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All content following this page was uploaded by José Fabiano Serra Costa on 11 July 2015.
Resumo
Este trabalho pretende apresentar conceitos e aplicações do Gerenciamento por Categorias, como ferramenta
fundamental do ECR – Efficient Consumer Response –, além de mostrar que a utilização de uma metodologia
multicritério de apoio à decisão, e em particular de técnicas que utilizam matrizes decisórias, podem ser ótimas
alternativas no auxílio à tomada de decisão, quando incorporadas ao ECR. Para ilustrar a questão, é desenvolvido
um modelo, seguido de um exemplo prático de utilização.
Palavras-chave
Decisão multicritério, matrizes, ECR, gerenciamento por categorias.
Key words
Multicriteria decision, matrices, ECR, category management.
O objetivo final do ECR é a geração de um sistema supermercadista teria pouca chance de obter o sucesso
eficaz, direcionado ao consumidor, no qual distribuido- alcançado se não houvesse uma grande modernização no
res e fornecedores trabalhem juntos como aliados comer- tratamento com as diversas entidades da cadeia.
ciais a fim de minimizar custos. Informações precisas e Visando alcançar sucesso no futuro, o objetivo de cada
produtos de qualidade fluem por um sistema sem papéis empresa da cadeia de abastecimento deve ser o atendi-
entre a linha de produção e o check-out, com mínimo de mento às necessidades de seus clientes/consumidores de
perda ou interrupção entre as partes que o compõem. uma maneira efetiva e eficiente, empenhando-se na cria-
Assim, são esperados a redução das perdas e o aumento ção de uma cultura dinâmica e aberta a mudanças.
do giro de estoque, obtendo recursos para manter o A aplicação do ECR vem auxiliar o varejista, o distribui-
negócio em andamento, oferecendo melhores produtos a dor e o fornecedor no difícil trabalho de eliminar os custos
preços acessíveis ao consumidor. excedentes para melhor servir o cliente/consumidor, ofere-
cendo-lhe um grande aumento nas opções de produtos e
BENEFÍCIOS DA IMPLANTAÇÃO DO ECR conveniência, mix eficaz, redução de itens em falta, promo-
ções diferenciadas de acordo com o perfil do cliente/consu-
Os benefícios econômicos alcançados pela implanta- midor, produtos mais frescos e de melhor qualidade. Sendo
ção dos conceitos, técnicas e ferramentas que envolvem assim, colocando os produtos em tempo certo, na quantida-
o ECR resultam, principalmente, de três fatores: a redu- de certa, no local certo, à disposição do cliente.
ção nos custos operacionais em toda a cadeia e os São algumas das ferramentas marcantes do ECR: Ge-
ganhos financeiros da redução do estoque e da depreci- renciamento por Categorias, Reposição Contínua por Ca-
ação pelo aumento na produtividade dos ativos fixos. A tegoria, Intercâmbio Eletrônico de Dados (EDI), Proces-
competitividade entre os varejistas e fornecedores propi- sos Financeiros e Custeio Baseado em Atividades (ABC).
cia aos consumidores crescimento das opções de produ-
tos, redução dos itens em falta e, portanto, produtos mais
frescos. No varejista, cresce o aumento da lealdade e GERENCIAMENTO POR CATEGORIAS
melhora o conhecimento do consumidor, além, é claro,
de haver sensível melhoria no relacionamento com o Desde a implementação do ECR, é crescente o esforço
fornecedor. Por outro lado, a indústria, conhecendo me- de varejistas e fornecedores no intuito de transformar
lhor as necessidades e expectativas do mercado, conse- relacionamentos de negócio em parcerias de colabora-
gue reduzir os produtos em falta, aumenta a integridade ção. Nesse sentido, o Gerenciamento por Categorias,
da marca e melhora o relacionamento com o varejo. única ferramenta do ECR ligada à geração de demanda,
As estratégias adotadas por meio da implementação surgiu como resposta ao crescente desafio do setor de
do sistema de Resposta Eficiente ao Consumidor (ECR) satisfazer o consumidor.
