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Ministério da Cultura

Direcção Nacional do Património Cultural

Manual de Conservação do Património


Cultural Imóvel em Moçambique

Albino Jopela
(Editor)

Maputo
2011
i
Ficha Técnica

Título
Manual de Conservação do Património Cultural Imóvel em Moçambique

Coordenação
Solange Macamo

Editor
Albino Jopela

Autores
Albino Jopela, Décio Muianga, Kátia Filipe, Matilde Muocha, Solange Macamo e Teodato
Nguirazi.

Revisão
Solange Macamo

Capa e redacção gráfica


Albino Jopela

Créditos de imagens e fotografias


Albino Jopela, Benjamin Smith, Décio Muianga, Domingos Macucule, Emanuel Dionísio, Kátia
Filipe, José Forjaz Arquitectos, Júlio Carrilho, Matilde Muocha, Solange Macamo e Tore
Saetersdal.

ii
Nota sobre os autores

Albino Jopela – Mestrado em Arqueologia pela Universidade de Witwatersrand, África do Sul.


Docente e investigador do Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade
Eduardo Mondlane. Director do curso de Licenciatura em Arqueologia da Universidade
Eduardo Mondlane.

Décio Muianga – Licenciado em História pela Universidade Eduardo Mondlane e em


Arqueologia pela Universidade de Witwatersrand, África do Sul. Docente e investigador do
Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane.

Kátia Filipe – Licenciada em História pela Universidade Eduardo Mondlane. Docente e


investigadora do Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo
Mondlane.

Matilde Muocha – Licenciada em História pela Universidade Eduardo Mondlane. Docente e


investigadora na área de Estudos do Património Cultural no Instituto Superior de Artes e
Cultura.

Solange Macamo – Doutorada em Arqueologia pela Universidade de Uppsala, Suécia.


Directora Nacional do Património Cultural no Ministério da Cultura. Professora Auxiliar do
Departamento de Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo
Mondlane.

Teodato Nguirazi – Mestrado em Estudos do Património Cultural. Docente do Instituto


Superior Politécnico de Tete. Coordenador do Centro de Encubação de Empresas do Instituto
Superior Politécnico de Tete.

iii
Sumário
Lista de Figuras ..................................................................................................................................... vi
Siglas e Acrónimos ............................................................................................................................... vii
Apresentação
Armando Artur João ........................................................................................................................... viii
Prefácio
Aires Bonifácio Ali .................................................................................................................................. x
Agradecimentos .................................................................................................................................... xi
I. Introdução
Solange Macamo ................................................................................................................................... 1
II. Definição de conceitos-chave
Albino Jopela .......................................................................................................................................... 3
1. Cultura ........................................................................................................................................... 3
2. Património Cultural ....................................................................................................................... 3
3. Património Cultural Tangível ......................................................................................................... 4
4. Protecção do Património Cultural Imóvel ..................................................................................... 5
5. Preservação do Património Cultural Imóvel ................................................................................. 5
6. Conservação do Património Cultural Imóvel................................................................................. 6
7. Gestão do Património Cultural Imóvel .......................................................................................... 6
III. Importância da Conservação do Património Cultural Imóvel em Moçambique .............................. 7
IV. Constrangimentos que afectam o Património Cultural Imóvel em Moçambique ........................... 9
1. Diagrama dos perigos que ameaçam o Património Cultural Imóvel........................................... 10
2. Exemplos de constrangimentos que afectam o Património Cultural Imóvel em Moçambique . 11
2.1 Arte Rupestre ........................................................................................................................ 11
2.1.1. Deterioração de Origem Natural .................................................................................. 12
2.1.2. Deterioração de Origem Humana ................................................................................ 13
2.2 Estrutura em Pedra - Amuralhados do tipo Zimbabwe ........................................................ 13
2.2.1. Deterioração de Origem Natural .................................................................................. 14
2.2.2. Deterioração de Origem Humana ................................................................................ 15
2.3 Património Histórico Edificado ............................................................................................. 16
2.3.1. Deterioração de Origem Natural .................................................................................. 16
2.3.2. Deterioração de Origem Humana ................................................................................ 17
V. Conservação do Património Cultural Imóvel
Solange Macamo ................................................................................................................................. 19
1. Princípios gerais de conservação do Património Cultural Imóvel ............................................... 19
2. Princípios gerais de restauro do Património Cultural Imóvel ..................................................... 21
3. Procedimentos técnicos para a conservação do Património Cultural Imóvel
Albino Jopela ................................................................................................................................... 22
3.1 Documentação do Património Cultural Imóvel .................................................................... 22
3.2 Avaliação das condições existentes num bem do Património Cultural Imóvel .................... 23
3.3 Definição do significado cultural (valores) do Património Cultural Imóvel .......................... 24
3.3.1 Valores culturais ............................................................................................................ 26
a) Valor histórico ............................................................................................................ 26
b) Valor de identidade (baseado no reconhecimento) .................................................. 27
iv
c) Valor relativo artístico ou técnico .............................................................................. 29
d) Valor científico (arqueológico) .................................................................................. 30
3.3.2 Valores socioeconómicos contemporâneos .................................................................. 31
a) Valor social ................................................................................................................. 31
b) Valor económico ........................................................................................................ 33
c) Valor político .............................................................................................................. 34
d) Valor local, nacional e mundial .................................................................................. 34
3.4 Monitoria das condições do Património Cultural Imóvel ..................................................... 37
4. Procedimentos técnicos para a conservação do Património Cultural Imóvel
Teodato Nguirazi ............................................................................................................................. 38
4.1. Monumentos arqueológicos ................................................................................................ 38
4.1.1. Amuralhado de Niamara .............................................................................................. 39
4.1.2. Amuralhado de Manyikeni ........................................................................................... 41
4.2. Locais e sítios com pinturas rupestres
Décio Muianga ............................................................................................................................ 43
4.2.1. Pinturas rupestres de Macanga .................................................................................... 43
4.2.2. Pinturas rupestres de Chinhamapere ........................................................................... 44
4.2.3. Pinturas rupestres de Chicolone................................................................................... 46
4.3 Património Histórico Edificado
Teodato Nguirazi......................................................................................................................... 48
VI. Gestão do Património Cultural Imóvel em Moçambique
Albino Jopela ........................................................................................................................................ 51
1. Custódia Tradicional do Património Cultural Imóvel .................................................................. 51
1.1 Exemplo da custódia tradicional do Património Cultural Imóvel em Moçambique ............. 52
1.2. Combinação dos Sistemas Tradicionais e dos Métodos Modernos na Gestão do Património
Cultural Imóvel ............................................................................................................................ 54
2. Gestão do Património Cultural Imóvel no contexto da Educação Patrimonial
Matilde Muocha .............................................................................................................................. 57
2.1. Sobre a Educação Patrimonial ............................................................................................. 57
2.2. Sobre a importância da Educação Patrimonial .................................................................... 58
2.3. Quem faz a Educação Patrimonial? ..................................................................................... 58
2.4. Meios da Educação Patrimonial........................................................................................... 59
2.4.1. Simpósios, workshops, seminários ............................................................................... 60
2.4.2. Currículo escolar ........................................................................................................... 60
2.4.3. Publicações simplificadas ............................................................................................. 61
2.4.4. Meios de comunicação social ....................................................................................... 62
2.4.5. Uso de placas de identificação e interpretação ........................................................... 62
3. Turismo Cultural no contexto da Gestão do Património Cultural Imóvel
Kátia Filipe ....................................................................................................................................... 65
VII. Considerações finais
Albino Jopela ........................................................................................................................................ 70
VIII. Referências Bibliográficas............................................................................................................. 71

v
Lista de figuras

Figura 1 – Pinturas rupestres da estação arqueológica de Chikukwa. ..................................... 11


Figura 2 – Estrutura parcial do amuralhado de Manyikeni ....................................................... 14
Figura 3 – Palácio de São Paulo, Ilha de Moçambique .............................................................. 16
Figura 4 - Monumento do II Congresso no Local Histórico de Matchedje ................................ 27
Figura 5 – Casa Museu Samora Machel no Local Histórico de Chilembene .............................. 28
Figura 6 – Casa de Ferro (actual Direcção Nacional do Património Cultural) ........................... 30
Figura 7- Estação arqueológica de Chibuene (vista parcial do concheiro). ............................... 31
Figura 8 – Monte Chinhamapere, Serra Vumba, Província de Manica ..................................... 32
Figura 9 – Cerimónias do Kudhira Nvura, no sopé do Monte Chinhamapere........................... 33
Figura 10 – Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, Cidade de Maputo ............................. 34
Figura 11 – Centro de Interpretação Histórico de Mueda......................................................... 35
Figura 12– Vista parcial do conjunto arquitectónico da Ilha de Moçambique. ........................ 36
Figura 13 - Amuralhado de Niamara visto do sul ...................................................................... 39
Figura 14 - Amuralhado de Manyikeni....................................................................................... 41
Figura 15 – Placa Descritiva e de Protecção da estação arqueológica de Manyikeni ............... 42
Figura 16 - Pinturas rupestres de Macanga ............................................................................... 43
Figura 17 - Pinturas rupestres de Chinhamapere ..................................................................... 44
Figura 18 - Museu e Centro Cultural Comunitário de Manica ................................................... 46
Figura 19 - Pinturas rupestres de Chicolone .............................................................................. 46
Figure 20 - Prédio Pott ............................................................................................................... 49
Figura 21 – Costumeira Mbuya Gondo na estação de Chinhamapere I .................................... 53
Figura 22 - Estudantes da Escola Primária de Goba em visita de estudo à Fortaleza ............... 61
Figura 23 – Placa de Protecção da estação arqueológica da Matola ........................................ 63

vi
Siglas e Acrónimos
AAN Rede de Arqueologia Africana
AHM Arquivo Histórico de Moçambique
AFRICA 2009 Programa Regional de Desenvolvimento e Formação na Área do
Património Cultural
ARPAC Instituto de Investigação Sócio - cultural
ASDI Agência Sueca de Desenvolvimento Internacional
CEDH Centro de Estudos de Desenvolvimento do Habitat
CNPC Conselho Nacional do Património Cultural
DAA Departamento de Arqueologia e Antropologia
DGS Direcção Geral de Segurança
DINAC Direcção Nacional de Cultura
DNPC Direcção Nacional do Património Cultural
FAPF Faculdade de Arquitectura e Planeamento Físico
FLCS Faculdade de Letras e Ciências Sociais
FRELIMO Frente de Libertação de Moçambique
GACIM Gabinete de Conservação da Ilha de Moçambique
ICOMOS Conselho Internacional de Monumentos e Sítios
ICCROM Centro Internacional para o Estudo da Preservação e Restauração do
Património Cultural
INDE Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação
MC Ministério da Cultura
MEC Ministério da Educação e Cultura
NORAD Agência Norueguesa para o Desenvolvimento
ONG Organização Não Governamental
PC Património Cultural
PCI Património Cultural Imóvel
PCESG Plano Curricular do Ensino Secundário Geral
PHE Património Histórico Edificado
PIDE Polícia Internacional de Defesa do Estado
PPAGPCM Projecto de Pesquisa Arqueológica e Gestão do Património Cultural em
Moçambique
SIDA-SAREC Agência Sueca para a Cooperação Científica
UEM Universidade Eduardo Mondlane
UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura
VUE Valor Universal Excepcional
vii
Apresentação

O Manual de Conservação do Património Cultural Imóvel em Moçambique é uma obra que foi
preparada em 2008, contando já com um prefácio do então Ministro da Educação e Cultura,
Sua Excelência Aires Bonifácio Baptista Ali. Dificuldades que se prenderam, essencialmente,
com falta de financiamento não permitiram que a obra fosse publicada nessa altura. Ainda na
fase de edição, o Manual foi sendo usado durante os vários cursos de formação de técnicos
provinciais e distritais do sector da cultura, o que contribuiu para a sua familiarização acerca
das noções de património cultural, tipos e a sua aplicabilidade.

Este Manual surge numa altura em que, a legislação sobre protecção do património cultural
do país foi reforçada, com a aprovação em 2010, pelo Conselho de Ministros, das duas
Políticas de Monumentos e de Museus. Usando a generosa oferta de financiamento da
Agência Espanhola para a Cooperação Internacional (AECID), o Ministério da Cultura
considerou pertinente a publicação deste Manual, com vista a sua larga difusão e uso, de
forma a contribuir para o fortalecimento das intervenções cada vez maiores na área de gestão
e conservação do património cultural.

Neste ano em que se celebra o Ano do Presidente Samora Machel, Herói Nacional, o
Ministério da Cultura tem sob a sua responsabilidade a nobre tarefa de construir
Monumentos em todas as capitais provinciais, que fazem homenagem a sua figura, como
fundador do Estado Moçambicano e primeiro Presidente da República Popular de
Moçambique. Nesse sentido, há necessidade de conservar e garantir a gestão eficiente dos
monumentos a serem erguidos, bem como de todo o legado relacionado com o Presidente
Samora Machel, com destaque para o Local Histórico de Chilembene, terra onde nasceu, na
província de Gaza.

O Ministério da Cultura agradece, particularmente, a parceria com a Universidade Eduardo


Mondlane, que vem possibilitando o envolvimento dos seus estudantes, docentes e
investigadores nesta grandiosa tarefa de proteger o nosso património cultural. É exemplo
disso a colaboração com o Ministério da Cultura, através da Direcção Nacional do Património

viii
Cultural, pelo Mestre Albino Jopela, docente e investigador no Departamento de Arqueologia
e Antropologia, na Faculdade de Letras e Ciências Sociais da Universidade Eduardo Mondlane.
O seu empenho e dedicação resultaram no presente Manual de Conservação do Património
Cultural Imóvel em Moçambique, cuja coordenação coube à Doutora Solange Macamo,
Directora Nacional do Património Cultural, contando ainda com a contribuição de docentes e
técnicos ligados ao património cultural, em Moçambique.

O Ministro da Cultura

Armando Artur João

Maputo, Julho 2011

ix
Prefácio

Em Moçambique, após uma política de gestão patrimonial que testemunhava o esforço do


colonizador, seguiu-se no período pós-independência, uma grande campanha de valorização
e preservação do património cultural. Actualmente, são incontornáveis os progressos
enormes alcançados na área de conservação do património cultural, através da adopção de
instrumentos como a Lei no 10/88 de 22 de Dezembro; o Decreto no 27/94 de 20 de Julho; a
Política Cultural e a Estratégia da sua Implementação em 1997.

No entanto, apesar dos vários esforços levados a cabo com vista à conservação do património
cultural, os bens imóveis constituem ainda, na sua maioria, parte vulnerável do nosso
património cultural. De facto, os problemas de origem natural como é o caso da acção de
determinadas espécies de animais e plantas assim como o uso indevido dos bens patrimoniais
quer por negligência, ignorância ou indiferença, constituem alguns dos constrangimentos que
afectam o património cultural imóvel em Moçambique. É por isso imprescindível a adopção
de um instrumento orientador ou guia prático, visando a facilitação da conservação e
divulgação do património cultural imóvel, tanto pelo Estado como pela sociedade civil,
instituições privadas e pessoas singulares.

Neste contexto, o Manual de Conservação do Património Cultural Imóvel em Moçambique


constitui um guia de orientação para os profissionais do sector da cultura (estruturas a nível
central, provincial, distrital e local), bem como para os demais parceiros com interesse na
área de conservação do património cultural imóvel. Este manual é igualmente um
instrumento importante para a sociedade civil visto que no contexto da actual Política
Cultural de Moçambique, a Direcção Nacional da Cultura tem como uma das estratégias de
gestão do património, o incentivo às iniciativas de conservação do património cultural imóvel
a nível local, de modo a tornar essa conservação relevante para as comunidades locais.
Acresce-se à este objectivo a necessidade de uso dos recursos culturais pelas escolas, no
processo do ensino e aprendizagem, para o qual este Manual irá servir.

O Ministro da Educação e Cultura

Aires Bonifácio Baptista Ali

Maputo, 2008

x
Agradecimentos

Os comentários iniciais, sobre este trabalho, feitos pela então Vice-Ministra da Educação e
Cultura, Sua Excelência Antónia da Costa Xavier Dias, à quem agradecemos, foram muito úteis
para adequar melhor os conteúdos ao público das escolas, no âmbito do currículo local.
Agradecemos ainda à Doutora Alda Costa, museóloga, pelos comentários muito oportunos
que ajudaram a melhorar o trabalho, ainda na sua fase embrionária.

