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1a edição — 2015
Em colaboração com André Baptista Barcaui, Anna Cherubina Scofano, Dayse Azevedo
Gomes.
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Dedicatória
Apresentação
Introdução
1 | Relação entre coaching e mentoring
Aspectos da sociedade contemporânea
Mudanças no mundo do trabalho
Diferenças entre os processos
Desenvolvimento de competências
Evolução do conceito de carreira
Conceito de carreira na atualidade
Trabalho e carreira para as diferentes gerações
Vantagens e desafios de cada processo
2 | Processo de mentoring
Definição e objetivos
Características do mentoring
Perfil do mentor e do mentorado
Mentoring B2B
A aplicação do mentoring no exercício da liderança
Requisitos ao processo de mentoring
Técnicas do mentoring
Etapas do mentoring
Programas de mentoring
Fatores críticos de sucesso
3 | Processo de coaching
Definição e objetivos
O coaching nos dias atuais: conceito, propósito e fundamentos
Características do coaching
O líder como coach
A formação de um coach profissional
Os tipos de aplicação de coaching
Tipologia
Técnicas de coaching
Etapas de um processo básico de coaching
Riscos do processo
4 | Impactos no desenvolvimento pessoal e profissional
Autoconhecimento
Autodesenvolvimento e autocontrole
Valores e visão de futuro
Plano de ação e ajuste de metas
Gerência do tempo
Conclusão
Referências
Os autores
Apresentação
Você já vivenciou situações em que tais aspectos vieram à tona? Pense um pouco
sobre isso. Muitos profissionais são frequentemente procurados por gestores
interessados em consultorias, treinamentos ou palestras ligados à gestão de pessoas.
Em muitos dos casos, precisam resolver um problema urgente ou algo supostamente
pontual. Trabalhar a motivação dos funcionários, prepará-los rapidamente para
determinada mudança, deixá-los prontos para um novo cargo ou adaptá-los à cultura
organizacional são exemplos de demandas para as quais muitos gestores (ou os ainda
chamados departamentos de RH) recorrem a profissionais externos (consultores,
coaches, palestrantes). Essa realidade ratifica as considerações de Caldas e Wood
Jr. (1999) e de Barbosa (2002), além de ilustrar fortemente a afirmação de Wood Jr.,
Tonelli e Cooke (2012:24), de que “a gestão de pessoas se tornou uma porta
escancarada para a entrada de modismos gerenciais”. Os autores consideram, no
entanto, que, apesar da emergência e da disseminação de práticas de sucesso
duvidoso, é possível reverter a situação. Eles advogam um esforço de capacitação
dos profissionais de gestão de pessoas, tanto de forma específica, nas disciplinas da
área de humanas, quanto de forma geral, em uma perspectiva de negócios. Além
disso, o estímulo ao pensamento crítico, que considera a evolução histórica da área,
os dilemas e os paradoxos organizacionais, bem como as novas tendências, é
imprescindível para alinhar discurso e prática na gestão de pessoas. Assim,
recomendamos que você, leitor, avalie cuidadosamente as necessidades da
organização, no que diz respeito à gestão de pessoas, e as suas próprias, no que se
refere ao desenvolvimento de competências e à gestão de carreira, antes de contratar
um serviço, seja ele coaching, mentoring, consultoria ou cursos de capacitação.
Diante do exposto, você pode estar se perguntando agora se os processos de
coaching e de mentoring não estariam inseridos nessa lógica de modismos
gerenciais. A resposta é sim e não, como veremos a seguir.
Diferenças entre os processos
“Mais do que um jargão”. É dessa forma que Whitmore (2010:XI) abre a
introdução de seu livro. Ele fala sobre a popularização do termo coaching e do risco
que o processo tem corrido de ser mal interpretado ou utilizado de forma
inadequada, tal como outras práticas gerenciais. Da mesma forma, alertamos aqui,
como Rego e colaboradores (2007) o fizeram, para o fato de que os processos de
coaching e de mentoring não estão livres de uma adoção inadequada ou baseada em
moda, o que, para algumas pessoas, pode parecer uma visão muito crítica. A questão
é que até as chamadas revistas de negócios ou literatura pop-management, usando as
palavras de Paes de Paula e Wood Jr. (2002), estão fazendo menção à adoção
indiscriminada e aleatória de processos como o coaching, por algumas empresas. O
uso sem critérios se dá, muitas vezes, em virtude da ausência de um diagnóstico
organizacional. Ocorre em razão do desejo de resolver problemas ou de obter
resultados rápidos. E, como reforçam os autores, “as desilusões ocorrem com
frequência” (Rego et al., 2007:451).
Advogamos aqui que o problema não está centrado nas práticas, ferramentas de
gestão ou processos como coaching e mentoring. Como diz Barbosa (2002,
2003:84), “tecnologias gerenciais [ferramentas, modelos] são, sem dúvida alguma,
instrumentos importantes no mundo corporativo contemporâneo”. A grande questão
reside, sobretudo, nos motivos e no como será a adoção, bem como na escolha e nos
papéis a serem exercidos pelos profissionais envolvidos, o que pode ser verificado,
por exemplo, na pesquisa da American Management Association (AMA, 2008) sobre
atualidades e tendências do coaching em âmbito mundial, no período 2008-2018.
Um dos grandes achados da pesquisa diz respeito ao fato de que, quanto mais claro
for o motivo para a adoção do coaching, maior é a percepção de sucesso, em termos
de resultado do processo. Outros aspectos importantes abordaram o público-alvo
dos processos e a seleção do profissional (coach), seja ele interno ou externo, como
veremos adiante. Podemos dizer que o mesmo se aplica ao processo de mentoring.
Consideramos, portanto, caro leitor, como Wood Jr., Tonelli e Cooke (2012), que
o rumo da área de gestão de pessoas merece reflexões permanentes, mas que não
deve perder a “permeabilidade saudável ao conhecimento gerado no exterior [em
outros países]” (Wood Jr., Tonelli e Cooke, 2012:24). É nesse contexto que os
processos de coaching e mentoring são aqui discutidos.
Coaching e mentoring são termos que ganharam grande repercussão hoje em dia.
O número de cursos, palestras, formações, publicações e sites especializados sobre
o tema é abundante. No entanto, não se pode dizer que são práticas novas. Como
veremos nesta seção, eles ocorrem desde a Grécia antiga. Podemos dizer, de modo
geral, que coaching e mentoring são formas de desenvolvimento de pessoas (Milaré
e Yoshida, 2007; Rego et al., 2007). Entendemos, tal como Vergara (2010:110), que
desenvolvimento “pressupõe a atualização do potencial de todas as dimensões
humanas: física, emocional, intelectual, espiritual”. Sendo assim, coaching e
mentoring não são produtos acabados; ao contrário, são processos. São relações de
troca, ou seja, vias de mão dupla. Mas quais são as diferenças entre os dois
processos?
Mentoring é um processo no qual um profissional experiente assume a
responsabilidade de ajudar um profissional iniciante a melhorar seu desempenho, a
exercer novas funções, a desenvolver sua carreira.
O mentoring possui uma origem muito antiga. Surgiu na antiga Grécia. Os
registros em literatura indicam que seu início nos reporta à Odisseia de Homero,
com origem na lendária Guerra de Troia. Naquele período, Odisseu (Ulisses), rei de
Ítaca, no cumprimento do seu papel, teve de ocupar seu posto, dirigindo-se ao
combate nas frentes de batalhas. Antes de ausentar-se, designou a responsabilidade
dos cuidados necessários aos negócios e a sua família à figura do amigo de nome
Mentor, filho de Alcímon, e de sua confiança, vindo a se transformar no protetor e
conselheiro de Penélope, esposa de Odisseu (Homero, 1974). A partir de então,
aqueles que propiciavam algum tipo de conselho de natureza amiga, sábia,
intelectual, ou de ordem estratégica, voltado aos negócios e à vida, passaram a ser
denominados mentores. A mentoria foi bastante notada em séculos passados.
Transformou-se em um meio comum de repasse de aprendizado e conhecimentos aos
filhos dos nobres, às dinastias, assim como no cristianismo. Filósofos gregos, tais
como Sócrates, Platão e Aristóteles, exerceram com maestria o papel de mentores,
mas nem sempre agradaram a todos, conforme interesses particulares, porém
ampliaram horizontes, visões e contribuíram em essência para o desenvolvimento do
pensamento humano.
De modo geral, podemos dizer que o mentor acompanha, orienta, serve de
exemplo, compartilha informações sobre sua experiência, provoca reflexões. Nas
palavras de Milaré e Yoshida (2007:89), a tarefa do mentor é preparar o indivíduo
para uma “promoção ou para aumentar sua responsabilidade, realizando ajustes finos
referentes às características comportamentais ou desempenho, aumentando sua
exposição às outras áreas da organização”. Mentores podem ser indicados
formalmente pela empresa, caracterizando um processo intencional, ou podem
interagir de forma natural com o outro, caracterizando um processo informal
(Vergara, 2010).
Coaching, por sua vez, é uma relação de parceria entre o profissional e o
indivíduo, que dá suporte ao alcance de resultados, a partir de metas estabelecidas
durante o processo. A essência do coaching é estimular o potencial do indivíduo, a
fim de otimizar sua performance (Whitmore, 2010).
Se considerarmos a lógica e o propósito do processo de coaching, encontraremos
seus primeiros indícios em passagens bíblicas, nas figuras de conselheiros de reis e
governantes. Também encontramos na Grécia antiga, a partir de Sócrates (470
a.C.-399 a.C.) com sua maiêutica – método de fazer perguntas, cujo objetivo era
extrair das pessoas suas próprias respostas –, pois as perguntas são as respostas e,
depois, com seu discípulo Platão (428a.C.-347a.C.), que afirmava que encontramos
a felicidade quando utilizamos nossos talentos na sua potencialidade máxima
(Krausz, 2007).
Etimologicamente, a palavra coaching deriva do inglês coach, que significa o ato
de treinar, ensinar, instruir, preparar alguém. Na literatura especializada e também
nas histórias populares, encontramos diferentes abordagens e explicações para a
origem do termo, com destaque para sua utilização no século XV como sinônimo de
“carruagem de quatro rodas” (koczi), que transportava os passageiros em terreno
áspero, do seu ponto de partida para seu destino final (Hendrickson, 1987). Mais
tarde essa metáfora da carruagem evoluiu para o significado de conduzir alguém na
direção que este deseja ir (Stern, 2004).
Por volta de 1830, o termo coach passa a ser utilizado pelos alunos da
Universidade de Oxford como sinônimo de “tutor particular” – alguém que conduz,
que guia, e por volta de 1831 passa a fazer parte do mundo dos esportes (Weekley,
1967), em que a principal missão do coach, nesse caso o treinador, era de preparar
seus atletas rumo a novos padrões de comportamento, de superações e disposição
emocional a fim de seguir em direção aos objetivos a serem alcançados
(Witherspoon e White, 2003; Wolk, 2008).
Levando em consideração esta analogia, da relação do atleta com seu treinador
(coach), em que o propósito é apoiar a superação de obstáculos e também os
adversários, recorremos a um marco fundamental no coaching: o livro O jogo
interior de tênis, publicado em 1974, no qual o autor Timothy Gallwey (1996:13),
professor de tênis, afirma que “todos os jogos se compõem de duas partes: um jogo
exterior e um jogo interior”, estando, nesse caso, a cargo do técnico, a realização de
perguntas que ampliem a consciência do jogador. Para Gallwey (1996), tanto no jogo
quanto na vida, somos a fonte de respostas para nossas próprias perguntas, que é
premissa básica do coaching.
Na visão de Milaré e Yoshida (2007), o processo de coaching contribui para a
expansão e o aprimoramento de competências, levando o indivíduo de um
posicionamento a outro, tendo como base seus princípios e valores. O coach não
aconselha, orienta ou oferece soluções. Ele formula perguntas de modo a provocar
no indivíduo um movimento constante de reflexão e ação. O coaching é baseado em
sonhos, reflexões, estabelecimento de metas e de planos de ação.
Assim como o mentoring, o processo de coaching pode ocorrer por iniciativa da
empresa, que contrata um profissional externo para prestar o serviço, embora o
coach possa fazer parte do quadro de funcionários da empresa. O processo pode
ocorrer, também, por iniciativa do indivíduo, que contrata diretamente o coach,
independentemente de qualquer ação ou política de gestão de pessoas da empresa.