objetivam alcançar economia no setor e aumento do Trata-se de um processo de parceria entre o varejista
lucro, otimizando a redução de custo por toda a cadeia e e o fornecedor que consiste em gerenciar as diversas
aumentando os ganhos financeiros derivados da crescen- Categorias de itens como Unidades de Negócio, e traz
te produtividade. Dentre elas, destacamos: como benefícios reduções significativas de custo e me-
• Sortimento eficiente de loja – Otimizar a manutenção dos lhores resultados comerciais, enfocando práticas de
estoques e o espaço da loja, melhorando a interface com o merchandising e marketing mais eficientes, sempre ori-
consumidor. entadas ao consumidor, em que Categoria é um grupo
• Reposição Eficiente – Otimizar o tempo e o custo no distinto de produtos, que de acordo com a percepção e as
sistema de reposição de produtos no estoque. necessidades do consumidor estão inter-relacionadas ou
• Promoção Eficiente – Aplicar sistema adequado ao trata- são substituíveis entre si (ECR BRASIL, 1998).
mento de promoção atingindo cliente e consumidor. Aplicar o tratamento adequado a cada categoria de
• Introdução Eficiente de Produto – Aplicar medidas de produtos obtendo resultado ótimo no processo varejista,
desenvolvimento e introdução de novos produtos. eliminando os desperdícios ou perdas, implica em reali-
zar prévia e profunda análise de cada elemento da cate-
Nos últimos trinta anos, ocorreram mudanças profun- goria, classificando-o conforme diversos fatores, que
das no setor de varejo brasileiro e entre elas encontramos variam de utilidade a fabricante/marca. Etapas como a
as alterações ocorridas nos hábitos dos consumidores, o definição da categoria, seu papel dentro da empresa,
que culminou na conseqüente evolução dos produtos de estratégias e metas a cumprir devem estar bem definidas
consumo. Na busca da adequação dos produtos aos novos para o sucesso do método. A Figura 1 mostra as etapas do
hábitos de vários segmentos de consumidores, o setor Gerenciamento por Categorias.
Para que o processo saia do papel, é necessário antes mes são resultados de alterações de preço ou distribui-
de tudo que o varejo e os fornecedores passem a trabalhar ção; monitorar novos itens; poder ser usado durante
as categorias, enxergando-as da mesma forma que o períodos promocionais avaliando o impacto das promo-
consumidor. O processo requer investimento em tempo e ções; prover o mix mais adequado ao consumidor;
tecnologia da informação. Com base nestas informações, otimizar custos e tempo, assim como maximizar a oferta
a empresa é capaz de tomar decisões que venham a de produtos; adequar o planejamento de promoções, jun-
adequar a sua realidade ao mercado. Pode-se negociar to ao público-alvo; avaliar o desempenho de novos pro-
melhor com fornecedores, reduzindo custo de venda e dutos introduzidos no mix (ECR BRASIL, 2001).
tornando a empresa competitiva no mercado. Um exemplo bem-sucedido dessa parceria está no pro-
Os métodos utilizados não são novos ou revolucionários jeto Real/Nestlé, que obteve resultados significativos em
e todas as etapas do processo de Gerenciamento por Cate- curto espaço de tempo. A rede Real de Supermercados,
gorias são baseadas em dados do mercado, dados internos com três lojas em Batatais, interior paulista, foi escolhida
do varejo e pesquisa de campo com os clientes, possibili- pelo ECR Regional para implantar o conceito de Gerencia-
tando aplicar uma metodologia de trabalho conforme as mento por Categorias no mix de biscoitos e, utilizando
necessidades demonstradas pelo consumidor final. É im- uma metodologia simplificada, registrou um aumento de
portante destacar a necessidade de acompanhamento 126% de lucro, 33% de faturamento e de 18% no volume
constante do desempenho dos produtos, mantendo de venda da categoria (SUPERVAREJO, 2000).