Sem a cooperação da Agência Norueguesa para o Desenvolvimento e Cooperação (NORAD),


através da capacitação institucional à Direcção Nacional da Cultura, não teria sido possível
tornar este manual uma realidade. Em particular, os subsídios académicos do Dr. Tore
Saetersdal e da Dra. Eva Saetersdal foram importantes para a realização deste trabalho.

Este trabalho beneficiou ainda do apoio editorial da ASDI-SAREC, no âmbito do Projecto


African Archaeological Network (AAN), como parte do programa de disseminação.

Os nossos agradecimentos são extensivos à todos quanto directa ou indirectamente


colaboraram ou contribuíram para que este manual se tornasse possível, em especial ao
Senhor Francisco Benesse, Chefe do Departamento de Planificação e Cooperação do
Ministério da Cultura, pelos incentivos.

A Agência Espanhola para a Cooperação Internacional (AECID) tornou possível a publicação


deste trabalho.

xi
Solange Macamo

I. Introdução

O presente manual tem como objectivo contribuir para a disseminação dos procedimentos
básicos de conservação do Património Cultural Imóvel (abreviadamente designado PCI) em
Moçambique, de forma a garantir a sua fruição pela comunidade, através de métodos
adequados de conservação. É, essencialmente, um guia prático a ser usado pelos dirigentes e
técnicos da área do património cultural e ainda por professores, no âmbito da utilização dos
recursos culturais para o desenvolvimento do programa do currículo escolar local. Na
elaboração deste manual foi usada a legislação e documentação normativa sobre o
património cultural existente no país e a nível internacional, como a que se segue:

• Lei nº 10/88 de 22 de Dezembro sobre a Protecção do Património Cultural determina


a protecção legal dos bens materiais e imateriais do Património Cultural
moçambicano. Esta lei aplica-se a todos os bens do Património Cultural em geral, quer
estejam na posse do Estado e dos organismos de direito público, quer sejam
propriedade privada, sem prejuízo dos direitos de propriedade que couberem aos
respectivos titulares.
• Decreto nº 27/94 de 20 de Julho sobre o Regulamento de Protecção de Património
Arqueológico. Este regulamento define conceitos relativos à conservação do
património arqueológico e os procedimentos com vista a obtenção de licenças para a
realização de trabalhos arqueológicos em território nacional.
• Inventário Nacional de Monumentos, Conjuntos e Sítios, elaborado em 2003 pelo
Departamento de Monumentos da Direcção Nacional do Património Cultural do
Ministério da Cultura1, juntamente com a proposta de Normas para a Conservação e
Critérios de Classificação de Monumentos, Conjuntos e Sítios.

1
Macamo, S. (Coord.) 2003a. Inventário Nacional de Monumentos, Conjuntos e Sítios - Património Cultural.
Maputo: Ministério da Cultura e UNESCO.
1
• Lei No. 13/2009 da Assembleia da República que estabelece um quadro legal que visa
proteger, preservar e valorizar o património da Luta de Libertação Nacional,
designadamente: (i) As bases e destacamentos da Frente de Libertação de
Moçambique, os centros educacionais e os locais onde se realizaram as principais
reuniões durante a Luta de Libertação Nacional; (ii) Os monumentos da Frente de
Libertação de Moçambique; e (iii) As sedes e as penitenciárias da Polícia Internacional
de Defesa do Estado (PIDE) e Direcção Geral de Segurança (DGS).
• Resolução no 12/2010 de 2 de Junho sobre a Política de Monumentos que tem como
objecto a preservação e valorização de Bens Imóveis do Património Cultural de
Moçambique, de forma a garantir a sua fruição pública. Abrange os monumentos,
conjuntos e sítios, de acordo com o critério de valor local, nacional ou universal que
estes bens representam.
• Convenção da UNESCO para a Protecção do Património Mundial, Cultural e Natural,
1972. Na qualidade de Estado Parte da Convenção de 1972, Moçambique
compromete-se a assegurar a identificação, protecção, conservação, apresentação do
Património Cultural e natural situado no seu território, transmitindo o seu legado às
futuras gerações.

A promoção da educação e da informação com vista a conservação do PCI nacional


pressupõe, antes de mais nada, a tomada das seguintes medidas:
• Definição dos conceitos-chave usados no domínio específico da conservação do
património cultural com vista a harmonizar e padronizar a linguagem inerente, no
contexto da legislação nacional e internacional;
• Identificação dos principais constrangimentos que afectam a conservação do PCI
moçambicano;
• Inserção dos princípios gerais e das técnicas de conservação do PCI, no contexto de
uma estratégia de gestão do património cultural mais abrangente.

2
Albino Jopela

II. Definição de conceitos-chave

1. Cultura

A cultura pode ser definida como sendo um conjunto complexo de maneiras de ser, estar, e
relacionar-se desde o nascimento até a morte, passando pelos rituais que marcam os
principais momentos do processo de integração social e de socialização. A cultura
compreende: os aspectos materiais (vestuário, arquitectura, instrumentos de trabalho); os
aspectos filosóficos (ideias, crenças, valores). Estes aspectos estão em constante interacção
com novas realidades e experiências. Por isso, a cultura deve ser entendida como a totalidade
do modo de vida de um povo ou comunidade (Resolução no 12/97, 1997:5).

2. Património Cultural

O património cultural é o conjunto de bens tangíveis e intangíveis, que constituem a herança


de um grupo de pessoas e que reforçam, emocionalmente, o seu sentido de comunidade com
uma identidade própria, sendo percebidos por outros como característicos. Por outro lado, o
património cultural é definido, na Lei 10/88 de 22 de Dezembro, como sendo o “conjunto de
bens materiais e imateriais criados ou integrados pelo povo moçambicano ao longo da sua
História, com relevância para a definição da sua identidade cultural” (Lei 10/88, 1988:13-14).
Por conseguinte, o património cultural pode ser subdividido em duas categorias,
nomeadamente: património tangível (Bens Culturais Materiais) e património intangível2 (Bens
Culturais Imateriais).

2
São entendidos como sendo os elementos que fazem parte da memória colectiva, tais como a história e a
literatura oral, as tradições populares, os ritos, as próprias línguas nacionais e ainda obras da criatividade
comunitária e todas as formas de criação artística e literária (contos, provérbios e outros aspectos do saber
popular).
3
PATRIMÓNIO CULTURAL
Património Tangível Património Intangível
IMÓVEL MÓVEL Música
Obras arquitectónicas Manuscritos antigos Dança
Monumentos Objectos etnográficos Literatura
Estações arqueológicas Obras de arte plásticas, Teatro
Locais históricos Objectos de arte popular Tradição oral
Centros históricos Colecções museológicas Práticas sociais
Paisagens culturais Instrumentos líticos Artesanato
Jardins botânicos Moedas e medalhas Religiões
Elementos naturais Cerimónias

Fonte: adaptado de UNESCO-ICCROM 2003.

3. Património Cultural Tangível

São os bens culturais móveis3 e imóveis com valor arqueológico, arquitectónico, histórico,
antropológico e artístico, que fazem parte do património cultural moçambicano. Constituem
bens culturais imóveis:

• Monumentos - Construções pré-coloniais; Obras de arte; Edifícios de valor histórico que


testemunham a convivência no nosso espaço territorial de diferentes culturas e civilizações
tais como feitorias árabes, templos hindus, mesquitas, igrejas e capelas, antigas fortalezas e
outras novas obras de defesa, edifícios públicos e residências do tempo da implantação
colonial e da época dos prazeiros ou das companhias majestáticas.

• Conjuntos - Grupo de edifícios com importância histórica, arquitectónica e científica como


cidades antigas, núcleos urbanísticos (é o exemplo da Ilha de Moçambique e da Baixa da
cidade de Maputo);

• Locais ou Sítios - Lugares relacionados com tráfico de escravos, estações arqueológicas, como
por exemplo, os abrigos com pinturas rupestres; os centros de poder pré-colonial e as

3
Constituem bens culturais móveis elementos arqueológicos, manuscritos antigos, objectos históricos, objectos
etnográficos, obras de arte plásticas, arte popular, decorativa, de artesanato ou representativa de épocas,
género e estilos.
4
construções do tipo Zimbabwe. Entram ainda nesta definição os Locais Históricos da
Resistência contra a ocupação colonial assim como da Luta Armada de Libertação Nacional;

• Elementos Naturais – São áreas delimitadas de reconhecido valor em termos de conservação


da natureza como, por exemplo, os parques e reservas naturais, bem como as florestas
sagradas e a árvore dos antepassados (Lei 10/88, 1988).

4. Protecção do Património Cultural Imóvel

A protecção é entendida, em termos legais, como sendo a acção necessária para proporcionar
as condições de sobrevivência do património cultural e neste caso do monumento ou estação
arqueológica. A protecção legal, baseada na legislação e normas que possam ser
implementadas, visa garantir a defesa contra intervenções prejudiciais e estabelece as
respectivas penalizações (Macamo 2003a). Por exemplo, o Estado promove a declaração e
classificação de Imóveis, com vista a distingui-los e a reconhecer o seu valor arqueológico,
histórico, sócio - cultural, artístico, estético ou natural e garantir a sua conservação e fruição
pela comunidade, conferindo-lhes uma protecção legal e um estatuto privilegiado. A
classificação de Bens Imóveis do Património Cultural tem como finalidade a conservação
permanente do Imóvel e a sua protecção contra a destruição ou contra as alterações não
autorizadas pela autoridade competente.

5. Preservação do Património Cultural Imóvel

Preservar significa manter o imóvel na condição em que se encontra, tentando ao mesmo


tempo, travar ou atrasar a sua deterioração. Na prática isto significa que os danos e a
deterioração (tal como os causados pela água, químicos, insectos, plantas, etc.) devem ser
retardados e revertidos quando diagnosticados (Agnew 1997). A preservação visa ainda
garantir a manutenção (protecção contínua que não deve envolver a alteração física) da
estrutura original do bem cultural imóvel e a tomada de todas as medidas cautelares possíveis
para retardar a sua deterioração ou alteração.

5
6. Conservação do Património Cultural Imóvel

Conservar implica guardar em segurança ou preservar o presente estado do bem patrimonial


das destruições ou mudanças. Nesta dimensão do conceito, a conservação implica vários tipos
de tratamento com vista, por exemplo, a manutenção4, reabilitação5 ou restauro6 de edifícios,
estações arqueológicas ou cidades históricas (Walderhaug Saetersdal 2000). O objectivo da
conservação é preservar para o futuro, manter ou recuperar as condições originais de um
imóvel, garantindo a integridade dos objectos ou estruturas que dele fazem parte.

7. Gestão do Património Cultural Imóvel

Numa perspectiva mais abrangente, gestão refere-se à conservação planeada dos recursos
patrimoniais existentes, identificados e avaliados, de modo a prevenir a exploração, a
decadência ou destruição devido a negligência, ignorância ou indiferença por parte o público
em geral. No presente manual, o termo gestão é entendido como sendo todo o processo que
visa não só cuidar do local (monumento, estação arqueológica, local histórico, paisagem e sua
área circundante), incluindo os bens culturais tangíveis e intangíveis associados, como
também reter e manter o seu significado cultural, ou seja, todos os valores que são atribuídos
ao património pelos grupos interessados ou afectados (Ndoro 2001).

O principal objectivo de qualquer estratégia de gestão, é fazer dos bens patrimoniais um


recurso cultural e histórico que possa ser documentado e desenvolvido no contexto da
educação e do turismo cultural, sem causar danos ao património. A gestão do património
imóvel tem sido orientada por dois sistemas distintos e com estatutos diferentes, mas em
muitos casos complementares. O Sistema Formal ou Moderno e o Sistema Tradicional de
Gestão. No continente africano o sistema formal de gestão foi introduzido com o colonialismo

4
O termo refere-se ao contínuo cuidado e protecção do imóvel e a sua área circundante e deve-se distinguir da
reparação. Esta última envolve reabilitação e restauro (Burra Charter 1999).
5
É o conjunto de operações de reparação que, mantendo a imagem e a traça original no exterior dos edifícios,
inclusive por processos de modernização nas tecnologias e materiais, permite garantir maior longevidade e
maior conforto no seu uso ou na sua funcionalidade para acolhimento de novos usos (CEDH/FAPF 2008).
6
Conjunto de acções de reposição do estado original de uma construção com melhoria ou modernização das
suas funcionalidades (CEDH/FAPF 2008).
6
e legitimado pelas instituições do Estado através da adopção de instrumentos legais e das
normas aplicáveis ao património cultural. Pela sua natureza, este sistema tornou-se
hegemónico no concernente à gestão da herança cultural das comunidades (Ndoro & Pwiti
1999; Ndoro 2003; Mumma 2005). Por seu turno, o sistema de custódia tradicional é
apanágio de muitas comunidades que vivem nas proximidades de sítios do património
cultural. A custódia tradicional, enquanto modelo de gestão do património é anterior à
ocupação colonial e é regido por sistemas políticos, sociais, religiosas e éticas das
comunidades locais. O mesmo é orientado pelas necessidades do dia-a-dia (uso/ práticas) das
comunidades e legitimado pelos direitos históricos de uso e aproveitamento dos recursos
existentes e disponíveis localmente (Jopela 2006, 2010b).

III. Importância da Conservação do Património Cultural Imóvel em Moçambique

De um modo geral, existem inúmeras razões para se conservar o PCI, na medida em que este:

• Contém diversas mensagens e valores (histórico, artístico, estético, político, religioso,


social, espiritual, científico, natural, etc.) que contribuem para dar um significado e
sentido à vida das sociedades humanas. Os monumentos são portadores de uma
mensagem histórica, na medida em que informam às sociedades contemporâneas
sobre o modo de vida das comunidades passadas e do presente (Agnew 1997). Por
exemplo, as mesquitas, igrejas e templos não só são considerados pelo seu significado
religioso, mas também por revelarem o mérito artístico e arquitectónico de
determinado período histórico.

• É único e insubstituível, visto que a deterioração ou o desaparecimento de um recurso


patrimonial, constitui uma perda irreparável para a humanidade como um todo (uma
vez destruído, perde-se para sempre) (Deacon 1997).

• Representa a identidade de um grupo social, na medida em que as pessoas mantêm a


sua identidade através do seu património cultural (tangível e intangível). Muitos são os
casos em que um país é facilmente identificado com um monumento ou estação

7
particular (Moçambique com a Ilha de Moçambique, a República do Zimbabwe com o
amuralhado do Grande Zimbabwe; o Egipto com as pirâmides; a Índia com o Taj
Mahal, entre outros exemplos).

• Constitui uma valiosa fonte de informação para a compreensão da diversidade cultural


entre as sociedades (Duarte 1992). O património cultural é um legado que recebemos
dos nossos antepassados e que temos o dever de transmiti-lo às gerações presentes e
futuras. O património cultural constitui, de facto, uma via para a compreensão da
diversidade cultural, bem como de reconhecimento dos vínculos culturais que existem
entre os povos.

• É fonte de desenvolvimento económico por figurar, igualmente, como uma das


maiores atracções turísticas (Robinson & Picard 2006). Quando correctamente
planeado e gerido, o turismo cultural já demonstrou ser um importante recurso
económico para muitos países, ao proporcionar postos de trabalho, atrair
investimento estrangeiro, desenvolver infra-estruturas locais, etc.

Para o caso específico de Moçambique, a importância do património cultural está também


expressa na legislação moçambicana, ao considerar que:

No património cultural está a memória do Povo; a sua protecção assegura a perenidade e a


transmissão às gerações futuras não só do legado histórico, cultural e artístico dos nossos
antepassados como também das conquistas, realizações e valores contemporâneos. (...) A
deterioração, desaparecimento ou destruição de qualquer parcela do património cultural constitui
uma perda irreparável, competindo aos diversos organismos públicos, privados e aos cidadãos em
geral, a responsabilidade de impedir o empobrecimento do nosso país. Importa sim, assegurar aos
bens do património cultural, a necessária protecção (Lei nº 10/88, 1988:13).

