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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA – IPA

CURSO DE BACHARELADO EM DIREITO

Matheus Acosta Pujol

PROTEÇÃO DO TRABALHO DA MULHER: UMA ANÁLISE DAS


LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO ÀS TRABALHADORAS

PORTO ALEGRE
2022
PROTEÇÃO DO TRABALHO DA MULHER: UMA ANÁLISE DAS
LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO ÀS TRABALHADORAS

PORTO ALEGRE
2022
MATHEUS ACOSTA PUJOL

PROTEÇÃO DO TRABALHO DA MULHER: UMA ANÁLISE DAS


LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO ÀS TRABALHADORAS

Trabalho de Conclusão de Curso de


Direito do Centro UniversitárioMetodista
– IPA, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em
Direito.

Orientadora: Prof. Me. Marina Silveira


Frank

PORTO ALEGRE

2022
PROTEÇÃO DO TRABALHO DA MULHER: UMA ANÁLISE DAS
LEGISLAÇÕES DE PROTEÇÃO ÀS TRABALHADORAS

Matheus Acosta Pujol 1


Marina Silveira Frank2

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo analisar os direitos constitucionais destinados


à trabalhadora brasileira. O propósito central deste artigo é analisar: as legislações
específicas de proteção para mulher; aplicabilidade e eficácia das normas da
esfera trabalhista aos direitos da mulher; o adequado tratamento às trabalhadoras.
O trabalho da mulher, historicamente, é discutido e colocado em pauta de diversos
debates acerca da igualdade constitucional de gênero. Contudo, as militâncias
feministas lutam na nossa sociedade por igualdade tanto na esfera trabalhista
como em outras esferas jurídicas. O ordenamento jurídico vem evoluindo com as
mudanças sociais, de forma sucessiva e acompanhando a atividade da mulher no
mercado trabalho a fim de assegurar o tratamento mínimo aceitável ao segmento.
Essa evolução do ordenamento jurídico provocou o legislador buscar um olhar
mais atento ao segmento, consequentemente prevendo um capítulo direcionado
ao direito da mulher nas consolidações das leis trabalhistas. A mulher ganhou mais
espaço no mercado de trabalho e alcançou cargos que eram dominados pelo
gênero oposto, consequência de sua destacada e meticulosa persistência ao
cumprimento dos direitos previstos na norma constitucional. A economia, hoje em
dia, obteve um enorme ganho com as mulheres em cargos chaves em empresas
de diversos ramos. As normas tutelam à trabalhadora aspecto biológico, com as
limitações biológicas da mulher. O período gestacional, sensível para as mulheres,
é de fato tutelado pelo nosso ordenamento jurídico, mas de forma velada ainda é
um tabu a ser quebrado no âmbito econômico dentro das empresas de diversos
ramos, mesmo sendo notório que a trabalhadora quando posta em cargos chaves
tende a se destacar pelo seu labor. Assim, ressalto a importância de analisar se
essas normas são de fato adequadas a atividade de trabalho da mulher.

Palavras-chave: Direito do Trabalho; Trabalho da Mulher; Proteção; Gestante; Lactante;


Insalubridade; Pandemia.
ABSTRACT

This article aims to analyze the constitutional rights for the Brazilian worker. The
main purpose of this article is to analyze: the specific legislation to protect women;
applicability and effectiveness of norms in the labor sphere to women's rights;
adequate treatment of workers. Historically, women's work has been discussed
and put on the agenda of several debates about constitutional gender equality.
However, feminist activists fight in our society for equality both in the labor sphere
and in other legal spheres. The legal system has been evolving with social
changes, successively and following the activity of women in the labor market in
order to ensure the minimum acceptable treatment to the segment. This evolution
of the legal system caused the legislator to seek a closer look at the segment,
consequently providing for a chapter directed to women's rights in the
consolidation of labor laws. Women gained more space in the labor market and
reached positions that were dominated by the opposite gender, a consequence
of their outstanding and meticulous persistence in fulfilling the rights provided for
in the constitutional norm. The economy, nowadays, has made a huge gain with
women in key positions in companies of various branches. The norms protect the
biological aspect of the worker, with the biological limitations of the woman. The
gestational period, sensitive for women, is in fact protected by our legal system,
but in a veiled way it is still a taboo to be broken in the economic sphere within
companies of different branches, even though it is notorious that the worker when
placed in key positions tends to stand out for its work. Thus, I emphasize the
importance of analyzing whether these norms are in fact adequate for women's
work activity.

Keywords: Labor Law; Women's Work; Protection; Pregnant; lactating mother;


Unhealthy; Pandemic.

.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO; 2. NOÇÕES
INTRODUTÓRIAS À PROTEÇÃO DO
TRABALHO DA MULHER ; 2.1 BREVE
CONTEXTO HISTÓRICO DO DIREITO DA
MULHER; 3. MEDIDAS DE
PROTEÇÃO À TRABALHADORA
GESTANTE; 3.1 EMPREGADA GESTANTE
E LACTANTE EM AMBIENTE INSALUBRE;
A. ADICIONAL INSALUBRIDADE; B.
AMBIENTE INSALUBRE PARA
GESTANTE E LACTANTE; 3.2
ESTABILIDADE DO CONTRATO DE
TRABALHO DA GESTANTE; 3.3
INTERVALO PARA AMAMENTAÇÃO; 3.4
TRABALHO NA PANDEMIA; 3.5
MEDIDAS TOMADAS PARA PROTEGER
GRÁVIDAS DURANTE A PANDEMIA; 4.
CONSIDERAÇÕES FINAIS;
REFERÊNCIAS.