atualizadas as informações em relação ao mercado e ao
lançamento de novos produtos nele. METODOLOGIA MULTICRITÉRIO
O monitoramento desses dados deve ser constante, de DE APOIO À DECISÃO
forma a permitir: acompanhar as principais tendências
dentre os principais varejistas, marcas, segmentos ou A partir do final da década de 1970, a eficiência dos
itens; identificar quem está ganhando ou perdendo parti- modelos ortodoxos de Pesquisa Operacional em análises
cipação de Mercado; determinar se as variações de volu- de problemas complexos começou a ser questionada
(ACKOFF, 1979). Nos anos 1980 e 1990, um novo logia se fundamenta em uma comparação da importância
paradigma para a Pesquisa Operacional sugere que não relativa entre os pares de atributos. Dessa forma, cada
mais se deve analisar problemas procurando uma única especialista construirá uma Matriz de Julgamento:
solução ótima, e sim passar a gerar projetos e soluções
de compromisso que permitam ultrapassar a confusão A = [ aij ] nxn
(1)
que cerca as situações problemáticas empresariais. A
partir de então, argumenta-se que devemos passar do onde aij representa a importância relativa do atributo Ei
paradigma da otimização para as chamadas soluções de em relação ao atributo Ej, de modo que aij > 1, se e
aprendizado e construtivismo. somente se Ei for mais importante que Ej e aij = 1/aji para
Entre as abordagens que surgiram como resposta a qualquer par (i,j).
estas questões, algumas das mais importantes foram as Diversas alternativas para conjugar as informações
Metodologias Multicritério de Apoio à Decisão, um con- fornecidas pelos diferentes avaliadores já foram propos-
junto de métodos e técnicas para auxiliar ou apoiar pes- tas e muitas delas chegam a valores muito próximos da
soas e organizações a tomarem decisões, sob a influência consistência. De toda forma, o que interessa é que as
da multiplicidade de critérios. A aplicação de qualquer propriedades básicas da matriz recíproca e positiva se-
método de análise multicritério pressupõe a necessidade jam mantidas, ou seja, aij x aji = 1 para todo i,j e ainda, se
de especificação anterior, dos objetivos pretendidos pelo Ei for K1 vezes mais importante que Ej e este K2 vezes
decisor, quando da comparação de alternativas (BANA e mais importante que Ek, então Ei deve ser K1.K2 vezes
COSTA, 1992). mais importante que E k (o que chamamos de
A distinção entre a metodologia multicritério e as transitividade).
metodologias tradicionais de avaliação é o grau de Depois de colhidas as matrizes individuais, uma alter-
incorporação dos valores subjetivos dos decisores nos nativa para conjugar as informações fornecidas pelos
modelos de avaliação, permitindo que uma mesma al- diferentes avaliadores é dada pela média aritmética das
ternativa seja analisada de forma diversa de acordo com matrizes individuais, pela Matriz Média Aritmética, da
os critérios de valor individuais de cada especialista. forma:
Segundo Roy e Vanderpooten (1996), uma metodologia m
multicritério deve apresentar conceitos e bases para aij = 1/m ∑ aijk (2)
estruturar e modelar uma situação problemática, além de k =1
incluir maneiras de identificar e gerar ações técnicas para
a construção de critérios que possam apontar uma ou onde m é o número de avaliadores e aijk é o valor proposto
mais soluções. Dessa forma, sua utilização é bastante para aij pelo k-ésimo especialista consultado.
interessante em problemas complexos, em que existam Ocorre que os aij médios não respeitam as proprieda-
diversos tipos de decisores, com vários pontos de vista des desejadas. Para resolver essa questão, sugere-se a
fundamentais no processo decisório, possuindo muitas construção de uma nova matriz (Matriz Média Geométri-
vezes objetivos conflitantes e de difícil mensuração, ca) formada a partir da equação:
além de em muitos dos casos utilizar variáveis de ordem
qualitativa. cij = vi / vj (3)
Muitos métodos são desenvolvidos para a construção n
de escalas baseadas em avaliações subjetivas, como em onde vi = ∏ aij1/n e, i =1,2,...,n, ou seja, vi é a média
j =1
Kruskal e Wish (1978). A alternativa que pretendemos geométrica dos aij.
