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RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021

Luísa Braz Teixeira

RESUMOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL I


ÍNDICE:

CAPÍTULO I. ESTADO E ORGANIZAÇÃO DO PODER POLÍTICO 5


SECÇÃO I. INTRODUÇÃO AO ESTADO COMO UNIDADE JURÍDICA E POLÍTICA TERRITORIAL 5
ESTADO E PODER POLÍTICO 5
1.1 SOCIEDADE E PODER 5
1.2 O ESTADO E AS SUAS METAMORFOSES HISTÓRICAS 6
O ESTADO SOBERANO CONTEMPORÂNEO E OS SEUS ELEMENTOS 6
2.1 NOÇÃO 6
2.2 INTRODUÇÃO AOS ELEMENTOS DO ESTADO 7
2.2.1 O POVO 7
2.2.2 O TERRITÓRIO 9
2.2.2 O PODER POLÍTICO E SOBERANO 11
SINOPSE SOBRE AS FORMAS TERRITORIAIS DE ESTADO 12
3.1 O PODER TERRITORIAL 12
3.2 DESCENTRALIZAÇÃO E AUTONOMIA 13
3.3 FORMAS DE ESTADO 14
3.3.1 TIPOLOGIA E ATRIBUTOS DISTINTIVOS 14
3.3.2 MODALIDADES DE ESTADO UNITÁRIO 14
3.3.3 TIPOS BÁSICOS DE FEDERALISMO 15
3.3.4 REGIÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA E ESTADO FEDERADO 15
3.3.5 A REPÚBLICA PORTUGUESA COMO UM ESTADO UNITÁRIO REGIONAL
PERIFÉRICO 16
SECÇÃO II. O ESTADO E A LEGITIMIDADE DO PODER POLÍTICO 17
LEGITIMIDADE E LEGITIMAÇÃO DO PODER 17
2. FORMAS DE LEGITIMIDADE 18
SECÇÃO III: A CONSTITUIÇÃO COMO NORMA DE CÚPULA DA ORDEM JURÍDICA E POLÍTICA
DE DOMÍNIO ESTADUAL: UMA REFERÊNCIA 20

CAPÍTULO II. OS REGIMES POLÍTICOS 20


SECÇÃO I: NOÇÃO E TIPOLOGIA 20
CONCEITO 20
1.1 O MODELO DOUTRINAL OU IDEOLÓGICO COMO IDEÁRIO JUSTIFICANTE DE UMA
ORDEM DE DOMÍNIO ESTADUAL 20
1.2 OS FUNDAMENTOS TÍPICOS DA LEGITIMIDADE DE UMA FORMA DE PODER 21
1.3 O TIPO DE RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE GOVERNANTES E GOVERNADOS NA
DETERMINAÇÃO DA FONTE DO PODER SOBERANO 21
FORMAS DE REGIME POLÍTICO 21
2.2 TIPOLOGIA CONTEMPORÂNEA DOS REGIMES POLÍTICOS 21

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2.2.1 CRITÉRIO FORMAL CONEXO AO MODO DE DESIGNAÇÃO DO CHEFE DE


ESTADO 21
2.2.2 CRITÉRIOS RELATIVOS AO TIPO DE ENVOLVIMENTO DO POVO NA
DESIGNAÇÃO DOS TITULARES DO PODER: DEMOCRACIA E AUTOCRACIA 22
SECÇÃO II: REGIMES DEMOCRÁTICOS 22
SUBSECÇÃO I. EM QUE CONSISTE A DEMOCRACIA COMO REGIME POLÍTICO 22
ETIMOLOGIA E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO 22
O MANDATO REPRESENTATIVO E A SUA NATUREZA 23
PRESSUPOSTOS CONSTITUTIVOS DE UM REGIME POLÍTICO DEMOCRÁTICO 24
3.1 INTRODUÇÃO 24
3.2 NOTA SOBRE OS REQUISITOS DO PROCESSO ELEITORAL 24
3.2.1 ELEIÇÕES LIVRES 24
3.2.2 ELEIÇÕES REGULARES 25
3.2.3. ELEIÇÕES PERIÓDICAS 27
3.2.4. ELEIÇÕES COM ALTERNATIVA E EQUIVALÊNCIA DE OPÇÕES 27
3.2.5. SUFRÁGIO UNIVERSAL IGUALITÁRIO 28
3.3 O PRINCÍPIO DA MAIORIA E O CRITÉRIO DA MAIORIA DE DECISÃO 28
3.3.1. INTRODUÇÃO 28
3.3.2. NOTA SOBRE A CONGRUÊNCIA ENTRE O PRINCÍPIO MAIORITÁRIO E O
SISTEMA REPRESENTATIVO 28
SUBSECÇÃO II. OS ÍNDICES DE QUALIDADE DOS REGIMES DEMOCRÁTICOS29
A EROSÃO DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA 29
1.1 SINTOMATOLOGIA DE UMA CRISE 29
1.2 NOTA SOBRE A CRISE DA REPRESENTAÇÃO E A HIPÓTESE DE EVOLUÇÃO PARA UM
CENÁRIO “PÓS-DEMOCRÁTICO” E PARA UM “CONSTITUCIONALISMO
TRANSNACIONAL” 31
1.2.1 DA “MODERNIDADE PÓS-DEMOCRÁTICA” 31
2. LINHAS DISCURSIVAS DE REVITALIZAÇÃO DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA: AS
DEMOCRACIAS PARTICIPATIVA, CONSOCIATIVA, DELIBERATIVA E SEMI DIRETA 32
2.1 DEMOCRACIA PARTICIPATIVA 32
2.3 DEMOCRACIA DELIBERATIVA 34
2.4 DEMOCRACIA SEMIDIRETA 34
5. AS DEMOCRACIAS LIMITADAS: REGIMES DEMOCRÁTICOS “ILIBERAIS”,
“AUTORITÁRIOS” E “DEFICITÁRIOS” 36
5.1 DEMOCRACIAS ILIBERAIS 36
5.2 DEMOCRACIAS AUTORITÁRIAS 36
SECÇÃO III: REGIMES AUTOCRÁTICOS 37
SUBSECÇÃO I. EM QUE CONSISTE UMA AUTOCRACIA 37
CARACTERIZAÇÃO 37
TIPOLOGIA ELEMENTAR 38
2.2 POSIÇÃO ADOTADA 38
2.2.1 O ESTADO TOTALITÁRIO 38
2.2.2 O ESTADO AUTORITÁRIO 39

CAPÍTULO III. OS SISTEMAS POLÍTICOS EM REGIME DEMOCRÁTICO 41


SECÇÃO I: OBSERVAÇÕES CONCEPTUAIS E TIPOLÓGICAS 41
2. CONCEITO E ATRIBUTOS: SISTEMA POLÍTICO, ESTRUTURA DO PODER 41
INTRODUÇÃO AOS TIPOS ELEMENTARES DE SISTEMAS POLÍTICOS 41
3.1 SISTEMAS PARLAMENTARISTAS 41
3.2 SISTEMAS PRESIDENCIALISTAS 42
3.3 SISTEMAS SEMIPRESIDENCIALISTAS 42

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3.4 SISTEMA DIRETORIAL COMO FIGURA RESIDUAL 42


SECÇÃO II: OS FATORES CONDICIONANTES DA CONFIGURAÇÃO DA DINÂMICA DE UM
SISTEMA POLÍTICO 43
3. A RELAÇÃO INCONTORNÁVEL ENTRE SISTEMA ELEITORAL, DE PARTIDOS E POLÍTICO
DE GOVERNO 43
3.1 SISTEMAS ELEITORAIS 43
3.1.1 CONCEITO 43
3.1.2 TIPOLOGIA ELEMENTAR 44
3.1.4 BENEFÍCIOS E CUSTOS DOS PRINCIPAIS SISTEMAS ELEITORAIS 45
3.2 INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE PARTIDOS 47
3.2.2 TIPOLOGIA 47
3.3 DOS CRITÉRIOS RESPEITANTES AO IMPACTO DO SISTEMA ELEITORAL NO
SISTEMA DE PARTIDOS E DESTE NO SISTEMA POLÍTICO 48
3.3.1. INTRODUÇÃO À TEORIA CLÁSSICA DOS EFEITOS INTERSISTÉMICOS DO
MODELO DE ESCRUTÍNIO ELEITORAL 48
3.3.2 LINHAS DE FORÇA CONTEMPORÂNEAS SOBRE OS EFEITOS DOS SISTEMAS
ELEITORAIS NO SISTEMA PARTIDÁRIO E DESTE SISTEMA POLÍTICO 48
3.3.3 SÍNTESE SOBRE A NATUREZA E AS DIMENSÕES DO IMPACTO DO SISTEMA
DE PARTIDOS EM CADA UM DOS TIPOS DOMINANTES DE SISTEMA POLÍTICO 51
SECÇÃO III: SINOPSE SOBRE OS SISTEMAS POLÍTICOS CONTEMPORÂNEOS 53
SUBSECÇÃO I. OS SISTEMAS POLÍTICOS PARLAMENTARISTAS 53
3. OS “PARLAMENTARISMOS DE ASSEMBLEIA" 53
3.1 NOÇÃO 53
3.3 SÍNTESE SOBRE AS LINHAS DE FORÇA DO PARLAMENTARISMO DE ASSEMBLEIA
NA SUA VERSÃO CONTEMPORÂNEA 53
4. OS PARLAMENTARISMOS RACIONALIZADOS 54
4.1 NOÇÃO 54
4.2 O SISTEMA PRIMO-MINISTERIAL BRITÂNICO COMO MODELO SINGULAR DE
PARTIDARISMO RACIONALIZADO 54
4.2.1 CONSTITUIÇÃO 54
4.2.2 REGIME E SISTEMA POLÍTICO 55
SUBSECÇÃO II. OS SISTEMAS POLÍTICOS PRESIDENCIALISTAS 59
2. O PRESIDENCIALISMO DE DIVISÃO DE PODERES NORTE-AMERICANO 59
2.1 CONSTITUIÇÃO 59
2.1.2. REVISÃO CONSTITUCIONAL 59
2.1.3. CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE 60
2.2 SISTEMA DE GOVERNO 60
2.2.1 O PRESIDENTE 60
2.2.2 O CONGRESSO 63
2.2.3 O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL 65
2.2.4. MECÂNICA ELEMENTAR DO SISTEMA POLÍTICO 65
SUBSECÇÃO II. OS SISTEMAS POLÍTICOS PRESIDENCIALISTAS 66
2. VARIANTES DO SEMIPRESIDENCIALISMO 66
2.1 SEMIPRESIDENCIALISMOS DE PENDOR PRESIDENCIAL: O PARADIGMA FRANCÊS
66
2.1.1 A CONSTITUIÇÃO 66
2.1.2 O SISTEMA POLÍTICO DA V REPÚBLICA 66

