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Propriedades elétricas, térmicas e

magnéticas dos materiais

APRESENTAÇÃO

Nos primórdios da humanidade, o Homo sapiens tinha acesso somente aos materiais presentes
na natureza, como madeira, barro, pedras, minério de ferro e outros. Com o passar do tempo,
novos materiais foram surgindo e, juntamente com os avanços tecnológicos, foram descobertos
materiais com propriedades superiores em comparação aos materiais naturais. Além do mais, se
descobriu que as propriedades de um material podiam ser alteradas por meio de tratamentos
térmicos e pela adição de outros elementos (como cobalto, tungstênio, magnésio, manganês,
chumbo, entre outros). Dessa forma, é fundamental compreender as propriedades dos materiais.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você vai estudar algumas dessas propriedades. De modo geral,
todas as propriedades importantes dos materiais sólidos podem ser agrupados em seis categorias
diferentes: mecânica, elétrica, térmica, magnética, óptica e deteriorativa. Conhecer as
propriedades de cada material é imprescindível para a escolha correta destes, evitando acidentes
e perdas sociais ou econômicas.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Reconhecer as propriedades físicas dos materiais.


• Definir as propriedades elétricas e térmicas dos materiais.
• Identificar os materiais com propriedades magnéticas.

DESAFIO

Os materiais estão provavelmente mais presentes na nossa cultura do que a maioria das pessoas
percebe. Estão em transportes, habitação, vestuário, comunicação, recreação e produção de
alimentos, sendo que todos os segmentos de nossa vida diária são influenciados em maior ou
menor grau pelos materiais. Dessa forma, os engenheiros frequentemente precisam tomar
decisões que envolvem a seleção de materiais, levando em conta as propriedades destes.

Em uma vinícola, os tanques de armazenamento do vinho são de madeira (carvalho). Porém,


após uma visita da vigilância sanitária, foi solicitada a troca destes por um material que seja de
mais fácil limpeza e higienização.
Você, como engenheiro mecânico dessa empresa, deverá escolher o melhor tipo de material,
levando em conta as propriedades destes. Entre os materiais disponíveis no mercado, tem-se:

- Tanques de ferro fundido.

- Tanques de fibra.

- Tanques de alumínio.

- Tanques de aço inoxidável.

Qual tanque você julga ser mais apropriado para uso na indústria em questão? Justifique sua
resposta descrevendo as propriedades relacionados com a escolha do material.

INFOGRÁFICO

Mesmo havendo um enorme progresso nos estudos de novas tecnologias na disciplina de


ciências e engenharia de materiais, ainda existem muitos desafios a serem resolvidos, pois há o
constante desenvolvimento de materiais, cada vez mais sofisticados e especializados, assim
como a consideração do impacto ambiental causado pela produção dos materiais.

Dessa forma, conhecer as propriedades dos materiais é essencial e envolve uma gama de
conhecimentos técnicos, cuja dimensão dificilmente pode ser exercida por uma única categoria
profissional. Logo, a seleção de materiais é o ponto focal de uma série de especialidades
tecnológicas, que vão desde a criação do projeto até a análise de desempenho em campo.

Confira, no Infográfico a seguir, quais as principais propriedades físicas, mecânicas, elétricas,


térmicas e magnéticas dos materiais.
CONTEÚDO DO LIVRO

Os materiais sólidos são agrupados em três classificações básicas: metais, cerâmicas e


polímeros. Cada tipo de material apresenta propriedades diferentes um do outro,
sendo essencial conhecer essas propriedades, as quais podem ser físicas, químicas, mecânicas,
elétricas, térmicas e magnéticas.

A demanda pelo desenvolvimento de materiais cada vez mais tecnológicos é essencial,


logo, conhecer as propriedades de cada um é fundamental tanto para os engenheiros de materiais
como para os engenheiros mecânicos.

Na obra Materiais de construção mecânica, leia o capítulo Propriedades elétricas, térmicas e


magnéticas dos materiais, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, no qual você vai
conhecer cada uma dessas propriedades.

Boa leitura.
MATERIAIS DE
CONSTRUÇÃO
MECÂNICA

Ronei Stein
Propriedades dos materiais
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Reconhecer as propriedades físicas dos materiais.


„„ Definir as propriedades elétricas e térmicas dos materiais.
„„ Identificar os materiais com propriedades magnéticas.