Actualmente, são incontornáveis os progressos alcançados na área de conservação do


património cultural em Moçambique, através da adopção de instrumentos como, a Lei no
10/88 de 22 de Dezembro, o Decreto no 27/94 de 20 de Julho, a Lei no.13/2009, de 25 de
Fevereiro e a Resolução no 12/2010 de 2 de Junho. Estes documentos são um suporte

8
importante para a gestão do património cultural, incluindo bens móveis e imóveis e ainda o
património intangível. No entanto, a legislação por si só não é capaz de evitar a degradação
do PCI. Há necessidade da tomada de medidas preventivas, depois de se conhecerem os
principais factores que afectam a conservação do PCI.

IV. Constrangimentos que afectam o Património Cultural Imóvel em Moçambique

A deterioração dos bens do PCI é um processo natural irreversível, que pode ser
constantemente adiado mas não se pode evitar. O facto de alguns bens do património
cultural terem sobrevivido por centenas de anos (como é o caso dos amuralhados e pinturas
rupestres etc.), pode induzir à assumpção de que os mesmos irão sobreviver para sempre
(Walderhaug Saetersdal 2000). De facto, a não percepção por parte dos gestores do
património e do público em geral de que o nosso PCI não é eterno, constitui um dos principais
problemas para a sua conservação.

Existem, especificamente, em Moçambique outros problemas de carácter estrutural e


também administrativo que enfermam o PCI, nomeadamente:

• Deficiente tratamento e valorização do PCI;


• O PCI é, no geral, mal conhecido. Embora haja iniciativas de colocação de placas de identificação
de monumentos, conjuntos e locais históricos, as categorias classificatórias ainda não são do
domínio dos técnicos a nível local;
• A Lei 10/88 de 22 de Dezembro sobre a protecção do património cultural não está
regulamentada em todos os seus aspectos;
• Grande parte dos edifícios protegidos por Lei está em ruínas e em risco de desaparecer como
testemunhos históricos;
• O PCI não é rentabilizado para fins de turismo cultural, nem sequer cumpre satisfatoriamente a
sua missão educativa;
• O processo das classificações e publicações no Boletim da República (BR) ainda não é uma
prática comum, embora haja iniciativas nesse sentido;
• Escassez de recursos humanos competentes para a conservação integral de bens do património
mundial (Ilha de Moçambique) (Macamo 1996:814-815).

9
De um modo geral, o PCI está, constantemente, a deteriorar-se como resultado das mudanças
físicas, biológicas e químicas que ocorrem ao longo do tempo – deterioração natural. No
entanto, se a deterioração dos bens culturais imóveis é um fenómeno natural, a velocidade
com que a mesma ocorre deve-se, em grande medida, às acções do homem. A deterioração
artificial (não natural) resulta das diversas acções levadas a cabo pelo homem e que afectam
negativamente o património cultural (Mazel 1982; Jopela 2007).

Por conseguinte, a forma pela qual um monumento se deteriora depende do material do qual
o bem patrimonial é feito e também das condições naturais e humanas às quais o mesmo se
encontra sujeito. Os elementos que ameaçam os bens do património cultural não têm o
mesmo efeito. Alguns deles podem danificar o património imediatamente e de uma forma
permanente, como é o caso de terramotos, fogos ou conflito armado. Outros actuam
lentamente e levam muito tempo antes que os danos se tornem realmente visíveis, como é o
caso da corrosão, humidade, etc. De um modo geral, as estações arqueológicas é que estão
particularmente mais expostas às condições do clima, roubos, vandalismo, escavações ilícitas
e ao impacto negativo do turismo.

1. Diagrama dos perigos que ameaçam o Património Cultural Imóvel

Terramotos, tremor de terra, Clima, humidade, erosão,


erupções vulcânicas, abalos poluição, luz, sais solúveis,
sísmicos, ondas gigantes, microrganismos (bactérias),
furacão, cheias/inundações, vegetação, animais (insectos,
relâmpagos, granizo, tufão, aves, roedores, etc.), poeira,
etc. etc.
Guerras, fogos, obras Guerras, fogos, obras
públicas, garimpeiros, públicas, garimpeiros,
comércio ilegal (tráfico ilícito), comércio ilegal (tráfico ilícito),
desenvolvimento urbano, desenvolvimento urbano,
vandalismo, roubo, etc. vandalismo, roubo, etc.

Fonte: Adaptado de UNESCO-ICCROM 2006:36.

10
2. Exemplos de constrangimentos que afectam o Património Cultural Imóvel em
Moçambique

2.1 Arte Rupestre

A arte rupestre é o conjunto de manifestações artístico-simbólicas representadas nas paredes


e tectos de cavernas, grutas e abrigos rochosos (Meneses 1989). A arte rupestre compreende
duas tradições distintas, nomeadamente: gravuras e pinturas, sendo que das estações
identificadas até agora, em Moçambique, foram somente encontradas pinturas rupestres.

Em Moçambique as pinturas rupestres são, na sua maioria, atribuídas às comunidades de


caçadores e recolectores (pinturas San7 e pinturas Twa8) e também às comunidades de
agricultores e pastores (pinturas Bantu9) (Saetersdal 2004). Estas pinturas rupestres, por
serem um dos elementos da identidade cultural dos povos que habitam a nossa região Austral
de África, constituem parte integrante do seu vasto património cultural.

Figura 1 – Pinturas rupestres da estação arqueológica de Chikukwa, Reserva Nacional de


Chimanimani, Província de Manica (Fotos de Albino Jopela).

7
Caracterizam-se pela representação de pessoas e animais, sendo o vermelho a cor predominante. Pelo seu
carácter detalhado, é possível identificar em alguns casos a espécie do animal e o sexo das figuras humanas
representadas nas rochas.
8
Também designadas Batwa, são marcadas pelo uso extensivo de desenhos geométricos de cor vermelha,
representação de animais em proporções distorcidas e em poucos casos apresentam desenhos de figuras
humanas.
9
Estas pinturas têm como principal característica predominância da cor branca em relação à vermelha. São
executadas a dedo e normalmente aparecem desenhos de animais e de pessoas (Smith 1997).
11
No entanto, e apesar do reconhecido valor arqueológico e cultural que é atribuído às estações
com pinturas rupestres, as mesmas tem-se debatido com vários problemas de ordem humana
e natural, que tem acentuado cada vez mais a sua deterioração.

2.1.1. Deterioração de Origem Natural

Degradação da rocha – Corresponde a alteração química e desarranjo mecânico do material que


forma a rocha, devido a sua exposição às mudanças constantes ou bruscas de temperatura, níveis
extremos de humidade, acção da água e outros elementos climáticos.

Água de superfície – Normalmente resulta da queda de chuvas e escorre pelo painel (contendo
pinturas rupestres), o que resulta numa acção erosiva. Geralmente, esta erosão de água deixa um
rastro vertical característico e nas zonas marginais, ao longo da área manchada, verifica-se,
normalmente, uma concentração de sais e microrganismos (cor branca). Este processo que,
geralmente, afecta as pinturas expostas em estações a céu aberto, em muitos casos resulta na perda
de pigmentação das pinturas existentes na rocha.

Poeira - Pode ser causada por animais em busca de abrigo, pessoas que residam nas imediações das
estações, estradas não asfaltadas com considerável tráfico, etc. Frequentemente, as partículas de pó
(incluem elementos como quartzo, barro, ou agentes de ferrugens) são aerotransportadas e acabam
depositando-se na superfície da rocha. Uma vez depositado na superfície da rocha, o pó passa por um
processo de mineralização até tornar-se permanente na superfície, sendo praticamente impossível a
sua remoção, sem causar dano para as pinturas rupestres aí existentes.

Acção animal - Em abrigos rochosos, animais como bois, cabritos, macacos e outros podem esfregar-
se frequentemente contra superfícies da rocha que contém pinturas rupestres. Isto causa desgaste
dos pigmentos usados na pintura, dada a presença de substâncias como pó e lama no corpo dos
animais, causando a descoloração ou desaparecimento das imagens. De modo semelhante, algumas
espécies de pássaros constroem seus ninhos em abrigos de pedra (no tecto e nas paredes superiores).
Isto pode obscurecer as pinturas e causar a perda de pigmentos em caso de remoção do ninho da
superfície da rocha.

Vegetação – As plantas com folhas e talos bem como outros tipos de vegetação podem escovar a
superfície da rocha contendo pinturas, causando um efeito abrasivo na arte. A acção das raízes pode
causar rachas no substrato e debilitar a estrutura física da rocha. Apesar destes impactos negativos, a
vegetação pode, por outro lado, contribuir para a preservação da arte, impedindo a luz solar de incidir

12
directamente sobre painéis com pinturas, ou pelo menos, reduzir o período em que as pinturas ficam
expostas ao sol (Jopela 2007:19-20).

2.1.2. Deterioração de Origem Humana

Os actos de vandalismo10, como é o caso da colocação de grafites11 em bens imóveis, geralmente,


constituem um dos problemas sérios que os gestores de arte rupestre enfrentam em muitos países. À
partida, a solução óbvia seria remover ou camuflar os sinais de grafite. No entanto, a restauração, em
si, não iria por si parar com esta forma de manifestação de vandalismo. Felizmente os casos
identificados de grafites em Moçambique, parecem resultar mais de actos de falta de informação
sobre o valor do património do que de uma premeditada acção de vandalismo.

Contacto corporal – Em muitos casos ocorre quando as pessoas tentam tirar fotografias num espaço
apertado (abrigo rochoso de pequenas dimensões); quando se sentam ou se apoiam em pedras que
contém arte para alcançar determinados fins; ou simplesmente tocam nas pinturas porque têm uma
atracção táctil. Estas acções podem causar adulteração do pigmento e podem manchar a arte
reduzindo a sua beleza estética.

Erosão da estação - Geralmente causada pelo elevado tráfico de pessoas que caminha fora das trilhas
previamente estabelecidas para o efeito, ou pela acção de elementos naturais como água das chuvas
ao escorrer do topo dos montes para as áreas mais baixas. O corte indiscriminado de árvores para uso
como combustível lenhoso em áreas com pinturas rupestres (montes) pode também acelerar a
erosão.

Fogos - Os efeitos de fogos incluem a fumaça que pode enegrecer as superfícies do abrigo rochoso e
também a esfoliação da superfície de pedra (Jopela 2007:21).

2.2 Estrutura em Pedra - Amuralhados do tipo Zimbabwe

Os amuralhados do tipo Zimbabwe são estruturas em pedras, geralmente de granito,


sobrepostas sem argamassa a uni-las, e que tinham como função delimitar a zona onde

10 Vandalismo é um conceito difícil de definir, mas em geral refere-se a todos os actos inapropriados por parte
dos utilizadores/visitantes do bem patrimonial que resultam num dano à integridade da natureza original do
património.
11
As grafites são produzidos por diferentes tipos de marcadores, lápis, batom, esmalte de unha e materiais
similares que os visitantes facilmente trazem consigo.
13
viviam os chefes, como símbolo de poder e de prestígio (Meneses 1989, Ndoro 2001;
Macamo 2006). Este termo pode englobar ainda todas as ruínas de empedrado constituídas
por complexos, recintos, fortins, simples ou desmoronados, torres cónicas, sepulcros, bases
onde assentaram palhotas habitacionais (estruturas de dhaka) (Macamo 2003b citando
Oliveira 1973). É o caso do Grande Zimbábwé na República do Zimbabwe e dos amuralhados
de Niamara, Songo e Manyikeni em Moçambique (Macamo 2006). À semelhança dos sítios
com pinturas rupestres, os amuralhados também tem-se debatido com vários problemas de
ordem humana e natural.

Figura 2 – Estrutura parcial do amuralhado de Manyikeni, Província de Inhambane


(In Macamo 2006:154-155).

2.2.1. Deterioração de Origem Natural

A maior parte dos problemas estruturais/naturais podem ser atribuídos ao desenho e à


natureza do material usado nas construções dos amuralhados. O facto destas estruturas de
pedra terem sido abandonadas durante séculos faz com que, para além da reincidente
decadência do material que ocorre logo que cessam as suas funções e as acções de
manutenção, o crescimento descontrolado da vegetação apresente-se como um dos maiores
problemas desta categoria do património imóvel (Matenga 1996).

Em muitos casos, árvores gigantescas crescem com raízes muito profundas que
desestabilizam a estrutura do amuralhado. O crescimento de variadas espécies de plantas, se
não for controlado, pode bloquear o acesso e a vista do monumento. Um crescimento
14
considerável do sistema de raízes da vegetação, pode causar deformações e distúrbio na
fundação, resultando na consequente perda de estabilidade, o que pode levar ao colapso
parcial ou total da estrutura do amuralhado.

Os procedimentos de construção adoptados, pelos construtores genuínos dos amuralhados,


podem ser uma das causas primárias para a maior parte dos desastres que afectam este tipo
de estruturas. Por exemplo, em alguns casos, as paredes do amuralhado são compostas por
um pilha de pedras bem definidas em cada face exterior, estendendo-se da base até ao topo.
Estas faces exteriores das paredes parecem, em muitos casos, pilares feitos de pilha de pedras
colocadas umas sobre as outras, havendo uma fraca ligação entre elas e com o interior.
Portanto, a segurança destas estruturas é muito baixa, bastando um pequeno distúrbio para
desestabilizar a estrutura e provocar o seu colapso (Ndoro 1996).

É nesta base que, alguns elementos naturais actuam como mecanismos que contribuem para
o colapso dos amuralhados do tipo Zimbabwe. O crescimento da vegetação pode também
causar o deslocamento das pedras no topo da parede. Neste caso, as pedras perdem a sua
posição inicial que, até certa medida, conferia equilíbrio à pilha das demais pedras desde a
fundação. De modo semelhante, basta uma secção da parede entrar em colapso, para a zona
de instabilidade progredir ao longo da restante área, tombando, progressivamente, as pedras
(Ndoro 2001).

2.2.2. Deterioração de Origem Humana

Quando este bem patrimonial se encontra aberto ao público, alguns visitantes podem tornar-
se a principal causa de degradação do imóvel. De facto, casos há em que os visitantes
danificam o imóvel, por exemplo, ao escalar e sentarem-se nas paredes do amuralhado, ou
mesmo ao caminharem sobre depósitos arqueológicos. De igual modo, algumas actividades
das próprias comunidades locais, quando desconhecedora do valor do imóvel, podem
ameaçar a integridade dos imóveis. As ameaças podem assumir a forma de roubo, pastagem
de gado, abate de árvores para fins de uso doméstico ou a realização de rituais que não são
compatíveis com as condições do monumento (Ndoro 1996).

15
Por outro lado, práticas arqueológicas e de preservação impróprias também afectam a
conservação dos amuralhados. As escavações arqueológicas mal posicionadas podem minar a
fundação de algumas paredes do imóvel.

2.3 Património Histórico Edificado

O Património Histórico Edificado (PHE) é constituído por todos os edifícios que são
testemunhos de épocas passadas, sendo identificados por documentação literária ou pela
construção em si, através da sua tipologia, técnica de construção ou de outra forma. O PHE
inclui não somente edifícios urbanos, mas também outras obras construídas, tais como
construções arqueológicas (como as construções do tipo Zimbabwe e Swahili), fortins, poços,
túmulos, pavimentos e outros.

Figura 3– Palácio de São Paulo, Ilha de Moçambique, Província de Nampula


(com permissão de José Forjaz Arquitectos).

2.3.1. Deterioração de Origem Natural

De um modo geral, o envelhecimento natural dos materiais que fazem parte do Património
Histórico Edificado associado às condições do clima (sol, chuva, humidade) constitui a
principal causa de degradação desta categoria do PCI. As mudanças frequentes de
16
temperatura entre noite (muito baixas) e o dia (muito elevadas) causam a presença de água,
por exemplo num edifício de alvenaria, responsável pelo fenómeno de condensação e
evaporação. A tensão causada pelos sucessivos ciclos de aquecimento/arrefecimento,
associado às acções das chuvas contribui, sobremaneira, para a deterioração de materiais
como a madeira que em muitos casos constitui parte integrante do imóvel (Carrilho 2005).

No caso do PHE localizado ao longo da costa a sua deterioração está igualmente associada ao
elevado teor de sal nas paredes dos edifícios. Por exemplo, nos edifícios de alvenaria com
elevado teor de sal marinho resultante do tipo de materiais usados, os processos de
degradação surgem quando um dos três elementos do ambiente onde se inserem as paredes
(a temperatura, a água e o sal se altera), criando-se um desequilíbrio no conjunto (CEDH/FAPF
2008).