1 Graduando no Curso de Direito do Centro Universitário Metodista - IPA.


2Prof essora no Curso de Direito do Centro Universitário Metodista - IPA. Doutoranda e Mestre
em Direito pela Pontif ícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), na linha de
pesquisa da Teoria da Jurisdição e Processo. Especialista em Direito do Trabalho e Processo do
Trabalho pela Pontif ícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS)
INTRODUÇÃO
A Constituição Federal, assim como a Consolidação das Leis Trabalhistas
(CLT) têm como princípio, no que se refere ao ambiente de trabalho, assegurar
um local sadio e seguro aos trabalhadores em geral. Nessa senda, é previsto
capítulo III da CLT, a previsão à proteção da mulher.
O presente trabalho tem como propósito a análise de um artigo de pesquisa
para fins de conclusão do curso de direito no Instituto Metodista de Porto Alegre –
IPA, como critério para colação de grau , tem como tema a proteção aos direitos da
trabalhadora, previstos na Consolidação das Leis Trabalhistas, bem como, análise
do desenvolvimento e tratamento adequado destinados às trabalhadoras
gestantes.
Primeiramente será abordado o contexto histórico do trabalho da mulher,
bem como as proteções asseguradas pela Consolidação das Leis Trabalhistas às
trabalhadoras, , com a finalidade de identificar nas normas segurança à saúde e
adequado tratamento às trabalhadoras.
Posteriormente será analisado aplicabilidade e eficácia das normas da
esfera trabalhista aos direitos da mulher; e o adequado tratamento às
trabalhadoras.
Pelo exposto, apresenta-se a presente temática com o intuito de
compreender e analisar, primeiramente, como são as normas específicas de de
proteção à categoria de trabalho, e segundamente, dissertar sobre os
entendimentos jurisprudenciais mais variados relativos à esta matéria.

2. NOÇÕES INTRODUTÓRIAS À PROTEÇÃO DO TRABALHO DA MULHER

A Consolidação das Leis do Trabalhos, estabelece dispositivos de


proteção ao trabalho da mulher, depondo de um capítulo direcionado a tutela de
direitos as trabalhadoras em geral.

O fato é, estes dispositivos previstos na CLT, são efetivos e adequados


para a tutelar e suprir a necessidade de uma trabalhadora, em específico, uma
trabalhadora gestante ou lactante em ambiente insalubre?

Dito isso, serão abordados os efeitos e as formas de aplicação destas


normas, bem como uma análise da efetividade no âmbito do ordenamento
jurídico pátrio.
2.1 BREVE CONTEXTO HISTÓRICO DO DIREITO DA MULHER

O trabalho da mulher perante a sociedade antiga, sofria com os costumes,


tal fato determinante para que houvesse uma busca ideológica para modificar o
entendimento social. Contudo, as mulheres, desde os anos 70, obtiveram
enormes ganhos nesse sentido, onde a figura de apenas uma dona-de-casa não
era suficiente para o enorme potencial das mulheres. Nesta senda:

O crescimento da participação f eminina no mercado de trabalho


brasileiro f oi uma das mais marcantes transf ormações sociais ocorrida
no país desde a década de 70. Fartamente documentada pelos estudos
sobre o tema e apoiada em dados, a presença das mulheres no mercado
de trabalho brasileiro sobretudo o urbano vem sendo cada vez mais
intensa e diversif icada e não mostra nenhuma tendência a retroceder
apenas das sucessivas crises econômicas que tem assolado o país dos
anos 80. Não é demais lembrar que os conceitos e preconceitos
metodológicos tradicionalmente utilizados para medir o trabalho
sem4pre ocultaram a contribuição f eminina. O papel de do na-de-casa,
desempenhado pela maior parte das mulheres em idade adulta, é
contabilizado nas coletas como inatividade econômica. [...]³

A luta por espaço e por direitos às trabalhadoras seguiu ganhando


volume, bem como a igualdade de gênero 4, caminhando na mesma cadência em
busca desse reconhecimento. As relações trabalhistas no Brasil, naquela época,
eram quase que inexistentes para mulher, o que alimentava ainda mais o clamor
pela inserção e consequentemente tutela de Direitos, provenientes a suas
atividades laborais.

Nos primórdios do século XIX as mulheres começaram a ser organizar


e obter maior espaço social, notadamente nas áreas da educação e do
trabalho. Em 1898, Myrtes de Campos se torna a primeira advogada do
país. Enquanto isso, muitas mulheres trabalhavam em condições
desumanas, o que ref orçou mobilização por condições dignas de
trabalho e de segurança. Em 1880, a dentista Isabel Dillon arguiu na
Justiça a aplicação da Lei Saraiva, que garantia ao detentor de títulos o
direito de voto. E, em 1894 f ora promulgado em Santos (SP) o direito ao
voto, mas a norma f ora revogada no ano subsequente, e somente em
1905, deu-se a possibilidade de três mulheres em Minas Gerais de
votarem. Já, em 1917, as mulheres passaram a ser admitidas no serviço
público. Registra-se a primeira pref eita eleita no Brasil em 1928, na
cidade de Lages, no Rio Grande do Norte. E, o voto f eminino se tornou
direito brasileiro em 1932. Em 1933, Carlota de Queiroz é a primeira
deputada f ederal no Brasil e veio participar da Assembleia Nacional
Constituinte. [...] 5

A mecanização do trabalho abriu o mercado de trabalho para as mulheres,


uma vez que a força física não era mais um elemento relevante para o labor.

