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Introdução aos Materiais de Construção

APRESENTAÇÃO

Material de construção é todo corpo, objeto ou substância utilizada em obras de construção civil.
O estudo desses materiais nos permite conhecer desde o seu processo de fabricação, o
funcionamento de sua estrutura (bem como suas propriedades), até seu desempenho e em qual
aplicação poderá ser utilizado.

Os tipos de materiais de construção podem ser classificados quanto a sua origem, função,
composição e estruturas internas, e essa análise se desenvolverá de acordo com as famílias
desses materiais: metais, polímeros (plásticos), cerâmicas e compósitos (associação de
materiais). O estudo ocorrerá por meio de critérios e propriedade físicas e químicas dos
materiais, buscando auxiliar na correta especificação.

Nesta Unidade de Aprendizagem, você aprenderá a identificar os grupos de origem de cada


material, assim como reconhecer as propriedades dos materiais e compreender como estas se
relacionam com o seu desempenho (comportamento) em uma determinada aplicação.

Bons estudos.

Ao final desta Unidade de Aprendizagem, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

• Elencar os grupos de materiais de construção: metálicos, poliméricos, cerâmicos e


compósitos.
• Identificar as propriedades dos materiais de construção, sejam elas físicas (extensão,
massa, peso, volume, massa específica, densidade e permeabilidade) ou mecânicas
(dureza, tenacidade, ductilidade, elasticidade e plasticidade).
• Diferenciar as propriedades dos materiais, compreendendo como elas impactam na
definição de um material e uma determinada aplicação.

INFOGRÁFICO
Qualquer material sólido tende a sofrer deformação quando submetido a alguma solicitação
mecânica ou esforço. A resistência dos materiais é uma ciência que tem como objetivo estudar o
comportamento dos materiais de construção sujeitos a esforços, de forma que estes possam ser
dimensionados corretamente atendendo às condições previstas de utilização.

Neste Infográfico, você vai conhecer os diferentes tipos de esforços que podem atuar em um
material. Esses tipos de solicitações estão ligadas às propriedades mecânicas dos materiais:
módulo de elasticidade, resistência à deformação, dureza, tenacidade, fadiga; resistência à
deformação a quente, etc.
CONTEÚDO DO LIVRO

Os materiais são de grande importância na elaboração de um projeto.

Assim, é necessário conhecer quais são os tipos de materiais de construção, assim como a sua
classificação, origem, função dentro da construção civil, composição e estrutura.

Esse conhecimento é de grande valia para a correta especificação de um material para uma
determinada aplicação ou situação que possa ocorrer durante a sua utilização, principalmente
durante a ocupação de uma edificação, visando a segurança e o bem-estar dos ocupantes.

No capítulo Introdução aos materiais de construção, da obra Tecnologia do ambiente


construído: materiais de construção, base teórica desta Unidade de Aprendizagem, você vai
estudar os diferentes tipos de materiais, assim como as propriedades que interferem em seu
desempenho em uma determinada aplicação e situação de uso. Além disso, você vai ser capaz de
identificar o comportamento de um material frente às solicitações de uso.

Boa leitura.
TECNOLOGIA
DO AMBIENTE
CONSTRUÍDO:
MATERIAIS DE
CONSTRUÇÃO

Carlos Eduardo Magrini


Negri
Introdução aos materiais
de construção
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Elencar os grupos de materiais de construção metálicos, poliméricos,


cerâmicos e compósitos.
„„ Identificar as propriedades dos materiais de construção, sejam elas
físicas (extensão, massa, peso, volume, massa específica, densidade
e permeabilidade) ou mecânicas (dureza, tenacidade, ductilidade,
elasticidade e plasticidade).
„„ Diferenciar as propriedades dos materiais compreendendo como
elas impactam na definição de um material e uma determinada
aplicação.

Introdução
Material de construção é todo o corpo, objeto ou substância utilizada
em obras de construção civil. Os tipos de materiais de construção
podem ser classificados quanto à sua origem, função, composição e
estrutura interna.
Neste capítulo, você estudará os diferentes tipos de materiais, identifi-
cará seus comportamentos frente às solicitações de uso e compreenderá
como suas propriedades impactam em seu desempenho (comporta-
mento) em determinadas aplicações.

Reconhecendo os materiais
O estudo dos materiais (Figura 1) nos permite conhecer desde o seu processo de
fabricação, o funcionamento de sua estrutura (bem como suas propriedades),
até seu desempenho e em qual aplicação poderá ser utilizado.
2 Introdução aos materiais de construção

PROPRIEDADES
PROCESSO PRODUTIVO
Conhecer as propriedades dos
Aços do tipo doce (baixo teor de
materiais (composição química,
carbono) aceitam solda, enquanto
peso, condutividade térmica,
que aços do tipo duro não aceitam
isolamento acústico) é fundamental
ser soldados.
para realizar a especificação técnica.

MATERIAL

APLICAÇÃO ESTRUTURA
O Chassis de um automóvel O carvão e o diamante possuem
deve ser leve para possibilitar os mesmos elementos atômicos
economia de combustível e possuir (átomo de carbono), mas o que os
resistência ao impacto para proteger diferencia é a força de ligação dos
o motor do veículo. mesmos.

Figura 1. Fatores que influenciam no desempenho de um material.


Fonte: Elaborado pelo autor.

Os materiais são constituídos por átomos que determinam se um material


é classificado como metal, polímero, cerâmica ou compósito. Portanto, é a
estrutura atômica ou tipo de molécula que diferencia um material do outro.
Faz parte do estudo dos materiais o conhecimento de sua estrutura atômica e a
compreensão de como isso afeta seu comportamento. A seguir, você conhecerá
os diferentes tipos de materiais separados por “famílias”.

