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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021

Luísa Braz Teixeira

RESUMOS DIREITO CONSTITUCIONAL II


ÍNDICE:
PARTE I: O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO? 5
CAPÍTULO II - CLASSIFICAÇÃO DE CONSTITUIÇÕES 5
SECÇÃO I - CRITÉRIO ESTRUTURAL 5
1§ CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO INSTITUCIONAL OU ABSOLUTO 5
2§ CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO MATERIAL 5
3§ CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO FORMAL 5
SECÇÃO II - CRITÉRIO DE CODIFICAÇÃO NORMATIVA 6
SECÇÃO III - CRITÉRIO PROCESSUAL 6
1§ CONSTITUIÇÃO RÍGIDA 6
2§ CONSTITUIÇÃO FLEXÍVEL 6
3§ CONSTITUIÇÃO SEMI-RÍGIDA 6
SECÇÃO IV - CRITÉRIO TELEOLÓGICO 6
1§ CONSTITUIÇÃO UTILITÁRIA 6
2§ CONSTITUIÇÃO PROGRAMÁTICA 6
SECÇÃO V - CRITÉRIO ONTOLÓGICO 7
1§ CONSTITUIÇÃO NORMATIVA 7
2§ CONSTITUIÇÃO NOMINAL 7
3§ CONSTITUIÇÃO SEMÂNTICA 7
SECÇÃO VI - CRITÉRIO DA UNIDADE AXIOLÓGICA 7

PARTE II: O MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA E AS METAMORFOSES DO ESTADO


CONSTITUCIONAL 8
CAPÍTULO I - A “CONSTITUIÇÃO ANTIGA” E OS ESTADOS ESTAMENTAL E ABSOLUTO 8
1§ LEIS FUNDAMENTAIS E LIMITAÇÃO DIFUSA DO PODER REAL NO “ ESTADO DE
ORDENS” 8
2§ LIMITES PODER REAL NO ESTADO ABSOLUTISTA 8
CAPÍTULO II - O ESTADO DE DIREITO E A CONSTITUIÇÃO MODERNA 9
SECÇÃO I - A FORMAÇÃO DO ESTADO LIBERAL DE DIREITO 9
1§ NOÇÃO DE CONSTITUIÇÃO MODERNA 9
2§ O MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA 9
3§ A MATRIZ LIBERAL DE CONSTITUIÇÃO: ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO E
CONSTITUIÇÃO UTILITÁRIA 13
SECÇÃO II - O ESTADO SOCIAL E AS CONSTITUIÇÕES PROGRAMÁTICAS 13
1§ NOÇÕES 13
3§ NOTA SOBRE O CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO-INSTITUCIONAL DOS
DESPONTAR DAS CONSTITUIÇÕES SOCIAIS 14

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PARTE III: SINOPSE SOBRE O CONSTITUCIONALISMO PORTUGUÊS 15


CAPÍTULO I - O CONSTITUCIONALISMO LIBERAL 15
SECÇÃO I - AS CONSTITUIÇÕES MONÁRQUICAS 15
1§ A CONSTITUIÇÃO DE 1822 15
2§ A CONSTITUIÇÃO DE 1826 17
3§ A CONSTITUIÇÃO DE 1836 19
SECÇÃO II - A CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE 1911 20
1§ CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO 20
2§ FORMA DO EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE 20
3§ FONTES COGNITIVAS 20
4§ ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO 21
5§ DIREITOS FUNDAMENTAIS 22
6§ REVISÃO CONSTITUCIONAL E CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE 22
8§ VIGÊNCIA 22
CAPÍTULO II - AS CONSTITUIÇÕES SOCIAIS 23
SECÇÃO I - A CONSTITUIÇÃO DE 1933 23
1§ CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO 23
2§ FORMA DO EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE 23
3§ FONTES COGNITIVAS 23
4§ ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO 23
5§ DIREITOS FUNDAMENTAIS 24
7§ REVISÃO CONSTITUCIONAL E CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE 25
8§ VIGÊNCIA 25
SECÇÃO II - INTRODUÇÃO À CONSTITUIÇÃO DE 1976 26
1§ CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO 26
2§ FORMA DO EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE 27
3§ FONTES COGNITIVAS 28
4§ SISTEMA POLÍTICO 28
5§ DIREITOS FUNDAMENTAIS 29
6§ ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL 29
7§ REVISÃO CONSTITUCIONAL E CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE 29
8§ VIGÊNCIA 29

PARTE IV: PODER CONSTITUINTE E TRANSFORMAÇÕES CONSTITUCIONAIS 30


CAPÍTULO I - PODER CONSTITUINTE COMO ATO FUNDACIONAL DE UMA ORDEM
JURÍDICA DE DOMÍNIO ESTADUAL 30
SECÇÃO I - INTRODUÇÃO A UMA FONTE EXISTENCIAL DE DIREITO ESTRUTURANTE
30
1§ CONCEITO DE PODER CONSTITUINTE 30
2§ FUNDAMENTOS E ATRIBUTOS DO PODER CONSTITUINTE 31
3§ TIPOLOGIA 31
SECÇÃO II - A PROBLEMÁTICA DOS LIMITES AO PODER CONSTITUINTE 35
2§ CONCEPÇÕES QUE DEFENDEM A EXISTÊNCIA DE LIMITES AO PODER
CONSTITUINTE 35
CAPÍTULO II - TRANSFORMAÇÕES DA CONSTITUIÇÃO 36
SECÇÃO I - TIPOLOGIA SINÓPTICA SOBRE AS ALTERAÇÕES CONSTITUCIONAIS 36
1§ INTRODUÇÃO 36
3§ ALTERAÇÕES PARCIAIS DA CONSTITUIÇÃO 36

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SECÇÃO II - A REVISÃO CONSTITUCIONAL NA ORDEM JURÍDICA PORTUGUESA EM


VIGOR 38
1§ REVISÃO E CONSERVAÇÃO ATUALISTA DA CONSTITUIÇÃO 38
2§ INTRODUÇÃO ÀS FORMAS TÍPICAS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL EM
DEMOCRACIA 38
3§ LIMITES DA REVISÃO CONSTITUCIONAL NO ORDENAMENTO PORTUGUÊS 39
4§ O PROCESSO DE REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1976 41

PARTE VI: A CONSTITUIÇÃO COMO NORMA DE REFERÊNCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO


43
CAPÍTULO II - A ESTRUTURA POLÍTICO-NORMATIVA DAS CONSTITUIÇÕES RÍGIDAS 43
SECÇÃO I - O PREÂMBULO 43
1§ CONCEITO E NATUREZA 43
2§ DA IRRELEVÂNCIA JURÍDICA DO PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO DE 1976 43
SECÇÃO II - INTRODUÇÃO ÀS NORMAS CONSTITUCIONAIS 44
SUBSECÇÃO I - PRECEITO E NORMA CONSTITUCIONAL 44
SUBSECÇÃO II -TIPOLOGIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS 45
1§ CRITÉRIO FUNCIONAL 45
2§ CRITÉRIO DA DETERMINABILIDADE 46

PARTE I: INTRODUÇÃO ÀS FUNÇÕES E AOS ATOS DO PODER POLÍTICO 56


CAPÍTULO I - FUNÇÕES DO ESTADO ORDENAMENTO 56
2§ CONCEPÇÕES DOUTRINÁRIAS SOBRE AS FUNÇÕES DO ESTADO 56
3§ POSIÇÃO ADOTADA 57
4§ AS FUNÇÕES DO ESTADO E O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES 63
CAPÍTULO II - OS ATOS JURÍDICO-PÚBLICOS 66
SECÇÃO I - A ATRIBUTOS E TIPOLOGIA DO ATO JURÍDICO-PÚBLICO 66
1§ CONCEITO 66
2§ OS ATOS NORMATIVOS 70

PARTE III: A LEI NO ORDENAMENTO PORTUGUÊS 75


CAPÍTULO I - A TEORIA DA LEI 75
SECÇÃO I - INTRODUÇÃO AO SUBSISTEMA LEGISLATIVO 75
SUBSECÇÃO I - ACEÇÃO DE LEI NA ORDEM CONSTITUCIONAL PORTUGUESA DE
1976 75
3§ A LEI NA ORDEM CONSTITUCIONAL DE 1976 75
CAPÍTULO II - CATEGORIAS DE ATOS LEGISLATIVOS 80
1§ ATOS LEGISLATIVOS COMUNS E ATOS COM VALOR REFORÇADO: NOÇÃO
GERAL 80
2§ INTRODUÇÃO À GÉNESE DAS LEIS COM VALOR REFORÇADO NO DIREITO
COMPARADO E NO DIREITO NACIONAL 80
3§ APRECIAÇÃO NA ESPECIALIDADE ÀS CATEGORIAS LEGAIS COM VALOR
REFORÇADO 83
CAPÍTULO III - A ATIVIDADE LEGISLATIVA DOS ÓRGÃOS CONSTITUCIONAIS DA
REPÚBLICA 108
SECÇÃO I - A ATIVIDADE LEGISLATIVA DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 108
1§ O PRIMADO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE
LEGISLATIVA 108
2§ TIPOLOGIA DAS COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS 109

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3§ A DENSIDADE REGULADORA VARIÁVEL DAS LEIS QUE INCIDEM SOBRE AS


DIVERSAS CLASSES DE RESERVA DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 109
4§ O PROCEDIMENTO LEGISLATIVO PARLAMENTAR 111
5§ A APRECIAÇÃO PARLAMENTAR DE ATOS LEGISLATIVOS DE OUTROS ÓRGÃOS
CONSTITUCIONAIS 121

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(CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL: TOMO II - TEORIA DA


CONSTITUIÇÃO, CBM)

PARTE I: O QUE É UMA CONSTITUIÇÃO?

CAPÍTULO II - CLASSIFICAÇÃO DE CONSTITUIÇÕES

SECÇÃO I - CRITÉRIO ESTRUTURAL

1§ CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO INSTITUCIONAL OU ABSOLUTO


Conjunto de normas que ordenam ou legitimam o poder político e definem a
relação dos cidadãos para com este poder. Noção intemporal de Constituição. -
ex: Constituição Ateniense, Leis fundamentais do Reino,...

2§ CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO MATERIAL


Apresenta o estatuto jurídico do poder político e o estatuto da relação dos
cidadãos com os mesmo poder político. Noção neutra e moderna.

“Estatuto Jurídico do Poder Político”: Consagra os órgãos, as suas


competências, os seus limites,...

“Estatuto da Relação dos Cidadãos com o Poder Político”: Consagra


direitos fundamentais (permitem ao cidadão agir e reagir) civis, políticos, sociais
e económicos (estes últimos num cariz mais programático) que não podem ser
suprimidos

3§ CONSTITUIÇÃO EM SENTIDO FORMAL


Conjunto de normas dotadas de força e hierarquia superior relativamente às
restantes normas do ordenamento. Apresentam um carácter especial (força
passiva) e agravado de revisão comparando aos restantes atos normativos.

SECÇÃO II - CRITÉRIO DE CODIFICAÇÃO NORMATIVA


Constituição Instrumental: Recondução do texto constitucional a um único
documento jurídico - Constituição Italiana de 1848

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★ Predominantemente Instrumentais: Ao texto constitucional acrescem


normas que obedecem ao seu regime - ex: EUA e os 27 aditamentos
○ Normas Extravagantes: Não constam no texto da CRP, mas são
recebidas como tal - ex: declaração universal dos direitos humanos
■ ART. 292 da CRP: Exclusão ao princípio de legalidade penal
por permitir que agentes da DGS sejam julgados à luz de um
sistema que à data não estava vigente, algo que colide que
vai colidir com a declaração universal dos direitos humanos.

SECÇÃO III - CRITÉRIO PROCESSUAL

1§ CONSTITUIÇÃO RÍGIDA
Apresenta procedimentos agravados de revisão constitucional, implicando um
processo diferente relativamente à lei ordinária com limites circunstanciais,
materiais e temporais. Cria sumidade e estabilidade. - ex: Constituição dos EUA

2§ CONSTITUIÇÃO FLEXÍVEL
Apresenta um procedimento semelhante ao da revisão ordinária para revisão
constitucional - ex: Constituição Britânica.

3§ CONSTITUIÇÃO SEMI-RÍGIDA
Rígidas em parte do seu texto, flexíveis no restante do texto.

SECÇÃO IV - CRITÉRIO TELEOLÓGICO

1§ CONSTITUIÇÃO UTILITÁRIA
Apresenta um texto constitucional composto por normas de aplicação direta e
que se circunscrevem à organização do poder político e à definição das
liberdades e garantias dos cidadãos - ex: Constituição dos EUA

2§ CONSTITUIÇÃO PROGRAMÁTICA
Apresenta um texto constitucional que, incluindo medidas imediatas, apresenta
ideias, objetivos, utopias,..., para o futuro. Modelo da maioria dos Estados
Sociais de Direito - ex: Constituição Portuguesa de 1976. Podem ser prolixas
quando são muito extensas e as normas programáticas se associam a ideologias.

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SECÇÃO V - CRITÉRIO ONTOLÓGICO

1§ CONSTITUIÇÃO NORMATIVA
Existe uma relação de concordância entre o conteúdo das normas e a realidade
que visa regular. Pretende-se que este modelo domine.

2§ CONSTITUIÇÃO NOMINAL
Constituição que intenta aplicar normas a uma realidade em que as mesmas não
se aparentam possíveis - ex: Constituição Portuguesa de 1933

3§ CONSTITUIÇÃO SEMÂNTICA
Texto constitucional que se destina a positivar um modo de poder autocrático,
não garantindo limites ao poder político ou direitos para os cidadãos. Estão longe
do ideal do movimento constitucionalista - ex: Constituição Chinesa ou Russa.

SECÇÃO VI - CRITÉRIO DA UNIDADE AXIOLÓGICA


Constituição Simples: Texto constitucional que exprime unidade manifesta
com um certo pensamento político.

Constituição Promissória: Lei fundamental apresenta uma série de correntes


ideológicas presentes, sendo possível a existência de uma que seja, de alguma
forma, preponderante - ex: Constituição Portuguesa de 1976.

PARTE II: O MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA E AS


METAMORFOSES DO ESTADO CONSTITUCIONAL

CAPÍTULO I - A “CONSTITUIÇÃO ANTIGA” E OS ESTADOS


ESTAMENTAL E ABSOLUTO
1§ LEIS FUNDAMENTAIS E LIMITAÇÃO DIFUSA DO PODER REAL NO “ ESTADO DE
ORDENS”
Estado Estamental: Realidade estadual em sentido imperfeito da Idade Média,
pois o poder do soberano era limitado pelos poderes das ordens sociais e por
causa das relações de vassalagem entre reinos.

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Constituição na Época Medieval: Existiam “leis supremas” relativas à


legitimação e conservação do poder do Reino e que, por legitimarem a sua
autoridade, não podiam pelo monarca ser contrariadas. Consagrava os princípios
reitores do acesso ao poder e da sua atuação.

★ Princípio da Lex Regia: O poder do Monarca surgiria da delegação do


poder político da sociedade nele (reminiscência das teorias de Ulpiano)

★ Monarquias fundadas no Direito Divino: Implicavam que o soberano


acatasse limitações da religião, sob pena de deslegitimação política.

2§ LIMITES PODER REAL NO ESTADO ABSOLUTISTA


Monarquia Absolutista: Nasceu da desordem jurídica criada pela concorrência
de fontes de Direito (Canônico, Imperial, Pátrio,...) e pelas constantes rupturas à
paz interna. Colocava o monarca acima da própria religião e entendia-o como
legibus absolutus, por não estar vinculado à lei e poder dispor do direito em
geral, e sobre qualquer classe social.

★ Constituição em Sentido Institucional: Consagrava limites que se


cingiam a pouco mais do que as regras de sucessão, pacta sunt
servandae, direito natural ou tributação com consulta das classes.

CAPÍTULO II - O ESTADO DE DIREITO E A CONSTITUIÇÃO


MODERNA

SECÇÃO I - A FORMAÇÃO DO ESTADO LIBERAL DE DIREITO

1§ NOÇÃO DE CONSTITUIÇÃO MODERNA


Conjunto sistemático de normas escritas e solenes dotadas de supremacia
política e jurídica sobre a lei ordinária e os demais atos políticos (são ilegítimos
ou inválidos quando as contrariam) que limitam o poder, garantem liberdades e
garantias aos cidadãos e dispõem aspetos sobre a ordenação económica, social e
territorial do Estado. Nasceu com o movimento constitucionalista no séc XVIII.

2§ O MOVIMENTO CONSTITUCIONALISTA
Constitucionalismo: Técnica moderna de limitação do poder com fins
garantísticos, isto é, teoria ou ideologia que procura limitar o poder político
através de uma lei superior, garantindo direitos às pessoas e estruturando o
poder de uma dada comunidade. Surgiu associado ao liberalismo no séc XVIII.

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Movimento Constitucionalista em Inglaterra: Influenciou o movimento


norte-americano e europeu continental que desabrochou 100 anos depois.

★ 1º Momento - Revolução Republicana de Cromwell (1653): Levando


à decapitação do Rei Carlos I, ditou a primeira e efémera Constituição
escrita europeia da Idade Moderna - “Instrument of Government”. Esta
instituía um poder concentrado no Executivo, assumido por um Lord
Protector que governaria em consulta com um Conselho de Estado.

★ 2º Momento - “Glorious Revolution” (1688): Revolução que se opôs


ao absolutismo inglês no séc. XVIII, indo contra o Rei Jaime III. Colocou
no poder príncipe holandês da casa de Orange.

○ John Locke: Filósofo liberalista que teorizou sobre a legitimidade da


nova ordem monárquica à luz da “rule of law” e de um contrato
social (trusteeship).
■ CONTRATO SOCIAL: Consagrava a divisão relativa de
poderes e reconhecia valores fundamentais como a liberdade
e a propriedade.
● Instituição Parlamentar: composta pelo povo e para o
representar. Poder legislativo (mais importante)
● Monarca: titular dos poderes Executivo e Federativo
● Câmara dos Lordes: travão à Câmara dos Comuns
(sobre o povo) na instituição parlamentar.
● Tribunais: encarregues da função jurisdicional.

○ Bill of Rights (1689): Documento normativo que veio enunciar os


princípios fundamentais da Constituição, reafirmar liberdades
antigas, reforçar poderes do Parlamento, garantir direitos,...,
consolidando o Contrato Social de Locke.

★ Constituição Britânica: Conjunto de leis escritas, em regras de common


law, e de normas não escritas, que são a maioria - daí não se enquadrar
como Constituição Moderna, interiorizadas pela Comunidade e
reconhecidas nos tribunais. É, até hoje, um caso único de Constituição
histórico-evolutiva, tendo supremacia política (e não jurídico-normativa).

★ Vetores fundamentais: Marcas que influenciaram o movimento

○ Ordem Constitucional como “Higher Law”: Direito investido de uma


posição de supremacia em relação ao restante.

○ Bill of Rights: Declaração de Direitos

○ Constituição como instrumento para limitar juridicamente o poder

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O Ideário Político do Iluminismo Europeu Continental:

★ Pontos dominantes do pensamento constitucional de Montesquieu:

○ Liberdade: Valor axial da comunidade, devendo envolver a ideia de


segurança de modo a que as pessoas a possam usufruir. Marcada
por algum privilégio por ser atribuível “àqueles que se distinguem
no nascimento”

○ Governo: Moderado ou misto com tripartição de poderes, essencial


para a garantia de liberdade

★ Pontos dominantes da filosofia contratual do poder por Rousseau:

○ Homem: Nasce “bom”, “livre” e “igual”, forçado a viver em


sociedade, é forçado pelo contrato social a abdicar de parte da sua
liberdade em favor da coletividade.

○ Leis: Expressam a vontade e unidade da sociedade, sendo um


instrumento de soberania e garantia da igualdade, refletindo a
justiça.

○ Democracia Direta: A vontade geral não é delegada em órgãos

○ Separação de poderes

○ Avesso à ideia de hierarquia formal e rigidez

○ Locke: Fonte de Inspiração

★ Pontos dominantes da filosofia contratual do poder por Sieyès:

○ Democracia Representativa: O povo é titular da soberania mas


exerce-a através de representantes.
■ PODER CONSTITUINTE: Poder supremo de organização
política que consiste na faculdade do povo aprovar uma
Constituição.

○ Constituição: Como lei rígida investida numa posição de supremacia


jurídica com poder ilimitado.

○ Rosseau: Fonte de Inspiração, divergindo, contudo, em relação à


forma de democracia, tendo sido a sua visão a levada a cabo, já
que que uma democracia direta se previu impossível.

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Os 3 Paradigmas Dominantes do Constitucionalismo Liberal:

★ Constitucionalismo Norte-Americano:

○ Fontes:
■ IDEÁRIO CONTRATUALISTA DE JOHN LOCKE: Aceitação da
existência de limites legais ao poder soberano
■ BLACKSTONE: Soberania assente na vontade do povo
■ MONTESQUIEU: Fracionamento de poderes
■ “HIGHER LAW”: Constituição como lei de hierarquia superior
■ REPÚBLICA ROMANA: Paradigma para a concepção
republicana de governo.
■ IGREJA ANGLICANA: Valores igualitários e moralistas
adubaram o pensamento republicano em torno de um
jusnaturalismo religioso
■ “BILL OF RIGHTS”: Inserida nos primeiros 10 aditamentos,
aprovados em 1789
■ SIEYÈS: Poder Constituinte.

○ Traços dominantes do constitucionalismo norte-americano: Matriz


reitora da Constituição Moderna.
■ TEXTO CONSTITUCIONAL: Texto predominantemente escrito
de natureza positiva (7 artigos e 27 aditamentos), assumindo
uma natureza subsidiariamente consuetudinário por integrar
alguns princípios e regras costumeiras. Abrange, ainda, a
interpretação autêntica feita pelo Supremo Tribunal e tornada
vinculativa pela força do precedente.
■ SUPREMACIA JURÍDICA DA CONSTITUIÇÃO: Primado
jurídico-formal que atribui rigidez e impõe respeito às normas
de hierarquia superior.
■ FORMA DE GOVERNO: Misto e estável (doutrina aristotélica)
com separação e interdependência de poderes (bebida de
Montesquieu) e com a legitimidade popular como fundamento
da Constituição.
■ PODER JUDICIAL INDEPENDENTE: Tribunais a funcionar
como garante da Constituição e dos direitos e liberdades
consagrados.

★ Constitucionalismo Francês Originário:

○ Fontes:
■ MONTESQUIEU
■ ROSSEAU
■ SIEYÈS

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○ Traços dominantes do constitucionalismo francês:


■ CONSTITUIÇÃO MODERNA: Texto legal investido de uma
posição de supremacia, ainda que não nos mesmos termos
que a norte-americana, no marco de um sistema normativo
não consuetudinário
■ NASCE DA RUPTURA RADICAL COM A MONARQUIA
ABSOLUTA Garantido onipotência legislativa parlamentar que
gerou instabilidade das instituições e a emergência de ciclos
constitucionais sucessivos.
■ MARGINALIZAÇÃO DO PODER JUDICIAL: Nunca permitiu que
a Constituição se assumisse, verdadeiramente, limite jurídico
ao poder político, ou parâmetro de respeito às autoridades
públicas e aos direitos fundamentais dos cidadãos - o
parlamento policiava a constitucionalidade.

★ Constitucionalismo Francês Dualista:

○ Contexto Histórico: O modelo constitucional monárquico dualista


surgiu na sequência da derrota de França revolucionária e imperial
e da restauração monárquica e envolveu um pacto entre as
legitimidades monárquica e democrática

○ Benjamin Constant: Liberal, admirador da monarquia constitucional


britânico e crítico duro de Rousseau.
■ PODER MODERADOR: Faculdade do monarca exercer poderes
de controlo sobre os demais poderes, atuando como
conservador e árbitro do sistema

○ Traços dominantes do constitucionalismo dualista:


■ COMPROMISSO ENTRE A LEGITIMIDADE MONÁRQUICA E A
POPULAR: Através de uma Constituição outorgada pelo
monarca ou pactuada entre ambos que surgia como limite ao
poder real, mediante reconhecimento dos direitos dos súditos
e de uma nova concepção de separação de poderes.
■ SUPREMACIA CONSTITUCIONAL: Estabilidade,
irrevogabilidade e procedimento agravado de revisão
constitucional
■ SISTEMA DE GOVERNO MISTO: Apresentando freios e
contrapesos, consagrava o Rei como o grande regulador do
sistema pela sua capacidade de intervenção moderadora em
todos os restantes poderes.
■ DIREITOS FUNDAMENTAIS: Dividiam-se numa matriz
jusnaturalista e individualista francesa ligada à noção de
“liberdades públicas” anteriores ao Estado e uma conceção
estatocrática alemã de “direitos públicos subjetivos”

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3§ A MATRIZ LIBERAL DE CONSTITUIÇÃO: ESTADO DE DIREITO DEMOCRÁTICO E


CONSTITUIÇÃO UTILITÁRIA
Estado de Direito: Modelo regido pelo primado da Constituição, pela submissão
da Administração ao princípio da legalidade, pela reserva da lei, pela separação
de poderes e pela garantia dos direitos dos cidadãos através de tribunais
independentes. Respeita a lei e fá-la ser respeitada. Surgiu na Alemanha.

★ Constituição Utilitária: Ordena o Estado de Direito e consiste num texto


escrito enformado por um número reduzido de preceitos vocacionados
para a organização e limitação do poder político e pela enunciação de um
catálogo de liberdades civis e políticas.

SECÇÃO II - O ESTADO SOCIAL E AS CONSTITUIÇÕES PROGRAMÁTICAS

1§ NOÇÕES
Estado Social: Criado por Bismarck, é um modelo de organização coletiva que
pressupõe poderes públicos cometidos a tarefas de promoção ativa do bem estar
dos cidadãos, reduzindo desigualdades de oportunidades e de rendimento,
garantindo prestações económicas, sociais e culturais básicas e regulando a
ordem dos bens económicos e ambientais. Tem uma “missão de intervenção”.
Adiciona ao Estado Liberal uma parcela intervencionista

★ Constituição Programática: Característica típica dos Estados Sociais,


vai incorporar tarefas, diretrizes e programas que envolvam atuações do
Estado na ordem económica, social e cultural - existem Estados Sociais
que não apresentam Constituições Programáticas, utilizando políticas
públicas desenvolvidas pelo poder eleito (ex: Inglaterra).

3§ NOTA SOBRE O CONTEXTO HISTÓRICO E POLÍTICO-INSTITUCIONAL DOS


DESPONTAR DAS CONSTITUIÇÕES SOCIAIS
Perturbação do “Estado Liberal de Direito”: Por fatores de ordem política,
social, económica e ideológica.

★ Fatores de Natureza Política: Queda das monarquias dualistas, erosão


do princípio de legitimidade democrática e surgimento de regimes
democráticos-representativos devido a conflitos militares (1ª Guerra
Mundial e Guerra Franco-Prussiana).

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★ Fatores de Natureza Social: Criação de sindicatos de trabalhadores


assalariados para defender os seus interesses devido à situação de
carência e desproteção deste setor social, especialmente no pós-guerra.

★ Fatores de Natureza Ideológica: Universalização do voto com o termo


do sufrágio capacitário e censitário, passando os parlamentos a
representar mais interesses, surgindo uma certa atomização, com a
adição de correntes ideológicas como o socialismo e o comunismo.

★ Fatores de Natureza Económica: A grande depressão económica a


partir de 1929 obriga a intervenção do Estado no mercado para mais do
que uma questão de “policiamento” - ideia inicial do “estado polícia”
liberal é derrotada.

Necessidade de Intervenção do Estado: Os fatores políticos, sociais,


económicos e ideológicos levavam à necessidade de intervenção do Estado para
dar justiça social às pessoas e corrigir desigualdades, assumindo obrigações
legais, financeiras, administrativas e materiais para criar condições que
beneficiassem os cidadãos. Inicialmente, estariam positivadas na lei ordinária.

Ciclos Constitucionalistas: Consequência da necessidade de intervenção do


Estado

★ 1º Ciclo (1917-1949): Constituição Alemã de Weimar do pós 1ª Guerra


Mundial - primeira constituição de um Estado Democrático a ter uma
“declaração” consistente de direitos sociais

★ 2º Ciclo (1949-2000): Pós 2ª Guerra Mundial e rescaldo do derrube dos


regimes totalitários associados ao III Reich. Houve uma
internacionalização de Direitos fundamentais por instituições como a
Organização Internacional do Trabalho (OIT). Teve 3 fases:

○ 1ª Fase (1949-1975): Constitucionalização contida dos direitos


sociais, pois apenas eram enunciadas tarefas sociais do Estados e
algumas normas programáticas - ex: Lei Fundamental de Bona,...

○ 2ª Fase (1975-1988): Transição de regimes conservadores para


democracia - ex: Constituição Portuguesa de 1976, Grega de 1975
e Espanhola de 1978,...

○ 3ª Fase (1988-2014: Transição de regimes autoritários para


democracia - ex: Constituição Russa, Checa, Sul Africana,
Brasileira,..., atualização da Constituição Húngara

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PARTE III: SINOPSE SOBRE O CONSTITUCIONALISMO


PORTUGUÊS

CAPÍTULO I - O CONSTITUCIONALISMO LIBERAL

SECÇÃO I - AS CONSTITUIÇÕES MONÁRQUICAS

1§ A CONSTITUIÇÃO DE 1822
Contexto Histórico-Político:

★ Revolução Francesa (1789): Veio pôr termo ao absolutismo em França,


trazendo a 1ª Constituição (monárquica) em 1791, que foi substituída em
1793 por uma Constituição republicana.

○ Período Napoleónico: Subida de Napoleão Bonaparte ao poder,


começando as invasões napoleónicas. Portugal foi um dos países
afetados, obrigando a família real a ir para o Reino do Brasil,
ficando Portugal sobre um protetorado britânico dirigido por William
Beresford

★ Revolução Liberal Portuguesa: Depois da revolta fracassada de Gomes


Freire em 1817 que matou uma série de oficiais ingleses, começou a
revolução liberal que, dirigida por liberais e democratas radicais
(“Sinédrio”), pretendia por fim ao absolutismo e ao protetorado britânico.
Depois da tentativa falhada de impôr a Constituição de Cádis, foram
eleitas Cortes Extraordinárias Constituintes para fazer a 1ª Constituição
Portuguesa.

Forma de Exercício do Poder Constituinte: As Cortes Constitucionais ficaram


responsáveis pela aprovação da constituição (constituição utilitária).

Fontes Cognitivas: Constituição Francesa de 179 (Tripartição de poderes),


Constituição Espanhola de Cádis e Tradicionalismo (subsistência da monarquia e
ligação à religião).

Organização Política:

★ Regime: Monarquia Representativa com tripartição de poderes

15
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Luísa Braz Teixeira

★ Rei: Designado por sucessão hereditária, sendo politicamente


irresponsável e tendo a sua autoridade fonte da soberania nacional.
Dispunha de veto suspensivo1 sobre as leis ordinárias aprovadas nas
Cortes, apesar de não as poder dissolver. Nomeava magistrados.

★ Parlamento (Cortes): Estrutura unicameral eleita bienalmente por voto


censitário2 e capacitário3. Reuniam-se anualmente por 3 meses e
integravam representantes de territórios ultramarinos. Eram titulares de
competências legislativas e políticas (designavam o tutor do Rei menor, o
Regente, lançavam os impostos,...). Instituição dominante.

★ Poder Jurisdicional: Tribunais. O Rei nomeava os magistrados.

Organização Territorial: Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves - esboço


de uma futura federação. O Brasil estava entregue a uma regência.

Direitos Fundamentais: Deveres, garantias (como a inviolabilidade de


domicílio, sigilo de correspondência,...), direitos (como a eleger procuradores às
cortes), liberdades (como a de culto a estrangeiros, de expressão, de ensino,... )

Fiscalização e Revisão Constituição: Cabia às cortes, sendo que a revisão


constitucional operava de acordo com o sistema de “parlamento renovado” -
volvido um período de vigência de 4 anos, todas as propostas de alteração
deveriam ser deliberadas por maioria qualificada pelas Cortes que seriam
posteriormente dissolvidas, carecendo o diploma de ser confirmado pelos
deputados na legislatura seguinte.

Vigência: 1 ano devido à revolta da “Vila Francada”, encabeçada por D. Miguel


e que levou a um regresso fugaz às Leis Tradicionais do Reino. A divisão política
também não favoreceu (liberal/radical-democrata) a longevidade da
Constituição.