Apesar de não ser foco deste livro, cabe aqui esclarecer, ainda, o conceito de
counselling, também utilizado no dia a dia das organizações. Counselling diz
respeito a um processo de aconselhamento, direcionado à orientação ou à solução de
problemas. O conselheiro é, em geral, alguém experiente, que pode ser procurado
para o esclarecimento de dúvidas ou obtenção de conselhos. A relação é, portanto,
pontual (Milaré e Yoshida, 2007; Rego et al., 2007). Por fim, cabe mencionar que os
processos de coaching e de mentoring diferem da terapia. Coaching e mentoring
estão direcionados, sobretudo, ao desenvolvimento de competências. Além disso, o
foco é no presente e no futuro. Terapia é voltada para o tratamento de patologias. Seu
foco é, principalmente, no passado, na história de vida do paciente, suas relações
familiares e pessoais (Rego et al., 2007). Um processo, contudo, não invalida ou
limita o outro; pelo contrário, podem ser complementares. Dependendo da situação,
um indivíduo pode ter um mentor ou um coach e, simultaneamente, fazer terapia com
um psicólogo. Cada processo pode contribuir para o crescimento pessoal e
profissional do indivíduo, de forma independente ou complementar, se for o caso.
Nos capítulos 2 e 3, os processos de coaching e mentoring serão explorados de
forma detalhada. Mas, antes de mergulharmos no tema, é importante contextualizar o
desenvolvimento de competências e o de carreira, que são de forma mais explícita a
razão para o surgimento e a disseminação do coaching e do mentoring.
Desenvolvimento de competências
Competência é termo que admite uma variedade de conceitos. Inicialmente
proposto de forma mais estruturada por McClelland, o termo ganhou amplitude
(Dutra, 2007). Podemos dizer que é polissêmico. Para Zarifian (1996) e Le Boterf
(2003), competência está associada a resultados, a entrega, o que complementa as
considerações de Hall (1980), segundo as quais o termo está ligado a responder às
demandas do ambiente.
Estudos sobre competências individuais e organizacionais têm sido alvo de
pesquisadores e profissionais do mercado, sobretudo daqueles que atuam na área de
gestão de pessoas. Moura e colaboradores (2009) e Evaristo e colaboradores
(2009), por exemplo, trabalharam as competências requeridas no mercado
globalizado. Bitencourt (2004), por sua vez, abordou o tema com foco na
aprendizagem organizacional. Já Fernandes, Fleury e Mills (2006) trataram da
relação entre competência, recursos e desempenho organizacional.
Entendemos, assim como Zarifian (1996), que ser competente implica ter
responsabilidade e assumir uma postura reflexiva. Adquirir e desenvolver
competências é, na visão de Le Boterf (1994), um processo pautado na biografia e na
socialização do indivíduo, incluindo sua formação educacional e bagagem
profissional. A competência se manifesta por meio da interação com o ambiente e
com o outro. Como observaram Fleury e Fleury (2004:48), competência está
associada a “saber agir, mobilizar recursos, integrar saberes múltiplos e complexos,
saber aprender, saber se engajar, assumir responsabilidades e ter visão estratégica”.
Considerando o exposto, o coaching e o mentoring são processos pertinentes e que
podem alavancar essa lógica de competências.
Entendemos, também, que a articulação entre as competências individuais e as
organizacionais pode gerar vantagens competitivas para as empresas. Competência
organizacional é um conceito que tem origens na abordagem da organização como um
portfólio de recursos (resource based view of the firm). Como afirmam Fleury e
Fleury (2004), essa abordagem assume que as empresas têm um portfólio físico,
financeiro, intangível, organizacional e de recursos humanos. Ainda na linha
organizacional, podemos destacar o conceito de competências essenciais, proposto
por Prahalad e Hamel (1990), que tem como características os fatos de: oferecer
reais benefícios aos consumidores, ser difícil de copiar e dar acesso a diferentes
mercados (Fleury e Fleury, 2004). A relação entre competências – essenciais,
organizacionais e individuais –, processo de aprendizagem e estratégia
organizacional pode ser visualizada na figura 1.
Figura 1
RELAÇÃO ENTRE COMPETÊNCIAS, APRENDIZAGEM E ESTRATÉGIA
Fonte: Fleury e Fleury (2004:50).
Processo de mentoring
Mentoring. Muitos já ouviram falar. Alguns até já o vivenciaram, embora talvez não
soubessem ao certo de que se tratava. Na realidade, o nome da ação em si não tem
tanta relevância, até porque ela sempre aconteceu sem que necessariamente houvesse
uma terminologia específica. O que importa, de fato, são os resultados que esse
processo pode gerar tanto para as pessoas quanto para organizações, em especial, no
tocante à vida profissional. São reflexões e direcionamentos estratégicos acerca da
própria carreira, aconselhamentos sobre dilemas profissionais, posturas no
desenvolvimento do trabalho, além de insights que advêm do processo de interação
entre mentor e mentorado.
Neste capítulo, aprofundaremos as discussões sobre o processo de mentoring.
Abordaremos inicialmente a definição, seus objetivos e características. Em seguida,
trataremos do perfil do mentor e do mentorado, além do mentoring B2B. Na
sequência, vamos discutir a aplicação do mentoring no exercício da liderança, bem
como os requisitos, as técnicas, as etapas e programas ligados ao processo. Por fim,
abordaremos seus fatores críticos de sucesso.
Definição e objetivos
Como vimos no capítulo 1, mentoring (mentoria) é um processo de
aconselhamento oriundo de indivíduos que detêm maior conhecimento e experiência
que outros. O mesmo acontece entre empresas (mentoring B2B). A seguir, temos
algumas definições do processo.
Entendemos que mentores e mentorados sempre existiram, uma vez que o desejo e
o ímpeto de aconselhar são inerentes às pessoas que gostam do ser humano e
acreditam nele. Provavelmente você, leitor, já teve algum mentor ou atuou com tal.
Vamos ver? Pense conosco.
Em algum momento de sua vida, alguém se aproximou de você a fim de escutá-lo,
de obter informações sobre alguma experiência sua, por conta de decisões a serem
tomadas no âmbito profissional ou pessoal? Lembra-se de ter sido procurado para
que emitisse algum tipo de parecer informal sobre como agir em situações
embaraçosas no ambiente de trabalho, possíveis escolhas de carreira, entre outros
tipos de aconselhamentos? No seu dia a dia, já sentiu uma vontade genuína em
orientar alguém, quanto ao seu desenvolvimento de carreira? Se a resposta for
positiva, certamente você atuou como um mentor. Não importa para quem tenha sido:
parente, amigo, colega de trabalho, ou para qualquer outra pessoa. A intenção e a
atitude do aconselhamento caracterizam seu empenho, interesse e preocupação, no
sentido de que o outro seja mais assertivo e tome decisões mais sábias. O contrário
também é verdadeiro. Se em alguma ocasião você buscou conselhos similares em
momentos de dúvidas, impasses e decisões sobre sua carreira, certamente alguém foi
seu mentor sem que o tivesse percebido.
Na realidade, todos nós provavelmente tivemos ou temos um mentor. Porém, na
maior parte das vezes, isso ocorre de maneira que nos leva a pensar que estamos
simplesmente recebendo dicas. Mas se observarmos bem, parte dessas dicas foram
determinantes em algumas escolhas em nossas vidas. Dessa maneira, alguém atuou
como um possível mentor.
É importante dizer que o fato de ter havido um mentor na sua vida não significa,
necessariamente, o retorno ao mesmo para receber novos conselhos. Podemos
descobrir e encontrar novos mentores, em áreas e segmentos distintos. Isso,
comumente, acontece por conta da evolução humana, seja ela de ordem social,
profissional e intelectual, a qual gera demandas de aconselhamento de natureza
diferente das anteriores. O que importa é que os mentores encontrados possam
contribuir com nosso crescimento por seus conhecimentos e experiências mais
abrangentes. Na mentoria não existe o estabelecimento nem a exigência das seguintes
premissas: (a) um número mínimo ou máximo de encontros (sessões) exigidos à
mentoria; (b) um espaço de tempo mínimo ou máximo entre um encontro (sessão) e
outro; (c) o retorno ao mentor anterior; (d) vários encontros.
Em relação à frequência da mentoria, ressaltamos que, por vezes, somente um
encontro casual, ou mesmo programado, pode ser decisivo para uma tomada de
decisão de grande valor na vida do indivíduo, sem que, necessariamente, existam
outros.
Em paralelo, é importante saber que, ao analisarmos os processos de mentoria,
conseguimos identificar suas distintas tipologias, a saber: (a) natural; (b) intencional;
(c) informal; (d) formal.
Em muitas situações, as referidas tipologias podem acontecer concomitantemente.
Elas podem também ser tratadas, tal como Vergara (2010) o fez, como sinônimos em
casos específicos: mentoria natural e informal, assim como mentoria intencional e
formal.
Segundo Vergara (2010), a mentoria natural é uma responsabilidade espiritual e
psicológica. A mentoria intencional diz respeito ao propósito organizacional de
provocar mudanças em seu pessoal.
Não é difícil a compreensão das diferenças entre a mentoria natural e intencional,
pois os próprios nomes já trazem em si suas respectivas traduções. Vamos detalhá-
los conceitualmente a seguir.
A mentoria natural se estabelece sem artifícios de ambas as partes. Pode
acontecer em qualquer ambiente, fora ou dentro das empresas. Basta que haja o
requisito da afinidade, aquele já visto antes, lembra-se? É uma relação voluntária
que nasce pela empatia e pela vontade de ajudar o outro. Nela, a posição de mentor e
mentorado se estabelece pelas experiências e bagagens individuais a serem
oferecidas.
A mentoria intencional traz em si uma abordagem mais propositiva, e, por
consequência, a intenção de gerar o desenvolvimento das pessoas envolvidas. Isso
não significa que a mentoria natural necessariamente não aconteça; ao contrário,
aliás, ela é comum em diversos cenários, com ou sem o compromisso institucional,
em distintos cenários e organizações.
Segundo Hegstad (1999), a mentoria pode ser apontada como informal ou formal.
No início deste capítulo, mencionamos que, por vezes, elegemos um mentor, e somos
eleitos como mentorados. Na maior parte das vezes, isso ocorre de maneira
espontânea, sem que ambos percebam. Isso revela a mentoria informal, seja dentro
da própria empresa, por gestores mais experientes, ou fora, nos diversos ambientes
de convivência profissional e humana. Todavia, esse tipo de mentoria não possui
uma proposição de aconselhamento estruturada, o que denota um estilo de ação
predominantemente particular e ainda, por vezes, carente de técnicas e tempo
suficiente ao amadurecimento do mentorado.
No tocante à mentoria formal, ela está associada a um processo de
aconselhamento, estruturado com início, meio e fim, e reuniões marcadas com
antecedência. Ocorre tanto dentro quanto fora da empresa, sempre respeitando os
princípios da individualidade e confidencialidade, e se subdivide em dois tipos,
como veremos a seguir:
(a) quando o mentor abraça a mentoria como atividade profissional, devido aos
conhecimentos e experiências adquiridos ao longo de sua carreira, para o
aconselhamento de outros profissionais. É uma atividade remunerada, como
outra qualquer, e pode ser realizada para pessoas físicas e jurídicas.
Atualmente, temos empresas especializadas no mercado que oferecem a
mentoria em questão aos seus clientes;
(b) quando as empresas criam programas de mentoria interna ou externa, e estes se
tornam obrigatórios com foco em resultados. Dessa forma, o funcionário tem de
se organizar e se estruturar para que o processo de aconselhamento supra as
expectativas do negócio.
Caso 1
Pedro, gerente da área de tecnologia da informação (TI) de uma corporação de médio porte, decidiu
montar um negócio, em 2009. Entretanto, não somente sua formação, como sua atuação foram
sempre muito técnicas.
Pedro já era funcionário dessa empresa há 13 anos. Sempre atuou na mesma área. Entrou
como assistente de TI e por seu esforço cresceu a ponto de se transformar em gerente da área.
Foram muitos os desafios, mas ele sentia que trabalhava muito para o reconhecimento interno
existente. A ideia de enviar currículos e tentar uma oportunidade em outra empresa sempre o
acompanhou. No entanto, ele hesitava, porque sempre teve o sonho de abrir um negócio. Mas
como? Para isso teria que deixar seu emprego atual. E como seria a sobrevivência até o negócio
prosperar? Além disso, não tinha experiência alguma em negócios. As únicas coisas de que
dispunha eram o grande sonho e o know-how da mãe em produzir alimentos sem glúten. Sonhava
em montar uma pequena fábrica e, devido à grande procura do círculo minúsculo de clientes de sua
mãe, certamente o caminho seria promissor.