CAPÍTULO I. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA 71


SECÇÃO I: A FUNÇÃO PRESIDENCIAL: O PRESIDENTE DA REPÚBLICA COMO CHEFE DE
ESTADO E REGULADOR DAS INSTITUIÇÕES PÚBLICAS 71
SECÇÃO II: LINHAS FUNDAMENTAIS DO SEU ESTATUTO CONSTITUCIONAL 72

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SECÇÃO III: PRERROGATIVAS PRESIDENCIAIS 75


PODERES DE DIREÇÃO POLÍTICA RESPEITANTES A ÓRGÃOS DE SOBERANIA 75
1.1 GOVERNO 75
1.1.1 NOMEAÇÃO DO PRIMEIRO MINISTRO 75
1.1.2 NOMEAÇÃO E EXONERAÇÃO DOS RESTANTES MEMBROS DO GOVERNO 79
1.1.3 DEMISSÃO DO GOVERNO POR INICIATIVA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA
80
1.1.4 ACEITAÇÃO OU RECUSA DO PEDIDO DE DEMISSÃO DO PRIMEIRO MINISTRO
80
1.1.5. PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS MEDIANTE CONVITE 81
1.2 PODERES PRESIDENCIAIS RESPEITANTES À ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 82
1.2.1. DISSOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 82
1.2.2 MARCAÇÃO DE ELEIÇÕES PARLAMENTARES 83
1.2.3 CONVOCAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 83
1.3 PODERES RESPEITANTES A OUTROS ÓRGÃOS CONSTITUCIONAIS 84
1.3.1 PODERES PRESIDENCIAIS AUTÓNOMOS 84
1.3.2 PODERES PARTILHADOS NA DESIGNAÇÃO DE TITULARES DE ÓRGÃOS 85
1.4 PODERES DE CONTROLO SOBRE ATOS EMANADOS DE OUTROS ÓRGÃOS 85
1.5 DECLARAÇÃO DE ESTADOS DE EXCEÇÃO 87

CAPÍTULO II. A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 88


NATUREZA JURÍDICO-CONSTITUCIONAL 88
COMPOSIÇÃO, ESTATUTO E MANDATO DOS DEPUTADOS E PROCESSO DE DECISÃO 91
ÓRGÃOS 92

CAPÍTULO III. O GOVERNO 94


O GOVERNO COMO CENTRO PREDOMINANTE DE IMPULSÃO E DIREÇÃO
POLÍTICO-LEGISLATIVA E ESTRUTURA DA CÚPULA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA 94
COMPOSIÇÃO 95
NOMEAÇÃO E DEMISSÃO DO GOVERNO E DOS TITULARES DE CARGOS GOVERNATIVOS 96
3.1 NOMEAÇÃO E DEMISSÃO DO PRIMEIRO-MINISTRO E DOS RESTANTES MEMBROS
DO GOVERNO 96
3.2 DEMISSÃO DO GOVERNO 96
3.3 INÍCIO, TERMO E SUSPENSÃO DE FUNÇÕES 97
PRIMEIRO MINISTRO 97
COMPETÊNCIAS DO GOVERNO 98
5.1 COMPETÊNCIAS POLÍTICAS EM SENTIDO ESTRITO 98
5.4 GOVERNO EM GESTÃO 100

FATORES POLÍTICOS CONDICIONANTES NA DINÂMICA DO SISTEMA DE GOVERNO


PORTUGUÊS 100
COMPOSIÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA 100
CONFLUÊNCIA OU COABITAÇÃO ENTRE O PRESIDENTE DA REPÚBLICA E A MAIORIA
GOVERNAMENTAL 101
O IMPACTO VARIÁVEL DE PRÁTICAS CONSTITUCIONAIS NO USO DE FREIOS E
CONTRAPESOS 103

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CAPÍTULO I. ESTADO E ORGANIZAÇÃO DO PODER


POLÍTICO

SECÇÃO I. INTRODUÇÃO AO ESTADO COMO UNIDADE


JURÍDICA E POLÍTICA TERRITORIAL

1. ESTADO E PODER POLÍTICO

1.1 SOCIEDADE E PODER


Indivíduo: Ser gregário com tendência para se agrupar em células humanas
mais vastas, tendo em vista a resolução mais eficaz de problemas, a realização
de tarefas de interesse comum, a reprodução da espécie e a sociabilidade.

★ Conflito: A pessoa humana é necessariamente conflitual, uma vez que os


bens são escassos e os indivíduos competem para os obter e devido às
escolhas que suscitam opiniões divergentes, mas que têm de ser
tomadas.

○ Direito: Nasce como meio de resolução de conflitos, tratando-se de


um conjunto de regras que ordenam e disciplinam a conduta
humana, e cuja obrigatoriedade é garantida por sanções. Previne a
justiça pelas próprias mãos e arbitrária.

“UBI SOCIETAS IBI JUS” (onde há sociedade há direito)1

Poder: Possibilidade de eficazmente impor aos outros o respeito da própria


conduta ou de traçar conduta alheia.

★ Poder Político: Forma de autoridade exercida sobre os membros da


sociedade que visa prosseguir e acautelar a realização dos seus interesses
gerais, traduzindo-se na faculdade de criar e impor regras de direito,
dispondo do monopólio do uso da força para as fazer cumprir. Nas
sociedades democráticas deve dominar os restantes poderes, interagindo
com eles2.

1
A Sociedade e o Direito influenciam-se reciprocamente, sendo a ordem jurídica o resultado
dessa relação
2
ex: Regular a iniciativa privada; ditar critérios disciplinadores da liberdade de imprensa; garantir
a separação da Igreja do Estado; limitar o poder familiar,...

5
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1.2 O ESTADO E AS SUAS METAMORFOSES HISTÓRICAS


Estado: Domínio territorial regido por uma autoridade soberana

★ Estado Oriental: De dimensões imperiais com fronteiras pouco definidas,


e um poder quase arbitrário sobre povos muito diferentes. A sociedade
dividia-se em classes rígidas e o poder político e religioso misturavam-se.

★ Cidade-Estado Grega: Estados de pequeno território e fronteiras difusas.


Apesar de étnica e socialmente homogéneas, havia privilégios que eram
concedidos somente aos cidadãos, sobre outras classes menores.

★ Estado Imperial Romano: Grandes dimensões territoriais em que


existia uma relação simbiótica entre os poderes político e religioso.
Tratava-se de uma estrutura rígida de classes com destaque para a
aristocracia. Havia, já, as ideias de direito público e privado.

★ Estado Medieval: As relações de vassalagem enfraqueciam o soberano.


Era uma sociedade estritamente dividida em ordens, apresentando
fronteiras móveis e uma organização jurídica caótica e imprecisa.

★ Absolutismo: Surge depois da idade média, associado ao renascimento.


Colocava no monarca (ou representante) todo o poder - o soberano não
era o reino, mas sim o rei.

★ Estado Atual: Ente territorial mais eficiente no exercício de poderes


sobre uma comunidade humana, regido por uma autoridade soberana.
Dispõe de recursos técnicos, financeiros e humanos para reger o seu
território, devendo garantir a defesa equitativa dos interesses da
sociedade. Por ter sido desenhado para servir um povo, deve pôr os
interesses do mesmo sempre em primeiro lugar.

2. O ESTADO SOBERANO CONTEMPORÂNEO E OS SEUS ELEMENTOS

2.1 NOÇÃO
Estado Contemporâneo: Coletividade territorial integrada por um povo, que a
ela se encontra ligado pelo vínculo da nacionalidade, e por um poder político
soberano.

★ Postulados do Estado Contemporâneo:

○ A Nação é soberana e irredutível


○ Igreja separada do poder político

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○ O Estado deve se abster de interferir nos próprios assuntos internos


○ A soberania não fica apenas adstrita ao monarca ou soberano, mas
às fronteiras que integram os territórios que a ele estão sujeitos

★ 3 Grandes Elementos do Estado: Povo, Território e Poder Político


Soberano.

○ 4º Elemento no Estado de Direito Formal3 - Ordenamento jurídico:


Sistema jurídico regido por imperativos de coerência e por uma
vocação de completude. Integra um sistema político institucional
composto por órgãos de poder separados e competentes para
produzir, aplicar e fiscalizar normas jurídicas, e um sistema
normativo composto por princípios e regras jurídicas geradas,
executadas e controladas pelos referidos órgãos.