Metais
Um metal é um elemento composto por um conjunto de átomos (de caráter
metálico), no qual os elétrons da camada de valência (camada mais afastada
do núcleo, cujos elétrons são atraídos pelo núcleo com uma força menor que as
demais camadas) fluem livremente. O resultado dessa baixa força de atração
é o fato de os elétrons fugirem e transitarem pelo reticulado, formando a
ligação metálica que é responsável por uma série de propriedade dos materiais
metálicos. Confira, a seguir, algumas dessas propriedades.

„„ Condutividade elétrica — os metais são excelentes condutores de


eletricidade, por isso são utilizados como material que compõe os fios
elétricos. Essa propriedade é explicada pelos elétrons livres da camada
de valência, que permitem a movimentação.
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„„ Condução de calor — os elétrons transitam livremente e permitem


o trânsito de calor, da mesma maneira como explicado sobre a con-
dutividade elétrica. Por esse motivo, são usados como material para
panelas e fornos.
„„ Densidade — os metais são, normalmente, materiais densos, em razão
da estrutura compacta dos seus retículos cristalinos.
„„ Pontos de fusão — os metais possuem elevadas temperaturas de fusão,
o que se deve à elevada força de atração entre os elétrons livres que
os mantêm unidos uns aos outros. Para que essa união seja rompida, é
necessário que se aplique uma energia externa muito forte ao sistema,
por esse motivo os metais são utilizados em reatores nucleares, caldeiras
e até em filamentos de lâmpadas incandescentes.
„„ Resistência à tração — os materiais metálicos apresentam elevada
resistência ao serem puxados ou alongados, o que decorre da elevada
intensidade da ligação metálica. Devido a essa propriedade, esses ma-
teriais são utilizados na confecção de cabos de aço que sustentam
elevadores e pontes estaiadas, além de vergalhões utilizados como
armação nas estruturas em concreto armado.

Polímeros
Também conhecidos como plásticos, são geralmente compostos por longas
cadeias de átomos de carbono (orgânicas) não cristalinas. A resistência
mecânica e a ductilidade desses materiais é muito variável e, devido a sua
estrutura, eles não são bons condutores de calor e energia, se comportando
como isolantes. São leves e se decompõe a uma baixa temperatura. Para
compreender melhor o comportamento dos polímeros, podemos subdividi-
-los em dois grupos:

„„ Termofixos (também conhecidos como termorrígidos ou termo endu-


recidos) — são polímeros artificiais cuja rigidez não se altera com a
temperatura. Durante a fabricação desses materiais, a matéria-prima é
aquecida para que ocorra um rearranjo de átomos e a formação de pontes
fixas na cadeia polimérica. Após o resfriamento e o endurecimento
desses polímeros, eles se tornam rígidos e resistentes. Porém, ao serem
submetidos a elevadas temperaturas novamente, se decompõem, não
podendo ser fundidos nem remoldados uma outra vez. Esses tipos de
polímeros são muito utilizados na indústria automotiva e aeronáutica,
por exemplo, o poliuretano, poliéster e as resinas epóxi.
4 Introdução aos materiais de construção

„„ Termoplásticos — são polímeros que amolecem e se fundem ao serem


submetidos a altas temperaturas. Você já teve ter visto isso acontecer
com algum brinquedo de plástico esquecido ao sol que amoleceu e
perdeu a cor. A cadeia polimérica dos termoplásticos é composta por
longos fios lineares ou ramificados. Contudo, se por um lado o fato da
exposição à temperatura influir negativamente na estrutura e torná-lo
pouco resistente é encarado como uma desvantagem, por outro, pode-
mos ressaltar que esse mesmo polímero é passível de remoldagem, ou
seja, pode ser encarado como um material reciclável. Esses polímeros
são utilizados na fabricação de filmes plásticos, fibras e embalagens,
como polietileno (PE), polipropileno (PP), cloreto de polivinila (PVC),
entre outros.

Analisando a Figura 2, você observará que um polímero termoplástico


apresenta ligações lineares, fracas (van der Waals), que podem ser facilmente
rompidas por meio de introdução de energia (calor). Já os polímeros termor-
rígidos apresentam cadeias conectadas entre si por meio de ramificações. As
ligações são primárias (covalentes) e responsáveis pelas ligações cruzadas entre
as cadeias, as quais só são rompidas com introdução de quantidades de energia,
que levam ao rompimento das ligações e à degradação (queima) do polímero.

Linear Ramificado
Figura 2. Tipos de ligações poliméricas.
Fonte: Callister Junior (1997).

Portando, observamos que o tipo de ligação entre as cadeias é o fator res-


ponsável pela diferenciação do comportamento entre os polímeros termorrígido
e termoplásticos. Conforme apresentado em Speight (2005), você conhecerá
alguns polímeros, suas propriedades e aplicações.
Introdução aos materiais de construção 5

Polietileno

O PE é quimicamente o polímero mais simples, sendo representado pela


cadeia (CH2-CH2)n. Devido à sua alta produção mundial, é também o mais
barato, sendo um dos tipos de plástico mais comuns e quimicamente inerte.
É utilizado na fabricação de baldes, sacos de lixo e de embalagens em geral.

Polipropileno

Também conhecido polipropeno, o PP é um polímero derivado do propeno ou


propileno (plástico reciclável), sendo identificado em produtos que contém o
símbolo triangular de produto reciclável (Figura 3). A sua forma molecular
é (C3H6)n. É um tipo de plástico que pode ser moldado usando apenas para
aquecimento, ou seja, é um termoplástico.
Possui propriedades muito semelhantes às do PE, mas com ponto de amo-
lecimento mais elevado. Possui elevada resistência a fratura e boa resistência
ao impacto. O polileno pertence a esta classe e é utilizado na fabricação de
cadeiras e para-choques de automóveis.

Figura 3. Símbolo de identificação do PP reciclável.


Fonte: Standard Studio/Shutterstock.com.

