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Aula 01 – Introdução aos materiais de construção

1. Introdução

A humanidade vive na Terra, planeta esse que detém todos os recursos para a
manutenção e o desenvolvimento de seus habitantes. O nível da qualidade de vida no
planeta depende dos aspectos da quantidade de pessoas, dos recursos naturais
disponíveis, do nível de conhecimento para realizar transformações e gerenciamento
desses recursos, ainda também o grau de poluição gerado durante tal processamento.
Define-se recursos naturais qualquer insumo de que os organismos, as
populações e os ecossistemas necessitam para sua manutenção. Segundo define Braga et
al (2005), são divididos em dois grupos:
a) Recursos renováveis: aqueles que, depois de serem utilizados, ficam
disponíveis novamente graças aos ciclos naturais, tais como a água (ciclo
hidrológico), o ar, a biomassa e a energia eólica;
b) Recursos não renováveis: aqueles que, uma vez utilizados não se
renovam por meios naturais. Podem ser subdivididos em duas classes:
a. Minerais energéticos: são combustíveis fósseis (carvão mineral,
petróleo, urânio);
b. Minerais não-energéticos: são minerais como ferro, calcário,
argilas em geral, etc. Grande parte pode ser reutilizada ou reciclada,
embora não possa ser reconstituída as suas condições originais.
Do ponto de vista para utilização dos materiais, define-se como substâncias
com propriedades que as tornam úteis na construção de máquinas, estruturas,
dispositivos e produtos, ou seja, os materiais que o homem utiliza para “fazer coisas”
(COHEN, 1987).
A humanidade historicamente está ligada aos materiais, e ao tipo de habilidade
que o homem dispunha para manipulá-los, como a idade da pedra, idade do bronze, etc.
Segundo Cohen (1985) o homem não teria se tornado o Homem pensador (sapiens) de
ele não tivesse, ao mesmo tempo, sido o Homem realizador (faber).
Figura 1 – esq. Stonehenge (2075 a.C) monumento da idade do bronze; dir.
muralha construída pelo imperador romano Adriano (122 – 130 d.C)
1.1 Ciência e a Engenharia dos Materiais (CEM)

Cohen (1987) define que a CEM é a área da atividade humana associada com a
geração e aplicação de conhecimento que relaciona composição, estrutura e
processamento dos materiais às suas propriedades e usos. Em suma é o acoplamento da
ciência dos materiais, que englobam disciplinas tradicionais, como física, química e
matemática com a engenharia de materiais, que se associa ao desenvolvimento de
processos e aplicação dos materiais. A CEM se constitui de uma rede de conhecimentos
necessários para compreensão, planejamento, projeto e uso dos materiais representados
pelo ciclo estrutura/propriedades/processo/função/desempenho.
Figura 2 - Ciclo global dos materiais

Fonte: adaptado Cohen (1987, pag ix)


A figura 2, ilustra em suma o papel fundamental do estudo da CEM. A parte da
esquerda está destinada as obtenções dos materiais, sua extração propriamente dita; já a
esquerda, relaciona-se as operações de beneficiamento da matéria-prima, produção de
bens de consumo, uso e descarte.
A Ciência dos Materiais se ocupa com as relações entre a microestrutura e as
propriedades dos materiais enquanto a Engenharia dos Materiais estuda a síntese e o
emprego dos conhecimentos científicos e empíricos, para desenvolver, preparar,
modificar e aplicar os materiais que atendam as exigências previamente estabelecidas.
Mas não é possível delimitar os domínios de cada uma dessas, assim a forma mais
correta é a união dos termos, logo Ciência e Engenharia dos Materiais – CEM.
Tabela 1 - Níveis de estudo e informações sobre os materiais.

Fonte: adaptado Illston, Dinwoodie e Smith (1979).


