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MATERIAIS ELÉTRICOS

AULA 1

Profª Eliane Silva Custódio


CONVERSA INICIAL

Nesta aula, primeiramente faremos uma introdução sobre por que estudar
materiais na Engenharia, para em seguida definir um breve histórico e estudar a
estrutura atômica.
No segundo tema, vamos mostrar a tabela periódica e algumas
características dos elementos de acordo com a disposição na tabela. Em
seguida, vamos definir o que são ligações primárias e secundárias.
Por último, vamos mostrar uma classificação dos materiais com exemplos
e suas características mais importantes para o estudo dos materiais elétricos. O
objetivo desta aula é estudar a estrutura atômica dos materiais para identificar a
organização dos átomos nos materiais metálicos, poliméricos, cerâmicos e
compósitos. Dessa forma, podemos entender sua classificação de acordo com
suas propriedades.

TEMA 1 – INTRODUÇÃO

Por que estudar materiais? A resposta mais obvia é que muitas coisa em
nossas vidas são feita de materiais, desde as coisas mais simples, como
utensilios domésticos (vidro e plástico) e ferramentas (alicate e chave de fenda
em metal), até vários produtos que necessitam um pouco mais de estudo para
que seja possível definir propriedades mecânicas, como por exemplo a vela do
motor de carro (alta temperatura).
A resposta mais profunda é que, como a eficácia de um material depende
de suas propriedades, esse material frequentemente precisará ter propriedades
físicas e mecânicas adaptadas à sua aplicação. É aqui que o conhecimento de
ciência e engenharia de materiais é importante: ele ensina como as propriedades
de um material dependem de sua microestrutura e como uma microestrutura
necessária para um produto pode ser alcançada.

1.1 Histórico

O homem vem utilizando vários tipos de materiais da natureza. A


denominação popular dada a cada Idade do desenvolvimento da espécie é
baseada no nível de seu desenvolvimento de materiais (Idade da Pedra, Idade
do Bronze).

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Podemos separar a história das matérias em idades. A primeira é
chamada de Idade da Pedra, por volta de quase 3 milhões de anos atrás, quando
o homem usava pedras para estabelecer ferramentais para o uso na caça.
Depois, veio a Idade do Bronze, entre 2000 e 1000 antes de Cristo (a.C.), uma
época que foi considerada por muitos como o berço dos processos metalúrgicos.
Depois, temos a Idade do Ferro, até 1 a. C. Dentro desse mesmo período, temos
o uso das ligas de ferro e o emprego do bronze em armas e ferramental diverso.
Desde o século passado, tivemos o crescimento do uso do plástico, que
é um material barato e leve. Nessa onda de crescimento, vários materiais
poliméricos foram pesquisados e utilizados para uma infinidade de produtos.
Muitos autores sugerem que esse século também será a Idade do Silício, o
material que impulsionou a eletrônica em diversos campos de atuação.

1.2 Materiais nas usinas elétricas

Conforme Mora (2010, p. 3),

na etapa de geração destaca-se o uso do aço para a construção das


pás e eixo das turbinas (resistência mecânica); nos geradores (estator,
rotor, coletores, barras estatóricas, etc.) o uso do cobre eletrolítico
(propriedades elétricas), destacando-se especialmente a característica
das barras estatóricas que são refrigeradas pelo uso de água pura
deionizada. Na etapa de transformação (elevação da tensão) na
construção dos transformadores (Figura 1) destaca-se o uso de
matérias isolantes sólidos (papel termicamente estabilizado, madeira,
resinas, etc.) líquido (óleo mineral isolante), gasoso (SF6, ar sintético
superseco, nitrogênio e CO2 como médio de extinção). Materiais
ferromagnéticos são utilizados para fabricação do núcleo, destacando-
se as chapas de aço silício laminado a frio, o cobre é usado para os
enrolamentos de transformadores e máquinas elétricas.