Policloreto de polivinila

Também conhecido como cloreto de vinila ou policloreto de vinil, o PVC é um


plástico não 100% originário do petróleo, pois possui a adição de átomos do
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elemento cloro ao monômero etileno. Contém, em peso, 57% de cloro e 43%


de eteno (derivado do petróleo). Essa composição dá ao vinil às características
de não ser tão susceptível às mudanças de preço no mercado de petróleo e de
não ser um bom combustível como os derivados de petróleo. É um material
usado na fabricação de encanamentos hidráulicos, por ser insolúvel em água.
Se decompõe a temperaturas superiores a 180 ºC.

Poliestireno expandido

O poliestireno expandido (EPS), também conhecido como isopor, é um homo-


polímero resultante da polimerização do monômero de estireno. Trata-se de
uma resina do grupo dos termoplásticos, cuja característica principal reside
na sua elevada flexibilidade ou moldabilidade sob a ação do calor, que o deixa
em forma líquida ou pastosa. É a matéria-prima dos copos descartáveis, de
lacres de barris de chope e de várias outras peças de uso doméstico, além de
embalagens. Na construção civil é utilizado nos blocos das lajes tipo mista,
pela sua leveza e propriedade de isolamento termoacústico. Possui baixa
resistência a solventes orgânicos, calor, intempéries e é inflamável.

Poliacrilonitrila

A poliacrilonitrila (PAN) é um polímero obtido a partir da polimerização


da nitrila de acrílico (acrilonitrila). Pode ser encontrada na forma de fibra
ou resina, de acordo com o processo de fabricação. As fibras acrílicas (Or-
lon) são usadas essencialmente como fibra têxtil sintética (geralmente em
roupas de inverno, cobertores, tapetes, recheio de almofadas e brinquedos
de pelúcia), tendo em sua composição pelo menos 85% de massa de PAN. É
também utilizada na produção de fibras de carbono, material com excelentes
propriedades mecânicas.

Polimetil-metacrilato

O polimetil-metacrilato (PMMA) também é conhecido como acrílico ou vidro


acrílico. É um material termoplástico rígido, transparente e incolor; é consi-
derado um dos polímeros mais modernos e com maior qualidade do mercado,
por sua facilidade de adquirir formas, sua leveza e alta resistência. Seu nome
químico é poli(metil-2-metilpropenoato). Um dos fatos que contribuiu para a
popularização do acrílico foi ele ser um polímero do tipo termoplástico, cuja
reciclagem é viável em termos econômicos.
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Suas propriedades são descritas na literatura quase sempre em comparação


com o vidro. As principais diferenças entre estes dois materiais são:

„„ o PMMA é menos denso (1150 e 1190 kg/m3), apresentando cerca de


metade da densidade do vidro;
„„ o PMMA possui uma elevada resistência ao impacto, que o vidro não
possui, não se estilhaça, mas pode quebrar em grandes pedaços;
„„ o PMMA é mais macio e tem menor proteção ao risco que o vidro, mas
esta deficiência pode ser contornada com aplicação de filmes antirrisco;
„„ o PMMA é produzido e processado a temperaturas mais baixas que as
de vidro: somente 240–250 °C sob pressão atmosférica;
„„ ao contrário do vidro, o PMMA não filtra a luz ultravioleta, sendo capaz
de transmiti-lo abaixo dos 300 nm, suas moléculas têm uma grande
estabilidade quando comparado, por exemplo, com o policarbonato.

O acrílico tem sido amplamente utilizado pela indústria na forma de pe-


ças de produtos, principalmente na indústria moveleira. Também tem sido
amplamente utilizado para comunicação de empresas em pontos de venda
com fachadas, expositores, displays e púlpitos, o que se deve ao uso de novas
tecnologias que possibilitam moldar, cortar e até iluminar grandes peças com
precisão milimétrica. O corte a laser é um bom exemplo de tecnologia que
elevou o nível de uso do acrílico. Na construção civil é utilizado na utilizado
na produção de portas e janelas.

Politetrafluoretileno

Politetrafluoretileno (PTFE) é um polímero conhecido mundialmente pelo


nome comercial teflon (marca registrada de propriedade da empresa DuPont).
O PTFE é um polímero similar ao PE, no qual os átomos de hidrogênio são
substituídos pelos de flúor, tornando-se assim um fluoropolímero. Sua fórmula
química é -(2FC-CF2)n-. A principal virtude desse material é ser uma substância
praticamente inerte, que não se combina com outras substâncias químicas,
exceto em situações muito especiais. Isso se deve, basicamente, a proteção dos
átomos de flúor sobre a cadeia carbonada, permitindo que a sua toxicidade seja
praticamente nula. É, também, o material com o terceiro menor coeficiente de
atrito de todos os materiais sólidos conhecidos. Outra propriedade importante
é a impermeabilidade, que tem expandido sua aplicação para outros ramos
como vestuário e até próteses médicas.
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Borracha sintética

É obtida a partir da polimerização de uma série de monômeros, incluindo o


isopreno (2-metil-1,3-butadieno), o 1,3-butadieno, o cloropreno (2-cloro-1,3-
-butadieno) e o isobutieno (metilpropeno), com uma porcentagem pequena
do isopreno para melhorar a aderência. Esses e outros monômeros podem
ser misturados em várias proporções desejáveis para copolimerização e uma
ampla gama de propriedades físicas, mecânicas e químicas. Os monômeros
podem ser produzidos puros e a adição das impurezas ou dos aditivos pode
ser controladas para otimizar suas propriedades.
A borracha sintética possui as mesmas propriedades das borrachas na-
turais, ou seja, elasticidade, possibilidade de vulcanização, solubilidade em
solventes, resistência à água, à eletricidade e à abrasão. Além disso apresenta
melhor desempenho quanto à durabilidade e à resistência a óleos, calor e luz.
É utilizada na fabricação de pneus, câmaras de ar, boias, etc.