Frente a esse impasse, Pedro ao conversar com um amigo, diretor em outra empresa, recebeu
a sugestão de procurar um serviço de mentoring que, provavelmente, o ajudaria. Durante o
processo de mentoria foi traçado um sistema de aconselhamento quinzenal, em que Pedro, o
mentorado, após cada encontro estaria colocando em prática os conselhos recebidos. Pedro
decidiu montar a fábrica em paralelo ao seu trabalho, até que ela pudesse garantir sua
sobrevivência mínima e dos familiares envolvidos. Nesses encontros de mentoria, foram traçados
objetivos, metas e estratégias com prazos e estabelecimento de prioridades, ou seja, um plano de
ação do novo negócio, porém com aconselhamento de quem já o tinha vivenciado. O negócio
começou em uma casa alugada, e, em 2013, fez a aquisição de um prédio próprio. Em 2014,
possui cerca de 70 funcionários. Pedro pediu desligamento da empresa em 2012, e ainda hoje,
quando necessário, consulta seu mentor para conselhos pontuais. Ele brinca e diz: “Esse é o meu
guru!”.
Caso 2
Yves chegou aos 30 anos, bastante pressionado não somente pela família e pela namorada, mas,
principalmente, por ele mesmo. Vivia a angústia de ter qualificações e ainda estar, nessa idade, tão
perdido no mercado de trabalho. Estava desempregado. A depressão já havia batido à sua porta.
Yves é inteligente e estudioso. Mandou currículos por todos os meios, mas não obteve nada de
forma concreta. O que acontece comigo?, pensou ele. A família indicou terapia. Foi boa, mas não
resolveu a questão. O problema continuava. Yves fez comunicação social, design, fala inglês e
francês fluentemente, sua origem é francesa, além de ser detentor de uma criatividade diferenciada,
porém com uma visão somente técnica. Sua tia, da área de pessoas, sugeriu que fizesse um
trabalho de coaching. Afinal, todos estavam fazendo. Logo, devia ser bom para o sobrinho também.
Todos queriam ajudá-lo. Mas como?
Yves marcou sua primeira sessão. Nela, expôs toda a sua angústia, ansiedade e logo perguntou:
– Então, o senhor vai poder me ajudar? Quando podemos começar o coaching?
O coach em seguida respondeu:
– Lamento. Infelizmente, não posso. O coaching não se aplica ao seu caso. Ele é voltado a
indivíduos que precisam desenvolver competências específicas para aplicação no dia a dia. Você
deve procurar um serviço de mentoria ou encontrar alguém que tenha experiência e possa ajudá-lo
com conselhos adequados. Nesse momento, seu caso é de aconselhamento, voltado à ampliação
da sua visão de mercado, possibilidades e estratégias de inserção dentro dele.
Como você pode ver, grande parte das demandas diz respeito à carreira, o que
nos remete às discussões apresentadas no capítulo 1.
Os aconselhamentos passaram a ser tão úteis na sociedade do conhecimento, que
muitos, quando não os encontram em suas empresas, contratam esse tipo de serviço
por considerá-lo indispensável ao seu desenvolvimento. É o que acontece com a
maior parte dos mentorados. A mentoria se transformou em parte integrante da
estratégia de desenvolvimento de carreira de muitos profissionais que estão
dispostos a aprender e a minimizar a margem de erro em suas ações.
Mas o processo não ocorre apenas entre indivíduos. Empresas também podem
adotar processos de mentoria. É o chamado mentoring B2B, que veremos a seguir.
Mentoring B2B
A expressão B2B – business to business –, segundo Haig (2001) é oriunda do
comércio eletrônico entre empresas. Trata-se de uma ação de mercado sem a
participação do consumidor. A terminologia B2B associada ao termo mentoring
significa uma relação de aconselhamento de um negócio para outro negócio
(business to business).
Estamos nos referindo ao processo de mentoring B2B no qual se estabelece uma
relação de troca entre empresas maiores (mentoras) e empresas menores
(mentoradas). Esse tipo de aconselhamento sobrevém da relação de negócios entre
organizações contemporâneas, com vistas a resultados que beneficiam ambas as
partes. Trata-se de uma necessidade intrínseca diante das relações de parceria
estabelecidas nos negócios. Dessa forma, os detentores de maior experiência e
conhecimentos repassam a seus parceiros o know-how necessário, a fim de que estes
contribuam para um resultado comum. A intenção é auxiliar e criar uma interação
maior com seus parceiros de negócios, principalmente aqueles que representam um
fator crítico de sucesso para o empreendimento. Um bom exemplo disso é o sistema
de franchising (franquias) no mundo. Os franqueados recebem orientações, além da
padronização dos processos, passando a vivenciar, de maneira contínua, o
aconselhamento. É criado um cenário com estímulo a melhores práticas, troca de
informações sobre as experiências, fóruns e outros eventos oportunos no sentido de
repasse do know-how existente e aconselhamentos importantes na garantia da
sobrevivência da marca.
Parece não haver dúvidas de que o trabalho em redes e cadeias produtivas se
transformou em uma premissa das relações de mercado e do próprio trabalho. Logo,
a troca, o compartilhamento e a construção do conhecimento são vistos como fatores
que contribuem para ganhos com agilidade, produtividade e o desenvolvimento de
todos.
As grandes empresas estão cada vez mais voltadas a pensar sua cadeia de
stakeholders (partes interessadas) no sentido da gestão do conhecimento e na
perspectiva da geração de resultados sustentáveis. Somente assim poderão garantir
sustentabilidade diante de cenários tão imprevisíveis e dinâmicos, ocupando
posições de destaque nas relações de negócios e contribuindo com o
desenvolvimento de sua cadeia produtiva.
O momento global e a sociedade cobram e exigem que as empresas cumpram seu
papel cidadão de forma preventiva e contributiva. A expectativa é de que estejam
voltadas para o cumprimento da sua responsabilidade socioambiental. A mentoria
B2B contribui com essa perspectiva, mesmo que de maneira indireta, como uma ação
de apoio ao crescimento. No momento em que a empresa realiza a mentoria em
negócios de pequeno porte, de certa maneira ela também está contribuindo para a
eficiência e o desenvolvimento de empreendimentos. Por conseguinte, esse tipo de
aconselhamento tem reflexos no estímulo ao aprimoramento e preparo das pessoas,
na manutenção de sua empregabilidade, no avanço tecnológico, na qualidade de vida
e na sobrevivência de pequenas empresas.
Em 2014, a Ericsson, frente ao desafio de convergir TI e Telecom para acelerar o
processo de aprendizagem na empresa, optou pela aquisição de empresas com a
expertise em TI. Seu funcionamento acontece de maneira análoga ao de uma
incubadora, onde os novos integrantes absorvem aspectos da cultura instalada,
aprendem sobre o negócio e são beneficiados com certificações em Telecom. O
caminho inverso também é verdadeiro, tanto para o domínio técnico quanto para
outras habilidades demandadas pela corporação. Essa prática é percebida como um
passaporte para o futuro, que assegura ganhos salariais importantes, crescimento de
carreira para os envolvidos e, consequentemente, o desenvolvimento de pessoas,
constante e focado no business (negócio).
Dessa maneira, a cadeia de stakeholders passa a ter interesses comuns,
principalmente quanto à qualidade da operação e ao aprimoramento humano. A busca
por ganho de agilidade no aprendizado organizacional favorece a absorção de
conselhos dos mais experientes e detentores de conhecimentos específicos ao
negócio.
Até aqui, caro leitor, vimos que a mentoria se aplica tanto a indivíduos quanto a
organizações. Para que ela aconteça, é essencial que o mentor tenha mais experiência
que o mentorado no tema em questão. Nesse sentido, qual a relação entre mentoria e
liderança? É o que veremos a seguir.
A aplicação do mentoring no exercício da liderança
As expectativas em relação aos líderes são enormes. Eles são eleitos como os
responsáveis por gerar resultados; manter o clima organizacional saudável; estimular
e influenciar pessoas; propor desafios, assim como exercer os papéis de agente de
mudanças, cidadão, educador, coach, mentor e gestor. Mas eles existem de fato?
Sim, leitor, pode acreditar. Eles existem. Contudo, nem sempre estão totalmente
preparados para tantos desafios. É bom lembrarmos que o fato de serem gestores, e
legitimados pelo cargo, não significa estarem prontos para o exercício da mentoria.
Frequentemente, os gestores precisam, tanto quanto seus subordinados, vivenciar um
processo como coachee e como mentorado, com a finalidade de que tenham maior e
melhor propriedade em suas ações.
De um momento a outro, os líderes passaram a existir como super-homens e com
superpoderes. Do mesmo modo, as fórmulas mágicas de transformação e
desenvolvimento humano, como o coaching e o mentoring aparecem no discurso das
organizações. A intenção da aplicação da mentoria por parte da área de gestão de
pessoas é sempre boa. Entretanto, somente a intenção não é suficiente. Antes de
qualquer princípio, discurso ou teoria, a essência da liderança se torna
indispensável. É importante que as empresas tenham clareza de condições
elementares de preparação e desenvolvimento de suas lideranças. Os líderes
somente serão coaches ou mentores se houver concretamente um investimento efetivo
e permanente em seu desenvolvimento. Ser um líder mentor implica certos
predicados. Ele precisa despertar nas pessoas a percepção dos seguintes atributos,
além daqueles citados anteriormente no perfil do mentor: credibilidade, respeito,
transparência, competência técnica e comportamental.
A credibilidade está atrelada a um histórico profissional no qual o indivíduo
obteve mais êxitos que fracassos. O líder precisa ter um rastro limpo em sua
trajetória, sem máculas de um caráter duvidoso.
Respeito é a base para todo e qualquer relacionamento. Ele é, normalmente,
conquistado pela maneira pela qual a pessoa interage nas relações interpessoais. É
uma conquista do dia a dia atrelada à conduta ética e à coerência entre o discurso e a
prática.
Transparência representa, em seu cerne, limpidez, ações cristalinas nos objetivos
do trabalho. Esse atributo traz em si a confiança e a segurança que são necessárias
para que as pessoas exponham suas fragilidades e forças, sem o receio de algum tipo
de uso indevido da confiança depositada no mentor.
As competências técnica e comportamental são determinantes nas relações de
mentoria. Dificilmente, aceitaremos conselhos de pessoas que não consideramos
detentoras de um conhecimento técnico mínimo e de uma habilidade interpessoal
diferenciada. Do mesmo modo, os lideres precisam, cada vez mais, desenvolver o
conhecimento técnico e sistêmico em sua área, para uma abordagem mais assertiva e,
por fim, ser gente do bem, com o melhor da essência humana.
É indiscutível a aplicação ativa da mentoria na gestão de pessoas. No mundo
turbulento em que vivemos, com tantas distrações, o líder mentor auxilia o
mentorado a encontrar seu caminho com recomendações especificas e necessárias ao
seu crescimento. Reforça seus sonhos dando maior ênfase no seu alvo de vida
profissional, além de fazer com que se sinta mais seguro em suas escolhas. A
mentoria influencia o desenvolvimento do indivíduo tanto na empresa quanto em sua
carreira. Ambos se beneficiam, mas, como tudo na vida, para uma boa colheita são
necessárias algumas condições e cuidados especiais. Vamos então, leitor, conhecer
alguns cuidados importantes também para a mentoria.
Requisitos ao processo de mentoring
Vimos, neste capítulo, os aspectos fundamentais do mentoring, mas entendemos
que eles merecem um reforço em sua abordagem.
Geralmente, a indicação ou sugestão de mentoria para uma pessoa pode não ser
adequada, já que nem sempre a pessoa em questão está apta ao processo de mentoria
naquele momento de sua vida. É ilusório imaginar que o aconselhamento, por si só,
resolva as questões profissionais das pessoas de forma generalizada. Embora a
mentoria tenha um caráter de eficácia para o crescimento de carreira, nem sempre o
indivíduo está totalmente preparado, com todos os requisitos necessários a sua
realização e absorção dos conselhos. Funciona como os ingredientes necessários a
um bolo. Se faltar algum, certamente, o bolo não ficará a contento.
Por esta razão, não podemos confiar, tampouco afiançar, que o mentoring, assim
como qualquer outro processo de aprendizagem humana, alcance 100% dos
resultados esperados no desenvolvimento de seus participantes. De forma análoga
aos ingredientes do bolo, eles são representados por um conjunto de atributos
comportamentais e de maturidade demandado ao processo da mentoria. Devemos
avaliá-los à luz dos requisitos da mentoria, com vistas à conformidade ou não do
indivíduo ao processo. Mais adiante, leitor, falaremos sobre os principais requisitos
que contribuem para o sucesso da relação entre mentor e mentorado.