utilizar é uma metodologia multicritério de apoio à deci- Então, satisfazendo as propriedades citadas, chega-
são, de fácil aplicação no caso específico de matrizes mos a uma distribuição de pesos por atributos, em que v1
decisórias. Apresentada por Costa (1999), tem como é o peso indicativo ao atributo E1, v2 é o peso indicativo
origem o trabalho desenvolvido por Crawford e Williams ao atributo E2 e, sucessivamente, de modo que vi é o peso
(1985) e se baseia na utilização sucessiva da média indicativo ao atributo Ei.
aritmética e da média geométrica, tendo como vantagem De uma forma geral, de posse dos atributos hierarqui-
em relação às tradicionais técnicas de grupo o fato de não camente distribuídos, o que passa a nos interessar é que
necessitar reunir os especialistas em um mesmo ambien- as propriedades básicas da matriz recíproca e positiva
te decisório, evitando demanda de tempo e custos sejam mantidas e também a consistência da matriz resul-
operacionais de ordem razoável. tado final, de modo que possamos afirmar que, de posse
Considerando-se os atributos E1, E2, ..., En, que contri- de (n-1) comparações paritárias temos condições de de-
buem para a consecução de um dado objetivo, a metodo- duzir as demais. Entretanto, uma preocupação que deve-
mos considerar diz respeito à consistência matemática No nosso caso, especificamente, o que chamamos
dos resultados. Pode ocorrer que a matriz final, embora inconsistência é uma violação da proporcionalidade, que
representativa da opinião dos especialistas, seja pouco pode vez por outra significar violação da transitividade.
consistente (respeite muito pouco as propriedades acima Segundo Saaty (1991), a consistência de uma matriz
citadas). Isso pode ocorrer devido a falhas na consistên- recíproca e positiva é equivalente a que seu autovalor
cia das matrizes individuais, ou mesmo por acumulação máximo (GRAYBILL, 1983) seja igual ao número de
de erros de precisão. atributos envolvidos no modelo, ou seja, quanto mais
próximo estiver o autovalor máximo do número de atri-
ANÁLISE DE CONSISTÊNCIA butos do modelo, maior será a coerência dos julgamen-
tos, assim se espera que, em uma situação ideal: λmáx seja
Para serem justificadas dentro de uma organização, igual a n, onde λmáx é o autovalor máximo (T.w, onde T é
todas as medições devem estar relacionadas ao processo o somatório das colunas da matriz C e w é o autovetor
de tomada de decisão. Qualquer que seja o nível e a normalizado para ∑ vI = 1) e n é o número de atributos
importância das decisões dentro do sistema, essas devem envolvidos no modelo.
estar suportadas por medidas confiáveis, ou seja, preci- Também é possível estimar um desvio de consistência
sas (grau de concordância entre os valores individuais pelo resultado da divisão do valor de (λmáx - n) por (n - 1).
das medições), exatas (grau de concordância entre o Alguns autores (DIAS et al., 1996) preferem utilizar o
resultado de uma medição e um valor tido como verdadei- módulo da diferença entre o número de atributos envolvi-
ro) e rastreáveis (propriedade da medição estar relaciona- dos no modelo e o autovalor máximo (1n - λmáx 1). De
da a referenciais estabelecidos através de uma cadeia qualquer modo, segundo Saaty (1991) a medida da má
contínua de comparações). A não existência de uma estru- consistência poderá ser estimada quando compararmos o
tura que identifique e gerencie o conjunto de medições do valor (λmáx - n) / (n - 1), que chamamos Índice de Consis-
sistema coloca em risco a qualidade das ações (decisões) a tência (IC), com valores escolhidos de julgamentos aleató-
serem tomadas a partir delas (OLIVEIRA, 1998). rios e seus recíprocos correspondentes, nas posições
Como sabemos, a consistência de qualquer tipo de reversas de uma matriz de mesmo tamanho. A essa medi-
medida não pode ser garantida. Todas as medidas, mes- da, dá-se o nome Razão de Consistência, de tal forma que:
mo aquelas que fazem uso de instrumentos extremamen-
te precisos, estão sujeitas a erros experimentais ou erros RC = IC / CR (4)
de instrumento de medição. O que nos leva à necessidade
de monitorar a forma e o grau de extensão da ocorrência onde CR é o Índice (de Consistência) Randômico de
de tais erros. uma matriz recíproca e positiva gerada randomicamente,
Um efeito sério e danoso desses erros é que podem, e deve variar de acordo com a ordem de cada matriz,
muitas vezes, levar a resultados inconsistentes. Um exem- como podemos verificar na Tabela 1:
plo simples da conseqüência do erro na análise de atribu-
tos inerentes à consecução de um dado objetivo pode Tabela 1: Índice de Consistência Randômica (CR).