Introdução
Nos primórdios da humanidade, o Homo sapiens tinha acesso somente aos
materiais presentes na natureza, como madeira, barro, pedras, minério de
ferro e outros. Com o passar do tempo, novos materiais foram surgindo e,
juntamente com os avanços tecnológicos, foram descobertos materiais com
propriedades superiores em comparação aos materiais naturais. Além do
mais, se descobriu que as propriedades de um material podiam ser alteradas
por meio de tratamentos térmicos e pela adição de outros elementos
(como cobalto, tungstênio, magnésio, manganês, chumbo, entre outros).
Neste capítulo, você vai perceber o quão fundamental é compreender
as propriedades dos materiais. De modo geral, todas as propriedades
importantes dos materiais sólidos podem ser agrupadas em seis categorias
diferentes: mecânica, elétrica, térmica, magnética, óptica e deteriorativa.
Conhecer as propriedades de cada material é imprescindível para a escolha
correta destes, evitando, assim, acidentes e perdas sociais ou econômicas.

Propriedades físicas dos materiais


Antes de começarmos a falar das propriedades físicas dos materiais, é necessário
entender o conceito de propriedades dos materiais. As propriedades da matéria
podem ser classificadas em físicas, ou seja, podem ser observadas e medidas sem
2 Propriedades dos materiais

alterar a composição; ou químicas, as quais se transformam em outro material.


Neste capítulo serão abordadas as propriedades físicas dos materiais.

Basicamente, as propriedades químicas estão relacionadas às transformações e à


energia envolvida para transformar/alterar esses materiais. Seu estudo é fundamental
para saber ao certo as propriedades de cada material, e assim, estabelecer o uso
apropriado para cada um. As propriedades químicas alteram a composição química da
matéria, ou seja, referem-se à capacidade que uma substância tem de se transformar
em outra por meio de reações químicas. São exemplos de propriedades químicas
a combustibilidade (propriedade de queimar/incendiar) e a ferrugem (reação de
oxidação), conforme a Figura 1.

Figura 1. Exemplo de propriedades químicas. (A) O álcool, após a queima, transforma-se


em outras substâncias, como gás carbônico e água. (B) A ferrugem em pregos é causada
pela oxidação do ferro.
Fonte: (A) Adaptada de Kzenon/Shutterstock.com. (B) ruzanna/Shutterstock.com.
Propriedades dos materiais 3

Especificamente falando das propriedades físicas, estas estão relacionadas


com as informações que podem ser coletadas e analisadas sem que a com-
posição química da matéria mude, ou seja, resultam em fenômenos físicos, e
não químicos. As propriedades físicas podem ser subdivididas em gerais ou
específicas, organolépticas e intensivas ou extensivas. O Quadro 1 apresenta
as principais propriedades de cada subdivisão.

Quadro 1. Principais propriedades físicas dos materiais

Propriedades físicas

Subdivisão Propriedade Definição

Gerais: comuns Volume Refere-se à quantidade de espaço


a toda matéria. que ocupa ou pode ser ocupado por
qualquer entidade mensurável, seja
sólida, líquida, gasosa, quântica ou
de vácuo. Normalmente, é medido
em metros cúbicos (m³) e litros (l).

Temperatura Medida estatística do nível de agitação


entre moléculas, relacionada
com o deslocamento da energia
cinética de um átomo ou molécula.
Em física, a temperatura está
relacionada com a energia interna
de um sistema termodinâmico.

Estado físico Podemos encontrar a água em três


(sólido, líquido estados físicos. O estado líquido
e gasoso) é o mais comum, pois está mais
presente em nosso dia a dia.

Específicos: Densidade Consiste na relação existente entre a


referentes a cada massa e o volume de um material, a
matéria, podendo uma dada pressão e temperatura.
ser usadas para
identificar a
substância ou
o composto
que está sendo
analisado.
(Continua)
4 Propriedades dos materiais

(Continuação)

Quadro 1. Principais propriedades físicas dos materiais

Propriedades físicas

Subdivisão Propriedade Definição

Ponto de fusão Refere-se à temperatura na qual


uma substância passa do estado
sólido para o estado líquido. Essa
temperatura é a mesma quando a
substância se solidifica, ou seja, passa
do estado líquido para o sólido.

Ponto de É a temperatura na qual um líquido


ebulição vence a pressão atmosférica,
passando para o estado gasoso
(mudança de estado).

