designa o trabalhador migrante que conserva a sua residência habitual num Estado vizinho a que
regressa, em princípio, todos os dias ou, pelo menos, uma vez por semana; b) A expressão
‘trabalhador sazonal’ designa o trabalhador migrante cuja atividade, pela sua natureza, depende de
condições sazonais e só se realiza durante parte do ano; c) A expressão ‘marítimo’, que abrange os
pescadores, designa o trabalhador migrante empregado a bordo de um navio matriculado num
Estado de que não é nacional; d) A expressão ‘trabalhador numa estrutura marítima’ designa o
trabalhador migrante empregado numa estrutura marítima que se encontra sob a jurisdição de um
Estado de que não é nacional; e) A expressão ‘trabalhador itinerante’ designa o trabalhador
59
migrante que, tendo a sua residência habitual num Estado, tem de viajar para outros Estados por
períodos curtos, devido à natureza da sua ocupação; f) A expressão ‘trabalhador vinculado a um
projeto’ designa o trabalhador migrante admitido num Estado de emprego por tempo definido para
trabalhar unicamente num projeto concreto conduzido pelo seu empregador nesse Estado; g) A
expressão ‘trabalhador com emprego específico’ designa o trabalhador migrante: (i) Que tenha sido
enviado pelo seu empregador, por um período limitado e definido, a um Estado de emprego para aí
realizar uma tarefa ou função específica; ou (ii) Que realize, por um período limitado e definido, um
trabalho que exige competências profissionais, comerciais, técnicas ou altamente especializadas de
outra natureza; ou (iii) Que, a pedido do seu empregador no Estado de emprego, realize, por um
período limitado e definido, um trabalho de natureza transitória ou de curta duração; e que deva
deixar o Estado de emprego ao expirar o período autorizado de residência, ou mais cedo, se deixa
de realizar a tarefa ou função específica ou o trabalho inicial; h) A expressão ‘trabalhador
independente’ designa o trabalhador migrante que exerce uma atividade remunerada não submetida
a um contrato de trabalho e que ganha a sua vida através desta atividade, trabalhando normalmente
só ou com membros da sua família, assim como o trabalhador considerado independente pela
legislação aplicável do Estado de emprego ou por acordos bilaterais ou multilaterais”.
60
108 Até julho de 2009, quarenta países haviam ratificado a Convenção Internacional sobre a
Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas Famílias da
ONU: Albânia, Algéria, Argentina, Azerbaijão, Belize, Bolívia, Bósnia Herzegovina, Burkina Faso,
Cabo Verde, Chile, Colômbia, Equador, Egito, El Salvador, Gana, Guatemala, Guiné, Honduras,
Jamaica, Quirguistão, Lesoto, Líbia, Mali, Mauritânia, México, Marrocos, Nicarágua, Nigéria,
Paraguai, Peru, Filipinas, Ruanda, Senegal, Seychelles, Síria, Tadjiquistão, Timor Leste, Turquia,
Uganda, Uruguai. Informação disponível em http://treaties.un.org/Pages/ViewDetails.aspx?src=
TREATY&mtdsg_no=IV-13&chapter=4&lang=en. Acesso em 14 de julho de 2009.
61
alinha à ortodoxia das políticas migratórias dos países que recebem grandes
contingentes de imigrantes, o que explica os baixos níveis de adesão109.
109 Neste sentido, PÉCOUD e GUCHTENEIRE apontam o fator político como determinante na não
adesão à Convenção da ONU. Cf. PÉCOUD, Antoine, GUCHTENEIRE, Paul de. Migration,
human rights and the United Nations: an investigation into the low ratification record of the UN
migrant workers convention. Genebra: UN Global Comission on International Migration, 2004.
110 MILESI, Rosita. Por uma nova lei de migração: a perspectiva dos Direitos Humanos. Instituto
62
111 MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Conselho Nacional de Imigração. Ata da
63
64
_rights.pdf. Acesso em 21 de julho de 2009. No original: “Men and women migrant workers
contribute to development in both countries from which they come and those in which they work.
In countries of origin they contribute to development by alleviating pressures on labour markets, by
sending remittances home, by acquiring increased skills, and by making investments. In countries of
destination, they contribute to development by meeting the demand for workers, by increasing the
demand for goods and services, and by contributing their entrepreneurial skills. These contributions
by migrant workers can only be maximized if they are in a position to develop their potential. This
is closely related to the exercise of labour rights. Development contributions cannot be dissociated
from the protection of migrant workers, as is clear in the two ILO Conventions specifically
dedicated to migrant workers”. Tradução do autor.
114 A regulação migratória brasileira é uma das que ainda contrasta com a pactuação internacional, e
Convenção n. 19, de 1925, que trata da igualdade entre nacionais e estrangeiros em matéria de
indenização por acidentes no trabalho e a Convenção n. 118, de 1962, que trata da igualdade entre
os nacionais e não nacionais em matéria de previdência social.
65
66
117 A íntegra do texto da Convenção n. 143 da OIT encontra-se no anexo I da presente pesquisa.
118 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Trabalho do estrangeiro no Brasil. Boletim do CEDES – Centro de
67
68
A Convenção ainda não foi ratificada pelo Brasil, não sendo, assim, um
instrumento formalmente cogente na ordem jurídica nacional.
payable according to national practice, regardless of whether status was legal or not”. Tradução do
autor.
120 Em julho de 2009, conforme informação no sítio da OIT. Cf. http://www.ilo.org/ilolex/english
considerável de imigrantes. Contudo, apesar de ter ratificado o instrumento, a Itália passa por um
momento de verdadeira contradição na disciplina migratória, ao recrudescer suas normas internas,
chegando a debater criminalmente a questão da imigração irregular.
69
122 Vide notícia no sítio do Ministério do Trabalho e Emprego: http://www.mte.gov.br/
sgcnoticia.asp?IdConteudoNoticia=3732&PalavraChave=imigracao,%20cnig,%20oit. Acesso em 18
de julho de 2009.
123 A própria Organização Internacional do Trabalho já apontou o Brasil como um dos possíveis
Conventions together provide a comprehensive “values-based” definition and legal basis for
national policy and practice regarding non-national migrant workers and their family members.
They thus serve as tools to encourage States to establish or improve national legislation in harmony
with international standards. They are not simply human rights instruments. Numerous provisions
in each add up to a comprehensive agenda for national policy and for consultation and cooperation
among States on labour migration policy formulation, exchange of information, providing
information to migrants, orderly return and reintegration, etc.”. Tradução do autor.
70
71
125 HEYNS, Christof, VILJOEN, Frans. An overview of human rights protection in Africa. South
African Journal on Human Rights, Joanesburgo, vol. 15, parte 3, 1999, p. 423, apud MURADAS,
Contributo ao Direito Internacional do Trabalho, cit., p. 243.
126 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Condición jurídica y derechos de
los migrantes indocumentados. Opinião consultiva OC-18/03. São José da Costa Rica, 17 de
setembro de 2003. Disponível em http://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_18_esp.pdf.
Acesso em 14 de abril de 2010. A decisão será examinada em detalhe no item 18.4 do capítulo IV.
72
CAPÍTULO III
A IMIGRAÇÃO DE TRABALHADORES PARA O BRASIL
“Venha,
venha ser feliz, ah venha
largue seu senhor e venha
venha que o amor só nasce aqui
venha que essa terra é nossa
e o trabalho é bom, sinherê!
Tenha paz no coração, sorria enfim
venha que essa terra é santa
e melhor não há, sinherê!”
127 LOPES, Cristiane Maria Sbalqueiro. O direito do estrangeiro numa perspectiva de Direitos Humanos.
73
74
Dentro de cada uma destas grandes fases, também será proposto um cotejo
com a situação do Direito do Trabalho no país e sua interação, em cada etapa de sua
evolução, com o tema dos imigrantes, dado o foco da presente pesquisa na condição
justrabalhista destes indivíduos.
128 PRUNES, José Luiz Ferreira. Contratos de trabalho de estrangeiros no Brasil e de brasileiros no exterior.
estudo amplo da chamada questão migratória, sendo reducionismo muito recorrente estudá-la
apenas sob a ótica do país receptor. Cf. SAYAD, Abdelmalek. A imigração ou os paradoxos da
alteridade. Trad. Cristina Murachco. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998, p. 14-
15. Frise-se que o presente estudo alinha-se a tal direcionamento, ciente, contudo, da sua estratégia
epistemológica de diagnosticar a situação jurídica (com o correspondente grau de generalidade) do
imigrante no Brasil, o que impedirá um maior aprofundamento no estudo das raízes políticas,
econômicas e sociais da emigração para o Brasil.
130 Despiciendo ressaltar, aqui, que não se pretende esgotar o tema da história da imigração no
Brasil, que conta com uma profusão de particularidades, seja em relação a grupos de imigrantes,
formas de interação ou razões de emigração. A notícia será dada, no presente trabalho, em grandes
linhas, sempre no intento de compreender reflexos jurídicos de escala, avaliando as repercussões
gerais do tratamento do imigrante no tempo. Para uma visão mais detalhada da historiografia da
imigração cf. CASTRO, Mary Garcia (org.). Migrações internacionais: contribuições para políticas.
Brasília: CNPD, 2001.
75
131 FAUSTO, Boris. História do Brasil. 13. ed. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
2008.
132 MENEZES, Lená Medeiros de. Movimentos e políticas migratórias em perspectiva histórica: um
balanço do século XX. In CASTRO, Mary Garcia (org.). Migrações internacionais: contribuições para
políticas. Brasília: CNPD, 2001.
133 FAUSTO, História do Brasil, cit., p. 42.
134 FAUSTO, História do Brasil, cit., p. 43.
76
Antes, contudo, que se passe ao exame dos dois grupos, é necessário que se
faça um alerta. Nesta primeira fase de povoamento do território brasileiro, não
parece adequado afirmar-se que existiam fluxos de imigrantes propriamente ditos,
vez que os indivíduos que se destinavam ao Brasil, pelas peculiaridades de sua
condição, não se identificam, tecnicamente, com imigrantes.
77
135 VAINER, Carlos B. As novas categorias de uma sociologia dos deslocamentos compulsórios e
das restrições migratórias. In CASTRO, Mary Garcia (org.). Migrações internacionais: contribuições
para políticas. Brasília: CNPD, 2001, p. 178-179.
78
136 VENANCIO, Renato Pinto. Presença portuguesa: de colonizadores a imigrantes. In VAINFA,
Ronaldo (org.). Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000, p. 61-77.
79
137 Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), disponíveis em
de agosto de 2009.
80
trabalho em condição análoga à de escravo, tema que será analisado no último capítulo da presente
pesquisa. Do ponto de vista jurídico, contudo, a diferença continua substantiva: a escravidão, antes
juridicamente admitida, tornou-se banida dos ordenamentos contemporâneos e a luta pela
eliminação das formas de exploração do trabalho que se aproximem da escravidão é plataforma já
mais do que consolidada nos foros de proteção internacional ao trabalho.
81
Feito esse alerta, diga-se que nesta primeira grande fase do povoamento do
Brasil — que, para fins da análise aqui proposta, estendeu-se de 1530 a 1822 — a
ideia de regulação das relações de trabalho estava ainda em um momento bastante
embrionário, dada a prevalência absoluta de formas não livres de exploração do
trabalho. No entender de MAURICIO GODINHO DELGADO:
p. 321.
82
144 PORTO, Lorena Vasconcelos. A parassubordinação: aparência x essência. Revista Magister de
1981, p. 205.
146 Muito se teoriza sob o elemento fático-jurídico da subordinação, seja quanto ao seu conteúdo,
natureza, extensão e preponderância na definição da relação empregatícia. Uma vez que este não é
o objeto imediato da presente pesquisa, o apontamento se faz de maneira limitada, apenas no
contraponto à exposição do trabalho dos africanos escravizados no Brasil. Para lições detalhadas
sobre o tema da subordinação e sua releitura na contemporaneidade cf. PORTO, Lorena
Vasconcelos. A subordinação no contrato de trabalho. São Paulo: LTr, 2009.
83
Este movimento de europeus para o Brasil encontra suas causas nos dois
pólos do fluxo: nos países de origem e no país de destino. As causas do êxodo do
“velho mundo” são sintetizadas por SORAYA MOURA:
147 MOURA, Soraya. Memorial do imigrante: a imigração no estado de São Paulo. São Paulo: Imprensa
84
148 BARRETO, Luiz Paulo Teles Ferreira. Considerações sobre a imigração no Brasil
85
por PEDRO CALMON, ao relembrar que “até 1850 recebera o Brasil uns 19 mil
imigrantes. Entre 1855 e 1862, a média da entrada deles fora de 15 mil por ano”149.
2002, p. 229. O historiador PEDRO CALMON, em seus números, não considera colonos e escravos
como imigrantes, à luz do alerta feito no ponto anterior.
150 CORRÊA, Lucelinda Schramm. As políticas públicas de imigração européia não-portuguesa para
86
internacionais, cit., p. 125. A autora dá notícia de duas outras fases: “3. O período de alinhamentos
que caracterizou o sistema internacional bipolar, cuja expressão máxima foi a Guerra Fria, quando
fluxos imigratórios alcançaram o Brasil como parte de uma política ampla tecida no âmbito dos
organismos internacionais, e as primeiras levas de brasileiros deixaram o país em direção ao
Primeiro Mundo; 4. A era do Neoliberalismo e da Globalização, quando aumenta a circulação de
executivos e técnicos das multinacionais e a tendência dos deslocamentos regionais de
87
trabalhadores econômicos passa a ganhar visibilidade no país”. Estas serão tratadas no ponto 7.3
deste capítulo.
153 MENEZES, Movimentos e políticas migratórias em perspectiva histórica. In CASTRO, Migrações
88
154 PRADO, Roberto Barretto. Evolução histórica do Direito do Trabalho no Brasil. In MAGANO,
Octavio Bueno (coord.). Curso de Direito do Trabalho: em homenagem a Mozart Victor Russomano.
São Paulo: Saraiva, 1985, p. 13.
89
155 PRADO, Evolução história do Direito do Trabalho no Brasil. In MAGANO, Curso de Direito do
dos pobres. Revista Estudos Avançados, São Paulo, n. 13(35), p. 167-198, 1999, p. 177.
90
158 O periódico socialista “Avanti!” era um dos muitos jornais operários editados por trabalhadores
imigrantes. Redigido em italiano, circulou de 1900 a 1909. Cf. CARNEIRO, Maria Luiza Tucci,
KOSSOY, Boris (orgs.). A imprensa confiscada pelo DEOPS: 1924-1954. São Paulo: Imprensa Oficial,
2003, p. 32.
159 Federação Operária do Estado de São Paulo, aos Trabalhadores, Avanti!, 24.05.1907, in
PINHEIRO, Sérgio Paulo, HALL, Michael M. A classe operária no Brasil: documentos (1889 a 1930).
v. I. São Paulo: Alfa-Omega, 1979, p. 65.
160 FAUSTO, História do Brasil, cit., p. 302.
161 FAUSTO, História do Brasil, cit., p. 302.
91
162 O fluxo migratório de exceção, aqui, é o dos japoneses, dado que “foi entre 1931 e 1940 que eles
entraram no país em maior número”. Cf. FAUSTO, História do Brasil, cit., p. 276.
163 O tema será especificamente examinado no item 13.1 da presente pesquisa.
164 FACCHINETTI, Luciana. A imigração italiana no segundo pós-guerra e a indústria brasileira nos anos 50.
92
consolidação do ramo justrabalhista no país ao longo desses quase dois séculos. O corte
epistemológico da pesquisa demanda uma análise do intercruzamento da questão migratória e da
regulação trabalhista, o que será feito por meio de apontamentos específicos.
166 DELGADO, Mauricio Godinho. Direito Coletivo do Trabalho. LTr: São Paulo, 2001, p. 93-4.
93
Note-se que o autor destaca, como uma das medidas deste período de
intensa regulação trabalhista, a questão da nacionalização do trabalho. Em 1930, foi
expedido o Decreto 19.482, que limitou a entrada, no território nacional, de
passageiros estrangeiros de terceira classe, dispôs sobre a localização e amparo de
trabalhadores nacionais, e estabeleceu a famosa “regra dos dois terços”, que
reservava esta proporção de postos de trabalho para brasileiros nas empresas169.
167 DELGADO, Curso de Direito do Trabalho, cit., p. 107.
168 MORAES FILHO, Evaristo de, MORAES, Antonio Carlos Flores de. Introdução ao Direito do
13.1 do capítulo 4, ficando, aqui, o registro da medida que afeta diretamente a questão migratória.
94
95
96
o art. 12, I, “c” da Constituição de 1988, para garantir o registro nos consulados de brasileiros
nascidos no estrangeiro. Informação disponível em http://www.camara.gov.br/Sileg/Prop_
Detalhe.asp?id=14641. Acesso em 05 de janeiro de 2009.
