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Relatório de Musicoterapia

Uma Sinfonia Diferente

Grupo de Quarta-feira
Mt. Meiry Geraldo

O projeto Uma Sinfonia Diferente foi criado pela Mt. Ana Carolina Steinkopf e trazido
para Belo Horizonte pelo Mt. Gabriel Estanislau.

Uma Sinfonia Diferente, consiste em um de atendimentos de musicoterapia em grupo e


no final desse processo uma grande apresentação em um teatro com todos os
participantes do projeto.

Nesse projeto, vou relatar o desenvolvimento de 2 grupos o qual coordenei como


musicoterapeuta.

As avaliações tiveram início de julho/19 e as sessões de musicoterapia iniciaram em


Set/19 e terminaram em Ago/20. Dentro desse período temos três momentos para
destacar:

 Momento 1 – Sessões presenciais – Set/19 à Mar/20 – 2 grupos de 3 participantes


cada.
 Momento 2 – Sessões on-line – Abr/20 à Ago/20 – Junção dos 2 grupos
 Momento 3 – Sessões on-line – Mai/20 à Ago/20 – Introdução de novos
participantes.

As Sessões

Momento 1 – Sessões presenciais

No início das sessões de musicoterapia, encontramos o “novo”. Alguns meninos já


haviam tido contato com música, musicoterapia e outros não. No entanto todos tinha
interesse pela música. O ambiente acolher da Casa de Musicoterapia e os mediadores
(profissionais e estudantes da área de saúde, e outras áreas) foi fundamental para a
adaptação desse momento. Cada integrante do grupo tinha o seu próprio mediador.

Todo ambiente “novo”, rotina nova é muitas vezes já um grande desafio para pessoas
com TEA.

Alguns desses momentos encontramos por exemplo:

 Meninos que não conseguiam permanecer nas sessões;


 Meninos que não conseguiam entra na sala;
 Outros choravam;
 Alguns não suportavam “ouvir” a música do outro;
 Disputa de liderança;
 Conflitos entre participantes e reações até agressivas.

Todas as sessões eram registradas pelos mediadores com o desenvolvimento individual


de cada participante.

A medida que o tempo foi passando, os participantes entraram na “rotina das sessões
de musicoterapia” e dessa forma o ambiente que era desafiador tornou-se um ambiente
de interação e aprendizado.

Durante as sessões foram trabalhados:

 Canção com o nome das criança – criando assim não só um aprendizado do nome
de cada participante, como a uma “espera” de escuta – De quem vai ser falado no
nome agora? Além de estabelecer o início da sessão e trabalhar a atenção dos
meninos.
 Uma canção de atividades corporais: Correr, Pular e Andar e outras canções foram
introduzidas como uma forma de organizar o meninos no mesmo movimento para
outras atividades que se seguiriam. Essa atividade além de organizar, trabalha o
corpo, trabalhar a imitação, atenção e seguir comando.
 Percepção auditiva: Foi trabalhada muitas vezes em forma de jogo, além de
estimular a audição enfatiza a escuta sonora trabalhando todo tipo de som desde
animais, ruídos, trilha sonoras de desenhos e filmes. Uma das atividades muito
motivadoras para eles. Pois além da “surpresa” o que virá, ainda tinha uma
“competição”, tipo eu sei....
 Atividades rítmicas: foram utilizadas para não só organizar também, mas para
trabalhar a coordenação e introdução a uma musicalidade. Sentir o pulso dentro
da música.
 Atividades melódicas: Foram introduzida através de músicas com letras e sem
letras. Nas músicas com letras estimulou-se o canto, relação de palavra / objeto /
som através de imagens. Foram também trabalhadas as emoções, sequencias
corporais (seguindo instruções).
 Atividades de construção musical: quando apresentamos instrumentos musicais
aos participantes. Possibilitando o manuseio dos instrumentos e a descoberta e
relação dos timbres sonoros dos mesmos.
 Narrativas sociais – cantadas através do que a criança está fazendo.
 Momento delicia: trabalhado para a finalização das sessões. Quando os
participantes deitam no chão fechando os olhos e deixando-se guiar pela música.
Onde há uma “respiração” (processamento de tudo que aconteceu) e um
desaquecimento gradativo proporcionado por uma música com andamento lento
e com uma melodia mais introspectiva.

Vale ressaltar que durante todo o processo enfatizou-se o reforço positivo seja feito
através de “verbalização como: parabéns e outros”, “cocegas”, “sorrisos”, “gestos como:
joia, palmas”, “comemoração ....”

