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2 Biólogo, Doutor em Saúde Pública. Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Universidade de Mogi das Cruzes-SP, Brasil.
E-mail: professorandersonsb@hotmail.com http://lattes.cnpq.br/7821047263385325 https://orcid.org/0000-0002-7463-6971
3 Cirurgiã Dentista. Doutora em Saúde Pública. Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Universidade de Mogi das Cruzes-SP, Brasil.
E-mail: tatianar@umc.br http://lattes.cnpq.br/3863694439137431 https://orcid.org/0000-0003-4966-3633
RESUMO: Este trabalho trata-se de um estudo observacional, analítico, que possui como objetivo
fornecer dados epidemiológicos de casos de dengue no município de São Paulo-SP, pois atualmente
é uma doença emergente, ou ainda reemergente, em diversos municípios de estados brasileiros.
Desta forma foi realizada uma pesquisa bibliográfica utilizando recursos metodológicos na busca de
dados, disponibilizados na Secretaria Municipal da Saúde e Sistema de Informação de Agravos de
Notificação. O município de São Paulo tem notificado continuamente casos autóctones de dengue,
já apresenta o maior número de infectados da doença. A infestação pelo Aedes aegypti e níveis de
transmissão epidêmica são registrados em diversos municípios. Frente a este problema, existe a ur-
gência de ações de saúde pública, é necessária a caracterização da ocorrência da doença na cidade, a
fim de diminuir os impactos sociais e sanitários que ela representa.
Palavras-chaves: Aedes aegypti. São Paulo. Doença transmissível. Reemergente.
ABSTRACT: This project is an observational, analytical study that aims to provide epidemiological
data on dengue cases in the city of São Paulo, as it is currently an emerging or reemerging disease in
several municipalities of Brazilian states. In this way a bibliographic research was done using me-
thodological resources in the search of data, available in the Municipal Health Department and
dengue Information System, already has the highest number of infected of the disease. Infestation
by Aedesaegyptiand levels of epidemic transmission are recorded in several municipalities. Faced with
this problem, there is an urgent need for public health actions, it is necessary to characterize the oc-
currence of the disease in the city, in order to reduce the social and health impacts that it repre-
sents.
Keywords: Aedes aegypti. São Paulo. Transmissible disease. Reemergent.
emergidos no Brasil (ZARA et al., 2016). De acordo com Tauil (2002), o vetor tem
Com sintoma semelhante a outras doenças sido favorecido pelas mudanças ocorridas no
arbovíricas, o diagnóstico da dengue pode ser planeta durante os últimos tempos, com au-
induzido a erro. Através do teste clínico e his- mento populacional e ausência de estrutura
tórico do paciente é possível realizar o diag- adequada nas grandes cidades, isto tem facili-
nóstico inicial, mas somente com exames la- tado a ocupação do mosquito nos Estados
boratoriais a confirmação da doença e do so- brasileiros. A reincidência da dengue torna
rotipo circulante (BRASIL, 2002). A partir do evidente a falta de manutenção das medidas
sexto dia podemos obter confirmação da do- de combate aos mosquitos transmissores; di-
ença através de exames sorológicos que bus- ante disto a Saúde Pública encontra um gran-
cam na amostra a presença de anticorpos con- de desafio para combater este vetor. Desta
tra o vírus da dengue. Técnicas disponíveis forma, as doenças transmissíveis, mesmo
são: inibição da hemaglutinação (IH), fixação sendo controladas e prevenidas, têm se tor-
do complemento (FC), teste de neutralização nado uma referência para estudos de qualida-
(TN) e ensaio imunoenzimático (ELISA) de de vida, por conta dos seus altos índices de
(DIAS et al., 2010). morbidade e de mortalidade, principalmente
Podendo ser realizado a partir do sexto dia em país com fraco desenvolvimento (SPE-
de sintomas, um dos exames mais utilizados é RANDIO, 2006).
o MAC-ELISA, o qual é um exame rápido e Apesar dos esforços que governo brasileiro
útil para a vigilância, que se destina à detecção vem desenvolvendo para o controle de novas
de anticorpos IgM do vírus da dengue em epidemias, através de campanhas de conscien-
soro humano. Outro teste desenvolvido para tização no país, a dengue evoluiu de um baixo
detecção da doença é o imunocromatográfico estado de dengue endêmica para hiperendê-
que se baseia na utilização de tiras de um ma- mica (BRASIL, 2010). O combate ao mosqui-
terial suporte, impregnadas com reagentes to é a principal alternativa de prevenção da
secos que são ativadas pela aplicação de amos- doença. Entretanto, o controle do mosquito é
tras fluidas, disponibilizando assim o resulta- difícil, visto que ele é considerado doméstico e
do mais rapidamente, porém seus resultados extremamente adaptável ao ambiente das ci-
precisam ser confirmados por técnicas mais dades (BRASIL, 2001).
