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1. Introdução
A humanidade vive na Terra, planeta esse que detém todos os recursos para a
manutenção e o desenvolvimento de seus habitantes. O nível da qualidade de vida no
planeta depende dos aspectos da quantidade de pessoas, dos recursos naturais
disponíveis, do nível de conhecimento para realizar transformações e gerenciamento
desses recursos, ainda também o grau de poluição gerado durante tal processamento.
Define-se recursos naturais qualquer insumo de que os organismos, as
populações e os ecossistemas necessitam para sua manutenção. Segundo define Braga et
al (2005), são divididos em dois grupos:
a) Recursos renováveis: aqueles que, depois de serem utilizados, ficam
disponíveis novamente graças aos ciclos naturais, tais como a água (ciclo
hidrológico), o ar, a biomassa e a energia eólica;
b) Recursos não renováveis: aqueles que, uma vez utilizados não se
renovam por meios naturais. Podem ser subdivididos em duas classes:
a. Minerais energéticos: são combustíveis fósseis (carvão mineral,
petróleo, urânio);
b. Minerais não-energéticos: são minerais como ferro, calcário,
argilas em geral, etc. Grande parte pode ser reutilizada ou reciclada,
embora não possa ser reconstituída as suas condições originais.
Do ponto de vista para utilização dos materiais, define-se como substâncias
com propriedades que as tornam úteis na construção de máquinas, estruturas,
dispositivos e produtos, ou seja, os materiais que o homem utiliza para “fazer coisas”
(COHEN, 1987).
A humanidade historicamente está ligada aos materiais, e ao tipo de habilidade
que o homem dispunha para manipulá-los, como a idade da pedra, idade do bronze, etc.
Segundo Cohen (1985) o homem não teria se tornado o Homem pensador (sapiens) de
ele não tivesse, ao mesmo tempo, sido o Homem realizador (faber).
Figura 1 – esq. Stonehenge (2075 a.C) monumento da idade do bronze; dir.
muralha construída pelo imperador romano Adriano (122 – 130 d.C)
1.1 Ciência e a Engenharia dos Materiais (CEM)
Cohen (1987) define que a CEM é a área da atividade humana associada com a
geração e aplicação de conhecimento que relaciona composição, estrutura e
processamento dos materiais às suas propriedades e usos. Em suma é o acoplamento da
ciência dos materiais, que englobam disciplinas tradicionais, como física, química e
matemática com a engenharia de materiais, que se associa ao desenvolvimento de
processos e aplicação dos materiais. A CEM se constitui de uma rede de conhecimentos
necessários para compreensão, planejamento, projeto e uso dos materiais representados
pelo ciclo estrutura/propriedades/processo/função/desempenho.
Figura 2 - Ciclo global dos materiais
Polímeros
Os polímeros, macromoléculas orgânicas formadas pela união de substâncias
simples, chamadas monômeros, podem ser de origem natural ou sintética. Os polímeros
naturais são conhecidos desde os primórdios da humanidade, quanto o homem primitivo
utilizou produtos de origem animal ou vegetal, como madeira, fibras têxteis (algodão,
lã), crinas, ossos, couros, borracha natural e outros produtos da natureza (PADILHA,
1997).
O grande salto no estudo dos polímeros foi dado a partir de 1950 com os
estudos de Ziegler sobre o uso de catalisadores que possibilitaram a produção de
polímeros com propriedades pré-determinadas, iniciando a era dos polímeros projetados
ou da Engenharia Polimérica. Entre esses produtos encontram-se o Neoprene, com uso
para roupas de mergulho, isolação elétrica, correias de ventiladores de carro e
impermeabilização de construções.
Os polímeros se constituem em moléculas de cadeia longa com grupos
repetitivos que apresentam ligações covalentes, geralmente muito fortes. Os principais
elementos dessa cadeira são carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, flúor e outros
elementos não metálicos. As cadeias poliméricas se unem entre si por ligações
secundárias (forças de van der Waals) relativamente fracas, resultando em deslizamento
entre si quando são aplicadas forças externas conferindo-lhes resistências mecânicas
baixas. Os polímeros apresentam como vantagens baixo custo, baixa densidade,
facilidade de conformação em formas complexas.