Figura 1 – Componentes de um transformador da ABB

Fonte: ABB, 2019.

Ainda segundo Mora (2010, p. 4),

O papel dos dielétricos é realizar o isolamento entre os condutores,


entre estes e a massa ou a terra, ou, ainda, entre eles e qualquer outra
massa metálica existente na sua vizinhança. O processo principal,
característico para qualquer dielétrico, que se produz quando sobre ele
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atua uma tensão elétrica, é a polarização. Nas subestações os meios
isolantes mais utilizados são o ar natural ou comprimido e o SF6 assim
como porcelana (Figura 2), vidro e polímeros.

Figura 2 – Isoladores de cerâmica

Crédito: Panumas Nikhomkhai/Shutterstock.

1.3 Dispositivos semicondutores

Materiais semicondutores podem ser usados em dispositivos para


desempenhar funções eletrônicas específicas. Diodos e transistores, que
substituíram as antigas válvulas, são dois exemplos típicos de dispositivos
baseados em materiais semicondutores e que têm um papel fundamental na
engenharia eletrônica.
Dispositivos que usam materiais semicondutores são o motivo do
crescimento rápido, com várias vantagens correlacionadas, no campo da
eletrônica e eletrotécnica, em várias décadas. Miniaturização e pouco consumo
de energia são vantagens valorosas, servindo como pontes e filtros em diversos
circuitos eletrônicos.
Já o carboneto de silício (SiC) e o oxido de zinco (ZnO) podem ser usados
em dispositivos que chamamos de para-raio, tanto de alta quanto média tensão.
Esses materiais trabalham como válvula de segurança elétrica, desviando as
descargas elétricas provenientes de descargas atmosféricas e as conduzindo ao
solo, com a função de dissipação e segurança, tanto do equipamento quanto do
usuário.

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TEMA 2 – ESTRUTURA ATÔMICA

Um atômo é composto de um núcleo pequeno de nêutrons e prótons


rodeado por elétrons. Os nêutrons têm carga nula, os prótons carga positiva e
os elétrons carga negativa. A carga elétrica de prótons e elétrons é igual na
magnitude, com o valor de 1,602𝑥𝑥10−19 𝐶𝐶.
O núcleo é responsável por praticamente toda a massa do átomo; o próton
tem uma massa de 1,673𝑥𝑥10−24 𝑔𝑔 e o nêutron de 1,675𝑥𝑥10−24 𝑔𝑔. O elétron tem
uma massa relativamente pequena, de 9,10910−28 𝑔𝑔 (1/1836 da massa do
próton). A Figura 3 representa o modelo atômico simplificado com as
características de cada carga.

Figura 3 – Modelo atômico simplificado

Crédito: Emmily/Shutterstock.

Cada átomo possui um número atômico “Z”, que significa o número de


prótons dentro do núcleo, e uma massa atômica, que é a soma de massa de
prótons e nêutrons dentro do núcleo. O número de massa é especificado em
termos de u.m.a, ou massa por mol, onde 1mol de massa é igual a
6,02𝑥𝑥1023 átomos.

2.1 Modelo atômico


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O modelo simplificado dos átomos é chamado de modelo de Bohr e foi
considerado limitado devido a incapacidade de explicar diversos fenômenos que
aconteciam com os elétrons. O modelo adotado atualmente é o modelo
mecânico-ondulatório onde os elétrons são exemplos da dualidade onda-
partícula, ou seja, eles são entidades em escala atômica que exibem um
comportamento tipo onda e tipo partícula (Figura 4).
Assim os elétrons se encontram dentro do orbital, região do espaço onde
é mais provável encontrar um elétron, que são designados pelas letras s, p, d e
f.

Figura 4 – Comparação entre modelo atômico de (a) Bohr e (b) mecânico-


ondulatório em termos de distribuição eletrônica.

Fonte: Callister, 2002, p. 35.