2.2 INTRODUÇÃO AOS ELEMENTOS DO ESTADO


2.2.1 O POVO
Conceito:

★ Povo: Conjunto de pessoas ligadas a uma coletividade territorial pelo


vínculo jurídico da nacionalidade. Sem ele não existe Estado. Integra
apenas quem estabelece com o Estado uma relação de pertença

★ População: Conjunto de pessoas que residem num Estado. Abrange


nacionais (que integram o povo), estrangeiros e apátridas.

★ Nação: Conceito sociológico e cultural que abrange as pessoas unidas por


tradições, necessidades e aspirações que se projetam como uma
comunidade de destino universal. Podem existir várias nações num povo4.

○ “Cimento das Nações”: Fatores como costumes, cultura, vivências


históricas, laços de sangue, língua, valores e um passado comum.

Nacionalidade ou Cidadania Portuguesa: Iguais no ordenamento jurídico


português. São cidadãos portugueses todos os que como tal sejam considerados
por lei ou convenção internacional (art. 4º da CRP). A privação da cidadania5 só
pode efectuar-se nos casos previstos na lei (art. 8º e 9º da LN6), sem poder ter
fundamentos políticos.
3
Introduzido pelo Professor Carlos Blanco Morais
4
Portugal é um Estado-Nação (apresenta uma só nação), Índia é multinacional.
5
O Professor CBM considera que, sendo a cidadania um direito, deveria ser retirada aos
responsáveis por atos terroristas e crimes de traição à pátria.
6
Lei da Nacionalidade

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★ Formas de Aquisição da Nacionalidade:

○ Aquisição Originária: Produz efeitos desde o nascimento do seu


titular, operando por via de “jus sanguinis”, pelos critérios do “jus
sanguinis” e da vontade, por força de “jus solis” ou por critérios
mistos dependentes da vontade do adquirente

■ POR VIA DE “JUS SANGUINIS”: Filhos de mãe ou pai


português, nascidos em território nacional ou no estrangeiro,
caso aí se encontrar o progenitor ao serviço do Estado
Português (art. 1º, al. a) e b) da LN)

■ PELOS CRITÉRIOS DO “JUS SANGUINIS” E DA VONTADE:


● Filhos de mãe ou pai português, nascidos no
estrangeiro, se tiverem o seu nascimento inscrito no
registo civil português ou se declararem que querem
ser portugueses (art. 1º, al. c) da LN)
● Indivíduos nascidos no estrangeiro com, pelo menos,
um ascendente de nacionalidade portuguesa do 2º
grau na linha reta que não tenha perdido essa
nacionalidade, se declararem que querem ser
portugueses, possuírem ligações à comunidade
nacional e, verificado isto, inscreverem o nascimento
no registo civil português (art. 1º, al. d) da LN)

■ POR FORÇA DE “JUS SOLIS”:


● Indivíduos nascidos no território português, filhos de
estrangeiros, se, pelo menos, um dos progenitores
também aqui tiver nascido e aqui tiver residência,
independentemente de título, ao tempo do nascimento
(art. 1º, al. e) da LN)
● Indivíduos nascidos no território português, filhos de
estrangeiros, que não se encontrem ao serviço do seu
Estado, se declararem que querem ser portugueses e,
desde que, no momento do nascimento, um dos
progenitores resida em Portugal legalmente há, pelo
menos, 5 anos (art. 1º, al. f) da LN)
● Indivíduos nascidos em território português que não
possuam outra nacionalidade (art. 1º, al. g) da LN)

■ CRITÉRIOS MISTOS DEPENDENTES DA VONTADE:


● Filhos menores ou incapazes de pai ou mãe que
adquira nacionalidade podem também adquiri-la
mediante declaração (art. 2º da LN)

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● O estrangeiro casado há mais de três anos com


nacional português pode adquirir a nacionalidade
portuguesa mediante declaração feita na constância do
matrimónio (art. 3/a) LN)
● O estrangeiro que, à data da declaração, viva em união
de facto há mais de três anos com nacional portugues
pode adquirir nacionalidade portuguesa (art. 3/c) LN)

○ Aquisição Derivada: Produz efeitos já depois do nascimento,


englobando a adoção (art. 5º da LN), a naturalização (art. 6º da
LN) e a atribuição graciosa pelo Estado.

■ O adotado plenamente por nacional português adquire


nacionalidade portuguesa (art. 5º da LN)

★ Estatuto dos Estrangeiros e Apátridas Residentes em Território


Nacional: Apresentam os mesmos direitos fundamentais dos cidadãos
(art. 15/1 da CRP), excluindo direitos políticos, o exercício de funções que
não tenham carácter predominantemente técnico e os direitos e deveres
reservados a portugueses somente (art. 15/2 da CRP), ainda que
admitindo aos cidadãos de PALOPs, Brasil e Timor Leste com residência
permanente em Portugal alguns direitos não reconhecidos aos
estrangeiros, mediante um princípio de reciprocidade (art. 15/3 da CRP)7.

Cidadania Europeia: Conferida a qualquer pessoa com nacionalidade de um


Estado Membro, acrescendo à cidadania nacional, mas não substituindo (art. 9º
do Tratado de Lisboa). Não é verdadeira uma cidadania uma vez que a UE não é
um país, sendo, antes, um vínculo entre os cidadãos dos Estados-Membros e a
União, mas que confere aos seus titulares uma série de direitos8.

2.2.2 O TERRITÓRIO
Território: Espaço físico onde o Estado, enquanto coletividade pública
territorial, exerce os seus poderes de domínio, delimitado pelas linhas de
fronteira. Circunscreve o âmbito de aplicação da autoridade soberana, sendo um
pressuposto de direitos fundamentais. Condição necessária à ideia de Estado9.

7
Todavia, mantêm-se vedados os cargos de Presidente da República, Presidente da Assembleia da
República, Primeiro-Ministro, Presidente dos Tribunais Supremos, o Serviço das Forças Armadas e
a Carreira Diplomática. O prof. CBM considera que se deve entender que a proibição abrange os
cargos de Ministro do Governo e Presidente do Tribunal Constitucional
8
Como o da livre circulação no espaço Schengen, o de eleger e ser eleito nas eleições locais do
Estado-Membro onde reside, de eleger e ser eleito para o Parlamento Europeu através de qualquer
país, de proteção diplomática e de petição a diversas instâncias da UE
9
O Professor CBM considera que os Estados sem território fixo, mesmo se reconhecidos
internacionalmente, são simples ficções políticas destinadas a pressionar a descolonização ou a
saída de forças ocupantes - ex: Guiné Bissau em 1973

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★ Território Português: Território historicamente definido no continente


europeu, a Madeira e os Açores (art. 5/1 da CRP), estendendo-se pelas
águas territoriais e pela zona económica exclusiva (art. 5/2 da CRP).
Portugal não abdica de qualquer parte do seu território ou direito de
soberania sobre o mesmo (art. 5/3 da CRP)10.

★ Tipo de Território:

○ Território Terrestre: Composto pelo espaço físico, solo e subsolo,


sem limite de profundidade, e demarcado à superfície pelas linhas
de fronteira. A soberania do Estado é nele plena.

○ Território Aéreo: Formado pelo espaço suprajacente compreendido


pelas chamadas linhas verticais traçadas a partir das fronteiras
terrestres e do mar territorial. A soberania do Estado é nele
tendencialmente plena, com exceção da zona espacial além da
atmosfera que é sobrevoada por naves espaciais de outros Estados,
existindo convenções internacionais, como a Convenção de Chicago,
que estipulam liberdades de voo.

○ Território Marítimo: O Estado tem sobre ele soberania semi-plena,


estando a sua delimitação condicionada pela convenção de Montego
Bay de 1982 e a sua exploração limitada pelo Tratado de Lisboa.

■ ABRANGE:
● Mar Territorial: Águas marítimas adjacentes à costa
por 12 milhas onde o Estado exerce poderes plenos de
soberania.
● Zona Contígua ao Mar Territorial: 24 milhas desde a
base do mar onde o Estado exerce funções de
fiscalização e prevenção
● Zona Económica Exclusiva: Estende-se por 200 milhas
além do mar territorial onde o Estado exerce direitos
de exploração e conservação de recursos naturais, não
impedindo, contudo, direitos de navegação e sobrevoo
por outros Estados.
● Plataforma Continental: Fundos marinhos contíguos
onde o Estado pode explorar os recursos.

10
Consequentemente, não é permitido o reconhecimento de direitos estrangeiros sobre parcelas
do território português, a constituição de partidos regionais separatistas ou a realização de
referendos que versem sobre a integridade territorial (art. 9, al. a) e art. 115, nº4, al. a) da CRP)

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2.2.2 O PODER POLÍTICO E SOBERANO


Poder Político: Conjunto de prerrogativas atribuídas a certos órgãos de
coletividade estatal para ordenarem a vida coletiva, garantindo a prossecução
dos interesses gerais e preenchendo os fins da coletividade, geralmente
centrados na realização da segurança, justiça e bem-estar. Diferencia-se das
restantes formas de poder por possuir o atributo próprio da soberania.

★ Poder Político dos Entes Infra-Estaduais: Depende de um


reconhecimento pelo Estado através da Constituição e está sujeito a
limites fixados pelo direito estadual. O seu estatuto é aprovado por leis do
Estado - ex: região ou município

★ Organizações Internacionais: Constituídas por Estados, tendo os seus


poderes confirmados por tratados, podem pela vontade deles ser extintas

Soberania: Qualidade identitária do poder político do Estado, traduzindo-se na


faculdade de se poder, livremente, auto-organizar no plano jurídico, na liberdade
de tomar decisões obrigatórias e na capacidade de, internacionalmente,
representar os interesses internos, num quadro de igualdade formal com os
outros Estados. Atributo supremo do poder político que, no universo do Estado
de Direito é exercido pelos órgãos políticos. Quanto maior a dependência de
apoio financeiros transnacional, menor a soberania do Estado.