3
BRUSCHINI, CRISTINA. “O TRABALHO DA MULHER BRASILEIRA NAS DÉCADAS
RECENTES.” Estudos Feministas, 1994, pp. 179–
24,< http://www.jstor.org/stable/24327170. Accessed > Acesso em: 29 de abril de 2022.
4
A igualdade de gênero ou gênero, também denominada de igualdade entre os sexos ou igualdade
sexual é um conceito que def ine a busca da igualdade entre os membros dos dois gêneros
humanos, homens e mulheres, derivado de uma crença numa injustiça, existente em diversas
f ormas, de desigualdade entre sexos. Não existe coincidência entre a identidade natural (sex o) e a
de género (construção social), sendo que o mesmo acontece relativamente às noções de raça,
classe, idade e etnicidade. O conceito contrário à igualdade e género não é dif erença de género,
mas sim o de desigualdade de género, uma vez que este pressup õe estatutos, direitos e dignidade
hierarquizados entre homens e mulheres. Diversos organismos internacionais def iniram a
igualdade entre os sexos como relacionada aos direitos humanos, especialmente aos direitos da
mulher, e ao desenvolvimento econômico. O UNICEF def ine a igualdade entre os sexos como
"nivelar os campos de jogo de garotas e rapazes, assegurando de que todas as crianças tenham
oportunidades iguais de desenvolver seus talentos." O Fundo para as Populações das Nações
Unidas declarou a igualdade entre os sexos como "acima de tudo, um direito humano." A igualdade
entre os gêneros também é uma das metas do Projeto Milênio das Nações Unidas, que visa
terminar com a pobreza mundial até 2015; o projeto alega que "cada uma das metas está
diretamente ligada aos direitos das mulheres, e sociedades nas quais as mulheres não possuem
direitos iguais aos homens nunca poderão conseguir atingir o desenvolvimento de maneira
sustentável." (Alessandra Moreira dos Santos, Advogada. Secretária da OAB Mulher da OAB-RJ)
5 Dos Santos, Alessandra Moreira. (DIREITOS DA MULHER: EVOLUÇÃO LENTA E GRADUAL.

Pag 2) https://revistaeletronica.oabrj.org.br/wp -content/uploads/2018/03/DIREITOS-DA MULHER-


EVOLUCAO-LENTA-E-GRAD UAL

3. MEDIDAS DE PROTEÇÃO À TRABALHADORA GESTANTE


3.1 EMPREGADA GESTANTE E LACTANTE EM AMBIENTE INSALUBRE
a. Adicional Insalubridade

A origem da palavra, INSALUBRE 6, tem ligação direta no sentido de


condições que causam prejuízos à saúde.
Contudo a legislação pátria, buscou normatizar a condição de risco
eminente à saúde do empregado, visto que, ao prever um adicional salarial em
decorrência desse labor insalubre. O trabalho insalubre, legítimo por estar
previsto em norma legal, entretanto, estudos apontam que o adicional
insalubridade frente a moralidade se torna obscuro e insuficiente.7

A tarefas insalubres, caracterizam uma forma de o empregador compensar


os malefícios, direta ou indiretamente, a saúde de seu emprego, bem como no
outro lado dessa relação, o empregado se submete as atividades insalubres por
recompensa pecuária, ora denominado Adicional Insalubridade.

Há necessidade de prestação de serviços onde o ambiente não é favorável


para preservar a totalidade da saúde do empregador, mas vejamos, a
compensação de fato se torna satisfatória os riscos à saúde desse trabalhador,
a legislação se preocupou em amparar o empregador ou se absteve desse real
risco eminente ao prever o Adicional insalubridade.
Em seu turno, as atividades insalubres possuem previsão na Consolidação
do Trabalho que, em seu artigo 192, dispõe os limites e parâmetros para
pagamento do segundo, aplicando-se 10, 20 ou 40% a este título sobre o salário-
mínimo da região, de acordo com o grau de insalubridadedo agente, sendo este
mínimo, médio ou máximo. Na Portaria nº 3.214/78, na Norma Regulamentadora
(NR)-15, expedida pelo extinto Ministério do Trabalho e do Emprego.

Art. 192 - O exercício de trabalho em condições insalubres, acima dos limites de


tolerância estabelecidos pelo Ministério do Trabalho, assegura a percepção de
adicional respectivamente de 40% (quarenta por cento), 20% (vinte por cento) e
10% (dez por cento) do salário-mínimo da região, segundo se classifiquem nos
graus máximo, médio e mínimo. (Redação dada pela Lei nº 6.514, de
22.12.1977)8

Com a promulgação da Constituição de 1988 inovou -se a ordem jurídica


brasileira assegurando o direito ao adicional de insalubridade no artigo 7º, inciso
XXIII.
Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de
outros que visem à melhoria de sua condição social: XXIII -
adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres
ou perigosas, na forma da lei. [...]

Por sua vez, reforça a tese que as atividades consideradas insalubres são
as que expõem o empregado a condições que desgastam a saúde em razão da
exposição direta ou indireta a agentes em específico, mensurando-se sua
percentagem a partir do tempo de exposição, nível de ruído, de calor, radiações
ionizantes, trabalhos em condições em que há alterações atmosféricas,
vibrações, umidade, frio, agentes químicos.

Apesar de não ter sido abolida no Brasil, o adicional de insalubridade


possui a finalidade única proporcionar “maior quantidade de comida” para o
trabalhador.

Tal norma não vislumbra uma melhor condição para os trabalhadores, mas
somente uma compensação pecuniária extra pelo trabalho em condições
prejudiciais para saúde, de certa forma com intuito de se eximir da
responsabilidade.