Para que você mergulhe um pouco mais na essência desses requisitos, é oportuno
ressaltar que a mentoria não propicia somente o compartilhamento de conhecimentos
e informações sobre experiências, mas especialmente orientações e cuidados a
serem tomados pelo mentorado na sequência dos conselhos obtidos.
A mentoria tem como pano de fundo um processo informal de ensino-
aprendizagem. Não há um roteiro curricular fixo, tampouco uma estruturação formal
de conteúdo. Porém, a aprendizagem, intrínseca a todo ser humano, acontece por
meio de estímulos diversos, mesmo que de maneira inconsciente.
Você já ouviu falar em andragogia? Sabe de que se trata? A teoria da andragogia é
que muitas vezes responde pela iniciativa do indivíduo na busca de um mentor, e por
efeito em seus resultados. O adulto só tem interesse em aprender o que possa
adicionar conhecimentos e experiências aos seus já existentes, o que implica,
diretamente, o porquê da procura da mentoria, visto que ela é rica na abordagem de
temas relacionados ao dia a dia, com possibilidades concretas da resolução de
problemas e utilidade prática com foco na vida pessoal e profissional do mentorado.
Andragogia é o termo utilizado para definir a educação voltada ao adulto.
Entende-se que o adulto precisa de estímulos internos para aprender, tais como:
motivação, necessidade, orientação e prontidão para aprender, e principalmente
enxergar a aplicabilidade prática dessa aprendizagem em seu cotidiano (Knowles,
1980). Difere da pedagogia, que é centrada na experiência do professor e nos
processos pedagógicos. As relações na andragogia se estabelecem em nível
horizontal, como parceiros, em que se considera a independência do indivíduo, sua
capacidade individual e sua competência e direito de escolha. O adulto é
considerado autodirecionado e ciente de suas lacunas, cabendo-lhe escolhas que
verdadeiramente estejam alinhadas com seus sonhos e objetivos profissionais. É o
responsável pela construção do seu próprio currículo de aprendizagem, conforme
descrito por Knowles (1980). Tudo isso facilita nossa compreensão de que a
mentoria está contida na escolha particular, pessoal e intransferível do indivíduo.
Aprender constitui agregar informações, repensar crenças, quebrar paradigmas,
além de estar aberto ao novo. Isso nem sempre é tão fácil ao mentorado. Para tanto, o
mentor tem o papel de instigá-lo e fazer com que pense sobre possíveis benefícios
em termos de futuro, encorajando-o com alternativas para superação dos obstáculos.
Consideramos que a opção pela mentoria tem de fazer parte de uma escolha
adulta, madura e consciente. Portanto, não existem milagres. Este é um requisito
essencial a ser entendido quanto ao processo de mentoria.
Entre as questões abordadas quanto ao processo de aprendizagem na mentoria,
temos em contraponto os atributos comportamentais ditos requisitos da mentoria, de
que tanto falamos. Vamos então, leitor, analisar cada um deles a seguir:
(a) ao mentorado
■ melhoria de performance e possibilidade de crescimento interno;
■ retirada da zona de conforto;
■ ampliação da visão;
■ autoconfiança;
■ sentir-se valorizado como profissional;
■ crescimento humano e como profissional;
■ foco no seu autodesenvolvimento e percepção de necessidades de melhoria;
(b) ao mentor
■ ser reconhecido como uma referência na empresa;
■ conhecimento de pessoas que possam agregar conhecimentos distintos;
■ ser visto como um profissional que contribui com a empresa em termos de
preparo dos demais colegas;
(c) à organização
■ pessoas envolvidas na transmissão de experiências e conhecimentos para o
sucesso do negócio;
■ reflexões em torno de valores e performance para o negócio;
■ construção de uma equipe mais voltada a resultados;
■ aproximação de gestores e funcionários na perspectiva da identificação de
talentos;
■ impulso ao crescimento profissional dos funcionários.
Conforme vimos neste capítulo, a mentoria funciona como uma mola propulsora
direcionada ao crescimento individual e organizacional. Ela tem condições de
transformar aptidões e sonhos em ação e resultados. Como tal, representa o
fundamento a toda e qualquer carreira, visto que nela o indivíduo pensa e amadurece
frente às suas escolhas, na superação dos desafios e intempéries do ambiente de
trabalho.
Portanto, não devemos sobrecarregar as organizações com a responsabilidade da
mentoria. O desenvolvimento dos profissionais independe de suas organizações.
Depende, sobretudo, deles mesmos. A empresa tem um papel parcial no
desenvolvimento humano. Cabe ao indivíduo encontrar seu foco de atuação e
desenvolver o respectivo preparo fundamentado em metas. Em muitos casos, é
comum que profissionais se antecipem às organizações na busca de um
aconselhamento que possa fornecer elementos concretos para aplicação prática e
imediata em suas carreiras. Você já parou para pensar sobre os possíveis ganhos
decorrentes da utilização de mentoria em sua carreira? Fica aqui a sugestão para
reflexão
Neste capítulo, apresentamos a definição e os objetivos da mentoria, além de suas
características. Tratamos da mentoria B2B, bem como das etapas do processo e de
seus programas. No próximo capítulo, aprofundaremos a discussão sobre o processo
de coaching.
3
Processo de coaching
Coaching é uma parceria entre o Coach (profissional treinado para entregar o processo de coaching) e o
Coachee (pessoa que passará pelo processo de coaching), em um processo estimulante e criativo que o
inspira a maximizar o seu potencial pessoal e profissional, na busca do alcance dos seus objetivos e metas, por
meio do desenvolvimento de novos e mais efetivos comportamentos [ICF Brasil, 2014].
Figura 2
OBJETIVOS DO COACHING
Se buscarmos uma conexão para cada um desses propósitos, tendo em vista os
resultados a serem alcançados, poderemos considerar, tomando emprestadas as
palavras de Wolk (2012:13), que o coaching implica ajudar os indivíduos a
“expandir a capacidade de ação efetiva”.
Podemos dizer, de forma geral, que o coaching dialoga com várias áreas de
conhecimento, que, por sua vez, influenciam as diversas abordagens e correntes do
processo, como veremos na próxima seção.
Características do coaching
Entendemos, caro leitor, que as principais disciplinas que emprestam ao coaching
suas contribuições são: a psicologia humanista, a filosofia oriental, o construtivismo,
a programação neurolinguística e a neurociência.
Da psicologia humanista, criada em 1950, cujo foco é tratar as pessoas como um
todo e que tem como principais teóricos Carl Rogers (1970) e Abraham Maslow
(1970), o coaching adota os seguintes pressupostos: (a) o ser e a existência do todo
são uma questão central; (b) o indivíduo é um todo integrado e organizado; (c) a
natureza interna de cada pessoa é, em parte, singularmente sua e, em parte, universal
na espécie; (d) a natureza interior não parece ser intrinsecamente má; é, antes, neutra
ou “boa”; (e) a maneira como as pessoas se sentem é uma perspectiva psicológica
válida; (f) a pessoa é especialista em sua própria experiência; (g) todas as pessoas
possuem a tendência inata de realização; (h) é preferível ter alguma opção a
nenhuma; (i) as pessoas têm opções e desejam fazer essas opções.
Outra contribuição relevante e bastante útil no entendimento dos estímulos que
agem com força sobre os indivíduos, levando-os à ação, é a clássica teoria da
motivação apresentada por Maslow (1954), em que ele define que a existência de
níveis a serem satisfeitos pode ser representada por uma hierarquia das
necessidades, escala de valores a serem transpostos, obedecendo a uma ordem
apresentada em forma de pirâmide.
Na visão da teoria de Maslow (1954), quando o ciclo motivacional não se
realiza, sobrevém a frustração do indivíduo, que poderá assumir várias atitudes, tais
como comportamentos ilógicos, agressividade, falta de interesse, passividade, entre
outros.
Da filosofia oriental, o coaching extrai o princípio do “conhecimento do ser”,
ênfase da ontologia (do grego ontos: ente + logoi: ciência do ser), área da metafísica
que trata da natureza, realidade e existência dos entes. Essa influência, originada na
década de 1960, coincide com a ascensão da psicologia humanista, cujo foco é
entender a vida humana em sua totalidade, considerando o homem em sua
singularidade, totalidade e potencial de desenvolvimento (May, 1974; Maslow,
1970; Rogers, 1970).
Surge daí a base da preocupação com o significado da visão de mundo do cliente,
com a forma como este se apropria do mundo, e com seu modo de ser e estar no
mundo, estando o foco no autoconhecimento e na auto-observação, que se assemelha
à meditação, sem prejulgamento.
O construtivismo, que tem como fundamentação a obra de Jean Piaget (1975), no
contexto dos processos cognitivos, empresta ao coaching a ideia de que o indivíduo
constrói, a partir de suas experiências, sua história e, por isso, a noção de limites e
possibilidades é por ele definida. Nesse contexto, destaca-se o pensamento do físico
e ciberneticista Heinz Von Foerster (2003), que afirma que os indivíduos são cegos
em relação à própria cegueira e só veem aquilo que a experiência elabora. Assim, a
partir dos princípios construtivistas, o coaching desafia o indivíduo a mudar as
circunstâncias e, consequentemente, a mudar a própria vida, estimulando-o não
somente para que faça algo diferente, de forma responsável, mas que olhe cada vez
mais longe, de forma a desbloquear os caminhos.
Já a programação neurolinguística, ou simplesmente PNL, interfere diretamente no
processo de coaching nos aspectos da ressignificação e da comunicação.
Segundo Bandler e Grinder (1986:9) “o significado de todo acontecimento
depende do ‘molde’ (frame) pelo qual o vemos. Quando mudamos de molde,
mudamos de significado”. A essa ação chamamos de ressignificar, que significa
pensar de outro modo, ver novos pontos de vista, considerar outros e novos fatores
para que seja possível modificar as respostas e os comportamentos.
E, por último, podemos citar o estudo do desenvolvimento do raciocínio e o
funcionamento do cérebro, conhecimentos oriundos da neurociência, cujo foco está
nas redes neurais, nas conexões entre as diferentes áreas do cérebro,
neurotransmissores, sinapses, entre outros, que ajudam a equilibrar as emoções e
estabelecer novas conexões neurais que impulsionam pensamentos, crenças e
sentimentos (Rock, 2009).
Considerando as contribuições e a interface das cinco disciplinas apresentadas, o
que podemos depreender é que, na sua essência, o coaching possui uma estrutura
conceitual ampla, que traz em si uma visão aberta da potencialidade, da motivação e
do desenvolvimento humano. Não obstante, as questões teóricas são ainda mais
ampliadas se considerarmos os respectivos desdobramentos no campo das ciências
humanas e sociais.
Agora que você, leitor, foi apresentado ao conceito e aos objetivos do coaching,
bem como a suas características, torna-se necessário abordar o perfil e o papel de
quem o realiza. E, nesse ponto, vamos abordar duas questões: o líder como coach e
a formação de um coach profissional.
O líder como coach
Mintzberg (2004) afirma que a gestão contemporânea é exercida, na maior parte,
sobre as competências pessoais – soft skills –, o que significa trabalhar com
pessoas, fazer negócios, compartilhar conhecimentos, e assim por diante. Já Di
Stéfano (2005) afirma que as principais evidências para a necessidade de um líder
atuar como coach nas organizações são, entre outras possibilidades, gerar equipes
autossuficientes, mobilizar as pessoas em torno de metas, provocar a motivação para
seu crescimento e desenvolver a cultura do aprendizado. Influenciado por esse
contexto, o conceito de líder coach tem sido amplamente estimulado nas
organizações, tendo em vista a possibilidade de os líderes ajudarem a revelar e
desenvolver o potencial das respectivas equipes, à luz dos direcionadores
estratégicos da organização.
Assim, é possível que o papel do coach seja realizado por um gestor, que deve se
posicionar não como um chefe, mas como um facilitador da aprendizagem, sendo
capaz de entender o potencial de seus liderados e de reconhecer seu papel nesse
processo de desenvolvimento, tendo como principais atributos: conquistar a
confiança, trabalhar os valores organizacionais, inspirar a equipe em prol de uma
visão e de propósitos, definir objetivos estimulantes, estabelecer metas desafiantes,
mas exequíveis, estimular e desenvolver a equipe, respeitar as diferenças
individuais, reconhecer o desempenho, dar feedback e, a qualquer momento, ser um
grande apoiador.