97
175 Os excessos da regulamentação trabalhista na Constituição são criticados pela doutrina
98
99
É importante destacar, contudo, que não houve uma ruptura completa nas
bases do Direito do Trabalho, lembrando que a própria Constituição de 1988 e os
diplomas infraconstitucionais vigentes ressaltam a importância do ramo
justrabalhista como instrumento de justiça social e distribuição de renda na
sociedade contemporânea.
179 SILVA, Antônio Álvares da. Flexibilização das relações de trabalho. São Paulo: LTr, 2002, p. 40-41.
180 MURADAS, Daniela. Crise do Estado Social e negociação coletiva. In PIMENTA, José Roberto
Freire et al. Direito do Trabalho: evolução, crise, perspectivas. São Paulo: LTr, 2004, p. 198.
181 DELGADO, Gabriela Neves. O mundo do trabalho na transição entre os séculos XX e XXI. In
100
o modelo do Estado do Bem Estar Social ainda lega melhores condições de vida e
trabalho, fugindo das desalentadoras perspectivas locais.
183 WEIMER, Myron. The global migration crisis: challenge to States and to Human Rights.
101
184 PATARRA, Neide Lopes. Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo: volumes,
fluxos, significados e políticas. Revista São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 19, n. 3, p. 23-33,
jul./set. 2005, p. 28.
185 SILVA, Sidney A. da. Imigrantes hispano-americanos em São Paulo: perfil e problemática. In
BOUCAULT, Carlos Eduardo de Abreu, MALATIAN, Teresa (orgs.). Políticas migratórias: fronteiras
dos direitos humanos no século XXI. Rio de Janeiro: Renovar, 2003, p. 298.
102
CAPÍTULO IV
A PROTEÇÃO JUSTRABALHISTA DO IMIGRANTE EM CONDIÇÃO
DE LEGALIDADE
“La inmigración de cualquier color y sabor es una
inyección de vida, energía y cultura y los países
deberían recibirla como una bendición”.
186 BROWNLIE, Ian. Principles of International Law. Oxford: Clarendon Press, 1973, p. 505, apud
DOLINGER, Jacob. Direito Internacional Privado: parte geral. 4. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 1996, p.
180.
187 SUPREMA CORTE DOS ESTADOS UNIDOS. Nishimura Ekiu vs. United States. 1892.
103
Rica), ratificada pelo Brasil em 1992 (Decreto n. 678), estabelece em seu artigo 22: “Direito de
circulação e de residência. 1. Toda pessoa que se encontre legalmente no território de um Estado
tem o direito de nele livremente circular e de nele residir, em conformidade com as disposições
legais. 2. Toda pessoa terá o direito de sair livremente de qualquer país, inclusive de seu próprio
país. 3. O exercício dos direitos supracitados não pode ser restringido, senão em virtude de lei, na
medida indispensável, em uma sociedade democrática, para prevenir infrações penais ou para
proteger a segurança nacional, a segurança ou a ordem públicas, a moral ou a saúde públicas, ou os
direitos e liberdades das demais pessoas”.
104
189 GOMES, Luiz Flávio. Ser imigrante ilegal é crime? Revista Eletrônica do Conselho Federal da OAB,
105
encarados estes requisitos que os países exigem dos trabalhadores estrangeiros para
migrarem em situação de legalidade.
190 PATARRA, Neide Lopes. Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo: volumes,
fluxos, significados e políticas. Revista São Paulo em Perspectiva, São Paulo, v. 19, n. 3, p. 23-33,
jul./set. 2005, p. 29.
106
191 Sobre o princípio da igualdade e a vedação às práticas discriminatórias vide o item 5 do capítulo
I do presente trabalho.
107
iguais direitos aos “estrangeiros residentes”, o que levaria a interpretação de que os não residentes,
transitoriamente no território nacional, não mereceriam a proteção da ordem jurídica nacional. A
doutrina constitucionalista pacificou-se no sentido da ampliação hermenêutica do artigo e de sua
interpretação temperada face ao disposto no art. 3º, IV da própria Constituição. Nesse sentido,
leciona ALEXANDRE DE MORAES que “a expressão residentes no Brasil deve ser interpretada no
sentido de que a Carta Federal só pode assegurar a validade e o gozo dos direitos fundamentais
dentro do território brasileiro, não excluindo, pois, o estrangeiro em trânsito pelo território
nacional”. MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 13. ed. São Paulo: Atlas, 2003, p. 63. No
mesmo sentido, cf. DINAMARCO, Cândido Rangel. Sobre a tutela jurisdicional ao estrangeiro.
Revista de Processo, RT, São Paulo, n. 107, p. 248-251, jul./set. 2002.
193 MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 7. ed. São Paulo: Malheiros,
1995, p. 537-538.
108
194 BONASSI, Margherita. Canta, América sem fronteiras! Imigrantes latino-americanos no Brasil. São Paulo:
109
195 LOPES, Cristiane Maria Sbalqueiro. O direito do estrangeiro numa perspectiva de Direitos Humanos.
p. 195.
198 DOLINGER, Direito Internacional Privado, cit., p. 202.
199 O autor indica equiparação de direitos civis, não mencionando expressamente direitos
trabalhistas. Ao mesmo tempo, sugere uma equiparação do conjunto de direitos assegurados pela
ordem jurídica a nacionais e estrangeiros, o que incluiria os direitos referentes ao trabalho. Cf.
ROCHA, Osiris. Curso de Direito Internacional Privado. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1986, p. 16 et seq.
110
111
200 ÁVILA, Flávia de. Entrada de trabalhadores estrangeiros no Brasil: evolução legislativa e políticas
subjacentes nos séculos XIX e XX. Dissertação de mestrado. Florianópolis: Universidade Federal
de Santa Catarina, 2003, p. 356-357.
201 PATARRA, Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo, Revista São Paulo em
112
Por todas estas razões, alguns grupos ativistas chegam a postular uma nova
lei de migrações que incorpore os desenvolvimentos internacionais da questão,
albergando, na síntese de ROSITA MILESI, alguns princípios básicos: (i) tutela e
promoção dos Direitos Humanos; (ii) valorização da presença dos imigrantes no
Brasil; (iii) superação de enfoques economicistas ou seletivos; (iv) criação de espaços
de diálogo e de interlocução, no respeito às liberdades fundamentais; (v) proteção
em situações humanitárias; (vi) proteção ao trabalhador, inclusive quanto ao direito
de sindicalização e, finalmente; (vi) combate à xenofobia e a todo crime contra os
imigrantes por sua condição203.
202 PATARRA, Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo, Revista São Paulo em
Perspectiva, cit., p. 31. Mencione-se, contudo, recente proposta de mudança na orientação do CNIg,
que sinaliza no sentido de que passará a tratar o tema das imigrações em uma perspectiva de
Direitos Humanos, através de uma nova Política Nacional de Imigração e Proteção ao Trabalhador
Migrante, conforme aprovada na IV reunião ordinária do Conselho, em fevereiro de 2010. A
proposta, atualmente, está sob consulta pública na internet, nos termos da Portaria n. 1.324 do
MTE, de junho de 2010. Cf. http://www.mte.gov.br/politicamigrante. Acesso em 22 de junho de
2010.
203 MILESI, Rosita. Por uma nova lei de migração: a perspectiva dos Direitos Humanos. Instituto
113
Diga-se, desde já, que uma norma que atendesse aos princípios básicos
acima citados não desconsideraria o controle migratório e o exercício da soberania
estatal e estaria, decerto, mais alinhada ao caminhar de uma tutela progressiva dos
direitos da pessoa humana, superando o enfoque tradicional da questão.
Atualmente, contudo, a disciplina continua sendo a da Lei n. 6.815/80, a ser vista
adiante em alguns de seus aspectos essenciais aos temas analisados no presente
estudo.
204 RIOS-NETO, Eduardo Luiz Gonçalves, AMARAL, Ernesto. A gestão migratória e o paradoxo da
114
205 HENRIQUE, Luciana da Costa Aguiar Alves. Título I – Da aplicação. In FREITAS, Comentários
(art. 13, III da Lei 6.815/80) e o de jornalista (art. 13, VI, da Lei 6.815/80). O visto temporário de
trabalho do art. 13, V do Estatuto do Estrangeiro, contudo, é aquele pelo qual o trabalho, de
maneira genérica, constitui a própria finalidade da presença do estrangeiro no país, pelo que as
reflexões aqui empreendidas se manterão focadas nesta categoria.
115
116
207 PATARRA, Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo, Revista São Paulo em
117
208 Tal inclinação se confirma em entrevista do Presidente do Conselho Nacional de Imigração,
118
209 LOPES, O direito do estrangeiro numa perspectiva de Direitos Humanos, cit., p. 350.
119
210 PRUNES, José Luiz Ferreira. Contratos de trabalho de estrangeiros no Brasil e de brasileiros no exterior.
120
que, até os dias de hoje, é a matriz das entidades que mais diretamente atuam na questão migratória
no Brasil. Sobre a Congregação dos Scalabrinianos e seu histórico na proteção dos migrantes, vide
lição de ROSITA MILESI, MARGHERITA BONASSI e MARIA LUIZA SHIMANO: “A Doutrina Social da
Igreja, que tem na Rerum Novarum, de 1891, seu documento particularmente significativo, reflete a
preocupação da Igreja Católica com os graves problemas sociais da época. É neste quadro histórico
que a questão migratória, enquanto preocupação pastoral, emerge na Igreja ao lado da questão
social, com estreita e recíproca vinculação. Surgem, como expressões concretas, para a ação pastoral
junto aos migrantes, as Congregações dos Missionários e Missionárias de S. Carlos Borromeo
(Scalabrinianos/as), fundadas respectivamente em 1887 e 1895, por João Batista Scalabrini, então
bispo de Piacenza, Itália. Scalabrini percebeu a vastidão e as características de continuidade do
fenômeno e previu que a migração viria a ser elemento constitutivo das sociedades futuras. Operou
para a integração do fenômeno nas realidades sociais, econômicas e culturais da época, a fim de
abrir o diálogo com todos sobre a questão migratória, mesmo aqueles pertencentes a filosofias ou
religiões diferentes. Tinha como centro o valor de cada pessoa, de cada povo e cultura, condenava
as migrações forçadas, as leis migratórias restritivas e as explorações descaradas dos aliciadores, que
ontem, como hoje, lucram com os dramas dos migrantes e refugiados”. BONASSI, Margherita,
MILESI, Rosita, SHIMANO, Maria Luiza. Entidades confessionais que atuam com estrangeiros no
Brasil e com brasileiros no exterior. In CASTRO, Mary Garcia (org.). Migrações internacionais:
contribuições para políticas. Brasília: CNPD, 2001, p. 564.
121
214 OLIVEIRA, Márcia Maria de. A mobilidade humana na tríplice fronteira: Peru, Brasil e
Colômbia. Revista Estudos Avançados, São Paulo, 20 (57), p.183-196, 2006, p. 184.
215 MILESI, Rosita. Algumas reflexões, em termos de princípios, sobre o anteprojeto de Lei de Estrangeiros.
id=443102.
122
123
Tal diretiva fica ainda mais evidente no louvável parágrafo único inserido
no art. 5º do Projeto, que define um posicionamento muito claro em relação aos
direitos dos imigrantes em condição de irregularidade, assegurando-lhes acesso à
educação, à saúde e aos direitos trabalhistas, além de outras medidas de proteção às
vítimas de tráfico de pessoas (notadamente no art. 42 do Projeto). O tema será
retomado e desenvolvido no capítulo seguinte, ficando, desde já, a referência do
avanço proposto pelo Projeto de Lei examinado.
218 O Projeto de Lei propõe alterações, também, em outros aspectos da admissão de estrangeiros no
país, que, por não estarem diretamente ligados aos temas estudados na presente pesquisa, não serão
aqui tratados. Como já salientado, o texto do Projeto de Lei n. 5655/2009 está disponível em
http://www.camara.gov.br/sileg/ Prop_Detalhe.asp?id=443102. Noticie-se, por fim, que o Projeto
de Lei 5.655/2009 encontra-se, atualmente, em análise nas Comissões do Congresso Nacional,
tramitando em regime de prioridade.
124
O tema que, talvez, ainda gere mais polêmica quanto à condição trabalhista
do imigrante em status de regularidade jurídica, no contexto das relações de emprego
por ele entabuladas, é o da chamada “nacionalização do trabalho”, ou seja, as
medidas engendradas pela ordem jurídica para a suposta proteção do mercado de
trabalho para os próprios brasileiros em detrimento de trabalhadores imigrantes. A
dúvida, aqui, gira essencialmente em torno da constitucionalidade dos artigos 352 e
seguintes da CLT e se estas disposições podem ser tidas como compatíveis com o
desenvolvimento normativo no plano internacional na matéria.
219 A proposta da nova Política Nacional de Imigração e Proteção ao Trabalhador Migrante está disponível
125
126
220 RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho. 16. ed. Rio de
127
2009, p. 251.
223 MARTINS, Sergio Pinto. Reforma trabalhista. Carta Forense, São Paulo, v. 53, p. 4-4, janeiro de
2008, p. 4.
224 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 786.
128
225 GOMES, Orlando, GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense,
1991, p. 487.
226 RUSSOMANO, Comentários à Consolidação das Leis do Trabalho, cit., p. 321.
227 LOPES, O direito do estrangeiro numa perspectiva de Direitos Humanos, cit., p. 487.
129
“um valioso instrumento para lutar contra uma forma específica de precarização das
relações de trabalho: a substituição da mão-de-obra nacional pela estrangeira”228.
Trabalhadores Migrantes e dos Membros de Suas Famílias de 1990 e a Convenção 143 da OIT.
Ambos os diplomas encontram-se anexos à presente pesquisa (anexos I e II).
130
vedação esta que não está prevista na Constituição Federal de 1988 e que não
encontra nenhuma justificativa estratégica ou funcional (como nos arts. 12, §3º e 14,
§2º da própria Constituição230). A discriminação, assim, parece incontornável.
230 Estabelecem os dispositivos referenciados da Constituição de 1988 situações reservadas aos
nacionais por seu papel estratégico e político: “Art. 12, § 3º - São privativos de brasileiro nato os
cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos
Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal;
V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas.; VII - de Ministro de Estado da
Defesa”, “Art. 14, § 2º - Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros”.
131
É dizer que o domínio dos fatos não deve, neste caso, autorizar aquelas que
são distorções do plano das normas, sob o argumento de que as situações ilícitas
dificilmente ocorrerão factualmente. Ora, o passar dos anos pode determinar um
cenário de intensificação de fluxos migratórios para algumas regiões do Brasil,
fazendo com que a regra dos dois terços redunde em discriminações concretas.
231 HENRIQUE, Título I – Da aplicação, In FREITAS, Comentários ao Estatuto do Estrangeiro e opção
132
133
Todos esses aspectos fazem com que o entendimento da não recepção pela
Constituição Federal de 1988 dos dispositivos da CLT que tratam da nacionalização
do trabalho (arts. 352 e seguintes) se coloque como o mais adequado, ressaltada,
também, a incompatibilidade de tais dispositivos celetistas com a normativa
internacional de combate à discriminação e de proteção aos migrantes.
232 ROCHA, Andréa Presas. Igualdade Salarial e Regras de Proteção ao Salário. Revista LTr, São
134
135
233 BAPTISTA, Luiz Olavo. O Mercosul após o Protocolo de Ouro Preto. Revista Estudos Avançados,
136
comum traz ínsita a idéia de livre circulação de pessoas, de modo que a livre
circulação de trabalhadores, de um país para o outro, também deve estar
assegurada”235.
235 GARCIA JÚNIOR, Armando Álvares. O Direito do Trabalho no MERCOSUL. São Paulo: LTr,
1997, p. 32.
236 SANT’ANA, Marcílio Ribeiro de. A livre circulação de trabalhadores no MERCOSUL. Revista
137
138
noticia ANTONIO RULLI JUNIOR, ao afirmar que “os mais pessimistas entendem o
Mercosul como espaço de cooperação e os mais otimistas como espaço de
integração”239.
Émerson José Alves, LOPES, Mônica Sette. O Direito do Trabalho e o Direito Internacional: questões
relevantes, homenagem ao professor Osiris Rocha. São Paulo: LTr, 2005, p. 150.
240 TEXIDÓ, BAER. Inserción sociolaboral de los migrantes. In TEXIDÓ et al, Migraciones laborales
em Sudamérica, cit., p. 1. No original: “Las migraciones entre estos países se producen esencialmente
por desequilibrios económico-laborales, lo que indica que los trabajadores migrantes salen de sus
139
É importante salientar que o Brasil, por conta de ser um dos países melhor
estruturados do ponto de vista econômico no contexto do bloco, coloca-se como
um potencial receptor de imigrantes dos demais países do MERCOSUL e
associados. Não há, em contrapartida, o mesmo volume nos fluxos de brasileiros
para os demais países do bloco.
lugares de origen en la búsqueda de mejores perspectivas laborales y de calidad de vida y arriban a
mercados de empleo que reclutan este tipo de fuerza laboral”. Tradução do autor.