1
podia ser revertido por deliberação que confirmasse o diploma vetado
2
os eleitores tinham de ter posses materiais vindas de atividade económica
3
não tinham capacidade eleitoral ativa mulheres, analfabetos, criados, vadios,...

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Luísa Braz Teixeira

2§ A CONSTITUIÇÃO DE 18264
Contexto Histórico-Político: D. João VI morre, sendo D. Pedro, imperador do
Brasil, o seu sucessor. Pouco popular entre o povo por surgir associado à
independência do Brasil e ao crescimento de correntes liberais, decide abdicar o
trono a favor da sua filha D. Maria, que casaria com o absolutista D. Miguel, seu
irmão, quando atingisse a maioridade, até lá D. Miguel seria regente.

Forma de Exercício do Poder Constituinte: D. Pedro outorga5 a Constituição


para os portugueses.

Fontes Cognitivas: Carta Brasileira de 1824 (pendor liberal), Carta Francesa de


1814, Constitucionalismo Britânico (criação da câmara de pares) e influência
doutrinal de Benjamin Constant.

Organização Política:

★ Regime: Monarquia dualista

★ Poder Judicial: Poder independente desempenhado por juízes e jurados.

★ Rei: Ramo do poder legislativo, possuidor de poder moderador (situava-o


como instância reguladora acima das restantes instituições a exercer
formas de controlo inter-orgânico) - nomeava e demitia ministros,
sancionava e vetava leis das Cortes e podia dissolvê-las quando tal fosse
estritamente necessário para a “salvação do Estado”. Chefe do poder
executivo - nomeava altos funcionários, executava leis e titular de poder
jurisdicional - suspendia magistraturas e podia conceder perdões.

★ Cortes: Estrutura bicameral que exercia o poder legislativo e funções


políticas - designar o regente e o tutor do rei, deliberar sobre matéria
financeira, autorizar forças estrangeiras a entrar no Estado

○ Câmara de Pares: Nomeados pelo monarca. Cargo hereditário,


vitalício e sem número fixo.

○ Câmara de Deputados: Eleitos por voto indireto, censitário e


capacitário a um mandato de 4 anos.

4
considerada por CBM a mais bem pensada
5
outorgar - manifestação constituinte, autocrática e unilateral do monarca

17
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Luísa Braz Teixeira

Direitos Fundamentais: Esta constituição utilitária, mantendo a maioria dos


direitos insertos na Constituição Vintista, integrava alguns novos (liberdade
religiosa, de trabalho, de empresa, de circulação, limitação da liberdade
eclesiástica), consagrava novas garantias (como o princípio da legalidade penal -
não retroatividade da lei) e previa gratuidade da instrução primária e criação de
um sistema de socorros públicos.

Fiscalização e Revisão Constituição: Ocorria por aditamentos e podia ser


vetado pelo monarca (D. Maria II só vetou uma vez)

Vigência - As 3 “vidas” da Carta:

★ 1826-1828: Desde que a Constituição é outorgada até que o Regente D.


Miguel se faz aclamar Rei de Portugal, sendo reimpostas as “Leis
Fundamentais” que vigoraram durante toda a guerra civil entre liberais
e absolutistas.

★ 1834-1836: Até à morte de D. Pedro devido ao surgimento de revoltas


democratas radicais dirigidas pelo Marechal Saldanha que pretendiam
repor a Constituição de 1822. Gera dois partidos - vintistas vs. cartistas.

★ 1842-1910: Começa com o triunfo do golpe de Estado dos cartistas


liderados por Costa Cabral com a conivência da Rainha até à queda da
monarquia.

3§ A CONSTITUIÇÃO DE 1836
Contexto Histórico-Político: A instabilidade política leva a Rainha a dissolver
em 1836 a Câmara dos Deputados, seguindo-se um golpe militar do Marechal
Duque de Saldanha - Revolução Setembrista. A facção jacobina (vintista)
governou em ditadura sob a direção de Passos de Manuel e repôs a Constituição
de 1822, sendo a sua vigência meramente simbólica, pois a maioria das leis em
vigor concretizavam posições da Carta Constitucional entretanto abolida, tendo
sido criada uma nova Constituição “híbrida” entre a vintista e a cartista.

Forma de Exercício do Poder Constituinte: Forma pactícia de exercício do


poder constituinte - concertação de vontades entre dois tipos de vontade:
democrática representativa (Cortes) e monárquica (sanção real da Lei)

Fontes Cognitivas: Constituições de 1822 e 1826 portuguesas, a Carta


Constitucional francesa reformada em 1830 e as Constituições liberais da Bélgica
(1831) e de Espanha (1837).

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Organização Política:

★ Regime: Parlamentarismo equilibrado pelo poder de um Rei

★ Rei: O seu poder moderador é abolido, assentando a sua legitimidade na


soberania nacional. Titular do Poder Executivo - exerce através de
ministros (nomeia e demite), pode dissolver a Câmara dos Deputados
quando tal seja determinante para a “salvação nacional”, veto (pensa-se
que absoluto) de leis e pode conferir indultos e anistias.

★ Parlamento: Estrutura bicameral onde as leis eram deliberadas por voto

○ Câmara dos Deputados: Designada por sufrágio direto, restrito e


censitário de 3 em 3 anos.

○ Senado: Designado por sufrágio direto, restrito e censitário de 6


anos, sendo metade da câmara renovada de 3 em 3 anos. Os
senadores eram titulares de notabilidades estatutárias/profissionais

★ Poder Jurisdicional: Tribunais - exercido por juízes e jurados.

Direitos Fundamentais: Mantendo a natureza utilitária, acrescentou alguns


novos direitos (como a liberdade de associação e de reunião ou o direito à
resistência a ordens que violassem garantias individuais)

Fiscalização e Revisão Constituição: Cabia às cortes, sendo que a revisão


constitucional operava de acordo com o sistema de “parlamento renovado” mas
sem dependência de sanção real.

Vigência: Nunca foi bem aceite pelas elites políticas, só durando 4 anos.

SECÇÃO II - A CONSTITUIÇÃO REPUBLICANA DE 1911

1§ CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO


Crise do Regime Monárquico: Acentuou-se no final do séc. XIX com a
bancarrota, o desprestígio da instituição monárquica devido ao “ultimato” inglês
e com a agitação social induzida pelo Partido Republicano.

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5 de Outubro de 1910: Triunfo da revolução republicana levada a cabo em


Lisboa por José Relvas, partindo o Rei para o exílio e assumindo Teófilo Braga a
presidência da república.

2§ FORMA DO EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE


Forma Autocrática de Tipo Convencional: Não foram apresentadas listas
monárquicas ou oposicionistas. “Venceu” o partido repúblicano com 91
deputados eleitos (⅔ do Parlamento).

Compromisso Político na Família Republicana: Entre democratas-radicais,


jacobinos anti-clericais, liberais e alguns socialistas utópicos

3§ FONTES COGNITIVAS
Internas: Constituição de 1822

Externas: Constituição da 1ª República brasileira de 1891, Constituição


Diretorial da Suíça de 1848 e Constituição francesa de 1875 (3ª República).

4§ ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO


1º Período (1911-1918):

★ Regime: Parlamentarismo de Assembleia - O poder político residia num


“Parlamento Governante” do qual dependia politicamente o Ministério
(Governo) e o Presidente.

★ Presidente da República: Esvaziado de poderes, era eleito pelo


Congresso para um mandato de 4 anos que não podia ser repetido, mas
que podia ser terminado pelo Parlamento. Tinha funções representativas,
certificatórias e, residualmente, arbitrais. Nomeava os ministros, mediante
consulta dos líderes do Parlamento.

★ Congresso: Estrutura bicameral de cuja confiança o Governo necessitava


para subsistir. Titular do poder legislativo que podia delegar no Governo.

○ Câmara de Deputados: Eleita para mandatos de 3 anos por sufrágio


direto e capacitário. Tratava da matéria tributária, da organização
militar e da revisão constitucional.

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○ Senado: Eleito para mandatos de 6 anos por sufrágio direto e


capacitário. Aprovava as propostas de designação dos governadores
e comissários nos territórios ultramarinos.

2º Período (1917-1918) - O Consulado Sidonista:

★ Contexto Histórico-Político: Em 1917 deflagrou um Golpe de Estado


dirigido pelo Major Sidónio Pais que, triunfando, impôs um governo em
ditadura e introduziu uma reforma à Constituição de 1911, o que, no
plano material, resultou numa transição para uma constituição
materialmente distinta.

★ Sistema de Governo: Presidencialista

★ Presidente da República: Comandante das Forças Armadas, passou a


ser eleito por sufrágio universal (masculino). Tinha competência para
nomear e demitir ministros, sendo a cabeça do poder Executivo.

★ Congresso:

○ Câmara de Deputados

○ Senado: Foi concebido como câmara travão, sendo composto por


49 senadores a representar as províncias e 28 as 6 categorias
profissionais.

3º Período (1919-1926) - A Agonia do Parlamento:

★ Contexto Histórico-Político: Com o assassinato de Sidónio Pais em


1918 foi reposta a velha Constituição de 1911

★ Revisões Constitucionais: Foi atribuída competência ao Presidente da


República para dissolver as Câmaras, quando tal fosse imperativo para os
“interesses da Pátria” e mediante aprovação no Conselho Parlamento. Foi
consagrada a dispensa de referenda ministerial para a nomeação do
Governo e prevista a delegação de poderes legislativos aos territórios
ultramarinos. Surge um Parlamento Mitigado.

5§ DIREITOS FUNDAMENTAIS
Foi adicionado o princípio da igualdade, garantida a liberdade religiosa, abolida a
pena de morte e o pagamento de impostos inconstitucionais. A escolaridade

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primária tornou-se obrigatória - constituição utilitária com pouca relevância aos


direitos sociais.

6§ REVISÃO CONSTITUCIONAL E CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE


Revisão Constitucional: Responsabilidade do Congresso, ocorria de 10 em 10
anos, podendo ser antecipada 5 anos por deliberação de ⅔ das duas Câmaras.

Controlo da Constitucionalidade: Não ocorria por iniciativa própria, só


podendo ser reconhecido oficiosamente em Tribunal quando as partes, durante o
julgamento, invocassem a inconstitucionalidade da norma, podendo o juiz não a
aplicar - devido a uma ideia de onipotência da lei, este sistema não funcionava.

8§ VIGÊNCIA
Queda da República: Em 16 anos de Constituição vigoraram 44 governos e 8
presidentes distintos. Começou a haver uma sucessiva fragmentação partidária e
o povo estava descontente com a perseguição da Igreja Católica, a bancarrota,..

★ Noite Sangrenta (1921): Assassinato de imprtantes figuras da


República, dando azo à revolução de 1926

CAPÍTULO II - AS CONSTITUIÇÕES SOCIAIS

SECÇÃO I - A CONSTITUIÇÃO DE 1933

1§ CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO


Revolução de 1926: Revolução militar, autocrática e de cariz conservador.

★ Ditadura Militar: Liderada pelo General Carmona (direita conservadora).


Salazar, Ministro das Finanças, destacou-se por equilibrar as contas.
Terminou em ‘33 com uma nova Constituição - início do Estado Novo.

2§ FORMA DO EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE


Processo Constituinte Autocrático Plebiscitário: A Constituição foi
elaborada por um grupo restrito de pessoas afetas a Salazar, recebendo
contributos de membros do Conselho de Ministros e sofrido modificações num
Conselho Político Nacional. Foi submetida a voto popular, direto e obrigatório,

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mas com as liberdades públicas restringidas e as abstenções e os votos em


branco foram contados como votos a favor6.

3§ FONTES COGNITIVAS
Fontes Internas: Carta Constitucional de 1826 (poder moderador do Chefe de
Estado), Constituição de 1911 (eleição direta do presidente - interregno
sidonista, regime republicano, separação Igreja/Estado)

Fontes Externas: Constituição de Weimar de 1919 (direitos sociais),


Constituição Imperial Alemã de 1871 (sistema de governo de chanceler) e a
Constituição Italiana de 1848 modificada pelo fascismo (câmara corporativa).

4§ ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO


Caracterização Geral:

★ Regime Político: Regime Corporativo Autoritário

★ Sistema Político de Governo: Sistema de Chanceler

Tribunais: Função jurisdicional no território metropolitano e ultramarino.


Exerciam o controlo da constitucionalidade.

Chefe de Estado (Presidente): Chefe supremo das Forças Armadas, dispunha


de importantes poderes como a dissolução da Assembleia Nacional, a faculdade
de nomear e demitir o chefe e os membros de governo, mas não os exercia em
termos de magistratura ativa, acabando por ser uma função moderadora e
representativa, promulgando e vetando atos legislativos dos órgãos de
soberania. Parte dos seus atos estavam sujeitos à lógica de chancelaria. Eleito
por sufrágio direto até 1959 em que passou a ocorrer indiretamente por colégio
eleitoral.

Governo: Órgão de cúpula da condução política do Estado e da


superintendência da Administração Pública, apresentando poder legislativo. Era
formado pelo Presidente do Conselho de Ministros, secretários e subsecretários
de Estado

6
O Professor CBM crítica esta medida por a achar desnecessária e contraproducente, pois veio
deslegitimar o ato e, com a popularidade do regime à data, a Constituição teria sido passada

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★ “Chanceler”: Presidente do Conselho de Ministros que dirigia o Governo


e dependia da confiança política do Chefe de Estado. Dirigia a atividade
dos restantes membros que respondiam politicamente perante si.

Parlamento: Estrutura bicameral

★ Assembleia Nacional: Câmara política composta por 90 deputados da


União Nacional7 eleitos por sufrágio direto a um mandato de 4 anos,
funcionando por um período anual de 3 meses. Tinha competências de
revisão e fiscalização da constitucionalidade, acompanhava a atividade do
Executivo e exercia funções legislativas.

★ Câmara Corporativa: Câmara auxiliar, funcionava através de secções e


representava grupos de interesse (natureza autárquica, universitária,
administrativa, sindical, cultural,...). Apresentava pouco peso político,
sendo um órgão de consulta.

5§ DIREITOS FUNDAMENTAIS
Direitos civis e políticos como as liberdades de expressão, reunião e associação
estavam sujeitos a regulação por leis especiais que desvitalizavam
drasticamente o seu exercício. Foram inseridos novos direitos como o à vida e o
da integridade pessoal

Constituição Programática: Positivou um conjunto de direitos sociais,


económicos e culturais em normas não exequíveis por si próprias, como o direito
à educação e cultura, defesa da saúde pública, contratação coletiva,... Contudo,
só a partir de 1969 com o governo de Marcello Caetano é que começou o Estado
Social com a implantação de um sistema educativo e previdenciário melhor.

7§ REVISÃO CONSTITUCIONAL E CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE


Revisão Constitucional: Podia ocorrer de 10 em 10 anos e ser antecipada até
5 anos por maioria de ⅔ na Assembleia Nacional. O Chefe de Estado podia
conceder, ainda, depois de ouvir o Conselho de Estado e mediante decreto
assinado por todos os ministros, a faculdade de cometer à Assembleia poderes
extraordinários de revisão constitucional a todo o tempo.

7
Forças políticas oposicionistas não conseguiam eleger deputados e dissolviam-se depois das
eleições. Apesar do direito à reunião e manifestação em período de campanha eleitoral poder
ocorrer existiam intervenções das forças policiais, o que afetava a liberdade de sufrágio

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Fiscalização da Constitucionalidade: Dividida pelos tribunais (declaração


oficiosa pelas partes) e pela Assembleia Nacional, que podia declarar
inconstitucionais normas promulgadas pelo Presidente.

8§ VIGÊNCIA
Revolução de 25 de Abril de 1974: Depois de 41 anos de vigência e 9 leis de
revisão constitucional o regime corporativo foi derrubado.

★ Fatores na Origem da Revolução: Longevidade e crescente esclerose


ideológica da liderança do regime autoritário, descontentamento popular
associado à crise económica e financeira internacional de 1973,
descontentamento militar dos oficiais das frentes de guerra mais difíceis
(Guiné).

★ As 3 Conspirações Distintas que Culminam com a Revolução:

○ Movimento Moderado e Democrático Sidonista: Desapoiado à última


hora por outras facções militares e travado igualmente pelo regime
autoritário com o fracasso da tentativas de golpe de Estado em
Março de ‘74 nas Caldas-da-Rainha

○ Movimento Conservador Nacionalista de Kaúlza de Arriaga: Foi


isolado das restantes conspirações e abortado pelo regime

○ Federação de Sensibilidades Militares de Esquerda: Liderada pelo


Major Otelo Saraiva de Carvalho, conduziu o golpe militar que se
propunha, em termos discursivos, a solucionar a questão
ultramarina e a instaurar um regime democrático.

SECÇÃO II - INTRODUÇÃO À CONSTITUIÇÃO DE 1976

1§ CONTEXTO HISTÓRICO POLÍTICO


Junta de Salvação Nacional: Assumiu, inicialmente, o poder, sendo composta
por oficiais generais e superiores e liderada pelo General Spínola. Na prática, o
poder era liderado pela Comissão Coordenadora do Movimento da Forças
Armadas (MFA).

★ Comissão Coordenadora do MFA: Militares de média e baixa patente


com um discurso anticolonialista e um programa de matriz socialista.

★ Presidente Spínola: Entrave ao projeto político da Comissão por


defender que o povo decidisse entre uma opção federal para os territórios

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coloniais e a independência e uma rápida transição para a democracia.


Demite-se em Setembro de 1974.

Conselho da Revolução: Assumiu o poder entre Março e Novembro de 1975.


Dominado por oficiais de ideologias marxistas, instaurou uma ditadura militar
que criou um ciclo de prisões aos adversários do regime, controlo da imprensa
livre, ilegalização de partidos conservadores ou de direita e um processo
apressado e desordenado de descolonização. Nas ruas os partidos democráticos
liderados pelo Partido Socialista manifestavam-se contra o governo militar.

25 de Novembro: Depois da constituição de um governo moderado de


centro-esquerda, os setores político-militares comunistas e de extrema esquerda
desencadearam uma tentativa de insurreição militar para contrariar a
expectativa de perda de poder para os partidos democráticos do poder, mas que
foi derrotada pela esquerda não comunista do setor militar e pelos moderados.
Este marco acelerou a passagem para a democracia representativa de viés
socialista, tendo sido eleita uma Assembleia Constituinte que desenvolveu os
seus trabalhos entre 1975 e 1976.

2§ FORMA DO EXERCÍCIO DO PODER CONSTITUINTE


Democrática-Representativa: Por resultar de uma Assembleia eleita por voto
popular num quadro multipartidário. Contudo, não foi totalmente democrática
devido à ditadura militar que se vivia.

★ Formas de Constrangimento da Liberdade Democrática:

○ Clima anômalo em que o ato eleitoral decorreu: Controlo da


imprensa livre, ilegalização de partidos, prisão de adversários,...

○ Intervenção do poder militar no ato eleitoral: Tentativa de


adiamento das eleições, declarações de membros do Conselho da
Revolução no sentido da Constituição apresentar uma ideologia
socialista,...

○ Assinatura forçada de dois pactos MFA/Partidos

○ Influência da conjuntura política-militar nos trabalhos da


Assembleia: Cerco da Assembleia, sequestro dos deputados,...

○ Declaração de Estado de Sítio

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Pactos MFA-Partidos:

★ 1º Pacto: Configurava um modelo de Constituição autoritária de viés


marxista, segundo a qual:

○ Comissão do MFA: Acompanhava os trabalhos da Assembleia


Constituinte - forma de limitar a liberdade dos deputados

○ Parlamento: Estrutura bicameral composta pela Assembleia


Legislativa (eleita por sufrágio universal) e a Assembleia do
Movimento das Forças Armadas.

○ Presidente: Era eleito pelas Assembleias Legislativa e do MFA e,


enquanto Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas e
Presidente do Conselho da Revolução tinha de promulgar a
Constituição, mas não o era obrigado a fazer - forma do poder
poder militar poder “bloquear” a Constituição.

○ Governo: Composto por ministros da confiança da Assembleia


Legislativa e do MFA, sendo responsável politicamente perante o
Presidente e a Assembleia Legislativa.

○ Conselho da Revolução: Mantinha-se como órgão que geria as


Forças Armadas, funcionava como Conselho do Presidente da
República e como órgão de fiscalização da Constitucionalidade.

○ Princípio da Irreversibilidade das Conquistas Revolucionárias:


Impossibilidade de desfazer nacionalizações decretadas no processo
de revolução.

○ Ideia de uma via socialista

★ 2º Pacto: Surgiu como consequência do 25 de Novembro e veio alterar


configurações impostas no pacto feito previamente.

○ Presidente: Passou a ser eleito por sufrágio universal

○ Parlamento: Eliminou-se a Assembleia do MFA

○ Configurou-se a forma de governo: Semipresidencialismo.

○ Manutenção: Do Princípio da Irreversibilidade das Conquistas


Revolucionárias, do Conselho da Revolução e da ideologia socialista
subjacente.

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3§ FONTES COGNITIVAS
Internas: Carta Constitucional de 1826 (poder moderador implícito ao
Presidente), Constituição de 1911 (sistema de direitos fundamentais e regime
democrático), Constituição de 1933 (autonomia legislativa do governo).

Externas: Constituição italiana de 1947 (modelo de organização regional para


os arquipélagos), Constituição Alemã de 1949 (sistema de direitos
fundamentais), Constituição da V República Francesa de 1958 (sistema
semipresidencialista de Governo), Constituições revolucionárias da América
Latina como a Peruana (tutela militar),...

4§ SISTEMA POLÍTICO
Governo: Duplamente responsável perante o Presidente da República que, para
além de poder de veto, pode demitir o governo quando tal seja necessário para
normal funcionamento das instituições democráticas e perante a Assembleia da
República através da reprovação do Programa do Governo, aprovação de uma
moção de censura por maioria absoluta dos deputados efetivos e reprovação de
uma moção de confiança (art. 195 da CRP).

Parlamento: Eleito por sufrágio universal, tal como o Presidente da República, é


a instituição liderante, a menos quando um partido tem maioria absoluta, nesse
caso, será o Governo a instituição liderante.

Modelo: Estado Social de Direito assente numa democracia representativa e um


sistema político semipresidencialista

5§ DIREITOS FUNDAMENTAIS
A Constituição consagra, além de direitos civis e políticos (os direitos, liberdades
e garantias do art. 18 da CRP), uma séria de direitos sociais e normas
programáticas que, convertendo a Constituição Portuguesa numa constituição
programática de caráter prolixo, obriga o Estado a uma série de obrigações
sociais, culturais e ambientais.

6§ ORGANIZAÇÃO TERRITORIAL
Estado unitário municipalizado e com uma regionalização político-administrativa
periférica nas regiões insulares (art. 6 da CRP). Em 1998 houve um referendo
sobre a regionalização administrativa no continente, mas não passou.

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7§ REVISÃO CONSTITUCIONAL E CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE


Revisão Ordinária: De 5 em 5 anos respeitando os limites formais do art. 288
da CRP.

Revisão Extraordinária: A qualquer momento por maioria de ⅘ dos deputados


efectivos (art. 284/2 da CRP)

8§ VIGÊNCIA
1982 - 1ª Revisão: Revisão ordinária que operou a transição política plena para
a democracia, extinguindo o Conselho da Revolução, criando o Tribunal
Constitucional e acentuando o pendor parlamentar do semipresidencialismo.

1989 - 2ª Revisão: Revisão ordinária que operou a transição do regime


económico misto de pendor coletivista para uma economia social de mercado

1991, 2001 e 2004: As primeiras duas revisões extraordinárias e última


ordinária a ordem jurídica portuguesa à Comunidade Europeia

1997: Revisão ordinária.

2005: Revisão extraordinária ao art. 115º e 293º a possibilidade da proposta de


referendos sobre tratados europeus - nunca chegou a ser utilizado.

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PARTE IV: PODER CONSTITUINTE E TRANSFORMAÇÕES


CONSTITUCIONAIS

CAPÍTULO I - PODER CONSTITUINTE COMO ATO


FUNDACIONAL DE UMA ORDEM JURÍDICA DE DOMÍNIO
ESTADUAL

SECÇÃO I - INTRODUÇÃO A UMA FONTE EXISTENCIAL DE DIREITO


ESTRUTURANTE

1§ CONCEITO DE PODER CONSTITUINTE


Ato excepcional de vontade política cuja força ou autoridade permite estabelecer
a Constituição de um Estado. Realidade ontológica/existencial por não carecer de
ser juridicamente autorizada. Fonte suprema de criação jurídica por produzir
uma lei de hierarquia superior às demais.

Grau de Liberdade do Poder Constituinte:

★ Vontade Soberana: Envolve uma decisão livre e incondicionada do povo


ou da nação - associada ao constitucionalismo norte americano e francês,
daí Lafayete defender que foram os americanos a criar este conceito, e
Sieyès que foram os franceses.

★ Vontade Não-Soberana: Poderes heterónomos a um dado Estado


atribuem ou condicionam a outorga de uma constituição a uma dada
coletividade estadual.

2§ FUNDAMENTOS E ATRIBUTOS DO PODER CONSTITUINTE


Relação Poder Constituinte - Poder Constitutivo: Relação de criador e de
realidade criada, sendo o primeiro o precedente do poder ou autoridade política
e o segundo uma realidade fundada e baseada em algo positivado, estando
subordinado ao primeiro - ex: Presidente, Assembleia, Governo,....

Titular do Poder Constituinte: Povo - expressão da vontade geral, nem que


seja figurativamente. Mesmo quando era o rei que auto-limitava a sua
autoridade através de pactos reais com assembleias ou quando o poder

30
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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constituinte era assumido por uma vanguarda política, ainda que de minoria,
estas ações eram feitas em “nome do povo”.

Estatuto do Poder Constituinte depois da Constituição entrar em vigor:


Não desaparece, fica latente. Existe todo um cemitério de constituições que
mostra como o poder constituinte não se extingue, fica apenas à espera de
momento para “acordar”.

Relação do Poder Constituinte com o Direito: O poder constituinte


corresponde a um ato político orientado por uma ideia de direito ou ordem
jurídica que se quer instituir. Decisão criadora de Direito

3§ TIPOLOGIA
Poder Constituinte Material ou Formal:

★ Poder Constituinte Material: Faculdade de organizar politicamente um


Estado segundo uma determinada ideia de Direito, transportando o
“código genético” da Constituição.

★ Poder Constituinte Formal: Relativo à natureza e ao tipo de


procedimento adotado na aprovação da Constituição. Modalidades de
exercício:
○ Democrática: Envolve um sufrágio livre, competitivo, igual e com
equivalência de opções.
■ REPRESENTATIVA8: O povo elege livremente uma Assembleia
Constituinte, ou seja, um Parlamento investido da função de
elaborar uma constituição, não agindo diretamente.
● Comum: envolve a eleição de uma Assembleia
Constituinte que elaborará a Constituição que entrará
depois em vigor com, ou sem, promulgação do
Presidente - ex: CRP de 76’
● De carácter pactício na modalidade federal: implica a
existência de uma Assembleia com poderes
constituintes por quem o texto é elaborado para ser,
depois, ratificado pelo Estados - ex: Constituição EUA

8
O Prof. Jorge Miranda prefere a modalidade representativa pelo risco que a referendária
apresenta ao povo, ao não gostar do texto constitucional, o não aprovar e deixar um vazio de
poder. Já o Prof. CBM discorda desta visão pois, não só nega o vazio de poder por existir uma lei
transitória, como também por considerar preferível que fique esta lei transitória do que fique uma
má Constituição, e ainda considera que este voto popular final seria uma garantia que os
representantes escolhidos não se tinham afastado do propósito para que foram eleitos. Assim, à
semelhança de Mário Sá Carneiro, idealiza que a atual Constituição Portuguesa devia ter sido
sujeita a referendo.

31
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ REFERENDÁRIA: Implica a eleição de uma Assembleia


Representativa do eleitorado que delibera o texto
constitucional, mas este só ganha validade depois da sua
aprovação em referendo popular, ou seja, voto popular - ex:
Constituição espanhola de 78’.

○ Forma Autocrática e Autoritária: O poder constituinte não resulta de


uma vontade popular livre e competitivamente expressa, mas de
órgãos não eleitos ou colégios eleitorais inaptos para exprimir uma
vontade livre e plural. Reconduz-se a centros de decisão não eleitos
■ PODER EXERCIDO POR ÓRGÃOS UNIPESSOAIS:
● Outorga: caso das Cartas Constitucionais.
● Formas Cesaristas: ditador aprova a Constituição por
decreto
■ FORMAS CONVENCIONAIS VANGUARDISTAS: Os órgãos que
assumem o poder no contexto de uma revolução ditam a
nova Constituição

○ Formas Mistas: Apresentam elementos democráticos e autocráticos


■ PLEBISCITÁRIAS: Um órgão não eleito elabora um texto
constitucional que é depois submetido a voto popular
realizado em condições democráticas - ex: Constituição
Francesa de 1958
■ PACTÍCIA LEGITIMÁRIA: Supõe um acordo jurídico de
legitimidades - a democrática, expressa na eleição livre de
uma Assembleia Constituinte e, e monárquica (componente
autocrática), traduzida na sanção real do texto deliberado.

Poder Constituinte Revolucionário ou ditado por uma Transição Política:

★ Poder Constituinte Revolucionário:

○ Revolução: Ato de força protagonizado por uma vanguarda


político-militar que, com quebra da legalidade instituída, destitui ou
promove a substituição dos titulares do poder vigente, tendo em
vista a instituição de uma nova ordem política

○ Tipos de Revolução:
■ CONTEXTO DE AUTODETERMINAÇÃO DOS POVOS:
Movimento emancipalista que pretende fundar uma nova
institucionalidade política e um novo Estado
■ CONTEXTO PURAMENTE INTERNO: O poder político é
substituído por razões político ideológicas através de uma ato
de força de carácter militar - mais comum

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ POR EFEITOS REVOLUCIONÁRIOS DE ORDEM EXTERNA: Um


regime é substituído como efeito da derrota militar do
respectivo Estado num conflito internacional e,
eventualmente, por ocupação de uma força estrangeira.

★ Transição Constitucional9: Translação constitucional de uma ordem


jurídico-constitucional para outra, com observância da legalidade formal.

○ Transição Espontânea: Ato de força política oriundo de dentro e fora


do regime que, não implicando o uso de força militar, impele um
setor do poder a aceitar uma alteração na ordem constitucional da
qual decorre uma ruptura material da Constituição em vigor.

○ Transição político-institucional autoprogramada: Os detentores do


poder político programam constitucionalmente a alteração do
regime ou do sistema de governo. Pode ser de origem democrática
ou autocrática.

Poder Constituinte Soberano ou Não Soberano:

★ Poder Constituinte Soberano: O Poder Constituinte não se encontra


subordinado a qualquer norma jurídica de referência que lhe preexista

★ Poder Constituinte Não Soberano: Pode decorrer de quatro situações:

○ Poder Constituinte “Autónomo”: Constituições de Estados


Federados, ou seja, em federações imperfeitas como o Brasil, o
Estado tornou-se um uma Federação através da aprovação de uma
nova constituição que dotou os seus territórios de uma maior
autonomia, dando-lhe a liberdade de, limitados pela Constituição
Federal, criar uma própria Constituição.

○ Poder Constituinte com Soberania Suspensa: O poder constituinte


está limitado por fatores como uma ocupação externa que restringe
aspectos relativos à escolha do modelo político - ex: Alemanha pós
2ª Guerra Mundial.

○ Poder Constituinte Heterónomo: A Constituição ou as bases da


mesma são ditadas por um outro Estado ou organização
internacional.
■ IMPOSIÇÃO CONSTITUCIONAL EXTERNA: A vontade
constituinte repousa integralmente numa potência ou

9
O Prof. CBM considera que este devia ter sido o rumo da Constituição de 33’, pois teria trazido
menos custos para o país do que a total ruptura com a ordem constitucional trouxe.

33
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

organização exterior ao Estado - ex: Constituição Japonesa


de 1946.
■ INTERNACIONALIZAÇÃO CONVENCIONAL DO PODER
CONSTITUINTE: As bases ou o texto da nova Constituição é
estabelecido numa convenção internacional concluída pelo
Estado recetor da nova Constituição assim como por um
conjunto de outros Estados - ex: Bósnia em 1995.
■ DELIBERAÇÃO CONSTITUCIONAL EXTERNA SEGUIDA DE UM
ATO DE ADOÇÃO INTERNA: O texto constitucional é
deliberado por um Estado ou organização internacional e
atribuído a um outro Estado que o aprova ou ratifica - ex:
Constituição do Canadá de 1982.