Para sua melhor atuação nesse papel, recomenda-se uma preparação prévia e até
mesmo cursos breves sobre técnicas e ferramentas que apoiem o processo de gestão,
diferentemente dos profissionais especializados, para os quais já são definidas
exigências em termos de formação e certificação.
A formação de um coach profissional
Por não se tratar de um método prescritivo, a formação em coaching requer um
processo de educação continuada, ao longo da vida, por meio da vivência de
contextos, experimentação e observação, visando à ampliação do entendimento da
experiência humana. Autores como Kampa-Kokesch e Anderson (2001), assim como
Milaré (2005), recomendam que, além da senioridade, o profissional tenha vivência
organizacional diversificada, garantindo, assim, maior credibilidade, confiança e
resultados. Já Western (2012) entende que coaching deve ser entendido mais como
uma vocação do que uma profissão e, desse modo, para ser bem-sucedido, além do
conhecimento de teorias, métodos, técnicas e ferramentas, o coach precisa trazer à
tona seu eu autêntico e emocional, já que se trata de um trabalho essencialmente
humano-relacional.
Do ponto de vista da formação educacional, existem diversos cursos oferecidos
no mercado, que variam não só na abordagem metodológica, duração e preço, mas
especialmente na qualidade. Também são variadas as opções de credenciamento e
certificação por associações, visando garantir os padrões de excelência e, portanto,
o reconhecimento da prática. Vale, contudo, destacar que, pela diversificação, o
processo de certificação ainda apresenta certa confusão, tornando-se por vezes
questionável (Sherman e Freas, 2004). Não obstante, a certificação é vista como uma
garantia e, portanto, tem sido requerida.
Adicionalmente, é sugerido o aprofundamento em diferentes áreas de
conhecimento e disciplinas, já citadas neste capítulo, e a adoção de algumas práticas
é recomendada para contínuo aperfeiçoamento profissional: supervisão ou
orientação de profissionais mais experientes, sessões com pares ou tríades, leituras,
análises de casos e pesquisas, acessos a blogs e comunidades de prática e
participação em eventos especializados.
Como visto até agora, o coaching é um campo amplo, com fronteiras difusas e
múltiplas identidades. Portanto, classificá-lo não é uma tarefa simples, vistas suas
inúmeras possibilidades de conceituação e tipos de aplicação. Na próxima seção,
dedicaremos a análise às questões sobre modalidades e tipos de aplicação do
coaching.
Os tipos de aplicação de coaching
Adotando o argumento de Wolk (2008), de que o coaching pode ser definido
como uma disciplina, uma arte, um procedimento, uma técnica e, também, um estilo
de liderança, gerenciamento e condução, optamos por analisar sua adoção em duas
perspectivas: a empresarial e a pessoal.
Perspectiva empresarial
Na perspectiva empresarial, o coaching pode ser encontrado nas seguintes
modalidades a seguir apresentadas:
Perspectiva pessoal
Esse mesmo tipo de relação, estabelecida com um profissional externo, também é
adotada para a perspectiva pessoal. O que difere é que, nesse caso, a relação é
estabelecida diretamente entre o coach e a pessoa física, quando esta, seja por
questões pessoais ou profissionais, procura diretamente ajuda profissional, visando
atingir metas pessoais, independentemente de objetivos organizacionais.
Embora mais flexível do que na perspectiva empresarial, o coaching pessoal
pode se estender por muito mais tempo e tratar de questões mais complexas, tais
como mudanças em comportamentos e hábitos, qualidade de relações, qualidade de
vida, entre outras.
Tipologia
Do ponto de vista de sua tipologia, inúmeras são as formas de aplicação do
coaching. Para efeito de destaque, apresentaremos os tipos mais usuais de coaching,
encontrados atualmente no mercado, e, em seguida, descritos e ilustrados com
minicasos vivenciados pelos autores deste livro.
Caso 3
Durante o segundo semestre de 2013, uma empresa familiar, de médio porte, iniciou seu processo
de profissionalização da gestão e preparação da sucessão de três das suas cinco diretorias:
administrativa, comercial e operações.
Com esse intuito, investiu na formação gerencial dos empregados identificados como potenciais
e ofereceu coaching aos executivos, encarregados do processo de transição, todos na faixa dos 60
anos. No entanto, ao longo dos três primeiros meses, foi identificado pelo diretor presidente e pelo
diretor de RH que, em termos de alinhamento e de ação prática, pouca evolução havia sido
alcançada. Dos três diretores envolvidos, apenas um estava ciente do seu papel e desafio. Os
outros dois mostravam-se absolutamente resistentes e céticos. E, ainda mais grave, o resultado
geral da empresa apresentava queda, influenciado pela baixa na autoestima dos executivos e na
motivação das equipes. O clima era parecido com o “fim de um jogo” no qual todos haviam sido
derrotados.
Visando criar um novo ambiente, propício ao processo de sucessão e favorável ao crescimento
da empresa, foi iniciado um processo de business coaching, com a participação não apenas dos
três, mas de todos os cinco executivos da empresa e com o diretor presidente. Assemelhando-se a
uma consultoria de processos, além da definição de um contrato entre todos os envolvidos, e dos
respectivos papéis, de imediato foram realizadas a análise da situação atual e a definição da
situação desejada, que se traduziu na visão de futuro para os próximos cinco anos. Curioso é que
também foi importante desenvolver ou consultar (para os que já haviam desenvolvido) a visão
individual de cada um dos executivos e o quanto cada uma estava alinhada com o momento da
empresa.
Ao longo de quatro meses de coaching, com sessões quinzenais, foram utilizadas técnicas para
engajamento, análise das contribuições individuais e avaliação permanente dos obstáculos e dos
avanços e, por consequência, ocorreu a criação de planos de ação para mitigação dos riscos.
É importante citar que, de forma complementar ao coaching, também foi desenvolvido um
programa de mentoria, o que enriqueceu bastante o processo e abriu espaço para a transmissão de
conhecimentos dos executivos para seus liderados, criando assim maior confiança e credibilidade
entre os envolvidos.
O resultado alcançado surpreendeu a todos, permitindo que o processo de profissionalização e
sucessão pudesse ser finalmente iniciado no segundo bimestre de 2014, com a nomeação do
primeiro sucessor, no caso para a diretoria administrativa. A previsão é de que as duas outras
nomeações ocorram no segundo semestre de 2014. Adicionalmente, o clima organizacional está
bastante positivo e as pessoas compreendem com clareza seus papéis e a importância do
momento para o futuro dos negócios, tendo sido definida a contribuição dos três diretores para os
próximos anos nessa nova etapa das respectivas carreiras – o da área administrativa, recém-saído
do cargo, está estruturando o conselho de administração, e os outros dois – das áreas comercial e
de operações – pretendem atuar como consultores especializados em projetos de expansão dos
negócios.
Atualmente, o processo de coaching ocorre mensalmente, como suporte e reforço ao plano de
ação.
Caso 4
No final de 2013, uma grande empresa nacional realizou sua pesquisa bienal de clima
organizacional e gestão, com o objetivo de avaliar o nível de satisfação dos empregados com as
condições de trabalho e com as práticas gerenciais.
De um modo geral o resultado foi satisfatório, com exceção da área financeira, que no item
“como você se sente em relação ao seu chefe”, apresentou baixa pontuação nos aspectos de
comunicação, valorização e delegação.
Após análise dos resultados, a área de RH conversou diretamente com o superior desse gestor
e concluiu que ele era um profissional experiente, possuía grande capacidade técnica e havia
participado de todos os programas de formação gerencial oferecidos internamente. No entanto, em
função da expansão da empresa, estava vivenciando momentos de grande estresse e,
adicionalmente, estava com uma equipe muito jovem, fato que dificultava, na visão dele, a
possibilidade de delegação. A conclusão foi que, mais do que nunca, o gerente financeiro precisava
de uma ajuda diferenciada para vencer seus desafios.
Após a devolutiva do resultado da pesquisa, o gerente financeiro foi ouvido e convidado a
participar do programa de coaching executivo com o objetivo de receber apoio para aperfeiçoar sua
estratégia de gestão, assim como fortalecer e ampliar seu repertório de competências, visando a
uma atuação mais efetiva, com melhores resultados e menos estresse. De início, ele ficou reticente
com a proposta, mas, ciente da necessidade e se sentindo apoiado pelo respectivo chefe e pela
área de RH, aceitou.
O processo foi definido para um período de nove meses, sendo no primeiro mês, sessões
semanais; do segundo ao sexto mês, sessões quinzenais; e do sexto ao nono, sessões mensais.
Interessante ressaltar que esse formato foi discutido amplamente com todos, de modo a agilizar o
processo e estar adequado à realidade da agenda do executivo.
O processo foi iniciado pela análise dos desafios de gestão da área e do perfil de competências
requerido para a posição. Em seguida, foram aplicados inventários de competências, estilos de
liderança e de inteligência, assim como utilizados os próprios instrumentos internos de avaliação de
desempenho e a pesquisa de clima. Com um bom diagnóstico, foram contratadas as metas e os
pontos a serem trabalhados ao longo do coaching. Nesse momento, o executivo já estava mais
confortável e aberto ao processo, entendendo a contribuição deste para seu dia a dia.
Além do desenvolvimento e fortalecimento das competências de gestão, o processo tem
propiciado ao executivo um espaço seguro de reflexão para discutir suas questões pessoais, do
ponto de vista comportamental e emocional, bem como estimular insights sobre sua relação com
os outros, especialmente no que se refere aos valores, autoridade e formas de relacionamentos,
ajudando-o em possíveis alternativas de ação.
Caso 5
Em geral, a escolha ou a transição de carreira tem sido tema importante para reflexão e tomada de
decisão. Jovens e adultos se questionam sobre as melhores opções para o futuro, considerando o
equilíbrio da vida profissional e pessoal, assim como a satisfação com o caminho escolhido.
Um caso interessante que podemos narrar é o de uma jovem de 27 anos, graduada em letras e
que desde sua graduação não havia atuado em sua área de especialização e não conseguia se
desenvolver. A decisão da graduação foi orientada pelo prazer da leitura e da escrita e não
especificamente pelo interesse em atuar nessa área. Aliás, em função de ser uma pessoa
intelectualmente ativa e curiosa, sempre teve dificuldade de conciliar seus diversos interesses, que
incluíam, além da literatura, os esportes, as artes e as causas sociais.
O processo durou exatamente 12 sessões, cerca de seis meses, com foco em questões
cognitivas e comportamentais. O primeiro passo foi dedicado a compreender o próprio perfil. Além
da construção da biografia, foram aplicadas técnicas e realizados inúmeros exercícios para
mapeamento das competências, análise dos tipos de inteligência e reflexão sobre estilo de vida
desejado. Também foram definidas a visão, missão e mapeamento de valores. O segundo passo foi
dedicado a derrubar o pensamento limitador de que suas escolhas na vida sempre haviam sido
fracassadas e adotar uma crença positiva de que “sou capaz de fazer boas escolhas”.
O trabalho propiciou um “mergulho” na sua essência e uma compreensão melhor de suas reais
vocações, motivações e crenças limitantes, além de ter despertado o interesse em conhecer
algumas experiências reais do mercado de trabalho. Assim, o plano de ação foi construído incluindo
atividades tais como: contatos e entrevistas com profissionais, visitas a empresas e organizações
não governamentais para melhor entendimento das atividades realizadas e seus desdobramentos,
ampliação do networking e a definição de um curso de especialização para aquisição de novas
competências e, consequentemente, ampliação da empregabilidade.
O processo ainda está em andamento, mas, de acordo com suas próprias palavras “sente-se
segura e determinada com o caminho que está construindo”, influenciada por suas descobertas e
crença em sua capacidade de realização.
Life coaching (coaching de vida)
O life coaching lida com todas as questões da vida, sejam pessoais ou
profissionais, ou relativas aos relacionamentos. Inspirados pelo título da música de
Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown (2006), diríamos que se
assemelha a uma viagem ao “infinito particular”.
De modo geral, esse tipo de coaching visa promover o autoconhecimento,
identificar e reconhecer valores, aprimorar e desenvolver habilidades e
comportamentos específicos, superar obstáculos, eliminar hábitos improdutivos e
crenças limitadoras, redescobrir capacidades adormecidas, apoiar estratégias de
crescimento e mudança e, até mesmo, ajudar em tomada de decisões (Ives, 2008;
Grant, 2003).
