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v.38-1, p.183-196
Resumo Palavras-chave
O texto se ocupa em descrever os sete prin- secas da natureza. Como consequência da su- Ritos de
cipais ritos de passagem ocorridos com os seres peração desses momentos heroicos, adquire-se Passagem,
humanos, concomitantemente às sete difer- conhecimentos que são incorporados à psique, As Sete
Dinâmicas de
entes transformações de padrões de consciên- a par de desejos desconhecidos mobilizarem
Consciência,
cia nominados como: Urobórica, da Grande Mãe, comportamentos para a ultrapassagem dos ob-
Morte e
do Deus Pai, do Encontro ou Coniunctio, da Co- stáculos. Os ritos de passagem são precedidos Renascimento.
municação, da Antevisão do Futuro e finalmente da vivência de morte e sucedidos pelo novo tem-
da Totalidade. Os ritos de passagem explicitam po de Vida. ■
momentos de superação-transgressões às inter-
dições, com os quais o ser humano atinge novos
tempos de vida, e suas respectivas dinâmicas
de consciência, decorrentes de demandas intrín-
Ao longo dos anos e das décadas esse campo ciência de si mesma, não se sabe, o terror de ser
interacional foi se fragmentando. À medida que abandonada não é propriamente de abandono,
as cidades cresciam e se tornavam verticais, os mas sim o medo de deixar de ser, ou a condição
núcleos familiares foram se reduzindo, chegan- de se perder da possibilidade do vir a ser.
do a ponto de não mais sabermos sequer o nome Quer me parecer que o fulcro da grande maio-
de nossos vizinhos de porta. O campo interacio- ria dos quadros de incertezas, de inseguranças,
nal de vivências humanizantes foi empobrecen- de transtornos de pânico, decorre dessas carên-
do e, sincronicamente, quer me parecer, os qua- cias de cuidados mais primários que concorrem
dros de transtorno de pânico, ansiedade, vida para o estabelecimento da condição de tornar-se
sem sentido, aumentaram significativamente! humana.
Assim, podemos inferir sobre a existência de Todos os seres se tornam cada vez mais hu-
vivências inter-relacionais profundamente nega- manos quanto maiores forem as experiências
tivas, estabelecidas entre a criança e o campo vividas, estruturadas em diferentes padrões de
no qual estão inseridas, por conta desse campo relacionamentos. Porém a estruturação de todos
estar cada vez mais restrito, mas, mais que tudo, os padrões subsequentes estabelecidos com as
os campos estão empobrecidos de energia con- diferentes situações com as quais os seres se
tinente. As crianças, precocemente são cuidadas deparam ao longo da vida somente é sustentada
por figuras substitutas que forjam feridas que se a mais primeva das vivências tiver sido sufi-
não cicatrizam e que dificilmente serão repara- cientemente continente para estruturar embasa-
das ao longo da vida e de processos de análise. mento para que as que ocorrerão a posteriori.
Quando a criança se sente apartada da rela- A estruturação da condição de humanizar-se,
ção (abandonada aos cuidados de outros), é in- decorrente dos incontáveis “casamentos” hu-
vadida por uma emoção atroz de medo, uma vez manizadores, depende de como os primórdios
que ainda não se estruturou minimamente como foram estruturados. Carências decorrentes des-
ser humano, ainda não se sabe! O corpo está for- sas vivencias primordiais possivelmente irão
mado, mas a condição de como é sentir-se ou sa- comprometer a estruturação de novos padrões
ber-se como ser humano ainda não lhe confere relacionais (“casamentos”) com os irmãos, com
segurança para se sentir contida em si mesma, colegas e/ou amigos, com os vários parceiros
ou seja, sem o risco de desvanecer-se ou per- sejam de conjugalidade, de trabalho, de socie-
der-se de si mesma. E esta forja ocorre precoce- dades etc.
mente. Faltando algo que depende totalmente Assim, se a criatura não tiver uma saudável
da relação com a mãe/pai e do campo interacio- estruturação de primeira infância dificilmente
nal humanizante extremamente empobrecido, a vai casar-se com um homem, ou com uma mu-
criança, ao se vir apartada do outro que lhe con- lher, mas, provavelmente, irá se casar com um
fere humanidade, vive a situação povoada por “pai” ou uma “mãe”.