○ Poder Constituinte Hetero-Regulado por Constituição Antiga: Ocorre


no quadro de certas transições constitucionais, implicando que a
Constituição antiga programe o exercício de um poder constituinte
gerador de uma Constituição nova.

Poder Constituinte Originário ou Derivado:

★ Poder Constituinte Originário: Faculdade de criar inovadoramente uma


Constituição. Inicial, ilimitado e incondicionado.

★ Poder Constituinte Derivado: Implica a delegação de um poder


originário noutro poder instituído, tendo por fim a revisão da mesma
constituição, de modo a permitir a sua regeneração dentro dos limites
estabelecidos para o efeito.

SECÇÃO II - A PROBLEMÁTICA DOS LIMITES AO PODER CONSTITUINTE

2§ CONCEPÇÕES QUE DEFENDEM A EXISTÊNCIA DE LIMITES AO PODER CONSTITUINTE


Limites do Prof. Jorge Miranda: Limites preexistentes à decisão constituinte
na qualidade de princípios normativos com caráter vinculante.

★ Limites Transcendentes: Imperativos de Direito Natural ou de valores


éticos superiores de uma consciência coletiva.

○ Posição do Prof. CBM: Não aceita estes limites pois o jusnaturalismo


envolve uma ideia teológica de “Direito vindo de Deus” , mas o
professor distingue a religião e o direito como realidades distintas,
pois as Constituições vão regular comunidades com pessoas que se
não vão todas rever na religião. Para além de que a ideia de “direito

34
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

natural” encontra diferentes correspondências consoante a


comunidade em que nos inserimos, o que mostra que não vai ser
algo comum a todos

★ Limites Imanentes: Decorrem da noção e do sentido do poder


constituinte formal enquanto poder situado que se identifica por certa
origem e finalidade e se manifesta em certas circunstâncias, dizendo
respeito ao próprio contexto politico-institucional - ex: reportam-se a
questões como a soberania ou a forma de Estado.

○ Posição do Prof. CBM: Não aceita estes limites pois a história é um


viveiro de exemplos que contrariam a suposta impossibilidade de
transformação da identidade primitiva do Estado - ex: extinção da
antiga RDA e fusão das suas componentes na República Federal
Alemã, pois ocorre uma renúncia voluntária da independência
constitucionalmente consagrada.

★ Limites Heterónomos: O Direito imperativo internacional - Jus Cogens -


enquanto parâmetro de validade normativa e limite normativo.

○ Posição do Prof. CBM: Não aceita estes limites pois não existe
nenhum regra internacional ou interna que habilite essas normas a
vincularem juridicamente uma constituição, na CRP, as normas de
Direito Internacional Público valem como princípios e costumes
gerais sujeitos a uma fiscalização da constitucionalidade que
postula a sua subordinação à Constituição.

CAPÍTULO II - TRANSFORMAÇÕES DA CONSTITUIÇÃO

SECÇÃO I - TIPOLOGIA SINÓPTICA SOBRE AS ALTERAÇÕES


CONSTITUCIONAIS

1§ INTRODUÇÃO
Alteração Total da Constituição: Substituição de uma constituição material
por outra.

Alteração Parcial da Constituição: Modificação do conteúdo de um conjunto


delimitado de disposições normativas da constituição sem prejuízo da
subsistência da identidade substancial da mesma.

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Luísa Braz Teixeira

3§ ALTERAÇÕES PARCIAIS DA CONSTITUIÇÃO


Alterações Expressas: Refletem uma intencionalidade particular do poder
constituinte de habilitar a modificação do estatuto do poder

★ Revisão Constitucional: Poder constituído de alteração expressa e


parcial de uma constituição que pretende a garantia da mesma (pois, tal
como as leis têm de ser atualizadas, também a constituição o tem de ser
face a mudanças políticas, económicas,..., de modo a não deixar de aderir
à realidade, ou seja, para prevenir que se torne nominal) e que opera com
observância das regras estipuladas para o efeito na própria Lei
Fundamental e com respeito pelo seu núcleo identitário.

★ Derrogação Constitucional: Quebra ou exceção de um princípio ou


regra geral estruturante de uma Constituição para um ou vários casos
singulares, autorizada por uma disposição normativa da própria Lei
Fundamental - estatuto lei geral lei especial.

○ Derrogação Constitucional Originária: Consta no texto primitivo da


Constituição - ex: art. 292 da incriminação retroativa dos agentes
da ex-Pide/DGS

○ Derrogação Constitucional Derivada: A exceção em causa é


introduzida por uma revisão constitucional ou através da aprovação
de uma lei com valor constitucional - aceites na medida em que não
coloquem em causa os limites materiais da constituição.

Mutações Informais da Constituição:

★ Definição:

○ Prof. CBM: Fenómeno em que as normas em sentido material de


conteúdo politicamente inovador, geradas e consolidadas
gradualmente no tempo à margem do poder formal de revisão, são
aditadas à Constituição, alteram o significado de disposições
constitucionais vigentes ou desvitalizam a sua eficácia.

○ Prof. Gomes Canotilho:


■ MUTAÇÕES CONSTITUCIONAIS ENDOGENÉTICAS: Ato
legítimo de interpretação
■ MUTAÇÕES CONSTITUCIONAIS EXOGENÉTICAS:: Criação
silenciosa de normas constitucionais que exorbitariam o
programa normativo e o compromisso constitucional,
causando a derrocada de normas suas.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Prof. Ana Cândida Ferraz: Processos informais que alteram o


significado e alcance do texto constitucional e que ocorrem à
margem do poder reformador - definição que não consegue separar
claramente a interpretação constitucional evolutiva da mutação

★ Relação com o Costume: Tal como o costume, carece de uma prática


reiterada e consistente e de um tempo de aceitação (que tende a ser
tácita) e interiorização nos tribunais e no universo jurídico. São raros os
casos em ocorrem instantaneamente (ex: alteração brusca de ordem
jurisprudencial que vá servir de precedente.

★ Universo Anglo-Saxónico: As alterações informais da Constituição


misturam-se com o direito costumeiro e com a interpretação judicial na
common law.

★ Fontes: (grandes contributos pela Prof. Ana Cândida Cunha Ferraz)

○ Fontes Fácticas de Formação Espontânea:


■ COSTUME: Praeter legem (vem integrar lacunas) e contra
legem (costume derrogatório)
■ PRÁTICAS E CONVENÇÕES CONSTITUCIONAIS CONSOLIDADAS
Alteram o funcionamento do sistema político criando regras
informais vinculativas ou ordenadoras
■ DESUSO DE PRINCÍPIOS E REGRAS: Gerador de nominalização
progressiva ou caducidade normativa

○ Fontes “Ato”: Geradas por manifestações de vontade


infraconstitucional das instituições políticas que vão desaplicando ou
derrogando informalmente o sentido das normas da Constituição
■ DECISÕES LEGISLATIVAS E ADMINISTRATIVAS CONTRA
CONSTITUEM
■ DIREITO DA UE CONTRÁRIO À NORMAÇÃO CONSTITUCIONAL
ESCRITA

○ Fontes Jurisprudenciais de Base Interpretativa e Integrativa: Criam


ou revelam normas materialmente constitucionais
■ SENTENÇAS ADITIVAS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL
■ DECISÕES DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DA UNIÃO EUROPEIA

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

SECÇÃO II - A REVISÃO CONSTITUCIONAL NA ORDEM JURÍDICA


PORTUGUESA EM VIGOR

1§ REVISÃO E CONSERVAÇÃO ATUALISTA DA CONSTITUIÇÃO


Limites de Revisão: Ajudam a estabilizar a constituição, espelhando a sua
rigidez e hierarquia.

2§ INTRODUÇÃO ÀS FORMAS TÍPICAS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL EM


DEMOCRACIA
Processos de Revisão Exclusivamente Representativos:

★ Por Assembleia Ordinária:

○ Modalidade Comum: O parlamento ordinário, investido em funções


de revisão, delibera tendo em conta regras especiais - ex: CRP

○ Revisão por Parlamento Renovado: A iniciativa é deliberada no


Parlamento em funções. Se for passada, é eleito um novo
Parlamento para aprovar a revisão constitucional - ex:
Constituições Monárquicas Portuguesas.

○ Revisão Parlamentar Sujeita a Ratificação dos Estados Federados:


Ocorre em federações, implicando que as emendas deliberadas no
Parlamento Federal sejam ratificadas por um certo número de
Assembleias dos Estados Federados - ex: Constituição dos EUA

★ Por Assembleia Especial: É convocada para o efeito. Geralmente esta


revisão acaba por ir mais longe do que as simples revisões - Constituição
Russa de 1993

Processos Mistos com Preponderância Representativa:

★ Alteração deliberada em Assembleia Parlamentar é sujeita a referendo


obrigatório - ex: Constituição Irlandesa de 1937

★ Alteração deliberada em Assembleia Parlamentar pode ser proposta a


referendo que pode ser superado por maioria qualificada - ex:
Constituições Francesas de 1946 e 1958.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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3§ LIMITES DA REVISÃO CONSTITUCIONAL NO ORDENAMENTO PORTUGUÊS


Temporais:

★ Revisão Ordinária: Só pode ocorrer de 5 em 5 anos (art. 284/1, al. b) e


art. 119/1), carecendo de maioria de ⅔ para desencadear o processo e
para aprovar, também, já no fim, o projeto. O prazo é contado desde a
última revisão ordinária.

★ Revisão Extraordinária: Pode ocorrer a qualquer momento mediante


deliberação de ⅘ dos deputados (art. 284/2) para iniciar o processo - a
aprovação só pede, contudo, maioria de ⅔.

Formais: O pedido de revisão tem de surgir dos deputados (art. 285/1) e tem
de ser aprovado por maioria de ⅔ dos deputados efetivos (art. 286/1).

Circunstanciais: Não podem ocorrer durante um estado de sítio ou de


emergência (art. 289 da CRP) devido ao constrangimento de direitos, liberdades
e garantias possível durante estes estados de exceção (art. 19)

★ Questão - “E se o ato de revisão, deliberado votado


favoravelmente em Plenário durante circunstâncias normais,
chegar ao PR para promulgar durante um Estado de Emergência?”:
Sim. A norma foi deliberada fora de estado de exceção e o presidente não
exerce qualquer controlo político nem intervém com poderes constitutivos,
não pode sequer enviar o projeto para o Tribunal Constitucional, no
máximo, pode “devolvê-lo” ao Parlamento caso faltem elementos. Seria
um abuso de poder se não promulgasse.

Materiais: art. 288 da CRP

★ Existência de Limites Materiais Intangíveis:

○ Problema da superação dos limites materiais à revisão


constitucional: Surgiu da necessidade de eliminar o princípio da
apropriação coletiva através do princípio da irreversibilidade das
nacionalizações e deu lugar a um grande debate:
■ TESE DA RELEVÂNCIA ABSOLUTA DE GOMES CANOTILHO: O
poder constituinte é irreversível, como tal, o princípio da
irreversibilidade das nacionalizações, ao fazer parte dos
limites materiais da Constituição, não deve poder ser tocado.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ TESE DA DUPLA REVISÃO DE JORGE MIRANDA: Existiria uma


revisão que, num primeiro passo, ia eliminar algumas
cláusulas dos limites materiais - tendo em conta que apenas
poderiam ser eliminados princípios de segundo grau, ou seja,
aqueles que eram menos importantes e cuja exclusão não
implicaria uma transição para uma nova constituição material
como a cláusula da irreversibilidade das nacionalizações -
para depois, passado algum tempo, se eliminar a cláusula
desejada. Hipótese que prevaleceu.
■ TESE DE MARCELO REBELO DE SOUSA10: Concordava com
Gomes Canotilho, sugerindo que para alterar esses limites
materiais era necessário um “novo poder constituinte” que
seria conseguido através da convocação de uma nova
assembleia com poderes constituintes ou de um referendo.
■ SOLUÇÃO FINAL: Acabou por ser mais um “duplo processo
de revisão” do que um “dupla revisão” pois o intervalo de
tempo não foi cumprido, tendo antes sido dissociados os dois
princípios e removidos em simultâneo - o Prof. CBM critica
este ato pois a clausula no limites materiais não teria sentido
sem o princípio da irreversibilidade das nacionalizações, pelo
que a dissociação foi incorreta.

○ Princípios que não podem ser removidos por uma dupla revisão:
Mesmo se fosse abolido o art. 288 com os limites explícitos,
continuam a existir limites implícitos que definem a constituição.
Algo que os comprometa irá colocar em causa a constituição em si,
deixando de ser uma revisão e passando a transição constitucional.
Assim, os pontos identitários da constituição são intocáveis.
Contudo, surge a questão sobre que pontos serão esses.
■ PROF. JORGE MIRANDA: Limites transcendentes e imanentes
■ PROF. CBM - LIMITES INTANGÍVEIS: Aspectos afetos à
própria formulação do Estado como o princípio republicano.
Ou seja, aspectos que, quando alterados, colocam em causa
o Estado como o conhecemos. Assim, a lei constitucional que
alterar este núcleo ou é declarada inconstitucional ou então
ganha legitimidade fundacional própria de uma nova
manifestação constituinte. Logo, as ideias protegidas nas
cláusulas do art. 288 são apenas balizas hiper-rígidas à
revisão.

4§ O PROCESSO DE REVISÃO DA CONSTITUIÇÃO DE 1976


Órgão Competente: Assembleia da República (art. 161, al. a) e art. 284 e ss.)

10
e apoiada pelo regente quando este era ainda assistente

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Fases Processuais:

★ Iniciativa: É apresentado um projeto pelos deputados (art. 285/1) da


CRP) que tem um prazo de apresentação de 30 dias (art. 285/2 da CRP),
depois deste prazo findar, podem ser alteradas algumas coisas ainda (art.
167/8 da CRP).

★ Instrução: Ocorre na Comissão para Eventual Revisão Constitucional, a


proposta é estudada, devendo emitir pareceres com sugestões, apesar de
ultimamente apresentar um papel mais apagado

★ Constitutiva: Envolve uma deliberação da Assembleia relativamente às


emendas constitucionais. As alterações são aprovadas mediante maioria
de ⅔ dos deputados efetivos (evidência da rigidez da Constituição, por ser
superior à das leis simples). As alterações são reunidas numa única lei de
revisão. Apesar de bastar que as normas sejam aprovadas na
especialidade, existe a prática (consolidada mas não consagrada na CRP)
de proceder a uma votação final global. (art. 286 e 287/1 da CRP)

★ Certificatória: A lei de revisão é enviada para o Presidente para ser


promulgada (art. 286/2 da CRP). Apesar de não existir um prazo definido,
aplica-se analogicamente o art. 136/1 da CRP.

○ Elementos que justificam a devolução da lei de revisão à AR: O


Presidente é obrigado a declarar a inexistência do ato.
■ Não ter sido a Assembleia a aprovar a lei
■ Não terem sido observados os limites temporais
■ Não se ter verificado uma maioria de 2/3

○ Possibilidade de Fiscalização Preventiva:


■ ARGUMENTOS CONTRA:
● São os decretos-lei que podem estar sujeitos a
fiscalização preventiva da constitucionalidade, e, em
termos técnico-jurídicos, a lei de revisão não é um
decreto-lei.
● Se o Presidente suspeitar da inconstitucionalidade da
lei de revisão e a enviar para o tribunal constitucional,
no caso deste pronunciar a inconstitucional, o
Presidente é obrigado a vetá-la. Contudo, como para
leis da Assembleia o veto é suspensivo (pode ser
superado por maioria de ⅔ , desde que esta seja
superior à maioria qualificada), não faz sentido a
fiscalização preventiva, pois a maioria para remover o
veto é inferior à que já foi necessária para aprovar a
lei de revisão.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

● Art 286/3 que impede que o Presidente não promulgue


a lei de revisão.
■ VISÃO DO PROF. CBM: Devia haver fiscalização, contudo,
para tal devia ser criado um novo instituto para tal na lei

★ Integrativa: Publicação no DRE (art. 287/2 da CRP)

PARTE VI: A CONSTITUIÇÃO COMO NORMA DE


REFERÊNCIA DO ORDENAMENTO JURÍDICO

CAPÍTULO II - A ESTRUTURA POLÍTICO-NORMATIVA DAS


CONSTITUIÇÕES RÍGIDAS

SECÇÃO I - O PREÂMBULO

1§ CONCEITO E NATUREZA
Preâmbulo: Texto proclamatório e solene que precede o preceituado
constitucional e enuncia alguns dos valores e princípios (políticos e ideológicos)
que presidiram ao ato constituinte. Não tem de existir necessariamente.

★ Alterações: Só pode ser alterado ou suprimido no respeitos pelos mesmo


limites de revisão estabelecidos para as normas constitucionais.

★ Valor:

○ Valor Normativo: Só em situações excepcionais, vale como um


complexo de normas constitucionais em matéria de direitos civis,
políticos e sociais - ex: Constituição Francesa de 1946 cujo
preâmbulo é recebido pela Constituição de 1958.

○ Relevância Política: Precisa a ideia-força da vontade constituinte

○ Valor Histórico, Político e Literário: Enuncia princípios e valores sem


correspondência com a exata realidade do tempo presente.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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2§ DA IRRELEVÂNCIA JURÍDICA DO PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO DE 1976


Posições doutrinárias quanto à relevância do preâmbulos da CRP:

★ Irrelevância Jurídica: Texto proclamatório sem capacidade de servir de


parâmetro de constitucionalidade ou instrumento de interpretação.

★ Relevância Jurídica Plena: O preâmbulo vincularia autonomamente o


direito infraconstitucional com um estatuto normativo idêntico ao do
preceituado da Constituição.

★ Relevância Jurídica Indireta (Prof. JM): O preâmbulo não teria


natureza jurídica, mas os seus princípios operariam como instrumento
interpretativo dos princípios assentes no preceituado constitucional

Posição do Regente sobre o valor do preâmbulo da CRP: Carece de


qualquer relevância jurídica, logo não pode servir de norma de referência
autónoma para a apreciação da constitucionalidade de outros atos normativos,
nem de instrumento auxiliar de interpretação de outras normas constitucionais.
Tem, por isso, um valor puramente “arqueológico” e, eventualmente, “simbólico”
por ajudar a entender as opções ideológicas das facções políticas dominantes
que prevaleceram no ato constituinte. Elemento de divisão e não integração.

★ Argumentos Elementares:

○ Formulação do Texto: Por ser um texto literário da autoria de um


poeta (Manuel Alegre), não tem lógica que, com toda a sua carga
utópica e formulação ideológica, assuma um critério jurídico de
decisão sobre a organização do Estado ou dos direitos das pessoas.

○ Princípios do Preâmbulo: Não têm autonomia face aos consagrados


no preceituado constitucional, pois, ou perderam a correspondência
na normas (ex: “sociedade socialista”) ou são reproduzidos nas
normas constitucionais em maior profundidade (ex: princípios sobre
o Estado de direito democrático, direitos fundamentais,...)

○ Desadequação da carga ideológica face às Revisões Constitucionais:


As revisões têm tido em vista um maior papel integrador do
pluralismo político-social, em especial as de 1982 e 1986, que
colidiria com a matriz socialista dirigista do preâmbulo.

+ art. 1 e art. 2 da CRP contradizem o suposto “princípio socialista” do


preâmbulo

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SECÇÃO II - INTRODUÇÃO ÀS NORMAS CONSTITUCIONAIS

SUBSECÇÃO I - PRECEITO E NORMA CONSTITUCIONAL


Normas Jurídicas: Compõem a Constituição, sendo critérios de decisão que
vinculam os poderes públicos e relações jurídicas privadas, produzindo efeitos
jurídicos.

★ Preceitos: Realidade interdependente das normas jurídicas que contém


normas jurídicas. Enunciado que serve de “veículo” às normas

○ Podem conter uma pluralidade de normas cumuladas - art. 37/1 da


CRP relativamente às dimensões da liberdade de expressão e
informação

○ Podem conter sentidos diferentes que são reconduzidos


interpretativamente a normas alternativas entre si e que disputam
o sentido que se deve extrair do preceito - art. 18/2 da CRP que
garante liberdade e garantias, mas permite restrições às mesmas
em caso de colisão

○ Podem conjugar-se com outros preceitos para que se extraia uma


norma ou critério jurídico da decisão - art. 8/4 que recebe direito da
união europeia

SUBSECÇÃO II -TIPOLOGIA DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

1§ CRITÉRIO FUNCIONAL
Funções das Normas:

★ Função estruturante (por Herbert Hart):

○ Normas Constitucionais Secundárias: Têm por objeto a produção,


qualificação e validação de outras normas jurídicas - ex: art. 112º
da CRP que regula formas e categorias normativas.

○ Normas Constitucionais Primárias: Aplicam-se diretamente às


relações institucionais - art. 136 que é uma norma exequível por si
só ou todas as liberdades e garantias do art. 30/1

★ Função relativa à matéria que disciplina:

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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○ Normas Substantivas: Ditam os critérios que regem a identidade


material do Estado, a definição do regime político e a conformação
do conteúdo dos direitos fundamentais dos cidadãos.

○ Normas Organizativas: Regulam o estatuto do poder político, o que


envolve a arquitetura do sistema de governo, a identificação dos
órgãos de soberania, a definição das suas competências,... No
fundo, correspondem às partes III e IV da CRP. Dividem-se em 4
subespécies:
■ NORMAS DE COMPETÊNCIA: estabelecem os poderes
funcionais de diversos órgãos constitucionais e os respetivos
limites - ex: art. 133 da CRP
■ NORMAS ESTRUTURAIS DOS TITULARES DE ÓRGÃOS:
Definem regras sobre o exercício de certos cargos, como
direitos, deveres, regalia e imunidades e fixam limites aos
seu desempenho - ex: art. 154 a 160
■ NORMAS DE FORMA OU DE PROCESSO: Gizam a tramitação
do itinerário relativo à designação de titulares do poder
político, o processo de forma de tomada de decisão pelos
órgãos constitucionais e o modo de revelação dos
correspondentes atos jurídicos - ex: art. 121
■ NORMAS DE QUALIFICAÇÃO: Determinam as formas e os
atributos de certos atos jurídicos-públicos ditados pelos
órgãos constitucionais e o respectivo regime jurídico - art.
112 ou 282

2§ CRITÉRIO DA DETERMINABILIDADE
Princípios e Regras: Conteúdo das normas, apresentando vinculatividade
sobre todo o ordenamento jurídico e guardando o mesmo valor formal.

★ Princípios: Enunciados jurídicos de valores de ordem política ou moral


dotados de um elevado grau de indeterminação, dirigidos à prossecução
de um fim e concebidos como mandatos de otimização que ordenam algo
que deve ser realizado na medida das possibilidade jurídicas e fáticas.
Associam-se a valores muitas vezes.

★ Regras: Mandatos de definição que determinam condutas imperativas,


existindo em maior quantidade na Constituição. A maioria reconduz-se a
princípios, afastando situações de incerteza devido ao caráter objetivo.

★ Colisão Princípio-Regra: As regras tendem a prevalecer por um critério


lógico de decisão do conteúdo mais definido (lei especial sobre lei geral)

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Colisão Princípio - Princípio: Um dos princípios terá de ceder, em todo


ou em parte, sem que, contudo, isso implique a sua revogação.

Margem de Discricionariedade na Interpretação das Normas: Mesmo as


regras jurídicas, podem tanto ser muito definidas - ex: art. 133, al. b), como
existir ligadas a conceitos jurídicos indeterminados que o tempo e prática tem
clarificado - ex: art. 195/2, ou ser condicionadas por práticas ou costumes
políticos - ex: art. 133, a. e) como “bomba atómica”. Existe, então, nas
Constituições modernas um elevado grau de abertura normativa.

★ Abertura Axiológica: O poder constituinte é soberano e incondicionado


quanto à possibilidade de introdução na Constituição de valores éticos ou
de outros paradigmas de caráter metajurídico, podendo tanto ignorar,
como contrariar ou incorporar os padrões de ordem moral das sociedades.

○ Posição do Prof. CBM: A constitucionalização de valores políticos ou


morais beneficia a ser reduzida ao essencial (preâmbulos deveriam
declarar esses princípios neutros), de modo a reduzir a margem de
discricionariedade interpretativa que pode permitir a desfiguração
da vontade constituinte soberana.

★ Abertura Externa: Impacto do Direito Internacional e da jurisprudência


dos tribunais constitucionais de outros Estados nas normas
constitucionais. Ocorre através de cláusulas de recepção constitucional e
de cláusulas abertas em matéria de direitos fundamentais - ex: art 16/1
da CRP ou Estados da UE como a Alemanha e a França que, ao
consagrarem a prevalência dos princípios das suas constituições aos do
direito europeu, admitem disposições deste direito.

★ Abertura Morfológica: Enunciados polissêmicos de conceitos


indeterminados suscetíveis a serem moldados pela realidade política,
permitindo uma integração da diversidade pluralista e da evolução
política, de modo a que a Lei Fundamental resista à erosão do tempo,
contudo, podem também levar a mutações constitucionais “impuras”
operados por via da interpretação.

Princípios Normativos Fundamentais da CRP: Pilares identitários da ordem


constitucional, definindo a natureza do Estado, da Constituição, do Regime e do
sistema de direitos fundamentais, vertebrando a Constituição material. São
garantidos pela cláusula de limites materiais (art. 288) e integram os princípios
fundamentais do Estado de direito democrático (art. 8/4)

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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Princípios Reitores do Estado de Direito (art. 2):

★ Princípio da Independência Nacional (art. 2º, 3º e 9º): Norma de


maior relevância política da Constituição por ser o fundamento dos
restantes princípios, refletindo a essência histórica de Portugal. Antes da
Constituição e da democracia está a existência de um Estado. A garantia
da soberania (interna - faculdade dos poderes do Estado imporem as suas
decisões aos governados, e externa - possibilidade dos órgãos do poder
estadual representarem o estado) é um dos principais fins do Estado
Português, sendo um limite material de revisão (art. 288º). Pode,
contudo, o Estado delegar competências na UE - art. 6 e 7.

★ Princípio da Dignidade da Pessoa Humana (art. 1º): Abrange vários


tipos de direitos (natureza multidigitada), sendo oriundo de uma doutrina
social da Igreja.
○ Pessoa humana como valor: Valor por ser um “bem” portador de
uma valia superior
■ VALOR ANTROPOLÓGICO: tem como objeto o Homem
■ VALOR ESPIRITUAL: o homem tem perfeita consciência de si
próprio o que lhe permite dominar elementos da natureza e
autodeterminar-se livremente para o bem e para o mal
■ VALOR UNIVERSAL: a pessoa humana segue um caminho de
aceitação por todas as civilizações

○ Dignidade do ser humano: Exigência geral de respeito e de


proteção relativamente a algo que é importante, neste caso, o
Homem. Envolve duas dimensões:
■ Consideração e valorização da autodeterminação individual
do Homem como sujeito e não objeto
■ Preclusão do ser humano de condutas que o sujeitem a
situações degradantes ou que permitam a depreciação do
seu mínimo de sobrevivência.

○ Dignidade da pessoa humana como fim do Estado: O valor da


dignidade humana é um pressuposto existencial da ideia de Estado
de Direito, pois o povo é um dos elementos do Estado, a fonte de
soberania, e porque o Estado serve para servir as pessoas11, sendo
estas prévias ao Estado, daí os direitos fundamentais aparecem
antes da organização política na Constituição.

○ Dignidade da pessoa humana e o sistema de direitos fundamentais:


A dignidade da pessoa humana é um direito sobre direitos por ser a
razão de ser, o fim e o limite dos direitos fundamentais, sendo

11
Daí a existência de uma dimensão social de promoção do bem estar e da qualidade de vida do
povo na Constituição (art. 9, al. d)

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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protegido pela rigidez constitucional e pelo controlo da


constitucionalidade. É raramente invocado para parâmetro direto de
decisões, mas utilizado muito como critério interpretativo. O TC
assume que implica a obrigação do Estado de assegurar meios de
sobrevivência e assistência a pessoas em dificuldades

★ Princípio da proteção constitucional reforçada dos direitos,


liberdades e garantias (art. 18): Os direitos, as liberdades e as
garantias são posições jurídicas ativas das pessoas que permitem a sua
autodeterminação e protegem a sua esfera pessoal e jurídica contra
condutas oriundas de poderes públicos ou de terceiros, sendo uma
expressão do princípio da dignidade da pessoa humana.
○ Razões para a proteção adicional: Indispensabilidade dos bens
jurídicos tutelados para conservar o Estado de Direito democratico12
■ O exercício destes direitos depende mais de disposições
jurídicas do que administrativas, financeiras ou materiais

○ Art. 18 da CRP: Epicentro da proteção reforçada


■ Nº1: Consagra a aplicabilidade direta das normas e
vincula-as às entidades públicas e privadas
■ Nº2 e 3: Apresentam o princípio do “carácter restritivo das
restrições a direitos de liberdade”, reconhecendo que a
restrição dos direitos, ou seja, a afetação desfavorável de
uma posição jurídica, só pode ocorrer por lei nos casos
previstos na CRP (salvo casos de colisão entre direitos),
mediante a observação de um princípio de proporcionalidade
e que a lei tenha um conteúdo geral, abstrato, sem eficácia
retroativa e sem diminuir a extensão do alcance do direito.

○ Normas que auxiliam o regime reforçados destes direitos: Só


podem ser suspensos em estado de sítio ou emergência (art. 19
CRP), têm meios prioritários e céleres para a sua defesa (art. 20/4
CRP), são reserva de lei da AR dos direitos, liberdades e garantias
(art. 165/1 b CRP), pode-se incorrer em responsabilidade civil
extracontratual dos poderes públicos em caso de violação (art. 22
CRP) e a cláusula de limites materiais da (art. 288 CRP)

○ Dimensão de Aplicabilidade Direta Negativa: Aplicabilidade


defensiva contra quem tente suprimir o direito

12
O Prof. Reis Novais discorda desta posição do Prof. CBM

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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★ Princípio da Proporcionalidade13: Proibição de decisões do poder


público que se revelem arbitrárias e excessivas e de que resultem
desvantagens ou sacrifícios desnecessários e injustificados para os
respetivos destinatários (art. 18/2, art. 19/3, 4 e 8, art. 266/2 e art.
272/2 da CRP). Combina-se, muitas vezes, com outros princípios como o
da confiança e o da igualdade.

○ Critérios: Basta que a norma colida com um destes critérios para


poder ser julgada inconstitucional
■ CRITÉRIO DA ADEQUAÇÃO: As medidas restritivas da
liberdade individual devem ser aptas a realizar o fim
prosseguido com a restrição e os seus meios não podem ser
indiferentes, inócuos ou negativos14.
■ CRITÉRIO DA NECESSIDADE: No ato de restrição de um
direito tendo em vista o preenchimento de um fim
constitucionalmente legítimo deve-se impor o meio mais
suave ou menos restritivo que precise de ser utilizado para a
obtenção do fim em vista15.
■ CRITÉRIO DA PROPORCIONALIDADE EM SENTIDO ESTRITO:
Os meios legais restritivos e os fins obtidos devem se num
justa medida, impedindo-se a adoção de medidas legais
excessivas em relação aos fins obtidos16.

★ Princípio da Segurança Jurídica e da Proteção da Confiança:


Extraído da jurisprudência através do princípio do estado de direito
democrático. Considerado um dos princípios fundamentais

○ Segurança Jurídica: Imperativo de garantia da certeza da ordem


jurídica nas suas dimensões de estabilidade, coerência e igualdade,
permitindo aos cidadãos organizarem a sua vida individual e social
no respeito pela previsibilidade e calculabilidade normativa de
expectativas de comportamento e das consequências derivadas das
respetivas ações, ou seja, a possibilidade das pessoas confiarem
que as decisões sobre os seus direitos ou relações jurídicas têm os
efeitos previstos nas normas que os regulam. Pressuposto
existencial do direito e condição de realização da justiça. Dimensão
objetiva. (art. 282/4 explicitamente e art. 29/1, art. 103/3 e art.
18/3 implicitamente).