6
Dicionário Online de Português - Insalubre <https://www.dicio.com.br/insalubre>
Acesso em 04 de maio de 2022.
7
Luiz Henrique Menegon Dutra, Rafael Ody Haas - Um Olhar Reflexivo Sobre O
Adicional De Insalubridade.
8
BRASIL. Lei nº B6.514, de 22.12.1977. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6514.htm> Acesso em: 04 de maio de 2022.

Dito isso, conclui-se que as atividades consideradas insalubres e/ou


perigosas são aquelas que influenciam ou trazem riscos à saúde física do
empregado, pelo meio que for.
b. Ambiente Insalubre para Gestante e Lactante

As condições de trabalho, em tempos antigos, eram reguladas pelos


empregadores, submetendo os trabalhadores, mulheres ou homens, às
situações degradantes de trabalho com jornadas exaustivas, sem qualquer tipo
de equipamentos de proteção ou qualquer outro direito que visa a proteção dos
trabalhadores. A mecanização do trabalho abriu o mercado de trabalho às
mulheres, uma vez que somente a força física não era mais visto como fator
determinante ou relevante para o labor. A Constituição de 1934, partiu de um
pensamento igualitário, proibindo qualquer tipo de discriminação em virtude de
ser mulher.
Art 121 - A lei promoverá o amparo da produção e estabelecerá as
condições do trabalho, na cidade e nos campos, tendo em vista a
proteção social do trabalhador e os interesses econômicos do País. § 1º
- A legislação do trabalho observará os seguintes preceitos, além de
outros que colimem melhorar as condições do trabalhador: a) proibição
de dif erença de salário para um mesmo trabalho, por motivo de idade,
sexo, nacionalidade ou estado civil. 9

Uma das primeiras normas reguladoras de proteção a trabalhadora mulher.

O tratamento legal dado à gestante e à lactante em ambiente insalubre


anterior a Reforma trabalhista foi oferecida pela Lei nº 13.287/2016, tal dispositivo
oferecia grande proteção às trabalhadoras uma vez que proporcionava proteção
integral às trabalhadoras. Isso conforme a própria redação do dispositivo, que tem
a seguinte redação:
Art. 394-A. A empregada gestante ou lactante será af astada, enquanto
durar a gestação e a lactação, de quaisquer atividades, operações ou
locais insalubres, devendo exercer suas atividades em local salubre.

9
BRASIL, Constituição de 1934. Diponivel em <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm>, Acesso em 29
abril de 2022.
Nesse contexto, fica claro que retirar a mulher do local de insalubridade e
colocando-a em local salubre é uma evidente demonstração de proteção integral
conferida à mulher, à maternidade e à saúde das trabalhadoras. Com a redação
dada pela Lei nº 13.467/2017 o afastamento só poderia ocorrer nos casos de
insalubridade para as gestantes em grau máximo, as quais são poucas hipóteses,
ou seja, a maior parte das gestantes empregadas se encontram em ambientes de
grau médio de insalubridade e não no grau máximo.

Nessa senda, as lactantes não foram inseridas no dispositivo legal, sendo


permitido seu trabalho mesmo em situações de insalubridade em grau máximo,
não observando a proteção à saúde, como era anteriormente disposto. Além
disso, a nova redação do dispositivo, deixa a cargo da lactante que trabalhe em
qualquer grau ou gestante que trabalha em locais de insalubridade de grau médio
ou mínimo que apresente atestado que recomende o afastamento das atividades.
Conforme a redação a seguir:

Art. 394-A. Sem prejuízo de sua remuneração, nesta incluído o valor do


adicional de insalubridade, a empregada deverá ser af astada de: II -
atividades consideradas insalubres em grau médio ou mínimo, quando
apresentar atestado de saúde, emitido por médico de conf iança da
mulher, que recomende o af astamento durante a gestação; III -
atividades consideradas insalubres em qualquer grau, quando
apresentar atestado de saúde, emitido por médico de conf iança da
mulher, que recomende o af astamento durante a lactação .

Fica evidente que o único objetivo do dispositivo legal é flexibilizar o que a


legislação anteriormente dispunha e se mostra um atentado contra a saúde e
redução de proteção aos direitos inerentes das trabalhadoras, na condição de
gestante e lactante.

Posteriormente, a Medida Provisória 808 buscava retornar o estado de defesa


integral à trabalhadora gestante, contudo a medida norteava no sentido da
lactante apresentar atestado médico para que assim fosse determinado o
afastamento.
Art. 394-A. A empregada gestante será af astada, enquanto durar a
gestação, de quaisquer atividades, operações ou locais insalubres e
exercerá suas atividades em local salubre, excluído, nesse caso, o
pagamento de adicional de insalubridade. § 3º A empregada lactante
será af astada de atividades e operações consideradas insalubres em
qualquer grau quando apresentar atestado de saúde emitido por médico
de sua conf iança, do sistema privado ou público de saúde, que
recomende o af astamento durante a lactação.
Apesar dos avanços normativos em busca de melhoraria na situação da
gestante a legislação pátria ainda não desfere sua proteção perante as
trabalhadoras em período de gestação, o que seria um grave retrocesso legal
caso a Medida Provisória fosse aprovada, o que n ão ocorreu. Com a não
aprovação da MP 808 a legislação da Lei 13.467/2017 voltou a prever a relação
da mulher gestante e lactante nos ambientes insalubres, norteando a matéria de
forma pior que a realizada pela MP 808. Ocorre que, nesse contexto, fora
ajuizada Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn nº 5.938) referente a
expressão “quando apresentar atestado de saúde emitido por médico de
confiança da mulher, que recomende o afastamento” dos incisos II e III do artigo
394-A da CLT. Os argumentos utilizados na decisão foram, a proteção do
mercado de trabalho da mulher, a proteção à maternidade, e redução dos riscos
inerentes ao trabalho, proporcionando maior proteção a trabalhadora.
A título exemplificativo, vemos os seguintes julgado, feito pelo Tribunal
Regional do Trabalho da 4ª Região:

EMENTA. EMPREGADA LACTANTE. ATIVIDADE INSALUBRE .