Compósitos
Os materiais compósitos, também denominados de materiais conjugados ou
compostos, são a união de dois ou mais materiais para obtenção de propriedades
especiais não apresentadas isoladamente pelos seus componentes por meio da utilização
de métodos convencionais. Existem compósitos naturais tradicionais, como a madeira
em que a matriz e o reforço são poliméricos, assim como a madeira compensada. No
concreto estrutural, tanto a matriz à base de pasta de cimento quanto os agregados são
materiais cerâmicos, podendo ainda ser utilizados barras ou fibras de aço para aumentar
a resistência à tração.
Outro exemplo típico dessa categoria é a fibra de vidro, material cerâmico,
aglutinada por matriz polimérica, conferindo ao compósito resistência mecânica,
isolamento térmico e, ao mesmo tempo, flexibilidade e baixa densidade.
A evolução e expansão no desenvolvimento e uso dos materiais compósitos
iniciou-se na década de 40. Hoje, abrange uma grande gama de materiais utilizados
principalmente na indústria da construção civil, produtos eletrônicos, aviação, indústria
aeroespacial e muitos outros setores. A diversificação do uso dos compósitos é fruto das
excelentes propriedades que apresentam frente aos materiais tradicionais, já que um
compósito constituído de dois ou mais materiais combinados possui melhor
desempenho do que os componentes individuais.
Semicondutores
São materiais que tem em sua composição principalmente o silício e o
germânio, além de gálio, arsênio, cádmio e telúrio, que formam ligações covalentes
semelhantes às dos materiais cerâmicos, podendo ser considerados, portanto, como uma
subclasse cerâmica, uma vez que sias propriedades mecânicas e de comercialização,
formam um grupo separado das cerâmicas, porque possuem características diferentes
das cerâmicas no que concerne a tecnologia empregada e ao nível de miniaturização e
de higiene e limpeza para a produção desses materiais. Além das características elétricas
e isolantes, esses materiais são extremamente sensíveis à presença de minúsculas
concentrações de átomos de impurezas, que são rigidamente controladas em locais
muito pequenos, para que não seja ultrapassado a proporção de poucos átomos
estranhos por um bilhão de átomos que compõem o material (SCHAFFER, 2000).
Os semicondutores tornaram possível o advento dos circuitos integrados que
revolucionaram a indústria dos produtos eletrônicos e computadores nas duas últimas
décadas, especialmente na miniaturização dos aparelhos de telefonia celular
polifuncionais.
Biomateriais
Os biomateriais são empregados em implantes no corpo humano para
substituição de partes danificadas, principalmente ossos. Não podem produzir
substâncias tóxicas e devem ser compatíveis com os tecidos do corpo, ou seja, não
causar rejeição. Os materiais empregados são metais, cerâmicas, polímeros, compósitos
e semicondutores que servem para fabricar próteses, que são dispositivos implantados
no corpo para suprir a falta de um órgão ausente ou para restaurar uma função
comprometida, como articulações de bacias fraturadas (CALLISTER JR., 2002).
Massa atômica
A massa atômica de um átomo está basicamente concentrada em seu núcleo (a
massa de um elétron representa 0,0005g de um próton ou nêutron), assim em termos
práticos despreza-se a massa do elétron, e denomina-se de massa atômica a massa total
de prótons e nêutrons.
Da química do ensino médio, lembramos que, por ser valores de massa muito
pequenos, utilizamos uma unidade especial para representar a massa de um elemento, a
unidade de massa atômica (u.m.a). A u.m.a é definida como sendo 1/12 da massa do
carbono – 12, o mais comum dos isótopos de carbono, o que significa que 1 grama
equivale a 6,02 x 1023 u.m.a (número de Avogadro necessário para produzir 1 g).