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Os orbitais se localizam sobre diversos níveis de energia ou camadas,
que definem a força de ligação entre o elétron e seu núcleo. São designadas por
números de 1 a 7.
Alguns átomos apresentam configurações eletrônicas estáveis, tendo
assim os orbitais da camada mais externa completamente preenchidos. Isso
significa ocupar somente os orbitais “s” e “p” na camada mais externa com 8
elétrons. Esses seriam os gases inertes ou gases nobres, que não reagem com
outros elementos.

2.2 Tabela Periódica

A tabela periódica (Figura 5) contém informações valiosas sobre


elementos específicos, e também pode ajudar a identificar tendências em
tamanho atômico, ponto de fusão, reatividade química e outras propriedades.
Os elementos estão dispostos em ordem crescente de número atômico;
as linhas da tabela periódica correspondem aos niveis energéticos e as colunas
referem-se tipicamente ao número de elétrons na camada de valência.
A maioria dos elemento são metais; eles podem ser econtrados no meio,
do lado esquerdo na tabela periódica, e são tipicamente brilhosos e bons
condutores de calor e eletricidade. Já os ametais são geralmente opacos e não
são bons condutores de calor ou eletricidade.

Figura 5 – Tabela periódica

Os elementos classificados como metais às vezes são chamados de


elementos eletropositivos, indicando que são capazes de ceder seus poucos
elétrons de valência para se tornarem íons carregador positivamente. Os
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elementos situados ao lado direito da tabela periódica são eletronegativos, isto
é, eles aceitam elétrons para formar íons carregados negativamente ou
compartilham elétrons com outros átomos.

TEMA 3 – LIGAÇÕES

Cada ligação química é feita com a interação entre os orbitais de um


átomo com o outro. Cada vez que um átomo se liga com outro, ele forma um
orbital hibrido; dependendo de como está disposto no espaço, ele vai reger uma
série de propriedade química dessa ligação.
Toda a estrutura tem a tendência de se tornar estável como os gases
nobres: 8 elétrons na camada de valência e por isso pode doar ou receber
elétron.
Temos ligações primárias, consideradas fortes, e classificadas em:
ligação metálica (eletropositivo + eletropositivo); ligação covalente
(eletronegativo + eletronegativo); e ligação iônica (eletropositivo +
eletronegativo).
As ligações também podem ser secundárias, que são ligações fracas se
comparadas às primárias, chamadas de ligações de Van der Waals. Existem em
quase todos os átomos ou moléculas, mas ficam mais evidentes quando em
gases inertes que já possuem camadas de valência completa.

3.1 Ligação primária

As ligações primárias são também chamadas de ligações fortes e estão


classificadas em três tipos: ligação metálica, ligação covalente e ligação iônica.
Ocorrem da tendência dos átomos de adquirir estruturas eletrônicas estáveis,
como os gases nobres da tabela periódica, pelo preenchimento total da camada
eletrônica mais externa.

3.1.1 Ligação metálica

A ligação metálica ocorre quando átomos eletropositivos doam seus


elétrons de valência para formar uma “nuvem de elétrons” (Figura 6).
O alumínio, por exemplo, desiste de seus três elétrons de valência,
deixando um núcleo iônico carregado positivavente. Os três elétrons carregados
estão faltando nesse núcleo, que passa a ter carga positiva de três. Os elétrons

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de valência se movem livremente dentro do mar de elétrons e se tornam
associados a vários núcleos atômicos. Os núcleos de íons carregados
positivamente são mantidos juntos por atração mútua para os elétrons,
produzindo assim uma forte ligação metálica.
Como seus elétrons de valência não são fixados em nenhuma posição, a
maioria dos metais puros são bons condutores elétricos de eletricidade a
temperaturas relativamente baixas (20ºC).
Sob a influência de uma tensão aplicada, os elétrons de valência se
movem, causando uma corrente que flue se o circuito estiver completo.
Os metais mostram boa ductilidade, uma vez que as ligações metálicas
não são direcionais. Ductilidade refere-se à capacidade dos materiais de serem
esticados ou dobrados permanentemente sem quebrar.
Em geral, os pontos de fusão dos metais são relativamente altos. Do ponto
de vista das propriedades ópticas, metais fazem bons refletores da radiação
visível. Devido ao seu caráter eletropositivo, muitos metais, como o ferro, tendem
a sofrer corrosão ou oxidação. Muitos metais puros são bons condutores de calor
e são efetivamente usados em muitas aplicações de transferência de calor.