13
O Prof. Melo Alexandrino defende que as exigências de liberdade, autonomia, igualdade e justiça
que o princípio visa acautelar integram a essência ou o conteúdo identitário do Estado Material de
Direito.
14
definição do Prof. Reis Novais, mas que o Prof. CBM refere
15
definição do Prof. Reis Novais, mas que o Prof. CBM refere. O Prof. Melo Alexandrino preconiza
ainda que seja equacionada uma pluralidade de variáveis envolvendo a relação meio/fim,
violando-se o princípio quando o meio seja, comparativamente, o mais agressivo e o menos eficaz
16
definição do Prof. Gomes Canotilho, mas que o Prof. CBM refere

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Proteção da Confiança: Dimensão subjetiva e defensiva do princípio


da segurança jurídica aplicada no universo das restrições aos
direitos fundamentais. Permite que os cidadãos tenham a legítima
expectativa de que as normas jurídicas que lhes são aplicáveis não
vão ser subitamente alteradas com efeitos que atinjam as situação
que estão ainda em vias de constituição. Protege a estabilidade do
direito e a confiança que os cidadãos têm na mesma.
■ ART 18/3: Apesar de já censurar as leis retroativas que
restrinjam direitos liberdades e garantias, não torna este
princípio redundante pois vai mais além e censura as
situações de retrospectividade17
■ DIREITOS ECONÓMICOS, SOCIAIS E CULTURAIS: Por não
estarem protegidos por uma cláusula semelhante à 19/3 da
CRP, é este princípios que os vai proteger.
■ CRITÉRIOS DO TC PARA EVITAR A VIOLAÇÃO DO PRINCÍPIO:
Todos têm de ser sempre cumpridos
● O Estado tem de ter desenvolvido comportamentos
capazes de gerar expectativas18 de continuidade.
● As expectativas devem ser legítimas e justificadas em
boas razões19
● Os cidadãos devem ter feito planos de vida a contar
com a continuidade do comportamento do Estado.
● A medida deve ser justificada à luz do critério da
proporcionalidade20, não devendo haver razões de
interesse público que justifiquem a não continuidade
do comportamento

★ Princípio da Igualdade: Componente medular do valor da dignidade


humana, integrando o próprio conceito de justiça material. Princípio que
impõe aos poderes públicos um tratamento igual de todos os seres
humanos perante a lei e uma proibição de discriminações materialmente
infundadas, apesar de obrigar a diferenciações entre pessoas quando
existam especificidades atendíveis e carentes de tutela e proteção.

○ Vertentes Positiva e Negativa do Princípio:

17
Retroatividade de cariz impróprio pois, apesar de valer para o futuro, vai produzir efeitos
imprevisíveis em situações e relações existentes que têm o seu substrato num pressuposto
constituído no passado (ex:caso de Fernando Gomes, que tinha vários cargos políticos para os
quais tinham sido eleito, mas que, com a publicação de uma nova lei, se tornavam incompatíveis e
o iam obrigar a escolher o mandato que desejava levar ao fim, levando a que as pessoas não
pudessem confiar na opção que tinham, à partida, tomado)
18
A doutrina do Prof. Paulo Mota Pinto critica o Tribunal Constitucional por este não centrar a
fundamentação da existência de expectativas em factos, mas sim de presunções algo ambíguas.
19
O Prof. CBM considera termo “boas razões” vago, pelo que refere na doutrina que deve ser
entendido como fins lícitos, não contrários à moral pública.
20
Proibição do excesso

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ VERTENTE NEGATIVA: Declara que todos os cidadãos têm a


mesma dignidade social e igualdade formal perante a lei (art.
13/1 CRP). Proíbe aos poderes públicos discriminações
arbitrárias devido à religião, sexo, raça,... (art. 13/2 CRP).
Dever do Estado de garantir igualdade nas suas decisões.
■ VERTENTE POSITIVA: Obrigação de tratar igualmente o que é
igual e diferentemente o que é diferente. Existem situações
que podem justificar desigualdades jurídicas como benefícios
por discriminações positivas às categorias de pessoas que
estão numa situação desfavorável - compensações para
atenuar desigualdades de partida (art. 9/d CRP). Submete-se
ao princípio da proporcionalidade. Esta dimensão permite que
o princípio seja um direito subjetivo de caráter defensivo.
● Ações Afirmativas: como quotas para mulheres ou
minorias raciais21.

○ Limites ao Princípio da Igualdade: A própria Constituição concede


limites como o art. 15/2 que apresenta exceções à igualdade
concedida no número anterior entre portugueses e estrangeiros.

★ Princípio de acesso aos tribunais e a uma tutela jurisdicional


efetiva: Direito sobre direitos que pode ser invocado autonomamente
como direito de liberdade associado aos direitos subjetivos. Apresenta a
mesma garantia que os restantes direitos fundamentais. É um pilar
estruturante do Estado de direito democratico, concorrendo para a
realização da Justiça como fim do Estado. Desdobra-se em 7 subprincípios

○ Direito de acesso aos tribunais (art. 20/1 CRP): Os cidadãos


dispõem da faculdade de exigir que os seus litígios sejam dirimidos
por órgãos independentes e imparciais que exerçam a função
jurisdicional (tribunais tanto estaduais como arbitrários) de modo a
proteger os seus interesses de direitos legalmente tutelados.
■ CRITÉRIO DA PROPORCIONALIDADE: O sistema de justiça
não é gratuito, pelo que aqueles com mais recursos têm a
possibilidade de ser melhor servidos do que aqueles com
menos. Contudo, tal não deve servir de obstáculo à justiça
dos cidadãos mais carenciados. Ainda assim, conclui-se que
não seria benéfico se a justiça fosse gratuita por um
problema de abuso de direito em que se poderia incorrer, daí
a importância do uso deste princípio na determinação do
valor das custas e das restantes prestações.

Prof. CBM considera que envolvem compensações duvidosas capazes de gerar outras
21

desigualdades, algumas inaceitáveis, e que quotas raciais são inconstitucionais (art. 9/2)

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Direito ao patrocínio judiciário (art. 20/2 CRP): Forma de apoio no


acesso à justiça às pessoas economicamente carenciadas. É
prestado por consultas jurídicas dadas por gabinetes próprios dos
serviços de justiça, pela ordem dos advogados ou por redes de
advogados, envolvendo apoio judiciário, isenção de taxas,...

○ Direito ao advogado (art. 30/2 CRP): Perante as autoridades e para


defesa dos seus direitos, os cidadãos têm a faculdade de se
fazerem acompanhar por um advogado.

○ Direito a um processo equitativo (art. 30/4 CRP): Sendo a


transposição para o ordenamento português do “due process of
Law” da Constituição dos EUA. Apresenta-se como garantia de um
processo consonante com um conjunto de garantias fundamentais
como o direito de defesa, equidade, razoabilidade de prazos,
reserva de juiz, direito à igualdade de armas,...

○ Garantia do Segredo de Justiça (art. 30/3 CRP)

○ Direito à decisão em prazo razoável (art. 30/4 CRP): Consequência


do princípio segundo o qual justiça tardia é denegação de justiça22.

○ Direito a procedimentos judiciais céleres e prioritários para garantir


a tutela efetiva de diretos, liberdades e garantias (art. 20/5 CRP):
Obrigação de legislar que tem, entre outras concretizações
constitucionais e legais, o habeas corpus, o processo relativo à
prisão preventiva, o decretamento provisório de providência
cautelar para a tutela de direitos, liberdades e garantias,...

★ Princípios da Constitucionalidade e da Legalidade (art. 3 da CRP):


A Constituição, sendo rígida, é hierarquicamente superior e a norma de
referência dos demais atos normativos e jurídicos singulares,
determinando um desvalor para os que a contrariem. Apresenta duas
dimensões: a subordinação do Estado à constituição (nº2) e a
subordinação dos atos jurídico-públicos à mesma para serem válidos(nº3)

○ Fiscalização da constitucionalidade: As entidades competentes para


fiscalização são os tribunais, sendo o TC a estrutura de cúpula (art.
221 e 277 e ss. CRP). A existência de fiscalização está consagrada,
também, nos limites materiais de revisão (art. 288/l CRP).

○ Principio da Legalidade (art. 3/2 CRP): Subordinação dos órgãos do


poder público à lei como expressão de uma atividade primária e

22
Portugal não tem prazo consagrado, pelo que é constantemente condenado pelo Tribunal
Europeu dos Direitos do Homem por decisões que violam o critério da razoabilidade dos prazos

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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democraticamente legitimada dos poderes constituídos. Tem


refrações no art. 203 e no 266/2 da CRP que sujeitam a lei à
atividade da função jurisdicional.
■ BLOCO DE LEGALIDADE REFORÇADA: Integrado pelas leis
reforçadas que devem ser respeitadas por outros atos
legislativos (art. 112/3 e 281/1b CRP)

Princípios de Ordem Política:

★ Princípio da separação com interdependência de poderes (art. 111


e 288/j CRP): Pressuposto da noção de Constituição material liberal
enquanto paradigma de poder político limitado e não concentrado. Critério
axiológico e jurídico de organização do poder político que determina que
cada órgão soberano se deve conter nos limites das competências que lhe
são atribuídas, de modo a existir uma repartição funcional de atribuições
públicas do núcleo essencial da função estadual, a haver a exigência de
uma não concentração de mais de duas funções no mesmo órgão e ainda
ter controlos interorgânicos que assegurem a responsabilização.

○ Corolários: Consequências jurídicas e políticas:


■ CRITÉRIO ORGÂNICO DO RESPEITO MÚTUO NO EXERCÍCIO
DE COMPETÊNCIAS: Exigência de contenção de cada órgão
de soberania no âmbito material das suas competências,
supondo um dever de respeito pelo estatuto jurídico,
funcional e competencial dos outros órgãos (art. 111/1 e
110/2 CRP) - os órgãos de soberania não podem, ao exercer
as suas funções, cometer atos de usurpação de poderes.
■ CRITÉRIO DE REPARTIÇÃO NUCLEAR DE FUNÇÕES: A cada
órgão de soberania deve ser atribuído o núcleo essencial, ou
seja, a dimensão identitária indisponível de uma função do
Estado com exercício exclusivo. Contudo, é possível que haja
partilha de alguns poderes.
■ PRECLUSÃO DE CONCENTRAÇÃO DE FUNÇÕES NUMA SÓ
INSTITUIÇÃO: Exclui a cumulação de diversas funções do
Estado num só órgão
■ RESPONSABILIDADE POLÍTICA MEDIANTE SUBMISSÃO A
CONTROLOS INTER-ORGÂNICOS: Exigência de colaboração e
controlo entre os órgãos de soberania no exercício das suas
competências. Os órgãos não agem isoladamente, realizando
divisões de tarefas. Existem mecanismos de fiscalização.

★ Princípio Democrático: Postula que a designação dos governantes como


titulares do poder político deriva do consentimento expresso pela vontade
dos governados, em regra com estatuto de cidadãos, mediante um

53
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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sufrágio livre, competitivo, periódico, igual, pluralista e com equivalência


de opções (art. 2, 10/1 e 288/h da CRP).

○ Corolários: Consequências jurídicas e políticas:


■ DEMOCRACIA REPRESENTATIVA E REFERENDÁRIA: art. 10
● Democracia Representativa: método de decisão
coletiva que legitima procedimentalmente os órgãos de
poder, pois os seus titulares recebem um mandato
eleitoral do povo para agirem politicamente em sua
representação e com autonomia em relação a quem os
elegeu (art. 113, 114, 116-118, 120, 122-126, 131,
147-155, 187, 235 e 288/h) e i) CRP)
● Democracia Referendária: assume uma natureza
semi-direta por operar mediante uma iniciativa e
posterior convocação, resultante de decisões de órgãos
representativos, seguida de um ato de votação popular
que condensa a expressão direta da vontade cidadã,
apresenta, contudo, um carácter subsidiário à
democracia representativa por causa dos limites que a
Constituição coloca a este ato (art. 115).
■ FUNDAMENTO DO REGIME POLÍTICO: Os regimes políticos
envolvem um modelo de exercício de poder que se justifica
num princípio ideológico ou doutrinal, neste caso, a
democracia. Para que a democracia se não torne num
despotismo maioritário eleições periódicas (art. 288/h CRP),
direito de oposição (art. 288/i CRP) e o reconhecimento de
estatuto às minorias políticas (art. 114/2 e 3 CRP) são pontos
essenciais.
■ CANDIDATURAS APRESENTADAS SÓ POR PARTIDOS: Existe
um monopólio partidário que assume uma função central na
organização e expressão pública da vontade popular (10/2
CRP), tendo de respeitar um conjunto de requisitos,
exigências constitucionais e um escrutínio jurisdicional da sua
organização, gestão e financiamento. Apesar de ter
vantagens como o facto de garantir disciplina parlamentar e
consequente governabilidade, cria grandes distâncias entre
eleitores e eleitos, alienando parte dos cidadãos
■ ESCRUTÍNIO PROPORCIONAL: Traduz com fidelidade a
conversão de votos em mandatos (art. 288/h e 149/1 CRP)
■ CRITÉRIO MAIORITÁRIO DE DECISÃO: Assenta na maioria
simples ou relativa (art. 116/3 da CRP)

★ Princípio do Estado Unitário: Na ordem jurídica interna existe unidade


do poder constituinte e, por conseguinte, uma só constituição, regendo-se

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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as coletividades territoriais autónomas por formas de descentralização


previstas na Constituição e na lei (art. 6 e 288/a CRP).

★ Princípio do Estado Social: Portugal visa a realização da democracia


económica, social e cultural (art. 2 CRP), devendo promover o bem-estar
e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre todos os
portugueses, bem como a efetivação dos direitos económicos, sociais,
culturais e ambientais, mediante transformações e a modernização das
estruturas económicas e sociais (art. 9/d CRP). Sendo um reflexo do
princípio da dignidade da pessoa humana, não é um princípio constitutivo
do Estado de Direito, mas sim um complemento relevante, não estando
protegido no art. 28823.

(CURSO DE DIREITO CONSTITUCIONAL: TOMO I - AS FUNÇÕES DO


ESTADO E O PODER LEGISLATIVO NO ORDENAMENTO PORTUGUÊS, CBM)

PARTE I: INTRODUÇÃO ÀS FUNÇÕES E AOS ATOS DO


PODER POLÍTICO

CAPÍTULO I - FUNÇÕES DO ESTADO ORDENAMENTO


2§ CONCEPÇÕES DOUTRINÁRIAS SOBRE AS FUNÇÕES DO ESTADO
Objetivos da existência do Estado: Justiça, segurança e bem-estar (art. 9
CRP)

★ Funções do Estado: Atividades jurídico-públicas que o Estado concretiza


para a prossecução dos seus fins. O princípio da separação dos poderes
vai exigir que estas funções sejam concretizadas em separado

Qualificação do Prof. Marcello Caetano para as funções do Estado:

★ Funções:

○ Jurídicas: Função Legislativa e executiva

23
Todavia, o Prof. CBM diz que se pode assumir uma cláusula implícita com este princípio, já que
se todos os direitos sociais fossem removidos da CRP, esta perderia um dos elementos identitários

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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○ Não jurídicas: Função política e técnica

★ Refutação do Prof. CBM: Enquadramento já ultrapassado pois as


funções que interessam são, unicamente, as de natureza jurídica, já que
as técnicas são, geralmente, instrumentais das funções políticas ou
administrativas, logo, não nos interessa estar a examiná-las. Por outro
lado, a função política pode, e tem, na ordem constitucional portuguesa,
carácter jurídico, diferentemente de na arrumação feita por este
professor, que a coloca numa posição não jurídica. Ainda, no âmbito da
função jurídica, existe uma lógica jurisdicional, para além de executiva e
legislativa, algo que o Prof. Marcello dissolveu na executiva com a
administrativa, mas o Prof. CBM discorda, pois são funções diferentes,
logo não podem ser assimiladas.

Qualificação do Prof. Gomes Canotilho e MRS para as funções do Estado:


Todas elas funções jurídicas, seguindo a arrumação da Constituição (quando
estas se refere às atividades desenvolvidas pelo Governo ou AR)

★ Funções

○ Políticas

○ Legislativas

○ Administrativas

○ Jurisdicionais

3§ POSIÇÃO ADOTADA
Qualificação do Prof. Jorge Miranda para as funções do Estado:

★ Função:

○ Política:
■ FUNÇÃO POLÍTICA EM SENTIDO ESTRITO
■ FUNÇÃO LEGISLATIVA

○ Administrativa

○ Jurisdicional

★ Pontos fortes da posição:

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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○ Pressupõe a prática de atos jurídicos, ou seja, atos garantidos pela


coercibilidade do Direito, lateralizando outras funções estaduais de
carácter auxiliar ou instrumental que não relevam para as
construções do direito constitucional sobre os poderes estaduais.

○ Consome na função política, concebida no seu sentido amplo,


atividades que pressupõem a adoção de critérios de decisão
políticos, a atividade legislativa e a política em sentido estrito,
reconhecendo, paralelamente, que os atos dimanados da atividade
política strictu sensu produzem, geralmente, efeitos jurídicos.

○ No Estado Social de Direito, a lei deixa de ser reduzida à simples


regra jurídica, para ser concebida como instrumento político,
tendendo a tornar-se no ato típico da função política e a definir-se,
sob o ponto de vista da sua imensa plasticidade e abertura
material, pelo seu conteúdo político, logo não seria conveniente
separar a lei da essência da atividade política quando, na verdade,
ela é a manifestação juridicamente mais relevante dessa atividade.

★ Pontos fortes da posição:

○ A função política implica que a atividade legislativa, a mais


importante de todas as funções do Estado, seja reduzida a
subfunção, o que, contudo, não um elemento decisivo por ser uma
questão meramente semântica

○ As responsabilidades públicas no domínio da política externa não


estão autonomizadas, acabando por se decomporem em atos
políticos normativos reconduzidos à atividade política strictu sensu,
na sua vertente externa

Função do Estado: Conjunto de atos que são produzidos em permanência e


que visam preencher um determinado fim. Esses atos guardam, entre si, um
conjunto de semelhanças de caráter formal, material e orgânico.

★ Função Subordinante24 - Função política em sentido amplo:


Atividade do Estado em que os centros de poder dispõem de um grau de
liberdade elevado para tomar decisões que prosseguem de modo
inovatório o interesse público e traçar os fins do Estado.

○ Atividade Política em Sentido Estrito


■ DEFINIÇÃO EM FUNÇÃO DE CRITÉRIOS:
● Critério Substancial: produção de atos e externalização
de condutas que corporizam o sistema de freios e
24
Traça um conjunto de critérios que devem ser adotados pelas restantes funções

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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contrapesos do sistema político (concretização do


princípio da interdependência de poderes, através de
faculdades de direção e de fixação de controlos inter e
intra-orgânicos), o exercício da política externa, o uso
de poderes excepcionais de defesa da república e
formas de exercício da democracia direta ou
semi-direta
● Critérios Orgânico-Formais: envolve tanto a emissão
de atos singulares como de atos normativos que
podem assumir formas muito variadas, todas elas de
caráter não legislativo (ex: decretos do Presidente da
República). Implica múltiplos procedimentos,
diligências, práticas e atos de conteúdo político que
podem, ou não, ter eficácia jurídica, interessando
apenas os primeiros.

■ ATOS POLÍTICOS: Podem ser imputados aos órgãos do


Estado ou das regiões com autonomia político-administrativa,
fluindo no universo da interdependência de poderes e
envolvendo no exercício de poder, a observância de limites,
controlos recíprocos e o exercício de competências
partilhadas entre órgãos.
● Atos de Direção Política: decisões que envolvem uma
escolha potencialmente livre de opções primárias
relativas ao funcionamento das instituições do Estado
e determinam objetivos de ação política, fixando, se
for caso disso, meios ou vias para a sua prossecução -
existem atos de direção presencial que se projetam,
com um grau variável, sobre a subsistência de órgãos
de soberania em funções (ex: dissolução do
parlamento), atos que implicam o exercício de poderes
diretivos sobre o funcionamento de órgãos colegiais
(ex: convocação extraordinária da AR) e atos de
projeção institucional relevante para a proteção da
republica e da vontade popular diretamente expressa
no contexto de competências partilhadas (ex:
declaração do estado de emergência),
● Atos de Controlo Político: implicam um poder de
escrutínio e vigilância por parte de determinados
centros de poder sobre outros órgãos ou titulares de
órgãos. Enquadram-se nesta categorias os seguintes
tipos de decisões:
❏ Decisões de responsabilização política e jurídica
interorgânica (ex: iniciativa do processo de
impeachment)

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

❏ Poderes de livre apreciação de mérito de atos de


outros órgãos (ex: veto e promulgação
presidencial de atos legislativos)
❏ Autorizações, atestações e confirmações (ex:
referenda ministerial dos atos do Presidente)
❏ Atos de garantia jurídica da ordem
constitucional (promoção do controlo preventivo
e sucessivo da constitucionalidade das normas.
■ ATOS E NORMAS DA FUNÇÃO POLÍTICA: Os atos políticos
apresentam um conteúdo individual e concreto, sendo que o
sentido obrigatório que deles dimana, se projeta na esfera
jurídica dos órgãos do poder político, exclusivamente, daí
serem atos não normativos, apesar de dotados de um
conteúdo jurídico-imperativo, já que a sua eficácia se projeta
primariamente no circuito interno do poder político. As
normas emitidas ao abrigo da função política (ex: declaração
de estado de emergência), por outro lado, são gerais e
abstratas, podendo assumir formas, conteúdos, finalidades e
graus de vinculatividade muito distintos, fugindo a um
qualquer elemento que as una

○ Atividade Legislativa: Atividade político-normativa que traça


critérios políticos de decisão que devem ser acatados pelo Estado,
sendo os seus atos inválidos quando não cumprirem os ditames
desta atividade. É definida com base em critérios materiais, formais
e orgânicos para o seu exercício.
■ CRITÉRIOS MATERIAIS: Poder de criação e modificação da
ordem jurídica mediante a aprovação de normas com
conteúdo político e eficácia externa que, fundadas e
submetidas ao princípio da constitucionalidade, regulam a
vida coletiva e prevalecem sobre a generalidade dos atos
emanados das demais funções constituídas do Estado.
■ CRITÉRIO FORMAL: Prática permanente de atos
jurídico-públicos que devem revestir uma das três formas
específicas de lei previstas no art. 112/1 da CRP: a lei, o
decreto-lei e o decreto legislativo regional
■ CRITÉRIO ORGÂNICO: Atividade jurídico-pública que se
encontra reservada à competência da Assembleia da
República, do Governo e das assembleias legislativas das
regiões autónomas (art. 161, 198 e 227 da CRP)

★ Funções Subordinadas:

○ Função Administrativa: Subordinada, principalmente, à função


legislativa (art. 206 CRP), pois a administração pública tem de

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

respeitar tanto a constituição como a lei. Traduz-se na execução e


concretização das leis na satisfação permanente das necessidades
coletivas legalmente definidas, mediante atos, contratos e atuações
materiais dimanadas de órgãos e agentes dotados de iniciativa e
parcialidade na prossecução do interesse público. A atividade
administrativa deve respeitar a constitucionalidade, a legalidade, a
igualdade, a proporcionalidade, a imparcialidade e a boa-fé (art.
266/2 CRP)
■ CRITÉRIO MATERIAL: Os elementos substanciais da definição
reportam-se à natureza dependente ou secundária da função
administrativa - já que esta se vincula tanto à Constituição
como à lei, aos objetivos que prossegue - prossecução do
interesse público através da satisfação permanente de
necessidades coletivas, e aos principais típicos que presidem
à atuação dos seus órgãos.
■ CRITÉRIOS ORGÂNICOS: Enquanto os órgãos são centros
autónomos e institucionalizados que desenvolvem funções
públicas administrativas em nome de uma pessoa coletiva, os
agentes colaboram com os órgãos numa posição subordinada
em relação a estes na formação da vontade coletiva inerente
ao exercício da atividade administrativa (art. 266/2 CRP). O
Governo é o órgão superior da administração pública (art.
182 CRP), exercendo poderes de hierarquia ou direção sobre
a administração direta, poderes de superintendência,... (art.
199/d CRP). Existem outros órgãos dotados de autonomia
como os governos das regiões autónomas (art. 231/1 e 3
CRP), as câmaras municipais (art. 252 CRP) e as juntas de
freguesia (art. 246 CRP)
■ CRITÉRIOS FORMAIS: Manifestações externas do exercício da
atividade administrativa, importando destacar as que
produzem diretamente efeitos jurídicos, os atos e os
contratos da administração, pois as atividades materiais da
administração não assumem natureza jurídica
● Atos de administração:
❏ Atos normativos - normas gerais e abstratas
subordinadas à Constituição e à lei que são
aprovadas por órgãos da administração pública,
assumindo a natureza de regulamentos
administrativos
❏ Atos administrativos - decisões de órgãos da
administração que, ao abrigo de normas de
direito público, visam produzir efeitos jurídicos
numa situação individual e concreta
● Contratos administrativos: Acordos plurilaterais de
vontade celebrados entre entidades públicas ou entre

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

estas e particulares e que se destinam à constituição,


modificação ou extinção de uma relação jurídica
administrativa

○ Função Jurisdicional (art. 205): Os tribunais estão sujeitos à lei e à


constituição, ainda que estes tenham a possibilidade de a desaplicar
se ela for inconstitucional (princípio difusor da constitucionalidade).
Atividade que resolve questões de direito que emergem de
interesses ou posições conflituantes, através da aplicação da
Constituição e das leis, mediante decisões que, em regra, assumem
carácter individual e concreto, sendo tomadas pelos tribunais
(órgãos independentes, imparciais e passivos)
■ CRITÉRIOS MATERIAIS:
● Objeto da função: Operação intelectual de resolução
de questões que envolvem a aplicação do direito
● Escopo da atividade jurisdicional: Composição concreta
ou abstrata de conflitos e litígios derivados de posições
e interesses contrapostos mediante a resolução de
uma questão jurídica tendo em vista a garantia da
justiça material e da paz jurídica
● Natureza secundária ou subordinada: Atividade
jurídico-pública destinada a dar aplicação à
Constituição e à lei, normas relativamente às quais os
decisores jurisdicionais se encontram submetidos (art.
203 e 204 CRP)
■ CRITÉRIO ORGÂNICO: Reporta-se aos tribunais como centros
institucionais de poder formados por juízes que, com
independência (art. 216/1 CRP), desenvolvem
especificamente a função jurisdicional. A Constituição define
várias classes de tribunais - Tribunal Constitucional, Supremo
Tribunal de Justiça e os tribunais judiciais de primeira e
segunda instância, o Supremo Tribunal Administrativo e os
tribunais administrativos e fiscais, o Tribunal de Contas,
Tribunais arbitrais e julgados de paz e Tribunais militares
para o julgamento de crimes estritamente militares
■ CRITÉRIO FORMAL: Reconduz-se às decisões jurisdicionais
que, quando vertem sobre o fundo de controvérsia, são
qualificáveis como “sentenças” em sentido muito amplo e
corporizam o resultado do exercício dessa função, seno que o
conteúdo das sentenças é, em regra, individual e concreto,
ressalvada a exceção das declarações de
inconstitucionalidade proferidas pelo Tribunal Constitucional
com força obrigatória e geral.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

4§ AS FUNÇÕES DO ESTADO E O PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DE PODERES


Princípio da Separação de Poderes (art. 111/2 CRP): Implica que cada
órgão seja, à partida, titular de uma função do Estado, contudo, esta separação
idealmente estanque idealizada na divisão de poderes oitocentista, não é, na
realidade, praticada ou praticável.

★ Razões para a alteração da ideia original de separação

○ Mutações na morfologia do princípio da separação de poderes


derivadas de transformações nas funções e fins do Estado: O
princípio da divisão de poderes nunca teve uma efetividade
evidente na prática constitucional, mesmo a constituição dos EUA,
texto constitucional mais próximo do modelo ideal, derroga a
separação de poderes através da sobreposição de funções - ex:
impeachment em que o julgamento do Presidente se processa no
Senado, mediante acusação da Câmara dos Representantes

○ A liberdade conformadora do constituinte para configurar diversas


modalidades ou formas de expressão da separação de poderes: No
âmbito do modelo de Estado Social de Direito, a ordenação das
funções do Estado afere-se em razão da arquitetura orgânica das
atividades e das competências estabelecidas por cada Constituição
em concreto, excluindo a ideia de uma separação estrita de funções
públicas para órgãos necessariamente distintos.

○ Os limites políticos e jurídicos fixados pela teoria do “núcleo


essencial” ao poder constituinte e aos poderes constituídos como
garantia identitária do princípio da separação de poderes: A
flexibilidade do princípio da separação de poderes com a
configuração própria de cada Constituição tem limites. Esta
exigência exprime-se no exercício dos poderes constituídos e veda
que um órgão se intrometa no âmago de competências alheias e
exerça funções que a Constituição lhe não comete. O conteúdo
central de cada poder constitui um limite jurídico ao poder de
revisão constitucional e um limite político ao poder constituinte do
Estado democrático, pois, uma Constituição que permita que um
órgão soberanos se arrogue do exercício de poderes substitutivos
ou que tolere que um órgão exerça funções materialmente alheias,
não respeita a separação de poderes, pelo que um Estado assim
não é um Estado de Direito, já que este não limita o poder político.
Esta distribuição de competências implica, então, o respeito pelo
núcleo essencial do princípio da separação de poderes (teoria do
núcleo essencial).

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ TEORIA DO NÚCLEO ESSENCIAL: Nenhum órgão soberano


pode receber funções que resultem do esvaziamento das
funções materiais de outro órgão, nem se pode intrometer no
círculo indisponível das funções dos outro órgãos.
● Núcleo Essencial: protegido por um limite material de
revisão (art. 288/j CRP), tem um dimensão material
indissociável das características prototípicas e
imanentes dos órgãos que exercem as funções
jurídico-públicas num Estado de direito democrático.
Residem no facto dos Parlamentos serem titulares da
função legislativa das matérias mais relevantes, dos
Executivos serem os órgãos superiores da
Administração Pública e os Tribunais desempenharem
a função jurisdicional investidos de um estatuto de
independência e imparcialidade.

○ A complementaridade incindível entre separação e interdependência


de poderes: É impossível em qualquer ordem constitucional uma
separação estanque do exercício das funções, surgindo um princípio
de interdependência de poderes (art. 111/1 CRP).
■ RAZÕES PARA A INSUFICIÊNCIA DE SEPARAÇÃO SEM
INTERDEPENDÊNCIA:
● Não basta uma repartição de competências entre
órgãos soberanos e a atribuição, a cada um deles, do
primado ou do núcleo de uma dada função para que se
garanta o objetivo fundamental da limitação do poder,
pois uma autoridade soberana pode abusar daquele
poder que lhe foi constitucionalmente conferido. Tendo
em consideração que “só o poder limita o poder”25,
regista-se que a limitação da autoridade ocorre por
força dos controles interorgânicos que os órgãos
soberanos exercem entre si, existindo atos políticos
que protagonizam poderes de impedimento - ex: veto,
dissolução parlamentar.
● As exigências de eficiência do funcionamento do
sistema político reclamam uma articulação recíproca
na repartição de diferentes tarefas sobre a mesma
atividade e cooperação inter-orgânica no exercício de
certos poderes - ex: magistratura de influências do
Presidente da República

25
Montesquieu

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Luísa Braz Teixeira

★ Corolários do Princípio da Separação de Poderes nos Órgãos de


Soberania:

○ Repartição da atividade política strictu sensu do Presidente, da


Assembleia da República e do Governo
○ Repartição da atividade legislativa entre a Assembleia da República
e o Governo, sem prejuízo do primado da Assembleia e da
centralidade do Governo no exercício dessa função
○ Exclusão da atribuição da função administrativa à Assembleia da
República
○ Reserva de jurisdição confiada nos tribunais

○ Corolários dentro dos órgãos das regiões autónomas:


■ A função política é repartida pelos representantes da
República, assembleias das regiões e governos regionais
■ As assembleias das regiões têm a reserva da atividade
legislativa
■ A função administrativa é repartida entre as assembleias e os
governos das regiões

★ Manifestações de interdependência de poderes: A repartição de


funções e competências pelos órgãos de poder no quadro constitucional
não reveste uma natureza estanquicista, dado que não prejudica relações
de colaboração e a aplicação de institutos de controlo entre os mesmos
órgãos.