Coeficiente de É a quantidade de soluto


solubilidade necessária para saturar o solvente, numa
determinada temperatura e pressão.

Propriedades São exemplos de propriedades organolépticas:


organolépticas: cor, cheiro, sabor, brilho e dureza.
podem ser
analisadas com os
nossos sentidos.

Propriedades São exemplo de propriedades intensivas:


intensivas: não temperatura e densidade.
dependem da
massa da amostra.

Propriedades Exemplo: volume.


extensivas:
dependem da
massa da amostra.

Propriedades mecânicas dos materiais


Não há como discutir as mais diversas propriedades dos materiais sem men-
cionarmos as propriedades mecânicas. Diferentemente das propriedades
físicas, as propriedades mecânicas são verificadas através da realização de
experimentos de laboratório cuidadosamente programados, reproduzindo o
mais fielmente possível as condições de serviço. As propriedades mecânicas
Propriedades dos materiais 5

são o alvo da atenção de uma gama de pessoas e grupos, como, por exemplo,
produtores e consumidores de materiais, organizações de pesquisa, agências
governamentais, entre outros, que possuem diferentes interesses (CALLISTER;
RETHWISCH, 2014).
Entre as principais propriedades mecânicas dos materiais, destacam-se:

„„ Módulo de elasticidade: razão entre a tensão e a deformação na direção


da carga aplicada, sendo a máxima tensão que o material suporta sem
sofrer deformação permanente.
„„ Resistência à deformação e a tração: resistência à tração, tratada
também pelo conceito de limite de resistência à tração (LRT), é indicada
pelo ponto máximo de uma curva de tensão-deformação e, em geral,
indica quando a criação de um “pescoço”, conhecido como necking,
irá ocorrer. Em outros termos, é a máxima tensão que um material
pode suportar ao ser esticado ou puxado antes de falhar ou quebrar. A
Figura 2 apresenta o comportamento típico da curva tensão-deformação
de engenharia até a fratura do material, no ponto F.

M
LRT

F
Tensão

Deformação
Figura 2. Comportamento típico da curva tensão-deformação de enge-
nharia até a fratura do material (no ponto F).
Fonte: Callister e Rethwisch (2014).
6 Propriedades dos materiais

„„ Dureza: propriedade de um material que permite a ele resistir à defor-


mação plástica, usualmente por penetração. O termo “dureza” também
pode ser associado à resistência, flexão, risco, abrasão ou corte.
„„ Tenacidade à fratura: representa uma medida da habilidade de um
material para absorver energia até sua fratura.
„„ Limite de fadiga: consiste no fenômeno de ruptura progressiva de
materiais sujeitos a ciclos repetidos de tensão ou deformação. Além do
mais, a tenacidade à fratura é uma propriedade indicativa da resistência
de um material à fratura quando uma trinca está presente.
„„ Ductilidade: representa uma medida do grau de deformação plástica
que foi suportado até o momento da fratura. Um material que experi-
menta uma deformação plástica muito pequena ou mesmo nenhuma
deformação plástica até o momento da sua fratura é chamado de frágil.
„„ Resiliência: capacidade de um material de absorver energia quando é
deformado elasticamente e depois, com a remoção da carga, recuperar
sua energia. A propriedade associada é o módulo de resiliência, Ur, o
qual representa a energia de deformação por unidade de volume exigida
para tensionar um material desde um estado com ausência de carga até
sua tensão limite de escoamento.

Propriedades elétricas e térmicas dos materiais


Propriedades elétricas referem-se às condições físicas para que uma carga
elétrica se mova de átomo para átomo em um material específico. Essas
propriedades são muito diferentes entre os três principais tipos de materiais:
sólidos, líquidos e gases. As propriedades elétricas de materiais sólidos, como
metal, são altas, enquanto as cargas elétricas não se movem tão facilmente
na água e, especialmente, nos gases. Em cada elemento, há exceções: alguns
sólidos são maus condutores e alguns gases podem se tornar excelentes
condutores.
De acordo com Callister e Rethwisch (2014), uma das características elé-
tricas mais importantes de um material sólido é a facilidade com a qual ele
transmite uma corrente elétrica. A lei de Ohm relaciona a corrente (ou taxa de
passagem de cargas ao longo do tempo), I, à voltagem que está sendo aplicada,
V, da seguinte maneira:

V=I·R
Propriedades dos materiais 7

Nessa fórmula, R representa a resistência do material através do qual a


corrente está passando. As unidades para V, I e R são, respectivamente, o volt
(J/C), o ampère (C/s) e o ohm (V/A).
Os campos eletromagnéticos podem interagir com partículas carregadas em
materiais, produzindo condutividade, polarização dielétrica e características
magnéticas. A extensão na qual o comportamento elétrico e magnético e a
condutividade podem ser variados é afetada principalmente: (1) pelas energias
dos elétrons na camada de valência; (2) pelo “spin” dos elétrons nos átomos; (3)
pela estrutura cristalina ou amorfa do material. Dessa forma, o conhecimento
dessas relações permite a previsão das propriedades elétricas e magnéticas de
um material de forma a não se necessitar de tentativas ao se fazer a seleção
do material (VAN VLACK, 1970).
A condutividade elétrica, simbolizada pela letra grega σ (sigma), consiste
no movimento de cargas elétricas de uma posição para outra. Como a carga
necessita ser carregada por íons ou elétrons cuja mobilidade varia para os
diferentes materiais, há um completo “espetro” de condutividades, desde os
metais altamente condutores até os isolantes quase perfeitos. É importante
mencionar que na condutividade iônica, os portadores de carga podem ser
tanto cátions como ânions. Já na condutividade eletrônica, os portadores são
elétrons ou “buracos” eletrônicos, conforme mostra a Figura 3.

(a) (b)
Figura 3. Movimento dos elétrons nos metais. (A) Quando não há campo elétrico externo,
o movimento dos elétrons em um metal se dá ao acaso. (B) Dentro de um campo elétrico
externo, os elétrons são acelerados quando se movem na direção do polo positivo e
desacelerados quando se movem na direção do polo negativo. O movimento dos elétrons
é na direção do polo positivo.
Fonte: Adaptada de Van Vlack (1970, p. 108).
8 Propriedades dos materiais

Os metais são bons condutores, e comumente têm condutividade da ordem de 107


(Ω-m)-1. No outro extremo estão os materiais que possuem condutividades muito
baixas, variando entre 10 -10 e 10 -20 (Ω-m)-1; esses materiais são os isolantes elétricos. Os
materiais que apresentam condutividades intermediárias, geralmente entre 10 -6 e 104
(Ω-m)-1, são chamados de semicondutores.

A resistividade é outra propriedade elétrica. A maioria dos metais é com-


posta por materiais extremamente bons condutores de eletricidade, fato ex-
plicado devido ao grande número de seus elétrons livres que são excitados
para dentro dos espaços vazios acima da energia de Fermi. Desta forma, é
fundamental entender o conceito de resistividade elétrica.
A resistividade é o inverso da condutividade elétrica. Tendo em vista que
os defeitos cristalinos auxiliam como centro de espalhamento para elétrons
de condução dos metais, o aumento do número destes também aumenta a
resistividade (ou diminui a condutividade). A concentração dessas imperfei-
ções depende da temperatura, da composição e do grau de trabalho a frio da
amostra do metal (CALLISTER; RETHWISCH, 2014).

Propriedades térmicas
Propriedades térmicas referem-se à resposta de um material à aplicação de calor.
À medida que um sólido absorve energia na forma de calor, sua temperatura
aumenta, assim como suas dimensões. Isso acontece porque, quando uma
material sólido é aquecido, este experimenta um aumento de temperatura, o
que significa que alguma energia foi absorvida (CALLISTER; RETHWISCH,
2014).
Desta forma, a capacidade calorífica é uma propriedade que serve como
um indicativo da habilidade de uma material em absorver calor da sua vizi-
nhança externa, representando a quantidade de energia exigida para produzir
um aumento unitário na temperatura. Entre as propriedades térmicas mais
importantes, destacam-se de acordo com Callister e Rethwisch (2012):
Propriedades dos materiais 9

„„ Dilatação ou expansão térmica: a grande maioria dos materiais sólidos


expande-se quando submetidos a um aquecimento, e se contrai quando
submetido a um resfriamento.
„„ Condutividade térmica: é o fenômeno segundo o qual o calor é trans-
ferido das regiões de alta temperatura para as de baixa temperatura em
uma substância. Materiais com alta condutividade térmica conduzem
calor de forma mais rápida que os materiais com baixa condutividade
térmica. Dessa forma, materiais de com alta condutividade térmica são
utilizados como dissipadores de calor e materiais de baixa condutivi-
dade térmica são utilizados como isolamentos térmicos. Os materiais
não metálicos e os polímeros são isolantes térmicos, uma vez que
carecem de um grande número de elétrons livres. Os polímeros são
usados frequentemente como isolantes térmicos, devido à sua baixa
condutividade térmica.