Figura 6 – Ligação metálica

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Crédito: Nasky/Shutterstock.

3.1.2 Ligação covalente

A ligação covalente é definida por um tipo de ligação que compartilha


eletrons da camada de valencia com outro átomos de cargas negativas.
Para exemplificar temos a Figura 7. Na letra (a) temos a descrição de um
átomo de silício que tem 4 eletrons na sua camade de valencia. Na letra (b)
temos a ligação covalente do silício, quando dispomos de 4 atomos ligados
compartilhando os elétrons da sua camada de valência. E por último, na letra (c)
temos o modelo átomo do silício já com o ângulo de 109,5° que se forma entre
os átomos. Tais ligações devem estar dispostas em uma relação direcional
mútua para que possam ocorrer.

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Figura 7 – Ligação covalente do átomo de silício

As ligações covalentes são muito fortes. Como resultado, os materiais


ligados covalentemente são muito fortes e duros. Por exemplo, diamante (C),
carboneto de silício (SiC), nitreto de silício (Si3N4) e nitreto de boro (BN) –todos
têm ligações covalentes. Esses materiais também exibem alta temperatura de
fusão, o que significa que podem ser úteis para aplicações de alta temperatura.
Por outro lado, a alta temperatura necessária para o processamento
apresenta um desafio. Os materiais ligados dessa maneira tipicamente têm
ductilidade limitada, porque as ligações e tendem a ser direcionais. A
condutividade elétrica de muitos materiais ligados covalentemente (isso é, silício,
diamante e cerâmica) não é alta, já que os elétrons de valência estão presos em
ligações entre os átomos e não está prontamente disponíveis para condução.
Com alguns desses materiais, como Si, podemos obter níveis úteis e
controlados de condutividade elétrica, através da introdução deliberada de
pequenos níveis de outros elementos conhecidos como dopantes. Polímeros
condutores também são um bom exemplo de materiais ligados covalentemente
que podem ser transformados em materiais semicondutores. O desenvolvimento
de polímeros condutores leves tem captado a atenção de muitos cientistas e
engenheiros para o desenvolvimento de componentes eletrônicos flexíveis.
Não podemos simplesmente prever se um material será de alta ou baixa
resistência, dúctil ou quebradiço, simplesmente com base na natureza da
ligação! Precisamos de informações adicionais sobre a estrutura atômica,
microestrutura e macroestrutura do material; no entanto, a natureza da ligação

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aponta para uma tendência para materiais com certos tipos de colagem e
composições químicas.

3.1.3 Ligação iônica

A ligação iônica é realizada entre um elemento eletropositivo e um


elemento eletronegativos. Para formar um material, vários átomos se unem e um
átomo pode doar seu elétron da camada de valência para um outro diferente.
Ambos os átomos agora preencheram (ou esvaziaram) os níveis externos de
energia, adquirndo uma carga elétrica e se comportando como íons. Os íons de
carga oposta são então atraídos um pelo outro e produzem a ligação iônica. Por
exemplo, a atração entre sódio e cloreto (Figura 8) produz cloreto de sódio
(NaCl), ou sal de mesa.

Figura 8 – Ligação iônica

3.2 Ligações secundárias

Nesse tipo de ligação, temos como característica principal a fraqueza da


ligação. A força motora para as ligações é a atração entre dipolos elétricos que
existem nos átomos e moléculas. Na Figura 9 temos a descrição gráfica desse
dipolo.