Cerâmicas
São materiais inorgânicos, constituídos predominantemente por elementos
metálicos e não metálicos conectados por meio de ligações químicas iônicas
e/ou covalentes. Sua estrutura pode ser cristalina ou não. Esses materiais são
utilizados na construção civil e podem ser divididos em cerâmicas tradicionais
e cerâmica de engenharia.
As cerâmicas tradicionais são obtidas a partir da argila, sílica e feldispato,
ao passo que as cerâmicas de engenharia são obtidas a partir de compostos
puros, como o óxido de alumínio, carbeto de silício e nitreto de silício. As
telhas, tijolos e vidros usados em obras de construção civil são exemplos de
cerâmica tradicional. Já uma turbina automotiva em carbeto de silício é um
exemplo de cerâmica aplicada à engenharia, desenvolvida para uma função
que requer um material com elevada dureza e resistência mecânica, mesmo
quando submetidos a alta temperatura.
A classe de materiais cerâmicos engloba desde materiais a base de argila,
que não passaram por nenhum processo de queima, até cerâmicas avançadas,
cuja produção visa atender à indústria aeronáutica. Essa classe engloba também
os vidros (material cerâmico sem estrutura cristalina).
No que se refere a estrutura química, as cerâmicas simples possuem liga-
ção atômica, que pode ser do tipo covalente ou iônica, conforme você pode
observar no Quadro 1.
Introdução aos materiais de construção 9

Quadro 1. Propriedades dos compostos cerâmicos

Composto Ponto de Composto Fórmula Ponto de


cerâmico Fórmula fusão (ºC) cerâmico química fusão (ºC)

Carbeto Carbeto
de Háfnio hfC 4.150 de Boro B4O33 * 2.450

Carbeto Óxido
de Titânio TiC 3.120 de Alumínio Al4O2 2.050

Carbeto de Dióxido
tungstênio WC 2.850 de Silício ** SiO2 * 1.715

Óxido Nitreto
de magnésio MgO 2.798 de Silício Si3N4 * 1.700

Dióxido Dióxido
de zircônio ZrO2 2.750 de Titânio TiO2 * 1.605

Carbeto SiC 2.500


de Silício

*Acredita-se que tenha estrutura cristalina monolítica de fluorite (distorcida)


quando fundida.
**Cristobalita.

Fonte: Adaptado de Smith e Hashemi (2012).

A quantidade de ligações iônicas e covalentes entre os átomos desses com-


postos pode ser obtida pela diferença de eletronegatividade entre os diferentes
tipos de átomos. Conhecer esse número é importante na determinação do tipo
de estrutura cristalina a ser formada no composto cerâmico.
O arranjo dos íons, ou empacotamento, é determinado a partir do tamanho
dos íons, entendendo eles como esferas rígidas e com raio conhecido, e que
o balanço eletrostático das cargas é necessário para manter a estabilidade
elétrica do sólido iônico.
A estrutura cristalina de uma cerâmica estável se forma quando os ânions
que circulam um cátion estão em contato com esse cátion. Os principais
materiais cerâmicos são apresentados a seguir.

„„ Cerâmicas tradicionais — são as cerâmicas estruturais, louças, refra-


tários (provenientes de matérias primas argilosas).
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„„ Vidros — são sólidos não cristalinos que apresentam apenas ordenação


atômica de curto alcance. Sua composição química principal é o óxido:
SiO2, combinado a outros óxidos: CaO, Na2O, K 2O e Al2O3. Os mate-
riais a base de vidro são conformados (moldados) a quente, quando o
material apresenta comportamento plástico. Após o resfriamento passa
a se comportar como um sólido.
„„ Vitro-cerâmicas.
„„ Abrasivos.
„„ Cimentos.
„„ Cerâmicas avançadas — são aplicações eletroeletrônicas, térmicas,
mecânicas, ópticas, químicas e biomédicas.

Muitos materiais cerâmicos possuem elevado ponto de fusão e apresentam


dificuldade de conformação passando pelo estado líquido. A plasticidade
necessária para sua moldagem é conseguida antes da queima, por meio de
uma mistura de matérias-primas em pó com um líquido.
A seguir, você verá alguns processos de conformação de cerâmica.

„„ Prensagem simples — pisos e azulejos.


„„ Prensagem isostática — vela do carro.
„„ Extrusão — tubos e capilares, tijolos baianos.
„„ Injeção — pequenas peças com formas complexas e rotor de turbinas.
„„ Colagem de barbotina — sanitários, pias, vasos, artesanato.
„„ Torneamento — xícaras e pratos.

Durante o processo de queima das cerâmicas ocorrem os seguintes


fenômenos:

„„ eliminação do material orgânico (dispersantes, ligantes, material or-


gânico nas argilas);
„„ decomposição e formação de novas fases de acordo com o diagrama
de fases (formação de alumina, mulita e vidro a partir das argilas);
„„ sinterização (eliminação da porosidade e densificação) com consequente
ganho de resistência mecânica do material.

No que se refere às propriedades, as cerâmicas são, de modo geral, material


frágil, não apresentam deformação plástica. Contudo, existem cerâmicas
superplásticas, quando submetidas a elevadas temperaturas. São duras, bons
isolantes elétricos (com exceção ao ReO3, qua possui condutividade elétrica
Introdução aos materiais de construção 11

igual a do CU em temperatura ambiente e o YBa2Cu3O7, que é um supercon-


ductor a 92K). São materiais com bom isolamento térmico, apresentam boa
resistência à compressão e boa resistência química, mesmo quando submetido
a temperaturas elevadas.