★ Soberania Constituinte: Associada à auto-conformação constituinte da


soberania. O Estado, em regra, nasce a partir de um movimento de
autodeterminação do seu povo no sentido da criação de uma coletividade
territorial independente, por sua vez, a autodeterminação faz-se sentir na
faculdade de aprovar uma Lei de Hierarquia Superior (Constituição) que
vai regular a ordem jurídica e o estatuto do poder político e da sociedade.

★ Soberania Interna: Ligada à supremacia interna, implica a prerrogativa


dos governantes, que exprimem a vontade funcional do Estado, se
poderem fazer obedecer pelos governados através de uma relação de
domínio que não admite interferências externas. Qualidade vertical do
poder que, no Estado de Direito, está limitada pela Constituição e pela lei.

★ Soberania Externa: Associada à independência externa, implica que o


princípio de igualdade jurídica-formal entre Estados seja observado e que
as autoridades dos Estados atuem como seus únicos representantes na
salvaguarda dos seus interesses na sociedade internacional, sem que se
encontrem sujeitos a formas de tutela ou interferência por parte de outros
Estados, ainda que, quando integrados em organizações supranacionais
(ex: U.E.), possam ver limitados alguns dos seus poderes.

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★ Tipos de Soberania:

○ Soberania Plena: Como nos EUA, na Rússia e na China.

○ Soberania Limitada: Como os membros de uma organização


supranacional como a União Europeia.

○ Semi Soberania/Soberania Diminuída: Caso de protetorados


internacionais de Direito ou de facto como a Bósnia ou o Kosovo.

○ Estados Falhados: Como a Somália.

○ Não Soberania: Estados federados autónomos

Soberania do Estado Português: Portugal é uma república soberana, una e


indivisível (art. 1 e 3/1 da CRP), isto é, respeita o princípio da unidade nacional e
não pode ser dividida por outras coletividades soberanas. A soberania reside no
povo (art. 3 da CRP), que a exerce consoante as formas previstas11 na lei.

★ Órgãos de Soberania: Exercem funções políticas em nome da


coletividade depois de designados pelos governados (art. 110 CRP) -
Presidente, a Assembleia da República, o Governo e os Tribunais

★ Relação com a União Europeia: O Estado Português, em condições de


reciprocidade, pode delegar, mediante tratado e com limites a certas
instituições12, na União poderes soberanos, passando esta organização a
exercê-los ou a promover o seu exercício em comum ou cooperação.

3. SINOPSE SOBRE AS FORMAS TERRITORIAIS DE ESTADO

3.1 O PODER TERRITORIAL


Conceito: O poder político é distribuído horizontalmente pelas coletividades
periféricas que, limitadas pela CRP, se tornam autoridade pública com autonomia

★ Autonomia: Faculdade dos entes públicos se organizarem juridicamente e


criarem um direito próprio reconhecido pelo Estado e que incorpora a
ordem jurídica. As coletividades representativas territoriais são livremente
designadas pelo povo residente ou a elas vinculado através de eleições.

11
Como através de atos referendados (art. 115 da CRP) e do exercício de competências cometidas
aos órgãos que direta ou indiretamente o representam ou agem em seu nome.
12
deve ser respeitado o princípio da soberania

12
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

3.2 DESCENTRALIZAÇÃO E AUTONOMIA


Desconcentração Territorial: Técnica utilizada pelo poder central para
descongestionar os seus serviços e responder mais rapidamente a exigências
locais ou regionais, atribuindo poderes de autoridade a órgãos que lhe são
hierarquicamente subordinados e que são instalados nos territórios periféricos
para agirem em nome do Estado.

Descentralização Territorial13: Implica um policentrismo de autoridades


públicas com personalidade jurídica (poder de autoridade) e dotadas de
autonomia no exercício de funções jurídico-públicas, as quais dividem ou
partilham com o poder político soberano.

★ Descentralização Administrativa (nível menor de descentralização):


Envolve a atribuição de autonomia administrativa14, financeira e
patrimonial a coletividades territoriais organizadas sob a forma de
autarquias locais (como freguesias e regiões)

★ Descentralização Política-Administrativa (nível intermédio): Implica a


atribuição aos municípios ou a macro parcelas territoriais (comunidades
ou regiões) autonomia administrativa, financeira, patrimonial e política15.

★ Descentralização Constitucional (nível máximo): Pressupõe que


determinadas macro parcelas territoriais (estados autónomos) gozem de
autonomia administrativa, financeira, patrimonial, política constitucional16
e jurisdicional.

13
O Professor Carlos Blanco Morais considera que um modelo puramente centralista está
ultrapassado por motivos técnicos (derivados da incapacidade de dar resposta à demanda) e
políticos (as populações assumem laços históricos e sociais com os locais onde residem,
reclamando a possibilidade de se auto-regularem).
14
Competência para aprovar normas regulamentares e atos administrativos, executar normas,
celebrar de contratos administrativos e produzir bens e serviços
15
Possibilidade de aprovar leis e atos políticos
16
Faculdade de aprovar aprovar e rever a respetiva Constituição, respeitando a do
Estado-Soberano que integram

13
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

3.3 FORMAS DE ESTADO


Conceito: Modelo inerente ao tipo de relação estabelecida entre o poder político
estadual e o território.

3.3.1 TIPOLOGIA E ATRIBUTOS DISTINTIVOS

Estados Unitários: Estados Federais:

★ Independentemente da ★ É um Estado composto, ou seja,


autonomia que atribua a desdobra-se em diversos Estados
coletividades territoriais que o (Estados Federados), cada qual
integrem, é regido por uma só servido por uma constituição e
constituição. um poder constituinte próprio.

★ Os municípios e as regiões ★ Os órgãos representativos dos


não participam na alteração Estados-Membros participam na
da Constituição do Estado alteração da Constituição Federal

★ Dispõe de uma ordem única ★ Dispõe de tribunais federais


judiciária (aplicam e controlam a aplicação
da Constituição) e tribunais
federados (acatam as ordens do
Supremo Tribunal)

★ As instituições parlamentares ★ Os parlamentos integram uma


representam todo o povo, câmara de representação dos
independentemente da sua Estados Federais, eleita direta ou
origem territorial indiretamente

★ O poder central apresenta, ★ Não têm representações do


geralmente, comissários nos poder central
territórios autónomos

★ As regiões não podem aprovar ★ Podem aprovar acordos


convenções internacionais internacionais, sujeitos a
aprovação federal.

14
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

3.3.2 MODALIDADES DE ESTADO UNITÁRIO


Estado Unitário Simples: Apenas admite descentralização administrativa do
tipo municipal. Modalidade mais centralizada e ocorre, em regra, em Estados de
pequena dimensão - ex: Luxemburgo e Estados Bálticos

Estado Unitário Regional: Implica, a par da descentralização municipal, a


criação de regiões, ou seja de parcelas territoriais extensas, mas menos vastas
que o Estado, em que os municípios, povoações e habitantes, unidos por fatores
culturais, económicos e geográficos que cimentam um sentimento de pertença a
uma comunidade, detém poderes públicos de autoridade. Podem ser organizadas
com uma estrutura homogénea (todas as regiões possuem igual estatuto) ou
heterogénea (algumas regiões têm um estatuto especial).

★ Estado Unitário com Regionalização Administrativa: Atribuição de


competências administrativas, financeiras e patrimoniais às autoridades
eleitas democraticamente - ex: França, na Grécia e Irlanda

★ Estado Unitário com Regionalização Político-Administrativa:


Comete competências políticas, legislativas, administrativas, financeiras e
patrimoniais às autoridades públicas das regiões, também eleitas
democraticamente - ex: Itália e Espanha.

★ Regionalização Integral ou Parcial: Consoante a proporção do Estado


que é regionalizada.

3.3.3 TIPOS BÁSICOS DE FEDERALISMO


(quanto à origem)
Federalismos originários ou centrípetos: Nascem por força de um acordo
entre Estados previamente independentes que renunciam à sua soberania para
constituir uma federação. Geralmente começam por constituir uma associação
de Estados independentes com soberania limitada, usualmente sob a forma de
Confederação. Tendem a reconhecer um maior grau de autonomia constitucional,
política, administrativa e financeira aos seus membros devido às suas origens
independentes (ex: EUA)

Federalismos derivados ou centrífugos: Estados unitários que iniciaram um


processo de transferência de poderes constitucionais, políticos e administrativos
para regiões ou províncias, de forma a transformá-las em Estados federados.
(ex: Brasil e Alemanha)

15
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

3.3.4 REGIÃO POLÍTICO-ADMINISTRATIVA E ESTADO FEDERADO


(distinção)17

Região Político-Administrativa Estado Federado

★ O seu título de autonomia advém ★ Aprova e revê a sua


uma lei do Estado (estatuto de constituição, no respeito da
autonomia) sobre a qual a região constituição federal,
dispõe reserva de iniciativa para a apresentando autonomia
sua aprovação ou alteração, mas constitucional
não palavra final quanto ao
respectivo conteúdo, que pertence
ao Parlamento Soberano do Estado

★ Não possui representantes ★ Possui representantes


próprios numa câmara próprios numa câmara
parlamentar parlamentar

★ Possui comissários de Estado no ★ Não possui comissários de


seu território Estado no seu território

★ Não tem tribunais próprios ★ Tem tribunais próprios

★ Não pode celebrar convenções ★ Pode, nalguns


internacionais ordenamentos, celebrar
convenções internacionais

3.3.5 A REPÚBLICA PORTUGUESA COMO UM ESTADO UNITÁRIO REGIONAL


PERIFÉRICO
República Portuguesa: Estado unitário (art. 6º da CRP) com uma
regionalização político-administrativa parcial/periférica na Madeira e nos Açores,
sujeito, no território continental, a um regime de autonomia puramente
administrativa atribuída às autarquias locais (art. 235 e ss. da CRP).