A explicação dos fenômenos que ocorrem em microescala, em nível de
Engenharia, somente pode ser dada a partir de estudos aprofundados, sob ótica
científica, em nível de microestrutura, ou seja, de Ciência dos Materiais. Com efeito, é
conhecendo-se a estrutura atômica e molecular com as imperfeições e descontinuidades,
que se pode explicar o comportamento macro de dado material, por meio de ensaios
específicos, que fornecem informações sobre a sua composição química, estrutura
molecular e de fases, que condicionam o comportamento e as propriedades em nível de
engenharia.
A noção de propriedade merece alguma elaboração. Em serviço, todos os
materiais são expostos a estímulos externos que causam algum tipo de resposta. Por
exemplo, uma amostra submetida à ação de forças experimenta deformação, ou uma
superfície metálica polida reflete a luz. Uma propriedade é uma característica de um
dado material, em termos do tipo e da magnitude da sua resposta a um estímulo
específico que lhe é imposto. Geralmente, as definições das propriedades são feitas de
modo que elas sejam independentes da forma e do tamanho do material.
Virtualmente todas as propriedades importantes dos materiais sólidos podem
ser agrupadas em seis categorias diferentes: mecânica, elétrica, térmica, magnética,
óptica e deteriorativa. Para cada categoria existe um tipo característico de estímulo que
é capaz de provocar diferentes respostas. Essas são observadas conforme a seguir:
• Propriedades mecânicas — relacionam a deformação a uma carga ou força que é
aplicada; os exemplos incluem o módulo de elasticidade (rigidez), a resistência e a
tenacidade.
• Propriedades elétricas — o estímulo é um campo elétrico aplicado; as propriedades
típicas incluem a condutividade elétrica e a constante dielétrica.
• Propriedades térmicas — estão relacionadas a variações na temperatura ou gradientes
de temperatura ao longo de um material; exemplos de comportamento térmico incluem
a expansão térmica e a capacidade calorífica.
• Propriedades magnéticas — as respostas de um material à aplicação de um campo
magnético; as propriedades magnéticas comuns incluem a susceptibilidade magnética e
a magnetização.
• Propriedades ópticas — o estímulo é a radiação eletromagnética ou a radiação
luminosa; o índice de refração e a refletividade são propriedades óticas representativas.
• Características deteriorativas — estão relacionadas com a reatividade química dos
materiais; por exemplo, a resistência à corrosão dos metais.

1.3 Importância do estudo e da escolha de materiais

Os materiais são os elementos fundamentais de todos os ramos da


Engenharia. Assim uma boa seleção de materiais para determinada função é
fundamental, o que leva o engenheiro/arquiteto, que exerce funções imprescindíveis a
todas as atividades humana, a ser um detentor nato para essa seleção. Além de realizar
ciência aplicada, deve possuir bons fundamentos de economia, porque o preenchimento
das necessidades humanas sempre envolve a variável custo.
Na escolha do material, deve-se escolher a melhor relação
custo/benefício, ou seja, espera-se do material que tenha propriedades requeridas para o
caso pelo menor preço possível. Vale lembrar que o pensamento está no custo global, o
que se inclui despesas necessárias de manutenção e o uso até o fim da vida útil do
objeto em questão. Logo a escolha no material pelo profissional não está limitada a uma
única propriedade, mas sim a durabilidade e ao desempenho desse material na
construção. Vale lembrar que a experiência do profissional na escolha do material é
outro ponto importante.
Figura 3 – Evolução comparativa de pilar curto calculado pela norma norueguesa NS
3473 (1988) em igualdade de carregamento (adaptado)

Conforme pode-se observar na figura 3, os materiais no último século


sofreram uma evolução abrupta, o concreto do exemplo teve sua resistência
característica aumentada 3,6 vezes, sua seção transversal de concreto reduzida 6,7 vezes
e a de aço 2,4 vezes. Assim teve-se uma redução de 85% da massa de concreto e 49%
da armadura, num período de 50 anos.