241 PATARRA, Neide Lopes, BAENINGER, Rosana. Mobilidade espacial da população no
Mercosul: metrópoles e fronteiras. Revista Brasileira de Ciências Sociais, ANPOCS, São Paulo, v. 21, n.
60, p. 83-102, 2006, p. 98.
242 Tal constatação pode ser confirmada, por exemplo, através dos dados do último programa de
anistia para estrangeiros do Governo Federal, do ano de 2009, pelo qual cerca de 43 mil
estrangeiros regularizaram sua situação migratória. Os bolivianos são maioria absoluta (17 mil),
seguidos de chineses (5,5 mil), peruanos (4,5 mil), paraguaios (4,1 mil) e coreanos (1,1 mil). Dados
do Ministério da Justiça, disponíveis em http://portal.mj.gov.br/estrangeiros/data/Pages/
MJA5F550A5ITEMIDBA915BD3AC384F681A1AC4AF88BE2D0PTBRIE.htm. Acesso em 02 de
abril de 2010.
140
243 GRUPPELLI, Jaqueline Lisbôa. A migração laboral no MERCOSUL a partir da análise dos acordos
sobre residência: entre ousadia e timidez. Dissertação de mestrado. Santa Maria: Universidade Federal
de Santa Maria, 2008, p. 31.
141
Como visto, existe ainda uma grande distância prática entre o texto do
Tratado de Assunção, de 1991, e a realidade da integração do MERCOSUL em
termos de circulação de pessoas. Não há como negar que as fronteiras nacionais
para fins de trânsito de nativos do bloco ainda estão fixas e firmes, e a questão
migratória é, em grande medida, orientada pelas políticas e práticas de cada um dos
Estados membros. Existem, contudo, relevantes instrumentos normativos e avanços
práticos no MERCOSUL que se inclinam no sentido de facilitar a circulação e
residência de nacionais do bloco e a proteção aos migrantes, retomando a proposta
de livre circulação originalmente idealizada.
142
Assim sendo, nos últimos quinze anos a questão da livre circulação em seu
sentido mais completo cedeu passo a iniciativas e instrumentos visando ampliar a
proteção aos migrantes, com algumas medidas de facilitação de entradas e saídas,
além de instrumentos extremamente relevantes de proteção a residentes. A despeito
de não existir ainda um quadro de livre circulação — e até mesmo por esta razão —
a garantia de padrões de proteção aos trabalhadores que transitam entre os países do
MERCOSUL faz-se essencial.
244 SANT’ANA, A livre circulação de trabalhadores no MERCOSUL, cit., disponível em
143
144
145
247 MURADAS, Daniela. Contributo ao Direito Internacional do Trabalho: a reserva implícita ao
146
Regional do Trabalho da 12ª Região, Florianópolis, n. 02, p. 56-73, jan./jun. 1994, p. 70.
147
250 PATARRA, BAENINGER, Mobilidade espacial da população no Mercosul, Revista Brasileira de
148
CAPÍTULO V
O TRATAMENTO JUSTRABALHISTA DO IMIGRANTE EM
CONDIÇÃO DE IRREGULARIDADE NO BRASIL
“Me dicen el clandestino
Por no llevar papel
Pa’ una ciudad del norte
Yo me fui a trabajar (...)
Soy una raya en el mar
Fantasma en la ciudad
Mi vida va prohibida
Dice la autoridad”.
MANU CHAO
Clandestino
149
251 CANÇADO TRINDADE, Antônio Augusto. Voto concorrente. In CORTE
INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Condición jurídica y derechos de los
migrantes indocumentados. Opinião consultiva OC-18/03. São José da Costa Rica, 17 de setembro
de 2003. Disponível em http://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_18_esp.pdf. Acesso em
14 de abril de 2010. No original: “En tiempos de la así-llamada ‘globalización’ (el neologismo
disimulado y falso que está de moda en nuestros días), las fronteras se han abierto a los capitales,
bienes y servicios, pero se han tristemente cerrado a los seres humanos. El neologismo que sugiere
la existencia de un proceso que abarcaría a todos y del cual todos participarían, en realidad oculta la
fragmentación del mundo contemporáneo, y la exclusión y marginación sociales de segmentos cada
vez mayores de la población. El progreso material de algunos se ha hecho acompañar por las
formas contemporáneas (y clandestinas) de explotación laboral de muchos (la explotación de los
migrantes indocumentados, la prostitución forzada, el tráfico de niños, el trabajo forzado y esclavo),
en medio al aumento comprobado de la pobreza y la exclusión y marginación sociales”. Tradução
do autor.
252 SALES, Teresa. Brasil migrante, Brasil clandestino. Revista São Paulo em Perspectiva, São Paulo,
150
151
254 VAINER, Carlos B. As novas categorias de uma sociologia dos deslocamentos compulsórios e
das restrições migratórias. In CASTRO, Mary Garcia (org.). Migrações internacionais: contribuições
para políticas. Brasília: CNPD, 2001, p. 182-183.
255 O debate quanto à sanção que deve ser aplicada ao imigrante irregular tem grande repercussão
nos países do capitalismo central, sobretudo na Europa e Estados Unidos. Como já pontuado,
existem dissensos, inclusive, quanto à criminalização da condição de imigrante irregular, dada a
magnitude dos fluxos migratórios destes países. A Itália discute, atualmente, o delito de “ser
imigrante ilegal”, com uma iniciativa do Governo BERLUSCONI de criação deste tipo penal. A
respeito disso, veja-se a conclusão de STEFANO RODOTÀ, catedrático de Direito Civil na
Universidade de Roma La Sapienza, publicada no periódico espanhol El País: “Se convierte en
delito una simple condición personal, el hecho de ser extranjero, en contraste con lo que establece
la Constitución en materia de igualdad”. Cf. RODOTÁ, Stefano. Italia y los ‘empresarios’ del
miedo. Jornal El País. Disponível em http://www.elpais.com/articulo/opinion /Italia/empresarios
/miedo/elpepiopi/20080524elpepiopi_13/Tes. Acesso em 14 de janeiro de 2009.
152
256 Cf. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/05/100504_marcia_arizona_rc.shtml.
Acesso em 05.05.2010.
257 Trecho da nota n. 278 do Itamaraty, de 03.05.2010: “O governo brasileiro recebeu com grande
153
258 Sobre, por exemplo, a imigração irregular de brasileiros para os Estados Unidos, aponta NEIDE
PATARRA ser o país “destino de um expressivo volume de brasileiros, em sua maioria jovens e
pertencentes à classe média, que entram clandestinamente e se ocupam em trabalhos não
qualificados que, ao contrário do que aconteceria em seus países de origem, propiciam-lhes um
orçamento maior e a possibilidade de formar uma certa poupança”. Cf. PATARRA, Neide Lopes.
Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo: volumes, fluxos, significados e
políticas. Revista São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 3, p. 23-33, jul./set. 2005, p. 27.
154
155
esdrúxula noção de “pessoal ilegal”, além de seu peso ideológico, foi tratada no item 1.2 do capítulo
I da presente pesquisa. Dá-se, aqui, preferência a expressões mais acuradas, como imigrante em
condição de irregularidade, imigrante não documentado e outras expressões que explicitam a
irregularidade restrita à condição migratória. De todo modo, a redação da Lei 6.815/80, tal como
está hoje, mantém a infeliz expressão “imigrante clandestino”.
156
262 Desde o início da década de 1980 foram quatro os programas de anistia, o último de 2009 (Lei
157
sem qualquer correlação com o seu status migratório. Nesses casos, contudo, o crime cometido não
diz respeito à condição jurídica de imigrante indocumentado, pelo que não se relaciona com o
objeto aqui proposto.
158
Não se pretende, por óbvio, que não existam sanções migratórias. A crítica
que se faz, todavia, é ao tratamento exclusivamente repressor, aliado aos já
analisados requisitos para a obtenção de vistos. Não há dúvida que o ato de
desobedecer a ordem jurídica e adentrar um país sem a devida autorização é grave.
É violada a soberania nacional, em conduta atentatória à própria autonomia do
Estado em estabelecer normas de controle migratório. A sanção, desta maneira,
existe como resposta à violação e em favor da tentativa de recomposição da ordem
estabelecida. É a realidade coercitiva do Direito, reconhecida por EDGAR DE
GODÓI DA MATA MACHADO, em clássica lição:
266 MILESI, Rosita. O Estatuto do Estrangeiro e as medidas compulsórias de deportação, expulsão
159
eventualmente celebrados pelo imigrante. Frise-se, assim, que as sanções que a legislação
migratória prevê são adstritas à questão da condição da própria imigração, não se impondo a
privação de direitos trabalhistas como forma de punição à irregularidade migratória, ou mesmo
como política de inibição.
160
161
268 O Projeto de Lei 5.655/2009 está disponível em http://www.camara.gov.br/sileg/integras/
de 2010.
162
270 DELGADO, Gabriela Neves, NUNES, Raquel Portugal. Subterrâneos da imigração. Estado de
163
271 Dados do Ministério da Justiça, disponíveis em http://portal.mj.gov.br/estrangeiros/data/Pages
/MJA5F550A5ITEMIDBA915BD3AC384F681A1AC4AF88BE2D0PTBRIE.htm. Acesso em 20
de dezembro de 2009.
272 Sobre a influência das redes sociais nos processos migratórios internacionais, veja-se estudo de
164
273 CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Relatório Final da CPI 0024/2005. São Paulo, 2005.
165
166
274 CAMPOS, Bárbara Pincowsca Cardoso. O tráfico de pessoas à luz da normativa internacional de
proteção dos Direitos Humanos. Revista do Instituto Brasileiro de Direitos Humanos, Fortaleza, ano 7, v.
7, n. 7, p. 37-50, 2006/2007, p. 37.
275 O Protocolo foi promulgado no Brasil pelo Decreto 5.017/2004.
167
168
277 NOVAIS, Tráfico de pessoas para fins de exploração do trabalho, cit., p. 46.
278 NOVAIS, Tráfico de pessoas para fins de exploração do trabalho, cit., p. 70.
169
279 Assim estabelecem, por exemplo, os arts. 5 e 16 do Protocolo referente ao tráfico de migrantes
(no Brasil, Decreto 5.016/2004) e os arts. 6, 7 e 8 do Protocolo referente ao tráfico de pessoas (no
Brasil, Decreto 5.017/2004).
280 Nesse sentido, EDUARDO GERONIMI: “Cuando esta falta de correlación entre los derechos de
salir de un país y de ingresar a otro se produce en un marco en el que coexisten fuertes presiones
emigratorias, importantes factores de atracción en otros Estados y donde las oportunidades para el
ingreso legal a los mismos son muy limitadas, restringidas o aun imposibles, los flujos migratorios
se canalizarán hacia la migración irregular: el migrante intentará un ingreso clandestino, ya sea por
sus propios medios o haciendo recurso a los mecanismos de tráfico o de trata de personas”.
GERONIMI, Aspectos jurídicos del tráfico y la trata de trabajadores migrantes, cit., p. 1.
170
“existem situações nas quais as pessoas buscam alguém para facilitar sua travessia ao
Brasil (tráfico de migrantes) ou são persuadidas a migrar com base em falsas
propostas feitas por aliciadores (tráfico de pessoas)”281.
281 ILLES, Paulo, TIMÓTEO, Gabrielle Louise Soares, FIORUCCI, Elaine da Silva. Tráfico de
pessoas para fins de exploração do trabalho na cidade de São Paulo. Cadernos Pagu (UNICAMP),
Campinas, n. 31, p. 199-217, jul./dez. 2008, p. 210.
282 Projeto de Lei n. 5655/2009 disponível em http://www.camara.gov.br/sileg/Prop_Detalhe.asp?
id=443102.
171
172
283 SCHMIDT, Martha Halfeld Furtado de Mendonça. Breves anotações sobre as Convenções
fundamentais da OIT. In LAGE, Émerson José Alves, LOPES, Mônica Sette. O Direito do Trabalho e
o Direito Internacional: questões relevantes, homenagem ao professor Osiris Rocha. São Paulo: LTr,
2005, p. 112.
284 POCHMANN, Marcio. O emprego na globalização: a nova divisão internacional do trabalho e os
173
285 A ideia da ampliação da incidência de regulação trabalhista para outras relações de trabalho que
não somente a relação de emprego é tratada por GABRIELA NEVES DELGADO, que defende uma
“regulamentação de toda e qualquer relação de trabalho que se demonstre digna, por meio da
universalização da proteção direcionada pelo Direito do Trabalho”. Cf. DELGADO, Gabriela
Neves. Direito fundamental ao trabalho digno. São Paulo: LTr, 2006, p. 216. Trata-se de tema de extrema
complexidade, que transborda o objeto da pesquisa aqui proposta, ficando, tão somente, o alerta de
uma realidade já percebida.
174
286 Nesse sentido, o registro de VALLE FERREIRA: “São por demais conhecidos os embaraços que
se apresentam a um estudo mais sério das nulidades, e parece bem certo que tais dificuldades se
agravam em conseqüência da opinião divergente dos autores. Êstes, em seus estudos, além de
variarem na linguagem e na inteligência dos textos que examinam, quase sempre se prendem a fatos
de outros tempos, ou a circunstâncias de outros lugares. Assim, por exemplo, não podiam afirmar o
mesmo pensamento, nem chegar a idênticas conclusões, autores que comentassem a invalidade dos
atos jurídicos à vista dos textos romanos, à margem dos códigos francês e alemão, ou afinal da nova
lei civil italiana”. FERREIRA, Valle. Subsídios para o estudo das nulidades. Revista da Faculdade de
Direito da UFMG, Belo Horizonte, ano XIV, n. 3 (nova fase), p. 29-38, out. 1963, p. 29.
175
287 FERREIRA, Subsídios para o estudo das nulidades, Revista da Faculdade de Direito da UFMG, cit.,
p. 30.
176
288 GONÇALVES, Aroldo Plínio. Nulidades no processo. Rio de Janeiro: Aide, 1993, p. 13.
177
178
“O [ato] nulo não produz efeitos. Nada mais impreciso, pois ato —
cujo vício de que padece enseja a sanção da nulidade — produz
efeitos. E poderá produzir para todo o sempre, se não houver um
pronunciamento judicial da nulidade. Não é demais salientar que o
Direito não é mera abstração; ao contrário, é antes de tudo
experiência, vivência, fato. Não há, portanto, nulidade de pleno
direito”294.
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Belo Horizonte, 30 (60), p. 209-219, jul./dez. 1999, p. 217.
295 FIUZA, César. Ensaio crítico acerca da teoria das nulidades. Revista da Faculdade de Direito da
179
O que se pode verificar, no âmbito das relações civis, é que se devem anular
todos os efeitos possíveis, e aqueles que não podem sê-lo têm natureza excepcional.
Precisamente por conta do fato de que, em se tratando relações empregatícias, a
regra geral ser a da impossibilidade de anulação de efeitos pretéritos, é que emerge
uma teoria própria das nulidades trabalhistas.
296 FIUZA, Ensaio crítico acerca da teoria das nulidades, Revista da Faculdade de Direito da UFPR, cit.,
p. 53.
180
297 PINTO, José Augusto Rodrigues. Curso de Direito Individual do Trabalho. São Paulo: LTr, 2000, p.
188.
181
uma teoria específica face à dureza da regra civilista quando transposta às relações
de emprego:
298 GOMES, Orlando, GOTTSCHALK, Elson. Curso de Direito do Trabalho. Rio de Janeiro: Forense,
1991, p. 139.
299 É o que alerta JOAQUIM CARLOS SALGADO, conceituando o que denomina Estado poiético: “O
elemento central e essencial do Estado de Direito é postergado, pois o jurídico, o político e o social
são submetidos ao econômico. O Estado poiético não tem em mira a ‘produção social’. Entra em
conflito com a finalidade ética do Estado de Direito, abandonando sua tarefa de realizar os direitos
sociais (saúde, educação, trabalho), violando os direitos adquiridos, implantando a insegurança
jurídica pela manipulação sofística dos conceitos jurídicos através mesmo de juristas com ideologia
política serviente, exercendo o poder em nome de uma facção econômico-financeira”. SALGADO,
Joaquim Carlos. Estado ético e Estado poiético. Revista do Tribunal de Contas do Estado de Minas
Gerais, Belo Horizonte, v. 27, n. 2, p. 03-34, abr./jun. 1998, p. 30.
182
300 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2007, p. 499.
183
184
301 DE LA CUEVA, Mario. Derecho Mexicano del Trabajo. Mexico: Porrúa, 1969, t. 1, p. 512. No
original: “Si se quiere hacer producir a la nulidad sus efectos normales, habría que retrotraer las
cosas al estado que tenían antes de la formación de la relación de trabajo y de la fecha en que se
inició la prestación de servicios, o sea, habría que devolver al trabajador su energía de trabajo, pues,
procediendo de otra manera, se hace producir a la nulidad efectos retroactivos unilaterales, lo que
no es admisible; y como la dévolución de esa energía de trabajo no es posible, es evidente que no
queda otro camino que hacerle únicamente producir efectos para el futuro”. Tradução do autor.
