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TERESINA
2018
PRYSCILLA NASCIMENTO FARIAS MAGALHÃES
TERESINA
2018
FICHA CATALOGRÁFICA
M188p Magalhães, Pryscilla Nascimento Farias.
CDD 341.6
Catalog
ação na
publicaç
ão
Antonio Luis Fonseca Silva– CRB/1035
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Aos meus pais pela educação, exemplo,
coragem e incentivo durante toda a vida.
AGRADECIMENTOS
A Deus pela vida e pela luz.
À minha família pelo apoio, incentivo, confiança e amor.
Ao professor Joffre pela competência e orientação precisa.
À professora Terezinha pela dedicação e paciência.
Aos amigos pelo apoio e descontração.
Ao Centro Universitário Uninovafapi pelo suporte nos momentos críticos da
graduação.
“A primeira fase do saber é amar os
nossos professores.”
Erasmo de Rotterdam
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O POSSÍVEL ABUSO DE DIREITO DA EMPREGADA GESTANTE DEMITIDA
RESUMO
O presente trabalho tratou do possível abuso de direito da empregada gestante
demitida, uma vez que o tema é de grande importância para a sociedade ter
conhecimento da finalidade do direito e de seus entraves na justiça. O assunto foi
desenvolvido através do estudo fundamentado na doutrina, em artigos, na
legislação, e em súmulas. A pesquisa verificou a essencialidade humanista e
socioeconômica da estabilidade gestante e que a proteção não é só para a mãe,
mas também, e principalmente, para o bebê. Relata sobre a previsão constitucional
do direito estabilitário da gestante e sobre a súmula 244 do Tribunal Superior do
Trabalho (TST) e a Orientação Jurisdicional (OJ) 399 do TST regular e desencadear
a possibilidade do abuso de direito por estabelecerem, respectivamente, a não
necessidade da comunicação do estado gravídico ao empregador e o prazo
prescricional genérico de até 2 anos, após encerrado o contrato de trabalho, para
ajuizar ação de indenização. Acredita-se que esta pesquisa acrescente na vida em
sociedade, de modo a alcançar a reflexão e a consciência sobre o uso correto dos
direitos dispostos.
PALAVRAS-CHAVE: Estabilidade gestante. Proteção. Má-fé. Abuso de direito.
ABSTRACT
The present study deals with the possible abuse of the right of the dismissed
pregnant employee, since the topic is of great importance for society to be aware of
the purpose of the law and its obstacles to justice. The subject was developed
through study based on doctrine, articles, legislation, and summaries. The research
verified the humanistic and socioeconomic essentiality of the pregnant stability and
that the protection is not only for the mother, but also, and especially, for the baby. It
reports on the constitutional provision of the stabilizing right of the pregnant woman
and on the summary 244 of the High Court of Labor (TST) and the TST regular
*Aluna do Curso de Bacharelado em Direito do Centro Universitário UNINOVAFAPI
Email: prymagalhaes1@hotmail.com
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orientation 399 of the regular TST and to trigger the possibility of abuse of righ
establishing, respectively, of the communication of the pregnant state to the
employer and the generic prescription period of up to 2 years, after termination of the
labor contract, to file an indemnity action. It is believed that this research adds in the
life in society in order to reach the reflection and the conscience on the correct use of
the arranged rights.
KEYWORDS: Pregnancy stability. Protection. Bad faith. Abuse of law.
1 INTRODUÇÃO
O Direito é o resultado da interpretação adequada de cada fato social. Nas
relações trabalhistas os fatos apreciados, desde a teoria marxista até os dias atuais,
são de incompatibilidade econômica, social e jurídica entre trabalhador e patrão.
Diante desse aspecto, o Direito do Trabalho busca alcançar direitos ao empregado
que o equacione a uma condição justa.
A estabilidade é, então, um dos meios de diminuir a fragilidade do
trabalhador, pois a garantia do emprego permite a ascensão do mesmo nos diversos
ramos da vida em sociedade e impede que este indivíduo seja alvo de imprevisões
do empregador que o desconecte do seu alicerce de poder, o labor.
Esta garantia de emprego se organiza em várias modalidades, seja de acordo
com a forma, o tempo, o interesse, o procedimento ou a dispensa, todas buscam
assegurar a manutenção do emprego. A estabilidade gestante, especificamente,
classifica-se como provisória, uma vez que é proporcionada ao tempo da gravidez e
ao período pós-parto, visando garantir uma boa recuperação da mãe e os cuidados
consistentes ao recém-nascido.