1.4 Classificação dos materiais

Tradicionalmente, segundo a composição e as estruturas atômica e


molecular, os materiais sólidos são agrupados em três classes: metais, cerâmicos e
polímeros. Outros grupos existem e tem muita importância para engenharia: os
materiais compósitos, os semicondutores e os biomateriais.
 Metais
Metais tradicionais como ferro, cobre e ouro são conhecidos e dominados pelo
homem a muito tempo (5.000 a 3.000 a.C), época que o se descobriu o forno de alta
temperatura e aprendeu a fundir os metais para fabricação de armas, utensílios
domésticos e peças para veículos de transportes.
A baixa qualidade do aço da Idade Média e início da Revolução Industrial
devido a falta de controle do teor de carbono e impurezas, foram sanados por Bessemer,
em 1856, em processo que permitiu a produção do aço em grande escala e de melhor
qualidade, o que resultou na disseminação e no aprimoramento de sua fabricação e de
outros tipos de aço-liga.
Os metais são compostos de combinação de elementos metálicos que possuem
grande quantidade de elétrons livres, não ligados a qualquer átomo em particular,
constituindo-se na ligação metálica, que se configura numa “nuvem” eletrônica com o
compartilhamento dos elétrons entre átomos vizinhos. As propriedades dos metais
derivam dessa sua constituição, ou seja, seu uso é bastante extensivo em aplicações
estruturais, em especial ferro e alumínio.
 Cerâmicas
A argila foi o primeiro material manipulado intencionalmente pelo homem, ao
redor do oitavo milênio a. C., por meio da operação da queima (sinterização), que
transformava a argila de um material plástico para outro com maior resistência. Esse
processo fez com que se pudesse confeccionar os primeiros utensílios domésticos, o que
constituiu a cerâmica como o marco para o surgimento da Engenharia de Materiais. O
vidro, também classificado como um material cerâmico, foi desenvolvido por volta de
4.000 a.C. no Egito, mas apenas em Veneza (1200 d.C.) se teve sua maior evolução.
As cerâmicas são materiais formados por espécies químicas metálicas e não
metálicas, com ligações iônicas e covalentes com elétrons ligados em posições definidas
e fixas, o que lhes confere propriedades bem características, tais como a resistência à
compressão, muitas vezes até maior que os metais, visto que os átomos não podem se
deslocar de suas posições originais, por isso apresenta baixa deformação na ruptura, o
que gera uma natureza frágil. Outras características devido a sua composição química
está quanto a estabilidade a altas temperaturas e também boa resistência a agentes
químicos agressivos.
Grande parte dos materiais cerâmicos típicos é composta por sílica, alumina,
magnésia ou cal, os quais compõem o grupo da maioria dos materiais de construção
mais empregados nas construções, tais como agregados em geral, cimento, cal, vidro,
blocos, tijolos, concreto, argamassas, revestimentos cerâmicos, etc.

 Polímeros
Os polímeros, macromoléculas orgânicas formadas pela união de substâncias
simples, chamadas monômeros, podem ser de origem natural ou sintética. Os polímeros
naturais são conhecidos desde os primórdios da humanidade, quanto o homem primitivo
utilizou produtos de origem animal ou vegetal, como madeira, fibras têxteis (algodão,
lã), crinas, ossos, couros, borracha natural e outros produtos da natureza (PADILHA,
1997).
O grande salto no estudo dos polímeros foi dado a partir de 1950 com os
estudos de Ziegler sobre o uso de catalisadores que possibilitaram a produção de
polímeros com propriedades pré-determinadas, iniciando a era dos polímeros projetados
ou da Engenharia Polimérica. Entre esses produtos encontram-se o Neoprene, com uso
para roupas de mergulho, isolação elétrica, correias de ventiladores de carro e
impermeabilização de construções.
Os polímeros se constituem em moléculas de cadeia longa com grupos
repetitivos que apresentam ligações covalentes, geralmente muito fortes. Os principais
elementos dessa cadeira são carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, flúor e outros
elementos não metálicos. As cadeias poliméricas se unem entre si por ligações
secundárias (forças de van der Waals) relativamente fracas, resultando em deslizamento
entre si quando são aplicadas forças externas conferindo-lhes resistências mecânicas
baixas. Os polímeros apresentam como vantagens baixo custo, baixa densidade,
facilidade de conformação em formas complexas.