De igual modo, o excesso de humidade pode produzir diversos efeitos, dependendo da


natureza do material que constitui o bem patrimonial. A humidade pode, por exemplo,
corroer o metal, criar um inchaço húmido da madeira e do papel. A água é um dos principais
elementos responsáveis pela deterioração de edifícios de alvenaria. Esta facilita o
crescimento de microrganismos, musgos e vegetação intrusa, criando-se condições de
fissuração, destruição dos rebocos e danificação por penetração invasiva de raízes. A água
também carrega sais solúveis que resultam em fenómenos de corrosão.

2.3.2. Deterioração de Origem Humana

Negligência ou abandono - Quando um edifício entra em desuso, a velocidade da sua


deterioração acelera visto que o mesmo não beneficia de interesse e nem do cuidado de
ninguém durante um longo período. A falta de uso devido e a falta total de trabalhos de
manutenção constituem outras causas que contribuem sobremaneira para a rápida e
progressiva degradação do PHE (CEDH/FAPF 2008).

17
Desenvolvimento urbano - O crescimento populacional e a necessidade de expansão leva, por
vezes, a um desenvolvimento urbano descontrolado que pode resultar na destruição de
edifícios históricos dada a necessidade de racionalização no uso do espaço urbano.

18
Solange Macamo

V. Conservação do Património Cultural Imóvel

Não existe um método universal para a conservação do Património Cultural. Cada categoria
do património imóvel (monumento, conjunto e sítio) tem os seus problemas humanos,
geológicos e ambientais que mudam ao longo do tempo. Mesmo assim, os princípios gerais
de conservação podem ser aplicados aos bens imóveis do património cultural, em
Moçambique, pesem embora os vários constrangimentos e desafios.

1. Princípios gerais de conservação do Património Cultural Imóvel

Os princípios gerais mais conhecidos de conservação do património cultural imóvel são os que
se seguem:

• Conservar o valor patrimonial de monumentos, conjuntos e sítios, o que significa não


remover, substituir, ou alterar, substancialmente, a sua configuração (elementos que
caracterizam o bem ou o lugar). Por exemplo, não alterar as fachadas, a volumetria ou a
decoração dos edifícios históricos;

• Conservar valores patrimoniais, usando uma atitude de intervenção mínima. No caso de ser
necessária uma intervenção deve-se, acima de tudo, respeitar os valores patrimoniais
existentes;
• Reconhecer cada imóvel como registo físico do seu tempo, lugar e uso;
• Não criar um sentido falso de desenvolvimento histórico, através da incorporação de
elementos de outros lugares históricos, imóveis ou de outras feições arquitectónicas que
nunca existiram;
• Encontrar um uso compatível para os imóveis, mantendo a sua característica original;
• Proteger e se necessário, estabilizar um imóvel até a adopção de medidas de intervenção
adequadas;

19
• Proteger e preservar recursos arqueológicos in situ (ou seja onde estão situados). Onde há
risco do seu desaparecimento, tomar medidas de mitigação para limitar a deterioração e
perda de informação;
• Avaliar as condições existentes dos elementos que definem e caracterizam o imóvel, para
determinar as intervenções apropriadas a serem levadas a cabo;
• Manter os elementos característicos do imóvel, através da reparação e reforço dos seus
materiais e uso de métodos de conservação credíveis, como os seguintes:
a) Os materiais em falta que definem o imóvel devem ser substituídos com base no uso de
protótipos sobreviventes;
b) Os elementos característicos que definem um imóvel devem ser reparados no lugar de
serem substituídos. Quando os elementos característicos estão degradados, existindo
evidência física suficiente, deverão ser substituídos por elementos novos, em conformidade
com a versão anterior;
c) Onde a evidência física é insuficiente, deverá ser usado material e detalhes de elementos
compatíveis com o carácter do imóvel. As feições em falta de um imóvel deverão ser
substituídas por outras, com base numa informação detalhada documental ou evidência oral;
• Documentar qualquer intervenção para referência futura;
• Conservar o valor patrimonial e elementos característicos do imóvel, sempre que forem
adicionados elementos novos ou realizada uma nova construção;
• Para os bens classificados, ou em vias de classificação, deve-se fixar uma Zona de Protecção12,
que considere a visibilidade, a volumetria, o desenho arquitectónico, a articulação entre o
interior e o exterior e demais exigências de protecção do Imóvel, sendo que qualquer obra a
levar a efeito nestas zonas carece de parecer prévio do sector que superintende a área da
cultura;
• Sensibilizar o público e os órgãos de informação sobre a importância das medidas cautelares e
as acções a levar a cabo com vista a conservação dos bens patrimoniais (Traduzido e adaptado
de Parks Canada, 2003: 1-3).

12
Zona de protecção arqueológica - É a zona que circunda um elemento imóvel arqueológico, ou outras áreas
que possuam evidências de elementos arqueológicos de inestimável valor científico e que importa preservar
para as gerações presentes e futuras. Nesta zona são interditas alienações, obras de demolição, de construção,
ou qualquer outra obra que determine a sua alteração física (Decreto 27/94 de 20 de Julho).
20
2. Princípios gerais de restauro do Património Cultural Imóvel

O restauro é uma operação que deve ter carácter excepcional, sendo precedido de um estudo
arqueológico ou histórico, e só podendo ser realizado após aprovação do respectivo projecto
pela autoridade competente da área da cultura. O restauro é regido por três princípios
fundamentais:

• Reversibilidade - A restauração tem de facilitar qualquer intervenção futura e não deve alterar
a obra na sua substância. O restauro de imóveis destina-se a conservar e a revelar os valores
estéticos e históricos destes e baseia-se no respeito pelas substâncias antigas e pela
autenticidade.

• Legibilidade - Perceptível e clara como intervenção qualificada em tempo posterior e que não
se resume apenas a uma intervenção mimética, quase sempre impossível ou muito difícil.
Assim se tornam mais fáceis correcções no futuro sem mexer nas partes originais.13 A
restauração não pode induzir o observador ao engano de confundir a intervenção ou
eventuais acréscimos com o que existia anteriormente (a intervenção tem de ser
detalhadamente documentada). É nesta base que os elementos destinados a ocupar as falhas
existentes deverão integrar-se harmoniosamente no contexto, tendo que se distinguir das
partes originais, a fim de que o restauro não falseie o documento de arte e de história. As
decisões a tomar no que concerne ao preenchimento de partes em falta devem basear-se em
vestígios arqueológicas ou evidências históricas, como registos de arquivos, tradição oral,
fotografias, desenhos, plantas e outros meios que as traduzam.

• Intervenção mínima - A restauração não deve descaracterizar a paisagem ou contexto


histórico, nem a obra como imagem figurada. Os acréscimos só podem ser tolerados na
medida em que respeitarem todas as partes interessantes do edifício, sua ambiência
tradicional, o equilíbrio de sua composição e suas relações com o meio circundante (Adaptado
de Burra Charter 1999).

13
A definição deste conceito deve-se ao Arquitecto Júlio Carrilho à quem muito agradecemos.
21
Albino Jopela

3. Procedimentos técnicos para a conservação do Património Cultural Imóvel

A conservação do PCI comporta os seguintes aspectos:


− A fase das acções de carácter técnico que incluem a pesquisa, registo ou
documentação;
− Avaliação das condições existentes, declaração do significado cultural e criação de
uma base de dados dos bens patrimoniais;
− Desenho de estratégias e mecanismos com vista a disseminar a informação sobre o
património (educação patrimonial), assim como envolver os depositários do
património (comunidades locais) no cuidado permanente e contínuo do
desenvolvimento do local.

O principal objectivo de qualquer estratégia de conservação é fazer do PCI um recurso que


pode ser documentado e desenvolvido no contexto da educação e do turismo cultural, sem
causar danos ao respectivo património. Neste contexto, são aqui postulados, ainda que de
forma sumária, alguns dos procedimentos e etapas a ter em conta para uma conservação
eficiente do PCI, em Moçambique.

3.1 Documentação do Património Cultural Imóvel

De um modo geral, a documentação figura como parte integrante da planificação e do


processo de conservação. Assim, precisamos de documentar o bem do PCI com vista a:
− Saber a extensão e natureza do imóvel;
− Ter um registo completo dos imóveis, permitindo um permanente controlo e avaliação
do seu estado de conservação;
− Avaliar a condição física dos imóveis, os problemas e as necessidades da sua
conservação;

22
− Monitorar as mudanças físicas e sociais relacionados com o imóvel, ao longo do
tempo.

Documentar significa, igualmente, juntar e integrar o maior item disponível de informação


considerada pertinente para o património. Isto inclui a informação escrita, fotográfica, bem
como informação oral. Nesse sentido, a documentação é um elemento chave para que o
gestor do património cultural possa tomar decisões acertadas com vista a uma cada vez
melhor conservação não só do PCI, como da área circundante (contexto arqueológico e
ambiental), no geral (Programa Africa2009).

Pelo facto das diversas categorias do PCI se encontrarem inseridas em contextos


extremamente variados, não existe uma fórmula perfeita ou universal para a sua
documentação. É usada, normalmente, uma combinação de métodos e técnicas com vista a:
− Localização do imóvel;
− Avaliação das condições do imóvel;
− Registo dos mais variados elementos que integram o bem cultural imóvel. Para o
efeito, são usadas algumas técnicas, como é o caso de desenhos, esboços, fotografia,
preenchimento de formulários (guião) de registo do PCI.

3.2 Avaliação das condições existentes num bem do Património Cultural Imóvel

A avaliação das condições existentes num bem do PCI consiste na apreciação do impacto dos
vários factores (de carácter natural e humano) que perigam a condição física e espiritual do
local (imóvel) e seu ambiente imediato. Qualquer intervenção numa estação deve ser
precedida de um estudo acerca da condição física do bem patrimonial e do seu estado de
preservação. Esta avaliação irá constituir, igualmente, uma base para os desenvolvimentos
futuros no PCI a preservar (Jopela 2007, 2010c).

Considerando que o PCI está, constantemente, sujeito a mudanças, a avaliação da sua


condição física ajuda o gestor a constatar com clareza uma estrutura do imóvel em
decadência, assim como a calcular o nível em que a mesma ocorre. Por outro lado, o exame

23
minucioso na avaliação das condições de um bem patrimonial imóvel pode também fornecer
dados para uma antevisão dos problemas e identificar áreas do PCI que podem constituir
motivo de preocupação dos gestores num futuro imediato ou longínquo.

Em termos metodológicos existem vários princípios básicos para uma avaliação adequada das
condições físicas dos bens imóveis. É fundamental observar, identificar e descrever
(compreender) os fenómenos que ocorrem ou afectam o PCI (ver o que está acontecendo).

Quais as características físicas visíveis dos sinais de degradação? Sintomas


Qual a provável causa do efeito notável? Diagnóstico
Como é que os efeitos (sinais de degradação) ocorrem? Processo
Como é que os efeitos irão evoluir nas condições existentes? Prognóstico
Fonte: Programa Africa2009.

É importante separar estes aspectos, porque o que é visível nem sempre indica o problema
subjacente. Só depois deste exercício é que se pode passar para a fase da selecção das
melhores estratégias com vista a tratar os problemas identificados.

3.3 Definição do significado cultural (valores) do Património Cultural Imóvel

O significado ou valor do PCI é a atribuição social relativa de qualidade que se dá aos mesmos.
Assim, este valor depende da sociedade e pode mudar ao longo do tempo. Especial atenção
deve ser dirigida para o que se considera culturalmente significante (Pearson & Sullivan
1995). Certos valores podem estar relacionados mais especificamente com aspectos
intrínsecos do património (monumento ou estação), enquanto outros valores podem estar
associados à sua localização e ao seu relacionamento com o cenário em que se encontra
(estações com pinturas rupestres, florestas ou montes considerados sagrados).

O propósito da conservação é garantir a qualidade e os valores dos recursos, proteger a sua


essência material e assegurar a sua integridade, para as gerações presentes e futuras.
Independentemente da sua categoria, a gestão de bens culturais imóveis exige, antes de
tudo, a manutenção permanente do seu significado cultural.
24
Como conceito, o significado cultural tem o propósito de ajudar a identificar e avaliar os
atributos que fazem do PCI, um lugar de valor para a comunidade, para a nação ou para o
mundo. A identificação dos valores do património visa:
− Saber porquê o lugar é importante;
− Identificar a natureza dos valores e como os mesmos provieram;
− Avaliar a importância desses valores (Ndoro 2001).

Consequentemente, só depois de entendido o valor de um lugar é que as decisões sobre a sua


conservação podem ser tomadas.

Apesar de ser aceitável que o PCI tem sempre consigo uma carga de valores, a avaliação dos
mesmos afigura-se como uma das primeiras medidas com vista a conservação do bem
cultural, devido a duas razões fundamentais:

• Existem várias alternativas de conservação que se podem adoptar para as diferentes


categorias do PCI. Assim, para se tomar a decisão mais apropriada em termos de conservação,
temos de saber o seu significado como um pré-requisito para a decisão sobre o seu futuro.

• Mesmo quando o PCI é de reconhecida importância, legalmente protegido e proposto para


uma conservação activa, precisamos de detalhes referentes ao carácter e contornos do seu
significado, com vista a determinar o método mais apropriado para conservar esse mesmo
significado cultural (Ndoro 2001).

Há valores múltiplos que podem estar associados ao mesmo património imóvel, sendo que os
valores que se julgarem significantes ou importantes é que irão justificar as políticas a
adoptadas para a sua conservação. Por outro lado, um único bem cultural pode possuir
valores conflituosos, que podem tornar difícil qualquer decisão a tomar por parte do gestor.
Assim, quando se está diante de patrimónios culturais, as considerações devem incluir
fundamentalmente: valores culturais e valores sócio-económicos contemporâneos (Pearson &
Sullivan 1995).

25
3.3.1 Valores culturais

Os valores culturais que estão associados aos recursos patrimoniais podem ser classificados
em diversas categorias:

a) Valor histórico

Este valor reconhece a contribuição que o lugar prestou para o nosso conhecimento sobre o
passado. O lugar pode ser típico ou ser um exemplo bem conservado de uma cultura, grupo,
época, tipo de actividade humana ou pode ser associado à um indivíduo particular.
Normalmente o lugar, mais do que representar uma fase ou aspecto da história, tem uma
longa sequência histórica e mostra o seu desenvolvimento.

Exemplo:

O Local Histórico de Matchedje situa-se na localidade do II Congresso, no Posto Administrativo


de Matchedje, no Distrito de Sanga, na Província de Niassa a cerca de 260km da Cidade de
Lichinga. O valor histórico do Local Histórico de Matchedje reside no facto de a realização do
II Congresso da Frente de Libertação de Moçambique, de 20 a 25 de Julho de 1968, ter
acontecido em território nacional, no Distrito de Sanga, numa Zona Libertada, tendo
redefinido a insurreição geral armada como estratégia da vitória, daí ser considerado o
“Congresso da Vitória”( Fundamentação para a classificação do Local Histórico de Matchedje
apresentada pelo Ministério da Educação e Cultura ao Conselho de Ministros, em 2008).

26
Figura 4- Monumento do II Congresso no Local Histórico de Matchedje, Província de Niassa
(Com permissão de Emanuel Dionísio).

b) Valor de identidade (baseado no reconhecimento)

Este grupo de valores está relacionado com o vínculo emocional (espiritual, religioso,
simbólico, político, patriótico ou nacionalista) da sociedade, em relação a um objecto ou
estação. Consiste em percepções emocionais, tendo este grupo de valores um grande
impacto na protecção, conservação e salvaguarda do recurso cultural. Estes valores podem
reforçar o tratamento a dar ao património (restauração). Ao mesmo tempo a ausência desta
identidade pode levar à negligência ou destruição do PCI.