Caso 6
Certa vez – ano de 2010 – uma profissional da área empresarial decidiu, por recomendação de
amigos que conheciam o processo, buscar o life coaching. Na época, ela tinha pouco menos de 40
anos. Assim como muitas pessoas que buscam essa modalidade de coaching, as razões não
eram muito bem definidas. Havia inquietações ligadas à carreira, a relacionamentos, à vida de
maneira geral. Mudar, de alguma forma, é o desejo ou, pelo menos o discurso, dos que procuram o
life coaching. Ajudar o cliente a identificar suas questões principais e a buscar um fio condutor para
a mudança é uma das tarefas do life coach. Neste caso, não foi diferente.
A empresária era bem-sucedida profissionalmente e tinha independência financeira, mas uma
lacuna na essência. Sempre muito ocupada, cuidava da vida no automático. Nos primeiros
atendimentos, não houve utilização de ferramentas conhecidas do processo de coaching. A arte,
sobretudo a música e a literatura, foi utilizada para colocar a cliente em contato com suas emoções,
para resgatar sua subjetividade. A partir daí, atividades como identificação da missão, da visão, de
valores individuais, diagnóstico da roda da vida, entre outras, contribuíram para desconstruir e
reconstruir sua percepção e seu movimento diante da vida.
Foi um trabalho que durou cerca de dois anos, com vários altos e baixos. Momentos de
surpresa, desânimo, motivação e ação se alternaram durante o processo. Passados quatro anos
do primeiro atendimento, ela continua trabalhando no segmento empresarial, mas abriu outras
frentes profissionais e, sobretudo, está dia após dia alinhando suas ações na vida como um todo
aos seus valores e à sua missão. Hoje, dedica-se à literatura e às artes de forma geral, aos
esportes, a viagens, à gastronomia, ao tempo livre – do ócio, de fato –, à saúde e aos
relacionamentos, sejam eles de amizade, amorosos ou profissionais. Seus valores são: “liberdade
e autonomia; amizade, confiança e cuidado; curiosidade, inquietação e sede de disseminar;
valorização do nome e de reconhecimento do trabalho feito; pulsação, vinculação e emoção na
maneira de se relacionar com a vida e com o outro”. Alinhada a seus valores, sua missão é:
“despertar e provocar as pessoas, a fim de estimular sua liberdade esquecida, acomodada ou ainda
que grita por espaço, ajudando-as a estruturar suas escolhas por meio de uma troca amorosa e
comprometida”.
Sua percepção sobre as contribuições do life coaching pode ser resumida, segundo ela, em
trechos da música Maria, Maria: “passando de uma mulher que não vive, apenas aguenta, para uma
que merece viver e amar como outra qualquer do planeta”.
Caso 7
Três jovens das áreas de design e publicidade decidiram deixar seus empregos formais e criaram
uma empresa, aqui denominada Alpha. Na época, a experiência profissional deles variava entre três
e cinco anos, tendo passado por escritórios e agências do Rio de Janeiro. Eles tinham bons
conhecimentos em suas áreas de formação e trabalhavam duro para aumentar a carteira de
clientes da Alpha.
No entanto, a dedicação dos três parecia ser em vão. Em outras palavras, por mais que
trabalhassem, fechavam poucos negócios. Com frequência, injetavam dinheiro na empresa para
cobrir os custos mensais e mantê-la em funcionamento.
Por indicação de um amigo, procuraram informações sobre coaching. Após algumas conversas
sobre as expectativas dos três jovens e a melhor dinâmica do trabalho, o processo foi iniciado.
Todas as sessões foram conduzidas por uma dupla de coaches com os três integrantes da equipe.
Adicionalmente, dois encontros ocorreram de forma individual, com cada um dos três.
O trabalho durou cerca de cinco meses. Inicialmente, foram discutidas algumas questões sobre
o negócio, que conduziram a aspectos relacionados a: competências, definição de papéis e
responsabilidades, administração do tempo, conflitos, entre outros. No decorrer das sessões, o
foco chegou ao negócio propriamente dito e às alternativas para alavancá-lo. Ao final dos cinco
meses, a equipe já tinha implementado algumas das ações.
Passados três anos, a Alpha vem aumentando paulatinamente sua carteira de clientes, tanto no
Rio de Janeiro quanto em municípios vizinhos. A equipe relatou que as maiores contribuições do
processo de coaching foram a construção de uma identidade da empresa, a clareza quanto à
atuação de cada um e a melhoria do relacionamento interpessoal.
A essa altura, você, leitor, deve estar se perguntando: mas será que todos os tipos
de coaching existentes e oferecidos no mercado seguem um mesmo padrão, um
formato único? Não existem diferenças em suas abordagens? É o que veremos a
seguir.
Técnicas de coaching
Frequentemente, podemos dizer que o processo de coaching obedece a princípios
gerais, normalmente influenciados pelos fundamentos e pelas raízes das diferentes
disciplinas já apresentadas. No entanto, fundamentados pelas ênfases dos seus
pensadores e praticantes, assim como pelos aspectos externos – cultura e contexto –
o coaching se desdobra em diferentes correntes metodológicas e, consequentemente,
em práticas. Assim, vale destacar que não se pode afirmar que uma corrente ou uma
prática seja melhor ou mais eficiente do que outra, já que todos os modelos tratam o
coachee como um todo, definem o indivíduo como foco, acreditam na capacidade de
mudança e incentivam a ação.
Concluído este breve comentário, faremos a seguir uma síntese das principais
correntes metodológicas existentes – a da psicologia positiva; integral; de PNL;
ontológica e ericksoniana – que, em nossa experiência profissional, são
consideradas representativas e influentes no mercado brasileiro. Também
apresentaremos o coaching quanto a suas perspectivas – considerando as
possibilidades de aplicação tanto no mundo empresarial quanto fora dele.
Destacamos que essa visão geral não possui a pretensão de ensinar o leitor a
utilizar essas metodologias na prática, nem de fornecer julgamento ou crítica. Nosso
intuito é somente apresentar as bases referenciais para que seja ampliada a
compreensão das inúmeras possibilidades e potenciais complementaridades da
prática do coaching.
O coaching integral
A abordagem do coaching integral tem como fundamento a obra de Ken Wilber
(2008), pensador contemporâneo, criador do movimento integral, cuja proposta é de
integrar todo o conhecimento humano, como ciência, filosofia, ética, espiritualidade
e arte, cultivando assim o corpo, a mente e o espírito, em busca do equilíbrio e do
desenvolvimento (Wilber et al., 2008).
Tendo como referência esse modelo abrangente, completo e inclusivo, o coaching
integral adota os seguintes princípios básicos:
Chamamos aqui a atenção, caro leitor, para a ampla utilização dos testes de
avaliação tipológica no mundo empresarial, com aplicação não só em coaching, mas
em processos seletivos e, até mesmo, em programas de desenvolvimento, seja em
nível individual, de equipe ou de gestão. Entre outras modalidades, apontamos aqui
o Disc, que é baseado nos fatores de dominância (D), influência (I), estabilidade (S)
e conformidade (C), e o Myers-Briggs type indicator (MBTI). O Disc foi
desenvolvido pelo psicólogo William Moulton Marston (2007), em seu livro
Emotions of normal people, publicado pela primeira vez em 1928, e determina
padrões de comportamento. É indicado para examinar o comportamento dos
indivíduos em um determinado ambiente, a partir da combinação de duas dimensões:
a interna, referente à percepção do poder pessoal no ambiente, e a externa,
percepção da favorabilidade do ambiente. Já o MBTI foi desenvolvido nas décadas
de 1940 e 1950 pelas americanas Katharine Cook Briggs e sua filha Isabel Briggs
Myers, com base nos trabalhos de Carl Jung sobre tipos psicológicos (McCaulley e
Moody, 2001). É um instrumento utilizado para identificar características e
preferências pessoais, a partir de 16 tipos psicológicos, cada um com suas
características, forças e fraquezas, possibilitando a análise da personalidade, do
comportamento, formas de percepção e tomada de decisão, estilos de vida e de
trabalho.
O coaching de PNL
A programação neurolinguística (PNL), surgida na Universidade da Califórnia,
Estados Unidos, é um modelo de comunicação e conduta humana, a partir dos
padrões linguísticos e comportamentais, desenvolvida, na década de 1970, por
Richard Bandler e John Grinder (1986) e com forte influência de Milton Erickson,
psicoterapeuta que também desenvolveu a abordagem ericksoniana do coaching
(Atinkson e Chois, 2011), apresentada logo a seguir.
Por englobar três importantes elementos em seu título: programação, neuro e
linguística, as habilidades de PNL são compatíveis com o coaching que, nessa
vertente, busca compreender o mundo interior do cliente e o ajuda a ver um
problema a partir de posições perceptivas, a partir de fisiologia de linguagens
diferentes: a primeira posição é o “eu”; a segunda posição é como outra pessoa
pensa e sente; a terceira, é a posição sistêmica, que observa tanto a primeira quanto
a segunda, de forma ampliada.
O coaching de PNL pode atuar em mudanças simples e geradoras. A simples tem
como foco o nível do comportamento ou capacidade. Já a geradora está relacionada
ao nível neurológico, na compreensão e mudança das crenças e valores.
O coaching ontológico
Conforme vimos na seção anterior, a filosofia oriental influenciou diretamente, na
década de 1980, a escola do coaching ontológico (ou “coaching do ser”), cujo
precursor é o filósofo chileno Fernando Flores, tendo sido desenvolvida mais tarde
por Julio Olalla e Rafael Echeverría na América Latina (Bloom et al., 2005), e que
trabalha fundamentalmente no “modo de ser” e não simplesmente no comportamento
do cliente, provocando assim mudanças em seus padrões, análises e interpretações.
Nesse contexto, o modo de ser é definido como a interação dinâmica entre a
linguagem, as emoções e a fisiologia (Sieler, 2003).
Segundo Echeverría e Pizarro (1998), o coaching ontológico não é um processo
terapêutico, mas um processo de aprendizagem, que ajuda os clientes a lidar com
seus colapsos. Optar pelo coaching não significa supor que algo não está bem, mas
reconhecer que há coisas a serem aprendidas
De acordo com Flaherty (1999), o foco está em criar um observador mais eficaz,
que seja capaz de questionar as próprias ideias. As palavras são mais do que aquilo
que dizemos; elas significam ação e compromisso com o futuro. E, na sua
abordagem, são considerados seis atos linguísticos básicos: (a) declarações,
afirmações que têm autoridade, são consenso geral e determinam o futuro; (b)
asserções, afirmações sobre as próprias observações; (c) apreciações, que são os
julgamentos e avaliações sobre os outros e sobre nós mesmos; (d) solicitações,
pedidos a outras pessoas; (e) promessas, compromissos de realizar uma ação futura
envolvendo duas pessoas; (f) propostas, promessa condicional a alguém sob
determinadas condições.
Entre outros aspectos, o coaching ontológico é visto como uma alternativa
importante para promover a aprendizagem organizacional, já que seu foco na
conversação pode influenciar as dinâmicas e o desenvolvimento de competências
conversacionais, impactando positivamente no rendimento de equipes (Echeverría e
Pizarro, 1998).
O coaching ericksoniano
Desenvolvido nos anos 1970 por Milton Erickson, médico e psiquiatra americano
conhecido pela sua abordagem não convencional da psicoterapia – pelo uso da
hipnose, PNL, metáforas e histórias. Sua abordagem é focalizada em soluções e
baseada em grande otimismo e fé, e na crença de que as pessoas já têm todos os
recursos dentro de si para que sejam um sucesso (Atkinson e Chois, 2011).
Segundo Atkinson e Chois (2011:30), o foco do coaching ericksoniano está nas
“conversações transformadoras que ajudam os outros a se tornarem seres humanos
totalmente alinhados e com propósitos”, por meio da inspiração e empoderamento.
A abordagem ericksoniana é percebida como uma alternativa para ajudar os
coachees na construção de novos significados, avaliação de valores centrais,
desenvolvimento de visões e mapeamento de opções, e oferece recursos fantásticos
para comunicação e aprendizados inconscientes, tendo como base os seguintes
princípios: (a) as pessoas estão bem como estão, conhecido como princípio do OK-
ness; (b) as pessoas já têm dentro de si todos os recursos de que precisam; (c) a
pessoa sempre escolhe a melhor opção que pode no momento; (d) todo
comportamento tem uma intenção positiva; (e) a mudança é inevitável.
Conforme vimos nesta seção, a corrente metodológica influencia abordagem e
prática do coaching. Entretanto, se o considerarmos como um processo de
aprendizagem, de mudança e abertura de possibilidades, no qual o coachee é o
protagonista de suas escolhas, decisões e resultados, é possível encontrar, nos
diferentes modelos, etapas comuns que apoiam o compromisso e a relação de
confiança entre coach e coache e, consequentemente, estruturam o processo, cujas
etapas serão apresentadas na próxima seção.