 Compósitos
Os materiais compósitos, também denominados de materiais conjugados ou
compostos, são a união de dois ou mais materiais para obtenção de propriedades
especiais não apresentadas isoladamente pelos seus componentes por meio da utilização
de métodos convencionais. Existem compósitos naturais tradicionais, como a madeira
em que a matriz e o reforço são poliméricos, assim como a madeira compensada. No
concreto estrutural, tanto a matriz à base de pasta de cimento quanto os agregados são
materiais cerâmicos, podendo ainda ser utilizados barras ou fibras de aço para aumentar
a resistência à tração.
Outro exemplo típico dessa categoria é a fibra de vidro, material cerâmico,
aglutinada por matriz polimérica, conferindo ao compósito resistência mecânica,
isolamento térmico e, ao mesmo tempo, flexibilidade e baixa densidade.
A evolução e expansão no desenvolvimento e uso dos materiais compósitos
iniciou-se na década de 40. Hoje, abrange uma grande gama de materiais utilizados
principalmente na indústria da construção civil, produtos eletrônicos, aviação, indústria
aeroespacial e muitos outros setores. A diversificação do uso dos compósitos é fruto das
excelentes propriedades que apresentam frente aos materiais tradicionais, já que um
compósito constituído de dois ou mais materiais combinados possui melhor
desempenho do que os componentes individuais.

 Semicondutores
São materiais que tem em sua composição principalmente o silício e o
germânio, além de gálio, arsênio, cádmio e telúrio, que formam ligações covalentes
semelhantes às dos materiais cerâmicos, podendo ser considerados, portanto, como uma
subclasse cerâmica, uma vez que sias propriedades mecânicas e de comercialização,
formam um grupo separado das cerâmicas, porque possuem características diferentes
das cerâmicas no que concerne a tecnologia empregada e ao nível de miniaturização e
de higiene e limpeza para a produção desses materiais. Além das características elétricas
e isolantes, esses materiais são extremamente sensíveis à presença de minúsculas
concentrações de átomos de impurezas, que são rigidamente controladas em locais
muito pequenos, para que não seja ultrapassado a proporção de poucos átomos
estranhos por um bilhão de átomos que compõem o material (SCHAFFER, 2000).
Os semicondutores tornaram possível o advento dos circuitos integrados que
revolucionaram a indústria dos produtos eletrônicos e computadores nas duas últimas
décadas, especialmente na miniaturização dos aparelhos de telefonia celular
polifuncionais.

 Biomateriais
Os biomateriais são empregados em implantes no corpo humano para
substituição de partes danificadas, principalmente ossos. Não podem produzir
substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com os tecidos do corpo, ou seja, não
causar rejeição. Os materiais empregados são metais, cerâmicas, polímeros, compósitos
e semicondutores que servem para fabricar próteses, que são dispositivos implantados
no corpo para suprir a falta de um órgão ausente ou para restaurar uma função
comprometida, como articulações de bacias fraturadas (CALLISTER JR., 2002).

2. Arranjos Atômicos e Estrutura dos Materiais

2.1 Estrutura atômica

A constituição básica de um material, está ligada a união do conjunto de


unidade básica que é o átomo.
A estrutura de um material está dividida em 4 níveis: estrutura atômica, arranjo
atômico, microestrutura e macroestrutura. Embora no âmbito das engenharias e para os
fins tecnológicos que as norteiam os estudos em níveis micro e, principalmente,
macroestruturais sejam os que mais importam, há de se lembrar a importância das
estruturas dos átomos e seus arranjos. Isso é necessário porque o arranjo dos átomos
formando estruturas molecular, cristalina ou amorfa influencia de maneira significativa
as propriedades físicas e, em particular, o comportamento mecânico dos materiais.
Em suma, as características micro e macroestruturais dos materiais, tão
importantes para a engenharia, são ditadas pela natureza da ligação atômica, que, por
sua vez, depende essencialmente da estrutura eletrônica do átomo.

2.1.1 Estrutura do átomo: nêutrons, prótons e elétrons

Para se compreender de forma rápida o tipo e natureza das ligações que


ocorrem entre os átomos, observe o modelo planetário simplificado apresentado na
figura a seguir.
Figura 4 – esq. Modelo planetário: núcleo no centro com elétrons “orbitando” ao seu redor; dir. detalhes
do átomo.