ocorrer quando da pesagem desses atributos. Pode-se n 1 2 3 4 5 6 7 8 9
ocasionalmente encontrar que o atributo A é mais pesado
CR 0 0 0,58 0,90 1,12 1,24 1,32 1,41 1,45
que o atributo B, e que o atributo B é mais pesado que o
atributo C, mas que o atributo C é mais pesado ou tão
pesado quanto o atributo A. Isso pode ocorrer particular- Então, quanto mais próxima de zero for essa razão,
mente quando os pesos dos atributos A, B e C são muito mais próxima de ser consistente estará a matriz. Entretan-
próximos, e o instrumento de medição não tem precisão to, é razoável que se a razão for menor que 0,10, possamos
suficiente para distinguir entre eles (SAATY, 1991). considerar boa a consistência. Uma justificativa matemá-
Esse é um caso muito comum em análise hierárquica tica para que esse valor deva ser satisfatório caso menor
utilizando uma metodologia multicritério, e é devido, que 0,10 pode ser encontrada em Vargas (1982).
geralmente, à grande quantidade de atributos envolvidos
no problema ou à proximidade da importância relativa APLICAÇÃO DO MODELO
dos mesmos. Mas a consistência perfeita na medida,
mesmo com os instrumentos mais aprimorados, é difícil Segundo pesquisas do instituto ECR BRASIL (2001),
de ser encontrada na prática, então, o que se torna neces- 53% das compras realizadas não são planejadas, e ainda
sário é um método capaz de avaliar a importância dessa 66% das decisões de compra, em relação à marca e ao
precisão em um problema específico. preço, ocorrem no próprio ponto de venda em um tempo
médio de 5 segundos. Esses dados demonstram a grande Dessa forma, questionários foram encaminhados a
importância da exposição adequada das mercadorias. profissionais do ramo (especialistas) para que construís-
Estudos realizados pelo mesmo instituto observam a sem suas matrizes de comparações. Depois de colhidas e
forma com que o consumidor enxerga os produtos no devidamente trabalhadas, as matrizes apresentaram o
ponto de venda, permitindo a seguinte diagramação: seguinte resultado final, para pesos relativos aos atribu-
primeiro, o consumidor olha o centro da seção ao nível tos (critérios), apresentado na Tabela 2:
dos olhos; seu olhar desvia-se para a parte superior
esquerda da seção; finalmente, a atenção do consumidor
Tabela 2: Resultado Final.
segue para a direita até a próxima seção. Dessa forma, é
fácil concluir que cerca de 33% dos itens da seção ante- CRITÉRIO / ATRIBUTO PESO
rior não são notados, logo se vê a importância da defini- Margem 0,325
ção de um mix ideal de produtos (ECR BRASIL, 2001). Média Diária de Venda 0,149
A definição de um mix ideal de produtos deve levar em
Custo com ICMS 0,140
consideração uma série de variáveis que compõem a
Custo sem ICMS 0,136
análise de um item e diversos critérios em relação a sua
posição no mercado devem ser considerados. Com base Preço 0,134
nessas informações, buscamos uma solução que levasse Média Diária de Transferência 0,069
em consideração todos esses critérios, criando uma espé- Cluster 0,047
cie de ranking entre os itens de forma mais coerente.