Compósitos
Surgiram em meados do século XX e são constituídos por meio da combinação
de dois ou mais materiais diferentes, em busca de uma combinação de proprie-
dades para uma aplicação específica. Possuem características diferentes dos
materiais que os originaram, podendo ser mais resistentes e rígidos. Resistem
à alta temperatura, não sofrem corrosão, etc. Geralmente, seus componentes
não se dissolvem no processo, possuindo uma interface clara e nítida entre os
materiais que o compõe. O desempenho do material compósito é alcançado
por meio da associação das suas propriedades.
As fases dos compósitos são chamadas de matriz — que pode ser cerâmica,
polimérica e metálica — e dispersa — geralmente fibras ou partículas que
servem como carga.
A matriz geralmente é um material contínuo que envolve a fase dispersa. As
propriedades do compósito envolvem fatores como a geometria da fase dispersa,
distribuição, orientação e compatibilidade interfacial entre os constituintes
da mistura. Portanto, para que se forme um compósito, é necessário que haja
afinidade entre os materiais que serão unidos. Por isso, é muito importante
conhecer as propriedades químicas e físicas dos diferentes materiais envol-
vidos, mais especificamente as propriedades das interfaces dos constituintes
dos compósitos.
Muitas das tecnologias modernas requerem materiais com combinações
bem peculiares de propriedades que não podem ser atendidas por materiais
tradicionais (ligas metálicas, cerâmicas e materiais poliméricos), como as
aplicações aeroespaciais, subaquáticas e de transporte.
A busca por materiais ecologicamente corretos tem promovido o desenvol-
vido tecnológico de materiais de matrizes poliméricas com fibras naturais. A
princípio, as fibras naturais apresentaram poucas vantagens, pois não sofriam
melhora de suas propriedades com essas combinações. Contudo, tendo em
vista o baixo custo dessas fibras (cujas fontes são renováveis e inesgotáveis),
a baixa densidade e o fato de provocarem um menor desgaste por abrasão
nas máquinas de processamento e terem uma boa adesão à matriz, seu uso
em compósitos estruturais tem crescido no setor industrial. A melhoria das
propriedades da madeira utilizando fibras de celulose em uma matriz de
12 Introdução aos materiais de construção

lignina, trouxe muitos benefícios para a construção civil, como a melhoria


das propriedades mecânicas, a melhor resistência a intempéries, entre outras.
As propriedades físicas dos materiais compósitos não são normalmente
isotrópicas na natureza, mas anisotrópicas, pois a rigidez de um compósito
depende da direção de aplicação da carga, da geometria e da orientação do
reforço utilizado.

Quadro 2. Resumo de características dos materiais

Tipo de
material Características Cadeia atômica

Metálico Dúctil, elevada resistência Composta por átomos


mecânica e dureza, bom metálicos e não metálicos,
condutor de eletricidade ligações fortes
e calor, opaco

Polimérico Dúctil, baixa resistência Cadeia molecular orgânica


mecânica e dureza, elevada longa Termoplásticos
flexibilidade, baixa estabilidade apresentam cadeia lineares
a altas temperatura, com ligações fracas ao passo
transparentes ou opacos que os termofixos apresentam
cadeias ramificadas
com ligações rígidas

Cerâmico Frágil, bom isolante térmico Compostos por combinação


e elétrico, elevada dureza de óxidos, silicatos,
nitretos e aluminatos

Fonte: Elaborado pelo autor.

Propriedades
O motivo para se estudar as propriedades dos materiais é o fato de, por meio
desse conhecimento, ser possível compreender se o material que se pretende
utilizar será capaz de resistir aos esforços aplicados a ele, sem que sofra defor-
mações excessivas, desgaste prematuro ou venha se a romper durante o uso.
Para compreender melhor as propriedades dos materiais, iremos subdividi-
-las em dois grupos:
Introdução aos materiais de construção 13

„„ propriedades físicas;
„„ propriedades mecânicas.

Propriedades físicas
São aquelas que podem ser medidas sem que a composição química do material
se altere, conforme você verá a seguir.
Todo corpo possui uma extensão, que é medida em unidade de compri-
mento, pela extensão de espaço ocupado (Figura 4).

Figura 4. Exemplos de unidade de medida.


Fonte: Steven Frame/Shutterstock.com.

Massa é uma propriedade relacionada à quantidade de matéria de um corpo,


e é mensurada em unidade de peso (quilogramas, gramas, toneladas, etc.). A
massa é a medida da inércia de um corpo e, para mensurá-la, utilizamos uma
balança, como você pode ver na Figura 5.
14 Introdução aos materiais de construção

Figura 5. Exemplo da medição de massa.


Fonte: VGstockstudio/Shutterstock.com.

Peso (P) é obtido considerando a massa de um corpo sob ação da gravidade,


ou seja, é a massa de um corpo em gramas, multiplicada pela aceleração da
gravidade (g = 9,81 m/seg2). Para mensurá-lo, podemos pesar um corpo uti-
lizando um dinamômetro. A unidade utilizada para medir peso são unidades
de força (kgf, tf, etc.).
Volume (V) é a forma que representa o espaço tridimensional ocupado por
um determinado corpo ou material. Para compreender melhor o significado
dessa propriedade, você pode imaginar o volume de um determinado material,
como a quantidade de água (ou ar, areia, etc.) que caberiam dentro de determi-
nada forma de modo a completá-la. As unidades mais comuns são centímetro
cúbico (cm3), metro cúbico (m3), polegada cúbica (in3) e pés cúbicos (ft3).
Densidade (d) é o resultado da divisão entre a quantidade de matéria (massa)
e o seu volume. A densidade absoluta de um corpo é igual a M/V. Se a massa
for medida em gramas e o volume em centímetros cúbicos, a densidade será
obtida em gramas por centímetros cúbicos.
Massa específica (μ) ocorre, caso um determinado corpo seja maciço e
homogêneo, por exemplo, um cubo de metal ou um tijolo, a densidade pode
também ser chamada de massa específica, adotando a mesma equação.