O melhor isolante térmico é o vácuo, mas devido à grande dificuldade para obter-se e
manter suas condições, é usado em muito poucas ocasiões, limitadas em escala. Dessa
forma, comumente são usados como isolante térmico materiais porosos ou fibrosos
(Figura 4), que são introduzidos (na grande maioria dos casos) através de uma espuma
durante o processo de polimerização.

Figura 4. A espuma de poliestireno é usada comumente para fabricar bebidas e caixas


isolantes.
Fonte: Room’s Studio/Shutterstock.com.
10 Propriedades dos materiais

„„ Calor específico: refere-se à quantidade de calor necessária para que


cada grama de uma substância sofra uma variação de temperatura cor-
respondente a 1 °C. Essa grandeza é uma característica de cada tipo
de substância e indica o comportamento do material quando exposto
a uma fonte de calor.
„„ Resistência ao choque térmico: no caso de polímeros e metais dúcteis,
o alívio das tensões termicamente induzidas pode ser realizado através
de uma deformação plástica. Entretanto, a não-ductilidade exibida pela
maioria dos materiais cerâmicos aumenta a possibilidade de ocorrência
de uma fratura frágil a partir dessas tensões. O resfriamento rápido
de um corpo frágil irá mais provavelmente causar esse tipo de choque
térmico do que o aquecimento, uma vez que as tensões superficiais
induzidas são de tração.

Propriedades magnéticas dos materiais


O magnetismo é um fenômeno no qual os materiais impõem uma força ou
influência de atração ou de repulsão sobre outros. É de conhecimento comum
que o ferro, alguns aços e o mineral magnetita, de ocorrência natural, exibem
propriedades magnéticas. Mas não tão familiar, no entanto, é o fato que todas
as substâncias são influenciadas, em maior ou menor grau, pela presença de
um campo magnético (CALLISTER; RETHWISCH, 2014).
De acordo com Van Vlack (1970), uma das técnicas mais simples de sepa-
ração de materiais ferrosos dos não ferrosos é através da comparação de suas
propriedades magnéticas. Mesmo que existam poucos materiais semelhantes
ao ferro, este não é o único material a apresentar características magnéticas.
O cobalto, o níquel e o gadolínio são altamente magnéticos, sem mencionar
que muitas ligas especiais têm propriedades magnéticas (Figura 5).
Propriedades dos materiais 11

Figura 5. Exemplo de materiais com características magnéticas.


Fonte: haryigit/Shutterstock.com.

Mas o que são os ímãs exatamente? São corpos de materiais ferromagnéti-


cos que têm a capacidade de atrair outros materiais ferromagnéticos e também,
porém de forma muito mais fraca, materiais paramagnéticos (como platina, po-
tássio, paládio, sódio, lítio, alumínio, cromo e algumas ligas de ferro, entre
outros) e diamagnéticos (como bismuto, cobre, prata, chumbo, entre outros),
segundo Askeland e Wright (2015).
Através do movimento de partículas carregadas eletricamente, são geradas
as forças magnéticas. Estas são adicionais a quaisquer forças eletrostáticas
que possam prevalecer, sendo que podem, muitas vezes, ser representadas por
linhas de forças imaginárias, a fim de indicar a direção da força em posições
na vizinhança da fonte de campo (CALLISTER; RETHWISCH, 2014). Todo
ímã apresenta duas áreas distintas, nas quais a influência magnética se ma-
nifesta com maior intensidade. Essas regiões são chamadas de polos do ímã,
denominados norte (N) e sul (S), e possuem comportamentos diferentes na
presença de outros ímãs.
12 Propriedades dos materiais

Ao manusear dois ímãs, é possível perceber claramente que existem duas


formas de colocá-los para que estes sejam repelidos e duas formas para que
sejam atraídos. Isto se deve ao fato de que polos com mesmo nome se repelem,
mas polos com nomes diferentes se atraem, conforme indicado na Figura 6.

Polos diferentes se atraem

Polos iguais se repelem

Figura 6. Linhas de força de um campo magnético ao redor de um circuito


de corrente e de um ímã de barra.
Fonte: Adaptado de Jakinnboaz/Shutterstock.com.