sensíveis (DIAS et al., 2010; SILVA et al., O Município de São Paulo-SP possui uma
2011). população de 43.944.714 habitantes, área de
Os primeiros indícios relacionados ao 248.219,63 Km2, taxa de urbanização de
mosquito em terras brasileiras datam de mea- 96,42%, mais de 800 mil pessoas entram ou
dos do século XVIII, porém, somente no final saem diariamente da capital (Projeções da
do século XIX que cientistas passaram a estu- Fundação - SEADE, São Paulo – 2018, dis-
dar detalhadamente o inseto, vindo então a ponível em http://www.seade.sp.gov.br). En-
descobrir além de doenças que estes provoca- tre 2000 e 2015, foram registrados 879.505
vam, e formas de combatê-los (TERRA et al., imigrantes no Brasil, dos quais 367.436 apenas
2017). O A. aegypti chegou a ser erradicado do no Estado paulista. Conforme dados do Bole-
país por duas vezes entre 1958 e 1973. No tim Epidemiológico do Ministério da Saúde,
entanto, em1976, ocasionado por falhas na os casos de dengue no ano de 2016 cresceram
vigilância epidemiológica, e crescimento des- 178% em relação a 2014. Em 2015, foram
controlado da população, foram identificados contabilizadas 1.649.008 pessoas infectadas,
os primeiros registros de reintrodução do ve- com 843 mortes confirmadas, contra 473 óbi-
tor no Brasil. (ZARA et al., 2016). tos em 2014 (aumento de 82,5%). Ainda as-
como agentes filtráveis patogênico para hu- anos de 1980 e 1990, à medida que os vírus
manos e submicroscópico. Contudo, apenas com genótipos distintos foram introduzidos,
36 anos após esta observação, foi que se al- o número de países com epidemias foi signifi-
cançou conhecimento tecnológico necessário cativamente alto (RIGAU-PÉREZ et al.,
para desenvolvimento de pesquisas laboratori- 1998). A dengue, durante o século XIX, foi
ais com esses agentes. Foi na década de 1940 considerada uma doença sem regularidade,
que a cepa do vírus foi isolada por Kimura e pois causava epidemias em intervalos de tem-
Hotta, onde foi denominado como Mochizuki po, um reflexo da lentidão do processo de
(BARRETO; TEIXEIRA e GUERRA, 1999). transporte e viagens limitado naquela época,
Sabin e Schlesinger, em 1945, isolaram a porém esse padrão sofreu alterações devido a
cepa Hawai, sendo que no mesmo ano, identi- mudanças ecológicas e o crescimento da ur-
ficaram uma cepa com características antigê- banização, criam condições ideais para o au-
nicas diferentes em Nova Guiné; concluíram mento da transmissão. Hoje, a dengue é clas-
desta forma que são sorotipos do mesmo ví- sificada como a mais importante doença viral
rus, as primeiras cepas foram denominadas transmitida por mosquitos do mundo (WHO,
sorotipo 1 e da Nova Guiné sorotipo 2. 2010).
Hammon e colaboradores, em 1956, durante
uma epidemia de dengue hemorrágica, isola- 3.2 Os casos de dengue no Brasil
ram os sorotipos 3 e 4, definindo-se a partir
daí que o complexo dengue é formado por A dengue apresenta um padrão sazonal no
esses quatro sorotipos distintos, podendo cau- Brasil, com o pico de incidência de casos nos
sar tanto a forma dengue clássica (DC) como primeiros cinco meses do ano devido ao perí-
a febre hemorrágica da dengue (FHD) (TOR- odo mais quente e úmido, típico dos climas
RES, 1998). tropicais (BRAGA; VALLE, 2007). Confor-
Para Maihuru (2004, citado por SILVA, me Consoli e De Oliveira (1994), os primeiros
2013), na enciclopédia chinesa publicada du- indícios do Aedes aegypti em terras brasileiras
rante a dinastia Chin (265 a 420 d.C.), há rela- datam de meados do século XVIII, época em
tos de uma doença com características seme- que era realizado o comércio de negros afri-
lhante a dengue, na época dita como veneno canos como escravos. Porém, somente no
da água. E em 1789 – 1790 é relatada uma final do século XIX que cientistas passaram a
epidemia semelhante a dengue que ocorreu estudar detalhadamente o inseto, vindo então
em Batavia (Jakarta), Cairo e Filadélfia, indi- a descobrir além de doenças que estes trans-
cando que o vírus com ampla distribuição tem mitiam e as formas de combatê-lo. Entre 1950
existido por mais de 200 anos. e 1970 houve a erradicação do Aedes aegypti no
Apesar da circulação simultânea de múlti- Brasil, após intensa ação da vigilância epide-
plos sorotipos do vírus, nas Américas durante miológica no país. Porém, em 1976, por apre-
as décadas de 1950 e 1970, devido a progra- sentar condições ambientais favoráveis, ocor-
mas e erradicação do Aedes aegypti, a dengue re a reintrodução do vetor nos Estados da
manteve-se localizada no sudeste da Ásia. Po- Bahia e Rio de Janeiro (GIRARDI, 2010).
rém, na década de 1970, os programas de con- Em Boa Vista (Roraima), em 1982, foi con-
trole do vetor foram condenados pela Orga- firmado através de exames laboratoriais os
nização Pan-Americana da Saúde (OPAS) primeiros casos de dengue, tendo sido isola-
desta forma foram finalizados, fazendo com dos os soros tipos DEN-1 e DEN-4 (OSA-
que ao final desta década o Aedes aegypti se NAI et al., 1983). Como ficou restrito à região
disseminasse para países americanos. Entre os norte do país, o problema não foi tão grande