Exemplo:
O Local Histórico de Chilembene localiza-se no Posto Administrativo de Chilembene, Distrito
de Chókwè, Província de Gaza. O património histórico de Chilembene é constituído por
diversos elementos, entre os quais constam:
• O “Berço” de Samora Machel, contendo um monumento que simboliza o local onde
nasceu o Presidente Samora Machel;
• A residência de Samora Machel, declarada Casa-Museu, em 2008, por ocaisão da
celebração dos 75 anos do seu nascimento. É uma construção do tipo pré-fabricado
edificada em 1975 e usada por Samora Machel enquanto Presidente da República
Popular de Moçambique até a sua morte, em 1986;
27
• O busto e monumento a Samora Machel, erguidos na Rotunda de Chilembene, em sua
homenagem, como fundador do Estado Moçambicano;
• O Cemitério, onde repousam os restos mortais de parte da Família de Samora Machel,
incluindo os seus progenitores; Moisés Mandande Machel e Guguye Thema Dzimba;
• O conjunto das construções coloniais, incluindo o edifício prisional da PIDE-DGS; a
antiga residência do Chefe do Posto colonial de Chilembene e as residências dos
sipaios.14

Em 2008 este local histórico foi classificado como Património Cultural por força do Decreto n°
46/2008, em virtude de ser o local onde nasceu, a 29 de Setembro de 1933, e cresceu o
Primeiro Presidente de Moçambique Independente, Samora Moisés Machel. A classificação
de Chilembene como Património Cultural além de constituir um reconhecimento e
homenagem ao “Berço” do fundador do Estado Moçambicano, é fonte de inspiração para os
moçambicanos, exaltando os valores de auto-estima, patriotismo, heroicidade e bravura
(Decreto no 46/2008 de 30 de Outubro).

Figura 5 – Casa - Museu Samora Machel no Local Histórico de Chilembene, Província de Gaza
(Com permissão de Emanuel Dionísio).

14
Fundamentação para a classificação do Local Histórico de Chilembene apresentada pelo Ministério da
Educação e Cultura ao Conselho de Ministros, em 2008.
28
c) Valor relativo artístico ou técnico

Estes valores resultam da investigação levada a cabo por profissionais, com a intenção de
demonstrar o significado relativo do bem patrimonial, em relação ao tempo presente ou
futuro. Estes valores podem residir na beleza do desenho, a sua singularidade no estilo,
desenvolvimento artístico ou mesmo comprovativo do elevado nível de criatividade humana.
Estes valores proporcionam as bases para a classificação e listagem do património, bem como
para as estratégias do seu tratamento, por exemplo, em relação ao património edificado.

Exemplo:

Localizada junto do Jardim Tunduru e da estátua de Samora Machel, a Casa de Ferro constitui
uma referência na Baixa da Cidade de Maputo. O modelo deste monumento, inteiramente
produzido em metal, foi concebido pela Escola de Eiffel em 1892, por encomenda do Governo
Colonial Português à Bélgica. A mesma destinava-se a ser residência do Governador Geral de
Moçambique, fim para o qual nunca chegou a servir. Após sua construção instalaram-se nela
vários serviços, tais como o Tribunal (em 1892), os Serviços de Agrimensura (em 1912) e o
Museu Geográfico Gago Coutinho (em 1972). Actualmente funciona a Direcção Nacional do
Património Cultural. Este edifício pré-fabricado é representativo do uso do ferro como
material de construção nobre, em resultado das inovações em arquitectura no período da
revolução industrial. A Casa de Ferro destaca-se não só pela sua beleza artística e
arquitectónica, mas também pela sua autenticidade e integridade (permanece em bom
estado de conservação) e exemplaridade (único imóvel que resta em construções deste tipo)
(Macamo 2003a; Lage & Carrilho 2010).

29
Figura 6 – Casa de Ferro (actual Direcção Nacional do Património Cultural), Cidade de Maputo
(Foto de Albino Jopela)

d) Valor científico (arqueológico)

É característico de um lugar que proporciona, ou tem um potencial para produzir


conhecimento que não se pode obter em nenhum outro lugar. O valor científico de um lugar
depende dos dados envolvidos ou da sua raridade, qualidade ou representatividade e no grau
de contribuições futuras que o local pode fornecer.

Exemplo:

Chibuene é uma estação arqueológica localizada na orla marítima do Índico, a 5 km da vila de


Vilankulo, na província de Inhambane. A estação foi ocupada a partir do século VI AD, ou
possivelmente muito antes, até ao presente. De entre os vestígios encontrados na estação,
contam-se fragmentos de cerâmica local, loiça vidrada importada e missangas. Contudo, o
vestígio que melhor representa a estação é o concheiro, isto é, a lixeira de restos de cozinha
das antigas populações costeiras, em que predominam conchas de moluscos. De acordo com
as pesquisas arqueológicas realizadas em Chibuene (desde 1977), a presença de produtos
importados em Chibuene, indica que a estação estava integrada, muito cedo, na rede de
comércio com o Índico. Achados semelhantes foram encontrados tão longe como Gezira, na
Somália, Ilhas Comores, Madagáscar, em Manda (ilha a norte de Lamu no Quénia) e Kilwa (a
sul da costa da Tanzânia). As missangas têm semelhanças com as encontradas em Zhizo e no
Grande Zimbabwe, no Zimbabwe (Sinclair 1982; Ekblom 2004; Macamo 2006). A descoberta

30
da estação de Chibuene com artigos importados do primeiro ao segundo milénio, enriquece o
nosso conhecimento sobre práticas de comércio antigo de Moçambique com o mundo.

Figura 7- Estação arqueológica de Chibuene (vista parcial do concheiro), Província de


Inhambane (In Filipe 2006:76).

3.3.2 Valores sócio económicos contemporâneos


Os valores de uso estão relacionados com as sociedades presentes e as suas estruturas sócio-
económicas e políticas, identificando-se as seguintes categorias:

a) Valor social

Abrangem as qualidades pelas quais o lugar se tornou um foco espiritual, político, nacional,
ou outros sentimentos culturais de um grupo maioritário ou minoritário. Está relacionado
com actividades sociais tradicionais e o uso compatível do lugar no presente. Envolve,
igualmente, uma interacção social contemporânea do PCI com a comunidade, jogando um
papel preponderante no estabelecimento da identidade cultural. Os lugares com valores
tradicionais ou religiosos têm, frequentemente, um grande significado social que está
relacionado com o seu conhecimento pela comunidade. Estes valores são muito importantes
e, provavelmente, os mais fortes, em termos de conservação do lugar, pelas comunidades
locais.

31
Exemplo:

O Monte Chinhamapere, na cadeia montanhosa de Vumba, a três quilómetros da cidade de


Manica, na província do mesmo nome, abriga vários sítios de arte rupestre. O sítio principal,
Chinhamapere I, está rodeado de uma floresta exuberante considerada sagrada. Os demais
sítios com arte rupestre (Chinhamapere II e IV) estão localizados em savana aberta.
Chinhamapere I é constituído por um painel de pinturas rupestres atribuídas às comunidades
de caçadores e recolectores (San ou Bushman)15. O sítio encerra eventos do passado e
reflecte um longo período da pré-história e da história dos bushman, as primeiras
comunidades que habitaram Moçambique num passado recente (Saetersdal 2004).
Chinhamapere é igualmente importante devido à sua paisagem cultural (uma exuberante
floresta sagrada) e à sua função nas práticas tradicionais locais, como é o caso das cerimónias
de invocação de chuvas (Jopela 2006, 2010a). Chinhamapere revitaliza as crenças da
comunidade, recordando às pessoas o seu orgulhoso património cultural, por um lado, e
restaurando a sua alta consideração pela autoridade tradicional, por outro. A importância
ritual do Sítio e a sua sacralidade são bem conhecidas em toda a província de Manica, o que é
confirmado pela pequena cerimónia ritual, que tem envolvido turistas e outros visitantes ao
sítio.

Figura 8 – Monte Chinhamapere, Serra Vumba, Provínvia de Manica


(Com permissão de Tore Saetersdal).

15
O painel é composto por uma série de figuras humanas, umas empunhando arcos e flechas e outras em transe
(experiência espiritual na qual o médium espiritual entra para um estado alterado de consciência). O painel
contém ainda imagens de um antílope, um pássaro, um rinoceronte e figuras geométricas.
32
Figura 9 – Cerimónias do Kudhira Nvura, no sopé do Monte Chinhamapere
(Com permissão de Tore Saetersdal).

b) Valor económico
No contexto da conservação, o valor económico deve ser entendido como o valor gerado
pelos bens culturais (recursos patrimoniais), ou pela acção da sua conservação,
nomeadamente através do turismo cultural.

Exemplo:

A Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição (ou Fortaleza de Maputo), monumento localizado


na Cidade de Maputo, na Baixa da cidade, que pelo seu valor histórico-arquitectónico,
associado à sua localização privilegiada constitui uma atracção turística. Este museu militar
dispõe de várias salas que têm sido usadas para exposições temporárias e periódicas. O seu
jardim tem sido muito procurado para eventos como lançamentos de livros, gravação de
videoclips, casamentos, festas de aniversários e outros eventos. Muitos destes eventos sociais
constituem importantes fontes de rendimento.

33
Figura 10 – Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição, Cidade de Maputo
(Foto de Albino Jopela)

c) Valor político -patriótico


Está relacionado com eventos específicos na história do recurso patrimonial que diz respeito
ao seu país ou região. O significado actual do recurso pode ser influenciado por esses eventos,
se os mesmos coincidirem com as intenções das prioridades políticas contemporâneas. O
significado político de um monumento ou estação pode atrair a atenção de um vasto público
para a sua salvaguarda e protecção.

Exemplo:
O Local Histórico de Mueda
A descrição detalhada de Mueda, Sede do Distrito de Mueda, na província de Cabo Delgado,
como Local Histórico da Luta Armada de Libertação Nacional, foi efectuada por Pachinuapa &
Manguedye (2009) e mais recentemente por Tiane & António (2010), por ocasião da
passagem dos 50 anos do Massacre de Mueda.

“Mueda é um Local Histórico onde, a 16 de Junho de 1960, ocorreu um massacre que vitimou
mais de 600 moçambicanos que reivindicavam às autoridades coloniais portuguesas a
liberdade do Povo Moçambicano. O Local é composto pelos seguintes bens patrimoniais:
• O edifício da antiga Administração Colonial Portuguesa, onde foi estabelecido o Centro
de Interpretação de Mueda;

34
• A Vala Comum e o Memorial do Massacre, erguido após a Independência Nacional,
reabilitado em 1999 e requalificado em 2010;
• Duas campas de dois líderes da revolta contra a opressão colonial, nomeadamente
Matias Shibiliti e Faustino Vanomba;
• Duas campas de guerrilheiros da Luta Armada de Libertação Nacional: uma de Maria
Chipande, guerrilheira que se destacou pelos serviços prestados nos infantários e a
outra de Ernesto do Rosário Ndupa, guerrilheiro e comandante da Base Nampula, no
distrito de Mueda.

O valor histórico deste Local advém do facto de estar associado ao massacre, acontecimento
que inspirou os ideais da Luta de Libertação Nacional. Com efeito, o Massacre de Mueda:
• Despertou a consciência do Povo Moçambicano, em geral, e dos camponeses de
Mueda, em particular, de que o colonialismo português era um mal cujo fim exigia a
Luta Armada;
• Constituiu o ponto de viragem na história do Povo Moçambicano, na sua luta contra a
ocupação colonial portuguesa;
• Contribuiu para o aprofundamento da consciência nacionalista na luta contra a
opressão colonial portuguesa”.16

Figura 11 – Centro de Interpretação Histórica de Mueda (antiga Administração Colonial),


Província de Cabo Delgado (Com permissão de Emanuel Dionísio)

16
Teor da placa descritiva e de protecção do Local Histórico de Mueda elaborada pela Direcção Nacional do
Património Cultural em Maio de 2010.
35
d) Valor local, nacional e mundial

A Ilha de Moçambique está localizada na província de Nampula, à entrada da Baía de


Mossuril, no Oceano Índico. A Ilha de Moçambique, de onde advém o nome do país, figura
nas rotas de navegação do Oceano Índico já desde o século X e foi a primeira capital de
Moçambique, entre 1507 e 1898. A Ilha foi um centro comercial para onde convergiam
pessoas de diferentes partes do mundo: África, Ásia e Europa. Possui uma arquitectura
bastante rica que é exemplo excepcional de uma dicotomia urbana resultante da diversidade
cultural e interacção entre pessoas de diferentes origens e culturas: Bantu, Swahili, Árabe,
Persa, Indiana e Europeia. Os atributos da paisagem histórica e cultural da Ilha compreendem
dois sistemas urbanos: a cidade de Pedra e Cal, de influência Árabe, Swahili e Europeia, e a
cidade de Macuti, de influência Swahili e arquitectura tradicional Africana.

Por estas razões, a Ilha de Moçambique tornou-se num importante entreposto comercial da
rota marítima entre a Europa Ocidental, a costa Leste Africana, o sub-continente da Índia e,
de uma forma geral, a Ásia. O património intangível da Ilha incorpora as danças, tradições,
artesanato, culinária e crenças praticadas na Ilha que, assim, reforçam a integridade social
impregnada no património material do sítio. Em reconhecimento do seu valor universal
excepcional, a Ilha foi classificada Património Cultural Mundia pela UNESCO em 1991. Assim,
os valores do património cultural da Ilha de Moçambique devem ser considerados a vários
níveis: local, nacional e mundial com uma simbiose de valores civilizacionais da África, Ásia e
Europa, que enriquecem a cultura moçambicana.

Figura 12– Vista parcial do conjunto arquitectónico da Ilha de Moçambique Património


Cultural Mundial, Província de Nampula (Foto de Albino Jopela).
36
3.4 Monitoria das condições do Património Cultural Imóvel

Após o registo e avaliação das condições do bem patrimonial, segue-se a fase de controlo
permanente do modo como os diversos elementos (naturais e humanos) interagem com o PCI
– a monitoria. Parte-se do princípio que a deterioração dos bens culturais imóveis é um
processo natural, sendo que a intervenção humana só afecta a sua velocidade (Jopela 2007).

Monitorar significa inspeccionar de uma forma sistemática e regular, de modo a registar as


mudanças que ocorrem/afectam o bem patrimonial ao longo do tempo. Nesse sentido, a
monitoria regular e contínua é um procedimento necessário e indispensável para uma
conservação permanente e eficiente de qualquer bem patrimonial cultural imóvel.

Os elementos chave da monitoria são a inspecção regular (avaliação do estado de


conservação) e a repetição de métodos de registo (registando a mesma informação da
mesma maneira, em cada inspecção). A monitoria não só fornece informações sobre áreas
com potenciais ameaças, como também ajuda a compreender a estação e deste modo melhor
planear o seu futuro (Mazel 1982). De facto, através de uma documentação detalhada e
monitoria periódica dos bens do património imóvel, os gestores podem controlar e
determinar o seu estado de preservação, assim como identificar situações em que são
precisas consultas a especialistas (conservador ou restaurador de edifícios).

37
Teodato Nguirazi

4. Procedimentos técnicos para a conservação do Património Cultural Imóvel

4.1. Monumentos arqueológicos

Uma das soluções para os vários problemas anteriormente referidos que enfermam os
monumentos passa, por vezes, pela demolição completa ou parcial do imóvel. No entanto,
antes de se demolir para posterior reconstrução, várias precauções devem ser tomadas:
notas, desenhos, fotografias. Ao se demolir o monumento pedra a pedra, estas devem ser
enumeradas de modo a garantir a reposição na ordem original.

É preciso, igualmente, fazer um levantamento completo da planta do monumento, refazer os


seus alicerces, montar uma chapa de betão para isolar o monumento da humidade do solo e
preservá-lo de riscos de abatimento. Segue-se então a reconstrução de toda a estrutura,
compensada por meios modernos (virolas de aço ou ferro e cimento armado) (Programa
Africa2009).