○ Plano da Colaboração Formal:


■ Iniciativas legislativas do Governo junto da AR
■ Autorização da AR ao mesmo Executivo no quadro de uma
relação fiduciária
■ Declaração de estados de exceção pelo PR (carece de audição
do Governo, autorização da AR)
■ Referendo nacional (proposto pelo Governo ou Parlamento,
controlado na sua validade pelo TC e convocado pelo PR)
■ Nomeação dos Representantes da República pelo PR, ouvido
o Governo
■ Nomeação de Chefes do Alto Comando Militar do Procurador
Geral da República pelo PR, sob proposta do Governo

○ Plano do Puro Controlo Político Interorgânico:


■ Institutos da promulgação e do veto presidencial
■ Ratificação e assinatura de convenções internacionais pelo PR
■ Demissão do Governo e dissolução da AR pelo PR
■ Demissão do Governo pela AR
■ Referenda ministerial de atos do Chefe de Estado

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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CAPÍTULO II - OS ATOS JURÍDICO-PÚBLICOS

SECÇÃO I - A ATRIBUTOS E TIPOLOGIA DO ATO JURÍDICO-PÚBLICO

1§ CONCEITO
Conceito de Ato Jurídico-Público: Toda a decisão imputada aos órgãos de um
ente coletivo que se mostra apta à produção de consequências jurídicas na
prossecução dos fins públicos a que se encontra adstrita.

★ Decisão: Exteriorização da vontade imputável a um ente público. O grau


de vinculação pode ser maior ou menor conforme a natureza da função.
Apesar de geralmente a vontade ser imputada ao órgão de uma pessoa
coletiva que assume natureza pública (ex: Estado Pessoa), existem
situações em que o ato é praticado por um ente de natureza jurídica
privada.

○ Grau de Vinculação:
■ MAIOR: Em funções dominantes como a política que se
decompõe na variantes política strictu sensu e na legislativa
● Variante legislativa: pode se falar em liberdade
conformadora da conteúdo da vontade, variando a sua
intensidade em função de limites paramétricos a que
está submetida pela Constituição, pelo Direito
internacional ou leis interpostas
■ MENOR: Em funções subordinadas ao império da legalidade
como atividade administrativa e jurisdicional
● Atividade administrativa: imperam graus variáveis de
discricionariedade e vinculação na atuação dos centros
de poder executivo
● Atividade jurisdicional: o conteúdo das sentenças pode
ser mais ou menos ativista ou consequencialista tendo
em conta o tipo de jurisdição que as profere, a
margem de indeterminação que a norma aplicada
deixa ao intérprete jurisdicional e a ousadia deste
órgão em roçar ou transpor as fronteiras da separação
de poderes através de “sentenças normativas".

★ Função Pública: Associada aos fins públicos que preenche e ao poder


supra-ordenador de comando que vincula os respectivos destinatários,
confere natureza jurídica-pública ao ato produzido. Traduz-se na produção
de efeitos jurídicos caracterizados pela manifestação unilateral de um
poder de império sobre os seus destinatários assegurado pela
coercibilidade que assiste ao direito

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Art. 3/3 da CRP: Princípio da constitucionalidade dirigido a atos


jurídico-públicos de modo a vincular todas as entidades públicas.

Pressupostos Jurídicos de Ato Jurídico-Público: Parâmetros que


condicionam a prática dos atos jurídico-públicos. Realidades pré-existentes ao
ato e que se devem encontrar indispensavelmente reunidas para que o mesmo
possa ser produzido conforme o direito. Podem assumir natureza subjetiva ou
mista.

★ Natureza Subjetiva:

○ Órgão: Centros institucionais de poder que são unidades funcionais


que, em nome de uma pessoa coletiva pública, exprimem uma
vontade funcional da qual um ato jurídico-público para a
prossecução de um fim. Sem órgão validamente criado para exercer
uma dada competência não existe ato, pois, como o Estado, as
pessoas coletivas carecem de uma estrutura organizatória
institucional para poderem decidir, sendo os órgãos as instâncias
permanentes dessa estrutura. Estes decidem mediante a atuação
de pessoas físicas que são os seus titulares e cujo querer implica
uma ação que envolve uma escolha pública influenciada por uma
pluralidade de condicionamentos.
■ IMPUTAÇÃO: Recondução do ato à vontade gerada por um
órgão em nome de uma pessoa coletiva pública

○ Vontade Psicológica: Formação intelectiva da volição dos titulares


de um determinado órgão quanto à tomada de uma decisão que
assume a natureza de uma ato jurídico-público. Integra os
pressupostos subjetivos do ato, já que, sem uma volição efetiva ou
perfeita, não é possível que um órgão conceba um ato existente ou
conforme o direito. É um requisito para a juridicidade do ato que o
seu titular decida em liberdade e no pleno uso das suas faculdades.
■ VONTADE DECLARADA: Sucede a vontade psicológica,
configurando a forma e a figura do ato decidido.

★ Natureza Mista: Apresenta uma dimensão subjetiva e objetiva

○ Competência: Atribuição do poder funcional de aprovar atos


jurídico-públicos no âmbito de uma determinada matéria e nos
limites de um determinado espaço e tempo a um órgão.
■ COMPONENTE SUBJETIVA: Implica que o seu exercício por
parte de um órgão a quem o mesmo poder é cometido

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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■ COMPONENTE OBJETIVA: Supõe o reconhecimento normativo


de uma potestas exercida ao abrigo de uma função do
Estado-Ordenamento e no âmbito de uma determinada
matéria e espaço territorial.

Elementos Fundamentais do Ato Jurídico-Público: Forma e conteúdo.

★ Forma: Modo como o ato é produzido e revelado.

○ Procedimento Produtivo: Cada órgão tem uma competência a que


corresponde um poder funcional de praticar atos, cuja formação
ocorre por um itinerário específico composto por uma sequência
lógica e encadeada de outros atos que concorrem para a formação
de um ato final.
■ CONSTITUIÇÃO: Regula diretamente um número reduzido de
processos produtivos (apenas leis da AR, tratados e acordos
internacionais, referendos nacionais e declaração de estado
de exceção). Contudo, impõe aos restantes atos formalidades
produtivas que devem ser respeitadas no seu procedimento
genético (ex: nos decretos lei fixa o critério de deliberação
determinado, a fase de controlo de mérito presidencial e a
audição obrigatória de certos órgãos).

○ Revelação em Sentido Estrito: Legenda ou título jurídico que é


posto ao ato formado ou declarado com base no procedimento
produtivo e que permite a sua identificação interna.
■ CONSTITUIÇÃO: Estipula expressamente os títulos formais
dos atos legislativos, os títulos de certas normas atípicas da
função política e os títulos dos atos políticos stricto sensu
(art. 112/1 e 166).

★ Conteúdo: Reconduz-se ao seu objeto e fim.

○ Objeto:
■ OBJETO IMEDIATO: Disposições materiais que configuram a
vontade declarada. Tirando os atos políticos em sentido
estrito, existe uma geometria variável na liberdade
conformadora do legislador na definição do objeto imediato e
da prossecução dos fins constitucionais do ato, estando os
limites internos a essa liberdade fixados na Constituição e em
legislação reforçada.
■ OBJETO MEDIATO: Existindo no domínio abstrato, é o
conjunto de situações fáticas ou jurídicas sobre o qual a
declaração incide.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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○ Fim: Escopo ou objetivo que o ato visa preencher

Tipos Elementares de Atos Jurídico-Públicos: Seguindo critérios fixados pelo


Prof. Jorge Miranda

★ Critério da Vontade:

Atos Livres: Atos Devidos:

O seu autor goza da faculdade de os O seu autor é obrigado a praticá-lo -


praticar - ex: veto do PR ex:veto de inconstitucionalidade do PR

Atos Simples: Atos Complexos Unipessoais: Atos Complexos Pluripessoais


ou Procedimentos Complexos:

Praticados Implica um concerto de Resultam do concerto de


por um só vontades diversas de órgãos vontades de órgãos, alguns de
órgão - ex: e titulares pertencentes à pessoas coletivas distintas - ex:
nomeação do mesma pessoa coletiva - ex: processo de revisão do estatuto
PM pelo PR procedimento legislativo político-administrativo das
parlamentar de iniciativa do regiões, iniciado pelas suas
Governo ou dos deputados assembleias e aprovado pela AR

Decisões: Deliberações:

Atos de vontade singular - ex: decretos Atos jurídicos de vontade imputados


presidenciais de atos livres do PR. a órgãos colegiais - ex: AR

★ Critério do Objeto:

Atos Declarativos: Atos Constitutivos:

Atestam uma situação jurídica já Geram um novo “status jurídico”,


constituída - ex: declaração de cria, modifica ou extingue situações
inconstitucionalidade jurídicas - ex: leis

Atos-Condição: Atos-Objeto:

Vinculam o conteúdo de outros atos, Vinculados pelos atos condição -

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

sendo pressupostos necessários da sua ex: decreto-lei complementar ou


produção ou validade - ex: lei de bases decreto-lei autorizado
da reserva parlamentar sobre os
decretos-lei complementares

Atos Não Normativos: Atos Normativos:

Decisões públicas não legislativas com Implicam aprovar leis e outros atos
conteúdo individual e concreto - ex: atos jurídico-públicos de conteúdo geral
políticos e atos administrativos e abstrato - ex: regulamentos

Atos de Eficácia Interna: Atos de Eficácia Externa:

Esgotam a sua produtividade na esfera Projetam os seus efeitos em


jurídica do órgão que o emite - ex: atos destinatários diversos do órgãos
administrativos aprovados por atos da AR que o emitem - ex: leis

NOTA: Uma lei é considerada pelo supremo tribunal de justiça sempre uma
norma, independentemente do seu carácter ser, ou não, geral e abstrato. Sendo
que os restantes atos normativos a generalidade e abstração têm de ser fins
preenchidos. O Prof. CBM acredita que não tem que esta definição do STJ para
lei deixa muito a desejar.

2§ OS ATOS NORMATIVOS
Ato Referendário Nacional: Modo de expressão da democracia semidireta que
combina a vontade representativa dos órgãos do poder político que o propõem
(AR e Governo) e o convocam (PR), com a vontade do eleitorado que o aprova
ou rejeita mediante sufrágio (democracia-direta). Ocorre no exercício da função
política strictu sensu, tratando-se de um instituto de expressão da vontade
popular que incide sobre questões de “relevante interesse nacional” a serem
decididas pelo Governo ou Parlamento (art. 115 nº1 e 3 CRP).

★ Natureza Jurídica do Referendo: Embora a convocação seja um ato


político inscrito na competência do PR, a decisão referendária, para o Prof.
CBM, não se reduz a um ato da mesma natureza

○ Doutrina do Prof. Jorge Miranda e do Prof. Gomes Canotilho: O


referendo vinculativo é um ato político não normativo pois incidir
sobre matérias da competência legislativa dos órgãos de soberania
não o converte em norma.
■ PROF. JORGE MIRANDA: Compara o resultado referendário
positivo a leis de autorização legislativa por existir um
sentido normativo fixado ao ato legislativo subsequente.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Doutrina do Prof. CBM: Discorda que o resultado vinculativo do


referendo tenha uma densidade reguladora demasiado abstrata e
etérea para ser lei, pois a CRP e as leis de base apresentam
princípios normativos igualmente genéricos e com menor densidade
reguladora. Daí que uma resposta negativa emita um comando
proibitivo e uma positiva condicione a alteração da legislação.
Defende que o referendo, e os seus efeitos de ordem positiva, são
semelhantes a uma lei de autorização, à qual se não nega conteúdo
normativo, logo o referendo também tem conteúdo normativo.

★ Objeto do Referendo: Questões de relevante interesse nacional que


devem ser decididas pelo Governo ou Parlamento através da aprovação de
convenção internacional26 ou ato legislativo (115/1 e 3 da CRP), excluindo
alterações à constituição, questões e atos de conteúdo orçamental,
tributário ou financeiro, matérias do art. 161 (excepto tratados para a
construção e aperfeiçoamento da UE) e matérias de reserva absoluta de
competência da AR (excepto bases do sistema de ensino)

★ Âmbito e Extensão do Referendo: Incide sobre uma só matéria (115/6


CRP) para evitar manipular a resposta ao afastar da questão principal,
sendo o número máximo de perguntas de três (art. 1 e 7 da Lei
Referendária), excepto em convenções internacionais pois há só há uma.

★ Formulação da Questão Referendária: As questões devem ser


objetivas, claras, precisas e de “sim” ou “não” (115/6 CRP), para evitar
confusão nos leitores e ambiguidade a interpretar os resultados.

★ Síntese Procedimental do Referendo:

○ Iniciativa:
■ INICIATIVA PRIMÁRIA (115/1 CRP): Compete à Assembleia
da República e ao Governo mediante resolução parlamentar
ou do Conselho de Ministros, devendo incidir as propostas
nas matérias da sua competência
■ INICIATIVA CONDICIONADA27 (115/2 CRP): Reconhecida a
grupos de cidadãos eleitores (no mínimo 75 mil pela Lei do
Referendo). O seu carácter condicionado decorre do facto da
Constituição determinar que o impulso referendário só se
formaliza como iniciativa legislativa se não for rejeitado pela
Assembleia da República. No fundo, este é um instituto de
petição atípica exercida junto do Parlamento.

26
Contra a doutrina do Prof. Jorge Miranda, o Prof. CBM entende esta expressão a abranger
tratados e acordos internacionais
27
Chamada pelo Prof. Jorge Miranda de “pré-iniciativa em sede parlamentar”

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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○ Controlo Preventivo e Obrigatório da Constitucionalidade e


Legalidade (115/8 CRP): O Presidente da República submete,
obrigatoriamente, pela forma imperativa do preceito mesmo
quando não pretende convocar o referendo, as propostas
referendárias a um controlo preventivo da constitucionalidade e
legalidade junto do Tribunal Constitucional nos 8 dias subsequentes
à publicação da proposta parlamentar, sendo que este tem 25 dias
para se pronunciar (art. 26 e 27 da Lei do Referendo). Em caso do
TC declarar a proposta não inconstitucional o PR tem 25 dias para
decidir se convoca o referendo (art. 34 da Lei do Referendo).

○ Convocação (115/1 CRP): O PR tem plena liberdade política para


convocar o referendo, mediante decreto, que lhe seja proposto, não
estando sujeito a referenda ministerial (art. 140 CRP), nem
podendo a sua recusa ser superada por confirmação parlamentar.
As propostas de referendo não podem ser renovadas na mesma
sessão legislativa, salvo nova eleição da Assembleia da República
ou demissão do Governo (115/10 CRP).

○ Princípios e Regras Eleitorais: Princípios gerais de direito eleitoral,


com as devidas adaptações (art. 113/1 a 4 e 7 da CRP)

★ Capacidade Eleitoral Ativa para o Referendo: Participam todos os


cidadãos eleitores residentes em território nacional e no estrangeiro, se
regularmente recenseados e com laços de efetiva ligação à comunidade
local, quando a questão recaia sobre matérias que lhes digam respeito
(art. 115/12 CRP). Podem participar cidadãos de países de expressão
portuguesa em situação de igualdade de direitos políticos (art. 15/3 CRP)

★ Efeitos do Referendo:

○ Pressupostos para a produção de efeitos jurídicos: Número de


votantes mais de metade dos eleitores do recenseamento (115/11)

○ Efeitos Puramente Políticos: Se o número de votantes não atinge


metade dos eleitores inscritos no recenseamento, o referendo tem o
efeito político de consulta não vinculativa. Contudo, o seu peso não
deve ser negligenciado, já que o poder político em Portugal se
verga psicologicamente à vontade expressa diretamente pela
maioria do eleitorado, operando como fonte de legitimação, ou não,
das políticas públicas. Assim, ainda que nenhum dos referendos até
2008 tenha tido a votação necessária, fazendo a decisão não
vinculativa, o decisor político acatou sempre o seu sentido.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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○ Efeitos jurídicos no contexto de uma resposta negativa: Sentido


normativo de conteúdo proibitivo que impede o legislador
parlamentar de aprovar o ato legislativo ou convenção internacional
sobre a matéria na parte que corresponde às perguntas negadas,
salvo nova eleição da AR ou novo referendo de resposta afirmativa
(art. 243 da Lei do Referendo), sendo que novas propostas de
referendo com resposta negativa do eleitorado não podem ser
renovadas na mesma sessão legislativa, salvo nova eleição da AR,
ou, se for iniciativa do Governo, até à formação de novo Executivo
(art. 244 da Lei do Referendo). O PR está vinculado a não
promulgar a lei que desrespeite o sentido negativo do ato
referendário, sob pena de ilegalidade (art. 112/3 e 281/1b CRP).

○ Efeitos jurídicos no contexto de uma resposta positiva: Se a decisão


referendária for vinculativa, a Assembleia da República e o Governo
têm, respetivamente, no máximo 90 ou 60 dias para para aprovar a
convenção internacional ou o ato legislativo que corresponda à
decisão referendária (art. 241 da Lei do Referendo). O Presidente
da República não pode vetar o diploma por motivos que resultem
do sentido do referendo (art. 243 da Lei do Referendo), contudo,
pode promover a fiscalização preventiva do mesmo ato. Se o
Governo ou o Parlamento não respeitarem o prazo, dá-se uma
inconstitucionalidade por omissão.
■ APROVAÇÃO DE CONVENÇÃO DESCONFORME O REFERENDO:
● Se o ato normativo for aprovado depois da renovação
da AR por nova eleição ou pela formação de novo
Executivo não há obstáculos à sua validade
● Viola o art. 24028 da Lei do Referendo se o ato
normativo for aprovados em distonia com os limites
circunstanciais referidos no número anterior

★ Referendos regional e local: O referendo de âmbito regional (art.


115/13 e 232/2 da CRP) é de iniciativa da Assembleia Legislativa da
Região, cabendo o poder de o convocar ao Presidente da República e
incidindo sobre matérias de “relevante interesse específico regional”,
aplicando-se o art. 115 com as devidas adaptações. O referendo local (art.
240 CRP) incide sobre matérias de natureza administrativa da
competência de órgãos autárquicos.

Declaração dos Estados de Exceção:

★ Estados de Exceção (art. 19 CRP): Estados de necessidade pública


integrados, excepcionalmente, numa legalidade de crise em que há
28
No entendimento do Prof. CBM

72
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

sacrifício transitório de bens jurídicos de menor essencialidade por lesão,


ou ameaça de lesão, dos bens mais essenciais do ordenamento estadual.
Traduz-se na suspensão de alguns direitos, liberdades e garantias.

○ Distinção entre estado de sítio e estado de emergência:


■ GRAVIDADE: Os pressupostos do estado de exceção (19/2
CRP) devem assumir maior gravidade no estado de sítio do
que no de emergência (19/3 CRP), sendo usado o princípio
da proporcionalidade aferir (19/4 CRP)
■ SUSPENSÃO DE DIREITOS: O estado de emergência tem um
carácter parcial quanto à suspensão de direitos (19/3 CRP)
■ INTERVENÇÃO DAS FORÇAS ARMADAS: Só tem lugar no
estado de sítio.

★ Natureza e conteúdo do decreto presidencial de declaração:


Compete apenas ao Presidente da República a declaração dos estados de
exceção (art. 134/d CRP), contudo, este é um ato complexo por implicar a
concorrência de atos de controlo de outros órgãos constitucionais. A
declaração é uma norma atípica de função política:

○ Natureza normativa do decreto presidencial: Necessidade de editar


critérios de decisão de conteúdo geral que determinem
especificamente a suspensão, no todo ou em parte, de direitos,
liberdades e garantias susceptíveis de ser serem abrangidos pela
mesma declaração (19/6 da CRP) e fixar limites a essa suspensão,
condições de intervenção de forças militares, caso tal seja
necessário, e regras sobre a sua duração e âmbito territorial

○ Essência não legislativa do decreto: O Chefe de Estado, sendo


quem o declara, não é titular da função legislativa, pelo que o
decreto não se encontra incluído na reserva de lei, o que,
conjugado com a liberdade primária que subjaz à prática do ato, o
seu conteúdo necessário (19/4 e ss. CRP) e com a preferência das
suas regras sobre as leis e outras normas da função política,
permite extrair o conteúdo político do referido ato.

○ Natureza vinculada da referida norma: Vincula-se à Constituição e à


lei do estado de sítio e estado de emergência incluída na reserva de
lei orgânica (19/7, 164/e e 166/2 CRP).

73
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

PARTE III: A LEI NO ORDENAMENTO PORTUGUÊS

CAPÍTULO I - A TEORIA DA LEI

SECÇÃO I - INTRODUÇÃO AO SUBSISTEMA LEGISLATIVO

SUBSECÇÃO I - ACEÇÃO DE LEI NA ORDEM CONSTITUCIONAL PORTUGUESA DE


1976

3§ A LEI NA ORDEM CONSTITUCIONAL DE 1976


Lei: A Constituição não define explicitamente o conceito de lei (art. 18, a
contrario sensu), apresentando critérios positivos e negativos para a sua
caracterização. Existe uma controvérsia quanto a este tema relativamente ao
facto de que os atos individuais e concretos ou gerais e concretos, que no Estado
social intervencionista são aprovados com a forma de lei, assumem efetiva
natureza legislativa.

Conteúdo da lei - Posições Doutrinárias:

★ Visão Radicalmente Substancialista - Prof. Luís Pereira Coutinho:


Defende a existência de uma materialidade necessária ao conteúdo das
leis, rejeitando a construção a contrario sensu do 18/3, pois esta geraria
uma solução que não vai de encontro à ideia de Estado de Direito
democrático (art. 2 CRP), na medida em que este impõe limites ao
conteúdo da lei ao limitar o poder político e os poderes do Estado que
devem ser exercidos à margem de arbitrariedade, imponderabilidade,
imprevisibilidade e incontrolabilidade, e porque não permite que se infira
um princípio geral não excepcionado. Para além disso, obrigaria o
Presidente e a Assembleia à prática de atos administrativos ao exercerem,
por exemplo, poderes de controlo, fenómeno que não tem qualquer
representação na Constituição, pelo que levaria à irracionalização da
atividade do Estado. Deste modo, uma lei ou decreto lei só deveriam ser
tidos como constitucionalmente válidos caso assumissem um conteúdo
geral e abstrato, só sendo excepcionalmente possível a existência de leis
inovadoras que prescindiam de um ato administrativo de aplicação.

★ Visão Substancialista Pragmática - Prof. Jorge Miranda: Admite a


validade de leis individuais concretas desde que tenham, por trás, uma
prescrição ou um princípio geral, mas que, idealmente, se justificaria uma
lei em sentido material. Deste modo, se a Assembleia da República

74
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

aprovasse uma lei que se resuma a um ato administrativo, esta vai ser
uma inconstitucionalidade orgânica, pois a AR não é titular de funções
administrativas.

★ Prof. Paulo Otero e Manuel Afonso Vaz: Admitem a validade de atos


administrativos praticados sob forma legal ou de leis de conteúdo idêntico
a um ato administrativo desde que a essas leis se apliquem as exigências
constitucionais impostas aos atos administrativos, como a obrigatoriedade
de fundamentação ou justificação.

★ Visão Politicista e Formalista - Prof. Gomes Canotilho e MRS:


Aceitam a validade de conteúdos individuais e concretos assumidos pelos
atos legislativos quando estes são conforme com as regras e os princípios
constitucionais, sem prejuízo do disposto do 268/4 da CRP. Contudo,
reconhecem uma reserva do ato administrativo no âmbito dos poderes do
Governo que não é plenamente apropriável por lei parlamentar.

Conteúdo da lei - Prof. Carlos Blanco Morais:

★ Apreciação crítica às teses substancialistas:

○ A aceção constitucional de lei tem de partir daquilo que a lei é no


Direito Constitucional positivo, pelo que os próprios princípios
estruturantes do Estado, como o da separação de poderes e do
Estado de direito democrático, devem ser interpretados à luz do
sistema político de governo vigente e da teleologia do exercício da
função legiferante à luz da Constituição concreta e positiva.

○ Salvo nos casos em que a Constituição impõe à lei conteúdos gerais


ou gerais abstratos, ela exibe sensível indiferença quanto ao
conteúdo dos comandos legislativos, habilitando, implicitamente, o
decisor legislativo a desenhar ou recortar o mesmo. Daí que a
leitura a contrario sensu do art. 18 da doutrina substancialista
(todas as leis têm de ser gerais) seria converter o art. 18 em uma
não imposição ou previsão inútil por parte do legislador, pois não
faria sentido ter uma exigência de materialidade só para certas leis
se todas deveriam revestir conteúdo material.

○ A construção consubstancialista obrigaria à inconstitucionalidade de


todos os atos legislativos singulares editados desde a primeira
revisão constitucional (1982), em que os princípios do Estado de
direito e da separação de poderes se assumiram num contexto
plenamente democrático. O que, à luz do princípio da segurança
jurídica, seria altamente danoso.

75
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Apesar do princípio do Estado de direito democrático supor, na sua


relação conectiva com o corolário da separação de poderes, que
nenhuma função do Estado se substitua a outra, o poder expansivo
das funções primárias ou dominantes é incomparavelmente maior
do que o das funções secundárias. Logo, se uma lei de conteúdo
individual e exequível por si mesma ocupar o espaço que,
idealmente, seria de um ato administrativo, dificilmente se poderia
falar da sua inconstitucionalidade (excepto se violasse um dos
limites de revisão), à semelhança dos casos com as leis ordinárias.

○ Conclusão: Não é possível erigir a imposição genérica do paradigma


de “lei geral e abstrata”, independentemente de tal ser, até,
desejável. Eventualmente, tal poderá ser possível no quadro de
uma futura recomposição das funções do Estado em que a
intervenção legislativa na economia recue e em que as leis
parlamentares se passem a ater ao domínio da materialidade
normativa.

★ Exclusão de uma acepção puramente formal de lei:

○ A supremacia da função legislativa pressupõe a faculdade de a


mesma poder, em certa medida, reger domínios da função
administrativa, contudo, é necessário entender o alcance desta
sobreposição.

○ O regente29 defende que não existe na Constituição de 1976 uma


reserva geral de administração, mas sim uma pluralidade
circunscrita de espaços reservados (domínios reservados à
administração central e autónoma). Assim, no espaço
governamental existem domínios que decorrem de imposição
implícita da Constituição ditada pelo princípio da separação de
poderes entre órgãos de soberania (art. 111/1 CRP), que assegura
a existência de uma margem útil de poder do próprio governo em
face do Parlamento para poder concretizar a lei no universo
administrativo, desde que a respeitando, e com a garantia que esta
não vai assumir o conteúdo de um puro ato concretizador.

Lei e Regulamento:

★ Orientações do tribunal constitucional para a sua relação:

29
Assim como o Prof. Gomes Canotilho, Marcelo Rebelo de Sousa e o Tribunal Constitucional

76
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ A Constituição não restringe o âmbito da competência legislativa


geral, nem confere ao Governo uma reserva de competência
originária regulamentar em certas matérias.

○ No exercício da competência administrativa, compete ao Governo,


no espaço não ocupado pelo legislativo, determinar o conteúdo do
ato regulamentar exigido pela boa execução da lei, sendo que a
Assembleia da República só pode exercer competências de
fiscalização.
■ O Parlamento quando legisla tem de respeitar a separação
entre os órgãos de soberania, logo não pode usurpar as
funções próprias do governo - ex: administração direta do
Estado
■ Um ato legislativo parlamentar não pode revogar um
regulamento, sem, previamente, revogar a norma legal que o
habilitou30.
■ A relação do Governo com a Assembleia é de autonomia e de
prestação de contas, pelo que o Governo não pode ser
vinculado a exercer o seu poder regulamentar (ou legislativo)
por instruções ou injunções da Assembleia da República, nem
esta pode exercer a sua função de fiscalização de modo a
esvaziar o núcleo essencial das funções do Governo.

○ O poder vertical de regulação da lei não é ilimitado, existindo um


domínio material mínimo de reserva à administração, com especial
relevo para o governo, à luz do princípio de separação de poderes.

★ Impacto da sucessão de leis no tempo na esfera regulamentar:

○ Caducidade: Segundo o CPA, um regulamento vai caducar pela


verificação do respetivo termo ou verificação da sua condição
resolutiva, quando a isso o regulamento estiver sujeito, ou então
pela revogação das leis que os regulamentam, salvo se forem
compatíveis com a lei nova ou enquanto esta não for
regulamentada.
■ A revogação da lei exequenda permitir que as normas do
primeiro regulamento se mantenham em vigor, se não forem
incompatíveis com a lei nova, é uma grande salvaguarda dos
princípios de eficácia administrativa e de segurança jurídica,
pois previne que se gere falta de orientação, paralisia

30
O Prof. CBM não concorda por considerar que a revogação de um regulamento pelo Parlamento
sem alterar a norma legal em que este está assente não entra no núcleo essencial das funções do
Governo, já que a Assembleia não emite um novo regulamento, apenas deixa que uma lei (que tem
hierarquia superior), revogue um regulamento (que tem uma hierarquia inferior)

77
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

administrativa ou vazios jurídicos dispensivos e lesivos para


direitos e interesses protegidos na lei dos administradores.
■ No caso de regulamentos independentes, se a sua lei
habilitante for revogada e substituída por outra que
apresente disposições diferentes, deve ser alterado o
regulamento antigo para se ajustar à nova lei, sob pena de
ilegalidade superveniente.

○ Revogação inter-regulamentar: A Administração não pode revogar


regulamentos de execução de leis em vigor ou da União Europeia
sem que essa revogação seja acompanhada por uma nova
regulamentação, de modo a evitar vazios jurídicos. Assim, no caso
de ainda não existir nova regulamentação, permanece o diploma
revogado em vigor.

Lei e Ato Administrativo:

★ O Prof. CBM levanta dúvidas relativamente à constitucionalidade de


decretos-lei que disponham sobre os domínios próprios da reserva de
administração por interferir na reserva de forma e na de atividade. Daí
que possam incorrer em "excesso de forma” os decretos-lei que
disponham sobre áreas nucleares da reserva administrativa.

★ Outra questão controversa será saber se existe uma reserva


administrativa do Governo em face do Parlamento no respeitante ao
exercício das competências de direção, superintendência e tutela (art.
199/d CRP). É difícil estabelecer um limite objetivo, assim, considera-se
que a lei parlamentar pode dispensar em certos casos a prática de atos
administrativos e assumir uma natureza consumptiva ou auto-aplicativa,
desde que não resuma o seu conteúdo a um ato dessa natureza.

Síntese sobre a problemática do conceito e do conteúdo da lei: A


positividade dos critérios constitucionais implícitos favorece as teses que
caracterizam a lei em razão da sua forma, conteúdo político e força geral. Isto
porque a Constituição identifica taxativamente a lei na base de uma tipificação
formal e hierárquica, e apenas impõe exigências de generalidade ou abstração
no seu conteúdo a um número circunscrito de leis.

★ Conteúdo Político: Elemento característico que deriva do critério político


de decisão que subjaz à deliberação da lei. A atividade legislativa que
legitima a produção legal transporta, como subvariante da função política,
uma política pública de regulação legal. A liberdade de escolha inere ao
domínio do político, sendo inseparável da formação e do conteúdo da lei.

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Luísa Braz Teixeira

★ Forma: O princípio da tipicidade das formas de lei (art. 112/1 CRP)


determina a inexistência de atos legislativos fora dos três tipos específicos
nele previstos.

★ Força Geral de Lei: Elemento consequencial que integra a caracterização


de ato legislativo. Noção compósita resultante do nexo causal entre
superioridade hierárquica da lei sobre as demais normas de natureza não
política dos poderes constituídos e a potência jurídico-normativa que dela
resulta em termos operativos, sendo uma potência de valor. A ideia de
uma força unitária de lei determinada pelo valor hierárquico do ato
estriba-se no princípio da legalidade (art. 203/2 e 266 CRP) e nos efeitos
relacionais do princípio da tipicidade da lei (art. 112/5 CRP).

CAPÍTULO II - CATEGORIAS DE ATOS LEGISLATIVOS


1§ ATOS LEGISLATIVOS COMUNS E ATOS COM VALOR REFORÇADO: NOÇÃO GERAL
Atos Legislativos Comuns: Atos cujo procedimento corresponde ao itinerário
geral de produção ordinária da Constituição (não têm caráter especializado ou
agravado associado a, por exemplo, uma reserva parlamentar absoluta) e cujas
normas se encontram investidas de uma hierarquia comum relativamente aos
demais atos legislativos (art. 112/1 e 2 da CRP).

