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Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Faculdade de Comunicação e Artes


Centro de Pesquisa em Comunicação

O ANÔNIMO NO MEIO DA EXPOSIÇÃO:


Uma análise associativa entre seriado Gossip Girl e as redes sociais

Eduarda Meireles
Felipe Mesquita
Marcela Silva

Belo Horizonte
2015
Felipe Mesquita
Eduarda Meireles
Marcela Silva

O ANÔNIMO NO MEIO DA EXPOSIÇÃO:


Uma análise associativa entre seriado Gossip Girl e as redes sociais

Projeto de conclusão de curso apresentado à


disciplina Projeto Experimental III, do curso de
Publicidade e Propaganda da Escola de
Comunicação e Artes da Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais.

Orientadora: Glória Gomide

Belo Horizonte
2015
Felipe Mesquita
Eduarda Meireles
Marcela Silva

O ANÔNIMO NO MEIO DA EXPOSIÇÃO:


Um estudo comparativo entre o seriado Gossip Girl e as redes sociais

Projeto de conclusão de curso apresentado à disciplina Projeto Experimental III, do


curso de Publicidade e Propaganda da Escola de Comunicação e Artes da Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais.
Orientadora: Glória Gomide

Glória Gomide (Orientadora) – PUC Minas

Maria Ângela Mattos (Supervisora) – PUC Minas

Robertson Burgarelli Mayrink (Professor convidado) – PUC Minas


RESUMO

Tendo como base de estudo o seriado televisivo norte-americano Gossip Girl,


essa pesquisa analisa a relação do anonimato, assim como da celebrização, e as
influências que estes provocam na massa e como ela reage perante o que lhe é
apresentado pela mídia. A sociedade pós-moderna presencia uma disputa constante
entre aqueles que querem se abster e outros que desejam se destacar mais.
Desenvolvemos e buscamos os conceitos de televisão, seriado, além da
participação das redes sociais e aplicativos nesse contexto. Dessa forma, nossa
análise cabe associar as formas de relação presenciadas no seriado, tendo em vista
a presença do suporte digital na trama da série, com o uso das redes sociais e
dispositivos móveis.

PALAVRAS-CHAVES: anonimato; celebrização; seriados; redes sociais; aplicativos.


ABSTRACT:

Underpinned by the North American TV series Gossip Girl, this research


analyses the anonymous cause, just like the achievements of fame, and the
reactions caused to the masses and the way that it reacts during what is presented
by the media. The postmodern society faces a constant dispute between those who
wants to abstain their selves and the ones that wish to be seen. We developed and
searched the concepts of television, series, and the part of the Social Medias and
Apps in that context. On that perspective, our project associates the forms of
relations as seen on this specific TV series, considering the digital support insert on
the show, with the usability of the Social Medias supports and mobile devices.

KEY-WORDS: anonymous, recognition, TV series, Social Media; Apps.


LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: A família Goldberg


Figura 2: Lucy e o elenco da sitcom
Figura 3: Interface do Twitter
Figura 4: Interface do LikedIn
Figura 5: Interface do Facebook
Figura 6: O app Lulu
Figura 7: O Spotted Puc Minas
Figura 8: A app Secret
Figura 9: Mapa de Nova York
Figura 10: Os distritos de Nova York
Figura 11: O Brooklyn
Figura 12: O logo de Gossip Girl
Figura 13: Blair Waldorf
Figura 14: Serena Van Der Woodsen
Figura 15: Nate Archibald
Figura 16: Chuck Bass
Figura 17: Dan Humphrey
Figura 18: Jenny Humphrey
Figura 19: A coleção de livros Gossip Girl
Figura 20: Dan, Chuck e Nate no ônibus
Figura 21: Chuck e sua limusine
Figura 22: Dan e seu livro Inside
Quadro 1: Usuários com mais seguidores no mundo
Quadro 2: Usuários brasileiros com maior número de seguidores
Quadro 3: Páginas do facebook com maior número de fãs
SUMÁRIO

1 - PILOTO....................................................................................................................7
2 – A TELINHA PODEROSA.......................................................................................9
2.1 - Os primeiros chuviscos...............................................................................................9
2.2 - Luz, câmera e programação.......................................................................................12
3 – A INTERATIVIDADE ONLINE..............................................................................16
3.1 - A rede mundial de computadores.............................................................................16
3.2 - O blog: Mais do que um diário virtual.......................................................................18
3.3 - As redes sociais: Conexões em ambiente online....................................................19
3.3.1 Twitter: A ideia em um pio.........................................................................................21
3.3.2 - LinkedIn: O currículo online....................................................................................23
3.3.3 - Facebook – A rede das redes..................................................................................24
4 - OS APLICATIVOS E O ANÔNIMO.......................................................................27
4.1 - Tudo ao alcance das mãos – os aplicativos.............................................................27
4.2 - Lulu – O poder feminino.............................................................................................28
4.3 - Sppoted – O “flerte” virtual........................................................................................31
4.2 - Secret – O diário público............................................................................................33
5 – E QUEM SOU EU?...............................................................................................36
5.1 - Só mais um na multidão.............................................................................................36
5.2 - O anônimo por trás da tecnologia.............................................................................38
5.3 - Os destaques da sociedade.......................................................................................40
6 – NEW YORK, NEW YORK.....................................................................................44
6.1 - If I can make it there, I’ll make it anywhere...............................................................44

6.2 - ................................................................................................................ 47
.............................................................................................................................................. 47
7 – O ANÔNIMO E A GAROTA DO BLOG...............................................................53
7.1 - O anônimo contemporâneo.......................................................................................53
7. 2 - E o que mudou?.........................................................................................................57
8 – SÉRIES FINALE...................................................................................................61
REFERÊNCIAS...........................................................................................................63
ANEXO........................................................................................................................71
7

1 - PILOTO

A questão acerca do anonimato e celebrização sempre foi recorrente na


sociedade. Devido ao avanço das tecnologias, com o surgimento dos primeiros
meios de comunicação até a posterior revolução tecnológica, esse assunto se tornou
cada vez mais corriqueiro nas relações interpessoais.
A internet e seus desdobramentos permitiram que a relação entre o anônimo
e a celebridade paradoxalmente se tornasse cada vez mais tênue e forte. Com ela,
um usuário pode ser apenas mais um no meio de tantos e, ao mesmo tempo, ter
notoriedade e ser conhecido pelos demais. As redes sociais e os aplicativos de
celular são ambientes online que foram tomados por mensagens de quem quer se
manter anônimo, bem como de quem quer obter um certo destaque dentro do meio.
Essas novas possibilidades de interação vem modificando relações, criando novas
redes de conexões e comportamentos e, por essa maneira, tona-se pertinente
analisar e compreender esse novo panorama.
Tal fenômeno foi tema de uma série televisiva, Gossip Girl. Inspirada em
uma coleção de doze livros escritos por Cecily von Ziegesar e produzida entre os
anos de 2007 e 2012, esta produção norte-americana foi um sucesso entre o público
jovem e adolescente durante o período de exibição. Ao longo de seus 121 capítulos,
distribuídos em seis temporadas, a série conta a história de jovens da elite
novaiorquina de um escola particular que sofrem com boatos e histórias divulgadas
em constantes postagens de um blog. Nele estão contidos diversos segredos das
personagens, fazendo com que suas vidas sejam públicas e acessíveis para todos.
A pessoa por trás do blog se mantêm anônima durante toda a série e os
personagens constantemente se indagam e buscam saber sobre sua identidade.
Tendo isso em consideração, a produção audiovisual possui evidências
claras de como a integração anônimo-famoso, personificada nos jovens de Brooklyn-
Manhanttan, ocorre no plano físico do relacionamento. Essas relações relacionadas
configuram o cenário das redes sociais presentes nos dias atuais. À vista disso,
discorremos sobre como é estabelecido o diálogo entre o entretenimento e as mídias
sociais presentes na narrativa de Gossip Girl, bem como as mídias utilizadas, a
construção do anônimo e da popularidade. A pesquisa sobre as produções
8

televisivas, a preocupação com a qualidade programacional e o então surgimento do


gênero seriado foram bases para compreender de que forma essa coleção literária
pode ser facilmente transposta e adaptada à televisão e conquistar um espaço de
tamanho reconhecimento e popularidade como de fato ocorreu.
Para tal, elaboramos uma análise à respeito da questão do anonimato e da
celebrização, sobretudo em ambiente online. Para tanto, observações sobre as
redes sociais Facebook, Twitter, LinkedIn, aplicativos e blogs, foram feitas com
intenção de explorar a figura do anônimo assim como das celebridades
instantâneas. Além de um embasamento teórico, da leitura de artigos e reportagens
que analisam todos esses dispositivos, foi associada uma análise fílmica da
produção Gossip Girl com referências ao surgimento da mídia televisiva. Desse
modo, ilustramos o fenômeno do anonimato e da celebrização na sociedade e
salientado por nós.
9

2 – A TELINHA PODEROSA

2.1 - Os primeiros chuviscos

O início da televisão como conhecemos hoje é datado no período pós-guerra,


nos Estados Unidos, onde foi deslocado o hábito de apreciação dessa ferramenta
para o ambiente domiciliar, graças à expansão imobiliária nos subúrbios que ocorreu
no país na década de 1950. Como afirma Esquenazi (2011), “é muito fácil relacionar
este gosto imoderado com a edificação de aglomerados habitacionais na periferia
das grandes cidades, onde se refugiam aspirantes a classes médias”. (ESQUENAZI,
2011, p.18).
Os hábitos de apreciação da televisão, anteriormente a esse fenômeno
imobiliário, eram vinculados ao encontro em bares e tabernas do centro da cidade,
com a maioria dos espectadores sendo do sexo masculino, para transmissões
relacionadas a esportes. Essa situação fez com que grupos compartilhassem o
hábito de realizar encontros nesses ambientes após a jornada de trabalho a fim de
descansar e desfrutar momentos de lazer.
No momento em que a televisão foi aderida às moradias, a organização das
casas e as relações de recepção da informação através do aparelho foram
gradativamente alteradas e adaptadas ao espaço doméstico (ESQUENAZI, 2011).
Fato é que a televisão nesse primeiro período de adequação era uma tecnologia
elitista, como cita Martin (2014), visto que, “em 1950, um aparelho de televisão
custava o equivalente ao pagamento de várias semanas de um salário médio e
podia ser encontrado apenas em poucos lares de pessoas mais instruídas e de
maior poder aquisitivo”. (MARTIN, 2014, p.40).
No entanto, a consolidação da televisão como ferramenta de comunicação de
massa não tardou, visto que, em 1954, mais da metade dos domicílios americanos
já possuíam um aparelho de TV (MARTIN, 2014). Antenadas à esse avanço
audiovisual, as grandes emissoras que transmitiam as notícias nos aparelhos de
rádio transferiram o seu potencial jornalístico para a televisão e mantiveram o
vínculo de seus espectadores nessa nova ferramenta midiática. A presença da
10

televisão nas casas modificou não apenas o hábito de consumo de conteúdo e


informação, mas também transpassou a própria configuração do ambiente dos lares,
assim como afirma Spigel (1992) no livro Make Room for TV, com a tradicional
ambientação do aparelho de TV na sala de estar e a presença da mulher, em sua
maioria das vezes, na cozinha, foram desenvolvidas soluções para que esta
pudesse acompanhar a programação neste ambiente. Teve-se, então, o
desenvolvimento da cozinha no estilo “cozinha americana”, um estilo no qual apenas
uma bancada divide este cômodo do restante do imóvel.
Após a inserção da televisão nesse cenário de integração familiar, a indústria
de programas televisivos começou a se desenvolver e a criar formas de
entretenimento que continuassem a divertir e unir esse núcleo. O principal padrão
dos primeiros programas norte-americanos foi inspirado no vaudeville, um
espetáculo desenvolvido nos anos de 1880 e composto por comediantes, cantores,
ventríloquos, dançarinos, músicos, dentre outros artistas, que exerciam números
especificamente atraentes para captar o interesse popular por alguns minutos (PBS,
1999, tradução nossa). A junção dessa tradição do entretenimento com o discurso
elaborado propriamente para a família americana garantiu a solução para reunir
esses núcleos frente à tela.
Com o passar do tempo, foi-se exigido pela crítica um desenvolvimento
narrativo além do tradicional espetáculo de variedades (ESQUENAZI, 2011). Notou-
se a elaboração de comédias familiares, onde o núcleo central da trama se
desenvolve na sala de estar com situações semelhantes às vivenciadas pelos
espectadores, dando origem a uma nova forma de programa e formato televisivo: as
sitcoms. Estas tiveram origem em comédias de rádio de curta duração e foram
associadas com aspectos herdados do padrão vaudeville de entretenimento, sendo
adaptadas pela indústria televisiva, com o passar de anos, ao perfil que essa mídia
elaborava. A primeira sitcom foi “The Goldbergs”, uma comédia radiofônica
transferida para a televisão no ano de 1949. (MELTZ, 2008, tradução nossa).
11

Figura 1: A Família Goldberg

Fonte: http://flowtv.org/2010/05/a-case-for-imperfection-confessions-of-a-
digital-restoration-artist-pauline-stakelon-university-of-california-santa-
barbara

Segundo Meltz (2008), no início da década de 1950, a rede CBS decide


transportar seu famoso programa radiofônico My Favorite Husband, interpretado
pela voz de Lucille Ball, para uma sitcom televisiva. A atriz, por não querer deixar
Los Angeles para as gravações em Nova York, propõe a gravação do programa em
estúdios californianos, de maneira sequencial, onde foi posteriormente dividida em
episódios, e com a presença de um público, retomando assim à ideia das produções
de Vaudeville. Surge, então, com esse novo conceito de transmissão televisiva, o
marcante I Love Lucy, além de um padrão para diversas comédias ao longo dos
anos seguintes. (TAFLINGER,1996, tradução nossa).