Simplificando, a massa atômica é a massa no número de Avogadro de átomos desse
elemento, assim a massa atômica te a unidade de g/g.mol. Na figura a seguir, temos a
tabela periódica com a massa atômica dos elementos.
Figura 5 – Tabela periódica
Número atômico
O número atômico indica o número de elétrons ou de prótons de cada átomo.
Por exemplo, um átomo de cobre, que contém 29 elétrons e 29 prótons, tem um número
atômico igual a 29.
Como salientado por Van Vlack (1970) os elétrons são os principais
responsáveis por afetar as propriedades de interesse da engenharia, a saber: “eles
determinam as propriedades químicas; estabelecem a natureza das ligações
interatômicas e, consequentemente, as características mecânicas e de resistência;
controlam o tamanho do átomo e afetam a condutividade elétrica dos materiais; e
influenciam as características óticas).
Além do comportamento químico, as propriedades físicas dos elementos
também tendem a variar de forma sistemática com a posição na tabela periódica. Por
exemplo, a maioria dos metais que residem no centro da tabela (Grupos IIIB a IIB) é de
relativamente bons condutores de eletricidade e calor; os não metais são em geral
isolantes elétricos e térmicos. Mecanicamente, os elementos metálicos exibem graus
variáveis de ductilidade — a habilidade em ser deformado plasticamente sem fraturar
(por exemplo, a habilidade em ser laminado na forma de folhas finas). A maioria dos
não metais é de gases ou líquidos, ou no estado sólido é de natureza frágil.
Adicionalmente, para os elementos do Grupo IVA [C (diamante), Si, Ge, Sn e Pb], a
condutividade elétrica aumenta à medida que se move para baixo ao longo dessa coluna.
Os metais do Grupo VB (V, Nb e Ta) possuem temperaturas de fusão muito altas, que
aumentam ao se descer ao longo dessa coluna. Deve ser observado que nem sempre
existe essa consistência nas variações das propriedades dentro da tabela periódica. As
propriedades físicas variam de uma maneira mais ou menos regular; entretanto, existem
algumas mudanças um tanto quanto abruptas quando se move ao longo de um período
ou de um grupo.
Ligações Covalente
Um segundo tipo de ligação, a ligação covalente, é encontrado em materiais
cujos átomos possuem pequenas diferenças em eletronegatividade — isto é, que estão
localizados próximos um do outro na tabela periódica. Para esses materiais, as
configurações eletrônicas estáveis são adquiridas pelo compartilhamento de elétrons
entre átomos adjacentes. Dois átomos que estão ligados de maneira covalente vão
contribuir, cada um, com pelo menos um elétron para a ligação, e os elétrons
compartilhados podem ser considerados como pertencentes a ambos os átomos. A
ligação covalente é ilustrada esquematicamente na Figura a seguir para uma molécula
de hidrogênio (H2). O átomo de hidrogênio possui um único elétron 1s. Cada um dos
átomos pode adquirir uma configuração eletrônica igual à do hélio (dois elétrons de
valência 1s) quando eles compartilham seus únicos elétrons (lado direito da Figura).
Adicionalmente, existe uma superposição de orbitais eletrônicos na região entre os dois
átomos da ligação. Além disso, a ligação covalente é direcional — isto é, ela ocorre
entre átomos específicos e pode existir apenas na direção entre um átomo e o outro que
participa do compartilhamento dos elétrons.