Para certas situações mais específicas relacionadas com as principais causas de destruição de
monumentos, são aqui avançadas algumas medidas, nomeadamente:

• Em caso de afundamento do terreno, a única solução a adoptar é a que consiste em


desmontar o monumento para construi-lo sobre novas fundações;
• Nas situações em que se verifica um desmoronamento, devido ao desaparecimento ou
enfraquecimento de materiais, é preciso desenterrar, substituir os materiais mais fracos pelos
mais resistentes e reconstruir-se o monumento;
• Para os casos em que o crescimento da vegetação é descontrolado, há que destruir e
esterilizar o solo, estripar as raízes e até muitas vezes reconstruir o monumento, dependendo
do nível do distúrbio provocado pela acção da vegetação;
• Nos casos em que a humidade se infiltra no solo, acabando por provocar a corrosão de pedras
porosas, é preciso isolar a construção do solo por uma camada de cimento armado (o que
equivale a demolir e construir);

38
• No caso de aluimento do monumento sobre si mesmo, pelo seu próprio peso, tendo a infra-
estrutura mais ou menos cedido, é preciso demolir tudo e depois reconstruir inteiramente as
pedras intactas;
• No caso dos monumentos ameaçados de destruição por grandes trabalhos de construção, a
solução consiste em deslocar o monumento por desmontagem pedra a pedra para voltar a
monta-lo noutro local. A nova montagem far-se-á, se possível, num local semelhante,
conservando a orientação original e tentando reconstruir um ambiente primitivo (In Frederic
1980).

4.1.1. Amuralhado de Niamara

Figura 13- Amuralhado de Niamara visto do sul, Província de Manica


(In Macamo 2006:138).

a) Problemas

O crescimento descontrolado da vegetação e o aparente estado de abandono apresentam-


se como os mais notáveis problemas deste imóvel. Estas variadas espécies de plantas não só
cobrem as escadas, bloqueando o acesso ao interior do imóvel, como também reduzem a
beleza estética do próprio amuralhado. Além disso, este crescimento da vegetação pode
igualmente causar distúrbios nas paredes do imóvel contribuindo para um eventual colapso
parcial ou total da estrutura.

39
b) Procedimentos

i) Em casos semelhantes a este, é preciso após a fase de documentação (notas, desenhos,


fotografias), avaliar as condições em que o imóvel se encontra (o grau de impacto da
vegetação no monumento). A natureza e o nível das medidas a serem tomadas dependem
do grau do distúrbio provocado pela acção da vegetação. Nesse sentido, a avaliação do
impacto da vegetação irá determinar, por exemplo, se é necessário demolir parcial ou
totalmente o imóvel para sua posterior reconstrução ou se é somente preciso eliminar o
capim e pequenos arbustos em algumas áreas, através da esterilização do solo. De qualquer
modo, todo o processo de intervenção com vista a conservar o imóvel deve ser
devidamente documentado e só levado a cabo por profissionais competentes, envolvendo
arqueólogos.

ii) Para salvaguardar o imóvel do impacto negativo do tráfego humano na estação, devem-
se definir algumas trilhas por onde os visitantes devem passar de modo a que as outras
partes do monumento sejam preservadas do impacto negativo dos visitantes.

iii) É igualmente necessário colocar placas de identificação e interpretação do imóvel com


vista à disseminação da informação, assim como algumas indicações básicas sobre o código
de conduta a ser seguido pelos visitantes.

40
4.1.2. Amuralhado de Manyikeni

Figura 14- Amuralhado de Manyikeni, Distrito de Vilankulo, Província de Inhambane


(Foto de Solange Macamo).

a) Problemas

Pela sua exposição às intempéries, ao longo do tempo, é notório o fraco nível de segurança
desta estrutura. À semelhança do exemplo anterior, o não controle da vegetação constitui
uma das principais ameaças à integridade física do imóvel, quer pela existência de árvores
que ao secarem caem sobre as paredes do amuralhado, quer ainda pelo capim e pequenos
arbustos que cobrem as partes baixas da estrutura.

b) Procedimentos

Os princípios e procedimentos sugeridos para o caso do amuralhado de Niamara, são, na


sua maioria, aplicáveis para Manyikeni, dada as similaridades, em termos, dos problemas
identificados (vegetação). No entanto, é preciso avaliar as condições existentes e considerar
as especifidades deste bem patrimonial antes da tomada de qualquer medida de

41
conservação. É digno de realce o facto de Manyikeni beneficiar de algumas medidas com
vista a sua conservação, como é o caso da placa de identificação e interpretação, que ao
mesmo tempo apela aos visitantes a tratar o local com o devido respeito.

Figura 15 – Placa Descritiva e de Protecção da estação arqueológica de Manyikeni


(Com permissão de Domingos Macucule).

42
Décio Muianga

4.2. Locais e sítios com pinturas rupestres

4.2.1. Pinturas rupestres de Macanga

Figura 16- Pinturas rupestres de Macanga, Província de Tete


(Com permissão de Tore Saetersdal).

a) Problema

Neste painel com pinturas rupestres é visível o problema de origem humana: grafite
(marcas a preto que não estão de acordo com o contexto original das pinturas). Pelo facto
da estação encontrar-se num abrigo rochoso, numa área de difícil acesso, presume-se que
as marcas poderão ter sido feitas por membros da comunidade local (jovens pastores) ou
por algum visitante que por ali passou.

b) Procedimentos

À partida, a solução óbvia seria remover ou camuflar os sinais de grafite. No entanto, o


processo de restauração da arte rupestre para além de ser extremamente dispendioso, só
pode ser feito por um especialista (conservador) altamente qualificado. Mesmo sendo bem

43
sucedida, a restauração não iria por si só parar com esta forma de manifestação de
vandalismo do nosso PCI.

i) É por isso necessário registar ou documentar a estação, apurar o seu significado cultural e
sócio-económico. É igualmente pertinente sensibilizar a comunidade local (órgãos locais do
governo, autoridade tradicional, população em geral) sobre a importância da preservação
do património em causa.

ii) É fundamental disseminar a informação sobre esta categoria do nosso património cultural
nas escolas mais próximas (educação patrimonial), de modo a consciencializar a
comunidade estudantil (os mais jovens). À semelhança dos casos anteriores, sugere-se a
colocação de placas de identificação, de protecção (património protegido ao abrigo da Lei no
10/88 de 22 de Dezembro) e placas descritivas (para dar a conhecer o significado/valor
social, histórico e arqueológico do imóvel) com vista à disseminação da informação.

4.2.2. Pinturas rupestres de Chinhamapere

Figura 17- Pinturas rupestre de Chinhamapere, Provincia de Manica


(Foto de Décio Muianga).

44
a) Problemas
É notável o desvanecimento de algumas áreas do painel com pinturas, pelo facto deste estar
exposto às constantes mudanças das condições ambientais como é o caso do elevado nível
de humidade e chuvas. Por exemplo, a água (resultante da queda de chuvas) que escorre
pelo painel passando por cima das pinturas, exerce uma acção erosiva e de desgaste. As
manchas brancas (provavelmente resultante da concentração de sais e microrganismos)
resultam, provavelmente, desta acção erosiva. Portanto, a água e outros factores naturais
acabam contribuindo para o normal processo geológico de degradação da rocha que, por
sua vez, tem um impacto negativo sobre as pinturas.

Por outro lado, há registo de intervenção humana no painel referente a uma tentativa da
autoridade colonial em limpar parte das imagens existentes na rocha (Muianga 2006). Além
disso, o facto de algumas pinturas estarem a uma altura não elevada sugere a possibilidade
de estarem sujeitas ao toque dos visitantes o que contribui igualmente para a sua
degradação.

b) Procedimentos

i) Chinhamapere é uma das estações mais conhecidas desta categoria de património, em


Moçambique, aparecendo em revistas e artigos desde o período colonial até ao presente e
consta na Lista Indicativa da UNESCO de candidatura para Património Mundial, de 1990 e
2009. Há um grande potencial para a sua conservação (mediante um programa de monitoria
do impacto natural e humano na estação) e valorização através do desenvolvimento do
turismo cultural e educação patrimonial, fazendo-se uso das estruturas já existentes: o
Museu e Centro Cultural Comunitário de Manica, existente desde 2007, e o sistema de
custódia tradicional que vela pela preservação da estação. No contexto da educação e da
divulgação da informação ao público, pode-se programar e efectuar visitas regulares com os
estudantes das escolas mais próximas, de modo a educar as camadas mais jovens sobre a
importância do património cultural local, a efectuar no âmbito do programa do currículo
local.

45
Figura 18 - Museu e Centro Cultural Comunitário de Manica, Província de Manica
(Com permissão de Tore Saetersdal).

ii) À semelhança do que foi sugerido anteriormente, deverão, igualmente, ser colocadas no
local placas de protecção, descritivas e didácticas. A placa didáctica apela para o código de
conduta a ser seguido pelos visitantes. Por exemplo: “As pinturas rupestres são um recurso
cultural não renovável visto que uma vez destruídas perdem-se para sempre. Por isso,
aprecie a arte tratando-a com respeito: tire fotografias, olhe as imagens de perto, mas
nunca toque ou encoste nas pinturas porque as gorduras da sua pele irão danificar a arte
dos nossos antepassados” (Jopela 2010d:15).

4.2.3. Pinturas rupestres de Chicolone

Figura 19- Pinturas rupestre de Chicolone, Província de Tete


(Com permissão de Benjamin Smith).
46
As pinturas rupestres de Chicolone, constituem um caso excepcional em termos de
conservação porque não apresentam muitos dos problemas relacionados com impacto
humano ou do meio ambiente circundante, como vimos nos dois exemplos acima
mencionados. A estação está localizada num local recôndito do Distrito de Makanga, onde o
acesso, para além de ser difícil, (um dia de caminhada pela floresta) carece de
acompanhamento de guias locais. Este cenário permite um controlo efectivo do acesso ao
sítio, o que também contribui para a manutenção do seu bom estado de conservação. O
clima ameno, a posição relativamente elevada do painel principal, assim como a protecção
natural (vegetação circundante mas não intrusiva), constituem alguns dos factores que
concorrem para a boa preservação das pinturas.

47
Teodato Nguirazi

4.3 Património Histórico Edificado

Alguns dos problemas que afectam esta categoria do PCI são agravados pelo corrente
abandono ou desuso dos edifícios. Tal acontece, em muitos casos, devido a incapacidade de
se atribuir uma função para o contínuo uso do edifício, ou pelo contínuo e acelerado estado
de degradação em que o mesmo se apresenta.

Tome-se como exemplo uma Igreja construída no século XVIII, cujo estado de conservação
apresenta-se ameaçado por problemas como infiltração de água, elevados níveis de
humidade, deficiente sistema de ventilação existente, falta de iluminação, etc. Para além
dos princípios e procedimentos sugeridos nos exemplos anteriores (documentação,
avaliação das condições existentes), pode-se igualmente adoptar as seguintes medidas:

• O problema de infiltração de água pode ser resolvido através do processo de


impermeabilização do terraço, efectuando-se o levantamento e substituição da tijoleira
tradicional, e colocação de telas impermeabilizantes. Em muitos casos a tijoleira tradicional
não fica em condições de ser reposta. Nestes casos, procede-se também ao assentamento
de tijoleira nova. Deve-se igualmente capar os topos dos muros, para evitar infiltrações.

• De igual modo deve proceder-se a substituição dos alicerces debilitados (aros de madeira),
por outros mais robustos, cuidando, igualmente, das condições de ventilação de modo a
reduzir ao mínimo os níveis de humidade no seu interior.

• A atribuição de uma função ao edifício (utilização pública) pressupõe, por exemplo, a criação
de sanitários. Este pode ser um dos maiores problemas a resolver, dada a falta de local
apropriado e a inexistência de um sistema de esgoto.

• No contexto das funções que se pretendem atribuir ao edifício é igualmente importante


zelar pela iluminação artificial de todos os espaços, com luminárias adequadas aos novos e
diversificados usos, culturais, pedagógicos e de lazer, constituindo-se zonas de exposições,
de aulas e reuniões, de convívio, etc. (Kuhl 2004).

48
4.3.1. Prédio Pott

Figure 20 - Prédio Pott, Cidade de Maputo


(Foto de Albino Jopela)

a) Problemas

Este edifício representa a combinação de alguns dos problemas que afectam esta categoria
de património. Por um lado, os factores de origem natural como as condições climáticas
(chuvas e humidade) constituem um dos principais responsáveis pela deterioração de
edifícios de alvenaria pois, facilitam o crescimento de microrganismos, musgos e vegetação
intrusa, assim como também carregam sais solúveis que resultam em fenómenos de
corrosão.

Por outro lado, este tipo de imóveis caracteriza monumentos não vivos (estado de ruínas
sem uso) o que acelera a velocidade da sua deterioração visto que os mesmos já não
beneficiam do interesse e nem do cuidado do seu depositário.

b) Procedimentos
i) Uma das primeiras acções consiste em avaliar as condições existentes dos elementos que
definem e caracterizam este tipo de imóveis (diagnosticar as causas de decadência), para
determinar as intervenções mais apropriadas a fazer.

49
ii) Todo o processo referente a reabilitação do Prédio Pott (como a colocação da tijoleira
tradicional, substituição dos alicerces debilitados, iluminação de todos os espaços, etc.) tem
de primar pela conservação do valor patrimonial dos monumentos (não remover, substituir,
ou alterar substancialmente a sua configuração).

iii) As intervenções devem reger-se pelas regras de restauro: seguir os padrões tradicionais,
ser reversíveis e não impedir futuras acções. De igual modo, não se deve alterar as fachadas,
a decoração e nem adicionar feições que nunca existiram nestes edifícios históricos.

iv) É preciso acima de tudo encontrar um uso compatível para estes imóveis quer seja de
cunho cultural, pedagógico ou de lazer (Museu, Livraria, Direcção de Serviços, Centro
Cultural, Salões de Exposições, etc), mantendo a sua característica exterior original. Apesar
destas exigências, o interior dos edifícios pode ser alterado de modo a melhor responder ao
novo uso que se pretende atribuir ao edifício.

50
Albino Jopela

VI. Gestão do Património Cultural Imóvel em Moçambique

Atendendo a falta de pessoal qualificado para várias actividades relacionadas com a gestão
do PCI existente em Moçambique, bem como ao facto de a gestão contemplar, para além de
aspectos técnicos (documentação, interpretação, monitoria, etc.), é fundamental o diálogo
permanente entre os gestores do património e o público em geral. É igualmente
incontornável a necessidade de envolver os mais variados grupos interessados ou afectados
pelo património na sua gestão.

Tem sido notório, nos tempos que correm, que muitas comunidades sempre cuidam dos
locais culturalmente importantes para si, baseadas num sistema de valores e mecanismos
sociais restritivos. É igualmente notável, o facto de que parte dos bens imóveis do
património cultural moçambicano encontram-se situados nas zonas rurais, como é o caso
das estações com arte rupestre, amuralhados do tipo Zimbabwe, abrigos rochosos, igrejas
ou santuários. Neste contexto sócio-cultural, afigura-se pertinente compreender e
sobretudo valorizar os sistemas tradicionais através dos quais o PCI é localmente gerido
pelas comunidades locais.

1. Custódia Tradicional do Património Cultural Imóvel

O termo tradicional é referente às comunidades que ainda se orientam, em grande medida,


pelos valores culturais, tais como o direito consuetudinário. Para o caso específico de
Moçambique, o termo manifesta-se nas comunidades do meio rural. Por seu turno, as
comunidades locais são entendidas como aquelas que, para além de partilharem muitas
vezes objectivos, interesses e valores comuns como crenças, hábitos, língua, costumes,
antepassados, têm igualmente o direito de uso e aproveitamento da terra, a nível rural,
participando na gestão dos recursos naturais e na resolução de conflitos existentes (Abdala
2001).

51
Nesta base, o termo custódia tradicional refere-se à gestão do património cultural levada a
cabo pelas comunidades locais, através de conhecimentos e práticas de expressão cultural
local. Estas práticas são embutidas de crenças e valores que são transmitidos de uma
geração para a geração seguinte e que se “perpetuam” por intermédio de instituições
sociais como ritos e tradição oral (Jopela 2006).

1.1 Exemplo da custódia tradicional do Património Cultural Imóvel em Moçambique

Tomando como exemplo as estações arqueológicas com pinturas rupestres localizadas nos
montes Chinhamapere17 e Guindingue18, no Distrito de Manica, a custódia tradicional das
pinturas rupestres engloba todos os mecanismos e acções, regidos pelas normas
consuetudinárias, levadas a cabo pela comunidade local, com vista ao uso e contínua
preservação das pinturas rupestres e do meio natural envolvente com relevância cultural
(simbólica), onde as pinturas se encontram também inseridas.