Figura 2: Lucy e o elenco da sitcom

Fonte: http://ilovelucyandricky.wikia.com/wiki/I_Love_Lucy_Wiki

Desde a sua instalação como mídia, a televisão sofreu várias e árduas


críticas de diversos cunhos. Os próprios especialistas e técnicos desse meio
pejoram arduamente a televisão, com argumentos baseados em diversas questões,
12

tais como ter-se a acusação de “a televisão induzir ao vício, de corromper, de ser


responsável por levar crianças prefeitas e bem-comportadas à violência e
depravação.” (MARTIN, 2014, p.40 a 41). Essa discussão obteve impulso no início
da busca pelo desenvolvimento de variedade de programação, imagem e interação
com o telespectador objetivando a melhora na qualidade televisiva. Começou-se,
então, na década de 70, um impacto nas tecnologias da televisão com a presença
da informática, de ajustes de imagens, planos, cortes e disposição de elementos que
“transformou a natureza do vídeo, pois no sistema digital o efeito deixa de ser
apenas um recurso e se converte na própria mensagem.” (MOREIRA, 2007, p.3).
Dessa forma, desenvolve-se uma nova modalidade e essencialidade estética da
televisão graças a aparatos tecnológicos capazes de acrescentar uma intensa busca
pela qualidade programacional.

2.2 - Luz, câmera e programação

O desenvolvimento da programação televisiva nos Estados Unidos acarretou


na elaboração de produções focadas na valorização de roteiristas objetivando a
criação de uma qualidade artística e, consequentemente, um crescimento de
questões relacionadas aos negócios financeiros e empresariais das produtoras.
O nascimento da produtora MTM Enterprises tornou-se a concretização
dessa ideia, já que seu fundador Grant Tinker produziu diversos programas
dramáticos que tiveram um impacto direto sobre a geração seguinte da televisão
(MARTIN, 2014). A ideia da “quality television” – televisão de qualidade – teve
origem com a publicação do livro “MTM: Quality Television” (FAUER, 1984), na qual
valorizou a qualidade estética da quarta produção dramática deste estúdio chamada
Hill Street Blues (Chumbo Grosso), um seriado de sucesso da rede NBC que se
manteve no ar durante mais de seis anos e produziu 147 episódios que, segundo
Martin (2014), foi além da satisfação da própria rede e dos telespectadores e
concedeu aos seus criadores uma liberdade de produção de algo muito mais rico.
A forma seriada de uma narrativa foi originada da antiga literatura epistolar,
desenvolvendo-se nos contos míticos intermináveis e consolidando essa forma
literária em folhetins do século XIX e em radionovelas. A inspiração dos seriados
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televisivos veio do cinema quando em 1913 algumas produções audiovisuais foram


divididas em partes para conforto dos espectadores que, pelo fato das salas de
cinema serem muito pequenas e desconfortáveis, não suportavam muitas horas de
transmissões extensas. (MOREIRA, 2007).
As modificações e desenvolvimentos dos seriados se moldaram para ser
uma estrutura de apreciação doméstica, local em que o espectador se encontra em
conforto e apto à captação de sua atenção por aquele programa. De forma geral,
nessa nova configuração na contemporaneidade,

os seriados, caso em que cada emissão é uma história completa e


autônoma, com começo, meio e fim, o que se repete no episódio seguinte
são apenas os personagens principais calcados numa mesma intenção
narrativa. Ou seja, utiliza-se de um protótipo básico que se multiplica em
variantes diversas. (MOREIRA, 2007, p. 8).

A padronização e reprodução dessa estrutura não elimina a criação de


outras formas e modelos de seriados. São reconhecidas novas estruturas narrativas,
tais como os casos no qual cada episódio desenvolve-se linearmente dentro de seu
período de tempo ou com enredos e personagens variando de acordo com o passar
de temporadas (MOREIRA, 2007).
Segundo Martin (2014), a produção de um novo seriado induz uma
sequência de ações primordiais, de forma no qual toda produção deste conta sua
história inteira no piloto, sendo necessário em um único episódio contabilizar a
quantidade relativa de entretenimento para convencer não somente os grandes
chefes da rede de transmissão a investirem no desenvolvimento de mais episódios,
mas também os espectadores a permanecerem fiéis aos futuros acontecimentos. O
desenvolvimento de um roteiro de qualidade, dessa forma, torna-se essencial para
que isso ocorra.
As sitcoms elaboradas no princípio da era da qualidade televisiva contavam
com um enredo baseado numa história com uma ou duas personagens principais,
com uma trama bem estabelecida e um caráter de final conclusivo. Com o passar
dos anos, esse formato narrativo foi refeito e expandiu-se a quantidade de
personagens, os núcleos de relacionamento entre elas e as tramas relacionadas a
estes. (COZZOLINO, 2008).
Esse desenvolvimento permitiu uma flexibilidade nas formas de retratar os
enredos, modificando não apenas a questão da quantidade de personagens ou a
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sua importância no desenvolver da história no decorrer dos episódios, mas também


as ferramentas de relação dos espectadores com o arco narrativo e com todo o
decorrer deste.
Nos tempos atuais, são desenvolvidas séries que exigem grande fidelidade
de seus espectadores, pois “deixar de assistir a um único episódio podia significar a
perda de nexo da trama” (COZZOLINO, et. al., 2008, p.7), visto que, como afirma
Campos (2009), tornaram-se elementos primordiais de uma boa historia narrativa
moderna,

Os personagens e suas ações, os incidentes que eles geram ou vivenciam,


as situações que os reúnem, os lugares pelos quais transitam, os objetos,
os sons emitidos, as falas e vozes emitidas, os flashbacks e flashforwards
líricos, os letreiros, as cenas em que tudo isso é mostrado, os fios da estória
que isso tudo traça e que, tramados numa narrativa, eventualmente se
resumem numa storyline, emitem um tema e uma premissa. (CAMPOS,
2009, p.97).

A complexidade de elementos presentes em uma narrativa televisiva nesse


formato seriado demanda um desenvolvimento do enredo caracterizado por uma
participação coletiva intensa, no qual “na maioria desses recintos, há uma mesa de
reuniões em torno da qual se reúnem os roteiristas.” (MARTIN, 2014, p.97).
Segundo Martin (2008), é nesse espaço em que o desenvolvimento de inúmeras
ideias, partidas de diversos colaboradores, são organizadas por um assistente dos
roteiristas que transpõe todo o processo para um computador para, posteriormente,
ser organizado em um roteiro com a narração e a concepção linear do episódio.
Com essa realidade onde não há mais um padrão bem delineado para a
programação, os seriados não detém uma duração ou um formato estipulado e
determinado, podendo variar tanto os minutos, quanto a quantidade de episódios e o
próprio número de temporadas. Para tal determinação, conta-se bastante com o
sucesso e a forma de impacto que o programa exerce no público. A variação de
temas, contextos e realidades são questões que garantem diversos públicos e
diversificam ainda mais o cenário de produções audiovisuais (XAVIER, 2013). Dessa
forma, a experiência de acompanhar um seriado “conspirou para criar uma notável e
nova intimidade entre o programa e seu espectador.” (MARTIN, 2014, p.34).
De fato a relação da televisão com a sua audiência é algo presente desde a
participação do público em auditórios e plateias de programas e até mesmo na
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interação, por meio do telefone, do espectador em enquetes e decisões. Como


exemplo, tem-se o programa da Rede Globo “Você Decide”, exibido de 1992 até
2000, no qual era possível ao espectador ligar e decidir, entre dois finais
estabelecidos, qual ele gostaria de assistir sendo transmitido. A internet revolucionou
essa ideia de interação público-programação, fato como “a sua estrutura
hipermidiática e feedback imediato foi incorporada pela televisão como um dos
principais meios de participação do telespectador.” (CHAGAS, 2010, p.150).
Nesse novo cenário, com a presença mais intensa da internet no cotidiano,
tem-se outra forma de participação do denominado “fã-crítico”. Esse ambiente
possibilitou “rever cada um dos episódios assim que fossem ao ar, inclusive em
tempo real, via postagens ao vivo em blogs ou tweets. Tornou-se comum assistir à
TV com a chamada segunda tela – um smartphone ou um tablet, aberto e preparado
para uso.” (MARTIN, 2014, p.34).

3 – A INTERATIVIDADE ONLINE
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3.1 - A rede mundial de computadores

O surgimento da internet remonta aos anos de 1960, no contexto da Guerra


Fria, época imediatamente depois da Segunda Guerra Mundial, na qual o mundo se
dividiu em dois lados, o capitalista, comandado pelos Estados Unidos e o socialista,
liderado pela então União Soviética. Essas duas potências, a fim de se manterem
hegemônicas no cenário mundial, se muniram de armamentos e técnicas de
espionagem. Foi assim que começou o investimento em satélites espaciais.
Em um experimento para a elaboração de um satélite norte-americano, foi
criada uma rede que permitia que a comunicação entre as equipes de
pesquisadores chegasse intacta aos receptores, independentemente dos acidentes
no meio do percurso (FERNANDES, 2005). A ARPAnet, como ficou conhecida, tinha
a missão de interligar algumas universidades dos Estados Unidos, como a de
Stanford e Santa Bárbara, compartilhando as pesquisas realizadas. Em seguida,
surgiu o e-mail, funcionalidade que foi logo incorporada pela rede. Na década de
1970, com o auxílio de cientistas ingleses e franceses, a rede sofreu diversas
expansões e aprimoramentos, até se tornar como é conhecida hoje (DUMAS, 2011).
A ideia da comunicação local e global entre pesquisadores e o potencial de
acesso quase instantâneo às informações, que até então levavam dias ou semanas
para estarem disponíveis, despertou o interesse da comunidade acadêmica em
geral, rompendo as barreiras norte-americanas. Diversas universidades ao redor do
mundo iniciaram projetos na década de 1980 com o intuito de promover a interação
de informações via rede de dados, colocando em questão a ideia de redes de
computadores, que proporcionariam a difusão de informações de forma mais rápida
e mais interativa (CARVALHO, 2006).
No ano de 1990, a internet se transformou em um ambiente público, no qual
qualquer pessoa, munida dos equipamentos necessários, pode participar.
A sua popularização começa a partir dos anos 2000, devido ao
barateamento dos preços dos computadores e ao aumento da eficiência dos
serviços de telecomunicação, fazendo com que mais pessoas tivessem acesso à
rede e pudessem se conectar a amigos e familiares. Tudo isso de forma mais rápida
e fácil.
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De acordo com Aun (2007), enquanto a população mundial cresce a uma


proporção de 1,1% ao ano, o número de internautas aumenta 6,6% ao ano. Além
disso, países como o Brasil, a Rússia, a Índia e a China, experimentam o maior
crescimento do número de usuários. No Brasil, cerca de 40% da população possui
acesso à internet, ficando em quinto lugar no ranking de países com maior número
de internautas (EXAME INFO, 2012).
Cabe salientar, também, que o acesso à internet a partir dos dispositivos
móveis também aumentou, tendo em vista a grande presença de smartphones ao
redor do mundo. Em território brasileiro, foram vendidos 16 mil exemplares só no
ano de 2012, um número 78% maior do que em 2011 (IDGNOW, 2013).
Um smartphone – telefone inteligente – é um celular com funcionalidades
avançadas que possui um sistema operacional que permite desenvolver milhares de
programas adicionais. Seu sistema operacional é escrito em código aberto, o que
significa que podem ser desenvolvidos vários programas que se adaptem ao
aparelho. Essa facilidade está ao alcance de todos, que podem desenvolver
aplicativos com as mais diversas funções para serem instalados. Seus principais
sistemas operacionais são: iOS, Symbian, Blackberry, Windows Mobile, Android e
outros.
Os smartphones encontram-se em constante popularização, já que os
mesmos demonstram possuir cada vez mais utilidades e aplicabilidade no dia-a-dia
contemporâneo, seja para auxiliar em seu ambiente de trabalho, familiar ou mesmo
como forma de entretenimento. Um recurso que aparece com cada vez mais força
nos smartphones é a integração com as redes sociais, como Facebook, Twitter e
Instagram.
Logo, a internet é uma ferramenta que promove uma interação entre seus
usuários. De acordo com Primo; Cassol (2003).

para que se alargue essa compreensão e se amplie a noção de


interatividade é preciso que se veja “envolvimento” como um “tomar parte”,
onde o interagente pode participar da construção do processo. Isto é,
necessita-se ultrapassar a noção de mero encantamento e trabalhar para
que a participação ativa e recíproca se torne regra e não exceção. (PRIMO,
CASSOL, 2003).
A internet é uma ferramenta totalmente interativa, na medida em que ela é
construída através das atividades e movimentos de seus usuários. Neste trabalho,
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escolheu-se estudar mais detalhadamente três dispositivos de interação virtual: o


blog, as redes sociais e os aplicativos de smartphones e tablets.