302 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2007, p. 508.
303 MAURICIO GODINHO DELGADO entende que a diferenciação proposta no Direito Civil poderia
sim ter utilidade no Direito do Trabalho. Leciona: “Nulidade relativa (anulabilidade) ocorre quando
são feridas, no contrato de emprego, normas de proteção ao trabalho concernentes a interesses
estritamente individuais, privatísticos. Caso típico é o da alteração do critério ajustado de
pagamento de salário, em prejuízo ao empregado. Nulidade absoluta ocorre quando são feridas, no
contrato, normas de proteção ao trabalho concernentes a interesses que se sobrepõem aos
meramente individuais, envolvendo uma tutela de interesse público concomitantemente ao
privatístico referenciado. Caso típico de nulidade absoluta é o concernente à assinatura de CTPS”.
DELGADO, Curso de Direito do Trabalho, cit., p. 514.
185
304 DELGADO, Curso de Direito do Trabalho, cit., p. 510.
186
reconhecimento de sua relação de emprego com todas as garantias que lhe são
correspondentes (assinatura da CTPS, recolhimentos previdenciários, entre outros).
305 DELGADO, Curso de Direito do Trabalho, cit., p. 510.
306 GOMES, GOTTSCHALK, Curso de Direito do Trabalho, cit., p. 136-137.
187
Significa dizer que o trabalho será avaliado tanto pela construção ética que
patrocina ao indivíduo trabalhador quanto pela modificação e reflexos que promove
na sociedade. De modo que a aplicação da teoria trabalhista das nulidades, que
incorpora uma diretriz de proteção e positiva valoração jurídica, deve estar reservada
a casos em que a nulidade verificada não comprometa a própria consistência ética
do trabalho realizado. Esta consistência ética estará afastada, por exemplo, nos casos
em que a atividade realizada é um ilícito penal, o que inviabiliza, em princípio, a
consecução de uma finalidade virtuosa e socialmente edificante.
188
189
realmente ser tomadas como trabalho, na acepção que atualmente se dá ao conceito em nossa
matriz cultural. Assim entende MAURICIO GODINHO DELGADO. Vide DELGADO, Curso de
Direito do Trabalho, cit., p. 513.
190
acerca da aplicação teoria das nulidades contratuais no direito do trabalho. Revista Prima Facie, João
Pessoa, v. 3, n. 5, p. 39-52, 2004.
191
192
GODINHO DELGADO. Uma primeira corrente fala que a aplicação plena da teoria trabalhista das
nulidades resultaria na obrigação estatal de pagamento das verbas rescisórias típicas da dispensa
imotivada, vez que a norma constitucional do concurso público estaria dirigida para o Estado. A
segunda posição, perfilada pelo autor, é no sentido de “aplicar-se a teoria justrabalhista das
nulidades quanto ao período de efetiva prestação de serviços, tendo-se, porém, como anulado o
pacto em virtude da inobservância à formalidade essencial do concurso”, garantindo-se todos os
efeitos trabalhistas mas “negando-se (...) o direito a verbas rescisórias próprias à dispensa injusta
(aviso prévio, 40% sobre FGTS e seguro desemprego), dado que o pacto terá (ou teria) sido
anulado de ofício (extinção por nulidade e não por dispensa injusta)”. DELGADO, Curso de Direito
do Trabalho, cit., p. 512.
193
194
315 Obviamente que se o imigrante em condição de irregularidade desempenhar atividade ilícita,
estará ele sujeito à teoria civilista das nulidades e às demais sanções aplicáveis, inclusive penais.
Nesse caso, contudo, a prática de ilícito penal não se imbrica com a condição de irregularidade
migratória.
316 DELGADO, Curso de Direito do Trabalho, cit., p. 503.
317 FELICIANO, Guilherme Guimarães. Efeitos positivos dos contratos nulos de emprego público:
distinguir o joio do trigo. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas, v. 29, p.
109-116, 2006, p. 114.
318 FELICIANO, Efeitos positivos dos contratos nulos de emprego público, Revista do Tribunal
195
319 LIMA FILHO, Francisco das Chagas. Trabalhador migrante fronteiriço: tutela material e
jurisdicional. Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, Campo Grande, 13, p. 17-35, 2008,
p. 27-8.
320 JAVILLIER, Jean-Claude. Manual de Direito do Trabalho. Trad. Rita Asdine Bozaciyan. São Paulo:
196
197
322 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Recurso de Revista 750.094/2001. Originário da 24ª
198
323 SÃO PAULO. Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. Decisão 059148/2007 PATR,
199
200
327 MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direito Internacional Público. São Paulo: Revista dos
201
328 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Condición jurídica y derechos de
los migrantes indocumentados. Opinião consultiva OC-18/03. São José da Costa Rica, 17 de
setembro de 2003. Disponível em http://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_18_esp.pdf.
Acesso em 14 de abril de 2010. No original: “privación del goce y ejercicio de ciertos derechos
laborales [a los trabajadores migrantes] y su compatibilidad con la obligación de los Estados
americanos de garantizar los principios de igualdad jurídica, no discriminación y protección
igualitaria y efectiva de la ley consagrados en instrumentos internacionales de protección a los
derechos humanos”. Tradução do autor.
329 Requereu o México a interpretação dos seguintes dispositivos: arts. 3.1 e 17 da Carta da OEA, a
art. II (direito de igualdade ante a lei) da Declaração Americana dos Direitos e Deveres do Homem,
arts. 1.1 (obrigação de respeitar os direitos), 2 (dever de adotar disposições de direito interno) e 24
(igualdade) da Convenção Americana Sobre Direitos Humanos, arts. 1, 2.1 e 7 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos, e arts. 2.1, 2.2, 5.2 e 26 do Pacto Internacional de Direitos Civis e
Políticos.
330 CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS. Condición jurídica y derechos de
los migrantes indocumentados. Opinião consultiva OC-18/03. São José da Costa Rica, 17 de
setembro de 2003. Disponível em http://www.corteidh.or.cr/docs/opiniones/seriea_18_esp.pdf.
Acesso em 14 de abril de 2010. No original: “la calidad migratoria de una persona no puede
constituir una justificación para privarla del goce y ejercicio de sus derechos humanos, entre ellos
los de carácter laboral. El migrante, al asumir una relación de trabajo, adquiere derechos por ser
trabajador, que deben ser reconocidos y garantizados, independientemente de su situación regular o
irregular en el Estado de empleo. Estos derechos son consecuencia de la relación laboral”.
Tradução do autor.
202
liberdade, conforme previsto no art. 2º, 1 da Convenção 29 da Organização, que define trabalho
forçado como “todo trabalho ou serviço exigido de uma pessoa sob a ameaça de sanção e para o
qual não se tenha oferecido espontaneamente”.
203
escravo: análise a partir do trabalho decente e de seu fundamento, a dignidade da pessoa humana. In
VELLOSO, Gabriel, FAVA, Marcos Neves (orgs.). Trabalho escravo contemporâneo: o desafio de
superar a negação. São Paulo: LTr, 2006, p. 132.
333 DELGADO, Gabriela Neves, NOGUEIRA, Lílian Katiusca Melo, RIOS, Sâmara Eller.
dos migrantes indocumentados bolivianos em São Paulo cf. AZEVEDO, Flávio Antonio Gomes
de. A presença de trabalho forçado urbano na cidade de São Paulo: Brasil/Bolívia. Dissertação de mestrado.
São Paulo: Universidade de São Paulo, 2005.
204
335 CYMBALISTA, Renato, XAVIER, Iara Rolnik. A comunidade boliviana em São Paulo:
definindo padrões de territorialidade. Cadernos Metrópole. São Paulo, EDUC, n. 17, p. 119-133, 1º
semestre de 2007, p. 124-5.
336 O Relatório Final da CPI 0024/2005 da Câmara Municipal de São Paulo está disponível em
205
337 SCHMIDT, Breves anotações sobre as Convenções fundamentais da OIT. In LAGE, LOPES. O
ações civis públicas para o combate ao trabalho em condição análoga à de escravo cf. DELGADO,
NOGUEIRA, RIOS, Trabalho escravo, Revista Magister de Direito Trabalhista e Previdenciário, cit., 2007.
339 Vide notícia do Jornal Folha de São Paulo de 04 de novembro de 2009: “Polícia de SP encontra
206
340 DELGADO, Gabriela Neves, NUNES, Raquel Portugal. Subterrâneos da imigração. Estado de
de orientação sexual. In VIANA, Márcio Túlio, RENAULT, Luiz Otávio Linhares (coords.). O que
há de novo em Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1997, p. 369. A autora, originalmente, trata de
207
medidas de proteção ao emprego em situações de discriminação por motivo de orientação sexual.
As conclusões, contudo, podem ser transpostas à situação dos imigrantes.
343 O Brasil sinaliza que se alinhará a esta diretiva, seja por meio do novo Estatuto do Estrangeiro
em trâmite no Congresso Nacional (Projeto de Lei 5.655/2009, especialmente seu art. 5º) e também
da nova Política Nacional de Imigração e Proteção ao Trabalhador Migrante, do Ministério do Trabalho e
Emprego, conforme aprovada na IV reunião ordinária do Conselho Nacional de Imigração em
fevereiro de 2010, que, atualmente, está sob consulta pública, nos termos da Portaria n. 1.324 do
MTE, de junho de 2010.
344 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Trabalho do estrangeiro no Brasil. Boletim do CEDES – Centro de
208
345 LOPES, Cristiane Maria Sbalqueiro. O direito do estrangeiro numa perspectiva de Direitos Humanos.
209
Previdenciário. Revista LTr, São Paulo, a. 74, t. I, n. 03, p. 337-342, mar. 2010, p. 342.
348 PATARRA, Neide Lopes. Migrações internacionais de e para o Brasil contemporâneo: volumes,
fluxos, significados e políticas. Revista São Paulo em Perspectiva, v. 19, n. 3, p. 23-33, jul./set. 2005, p.
31.
210
esforços no plano internacionais sobre a matéria, conforme relatado por URSULA KULKE, em
estudo para a International Social Security Association: “Proporcionar proteção de seguridade social aos
trabalhadores migrantes se tornou um dos mais importantes desafios sociais enfrentados pela
comunidade internacional. Como a migração de trabalho tem crescido ao longo dos anos, afetando
um número crescente de países e os trabalhadores, há uma necessidade urgente para o reforço das
medidas existentes e de adoção de novas, em nível internacional, regional e nacional”. E, no
entendimento da OIT, relatado pela mesma autora, os “trabalhadores migrantes irregulares terão os
mesmos direitos que os trabalhadores migrantes regulares em matéria de direitos de seguridade
social decorrentes de um emprego anterior”. Os desafios, portanto, são igualmente de garantir
eficácia das disposições normativas pactuadas. No original: “Providing social security protection to
migrant workers has become one of the most important social challenges facing the international
community. As labour migration has grown over the years, affecting an increasing number of
countries and workers, there is an urgent need for the reinforcement of existing measures and the
adoption of new ones, at the international, regional and national levels” e “irregular migrant
workers shall have the same rights as regular migrant workers concerning social security rights
arising out of past employment”. Tradução do autor. KULKE, Ursula. The role of social security in
protecting migrant workers: the ILO approach. Nova Deli: International Social Security Association,
2006, p. 10 e 04.
350 NOVAIS, Tráfico de pessoas para fins de exploração do trabalho, cit., p. 12.
211
351 FRANCISCO DAS CHAGAS LIMA FILHO enfatiza a relevância da garantia de inafastabilidade do
Poder Judiciário (art. 5º, XXXV da Constituição de 1988) e consolida os instrumentos com base
nos quais se sustenta um direito do estrangeiro de acesso à justiça no Brasil, nos seguintes termos:
“Entre esses documentos internacionais, podem ser citados, a guisa de exemplo, a Declaração
Universal dos Direitos do Homem de 1948 (ONU), o Pacto dos Direitos Civis e Políticos firmado
em 1966 (ONU) e a Convenção Interamericana de Direitos Humanos (Pacto de San José), adotada
em 1948 e em vigor desde 16.11.1988, incorporados ao ordenamento jurídico por força não apenas
da ratificação e posterior aprovação pelo Congresso Nacional, mas também em face dos expressos
termos do art. 5º, §§ 1º e 2º, da Carta de 1988. Todos esses documentos internacionais firmados
pelo Brasil garantem o acesso aos órgãos da jurisdição, não apenas aos nacionais, mas também
pelos estrangeiros que aqui se encontrarem. Por conseguinte, não se pode negar ao estrangeiro que
aqui se encontre a garantia do acesso à jurisdição, à justiça, em razão da sua condição de não-
nacional, origem, raça ou outra discrime, até mesmo em face do que estabelecido de forma expressa
pelos arts. 1º, inciso III, 3º, inciso IV e 4º, inciso II, da Carta da República”. LIMA FILHO,
Trabalhador migrante fronteiriço, Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região, cit., p. 29.
Mencione-se, também a ampliação da competência da Justiça do Trabalho promovida pela Emenda
Consitucional n. 45/2004, que modificou o art. 114 da Constituição de 1988, referendando, para a
situação aqui estudada, a competência da Justiça do Trabalho para processar e julgar as ações
oriundas de relações de trabalho em sentido amplo.
212
352 Estas medidas sugeridas pela OIT constam da Ata da Nonagésima Segunda Sessão da
213
CONCLUSÃO
214
215
216
355 Cf., nesse sentido, SÜSSEKIND, Arnaldo. Direito Internacional do Trabalho. 3. ed. São Paulo: LTr,
2000, p. 363.
356 JAVILLIER, Jean-Claude. Manual de Direito do Trabalho. Trad. Rita Asdine Bozaciyan. São Paulo:
217
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234
ANEXO I
CONVENÇÃO N. 143 DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO
MIGRAÇÕES EM CONDIÇÕES ABUSIVAS E PROMOÇÃO DA IGUALDADE DE
OPORTUNIDADES E DE TRATAMENTO DOS TRABALHADORES MIGRANTES
235
PARTE I
Migrações em condições abusivas
236
Artigo 1º
Os membros para os quais a presente Convenção esteja em vigor deverão
comprometer-se a respeitar os direitos fundamentais do homem de todos os
trabalhadores migrantes.
Artigo 2º
Os membros para os quais a presente Convenção esteja em vigor deverão
comprometer-se a determinar, sistematicamente, se existem migrantes ilegalmente
empregados no seu território e se existem, do ou para o seu território, ou ainda em
trânsito, migrações com fim de emprego nas quais os migrantes sejam submetidos,
durante a sua deslocação, à sua chegada ou durante a sua estada e período de
emprego, a condições contrárias aos instrumentos ou acordos internacionais
aplicáveis, multilaterais ou bilaterais, ou ainda às legislações nacionais.
As organizações representativas dos empregadores e dos trabalhadores deverão ser
plenamente consultadas e ter a possibilidade de fornecer as suas próprias
informações sobre este assunto.
Artigo 3º
Todo o Estado Membro deverá tomar as medidas necessárias e apropriadas, quer da
sua própria competência, quer as que exijam a colaboração de outros Estados
Membros:
a) A fim de suprimir as migrações clandestinas e o emprego ilegal de migrantes;
b) Contra os organizadores de movimentos ilícitos ou clandestinos de migrantes
com fins de emprego, provenientes do seu território ou que a ele se destinam, assim
como os que se efectuam em trânsito por esse mesmo território, bem como contra
aqueles que empregam trabalhadores que tenham imigrado em condições ilegais; a
fim de prevenir e eliminar os abusos citados no artigo 2º da presente Convenção.
Artigo 4º
Os Estados Membros deverão, nomeadamente, adoptar, a nível nacional e
internacional, todas as medidas necessárias para estabelecer contactos e trocas
sistemáticas de informações com os outros Estados sobre este assunto, consultando
igualmente as organizações representativas de empregadores e de trabalhadores.
Artigo 5º
As medidas previstas nos artigos 3º e 4º deverão ter por objectivo processar os
autores de tráfico de mão-de-obra, qualquer que seja o país a partir do qual estes
exerçam as suas actividades.
Artigo 6º
No âmbito das várias legislações nacionais, deverão ser tomadas disposições para
uma detecção eficaz de emprego ilegal de trabalhadores migrantes e para a definição
e aplicação de sanções administrativas, civis e penais, incluindo penas de prisão, no
237
Artigo 7º
As organizações representativas de empregadores e de trabalhadores deverão ser
consultadas no que diz respeito à legislação e às outras medidas previstas pela
presente Convenção com vista a prevenir ou eliminar os abusos acima referidos e
dever-lhes-á ser reconhecida a possibilidade de tomar iniciativas para esse efeito.
Artigo 8º
Desde que tenha residido legalmente no país com fim de emprego, o trabalhador
migrante não poderá ser considerado em situação ilegal ou irregular pela simples
perda do seu emprego, a qual, por si só, não deverá acarretar a revogação da sua
autorização de residência ou, eventualmente, da sua autorização de trabalho.