Etapas de um processo básico de coaching
Para fins didáticos, apresentamos, na figura 3, as etapas básicas de um processo
de coaching, presentes na maioria dos modelos encontrados no mercado.
Figura 3
ETAPAS BÁSICAS DE UM PROCESSO DE COACHING
Perguntar ao mentorado/coachee sobre uma situação que ele esteja enfrentando e que o esteja incomodando por
não conseguir decidir.
Exemplo: continuar no trabalho atual ou abrir um negócio próprio.
Completar as seguintes frases listando quatro consequências:
■ Se eu optar por continuar no meu trabalho:
■ Se eu optar por sair:
■ Se eu não optar por nada:
Essas questões podem ser passadas ao mentorado ou coachee entre sessões para
serem discutidas no próximo encontro. Em outro formato, podem também ser
trabalhadas durante uma sessão, dependendo da urgência da situação.
Assim como renegar nossas experiências, muitos de nós somos relutantes em
assumir a responsabilidade por nossas escolhas, desejos e medos. Nós temos a
tendência de culpar outros por nossa situação, nos tornando fracos e passivos. Tal
desamparo é uma grande barreira para o crescimento e mudança. A gestalterapia, em
particular, enfatiza que muitas vezes temos muitas opções e muito poder, mas não nos
damos conta disso até que a situação já se encontre no pretérito.
Para assumir responsabilidade por nossas escolhas, existe outro exercício que
pode ser conduzido pelo mentor ou coach em diversas sessões, na medida em que
perceba que seu mentorado ou coachee não consegue progredir em uma
encruzilhada. O primeiro passo é pedir ao indivíduo que descreva as escolhas que
está tendo de enfrentar. Essas escolhas devem ser escritas em um papel em branco
(ou quadro branco) e, ao lado de cada opção, deve ser também escrito o valor que a
pessoa associa a cada uma. Seguindo o exemplo da troca ou não de emprego, o
indivíduo poderia escrever: segurança e liberdade. Depois ele deve escrever uma
visão de sua vida ideal, ou seja, que tipo de vida que ele deseja criar. Os valores
devem estar escritos abaixo da visão.
Feito isso, o coach/mentor deve explorar os valores na forma de forças opostas,
pedindo ao mentorado ou coachee que priorize, ou que literalmente escolha que
valor é mais importante em termos de atingimento de sua visão, isto é, pedir que
escreva a opção escolhida no seguinte formato: “Eu optei por ___________ ao invés
de __________”.
Deve-se trabalhar com o indivíduo de forma que ele possa nomear três objetivos
e um plano de ação que irão contribuir para tornar sua visão uma realidade. Da
mesma forma, trabalhar uma estratégia para gerenciar o valor não escolhido.
Considerando o emprego, caso a liberdade tenha sido escolhida, gerenciar a questão
financeira pode incluir uma poupança durante algum tempo, um trabalho extra ou
mesmo um corte de orçamento. Nada é conseguido por acaso. Devemos buscar as
melhores decisões possíveis com a informação disponível e com a maturidade e
experiência que temos na época em que tomamos a decisão. Fazendo isso, corremos
menos riscos de nos arrepender depois em função das decisões tomadas. O
autoconhecimento é a chave desse processo.
Outra atitude de caráter humilde e que costuma surpreender quem tenta é pedir
feedback voluntariamente. Amigos, familiares e pessoas em quem confiamos podem
ser excelentes fontes de informação sobre nós mesmos. A questão é estarmos
dispostos a escutar. Tentar marcar uma hora para conversar com alguém que nos
conheça e com quem possamos ser honestos a respeito de nossos objetivos pode ser
uma boa opção. Esse exercício pode ser feito em forma de dupla também, em que
dois colegas de trabalho podem se reunir uma vez por semana para trocar ideias,
revezando quanto a quem fica na berlinda. Elogios podem surgir, mas o objetivo
maior não é narcísico. Deve-se procurar por eventuais padrões destrutivos ou
autossabotadores. Como exemplo, é possível que o medo, o sarcasmo, o cinismo ou
a evitação sejam barreiras que nos impeçam de seguir adiante com nossos objetivos.
Se esse for o caso, caro leitor, a tomada de consciência sobre esse padrão de
comportamento é o primeiro passo para a mudança.
Em sessões de coaching ou em trabalhos de mentoring é muito comum também o
uso de instrumentos de autoavaliação. São inventários utilizados para medir uma
variedade de possibilidades sobre o indivíduo de forma que ele possa conhecer
melhor sua personalidade, seus valores, características, pontos fortes e fracos, entre
outras possibilidades. Com tantas opções de instrumentos disponíveis no mercado, a
escolha do melhor instrumento pode ser uma tarefa complicada a princípio. Nesse
sentido, descartando aqueles que não têm validade estatística, são mal desenhados
ou mal administrados, não existe um “melhor dos melhores”. Existem aqueles que
são cientificamente bem construídos e que, não por acaso, possibilitam a previsão do
comportamento futuro. As características de validade e confiabilidade desses
instrumentos acabam por favorecer sua disseminação de forma mais efetiva. No
Brasil, a grande maioria de instrumentos e testes de personalidade só pode ser
aplicada por psicólogos treinados e certificados na ferramenta.
Não existe uma receita fixa e padronizada para incremento do autoconhecimento,
mas existem melhores práticas. Dado o leque de ferramentas disponíveis, a grande
maioria indica que o relaxamento com atenção em nossa própria respiração, a
tomada de consciência de nossos pensamentos e sentimentos e o foco no momento
atual constituem um bom primeiro passo nessa jornada. A curva do aprendizado, no
caso do autoconhecimento, é tremendamente relevante. Significa dizer que quanto
mais nos estudamos, mais aprendemos a como pesquisar no infinito de nós mesmos.
Como diria o escritor norte-americano Richard Bach, em cada escolha que fazemos,
arriscamos a vida que poderíamos ter. Se assim for, a chave para aumentar nossas
chances de sucesso reside em nos conhecermos mais profundamente. Que sejamos
sábios o suficiente para reconhecer e não perder essa chance.
Autodesenvolvimento e autocontrole
Se o autoconhecimento serve como base de nossa sustentação, é por meio dos
mecanismos de autodesenvolvimento e autocontrole que nos lapidamos, que
refinamos e requintamos nossa natureza. São as condições cobradas pela evolução
em direção a um equilíbrio maior, em um processo difícil de rompimento de amarras
e padrões estabelecidos ao longo da vida. Nunca é demais ressaltar que, na busca
pelo aperfeiçoamento contínuo, não existe mágica, ilusionismo, não existe apenas
desejo. Existe trabalho, muito trabalho. Sorte é a resultante de oportunidade mais
preparação. É nesse sentido que o planejamento ajuda muito. Da mesma forma,
devemos ter cautela e conter a ansiedade porque mesmo o mais cuidadoso
planejamento se assemelha mais a uma trilha; nunca a um trilho. Uma trilha denota a
direção, mas não nos prende a um formato fixo e invariável como um trilho. Uma vez
sabedores do que ambicionamos, daquilo que de fato importa e da direção que
adotamos, não podemos deixar de levar em consideração as estratégias que afloram
de forma inesperada e que não foram necessariamente esquematizadas. Segundo
Christensen (2012), em nossas vidas e carreiras, conscientes ou não, estamos sempre
navegando por caminhos que compreendem estratégias deliberadas e alternativas não
antecipadas que emergem. Por último, também não custa lembrar que a busca é, por
vezes, muito mais prazerosa do que a própria conquista.
A premissa por trás do autodesenvolvimento é que o próprio indivíduo perceba e
assuma a responsabilidade e a relevância de seu processo evolutivo. Se
considerarmos que as dimensões da competência de um indivíduo estão relacionadas
à tríade conhecimento, habilidades e atitudes, chegaremos à conclusão de que esse
conjunto exigido de cada pessoa é tremendamente sensível ao contexto e só pode ser
medido em função de seu comportamento observável e de suas realizações obtidas.
São inegáveis os avanços e esforços que vêm sendo feitos pelas organizações no
sentido de promover a capacitação e o desenvolvimento de seus talentos. De antigos
paradigmas de treinamento, passamos a abordagens sofisticadas, com aprendizagem
disponível sempre que solicitada, articulação do planejamento estratégico com mapa
de competências, universidades corporativas, portais da educação, entre outras
iniciativas. Entretanto, sem ignorar nenhuma dessas melhorias, devemos considerar a
ponderação de Drucker (1999), o qual sugere que nós devemos gerenciar a nós
mesmos de forma a estarmos em constante processo de desenvolvimento e nos
posicionando sempre na melhor conformação possível para o trabalho que
esperamos realizar. Sem falar que o tema não está restrito apenas ao mundo
corporativo, dado que o ser humano não é só seu trabalho. Assim, buscar o
autodesenvolvimento é quase uma obrigação ética do indivíduo para consigo, uma
vez que não nascemos com a vocação casmurra de ficar sempre no mesmo lugar
fazendo as mesmas coisas.
Mas no que consiste a ideia do autodesenvolvimento? A ótica mais comum é
aquela que usa como ponto axial nossos chamados pontos fracos. Ou seja, é a
concepção que procura identificar pontos fracos ou os chamados gaps que
possuímos e que poderiam ser potencialmente aperfeiçoados. Tais pontos nos fazem
sentir frágeis, débeis em alguma atividade. Segundo Buckingham e Clifton (2009),
alguns sinais para percepção desses pontos incluem: (a) a ausência de sucesso em
uma determinada atividade; (b) a presença de emoções negativas; (c) a ausência de
envolvimento ou foco; (d) ausência de atração ou de necessidade. A identificação
desses nossos pontos fracos pode ser mais facilmente realizada por meio da
confecção de um diário, onde são registradas todas as atividades feitas em
determinado período e que apresentaram algumas das características citadas. O guia
para a escrita pode ser a atividade em si, mas podem ser também as emoções
percebidas ao desenvolvê-lo, dado que estas são mais acessíveis e, portanto, de
mais fácil reconhecimento.
Uma vez descobertos os pontos fracos, sugere-se um trabalho focado, com base
em uma priorização de pontos ou competências que se esteja querendo desenvolver.
Em geral, é muito difícil melhorar em tudo ao mesmo tempo. Por isso escolher, entre
os pontos fracos percebidos, aquele que nos é mais prejudicial costuma ser uma
tática perspicaz. Cabem, assim, leitor, as seguintes perguntas: esse ponto fraco vale a
pena ser melhorado? Esse ponto fraco pode ser incrementado ou treinado? Até que
ponto essa fraqueza afeta de fato minha vida profissional ou pessoal? Posso me
associar a alguém que tenha esse ponto como uma característica forte? É possível
mesclar meus pontos fortes com meus pontos fracos de forma a balancear uns com os
outros? É possível parar de realizar a atividade relacionada à fraqueza?
Todas essas questões nos ajudam a lidar com nossas fraquezas de uma forma
direta ou indireta, na medida da necessidade e das contingências que se apresentam.
O fato é que nosso processo de autodesenvolvimento passa, algumas vezes, pela
árdua e incômoda análise do que precisamos melhorar. Nem sempre é agradável
reconhecer uma característica negativa ou um chamado ponto fraco. Alguns autores
denominam “pontos de melhoria” ou “oportunidades de melhoria” justamente
visando abrandar o aspecto negativo da questão. Vale a pena tentar.
Seguindo essa sugestão, bastaria a identificação de todos os nossos pontos fracos
e a promoção de um trabalho de aprendizagem na manutenção de competências que
nos elevassem em relação às nossas fraquezas. Com isso, ficaríamos todos mais
iguais em termos de desempenho pessoal e profissional, certo? Não é bem assim,
leitor. Primeiro, temos de lembrar que um dos constituintes de nossas competências é
o conhecimento. Conhecimento é uma construção essencialmente social e que não
existe sem seu conhecedor (Nonaka e Takeuchi, 1997). Está relacionado ao uso
inteligente da informação, envolvendo valores, insights e experiência condensada de
anos de quem a possui. Estamos nos referindo tanto ao conhecimento explícito
quanto ao tácito, em esferas que englobam competências psicomotoras, cognitivas e
afetivas. Ou seja, existem aspectos idiossincráticos que não podem ser ignorados e
dificilmente são copiados, ligados ao que chamamos de talentos individuais.