3.2 - O blog: Mais do que um diário virtual

De acordo com Lemos (2002), a expressão blog veio de weblog, termo


criado pelo editor do site Robot Wisdom, John Barger, em 1997. Ela é a junção de
duas palavras: blogueiro (autor do blog) e log (registro escrito, como num diário de
bordo).
Luccio e Nicolacida-Costa (2010) explicitam dessa maneira o funcionamento
do blog, no qual,

Os principais recursos utilizados nos blogs são os posts, textos que podem
ser alterados, apagados, atualizados, etc. com a frequência que o autor
desejar. Os posts podem incluir links para outras páginas da web ou para
outros blogs. Novos posts são acrescentados no topo da página. Abaixo ou
acima do post, podemos encontrar a data e a hora de sua publicação.
Dessa forma, os leitores podem acompanhar o blog lendo as publicações
em ordem cronologicamente inversa. Outro recurso quase sempre presente
nos blogs é a caixa de diálogos, por meio da qual os leitores podem enviar
seus comentários para o escritor. (LUCCIO; NICOLACIDA-COSTA, 2010)

Segundo Santos, Penteado e Araújo (2009), os blogs nasceram com o


intuito de serem diários on-line de seus usuários. Hoje, porém, eles representam
mais do que isso, na medida em que se apresentam como uma fonte alternativa de
informação, aliado, muitas vezes, à uma análise crítica. Os blogs, além disso,
promovem uma discussão entre o leitor e o autor, a partir dos fóruns de comentários,
num ambiente de cabível de interação.
Existem diferentes tipos de blogs. Os pessoais, cujos locais de produção de
conteúdo têm interesse individual, sem objetivos ou estratégias definidas. Os blogs
profissionais, escritos por um especialista em determinada área que geralmente atua
como profissional. Os organizacionais que são aqueles mantidos por empresas,
geralmente escritos de forma mais leve e atraente, tendo o intuito de divulgar
conteúdos relativos às ações das corporações. Já os blogs privados, são aqueles
em que o dono restringe o seu conteúdo para determinados internautas escolhidos
19

por ele mesmo, evitando que o material se espalhe de forma deliberada pela internet
(CLEMENTE, 2009).
O número de blogs no mundo hoje ultrapassa os 173 milhões, de acordo com
pesquisa realizada pelo instituto Statista em 2011. Segundo o instituto Sysomos
(2010), os blogueiros pertencem, majoritariamente, à faixa de idade entre 21 e 35
anos. Nesta pesquisa verificou-se, também, que os Estados Unidos ocupam o
primeiro lugar no ranking de países com um maior número de autores de blogs, com
mais de 29% do total. O Brasil fica em quarto lugar, com cerca de 4%.
Os blogs brasileiros começaram a surgir entre os anos de 2000 e 2001
(LUCCIO e NICOLACIDA-COSTA, 2010).). A maior audiência nacional dos blogs se
encontra na cidade de São Paulo. Já o maior público se enquadra na faixa etária
entre 18 e 24 anos, sendo que categoria de blog mais procurada pelos brasileiros é
a de entretenimento, com 69%. Nesta perspectiva, os internautas preferem blogs de
humor. O menor número de acessos se encontra no ramo da cultura, com apenas
1% (BOO-BOX, 2012).

3.3 - As redes sociais: Conexões em ambiente online

A internet criou novos canais de comunicação e, ao mesmo tempo, uma


pluralidade de novas informações circulantes nos grupos sociais. Nessa formação,
permitiu que milhares de usuários, com realidades distintas, paradigmas sociais
diversos e com conhecimentos complementares começassem a conectar-se às
redes, e a fazer desses espaços virtuais a extensão de suas vidas. Disso surgem as
ferramentas de publicação online, denominadas mídias sociais ou redes sociais, que
permitem a criação e o compartilhamento coletivo de informações e conteúdos
(ARAÚJO e RIOS, 2012).
Elas surgiram no intuito de promover a interação entre seus usuários. Cada
uma destas tem um propósito diferente, sejam conversas privadas, postagem de
notícias, divulgação de marcas e produtos ou até mesmo lançamento de músicas e
videoclipes.
O conceito de rede social extrapola o ambiente online, na medida em que se
relaciona com todos os aspectos da sociedade em si, e
20

Podemos afirmar que rede social é uma estrutura social composta por
indivíduos, organizações, associações, empresas ou outras entidades
sociais, designadas por atores, que estão conectadas por um ou vários tipos
de relações que podem ser de amizade, familiares, comerciais, sexuais etc.
Nessas relações, os atores sociais desencadeiam os movimentos e fluxos
sociais, através dos quais partilham crenças, informação, poder,
conhecimento, prestígio etc. (FERREIRA, 2011).

Porém, foi na internet que essas redes ganharam mais notoriedade,


justamente pela comodidade de interação, já que o usuário pode acessá-las no lugar
que estiver, via computador ou dispositivos móveis, como celulares e tablets.
Segundo pesquisa realizada pela ComScore e divulgada em maio de 2014,
as redes sociais no Brasil apresentaram em fevereiro deste mesmo ano, um total de
aproximadamente 72 milhões de usuários únicos. Ela aponta, também, que durante
esse mesmo período, os internautas passaram em média 13 horas mensais
navegando por sites de relacionamento. O Facebook, o site mais popular do gênero,
apresenta maior número de acessos diários do que grandes portais de notícias, por
exemplo.
As redes sociais afetaram a rotina de seus usuários, na medida em que elas
permitiram uma alteração no modo em que as pessoas se relacionam, construindo
novos e reconstruindo velhos valores e sentidos. Essa exposição de ideias influencia
o próprio crescimento da rede, que se alimenta de acordo com as informações
contidas nela (RECUERO, 2012).
De acordo com Jesus (2014), do site TechTudo, presente no portal G1,
pertencente ao Grupo Globo de Comunicação, a primeira rede social presente em
ambiente online foi a ClassMates.com. Criada em 1995, ela tinha o intuito de
reencontrar antigos colegas de escola ou faculdade. A popularização da internet
permitiu que novos sites do gênero surgissem, como o Six Degrees, o Friendster e o
MySpace.
Atualmente, segundo a mesma pesquisa da ComScore (2014), as redes
sociais mais populares no Brasil são, nesta ordem: Facebook, LinkedIn, Twitter,
Tumblr e ASK.FM. A diferença de número de usuários únicos entre a primeira rede e
a segunda beira os 50 milhões, o que torna o Facebook a mídia social com um
número muito maior de acessos do que as demais. Para este estudo, tomaremos em
consideração as três com maior número de acessos, segundo esta pesquisa.
21

3.3.1 Twitter: A ideia em um pio

A missão do Twitter, definida na própria página institucional da rede, é


permitir que seu usuário desenvolva e compartilhe ideias com o mundo inteiro, sem
enfrentar qualquer tipo de impedimento (TWITTER, 2014). De acordo com Smaal
(2010), do site “Tecmundo”, o nome do site tem dois significados na língua inglesa:
explosão de informações inconsequentes e a onomatopeia referente ao barulho
emitido pelos pássaros.
A rede social foi criada em 2006 por Jack Dorsey, Evan Williams e Biz Stone.
A intenção de seus desenvolvedores era criar um serviço de mensagens
instantâneas, assim como um SMS. O Twitter começou a experimentar o sucesso
durante o festival de música e filmes South by Southewest (SXSW), ocorrido no ano
de 2007, no qual telas exibiam os comentários, via Twitter, dos participantes do
evento (SMAAL, 2010).
O usuário, após se cadastrar com seu endereço de e-mail, é levado para uma
página onde deve preencher um pequeno questionário, contendo suas informações
básicas, tais como idade, sexo e local onde reside. Em seguida, ele pode começar a
se conectar com seus amigos ou pessoas de seu interesse, seguindo-os. Diversas
marcas e personalidades possuem conta no Twitter, de modo com que fiquem mais
próximas de seu público. As atualizações dos usuários que são seguidos aparecem
na tela inicial do site. Além de poder ver o que as outras pessoas escrevem, o
internauta pode, também, escrever seus próprios comentários ou ideias, os
chamados tweets, contanto que não ultrapasse de 140 caracteres, o máximo
permitido pelo site (SMAAL, 2010).

Figura 3: Interface do Twitter


22

Fonte: http://www.redmondpie.com/heres-how-to-get-the-new-twitter-web-
interface-right-now/

Atualmente, segundo o próprio site do Twitter, são mais de 270 milhões de


usuários ativos por mês e 500 milhões de tweets enviados por dia.
O site Twitter Counter (2015) é responsável por contabilizar o número de
seguidores e de tweets de cada usuário. De acordo com pesquisa realizada em 23
de setembro de 2014, os usuários com mais seguidores ao redor do mundo estão
representados a seguir.

Quadro 1 – Usuários com mais seguidores


Número de seguidores
Usuário Profissão
(em milhões)
Katy Perry Cantora 57
Justin Bieber Cantor 54
Barack Obama Presidente dos EUA 46
YouTube Site 45
Fonte: http://twittercounter.com/pages/100

Os brasileiros também são muito ativos nesta rede social. A tabela a seguir
mostra os usuários nascidos no Brasil mais populares no Twitter.
23

Quadro 2 – Usuários brasileiros com maior número de seguidores


Número de seguidores
Usuário Profissão
(em milhões)
Kaká Atleta 20
Neymar Jr. Atleta 14
Ivete Sangalo Cantora 10
Claudia Leitte Cantora 9
Fonte: http://twittercounter.com/pages/100

3.3.2 - LinkedIn: O currículo online

O LinkedIn se apresenta como a maior rede profissional, com cerca de 300


milhões de usuários residentes em mais de 200 países do mundo. De acordo com a
página institucional da rede, sua missão é de promover a conexão entre
profissionais de todo o mundo, com o intuito de deixá-los mais bem sucedidos e
mais produtivos. O LinkedIn permite com que o usuário entre em contato com
colegas de profissão, empresas e vagas de emprego.
Esta rede social é “caracterizada como uma empresa de capital privado e
com um modelo de negócios diversificado, todo o lucro obtido vem através das
assinaturas dos usuários, soluções de recrutamento, vendas de publicidade e
licença de software” (CHAIM, MARTINELLI, AZEVEDO, 2012, P. 33).
O site, idealizado por Reid Hoffman, foi fundado em fevereiro de 2003 e tem
sede nos Estados Unidos, mais precisamente no Vale do Silício, Califórnia, polo da
tecnologia da informação. Além disso, possui escritórios ao redor do mundo,
inclusive na cidade de São Paulo (LINKEDIN, 2014). No LinkedIn, o usuário cria um
currículo interativo, colocando nele todas suas informações profissionais, como local
de trabalho, formação e recomendações. Além disso, ele pode se conectar a
empresas e pessoas de seu interesse, aumentando seu networking. Há também a
opção de criar ou se unir a um grupo que compartilha dos mesmos interesses
profissionais (ACERVO PUBLICITÁRIO, 2011).
24

Figura 4: Interface do LinkedIn

Fonte: http://www.business2community.com/linkedin/linkedin-a-fresh-user-interface-0258631

De acordo com Caramez (2009), o público do site é em sua maioria


masculino, sendo este 57% do total. Além disso, ele afirma que a faixa etária mais
atuante é a que vai dos 35 aos 49 anos, com 46%. A maior parte dos membros são
os que possuem formação em nível universitário, além de grande poder econômico.

3.3.3 - Facebook – A rede das redes

A finalidade do Facebook site é definida na própria página da rede: “A missão


do Facebook é dar às pessoas o poder de compartilhar informações e fazer do
mundo um lugar mais aberto e conectado. Milhões de pessoas usam o Facebook
para compartilhar um número ilimitado de fotos, links, vídeos e conhecer mais as
pessoas com quem você se relaciona.” (FACEBOOK, 2014). A partir de um cadastro
realizado com o e-mail do usuário, ele pode começar a usufruir da rede social. O
primeiro passo é aderir uma foto e preencher o perfil com informações básicas,
25

como local de nascimento e profissão. Em seguida, pode-se começar a fazer


conexões com amigos e conhecidos que também estão na rede. Tais conexões são
realmente efetivadas após a aprovação dos dois usuários envolvidos. O perfil do
usuário, além das informações do mesmo, possui uma timeline, espaço onde ele
pode adicionar links, fotos ou vídeos do seu interesse. Os demais usuários podem
interagir com essas postagens, comentando, compartilhando ou curtindo (ALVIM,
2011).

Figura 5: Interface do Facebook

Fonte: http://www.blogotechblog.com/2011/09/get-back-the-old-facebook-interface/

Além disso, há a possibilidade da criação de páginas com conteúdos


específicos. O usuário pode “curtir” essas páginas e começar a ver em sua página
inicial do Facebook o conteúdo delas. As empresas estão presentes na rede por
esse método, a fim de ficarem mais próximas de seus consumidores. Normalmente,
os conteúdos presentes nas páginas “curtidas” estão aliados aos interesses do
usuário, na medida em que ele escolhe receber essas informações em seu perfil
(ALVIM, 2011).
De acordo com a empresa Inside Facebook (2014), as páginas com maior
número de fãs em setembro de 2014 eram:
26

Quadro 3 - Páginas do Facebook com maior número de fãs

Página O que é? Número de curtidas


(em milhões)
Facebook for Every Phone Aplicativo 492
Facebook Rede social 163
Shakira Cantora 102
Cristiano Ronaldo Atleta 96
Eminem Rapper 93
Fonte: http://www.insidefacebook.com/2014/09/02/top-25-facebook-pages-september-2014-facebook-
for-every-phone-earing-500m-likes

A empresa com maior número de fãs é a Coca-Cola, com aproximadamente


88 milhões de curtidas.
Outra possibilidade presente na rede é a criação de grupos, nos quais
usuários com um ou mais interesses em comum podem compartilhar suas opiniões
frente aos outros, alimentando o caráter interativo do site, podendo este ter o
conteúdo sigiloso para não participantes ou ser público (ALVIM, 2011).
O Facebook completou 10 anos de existência em 2014, com um número de
usuários que ultrapassa a casa dos bilhões. De acordo com o site Tecnologia Terra
(2014), ele foi criado por quatro estudantes que cursavam o segundo ano na
faculdade de Harvard. O idealizador, Mark Zuckerberg, tinha a ideia de criar uma
rede em que cada estudante da instituição poderia fazer um cadastro e criar um
perfil e, assim, manter contato entre os demais alunos. Após algum tempo, novas
funcionalidades foram incorporadas, tais como o compartilhamento de fotos e
vídeos. A rede foi se expandindo, até romper as fronteiras de Harvard e ser liberada
para estudantes do mundo todo, e, em seguida, para qualquer usuário com idade
superior a 13 anos.
A história do Facebook também é recheada de polêmicas. Alguns de seus
idealizadores, como, por exemplo o brasileiro Eduardo Saverin, processaram
Zuckerberg, alegando que ele estaria recebendo lucros muito maiores do que os
deles.
Hoje, segundo Kleina (2014), do portal “Tecmundo”, o Facebook é um dos
sites mais lucrativos do mundo. Em 2013, ele teve uma receita de aproximadamente
8 bilhões de dólares, proveniente da divulgação de marcas e produtos. Há cerca de
757 milhões de usuários ativos diários, que já constituíram mais de 200 bilhões de
conexões entre contatos.
27