AFASTAMENTO DO TRABALHO SEM PREJUÍZO DOS SALÁRIOS.
DESCABIMENTO. A Turma, por maioria, vencido o Relator, entende que
o art. 394-A e o art. 396, ambos da CLT, asseguram à mulher lactante o
direito ao af astamento da pelo período de seis meses, inclusive quando
se tratar de atividades insalubres em qualquer grau, inexistindo amparo
legal ao af astamento em tempo superior. [...] MÉRITO. 1.
AFASTAMENTO DE LACTANTE. O MM. Juiz determinou que a
recorrente af aste a autora de suas atividades "ou de qualquer outra que
implique insalubridade, até que seu f ilho complete 24 meses, conf orme
requerido, ou até que cesse o período de amamentação, o que ocorrer
primeiro. O af astamento se dá sem prejuízo da remuneração, nesta
incluído o adicional por tempo de serviço e o adicional de insalubridade,
conf orme caput do art. 394-A da CLT." (ID. b9f dd72 - Pág. 3). A decisão
não comporta ref orma. O art. 394-A da CLT, assim dispõe, com as
alterações promovidas pela Lei 13.467/17: Art. 394-A. Sem prejuízo de
sua remuneração, nesta incluído o valor do adicional de insalubridade, a
empregada deverá ser af astada de: I - atividades consideradas insalubres
em grau máximo, enquanto durar a gestação; II - atividades consideradas
insalubres em grau médio ou mínimo, (...) durante a gestação; III -
atividades consideradas insalubres em qualquer grau, (...) durante a
lactação. § 1o (VETADO) § 2o Cabe à empresa pagar o adicional de
insalubridade à gestante ou à lactante, ef etivando -se a compensação,
observado o disposto no art. 248 da Constituição Federal, por ocasião do
recolhimento das contribuições incidentes sobre a f olha de salários e
demais rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa
f ísica que lhe preste serviço. § 3o Quando não f or possível que a gestante
ou a lactante af astada nos termos do caput deste artigo exerça suas
atividades em local salubre na empresa, a hipótese será considerada
como gravidez de risco e ensejará a percepção de salário -maternidade,
nos termos da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, durante todo o
período de af astamento. Nos incisos II e III, como é consabido, o E. STF
declarou a inconstitucionalidade da expressão "quando apresentar
atestado de saúde, emitido por médico de conf iança da mulher, que
recomende o af astamento", na ADI 5938. A redação legal, pois, que
relava ao presente caso, estabelece que "Sem prejuízo de sua
remuneração, nesta incluído o valor do adicional de insalubridade, a
empregada deverá ser af astada de atividades consideradas insalubres
em qualquer grau, durante a lactação.". Sinale-se, de plano, que a meu
juízo não se conf unde o af astamento de atividade insalubre de que trata
o art. 394-A da CLT, com os intervalos a que alude o art. 396 do mesmo
diploma legal. Tais intervalos devem ser concedidos até os seis meses
de amamentação, porém não possuem nenhuma relação com atividade
insalubre, sendo norma que se aplica às lactantes em qualquer ambiente
laboral. [...] 10

Reforçando o entendimento jurisprudencial nesse sentido:

EMENTA PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO (art. 895, § 1º, IV, da CLT)


[...] A lei inclusive conf ere a possibilidade da empresa de compensar o
valor pago a título de adicional de insalubridade "por ocasião do
recolhimento das contribuições incidentes sobre a f olha de salários e
demais rendimentos pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa
f ísica que lhe preste serviço.", nos termos do § 2º do Art. 394-A da CLT.
O § 3º desse artigo concede, ainda, outra possibilidade, conforme segue:
"Quando não f or possível que a gestante ou a lactante af astada nos
termos do caput deste artigo exerça suas atividades em local salubre na
empresa, a hipótese será considerada como gravidez de risco e ensejará
a percepção de salário-maternidade, nos termos da Lei no 8.213, de 24
de julho de 1991, durante todo o período de af astamento.". A Reclamante
f ez pedido administrativo solicitando o af astamento do exercício de suas
f unções com f undamento no excerto do voto do Ministro do STF
Alexandre de Moraes, Relator da ADI 5.938. Por esses f undamentos, a
sentença comporta ref orma. Dá-se provimento ao Recurso Ordinário para
determinar que o Reclamado (Hospital de Clínicas de Porto Alegre) af aste
a Reclamante de suas atividades a partir de 03.6.2020, no período em
que subsistir a lactação, devendo ser comprovada tal condição
trimestralmente, até a data limite de 20.9.2021, quando a f ilha lactente
completará dois anos de idade, mediante licença remunerada, com
f undamento no Art. 394-A, § 3º, da CLT. [...] 11

Diante ao exposto, conclui-se que é de extrema importância ações em


busca de proteção ao ambiente salubre à gestante e à lactante, argumentos como
a proteção à maternidade, redução dos riscos inerentes ao trabalho, proporcionam
maior proteção a trabalhadora.