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Figura 9 – (a) Dipolo elétrico

Na Figura 9 (b) temos um dipolo elétrico de um átomo. Essas ligações são


importantes, quando tratam da única forma de ligar um átomo ao outro.
Os principais tipos de ligações secundárias são: dipolos flutuantes e
permanentes. As ligações secundárias dipolares são comumente chamadas de
Van der Waals.
Note que as ligações de Van der Waals são ligações secundárias, mas os
átomos dentro da molécula ou grupo de átomos são unidos por ligações
covalentes ou iónicas fortes. O aquecimento de água para o ponto de ebulição
quebra os títulos de Van der Waals e muda a água para vapor, mas muito
temperaturas muito mais elevadas serão necessárias para quebrar as ligações
covalentes que unem os átomos de oxigênio e hidrogênio. Embora denominadas
secundárias, com base nas energias de ligação, as forças de Van der Waals
desempenham um papel muito importante em muitas áreas da engenharia.
Forças de Van der Waals entre átomos e moléculas desempenham um
papel vital na determinação da tensão superficial e pontos de ebulição de
líquidos. A tensão superficial de líquidos também assume importância quando
estamos lidando com o processamento de metais fundidos, ligas e vidros.

3.2.1 Dipolos flutuantes

Em alguns momentos podem se formar forças de ligação entre átomos de


elementos de nobre, que possuem camadas completas de elétrons de valência
exteriores (s2 para o Hélio e s2p6 para Ne, Ar, Kr, Xe e Rn). Essas forças de
ligação surgem por causa da forma assimétrica da distribuição de carga
eletrônica desses átomos, que origina dipolos elétricos. Em qualquer instante,
há uma elevada probabilidade de existir maior carga elétrica de um lado do
átomo do que do outro. Por isso, num dado átomo, a nuvem de carga eletrônica
sofrerá alterações no tempo, criando um "dipolo flutuante". Os dipolos flutuantes

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de átomos vizinhos podem originar atração entre si, do que resultam ligações
fracas.
A passagem ao estado líquido e a solidificação de gases nobres em
baixas temperaturas e altas pressões se deve às ligações dipolares flutuantes.

3.2.2 Dipolos permanentes

Podem se desenvolver forças de ligação fracas entre moléculas com


ligações covalentes, se as moléculas tiverem dipolos permanentes. O tipo mais
forte de ligação secundária ocorre em moléculas nas quais o hidrogênio está
ligado covalentemente ao flúor (HF), ao oxigênio (H2O) e ao nitrogênio (NH3).
Nessas ligações, um único hidrogênio é compartilhado com o outro átomo.
Assim, a extremidade de ligação contendo o hidrogênio consiste essencialmente
em um próton isolado, carregado positivamente, e que não está neutralizado por
elétron (Figura10).
Ligações de dipolo permanente são relevantes na associação de
moléculas polares ligadas covalentemente, tais como a água e os
hidrocarbonetos. Frequentemente, ocorrem ligações mistas entre os átomos e
nas moléculas.
Por exemplo, metais como o titânio e o ferro têm ligações mistas
metálicascovalentes; compostos covalentes, como o GaAS e o ZnSe, têm um
certo de grau de caráter iônico; certos compostos intermetálicos, como o
NaZn13, têm um certo grau de ligação iônica misturado com ligação metálica.
Em geral, a ligação entre átomos ou moléculas resulta da diminuição de energia
causada pelo processo de ligação.

Figura 10 – Ligação de hidrogênio

Crédito: magnetix/Shutterstock.

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TEMA 4 – CLASSIFICAÇÃO DE MATERIAIS

Existem milhares de materiais disponíveis para uso em aplicações de


engenharia. A maioria dos materiais se enquadra em três classes: metais,
cerâmicas e poliméros. Essa classificação está baseada principalmente na força
de ligação atômica desses materiais. Além disso, existem mais dois grupos
importantes para a engenharia: os compósitos e os semicondutores. Materiais
compósitos são a combinação de dois ou mais materiais e os semicondutores
são utilizados devido ao fato de suas caracteríticas elétricas serem úteis para a
engenharia.