Por conseguinte, deverá beneficiar de tratamento igual ao dos nacionais,
especialmente no que diz respeito às garantias relativas à segurança de emprego, à
reclassificação, aos trabalhos de recurso e à readaptação.
Artigo 9º
Sem prejuízo das medidas destinadas a controlar os movimentos migratórios com
fins de emprego garantindo que os trabalhadores migrantes entram no território
nacional e aí são empregados em conformidade com a legislação aplicável, o
trabalhador migrante, nos casos em que a legislação não tenha sido respeitada e nos
quais a sua situação não possa ser regularizada, deverá beneficiar pessoalmente,
assim como a sua família, de tratamento igual no que diz respeito aos direitos
decorrentes de empregos anteriores em relação à remuneração, à segurança social e
a outras vantagens.
Em caso de contestação dos direitos previstos no parágrafo anterior, o trabalhador
deverá ter a possibilidade de fazer valer os seus direitos perante um organismo
competente, quer pessoalmente, quer através dos seus representantes.
Em caso de expulsão do trabalhador ou da sua família, estes não deverão custeá-la.
Nenhuma disposição da presente Convenção impedirá os Estados Membros de
conceder às pessoas que residem ou trabalham ilegalmente no país o direito de nele
permanecerem e serem legalmente empregadas.
PARTE II
Igualdade de oportunidades e de tratamento
Artigo 10º
238
Artigo 11º
Para fins de aplicação do disposto nesta parte II da Convenção, o termo
“trabalhador migrante” designa uma pessoa que emigra ou emigrou de um país para
outro com o fim de ocupar um emprego não por conta própria; compreende todo e
qualquer indivíduo regularmente admitido como trabalhador migrante.
A presente parte II não se aplicará:
a) Aos trabalhadores fronteiriços;
b) Aos artistas e aos indivíduos que exerçam uma profissão liberal que tenham
entrado no país por período curto;
c) Aos trabalhadores do mar;
d) Aos indivíduos vindos especialmente com fins de formação ou de educação;
e) Aos indivíduos empregados por organizações ou empresas que laborem no
território de um país e que tenham sido admitidos temporariamente nesse país, a
pedido do seu empregador, a fim de cumprir funções ou executar tarefas específicas
durante um período limitado e determinado e que devem abandonar o país logo que
sejam dadas por terminadas tais funções ou tarefas.
Artigo 12º
Todo o Estado Membro, através de métodos adaptados às circunstâncias e aos
costumes nacionais:
a) Deverá esforçar-se por obter a colaboração das organizações de empregadores e
de trabalhadores, assim como de outros organismos adequados, a fim de
impulsionar a aceitação e a aplicação da política prevista no artigo 10º da presente
Convenção;
b) Deverá promulgar as leis e encorajar programas de educação capazes de assegurar
a aceitação e a aplicação mencionadas;
c) Deverá tomar medidas, encorajar programas de educação e desenvolver outras
actividades com o objectivo de proporcionar aos trabalhadores migrantes o
conhecimento mais completo possível da política adoptada, dos seus direitos e
obrigações, assim como das iniciativas que se destinam a prestar-lhes uma
assistência efectiva com vista a assegurar a sua protecção e a permitir o exercício dos
seus direitos;
d) Deverá revogar todas as disposições legislativas e modificar todas as disposições
ou práticas administrativas incompatíveis com a política enunciada;
239
Artigo 13º
Todo o Estado Membro poderá tomar as medidas necessárias, dentro da sua
competência, e colaborar com outros Estados Membros no sentido de facilitar o
reagrupamento familiar de todos os trabalhadores migrantes que residam legalmente
no seu território.
O disposto no presente artigo refere-se ao cônjuge do trabalhador migrante, assim
como, quando a seu cargo, seus filhos, seu pai e sua mãe.
Artigo 14º
Todo o Estado Membro:
a) Poderá subordinar a livre escolha de emprego, assegurando, no entanto, o direito
à mobilidade geográfica, à condição de que o trabalhador migrante tenha residido
legalmente no país, com fins de emprego, durante um período prescrito que não
deverá ultrapassar dois anos ou, caso a legislação exija um contrato de duração
determinada inferior a dois anos, que o primeiro contrato de trabalho tenha
caducado;
b) Após consulta oportuna às organizações representativas de empregadores e de
trabalhadores, poderá regulamentar as condições de reconhecimento das
qualificações profissionais, incluindo certificados e diplomas obtidos no estrangeiro;
c) Poderá restringir o acesso a certas categorias limitadas de emprego e de funções
quando tal for necessário ao interesse do Estado.
PARTE III
Disposições finais
Artigo 15º
240
Artigo 16º
Todo o Estado Membro que ratifique a presente Convenção poderá excluir da sua
aplicação a parte I ou a parte II da Convenção por meio de uma declaração anexa à
sua ratificação.
Todo o Estado Membro que tenha feito tal declaração poderá, em qualquer altura,
anulá-la por meio de declaração ulterior.
Todo o Estado Membro para o qual vigore uma declaração nos termos do parágrafo
I do presente artigo deverá indicar, nos seus relatórios sobre a aplicação da presente
Convenção, o estado da sua legislação e da sua prática face às disposições da parte
excluída da sua aceitação, precisando em que medida deu seguimento ou se propõe
dá-lo a essas disposições, assim como as razões pelas quais ainda as não incluiu na
sua aceitação da Convenção.
Artigo 18º
A presente Convenção vinculará unicamente os Estados Membros da Organização
Internacional do Trabalho cuja ratificação tenha sido registada pelo director-geral.
A presente Convenção entrará em vigor doze meses após o registo das ratificações
de dois Estados Membros pelo director-geral.
Seguidamente, esta Convenção entrará em vigor para cada Estado Membro doze
meses após a data em que a sua ratificação tiver sido registada.
Artigo 19º
Todo o Estado Membro que tenha ratificado a presente Convenção poderá
denunciá-la, após um período de dez anos a partir da data de entrada em vigor
inicial da Convenção, por meio de uma comunicação ao director-geral do
Secretariado Internacional do Trabalho e por ele registada.
Todo o Estado Membro que tenha ratificado a presente Convenção e que, no prazo
de um ano após o termo do período de dez anos mencionado no parágrafo
precedente, não tenha utilizado a faculdade de denúncia prevista no presente artigo
ficará vinculado por novo período de dez anos e, posteriormente, poderá denunciar
a presente Convenção no termo de cada período de dez anos, nas condições
previstas no presente artigo.
Artigo 20º
O director-geral do Secretariado Internacional do Trabalho notificará todos os
Estados Membros da Organização Internacional do Trabalho do registo de todas as
notificações e denúncias que lhe sejam comunicadas pelos Estados Membros da
Organização.
241
Artigo 21º
O director-geral do Secretariado Internacional do Trabalho comunicará ao
Secretário-Geral das Nações Unidas, a fim de que sejam registadas, de acordo com o
artigo 102.· da Carta das Nações Unidas, informações completas sobre todas as
ratificações e denúncias que registar segundo o disposto nos artigos precedentes.
Artigo 22º
Sempre que o julgue necessário, o Conselho de Administração do Secretariado
Internacional do Trabalho apresentará à Conferência Geral um relatório sobre a
aplicação da presente Convenção e avaliará da oportunidade de inscrever na ordem
do dia da Conferência a questão da sua revisão total ou parcial.
Artigo 23º
No caso de a Conferência adoptar nova convenção que implique revisão total ou
parcial da presente Convenção, e salvo disposição em contrário da nova convenção:
a) A ratificação da nova convenção de revisão por um dos Estados Membros
implicará ipso jure, e não obstante o disposto no artigo 19º supra, denúncia imediata
da presente Convenção, sob reserva de que a nova convenção de revisão tenha
entrado em vigor;
b) A partir da data de entrada em vigor da nova convenção de revisão, a presente
Convenção deixaria de estar aberta à ratificação dos Estados Membros.
A presente Convenção continuaria todavia em vigor na sua forma e conteúdo para
os Estados Membros que a tivessem ratificado e que não ratificassem a convenção
de revisão.
Artigo 24º
Fazem igualmente fé as versões francesa e inglesa da presente Convenção.
242
ANEXO II
CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A PROTEÇÃO DOS DIREITOS DE TODOS
OS TRABALHADORES MIGRANTES E DOS MEMBROS DAS SUAS FAMÍLIAS
Preâmbulo
Parte I Âmbito e definições
Parte II Não discriminação em matéria de direitos
Parte III Direitos Humanos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos Membros
das suas Famílias
Parte IV Outros direitos dos Trabalhadores Migrantes e dos Membros das suas
Famílias que se encontram documentados ou em situação regular
Parte V Disposições aplicáveis a categorias especiais de Trabalhadores Migrantes e
aos Membros das suas Famílias
Parte VI Promoção de condições saudáveis, eqüitativas, dignas e justas em matéria
de migração internacional de trabalhadores e das suas famílias
Parte VII Aplicação da Convenção
Parte VIII Disposições gerais
Parte IX Disposições finais
Preâmbulo
243
244
Considerando que os problemas humanos decorrentes das migrações são ainda mais
graves no caso da migração irregular e convictos, por esse motivo, de que se deve
encorajar a adoção de medidas adequadas a fim de prevenir e eliminar os
movimentos clandestinos e o tráfico de trabalhadores migrantes, assegurando ao
mesmo tempo a proteção dos direitos humanos fundamentais destes trabalhadores;
Considerando que os trabalhadores indocumentados ou em situação irregular são,
freqüentemente, empregados em condições de trabalho menos favoráveis que
outros trabalhadores e que certos empregadores são, assim, levados a procurar tal
mão de obra a fim de beneficiar da concorrência desleal;
Considerando, igualmente, que o emprego de trabalhadores migrantes em situação
irregular será desencorajado se os direitos humanos fundamentais de todos os
trabalhadores migrantes forem mais amplamente reconhecidos e que, além disso, a
concessão de certos direitos adicionais aos trabalhadores migrantes e membros das
suas famílias em situação regular encorajará todos os migrantes e empregadores a
respeitar e a aplicar as leis e os procedimentos estabelecidos pelos Estados
interessados;
Convictos, por esse motivo, da necessidade de realizar a proteção internacional dos
direitos de todos os trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias,
reafirmando e estabelecendo normas básicas no quadro de uma convenção
abrangente suscetível de ser universalmente aplicada;
Acordam no seguinte:
Parte I
Âmbito e definições
Artigo 1º
1. Salvo disposição em contrário constante do seu próprio texto, a presente
Convenção aplica-se a todos os trabalhadores migrantes e aos membros das suas
famílias sem qualquer distinção, fundada nomeadamente no sexo, raça, cor, língua,
religião ou convicção, opinião política ou outra, origem nacional, étnica ou social,
nacionalidade, idade, posição econômica, patrimônio, estado civil, nascimento ou
outra situação.
2. A presente Convenção aplica-se a todo o processo migratório dos trabalhadores
migrantes e dos membros das suas famílias, o qual compreende a preparação da
migração, a partida, o trânsito e a duração total da estada, a atividade 20 remunerada
no Estado de emprego, bem como o regresso ao Estado de origem ou ao Estado de
residência habitual.
Artigo 2º
Para efeitos da presente Convenção:
1. A expressão “trabalhador migrante” designa a pessoa que vai exercer, exerce ou
exerceu uma atividade remunerada num Estado de que não é nacional.
245
Artigo 3º
A presente Convenção não se aplica:
a) Às pessoas enviadas ou empregadas por organizações e organismos
internacionais, nem às pessoas enviadas ou empregadas por um Estado fora do seu
território para desempenharem funções oficiais, cuja admissão e estatuto são
246
Artigo 4º
Para efeitos da presente Convenção, a expressão “membros da família” designa a
pessoa casada com o trabalhador migrante ou que com ele mantém uma relação que,
em virtude da legislação aplicável, produz efeitos equivalentes aos do casamento,
bem como os filhos a seu cargo e outras pessoas a seu cargo, reconhecidas como
familiares pela legislação aplicável ou por acordos bilaterais ou multilaterais
aplicáveis entre os Estados interessados.
Artigo 5º
Para efeitos da presente Convenção, os trabalhadores migrantes e os membros das
suas famílias:
a) São considerados documentados ou em situação regular se forem autorizados a
entrar, permanecer e exercer uma atividade remunerada no Estado de emprego, ao
abrigo da legislação desse Estado e das convenções internacionais de que esse
Estado seja Parte;
b) São considerados indocumentados ou em situação irregular se não preenchem as
condições enunciadas na alínea a) do presente artigo.
Artigo 6º
Para os efeitos da presente Convenção:
a) A expressão “Estado de origem” designa o Estado de que a pessoa interessada é
nacional;
b) A expressão “Estado de emprego” designa o Estado onde o trabalhador migrante
vai exercer, exerce ou exerceu uma atividade remunerada, consoante o caso;
c) A expressão “Estado de trânsito” designa qualquer Estado por cujo território a
pessoa interessada deva transitar a fim de se dirigir para o Estado de emprego ou do
Estado de emprego para o Estado de origem ou de residência habitual.
247
Parte II
Não discriminação em matéria de direitos
Artigo 7º
Os Estados Partes comprometem-se, em conformidade com os instrumentos
internacionais relativos aos direitos humanos, a respeitar e a garantir os direitos
previstos na presente Convenção a todos os trabalhadores migrantes e membros da
sua família que se encontrem no seu território e sujeitos à sua jurisdição, sem
distinção alguma, independentemente de qualquer consideração de raça, cor, sexo,
língua, religião ou convição, opinião política ou outra, origem nacional, étnica ou
social, nacionalidade, idade, posição econômica, patrimônio, estado civil,
nascimento ou de qualquer outra situação.
Parte III
Direitos humanos de todos os trabalhadores migrantes e dos membros das suas
famílias
Artigo 8º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias podem sair
livremente de qualquer Estado, incluindo o seu Estado de origem. Este direito só
pode ser objeto de restrições que, sendo previstas na lei, constituam disposições
necessárias para proteger a segurança nacional, a ordem pública, a saúde ou moral
públicas, ou os direitos e liberdades de outrem, e se mostrem compatíveis com os
outros direitos reconhecidos na presente parte da Convenção.
2. Os trabalhadores migrantes e os membros da sua família têm o direito a regressar
em qualquer momento ao seu Estado de origem e aí permanecer.
Artigo 9º
O direito à vida dos trabalhadores migrantes e dos membros da sua família é
protegido por lei.
Artigo 10º
Nenhum trabalhador migrante ou membro da sua família pode ser submetido a
tortura, nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes.
Artigo 11º
1. Nenhum trabalhador migrante ou membro da sua família será mantido em
escravatura ou servidão.
2. Nenhum trabalhador migrante ou membro da sua família pode ser constrangido a
realizar um trabalho forçado ou obrigatório.
3. O nº 2 do presente artigo não será interpretado no sentido de proibir, nos
Estados onde certos crimes podem ser punidos com pena de prisão acompanhada
248
Artigo 12º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros da sua família têm direito à liberdade
de pensamento, de consciência e de religião. Este direito abrange a liberdade de
professar ou de adotar uma religião ou crença da sua escolha, bem como a liberdade
de manifestar a sua religião ou crença, individual ou coletivamente, em público e em
privado, pelo culto, celebração de ritos, práticas e o ensino.
2. Os trabalhadores migrantes e os membros da sua família não serão submetidos a
coação que prejudique a sua liberdade de professar e adotar uma religião ou crença
da sua escolha.
3. A liberdade de manifestar a sua religião ou crença só pode ser objeto de restrições
previstas na lei e que se mostrem necessárias à proteção da segurança nacional, da
ordem pública, da saúde ou da moral públicas, e das liberdades e direitos
fundamentais de outrem.
4. Os Estados Partes na presente Convenção comprometem-se a respeitar a
liberdade dos pais, quando pelo menos um deles é trabalhador migrante, e, sendo
caso disso, dos representantes legais, de assegurar a educação religiosa e moral dos
seus filhos de acordo com as suas convicções.
Artigo 13º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm o direito de
exprimir as suas convicções sem interferência.
2. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm direito à
liberdade de expressão. Este direito compreende a liberdade de procurar, receber e
expandir informações e idéias de toda a espécie, sem consideração de fronteiras, sob
a forma oral, escrita, impressa ou artística ou por qualquer outro meio à sua escolha.
3. O exercício do direito previsto no nº 2 do presente artigo implica deveres e
responsabilidades especiais. Por esta razão, pode ser objeto de restrições, desde que
estejam previstas na lei e se afigurem necessárias:
a) Ao respeito dos direitos e da reputação de outrem;
b) À salvaguarda da segurança nacional dos Estados interessados, da
ordem pública, da saúde ou da moral públicas;
249
Artigo 14º
Nenhum trabalhador migrante ou membro da sua família será sujeito a intromissões
arbitrárias ou ilegais na sua vida privada, na sua família, no seu domicílio, na sua
correspondência ou outras comunicações, nem a ofensas ilegais à sua honra e
reputação. Os trabalhadores migrantes e membros da sua família têm direito à
proteção da lei contra tais intromissões ou ofensas.