10 RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 4ª Turma, 0020190-77.2020.5.04.0282 ROT, em


16/12/2020, Desembargador Joao Paulo Lucena – Relator <
https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.
11 RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 8ª Turma, 0020508-82.2020.5.04.0016 RORSUM,

em 15/04/2021, Desembargador Luiz Alberto de Vargas<


https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.
3.2 ESTABILIDADE DO CONTRATO DE TRABALHO DA GESTANTE

Em caráter geral, estabilidade é a garantia no emprego mesmo contra a


vontade do empregador.

É conferido a trabalhadora gestante a estabilidade de emprego, temb


previsão legal definida pelo artigo 10, II, alínea “b” do ADCT, do qual estabelece
a estabilidade de acordo com os seus limites, em que começa com a confirmação
do estado de gravidez, e termina cinco meses após o parto, independentemente
de o contrato ter sido firmado por tempo determinado ou indeterminado prévio,
trabalhado ou indenizado.

Não é permitida a concessão de aviso prévio na fluência do prazo de


garantia de emprego. Nesse contexto a súmula nº 48, do Tribunal Superior do
Trabalho, sub escreve:
AVISO PRÉVIO. CONCESSÃO NA FLUÊNCIA DA GARANTIA DE
EMPREGO. INVALIDADE (mantida) - Res. 121/2003, DJ 19, 20 e
21.11.2003. É inválida a concessão do aviso prévio na f luência da
garantia de emprego, ante a incompatibilidade dos dois institutos. 12

A estabilidade da gestante é garantida para empregadas que engravidam


durante o prazo do aviso prévio indenizado, nos termos do art. 391-A da CLT.

Por extensão, se aplica a estabilidade à gestante também durante o prazo


de contrato de trabalho determinado, nos termos do item III da Súmula 244 do
Tribunal Superior do Trabalho.

3.3 INTERVALO PARA AMAMENTAÇÃO

Está previsto na norma do art. 396 da CLT o direito de que haja um intervalo
para a trabalhadora poder amamentar o seu filho, disposição de grande relevância
para a saúde e o crescimento saudável da criança, considerando que o aleitamento
materno nos primeiros meses de vida é de extrema importância.
A propósito, nesse sentido, em face desse direito entende o Tribunal:
DANO MORAL. NÃO CONCESSÃO DE INTERVALO PARA
AMAMENTAÇÃO PREVISTO NO ARTIGO 396 DA CLT. PROTEÇÃO À
MATERNIDADE E À INFÂNCIA.

12BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 348. AVISO PRÉVIO. CONCESSÃO NA


FLUÊNCIA DA GARANTIA DE EMPREGO. INVALIDADE (mantida). Res. 121/2003, DJ 19, 20 e

21.11.2003 < https://www3.tst.jus.br > Acesso em 14 maio 2022.


Evidenciada of ensa à dignidade da autora, conf igurada na privação do
direito de amamentar seu f ilho, caracterizando o dano moral passível de
reparação. O direito à indenização por dano moral encontra amparo em
toda a normatização constitucional voltada para a proteção da
maternidade, em especial o art. 6º da Carta Magna. Recurso da autora
parcialmente provido. [...] 13

A título explicativo do julgado:


[...] Por dano moral, entende-se todo sof rimento humano que atinge os
direitos da personalidade, da honra e imagem, ou seja, aquele sof rimento
decorrente de lesão de direito estranho ao patrimônio. No presente caso,
a pretensão decorre da não concessão dos intervalos para
amamentação, conf orme prevê o art. 396 da CLT, in verbis: Para
amamentar seu f ilho, inclusive se advindo de adoção, até que este
complete 6 (seis) meses de idade, a mulher terá direito, durante a jornada
de trabalho, a 2 (dois) descansos especiais de meia hora cada um. Da
análise dos controles de horário (ID. 9cea959 - Pág. 6/7 e ID. a9a0bbc -
Pág. 1/7), constata-se que a reclamante esteve em licença maternidade
de 27/10/2016 a 23/02/2017 e em f érias de 24/02/2017 a 25/03/2017,
tendo retornado ao trabalho em 27/03/2017, sem qualquer registro de
intervalo para amamentação à partir de então, sendo da reclamada a
prova de que ef etivamente o concedeu, ônus do qual não se desincumbiu.
Diante desse contexto, inf ere-se que a reclamada ef etivamente
obstaculizou o exercício do direito da autora à amamentação, ao deixar
de conceder os intervalos previstos no art. 396 da CLT, o que implica
dano moral que necessita de reparação, por violar direito social
f undamental de proteção à maternidade e à inf ância, prev istos no art. 6º
da Constituição da República (São direitos sociais a educação, a saúde,
a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança,
a previdência social, a proteção à maternidade e à inf ância, a assistência
aos desamparados, na f orma desta Constituição). No caso específ ico, a
nutrição do recém-nascido restou inviabilizada pela demandada, o que
evidentemente f eriu a dignidade da autora por não poder alimentar o seu
f ilho.