m
µ=d=
V
Introdução aos materiais de construção 15

Porosidade x densidade é avaliada quando um determinado corpo é


descontínuo e apresenta poros (espaços vazios entre partículas sólidas). A
proporção entre espaços vazios e sólidos torna o corpo mais ou menos denso.
A título de exemplo, podemos comparar uma rolha de cortiça que apresenta
mais poros do que uma tampa metálica usada em uma garrafa. A densidade
da cortiça é bem menor que a do ferro.
Absorção relaciona-se à quantidade de energia que permanece em um
corpo após a sua incidência sobre ele. Contrapõe-se às parcelas de transmissão
e reflexão. Podemos exemplificar essa propriedade quando um corpo escuro
recebe iluminação de uma determinada fonte, absorve todas as cores e reflete a
luz de sua própria cor. Alguns materiais podem ser atravessados pela luz e, por
isso, é possível enxergar através deles. Esses materiais são ditos transparentes.
Os materiais que não são atravessados pela luz são ditos como translúcidos e
permitem que a luz os atravesse, porém, a visualização não é nítida.
Calor específico é a quantidade de calor necessária para que uma grama
de um determinado material sofra variação de temperatura correspondente
a 1 ºC. É uma característica de cada material e indica o seu comportamento
frete à exposição ao calor.
Coeficiente de expansão térmica, também conhecido como coeficiente de
dilatação, trata-se do cociente que mede a variação de comprimento ou volume
produzido em um corpo sólido (ou fluido) que experimenta uma variação de
temperatura, ou seja, apresenta uma dilatação térmica.
Condutividade térmica é a transferência de calor entre dois corpos. A
energia cinética de uma molécula em um corpo quente é maior que a energia
em um corpo frio. Se essas duas moléculas se chocam, ocorre a transferência
de energia da molécula quente para a fria. O efeito acumulativo de todas as
colisões resulta em um fluxo de calor do corpo quente para o corpo frio por
meio de condutividade térmica.

Propriedades mecânicas
Todo material sólido, quando submetido a esforços externos responde a isso
em forma de deformação. As propriedades mecânicas dos materiais definem
o seu comportamento (resposta) quando sujeito a cargas externas, ou seja,
demonstram sua capacidade de resistir a esses esforços sem se fraturar ou
deformar demasiadamente.
Dureza é a propriedade de um material que o permite resistir à deformação
plástica, usualmente medida pela penetração ou risco. Um material é considerado
mais duro que o outro quando o primeiro consegue riscar o segundo deixando
16 Introdução aos materiais de construção

um sulco. Para determinar a dureza dos materiais, usamos uma escala de 1 a 10


(Mohr). O valor 1 corresponde ao mineral menos duro que se conhece (talco); e
o valor 10 é a dureza do o mineral mais duro que se conhece (diamante).
Tenacidade é a capacidade que um material tem em absorver energia até
a sua ruptura. Também pode ser definida como a energia mecânica necessária
para levar um material a ruptura.
Ductibilidade é a capacidade que um material tem de deforma-se plastica-
mente até sua ruptura. Um material que se rompe sem sofrer uma quantidade
significativa de carga no regime plástico é denominado frágil. A Figura 6
apresenta um diagrama sobre a ductibilidade de metais.

σ
T
σmáx
σr k
Limite de ƒs
fluência
σe ƒi
p
σp Zona de
fluência

0 Zona ε
elástica Zona plástica

Zona elástico-plástica
Figura 6. Diagrama típico de tensão versus deformação para um metal dúctil submetido
a tensão uniaxial.
Fonte: Adaptado de Fuente (2017, documento on-line).

Durabilidade trata-se da vida útil de um material, ou seja, o tempo que


ele demora para romper quando submetido a uma força. O material se rompe
por fadiga. A durabilidade depende da magnitude da carga a qual o corpo será
Introdução aos materiais de construção 17

submetido, do tipo (carga estática ou dinâmica) e da duração desse carrega-


mento. Outros fatores como microestrutura do material, processo produtivo
e condições climáticas também podem interferir na durabilidade do material.
Elasticidade é a capacidade que um material tem em retornar sua forma
e dimensões originais quando removidos os esforços externos que atuavam
sobre ele. Nesse sentido, o material obedece a Lei de Hooke, na qual a tensão
aplicada é proporcional à deformação.
Plasticidade é comportamento que se dá quando o material não consegue
mais recuperar sua forma e dimensões originais, pois as tensões à quais foi
submetido ultrapassaram o limite conhecido como limite elástico, a partir do
qual o material sofre deformação permanente.
Desgaste é o fenômeno que ocorre por abrasão ou erosão. A Lei de Hooke
não é válida mais.
Resiliência é a capacidade que o material tem em absorver energia no
regime elástico, ou seja, quando é deformado elasticamente.

É necessário saber diferenciar erosão de abrasão. Ambos fenômenos provocam des-


gaste em um material, comprometendo sua durabilidade. Diferenciá-los pode ser
extremamente importante para a especificação de um material para uma determinada
aplicação.
„„ Abrasão — o desgaste abrasivo é a perda de material por meio do contato entre
dois materiais devido à sua rugosidade. Ocorre quando temos dois ou mais ma-
teriais de durezas diferentes em contato entre si. O material mais duro desgasta o
mais mole por abrasão.
„„ Erosão — ocorre pela remoção de material da superfície quando ela é impactada
por um fluido (líquido ou gasoso) que contem partículas sólidas. A resistência
contra esse tipo de desgaste é solucionada utilizando um material com dureza
maior que o material das partículas que o impactam.

Especificação de materiais
Inúmeros são os problemas causados pela falta de especificação e ou espe-
cificação incorreta de materiais na execução de obras. Essas falhas causam
atrasos nos processos de compra, no andamento da obra, aumentos de custo,
retrabalho, mão de obra ociosa, etc.
18 Introdução aos materiais de construção

As especificações técnicas (ETs) descrevem de modo preciso, completo e


organizado, os materiais e os procedimentos de execução a serem adotados
durante uma construção, de modo que esta atinja o padrão de qualidade e
desempenho esperados.
Por exemplo, ao definir o tipo de piso a ser instalado no hall de acesso
de um banco, devemos definir o tipo de cerâmica a ser adotada (marca,
dimensões, cor, forma de assentamento, traço da argamassa e espessura
da junta de dilatação). A ET tem como finalidade complementar a parte
gráfica do projeto, e é de grande importância, pois uma vez registrada e
organizada, minimiza o risco de improvisos e modificação de critérios de
projeto durante a execução.
Antes de iniciar a redação deste documento, é fundamental compreender
os materiais que serão necessários à execução de uma determinada obra.
Essa é uma etapa técnica, executada por profissionais qualificados. A es-
colha de um determinado material, envolve diversos aspectos, conforme
detalhado a seguir.