Pela análise de três aspectos que caracterizam e determinam o modo de vida das
comunidades Shona do Distrito de Manica, verifica-se que:

(i) O aparato ideológico das comunidades do Distrito de Manica é fortemente marcado pela
crença em espíritos ancestrais, tidos como legítimos donos da terra e de todos os recursos
existentes no seu território. Nesta base, as comunidades locais atribuem múltiplos valores à
paisagem natural (árvores gigantescas, florestas, nascentes, abrigos rochosos), onde se
encontram igualmente inseridas as estações com pinturas rupestres (nos montes
Chinhamapere e Guindingue). Por conseguinte, o respeito e o medo que emanam da
paisagem natural, tida como local de repouso dos espíritos ancestrais, faz com que as
estações arqueológicas lá inseridas beneficiem da custódia (protecção) das comunidades
locais.

17
O monte Chinhamapere situa-se na parte noroeste da cordilheira Vumba e comporta as estações
arqueológicas de Chinhamapere I, Chinhamapere II e Chinhamapere IV.
18
O monte Guindingue localiza-se na parte sul oriental da cordilheira Vumba, integrando as estações de
Mouchiabaka, Guro, Chinhamonhoro, Monte Tsoro e Inhassane.
52
(ii) Os rituais cíclicos de pedido de chuva denominados kudhira nvura, por controlarem a
chuva, a colheita, a saúde, são muito importantes para a manutenção da ordem e do bem-
estar social no seio destas comunidades. Assim, estando algumas estações com pinturas
rupestres (estações de Chinhamapere I e de Moucoundihwa) integradas numa das fases
desta prática social (cerimónia de pedido de chuva), estes locais gozam da custódia das
comunidades presentes. Por conseguinte, o respeito comunitário em relação a alguns dos
locais com significado cultural, deriva do facto destes constituírem parte integrante destas
práticas sociais que são, até certo ponto, imprescindíveis para o bem-estar psicológico da
comunidade.

Figura 21 – Costumeira Mbuya Gondo realizando ceremónias na estação de Chinhamapere I


(Com permissão de Tore Saetersda).

(iii) A estrutura política tradicional responsável pela gestão dos recursos, transmissão e
controle dos usos e costumes por parte dos membros da comunidade sempre existiu e
mantêm-se na essência até aos dias que correm. Esta estrutura político-cultural existente
em Manica (Mambo, Sabuko, Samuthanda, Swikiro, etc.) comprova a sobrevivência dos
53
sistemas tradicionais de gestão dos locais com significado cultural, ao longo dos anos. No
caso vertente de Chinhamapere, a gestão e controle da estação é assegurada pela
costumeira Mbuya Gondo que exerce o papel de guardiã do património.

Constata-se portanto, pela análise destes três aspectos acima descritos, que a custódia
tradicional das estações com pinturas rupestres localizadas nos montes Chinhamapere e
Guindingue, assenta num sistema amplo e complexo de crenças, ritos, leis consuetudinárias
que impõem às comunidades o respeito pela natureza, mas sobretudo pelos espíritos
ancestrais. De facto, o sucesso da gestão do património cultural baseada na custódia
tradicional, que ocorre nas áreas rurais, é demonstrado pela contínua existência de estações
com arte rupestre em excelente estado de conservação, apesar de não haver uma
intervenção dos gestores profissionais.

1.2. Combinação dos Sistemas Tradicionais e dos Métodos Modernos na Gestão do PCI

Como foi anteriormente referido, a inclusão da custódia tradicional (ou sistemas


tradicionais) nos mecanismos modernas de gestão, apresenta-se como uma das estratégias
importantes de gestão do PCI em Moçambique, visto possuir inúmeras vantagens, tais como
as que se seguem:

• Permite inverter a ‘tradicional’ tendência de se conceber estratégias de gestão a partir do topo


para a base (métodos pré-concebidos ou universais para a gestão do património) que muitas
das vezes acabam entrando em contradição com os conhecimentos e as práticas das
comunidades locais.

• No contexto da actual Política Cultural de Moçambique – “incentivar as iniciativas de gestão


do património a nível local, de modo a tornar essa gestão mais relevante para as comunidades
locais” (Resolução no 12/97, 1997: 6), o conhecimento das práticas culturais e sociais das
comunidades, afigura-se como um suporte indispensável para uma melhor implementação
desta estratégia. Ademais, é fundamental analisar os mecanismos através dos quais as
comunidades locais têm localmente cuidado do PCI (como é o caso das pinturas rupestres do
distrito de Manica) pois, qualquer plano de gestão que almeje ser bem sucedido, deve ter em
conta todos os elementos integrantes do sistema tradicional já existente.

54
• O exemplo da custódia tradicional das pinturas rupestres no distrito de Manica, mostra que a
autoridade tradicional ou autoridade comunitária, é a estrutura político-religiosa que, pela sua
legitimidade, orienta e representa as respectivas comunidades locais. Atendendo que parte do
PCI insere-se no meio rural (amuralhados Zimbabwe e pinturas rupestres), onde a estrutura
tradicional assume reconhecida importância, facilmente se depreende que a autoridade
tradicional constitui um dos principais parceiros dos gestores não só para a disseminação dos
múltiplos valores das estações, mas sobretudo na elaboração e implementação de qualquer
plano de gestão (Jopela 2006).

A gestão eficiente do PCI existente e identificado, necessita, antes de mais nada, de um


planeamento minucioso das actividades a realizar. Somente com uma gestão planeada é
possível prevenir a decadência ou destruição do nosso PCI quer por negligência ou
ignorância dos seus depositários. No entanto, um dos desafios das actividades de gestão do
património, é motivar os diferentes actores e parceiros (grupos comunitários) para que
sejam os protagonistas da planificação e realizem a sua monitoria e avaliação, de modo a
tornar sustentável o processo de participação comunitária na gestão dos bens imóveis
(Macamo & Saetersdal 2004).

Uma das premissas para uma estratégia adequada de co-gestão do património imóvel entre
as entidades formais (Sector cultural do governo) e as comunidades locais é a educação ou
formação dos vários segmentos sociais das comunidades locais, incluindo educadores ou
professores das escolas. Nesta base, a comunidade, representada em comissões ou
conselhos de gestão, pode beneficiar de uma formação sobre a importância de se gerir o
património cultural bem como os procedimentos básicos a seguir.

Para que haja um interesse por parte da comunidade, as comissões ou conselhos de gestão
devem incluir os representantes dos mais variados extractos comunitários: chefes
tradicionais, membros das estruturas do Governo (Secretário de Bairro), representantes dos
grupos sócio-económicos e profissionais (professores, técnicos do sector da cultura, etc.). É
necessário, sobretudo, mostrar o poder que as comunidades têm de gerar benefícios
concretos para a população, quer sejam financeiros ou outros (educação e cultura) através
de gestão do património cultural.
55
A efectivação de uma estratégia eficiente de co-gestão do PCI implica, igualmente, a
capacitação das comunidades. Esta capacitação deve ocorrer tanto a partir dos técnicos
(gestores da cultura e professores) para a comunidade, como das comunidades para os
técnicos, tendo como base o seu saber tradicional e de acordo com a definição das
prioridades locais. Os técnicos devem contribuir para a formação de organizações
comunitárias (associativismo), assim como na clarificação dos conceitos-chaves e
procedimentos no que concernente à gestão do PCI (Jopela 2010b).

O sucesso desta estratégia de co-gestão depende, igualmente, da representatividade dos


líderes locais na tomada de decisões, que implica, por sua vez, motivação, liderança
comunitária, meios e vontade de aprender. É nesta base que o património, quando
devidamente planeado e gerido, pode trazer benefícios para as comunidades, através do
desenvolvimento dos recursos culturais existentes localmente.

56
Matilde Muocha

2. Gestão do Património Cultural Imóvel no contexto da Educação Patrimonial

A gestão do PCI envolve uma série de processos holísticos e interdisciplinares cuja finalidade
é garantir que os bens patrimoniais sejam preservados para o usufruto das gerações
presentes e futuras. Um desses processos é a educação patrimonial, que, a par com outros
procedimentos de gestão do PCI, constitui uma componente importante no cumprimento
da missão de preservar e valorizar os bens do património cultural. Nesse sentido, a
sensibilização e consciencialização dos membros de uma determinada comunidade sobre
matérias ligadas ao seu património cultural é uma ferramenta que garante a inclusão e
identificação efectiva daqueles em relação aos seus bens culturais. Por sua vez, a educação
das comunidades constitui, igualmente, um mecanismo eficaz de preservação, baseado no
princípio de que apenas é possível cuidar ou preservar um bem patrimonial quando se
conhece o seu valor e significado.

2.1. Sobre a educação patrimonial

Ao se definir o conceito de educação como uma prática socio-cultural, torna-se evidente


que a educação e a cultura (património cultural) não são áreas separadas, podendo
considerar-se que as comunidades sempre levaram a cabo práticas com vista a educar os
membros mais novos das suas comunidades no que se refere a importância do património
cultural ao longo das diversas fases de socialização do indivíduo. A educação patrimonial é,
formalmente, entendida como sendo o uso de técnicas diversificadas de apresentação e de
interpretação dos bens do património cultural, para além da publicação dos resultados das
investigações científicas, visando atingir uma audiência mais ampla, que vai para além do
fórum académico e que respeita as especificidades dessa audiência (Grunberg 2000).

Neste contexto, a educação patrimonial ocorre através da interpretação e da apresentação.


A interpretação envolve uma série de actividades desenvolvidas com o objectivo de
aumentar a consciência pública e fortalecer a sua compreensão sobre os sítios do
património cultural. É feita por via de aulas públicas, programas educacionais formais e
57
informais, actividades comunitárias, pesquisas em curso de carácter inclusivo e formação.
Por seu turno, a apresentação é a comunicação do conteúdo da informação
cuidadosamente planificada, através do arranjo de formas interpretativas e acessos públicos
até aos sítios do património cultural. A apresentação ocorre por via de placas informativas,
exibições museológicas, visitas guiadas, usos de multimédia com conteúdos sobre
património cultural (Jameson 2008).

2.2. Sobre a importância da educação patrimonial

Enquanto as comunidades e o público depositário do património cultural não mostrarem


interesse na preservação e protecção do património cultural, as acções e as políticas dos
gestores (incluindo a legislação) continuarão ineficientes (Chirikure & Pwiti 2008). Para que
uma política de gestão do património cultural tenha sucesso, o público precisa de ser
informado acerca dos bens patrimoniais. Nesse sentido as comunidades devem conhecer a
importância de preservarem o seu passado, o que pode acontecer por via da educação
patrimonial. A partir do momento em que as comunidades têm acesso ao seu património
cultural ocorre um processo de inclusão, o qual garante maior coesão social e a consciência
de pertença local ou nacional. A educação patrimonial permite que os cidadãos possam
conhecer e respeitar a diversidade cultural, cuja solidificação pode constituir-se numa pedra
basilar da solidificação da paz entre os povos.

2.3. Quem faz a educação patrimonial?

Em Moçambique, a educação patrimonial relativa aos bens do PCI é dinamizada por três
intervenientes, nomeadamente:
• Profissionais (gestores ou estudiosos) do património que se encontram em
instituições ou departamentos a nível central (por exemplo Ministérios ou
universidades). Estes profissionais do património desenvolvem um trabalho de
planificação e coordenação das estratégias de educação patrimonial, conhecimento,
estratificação e caracterização do público-alvo, sempre através da realização de
actividades práticas, testando-se o que é aplicável no terreno.
• Profissionais (gestores) do património a nível local (a nível da Província ou Distrito)
que, por se encontrarem no terreno, (próximos dos bens do património cultural),
58
implementam, por iniciativa própria, ou sob supervisão do nível central, as políticas e
estratégias adoptadas no âmbito da educação patrimonial.
• Guias, intérpretes ou educadores19 culturais são igualmente responsáveis pela
educação patrimonial localmente.
• Educadores do sistema formal de ensino a vários níveis, como os professores de
disciplinas de História desempenham um papel importante na educação patrimonial
(Jameson 2008).

2.4. Meios para a educação patrimonial

Distanciando-se do modelo tradicional no qual as informações sobre o significado cultural


do património de uma comunidade ou país são somente do domínio de um grupo restrito
de profissionais do património (comunidade científica ou académica), actualmente a
educação patrimonial tem sido entendida como uma componente importante de gestão do
património cultural, tendo sido desenvolvidas e aplicadas diferentes técnicas e abordagens
sobre a matéria, nomeadamente: a arqueologia académica ou teórica, as perspectivas
comunitárias sobre o passado, o ensino de história nas escolas bem como a apresentação
do passado ao público geral nas exposições museológicas e em locais históricos. Embora as
quatro abordagens possam ter as suas próprias prioridades e agendas, é necessário
compreender que possuem uma base comum de interpretar o passado da actividade
humana (Stone 2005). De igual modo, a prática da educação patrimonial é orientada por
alguns princípios teóricos, nomeadamente:

• Acesso e compreensão: os programas de educação patrimonial devem facilitar um amplo


acesso físico e intelectual aos bens do património cultural por parte do público;
• Fontes de informação: a educação patrimonial deve estar baseada em evidências resultantes
de métodos aceitáveis científicos e académicos;
• Contextualização: a educação patrimonial deve estar relacionada com o contexto social,
cultural, histórico e natural circundante;

19
Segundo Jameson (2008) a tendência de opção por estas últimas designações deve-se ao facto de que, ao
contrário da narrativa de factos, datas e nomes feita pelo guia do património cultural, o intérprete ou
educador cultural é um agente formado para poder oferecer uma experiência de visita e de interpretação
única; ao fim da visita o público deve ter desenvolvido maior relação com o bem visitado, ter situado a sua
integração espácio-temporal na história do bem cultural em causa.
59
• Autenticidade: a educação patrimonial deve respeitar os princípios de autenticidade do bem
cultural;
• Inclusão: a educação patrimonial deve envolver activamente a participação da comunidade
circundante e outros intervenientes, reconhecendo a validade de diversas perspectivas e
interesses sobre o bem, enquanto se encoraja a tolerância e o respeito mútuo;
• Pesquisa, avaliação e formação: o profissional da educação patrimonial deve pesquisar
sempre, formar-se e avaliar o seu desempenho e satisfação pública (Jameson 2005:435).

2.4.1. Simpósios, workshops, e seminários

Tal como é sugerido num dos princípios da educação patrimonial, é importante envolver as
comunidades circundantes e interessadas, directa ou indirectamente, num bem cultural. Os
seminários, workshops e palestras constituem mecanismos de disseminação e compreensão
comum sobre a importância da preservação do património cultural. Em Moçambique, a
prática dos órgãos centrais (área do património cultural do sector da cultura), em realizar
encontros com os intervenientes a vários níveis de gestão do património cultural apresenta-
se, assim, como uma das ferramentas eficazes de educação patrimonial. Os profissionais de
gestão do património cultural a nível local (sectores provinciais e distritais de cultura) usam
os resultados dos seminários e conferências como momentos de educação patrimonial,
tendo como finalidade informar os intervenientes sobre o significado dos bens culturais
existentes e da forma como estes devem ser protegidos e promovidos.

2.4.2. Currículo Escolar

A Educação Patrimonial, através do currículo escolar, envolve a utilização, pelos docentes,


dos bens culturais como recursos pedagógicos. Na sala de aulas, o docente poderá
relacionar as suas matérias com os bens culturais imóveis a que os estudantes têm acesso
na sua região. A outra estratégia a ser usada pelo docente consiste em levar os estudantes a
visitar os sítios do PCI. Nos casos em que o sítio de PCI tem serviços educativos bem
estabelecidos, a missão de informar sobre o bem cultural não será do docente
acompanhante dos estudantes mas sim do guia, educador ou intérprete cultural do sítio.
Todavia, nos casos em que o sítio de património cultural não tem serviços educativos, o
docente deve procurar informar-se sobre os bens culturais a visitar para além do que vem

60
descrito nos manuais escolares. A este nível é importante que o docente faça interacção
com os investigadores e gestores do património cultural que possam existir, quer a nível
central como localmente (na província ou no distrito). A inclusão dos bens do PCI como
recursos de educação, localmente, contextualizados permite que os formandos cresçam
com um sentido de salvaguarda e preservação cultural dos seus bens culturais.

Figura 22 - Estudantes da Escola Primária de Goba, Província de Maputo, em visita de


estudo na Fortaleza de Maputo, na Cidade de Maputo
(Foto de Matilde Muocha).

