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recomendações

Atualização de Condutas em Pediatria


nº 74 Departamentos Científicos SPSP - gestão 2013-2016
Maio 2016

Departamento de Medicina do Sono


Higienização nasal
e o sono do bebê
e da criança
Departamento de Infectologia
Profilaxia da
transmissão
vertical do HIV
Departamento de Segurança
Morbimortalidade
por causas externas:
panorama atual

Sociedade de Pediatria de São Paulo


Diretoria de Publicações
R. Maria Figueiredo, 595, 10º andar
04002-003 São Paulo, SP
(11) 3284-9809
recomendações
Departamento de Infectologia

Profilaxia da transmissão
vertical do HIV

A infecção pelo vírus


da imunodeficiên-
cia humana tipo
1 (HIV-1) representa uma
doença pediátrica de grande
quirida (AIDS) de 1980 até
junho de 2012, com um total
de 253.706 óbitos, até de-
zembro de 2011, em todas as
faixas etárias. Nesse período,
importância no mundo, com ocorreram 17.539 casos em
uma estimativa atual de 3,4 menores de 5 anos, 4.435 em
milhões de crianças vivendo crianças de 5 a 9 anos e 2.478
com HIV-1. Apesar do de- em crianças de 9 a 14 anos3.
clínio de novas infecções em O Brasil foi um dos primei-
crianças, os números ainda ros países a garantir a terapia
são alarmantes. Segundo da- antirretroviral (TARV) no
dos do Programa Conjunto sistema público de saúde,
Autoras: das Nações Unidas sobre com acesso universal a pra-
Flávia Jacqueline Almeida e
Heloisa Helena S. Marques
HIV/AIDS (UNAIDS), em ticamente todas as drogas
2011, 330.000 crianças adqui- aprovadas no mundo. Desde
DEPARTAMENTO DE
INFECTOLOGIA
riram a infecção pelo HIV-11. 1996 o Programa Nacional,
Gestão 2013-2016 A grande maioria das hoje Departamento de DST,
Presidente: infecções pelo HIV-1 em AIDS e hepatites virais do
Silvia Regina Marques crianças ocorre por trans- Ministério da Saúde, adotou
Vice-presidente:
Helena Keico Sato missão vertical (TV), duran- a indicação da profilaxia da
Secretário: te a gestação, parto ou alei- TV para todas as gestantes
Irene Walter de Freitas
Membros: tamento. Em 1994, o Grupo soropositivas e recém-nas-
Aída de Fátima T. B. Gouvêa,
Calil Kairalla Farhat, Eduardo
de Estudos Clínicos de cidos expostos ao HIV-1.
Palandri, Eitan N. Berezin, Flavia AIDS Pediátrica 076 (PAC- Atualmente, recomenda-se o
Jacqueline Almeida, Heloisa
Helena S. Marques, Lily Yin
TG 076) demonstrou que o uso de terapia antirretroviral
Weckx, Luiza Helena Falleiros uso do antirretroviral (ARV) combinada (HAART) para
R. Carvalho, Marcelo Otsuka,
Marco Aurélio Palazzi Safadi, zidovudina (AZT) admi- todas as gestantes infectadas
Maria Célia Cervi, Maria Isabel nistrado para mãe e para o pelo HIV-1. Essa estratégia
de Moraes Pinto, Otávio Augusto
Leite Cintra, Regina Célia de M. recém-nascido reduziu de tem grande impacto na re-
Succi, Renato de Ávila Kfouri,
Rosely Miller Bossolan, Sandra
forma significativa a TV2. dução da TV, atingido taxas
de O. Campos, Saulo Duarte No Brasil foram notifica- menores de 2%.
Passos, Seila Israel do Prado,
Sonia Regina Testa da S. Ramos,
dos 656.701 casos de síndro- O Brasil tem como meta
Valter Pinho dos Santos. me da imunodeficiência ad- a eliminação da transmissão
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Departamento de Infectologia