4.1 Metais e ligas

Metais e ligas incluem aço, alumínio, magnésio, zinco, ferro fundido,


titânio, cobre e níquel. Uma liga é um material que contém pelo menos dois
elementos químicos, e pelo menos um é metal. Em geral, os metais têm boa
condutividade térmica e elétrica. Apresentam alta resistência ao choque e alta
rigidez, deformabilidade extensa e permanente, ou ductilidade, o que é uma
propriedade importante, que permite pequenas quantidades de deformação para
cargas repentinas e severas.
Os materiais metálicos são particularmente úteis para aplicações
estruturais ou de suporte de carga. Embora os metais sejam usados
ocasionalmente puros, as ligas fornecem melhorias em uma propriedade
desejável, ou permitem melhores combinações entre propriedades.
Os metais são extremamente importantes para a engenharia. O cobre é
um ótimo exemplo, com o número atômico 29 e com a designação científica de
Cu, é usado para confecção de fiação elétrica (Figura 11). As propriedades do
cobre tornam esse metal altamente dúctil e condutor para ambos os atributos,
seja térmico ou elétrico. Também é maleável e macio, mantendo ao mesmo
tempo uma coloração alaranjada e brilhante; devido à sua popularidade, utiliza-
se seu nome para denominar a cor.

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Figura 11 – Fios de cobre

Crédito: Mariusz Szczygiel/Shutterstock.

4.2 Cerâmicas e vidros

Os cerâmicos são um grupo de grande variadade, e por isso materias


como minerais argilosos, cimento e vidro estão enquadrados nesse grupo. Esses
materiais são tipicamente isolantes à passagem de eletricidade e calor, e assim
apresentam boa resistência a altas temperaturas e a ambientes adversos e
abrasivos – são mais resistentes do que os metais e polímeros. Com relação ao
comportamento mecânico, os cerâmicos são duros, porém muito quebradiços.
Existem cerâmicas com fabricação de alta tecnologia com matérias
primas mais caras, que têm aplicação na área elétrica e são utilizadas como:

• Sensores de temperatura (NTC, PTC);


• Ferromelétricos (capacitores, piezoléticos), Figura 12;
• Varistores (resistores não lineares);
• Dielétricos (isolantes), Figura 13.

Figura 12 – Capacitor eletrolítico

Crédito: Pop_Studio/Shutterstock.
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Figura 13 – Isoladores de cerâmica para linhas de transmissão

Crédito: Zacarias Pereira da Mata/Shutterstock.

4.3 Polímeros

Polímeros são tipicamente materiais orgânicos cuja composição é


baseada em hidrogênio, carbono e materiais não metálicos. É uma classe que
engloba plásticos, borrachas e fibras.
Normalmente são bons isolantes elétricos e térmicos; apresentam baixa
densidade; e podem ser extremamente flexíveis. Mesmo tendo menor
resistência que os metais, os polímeros ainda têm uma relação resistência-peso
muito boa.
Polímeros têm milhares de aplicações, como coletes à prova de balas,
discos compactos (CDs) e telas de cristal líquido (LCDs) para roupas e copos de
café.

4.4 Compósitos

A ideia principal no desenvolvimento de compósitos é misturar as


propriedades de diferentes materiais para criar um material com as
caracteristicas necessária para o desenvolvimento do produto. Eles são
formados por dois ou mais materiais, produzindo propriedades não encontradas
em nenhum outro. Concreto, madeira compensada e fibra de vidro são exemplos
de materiais compostos.
Com compósitos, podemos produzir materiais leves, resistentes, dúcteis
e resistentes a temperaturas, ou podemos produzir ferramentas de corte
resistentes a choques, que poderiam se quebrar. Aeronaves avançadas e

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veículos aeroespaciais dependem fortemente de compósitos, como polímeros
reforçados com fibra de carbono. Equipamentos esportivos, como bicicletas,
tacos de golfe, raquetes de tênis e afins, também fazem uso de diferentes tipos
de materiais compósitos que são leves e duros.