Os materiais podem ser classificados em diferentes tipos, de acordo com o magnetismo,


onde a distinção é feita com base na origem e na forma como os dipolos magnéticos
interagem. São essas características que determinam como o material comporta-se
na presença de outro campo magnético.
Propriedades dos materiais 13

Entre os tipos mais comuns de magnetismo, tem-se, de acordo com Callister


e Rethwisch (2014):

„„ Ferromagnéticos: devido à importância histórica e comercial do ferro


como um material magnético, o termo “ferromagnetismo” surgiu com
o intuito de englobar as intensas propriedades magnéticas possuídas
pelo grupo dos metais de transição ferro, como cobalto, níquel e alguns
dos metais terrosos raros, como o gadolónio (Gd) e o neodímio (Nd).
„„ Diamagnéticos: é uma forma muito fraca de magnetismo que é não
permanente e que persiste somente enquanto um campo externo está
sendo aplicado. Ele é induzido por uma mudança no movimento or-
bital dos elétrons devido à aplicação de um campo magnético, mas a
magnitude do momento magnético induzido é extremamente pequena.
O diamagnetismo é encontrado em todos os materiais, contudo, uma
vez que este é muito fraco, pode ser observado apenas quando outros
tipos de magnetismo estão totalmente ausentes.
„„ Paramagnéticos: são materiais que possuem elétrons desemparelha-
dos e que, na presença de um campo magnético, alinham-se, fazendo
surgir um ímã que tem a capacidade de provocar um leve aumento na
intensidade do valor do campo magnético em um ponto qualquer.

Tanto os materiais diamagnéticos quanto os paramagnéticos são considerados não


magnéticos, uma vez que exibem magnetização unicamente quando se encontram
na presença de um campo externo.

Classificação dos materiais magnéticos


Tanto os materiais ferromagnéticos quanto os ferrimagnéticos são classifi-
cados como moles ou como duros, levando em conta sua característica de
histerese. Os materiais magnéticos moles são usados em dispositivos que estão
sujeitos a campos magnéticos alternados e onde as perdas de energia devem
ser baixas, ou seja, apresentam força magnética somente em presença de um
campo magnético externo.
14 Propriedades dos materiais

Ferrimagnetismo: alguns materiais cerâmicos exibem uma magnetização permanente.


As características magnéticas macroscópicas dos ferromagnetos e dos ferrimagnetos
são semelhantes, o que as diferencia é a fonte dos momentos líquidos.
Histerese: tendência de um sistema de conservar suas propriedades na ausência de
um estímulo que as gerou, ou, ainda, a capacidade de preservar uma deformação
efetuada por um estímulo.

Os materiais magnéticos moles são usados principalmente na indústria


eletroeletrônica, porém a partir daí disseminam-se para outros segmentos,
tais como a indústria automobilística, de eletrodomésticos e de ferramentas
elétricas. A seguir, são listados alguns exemplos de aplicações de materiais
magnéticos moles sinterizados:

„„ anéis para sensores de freios ABS;


„„ solenoides, polos, relês e atuadores;
„„ rotores para motores com imãs;
„„ peças estruturais.

Os ferromagnéticos duros só se magnetizam quando aplicamos a eles um


alto campo magnético externo. Estes são usados em imãs permanentes que
precisam ter alta resistência à desmagnetização. Segundo Callister e Rethwisch
(2014), os materiais magnéticos duros se enquadram dentro de duas categorias
principais, a saber:

„„ Convencional: incluem os materiais ferromagnéticos, como aços imã,


ligas cunife (Cu-Ni-Fe), ligas alnico (Al-Ni-Co), ferritas hexagonais
(BaO-6Fe2O3), entre outros.
„„ Alta energia: incluem imãs samário-cobalto, imãs neodímio-ferro-
-boro, entre outros.

É importante mencionar que a temperatura influencia as características


magnéticas dos materiais. O aumento da temperatura de um sólido resulta em
um aumento na magnitude das vibrações térmicas dos átomos. Os momentos
Propriedades dos materiais 15

magnéticos atômicos estão livres para girar, e, assim, com o aumento da tem-
peratura, o maior movimento térmico dos átomos tende a tornar aleatórias as
direções de quaisquer momentos que possam estar alinhadas (CALLISTER;
RETHWISCH, 2014).