vertical do HIV (menos de manas + nelfinavir (NFV) de


1% de transmissão) até 2015. 12/12h por 2 semanas. O ris- Referências bibliográficas
1. Joint United Nations Programme
As diversas intervenções já co de transmissão intraparto on HIV/AIDS (UNAIDS) [online].
UNAIDS Report on the global AIDS
consagradas e implemen- foi significantemente menor Epidemic – 2012. Disponível em:
http://www.unaids.org/en/media/
tadas no país têm reduzido nos braços com 2 ou 3 medi- unaids/contentassets/documents/
epidemiology/2012/gr2012/20121120_
significativamente os casos camentos ARV comparados UNAIDS_Global_Report_2012_en.pdf
2. Connor EM, Sperling RS,
de TV, com queda de 49% ao com AZT isoladamente, Gelber R, Kiselev P, Scott G,
O’Sullivan MJ, et al. Reduction of
no número absoluto de ca- 2,2% e 2,5% versus 4,9%, res- maternal-infant transmission of
human immunodeficiency virus
sos de AIDS em menores de pectivamente (p=0,046). type 1 with zidovudine treatment.
Pediatric AIDS Clinical Trials Group
5 anos, nos últimos 12 anos. Desta forma, em 2012, Protocol 076 Study Group. N Engl J
Med.1994;331(18):1173-80.
Entretanto, as taxas de TV com a meta de diminuir a 3. Departamento de DST, AIDS e
hepatites virais. Ministério da Saúde
ainda estão acima das metas TV, o Ministério da Saúde [online]. Boletim epidemiológico.
Ano IX – número 01. Disponível em:
de eliminação, com variações acrescentou NVP ao es- http://www.aids.gov.br/sites/default/
files/anexos/publicacao/2012/52654/
regionais de 2 a 12,5%4-7. quema da profilaxia para boletim_jornalistas_pdf_22172.pdf

Resultados recentes do crianças expostas ao HIV-1, 4. Succi RC, Grupo de Estudo da


Sociedade Brasileira de Pediatria.
Transmissão vertical do HIV no
estudo PACTG 10438 evi- cujas mães não fizeram uso Brasil em 2003-2004. Resultado
preliminar de um estudo colaborativo
denciaram maior eficácia de ARV durante o pré-natal, multicêntrico. J Paranen Pediatr.
2005;6:13.
na redução da TV do HIV ampliando em 2014 para as 5. Succi RC, Kummer SC, Grupo de
com o uso de uma quimio- crianças cujas mães utiliza- Estudo da Sociedade Brasileira de
Pediatria para Avaliar a Transmissão
profilaxia combinada para o ram ARV, mas não têm carga Materno-Infantil do HIV. Avaliação de
um programa para reduzir taxas de
transmissão vertical do HIV no Brasil.
recém-nascido quando com- viral (CV) menor que 1.000 Resultados de um estudo colaborativo
multicêntrico. Na Pediatr (Barc).
parada ao uso de AZT por 6 cópias/mL documentada no 2004;60:80-1.

semanas isoladamente, para último trimestre de gesta- 6. Brito AM, Sousa JL, Luna CF,
Dourado I. Trends in maternal–infant
crianças expostas de mães ção9,10 (Quadro 1). Todos os transmission of AIDS after antiretroviral
therapy in Brazil. Rev Saude Publica.
que não receberam TARV recém-nascidos de mulheres 2006;40:18-22.
7. João EC, Gouvêa MI, Menezes
na gestação. O estudo foi infectadas pelo HIV devem JA, Sidi LC, Cruz ML, Berardo PT, et
al. Factors associated with viral load
randomizado, aberto e multi- receber profilaxia com AZT, suppression in HIV-infected pregnant
woman in Rio de Janeiro, Brazil. Int J
cêntrico de fase III, em que de preferência, imediatamen- STD AIDS. 2012;23:44-7.
8. Nielsen-Saines K, Watts DH, Veloso
foram incluídos 1.746 recém- te após o nascimento (nas 4 VG, Bryson YJ, Joao EC, Pilotto JH,
et al. Three postpartum antiretroviral
-nascidos em quatro países. primeiras horas de vida) e a regimens to prevent intrapartum
HIV infection. N Engl J Med.
Os recém-nascidos elegíveis indicação da associação com 2012;366(25):2368-79.
9. Departamento de DST, AIDS
foram randomizados em três a nevirapina, com início nas e hepatites virais. Secretaria de
vigilância em saúde. Ministério da
braços de quimioprofilaxia: primeiras 48 horas de vida, Saúde [online]. Nota técnica 388/2012.
Disponível em: http://www.aids.gov.br/
AZT de 12/12h por 6 sema- deve ser avaliada conforme legislacao/2012/52297