4 - OS APLICATIVOS E O ANÔNIMO

4.1 - Tudo ao alcance das mãos – os aplicativos

Um aplicativo - ou app - é um software desenvolvido para ser instalado em


dispositivos eletrônicos móveis, tais como smartphones, tablets ou leitores de MP3,
tendo como finalidade adicionar novas funções ao celular, facilitando o dia-a-dia do
seu utilizador. Esses dispositivos são disponibilizados em plataformas de distribuição
e podem ser baixados através de lojas on-line, tais como Google Play ou App Store,
sendo em sua maioria gratuitos.
De acordo com a revista Planeta Terra (2012), os aplicativos surgiram em
2008 com o lançamento da App Store e, logo em seguida, a Nokia, LG, Samsung,
BlackBerry e Android criaram suas lojas de aplicativos e, juntos, faturaram mais de
R$ 3 bilhões com a venda de apps. A disseminação no número e variedade de
aplicações serviu de estímulo à criação de inúmeros outros aplicativos para atender
às mais diversas necessidades da maioria dos utilitários. As plataformas mais
populares são Google Play e App Store, oferecendo 400 e 500 mil aplicativos,
respectivamente, ultrapassando 1 bilhão de downloads por mês em cada uma delas.
Quanto à aplicação paga, geralmente uma percentagem de 20% a 30% é atribuída
ao distribuidor e o restante para o criador do app.
Segundo uma pesquisa do Centro de Competência em Comércio eletrônico,
MECK (PRÜNTE, apud MECK, 2013), a maioria dos usuários de apps (44%) tem
entre 14 e 29 anos. No grupo entre 30 e 49 anos, apenas 28% estão familiarizados
com eles e, na faixa etária dos 50 aos 64 anos, o percentual cai para 10%. Além
disso, 49% das pessoas com mais 14 anos usam seus smartphones, incluindo os
aplicativos, continuamente durante o dia, e 60% dos usuários de redes sociais estão
sempre online.
Diversão, interação, facilidade e praticidade são palavras que acompanham o
mundo dos aplicativos, que ganham cada vez mais usuários a procura de uma
ferramenta que descomplique e auxilie em suas tarefas. Alguns exemplos
pesquisados são games, redes sociais, vídeos e filmes, mapas/navegação/buscas.
28

Dentro destes, os mais baixados são: Candy Crush Saga, Angry Birds, Google
Maps, Facebook, Youtube, Instagram e Snapchat.
A cada momento um aplicativo, seja para jogar, ouvir músicas, solicitar um
taxi, auxiliar na dieta ou até mesmo em busca de relacionamentos, atende à uma
infinidade de funções que todos os requisitos, abrindo um leque de opções que se
tornaram a principal ferramenta e passatempo dos usuários.
O mercado de apps já se tornou um setor da economia, impulsionando
também o mercado de smartphones que, segundo pesquisa do site G1, em 2013
chegou a 1 bilhão de vendas, apontando um crescimento de 12% em 2014. O
alcance da internet estimula a criação dos aplicativos, que se apoiam no uso
desenfreado dessas plataformas, atingindo em 2013 uma receita global de 27
bilhões de dólares, com crescimento de 100% ao ano.
Segundo o MECK (PRÜNTE, apud MECK, 2013), os usuários passam, em
média, duas horas por dia utilizando apps. O segmento como um todo evolui, mas,
para cada aplicativo que consegue se consolidar, existem centenas de aplicativos
que não se popularizam. Analistas veem o mercado de forma favorável, mas, no
entanto, eles alertam: é fácil criar um app, o grande desafio é torná-lo atrativo e
rentável.
Para este estudo, tomaremos em consideração os seguintes aplicativos: o Lulu,
o Spotted e o Secret.

4.2 - Lulu – O poder feminino

A ideia surgiu durante um encontro entre vinte garotas um dia depois do


Valentine’s Day, em Londres. Na ocasião, elas compartilharam histórias e
experiências de relacionamentos. Fato é que nem todas eram amigas e algumas
delas tinham acabado de se conhecer, mas isso não impediu que a assunto fluísse.
Todo o conteúdo foi facilmente compartilhado por um único motivo: não havia
nenhum homem presente naquela reunião.
"O Lulu foi inspirado no mundo real e ninguém pode falar que esse tipo de
comportamento — o de avaliar homens — não existe", diz Alexandra Chong, de 32
anos, fundadora do aplicativo Lulu em sua primeira entrevista no Brasil para revista
29

Veja (2013). Chong decidiu oferecer um “Guia de homens”. No aplicativo —


completamente vetado a homens — mulheres avaliam, de forma anônima, o
comportamento de rapazes com quem saíram ou não, expondo suas opiniões e
saberes sobre cada um deles.
Elas respondem perguntas sobre humor, bons modos, ambição,
comprometimento, aparência e ainda podem apontar qualidades e defeitos. No fim,
o aplicativo dá uma nota para o avaliado, que fica visível para outras mulheres. A
avaliação também pode ser feita por meio de hashtags que representam pontos
negativos e positivos, como #filhinhodamamãe, #nãovailigarnodiaseguinte ou
#sorrisoépico. No final, o conjunto gera uma nota de 1 a 10.

Figura 6: O app Lulu

Fonte: http://geekpublicitario.com.br/tecnologia/lulu-o-clube-da-luluzinha-em-forma-de-app-para-
smartphones/

O app funciona a partir da sincronização com o Facebook e permite que a


usuária faça uma espécie de “relatório” de algum amigo, namorado, ex-namorado,
que seja seu amigo na rede social, isto é, qualquer homem que possua um perfil na
rede social pode ser avaliado. O aplicativo não pede autorização para que as
informações sejam utilizadas e o rapaz só vai ficar sabendo disso tudo se alguma
mulher contar.
O Lulu ficou popular entre as mulheres jovens na faixa dos vinte anos. Foi
lançado nos Estados Unidos em fevereiro de 2013 no meio universitário, mas logo
30

em seguida seu sucesso espalhou para mulheres de todas as idades, tendo foco no
público formado por profissionais em começo de carreira.
“O aplicativo mais quente e que é sensação nos EUA chega ao Brasil! [...]
Mais de um milhão de garotas nos EUA usam o Lulu para fazerem decisões mais
inteligentes sobre garotos. Tudo que as garotas fazem no Lulu é privado e anônimo.”
(GOOGLE PLAY STORE, 2013). Foi assim que, em novembro de 2013 o aplicativo
foi apresentado para as possíveis usuárias brasileiras, chamando atenção pela
facilidade, anonimato e pela troca de informações sobre rapazes.
Em uma semana o aplicativo se espalhou angariando mais de 3 milhões de
usuárias, que acessavam o app uma média de nove vezes por dia. Desde o
lançamento, essas usuárias realizaram mais de 500 milhões de visualizações de
perfil. Além disso, 500 mil homens fizeram login na ferramenta na tentativa de ver
seu perfil, segundo Deborah Singer, diretora global de marketing do Lulu, em
entrevista para revista Veja (2013).
"O Brasil é o país número 1 para o Lulu em número de usuários. O que
demoramos nove meses para alcançar nos Estados Unidos, no Brasil levou apenas
três semanas, e nós somos muito grandes nos Estados Unidos: uma em cada quatro
universitárias usam o Lulu", disse ao Tecnologia Terra (2014) a diretora global de
marketing do aplicativo, Deborah Singer.
A versão do app para os homens é diferente: permite apenas alterar a foto do
perfil e sugerir hashtags. Para ver a nota recebida, porém, os rapazes só têm um
jeito, pedir a alguma amiga que o mostre, pois homens não entram nesse clube.
Desde o final de dezembro de 2013, segundo a própria companhia, o
programa tornou-se indisponível nas versões locais da App Store e Google Play. A
remoção se deu logo depois que o app mudou sua política de uso, perdendo o
principal apelo: a possibilidade de as mulheres avaliarem anonimamente todos os
seus amigos do Facebook.
A nova política de uso veio após reclamações feitas por parte dos “avaliados”
pelo aplicativo, assim, os perfis dos homens que tiveram os dados puxados
automaticamente através da rede social foram removidos, fazendo com que a
avaliação seja destinada apenas aqueles que desejarem, isso é, os homens que
liberarem o seu perfil para o app.
Após uma determinação da 6ª Turma do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e
Territórios, no dia 19 de dezembro de 2013, a Luluvise Incorporation foi intimada a
31

retirar informações e imagens postadas sem autorização, podendo pagar multa de


até R$500,00 por pessoa, por dia e por pedido. (INSTITUTO COALIZA, 2014). Logo
em seguida o Ministério Público Federal (MPF) exigiu a exclusão do app, fazendo
com que este fosse retirado das lojas e plataformas online.

4.3 - Sppoted – O “flerte” virtual

As páginas Spotted apareceram pela primeira vez em universidades


britânicas, como a Manchester University, Newcastle University e University College
London, geralmente disponibilizando um espaço para mensagens anônimas de
estudantes sobre outros alunos avistados nas bibliotecas da própria universidade.
As páginas saíram das universidades e hoje já são encontradas páginas spotted
para metrôs e trens em que situações inusitadas flagradas em locais públicos geram
comentários bem-humorados sobre o cotidiano. As primeiras publicações com esse
formato começaram a fazer sucesso a partir de 2012 e, em sua maioria, dependem
de uma moderação realizada pelos seus criadores que são igualmente anônimos.
(BONOTO, 2013).
No Brasil, as páginas Spotted também começaram nas universidades, mas
têm apostado mais na funcionalidade de um “correio do amor” moderno. Nelas, os
estudantes que não têm coragem de falar pessoalmente deixam “cantadas” para
outros estudantes, descrevendo-os. Como as mensagens são postadas na rede
social, onde outros seguidores acompanham a troca de indiretas, o processo fica
mais dinâmico do que uma simples troca de bilhetes, por exemplo. Os pioneiros, no
Brasil, foram dez estudantes da PUC-Rio e a ideia de criar uma página desse porte
surgiu quando um integrante do grupo fez um intercâmbio na Alemanha e descobriu
a eficiência dessas páginas no continente (G1, 2014).
Em tradução livre, “spotted” significa “avistado” Linguee (2015) e, depois de
vistos, geralmente os admiradores secretos descrevem em seus flertes como é seu
“alvo” ou uma situação particular em que o viram. Depois de publicadas, quem vai
cuidar das mensagens são os próprios usuários e, caso alguém se sinta ofendido ou
prejudicado, o próprio moderador é comunicado, e a postagem é retirada.
32

Em entrevista a Cunha (2013), do site Techtudo, o estudante comenta


“Pensei que seria legal ter uma página dessas para a PUC. Os brasileiros são tão
viciados em Facebook — rede social na qual as páginas podem ser criadas — que
onde quer que estejam, eles já abrem a página da rede social para conferir as
atualizações” (CUNHA, 2013). Desde seu primeiro dia no ar, em 26 de março, a
página virou assunto dentro e fora da PUC-Rio.
O moderador dessa página, G.C., tem uma parceria com o Spotted PUC
Minas, administrada pelos estudantes T e H. Eles dizem que a página resgata o
amor, onde, segundo eles “achamos que nos tempos de hoje está cada vez mais
difícil ver todo esse romantismo, esse tipo de página desperta isso nas pessoas”.
O Spotted da PUC Minas é a segunda página da universidades de Belo
Horizonte com mais curtidas, 4.755, ficando atrás da página da UFMG que possui
um número de acessos maior, 15.659 ao todo, segundo pesquisa realizada através
da própria rede social. (www.facebook.com/SpottedPucMinas).
As páginas funcionam como um mural de recados, onde se manda a sua
história por mensagem do tipo inbox e os responsáveis pela página reproduzem o
texto sem divulgar a identidade do autor. Para evitar possíveis confusões entre os
alunos, o moderador também fica responsável por uma espécie de “filtragem inicial”
das mensagens, é ele quem vai cuidar da proteção de identidade de quem enviou o
recado e da publicação.
33

Figura 7: O sppoted PUC Minas

Fonte: http://www.jornaltudobh.com.br/tudo-mais/cantadas-virtuais-caem-no-gosto-dos-universitarios/

4.2 - Secret – O diário público

Disponível no Brasil desde maio de 2014, o Secret é um app por meio do qual
usuários podem compartilhar e ler segredos sem serem identificados. Para usar o
aplicativo é necessário que o usuário se conecte à sua conta do Facebook,
permitindo que seu “segredo” seja compartilhado e até mesmo comentado quando
divulgado aleatoriamente.
Os desenvolvedores são os ex-funcionários do Google, David Mark Byttow e
Chrys Bader-Wechseler. Os criadores informam na página oficial que garantem o
anonimato dos usuários, pois as mensagens armazenadas no servidor não são
vinculadas às contas das pessoas e sim a um número aleatório.
O app permite que os usuários postem uma ou duas frases, anonimamente,
para seu grupo de amigos cadastrados. Sem ter seu nome divulgado, os usuários se
sentem livre para compartilhar segredos e fotos. Cada vez que um amigo "curte"
uma mensagem, ela se espalha para o seu grupo de amigos e assim a mensagem
34

se espalha pelo mundo. O app ainda permite comentar o segredo - também sem ser
identificado - ou curtir a publicação. E, as mensagens que o usuário mais gostou
podem até ser publicadas no Facebook ou no Twitter, além de poderem ser
enviadas por SMS ou e-mail, mas neste caso, quem está publicando estas
mensagens será identificado (G1, 2014).