O uso de uma matriz multicritério baseada na opinião
de especialistas, pessoas fortemente envolvidas no Ge- A variável de maior peso foi a Margem, que representa
renciamento por Categorias (operadores comerciais), o ganho real da empresa descontados os impostos, as
permite-nos criar um índice comparativo entre os itens a perdas com prazos de validade, avarias, furtos, etc. A de
serem expostos, conforme sua posição no mercado e seu segundo maior peso foi a Média Diária de Venda, segui-
volume de vendas. da pelos Custos, que são determinados pelos valores que
Especialistas do ramo de Gerenciamento por Catego- são negociados junto ao fornecedor com o objetivo de se
rias em atividade no mercado varejista atual indicaram, obter o melhor preço do mercado.
dentre uma lista de critérios, aqueles que mais se destaca- Na Análise de Consistência, encontramos o valor de
riam na definição de composição do mix ideal ou ainda na RC (Razão de Consistência) próximo de 0,005 (cinco
aquisição de produtos para exposição e venda. Dentre os milésimos), o que confere excelente grau de consistência
critérios indicados pelos especialistas, os que atingiram aos resultados obtidos.
nível de freqüência significativo foram relacionados
para composição da matriz de decisão de comparação EXEMPLO SIMPLIFICADO DE UTILIZAÇÃO
paritária.
• Preço – preço de venda do produto. O preço do produto De posse dos atributos devidamente hierarquizados
deve ser compatível aos similares e competitivo no mer- (pesos atribuídos), a construção de um mix ideal de
cado. produtos por Categoria dependerá apenas da relação en-
• Margem – é a porcentagem aplicada aos custos para se tre o valor e o peso de cada variável. Apresentaremos, a
definir o preço de venda do produto. título de ilustração, um exemplo prático e simples da
• Custo com ICMS – custo do produto com impostos. Os utilização do modelo, relacionando variáveis de maior
impostos variam de acordo com o produto, sendo alguns influência, entretanto, a metodologia suporta o uso de
isentos de impostos conforme a classificação do produto. todas as variáveis envolvidas no modelo.
• Custo sem ICMS – custo do produto sem impostos. Supondo que três produtos (A, B e C) estejam sendo
• Média Diária de Venda – é a venda diária do produto. É monitorados pela gerência na formação de um mix ideal,
quanto do produto sai da loja para os clientes. etapa fundamental no Gerenciamento por Categorias. O
• Média Diária de Transferência – é a saída diária do Quadro 1 apresenta a descrição dos produtos, seguidos
produto do estoque para as filiais. Ajuda a definir o giro dos valores relacionados a cada variável envolvida no
do produto. processo decisório.
• Cluster – é a classificação do produto, conforme a classe No caso de aquisição de produtos para revenda ou para
social alvo deste produto. (Produtos mais elitizados, formação do mix ideal, uma empresa pode definir que a
como bebidas importadas, exigem uma análise mais variável mais influente é a Margem, por se tratar de lucro
detalhada). e, dessa forma, o produto escolhido para maior aquisição
seria o produto de maior margem. Assim, no exemplo tribuição de produtos no ponto de venda, em relação a
acima teríamos em primeiro lugar o Produto C, em se- quantidade e local (promover um mix ideal). Ou seja, é
gundo o B e por último o produto A. Por outro lado, se um típico exemplo em que uma Metodologia
outra empresa ou gerente de categoria possuir a opinião Multicritério de Apoio à Decisão pode auxiliar no Geren-
de que a melhor maneira de se avaliar um produto no ciamento por Categorias quando da implantação do ECR
momento da compra é por meio da Média Diária de no mercado varejista.
Vendas, o ranking ficaria: B, C e A. Se, por outro lado,
fosse sugerido avaliar o produto com base no seu Preço, CONCLUSÃO
teríamos novamente: C, B e A.