Reforçando o entendimento jurisprudencial nesse sentido:


EMENTA INTERVALOS INTERJORNADAS. O desrespeito ao período
mínimo de 11 (onze) horas de que trata o art. 66 da CLT garante o
pagamento correspondente às f rações de intervalo interjornadas não
usuf ruídos, com acréscimo de 50%, por analogia ao § 4º do art. 71 da
CLT, não se cuidando de mera inf ração administrativa, na mesma linha
da Orientação Jurisprudencial 355 da SDI-1 do TST.
[...] 6. INTERVALO PARA AMAMENTAÇÃO Não se conf orma a
reclamante com a decisão de origem em relação ao indef erimento do
pedido em epígraf e. Decido. O artigo 396 da CLT assegura à empregada
o direito a dois descansos de meia hora cada um, durante a jornada d e
trabalho, para amamentar seu f ilho, até que este complete seis meses de
idade. A norma é protetiva da maternidade, visando atender as
necessidades da criança e não da empregada, razão pela qual é dever
do empregador permitir a f ruição dos dois intervalos , sob pena de tais
períodos serem remunerados como extraordinários, na f orma do § 4º do
artigo 71 da CLT, aplicado por analogia. Contudo, no caso em tela a
autora não f ez prova de que a reclamada tenha impedido ou dif icultado a
concessão do intervalo para amamentação, ônus que lhe incumbia, nos
termos dos artigos 818 da CLT e 373, I, do CPC. Assim, nego provimento
ao recurso neste tópico. [...] 14

Nem sempre a empregada consegue deixar seu filho no local de trabalho ou


nas proximidades, o que dificulta a observância efetiva da norma em destaque. Na
prática, é comum conceder os mencionados descansos especiais ao final da
jornada de trabalho, retornando para casa a empregada uma hora antes de seu
término normal.
Discute-se, ainda, quanto à consequência da não concessão do intervalo
para amamentação. Há entendimento de que o intervalo em estudo não é
computado na jornada de trabalho, pois assim não estabelece a lei, tornando-se
período não remunerado. Nesse sentido, a sua inobservância apenas gera infração
administrativa.
Assim, considera-se que o tempo durante o qual a empregada tem direito
ao descanso, para amamentar o seu filho, deve ser computado na jornada de
trabalho, sendo remunerado, sob pena de prejudicar quem trabalha e a própria
criança. Defende-se que o caso revela hipótese de interrupção do contrato de
trabalho. Tanto é assim que o art. 396, caput, da CLT faz referência aos
mencionados descansos especiais “durante a jornada de trabalho”.
Portanto, deve-se considerar a ausência de concessão do mencionado
intervalo como hora extra, a ser remunerada com o adicional de no mínimo 50%.

13 RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 3ª Turma, 0021218-96.2017.5.04.0731 ROT, em


20/07/2020, Desembargadora Maria Madalena Telesca. <
https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.
14 RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 8ª Turma, 0020508-82.2020.5.04.0016 RORSUM,

em 15/04/2021, Desembargador Luiz Alberto de Vargas . <


https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.
3.4 TRABALHO NA PANDEMIA

Com surgimento da pandemia do Coronavírus que atingiu o mundo em


uma proporção gigantesca, já era de se esperar a eminência de enormes
prejuízos. Tantas vidas ceifadas e muitas outras se arrastando para se manterem
em meio ao caos. A economia em queda e os reflexos cada vez mais nocivos se
manifesta em meio à população em massa.

A primeira ação com intuito de amenizar os impactos da COVID-19, no


que tange à economia/mercado de trabalho, foi realizado pelo Governo Federal,
por através da Lei nº 13.982 de 02 de abril de 2020, popularmente conhecida
como a lei do auxílio emergencial.

Evidentemente, esta Lei do auxílio emergencial surge com um caráter


assistencial visando amortizar os reflexos dos impactos financeiros, que o
isolamento social gerou no setor econômico.

3.5 MEDIDAS TOMADAS PARA PROTEGER GRÁVIDAS DURANTE A


PANDEMIA

No âmbito legislativo, foi aprovado, em 28 de agosto de 2020, na Câmara


dos Deputados, o Projeto de Lei nº 3.932/2020 10 que torna obrigatório o
afastamento da gestante do trabalho presencial durante o estado de calamidade
pública em razão da pandemia, sem prejuízo da sua remuneração.

A proposta destaca que a empregada ficará à disposição para exercer as


atividades em seu domicílio, por meio de teletrabalho, trabalho remoto ou outra
forma de trabalho a distância. Destaca-se que a demanda ficou congelada no
Senado Federal durante praticamente 08 (oito) meses, conforme pode ser
constatado na tramitação em seu sítio oficial, deixando essas trabalhadoras sem
a mínima proteção legal frente a gravidade da doença.

15 BRASIL.Câmara dos Deputados. Projeto de Lei nº 3.932/2020. Dispõe sobre o af astamento da


empregada gestante das atividades de trabalho presencial durante o estado de calamidade pública
reconhecido pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020. Disponível em <
https://www25.senado.leg.br/web/atividade/materias/-/materia/144401> Acesso: 28 de maio
de 22.
Apenas em 13 de maio de 2021 o projeto, transformado na Lei nº
14.151/21, foi publicado. Não obstante a função legiferante ser mais demorada
e por vezes não conseguir acompanhar os eventos sociais, fato é que a
pandemia já vinha sendo a nova realidade brasileira desde o início do ano de
2020, e por esta razão, o tempo utilizado para se produzir e aprovar um projeto
de lei apropriado para tentar amenizar os malefícios que essa doença poderia vir
a causar às gestantes trabalhadoras, assim como em relação a projetos que
tratam de outros temas importantes e carentes de atenção nesse momento,
deveria ser bem mais ágil e eficaz.
Nesse sentido, vemos os seguintes julgado, feito pelo Tribunal Regional
do Trabalho da 4ª Região:
RECURSO ORDINÁRIO DA RECLAMANTE. GESTANTE .
ESTABILIDADE. CONTRATO A PRAZO DETERMINADO. O contrato a
prazo determinado regido pela CLT não se conf unde com o contrato
temporário previsto na Lei nº 6.019/74, sendo inaplicável a tese jurídica
f ixada pelo Tribunal Pleno no TST no Incidente de Assunção de
Competência nº 2 (proc. nº 5639-31.2013.5.12.0051). Hipótese em que
a reclamante f az jus à garantia provisória no emprego, nos termos do
art. 10, II, "b" do ADCT e do item III da Súmula 244 do TST. Def erida
indenização substitutiva do período, ante à impossibilidade de
reintegração. [...] 16