Para tentar explicar melhor o que queremos significar por talento, vale lembrar
que, de maneira geral, temos muito mais facilidade em lembrar nossos pontos fracos
do que de nossas qualidades (Snyder e Lopez, 2009). Mas sob a luz do
autodesenvolvimento, nossas fraquezas não são o único ângulo possível de análise e
nem, quiçá, o mais efetivo. Existem os chamados pontos fortes, ou que nos
diferenciam, e que, se bem treinados e desenvolvidos, nos tornam quase que
imbatíveis ou, para usar um jargão da administração, nos conferem uma forte
vantagem competitiva. Esses pontos fortes são caracterizados por um desempenho
estável em determinada atividade (Buckingham e Clifton, 2009). Segundo os autores,
nossos pontos fortes são constituídos a partir da combinação de três termos
substanciais: talento, conhecimento e técnica. Embora os três sejam importantes no
autodesenvolvimento, conhecimento e técnica podem ser adquiridos; já nossos
talentos seriam inatos, naturais e funcionariam como matéria-prima para todo o resto.
São padrões normalmente recorrentes de comportamento, pensamento ou sentimento,
que proporcionam sensação de bem-estar em nosso cérebro.
Assim, a chave para o desenvolvimento de um ponto forte seria a identificação
dos talentos dominantes em nosso repertório. Exemplos de talentos são:
adaptabilidade, disciplina, empatia, pensamento estratégico, carisma, comunicação,
entre outros.
Com a quantidade de informações a que somos submetidos no dia a dia, nosso
cérebro é levado a reagir instintivamente seguindo o caminho de menor resistência, o
percurso mais natural, a via do talento. Por isso, é tão importante conhecê-lo. Em
geral, sua identificação sugere que seja de fácil execução, denote algo que o
indivíduo sempre soube fazer ou aprendeu com relativa rapidez e seja fonte de
satisfação e bem-estar. Outras pessoas podem ser muito úteis também na
identificação de nossos talentos, na medida em que percebam e valorizem alguma
característica por nós demonstrada.
Claro que continua válida a busca por desenvolvimento, visando conhecimento e
aquisição de técnicas para desempenhar melhor uma função. Porém se o
conhecimento e a técnica nos auxiliam a melhorar em determinada atividade, eles
nunca compensarão a falta de talento. Em outras palavras, a premissa de que
podemos aprender a ser competentes em quase tudo, na prática, pode não ser
exatamente acurada. Por outro lado, aquele que tem talento para determinada tarefa,
uma vez que o aprimore adquirindo mais conhecimento e técnica a respeito, tende à
excelência. Por isso, muitos mentores e coaches optam por trabalhar os pontos fortes
e não os pontos fracos de seus mentorados ou coachees.
O autocontrole é a outra vertente dessa nossa metamorfose contínua que está
diretamente associada a uma dimensão comportamental. Ou seja, ao escolher de
forma deliberada uma conduta sobre determinada questão ou situação, o indivíduo é
levado a optar por uma ação que pode trazer consequências estimulantes ou
aversivas. Somos motivados pelo prazer ou pelo temor. Um gerente pode melhorar
suas habilidades sociais porque almeja um melhor relacionamento com sua equipe
ou porque sabe que se não o fizer logo sofrerá uma baixa avaliação. O
comportamento que se espera de alguém que pretende melhorar suas habilidades
sociais é a busca por aperfeiçoamento em seu repertório de classes de interações,
tanto do ponto de vista qualitativo quanto de efetividade, considerado o contexto
cultural da interação, para que se torne socialmente competente. Com ações focadas
nesse objetivo, o indivíduo tende a diminuir a resposta de punição que recebe, além
de aumentar o reforço sobre suas ações, sugerindo autocontrole (Greenberger e
Padesky, 1999; Salkovskis, 2005).
Entendemos que não somos fantoches, e uma das condições que nos fazem
humanos é justamente nosso repertório emocional. No entanto, por vezes, nossa
interpretação se demonstra equivocada ou maximizada. Essa interpretação errônea
deflagra o que chamamos de pensamentos automáticos, que nem sempre
correspondem à realidade de quem os está vivenciando. Os pensamentos automáticos
fazem parte do nosso padrão habitual de julgamentos. Ocorrem de forma
extremamente veloz e seu processamento está diretamente ligado à origem e à
manutenção de estratégias adaptativas e desadaptativas, na medida de sua
interpretação pela pessoa. Foge ao escopo deste livro a definição psicológica de
pensamentos automáticos, mas é importante registrar que fazem parte de processos
interpretativos mais complexos denominados esquemas, que têm em seu nível mais
profundo o que chamamos de crenças: declarações absolutas e rígidas que temos
sobre nós mesmos e sobre o mundo à nossa volta.
A boa notícia, leitor, é que esses pensamentos são passíveis de observação pelo
próprio indivíduo em uma espécie de automonitoria (conforme sugerido quando
abordamos o autoconhecimento) enquanto se vive uma experiência emocional. Trata-
se de uma técnica largamente utilizada em terapias do tipo cognitivo-
comportamental, que introduzem a manutenção de um diário de pensamentos
automáticos ou uma ficha de registros que inclui pensamentos, emoções e
comportamento.
Os princípios por trás dessa proposta são que: (a) a cognição influencia o
comportamento e que (b) o conteúdo de nosso pensamento pode se tornar conhecido
na medida em que nossa atenção esteja direcionada para ele. Por mais estranho que
possa parecer à primeira vista, um registro de pensamentos pode nos ajudar a
entender o que sentimos em meio ao mosaico de experiências que temos em nosso
cotidiano. O registro é uma máscara que pode servir como base para um registro de
pensamentos automáticos ao longo da semana, como mostra o quadro 2.
Quadro 2
EXEMPLO DE REGISTRO DE PENSAMENTO AUTOMÁTICO
S it uaç ão em que
Dat a e oc orreu (des c rever E moç ão Comport ament o
hora res umidament e) perc ebida P ens ament o aut omát ic o Reaç ão fis iológic a (aç ão)
99/99/99 Em que situação / Em geral O que passou pela sua Taquicardia, O que você fez?
local ocorreu uma cabeça? sudorese, mão Chorou, riu, gritou,
(descrever palavra (escrever literalmente; não gelada, formigamento parou uma atividade.
resumidamente) basta para tem “pensamento errado” etc. Qual o
descrever: ou nada do gênero) comportamento que
medo, você teve nessa
raiva, situação?
tristeza,
agonia,
surpresa
etc.
valores são conceitos sobre estados desejáveis de existência, transcendendo situações específicas, assumindo
diferentes graus de importância, guiando nossa seleção ou avaliação de comportamentos e eventos e
representando cognitivamente as necessidades humanas.
Quadro 3
SUBFUNÇÕES VALORATIVAS, NECESSIDADES HUMANAS E VALORES BÁSICOS
S ubfunç ão
valorat iva Mot ivadores e orient aç ões Valores bás ic os
Experimentação Motivador humanitário e orientação pessoal. ■ Emoção
■ Prazer
■ Sexualidade
Realização Motivador materialístico e orientação pessoal. ■ Poder
■ Prestígio
■ Êxito
Existência Motivador materialístico e orientação central. ■ Saúde
■ Estabilidade pessoal
■ Sobrevivência
Suprapessoal Motivador humanitário e orientação central. ■ Beleza
■ Conhecimento
■ Maturidade
Interacional Motivador humanitário e orientação social ■ Afetividade
■ Convivência
■ Apoio social
Normativa Motivador materialístico e orientação social. ■ Obediência
■ Religiosidade
■ Tradição
Fonte: adaptado de Gouveia e colaboradores (2009:40).
Por meio desse levantamento, o mentor ou o coach tem a chance de guiar seu
mentorado ou coachee no desenvolvimento de sua consciência a respeito de
interpretação de seus valores e de como estão (ou não) sendo vividos. A
hierarquização dos valores, promovida por meio do questionário do perfil, ajuda no
impasse quando estamos diante de situações limítrofes. Obviamente que a vida não
se apresenta sempre de forma estruturada e, por vezes, não temos tempo de
racionalizar essa priorização. Mas a tentativa é justamente evitar uma tomada de
decisão que contrarie nossa própria hierarquia de valores.
Nossa visão pode e deve representar mais que um sonho ou utopia, mas jamais
pode deixar de levar em consideração nossos valores individuais. Uma visão
representa um estado futuro que se deseja alcançar, algo motivador, uma compilação
de desejos que devem ser planejados para que possam tomar forma e ser
materializados. O escritor uruguaio Eduardo Galeano dizia que sua utopia é seu
horizonte. A mensagem é muito objetiva no sentido de que, na medida em que
caminhamos, novos avanços e novos incitamentos são feitos. Uma conquista leva a
outra. A forma de transformar e materializar nossa visão em conquistas passa por um
plano de ação exequível e passível de monitoramento, como veremos na próxima
seção.
Plano de ação e ajuste de metas
Uma das atividades mais comuns e, por vezes, muito utilizadas por coaches visa
ao entendimento da perspectiva do coachee sobre o status da sua vida hoje e sobre
como ele a imagina em um modo ideal. Trata-se de um exercício simples do ponto de
vista metodológico, mas deveras profundo, uma vez que a realidade vivida nem
sempre reflete nosso sonho de vida idealizado. Atividade que também nos faz pensar
e que nos força a refletir sobre nós mesmos enquanto senhores de um ávido livre-
arbítrio, que temos tanto orgulho de possuir como seres humanos.
O exercício consiste, basicamente, em desenhar dois quadros em sequência, mas
com intervalo de tempo entre uma e outra para que se possa meditar sobre o que se
está escrevendo. O primeiro deles representa nossa vida atual e devemos indicar,
por meio de percentuais de dedicação, como fazemos a divisão de tempo em nossa
vida hoje. As categorias a serem listadas normalmente incluem: trabalho, lazer,
corpo/saúde, espírito, afetivo/social, podendo-se incluir outras categorias, na
medida da necessidade. Obviamente, a soma dos percentuais de dedicação não deve
ultrapassar 100% (quadro 4). Uma vez construído e maturado o quadro da vida atual,
deve-se construir outro, denominado vida ideal. O procedimento será o mesmo, mas,
dessa vez, colocando-se o percentual almejado em cada categoria em uma vida
futura idealizada (quadro 5).
Quadro 4 Quadro 5
VIDA ATUAL VIDA IDEAL
% %
Cat egorias de dedic aç ão dedic ado Cat egorias de dedic aç ão dedic ado
Trabalho ___% Trabalho ___%
Lazer ___% Lazer ___%
Corpo/saúde ___% Corpo/saúde ___%
Espírito ___% Espírito ___%
Afetivo/social ___% Afetivo/social ___%
Total 100% Total 100%
Figura 8
MATRIZ IMPORTÂNCIA X URGÊNCIA
Ao longo deste livro, vimos que coaching e mentoring, assim como outras práticas
da gestão de pessoas, não são produtos acabados. São processos, que ganharam
repercussão no atual ambiente de negócios. São formas de desenvolvimento de
pessoas. São processos voltados para a aquisição e o aprimoramento de
competências, bem como para a gestão de carreira.
O objetivo deste livro é apresentar o conceito de coaching e de mentoring e suas
características, além das aplicações no âmbito individual e organizacional.
Inicialmente, alertamos para a adoção indiscriminada dos processos de coaching e
mentoring. Em seguida, exploramos o tema, trazendo as especificidades de cada
processo.
Esperamos, caro leitor, que a leitura deste livro possa ter contribuído, em
primeiro lugar, para sua reflexão. No âmbito individual, quem sou eu? Quais são os
meus valores? Minhas motivações? Medos? Expectativas? Que processo é mais
indicado para o meu caso? Coaching? Mentoring? Terapia? No âmbito
organizacional, qual é a missão, quais são os valores, as estratégias e as políticas da
empresa? Quais as características da cultura da organização da qual faço parte? Qual
o direcionamento da gestão de pessoas? Que processos devem ser adotados? Qual o
público-alvo? Que profissionais contratar? Seja no âmbito individual ou no
organizacional, são reflexões que não se esgotam aqui. Devem ser permanentes. Em
segundo lugar, esperamos que você parta para a ação, que dê um passo em direção
ao autoconhecimento e ao autodesenvolvimento. Esperamos que você possa fazer
escolhas conscientes, críticas, pertinentes a seus objetivos e aos da organização.
Acreditamos que coaching e mentoring são processos que devem ser vividos.
Sendo assim, envolvem objetividade e subjetividade; razão e emoção; tentativas,
erros e acertos. Assim como os compositores (Renato Russo e Flávio Venturini),
advogamos que “quem acredita sempre alcança”. Para alcançar, é preciso sonhar,
colocar os pés no chão, planejar, agir, avaliar, rever o processo. Esperamos que
você acredite sempre. E lembre-se:
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Os autores