Figura 8: O app Secret

Fonte: http://www.folhavitoria.com.br/entretenimento/noticia/2014/08/aplicativo-
permite-contar-segredos-para-seus-amigos-anonimamente.html

Segundo reportagem do Blog Estadão (RONCOLATO, 2014), o app Secret foi


banido do Brasil em agosto de 2014 por decisão da 5ª Vara Cível de Vitória,
baseada em ação instaurada pelo Ministério Público do Estado do Espírito Santo
(MPES), que toma o app como “instrumento apto ao cometimento daquilo que,
corriqueiramente, tem sido chamado de bullying virtual”.
O juiz Paulo César de Carvalho diz estar ciente de que a “rede mundial de
computadores sempre deixa ‘rastros’”, o que possibilitaria a identificação dos autores
de mensagens ofensivas, mesmo no serviço que pretende anonimizar seus
usuários, porém, em entrevista à revista EXAME (2014), o cofundador do Secret,
David Byttow disse que o app oferece ferramentas para os usuários denunciarem
qualquer abuso ou solicitarem a retirada de um conteúdo. Ao publicar um post, o app
exibe um alerta contra abusos e destaca que ofensas pessoais a outras pessoas é
crime. Segundo Byttow, “o Secret é um lugar onde você compartilha coisas que
falaria em uma mesa de jantar com amigos, mas não diria em uma plataforma como
o Facebook ou Twitter” (GUIMARÃES, 2014).
35

A determinação da justiça demanda que os apps sejam desinstalados dos


celulares de quem já baixou o aplicativo. Por outro lado, no entanto, a
responsabilidade do próprio Secret na situação, segundo o Marco Civil, o serviço
não pode ser penalizado civilmente por conteúdo publicado por terceiros a menos
que desobedeça a ordem jurídica para sua remoção.
36

5 – E QUEM SOU EU?

5.1 - Só mais um na multidão

O homem comum e ordinário inserido no meio da multidão sempre existiu.


No entanto, a escrita ‒ contos, relatos, reportagens ‒, foi a responsável por fazer
com que as questões do anônimo, do social e das relações se tornassem aspecto de
estudo e análise científica. O desenvolvimento das cidades, das relações sociais e
políticas e das formas comunicacionais dissolve a relevância do brasão, ou seja, do
caráter de poder pessoal, e identifica um novo enfoque ao grupo coletivo que, assim
como afirma Certeau (2008), seu perfil único

trata-se de uma multidão móvel e contínua, densamente aglomerada como


pano inconsútil, uma multidão de herois quantificados que perdem nomes e
rostos tornando-se a linguagem móvel de cálculos e racionalidades que não
pertencem a ninguém. (CERTEAU, 2008, p. 58).

O ambiente das multidões é propício para que a responsabilidade e as


causas sejam facilmente transferidas para o outro. No meio da multidão, todos
acabam se tornando "ninguém", eliminando suas propriedades particulares e
específicas em prol da unidade. A figura do indivíduo é extinta e a massa como um
todo passa a ser observada como uma espécie de entidade. O termo "massa"
carrega uma dualidade, segundo Williams (2007), na medida em que remete à uma
unidade sem forma e indistinguível e, ao mesmo tempo, a aglomeração de grande
quantidade de pessoas ou coisas.
Assim, cada membro da massa é visto somente como uma parte do grupo,
não sendo observadas as características individuais que ele possui (CERTEAU,
2008). Nessa situação o indivíduo sofre um processo de “anonimização” e seus
traços distintivos são sublimados pelas características que o meio em que se insere,
pelo fato de

fazerem parte de um grupo em que todos parecem iguais e ao mesmo


tempo ninguém em particular. (...) a sua identidade enquanto pessoas que
ocupam um lugar social reconhecido e legitimado vai sendo gradualmente
abolida e perdida, substituída por um estatuto de desconhecido e
indiferenciado. (FROIS, 2010, p.174).
37

No entanto, de acordo com Coli (2010), a multidão não cumpre a posição de


esconder a individualidade por completo. Apesar de o indivíduo estar aderido à
massa, ele não deixa de apresentar suas características individuais, como seu
passado e preferências próprias. No grupo, tais aspectos não são perdidos,
continuando no cerne de cada um (D’ANGELO apud BENJAMIN, 2006) reforça essa
ideia quando mostra que pode haver embates entre as regras do coletivo e a história
individual, fazendo com que a questão do anônimo massificado e sublimado fique
ameaçada.
A partir do momento em que se manifesta a identidade, impõe-se
necessariamente a sociabilidade, responsabilidades e obrigações e, por essa
maneira, o anonimato torna-se a opção para se esquivar da incumbência das
próprias ações. Desse modo, fica permissível a escolha sobre o que e quanto
externar e em que contexto for conveniente (FROIS, 2010). Além disso, as pessoas
se apoiam no fato de serem anônimas para esconder alguma característica que não
se orgulham, mantendo-se desconhecidas e indiferenciadas. Isso ocorre, como
exemplo, nos chamados Alcoólicos Anônimos (AAs), no qual os integrantes, unidos
por uma característica em comum, compartilhando experiências semelhantes, se
protegem de serem diferenciados (CAMPOS, 2009).
Em seu conto “O Homem da Multidão”, Edgar Allan Poe (1981) explicita
essa situação do ambiente coletivo, a unidade da massa e o conflito da identidade e
individualidade. Em um dia de observação em um café londrino, o narrador discorre
sobre as suas percepções quanto aquele cenário, passando por diversos níveis de
acompanhamento visual até centralizar no aspecto único de certo indivíduo que lhe
capta a atenção. Iniciando pela visão generalizada da multidão como uma massa
única, a personagem passa a notar as diferenças físicas e comportamentais e inicia
uma observação mais específica que permite dissociar essa unidade em outros
aspectos mais específicos e únicos.
Seu processo de observação resulta no interesse por um homem, tal como
expressa: “Senti-me singularmente despertado, empolgado, fascinado. ‘Que
estranha história não estará escrita naquele peito!’ – Disse comigo mesmo.” (POE,
1981, p. 395), no qual, resultando de suas observações por tê-lo seguido durante
algumas horas, caracteriza-lhe como homem da multidão. Segundo Baudelaire
(2010), o maior tradutor de Poe, a expressão homem do mundo, em “O Pintor da
Vida Moderna”, identifica aquele que consegue compreender o que lhe cerca
38

estando inserido dentro dessa multidão anônima, sendo que este “se interessa pelo
mundo inteiro; quer saber, compreender, apreciar tudo o que acontece na superfície
de nosso esferoide.” (BAUDELAIRE, 2010, p. 855).
Dessa forma, ser um homem do mundo torna-se mais complexo do que
apenas estar presente na massa, tendo ele que “ver o mundo, estar no centro do
mundo e permanecer oculto ao mundo.” (BAUDELAIRE, 2010, p. 857). De fato, esse
interesse e confluência do anônimo, da multidão, da observação e das questões
relacionadas às relações entre estas são encontradas não apenas no ambiente
físico, podendo ser facilmente reconhecidas no espaço online das redes sociais de
relacionamentos.

5.2 - O anônimo por trás da tecnologia

O anonimato, segundo o Dicionário Aurélio, pode ser definido como “estado


do que é anônimo”. Já o termo “anônimo” é descrito pelo mesmo como “sem o nome
ou a assinatura do autor” ou “sem nome ou nomeada, obscuro” (DICIONÁRIO
AURÉLIO, 2007). Manter-se anônimo significa fazer parte da sociedade sem se
identificar ou se expor. Com o anonimato, a identidade é mantida em segredo,
portanto, não se responde pelas ações, posicionando-se à sombra do que acontece.
Segundo o artigo 5º, inciso IV, da Constituição Federal, é assegurada a
liberdade de manifestação do pensamento, mas vedado o anonimato (BRASIL,
1988). Tal restrição foi criada para impedir que indivíduos maliciosos, com a
ocultação de sua identidade, pudessem ofender e causar danos à honra e à imagem
de terceiros, sem deixar qualquer rastro para a sua identificação.
No entanto, a vedação do anonimato pela Constituição Federal não considera
totalmente negativa a ideia de se manter anônimo, dado que, em diversas situações,
o anonimato é fundamental para a preservação da ordem democrática, tal como no
caso de sigilo da fonte jornalística ou mesmo em mecanismos de denúncias
anônimas com o objetivo de combate ao crime e garantia de direitos. Mais do que
isso, o anonimato é frequentemente a forma legítima do exercício da liberdade de
expressão e comunicação. A vedação ao anonimato tem por fundamento apenas
evitar a impossibilidade da identificação de eventuais responsáveis por violação de
39

direitos de terceiros, estando também essa identificação submetida à proteção de


garantias constitucionais (MARCO CIVIL, 2010).
O STF - Superior Tribunal Federal - reconhece que a liberdade de expressão
é uma garantia constitucional relativa, que encontra limites morais e jurídicos,
baseando-se, em muitos casos, em princípios e postulados constitucionais, tais
como

liberdade de expressão. Garantia constitucional que não se tem como


absoluta. Limites morais e jurídicos. O direito à livre expressão não pode
abrigar, em sua abrangência, manifestações de conteúdo imoral que
implicam ilicitude penal. As liberdades públicas não são incondicionais, por
isso devem ser exercidas de maneira harmônica. (STF, 2005)

Portanto, embora a Constituição Federal proíba, em sua interpretação literal,


o anonimato, o STF o admite em uma situação específica, o que resulta na
necessidade de repensar tal artigo constitucional.
Pode-se considerar que, atualmente, a internet é o ambiente mais utilizado
para a divulgação de manifestações dos indivíduos, razão pela qual fica mais
evidenciada a necessidade de possuir o direito ao anonimato. Reconhecendo a
importância do anonimato, especialmente na Internet, a Coalização de Princípios e
Direitos na Internet - Internet Rights And Principles, estabeleceu, como um dos
direitos do indivíduo na Internet, a proteção da privacidade e dos seus dados, visto
que

todos têm o direito de privacidade online, o que inclui a liberdade de ser


monitorado, o direito de usar criptografia e o direito ao anonimato. Todos
tem o direito a proteção de seus dados, o que inclui o controle sobre a
coleta, retenção, processamento, eliminação e divulgação (INTERNET
RIGHTS AND PRINCIPLES, 2011, tradução nossa).

É possível dizer que as pessoas usufruem o poder do anonimato na internet e


usam desse estado para várias atitudes, desde ataques pessoais e comentários
ofensivos em redes sociais, preconceitos diversos, pedofilia e atentado ao pudor, até
textos e publicações pessoais, fotos e músicas, que podem atingir diretamente os
usuários (KARANSINK, 2013).
O mundo virtual deve ser visto como prolongamento da realidade, no qual
possibilita uma troca de interesses, assim como a disseminação de ideias e
palavras. Paralelo ao ambiente físico, esse meio dá abertura para ações dos seus
40

usuários, dessa forma, as atitudes tomadas virtualmente devem ser entendidas


como representações das atitudes que podem ser praticadas no mundo real,
possuindo as mesmas consequências e punições (PEGANELLI, 2014).
Uma pesquisa feita pelo Ibope (2014) revelou que 49% dos jovens brasileiros
tem receio de expressar opinião nas redes sociais por medo de sofrer bullying e que
47% dos jovens se preocupam com privacidade e a segurança de dados na web,
assim, a possibilidade de se manifestar na web de modo anônimo traz a garantia de
se expor livremente. As tecnologias digitais abriram muitas portas para
manifestações de autores que se escondem e escapam de qualquer forma de
identificação (BLOG FAPCOM, 2014).
Em contrapartida, alguns usuários de redes sociais buscam cada vez mais
atenção para satisfazer seu ego, mostrar sua figura, opiniões, gostos e atitudes. O
mundo virtual é um terreno relativamente livre e heterogêneo, permitindo que todos
possam divulgar suas opiniões e trocar ideias e experiências. A necessidade de
reconhecimento e atenção de desconhecidos se tornou o objetivo dos internautas,
que procuram ser vistos e curtidos, através das muitas postagens em seus perfis
(GRIGOTELLI, 2009).
Da mesma forma que o anonimato, ocorre em diversos níveis e perspectivas,
está associado a ele também o desejo de supera-lo e exaltar o pessoal e particular
acima da massa. Segundo Vaz (2006), existe atualmente uma busca do indivíduo
por um escape dessa multidão desconhecida e a sua imersão de uma necessidade
de construir a sua individualidade e a valorização desta pelo outro. Sendo assim,
emerge o desejo da glória e fama acima do desconhecido e anônimo.

5.3 - Os destaques da sociedade

Aqueles que conseguem se destacar em meio à multidão e mostram aos


demais suas características peculiares são denominados de "famosos" ou
“celebridades”. Anteriormente, segundo Rowlands (2008), a fama era relacionada a
grandes méritos realizados por determinado indivíduo excepcional. Porém,
atualmente, essa palavra apresenta outra conotação, na medida em que ela é
normalmente designada a pessoas que não possuem nenhum dom ou característica
41

especial. A fama ocorre não por um grande feito e sim por questão de sorte ou de
saber aproveitar o momento. O que importa nos dias de hoje não é a razão de ser
famoso, mas sim o fato de ser famoso.
De acordo com Damatta (2014), a celebridade

agencia uma diferenciação num mundo que se deseja construído de iguais.


Os seus perigos são claros: toda pessoa célebre tem uma
superespecialização que se confunde com um dom. O famoso é a tela na
qual as pessoas comuns projetam os que lhes falta. Os mitos das
celebridades insistem em dizer como elas foram pessoas simples e pobres
antes de obterem a tão desejada fama. O astro é, entre outras coisas, um
especialista no que faz e um modelo do que faz. Daí a tendência a confundir
o seu papel público com a sua intimidade (DAMATTA, 2014, (s.p)).