Reforçando o entendimento jurisprudencial nesse sentido:


EMENTA MANDADO DE SEGURANÇA. LACTANTE. AFASTAMENTO
DE ATIVIDADE INSALUBRE. Não se identif ica ilegalidade ou abuso de
direito na decisão que indef eriu a tutela de urgência para af astamento
da impetrante do trabalho em condições insalubres, em razão da sua
condição de lactante, considerando não ter sido comprov ada qualquer
particularidade em relação ao estado de saúde da f ilha menor que exija
tratamento especial ou dif erenciado em relação à introdução alimentar,
o que poderia ensejar, em juízo sumário de cognição, a prorrogação do
prazo legal de amamentação e, consequentemente, seu af astamento do
trabalho, sem prejuízo da remuneração auf erida. Artigos 394-A, III e 396,
caput e §1º, da CLT. Segurança denegada. [...] 17

Percebe-se, portanto, que dentre as medidas que foram tomadas para


proteger as trabalhadoras grávidas durante a pandemia no Brasil, apenas a Lei
nº 14.151/21 cria uma obrigatoriedade de forma ampla e para todos os casos
concretos. Mesmo assim, a análise e aprovação do Projeto de Lei respectivo
ocorreu de forma extremamente lenta, o que deixou as obreiras gestantes ainda
desprotegidas e desamparadas durante meses no país.

16 RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 1ª Seção de Dissídios Individuais, 0020945-


40.2021.5.04.0000 MSCIV, em 13/08/2021, Desembargador Gilberto Souza dos Santos . <
https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.
17RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 8ª Turma, 0020576-05.2020.5.04.0122 ROT, em
13/11/2021, Desembargadora Luciane Cardoso Barzotto.
<https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É de extrema importância o caráter de proteção às gestantes e às


lactantes. As mulheres do mundo de hoje, trabalham fora e ainda têm que cuidar
dos afazeres domésticos. As medidas protetivas atualmente existentes têm dado
muita oportunidade para que as mulheres possam conciliar sua vida profissional
com sua vida particular, buscando dessa forma a diminuição da discriminação
velada que ainda existe contra a mulher no mercado de trabalho.

Em que pese haver tantos direitos conquistados pela mulher no mercado


de trabalho, não se pode deixar de destacar ainda que existe discriminação da
mulher, especialmente àquelas que se encontram durante o período de
gestação. Embora haja certa discriminação, hoje em dia, a mulher vem
conseguindo cada vez mais adentrar no mercado de trabalho, cada vez mais se
igualando aos homens no que diz respeito ao salário quanto aos seus serviços,
devendo o princípio da igualdade ser sempre respeitado.

Apesar dessas medidas protetivas que são resguardadas às mulheres, a


pesquisa possibilitou perceber a grande falta de informação por parte das
empregadas nos direitos que lhes são garantidos. Por vezes, as inúmeras
medidas que visam reduzir a discriminação não são tão eficazes como poderiam
ser, pela possível falta de aplicabilidade dessas normas.

REFERÊNCIAS
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Centro Gráfico, 1988. BRASIL. Constituição (1988). Disponivel em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 23 abril de
2022.

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NACIONAL – CN, BRASIL. Constituição (1934). Disponivel em
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao34.htm>. Acesso em
29 de abril de 2022.

BRASIL, LEI Nº 13.467, DE 13 DE JULHO DE 2017. Brasília, DF: Secretaria-Geral


- Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2017/lei/l13467.htm>.
Acesso em: 10 de maio de 2022.

BRASIL, MEDIDA PROVISÓRIA Nº 1.045, DE 27 DE ABRIL DE 2021. DIÁRIO


OFICIAL DA UNIÃO. Publicado em: 28/04/2021. Edição: 78. Seção: 1. Página: 2.
Órgão: Atos do Poder Executivo. Disponivel em
<https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/medida-provisoria-n-1.045-de-27-de-abril-de-
2021-316257308>. Acesso em 15 maio de 2022.

BRASIL. LEI Nº 14.151 DE 12 DE MAIO DE 2021. Data de assinatura: 12 de Maio


de 2021. Origem: Legislativo. Data de Publicação: 13 de Maio de 2021. Disponivel
em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2021/lei/L14151.htm>.
Acesso em 10 maio de 2022.

BRASIL, Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 348. AVISO PRÉVIO.


CONCESSÃO NA FLUÊNCIA DA GARANTIA DE EMPREGO. INVALIDADE
(mantida). Res. 121/2003, DJ 19, 20 e 21.11.2003 <https://www3.tst.jus.br >
Acesso em 14 maio 2022.

RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 4ª Turma, 0020190-77.2020.5.04.0282


ROT, em 16/12/2020, Desembargador Joao Paulo Lucena – Relator <
https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.

RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 8ª Turma, 0020508-82.2020.5.04.0016


RORSUM, em 15/04/2021, Desembargador Luiz Alberto de Vargas<
https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.

RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 3ª Turma, 0021218-96.2017.5.04.0731


ROT, em 20/07/2020, Desembargadora Maria Madalena Telesca. <
https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.

RIO GRANDE DO SUL. TRT da 4ª Região, 8ª Turma, 0020508-82.2020.5.04.0016


RORSUM, em 15/04/2021, Desembargador Luiz Alberto de Vargas. <
https://www.trt4.jus.br/portais/trt4/acordaos> Acesso em 27 maio 22.

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