„„ Compreensão dos esforços atuantes sobre o material — nesta etapa


você deverá analisar a demanda do seu projeto e verificar o meio em
que o material será trabalhado e quais forças que irão atuar sobre ele.
„„ Definição da resistência necessária para resistir a estes esforços — uma
vez compreendidos os esforços solicitantes, a etapa seguinte é com-
preender a resistência necessária ao material em função dos esforços
já identificados.
„„ Especificação do material — quando for necessário escolher um
material para uma determinada aplicação, você deverá pesquisar
os materiais disponíveis no mercado e escolher os que atendem aos
requisitos técnicos (resistência mecânica e características físicas),
ou seja, que atendam às demandas do projeto. Uma vez definidos os
materiais, você deve avaliar a mão de obra disponível para aplicá-los,
bem como os custos.
„„ ET — ao redigir este documento, além de definir o material escolhido
e as quantidades, é importante especificar a técnica necessária à sua
instalação, pois essa informação será objeto de cotação por parte do
departamento de compras. Omitir essa informação pode causar falhas
no processo de cotação, contratação de mão de obra não qualificada
para realização do serviço e, consequentemente, falha prematura do
material aplicado.
Introdução aos materiais de construção 19

São considerados aspectos importantes a uma boa ET de materiais:

„„ qualidade, ou seja, conjunto de características de um determinado


material relevante para atender às exigências de uma aplicação;
„„ especificação de desempenho, indicação clara do propósito, função,
aplicação e desempenho esperados de um determinado material.

Imagine que você é o responsável técnico por uma obra na qual foi construída uma
varanda não coberta. O piso dessa varanda é a laje da sala de estar dessa edificação.
O projeto prevê que a laje (do tipo maciça de concreto armado) da varanda cuja
área é de 6 m2 seja impermeabilizada. Como no projeto não especifica qual tipo de
impermeabilização aplicar, você terá que avaliar o local e definir o melhor material
a ser adotado.
Resolução
1º passo — definir esforços aos quais o material estará submetido
A laje de concreto maciço é um elemento poroso. Nela, não terá cobertura, portanto
estará sujeita a intempéries e consequentes expansões térmicas. O projeto prevê a
instalação de um piso cerâmico tipo porcelanato sobre a laje, ou seja, qualquer que
seja a impermeabilização aplicada sobre a laje, deverá receber uma proteção mecânica,
que permitirá as pessoas andarem sobre ela sem que a impermeabilização sofra danos
com o tempo. Não haverá tráfego de veículos sobre a varanda, o que nos diz que o
material não precisa ter alta resistência mecânica.
2º passo — avaliar as propriedades necessárias ao material
O material deverá promover a impermeabilização da laje, impedindo a água de
penetrar pelos poros do concreto que compõe a laje. Ser flexível (elevada elasticidade),
pois irá ficar exposto às intemperes e, consequentemente, sofrerá dilatação e contrações
(expansão térmica).
3º passo — especificar o material a ser utilizado
Pesquisar em catálogos de fabricantes de materiais poliméricos a procura de materiais
impermeabilizantes. Os impermeabilizantes flexíveis são materiais que permitem um
maior alongamento (elásticos), por isso são indicados para locais expostos a variação de
temperatura. Dentro desse grupo, existem as mantas asfálticas, membranas asfálticas
moldadas a quente ou a frio, membranas acrílicas, membranas de poliuretano e
membranas de poliuretano com asfalto. Como não haverá tráfego de veículos sobre
a laje, descartaremos os materiais a base de asfalto. Em virtude dessa laje ser o teto
da sala de estar da residência, é necessário escolher um material de base branca, de
modo a promover a estabilização da temperatura interna da sala de estar. A escolha
final foi um polímero artificial, do tipo membrana acrílica, cuja aplicação é feita com
rolo, não requerendo mão de obra especializada e tem um bom custo-benefício.
20 Introdução aos materiais de construção

4º passo — ET
Material: 2 baldes de 18 litros de membrana acrílica impermeabilizante branca.
Mão de obra: um pedreiro e um ajudante.
Orientações para aplicação: primeiramente deve ser realizado um preparo da su-
perfície sobre a laje. Essa etapa prevê a sua regularização com uso de argamassa de
cimento e areia (traço 1:3), dando caimento mínimo de 2% em direção aos ralos de
água pluvial. Para a aplicação do produto, deve ser utilizado uma trincha, rolo de
pintura ou vassoura de pelo. Ao abrir a embalagem do produto, deve-se realizar a sua
homogeneização antes de usar. O produto deve ser diluído com 30 a 40% de água na
1ª demão. As demãos subsequentes deverão ser aplicadas sem diluição do produto. O
intervalo médio entre as demãos varia de 6 a 12 horas, mas, antes de iniciar a próxima
demão, deve-se verificar se a camada aplicada se encontra totalmente seca, pois o
tempo necessário pode variar com a temperatura e a umidade relativa do ambiente.
Intercale uma tela de poliéster (do tipo Mantex com malha de 2x2 mm) entre a 2ª
e a 3ª demão, de modo a aumentar a resistência da impermeabilização à dilatação
térmica. Aguarde o período de cura do produto de no mínimo três dias antes do teste
de estanqueidade de 72 horas submerso.
Conclusão: se você compreender o objetivo para o qual o material será utilizado,
quais as solicitações que o material estará sujeito e com uma pesquisa de mercado,
você conseguirá descobrir qual material se adequa à sua necessidade. A partir disso, a
ficha técnica do material, geralmente encontrada no site do fabricante ou em catálogos
técnicos de produtos, fornecerá as demais informações e auxiliará na especificação
técnica do produto.
Introdução aos materiais de construção 21

CALLISTER JUNIOR, W. D. Materials science and engineering: an introduction. 4. ed. New


York: John Wiley & Sons, 1997.
FUENTE, A. Estructura Interna, propiedades y ensayos de materiales. TIN 2 I.E.S. de Salinas,
[s.l.], 7 dic. 2017. Disponível em: <http://tin2salinas.blogspot.com/2017/12/estructura-
-interna-propiedades-y.html>. Acesso em: 13 out. 2018.
SMITH, W. F.; HASHEMI, J. Fundamentos de engenharia e ciência dos materiais. 5. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2012. 734 p.
SPEIGHT, J. G. Lange's handbook of chemistry. 16. ed. New York: McGraw-Hill Education,
2005. 1.623 p.