Muitas moléculas elementares de não metais (por exemplo, Cl2, F2), assim
como moléculas que contêm átomos diferentes, tais como CH4, H2O, HNO3 e HF, estão
ligadas covalentemente. Além disso, esse tipo de ligação é encontrado em sólidos
elementares, tais como o diamante (carbono), o silício e o germânio, assim como em
outros compostos sólidos cuja composição inclui elementos localizados no lado direito
da tabela periódica, tais como o arseneto de gálio (GaAs), o antimoneto de índio (InSb)
e o carbeto de silício (SiC). Uma vez que os elétrons que participam nas ligações
covalentes estão firmemente presos aos átomos da ligação, a maioria dos materiais
ligados covalentemente é composta por isolantes elétricos, ou, em alguns casos,
semicondutores. Os comportamentos mecânicos desses materiais variam de uma forma
ampla: alguns são relativamente resistentes, outros são fracos; alguns falham de uma
maneira frágil, enquanto outros experimentam quantidades significativas de deformação
antes da falha. É difícil prever as propriedades mecânicas dos materiais ligados
covalentemente com base nas características das ligações.
Ligações Metálicas
A ligação metálica, o último tipo de ligação primária, é encontrada nos metais e nas
suas ligas. Foi proposto um modelo relativamente simples que muito se aproxima da
configuração dessa ligação. Nesse modelo, os elétrons de valência não estão ligados
a nenhum átomo em particular no sólido e estão mais ou menos livres para se
movimentar ao longo de todo o metal. Eles podem ser considerados como
pertencentes ao metal como um todo, ou como se formassem um “mar de elétrons”
ou uma “nuvem de elétrons”. Os elétrons restantes, os que não são elétrons de
valência, juntamente com os núcleos atômicos, formam o que é denominado núcleos
iônicos, os quais possuem uma carga resultante positiva com magnitude equivalente
à carga total dos elétrons de valência por átomo. A Figura abaixo ilustra a ligação
metálica. Os elétrons livres protegem os núcleos iônicos carregados positivamente
das forças eletrostáticas mutuamente repulsivas que os núcleos, de outra forma,
exerceriam uns sobre os outros; consequentemente, a ligação metálica exibe uma
natureza não direcional. Além disso, esses elétrons livres atuam como uma “cola”,
que mantém unidos os núcleos iônicos. A ligação pode ser fraca ou forte; as
energias variam entre 62 kJ/mol para o mercúrio e 850 kJ/mol para o tungstênio. As
respectivas temperaturas de fusão são de –39ºC e 3414ºC (–39ºF e 6177ºF).
A ordem dos átomos nos sólidos cristalinos indica que pequenos grupos de
átomos formam um padrão repetitivo. Dessa forma, ao descrever as estruturas
cristalinas, é frequentemente conveniente subdividir a estrutura em pequenas entidades
que se repetem, chamadas células unitárias. As células unitárias para a maioria das
estruturas cristalinas são paralelepípedos ou prismas com três conjuntos de faces
paralelas; uma dessas células unitárias está desenhada no agregado de esferas (Figura c),
tendo nesse caso o formato de um cubo. Uma célula unitária é escolhida para
representar a simetria da estrutura cristalina, de forma que todas as posições dos átomos
no cristal possam ser geradas por translações da célula unitária segundo fatores inteiros
de distância ao longo de cada uma das suas arestas. Nesse sentido, a célula unitária é a
unidade estrutural básica, ou bloco construtivo, da estrutura cristalina e define a
estrutura cristalina por meio da sua geometria e das posições dos átomos no seu interior.
Em geral, a conveniência dita que os vértices do paralelepípedo devem coincidir com os
centros dos átomos, representados como esferas rígidas. Além disso, mais do que uma
única célula unitária pode ser escolhida para uma estrutura cristalina particular; contudo,
usamos normalmente a célula unitária que possui o mais alto nível de simetria
geométrica.
Conhecendo a célula unitária, pode-se descrever a estrutura do cristal que
caracteriza o material, uma vez que essa estrutura se refere ao tamanho, à forma e ao
arranjo atômico dentro do reticulado. O reticulado possui alguns parâmetros, chamados
parâmetros do reticulado ou parâmetros cristalinos, os quais descrevem o tamanho e a
forma da célula unitária, o que inclui as dimensões (lados ou arestas) da célula unitária e
os ângulos entre os lados (mostrado na tabela a seguir).
2.2.3 Sólidos não cristalinos ou amorfos