Prevista e regularizada desde a Constituição de 1988 até as Súmulas do
Tribunal Superior do Trabalho (TST), a estabilidade gestante foi pensada para servir
de escudo para a mulher que, como mãe quer garantir o seu bem-estar e do seu
filho, e como trabalhadora, quer permanecer no emprego como qualquer obreiro e
assim proporcionar dignidade a si e a sua família. No entanto, algumas mulheres,
munidas pela má-fé, têm exercido o direito a essa estabilidade de forma desvirtuosa,
desconstruindo o objetivo humanista da lei e desencadeando uma insegurança
jurídica.
A legislação trabalhista não prevê especificamente o prazo para a empregada
gestante requerer o pedido de reintegração/indenização após a dispensa. Por essa
razão, o art. 7°, XXIX, da Constituição Federal de 1988 é adotado genericamente,
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uma vez que, "como a própria expressão indica, é de extensão apenas temporária,
durante o restrito período de sua vigência estipulado pela ordem jurídica."
(DELGADO, 2013, p. 1291).
Assim, tendo em mente o conceito de estabilidade dentro do contexto
trabalhista e o caminho percorrido por essa garantia ao longo da história, bem como
a sua classificação, tem-se a base para iniciar o estudo dentro da caracterização
gestante.
3 ESSENCIALIDADE DA ESTABILIDADE GESTANTE
Para entender a essência do direito de estabilidade à gestante, pensada pelo
legislador, é necessário primeiro analisar a condição da mulher grávida e do recém-
nascido, compreender as dificuldades de se manter saudável (equilíbrio entre físico,
psíquico e social) em uma fase tão oscilante. A Organização Mundial de Saúde -
OMS (2016), declara que para alcançar a maternidade saudável é preciso que as
experiências durante os cuidados pré-natais (CPN) e o parto sejam positivas: "A
Organização Mundial de Saúde OMS idealiza um mundo em que todas as mulheres
e recém-nascidos recebam cuidados de qualidade durante toda a gravidez, parto e
período pós-natal." (OMS, 2016, p. 1).
No universo médico, as recomendações dadas às gestantes são minuciosas
para que elas possam encarar a gestação de forma saudável e plena. O Direito por
prevê o direito à vida e à saúde, não poderia deixar de compreender, ainda que
superficialmente, conteúdos sobre os cuidados gestacionais para melhor amparar a
empregada gestante.
Assim, o propósito da estabilidade gestante é atender as recomendações
médicas, das organizações de saúde e até, simplesmente, as necessidades que
qualquer grávida anseie, ou seja, dignidade, conforto, segurança, autonomia e
respeito. seja, estabilidade financeira, através o trabalho. É também propósito da
estabilidade gestante, proporcionar ao filho condições dignas inerentes a todo
cidadão do Estado Democrático de Direito no Brasil.
3.1 Diferença entre estabilidade e garantia no emprego
A área jurídica possui uma linguagem detalhista. A existência de termos ou
expressões que sejam sinônimos é quase zero. É o que ocorre com estabilidade e
garantia no emprego que se diferenciam. Alguns doutrinadores defendem que a
“estabilidade provisória”, justamente por ser temporária, não se caracteriza como
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estabilidade, mas sim, como uma garantia no emprego, sendo, portanto, dita/escrita
de forma errônea.
Já, a estabilidade é uma espécie de garantia de emprego que objetiva,
especificamente, impedir que o empregado seja despedido, desde que não se
configure as hipóteses previstas em lei. Sendo assim, é um direito individual, um
instituto trabalhista, sem prazo previamente estipulado para encerrar, por isso
estranham o direito das gestantes ser intitulado como estabilidade (CASSAR, 2015).
A garantia de emprego é o gênero e possui um propósito maior, coletivo,
político-social-econômico, promovendo medidas diretas e indiretas, como incentivos
a admissão, capacitação profissional, reintegração do trabalhador ao mercado e
outras formas que equilibrem essa cadeia econômica. (CASSAR, 2015). Um
exemplo de garantia é a reserva de vagas para deficientes, Lei 8.212/91.
Assim, entende-se que a estabilidade é um direito isolado do empregado e
que, sendo provisória, como no caso da “estabilidade gestante”, ocorre em
decorrência da condição especial em que se encontra a empregada, o estado
gravídico. E conclui-se ainda que a discussão doutrinária sobre a expressão correta
a ser adotada, “estabilidade provisória” ou “garantia provisória de emprego”, ocorre
pelo fato de entenderem que só há estabilidade se verificar que o mecanismo para
permanência no emprego não prevê o término.
3.2 Princípio da continuidade de emprego
A estabilidade é o mecanismo que serve para forçar o cumprimento do
objetivo teleológico, ou seja, a finalidade da norma, disposto no princípio da
continuidade de emprego, pois é através da perpetuação da relação empregatícia
que surge a possibilidade do equilíbrio do indivíduo social.
