Entrevista

Ester Cerdeira Sabino

Prezada Profa. Dra. Es-
ter, é uma honra contar
com sua participação
neste curso. Desde já,
agradecemos sua dis-
ponibilidade.
A senhora coordenou a
equipe responsável pelo
sequenciamento ge-
nético do coronavírus.
Como foi realizada a in-
vestigação? E como os
dados genéticos podem
colaborar no contexto
da epidemia do corona-
vírus no Brasil?
Desde a epidemia do
vírus Zika, nosso grupo
de pesquisa vem traba- detectar novas varian-
cimento da população
“A destruição do aumenta as doenças e
facilita a dispersão em
meio ambiente uma epidemia
acaba levando A senhora poderia nos
animais silvestres contar mais detalhes
a terem um maior sobre o projeto de ex-
tensão Plataforma onli-
contato com a ne para suporte a aten-
espécie humana ção dos pacientes com
facilitando que sintomas de COVID-19
na Atenção Primária da
novos vírus pu- cidade de São Caeta-
lem para outras no?
espécies e para os
humanos.”

ódulo 4
lhando em desenvolver tes, para desenvolver
ferramentas de sequen- vacinas e novos testes.
ciamento mais baratas Professora, a partir de
e rápidas para que pos- sua experiência, como
samos responder me- os impactos sociais
lhor as epidemias. Nós e ambientais podem
estávamos trabalhan- causar o surgimento
do com vírus da Den- ou reaparecimento de
gue no Instituto Adolfo doenças transmissí- A plataforma São Cae-
Lutz quando a primeira veis? tano teve o objetivo de
amostra chegou lá para A destruição do meio organizar a atenção
confirmação diagnós- ambiente acaba levan- ao paciente com sín-
tica. Fizemos de forma do animais silvestres a drome gripal para que
rápida porque tínhamos terem um maior contato ele permanecesse em
nos preparado para com a espécie humana casa, mas recebesse o
isso por 3 anos. O se- facilitando que novos atendimento adequado.
quenciamento é impor- vírus pulem para ou- As pessoas entravam
tante para monitorar tras espécies e para os em contato com a pla-
a dispersão viral, para humanos. O empobre- taforma por telefone e

Conceitos básicos de epidemiologia a partir de estudos sobre COVID-19

diretamente pelo siste-
ma online e informavam
os seus sintomas. O
médico no atendimen-
to entrava em contato
com o paciente e verifi-
cava a necessidade de
atendimento imediato
no pronto socorro ou
se o paciente poderia
aguardar a atenção pri-
mária no dia seguinte.
No dia seguinte a aten-
ção primária ia até a
casa do paciente e uma
amostra era coletada e
enviada ao laboratório
do Instituto de Medicina
Tropical. Os resultados
de PCR eram incluídos
na plataforma. Todos os
dias o médico recebia a
lista de pacientes para
quem deveria ligar e
fazer o seguimento. To-
das as atividades eram
monitoradas pelo sis-
tema. Todo o processo
do atendimento foi ma-
peado assim como as
condutas.
Breve Currículo: A
Profa. Ester Sabino se
formou em medicina
em 1984 pela FMUSP e
obteve seu doutorado
em Imunologia no ICB/
USP em 1994. A Livre
Docência foi obtida em
2007 pela Disciplina de
Hematologia e Hemo-
terapia da FMUSP. No
início da sua carreira
ela foi contratada pelo
Instituto Adolfo Lutz
e pela Fundação Pró-
Conceitos básicos de epidemiologia a partir de estudos sobre COVID-19
-sangue-Hemocentro
de São Paulo. Ela co-
laborou intensamente
com o Programa de
AIDS do Ministério da
Saúde do Brasil no es-
tabelecimento de redes
de laboratórios para
realizar testes de carga
viral e sequenciamento.
Em 2006, ela organizou
uma rede de pesquisa
bancos de sangue para
participar do programa
Ela ficou conhe-
cida do público
pelo sequencia-
mento das pri-
meiras amostras
(SARS-CoV-2)
que foram de-
tectadas em fe-
vereiro de 2020.
REDS do NIH com foco
na segurança do san-
gue. Em 2011, ingressou
no Departamento de
Moléstias Infecciosas
da FMUSP e liderou o
estabelecimento de
grandes estudos com
doença de Chagas e
doença falciforme. O
projeto em anemia é
um dos principais estu-
dos de coorte do mun-
do para essa doença,
com cerca de 3000
pacientes recrutados e
em seguimento. Estes
pacientes tiveram seu
genoma sequenciado
completamente atra-
vés da iniciativa deno-
minada Trans-Omics
for Precision Medicine
(TOPMed) do NIH. Ela
atuou como Diretora do
Instituto de Medicina
Tropical de 2015-2020, e
atuou na sua transição
para a Faculdade de
Medicina. Desde então,
ela está empenhada
no esforço internacio-
nal para estabelecer
uma resposta rápida
para doenças emer-
gentes. Neste sentido,
com apoio da FAPESP
e do Medical Research
Center do Reino Unido,
ela estabeleceu no Ins-
tituto de Medicina Tro-
pical o Projeto CADDE,
que está monitorando o
SARS-CoV-2 no Estado
de São Paulo e no Bra-
ódulo 4
sil. Ela ficou conhecida
do público pelo sequen-
ciamento das primeiras
amostras que foram
detectadas em feverei-
ro de 2020. Ela publicou
mais de 250 artigos
revisados por pares e
treinou diretamente
mais de 50 alunos de
pós-graduação.
http://lattes.cnpq.
br/8590492866942091