Nesse modelo simplificado, que para a atual evolução da física quântica e do


campo das partículas subatômicas já não é expresso dessa maneira, mas que para
entendimento da disciplina se mostra válido, observa-se a estrutura de um átomo em
equilíbrio com os elétrons circundando o núcleo de prótons e nêutrons com cargas
elétricas numericamente iguais mais de sinais opostos (elétrons negativos e núcleo
positivo).
2.1.2 Massa atômica e número atômico

 Massa atômica
A massa atômica de um átomo está basicamente concentrada em seu núcleo (a
massa de um elétron representa 0,0005g de um próton ou nêutron), assim em termos
práticos despreza-se a massa do elétron, e denomina-se de massa atômica a massa total
de prótons e nêutrons.
Da química do ensino médio, lembramos que, por ser valores de massa muito
pequenos, utilizamos uma unidade especial para representar a massa de um elemento, a
unidade de massa atômica (u.m.a). A u.m.a é definida como sendo 1/12 da massa do
carbono – 12, o mais comum dos isótopos de carbono, o que significa que 1 grama
equivale a 6,02 x 1023 u.m.a (número de Avogadro necessário para produzir 1 g).
Simplificando, a massa atômica é a massa no número de Avogadro de átomos desse
elemento, assim a massa atômica te a unidade de g/g.mol. Na figura a seguir, temos a
tabela periódica com a massa atômica dos elementos.
Figura 5 – Tabela periódica

Fonte: adaptado TodaMatéria (https://www.todamateria.com.br/tabela-periodica/)

 Número atômico
O número atômico indica o número de elétrons ou de prótons de cada átomo.
Por exemplo, um átomo de cobre, que contém 29 elétrons e 29 prótons, tem um número
atômico igual a 29.
Como salientado por Van Vlack (1970) os elétrons são os principais
responsáveis por afetar as propriedades de interesse da engenharia, a saber: “eles
determinam as propriedades químicas; estabelecem a natureza das ligações
interatômicas e, consequentemente, as características mecânicas e de resistência;
controlam o tamanho do átomo e afetam a condutividade elétrica dos materiais; e
influenciam as características óticas).
Além do comportamento químico, as propriedades físicas dos elementos
também tendem a variar de forma sistemática com a posição na tabela periódica. Por
exemplo, a maioria dos metais que residem no centro da tabela (Grupos IIIB a IIB) é de
relativamente bons condutores de eletricidade e calor; os não metais são em geral
isolantes elétricos e térmicos. Mecanicamente, os elementos metálicos exibem graus
variáveis de ductilidade — a habilidade em ser deformado plasticamente sem fraturar
(por exemplo, a habilidade em ser laminado na forma de folhas finas). A maioria dos
não metais é de gases ou líquidos, ou no estado sólido é de natureza frágil.
Adicionalmente, para os elementos do Grupo IVA [C (diamante), Si, Ge, Sn e Pb], a
condutividade elétrica aumenta à medida que se move para baixo ao longo dessa coluna.
Os metais do Grupo VB (V, Nb e Ta) possuem temperaturas de fusão muito altas, que
aumentam ao se descer ao longo dessa coluna. Deve ser observado que nem sempre
existe essa consistência nas variações das propriedades dentro da tabela periódica. As
propriedades físicas variam de uma maneira mais ou menos regular; entretanto, existem
algumas mudanças um tanto quanto abruptas quando se move ao longo de um período
ou de um grupo.