★ Autarquias Locais: Visam, nos termos constitucionais, prosseguir os


interesses próprios das populações locais, dispondo de autonomia
administrativa, património, finanças próprias e iniciativa referendária local
(art. 238, nº1 e nº4; art. 240; art. 241 e art. 355, nº2 da CRP).

★ Regiões Político-Administrativas da Madeira e dos Açores: A sua


autonomia acrescida resulta da descontinuidade geográfica, expressão de
identidade cultural própria e dos efeitos reativos do 25 de Abril

17
Todavia, existem casos de soluções híbridas de regionalização avançada que materialmente se
federalizaram nalgumas das suas componentes, tornando nessas situações menos evidente a
relevância destes elementos de distinção - ex: Espanha.

16
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Representante da República: Nomeado pelo Presidente da


República, ouvido o Governo, substitui o Presidente em funções
representativas, certificatórias, de controlo de mérito sobre leis
regionais e de constitucionalidade.

○ Órgãos de Governo Próprio:

■ ASSEMBLEIA LEGISLATIVA REGIONAL (ALR): Eleita por


sufrágio universal, direto e secreto de acordo com o princípio
da representação proporcional (art. 231/2 da CRP)

■ GOVERNO REGIONAL: Emana da ALR e é, perante ela,


politicamente responsável (art. 231/3 da CRP)

SECÇÃO II. O ESTADO E A LEGITIMIDADE DO PODER POLÍTICO

1. LEGITIMIDADE E LEGITIMAÇÃO DO PODER


Estado: Única entidade pública capaz de garantir, eficazmente, obediência às
normas através de medidas coercivas, por deter o monopólio do uso da força
para fazer cumprir as regras, individuais e coletivas. Dirigido por uma vontade
racional traduzida numa relação de domínio caracterizada pela prossecução do
bem comum e de leis justas e acatadas por todos. Domínio regido pelo Direito.

★ Domínio: Vínculo de obediência prestado por uma comunidade a uma


autoridade que nela impera. Suscetibilidade dos membros de um grupo
obedecerem a comandos, gerais ou específicos, manifestando um mínimo
de vontade de acatar o poder de autoridade que emana os comandos.

○ Legitimidade Política: Crença coletiva que os membros de uma


comunidade que exercem o poder têm esse direito. Conjunto de
vínculos, valores e princípios de ordem cultural, política e jurídica
que justificam junto dos governados o tipo de autoridade titulada e
exercida pelos governantes.

A Constituição é a fonte de legitimidade de um regime político e confere
legitimação (fundamento) à ação dos governantes que atuam na observância
das suas normas.

★ Estado de Direito: Modelo de Estado regido pelo primado da


Constituição, pela separação dos poderes, pelo princípio da submissão da
Administração Pública à lei e pela salvaguarda dos direitos dos cidadãos
através de tribunais independentes

17
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Obediência: Vai depender de vários fatores como:

○ Costume: Prática reiterada de obediência a quem possui o


monopólio do uso da força ou exibe um estatuto social de
referência. Realidade primitiva utilizada por formas despóticas e
arbitrárias do exercício do poder.

○ Cálculo de Vantagens de Ordem Material: O Estado está,


inevitavelmente, ligado a uma organização económica que distribui
benefícios e sacrifícios. Realidade primitiva utilizada por formas
despóticas e arbitrárias do exercício do poder.

○ Razões de Ordem Afetiva ou Psicológica: Adesão dos governados às


qualidades carismáticas de quem exerce o poder de autoridade.
Desvanece-se quando a afetividade empalidece ou o portador desse
carisma deixa de existir.18

○ Valores ou Ideários de Ordem Política: A autoridade dimana de uma


ideologia ou doutrina. Método mais duradouro.

2. FORMAS DE LEGITIMIDADE
Legitimidade Tradicional: Fundamenta a recepção da aceitação do poder
político na sacralização (ou santidade) de pactos ou regras costumeiras
presentes desde tempos imemoriais, sendo a autoridade suprema concebida
como um depositário e guardião dos costumes. O jusnaturalismo esteve durante
bastante tempo associado a esta forma de legitimidade.19

★ Monarquias Constitucionais: Misturam componentes de legitimidade


tradicional com regimes políticos assentes. O monarca é designado por
um critério de hereditariedade (tradicional) mas os órgãos do Estado são
escolhidos democraticamente.

Legitimidade Carismática20: Resultado das qualidades, supostamente


excepcionais, de líderes políticos. Razões de ordem emocional ou afetiva levam a
comunidade a atribuir-lhes a aura de heróis profetas ou chefes excepcionais com
capacidade de mobilizar a sociedade. Raramente opera de forma pura. Pode-se
ligar a outras formas de legitimidade como a revolucionária ou a democrática.

18
Fenómeno que ocorreu em Portugal com Sidónio Pais, o “Presidente Rei” (1ª República)
19
Daqui podem defluir formas de poder patriarcal ou senhorial (presente em sociedades antigas
ou primitivas), modelos de poder fundados em ordenações religiosas (que ainda hoje vigoram -
teocracias) e regimes monárquicos. Sustenta muito poucas formas de poder no tempo presente
circunscrevendo-se ao chamado “sultanismo”
20
Associada a ditaduras/golpes revolucionários - nazismo, comunismo,... (regimes autocráticos)

18
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Legitimidade Legal-Racional: Os cidadãos aceitam a autoridade de quem, nos


termos da Constituição e da lei, dela é titular21. Forma utilizada pela maioria dos
Estados. Figura predominantemente formal, que capeia distintas classes de
legitimidade em sentido substancial:

★ Legitimidade Democrática: A autoridade dos governantes resulta do


consentimento expresso por uma vontade geral, livre, periódica e explícita
dos governados. Pode estar fundado num “contrato social”.

○ Estado de Direito: O fundamento do acatamento do poder dos


governantes é real, ou ficcionalmente, imputado à vontade do povo.
Desde o movimento constitucionalista do séc. XVIII que o povo
emergiu como magnitude política tendo em vista a justificação do
poder de autoridade através da faculdade de criar uma “lei
superior”, mediante um mandato representativo, direto ou indireto.

■ ESTADO DE DIREITO FORMAL: Um dado poder é legítimo não


quando os governados exprimem a sua adesão, mas sim
quando aceitam passivamente a justificação ou o fundamento
originário, não pressupondo necessariamente uma noção de
legitimidade democrática do poder estadual22

■ ESTADO DE DIREITO MATERIAL: Envolve a incorporação na


ordem constitucional do princípio da separação de poderes e
da tutela jurisdicional dos direitos fundamentais civis e
políticos dos cidadãos, é um modelo inseparável da faculdade
dos governados escolherem livremente os seus governantes.

★ Legitimidade Revolucionária: O fundamento da titularidade do poder


exercido por quem rompeu com a ordem previamente instituída e dispõe
da força para fundar outra, que estará associada a uma vanguarda
político-militar com um programa ideológico de ação e criação de uma
nova ordem legal.

★ Legitimidade Legal-Burocrática: Fundada na obediência simples às


autoridades do sistema legal vigente que atuam através de um aparelho
administrativo, intrusivo e repressivo. Ideário simples, traçado em torno
de fontes tradicionais de exercício de poder ou formas de restringida
participação dos cidadãos nas decisões.

21
Tendo estas três formas clássicas de legitimidade tido sido concebidas por Webber, nesta última,
Carl Schmitt critica por considerar que descreve um vínculo de obediência que não esclarece
porque razão se deve obedecer pois a simples obediência à legalidade e aos detentores do poder
não é reveladora das razões que impelem a comunidade a acatar o poder - a legitimidade deve ser
uma justificação valorativa, ideológica ou doutrinal do poder de autoridade onde emana o direito.
22
ex: regime autoritário corporativo que vigorou em Portugal sob a égide da Constituição de 1933

19
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

SECÇÃO III: A CONSTITUIÇÃO COMO NORMA DE CÚPULA DA


ORDEM JURÍDICA E POLÍTICA DE DOMÍNIO ESTADUAL: UMA
REFERÊNCIA
Constituição: Norma superior de referência de uma ordem jurídica de domínio
estadual. Estatuto identitário do poder político estadual e estatuto da sociedade
nas relações com esse poder. Fundamenta o poder dos governantes e disciplina
juridicamente a sua organização bem como as suas relações com os governados.

CAPÍTULO II. OS REGIMES POLÍTICOS

SECÇÃO I: NOÇÃO E TIPOLOGIA


1. CONCEITO
Regime Político: Modelo doutrinal ou ideológico onde repousam os
fundamentos da legitimidade do poder soberano de um Estado, bem como da
definição do tipo de enlace jurídico-político que é estabelecido entre o povo e os
órgãos que exercem o mesmo poder.

1.1 O MODELO DOUTRINAL OU IDEOLÓGICO COMO IDEÁRIO JUSTIFICANTE DE UMA


ORDEM DE DOMÍNIO ESTADUAL
Doutrina Política: Conjunto de valores ou princípios que fundamentam uma
concepção política, ética, filosófica ou até religiosa da estrutura estadual e das
relações entre o Estado, a sociedade e o poder político. Surge condensada num
ideário que identifica o regime político.