nas; AZT de 12/12h por 6 os cenários descritos abaixo. 10. Departamento de DST, AIDS e
hepatites virais. Secretaria de vigilância
semanas + nevirapina (NVP) Não há estudos que com- em saúde. Ministério da Saúde
[online]. Protocolo clínico e diretrizes
terapêuticas para manejo da infecção
3 doses; e AZT de 12/12h provem benefício do início pelo HIV em crianças e adolescentes.
Disponível em: http://www.aids.gov.
por 6 semanas + lamivudina da quimioprofilaxia após 48 br/publicacao/2014/protocolo-clinico-
e-diretrizes-terapeuticas-para-manejo-
(3TC) de 12/12h por 2 se- horas do nascimento. A in- da-infeccao-pelo-hiv-em-cria.
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Departamento de Infectologia

dicação da quimioprofilaxia ÆÆRecém-nascido entre 30


após esse período deve ser e 35 semanas de idade
discutida caso a caso, prefe- gestacional: 1,5 mg/kg
rencialmente com o médico IV 12/12h nos primeiros
especialista. 14 dias de vida e 2,3 mg/
Excepcionalmente, quan- kg/dose de 12/12h a
do a criança não tiver condi- partir do 15º dia.
ções de receber o medica- ÆÆRecém-nascido com
mento por via oral ou sonda menos de 30 semanas
enteral, pode ser utilizado o de idade gestacional: 1,5
AZT injetável nas seguintes mg/kg IV 12/12h. Neste
doses: caso não se associa
ÆÆRecém-nascido com a nevirapina, mesmo
35 semanas de idade quando indicada, pois
gestacional ou mais: 3 só está disponível em
mg/kg IV 12/12h. apresentação oral.

Quadro 1 – Indicação de ARV no recém-nascido para a


profilaxia da transmissão vertical do HIV

Cenários Indicação ARV Posologia Duração


total
Cenário 1 Uso de ARV no AZT RN ≥ 35 semanas de idade gestacional: 4 AZT
pré-natal e mg/kg/dose,12/12h
periparto, RN entre 30 e 35 semanas de idade
com carga viral gestacional: 2 mg/kg/dose, 12/12h nos
documentada primeiros 14 dias e 3 mg/kg/dose, 12/12h a
<1.000 cp/mL partir do15º dia
no 3º trimestre RN < 30 semanas de idade gestacional: 2
mg/kg/dose, 12/12h

Cenário 2 Não utilização AZT AZT: AZT


de ARV durante + RN ≥ 35 semanas de idade gestacional: 4 +
a gestação, NVP mg/kg/dose,12/12h NVP
independente RN entre 30 e 35 semanas de idade
do uso de AZT gestacional: 2mg/kg/dose, 12/12h nos
peri-parto primeiros 14 dias e 3 mg/kg/dose, 12/12h a
Uso de ARV na partir do15º dia
gestação, com RN < 30 semanas de idade gestacional: 2
carga viral mg/kg/dose, 12/12h
desconhecida NVP:
ou ≥ 1.000 Peso de nascimento > 2kg: 12 mg/dose
cp/mL no 3º (1,2mL)
trimestre Peso de nascimento 1,5 a 2kg: 8 mg/dose
(0,8mL)
Peso de nascimento < 1,5kg: não usar NVP

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