Artigo 15º
Nenhum trabalhador migrante ou membro da sua família será arbitrariamente
privado dos bens de que seja o único titular ou que possua conjuntamente com
outrem. A expropriação total ou parcial dos bens de um trabalhador migrante ou
membro da sua família só pode ser efetuada nos termos da legislação vigente no
Estado de emprego mediante o pagamento de uma indenização justa e adequada.
Artigo 16º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm direito à
liberdade e à segurança da sua pessoa.
2. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm direito à proteção
efetiva do Estado contra a violência, os maus tratos físicos, as ameaças e a
intimidação, por parte de funcionários públicos ou privados, grupos ou instituições.
3. A verificação pelos funcionários responsáveis pela aplicação da lei da identidade
dos trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias deve ser conduzida de
acordo com o procedimento estabelecido na lei.
4. Nenhum trabalhador migrante ou membro da sua família será sujeito, individual
ou coletivamente, a detenção ou prisão arbitrária; nem será privado da sua liberdade,
salvo por motivos e em conformidade com os procedimentos estabelecidos por lei.
5. O trabalhador migrante ou membro da sua família que seja detido deve ser
informado, no momento da detenção, se possível numa língua que compreenda, dos
motivos desta e prontamente notificado, numa língua que compreenda, das
acusações contra si formuladas.
6. O trabalhador migrante ou membro da sua família que seja detido ou preso pela
prática de uma infração penal deve ser presente, sem demora, a um juiz ou outra
entidade autorizada por lei a exercer funções judiciais e tem o direito de ser julgado
em prazo razoável ou de aguardar julgamento em liberdade. A prisão preventiva da
pessoa que tenha de ser julgada não deve ser a regra geral, mas a sua libertação pode
ser subordinada a garantias que assegurem a sua comparência na audiência ou em
qualquer ato processual e, se for o caso, para execução de sentença.
7. No caso de sujeição de um trabalhador migrante ou membro da sua família a
detenção ou prisão preventiva, ou a qualquer outra forma de detenção:
250
Artigo 17º
1. Os trabalhadores migrantes e membros das suas famílias privados da sua
liberdade devem ser tratados com humanidade e com respeito da dignidade inerente
à pessoa humana e à sua identidade cultural.
2. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias sob acusação são
separados dos condenados, salvo em circunstâncias excepcionais, e submetidos a
um regime distinto, adequado à sua condição de pessoas não condenadas. Se forem
menores, são separados dos adultos, devendo o seu processo ser decidido com a
maior celeridade.
3. Qualquer trabalhador migrante ou membro da sua família que se encontre detido
num Estado de trânsito, ou num Estado de emprego, por violação das disposições
relativas à migração deve, na medida do possível, ser separado das pessoas detidas
ou presas preventivamente.
4. Durante todo o período de prisão em execução de sentença proferida por um
tribunal, o tratamento do trabalhador migrante ou membro da sua família terá por
finalidade, essencialmente, a sua reinserção e recuperação social. Delinqüentes
jovens serão separados dos adultos e submetidos a um regime adequado à sua idade
e ao seu estatuto legal.
251
Artigo 18º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros da sua família têm os mesmos direitos,
perante os tribunais, que os nacionais do Estado interessado. Têm direito a que a
sua causa seja equitativa e publicamente julgada por um tribunal competente,
independente e imparcial, instituído por lei, que decidirá dos seus direitos e
obrigações de caráter civil ou das razões de qualquer acusação em matéria penal
contra si formulada.
2. O trabalhador migrante ou membro da sua família suspeito ou acusado da prática
de um crime presume-se inocente até que a sua culpabilidade tenha sido legalmente
estabelecida.
3. O trabalhador migrante ou membro da sua família acusado de ter infringido a lei
penal tem, no mínimo, direito às garantias seguintes:
a) A ser informado prontamente, numa língua que compreenda e
pormenorizadamente, da natureza e dos motivos das acusações formuladas contra
si;
b) A dispor do tempo e dos meios necessários à preparação da sua defesa e a
comunicar com o advogado da sua escolha;
c) A ser julgado num prazo razoável;
d) A estar presente no julgamento e a defender-se a si próprio ou por intermédio de
um defensor da sua escolha; se não tiver patrocínio jurídico, a ser informado deste
direito; e a pedir a designação de um defensor oficioso, sempre que os interesses da
justiça exijam a assistência do defensor, sem encargos, se não tiver meios suficientes
para os suportar;
e) A interrogar ou fazer interrogar as testemunhas de acusação e a obter a
comparência e o interrogatório das testemunhas de defesa em condições de
igualdade;
f) A beneficiar da assistência gratuita de um intérprete se não compreender ou falar
a língua utilizada pelo tribunal;
g) A não ser obrigado a testemunhar ou a confessar-se culpado.
252
Artigo 19º
1. Nenhum trabalhador migrante ou membro da sua família pode ser sentenciado
criminalmente por ação ou omissão que no momento da sua prática não seja
considerada criminosa segundo a lei interna ou o direito internacional. Será aplicada
retroativamente a lei penal que preveja a imposição de uma pena mais favorável ao
argüido.
2. Na determinação da medida da pena, o tribunal atenderá a considerações de
natureza humanitária relativas ao estatuto de trabalhador migrante, nomeadamente o
direito de residência ou de trabalho reconhecido ao trabalhador migrante ou
membro da sua família.
Artigo 20º
1. Nenhum trabalhador migrante será detido pela única razão de não poder cumprir
uma obrigação contratual.
2. Nenhum trabalhador migrante ou um membro da sua família pode ser privado da
sua autorização de residência ou de trabalho, nem expulso, pela única razão de não
ter cumprido uma obrigação decorrente de um contrato de trabalho, salvo se a
execução dessa obrigação constituir uma condição de tais autorizações.
Artigo 21º
Ninguém, exceto os funcionários públicos devidamente autorizados por lei para este
efeito, tem o direito de apreender, destruir ou tentar destruir documentos de
identidade, documentos de autorização de entrada, permanência, residência ou de
estabelecimento no território nacional, ou documentos relativos à autorização de
trabalho. Se for autorizada a apreensão e perda desses documentos, será emitido um
recibo pormenorizado. Em caso algum é permitido destruir o passaporte ou
documento equivalente de um trabalhador migrante ou de um membro da sua
família.
253
Artigo 22º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros da sua família não podem ser objeto de
medidas de expulsão coletiva. Cada caso de expulsão será examinado e decidido
individualmente.
2. Os trabalhadores migrantes e os membros da sua família só podem ser expulsos
do território de um Estado Parte em cumprimento de uma decisão tomada por uma
autoridade competente em conformidade com a lei.
3. A decisão deve ser comunicada aos interessados numa língua que compreendam.
A seu pedido, se não for obrigatório, a decisão será comunicada por escrito e, salvo
em circunstâncias excepcionais, devidamente fundamentada. Os interessados serão
informados deste direito antes de a decisão ser tomada ou, o mais tardar, no
momento em que for tomada.
4. Salvo nos casos de uma decisão definitiva emanada de uma autoridade judicial, o
interessado tem o direito de fazer valer as razões que militam contra a sua expulsão
e de recorrer da decisão perante a autoridade competente, salvo imperativos de
segurança nacional. Enquanto o seu recurso é apreciado, tem o direito de procurar
obter a suspensão da referida decisão.
5. Se uma decisão de expulsão já executada for subseqüentemente anulada, a pessoa
interessada tem direito a obter uma indenização de acordo com a lei, não podendo a
decisão anterior ser invocada para impedi-lo de regressar ao Estado em causa.
6. No caso de expulsão, a pessoa interessada deve ter a possibilidade razoável, antes
ou depois da partida, de obter o pagamento de todos os salários ou prestações que
lhe sejam devidos, e de cumprir eventuais obrigações não executadas.
7. Sem prejuízo da execução de uma decisão de expulsão, o trabalhador migrante ou
membro da sua família objeto desta decisão pode solicitar a admissão num Estado
diferente do seu Estado de origem.
8. No caso de expulsão, as despesas ocasionadas por esta medida não serão
suportadas pelo trabalhador migrante ou membro da sua família. O interessado
pode, no entanto, ser obrigado a custear as despesas da viagem.
9. A expulsão do Estado de emprego, em si, não prejudica os direitos adquiridos, em
conformidade com a lei desse Estado, pelo trabalhador migrante ou membro da sua
família, nomeadamente o direito de receber os salários e outras prestações que lhe
sejam devidos.
Artigo 23º
Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm o direito de
recorrer à proteção e à assistência das autoridades diplomáticas e consulares do seu
Estado de origem ou de um Estado que represente os interesses daquele Estado em
caso de violação dos direitos reconhecidos na presente Convenção. Especialmente
no caso de expulsão, o interessado será informado deste direito, sem demora,
devendo as autoridades do Estado que procede à expulsão facilitar o exercício do
mesmo.
254
Artigo 24º
Os trabalhadores migrantes e os membros da sua família têm direito ao
reconhecimento da sua personalidade jurídica, em todos os lugares.
Artigo 25º
1. Os trabalhadores migrantes devem beneficiar de um tratamento não menos
favorável que aquele que é concedido aos nacionais do Estado de emprego em
matéria de retribuição e:
a) Outras condições de trabalho, como trabalho suplementar, horário de trabalho,
descanso semanal, férias remuneradas, segurança, saúde, cessação da relação de
trabalho e quaisquer outras condições de trabalho que, de acordo com o direito e a
prática nacionais, se incluam na regulamentação das condições de trabalho;
b) Outras condições de emprego, como a idade mínima para admissão ao emprego,
as restrições ao trabalho doméstico e outras questões que, de acordo com o direito e
a prática nacionais, sejam consideradas condições de emprego.
2. Nenhuma derrogação é admitida ao princípio da igualdade de tratamento referido
no nº 1 do presente artigo nos contratos de trabalho privados.
3. Os Estados Partes adotam todas as medidas adequadas a garantir que os
trabalhadores migrantes não sejam privados dos direitos derivados da aplicação
deste princípio, em razão da irregularidade da sua situação em matéria de
permanência ou de emprego. De um modo particular, os empregadores não ficam
exonerados do cumprimento de obrigações legais ou contratuais, nem as suas
obrigações serão de modo algum limitadas por força de tal irregularidade.
Artigo 26º
1. Os Estados Partes reconhecem a todos os trabalhadores migrantes e aos
membros das suas famílias o direito:
a) A participar em reuniões e atividades de sindicatos e outras associações
estabelecidos de acordo com a lei para proteger os seus interesses econômicos,
sociais, culturais e outros, com sujeição, apenas, às regras da organização
interessada.
b) A inscrever-se livremente nos referidos sindicatos ou associações, com sujeição,
apenas, às regras da organização interessada.
c) A procurar o auxílio e a assistência dos referidos sindicatos e associações;
2. O exercício de tais direitos só pode ser objeto das restrições previstas na lei e que
se mostrem necessárias, numa sociedade democrática, no interesse da segurança
nacional, da ordem pública, ou para proteger os direitos e liberdades de outrem.
Artigo 27º
1. Em matéria de segurança social, os trabalhadores migrantes e os membros das
suas famílias beneficiam, no Estado de emprego, de um tratamento igual ao que é
concedido aos nacionais desse Estado, sem prejuízo das condições impostas pela
255
Artigo 28º
Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm o direito de receber
os cuidados médicos urgentes que sejam necessários para preservar a sua vida ou
para evitar danos irreparáveis à sua saúde, em pé de igualdade com os nacionais do
Estado em questão. Tais cuidados médicos urgentes não podem ser-lhes recusados
por motivo de irregularidade em matéria de permanência ou de emprego.
Artigo 29º
O filho de um trabalhador migrante tem o direito a um nome, ao registro do
nascimento e a uma nacionalidade.
Artigo 30º
O filho de um trabalhador migrante tem o direito fundamental de acesso à educação
em condições de igualdade de tratamento com os nacionais do Estado interessado.
Não pode ser negado ou limitado o acesso a estabelecimentos públicos de ensino
pré-escolar ou escolar por motivo de situação irregular em matéria de permanência
ou emprego de um dos pais ou com fundamento na permanência irregular da
criança no Estado de emprego.
Artigo 31º
1. Os Estados Partes asseguram o respeito da identidade cultural dos trabalhadores
migrantes e dos membros das suas famílias e não os impedem de manter os laços
culturais com o seu Estado de origem.
2. Os Estados Partes podem adotar as medidas adequadas para apoiar e encorajar
esforços neste domínio.
Artigo 32º
Cessando a sua permanência no Estado de emprego, os trabalhadores migrantes e
os membros das suas famílias têm o direito de transferir os seus ganhos e as suas
poupanças e, nos termos da legislação aplicável dos Estados interessados, os seus
bens e pertences.
Artigo 33º
256
Artigo 34º
Nenhuma das disposições da Parte III da presente Convenção isenta os
trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias do dever de cumprir as leis
e os regulamentos dos Estados de trânsito e do Estado de emprego e de respeitar a
identidade cultural dos habitantes desses Estados.
Artigo 35º
Nenhuma das disposições da parte III da presente Convenção deve ser interpretada
como implicando a regularização da situação dos trabalhadores migrantes ou dos
membros das suas famílias que se encontram indocumentados ou em situação
irregular, ou um qualquer direito a ver regularizada a sua situação, nem como
afetando as medidas destinadas a assegurar condições satisfatórias e eqüitativas para
a migração internacional, previstas na parte VI da presente Convenção.
Parte IV:
Outros direitos dos trabalhadores migrantes e dos membros das suas
famílias que se encontram documentados ou em situação regular
Artigo 36º
Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias que se encontram
documentados ou em situação regular no Estado de emprego gozam dos direitos
enunciados nesta parte da presente Convenção, para além dos direitos previstos na
parte III.
Artigo 37º
Antes da sua partida ou, o mais tardar, no momento da sua admissão no Estado de
emprego, os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm o direito
de ser plenamente informados pelo Estado de origem ou pelo Estado de emprego,
257
Artigo 38º
1. Os Estados de emprego devem diligenciar no sentido de autorizarem os
trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias a ausentar-se
temporariamente, sem que tal afete a sua autorização de permanência ou de
trabalho, conforme o caso. Ao fazê-lo, os Estados de emprego têm em conta as
obrigações e as necessidades especiais dos trabalhadores migrantes e dos membros
das suas famílias, nomeadamente no seu Estado de origem.
2. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm o direito de ser
plenamente informados das condições em que tais ausências temporárias são
autorizadas.
Artigo 39º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas fremirias têm o direito de
circular livremente no território do Estado de emprego e de aí escolher livremente a
sua residência.
2. Os direitos referidos no nº 1 do presente artigo não podem ser sujeitos a
restrições, com exceção das previstas na lei e que sejam necessárias para proteger a
segurança nacional, a ordem pública, a saúde ou moral públicas, ou os direitos e
liberdades de outrem e se mostrem compatíveis com os outros direitos
reconhecidos na presente Convenção.
Artigo 40º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm o direito de
constituir associações e sindicatos no Estado de emprego para a promoção e a
proteção dos seus interesses econômicos, sociais, culturais e de outra natureza.
2. O exercício deste direito só pode ser objeto de restrições previstas na lei e que se
mostrem necessárias, numa sociedade democrática, no interesse da segurança
nacional, da ordem pública, ou para proteger os direitos e liberdades de outrem.
Artigo 41º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias têm o direito de
participar nos assuntos públicos do seu Estado de origem, de votar e de candidatar-
se em eleições organizadas por esse Estado, de acordo com a legislação vigente.
2. Os Estados interessados devem facilitar, se necessário e em conformidade com a
sua legislação, o exercício destes direitos.
Artigo 42º
258
Artigo 43º
1. Os trabalhadores migrantes beneficiam de tratamento igual ao que é concedido
aos nacionais do Estado de emprego em matéria de:
a) Acesso a instituições e serviços educativos, sem prejuízo das condições de
admissão e outras disposições previstas pelas referidas instituições e serviços;
b) Acesso aos serviços de orientação profissional e de colocação;
c) Acesso às facilidades e instituições de formação e aperfeiçoamento profissional;
d) Acesso à habitação, incluindo os programas de habitação social, e proteção contra
a exploração em matéria de arrendamento;
e) Acesso aos serviços sociais e de saúde, desde que se verifiquem os requisitos do
direito de beneficiar dos diversos programas;
f) Acesso às cooperativas e às empresas em autogestão, sem implicar uma
modificação do seu estatuto de migrantes e sem prejuízo das regras e regulamentos
das entidades interessadas;
g) Acesso e participação na vida cultural.
2. Os Estados Partes esforçam-se por criar as condições necessárias para garantir a
igualdade efetiva de tratamento dos trabalhadores migrantes de forma a permitir o
gozo dos direitos previstos no nº 1 deste artigo, sempre que as condições fixadas
pelo Estado de emprego relativas à autorização de permanência satisfaçam as
disposições pertinentes.