Leis com Valor Reforçado: Todas as normas legais que, nos termos da
Constituição, se devem fazer respeitar, passiva ou ativamente, por outros atos
legislativos, sob pena de ilegalidade destes últimos (art. 112/3 e 281/1b CRP).

★ “Respeito Passivo”: Associado a procedimentos agravados de produção,


como o das leis orgânicas, das leis aprovadas por ⅔ e das leis cujas
respetivas normas impedem a sua revogação por outros atos produzidos
através de um procedimento distinto.

★ “Respeito Ativo”: Aptidão de certas leis de condicionarem, nos termos


constitucionais, o conteúdo de outras, constituindo-se como seu
parâmetro necessário, como sucede com as leis de bases, de
enquadramento ou de autorização.

2§ INTRODUÇÃO À GÉNESE DAS LEIS COM VALOR REFORÇADO NO DIREITO


COMPARADO E NO DIREITO NACIONAL
Noção de Lei Reforçada na Constituição Atual: A revisão de 1997 optou pela
criação de um bloco composto por leis de regime heterogéneo que pudessem

79
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funcionar como padrões de controlo de legalidade de outras leis, tendo em conta


alguns critérios.

★ Dois critérios procedimentais: Tirados do art. 112

○ Leis orgânicas enquanto subcategorias procedimentais.

○ Leis aprovadas por maioria de ⅔ cujo reforço se centra na sua


maioria qualificada para aprovação.

★ Critério material da parametricidade pressuposta: Leis que sejam


pressuposto normativo necessário de outras, ou seja, que apresentem um
poder subordinante em relação ao conteúdo subordinante de decretos-lei
que às mesmas se encontram submetidos (art. 112/2 CRP) - ex: leis de
autorização legislativa, de base ou de enquadramento.

★ Critério Residual da imposição ativa e passiva de respeito: Critério


indeterminado que dita que são reforçadas as lei que, nos termos da
Constituição, devem ser pelas outras respeitadas, absorvendo os critérios
já referidos e abarcando outras leis reforçadas extravagantes como:

○ Leis de base ou de enquadramento do universo concorrencial: Não


sendo ato-condição ou pressuposto necessário da emissão de
outras, devem ser respeitadas pelos atos legislativos que venham a
ser emitidos.

○ Leis duplamente reforçadas: Devido à sua força passiva ditada por


um procedimento agravado ou pela sua parametricidade material
relativamente a outros atos legislativos - ex: lei do orçamento de
Estado, estatutos político-administrativos das regiões autónomas,...

★ Critérios Centrais: Os quatro critérios já referidos podem ser reduzidos,


teleologicamente, a estes dois:

○ Procedimento especial e agravado soldado numa reserva


parlamentar, ostentando uma maior rigidez ou força passiva do que
a legislação comum.

○ Parâmetro material de outras leis por constituírem seu pressuposto


necessário ou porque devem por elas ser respeitadas.

Critério não dogmático da definição de lei com valor reforçado: Vão ser
leis de valor reforçado aquelas que, nos termos da Constituição, devem ser
respeitadas por outras leis, constituindo o sistema de fiscalização da legalidade

80
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

(art. 112/3, 280 e 281 CRP), isto porque se vê impossível a definição de este
tipo de lei em função de um regime jurisdicional extrínseco às mesmas.

Críticas (Prof. CBM) à Noção de Lei de Valor Reforçado da Revisão 1997:

★ Noção excessivamente abrangente: Desfigurou-se a noção dogmática


preexistente reforçada na rigidez, para a converter num “albergue
espanhol” de leis com regime totalmente dissemelhante.

★ Duplicação do sistema de fiscalização da constitucionalidade: Nos


processos de controlo concreto e abstrato sucessivo os sujeitos com
legitimidade ativa para desencadear os processos são os mesmos, tal
como as regras de admissão dos recursos, a tramitação processual e os
efeitos da decisão de ilegalidade ou inconstitucionalidade, levantando a
questão para a razão de ser de um instituto praticamente igual a outro.

★ Instituto esquecido ou subsidiarizado pela Justiça Constitucional:


Relação de desvalor face à ilegalidade pois, sempre que uma lei é ilegal e
inconstitucional, o que quase sempre sucede, o vicio mais grave
(inconstitucionaliade) consome o menos grave (ilegalidade), não sendo
tomado conhecimento deste último.

★ Originalidade duvidosa do sistema português: Os sistemas


estrangeiros de Justiça Constitucional recorrem à inconstitucionalidade
indireta para solucionar a violação de leis materialmente paramétricas e à
inconstitucionalidade formal para a lesão das leis reforçadas pelo seu
procedimento.

★ Falta de Substrato: Depois da supressão das leis gerais da república em


2004, o instituto de controlo de legalidade passou a estar afeto a apenas
os estatutos político-administrativos das regiões insulares, já que uma
violação das leis orgânicas será sancionada pelo Tribunal Constitucional
em sede de inconstitucionalidade formal e a violação de leis de
autorização legislativa ou de reserva parlamentar é reprimida em sede de
inconstitucionalidade orgânica.

○ Sugestão para uma próxima revisão constitucional: Eliminação do


controlo da legalidade dos estatutos político-administrativos e
recondução da noção de lei de valor reforçado ao seu conceito
tradicional de lei rigidificada devido ao seu procedimento agravado.

★ Criteriologia tecnicamente deficiente: Mistura não cumulativa de


critérios formais (maioria agravada, a título de exemplo) e materiais
(conceito indeterminado de lei pressuposta).

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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★ Conduziu a soluções absurdas: Permitiu até 2004 a atribuição do valor


de lei reforçadas às leis gerais da república que constituíam, até à data, a
esmagadora maioria da legislação ordinária do Estado. A ideia de que a
legislação ordinária era regra e as leis reforçadas a exceção (art. 112/1 e
5 CRP) foi invertida em razão de uma hiperinflação das leis reforçadas.

Leis Reforçadas em Sentido Próprio ou Impróprio e Leis Duplamente


Reforçadas:

★ Leis reforçadas em sentido próprio: Leis ordinárias rigidificadas pelo


procedimento - ex: maioria das leis orgânicas e das leis aprovadas por
maioria de ⅔

★ Leis reforçadas em sentido impróprio: Atos legislativos materialmente


paramétricos que estabelecem, por imposição de hierarquia constitucional,
relações de hierarquia substancial sobre outros atos legislativos - ex:
maioria das leis de base e leis de enquadramento e as leis de autorização
legislativa.

★ Leis duplamente reforçadas: Cumulam os predicados das duas


categorias anteriores, ou seja, são reforçadas tanto pelo seu
procedimento agravado relativamente à legislação ordinária como pelo
facto de vincularem materialmente o conteúdo de outras leis - ex:
estatutos político-administrativos, lei do Orçamento de Estado, assim
como alguns leis orgânicas e atos de procedimento agravados que
revestem a natureza de leis de base e de enquadramento.

3§ APRECIAÇÃO NA ESPECIALIDADE ÀS CATEGORIAS LEGAIS COM VALOR REFORÇADO


Expansão Desordenada das Leis de Valor Reforçado: Em 22 anos, pela
força de sucessivas revisões constitucionais, o número de matérias integradas
em reservas de leis e de imposições legais reforçadas pelo procedimento cresceu
exponencialmente de 4 para 25, realidade inédita em qualquer ordenamento
europeu ocidental.

★ Desvantagens: Este fenómeno de rigidificação crescente do direito


ordinário, mais do que estabilizar a lei, bloqueia desnecessariamente a
fluidez da legislação ordinária em áreas onde tal não se justifica, limitando
o âmbito material do princípio democrático na decisão legislativa, adiando
decisões de ordem constitucional e revelando um grau extremo de
conflitualidade e de insegurança entre os decisores parlamentares que
descrêem na legitimidade da lei comum e se refugiam no carácter
materialmente pactício das leis sujeitas a procedimentos agravados.

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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★ Excesso de procedimentos agravados da Constituição: Por vezes até


se acumulam vários na mesma lei, o que convida à fácil ocorrência de
inconstitucionalidades na génese das leis reforçadas, à eclosão de
antinomias com o direito comum e à incerteza junto dos operadores, pois
apenas especialistas se podem orientar no meio de um labirinto de
legislação caleidoscópica em que as mesmas leis podem ser portadoras de
normas fabricantes de forma diversa e carregar diferentes valores.

Finalidade Constitucional dos Procedimentos Agravados na Fase de


Aprovação:

★ Critério Minoritário de Decisão e Democracia de Consenso:

○ Critério Minoritário de Decisão Legislativa: Unidade de conta


seletiva que legitima a decisão adotada pela maioria simples dos
votos obtidos num colégio determinado, configurando. De um ponto
de vista utilitário é o método mais adequado para servir a
governabilidade, contudo, só por si, não apresenta uma dimensão
axiológica para poder servir de substrato a qualquer tipo de ordem
de domínio, não revelando qualquer “verdade política”. Para além
disso, tendo em conta o sistema institucional em que surge, a
democracia representativa, surge como método e não fim, pois uma
realidade metódica não se assume como algo fundado para
qualificar a essência material de outro método.
■ PRINCÍPIO DEMOCRÁTICO NO SEU SENTIDO POLÍTICO:
Fundamento legitimador da democracia representativa e do
critério maioritário de decisão por pressupor que é através do
consentimento popular que o poder político recebe a sua
legitimação para decidir em nome de uma dada coletividade,
devendo a expressão desse consentimento respeitar um
conjunto de condições substanciais de carácter necessário.

★ Reforço da Componente Parlamentar dos sistemas políticos: Os


critérios de decisão sustentados em maiorias qualificadas favorecem o
protagonismo bloqueador de minorias intensas na génese e na alteração
do direito, especialmente num cenário parlamentar conformado por
maiorias compósitas e consociativas, catalisadas tendencialmente por um
sistema eleitoral proporcional. As leis com valor reforçado agravadas na
sua fase de aprovação acabam, então, por refletir a incidência do
"princípio da minoria”, em derrogação do "critério maioritário”. Regista-se,
assim, que o fim constitucional do seu estatuto reforçado se prende
igualmente à necessidade de pacificar e estabilizar disciplinas normativas
que se repercutem no regime político e económico, no sistema político e
na forma de Estado

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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Leis Orgânicas:

★ Matérias (art. 166/2, 164 e 255 CRP):

○ Matérias político-institucionais de âmbito nacional


■ LEIS ORGÂNICAS RELATIVAS À FORMAÇÃO DA VONTADE
POLÍTICA GERAL: Eleição dos titulares dos órgãos de
soberania, regime dos referendos e eleições não
especificadas de entidades públicas realizadas por sufrágio
directo e universal
■ LEIS ORGÂNICAS ATINENTES À SEGURANÇA NACIONAL:
Defesa nacional, base de organização, funcionamento,
reequipamento e disciplina das Forças Armadas, regime do
estado de sítio e de emergência e regime jurídico do sistema
de informações da república e do segredo de Estado.
■ LEIS ORGÂNICAS CONCERTANTES À GARANTIA
JURISDICIONAL DA CONSTITUIÇÃO: Lei do Tribunal
Constitucional

○ Disciplinas de direitos fundamentais de natureza política


Associações e partidos políticos e aquisição, perda e reaquisição da
cidadania portuguesa

○ Matérias relativas à autonomia territorial: Podem se decompor em


domínios de natureza:
■ ELEITORAL: Eleição dos deputados às assembleias
legislativas das regiões autónomas, eleições para os titulares
de órgãos de poder local)
■ FINANCEIRA: Regime das finanças das regiões autónomas,
compreendendo as relações financeiras entre estas e o
Estado
■ ORGANIZATIVA: Lei-quadro das regiões administrativas.

★ Mecânica operativa da reserva de lei orgânica: Integram reserva


absoluta de competência da Assembleia da República, excluindo a
possibilidade de decretos-leis ou decretos legislativos regionais poderem
dispor sobre matéria correspondente sob pena de inconstitucionalidade
orgânica. Ainda, a reserva de procedimento agravado vai induzir a uma
inconstitucionalidade formal qualquer lei parlamentar aprovada com
distinto procedimento que disponha sobre o domínio material reservado
da lei orgânica.

○ Leis orgânicas materialmente paramétricas: Lei orgânica de bases


sobre as forças armadas (art. 164/d CRP) e lei-quadro sobre as
finanças das regiões autónomas (art. 164/t CRP).

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Requisitos formais:

○ Título formal específico e numeração privativa: Necessária aposição


de uma legenda ou título privativo “lei orgânica” no ato legislativo
produzido seguido de uma numeração exclusiva (art. 166/2 CRP).

○ Aprovação:
■ FASE CONSTITUTIVA: O trâmite principal agravado e
permanente que determina maior força jurídica passiva ou
rigidez da lei orgânica radica nesta fase e reside na sua
aprovação em votação final global pela maioria absoluta dos
deputados em efetividade de funções (art. 168/5 CRP)
■ FASE DE APROVAÇÃO DA LEI NA ESPECIALIDADE: Ocorre
para apenas algumas subclasses de leis orgânicas e, em
regra, processa-se mediante aprovação das normas por
maioria simples (art. 116/3 CRP). Contudo, há algumas
exceções que:
● Carecem de aprovação na especialidade em plenário
por maioria de ⅔: art. 148, 149 e 239/3 CRP
● Precisam de aprovação integral na especialidade pela
maioria absoluta dos deputados efetivos: art. 255 CRP

○ Controlo de Mérito - o veto qualificado (art. 136/3 CRP): Se o


Presidente vetar politicamente o decreto, a superação do mesmo
veto processa-se mediante confirmação do diploma por maioria de
⅔ dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta
dos deputados em efectividade de funções (veto presidencial
qualificado). Pretende-se não deixar repousar a edição destas leis
apenas num assentimento parlamentar alargado, exigindo-se a
aquiescência do Chefe de Estado. Apenas matérias que exibam
larguíssimo consenso parlamentar, mormente entre os dois grandes
partidos, permitem a superação do veto presidencial

○ Fiscalização Preventiva: Apresenta algumas especialidades:


■ ÓRGÃOS LEGITIMADOS A DAR INÍCIO AO PROCESSO: Existe
um alargamento Primeiro-Ministro e a ⅕ dos deputados da
Assembleia da República (art. 278/4 CRP).
■ PROMULGAÇÃO DO PRESIDENTE VEDADA:
● Durante um prazo de 8 dias volvidos sobre o envio do
mesmo diploma ao Primeiro-Ministro e aos grupos
parlamentares pelo Presidente da Assembleia da
República, para que os mesmos possam ter um prazo
suficiente de reflexão para suscitar a fiscalização
preventiva (art. 278/7 CRP)

85
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

● Enquanto o Tribunal Constitucional não se tiver


pronunciado sobre a questão (art. 278/7 CRP)

★ Critérios temporais de qualificação das normas legais orgânicas:


As leis ordinárias aprovadas antes das revisões constitucionais de 1989,
1997 e 2004, que disciplinavam sobre as matéria que têm vindo a ser
integradas na reserva orgânica, não se qualificam como “leis orgânicas"
por consequência da aplicação do critérios tempus regit actum e por não
integrarem os elementos típicos de identificação e qualificação das leis
orgânicas

Leis e Disposições de Leis Aprovadas por Maioria de ⅔: A normação legal


prevista no 168/6 da CRP, sem prejuízo da politicidade do seu conteúdo, abarca
matérias e instrumentos normativos de natureza distinta, sendo que algumas
dificilmente se conseguem considerar leis.

★ Sub-espécies de atos legislativos “hiper-forçados” pelo


procedimento:

○ Leis aprovadas por maioria de ⅔: O regime procedimental que


consagra a necessidade de maioria de ⅔ dos deputados presentes,
desde que superior à maioria absoluta dos deputados efectivos,
para a aprovação de leis e normas legais tem, primeiramente, por
objeto, as alíneas a) e c) do 168/6 da CRP. Contudo, a Constituição
não declara a maioria necessária para aprovação das leis na
votação na generalidade e na especialidade, pelo que o regente
considera que, face à ambiguidade e por existir precedente de
disposições legais que carecem de aprovação na especialidade por
maioria de ⅔, que esta maioria se aplicará na votação na
generalidade, na especialidade e na votação final global.

○ Disposições de leis aprovadas na especialidade por maioria de ⅔: A


Constituição não explicita em qual das fases de aprovação deve
surgir a maioria agravada. O regente considera que deve ser na
votação da especialidade, aquela em que o diploma é votado norma
a norma, apenas, sendo maioria simples nas restantes.

Leis Reforçadas pela sua Parametricidade Material:

★ Leis de Bases: Categoria legal que contém princípios e diretrizes


genéricas, designados de “bases” gerais, que traçam as opções políticas
primárias e fundamentais de um determinado regime jurídico, cuja

86
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

disciplina carece ser desenvolvida e concretizada por legislação


subordinada de carácter comum (art. 112/2, 198/c) e 227/1 CRP).

○ As bases legais vão ser normas:


■ PRINCIPAIS DE CARÁCTER INCOMPLETO: Os seus princípios
normativos e as suas diretrizes não revestem natureza
autoaplicativa, carecendo de mediação e desenvolvimento
por parte da legislação subordinada (198/1c e 227/1c CRP)
■ DOTADAS DE UMA SUPREMACIA HIERÁRQUICA MATERIAL:
Traduz-se numa supra-ordenação funcional em relação à
legislação que proceda o seu desenvolvimento no âmbito da
mesma matéria (art. 112/2, 227/1c e 227/4 CRP)
■ PORTADORAS DE INDIRIZZO POLITICO: Por terem um
programa normativo que permite definir linha irradiadoras de
uma disciplina mínima de carácter uniforme para uma dada
matéria, constituindo um instrumento impositivo de uma
generalidade normativa qualificada e incompleta que opera
como denominador comum de uma multiplicidade de regimes
legais de natureza diversiforme.

○ Competência para a respetiva aprovação: Tanto a Assembleia da


República, como o Governo e as assembleias legislativas regionais
podem aprovar leis de bases. Contudo, o círculo de maior
essencialidade das bases gerais integra-se no âmbito da reserva de
competência legislativa da Assembleia da República, como
manifestação do seu primado no exercício da função legiferante.
■ FACULDADE DE APROVAÇÃO ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA:
● Reserva absoluta: art. 164 al. d) e i)
● Reserva relativa: art. 165/1 al. f), g), h), n), t), u) e z)
● Competência concorrência alternada: art. 161 c)
■ FACULDADE DE APROVAÇÃO GOVERNO:
● Autorização legislativa da reserva relativa da AR: art.
198/1, al. b) conjugado com art. 165/1
● Concorrência alternada com a AR e paralela com as
assembleias legislativas regionais: art. 198/1, al. a)
■ FACULDADE DE APROVAÇÃO ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS
REGIONAIS: Podem aprovar mediante autorização legislativa
decretos legislativos regionais de bases nas matérias
respeitantes a bases gerais previstas na reserva relativa de
competência da Assembleia da República, excepto nas
matérias do 227/1 al. b).

○ Competência para o desenvolvimento das leis de bases e seus


pressupostos: Existe uma divergência doutrinária relativamente a
quem deve ter a possibilidade de desenvolver as leis de bases

87
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

reservadas à Assembleia. O tribunal constitucional considera que é


admissível a concorrência entre a Assembleia da República, o
Governo e as Assembleias Legislativas Regionais em matérias de
âmbito regional. Contudo, o professor regente defende a existência
de uma reserva governamental de desenvolvimento.

○ Categorias de Leis de Bases e respetivo regime:


■ BASES GERAIS RESERVADAS À AR: Podem ser aprovadas
exclusivamente pela Assembleia da República (art. 164 CRP)
ou também pelo Governo e, em certas matérias, pelas
assembleias legislativas das regiões autónomas (bases de
reserva relativa), mediante uma lei de autorização legislativa
(art. 198/1b e 227/1b CRP) que, sendo utilizada como
parâmetro, surge no topo da cadeia, acabando por modelar a
lei de base, podendo revogá-la ou autorizá-la.
● Os órgãos que dispõem competência para desenvolver
as leis de bases só o podem fazer através de ato
legislativo - será inconstitucional se ocorrer mediante
regulamento administrativo (TC)
● Tem de haver observância do domínio imanente da
reserva de bases e princípios, da pré-existente
legislação paramétrica e do correspondente indirizzo
vinculante.
● Quando temos a AR a desenvolver as leis de bases,
primeiro temos de tomar uma posição relativamente
ao facto de isso ser, ou não, possível31. Seguindo a
doutrina maioritária e do TC, em que o
desenvolvimento da lei de bases está no plano
concorrencial, pelo que é legítimo que a Assembleia as
desenvolva:
○ não existe obrigação de invocar a lei de base
parlamentar, pois tal não é exigido na
Constituição
○ não está estipulado na Constituição para as leis
da AR que desenvolvam bases gerais qualquer
necessidade de respeito pelas mesmas -
princípio da competência, pois como a AR pode
aprovar simultaneamente as leis de bases gerais
e as que as desenvolvem, prescinde-se da
necessidade de as respeitar
○ o parlamento pode renunciar a emitir uma leis
de bases e legislar diretamente, desde que a
matéria de legislação esteja cometida à AR.

31
Para o Prof. CBM o governo é que deve desenvolver as leis de bases da AR, pelo que estariamos
perante uma inconstitucionalidade orgânica.

88
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

● O governo e as assembleias legislativas das regiões


devem, necessariamente, respeitar a lei de bases, pois
a sua previsão constitucional (art. 164 e 165 CRP) as
transforma num ato pressuposto (art. 112/3 CRP), ou
seja:
○ o governo e as assembleias legislativas não
podem dispor inovatoriamente sobre o domínio
da normação de princípios ou diretrizes gerais.
○ o governo e as assembleias legislativas não
podem contrariar ou excepcionar princípios e
diretrizes gerais fixados na lei de bases, sob
pena de ilegalidade do ato legislativo.
○ o governo e as assembleias legislativas têm de
invocar obrigatoriamente as bases a cujo
desenvolvimento procedem, sob pena de
inconstitucionalidade (art. 198/3 e 227/4 CRP)
○ o governo e as assembleias legislativas não
podem, em caso de omissão total de normas
legais de base ou princípios gerais equivalentes,
emitir legislação de detalhe sob pena de
inconstitucionalidade orgânica, pois as leis de
base reservadas à AR são um pressuposto
necessário para o exercício da competência
legislativa (art. 112/3, 198/3 e 227/4 CRP)32.
■ BASES DA ESFERA CONCORRENCIAL: Os atos legislativos de
base da esfera concorrencial entre a Assembleia da República
e o Governo podem ser indistintamente editados por estes
dois órgãos de soberania ao abrigo das normas que
fundamentam as suas competências concorrentes (art. 161/c
e 198/1a CRP), pelo que as leis e decretos-leis com esta
natureza se podem revogar, derrogar e suspender
reciprocamente.
● O governo e o parlamento podem legislar no plano do
detalhe, mesmo que não tenham sido aprovadas,
previamente, essas bases gerais, que constituem não
um ato necessário, mas sim eventual.
● Existindo uma lei de bases sobre o tema que vai ser
desenvolvido pelo Governo ou o Parlamento, nada
vincula estes órgãos a respeitar o seu conteúdo.
● Lei de valor reforçado enfraquecida: a menos que o
decreto-lei, facultativamente, invoque uma lei de
bases como seu parâmetro normativo de referência,

32
O TC considera que, em caso de falta de orientação, o Governo poderia suprir as lacunas através
do uso de atos legislativos anteriores, não necessariamente a lei de bases. Contudo, o Prof. CBM
discorda.

89
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

casos em que vai ter de respeitar os seus princípios e


diretrizes (art. 112/2), se o decreto-lei não invocar a
lei de bases pré-existente pode derrogá-la ou
contrariá-la.

○ Aceção Material do Conceito Constitucional de Bases Gerais: Em


muitas leis de bases figuram disposições que não podem ser
figuradas como “bases gerais”, mas sim como regras de pormenor,
insuscetíveis de ser desenvolvidas por outras leis. Nos casos em
que a Constituição fixa uma reserva legal de base, estas são
estranhas à mesma reserva por já serem, em si, normas de
desenvolvimento das referidas bases. Assim, vai existir uma opção
constitucional implícita de noção material de bases em razão da sua
morfologia conteudística e finalista e não por critérios de ordem
formal, ou seja, não é por uma lei se auto-qualificar como lei de
bases que o vai ser, nem por não ter esse designação que não vai
ser. A noção de princípios e de bases gerais dos regimes reclama a
edição de leis de caráter complementar que as desenvolvam, assim,
tal como não podem as bases ser concretizadas por regulamentos
ou atos administrativos, também não podem ser executadas por si
próprias em relações inter-subjetivas.

○ Práticas Legislativas Defeituosas das Bases Gerais:


■ As orientações constantes das bases consistem em opções
fundamentais de política legislativa fundamentadas em
princípios normativos que dispõem de uma liberdade
conformadora ampla para os corporizar e desenvolver,
diretrizes de facere ou non facere e critérios gerais dotados
de algum grau de indeterminação.
■ Nestes termos33, não serão bases gerais as disposições
normativas cuja densidade não consista numa efetiva
liberdade conformadora do legislador complementar para
criar regimes jurídicos portadores de opções políticas fixadas
em normação legal sub-primária, normas que não tenham
qualquer hipótese útil de desenvolvimento, capazes de
produzir eficácia intersubjetiva, que procedam a meras
remissões de regime para outras leis,...
■ Contudo, em matérias da reserva parlamentar onde não
exista qualquer referência a bases, não pode o legislador, por
sua vontade, criar uma lei de bases, já que esta lhe vai estar
vedada pelo princípio da competência, sob pena de
inconstitucionalidade orgânica.
■ O fenómeno de decretos-lei ou leis ordinárias de tipo comum
que reclamam a sua regulamentação por regulamentos
33
dentro de orientações do tribunal constitucional

90
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

administrativos, mas que acabam por ser concretizadas por


um decreto-lei, não se tornam leis de bases como pode ser,
erroneamente, pensado.
■ Uma lei de autorização legislativa, ao fixar o objeto, a
extensão e o sentido de um decreto-lei autorizado para
disciplinar um domínio de bases de reserva relativa de
competência legislativa parlamentar, pode se afastar do seu
fim constitucional de norma habilitante e operar como uma
lei de bases. Neste caso podemos ver dois desfechos:
● inconstitucionalidade material fundada num desvio de
poder
● ver que a lei se pode assumir, simultaneamente,
quanto a certas matérias, como uma lei de bases ou
como uma lei de autorização - posição do tribunal
constitucional a que o regente se opõe.

○ Vicissitudes inerentes à relação de dependência entre bases gerais


e a respetiva legislação complementar:
■ REVOGAÇÃO DE LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR PELA LEI DE
BASES: O papel constitucional das leis de bases não é o de
revogar legislação complementar, mas coexistir com esta.
Contudo, a problemática da revogação põe-se se uma lei de
bases nova pode revogar substitutivamente ou alterar uma
lei de bases precedente.
● Na esfera concorrencial AR-Governo: uma lei de bases
oriunda de um ou do outro órgão pode revogar quer a
legislação que subsista antes mesmo de existirem
bases gerais sobre a matéria como leis
complementares da lei de bases revogada (princípios
de cronologia e de especialidade)
● Dentro da reserva absoluta da AR:
○ Prof. CBM: Como existe uma reserva de
desenvolvimento ao Governo às assembleias
regionais, no âmbito regional, a revogação da
legislação complementar anterior pela lei de
bases seria organicamente inconstitucional.
○ Doutrina Maioritária e TC: É possível que uma
norma legal de bases parlamentar contenha
uma disposição revogatória de legislação
complementar de bases também revogada ou
modificada pela primeira seja juridicamente
admissível ao abrigo da competência genérica
da Assembleia da República. Contudo, surge a
questão de se saber se a disposição revogatória
dessa legislação complementar seria ela própria

91
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

uma base. A resposta parece ser negativa, pois


uma base não é uma norma autoaplicativa.
■ REVOGAÇÃO SUPRESSIVA DE LEI DE BASES NÃO
DETERMINA CADUCIDADE AUTOMÁTICA DA RESPETIVA
LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: Se uma lei de bases vier a
ser revogada sem substituição, isso não vai levar à
caducidade de atos legislativos de desenvolvimento. Isto
porque a lei de bases é um ato pressuposto para o ato
legislativo que a desenvolve apenas quanto ao seu conteúdo
e à sua credenciação, sendo este autónomo em termos de
subsistência. Existe, então, uma relação de subordinação
material entre lei-sujeito e lei-objeto (art. 112/2 CRP), mas
não de subordinação formal. Para além disso, isto decorre de
um imperativo de segurança jurídica, já que a caducidade
seria excessiva e desnecessária.
■ EFEITOS DE ALTERAÇÃO DE UMA LEI DE BASES NA
RESPETIVA LEGISLAÇÃO COMPLEMENTAR: Em caso de uma
nova lei de bases, a legislação subordinada à anterior deve
conformar-se a esta (art. 112/2 e 3 conformados com o
281/1b e 282/2 CRP), sob pena de ilegalidade superveniente,
contudo, não vai haver caducidade das normas legais de
desenvolvimento.
■ DA EMISSÃO DE LEGISLAÇÃO DE DETALHE SEM PRÉVIA
APROVAÇÃO DE UMA LEI DE BASES NUM DOMÍNIO DA
RESERVA PARLAMENTAR: Não existirá diferença entre bases
gerais e legislação complementar se as duas categorias legais
se assumirem como instrumento indispensável para dar
exequibilidade a normas constitucionais não exequíveis por si
mesmas, daí que possamos aplicar a constitucionalidade por
omissão (art. 283 CRP) nestes casos em que a lei de bases
seria necessária para tornar as normas constitucionais
exequíveis.

★ Leis de Enquadramento: Atos legislativos paramétricos de outras leis,


ou seja, normas primárias sobre a normação, que estabelecem vínculos
normativos de densidade variável às normas legais que as desenvolvem
ou concretizam e fixam regras procedimentais que dispõem sobre aspetos
da produção das segundas. Estão investidas de uma supremacia
hierárquica material em face dos atos legislativos que por elas são
conformados em relações especiais de subordinação. Vão apresentar uma
natureza análoga às leis de bases, mas, em tese, podem assumir um
conteúdo mais pormenorizado do que estas quando definem a moldura de
um regime jurídico que deverá ser concretizado por outros atos
legislativos a elas subordinados.