Nota-se, então, que as divergências de opinião podem Compreendemos que o sucesso do Gerenciamento por
levar a empresa a tomar uma decisão nem sempre ade- Categorias depende não só da inteligência e habilidade
quada. No entanto, aplicando os pesos encontrados para das empresas-líderes, mas também de novos padrões de
cada atributo/variável na criação de um índice único comportamento nas relações e alianças entre os elos da
utilizando a Metodologia Multicritério de Apoio à Deci- cadeia de abastecimento, priorizando sempre o benefício
são, podemos executar uma comparação mais justa con- para o consumidor final, assim como da utilização corre-
siderando mais de um critério. Dessa forma, multiplican- ta e eficiente de métodos que auxiliem no tratamento das
do os pesos dos atributos Margem, Média Diária de diversas variáveis envolvidas.
Vendas e Custo com ICMS, Custo sem ICMS, Preço e Nesse sentido, nossa proposta foi a incorporação de
Média Diária de Transferência obtidos anteriormente por Metodologia Multicritério de Apoio à Decisão quando da
seus respectivos valores em cada produto, obtemos o implantação do ECR (e mais precisamente do Gerencia-
resultado apresentado no Quadro 2: mento por Categorias) no mercado varejista. Nesse tra-
Podemos notar que, de uma forma mais geral e justa, o balho, foi abordada a questão do desenvolvimento de um
produto B apresenta melhores condições no mercado mix ideal de produtos para tratamento de uma Categoria,
para aquisição e revenda. De posse dessas informações, o entretanto, as aplicações desse tipo de metodologia no
varejista pode negociar melhores preços com fornecedo- assunto ultrapassam essa questão.
res, promover promoções adequadas ou melhorar a dis- O resultado encontrado com o emprego do método
confirmou nossas expectativas, pois o ganho da empresa, ta aperfeiçoar ainda mais a aplicação das técnicas atual-
como sabemos, é calculado em função da margem dos mente usadas no mercado, sem grande demanda de tem-
produtos, explicando assim o maior peso dessa variável. po e recursos, considerando que a consulta é realizada
Entretanto, mostrou também que a importância dos de- apenas com especialistas, o que permite um menor núme-
mais critérios não deve ser desprezada. Dessa forma, foi ro de pessoas envolvidas.
possível notar como podem ocorrer diversos equívocos, Na análise do exemplo, verificamos que como desejá-
prejudiciais ao desempenho da empresa se a análise de vamos estão satisfeitas as propriedades indispensáveis
decisão for elaborada a partir de um único critério. aos objetivos do método (reciprocidade e transitividade),
Segundo os especialistas consultados, o estudo reali- ou seja, pela análise da consistência, verificamos tratar-
zado trouxe uma forma mais coerente de classificar os se de resultados excelentes. Cabe ressaltar que não nos
produtos, já que considera mais de um critério na compa- pareceu necessário, para efeito de exemplo ilustrativo,
ração dos produtos e não apenas um como era feito na estudar uma possível relação de correspondência entre as
classificação anterior. A criação de um índice único que variáveis envolvidas. A variável Cluster não foi incluída
considera os diferentes pesos de cada critério permite no exemplo visto que o segmento da Categoria em estudo
uma avaliação mais justa e coerente e permite ao varejis- não se enquadrava nessa situação.
Edição especial
início 07/03/2003
fim 25/08/2003
Referências Bibliográficas
ACKOFF, R. L. Resurrecting the Future DIAS, L. M. C.; ALMEIDA, L. M. A. T.; ECR, Efficient Consumer Response. OLIVEIRA, S. T. Sistema de Medição de
of Operational Research. Journal of CLÍMACO, J. C. N. Apoio Multicritério à Micromarketing – A tool for Category Desempenho em Ambiente de Qualidade
Operational Research Society, vol. 30, 3, Decisão. Faculdade de Economia, Management. Improvement Group and Total. 1998. Tese (Doutorado em
189-199,1979. Universidade de Coimbra, Portugal, Northwestern University, 1999. Engenharia de Produção) – COPPE/UFRJ,
1996. Rio de Janeiro.