Segundo Shirky (2008), existem dois fatores para que um indivíduo se torne
famoso. O primeiro se relaciona com o tamanho da audiência, ou seja, ele deve
atingir um grande número de pessoas. O segundo, nada mais é do que a
incapacidade dele de se comunicar com a audiência em sua totalidade.
Neste contexto, pode-se evidenciar a presença do narcisismo, na medida em
que os famosos, ou celebridades, normalmente, têm o ego inflado e precisam
sempre de uma audiência para apoiar seus feitos. Assim, há o surgimento dos fãs
(PRIMO, 2009). Essa interação entre os fãs e os famosos muitas vezes ocorre no
contexto dessa sociedade moderna cosmopolita que propicia a falta de vínculos
concretos e o distanciamento entre as pessoas e faz com que se busquem laços
familiares para firmar uma forma de relação entre estes (FROIS, 2010).
Os meios de comunicação são um dos grandes responsáveis por intensificar
o valor das celebridades na sociedade. Eles expõem suas vidas, mostrando uma
realidade que não condiz com a dos demais. Nesse sentido, seus pertences são
amplamente exibidos, como luxuosas casas, carros importados e roupas de marcas
famosas. Disso surge o desejo dos demais indivíduos de se espelharem na vida das
celebridades para adquirirem certo destaque na sociedade ou em seu grupo social.
Em contramão, os realitys shows buscam mostrar que as chamadas personalidades
da mídia tem uma vida comum, igual a qualquer outra pessoa (PRIMO, 2009).
Porém, o termo “celebridade” não se limita a figuras conhecidas pelo grande
público, na medida em que cada grupo social apresenta indivíduos que possuem
maior destaque em relação aos demais. Tal fato fica evidente nos movimentos
jovens, como por exemplo, nos chamados “rolezinhos”, eventos que tiveram
42

destaque entre os anos de 2013 e 2014. Neles, grandes grupos de adolescentes,


normalmente da classe C, organizavam, por meio de redes sociais, encontros em
shoppings, parques e outros locais públicos, com o intuito de socializar e se
divertirem. Nos “rolezinhos”, havia aqueles que obtinham mais destaque, ditando
moda e ganhando o status de celebridade, sendo denominados de “famosinhos”.
(G1, 2014).
Segundo Debord (1976), a sociedade pós-moderna favorece o surgimento de
um hedonismo inflado pela mídia e, de certa forma, respondida pela própria
sociedade como sintoma da “sociedade espetáculo”, que exclui a dimensão do
privado, tornando todos os aspectos públicos, principalmente o cotidiano daqueles
que anseiam pela fama. Para o filósofo, a sociedade necessita do espetáculo, do
ilusório, dessa forma, as pessoas são "coisificadas" e "objetizadas" atendendo assim
aos anseios dos indivíduos (DEBORD, 1976 apud COELHO, 2010).
De acordo com Lowenthal (2006), a grande maioria das biografias de
celebridades segue o mesmo roteiro, iniciando com um começo árduo, as
dificuldades do caminho e, finalmente, o sucesso, em uma narrativa semelhante às
epopeias gregas. Dessa forma, o famoso se torna um herói para a sociedade,
sobretudo para seus fãs, proporcionando uma maior aderência à sua imagem.
Da mesma forma em que alçam um indivíduo à fama, os meios de
comunicação são os responsáveis pela sua queda (ROJEK, 2008). Isso se dá a
partir das fofocas, que podem ser reais ou inventadas. Ambas servem para que a
celebridade não seja vista com bons olhos pela sociedade, e assim perca apoio. O
fracasso muitas vezes traz ainda mais lucro do que o sucesso. A rotatividade de
celebridades na atualidade é muito grande. Pessoas que eram destaque nas
conversas ontem, hoje nem são lembradas mais. Para o autor, a mortificação do
corpo, como anorexia e abuso de substâncias, traz a celebridade de volta à terra. Há
também aqueles que conseguem mudar a sua imagem, sendo exemplos de
superação, como é o caso da cantora Britney Spears que, após polêmicas
envolvendo seu nome, conseguiu se desvencilhar da má fase pessoal.
Desse modo, a celebridade é, segundo Primo (2009),

uma mercadoria, fruto de um projeto bem planejado, com objetivos e metas


a serem alcançados. A celebridade não pode ser pensada apenas como
pessoa famosa. Trata-se de um complexo construído por uma grande
quantidade de profissionais e equipes. A celebridade vincula-se a outras
43

indústrias e produtos culturais, dos quais depende para manter seu


sucesso. (PRIMO, 2009).

O advento da internet e de seus dispositivos de interação, como blogs e redes


sociais, permitiu que um maior número de pessoas obtivesse fama, seja através de
vídeos divertidos ou textos que prendem a atenção do internauta. Essas
celebridades precisam cada vez menos do apoio dos grandes meios de
comunicação, como televisão e jornais, para que sua fama seja mantida, mas das
redes sociais que disseminam e fazem repercutir aquela fama. Além disso, as
celebridades geridas pela grande mídia utilizam de seus perfis online para mostrar
mais sobre sua vida, no intuito de se aproximarem dos seus fãs e reafirmarem a sua
própria existência narcísica (PRIMO, 2009).
44

6 – NEW YORK, NEW YORK

6.1 - If I can make it there, I’ll make it anywhere

A cidade de Nova York é mais do que apenas uma das maiores cidades do
mundo. Estar nessa metrópole, vivenciar as suas diversas atrações possíveis e
inserir-se no cotidiano torna-se um fetiche, uma adoração sem razões lógicas. Assim
como cita Paulo Francis, no posfácio de “Fogueira das Vaidades”, de Tom Wolfe
(1988), “ninguém mora em Nova York pelo clima ou pela qualidade de vida. Isto é o
romance. (...) Em Nova York se vive pela ambição de ser número um no que se faz
(...)” (FRANCIS, 1988, p. V), exemplificando como as questões relacionadas a essa
cidade vão além do espaço físico e acervo cultural.
Essa diversidade de pessoas, culturas e línguas faz com que a cidade seja
cenário frequente em múltiplas obras de ficção, sendo ideal para a materialização de
conflitos diversos. Nova York, com seu ambiente urbano e comercial, nessa mescla
de expectativas confluindo a todo tempo, possibilita uma diversidade criativa de
retratar o cotidiano e as suas relações triviais, além de atribuir a esta multiplicidade
um extremo valor, graças às mídias cinematográficas e televisivas.
Nova York é composta por cinco distritos, sendo esses Manhattan, Queens,
Brooklyn, Bronx e State Island.

Figura 9: Mapa de Nova York

Fonte: http://nycmap360.com/en/nyc-boroughs-map#.VVkzm7lViko
45

O distrito de Manhattan é o centro da cidade, no qual se encontram uma das


maiores construções de arranha-céus do mundo, estando entre esses os grandes
centros comerciais e financeiros do mundo. A Quinta Avenida, principal ponto
turístico do distrito, é uma importante e luxuosa avenida na qual diversas grifes e
empresas de alto luxo se instalam, tornando-a a um dos metros quadrados mais
valorizados do planeta. O Upper East Side é um bairro dentro da área mais nobre de
Manhattan e é o local com o maior predomínio de prédios residenciais no distrito.

Figura 10: Os distritos de Nova York

Fonte: http://www.mappery.com/maps/New-York-Neighborhoods-Map.gif
46

Brooklyn, o bairro mais populoso da cidade de NY, é o centro cultural da


cidade, abrigando diversos museus, galerias de artes e espaços culturais, além de
canais portuários e estabelecimentos industriais. Essa ampla atuação do distrito
proporciona uma confluência de moradores de diversas nacionalidades, profissões e
hábitos, o que vem transformando o Brooklyn em um local com diversas
oportunidades de atuação e atraindo uma massa turística quase equivalente à área
mais nobre da cidade, o Upper East Side.

Figura 11: O Brooklyn

Fonte: http://blog.interpass.com/viagens/brooklyn-nova-iorque/

Dessa maneira, essa plural cidade – Nova York, proporciona uma


confluência cultural intensa e passa a ser o ícone da “oportunidade”. Embora seja
grande em extensão e população, a atmosfera cultural característica, o sentimento
libertário e a constante agitação próprios da cidade, possibilitam e intensificam a
confluência entre diversas pessoas, diferentes países, culturas, origens e classes
sociais. As pontes da cidade de Nova York nada mais são do que outras possíveis
conexões que tão fortemente definem essa metrópole mundial.
47

6.2 -

Figura 12: O logo de Gossip Girl

Fonte: http://dammit.com.br/wp-content/uploads/2012/12/Gossip-Girl-Logo.jpg

A trama da série televisiva Gossip Girl se baseia na coleção de livros escritos


por Cecily von Ziegesar, e conta a história da vida glamorosa de adolescentes nova-
iorquinos. Os protagonistas e os acontecimentos de Gossip Girl são inspirados na
própria juventude de Cecily, vivida na escola de elite para garotas The Nightingale-
Bamford School. Segundo a autora,

“Eu baseei todos os personagens da série em pessoas que eu conheci, mas


mudei muitas características deles, também. Gossip Girl é ficção. Que eu
saiba, pelo menos, nenhum dos meus conhecidos que leram os livros ficou
zangado. Eles reconhecem algumas coisas, eu cheguei a usar alguns
nomes reais – eu de fato conheci uma Blair e uma Serena –, mas tudo foi
tão modificado que nenhuma pessoa em particular está retratada nos livros”.
(MAIA, apud ZIEGESAR, 2012)

A autora conta que teve a ideia para a produção de seus livros quando estava
lendo uma matéria no New York Times sobre uma garota que criou uma página na
internet para falar mal da amiga, tornando isso um escândalo para época – início
dos anos 2000 – e, consequentemente, sua inspiração.
Foi publicado um total de 14 livros, conferindo a base para o desenvolvimento
das seis temporadas da série, chamando os fãs para adentrarem nesse mundo
cheio de mistérios, mentiras, luxo e falsidade que é Upper East Side, o já citado
48

bairro nobre de Manhattan onde se passa grande parte da história. Criada por Josh
Schwartz e Stephanie Savage, a série estreou no dia 19 de setembro de 2007, no
canal norte-americano CW, terminando no dia 17 de dezembro de 2012, totalizando
121 episódios. No Brasil foi exibida pelo canal de TV por assinatura Glitz, em 2010,
com quatro temporadas, e na TV Aberta pelo SBT, estreada em 25 de novembro de
2011, tendo apenas sua primeira temporada exibida.
Gossip Girl é uma série dramática narrada por uma personagem sem
identidade revelada considerada "a fofoqueira", que conta a história de jovens de
classe alta que vivem em Nova York. As personagens – Blair Waldorf, Serena Van
der Woodsen, Nate Archibald, Chuck Bass, Dan Humphrey, Jenny Humphrey – se
relacionam num mesmo grupo, estudam na mesma escola e vivem em um mesmo
bairro, com exceção dos dois últimos, que são pertencentes à classe média de Nova
York. O seriado gira em torno da vivência de cada um, as dificuldades, conquistas,
relacionamento entre eles e os seus dramas juvenis. Cada personagem possui uma
personalidade marcante que, no desenrolar da série, fica ainda mais característica.

Figura 13: Blair Waldorf

Fonte: http://garotabeleza.com.br/maquiagens-da-leighton-meester-a-
blair-waldorf-de-gossip-girl/

Blair Waldorf (Leighton Meester) é arrogante, culta e determinada.


Perfeccionista, não mede esforços para conseguir o que quer, não se importando
em pisar em qualquer um que cruzar seu caminho.
49

Figura 14: Serena Van de Woodsen

Fonte: http://fc08.deviantart.net/fs51/f/2009/320/9/6/Serena_Van_
Der_Woodsen3_by_DJNia.jpg

Considerada uma das garotas mais bonitas da cidade e de muita influência,


Serena Van der Woodsen (Blake Lively), esconde seu passado de envolvimentos
com drogas, sexo e bebidas, porém no decorrer da história ela tenta mudar seu
comportamento e ser uma boa garota.

Figura 15: Nate Archibald


50

Fonte: http://www.polyvore.com/cgi/img- thing?.out=jpg&size


=l&tid=5372930

Rico, bonito, popular e atleta, Nate Archibald (Chace Crawford) é confuso e


lida com vários dilemas ao longo da história, os quais relacionam sua vida estudantil
e profissional, o amor que possui por Blair e Serena e a dificuldade financeira
provocada pelas farsas do pai.

Figura 16: Chuck Bass

Fonte: http://www.2beauty.com.br/blog/wp-content/uploads
/2013/01/chuck.jpg

Ele e Chuck Bass (Ed Westwick) são melhores amigos e, por serem filhos
únicos, cuidam um do outro e se tratam como irmãos. Chuck é boêmio e
mulherengo, sendo considerado como um dos vilões da série. Com a morte de seu
pai, Chuck herda as Indústrias Bass, uma empresa ligada ao setor de
entretenimento, tornando-se o jovem mais rico de toda Nova York.
51

Figura 17: Dan Humphrey

Fonte: http://hellglefernandes.files.wordpress.com/2011/08/
dan-humphrey.jpg

Conhecido como o "garoto solitário", Dan (Penn Badgley) não é popular, é


bolsista e não faz questão de se enturmar. Ele é um jovem maduro e com ideais
sobre sua carreira, além de possuir um orgulho constante em ter a criação baseada
nos valores do esforço e dedicação acima do poder financeiro.