Ideologia: Simplificação da doutrina através de ideias força que são


transformadas numa crença política. Procura sintetizar uma explicação sobre o
devir histórico do homem e do Estado e construir um padrão de sociedade,
poder e sistema económico-social perfeito. Tem um impacto mais ou menos
intenso mediante o regime político a que deu origem. Deve tomar posição sobre
a legitimidade do poder e o papel dos cidadãos na sua estruturação e acesso.

★ Crítica de Sartori: As ideologias são o “ópio da mente”, operando como


uma espécie de máquina de guerra destinada a conquistar adesões sem
questionamento e a desqualificar adversários.

20
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

1.2 OS FUNDAMENTOS TÍPICOS DA LEGITIMIDADE DE UMA FORMA DE PODER


Definição do Tipo de Legitimidade do Poder Político do Estado: Segundo
atributo da caracterização do regime político. Implica, num Estado Soberano,
que o acesso ao poder, à estrutura básica das instituições que o exercem e os
objetivos que o prosseguidos pelo poder se fundamentam numa ideia de Direito,
cujos valores e princípios devem ter-se aceites expressa, ou tacitamente23.

1.3 O TIPO DE RELAÇÃO ESTABELECIDA ENTRE GOVERNANTES E GOVERNADOS NA


DETERMINAÇÃO DA FONTE DO PODER SOBERANO24
Realidade em Regimes Democráticos: A legitimidade do poder político
fundamenta-se no consentimento dos governados expresso de forma livre.

Realidade Inerente a Regimes Autocráticos: Os governantes prescindem do


consentimento livremente expresso para justificar a autoridade

2. FORMAS DE REGIME POLÍTICO


2.2 TIPOLOGIA CONTEMPORÂNEA DOS REGIMES POLÍTICOS
2.2.1 CRITÉRIO FORMAL CONEXO AO MODO DE DESIGNAÇÃO DO CHEFE DE ESTADO
Desde o fim da 1º Guerra Mundial até à atualidade, a dicotomia
Monarquia-República tornou-se numa classificação subsidiária

Monarquia Constitucional: O soberano limita-se ao exercício de funções


formalmente representativas, cerimoniais e certificatórias, perdendo a chefia do
poder executivo e de importantes faculdades livres de controlo e direção no
exercício da função política. Assume um status de representação simbólica e
formal da Chefia de Estado. Encontra-se soldada a sistemas parlamentaristas.

Relevância do Processo de Designação do Chefe de Estado: Atualmente,


apesar de ser um critério apenas formal de caracterização dos regimes políticos,
continua a ser um critério medular de classificação dos regimes, devido à sua
carga simbólica relevante, como elemento de integração e unidade estadual e
pressuposto de definição do regime político.

★ CRP: Alterar o art. 288 e suprimir o regime republicano, sendo só mudar


um elemento simbólico, poria em causa a identidade genética da CRP

23
Atualmente, salvo em regimes em que pontificam despotismos fácticos ou consuetudinários dos
detentores de autoridade (sultanismos), todo o poder de autoridade é fundamentado numa
legitimidade legal-racional
24
CBM diz que é uma visão simplista, podem haver modelos impuros - monarquia constitucional

21
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

2.2.2 CRITÉRIOS RELATIVOS AO TIPO DE ENVOLVIMENTO DO POVO NA DESIGNAÇÃO


DOS TITULARES DO PODER: DEMOCRACIA E AUTOCRACIA
Critério alusivo à titularidade do poder: Cumpre saber se o povo é o efetivo
titular do poder político e se intervém, ou não, livremente, na escolha dos
governantes, exercendo os seus direitos políticos. Atributo principal de
caracterização dos regimes políticos: mediante a existência de eleições plurais e
competitivas podemos distinguir se estamos numa democracia ou autocracia.

Critério relativo ao modo como o poder é exercido: Se existem limites


constitucionais efetivos ao exercício de autoridade através da separação de
poderes, de controlos interorgânicos e da consagração dos direitos políticos.
Refração do primeiro critério - enquanto a democracia se pauta pela separação e
interdependência dos poderes, as autocracias regem-se pela concentração

Critério atinente ao fim ou escopo do poder: Tipo de ideário que justifica o


modelo de poder adotado na organização política do Estado. De natureza
teleológica, reflete sobre o enlace entre governantes e governados no exercício
do poder, visando a prossecução de fins e tarefas estaduais de ordem coletiva.

SECÇÃO II: REGIMES DEMOCRÁTICOS


SUBSECÇÃO I. EM QUE CONSISTE A DEMOCRACIA COMO REGIME POLÍTICO

1. ETIMOLOGIA E ENQUADRAMENTO HISTÓRICO


Democracia: Governo (“kratos”) do povo (“demos”) ou governo derivado da
vontade do povo. Significa coisas diferentes para pessoas diferentes ao longo do
tempo. Pressupõe que a legitimidade do modelo de organização do Estado e do
exercício do poder político radique na vontade livre, plural e soberana do povo,
manifestada através do critério da maioria expressa na eleição dos seus
representantes e, extraordinariamente, em atos referendários ou plebiscitários.
Centra-se nos princípios da liberdade e da igualdade.

2. O MANDATO REPRESENTATIVO E A SUA NATUREZA


Democracia Representativa: O povo, fonte de legitimação do poder político,
exerce esse poder através de mandatários, isto é, representantes eleitos. É
criado um instituto que procura reproduzir os diversos interesses do povo numa
miniaturização simbólica e operativa representada pelos titulares do poder
eleitos pelos cidadãos e que ocupam o seu lugar na tomada de decisões.

22
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Representação: Não um fim em si mesmo, mas uma realidade destinada


a fazer funcionar o princípio democrático e a assegurar, em permanência,
que as instituições exprimam a vontade coletiva. Sistema integrado por
um método (representação democrática), um processo (tradução dos
resultados eleitorais em mandatos) e um critério de decisão (maioria).

○ Diferentes Teorizações sobre a Representação:

■ DELEGAÇÃO DE PODERES: Envolveria um poder de


orientação do delegante e de revogação do ato de delegação
(não ocorre com a representação política) - Sièyes

■ RELAÇÃO FIDUCIÁRIA: O fiduciário atua como livre


representante do povo de quem recebe uma autorização pelo
mandato eleitoral, atuando depois autonomamente - Eulau
● Prof. CBM - considera que é a teoria que melhor
justifica a representação

■ SITUAÇÃO REPRESENTATIVA: O povo age através dos seus


representantes que vão, depois da eleição, decidir com plena
independência.

■ RELAÇÃO REPRESENTATIVA: Pressupõe uma interação direta


ou relação fiduciária eleitor-eleito e obrigações mútuas, que
envolvem a “prestação de contas” do eleitor ao eleitorado.
Papel integrador no regime democrárico.

■ MANDATO IMPERATIVO: O povo pode revogar, a todo o


tempo, o mandato de quem elegeu - Blackstone.

■ MANDATO REPRESENTATIVO: Dominando em todas as


democracias contemporâneas em sede de eleição
parlamentar, implica que, depois da eleição, os novos
titulares do poder demarquem a sua autonomia jurídica e
política de quem os elegeu. A partir da posse, os eleitores
passam a governados25.

25
Vantagens face ao mandato imperativo:
➔ Os representantes são-no em nome de todo o povo, logo fazê-los depender de interesses
particulares para continuar o mandato, impedi-los-ia de defender o interesse público geral.
➔ Os eleitores não são capazes de se pronunciar sobre todas as questões
➔ Revogação de mandatos dos representantes afetaria a estabilidade parlamentar e o
funcionamento de maiorias políticas que apoiam o governo.
➔ Dignifica os eleitos por lhes dar independência das opiniões dos eleitores.
➔ Por ser impossível penalizar o eleito durante o seu mandato, os efeitos das suas ações
passam a influenciar o eleitorado nas seguintes eleições.

23
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

● Mandatos Parlamentares: Limitam a autodeterminação


dos deputados, pois estes vão ter de se subordinar aos
partidos políticos - deixa de ser uma relação
eleito-eleitorado para ser eleito-eleitorado-partido)

3. PRESSUPOSTOS CONSTITUTIVOS DE UM REGIME POLÍTICO


DEMOCRÁTICO
3.1 INTRODUÇÃO
A existência de um processo eleitoral livre, regular e igual com
observância do princípio maioritário constitui pressuposto fundamental de uma
democracia representativa e competitiva.
O Povo, em si, seria ignorante e incapaz de decidir acerca de fatores
importantes, mas capaz de escolher alguém para o fazer por si, sendo a
democracia um “mercado” eleitoral em que prevalece a opção com maior
procura.
O modelo institucional cooperativo pressupõe o livre conhecimento dos
governados na designação dos governantes através de eleições livres, regulares,
periódicas, com alternativa de plural de opções e igualdade de na expressão do
sufrágio, processo eleitoral que, não sendo o fundamento da democracia, é uma
garantia mecânica. A democracia fica assente na liberdade, na igualdade e na
justiça.

3.2 NOTA SOBRE OS REQUISITOS DO PROCESSO ELEITORAL


3.2.1 ELEIÇÕES LIVRES
Sufrágio Livre: Exercido no quadro de uma sociedade pluralista,
autodeterminada e na qual seja reconhecida e garantida a autonomia privada e
os direitos fundamentais (civis e políticos) dos cidadãos. Devem ser assegurados
ao eleitor condições para que este possa escolher, sem constrangimentos, uma
de várias candidaturas alternativas ao poder

★ Comunidade Livre: Implica a consagração constitucional e legal de


condições de exercício de direitos indispensáveis à formação da opinião
individual e coletiva, à organização de candidaturas políticas alternativas e
à realização do sufrágio universal sem manifestações de coação. O
exercício efetivo dos direitos constitutivos da democracia permite
evidenciar a existência de uma autodeterminação política dos cidadãos.