um medo apavorante. Quando o pai e/ou a mãe Por outro lado, conhecemos relatos sobre
se afastam a vivência primordial da criança sen- criaturas que, sob vivências de grande sofri-
tir-se contida, sentir-se envelopada, envolvida mento causadas por morbidades de extrema
pelo continente do “útero reconfigurado”1 redun- gravidade, criaturas essas que, parecem, vieram
da numa realidade em que ela (criança) deixa para pouco tempo estar conosco quando então,
de ser ou de existir, como se se perdesse de si transcendendo os ritos de passagem naturais,
mesma. Ainda não é, ainda não estruturou cons- atualizam competências pertinentes a dinâmi-
1
É meu entender que, pelo fato de os seres chamados hu- cas de consciência inauditas. Essas vivencias,
manos nascerem absolutamente imaturos, o colo traduzido plenas de antevisão de futuro, concorrem para
pelos “braços maternos” que envolvem o nascituro, por meses
e meses, configura um útero reconfigurado. que tanto a dinâmica do Encontro como a dinâ-
literalmente, ao seu segundo rito de passagem nal intrauterino com os primeiros ritos fenomê-
e, como tal, por nova vivência de morte. Atraves- nicos do processo de hominização. O nascituro,
sar o conduto vaginal, e após dar nascimento à por conta da postura bípede das humanas (que
cabeça, a escápula se contorce, o tórax passa a tiveram tanto a largura do quadril como do túnel
ser “massageado para acordar os pulmões”, os por onde se forma o conduto vaginal diminuí-
batimentos cardíacos se aceleram, emerge o ab- dos, bem como das transformações ativadas,
dômen... O segundo rito de passagem acontece decorrentes do processo de deambulação e da
como o nascer para a luz. postura ereta), nasce absolutamente imaturo
Até algumas décadas atrás, o nascimento para a própria sobrevivência. Assim, os primei-
ocorria mais natural e necessariamente por via ros anos de vida extrauterina configuram o que
baixa, com o que o feto precisava atravessar o há de mais fundamental para a estruturação de
estreito canal vaginal, por onde coubesse sua uma criatura saudavelmente humana. Nesses
cabeça e para que a escápula, certamente mais primeiros tempos de vida, o útero se reinventa
larga, atravessasse esse conduto, necessitava nos braços que envolvem o recém-nato, a par
de malabarismos intensos, seguidos por um tó- da placenta se fazer representada simbolica-
rax com suas costelas que também se retorciam mente pelo seio que alimenta, mobilizando as
e se massageavam, e assim os pulmões serem demandas mais primordiais de sobrevivência.
ativados, cumprindo sua função de sobrevida, O nascituro é instado a acolher o seio e o movi-
qual seja, respirar. Após o segundo rito de pas- mento oral de sugar atualiza-se de imediato. A
sagem, a criaturinha vive o colo protetor sob a par dessa condição, tanto no sentido fisiológico
tutela da segunda dinâmica de consciência que quanto psicológico, a interação dos olhares, de-
denomino como do Feminino ou da Deusa Mãe, correntes das faces recíprocas que se encontram
amplamente estudada pela Psicologia Analítica – mãe (ou substituta) e criança –, constroem-se
sob a denominação de Matriarcal. os primeiros estágios da relação vinculante que
Esta dinâmica retrata a instauração do en- gera humanização, forja evidente da certeza de
contro eu-outro, sem consciência reflexiva, por estar sendo cuidado com diké e aidós, ou seja,
parte do nascituro, de “quem é o Eu e quem é o com justiça e adequação e recebendo do cuida-
Outro”. Todavia, à medida que os vários Outros dor(a) o que ele(a) tem de melhor, com o que a
se diversificam o Eu se estrutura, a relação deixa emergência do vínculo concreto se faz.
de ser de exclusividade, mas sempre na interde- Esses cuidados são fundamentais para a for-
pendência com um Outro. Na dinâmica da Deusa ja da inerência humanizante da criatura, ou seja,
Mãe, a Vida é sempre soberana. nascemos como criaturas e estruturamos nossa
O nascituro se desenvolve natural e simboli- condição humana na interação decorrente dos
camente no colo da mãe/pai, sendo alimentado, cuidados do útero reinventado pelas mãos/colo
aconchegado, acarinhado, atualiza a linguagem, da mãe/pai/cuidadores!
bem como competência para andar sobre somen- O útero reinventado, bem como todos os cui-
te duas patas, liberando as mãos que com seus dados desse tempo de dinâmica da Grande Mãe,
movimentos concorrerão para que múltiplos es- configura estrutura de limite físico-emocional en-
tímulos cerebrais aconteçam, continuamente se tre as figuras continentes e a criança, e vive um
vendo refletido nos olhos e faces de suas figuras continente limitante de caráter físico e que tem
protetoras. A dinâmica de consciência presente fundamentalmente a finalidade protetora para a
é a do Feminino ou da Grande Mãe, sob a regên- integridade física. O limite físico é imposto pe-
cia do arquétipo da Deusa Mãe. las figuras humanizantes. Na dinâmica seguinte
A vivência do colo protetor traduz a concomi- haverá de viver a condição de ter e de subme-
tância da complementação do tempo gestacio- ter-se a um limite verbal-psíquico-emocional tão
Keywords: Rites of Passage, The Seven Dynamics of Consciousness, Death and rebirth
Resumen
Ritos de pasaje y dinámicas de conciencia
El texto trata sobre la descripción de los siete alcanza nuevos tiempos de vida, y sus respectivas
ritos principales de pasaje que ocurrieron con los dinámicas de conciencia, que surgen de las de-
humanos, concomitantemente con las siete trans- mandas intrínsecas de la naturaleza. Como conse-
formaciones diferentes de patrones de conciencia cuencia de la superación de estos momentos he-
nombrados como: Urobórica, de la Gran Madre, roicos, se adquiere conocimiento que se incorpora
del Dios Padre, del Encuentro o Coniunctio, de la a la psique, junto con deseos desconocidos que
Comunicación, de la Vista Preliminar del Futuro movilizan comportamientos para superar obstá-
y finalmente de la Totalidad. Los ritos de pasaje culos. Los ritos de iniciación son precedidos por
explican momentos de superación-transgresiones la experiencia de muerte y seguidos por el nuevo
a las interdicciones, con las cuales el ser humano período de Vida. ■
Palabras clave: Ritos de Pasaje, Las Siete Dinámicas de la Conciencia, Muerte y renacimiento
_________. O encontro de Prometeu, Héracles e Quiron: a SOLIÈ, P. Mitanálise junguiana. Barueri, SP: Nobel, 1986.
morte e o morrer: ritos de passagem. Junguiana, São Paulo,
v. 29, n. 1, p. 58-65, jun. 2011.