Figura 18: Jenny Humphrey


52

Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/c/c2/Jenny_
Humphrey_Season_3.jpg

Jenny (Taylor Momsen) é a sua irmã mais nova, com a qual tem uma relação
de profunda amizade sem segredos. Por ser de família simples e morar no Brooklin,
ela enfrenta alguns problemas para participar do grupo.
A primeira temporada foca no retorno de Serena ao Upper East Side, nas
razões que a fizeram ir embora da cidade e por que está tentando mudar suas
atitudes, vistas como rebeldes. Devido à traição que fizera à sua melhor amiga,
Blair, dormindo com seu namorado, Nate Archibald, pensava-se que esse seria o
motivo de se afastar, porém, no desenrolar da história, percebe-se que existe uma
razão mais forte para sua partida. Embora inimigas no começo da temporada, Blair e
Serena voltam a serem melhores amigas após confessarem o quanto sentem falta
uma da outra.
Blair Waldorf reina na escola privada para garotas, a Constance Billard
School for Girls, na qual existe uma verdadeira hierarquia. A temporada ainda
envolve o namoro de Serena com Dan Humphrey; problemas familiares, de
popularidade e de bulimia de Blair; a relação de Blair com Nate e com o seu melhor
amigo, Chuck Bass; um romance antigo entre a mãe de Serena, Lily Van der
Woodsen e o pai de Dan, Rufus Humphrey; a busca de Jenny Humphrey pela
popularidade e sobre ascender no mundo social.
As temporadas seguintes se desenvolvem relatando a vida dos protagonistas.
O seriado tem um caráter verossímil e, por isso tem o cuidado em manter uma
trajetória para cada personagem, envolvendo-as nas mais diversas situações. A
história nos leva a compartilhar várias circunstâncias, como brigas, romances, casos
de família e, o principal, a vida social das pessoas de classe alta.
53

7 – O ANÔNIMO E A GAROTA DO BLOG

7.1 - O anônimo contemporâneo

O conto de Edgar Allan Poe “O homem da multidão”, escrito em 1840, é uma


obra que traz a primeira discussão acerca do anônimo na literatura. A partir de um
estudo das relações sociais apresentadas por Poe (1981), foi feito um paralelo entre
o texto e a trama da série Gossip Girl.
Em “O homem da multidão”, o personagem-narrador inicia a sua construção
discursiva a partir da observação. Interessado pelas coisas mundanas, ele busca,
principalmente por meio da linguagem corporal, reconhecer os tipos de pessoas que
transitam em uma das principais vias públicas da cidade de Londres. A observação
distende da sua condição de saúde que transita de um estado de recuperação a
súbitos delírios. Passando pela descrição do ambiente em que estava – um café
parisiense de um hotel, à observação da rua, pelas vidraças deste local.
O narrador que, inicialmente faz observações meditativas e generalizadas,
logo passa a se fixar em particularidades e minúcias – mais que caracterizar as
pessoas da multidão, comete-se numa análise detalhada das pessoas de todos os
tipos e classes –, transformando numa narrativa envolvente, a qual tem como fonte
de construção os indícios visuais captados pela observação do personagem-
narrador.
Gossip Girl pode ser considerada um arremedo do conto de Poe (1981), no
qual um anônimo expõe comentários sobre as personagens da série. Pode-se dizer
que o chamado observador – e muitas vezes perseguidor – figura nas narrativas há
muitas décadas, reafirmando o tipo levantado pelo autor, aquele que consome seu
dia em função de buscar e evidenciar características da personalidade de cada
indivíduo a partir de seus atos.
54

Na série, uma voz narradora acompanha toda a trama, anunciando conflitos,


brigas, romances e desafetos, sempre analisando e criticando as personagens. Essa
voz, que se auto intitula “A fofoqueira”, tem o prazer de expor os acontecimentos da
vida daquele grupo de amigos, o qual ela segue de perto com a ajuda daqueles que,
como ela, vivem em função da divulgação de fofocas. Blair Waldorf, em um de seus
discursos com Jenny Humphrey, reafirma o poder dessa influência no cotidiano de
quem se encontra nesse meio, tal como afirma: “Se você quiser entrar para esse
mundo, Jenny, as pessoas vão falar de você”.
O espaço explorado em Poe (1981) é a cidade, sendo a rua o principal palco
dessas personagens. As suas luzes, assim como as vidraças do café, são como
lentes que ampliam o modo de visão deste narrador, ou situam-se como uma
passagem para um novo modo de ver o mundo, o modo indiciário. No conto não há
interação social do narrador com a multidão, visto que as pessoas não têm voz e
muito menos nomes. Dessa forma, a multidão passa a ser analisada pelas roupas,
jeito de agir e de andar, transformando essas atitudes em “sintomas” de identificação
da humanidade. Esses indícios são as influências recebidas pela massa através das
informações, mídia, moda, política e religião.
O observador indaga ainda as relações desses transeuntes, que parecem
querer disfarçar a solidão acentuada pela coletividade circulante ao redor. Apesar
das ruas cheias de figuras que desfilam trazendo suas ocupações e posições sociais
estampadas no rosto, não escondem a falta de contato com o próximo. O narrador
caracteriza o homem da multidão como homem-massa, incapaz de estar só, mas
também incapaz de criar relacionamentos profundos.
Em Gossip Girl, o cenário de uma grande cidade também é explorado, sendo
essencial para a narrativa. Na série, Dan e Jenny Humphrey, moradores do
Brooklyn, estudam em uma escola particular em Upper East Side e, assim,
experimentam diariamente o que essa confluência e conectividade características de
Nova York proporcionam. Entretanto, estar em Manhattan, conviver e experimentar
diariamente a rotina da alta elite nova-iorquina não é algo feito sem que alguns
impactos ocorram. Criados com valores diferentes, numa realidade cultural e
financeira diferentes, Dan e Jenny valorizam o esforço de seus pais em financiar
uma educação de qualidade na Constance Billard School for Girls e St. Jude's
School for Boys.
55

Ao iniciar um romance com Serena Van der Woodsen, Dan sofre com
represálias dos familiares de sua pretendente, de seus colegas, tal como Chuck
Bass e, logicamente, da Garota do Blog. A presença de um garoto do Brooklyn é
vista como uma invasão no ambiente do alto luxo nova-iorquino, fazendo com que
muitos não o recebam no cotidiano tão facilmente.
Ao fim de longas deduções, o conto termina sem sabermos quem eram as
pessoas analisadas, um homem em especial, assim como a identidade do próprio
narrador. Percebemos então que esta estória escrito há dois séculos se torna
presente pelo fato de compreender o fenômeno da massificação dos
comportamentos, como também demonstrar a nítida percepção do teatro e dos
papéis estereotipados que a vida social interpreta.
A multidão causa dois efeitos que parecem contraditórios: ela uniformiza a
todos e paradoxalmente causa o isolamento, sendo um decorrente do outro. O
individualismo foi notado por Poe e transcrito em seu conto como sinal do que viria a
se transformar a sociedade moderna. Uma sociedade massificada cheia de
indivíduos sozinhos, formando assim uma multidão sem rostos.
Tal fato também é observado na série analisada, na medida em que as
personagens vivem um paradoxo entre a manutenção da herança social e o
estabelecimento de novas regras nas relações. Para Jenny, o impacto dessas duas
faces é mais marcante. Apesar da educação familiar baseada nos mesmos valores
do irmão, sua convivência naquela realidade, com sua pouca idade e vulnerabilidade
aos encantamentos da vida no Upper East Side, a jovem se coloca determinada a
entrar nesse meio a qualquer custo. Inicialmente, busca alcançar seu objetivo com
esforços que se relacionam diretamente aos seus valores de merecimento e esforço,
mas, com o tempo, percebe que a conquista de um espaço na escadaria do MET,
Metropolitan Museum of Art, o símbolo máximo do “reinado” de Blair, não depende
apenas destes quesitos. Para sentar-se nos degraus nos intervalos das aulas e
compartilhar esses momentos ao lado de Blair, é necessária uma avaliação do perfil
de cada candidata para então decidir se é possível fazer parte de seu grupo de
amizades.
O anonimato surge das relações – ou da falta delas – com os indivíduos. É
uma maneira de recuar, viver sem perfil e fazer parte sem ser notado. Buscar a
reclusão ou se misturar a outros são fatores que formam a identidade humana
dentro de um grupo.
56

Em Gossip Girl, a personagem Serena almeja um refúgio da exposição, na


medida em que renega a cidade, procurando um abrigo em um internato no interior.
Por razões familiares, ela é obrigada a voltar para Nova York, sendo mais uma vez
perseguida pelos comentários que a assombravam. Sabendo que seria inevitável a
sua fuga desse meio e estando em um cenário propício para a recorrência de
especulações, encontra na relação com Dan uma estabilidade emocional, assim
como certo anonimato em um bairro mais afastado de Manhattan, o Brooklyn.
Neste contexto, podemos dizer que esse comportamento, a busca pelo
refúgio, é consequência de uma necessidade que o indivíduo possui de tentar
reverter sua forma indistinguível, através do anonimato, agindo de forma a sobrepor
características e aspectos próprios, fugir do seu próprio eu.
Com o advento tecnológico foi permitida uma maior interação, na qual trocas
e experiências sociais são feitas através da expressão de ideias, exposição de
pensamentos e até mesmo pela avaliação de determinado comportamento de
alguém ou grupo. Mas, muitas vezes, esse espaço é bombardeado por opiniões sem
dono, por críticas ou elogios de pessoas que não querem expor sua identidade. Na
mesma proporção, a internet se faz ambiente daqueles que almejam pelos seus "15
minutos de fama", se tornando ferramenta crucial para alcançar algum ou qualquer
um tipo de sucesso.
A sociedade atual se alimenta da exibição, fazendo com que a vida se torne
teatral na medida em que constitui relações sociais entre as pessoas intermediadas
por imagens e opiniões. Tanto para o anônimo quanto para aquele que quer ser
visto, existem faces distintas em meio à exposição. O fato da exibição valer para o
anônimo, significa que este tem um maior poder e espaço quando não identificado,
podendo usar de sua máscara ou persona para explorar e julgar mais informações.
A série une dois tipos distintos que se complementam, a celebridade e o
anônimo. Pois, é a partir do anonimato de uma das personagens que surgem todos
os protagonistas. A exposição está diretamente ligada ao oculto, aquele que
propaga o “gossip”, pois quando não se é visto, não existe uma imagem formada,
não sendo suficiente para que seja notado e, consequentemente, comentado.
Comenta-se, mas não é comentado, escondendo-se no anonimato.
Pode-se dizer que inserida em tempos hipermodernos, a sociedade do
espetáculo busca novas formas de reconhecimento mediadas pelo narcisismo e
sediadas pela mídia. Os seriados são produtos da mídia televisiva que se
57

empenham em celebrizar o cotidiano. São programas que oferecem ao


telespectador imagens e scripts de pessoas em seu dia a dia, e foi dessa maneira
que surgiu Gossip Girl, série televisiva que serviu de referência para nossos
estudos.
Assim, temos o seriado como mais uma ferramenta midiática que tem como
intenção explorar a ideia de individualização em meio à massa. Ele enaltece o fluxo
contrário, isso é não ser mais um na multidão e se destacar através da socialização
que se dá pelas redes, sendo elas online ou off-line.
Traçando um paralelo entre o conto de Poe (1981), e as relações na
modernidade tem-se a aproximação de uma sociedade que subjuga o homem à
tecnologia, substituindo o processo comunicacional face a face por uma coexistência
online e, muitas vezes, anônima.

7. 2 - E o que mudou?

Gossip Girl pode ser considerada como uma produção que antecipou
tendências do comportamento dos jovens, na medida em que foi a primeira série a
retratar a questão do anonimato e da celebrização em ambiente online. Atualmente,
esses assuntos são recorrente em produções adolescentes, tais como Pretty Little
Liars e Glee, e têm ganhado atenção especial também no plano real, sobretudo nas
redes sociais e aplicativos de smartphones.
A trama de Blair – que foi ao ar entre os anos de 2007 e 2012 –, guardadas
as proporções entre o ficcional e o real, apresenta uma série de diferenças entre a
atualidade. Há quase dez anos, ia ao ar na televisão americana o episódio piloto de
Gossip Girl. Em um contexto em que as inovações se tornam a cada dia mais
constantes e também obsoletas, o comportamento da sociedade também sofre
alterações, ganhando novas roupagens. Portanto, pode-se dizer que, no que tange a
questão do anonimato na internet, diversos aspectos distanciam o enredo de Gossip
Girl ao presente.
Em primeiro lugar, destaca-se o fato de que a internet no início da série
(2007) não era tão amplamente difundida como é nos dias de hoje.
58

Paralelo ao desenrolar da série, houve também o avanço das tecnologias,


bem como o seu barateamento, permitindo que uma versão mais rápida e eficiente
de internet se popularizasse: a chamada banda larga (AUN, 2007). Com ela, os
usuários puderam acessar informações contidas da rede de maneira mais prática e
fácil. Pessoas que passavam apenas algumas horas na frente de um computador
começaram a mudar toda sua rotina em prol da nova ferramenta. A internet passou
a ser a maior fonte de pesquisas escolares e científicas, além de ser imprescindível
em qualquer ambiente de trabalho. Essa inovação fez com que mais jovens se
aliassem a essa ferramenta, seja para conversar com amigos, buscar e divulgar
informações de seu interesse. Tal fato fez com que houvesse o crescimento dos
blogs. Desse modo, o público pôde conhecer e/ou se tornar mais familiarizados ao
enredo principal de Gossip Girl: a Garota do Blog.
A página principal apresentada na série pode ser identificada como um blog
de fofocas, na medida em que ela continha informações muitas vezes secretas.
Além disso, seu intuito era de difamar as pessoas a quem as notícias se referiam.
Um fato que deve ser salientado é que em nenhum momento da trama há a menção
de uma fofoca que não se relacionasse às personagens centrais. Tal dado sustenta
a hipótese de que a pessoa por trás do site estaria inserida no núcleo principal e não
somente um aluno anônimo do colégio. O blog de fofocas possui grande destaque
nos dias de hoje, conseguindo um número muito grande de acessos (BOO-BOX,
2012). Nesse segmento, destacam-se os sites dos jornalistas Fabíola Reipert
(fonthttp://entretenimento.r7.com/blogs/fabiola-reipert/) e Léo Dias
(http://blogs.odia.ig.com.br/leodias/), ambos presentes em grandes portais de
notícias.
Na época em que o seriado começou a ser exibido, o blog pessoal era a
categoria que dominava o ambiente online (SANTOS, PENTEADO e ARAÚJO,
2009). Nele, as pessoas contavam sobre o seu cotidiano, ilustrando as postagens
com fotos e gifs animados. Pode-se dizer que essa foi uma das primeiras formas de
se tornar famoso na internet, ou, pelo menos tentar. Ao contrário do de fofocas, o
qual muitas vezes o autor deseja se manter anônimo, o blog pessoal tem a
finalidade de expor a vida da própria pessoa que o escreve. Em Gossip Girl esse
segmento também se mostrou presente, na medida em que algumas personagens
da trama também possuíam o seu próprio blog, no qual contavam sobre a sua vida
59