24
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Direitos Constitucionais Qualificados para o Exercício da Atividade


Política: Direito à cidadania (art. 4º), de sufrágio (art. 49), de
oposição (art. 114/2), de acesso a cargos públicos (art. 50),
liberdade de expressão e informação (art. 37), de imprensa (art.
38), de reunião e manifestação (art. 45), de propaganda (art.
113/3) e de criação de associações e partidos políticos (art. 51).

○ Questões que colocam em causa o regime democrático: Controlo


dos media por uma força política, instituição da censura,
perseguição de opositores e opiniões contrárias, proibições e
restrições à liberdade de reunião e manifestação ou da atividade
partidária, partidos únicos,...

3.2.2 ELEIÇÕES REGULARES


Conceito: Realização do sufrágio eleitoral mediante mediante o exercício do
voto direto e secreto dos eleitores, no respeito pelo processo jurídico
pré-estabelecido, transparente, equitativo e controlado de forma independente,
seguindo escrupulosamente a Constituição e a legislação eleitoral

★ Observância da Legalidade Estabelecida:

○ Irregularidades em sentido estrito: Defeitos menos graves no


processo eleitoral que podem implicar, apenas, advertências
públicas, aplicação de sanções ou eliminação de alguns boletins de
voto sem expressão no cômputo geral da eleição.

○ Vícios de Procedimento mais Graves: Passíveis de invalidar, em todo


ou parte, as eleições, ainda que inexistam situações fraudulentas. O
rigoroso cumprimento da lei no que respeita ao procedimento de
escrutínio constitui uma garantia contra a manipulação e o abuso
do Estado de Direito.

○ Atos Fraudulentos: Atuações deliberadamente enganosas


destinadas a falsear os resultados eleitorais. Infrequentes e muito
circunscritos nas democracias consolidadas, mas comuns em
democracias deficitárias, autoritárias ou em regimes autocráticos
com um sistema legal semi-competitivo. Pode envolver a intenção
de manipular e intimidar eleitores ou funcionários eleitorais,
destruir e manipular boletins de voto, compra de eleitores,...

★ Sufrágio Direto e Secreto:

○ Sufrágio: Direito político exercido individualmente através do voto


depositado em urna ou mediante processo eletrónico.

25
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ DIRETO: Os cidadãos elegem os seus mandatários para


órgãos representativos sem intermediários26

■ SECRETO: Garantia da liberdade de escolha do eleitor,


criando-se mecanismos para efeito - utilização de urnas
fechadas, cabines de voto, boletins opacos e posteriormente
dobrados e a imposição de uma distância entre os votantes,
os integrantes das mesas, a imprensa e terceiros.

★ Transparência: Exige clareza de normas, procedimentos e condutas no


plano da execução e controlo das eleições. Implica a rejeição de
disposições obscuras que permitam atos arbitrários das autoridades na
condução do processo eleitoral, não atualização ou fiabilidade dos
cadernos eleitorais, formas de contagem de votos insuscetíveis a
escrutínio,...

★ Processo Equitativo: Implica que as regras que presidem o processo


eleitoral sejam justas, de modo a permitirem que a vontade dos eleitores
tenha tradução efetiva na eleição dos mandatários da sua escolha, sem
que se verifiquem distorções desigualitárias ostensivas ou um
desaproveitamento desproporcional dos sufrágios expressos. Envolve:

○ Exclusão de leis eleitorais que procedam a manipulações


demográficas: Como a atribuição de mais peso ao voto de
residentes em áreas específicas.

○ Proibição da fixação de cláusulas-barreira que excluam a


representação de grandes franjas do eleitorado: Distorce a
representação, elimina escolhas,...

○ Proibição de Gerrymandering: Desenho artificial e malabar dos


limites dos círculos eleitorais, de modo a favorecer, indevidamente,
uma determinada força política em detrimento da representação
real do eleitorado. Distorção da representação através da atribuição
do mesmo número de deputados a círculos dotados de colégios
eleitorais numericamente muito distintos.

○ Adoção de leis de financiamento partidário: De modo a impedir


grandes desproporções de apoios financeiros públicos ou privados a
forças com representação parlamentar e que interdite autoridades
públicas de apoiar os candidatos - art. 113/3c da CRP.

26
Na esfera do direito comparado, admite-se legitimidade democrática de sistemas eleitorais em
que a eleição de certos titulares mediante voto direto alterna com outras eleições que se
processam através de escrutínio indireto - ex: eleição do Presidente nos EUA

26
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Controlo Independente: O julgamento da regularidade e da validade


dos atos de processo eleitoral compete aos tribunais (art. 113, nº7 da
CRP), em especial ao Tribunal Constitucional que admite as candidaturas à
presidência, funciona como máxima instância de recurso sobre questões
que envolvam a regularidade e validade dos demais atos eleitorais (art.
223/2c e 92 e ss. da LTC) e verifica o cumprimento das obrigações
financeiras dos partidos para aplicar coimas (art. 103º da LCT).

○ Comissão Nacional de Eleições (CNE): Órgão administrativo


independente que assume poderes funcionais de natureza
fiscalizadora. Instância de recurso de atos relativos à utilização de
espaços públicos e recintos de espetáculo, controlo de legalidade
das contas das campanhas referendárias e exercício de
competências sancionatórias.

3.2.3. ELEIÇÕES PERIÓDICAS


A democracia envolve a proibição de cargos vitalícios em órgãos sujeitos à
escolha do eleitorado e a garantia do direito das oposições desenvolverem
regularmente a sua atividade política de contraponto ao poder e fiscalização do
governo e a oportunidade de, um dia, formarem governo.
Cargos vitalícios redundariam numa ditadura eletiva, na insuscetibilidade
de responsabilização dos titulares dos cargos pela sua conduta no exercício do
poder e na sujeição das gerações futuras aos dirigentes escolhidos pelas
gerações passadas.
Assim, a Constituição apresenta o tempo dos mandatos rigorosamente
fixado, de modo a que seja assegurado o princípio da alternância

3.2.4. ELEIÇÕES COM ALTERNATIVA E EQUIVALÊNCIA DE OPÇÕES


Pluralismo Competitivo: Implica que o eleitorado possa ter a possibilidade de
escolha entre candidaturas formalmente equivalentes (sem preferências
manifestadas pelo Estado), alternativas e concorrentes que sejam livremente
submetidas pelos cidadãos ou organizadas em partidos ou listas independentes,
excluindo cenários de partido único.

★ Opinião Pública e Cultura Dominante: Acabam por privilegiar certas


forças políticas utilizando os media

★ Constituições: Podem, legitimamente, vedar partidos de ideologias


totalitárias que, pelo seu programa ou práticas passadas ou presentes,
criam o risco de subverter a democracia ou apresentam ideologias já
falhadas - ex: Itália proíbe partidos de ideologia fascita

27
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

3.2.5. SUFRÁGIO UNIVERSAL IGUALITÁRIO


Princípio da Igualdade: Cada cidadão é detentor de um voto devido à
igualdade jurídica constitucionalmente reconhecida (art. 13º, nº 1 da CRP). Daí
que o sufrágio é um direito reconhecido a todos os cidadãos maiores e capazes,
sem haver restrições. Fundamenta o princípio da maioria dado que prevalece a
opção que reflete uma maior preferência ou adesão do eleitorado.

3.3 O PRINCÍPIO DA MAIORIA E O CRITÉRIO DA MAIORIA DE DECISÃO


3.3.1. INTRODUÇÃO
Princípio Democrático ou da Maioria: Manifesta-se na conversão de votos em
mandatos e no processo de tomada de decisão pelos titulares do poder
democraticamente eleitos nos órgãos colegiais através da prevalência da decisão
com mais votos (critério da maioria).

3.3.2. NOTA SOBRE A CONGRUÊNCIA ENTRE O PRINCÍPIO MAIORITÁRIO E O SISTEMA


REPRESENTATIVO
Critério Maioritário: Triunfo da opção com maioria simples ou relativa aos
votos dos titulares. Permite deliberar mais agilmente, beneficiando
frequentemente da abstenção de uma parte dos governados. Regra básica de
deliberação (art. 116, nº3 da CRP).

★ Relação de Congruência: Impõe-se por razões lógicas, visto que seria


irracional que prevalecesse a opinião menos popular ou que se impusesse,
como regra, a necessidade de maiorias qualificadas27 - bloquearia o
processo de decisão.

★ Dimensão Axiológica: Reflete a incidência do princípio da maioria pois


serão aprovados os atos votados nos órgãos colegiais que obtiverem
maioria dos votos depositados pelos representantes do povo.

★ Dimensão Utilitária: Reconduz-se à maioria simples ou relativa (art.


116/3 da CRP) - método de deliberação destinado a solucionar conflitos e
a agilizar tomada de decisões em assembleias legislativas fragmentadas.

27
superiores a ⅔ de votos a favor

28
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

SUBSECÇÃO II. OS ÍNDICES DE QUALIDADE DOS REGIMES DEMOCRÁTICOS

1. A EROSÃO DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA


1.1 SINTOMATOLOGIA DE UMA CRISE
Erosão da Democracia: As decisões políticas e legislativas adotadas à luz de
um mero critério maioritário teriam um fraco poder integrador, podendo ser
capturadas por grandes interesses económicos e financeiros. Esta situação pode
levar a insatisfação e, daí, apatia por parte das pessoas, gerando atos eleitorais
menos participados e os partidos a meras máquinas de publicidade organizada28.