2.2 Ligações atômicas


Apresenta-se a seguir, os principais aspectos relacionados às ligações atômicas,
que dão origem aos arranjos atômicos na formação dos materiais. Três tipos diferentes
de ligações primárias ou ligações químicas são encontrados nos sólidos — iônica,
covalente e metálica. Para cada tipo, a ligação envolve necessariamente os elétrons de
valência; além disso, a natureza da ligação depende das estruturas eletrônicas dos
átomos constituintes. Em geral, cada um desses três tipos de ligação origina-se da
tendência dos átomos adquirirem estruturas eletrônicas estáveis, como aquelas dos gases
inertes, mediante o preenchimento completo da camada eletrônica mais externa.
Também são encontradas forças e energias secundárias, ou físicas, em muitos
materiais sólidos; elas são mais fracas que as primárias, mas ainda assim influenciam as
propriedades físicas de alguns materiais. As seções a seguir explicam os vários tipos de
ligações interatômicas primárias e secundárias.
 Ligações Iônicas
Talvez a ligação iônica seja a mais fácil de ser descrita e visualizada. Ela é
encontrada sempre nos compostos cuja composição envolve tanto elementos metálicos
quanto não metálicos, ou seja, elementos que estão localizados nas extremidades
horizontais da tabela periódica. Os átomos de um elemento metálico perdem com
facilidade seus elétrons de valência para os átomos de elementos não metálicos. Nesse
processo, todos os átomos adquirem configurações estáveis ou de gás inerte (isto é,
camadas orbitais completamente preenchidas) e, além disso, uma carga elétrica — isto
é, eles se tornam íons. O cloreto de sódio (NaCl) é o material iônico clássico. Um átomo
de sódio pode assumir a estrutura eletrônica do neônio (e uma carga resultante positiva
unitária com uma redução no tamanho) pela transferência do seu único elétron de
valência 3s para um átomo de cloro. Após essa transferência, o íon de cloro adquire uma
carga resultante negativa e uma configuração eletrônica idêntica àquela do argônio; ele
também é maior do que o átomo de cloro.

 Ligações Covalente
Um segundo tipo de ligação, a ligação covalente, é encontrado em materiais
cujos átomos possuem pequenas diferenças em eletronegatividade — isto é, que estão
localizados próximos um do outro na tabela periódica. Para esses materiais, as
configurações eletrônicas estáveis são adquiridas pelo compartilhamento de elétrons
entre átomos adjacentes. Dois átomos que estão ligados de maneira covalente vão
contribuir, cada um, com pelo menos um elétron para a ligação, e os elétrons
compartilhados podem ser considerados como pertencentes a ambos os átomos. A
ligação covalente é ilustrada esquematicamente na Figura a seguir para uma molécula
de hidrogênio (H2). O átomo de hidrogênio possui um único elétron 1s. Cada um dos
átomos pode adquirir uma configuração eletrônica igual à do hélio (dois elétrons de
valência 1s) quando eles compartilham seus únicos elétrons (lado direito da Figura).
Adicionalmente, existe uma superposição de orbitais eletrônicos na região entre os dois
átomos da ligação. Além disso, a ligação covalente é direcional — isto é, ela ocorre
entre átomos específicos e pode existir apenas na direção entre um átomo e o outro que
participa do compartilhamento dos elétrons.

Muitas moléculas elementares de não metais (por exemplo, Cl2, F2), assim
como moléculas que contêm átomos diferentes, tais como CH4, H2O, HNO3 e HF, estão
ligadas covalentemente. Além disso, esse tipo de ligação é encontrado em sólidos
elementares, tais como o diamante (carbono), o silício e o germânio, assim como em
outros compostos sólidos cuja composição inclui elementos localizados no lado direito
da tabela periódica, tais como o arseneto de gálio (GaAs), o antimoneto de índio (InSb)
e o carbeto de silício (SiC). Uma vez que os elétrons que participam nas ligações
covalentes estão firmemente presos aos átomos da ligação, a maioria dos materiais
ligados covalentemente é composta por isolantes elétricos, ou, em alguns casos,
semicondutores. Os comportamentos mecânicos desses materiais variam de uma forma
ampla: alguns são relativamente resistentes, outros são fracos; alguns falham de uma
maneira frágil, enquanto outros experimentam quantidades significativas de deformação
antes da falha. É difícil prever as propriedades mecânicas dos materiais ligados
covalentemente com base nas características das ligações.
 Ligações Metálicas
A ligação metálica, o último tipo de ligação primária, é encontrada nos metais e nas
suas ligas. Foi proposto um modelo relativamente simples que muito se aproxima da
configuração dessa ligação. Nesse modelo, os elétrons de valência não estão ligados
a nenhum átomo em particular no sólido e estão mais ou menos livres para se
movimentar ao longo de todo o metal. Eles podem ser considerados como
pertencentes ao metal como um todo, ou como se formassem um “mar de elétrons”
ou uma “nuvem de elétrons”. Os elétrons restantes, os que não são elétrons de
valência, juntamente com os núcleos atômicos, formam o que é denominado núcleos
iônicos, os quais possuem uma carga resultante positiva com magnitude equivalente
à carga total dos elétrons de valência por átomo. A Figura abaixo ilustra a ligação
metálica. Os elétrons livres protegem os núcleos iônicos carregados positivamente
das forças eletrostáticas mutuamente repulsivas que os núcleos, de outra forma,
exerceriam uns sobre os outros; consequentemente, a ligação metálica exibe uma
natureza não direcional. Além disso, esses elétrons livres atuam como uma “cola”,
que mantém unidos os núcleos iônicos. A ligação pode ser fraca ou forte; as
energias variam entre 62 kJ/mol para o mercúrio e 850 kJ/mol para o tungstênio. As
respectivas temperaturas de fusão são de –39ºC e 3414ºC (–39ºF e 6177ºF).