privada. Atualmente, porém, essa categoria está em declínio devido ao crescimento


das redes sociais, que vieram substituir algumas funcionalidades dessa ferramenta.
As redes sociais virtuais se tornaram populares no Brasil no final da década
de 2000, sobretudo com o aparecimento do Orkut e posteriormente do Facebook.
Nelas, o usuário pode fazer um grande número de ações, como publicar fotos,
vídeos e notícias, comentar em postagens de amigos e interagir com marcas
(ARAÚJO e RIOS, 2012). Nesse contexto se tornou muito mais fácil se expor e ser
reconhecido por um determinado feito, na medida em que as informações de todos
os usuários se concentram num mesmo local. No blog pessoal, o internauta além de
ter uma interação limitada com seus visitantes virtuais, tem necessariamente que
mudar de site para consultar as informações dos demais usuários. As redes sociais,
portanto, são meios mais fáceis de tornar-se conhecido na internet.
Quem faz um perfil em uma dessas mídias, está sujeito a ter sua vida
vasculhada por amigos, família e até mesmo por pessoas que nunca viu. Portanto,
não tem interesse em se manter anônimo. Mais do que isso, quem não tem cadastro
ou não é ativo em pelo menos uma delas não “existe” ou é “irrelevante” na
sociedade. O sucesso virtual de alguns em detrimento de outros – medido através
de curtidas, compartilhamento e comentários se explica pelos mais diversos
aspectos, desde aparência física até o humor.
Em Gossip Girl, não há menção a nenhuma rede social, provavelmente pelo
fato de os produtores não quererem citar o nome de alguma marca sem o devido
retorno financeiro. Ou até mesmo para não tirar o foco do blog que dá nome à série.
Porém, tendo em vista o perfil das personagens da trama, é possível inferir que elas
teriam ao menos uma página em algum site de relacionamentos, caso ela retratasse
fielmente o mundo real.
Outro aspecto que deve ser salientado é a evolução dos telefones celulares
durante as temporadas da série. As personagens utilizavam bastante o aparelho,
contudo, o seu uso era inicialmente limitado a atender a ligações ou receber
mensagens de texto. Com o passar dos episódios, eles foram se tornando mais
modernos e parecidos com os existentes hoje. Porém, uma importante
funcionalidade presente na atualidade ainda estava pouco explorada nos celulares
da época: a internet móvel. Somente nas últimas temporadas as personagens
começaram a utilizar aparelhos que possuíam acesso à rede, como o Blackberry e
as primeiras versões do iPhone. Assim, elas não conheceram uma série de
60

aplicativos que fariam o mesmo papel da Garota do Blog: falar do outro sem se
expor.
Esses aplicativos têm ganhado destaque na sociedade, na medida em que
normalmente são utilizados para difamar as pessoas de forma anônima.  Exemplos
como o Lulu e o Secret foram banidos das lojas de apps justamente por conterem
declarações difamatórias sobre terceiros, os quais não possuíam controle sobre
aquilo que é postado (INSTITUTO COALIZA, 2014). Algumas postagens do Secret
traziam a foto de uma pessoa, junto a um comentário vexatório. São atitudes
semelhantes às existentes em Gossip Girl, na qual a dona do blog publicava fotos de
suas vítimas acompanhadas de textos sobre assuntos que não deveriam ser
divulgados.
A questão entre anonimato e celebrização na internet, já pincelada na série,
se tornou mais tênue e complexa, devido ao avanço tecnológico e à consequente
mudança comportamental das pessoas, sobretudo dos jovens. Os aplicativos de
celular e as redes sociais mostram que, no ambiente online, o usuário pode ser
anônimo e também se expor. E tudo isso com apenas um clique – ou toque.
61

8 – SÉRIES FINALE

O desenvolvimento deste trabalho possibilitou uma ampla pesquisa acerca da


história da série na televisão, bem como das inovações que a internet trouxe para as
pessoas, como as redes sociais virtuais e os aplicativos de smartphones. Além
disso, explorou-se a questão do anonimato e da celebrização, assuntos altamente
em voga na sociedade de hoje.
Com o intuito de relacionar os temas acima propostos, tomou-se como ponto
de partida a série americana Gossip Girl, na qual há uma personagem - a Garota do
Blog - que se faz anônima e começa a divulgar notícias secretas das demais em um
blog. Após uma análise da produção em associação ao referencial teórico
previamente descrito, foi possível inferir que tal fenômeno também ocorre no plano
real, mais especificamente em ambiente online. Desse modo, percebe-se como as
relações sociais, as interações e a fluidez de espaços podem ser facilmente
transpostas para as redes sociais.
Os dispositivos virtuais, que tiveram seu crescimento estabelecido após a
popularização da internet, se tornaram uma forma de possibilitar a visibilidade e, ao
mesmo tempo e de se manter anônimo. Ao mesmo tempo em que eles se afirmaram
como ambientes propícios do próprio usuário divulgar a sua vida pessoal, também
facilitaram a divulgação de informações acerca dos demais, isso de maneira
anônima. A partir de tal ambiguidade em associação com Edgar Allan Poe em “O
Homem da Multidão”, foi possível notar o que essa barreira entre o anonimato e
celebrização se constrói, pelo menos, desde o século XIX. E, nos dias de hoje, se
torna cada vez mais frágil e tênue, podendo passar de um para o outro em um
segundo.
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Do plano figurativo do conto de Poe, no qual o homem da massa anônima,


por razões específicas ao narrador, torna-se o símbolo da visibilidade, passando
pela dramatização desses momentos nas relações e trocas de ambientações em
Gossip Girl, até o exemplo contemporâneo dos relacionamentos no mundo virtual.
Toda a conexão entre esse três planos tão distintos, ao primeiro ver, nos mostrou o
quanto esse aspecto entre a exposição e a reclusão é um assunto universal,
tradicional e, ao mesmo tempo, moderno.
Dessa forma, pode-se dizer que "O homem da Multidão" alertou para os
relacionamentos e comportamento da massa. Assim como Gossip Girl esteve a
frente do seu tempo propondo uma maior fluidez entre dois aspectos distintos, o
anonimato e a celebrização, um dilema atual em que vivemos nos tempos de
ascenção cada vez maior das redes sociais. O resultado final dessa pesquisa nos
esclarece o quanto esse campo de estudo é amplo e complexo em sua formação,
visto que o anônimo se sublima na fama, na mesma medida em que o destaque se
coloca na posição de recluso. Sendo, assim, a grande questão que continuará a
pairar nas relações humanas: o quanto de celebridade possui naquele que se
esconde?
63

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71

WOLFE, Tom. A Fogueira das Vaidades. São Paulo: Rocco, 1998.

ANEXO

MAKING OF

A. Tô na TV!

Transpor um conteúdo de uma mídia à outra é uma forma de adaptação


usada desde o surgimento da televisão. A primeira sitcom foi uma versão da
comédia radiofônica “The Goldbergs” para a televisão, em 1949. Sequente a isso,
várias outras formas de adequação de diferentes maneiras foram sendo feitas para o
audiovisual, sendo a mais comum e recorrente delas, a inserção de narrativas
literárias, a transcriação. Sendo em filmes ou programas televisivos, adaptar um livro
exige um amplo estudo de representação e adequação da escrita ao perfil das
personagens, do cenário e, em especial, da forma que se narra a trama.
O seriado Gossip Girl, por ser uma produção inspirada em livros, foi
impactado com uma série de mudanças e transcriações quando foi moldado nos
padrões desse tipo de programação. Apesar de a maioria das personagens e suas
características principais permanecerem na série, além do cenário nova-iorquino das
ruas de Manhattan e Brooklyn, muito foi alterado nos roteiros e no desenvolver da
trama. Uma das maiores questões foi a atenuação do conteúdo do primeiro livro à,
apenas, o piloto da série, fazendo com que fosse possível notar, aos fãs dos livros,
as primeiras grandes alterações que continuariam a ser apresentadas no decorrer
da trama.
72

Figura 19: A coleção de livros Gossip Girl

Fonte: https://baixelivrobrasil.files.wordpress.com/2010/04/21436066_4.jpg

O grande sucesso que a série de livros proporcionou nos períodos de


lançamento fez com que milhares de leitores adquirissem altas expectativas em
relação ao modo que as interações entre as personagens iriam ocorrer. De maneira
geral, os relacionamentos amorosos e familiares da maior parte dos adolescentes,
ao passar dos episódios, se mostrou bastante distinto de toda a obra original,
fazendo com que novos conflitos e interações tornassem-se mais fieis e cabíveis ao
plano televisivo.
Dessa forma, adaptar um meio literário para um televisivo torna-se complexo
em diversos níveis, pois se assume a responsabilidade de transformar uma narrativa
em outra, tendo em vista diferentes contextos, públicos e alcance. A complexidade
de transcriar um estilo de representação que depende da imaginação de um leitor
para um cenário em que se tem uma apresentação física e visual concreta, a partir
da visão de diversos profissionais, faz com que aspectos de um sejam perdidos ao
passar para o outro.
73

B. Spoiler alert

Em toda sua complexidade, uma narrativa de seriado, por se tratar de algo


aberto, que depende da visão de diversos profissionais e de público,
consequentemente sofrerá diversas transformações no decorrer das exibições. O
piloto, geralmente por ser feito para ser um resumo de todos os pontos que a história
retratará, pode exibir fatos que, com o passar do tempo, não se encaixam com os
desdobramentos dos episódios. Por esse fato, agregando ainda as dificuldades da
adaptação literária, o seriado Gossip Girl apresentou diversas falhas de sequência
da narrativa durante todas as temporadas exibidas pelo canal CW.
Durante as primeiras cenas do seriado, quando o público ainda está se
familiarizando com as personagens, nota-se um encontro entre Dan Humprhey, que
mora em uma parte da cidade distante de Manhattan, Nate Archibald e Chuck Bass
em um ônibus, quando descem a caminho da escola. Com o passar dos episódios,
aprofundando mais no cotidiano de cada um deles, é possível inferir que tanto
Chuck quanto Nate, que possuem uma condição financeira de alto luxo, não usariam
esse meio de transporte já que, mesmo morando em Manhattan, bairro da escola, se
locomovem em limusines com motoristas particulares por Nova York.

Figura 20: Dan, Chuck e Nate no ônibus

Fonte: http://i56.photobucket.com/albums/g166/ChickWGuitar2003/Gossip%20Girl/101%20-
74

%20Pilot/28aqn37.jpg

Figura 21: Chuck e sua limusine

Fonte: http://nyulocal.com/entertainment/2009/09/14/if-blair-waldorf-
actually-went-to-nyu-theres-no-way-shed-eat-at-downstein/

Na primeira temporada, é possível notar que um dos grandes conflitos


explorados é a determinação de alguns das personagens em entrar na faculdade de
seu desejo. Blair sonha com Yale, enquanto Nate busca outras opções fora de Nova
York que desagradam o pai e Dan uma possibilidade na concorrida Darthmout e
sente a pressão de não possuir ligações influentes para facilitar a sua bolsa de
estudos. No decorrer das outras temporadas, quando ocorre a formatura do ensino
médio, logo são deixadas em últimos planos as rotinas acadêmicas de cada um até
que, certo ponto, não são mais citadas.
Com essa separação do grupo de amigos, o foco no blog e na divulgação
das notícias relacionadas a eles desaparece. De certa forma, seria necessário que o
grupo estivesse sempre junto para que o sentido de ter uma Garota do Blog infiltrada
no meio fosse considerado. Assim, foram inseridos certos conflitos na trama que
75

reuniam os protagonistas em diversas situações, sendo um desses casos quando a


mãe de Serena, Lily, conta ao pai de Dan, Rufus, que eles possuem um filho do
relacionamento passado. Essa notícia surge como um fator que reaproxima o antigo
casal e causa ainda mais empecilhos aos adolescentes que vivem uma relação
amorosa baseada na inconstância. Assim, a presença da nova personagem seria
um conflito que mudaria todo o desenvolver narrativo a partir de então e criaria mais
um clímax para os jovens nova-iorquinos. A presença desse novo integrante gerou
alguns impactos para Rufus e Lily, porém, com o passar dos episódios e nas
temporadas seguintes, ele nunca mais se apresentou ou foi ao menos mencionado
por nenhuma outra personagem.
A curiosidade acerca de quem era a Garota do Blog que esteve presente e
afligiu a todos durante tantos anos, foi inerente tanto para as personagens quanto
para os fãs que acompanhavam a série. Por essa pressão, o núcleo de roteiristas se
esforçou para criar um final que o real autor do blog fosse revelado, mas, de fato, é
possível notar que a decisão de ser Dan Humphrey o responsável pelos anos de
intrigas entre os jovens não foi algo estruturado desde o começo da trama. Existem
diversas falhas, como quando Dan presencia de frente ao computador ou do celular
alguma notícia se tornar pública através do blog, ou até mesmo quando notícias que
o difama ou interferem em seus relacionamentos são espalhadas. Nos últimos
episódios, os roteiristas fazem de Dan um escritor de sucesso repentino, graças à
suas obras com fatos semelhantes aos ocorridos com seus amigos, tornando-o,
então, aquele que mais probabilidades teria em ser o autor que conhece a fundo as
suas “vítimas”.

Figura 22: Dan e seu livro Inside


76

Fonte: http://s.wsj.net/public/resources/images/OB-QL993_dany_E_20111108135813.jpg
Dessa maneira, analisando a série em sua continuidade, considerando toda a
forma de estruturação desde o começo desta, é possível inferir que o fechamento da
produção não foi algo elaborado desde o piloto. A construção dos dilemas e conflitos
foi sendo algo elaborado pelos roteiristas a partir da percepção frente à audiência
que questionava a real identidade da Garota do Blog. Nota-se, dessa forma, como a
continuidade de uma história seriada torna-se frágil ao passar das temporadas, pois
se perde a linearidade e a verossimilhança com a história inicial, tornando-a repleta
de furos e descontinuidades que fazem com que o desfecho não se encaixe bem
com o começo.

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