Além das imagens, foram utilizados nas sessões:

 Tecidos,
 Dado,
 Instrumentos musicais e de sucata,
 Adesivos.

Momento 2 – Sessões on-line

Os atendimentos on-line foram uma grande novidade para a musicoterapia e um grande


desafio.

Não haviam protocolos ou experiências relatadas cientificamente desse tipo. Foi mais
uma vez um processo de adaptação de tudo que se havia construído no mundo real para
o mundo virtual. Nesse período foram feitos por toda equipe vídeos de atividades
chamados de: “desafios”. Onde o pai / mãe pudessem fazer em casa com o seu filho. E
nesse momento retornamos as sessões agora no formato on-line.

As sessões on-line tiveram uma novidade: juntamos os dois grupos.

Nos atendimentos on-line, os mediadores continuaram auxiliando. Mas não mais uma
para cada criança, uma vez que muitas vezes quem fez esse papel era a própria
“mãe/pai”, devido ao isolamento social. Por se tratar de um ambiente virtual foram
utilizados vários recursos visuais para atividades de percepção auditiva, adivinhas
musicais, sequência de músicas infantis em formato de apresentação, sinalização através
da imagem do microfone ligado/desligado (para a criança aprender onde ligar e desligar
quando solicitado), além do aplicativo Wheelo of Names1, utilizado para o jogos e como
suporte visual na tomada de turno e de aguardar a sua vez. Nas últimas cinco sessões
foi solicitado que cada participante levasse um objeto que mais gostasse. A cada sessão
esse objeto era mostrado ao grupo que foi aprendendo o que participante mais gostava.
Isso também auxiliou no processo de finalização do projeto, uma vez que nessas últimas
5 sessões além dos objetos, houve a sinalização através de uma sequência numérica.

Momento 3 – Sessões on-line – novos participantes

Além da junção dos dois grupos, novos integrantes passaram a frequentar as sessões.

Isso foi muito interessante, pois o grupo acolheu com muita receptividade a todos.

Para os novos integrantes foi mais difícil a adaptação, pois não haviam construído as
rotinas de grupo.

Os resultados

O processo musicoterapêutico presencial, de setembro/19 à março/20, criou uma


identidade sonoro-grupal. O grupo se estabeleceu, criou laços e aproveitou das práticas
musicais que utilizaram desde o sons corporais até instrumentos musicais. O grupo se
desenvolveu de maneira que criou-se a interação social. Cada um sabia o nome do seu
amigo e as músicas que gostava. Houve o aprendizado de ouvir a música do outro, e não
somente músicas da sua vivência cultural, tolerar determinadas músicas/sons e como
também esperar a sua vez (troca de turnos) além de estabelecermos limites. Durante o
processo os participantes experimentaram e construíram a vivência de um ISO-Grupal.

Na segunda parte do processo, os atendimentos on-line foram de grande aprendizado e


as adaptações, muito importante para todos por diversos motivos. Desde as dificuldade
com áudios dos aplicativos, problemas com internet, acessibilidade dos participantes,
disponibilidade dos pais até a utilização de novas estratégias para o desenvolvimento da
sessão. Houve também nesse momento a junção dos dois grupos em um só. Além de
recebermos novos integrantes no grupo, como também por muitas vezes novos
mediadores. O isolamento social, mudou completamente a rotina dos nossos
participantes. As sessões então passaram a ter uma função muito além dos objetivos
traçados no início do processo. Mas também de encontro, criar novas rotinas, diminuir

1
Wheelo of Names - Acesso em: https://wheelofnames.com/
a ansiedade, irritabilidade, sempre buscando dar mais segurança e autonomia para eles.

Conclusão

Através das avaliações quantitativas feitas pelos mediadores e pelo relato dos pais
vemos que o processo musicoterapêutico conseguiu estimular:

 A interação social,
 A comunicação,
 Criou uma identidade de grupo,
 Estimulou a musicalidade de cada um dos participantes,
 Trabalhou a: atenção, concentração, memória, coordenação motora,
 Troca de turnos (esperar a minha vez),
 Fortalecimento das habilidades sociocomunicativas e autoestima através do
reforço positivo

Ressaltamos, aqui o auxílio dos mediadores, que tiveram um papel fundamental no


processo auxiliando, modelando e dando suporte quando necessário.

A música permeia nossa escuta, nosso pensamento, nossas emoções. Através da música
temos a oportunidade de ofertar, às crianças, atividades musicais e experiências sonoras
criativas aumentando assim a interação social e a comunicação dos nossos participantes.

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Meiry Geraldo

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