4.5 Semicondutores

Os semicondutores baseados em silício e germânio, como os usados em


computadores e eletrônicos, fazem parte de uma classe mais ampla de materiais
conhecidos como materiais eletrônicos. A condutividade elétrica dos materiais
semicondutores é entre a dos isoladores cerâmicos e dos condutores metálicos.
Em alguns semicondutores, o nível de condutividade pode ser controlado para
permitir que dispositivos eletrônicos, como transistores e diodos, sejam usados
na construção de circuitos integrados complexos.

TEMA 5 – PROPRIEDADES DOS MATERIAIS

Existem várias propriedades que devem ser levadas em consideração no


desenvolmento, processamento e uso dos materias.

5.1 Propriedades elétricas

A energia elétrica pode ser convertida em energia mecânica, térmica,


luminosa, sonora, entre outras, sendo os materiais os elementos que fazem o
transporte e as conversões da forma de energia. Podemos usar essas
propriedades para medir grandezas e transformar energia, como por exemplo:

• Eletricidade ↔ Luz: utilizando células solares, fotodiodos, foto


transistores, sensores de imagem;
• Eletricidade ↔ Som: utilizando microfones, hidrofone e alto-falantes;
• Eletricidade ↔ Temperatura: termômetros, termopares e termistores;
• Elétrico ↔ Magnético: compasso magnético e transformadores.

Umas das propriedades elétricas mais importantes dos materiais é a


condutividade elétrica, que é medida conforme a facilidade com que os meios
materiais transportam uma corrente elétrica:

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• Condutores: São materiais que permitem a passagem de corrente
elétrica, alta condutividade. Exemplos: Alumínio, bronze, cobre, estanho,
entre outros.
• Dielétricos ou isolantes: são materiais capazes de prover a separação
entre diferentes elementos condutores, apresentando grande oposição à
passagem de corrente elétrica em seu interior, baixa condutividade.
Exemplos: borracha, porcelana, porcelana, entre outros.
• Semicondutores: são materiais que possuem condutividade
intermediária entre a dos condutores e isolantes. Exemplos: Germânio e
Silício.

5.2 Propriedades térmicas

As propriedades térmicas definem a resposta dos materiais à aplicação


do calor. As mais importantes são a condutividade térmica, a capacidade térmica
e a fluência.
Condutividade térmica é a facilidade que o material tem de deixar o calor
passar, sendo análoga à condutividade elétrica. É assim a mais importante para
a área de engenharia elétrica. Materiais com alta condutividade térmica são
usados como dissipadores térmicos e os com baixa condutividade são usados
como isolantes térmicos.
Capacidade térmica seria a quantidade necessária de calor para
promover a variação da temperatura do material. A dilatação térmica é o
aumento do volume de um corpo pelo aumento da temperatura. A fluência seria
deformação plástica que ocorre num corpo quando submetido a uma carga
constante, a uma temperatura definida, durante um prolongado período de
tempo.

5.3 Propriedades Mecânicas

As principais propriedades mecânicas são: resistência mecânica,


elasticidade, ductilidade, fluência, dureza e tenacidade.
Resistência mecânica é a capacidade dos materiais de suportarem a
aplicação de esforços externos sem cederem ou romperem. Quando um material
sofre a aplicação de um esforço externo, ele pode sofrer uma deformação
(modificação da forma), que pode ser elástica ou plástica. Uma deformação

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elástica desaparece com a cessação da causa e uma plástica permanece (Figura
14).