3. Os Estados de emprego não devem impedir que os empregadores de
trabalhadores migrantes lhes disponibilizem habitação ou serviços culturais ou
sociais. Sem prejuízo do disposto no artigo 70º da presente Convenção, um Estado
de emprego pode subordinar o estabelecimento dos referidos serviços às condições
geralmente aplicadas no seu território nesse domínio.
Artigo 44º
1. Reconhecendo que a família, elemento natural e fundamental da sociedade, deve
receber a proteção da sociedade e do Estado, os Estados Partes adotam as medidas
adequadas a assegurar a proteção da família dos trabalhadores migrantes.
259
Artigo 45º
1. Os membros das famílias dos trabalhadores migrantes beneficiam no Estado de
emprego, em pé de igualdade com os nacionais desse Estado, de:
a) Acesso a instituições e serviços educativos, sem prejuízo das condições de
admissão e outras normas fixadas pelas instituições e serviços em causa;
b) Acesso a instituições e serviços de orientação e formação profissional, desde que
se verifiquem os requisitos de participação;
c) Acesso aos serviços sociais e de saúde, desde que se encontrem satisfeitas as
condições previstas para o benefício dos diversos programas;
d) Acesso e participação na vida cultural.
2. Os Estados de emprego devem prosseguir uma política, se for caso disso em
colaboração com os Estados de origem, que vise facilitar a integração dos filhos dos
trabalhadores migrantes no sistema local de escolarização, nomeadamente no que
respeita ao ensino da língua local.
3. Os Estados de emprego devem esforçar-se por facilitar aos filhos dos
trabalhadores migrantes o ensino da sua língua materna e o acesso à cultura de
origem e, neste domínio, os Estados de origem devem colaborar sempre que tal se
mostre necessário.
4. Os Estados de emprego podem assegurar sistemas especiais de ensino na língua
materna dos filhos dos trabalhadores migrantes, se necessário em colaboração com
os Estados de origem.
Artigo 46º
Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias beneficiam, de
harmonia com a legislação aplicável dos Estados interessados, os acordos
internacionais pertinentes e as obrigações dos referidos Estados decorrentes da sua
participação em uniões aduaneiras, de isenção de direitos e taxas de importação e
exportação quanto aos bens de uso pessoal ou doméstico, bem como aos bens de
equipamento necessário ao exercício da atividade remunerada que justifica a
admissão no Estado de emprego:
a) No momento da partida do Estado de origem ou do Estado da residência
habitual;
b) No momento da admissão inicial no Estado de emprego;
c) No momento da partida definitiva do Estado de emprego;
260
Artigo 47º
1. Os trabalhadores migrantes têm o direito de transferir os seus ganhos e
economias, em particular as quantias necessárias ao sustento das suas famílias, do
Estado de emprego para o seu Estado de origem ou outro Estado. A transferência
será efetuada segundo os procedimentos estabelecidos pela legislação aplicável do
Estado interessado e de harmonia com os acordos internacionais aplicáveis.
2. Os Estados interessados adotam as medidas adequadas a facilitar tais
transferências.
Artigo 48º
1. Em matéria de rendimentos do trabalho auferidos no Estado de emprego, e sem
prejuízo dos acordos sobre dupla tributação aplicáveis, os trabalhadores migrantes e
os membros das suas famílias:
a) Não ficam sujeitos a impostos, contribuições ou encargos de qualquer natureza
mais elevados ou mais onerosos que os exigidos aos nacionais que se encontrem em
situação idêntica;
b) Beneficiam de reduções ou isenções de impostos de qualquer natureza, bem
como de desagravamento fiscal, incluindo deduções por encargos de família.
2. Os Estados Partes procuram adotar medidas adequadas a fim de evitar a dupla
tributação dos rendimentos e das economias dos trabalhadores migrantes e dos
membros das suas famílias.
Artigo 49º
1. Quando a legislação nacional exija autorizações de residência e de trabalho
distintas, o Estado de emprego emite, em benefício dos trabalhadores migrantes,
uma autorização de residência de duração pelo menos igual à da autorização de
trabalho.
2. Os trabalhadores migrantes que, no Estado de emprego, são autorizados a
escolher livremente a sua atividade remunerada não são considerados em situação
irregular e não perdem a sua autorização de residência pelo mero fato de ter cessado
a sua atividade remunerada antes de terminada a autorização de trabalho ou outra
autorização.
3. Para permitir que os trabalhadores migrantes mencionados no nº 2 do presente
artigo disponham de tempo suficiente para encontrar outra atividade remunerada, a
autorização de residência não deve ser retirada, pelo menos durante o período em
que têm direito ao subsídio de desemprego.
Artigo 50º
1. Em caso de falecimento do trabalhador migrante ou de dissolução do casamento,
o Estado de emprego considera favoravelmente a possibilidade de conceder aos
261
Artigo 51º
Os trabalhadores migrantes que, no Estado de emprego, não estão autorizados a
escolher livremente a sua atividade remunerada não são considerados em situação
irregular, nem perdem a sua autorização de residência, pelo simples fato de a sua
atividade remunerada ter cessado antes do termo da sua autorização de trabalho,
salvo nos casos em que a autorização de residência dependa expressamente da
atividade remunerada específica para o exercício da qual foram admitidos no Estado
de emprego. Estes trabalhadores migrantes têm o direito de procurar outro
emprego, de participar em programas de interesse público e de freqüentar cursos de
formação durante o período restante da sua autorização de trabalho, sem prejuízo
das condições e restrições constantes desta autorização.
Artigo 52º
1. Os trabalhadores migrantes têm, no Estado de emprego, o direito de escolher
livremente a sua atividade remunerada, subordinado às restrições ou condições a
seguir especificadas.
2. Em relação a qualquer trabalhador migrante, o Estado de emprego pode:
a) Restringir o acesso a categorias limitadas de empregos, funções, serviços ou
atividades, quando o exija o interesse do Estado e esteja previsto na legislação
nacional;
b) Restringir a livre escolha da atividade remunerada em conformidade com a sua
legislação relativa ao reconhecimento das qualificações profissionais adquiridas fora
do seu território. Todavia, os Estados Partes interessados devem diligenciar no
sentido de assegurar o reconhecimento de tais qualificações.
3. No caso dos trabalhadores migrantes portadores de uma autorização de trabalho
por tempo determinado, o Estado de emprego pode igualmente:
a) Subordinar o exercício do direito de livre escolha da atividade remunerada à
condição de o trabalhador migrante ter residido legalmente no território desse
Estado a fim de aí exercer uma atividade remunerada durante o período previsto na
legislação nacional e que não deve ser superior a dois anos;
262
Artigo 53º
1. Os membros da família de um trabalhador migrante que beneficiem de uma
autorização de residência ou de admissão por tempo ilimitado ou automaticamente
renovável são autorizados a escolher livremente uma atividade remunerada nas
condições aplicáveis ao referido trabalhador migrante, nos termos do disposto no
artigo 52º da presente Convenção.
2. No caso dos membros da família de um trabalhador migrante que não sejam
autorizados a escolher livremente uma atividade remunerada, os Estados Partes
ponderam a possibilidade de lhes conceder autorização para exercer uma atividade
remunerada, com prioridade em relação aos outros trabalhadores que solicitem a
admissão no Estado de emprego, sem prejuízo dos acordos bilaterais e multilaterais
aplicáveis.
Artigo 54º
1. Sem prejuízo das condições estabelecidas na sua autorização de residência ou de
trabalho e dos direitos previstos nos artigos 25º e 27º da presente Convenção, os
trabalhadores migrantes beneficiam de igualdade de tratamento em relação aos
nacionais do Estado de emprego, no que respeita a:
a) Proteção contra o despedimento;
b) Prestações de desemprego;
c) Acesso a programas de interesse público destinados a combater o desemprego;
d) Acesso a emprego alternativo no caso de perda do emprego ou de cessação de
outra atividade remunerada, sem prejuízo do disposto no artigo 52º da presente
Convenção.
2. No caso de um trabalhador migrante invocar a violação das condições do seu
contrato de trabalho pelo seu empregador, terá o direito de submeter o seu caso às
autoridades competentes do Estado de emprego, nos termos do disposto no nº 1 do
artigo 18 da presente Convenção.
Artigo 55º
263
Artigo 56º
1. Os trabalhadores migrantes e os membros das suas famílias a que se refere esta
parte da presente Convenção não podem ser expulsos de um Estado de emprego,
exceto por razões definidas na legislação nacional desse Estado, e sem prejuízo das
garantias previstas na parte III.
2. A expulsão não será acionada com o objetivo de privar os trabalhadores
migrantes ou os membros da sua família dos direitos emergentes da autorização de
residência e da autorização de trabalho.
3. Na consideração da expulsão de um trabalhador migrante ou de um membro da
sua família, devem ser tomadas em conta razões de natureza humanitária e o tempo
de residência da pessoa interessada, até esse momento, no Estado de emprego.
Parte V
Disposições aplicáveis a categorias especiais de trabalhadores migrantes e membros
das suas famílias
Artigo 57º
As categorias especiais de trabalhadores migrantes indicadas nesta parte da presente
Convenção e os membros das suas famílias, que se encontrem documentados ou em
situação regular, gozam dos direitos enunciados na parte III e, sem prejuízo das
modificações a seguir indicadas, dos direitos enunciados na parte IV.
Artigo 58º
1. Os trabalhadores fronteiriços, tal como são definidos na alínea a) do nº 2 do
artigo 2º da presente Convenção, beneficiam dos direitos previstos na parte IV que
lhes sejam aplicáveis por força da sua presença e do seu trabalho no território do
Estado de emprego, considerando que não têm a sua residência habitual nesse
Estado.
2. Os Estados de emprego consideram favoravelmente a possibilidade de atribuir
aos trabalhadores fronteiriços o direito de escolher livremente uma atividade
remunerada após o decurso de um determinado período de tempo. A concessão
deste direito não afeta o seu estatuto de trabalhadores fronteiriços.
Artigo 59º
1. Os trabalhadores sazonais, tal como são definidos na alínea b) do nº 2 do artigo 2
da presente Convenção, beneficiam dos direitos previstos na parte IV que lhes
sejam aplicáveis por força da sua presença e do seu trabalho no território do Estado
de emprego e que se mostrem compatíveis com o seu estatuto de trabalhadores
264
sazonais, considerando que só estão presentes nesse Estado durante uma parte do
ano.
2. O Estado de emprego deve ponderar, sem prejuízo do disposto no nº 1 do
presente artigo, a possibilidade de conceder, aos trabalhadores migrantes que
tenham estado empregados no seu território durante um período significativo, a
oportunidade de realizarem outras atividades remuneradas e dar-lhes prioridade em
relação a outros trabalhadores que pretendam ser admitidos nesse Estado, sem
prejuízo dos acordos bilaterais e multilaterais aplicáveis.
Artigo 60º
Os trabalhadores itinerantes, tal como são definidos na alínea e) do nº 2 do artigo 2º
da presente Convenção, beneficiam dos direitos previstos na parte IV que possam
ser-lhes concedidos por força da sua presença e do seu trabalho no território do
Estado de emprego e que se mostrem compatíveis com o seu estatuto de
trabalhadores itinerantes nesse Estado.
Artigo 61º
1. Os trabalhadores vinculados a um projeto, tal como são definidos na alínea f) do
nº 2 do artigo 2º da presente Convenção, e os membros das suas famílias beneficiam
dos direitos previstos na parte IV, com excepção das disposições do artigo 43º, nº 1,
alíneas b) e c), do artigo 43º, n 1, alínea d), no que respeita a programas de habitação
social, do artigo 45º, nº 1, alínea b), e dos artigos 52º a 55º.
2. Se um trabalhador vinculado a um projeto invocar a violação dos termos do seu
contrato de trabalho pelo seu empregador, terá o direito de submeter o seu caso às
autoridades competentes do Estado a cuja jurisdição está sujeito esse empregador,
nos termos previstos no nº 1 do artigo 18º da presente Convenção.
3. Sem prejuízo dos acordos bilaterais ou multilaterais aplicáveis, os Estados Partes
interessados diligenciam no sentido de garantir que os trabalhadores vinculados a
projetos se encontrem devidamente protegidos pelos regimes de segurança social
dos Estados de origem ou de residência durante todo o tempo de participação no
projeto. Os Estados Partes interessados adotam as medidas necessárias para evitar a
denegação de direitos ou a duplicação de contribuições neste domínio.
4. Sem prejuízo do disposto no artigo 47º da presente Convenção e dos acordos
bilaterais ou multilaterais pertinentes, os Estados Partes interessados autorizam o
pagamento das remunerações dos trabalhadores vinculados a um projeto no seu
Estado de origem ou de residência habitual.
Artigo 62º
1. Os trabalhadores com um emprego específico, tal como são definidos na alínea g)
do nº 2 do artigo 2º da presente Convenção, beneficiam de todos os direitos
previstos na parte IV, com exceção do disposto no artigo 43º, nº 1, alíneas b) e c),
no artigo 43º, nº 1, alínea d), no que respeita a programas de habitação social, no
artigo 52º, e no artigo 54º, nº 1, alínea d).
265
Artigo 63
1. Os trabalhadores independentes, tal como são definidos na alínea h) do nº 2, do
artigo 2º da presente Convenção, beneficiam de todos os direitos previstos na parte
IV, com exceção dos direitos exclusivamente aplicáveis aos trabalhadores
assalariados.
2. Sem prejuízo dos artigos 52º e 79º da presente Convenção, a cessação da
atividade econômica dos trabalhadores independentes não implica, por si só, a
revogação da autorização que lhes seja concedida, bem como aos membros das suas
famílias, para poderem permanecer e exercer uma atividade remunerada no Estado
de emprego, salvo se a autorização de residência depender expressamente da
atividade remunerada específica para o exercício da qual tenham sido admitidos.
Parte VI
Promoção de condições saudáveis, eqüitativas, dignas e justas em matéria de
migração internacional de trabalhadores migrantes e de membros das suas famílias
Artigo 64º
1. Sem prejuízo do disposto no artigo 79º da presente Convenção, os Estados Partes
interessados consultam-se e cooperam, se tal se mostrar necessário, a fim de
promover condições saudáveis, eqüitativas e dignas no que se refere às migrações
internacionais dos trabalhadores e dos membros das suas famílias.
2. A este respeito, devem ser tomadas devidamente em conta não só as necessidades
e recursos de mão-de-obra ativa, mas também as necessidades de natureza social,
econômica, cultural e outra dos trabalhadores migrantes e dos membros das suas
famílias, bem como as conseqüências das migrações para as comunidades
envolvidas.
Artigo 65º
1. Os Estados Partes mantêm serviços apropriados para tratamento das questões
relativas à migração internacional dos trabalhadores e dos membros das suas
famílias. Compete-lhes, nomeadamente:
a) Formular e executar políticas relativas a essas migrações;
b) Assegurar o intercâmbio de informações, proceder a consultas e cooperar com as
autoridades competentes dos outros Estados envolvidos em tais migrações;
c) Fornecer informações adequadas, especialmente aos empregadores, aos
trabalhadores e às respectivas organizações, acerca das políticas, legislação e
regulamentos relativos às migrações e ao emprego, acerca de acordos no domínio
das migrações celebrados com outros Estados e outras questões pertinentes;
266
Artigo 66º
1. Sem prejuízo do disposto no nº 2 do presente artigo, só são autorizados a efetuar
operações de recrutamento de trabalhadores para ocuparem um emprego noutro
Estado:
a) Os serviços ou organismos oficiais do Estado em que tais operações se realizem;
b) Os serviços ou organismos oficiais do Estado de emprego na base de um acordo
entre os Estados interessados;
c) Os organismos instituídos no âmbito de um acordo bilateral ou multilateral.
2. Sob reserva da autorização, aprovação e fiscalização por parte dos órgãos oficiais
dos Estados Partes, instituídos de harmonia com a legislação e a prática dos
referidos Estados, podem igualmente ser autorizados a efetuar tais operações
gabinetes, potenciais empregadores ou pessoas agindo em seu nome.
Artigo 67º
1. Os Estados Partes interessados cooperam, se tal se mostrar necessário, com vista
à adoção de medidas relativas à boa organização do regresso ao Estado de origem
dos trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias, quando decidam
regressar, quando expire a sua autorização de residência ou de trabalho, ou quando
se encontrem em situação irregular no Estado de emprego.
2. Relativamente aos trabalhadores migrantes e aos membros das suas famílias em
situação regular, os Estados Partes interessados cooperam, se tal se mostrar
necessário, segundo as modalidades por estes acordadas, com vista a promover as
condições econômicas adequadas à sua reinstalação e a facilitar a sua reintegração
social e cultural duradoura no Estado de origem.
Artigo 68º
1. Os Estados Partes, incluindo os Estados de trânsito, cooperam a fim de prevenir
e eliminar os movimentos e o trabalho ilegais ou clandestinos de trabalhadores
migrantes em situação irregular. Na prossecução deste objetivo, os Estados
interessados tomam, nos limites da sua competência, as providências a seguir
indicadas:
267
Artigo 69º
1. Os Estados Partes, em cujo território se encontrem trabalhadores migrantes e
membros das suas famílias em situação irregular, tomam as medidas adequadas para
evitar que essa situação se prolongue.