Quando um ímã é aquecido acima de uma determinada temperatura, ele deixa de


gerar campo magnético. Os ímãs de níquel perdem sua capacidade quando aquecidos
a 350 ºC; os de ferro, a 770 ºC; e os de cobalto, a 1.100 ºC. Essas temperaturas são
chamadas de temperaturas de Curie.
Propriedades dos materiais 17

ASKELAND, D. R.; WRIGHT, W. J. Ciência e engenharia dos materiais. 2. ed. São Paulo:
Cengage Learning, 2015. 648 p.
CALLISTER JUNIOR, W. D.; RETHWISCH, D. G. Ciência e engenharia dos materiais: uma
introdução. 8. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012. 817 p.
CALLISTER JUNIOR, W. D.; RETHWISCH, D. G. Fundamentos da ciência e engenharia de
materiais: uma abordagem integrada. 4. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014. 832 p.
VAN VLACK, L. H. Princípios de ciências dos materiais. São Paulo: Blucher, 1970. 448 p.

Leituras recomendadas
BEER, F. P. et al. Mecânica dos materiais. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2015. 856 p.
SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais. 5. ed.
Porto Alegre: AMGH, 2012. 734 p.
VAN VLACK, L. H. Princípios de ciência e tecnologia dos materiais. Rio de Janeiro: Cam-
pus, 1984. 567 p.
DICA DO PROFESSOR

Para o estudo dos ensaios mecânicos, é fundamental, antes de mais nada, ter conhecimento
prévio sobre alguns conceitos importantes, principalmente quanto aos relacionados às
propriedades dos materiais. De modo geral, as propriedades físicas de um material podem ser
determinadas sem que existam alterações em sua constituição.
Já as propriedades mecânicas dos materiais definem o comportamento destes quando sujeitos
a cargas externas, ou seja, sua capacidade de resistir ou transmitir esses esforços sem que
ocorram fraturas ou deformações de forma incontrolada. Isso porque todo material sólido,
quando submetido a esforços externos, tem a capacidade de se deformar.
Tem-se, ainda, as propriedades térmicas, as quais estão relacionadas à resposta ou à reação do
material à aplicação de calor. E as propriedades elétricas referem-se à condução de corrente
elétrica por meio de um material. Basicamente, a caracterização elétrica é realizada por meio de
medidas de corrente-tensão elétricas.

Para saber mais sobre as propriedades dos materiais metálicos, cerâmicos e poliméricos, assista
à Dica do Professor a seguir.
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EXERCÍCIOS

1) Magnetismo é uma força que exerce um poder de atração ou repulsão entre


determinados objetivos, como ímãs e materiais ferromagnéticos, por exemplo.
Quando uma barra de ferro é magnetizada, são:

A) acrescentados elétrons à barra.

B) retirados elétrons da barra.

C) acrescentados ímãs elementares à barra.

D) retirados ímãs elementares da barra.


E) ordenados os ímãs elementares da barra.

2) Por propriedade térmica, entende-se a resposta de um material à aplicação de calor.


À medida que um sólido absorve energia na forma de calor, sua temperatura
aumenta, assim como também aumentam suas dimensões. A capacidade calorífica é
uma das propriedades térmicas dos materiais.
Qual alternativa melhor a define?

A) É a capacidade que um material tem em se expandir, quando submetido a um aquecimento,


e se contrair, quando submetido a um resfriamento.

B) É o fenômeno segundo o qual o calor é transferido das regiões de alta temperatura para
regiões de baixa temperatura em uma substância.

C) É uma propriedade que serve como indicativo da habilidade de um material em absorver


calor da sua vizinhança externa.

D) Refere-se à quantidade de calor necessária para que cada grama de uma substância sofra
uma variação de temperatura correspondente a 1 oC.

E) Significa que o revestimento tem a capacidade de resistir a uma grande variação de


temperatura, com ciclos de frio-quente-frio, sem sofrer perda de sua integridade e
mantendo suas propriedades.

3) Qual dos grupos a seguir pode ser classificado como substância ferromagnética?

A) Prata e níquel.

B) Níquel e cobalto.

C) Ferro e cobre.
D) Ouro e cobalto.

E) Alumínio e cromo.

4) É importante levar em consideração as propriedades elétricas dos materiais quando


se está fazendo a seleção de materiais ou quando se está tomando decisões em relação
às técnicas de processamento dos materiais durante uma etapa de projeto de um
componente ou de uma estrutura. Quando um material metálico for resfriado por
meio de sua temperatura de fusão a uma taxa extremamente rápida, ele irá formar
um sólido não cristalino, ou seja, um vidro metálico.