Figura 14 – Deformação

A propriedade de elasticidade está relacionada com a rigidez do material


e é calculada pela relação entre a tensão aplicada e a deformação elástica. A
ductilidade é a deformação plástica até o ponto de ruptura e pode ser expressa
como alongamento (Figura 15).

Figura 15 – Alongamento

Materiais que podem ser submetidos a grandes deformações antes da


ruptura são chamados de materiais dúcteis. Frequentemente, os engenheiros
escolhem materiais dúcteis para o projeto, pois são capazes de absorver choque
ou energia e, quando sobrecarregados, exibem, em geral, grande deformação

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antes de falhar. Os materiais que apresentam pouco ou nenhum escoamento
são chamados de materiais frágeis.
A dureza é definida pela resistência da superfície do material à penetração
e a tenacidade é a energia necessária para romper o material.

5.4 Propriedades magnéticas

As propriedades magnéticas têm diversas aplicações na engenharia


elétrica: transformadores, motores elétricos, indutores, transdutores, gravação
de dados, circuitos de protecção alto falante, acionamentos (como relés e
contatores), entre outras.
Ao aplicarmos um campo magnético externo, os domínios se alinham na
direção deste campo e podem permanecer ou não alinhados depois de
retirarmos o campo. Materiais classificados como duros são aqueles nos quais,
quando retiramos o campo magnético externo, o alinhamento dos domínios
permanece. Moles macios ou doces são aqueles nos quais o alinhamento dos
domínios desaparece ao retirarmos o campo magnético externo.
Fisicamente, os materiais magnéticos podem ser classificados, quanto à
permeabilidade, como:

• Ferromagnéticos (ferro, níquel, cobalto, aço): Caracterizam-se por uma


magnetização espontânea e totalmente independente de campos
magnéticos externos. Possuem uma permeabilidade magnética (μ)
centenas ou milhares de vezes maior que a do vácuo. A grandeza dessa
magnetização depende da temperatura – se estiver acima da crítica (ferro
7700C, cobalto 7700C, níquel 3650C), o material perde suas propriedades
magnéticas.
• Diamagnéticos: Esses materiais afastam ligeiramente as linhas de fluxo
que os interceptam. Sua permeabilidade magnética é menor que a do
vácuo. Exemplos: vidro, água, antimônio, bismuto, chumbo, cobre, gases
raros.
• Paramagnéticos: Esses materiais tendem a concentrar ligeiramente as
linhas de fluxo que os interceptam. Sua permeabilidade magnética é
ligeiramente maior que a do vácuo. Exemplos: oxigênio, sódio, sais de
ferro e de níquel, alumínio, silício.

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FINALIZANDO

Nesta aula, mostramos os motivos pelos quais estudar materiais é


importante para a engenharia elétrica. Apresentamos também um breve histórico
evolutivo das descobertas dos diversos tipos de materiais durante a história da
humanidade.
Em seguida, revisamos conceitos já estudados na química: estrutura
atômica, tabela periódica, ligações primárias e secundárias. Esses conceitos
serão importantes para o desenvolvimento da disciplina como um todo.
Descrevemos por fim a classificação dos materiais e as suas propriedades
mais importantes. Esse conhecimento é importante para a escolha do material
durante os projetos de engenharia e também para entender como funcionam a
maioria dos componentes eletrônicos.

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REFERÊNCIAS

ABB. Transformadores de distribuição Monofásicos, trifásicos, tipo


subestação, tipo subterrâneo e tipo pedestal. Disponível em:
<http://www.alset.com.br/public/imagem/gerenciador/pdf/transformadores-de-
distribuicao-a-oleo.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2019.

CALLISTER, W. D. Ciência e engenharia de materiais: uma introdução. 5. ed.


Rio de Janeiro: LTC, 2002.

MORA, N. D. (Org.) Apostila de Materiais Elétricos. Foz do Iguaçu, 2010.


Disponível em: <http://www.foz.unioeste.br/~lamat/downmateriais/materiaiscap
1.pdf>. Acesso em: 27 fev. 2019.

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