 Ligações Secundárias ou de Van Der Waals


As ligações secundárias, ou de van der Waals (físicas), são ligações fracas
quando comparadas às ligações primárias ou químicas; as energias de ligação variam
entre aproximadamente 4 e 30 kJ/mol. As ligações secundárias existem entre
virtualmente todos os átomos ou moléculas, mas sua presença pode ficar obscurecida se
qualquer um dos três tipos de ligação primária estiver presente. A ligação secundária
fica evidente nos gases inertes, que possuem estruturas eletrônicas estáveis. Além disso,
as ligações secundárias (ou intermoleculares) são possíveis entre átomos ou grupos de
átomos, os quais, eles próprios, estão unidos entre si por meio de ligações primárias (ou
intramoleculares) iônicas ou covalentes.

As forças de ligação secundárias surgem a partir de dipolos atômicos ou


moleculares. Essencialmente, um dipolo elétrico existe sempre que há alguma separação
entre as partes positiva e negativa de um átomo ou molécula. A ligação resulta da
atração de Coulomb entre a extremidade positiva de um dipolo e a região negativa de
um dipolo adjacente. As interações de dipolo ocorrem entre dipolos induzidos, entre
dipolos induzidos e moléculas polares (que possuem dipolos permanentes) e entre
moléculas polares. A ligação de hidrogênio, um tipo especial de ligação secundária, é
encontrada entre algumas moléculas que possuem hidrogênio como um dos seus átomos
constituintes.

2.2 Arranjos atômicos e estrutura dos materiais

Seguindo a classificação proposta por Van Vlanck (1970), os arranjos


atômicos, que propiciam a formação dos materiais, podem ser de três tipos básicos,
gerando, então, três classes estruturais principais: as estruturas moleculares, cristalinas
e amorfas.

2.2.1 Estruturas cristalinas

Os materiais sólidos podem ser classificados de acordo com a regularidade pela


qual seus átomos ou íons estão arranjados uns em relação aos outros. Um material
cristalino é aquele no qual os átomos estão posicionados segundo um arranjo periódico
ou repetitivo ao longo de grandes distâncias atômicas — isto é, existe uma ordem de
longo alcance, tal que, quando ocorre solidificação, os átomos se posicionarão segundo
um padrão tridimensional repetitivo, no qual cada átomo está ligado aos seus átomos
vizinhos mais próximos. Todos os metais, muitos materiais cerâmicos e certos
polímeros formam estruturas cristalinas sob condições normais de solidificação.
Naqueles materiais que não se cristalizam, essa ordem atômica de longo alcance está
ausente; esses materiais não cristalinos ou amorfos são discutidos sucintamente ao final
deste capítulo.
Algumas das propriedades dos sólidos cristalinos dependem da estrutura
cristalina do material, ou seja, da maneira como os átomos, íons ou moléculas estão
arranjados no espaço. Existe um número extremamente grande de estruturas cristalinas
diferentes, todas possuindo uma ordenação atômica de longo alcance; essas estruturas
variam desde as relativamente simples, nos metais, até as excessivamente complexas,
como aquelas exibidas por alguns materiais cerâmicos e poliméricos. A presente
discussão trata de várias estruturas cristalinas comumente encontradas nos metais.
Na descrição das estruturas cristalinas, os átomos (ou íons) são considerados
como esferas sólidas com diâmetros bem definidos. Isso é conhecido como o modelo
atômico da esfera rígida, no qual as esferas que representam os átomos vizinhos mais
próximos se tocam umas nas outras. Um exemplo do modelo de esferas rígidas para o
arranjo atômico encontrado em alguns metais elementares comuns é mostrado na Figura
c. Nesse caso particular, todos os átomos são idênticos. Às vezes, o termo rede cristalina
é usado no contexto das estruturas cristalinas; nesse sentido, rede cristalina significa um
arranjo tridimensional de pontos que coincidem com as posições dos átomos (ou com os
centros das esferas).