92
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Competência para a edição das leis de enquadramento e seus


diplomas de desenvolvimento:
■ PODER DE APROVAÇÃO DAS LEIS-QUADRO: De acordo com
um setor da doutrina34, as leis-quadro previstas na
Constituição integram a reserva absoluta ou exclusiva do
parlamento. Contudo, o regente discorda, afirmando que o
ordenamento admite a existência de leis-quadro, seja no
âmbito de matérias reservadas à Assembleia da República,
seja na esfera concorrencial entre este órgão e o Governo,
sendo os seus regimes idênticos aos das leis de bases de
reserva parlamentar e da esfera concorrencial, não existindo
qualquer limite negativo na Constituição que precluda a
legislação de ordenamento por parte do Governo (art. 161 al.
c) e 198/1a) CRP).
■ O PODER LEGISLATIVO DE DESENVOLVIMENTO,
CONCRETIZAÇÃO E INTEGRAÇÃO DE LEIS-QUADRO E A
SUBSISTÊNCIA DOS DIPLOMAS COMPLEMENTARES EM FACE
DAS VICISSITUDES NAS LEIS PARÂMETRO: Relativamente às
matérias do hemisfério concorrencial de competências entre
o Governo e a Assembleia da República, aplica-se às leis
quadro as considerações que foram feitas relativamente ao
desenvolvimento de leis de base - os dois órgãos podem
editar tanto as bases como o respetivo desenvolvimento.
Contudo, as leis de enquadramento que fazem parte de
competência exclusiva da Assembleia da República vão, no
seu texto, incumbir um órgão de desenvolver o regime.
■ REVOGAÇÃO NÃO SUBSTITUTIVA DE UMA LEI QUADRO: Não
tem como efeito a caducidade da legislação dela dependente,
aplicando-se, neste caso, também, as considerações feitas a
respeitos das leis de bases
■ SUBSTITUIÇÃO DE UMA LEI QUADRO: Impõe modificações
nos diplomas legais delas dependentes, sob pena de
ilegalidade superveniente dos segundos, dado que a
atribuição de valor reforçado destas leis corre nos termos das
leis de base. Contudo, existem situações em que as
alterações em razão do regime jurídico específico de
parametricidade da lei-quadro não pressupõem a
necessidade de adaptação da legislação - ex: alterações à lei
de enquadramento orçamental após o início da vigência da lei
do orçamento de estado.
○ Conteúdo normativo da leis-quadro: Existe uma ideia geral de que
as leis-quadro vão conter tanto princípios e bases como normas
paramétricas portadoras de um maior detalhe. Contudo, importa
referir que, por um princípio de tipicidade da lei (art. 112/3 e 5
34
Prof. Jorge Miranda e Lino Torgal

93
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

CRP) uma lei reforçada não pode criar novas leis reforçadas - por
exemplo exigir maiorias reforçadas para aprovação.
■ PROF. GOMES CANOTILHO: Refere que ainda podem ter
algumas regras jurídicas estruturantes de algum pormenor
que devem ser respeitadas por outros atos.
■ PROF. JORGE MIRANDA: Considera que as leis-quadro da
reserva parlamentar devem ser normativamente
densificadas, podendo conter disposições procedimentais e
normas sobre a prática de outros atos jurídicos públicos, não
dispensando, contudo, ato legislativo subsequente.
■ PROF. LINO TORGAL: Admite que as leis-quadro podem
conter as referências normativas prototípicas das leis de
bases, não se limitando, contudo, às mesmas pois, mediante
normas dotadas de algum detalhe e densidade,
estabeleceriam os parâmetros e procedimentos a observar
por outros atos legislativos.
■ JURISPRUDÊNCIA CONSTITUCIONAL: Assume que o carácter
paramétrico e habilitante da lei-quadro não obsta a que o
grau de densificação das suas normas possa variar em razão
da sua função específica, surgindo com maior ou menor
detalhe, deste modo pode ter:
● Verdadeiros princípios e bases gerais dos regimes
jurídico: numa linha semelhante às leis de bases
● Normas procedimentais detalhadas: podem
estabelecer regras secundárias ou adjetivas que rejam
a produção dos atos legislativos habilitados e
vinculados materialmente pela mesma lei de
enquadramento
● Critérios gerais inovatórios: essenciais para definir o
regime jurídico, podem, no limite, ser suficientemente
densos para serem diretamente aplicáveis, sendo mais
discutível a sua natureza reforçada.

○ Categorias de leis-quadro:
■ Leis integradas na reserva parlamentar que a Constituição
define explícita, ou implicitamente, como de enquadramento
■ Leis auto qualificadas como de enquadramento, mas que
incidem sobre matéria respeitante às bases gerais reservadas
à Assembleia da República
■ Leis emitidas no universo concorrencial entre a Assembleia e
o Governo e que assim se auto qualificam

○ Desvanecimento de elementos distintivos entre leis quadro e leis de


base: Enquanto as leis de bases assumiram uma natureza
paramétrica puramente substancial, as leis-quadro, podendo

94
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

igualmente conter bases gerais, acrescentaram o quid pluris da


previsão de regras procedimentais detalhadas sobre a produção de
outras leis e, ainda, critérios gerais de apreciável densidade que,
em certos casos, se podem aplicar diretamente em casos de
inexistência da leis de imediação. Contudo, acontece que certas leis
de bases gerais dos regimes jurídicos, como as do ensino, desporto,
ambiente e função pública, assumem, no seu conteúdo, mais uma
lógica de enquadramento do que um regime básico, fixando
determinados procedimentos.
■ LEIS PARAMÉTRICAS MESTIÇAS: Comprometem uma
distinção rigorosa entre bases gerais, leis quadro e regimes
gerais. A dinâmica legislativa criou, deste modo, os
pressupostos para uma gradual integração das leis-quadro na
categoria mais vasta das leis de bases, operando com uma
subcategoria pautada pelo seu quid pluris relativo à fixação
de procedimentos e normas estatutárias. Esta integração
taxonómica, contudo, não absolve a conduta laxista do
legislador em editar leis quadro no domínio reservado às
bases, já que a mesma já começou a levantar problemas
colaterais de constitucionalidade.

★ Regimes gerais: Normas legais da reserva de competência da


Assembleia da República aplicáveis a uma pluralidade indeterminada e
indeterminável de destinatários que admitem a emissão de leis especiais
que regulam de modo diverso, mas não incompatível, várias dimensões de
um objeto comum. São diretamente exequíveis e integram a reserva
relativa da competência do Parlamento, pois compete à Assembleia da
República aprovar regimes gerais no âmbito da sua reserva absoluta (art.
164/r) CRP).

○ Valor Reforçado:
■ POSIÇÃO DA DOUTRINA E DA JURISPRUDÊNCIA
MAIORITÁRIA: Existe uma natureza paramétrica e, por isso,
reforçada, dos regimes gerais. O regime geral coexiste com a
legislação especial, mas não consente a emissão de normas
legais excepcionais ou equivalentes que derroguem ou
contrariem os seus princípios essenciais ou subvertam os
seus fins principais.
■ POSIÇÃO DO PROF. CBM: Em face do 112/3 da CRP será
dogmaticamente muito duvidoso reconhecer valor reforçado
a esta lei. Isto porque os regimes gerais não são instituídos
pela Constituição como normas pressuposto dos regimes
especiais, e a Constituição não impõe que os segundos
respeitem os primeiros. Contudo, o professor reconhece que
importaria que os regimes gerais fossem diferenciados da

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

figura dos regimes jurídicos da reserva parlamentar, os quais


consistem em simples disciplinas de pormenor desprovidas
de parametricidade material

★ Leis de autorização legislativa: A Assembleia da República pode,


relativamente a todas as matérias da sua reserva relativa de competência,
conferir autorizações legislativas ao Governo ou às assembleias
legislativas regionais (art. 165 e 227/2b CRP). Deste modo, estas leis, vão
assumir a natureza jurídica de uma delegação de poderes por suporem
uma norma habilitante que permite a um órgão a faculdade de alocar,
para mais tarde recuperar, uma dada competência a um outro órgão.

○ Previsão constitucional:
■ A Assembleia da República vai atuar como órgão
normalmente competente e os órgãos beneficiários da
autorização como órgãos eventualmente competentes
■ Os atos legislativos autorizados não podem ser emitidos
antes da entrada em vigor da lei delegante que é seu
pressuposto necessário e devem subordinar-se aos limites
que o Parlamento fixar (art. 165/2 e 5 CRP)
■ A lei habilitante vai estar investida numa posição de
hierarquia material em relação aos primeiros diplomas, que
serão inconstitucionais e ilegais no caso de a violarem (art.
112/2 e 3 conjugado como o 281/1b CRP).
■ O Governo e as assembleias legislativas das regiões, ao
tomarem o lugar da Assembleia da República na regulação
dos mesmos domínios, entram com ela no eixo de uma
concorrência derivada por poderem revogar normas legais
parlamentares anteriormente existentes no objeto e âmbito
da autorização, mas podem ter, a todo o tempo, os atos
legislativos que emitam revogados pelo Parlamento, que
continua a poder avocar os seus poderes.
■ Geralmente costuma ser o órgão beneficiário da autorização
a requerê-la, contudo, nada impede que seja o próprio órgão
titular a tomar a iniciativa de delegar os seus poderes.

○ Conteúdo necessários de uma lei de autorização:


■ UMA LEI SUBORDINANTE E DELIMITADORA DO EXERCÍCIO
DE COMPETÊNCIAS ALHEIAS: A lei de autorização legislativa
é uma lei parâmetro de outros atos legislativos que projeta
nestes o seu conteúdo normativo subordinante, devendo
definir o objeto, o sentido, a extensão e a duração da
autorização (art. 165/2 CRP). Não podendo regular
diretamente as situações da vida, mas operando através da
legislação delegada, o conteúdo da lei de autorização é,

96
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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necessariamente, incompleto. A tensão entre lei de


autorização e decreto-lei ou decreto-legislativo regional
autorizado é regulado pelos princípios: da competência (a lei
de autorização delimita o âmbito da matérias onde o órgão
delegado pode fazer incidir a sua legislação subordinada) e
da hierarquia material (a primeira lei pode fixar diretrizes
mais ou menos densas em relação ao conteúdo do diploma
autorizado, que este deve acatar sob pena de invalidade).
● Ilegalidade: o diploma viola o sentido da autorização
(art. 281/1b CRP)
● Inconstitucionalidade Orgânica: o ato legislativo
ultrapassa o objeto e a extensão da autorização,
lesando o princípio da competência, legislando o órgão
sem cobertura habilitante sobre uma matéria.
■ O DOMÍNIO MATERIAL NECESSÁRIO DOS LIMITES FIXADOS
PELA LEI DE AUTORIZAÇÃO - O CONTEÚDO MÍNIMO DO
OBJETO, EXTENSÃO, SENTIDO E DURAÇÃO: As leis de
autorização não se reduzem à enunciação de uma matéria,
dos seus limites fronteiriços gerais e à enunciação de
princípios de reduzida densidade que se limitem a ditar
valores merecedores de respeito ou a autorizações implícitas,
existindo um conteúdo mínimo exigível na lei de autorização,
que, não sendo cumprido, invoca inconstitucionalidade
material (art. 165/2 CRP):
● Objeto da autorização: Enumeração da matéria sobre
a qual a delegação irá incidir e que se reporta a uma
área expressamente prevista no 165/1 da CRP. A
determinação do objeto pode abarcar mais do que um
tema ou assunto, operar por via remissiva, ou ser feita
explícita, ou implicitamente, por referência a atos
legislativos pré-existentes35.
● Extensão: Constitui uma delimitação horizontal e
vertical do objeto, especificando os aspetos da
disciplina jurídica da matéria onde irá incidir a
autorização, sendo que pode verter sobre a totalidade
da matéria ou apenas uma parcela
● Sentido: Implica a configuração do conteúdo do
diploma delegado através da fixação do seu escopo,
fazendo com que a lei não seja inconstitucional se se
contiver na especificação dos fins do ato autorizado em
termos que permitam a perspectivação objetiva das
transformações que irão ser introduzidas na ordem
jurídica em razão da delegação.

35
Prof. António Vitorino

97
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

● Duração da autorização: Deve figurar na lei delegante,


visto que a Constituição é omissa neste ponto.
● Praxis Constitucional: O pedido de autorização
legislativa formulado pelo Governo tem vindo a ser
acompanhado por um anteprojeto de decreto-lei36 que
permite que o legislador que aprova a lei delegante
configure o conteúdo do diploma que o órgão
eventualmente competente pretende editar e
especificar os limites de autorização, no sentido de
habilitar, ou não, o mesmo conteúdo. O anteprojeto
vale apenas como ato instrutório, sendo um
manifestação da relação fiduciária de dois órgãos
legislativos, não existindo qualquer obrigação jurídica
de o legislador delegado emitir um ato legislativo igual
ao do anteprojeto.

○ Cessação da autorização legislativa e outras vicissitudes normativas


conexas: A autorização legislativa cessa em virtude de utilização,
caducidade e revogação:
■ UTILIZAÇÃO: A autorização legislativa não pode ser utilizada
mais de uma vez (art. 165/3 conjugado com o 227/2 e 3
CRP), de acordo com o princípio da irrepetibilidade, logo, se a
autorização for esgotada por um decreto-lei autorizado, esse
não poderá ser alterado ou revogado inovatoriamente por
outro aprovado dentro, ou fora, dos limites da sua utilização.
A utilização plena da autorização predica a cessação da
vigência desta última, pelo que, se o órgão que dela foi
beneficiário pretender modificar ou revogar o ato legislativo
delegado através de outro, deve obter uma nova autorização
para o efeito. Sendo que isto, já exposto, não prejudica que
a utilização da autorização opere parceladamente.
■ CADUCIDADE: A autorização legislativa cessa por virtude do
termo do prazo fixado para a sua utilização, pois se os
decretos-lei autorizados não forem aprovados, promulgados
e referendados dentro do prazo limite para a sua utilização, a
lei de autorização caduca por decurso do prazo, não podendo
mais ser utilizada (art. 165/2 CRP), ou em razão de
vicissitudes que afetem os órgãos, como o termo da
legislatura, a dissolução da Assembleia da República,
demissão do Governo ou dissolução das assembleias
legislativas das regiões (art. 165/4 e 227/3 CRP). No caso
das autorizações legislativas orçamentais que se encontram
contidas na lei do Orçamento de Estado, sempre que incidam

36
este anteprojeto é obrigatório no respeitante às autorizações concedidas às assembleias
legislativas regionais (art. 227/2 CRP)

98
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

em matéria fiscal, as mesmas só caducam no termo da


legislatura (art. 165/5 CRP), de modo a prevalecer a
estabilidade do ano económico.
■ REVOGAÇÕES: A Assembleia da República pode fazer cessar
a autorização legislativa, revogando a lei delegante antes da
sua utilização, ou seja, antes de emitido um ato legislativo
autorizado que a esgote, não podendo, em consequência, o
diploma autorizado vir a ser emitido. Já a revogação da lei de
autorização em período posterior à sua utilização não produz
qualquer efeito na vigência do diploma autorizado, dado que
a componente autorizativa da primeira lei já tinha cessado
com a referida utilização. Contudo, se a autorização já tiver
sido utilizada em parte, a revogação da lei delegante apenas
impedirá o órgão eventualmente competente de legislar
sobre a parcela que integra o objeto da delegação,
relativamente à qual ainda não tenha sido emitida legislação
subordinada. Se a AR aprovar uma lei sobre o objeto da
autorização antes desta ter sido utilizada, entende-se que a
revogou tacitamente, salvo se a primeira lei aprovada tiver
um vigência transitória.

Leis Duplamente Reforçadas: Pelo lado ativo (parametricidade material em


face do conteúdo das outras leis) e pelo lado passivo (rigidez derivada de uma
produção legislativa agravada)

★ Estatutos político-administrativos: Caracterizam-se pela sua natureza


reforçada e pela sua hierarquia superior em relação às demais leis. São
uma lei estruturante da organização e funcionamento das instituições das
coletividades regionais insulares. É uma moldura jurídica de natureza
estadual que, operando como título jurídico subconstitucional da
autonomia regional, assume um papel complementar em relação à CRP,
que se subordina e constitui, por excelência, a metanorma estruturante do
regime de autonomia insular.

○ Objeto:
■ RESERVA DE ESTATUTO:
● Tribunal Constitucional: Considera que existe uma
reserva para o desenvolvimento, explicitação e
concretização das normas da Parte III Título VII da
CRP, ou seja, relativamente à sua definição em relação
a outras pessoas coletivas territoriais, formação,
composição e competência dos órgãos e respetivos
titulares.

99
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

● Conteúdo necessário de estatuto: Quando em falta


incorremos numa inconstitucionalidade por omissão
fundada em défice estatutário37. Todavia, por uma
lógica subtrativa, algumas das matérias, devendo
figurar nos estatutos, acabam por ser subtraídas e
diferidas para outras categorias legais - ex: eleição dos
deputados das regiões autónomas vão ser lei orgânica
(art. 164/j da CRP)
○ natureza da entidade e princípios estruturantes
que enformam o regime da região autónoma
○ componente espacial que limite positiva e
negativamente o âmbito de exercício dos
poderes regionais definidos no estatuto
○ os direitos e obrigações das regiões e a
concretização dos seus poderes do art. 22738
○ os órgãos de governo próprio, as suas
competências, regras fundamentais de
funcionamento e modo de designação e estatuto
dos titulares dos órgãos (art. 226, 227 e 231)
○ aspetos procedimentais relativos à aprovação de
atos jurídico-públicos autónomos
○ regras estruturantes de organização e
funcionamento interno da administração
(financeira, fiscal e patrimonial) regional.
■ “CAVALEIROS ESTATUTÁRIOS” DE LEI ORDINÁRIA SIMPLES:
Normas incluídas nos estatutos e que versam sobre matérias
estranhas relativas ao universo da legislação comum não
reforçada, estando desprovidas de valor reforçado.
Potenciadas pela indulgência da Assembleia da República a
aceitá-las quando propostas pelas assembleias regionais e
pela tolerância do TC.
● Tribunal Constitucional39: Invoca a “fluidez das fontes”
para as não considerar inconstitucionais, apesar de
inaptas para determinar a ilegalidade ou
inconstitucionalidade formal de normas não
estatutárias que as contrariem ou derroguem. Todavia,
esta posição não é consistente, havendo acórdãos em
que não é cumprida - ex: 2009 uso de símbolos de
regiões vedado de ser regulado nos estatutos pelo TC
● Prof. CBM: Considera-as inconstitucionais por excesso
de forma, contribuindo para a insegurança jurídica.
37
doutrina do Prof. Gomes Canotilho apoiada pela regência
38
Depois da revisão constitucional de 2004, o papel da norma estatutária foi valorizado enquanto
sede legal de onde é possível retirar as matérias de âmbito regional sobre as quais vai existir
competência legislativa comum - art. 227/1 al. a) e 228/1
39
Posição adotada pelo Prof. Rui Medeiros e pelo Prof. J. Pereira da Silva

100
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ “CAVALEIROS ESTATUTÁRIOS” DE LEI REFORÇADA: Normas


do estatuto vertem inovadoramente sobre matérias
previamente integradas pela constituição na reserva de
outras leis reforçadas pelo procedimento, diferindo este do
procedimento dos estatutos - ex: lei orgânica. Não podendo
o estatuto, como lei parlamentar reforçada, ser ilegal por
violação de outra lei (já que ele próprio é padrão de
ilegalidade de todas as retantes leis do ordenamento), vai
incorrer numa inconstitucionaliade formal, por regular sobre
matéria reservada a outra lei. Todavia, esta
inconstitucionalidade não vai ter lugar caso resulte de uma lei
de revisão constitucional que inscreva a matéria,
previamente passível de ser regulada nos estatutos, noutra
lei, não obstante, ficará a norma estatutária bloqueada.
■ REMISSÕES LEGISLATIVAS: As normas estatutárias invés de
densificarem uma matéria necessária integrada na reserva de
estatuto, remetem a sua regulação para outros atos
legislativos de valor não estatutário.
● Para Atos Legislativos Estaduais: Apesar de ser
defensável a inconstitucionalidade da remissão
(permite que uma lei geral de procedimento comum
regule uma matéria diferida pela constituição para lei
reforçada estatutária), o Prof. CBM julga que deve
prevalecer a interpretação não inconstitucional de que
um reenvio receptício estatutário para lei de órgão
competente se limita a tornar estatutária uma
disciplina comum para certo efeito. Todavia, não
considera recomendável já que pode criar entropia em
termos de controlo de validade normativa.
● Para Atos Legislativos Regionais: O Prof. CBM
considera inconstitucional, por desvio de poder, que
uma norma estatutária cometa a um órgão
incompetente, como a assembleia legislativa das
regiões, a faculdade de legislar inovatoriamente ou
dispor sobre o conteúdo político de uma matéria
atribuída ao poder exclusivo do Parlamento.
■ REGULAÇÃO DE INTERESSES NÃO REGIONAIS: O estatuto
não está autorizado a suprimir poderes dos órgãos de
soberania e outros órgãos constitucionais do Estado ou a
limitar esses poderes para além do que decorre do mandato
constitucional relativo a essas limitações (ex: não pode
condicionar os poderes dos representantes da república, a
administração estadual periférica ou imprimir valor reforçado
a leis regionais).

101
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ GARANTIA DE SALVAGUARDA DA AUTONOMIA LEGISLATIVA


REGIONAL: Uma vez que a introdução de uma cláusula de
não retrocesso que vedasse aos órgãos de soberania a
possibilidade de reduzirem o diâmetro das competências
anteriormente cometidas às regiões colide com as normas
reitoras de repartição de competências entre o Estado e os
entes regionais que são reserva da Constituição (art. 110/2 e
112/ 1 e 2 da CRP), a única garantia da salvaguarda da
autonomia legislativa regional decorre do limite material de
revisão constitucional (art. 288/o CRP), todavia, esta
garantia não impede que operem reduções das atuais
competências constitucionais das regiões, apenas impede a
eliminação constitucional do tipo de autonomia consagrado
ou supressões relevantes ao núcleo dos poderes regionais
que depreciem ou convertam numa realidade nominal essa
autonomia político-administrativa.
■ RESERVA INTERNA DE LEI REGIONAL: O estatuto pode fixar
o âmbito material da reserva de lei regional, subtraindo-o à
regulamentação administrativa, contudo, o Tribunal
Constitucional considera que a lei que consome essa reserva
não deve ser absolutamente exaustiva na regulamentação,
havendo que deixar todo um necessário conjunto de
pormenores para concretização a fazer por regulamento. Esta
visão destina-se a evitar o risco de completo esvaziamento
das competências administrativas dos governos regionais.

○ Hierarquia e Rigidez: Atributos complementares, mas autónomos.


■ HIERARQUIA: Formal ou material, deriva da “parametricidade
erga omnes” do estatuto (art. 281/1 al. c) e d) CRP) que lhe
permite vincular materialmente qualquer lei ordinária do
ordenamento jurídico português, mesmo se reforçada e
revogar, em tese, normas legais que se insiram no âmbito do
seu objeto necessário, seja como disposições sobreponíveis
ou subordinadas - reconhecida pelo TC.
■ RIGIDEZ: Destina-se a garantir o valor hierárquico,
impedindo a sua subversão através de uma hipotética
revogação das leis estatutárias por parte de outras leis
parlamentares sucessivas de carácter comum. Vai surgir
como consequência de dois tipos de agravamento
procedimental (art. 226) um de ordem geral e outro parcial:
● Agravamento produtivo de ordem geral: Concretiza-se
na reserva de iniciativa das assembleias legislativas
regionais, carente de qualquer condicionamento
temporal, e na existência de um parecer obrigatório
vinculativo produzido pelas assembleias regionais na

102
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

eventualidade da Assembleia da República rejeitar o


projeto deliberado pelos órgãos da regiões autónomas
ou lhe introduzir alterações.
● Agravamento produtivo de especial: As normas
estatutárias das regiões autónomas que enunciam as
matérias que integram o respectivo poder legislativo
estão sujeitas a uma aprovação por maioria de ⅔ na
especialidade (mas não na votação final global) - art.
168/6, al. f) da CRP.

★ Leis das Grandes Opções dos Planos (Gop): A sua reserva vai
apresentar um caráter “poroso” uma vez que o seu núcleo vai levar em
conta orientações de ordem económica, social, cultural, ambiental,
ecológica e educacional (art. 90 da CRP), sendo de tal modo vasto que se
torna difícil proceder à sua limitação. Assim, a fraquíssima densidade das
suas diretrizes e a ausência de poder de aderência em relação a outras
leis que não o OE, constituem fatores de desproteção radical das normas
legais das Gop em relação a fenômenos de colisão com diferentes atos
legislativos.

○ Relação das Gop com o Orçamento de Estado: Precedência


indicativa das leis das Gop em relação à lei do OE, fazendo com que
a última se deva “harmonizar”40 com a lei das Gop (art. 105/2 CRP)

○ Rigidez: Fundamenta-se na reserva de iniciativa governamental


(art. 161/g da CRP), na necessidade de submissão da proposta de
lei à participação instrutória e consulta não vinculativa do Conselho
Económico e Social e ao acompanhamento da mesma por um
relatório relativo às grandes opções globais (art. 92/1 e 91/2 CRP).
Todavia, a imprecisão da reserva de ato e a débil parametricidade
material da lei levam a que o seu carácter reforçado apenas a
imunize contra revogações e alterações parlamentares expressas de
outras leis carentes das necessárias exigências produtivas, ainda
assim, as leis das Gop devem ser tidas como inderrogáveis pelo ato
que tem por objeto vincular (que é a lei do OE).

★ Lei do Orçamento de Estado:

○ Objeto: A reserva material da lei do Orçamento de Estado é


caracterizada por um núcleo muito compacto no art. 105 da CRP.
Diversamente do que se sucede na maioria das restantes leis

40
implica uma observância ainda mais ténue, significando uma proibição de antinomias graves e
manifestas, tais como derrogações expressas ou contradições insuperáveis em disposições
financeiras de carácter fundamental, pelo que as leis das Gop libertam um poder vinculante de
intensidade mínima.

103
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

reforçadas, a reserva orçamental pode ser alargada a outras áreas


materiais conexas, mormente por via de lei de enquadramento
orçamental, daí que a geometria relativamente variável da reserva
de Lei do OE não compreenda os chamados “cavaleiros
orçamentais”.
■ DIMENSÕES DO CONTEÚDO DA RESERVA ORÇAMENTAL:
● Núcleo Orçamental: Composto pelas receitas
necessárias para cobrir as despesas do Estado e da
Segurança Social, fazendo do mesmo parte os mapas
descritivos das especificações do balanço previsto no
orçamento e as regras organizatórias e ordenadoras da
gestão orçamental.
● Reserva Potestativa de Orçamento: Integrada pelas
chamadas “matérias orçamentais conexas” ao núcleo
do orçamento, conexão que pode assumir uma
natureza diversa, tratando-se de matérias
financeiramente importantes como é o caso da fixação
de taxas e benefícios fiscais nos diversos impostos, as
quais, embora instrumentalmente exógenas ao
orçamento, se revelam indispensáveis para a
regulação coerente e completa do núcleo orçamental.

○ Parametricidade Material: A Lei do Orçamento contém diretrizes


materiais avulsas, tais como limites anuais de endividamento às
regiões autónomas e autorizações legislativas ao Governo que
vinculam materialmente atos legislativos que lhes devem respeito.
As autorizações legislativas em matéria fiscal ao Governo vão
caducar com o termo do ano económico (art. 165/5 CRP) como
regra de estabilidade.

○ Rigidez: O agravamento genérico da Lei do OE decorre da sua


reserva de iniciativa do Governo (art. 161/g CRP) e da “norma
travão” (art. 167/2 e 3 CRP). Deste modo, a rigidez vai se
manifestar pela insusceptibilidade da Lei do OE ser alterada no
decurso da sua execução por iniciativa legislativa da Assembleia da
República, sendo esse mesmo um dos propósitos da sua rigidez, ou
de haver sequer iniciativa legislativa parlamentar que se traduza
numa afetação negativa do equilíbrio orçamental (art. 167/2 e 3).
■ RELAÇÃO FIDUCIÁRIA ENTRE PODERES SOBERANOS: Na
fase de aprovação originária, prepondera a vontade
representativa da Assembleia da República, a qual pode
livremente alterar e até recusar a proposta orçamental do
Executivo. Na fase de execução, domina o poder Governo,
sendo nela que se manifesta com maior acuidade o valor

104
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

reforçado do ato, como processo de defesa da norma contra


iniciativas de alteração de origem parlamentar.

○ Lei de Conteúdo Vinculado: A Lei do OE encontra-se materialmente


vinculada à Lei de Enquadramento Orçamental (LE) pelo art. 106/1,
sendo esta, então, uma lei de valor reforçado por ser pressuposto
necessário da Lei do OE (art. 112/3 CRP).
■ TRATADO SOBRE A ESTABILIDADE, COORDENAÇÃO E
GOVERNAÇÃO NA UNIÃO ECONÓMICA E MONETÁRIA: Na
sequência da crise iniciada em 2008 em que Portugal foi
objeto de assistência financeira, foram feitas alterações à LE
que implicam uma maior vinculação do conteúdo orçamental
a regras estritas, pelo que se põe, agora, a possibilidade de,
por revisão constitucional, esta lei passar a ser aprovada por
maioria absoluta ou de ⅔.

★ Lei-Quadro das Reprivatizações (art. 293 CRP): “Lei de Grandes


Reformas Económicas” introduzida pela revisão constitucional de 1989,
depois da supressão do princípio da irreversibilidade das nacionalizações
efectuadas após abril de 1976. É uma subcategoria-legal, pois sendo uma
lei-quadro, vai ostentar um conjunto de especialidades próprias, como um
procedimento de aprovação e consequente rigidez semelhante ao das leis
orgânicas. Embora a Constituição não a insira expressamente na reserva
absoluta de competência da Assembleia da República, tal inclusão acaba
por resultar implicitamente do art. 293/1 prever a sua aprovação por uma
maioria qualificada dos deputados que integram aquele órgão. Lei
vinculada no seu conteúdo pelos parâmetros materiais do art. 293. Esta
lei não se limita a princípios, devendo assumir um certo grau de
densificação normativa com maior ou menor detalhe.

○ Privatização: Conjunto encadeado de atos jurídicos destinados a


concretizar a transmissão, total ou parcial, de ativos patrimoniais
do setor público para o privado, bem como a habilitar a outorga da
faculdade de gerir ou explorar tais ativos. Opera mediante
aprovação de leis comuns da Assembleia da República ou de
decretos-lei autorizados (art. 165/1, al. l) CRP) que não se
submetem às diretrizes desta lei-quadro.
■ REPRIVATIZAÇÃO: Pressupõe que os bens que se privatizam
já tenham sido objeto de uma titularidade privada, tendo,
contudo, fluído para o setor público. Pelo que esta lei se vai
apenas aplicar às nacionalizações ocorridas no período do 25
de Abril.

○ Reserva de disciplina primária de enquadramento: É da posição do


Tribunal Constitucional e da Regência que, na medida em que uma

105
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

lei ou decreto-lei comum introduza matéria inovadora num domínio


coberto pela função enquadradora do processo de cada
privatização, esses atos serão inconstitucionais por violação da
reserva da lei-quadro (a lei formalmente inconstitucional e o
decreto-lei organicamente).

○ Procedimento agravado e rigidez: Aproxima-se, neste ponto, das


leis orgânicas pela exigência de maioria absoluta dos deputados em
efectividade de funções para aprovação da votação final global.

○ Parametricidade Material: Opera como uma lei-quadro, ditando


princípios vinculantes e fixando procedimentos aos atos legislativos
que, no seu respeito, operam singularmente as diversas
reprivatizações. O Tribunal Constitucional e a doutrina maioritária
consideram-na uma “norma sobre produção normativa” por poder
ditar vínculos de procedimento e conteúdo dos atos
legislativos-objeto que desenvolvem e concretizam esta lei.

○ Questões de Constitucionalidade:
■ ART. 111/1 e 2 DA CRP: Esta lei-quadro atribui ao Governo
competência para proceder a cada reprivatização singular
através de decreto-lei quando, nos termos constitucionais,
esta matéria cabe igualmente na competência concorrencial
entre órgãos de soberania e órgãos regionais (reserva
relativa da AR nos termos do art. 165/1 al. l) CRP).
■ ART. 112/5 DA CRP: A lei não se parece harmonizar com o
Princípio da Tipicidade da Lei ao criar um “decreto-lei
reforçado” respeitante à reprivatização de empresas
integradas no património regional por prescrever uma
reserva de iniciativa regional e um parecer obrigatório e
vinculativo do governo autonómico, especializações que, se
observadas, criam uma maior resistência ao ato.

○ Finalidade: Transparência, relevo material e durabilidade.

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CAPÍTULO III - A ATIVIDADE LEGISLATIVA DOS ÓRGÃOS


CONSTITUCIONAIS DA REPÚBLICA

SECÇÃO I - A ATIVIDADE LEGISLATIVA DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

1§ O PRIMADO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA NO EXERCÍCIO DA ATIVIDADE


LEGISLATIVA
Primado no Exercício da Função Legislativa: O núcleo essencial da atividade
legislativa deve necessariamente radicar na Assembleia da República por força
do princípio da separação de poderes, do que decorre uma reserva de
competência que abarca as matérias mais essenciais, a faculdade de legislar
sobre as restantes matérias e a aptidão para condicionar e controlar o exercício
dessa atividade pelos restantes órgãos. Todavia, quantitativamente, é o Governo
o principal legislador e o autor material da maioria das iniciativas legislativas.

★ Manifestações do Primado Legislativo:

○ Competência legislativa genérica: Permite legislar horizontalmente


sobre todas as matérias não reservadas a outros órgãos (art. 161,
al. c) CRP).

○ Extensa reserva absoluta e relativa da competência legislativa: As


matérias politicamente mais importantes situam-se no domínio do
poder do Parlamento, havendo uma matéria reservada ao Governo
e às Assembleias Regionais muito circunscrita (art. 161, 164 e 165)

○ Leis reforçadas pelo procedimento: Faculdade de se inserirem na


reserva absoluta do Parlamento

○ Leis portadoras de hierarquia material: Sem prejuízo de delegação,


estão na esfera de poder da Assembleia da República.

○ Poder de Autorização: Pode delegar livremente no Governo e nos


Parlamentos Regionais o exercício de funções legislativas e
condicionar o mesmo exercício (art. 165 e 227/1 al. b) da CRP).