Dentre as alternativas a seguir, qual está correta em relação ao que ocorreu com a
condutividade elétrica do metal não cristalino em comparação ao análogo cristalino?

A) A condutividade elétrica de um vidro metálico será maior, pois os elétrons envolvidos no


processo de condução experimentarão espalhamentos frequentes e repetidos.

B) A condutividade elétrica de um vidro metálico será menor, pois os elétrons envolvidos no


processo de condução experimentarão espalhamentos frequentes e repetidos.

C) A condutividade elétrica de um vidro metálico será igual, pois os elétrons envolvidos no


processo de condução experimentarão espalhamentos frequentes e repetidos.

D) A condutividade elétrica de um vidro metálico será maior, pois os elétrons envolvidos no


processo de condução experimentarão espalhamentos totalmente aleatórios.

E) A condutividade elétrica de um vidro metálico será menor, pois os elétrons envolvidos no


processo de condução experimentarão espalhamentos totalmente aleatórios.

5) Os cientistas e os engenheiros, sejam eles mecânicos, civis, ambientais, químico ou


elétricos, irão, uma vez ou outra, se deparar com um problema de projeto que
envolve materiais. Dessa forma, é fundamental conhecer as propriedades destes, para
evitar problemas futuros.

Dentre as alternativas a seguir, quais são exemplos de propriedades físicas e


mecânicas, respectivamente?

A) Massa e módulo de elasticidade.

B) Resistividade elétrica e ductilidade.

C) Resiliência e condutividade térmica.

D) Corrosão e tenacidade.

E) Calor específico e paramagnetismo.

NA PRÁTICA

A densidade é uma propriedade física dos materiais, a qual é específica para cada material.
Também conhecida como massa específica, a densidade é a relação entre a massa (m) e o
volume (v) de determinado material, sendo indiferente se este é sólido, líquido ou gasoso.

Confira a seguir alguns exemplos da importância de se conhecer a densidade dos materiais.

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SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Estudo das propriedades elétricas e térmicas de compósitos nanoestruturados de


poli(sulfeto de fenileno) reforçados com nanotubos de carbono

A necessidade por parte do mercado de novos produtos que apresentem propriedades cada vez
melhores tem estimulado extraordinariamente a investigação focada na aplicação de materiais
com propriedades interessantes e de baixo custo. Neste sentido, o objetivo do artigo a seguir é a
avaliação das propriedades elétricas e do processo de cristalização dos compósitos
nanoestruturados de PPS/MWCNT. Confira os resultados e as conclusões obtidos pelos autores
deste artigo.

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Você nunca mais vai ver um ímã do mesmo jeito!

Com ferrofluido e óleo mineral, criamos uma tela que reage aos ímãs e mostra as linhas do
campo magnético. Para saber mais sobre o assunto, assista ao vídeo a seguir.

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Efeito de alguns tratamentos térmicos sobre a microestrutura e propriedades mecânicas


de um aço microligado

Os materiais que são amplamente utilizados para prospectar e transportar óleo e gás são tubos
feitos de aços API. É usual esperar desses materiais: elevada resistência mecânica, boa
tenacidade à fratura em baixas temperaturas, boa soldabilidade, boa resistência à corrosão e à
oxidação, entre outros. Mas esses materiais necessitam de tratamentos térmicos de têmpera e
revenimento, pois aumentam a dureza e a resistência mecânica de aços. Considerando a
importância das propriedades mecânicas e da microestrutura de aços API para a indústria de
petróleo e gás, este artigo visa a estudar o efeito de alguns tratamentos térmicos sobre essas
características de um aço microligado.

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Grafeno: inovações, aplicações e sua comercialização

Novos materiais surgem constantemente, apresentando propriedades superiores aos materiais de


origem. Um exemplo disso é o grafeno, um material composto de átomos de carbono que, por
ser simplesmente o mais fino e o maior condutor do mundo, é tido como o futuro da tecnologia.
Essa camada ligeiríssima de grafite é ainda muito resistente, se levarmos em consideração sua
espessura, sendo 100 vezes mais forte que o aço. Esse material também vem sendo usado na
medicina. Para saber mais a respeito das propriedades desse material, acompanhe o artigo a
seguir.
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