2. Sempre que os Estados Partes interessados considerem a possibilidade de
regularizar a situação dessas pessoas, de harmonia com a legislação nacional e os
acordos bilaterais ou multilaterais aplicáveis, devem ter devidamente em conta as
circunstâncias da sua entrada, a duração da sua estada no Estado de emprego, bem
como outras considerações relevantes, em particular as que se relacionem com a sua
situação familiar.
Artigo 70º
Os Estados Partes adotam medidas não menos favoráveis do que as aplicadas aos
seus nacionais para garantir que as condições de vida e de trabalho dos
trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias em situação regular sejam
conformes às normas de saúde, de segurança e de higiene e aos princípios inerentes
à dignidade humana.
Artigo 71º
1. Os Estados Partes facilitam, se necessário, o repatriamento para o Estado de
origem dos restos mortais dos trabalhadores migrantes ou dos membros das suas
famílias.
2. No que respeita à indenização pelo falecimento de um trabalhador migrante ou de
um membro da sua família, os Estados Partes prestam assistência, se tal se mostrar
conveniente, às pessoas interessadas com vista a assegurar a pronta resolução desta
questão. Tal resolução terá por base a legislação nacional aplicável em conformidade
268
Parte VII
Aplicação da Convenção
Artigo 72º
1. a) Com o fim de examinar a aplicação da presente Convenção, é instituído um
Comitê para a Proteção dos Direitos de Todos os Trabalhadores Migrantes e dos
Membros das suas Famílias (a seguir designado “o Comitê”);
b) O Comitê é composto de dez peritos no momento da entrada em vigor da
presente Convenção e, após a entrada em vigor desta para o quadragésimo primeiro
Estado Parte, de catorze peritos de alta autoridade moral, imparcialidade e de
reconhecida competência no domínio abrangido pela presente Convenção.
2. a) Os membros do Comitê são eleitos por escrutínio secreto pelos Estados Partes,
de entre uma lista de candidatos designados pelos Estados Partes, tendo em
consideração a necessidade de assegurar uma repartição geográfica eqüitativa, no
que respeita quer aos Estados de origem quer aos Estados de emprego, e uma
representação dos principais sistemas jurídicos. Cada Estado Parte pode designar
um perito de entre os seus nacionais;
b) Os membros do Comitê são eleitos e exercem as suas funções a título pessoal.
3. A primeira eleição tem lugar nos seis meses seguintes à data da entrada em vigor
da presente Convenção e, depois disso, todos os dois anos. Pelo menos quatro
meses antes da data de cada eleição, o Secretário-Geral da Organização das Nações
Unidas convida, por escrito, os Estados Partes a proporem os seus candidatos num
prazo de dois meses. O Secretário-Geral elabora, em seguida, a lista alfabética dos
candidatos assim apresentados, indicando por que Estados foram designados, e
comunica-a aos Estados Partes na presente Convenção, pelo menos um mês antes
da data de cada eleição, acompanhada do curriculum vitae dos interessados.
4. As eleições dos membros do Comitê realizam-se quando das reuniões dos
Estados Partes convocadas pelo Secretário-Geral para a sede da Organização das
Nações Unidas. Nestas reuniões, em que o quorum é constituído por dois terços
dos Estados Partes, são eleitos para o Comitê os candidatos que obtiverem o maior
número de votos e a maioria absoluta dos votos dos representantes dos Estados
Partes presentes e votantes.
5. a) Os membros do Comitê são eleitos por um período de quatro anos. O
mandato de cinco dos membros eleitos na primeira eleição termina ao fim de dois
anos. O presidente da reunião tira à sorte, imediatamente após a primeira eleição, os
nomes destes cinco elementos.
b) A eleição dos quatro membros suplementares do Comitê realiza-se de harmonia
com o disposto nos nºs 2, 3 e 4 do presente artigo, após a entrada em vigor da
Convenção para o quadragésimo primeiro Estado Parte. O mandato de dois dos
membros suplementares eleitos nesta ocasião termina ao fim de dois anos. O
269
presidente da reunião dos Estados Partes tira à sorte os nomes destes dois
elementos.
c) Os membros do Comitê são reelegíveis em caso de recandidatura.
6. Em caso de morte ou de demissão de um membro do Comitê ou se, por qualquer
outra razão, um membro declarar que não pode continuar a exercer funções no seio
do Comitê, o Estado Parte que havia proposto a sua candidatura designa um outro
perito, de entre os seus nacionais, para preencher a vaga até ao termo do mandato,
sujeito à aprovação do Comitê.
7. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas põe à disposição do
Comitê o pessoal e as instalações necessárias para o desempenho das suas funções.
8. Os membros do Comitê recebem emolumentos provenientes dos recursos
financeiros da Organização das Nações Unidas, segundo as condições e
modalidades fixadas pela Assembléia Geral.
9. Os membros do Comitê gozam das facilidades, privilégios e imunidades de que
beneficiam os peritos em missão junto da Organização das Nações Unidas,
previstos nas seções pertinentes da Convenção sobre Privilégios e Imunidades das
Nações Unidas.
Artigo 73º
1. Os Estados Partes comprometem-se a apresentar ao Comitê, através do
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, relatórios sobre as medidas
legislativas, judiciais, administrativas e de outra natureza que hajam adotado para dar
aplicação às disposições da presente Convenção:
a) No ano subseqüente à data da entrada em vigor da presente Convenção para o
Estado Parte interessado;
b) Em seguida, de cinco em cinco anos e sempre que o Comitê o solicitar.
2. Os relatórios apresentados em aplicação do presente artigo devem também
indicar os fatores e as dificuldades, se a elas houver lugar, que afetem a aplicação
efetiva das disposições da presente Convenção e conter informações sobre as
características dos movimentos migratórios respeitantes ao Estado interessado.
3. O Comitê estabelece as diretrizes aplicáveis ao conteúdo dos relatórios.
4. Os Estados Partes asseguram aos seus relatórios uma larga difusão nos seus
próprios países.
Artigo 74º
1. O Comitê examina os relatórios apresentados por cada Estado Parte e transmite
ao Estado Parte interessado os comentários que julgar apropriados. Este Estado
Parte pode submeter ao Comitê observações sobre qualquer comentário feito pelo
Comitê ao abrigo do disposto no presente artigo. O Comitê pode solicitar aos
Estados Partes informações complementares.
2. Antes da abertura de cada sessão ordinária do Comitê, o Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas transmite, atempadamente, ao Diretor-Geral do
Secretariado Internacional do Trabalho cópia dos relatórios apresentados pelos
270
Artigo 75º
1. O Comitê adota o seu Regulamento interno.
2. O Comitê elege o seu secretariado por um período de dois anos.
3. O Comitê reúne em regra anualmente.
4. As reuniões do Comitê têm habitualmente lugar na sede da Organização das
Nações Unidas.
Artigo 76º
1. Qualquer Estado Parte na presente Convenção pode, em virtude do presente
artigo, declarar, em qualquer momento, que reconhece a competência do Comitê
para receber e apreciar comunicações de um Estado Parte, invocando o não
271
272
entre os Estados Partes interessados. O texto das alegações escritas e o auto das
alegações orais apresentadas pelos Estados Partes interessados são anexados ao
relatório. O Comitê pode também comunicar apenas aos Estados Partes
interessados as opiniões que julgar pertinentes. O relatório é comunicado aos
Estados Partes interessados.
2. As disposições do presente artigo entrarão em vigor quando dez Estados Partes
na presente Convenção tiverem feito a declaração prevista no nº 1 deste artigo.
A declaração é depositada pelo Estado Parte junto do Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas, que transmitirá uma cópia aos outros Estados
Partes.
A declaração pode ser retirada em qualquer momento por notificação dirigida ao
Secretário-Geral. A retirada não prejudica a apreciação de qualquer questão que já
tenha sido transmitida nos termos do presente artigo; nenhuma outra comunicação
de um Estado Parte será recebida ao abrigo do presente artigo depois que o
Secretário-Geral tiver recebido a notificação da retirada da declaração, a menos que
o Estado Parte interessado haja formulado uma nova declaração.
Artigo 77º
1. Qualquer Estado Parte na presente Convenção pode, em qualquer momento,
declarar, nos termos do presente artigo, que reconhece a competência do Comitê
para receber e examinar comunicações apresentadas por pessoas sujeitas à sua
jurisdição ou em seu nome, invocando a violação por esse Estado Parte dos seus
direitos individuais, estabelecidos pela presente Convenção. O Comitê não recebe
nenhuma comunicação relativa a um Estado Parte que não tiver feito essa
declaração.
2. O Comitê declara inadmissível uma comunicação apresentada nos termos do
presente artigo que seja anônima ou julgada abusiva ou incompatível com as
disposições da presente Convenção.
3. O Comitê não examina nenhuma comunicação submetida por uma pessoa nos
termos do presente artigo, sem se certificar de que:
a) a mesma questão não foi já submetida a outra instância internacional de inquérito
ou de decisão;
b) o interessado esgotou os recursos internos disponíveis; tal não se aplica se, na
opinião do Comitê, os procedimentos de recurso ultrapassam os prazos razoáveis
ou se é pouco provável que as vias de recurso satisfaçam efetivamente o interessado.
4. Sob reserva das disposições do nº 2 do presente artigo, o Comitê dá
conhecimento das comunicações apresentadas nos termos deste artigo ao Estado
Parte na presente Convenção que tiver feito uma declaração nos termos do nº 1 e
tiver, alegadamente, violado uma disposição da Convenção. No prazo de seis meses,
o referido Estado submete por escrito ao Comitê explicações ou declarações
clarificando o assunto e indicando, se for caso disso, as medidas que haja tomado
para ultrapassar a situação.
273
Artigo 78º
As disposições do artigo 76º da presente Convenção aplicam-se sem prejuízo de
qualquer processo de resolução de litígios ou de queixas no domínio coberto pela
presente Convenção, previsto nos instrumentos constitutivos e convenções da
Organização das Nações Unidas e das agências especializadas, e não impedem os
Estados Partes de recorrerem a qualquer outro processo de resolução de litígios ao
abrigo de acordos internacionais a que se encontrem vinculados.
Parte VIII
Disposições gerais
Artigo 79º
Nenhuma disposição da presente Convenção afeta o direito de cada Estado Parte de
estabelecer os critérios de admissão de trabalhadores migrantes e de membros das
suas famílias. No que se refere às outras questões relativas ao estatuto jurídico e ao
tratamento dos trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias, os
Estados Partes ficam vinculados pelas limitações impostas pela presente Convenção.
Artigo 80º
Nenhuma disposição da presente Convenção deve ser interpretada como afetando
as disposições da Carta das Nações Unidas e dos atos constitutivos das agências
especializadas que definem as responsabilidades respectivas dos diversos órgãos da
Organização das Nações Unidas e das agências especializadas no que respeita às
questões abordadas na presente Convenção.
274
Artigo 81º
1. Nenhuma disposição da presente Convenção afeta as disposições mais favoráveis
à realização dos direitos ou ao exercício das liberdades dos trabalhadores migrantes
e dos membros das suas famílias que possam figurar:
a) Na legislação ou na prática de um Estado Parte; ou
b) Em qualquer tratado bilateral ou multilateral em vigor para esse Estado.
2. Nenhuma disposição da presente Convenção deve ser interpretada como
implicando para um Estado, grupo ou pessoa, o direito a dedicar-se a uma atividade
ou a realizar um ato que afete os direitos ou as liberdades enunciados na presente
Convenção.
Artigo 82º
Os direitos dos trabalhadores migrantes e dos membros das suas famílias previstos
na presente Convenção não podem ser objeto de renúncia. Não é permitido exercer
qualquer forma de pressão sobre os trabalhadores migrantes e os membros das suas
famílias para que renunciem a estes direitos ou se abstenham de os exercer. Não é
possível a derrogação por contrato dos direitos reconhecidos na presente
Convenção. Os Estados Partes tomam as medidas adequadas para garantir que estes
princípios são respeitados.
Artigo 83º
Cada Estado Parte na presente Convenção compromete-se:
a) A garantir que toda a pessoa cujos direitos e liberdades reconhecidos na presente
Convenção tenham sido violados disponha de um recurso efetivo, ainda que a
violação haja sido cometida por pessoas no exercício de funções oficiais;
b) A garantir que, ao exercer tal recurso, o interessado possa ver a sua queixa
apreciada e decidida por uma autoridade judiciária, administrativa ou legislativa
competente, ou por qualquer outra autoridade competente prevista no sistema
jurídico do Estado, e a desenvolver as possibilidades de recurso judicial;
c) A garantir que as autoridades competentes dêem seguimento ao recurso quando
este for considerado fundado.
Artigo 84º
Cada Estado Parte compromete-se a adotar todas as medidas legislativas e outras
que se afigurem necessárias à aplicação das disposições da presente Convenção.
Parte IX
Disposições finais
Artigo 85º
O Secretário-Geral das Nações Unidas é designado como depositário da presente
Convenção.
275
Artigo 86º
1. A presente Convenção está aberta à assinatura de todos os Estados. Está sujeita a
ratificação.
2. A presente Convenção está aberta à adesão de todos os Estados.
3. Os instrumentos de ratificação ou de adesão serão depositados junto do
Secretário-Geral das Nações Unidas.
Artigo 87º
1. A presente Convenção entrará em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao
termo de um período de três meses após a data do depósito do vigésimo
instrumento de ratificação ou de adesão.
2. Para cada um dos Estados que ratificarem a presente Convenção ou a ela
aderirem após a sua entrada em vigor, a Convenção entrará em vigor no primeiro
dia do mês seguinte a um período de três meses após a data do depósito, por parte
desse Estado, do seu instrumento de ratificação ou de adesão.
Artigo 88º
Um Estado que ratifique a presente Convenção ou a ela adira não pode excluir a
aplicação de qualquer uma das suas partes ou, sem prejuízo do artigo 3º, excluir da
sua aplicação uma categoria qualquer de trabalhadores migrantes.
Artigo 89º
1. Qualquer Estado Parte pode denunciar a presente Convenção, após o decurso de
um período de cinco anos a contar da data da entrada em vigor da Convenção para
esse Estado, por via de notificação escrita dirigida ao Secretário-Geral da
Organização das Nações Unidas.
2. A denúncia produz efeito no primeiro dia do mês seguinte ao termo de um
período de doze meses após a data da recepção da notificação pelo Secretário-Geral.
3. A denúncia não pode ter como efeito desvincular o Estado Parte das obrigações
que para si decorrem da presente Convenção relativamente a ação ou omissão
praticada anteriormente à data em que a denúncia produz efeito, nem impede, de
modo algum, que uma questão submetida ao Comitê anteriormente à data em que a
denúncia produz efeito seja apreciada.
4. Após a data em que a denúncia produz efeito para um Estado Parte, o Comitê
não aprecia mais nenhuma questão nova respeitante a esse Estado.
Artigo 90º
1. Após o decurso de um período de cinco anos a contar da data da entrada em
vigor da presente Convenção, qualquer Estado pode, em qualquer momento,
propor a revisão da Convenção por via de notificação dirigida ao Secretário-Geral
da Organização das Nações Unidas. O Secretário-Geral transmite, em seguida, a
proposta de revisão aos Estados Partes, solicitando que lhe seja comunicado se são
276
Artigo 91º
1. O Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas recebe e comunica a todos
os Estados o texto das reservas que forem feitas pelos Estados no momento da
assinatura, da ratificação ou da adesão.
2. Não é autorizada nenhuma reserva incompatível com o objeto e com o fim da
presente Convenção.
3. As reservas podem ser retiradas em qualquer momento por via de notificação
dirigida ao Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas, o qual informará
todos os Estados. A notificação produz efeito na data da sua recepção pelo
Secretário-Geral.
Artigo 92º
1. Em caso de diferendo entre dois ou mais Estados relativamente à interpretação
ou aplicação da presente Convenção, que não for resolvido por negociação, será o
mesmo submetido a arbitragem a pedido de um dos Estados interessados. Se, no
prazo de seis meses a contar da data do pedido de arbitragem, as Partes não
chegarem a acordo sobre a organização da arbitragem, o diferendo pode ser
submetido ao Tribunal Internacional de Justiça, em conformidade com o Estatuto
do Tribunal, por iniciativa de qualquer das Partes.
2. Qualquer Estado Parte pode, no momento da assinatura ou do depósito do
instrumento de ratificação ou de adesão da presente Convenção, declarar que não se
considera vinculado pelas disposições do nº 1 do presente artigo. Os outros Estados
Partes não ficam vinculados pelas referidas disposições em relação ao Estado Parte
que tiver formulado tal declaração.
3. Qualquer Estado Parte que tiver formulado uma declaração nos termos do nº 2
anterior pode, em qualquer momento, retirá-la mediante notificação dirigida ao
Secretário-Geral da Organização das Nações Unidas.
Artigo 93º
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