2.2.2 Célula unitária

A ordem dos átomos nos sólidos cristalinos indica que pequenos grupos de
átomos formam um padrão repetitivo. Dessa forma, ao descrever as estruturas
cristalinas, é frequentemente conveniente subdividir a estrutura em pequenas entidades
que se repetem, chamadas células unitárias. As células unitárias para a maioria das
estruturas cristalinas são paralelepípedos ou prismas com três conjuntos de faces
paralelas; uma dessas células unitárias está desenhada no agregado de esferas (Figura c),
tendo nesse caso o formato de um cubo. Uma célula unitária é escolhida para
representar a simetria da estrutura cristalina, de forma que todas as posições dos átomos
no cristal possam ser geradas por translações da célula unitária segundo fatores inteiros
de distância ao longo de cada uma das suas arestas. Nesse sentido, a célula unitária é a
unidade estrutural básica, ou bloco construtivo, da estrutura cristalina e define a
estrutura cristalina por meio da sua geometria e das posições dos átomos no seu interior.
Em geral, a conveniência dita que os vértices do paralelepípedo devem coincidir com os
centros dos átomos, representados como esferas rígidas. Além disso, mais do que uma
única célula unitária pode ser escolhida para uma estrutura cristalina particular; contudo,
usamos normalmente a célula unitária que possui o mais alto nível de simetria
geométrica.
Conhecendo a célula unitária, pode-se descrever a estrutura do cristal que
caracteriza o material, uma vez que essa estrutura se refere ao tamanho, à forma e ao
arranjo atômico dentro do reticulado. O reticulado possui alguns parâmetros, chamados
parâmetros do reticulado ou parâmetros cristalinos, os quais descrevem o tamanho e a
forma da célula unitária, o que inclui as dimensões (lados ou arestas) da célula unitária e
os ângulos entre os lados (mostrado na tabela a seguir).
2.2.3 Sólidos não cristalinos ou amorfos

Foi mencionado que os sólidos não cristalinos carecem de um arranjo atômico


regular e sistemático ao longo de distâncias atômicas relativamente grandes. Às vezes
esses materiais também são chamados de amorfos (significando, literalmente, “sem
forma”), ou de líquidos super-resfriados, visto que suas estruturas atômicas lembram as
de um líquido. Uma condição amorfa pode ser ilustrada comparando as estruturas
cristalina e não cristalina do composto cerâmico dióxido de silício (SiO2), o qual pode
existir em ambos os estados. As Figuras a e b apresentam diagramas esquemáticos
bidimensionais para ambas as estruturas do SiO2. Embora cada íon silício se ligue a três
íons oxigênio (e a um quarto íon oxigênio acima do plano) em ambos os estados, além
disso, a estrutura é muito mais desordenada e irregular para a estrutura não cristalina. O
fato de o sólido que se forma ser cristalino ou amorfo depende da facilidade pela qual
uma estrutura atômica aleatória no estado líquido pode se transformar em um estado
ordenado durante a solidificação. Portanto, os materiais amorfos são caracterizados por
estruturas atômicas ou moleculares relativamente complexas e se tornam ordenados
somente com alguma dificuldade. Além disso, o resfriamento rápido a temperaturas
inferiores à temperatura de congelamento favorece a formação de um sólido não
cristalino, uma vez que se dispõe de pouco tempo para o processo de ordenação.
Os metais formam normalmente sólidos cristalinos, mas alguns materiais
cerâmicos são cristalinos, enquanto outros — os vidros inorgânicos — são amorfos. Os
polímeros podem ser completamente não cristalinos ou semicristalinos, com graus
variáveis de cristalinidade.

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