2.4.3. Publicações simplificadas

Um dos principais constrangimentos para uma educação patrimonial efectiva tem sido a
natureza sofisticada e complexa das informações sobre os bens do PCI, por resultarem das
investigações científicas, sendo inacessíveis ao consumo público, em geral. A solução
sugerida seria a adopção de publicações simplificadas, as quais colocam a informação em
linguagem de fácil compreensão e direccionada para faixas etárias devidamente
identificadas. O uso das publicações em Banda Desenhada é um exemplo de simplificação
da informação para consumo massivo de matérias ligadas ao PCI. Os panfletos, folhetos,
cartazes, brochuras e o recurso às tecnologias de informação, como telefones celulares,

61
para disseminação do património cultural constituem outras soluções de publicações
simplificadas.

2.4.4. Meios de comunicação social

As rádios comunitárias são importantes meios de disseminação do significado do património


cultural por terem um grande impacto no público que se pretende educar: as comunidades
circundantes. Acima de tudo, os conteúdos das rádios comunitárias são desenvolvidos pelos
membros da comunidade e sobre matérias da comunidade. As rádios comunitárias são uma
grande oportunidade para que os profissionais envolvidos na gestão do património cultural
possam fazer a educação patrimonial, criando conteúdos de programas baseados em bens
do PCI daquela comunidade. É necessário, portanto, sensibilizar os jornalistas através de
palestras ou mesmo através da introdução de módulos relacionados com o património
cultural moçambicano no currículo dos cursos de jornalismo.

2.4.5. Uso de Placas de identificação e interpretação

A educação patrimonial abarca ainda o uso de placas de identificação e interpretação do


PCI. As placas possibilitam ainda a protecção e a apresentação in situ dos bens culturais
imóveis, sendo subdivididos em quatro tipos, nomeadamente:
o Placas de Sinalização: cuja função é mostrar a localização do bem do PCI;
o Placas de Protecção: que enunciam a protecção do PCI como património cultural,
havendo necessidade de enunciar na placa a Lei de Protecção Cultural (Lei nº10/88
de 22 de Dezembro);
o Placas Descritivas: Faz a apresentação global do PCI, indicando as suas características
físicas e informações referentes ao seu significado cultural relativamente às
pesquisas efectuadas e outro conhecimento;
o Placas Didácticas: apresenta e interpreta cada elemento integrante do bem do PCI
no seu contexto ou seja in situ (Muocha 2005).

As placas constituem medidas cautelares na gestão do PCI pois estas têm como finalidade
facultar a identificação e garantir a localização dos bens culturais imóveis. A concepção das
placas deve levar em conta, para além dos resultados das pesquisas, estudos contextuais da
62
realidade físico - ambiental da zona onde o bem cultural imóvel se localiza, a coordenação
com as estratégias do código de sinalização rodoviária da administração nacional de
estradas, bem como ir de encontro com a organização espacial do sítio onde se encontram,
a fim de salvaguardar a integridade física do bem e a protecção do visitante (Muocha 2005).
Por essa razão, a colocação das placas de identificação não deve ser encarada, por si só,
como uma solução para a preservação dos bens patrimoniais. É igualmente importante
conjugar com as demais medidas de conservação já sugeridas.

Figura 23 – Placa de Protecção da estação arqueológica da Matola, Província de Maputo


(Com permissão de Emanuel Dionísio).

A identificação de meios e estratégias para a educação patrimonial é um desafio que se


coloca aos profissionais da gestão do PCI e à todos os demais actores envolvidos. Os
profissionais da área da gestão do PCI devem estudar constantemente os bens culturais que
pretendem preservar e, sobretudo, desenvolver a capacidade de identificar as
potencialidades culturais e criativas do seu meio envolvente e aproveita-las ao máximo para
a educação pública sobre o património cultural. No entanto, a preservação não diz respeito
apenas aos profissionais do património cultural. É uma tarefa de todos, pois para além do
conhecimento técnico e dos recursos financeiros necessários para levar a cabo acções de
prevenção e mitigação de danos no PCI, a sua gestão requer acima de tudo um esforço
colectivo (de todos os depositários bem como dos cidadãos, de forma singular ou colectiva).
63
As acções e intervenções dos especialistas ou dos gestores profissionais do património
cultural serão sempre necessárias. Contudo, se não houver uma cooperação efectiva de
todas as partes interessadas, os esforços dos gestores e de outros profissionais em
preservar o património serão sempre inúteis.

A consciência do público em geral passa pela necessidade de responder a perguntas do


género: o que posso fazer para proteger o meu património? Eis algumas sugestões de
resposta à esta pergunta que sugere comportamentos e acções a serem evitados cada vez
que se entra em contacto com um bem do PCI:

• Subir, escalar, ou usar partes de monumentos como local de


repouso.
• Gravar ou marcar (nomes, assinaturas, recados, etc.) nas
paredes, colunas de monumentos ou outros bens patrimoniais
(paredes de edifícios, rochas, estátuas, árvores, etc.).
• Abater árvores ou praticar queimadas em áreas circundantes a
estações arqueológicas (montes com pinturas rupestres, regiões
circundantes de amuralhados, abrigos rochosos, etc.).
• Depositar lixo ou deixar objectos estranhos (que não fazem parte
do contexto original do imóvel) em locais com bens do
património cultural.
• Levar objectos (pedras, cacos de olaria, missangas, objectos de
ferro, etc.) que fazem parte do bem patrimonial.
• Comprar objectos com valor arqueológico de proveniência
duvidosa (Jopela 2007, 2010d).

64
Kátia Filipe

3. Turismo Cultural no contexto da Gestão do Património Cultural Imóvel

O turismo tem sido cada vez mais visto como uma actividade impulsionadora e
incontornável no contexto de acções conducentes à conservação da natureza e à
preservação da cultura. Constitui, igualmente, um factor essencial para muitas economias
nacionais, regionais e mundiais, podendo ser um factor catalisador do desenvolvimento
sustentável, quando adequadamente gerido (Robinson & Picard 2006).

Uma das principais motivações de um turista é conhecer a cultura, a história, o artesanato, a


gastronomia, os costumes e as variadas manifestações artísticas das comunidades que
visita. É, portanto, no contexto desta necessidade que se desenvolve o turismo cultural,
entendido como a forma de turismo que busca, de entre outros objectivos, o conhecimento
do património cultural, tangível e intangível (Silva 2003). Assim, a prática do turismo
cultural coloca o turista em contacto com a história, com as identidades culturais e com os
bens patrimoniais das comunidades visitadas.

Nesta perspectiva, facilmente se depreende que o turismo cultural oferece oportunidades


para a valorização e revitalização dos bens do património cultural, muitas vezes passados
despercebidos, muito por culpa da dinâmica do nosso dia-a-dia. Imbuídos pela agitação das
nossas actividades quotidianas, não reparamos ou se o fazemos, não valorizamos os
testemunhos materiais da nossa história, que podem ser edifícios, estátuas, murais,
monumentos, etc. A vontade de perceber um pouco mais sobre a história que estes bens
imóveis transmitem, pode despertar-nos a necessidade de uma maior valorização do nosso
património e assim, não esperarmos que o turista seja apenas quem vem de fora, mas
primeiro e sobretudo, nós mesmos (Jamieson 2000).

Deste modo, o desenvolvimento do turismo cultural, contribui acima de tudo, para que se
dê a conhecer a realidade e a riqueza do património cultural de uma comunidade, de um
país, de uma região. Através destas actividades, a história de domínio local passa a ser mais

65
abrangente, mais conhecida e, consequentemente, mais pessoas ficam desejosas de
conhecer esta parte da história. É assim que um determinado local, uma paisagem, um
monumento, ou objecto de museu se pode tornar foco de atracção turística, dinâmica essa
que passa pela criação de infra-estruturas, como casas, hospitais, hotéis, estradas, pontes;
pela melhoria nos sistemas de saneamento, de abastecimento de água, no fornecimento de
energia eléctrica, no acesso às tecnologias de informação, com destaque para as redes de
telefonia móvel, fixa e Internet, entre outros aspectos conducentes á um cenário de
desenvolvimento local.

O turismo cultural possui um número considerável de impactos positivos que o


transformam numa fonte importante de desenvolvimento económico e social para as
comunidades. Contudo, quaisquer que sejam as motivações e os benefícios, um
desenvolvimento não planeado e até certo ponto descontrolado do turismo cultural podem
resultar em danos irreparáveis ou mesmo na destruição completa dos bens imóveis do
património cultural.

Na tabela abaixo, é possível verificar alguns dos prós e contras do desenvolvimento de


actividades ligadas ao turismo cultural.

IMPACTO DO TURISMO CULTURAL


Positivo Negativo
• Aumenta os atractivos de investimento • Leva a uma excessiva comercialização da cultura
(local e externo) na região através do (objectos patrimoniais vendidos como
aprovisionamento de condições/serviços. lembranças aos turistas).

• Reforça o sentido de identidade da • Deslocação das populações residentes para a


comunidade com os bens culturais do construção de infra-estruturas (conflitos de terra
património aí existentes. entre os diferentes actores interessados).

• Proporciona novas oportunidades de • Aumento do movimento populacional, o que


emprego, actuando assim como mais um pode contribuir para a degradação de alguns
suporte da economia local. valores culturais locais (normas tradicionais
locais, aumento de práticas criminosas, entre
outros problemas sociais).

66
• Actua como um mecanismo que reforça • Cria um elevado custo de vida para as
a afirmação da identidade cultural da comunidades residentes em virtude de vários
comunidade e a sua auto-estima, serviços (aluguer, alojamento, alimentação,
encorajando os esforços do Governo de artesanato) se direccionarem para um público
preservação do património cultural. financeiramente mais capacitado (turista).
• Reduz a sazonalidade e a vulnerabilidade • Excesso de exploração dos recursos leva a uma
do sector do turismo transcendendo ao degradação do ambiente natural (terra,
tradicional turismo de verão (sol e praia). paisagem) e cultural (património cultural
tangível e intangível) (Robinson & Picard 2006).

Para que o turismo cultural contribua efectivamente para o desenvolvimento sustentável


das comunidades, onde o bem patrimonial se encontra inserido, existem certos requisitos
que devem ser satisfeitos, nomeadamente:

− A conservação dos bens patrimoniais existentes (planos de gestão simples e


realísticos para os locais que se pretende desenvolver com fins turísticos);
− Divulgação de uma interpretação correcta do património (através de centros de
interpretação, colocação de placas de identificação e interpretação, publicação de
panfletos e brochuras, entre outros meios de divulgação);
− Providência de experiências autênticas ou únicas aos visitantes/turistas
(envolvimento do turista em aspectos como pequenos rituais ou cerimónias
tradicionais locais passíveis de fazer parte do pacote turístico da visita ao bem do
PCI);
− Incentivos para a arrecadação de receitas relacionadas com o património cultural
(inclusão de imagens ou réplicas dos bens patrimoniais em diversos objectos de
artesanato como esteiras, camisetas, camisas, capulanas ou chapéus produzidos
localmente).

O turismo cultural não diz respeito somente a uma estratégia de gestão e apresentação dos
valores do património cultural. Deve estar também devidamente enquadrado na actividade
turística de toda a região (Distrito, Província), tendo em conta:

− Os benefícios económicos e sociais concretos a serem alcançados;


67
− A providência de recursos financeiros para a protecção dos bens patrimoniais;
− A promoção e as acções de Marketing a nível regional, nacional e internacional dos
bens patrimoniais existentes.

Assim, um dos maiores desafios para o sucesso desta actividade, que é o turismo cultural,
consiste em assegurar o envolvimento efectivo dos vários actores que contribuem para o
desenvolvimento do turismo no geral, nomeadamente:

o Sector Público - Entidade reguladora dos vários sectores: provedor de infra-estruturas


como vias de acesso; autoridade que zela pela conservação do património cultural e
natural; autoridades ligadas ao turismo, etc.

o Sector Privado – Operadores turísticos como é o caso das agências de viagens; gestores
ou empreendedores nas áreas de hotelaria; companhias aéreas; os mass-media (rádio,
televisão, revistas); Organizações Não Governamentais (ONG’s) que desenvolvem
actividades nos diversos campos e que interagem directamente com as comunidades
depositárias do património, etc.

o Comunidade Local - Representada pelos diferentes segmentos e estruturas responsáveis


pela comunidade no seu todo (comités de gestão), como é o caso de líderes
comunitários, anciãos, estruturas partidárias, professores, empresários, comerciantes,
etc.

o Comunidade Científica – Gestores profissionais do património cultural, académicos e


investigadores (arquitectos, arqueólogos, historiadores, antropólogos, etc).

o Parceiros Internacionais – Entidades e iniciativas com interesse em contribuir para a


gestão do património cultural, como são os casos de algumas agências internacionais.

68
Para além do envolvimento efectivo dos diferentes intervenientes e interessados no
desenvolvimento do turismo cultural, o desenvolvimento sustentável desta actividade
apresenta outros desafios, nomeadamente:

• Integração – Os interesses das comunidades locais, as necessidades de conservação


do património cultural e os interesses turísticos devem ser salvaguardados através
de uma integração dos planos do turismo cultural no processo de planificação e
definição de estratégias de desenvolvimento a vários níveis (Localidade, Município,
Distrito e Província).

• Planificação – Constitui uma importante ferramenta administrativa, tendo como


uma das principais funções, a adopção de caminhos que possibilitem a utilização dos
recursos de forma sustentável (primando sempre pela sua preservação).

• Avaliações do impacto – Para que as comunidades desenvolvam planos e políticas


que vão de encontro às suas necessidades, respeitando o seu património tangível e
intangível, elas têm de medir o potencial impacto do desenvolvimento do turismo.
Neste processo o uso de indicadores é essencial para que todos estejam capazes de
avaliar em que medida os objectivos planificados estão a ser alcançados (Jamieson
2000).

Portanto, com o cenário aqui descrito pretendeu-se mostrar que o turismo, além de ser um
instrumento importante de promoção social e dinamização económica, é também, e
principalmente, uma actividade cultural. A gastronomia, música, arquitectura, as lendas, as
danças e os trajes regionais, as paisagens são um ponto de passagem obrigatório para cada
turista. O turismo cultural, mais do que uma actividade económica, é um sustentáculo muito
importante para a valorização e preservação da história local, nacional, regional e mundial.
É por isso que, a correcta conservação e gestão do património cultural tem de constituir, ao
lado de outros sectores de desenvolvimento, como é o caso da educação, uma prioridade
nacional já que atrai uma vasta audiência, possibilitando a manutenção das identidades dos
diversos grupos culturais e a celebração da diversidade cultural.

69
Albino Jopela

VII. Considerações finais

Importa frisar que apesar dos vários esforços levados a cabo com vista à conservação do
património cultural moçambicano, os bens imóveis constituem ainda, na sua maioria, parte
vulnerável do nosso património cultural. Por outro lado, a cada vez maior necessidade de se
conservar os elementos de identidade cultural dos moçambicanos justifica sobremaneira a
pertinência da conservação e gestão do património cultural existente. O Manual de
Conservação do Património Cultural Imóvel em Moçambique apresenta-se como uma
contribuição com vista à facilitação da conservação e divulgação do PCI, tanto pelo governo
(sector da cultura) como pela sociedade civil, instituições privadas, associações ou pessoas
singulares.

A preservação do património cultural constitui um dos temas transversais definidos pelo


então Ministério da Educação e Cultura (MEC) no Plano Curricular do Ensino Secundário
Geral (PCESG). Nesse sentido, o presente Manual apresenta-se igualmente como um
material auxiliar para o sector da educação, na medida em que abarcando os conteúdos
definidos no PCESG (valores culturais do património, respeito pelas tradições locais), o
Manual contribuirá para a aquisição das competências básicas, por parte dos professores,
no concernente à preservação do património cultural moçambicano.

No futuro próximo, seria de desejar a produção de mais materiais do género (manuais de


conservação do património cultural) referentes a outras categorias do nosso património
cultural, como é o caso dos bens culturais móveis (objectos museológicos) ou do património
cultural intangível. Tais manuais, seriam uma mais-valia para a disseminação dos
procedimentos básicos de conservação e gestão do património cultural em Moçambique.

70
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