Delgado (2013) explica ainda que em decorrência da permanência no
emprego são geradas três correntes positivas para o empregado. A primeira seria o
aumento dos direitos trabalhistas em virtude do avanço da legislação, ou pelo
próprio mérito do trabalhador dentro da empresa. A segunda consiste na função
educativa dos vínculos de labor alcançada por meio de cursos profissionalizantes
dados pelo empresário. A terceira reside na afirmação no plano da sociedade e no
poder econômico para se impor dentro da comunidade.
Assim, diante desses três aspectos, e principalmente do terceiro, fica claro
entender o quão é fundamental garantir a permanência da mulher no emprego, uma
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Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que
visem à melhoria de sua condição social:
XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com a
duração de cento e vinte dias. (BRASIL, 1988).
A previsão propriamente dita da estabilidade gestante aparece no Ato das
Disposições Transitórias (ADCT), onde, pela primeira vez, a legislação brasileira
expressou o direito das mulheres de não serem dispensadas devido à condição de
gestante:
Art. 10 Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art.
7º, I, da Constituição:
II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa:
b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco
meses após o parto.
Desse modo, respeitando a ordem hierárquica das normas, iniciou a previsão
legal da estabilidade gestante na Constituição. E mesmo com a explícita
apresentação do direito da gestante no ADCT, os artigos 6º e 7º já previam
premissas, que evidenciavam a importância dessa garantia para gestante e o
nascituro.
4 POSICIONAMENTO DO TST E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF)
Além das mencionadas previsões de estabilidade gestante, a Súmula 244 do
TST demonstra que a ausência de comunicação do estado gravídico da empregada
ao empregador não tem o condão de retirar este direito da gestante. Destarte, o
patrão não se exime da responsabilidade em virtude do desconhecimento da
gravidez no momento da demissão, tendo que reintegrá-la, ou quando terminado o
período, ou quando for desconfortável o seu retorno para as partes, pagando os
salários, demais direitos correspondentes e indenização. E mais, a Súmula
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Quanto à previsão legal, o texto constitucional no artigo 10, II, b do ADCT não
deixa dúvidas sobre o direito à estabilidade de gestante. Estando expresso na
Constituição, a súmula 244 do TST surge como acessório, estabelecendo três
importantes observações; a primeira é que o desconhecimento do estado gravídico
pelo empregador não afasta o direito estabilitário; a segunda, que a garantia
possibilita a conversão da reintegração em indenização; e a terceira é que a
empregada gestante mesmo em contrato por tempo determinado tem direito à
estabilidade.
No entanto, algumas empregadas têm visualizado nesse formato de obtenção
da estabilidade gestante uma oportunidade de se beneficiar maliciosamente. Assim,
quando demitidas, elas se aproveitando da não necessidade de comunicar a
gravidez, mantendo-a em segredo até o fim do período estabilitário e só então
ingressam com ação judicial, já que o prazo prescricional utilizado é de até 2 anos
após encerrado o contrato de trabalho.
Como demonstrado nos casos judiciais, juízes e tribunais têm baseados nos
depoimentos das próprias empregadas (como no caso da que manteve a gravidez
em silêncio por orientação do advogado) e nos fatos apresentados no processo (a
exemplo tem a da empregada que esperou, premeditadamente, 7 meses após
encerrado o contrato para ajuizar ação) caracterizado a prática como abusiva e
assim, negado o pedido de indenização da autora.
Mesmo com essas lacunas, a reforma trabalhista de 2017 deixou a desejar,
visto que, diante da polêmica em volta do caso em debate, não apresentou nenhum
texto nesse sentido, assim fica ainda estabelecido o prazo genérico de 2 anos
previsto na constituição e o entendimento do TST, juntamente com o do STF, de que
o desconhecimento do estado grávido não prejudica o direito à estabilidade
gestante.
Logo, conclui-se que mesmo verificando a possibilidade do abuso do direito e
condenando tal prática, a estabilidade gestante é uma conquista social, intimamente
ligada à dignidade da pessoa humana e por isso deve ser exaltada. Mas mesmo
diante até do entendimento do STF contrário à tese desse trabalho, observa-se que
o abuso de direito da estabilidade gestante é possível e a solução para encerrar com
as dúvidas da existência ou não de má-fé por parte da empregada ainda precisa ser
pensada. Por fim, espera-se que este tema tenha trazido uma nova perspectiva à
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CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do trabalho. 11. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro:
Forense; São Paulo: MÉTODO, 2015.
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 12. ed. São Paulo:
LTr, 2013.
FREITAS, Fernando. et. al. Rotinas em obstetrícia. 5. ed. Porto Alegre: Artmed,
2006.
GARCIA, Gustavo Filipe Barbosa. Curso de direito do trabalho. 3. ed. rev., atual. e
ampl. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2009.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
2014.
SÜSSEKIND, Arnaldo. et. al. Instituições de direito do trabalho. 17. ed. atual. São
Paulo: LTr, 1997.