Leituras recomendadas
MUNIZ-GÄAL, L. P. et al. Eficiência térmica de materiais de cobertura. Ambiente Cons-
truído, Porto Alegre, v. 18, n. 1, p. 503-518, mar. 2018. Disponível em: <https://seer.ufrgs.
br/ambienteconstruido/article/view/68280>. Acesso em: 13 out. 2018.
SOUZA, A. A. A.; MORENO JÚNIOR, A. L. Efeito de altas temperaturas na resistência à
compressão, resistência à tração e módulo de deformação do concreto. Revista IBRACON
de Estruturas e Materiais, v. 3, n. 4, p. 432-448, dez. 2010. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S1983-41952010000400005&script=sci_abstract&tlng=pt>.
Acesso em: 13 out. 2018.
Conteúdo:
DICA DO PROFESSOR

Para especificar corretamente um material de construção a ser utilizado em uma determinada


aplicação, primeiramente você precisa compreender a necessidade (esforços atuantes) e, a
seguir, as propriedades que o material precisa ter para atender a esses esforços.

Em posse dessas informações, você está apto a ir ao mercado e efetuar uma análise
técnica/financeira, além de escolher a opção mais apropriada para atender à sua necessidade.

Nesta Dica do Professor, você vai ver como executar essas análises.
Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

EXERCÍCIOS

1) Determine a densidade de um bloco cerâmico que apresenta massa de 2kg e as


seguintes dimensões: largura de 9cm, comprimento de 19cm e altura igual a 5cm.

A) 0,23 kg/cm3.

B) 23,39 g/cm3.

C) 2,34 g/cm3.

D) 0,4275 g/cm3.

E) 0,00042 kg/m3.

2) Calcule a massa e o volume de um cilindro de 10cm de diâmetro e 25cm de altura,


sabendo que a densidade do material é de 2,70g/cm3.

A) 5301,28g e 29,0
cm3.

B) 675g e 250cm3.

C) 5301,45g e 1963,5cm3.

D) 92,59g e 250cm3.

E) Nenhuma das alternativas acima.

3) Escolha a alternativa que explica o conceito de comportamento elástico de


determinado material.

A) É o tempo que um determinado material resiste antes da ruptura.

B) É a quantidade de energia que permanece em um corpo após a sua incidência sobre ele.

C) É a capacidade que um material tem de retornar sua forma e suas dimensões originais
quando removidos os esforços externos que atuavam sobre ele.

D) É uma forma que representa o espaço tridimensional ocupado por um determinado corpo
ou material.

E) É quando o material já não consegue mais recuperar sua forma e suas dimensões originais
ao se remover a carga a qual ele está sendo submetido.

4) As propriedades físicas do material são aquelas que podem ser medidas sem que a
composição química do material se altere.

Dessa forma, assinale a alternativa que corresponde a uma dessas propriedades.


A) Tenacidade.

B) Absorção.

C) Ductilidade.

D) Dureza.

E) Resiliência.

5) As especificações técnicas descrevem os materiais e as etapas a serem adotadas


durante uma construção de forma clara e organizada, buscando atingir o padrão de
qualidade e desempenho esperados.

Conforme a descrição acima, assinale a alternativa que descreve um procedimento


correto para efetuar a especificação de um material para obra.

A) Ir à loja de materiais de construção local e perguntar ao vendedor a melhor opção.

B) Consultar o representante de um fabricante de materiais e solicitar indicações de acordo


com seu catálogo de produtos.

C) Compreender a necessidade do material e suas especificações antes de efetuar uma


pesquisa de mercado e então efetuar a análise técnica/financeira entre as opções.

D) Escolher o melhor material se baseando no melhor preço e condições de pagamento.

E) Adotar o mesmo material utilizado na última obra que você construiu.

NA PRÁTICA
Em se tratando da vida profissional, o arquiteto e o engenheiro sempre precisam fazer
escolhas em relação aos materiais. Para isso, precisam conhecer como estes se comportam às
tensões externas, de quais maneiras eles são vendidos e como são aplicados.

Quando se trabalha com áreas abertas, é necessário considerar que deve-se impermeabilizar a
área para que a água (da chuva ou de limpeza) não infiltre nos níveis inferiores. Assim, como
responsável técnico, você é chamado para realizar a impermeabilização de uma laje em concreto
armado com 36m², localizada sobre uma varanda e uma sala de estar. Como proceder?

Veja a seguir.
SAIBA MAIS

Para ampliar o seu conhecimento a respeito desse assunto, veja abaixo as sugestões do
professor:

Ciências dos materiais

Este vídeo mostra a importância de estudar e conhecer as propriedades dos materiais.


Acompanhe.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos

Aqui você vai poder observar uma Ficha de Informações de Segurança de Produtos Químicos
(FISPQ) de cimento Portland. A FISPQ contém informações importantes para a correta
utilização de um produto. Veja a seguir.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Desempenho acústico drywall

Este vídeo mostra como é possível criar uma parede drywall com isolamento acústico, tipo de
construção seca, rápida e eficiente.

Conteúdo interativo disponível na plataforma de ensino!

Materiais de construção

O seguinte livro, de Abitante e Lisboa, apresenta diversos materiais de construção e suas


propriedades, além de apresentar exemplos e seus desempenhos.

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