○ Controlo do exercício da função legislativa alheia: Mediante o


instituto da apreciação parlamentar que incide sobre todos os
decretos-lei do Governo, exceto os emitidos ao abrigo de reserva de
competência exclusiva do Governo, e sobre os decretos legislativos
regionais (art. 169 e 127/4 da CRP).

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Ação mais limitada do presidente: O veto vai ser apenas suspensivo


e a promulgação vai ter de ocorrer em 20 dias (art. 136).

2§ TIPOLOGIA DAS COMPETÊNCIAS LEGISLATIVAS


Competência Legislativa Genérica (art. 161/c): Reflexo do primado da
Assembleia da República no exercício da função legislativa e traduz-se na
faculdade da mesma legislar sobre todas as matérias (excepto as reservadas ao
Governo pela Constituição), em especial sobre as não discriminadas na
Constituição, compondo o domínio concorrencial alternado com o Governo no
âmbito do qual lei ou decreto-lei posterior revoga lei ou decreto-lei anterior. Esta
competência também supõe a faculdade do Parlamento legislar para todo o
território ou para parte dele, ainda que, em âmbito regional, a legislação
autonómica vá ter preferência aplicativa à luz do princípio da especialidade (art.
228/2 CRP).

Competência Legislativa Reservada:

★ Reserva Absoluta de Competência Legislativa: Supõe a faculdade


exclusiva da Assembleia da República legislar sobre um conjunto de
matérias, com a exclusão total dos demais órgãos legislativos,
abrangendo os aspetos de maior essencialidade política ou que reclamam
a intervenção necessária e não substituível da instância representativa do
povo radicada no Parlamento (art. 161 al. b), d), e), f), g) e h) e 164).

★ Reserva Relativa da Competência Legislativa: O Parlamento pode


legislar a todo o tempo, independentemente de, a pedido do Governo ou
das Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, conceder a estes
órgãos uma autorização legislativa (art. 165, nº2 e ss. CRP), todavia,
pode, a todo o tempo, avocar o exercício da competência que delegou.
Como consequência da relação fiduciária entre o Governo e o Parlamento,
o Governo pode beneficiar de autorização relativamente a todas as
matérias do 165/1, já as regiões, por não terem uma relação fiduciária,
vão ter a sua competência reduzida ao prescrito no 227/1b) da CRP.

3§ A DENSIDADE REGULADORA VARIÁVEL DAS LEIS QUE INCIDEM SOBRE AS DIVERSAS


CLASSES DE RESERVA DE COMPETÊNCIA LEGISLATIVA DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Densidade Reguladora: Nível de concretização ou pormenorização normativa
que comporta o conteúdo de uma dada lei, aferido em termos do grau de
generalidade e abstração das suas regras. Afigura-se uma questão sensível, na
medida em que nalgumas matérias de reserva existe uma total reserva de
densificação (lei parlamentar tem de consumir a integridade do respetivo

108
RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

âmbito, não podendo reparti-lo com decretos-lei ou decretos legislativos


regionais), mas noutras normas legais paramétricas pode ser restringir a uma
disciplina de reduzida densidade.

★ Baixo Grau de Densidade Reguladora: Leis que fixam uma disciplina


primária com normas de grande abstração e generalidade.

★ Elevado Grau de Densidade Reguladora: Leis que editam regimes


especiais com grande detalhe.

Níveis de Densidade Reguladora41:

★ Reserva de Densificação Total de Nível Integral Operada por Leis


da AR: Campo exclusivo de densificação normativa integral e
obrigatoriamente cometido a lei formal do Parlamento e que envolve
algumas matérias de alta essencialidade política da reserva absoluta. A lei
da Assembleia da República é portadora de uma expressiva densidade
reguladora (sem prejuízo de poder ser repartida por legislação geral e
especial editada por este órgão), sendo organicamente inconstitucionais
atos legislativos de outros órgãos que regulem parcelas dessa mesma
matéria que não assumam um conteúdo intrinsecamente administrativo.

○ Requisitos:
■ Toda a dimensão inovadora de uma disciplina normativa que
recai sobre a matéria tenha seja consumida pela lei
■ A lei em consideração seja, necessariamente, um ato
legislativo da Assembleia da República (lei formal)

★ Reserva Parlamentar de Densificação Total de Nível Relativo (art.


165/1 al. a), b) e o) CRP): A lei parlamentar ou o ato legislativo
governamental ou regional autorizados pelo Parlamento devem,
igualmente, consumir ou esgotar toda a dimensão primária ou inovadora
de uma matéria ou domínio material inscrito na reserva relativa de
competência da Assembleia da República. Tal como se sucede no nível
integral de densificação total acima, o ato legislativo deve, através de
normação detalhada consumir todo o domínio inovador de matérias
integradas na reserva parlamentar, não deixando espaço para qualquer
coabitação entre legislação de bases ou de enquadramento emitida por
um órgão e legislação complementar produzida por outro. Contudo,
diversamente do nível anterior, a regulação não cabe apenas a lei
parlamentar, vem, também, de decretos-leis ou decretos legislativos
regionais autorizados pela Assembleia da República.

41
Doutrina dos professores Gomes Canotilho e Vital Moreira e Jurisprudência Constitucional

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Luísa Braz Teixeira

★ Reserva Parlamentar de Lei Geral na Regulação da Reserva


Parlamentar (art. 164/r e 165/1 al. d), e) e h) CRP): A reserva
parlamentar de regulação primária de uma matéria inscrita na sua reserva
absoluta ou relativa restringe-se a normas de conteúdo geral (regimes
gerais), logo o Parlamento ou outros órgãos legislativos podem adotar
disciplinas igualmente inovadoras mas de natureza especial, contidas em
normas naturalmente mais densas ou pormenorizadas

★ Reserva Parlamentar de Bases Gerais ou de Enquadramento da


Reserva Parlamentar (art. 164 al. f), g), t), u) e z) e 165/1 al. d),
i) e n) CRP): Disciplina menos densa da legislação parlamentar,
pressupondo que ao Parlamento se encontra reservada a edição de
normas de normação legal primária, de conteúdo incompleto e caráter
vinculante do conteúdo de outras leis complementares muito mais densas,
editadas pelo próprio órgão ou por outros titulares dessa competência
legislativa de desenvolvimento.

4§ O PROCEDIMENTO LEGISLATIVO PARLAMENTAR


Noção: Sucessão encadeada de atos ou fases tidos como juridicamente
necessários para a produção e revelação de uma norma legal, por parte de um
órgão competente para o efeito. Cada forma legal vai supor um procedimento
próprio com carácter geral.

★ Procedimento Comum: Tramitação-regra atribuída à formação dos atos


típicos de uma forma legal fixada pela Constituição e por normas
regimentais (art. 167 e 168/1, 2 e 3 da CRP).

★ Procedimentos Especiais: Supõem, para a formação dos atos


legislativos, a adoção de trâmites dotados de elementos diferenciados em
relação ao procedimento comum ou principal.

○ Elementos Diferenciados:
■ QUID MINUS: Eliminação de etapas, formalidades e
encurtamento dos prazos do procedimento comum
(procedimentos abreviados)
● Procedimentos de Urgência: art. 170 da CRP e 262 e
ss. do RAR
■ QUID PLURIS: Predica a adição de diversos trâmites
suplementares ao procedimentos comum ou principal que se
podem traduzir em:
● Procedimentos agravados passíveis de implicar uma
limitação efetiva da vontade do decisor legislativo e
um aumento da rigidez da norma legal produzida,

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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convertendo-se, esta, numa lei reforçada pelo


procedimento (art. 112/3 e 168/5 CRP)
● Especialidades adicionais de produção que, contudo,
não implicam limitações jurídicas sensíveis à vontade
do legislador e não influem na rigidez do ato (leis não
reforçadas integradas na reserva de votação na
especialidade em plenário como a do 165/q da CRP e
leis sujeitas a consultas e pareceres obrigatórios, ainda
que não vinculativos, como a legislação da matéria da
Segurança Social)

Fases do Procedimento Legislativo:

★ Iniciativa Legislativa: Momento de instauração, iniciativa ou propulsão


do procedimento legislativo parlamentar, mediante apresentação de um
projeto ou proposta de lei na Assembleia da República, tendo em vista a
sua discussão e eventual aprovação como ato legislativo. Sendo que a
apresentação de um ato de iniciativa legislativa não supõe nenhuma
garantia efetiva de ulterior discussão ou aprovação, podendo o Presidente
da Assembleia da República rejeitar ou indeferir projetos ou propostas de
lei que enfermam de inconstitucionalidades evidentes ou que ostentem
vícios formais que impeçam a sua admissão (art. 120, 124 e 125 do RAR)

○ Competência legislativa e iniciativa legislativa: Os sujeitos a quem é


atribuído o poder de iniciativa não são, necessariamente, os
mesmos a que é atribuída a competência de legislar.
■ COMPETÊNCIA LEGISLATIVA: Pressuposto do ato legislativo,
sendo um poder funcional atribuído a um órgão para aprovar
uma norma legal, em razão da matéria, do território e,
eventualmente, do tempo.
■ INICIATIVA: Estádio inicial e integrativo da componente
formal do ato legislativo respeitante ao procedimento
produtivo da lei.

○ Titulares de Iniciativa:
■ INICIATIVA LEGISLATIVA INTERNA: Vem dos deputados ou
grupos parlamentares pela forma de projeto-lei (167/1 CRP)
■ INICIATIVA LEGISLATIVA HETERÓNOMA/EXTERNA: Exercida
por órgãos constitucionais diferentes do Parlamento ou por
sujeitos inorgânicos sob forma de proposta de lei (art. 167/2
da CRP). Vem (art. 167 da CRP) do Governo, das
Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, em relação
a matérias que lhes respeitem, ou de grupos de mais de

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20mil cidadãos eleitores (art. 6 da Lei da Iniciativa


Legislativa de Cidadãos).

○ Reserva Heterónoma de Iniciativa: Reserva a iniciativa legislativa


de certas matérias a órgãos que não o parlamento, que passa a
dispor de apenas iniciativa derivada, ou seja, pode apenas
apresentar projetos-lei contendo propostas de alteração (art. 127
do RAR) ao ato de iniciativa originária reservado ao outro órgão,
estes projetos podem conter propostas de emenda, aditamento ou
eliminação das normas constantes do ato de iniciativa originária
(art. 167/8 da CRP e 139 do RAR).
■ GOVERNO: Leis das Gop e do Lei do Orçamento de Estado
(art. 161/g CRP)
■ ASSEMBLEIAS LEGISLATIVAS DAS REGIÕES AUTÓNOMAS:
Estatutos Político-Administrativos das Regiões Autónomas e
respetivas alterações (art. 226/1 e 4 CRP), Leis Orgânicas
relativas à eleição de deputados das Assembleias Regionais
(art. 226/4 CRP)

○ Limites ao Ato de Iniciativa:


■ “NORMA TRAVÃO”: Proibição aos deputados, assembleias
legislativas das regiões autónomas ou grupos de cidadãos
eleitores de apresentarem projetos ou propostas de lei que
envolvam, no ano económico em curso, um aumento da
despesa ou uma diminuição das receitas do Estado previstas
no Orçamento (art. 167/2 CRP).
■ MATÉRIA REGIONAL: As Assembleias Legislativas das
Regiões só podem apresentar propostas de lei que incidam
sobre matérias da competência da Assembleia da República
que digam, no todo ou em parte, respeito às mesmas regiões
(art. 167/1 CRP)
■ INICIATIVA VEDADA AOS DEPUTADOS: Vide acima “reserva
heterónoma de inicativa” ↑
■ INICIATIVA VEDADA AOS CIDADÃOS: art. 3 e 4 da Lei de
Iniciativa Legislativa dos Cidadãos

○ Vicissitudes da Iniciativa Legislativa:


■ PROJETOS E PROPOSTAS DE LEI DEFINITIVAMENTE
REJEITADOS: Não podem ser renovados na mesma sessão
legislativa, salvo renovação da Assembleia da República (art.
167/4 da CRP)
■ ATOS DE INICIATIVA LEGISLATIVA APRESENTADOS MAS
NÃO VOTADOS DURANTES A SESSÃO LEGISLATIVA: Não
caducam (art. 167/5 da CRP), não carecendo de renovação
na sessão legislativa seguinte, salvo termo da legislatura

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■ CADUCIDADE: Ocorre com a demissão ou dissolução do


órgão proponente (art. 167/6 e 7 da CRP), salvo as
iniciativas legislativas que já tinham sido votadas na
especialidade, no caso de termo de legislatura da Assembleia
da República (art. 167/7 da CRP).

★ Instrução: Visa recolher dados, pareceres e outros elementos cognitivos


que permitam aos decisores apreciar a oportunidade e o conteúdo da
iniciativa legislativa, podendo implicar um exame puramente interno
realizado em comissão parlamentar e, adicionalmente, a realização de
audições externas a entidades públicas ou privadas.

○ Exame Interno em Comissão: A apreciação em comissão constitui


uma forma de instrução interna e implica a elaboração de um
parecer (art. 135 a 137 do RAR) para o qual se pode proceder a
estudos, requerer informações, pareceres e audição de peritos e
especialistas, requisitar documentos, realizar audições,... (art. 103
e 104 do RAR). Em certos casos, pode ser constituída uma
comissão eventual devido à importância ou especialidade da
matéria. Admitido o projeto, qualquer um dos seus autores tem o
direito de o apresentar perante a comissão competente (art. 132/2
do RAR).

○ Consultas e Audições Externas: A Assembleia da República,


mormente em comissão, procede consultas obrigatórias e
facultativas de entidades externas, podendo ainda realizar audições
individuais ou coletivas (art. 104 do RAR).
■ CONSULTAS OBRIGATÓRIAS EM SEDE DO PROCEDIMENTO
LEGISLATIVO: Determinadas pela Constituição
● art. 54/5 - Direito das comissões de trabalhadores em
participar na elaboração da legislação do trabalho e
dos planos económico-sociais que contemplem o
respectivo sector
● art. 54/6 - Direito das associações sindicais de
participarem na elaboração da legislação do trabalho
● art. 60/3 - Direito das associações de consumidores e
das cooperativas de consumo serem ouvidas sobre
questões que lhes digam respeito, sendo-lhes
reconhecida legitimidade processual para a defesa dos
seus associados ou de interesses coletivos ou difusos
● art. 63/2 - A organização, coordenação e subsidiação
de um sistema de segurança social unificado e
descentralizado é feito com a participação das
associações sindicais, de outras organizações

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RESUMOS DC II - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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representativas dos trabalhadores e de associações


representativas dos demais beneficiários.
● art. 65/5 - Garante-se a participação dos interessados
na elaboração dos instrumentos de planeamento
urbanístico e de quaisquer outros instrumentos de
planeamento físico do território.
● art. 67/2 - Definição e execução de uma política de
família com carácter global e integrado ouvidas as
associações representativas das famílias
● art. 77/2 - Participação das associações de
professores, alunos, pais, comunidades e instituições
de carácter científico na definição da política de ensino
● art. 98 - Participação dos trabalhadores rurais e dos
agricultores através das suas organizações
representativas na definição da política agrícola
● art. 226/2 (e art. 167/1 e 2 do RAR) - Em caso de
rejeição ou alteração do estatuto
político-administrativo de uma região pela Assembleia
da República, o mesmo projeto será remetido,
juntamente com as alterações ou com a deliberação de
rejeição, às assembleias para apreciação e emissão de
parecer, devendo este último, logo que recebido, ser
submetido à comissão parlamentar competente.
● art. 229 - Audição dos respetivos órgãos de governo
regional pelos órgãos de soberania relativamente às
questões da competência dos segundos respeitantes
às regiões autónomas, a qual se realiza, em regra,
depois da fase instrutória.
● art. 249 - Consulta prévia dos órgãos das autarquias
abrangidas por atos de criação ou de extinção de
municípios, bem como de alteração da respetiva área
■ CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL: Órgão de consulta e
concertação no domínio das políticas económica e social que
participa na elaboração das propostas das grandes opções
dos planos de desenvolvimento económico e social e exerce
as demais funções que lhe sejam atribuídas por lei, sendo
composto por representantes do Governo, das organizações
representativas dos trabalhadores, das atividades
económicas e das famílias, das regiões autónomas e das
autarquias locais (art. 91/1 e 2 da CRP).

★ Fase Constitutiva: Exprime-se pela aprovação da lei, prendendo-se com


a manifestação de um ato de vontade normativa pelo Parlamento do qual
resulta a expressão do seu consentimento na formação de um ato
legislativo materialmente perfeito ou completo e, como tal, apto para

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produzir alterações jurídicas no ordenamento, volvida a sua promulgação


e publicação. Antecedendo o momento de aprovação, o ato de iniciativa
será objeto de debate através de uma discussão realizada pelos
deputados sobre a sua forma e conteúdo, a qual pode ser realizada em
plenário ou em comissão (art. 168/1 CRP). Vão existir três fases
aprovatórias:

○ Discussão e votação na generalidade: Porta de entrada no âmago


da fase constitutiva. Pressupõe um debate que incide sobre os
princípios e o sistema do ato de iniciativa, ou seja, sobre o espírito
e a estrutura interna do ato pré-legislativo (147/1 do RAR) durante
um prazo de 18 reuniões plenárias a contar da data de aprovação
do parecer na comissão especializada (149 do RAR). Volvida a
discussão, o projeto ou proposta de lei será votado em Plenário
(art. 168 da CRP), sendo que uma votação favorável apenas
garante que o ato de iniciativa será objeto de votação na
especialidade, não indiciando a sua aprovação nem nessa fase nem
no estádio da votação final. A deliberação parlamentar processa-se
por maioria simples (116/3 da CRP), excepto no caso das leis que
se reportam às alíneas a) e b) do art. 169.

○ Discussão e aprovação na especialidade: Versa sobre cada artigo,


número ou alínea do projeto ou proposta de lei, indo ocorrer
propostas de eliminação, substituição, emenda ou aditação ao texto
(art. 154/1 do RAR). Vai ocorrer em Plenário (art. 169/3 CRP),
todavia, existe uma prática parlamentar42 de que a maioria dos
diplomas sejam discutidos e votados na especialidade nas
comissões, sem prejuízo de o Plenário poder, a todo o tempo,
avocar a si a votação na especialidade a requerimento de, pelo
menos, 10 deputados (169/3 da CRP e 151 do RAR).
■ RESERVA DO PLENÁRIO: Constitui uma exigência de
transparência na discussão e votação, norma a norma, de
diplomas que versem sobre matérias dotadas de especial
sensibilidade em relação à própria Constituição
● Reserva Explícita: Leis que regulam as matérias do
168/4 da CRP (maioria são leis orgânicas) e do 168/5
(relativas à criação de regiões autónomas), sendo que
estas últimas vão pedir maioria absoluta de aprovação
● Reserva Implícita: Leis respeitantes às alíneas a), b),
c), d), e) e f) do 168/6, carecendo de maioria de ⅔,
desde que superior à maioria absoluta dos deputados
efetivos, para serem aprovadas.

42
Prof. Jorge Miranda e Prof. Rui Medeiros chamam de costume contra legem

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○ Votação Final Global (art. 168/1 CRP): Momento culminante da fase


constitutiva que inere à aprovação da lei em que a Assembleia da
República exprime uma manifestação definitiva da sua vontade
normativa com a forma de decreto, sendo o mesmo enviado para a
promulgação do Presidente da República de modo a ganhar
existência jurídica, na medida em que seja promulgado e
referendado ministerialmente. Quando aprovado em comissão, o
texto é enviado para o Plenário para a votação final. Esta etapa, ao
contrário das duas precedentes, não envolve discussão, ainda que
cada grupo parlamentar possa fazer uma declaração de voto oral
(155/3 do RAR)

○ Redação Final: A comissão competente em razão da matéria, ou


aquela que o Presidente da Assembleia indicar, procede à redação
final dos atos aprovados, não podendo alterar o pensamento
legislativo, mas apenas aperfeiçoar o estilo e a sistematização do
texto, sem que se possam registar votos contra (156/1 e 2 do
RAR). Assim, se o preceito vier a ser sujeito de uma ablação de
texto que altere objetivamente o sentido da norma aprovada em
votação final global, deve considerar-se que o mesmo enferma de
inexistência jurídica. A redação tem lugar no prazo que a
Assembleia ou o seu Presidente estabeleçam ou, na sua falta, no
prazo de 5 dias (156/3 do RAR), para depois o publicar no DAR, daí,
qualquer deputado terá 3 dias úteis para reclamar de inexatidões
do texto da redação final (157/1 do RAR)

★ Fase de Controlo de Mérito:

○ Controlo de Mértito: O ato legislativo aprovado pela Assembleia da


República é remetido sob a forma de decreto ao Presidente da
República para a promulgação para que este exerça um controlo
político, apreciando, livremente, o conteúdo do diploma para
formular um juízo de oportunidade positivo ou negativo. O
Presidente vai dispor de 20 dias desde a chegada do diploma para o
promulgar ou vetar (136/1 da CRP) e 8 para suscitar a fiscalização
preventiva da sua constitucionalidade junto do TC, se for caso disso
(278/1 e 3 da CRP).

○ Fiscalização Preventiva: Em caso de dúvida sobre a


constitucionalidade, o Presidente deve enviar o decreto para o
Tribunal Constitucional. Se este declarar o ato inconstitucional, o
Presidente é obrigado a vetar o decreto (veto vinculado ou
translativo - 279 da CRP), acompanhado por uma mensagem
fundamentada com o que é necessário reapreciar, mas se o

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declarar não-inconstitucional, o Presidente tem, novamente, 20 dias


para se pronunciar (136/1 da CRP).

○ Promulgação: O ato de promulgação não significa uma co-decisão


ou responsabilização do Presidente, mas sim que, na contabilidade
entre as hipotéticas valorações positivas e negativas do ato, as
primeiras superam as segundas. Ainda assim, a promulgação, tal
como pode ser simples, pode, também, ser com reservas, caso em
que o Chefe de Estado acompanha o ato promulgatório de uma
mensagem onde exprime preocupações e objeções sobre o ato,
procurando tornar claro o distanciamento entre o presidente e a lei
promulgada43. Podemos qualificar a promulgação em 3 tipos:
■ LIVRE: Decorre da regra geral do 136/1 da CRP
■ OBRIGATÓRIA: Caso das leis de revisão constitucional, dos
decretos já vetados e confirmados pelo Parlamento mediante
maioria qualificada constitucionalmente exigível (art. 286/3 e
136/2 CRP) e das leis conformes a ato referendário de
sentido positivo (art. 242 da Lei do Referendo)
■ VEDADA: Caso de fiscalização preventiva de decreto sujeito a
promulgação como lei orgânica, o Presidente não pode
promulgar nos primeiros oito dias contados desde a recepção
do diploma ou, se for suscitada a intervenção do Tribunal
Constitucional, antes de este se ter pronunciado (278/7 CRP)

○ Veto: Poder de impedimento que preclude a existência do decreto,


devolvendo-o ao Parlamento para que se realize uma nova
apreciação.
■ TIPOS DE VETO:
● Veto por inconstitucionalidade: Sanciona atos
pré-normativos inconstitucionais, sendo um veto
vinculado a uma pronúncia do TC
● Veto Político44: Bloqueia a existência jurídica de atos
pré-normativos relativamente aos quais o Presidente
da República se limita a discorda da oportunidade,

43
DD: Prof. Reis Novais considera que esta promulgação com reservas pode ter um efeito negativo
desvalorização da lei, todavia, o Prof. CBM discorda, uma vez que, sobretudo em cenários de
coabitação, o Presidente não pode vetar todos os diplomas com os quais discorda, sob pena de
criar uma situação insustentável nas relações político-institucionais
44
Possibilidade de um veto político por razões de inconstitucionalidade: Se o Presidente tem
dúvidas de inconstitucionalidade deve promover a fiscalização preventiva e não exercer o veto
político (art. 136/1 conjugado com os art. 278 e 279 da CRP), o qual exprime um juízo de
discordância relativamente ao mérito (jurídico ou político), mas não à legitimidade constitucional
do diploma. Daí que, se invocar explicitamente razões de constitucionalidade para vetar
politicamente, o Chefe de Estado pode incorrer em inconstitucionalidade material por desvio de
poder (fim do veto político não coincide com o que lhe é dado). Todavia, esta inconstitucionalidade
não vai comportar consequências jurídicas, já que, devido à sua natureza não normativa, o veto
não poder ser objeto de fiscalização da constitucionalidade pela Justiça Constitucional.

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sendo um controlo negativo livremente exercido pelo


Chefe de Estado
○ Veto Sanção - supõe uma discordância absoluta
do Presidente em relação ao mérito global do
diploma, devendo essa disposição liminar
resultar do teor de uma mensagem que se limita
a explicar genericamente as razões de
discordância
○ Veto-Construtivo - Implica uma discordância
parcial ou condicionada em relação à
oportunidade do diploma, especificando na
fundamentação do veto as matérias onde
recaem essas objeções e podendo, ainda, a
mesma apontar explícita, ou implicitamente,
algumas pistas para a ultrapassagem do
impedimento presidencial em sede de
reformulação parlamentar
■ RESPOSTA DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA:
● Desistência do diploma: A bancada maioritária pode
não possuir maioria suficiente para confirmar o
diploma, preferir não afrontar o Presidente com a
confirmação ou não encontrar um sentido útil em
reformulá-lo. A iniciativa legislativa não vai poder ser
renovada na mesma sessão legislativa, salvo nova
legislatura (161/3 do RAR)
● Confirmação do diploma: Implica uma só votação e,
caso se suceda, obriga o Presidente a promulgar o
diploma nos 8 dias subsequentes à receção do mesmo
(136/2 da CRP), sendo o veto de bolso proibido)
○ regra geral - em caso de veto simples, vai
ocorrer mediante voto favorável da maioria
absoluta dos deputados em efectividade de
funções (136/2 da CRP), servindo para a
legislação comum e para categorias de leis
reforçadas não orgânicas
○ regra especial - para veto qualificado, vai impor
uma maioria agravada de ⅔ dos deputados
presentes, desde que superior à maioria
absoluta dos efetivos (para diplomas que devem
ser promulgados como leis orgânicas ou sobre
matérias previstas no 136/3 da CRP)
○ lacuna constitucional - se a lei vetada se
inscrever nos atos legislativos sujeitos a votação
final global por maioria de ⅔, pese a existência
de uma lacuna constitucional sobre a maioria

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adequada de superação, entende-se que, por


identidade de razão com as leis orgânicas
(136/3 da CRP), esses decretos vão carecer de
ser confirmados por idêntica maioria
parlamentar, a qual é igual à sua aprovação
originária.
● Reformulação do Diploma: Introdução de alterações
em vista a reapreciação do ato pelo Presidente,
podendo ocorrer a partir do 15º dia contado desde a
receção no Parlamento da mensagem fundamentada
(160/1 do RAR)

○ Fiscalização Sucessiva: Depois da promulgação (art. 281/2a)

○ Referenda Ministerial: Controlo político do Governo sobre os atos do


Presidente da República que se traduz na assinatura por parte do
Primeiro-Ministro, e dos ministros competentes em razão da
matéria, dos atos políticos do Presidente da República enunciados
no art. 140 da CRP, quando em falta teremos inexistência jurídica
deste ato. A prática constitucional da referenda na Constituição
vigente demonstra que o instituto constitui um ato “notarial”, não
havendo história da sua recusa.
■ RECUSA DA REFERENDA: Só faria sentido em situações
extremas, como em caso de promulgação de leis
inconstitucionais de excepcional gravidade (como a
reinstauração da pena de morte) ou da adoção de outros
atos presidenciais inválidos ou ilegítimos que pusessem em
perigo a ordem constitucional democrática, fazendo aí
sentido que o Governo obstasse à sua entrada em vigor,
mediante a referida recusa. Já a recusa como controlo
político ordinário sobre a promulgação presidencial de leis
parlamentares de que o Executivo discorde implicaria um
conflito político de alta intensidade entre o mesmo Governo
de um lado e o Presidente e o Parlamento do outro, sendo
que o Governo seria o elo mais fraco.

★ Fase Integrativa de Eficácia: Obrigatoriedade de publicação das leis


promulgadas no Diário da República, sendo que, a falta da mesma,
importa a ineficácia jurídica do ato (art. 119/1 e 2 da CRP)

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5§ A APRECIAÇÃO PARLAMENTAR DE ATOS LEGISLATIVOS DE OUTROS ÓRGÃOS


CONSTITUCIONAIS
Natureza e Características Gerais do Instituto (art. 169 CRP): A
apreciação parlamentar constitui uma manifestação do primado da Assembleia
da República sobre os restantes órgãos constitucionais no que respeita ao
exercício da função legislativa, traduzindo-se na faculdade da Assembleia, no
respeito de certos limites temporais e circunstanciais, poder apreciar o mérito da
grande maioria dos decretos-leis, bem como dos decretos-legislativos regionais
autorizados, tendo em vista a sua eventual cessação de vigência e modificação,
a qual pode ser precedida por uma suspensão da sua eficácia.

Atos Sujeitos à Apreciação: Todos os decretos-leis, salvo os aprovados ao


abrigo da competência legislativa do Governo (art. 169/1 CRP) e todos os
decretos-legislativos regionais que tenham sido objeto de uma autorização
legislativa da Assembleia da República (art. 227/4 CRP).

Pressupostos, Iniciativa e Admissão: Pode ser requerida por um mínimo de


10 deputados nos 30 dias subsequentes à publicação do ato legislativo que dela
é objeto (169/1 da CRP), sendo que o requerimento deve indicar o decreto-lei e
a sua data de publicação e, caso seja um decreto-lei autorizado, a respetiva lei
de autorização, devendo ainda conter uma sucinta justificação dos motivos
(189/2 do RAR). Aplica-se à admissão do requerimento, as regras
procedimentais previstas nos art. 125 e 126 do RAR relativos à tramitação das
iniciativas legislativas, com as necessárias adaptações (189/3 do RAR)

Votação: A votação na generalidade incide sobre a cessação de vigência (205/1


do RAR), já a votação na especialidade vai ser sobre propostas de alteração,
podendo, depois, ser objeto de uma votação final global (208/1 e 5 do RAR).

Caducidade: Se se não registar pronúncia parlamentar sobre pedido de


cessação de vigência ou, no caso de se ter deliberado introduzir emendas e a
respectiva lei não ter sido votada até ao termo da sessão legislativa em curso,
desde que decorridas quinze reuniões plenárias (169/5 da CRP). Ou, então, se o
Governo, e por analogia as assembleias legislativas regionais, revogarem (art.
197/1 do RAR), respetivamente, o decreto-lei ou o decreto-lei legislativo
regional objeto de alteração. Todavia, se a revogação ocorrer no debate na
especialidade, pode qualquer Deputado adotar o decreto-lei como projeto-lei
(197/2 e 122/2 do RAR).

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Formas de Apreciação Parlamentar:

★ Apreciação Parlamentar para Efeitos de Alteração:

○ Forma de Alteração: Devem revestir a forma de lei (art. 112/5 e


169/2 e 5 da CRP).

○ Procedimento: Previsto no art. 196 do RAR, sendo que em


alterações a decretos-leis autorizados o Presidente deve agendar a
sua participação até à data sexta reunião subsequente à
apresentação do pedido de apreciação (190 do RAR)

○ Suspensão de Vigência: Se for submetido à apreciação um


decreto-lei autorizado e se forem apresentadas propostas de
alteração, a Assembleia da República pode aprovar uma resolução
que suspenda, no todo ou em parte, como medida cautelar, a
vigência do decreto-lei até à publicação da lei que o venha alterar,
ou até à rejeição de todas as propostas de alteração. Evita-se que o
diploma produza efeitos jurídicos precários, potencialmente
prejudiciais e geradores de situações de desigualdades
desnecessárias em relação ao regime legal que seja definitivamente
aprovado após operadas as eventuais alterações. A suspensão
caduca decorridas 10 reuniões plenárias sem que a Assembleia se
tenha pronunciado a título final (169/2 e 3 CRP)

★ Apreciação Parlamentar para Efeitos de Cessação de Vigência:

○ Forma do Ato de Cessação de Vigência: Deve revestir a forma de


resolução da Assembleia da República (art. 169/4 da CRP).

○ Repristinação: A resolução deve especificar se a cessação de


vigência implica a repristinação das normas revogadas pelo diploma
em causa (art. 195 do RAR).

121

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