Insuficiências do regime democrático representativo:

★ Reducionismo eleitoral: Não exprime todos os ângulos de vontade do


povo pois, entre os atos eleitorais, este não tem capacidade de influir na
tomada de decisão dos seus representantes.

★ Clausura no processo de decisão: Existe uma “Cidade Proibida” dirigida


pela elite política e económica que monopoliza o circuito de decisão,
fechando o debate público e favorecendo tráfico de influências e corrupção

★ Captura do poder político pelo poder económico: Tendência para o


condicionamento do processo de decisão por centros económicos e
financeiros, que dominam grandes grupos dos media, imiscuindo-se na
política, fomentando ”trade offs” irregulares entre o público e o privado.

★ Deslocação da soberania do Estado para estruturas


transnacionais: Como consequência da globalização, organizações
supranacionais (ex: UE) regulam e condicionam a liberdade de decisão
política dos Estados, impondo opções políticas, económicas e sociais que
tornam irrelevantes os programas partidários e as escolhas do eleitorado.

★ Engessamento da representação: Constrição dos direitos políticos,


diminuindo a igualdade e competitividade devido a cláusulas-barreiras
muito elevadas, cordões sanitários29 e manipulação dos círculos eleitorais,
tentando favorecer certas formações em detrimento de outras.

★ Sobre-representação nos media de minorias poderosas: Os eleitos


decidem pressionados por minorias influentes, contra a maioria.

28
A democracia como processo eletivo foi tida por muitos como redutora do alcance axiológico do
princípio democrático, pois a democracia legitima a titularidade e o exercício do poder estatal - a
mera escolha dos governantes é insuficiente: faltam atributos como a soberania popular
29
instrumentalização da comunicação social pública e privada para demonizar certos partidos

29
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Partidocracia e Representação: Intermediação de partidos de


eleitores30 que monopolizam a escolha das candidaturas, passando os
eleitos, declarada a sua independência a vincular-se exclusivamente ao
aparelho partidário ou à própria liderança governativa, em vez da relação
fiduciária eleitor-representante.

★ Afastamento das elites e eleitores do processo representativo:


Questões como a inaptidão crescente dos partidos do arco da governação
de captarem o interesse dos eleitores e a degradação da imagem pública
dos dirigentes por casos de corrupção, conduzem ao declínio da militância,
desconfiança nos partidos, abstenção crescente,...

★ Domínio das internacionais partidárias e redução das escolhas


eleitorais nacionais: Organizações como a UE, que decidem políticas a
ser aplicadas pelos Estados-Membros, reduzindo as opções dos governos,
levam a que se relativize a importância das escolhas eleitorais e se
questione a utilidade marginal da democracia representativa.

★ Substituição do “povo” pelo “indivíduo” e pela “sociedade civil”: O


povo, enquanto fonte de soberania, é substituído pela ideia de cidadão do
mundo, sobrevalorizando várias liberdades subjetivas, cuja garantia passa
a ser o fundamento da democracia, numa ideia de sociedade civil como
somatório de comunidades ou grupos de interesse - a democracia, que
implica ontologicamente a prevalência da maioria, sofre uma inversão e
passa a operar como a supremacia das minorias sobre as maiorias

★ Representação formal: Dos objetivos de representação parlamentar,


ligada à natureza do sistema eleitoral, é a única que resta intacta.

○ Representação Descritiva: Os partidos já não refletem as


características próprias dos eleitores, por ineptidão própria,
desinteresse ou alterações na morfologia desses eleitores.

○ Representação Substantiva: Existe uma enorme falta de


comunicação entre os eleitores e os eleitos, assim como dificuldade
de captar os reais interesses dos eleitos e facilidade de afastar das
promessas do programa eleitoral

○ Representação Simbólica: Devido à despolitização dos programas


de ação, do desaparecimento dos fundadores e referências
iconográficas, do não cumprimento do programa de ação, ….

30
“catch all parties” - partidos preocupados em abranger o maior número de votantes de todos os
estratos através de uma máquina sofisticada e com programas vagos e pouco demarcados
ideologicamente de modo a não afastar certos grupos de eleitores

30
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

1.2 NOTA SOBRE A CRISE DA REPRESENTAÇÃO E A HIPÓTESE DE EVOLUÇÃO PARA UM


CENÁRIO “PÓS-DEMOCRÁTICO” E PARA UM “CONSTITUCIONALISMO
TRANSNACIONAL”
1.2.1 DA “MODERNIDADE PÓS-DEMOCRÁTICA”
Pós-Democracia: Ideia de um Estado que mantém, formalmente, as
componentes da democracia competitiva, mas que evolui para novas formas de
exercício do poder nas quais se relativiza o papel do povo na escolha dos seus
representantes e programas de governo, em benefício dos interesses e opções
de uma elite política, nacional e transnacional, condicionada pelo poder
económico. A essência das políticas implantadas sofreria poucas alterações,
independentemente do partido vitorioso.

★ Sintomatologia de uma sociedade política pós-democrática:

○ Governamentalização da Política

○ Prevalência do Liberalismo sobre a Democracia: Devido à erosão do


princípio da igualdade, derivado do peso exibido pelos grupos de
interesse económico junto do poder político

○ Criação de lideranças político-partidárias profissionalizadas:


Dependentes de uma subclasse de assessores e analistas
especializados em marketing eleitoral, tática e política que
protagonizariam jogos de poder e de concertação de interesses com
grupos de pressão do universo empresarial económico-financeiro

○ Domínio dos grandes partidos: Através de uma indústria de


comunicação e imagem direcionada para um discurso simplista
como via de comunicação com as massas, agregado à
personalização da política, exploração do carisma e prevalência da
“política espetáculo” sobre o debate de ideias.

○ Atenuação das fronteiras entre o público e o privado: Privatização


crescente das atividades do Estado além da esfera empresarial,
redução das tarefas de segurança, defesa e política externa e
aproximação de programas económicos liberais abertos à
globalização

○ Frustração, desilusão e apatia do eleitorado: Aumento da abstenção


e reforço dos partidos anti-sistema.

○ Declínio do associativismo sindical: Desaparecimento do trabalhador


manual e diluição ou menor especificidade das linhas de separação
entre classes da base do sistema social.

31
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Emergência da “Firma Global”: Os sobreviventes da concorrência


seriam os senhores da economia global, exercendo o seu poder
através de instituições e organizações internacionais que
influenciariam os Estados e criariam as bases a globalização do
comércio, capitais, empresas, mão-de-obra, comunicações e
serviços em torno de um modelo “neoliberal”, focado na redução
fiscal e desmantelamento do Estado Social.

■ INEXISTÊNCIA DA DEMOCRACIA E CONTRA-PESOS REAIS NA


“FIRMA-GLOBAL”: Devido à dificuldade da economia ascender
a níveis não nacionais onde a essência do poder se começou
a concentrar. Desproteção de garantias e dos direitos
individuais e sociais.

★ Remédios: Reforço da qualidade da democracia, propondo a revisão dos


programas de ensino de modo a evitar a captura por ideários simplistas,
reforço do poder local, abertura dos partidos à participação direta dos
cidadãos, mobilização popular em torno de causas através de movimentos
e redes sociais, controlo regulatório das estruturas do capitalismo global.

2. LINHAS DISCURSIVAS DE REVITALIZAÇÃO DA DEMOCRACIA


REPRESENTATIVA: AS DEMOCRACIAS PARTICIPATIVA, CONSOCIATIVA,
DELIBERATIVA E SEMI DIRETA
2.1 DEMOCRACIA PARTICIPATIVA
Noção Geral: Implica a necessidade de incentivar os cidadãos e as suas
estruturas associativas a intervir na tomada de decisões pelos poderes públicos,
assegurando a sua intervenção a título consultivo sempre que estejam em causa
os seus direitos ou interesses protegidos, atenuando a inércia do povo devido à
sua integração no processo de decisão. (art. 2 e 9/c) CRP). Surge como
contraponto à ideia de democracia legal e competitiva que estaria em crise

Fundamentos Elementares:

★ Participação: Apresenta um papel educativo e cria um vínculo psicológico


nos cidadãos, permitindo-lhes interagir de forma inclusiva com os titulares
do poder, dando aso a experiências inovadoras como a dos “orçamentos
participativos" e “fiscalização participativa"

○ Partidos: Criação de partidos participativos com a responsabilização


direta dos dirigentes diante militantes ou aderentes.

32
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Esfera Comunicacional: Transparência do processo público de


decisão e comunicação aberta que garanta decisões informadas.

★ Concertação Social31: Implica a necessidade de institucionalizar


estruturas de representação pública dos principais interesses associativos,
designadas de “parceiros sociais” do Estado, para permitir que a sociedade
civil transmita à política o seu entendimento sobre questões económicas,
sociais e culturais. Modelo base da UE.

★ Áreas do Universo Jurídico em que esta Democracia se Manifestou:

○ Legística: No domínio do conhecimento centrado na melhoria da


qualidade das leis, ouvir estruturas privadas sobre as quais se vai
legislar permite que as normas atinjam melhor o seu fim.

○ Procedimento Administrativo: Preocupa-se em garantir a


participação dos particulares interessados relativamente à prática
de atos administrativos ou de normas regulamentares que afetem
os seus direitos e interesses legalmente protegidos.

★ Plano Administrativo Governativo: Início de operações procedimentais


de simplificação, informação e criação de plataformas informáticas com
terminais de contacto interativo com os administradores.

○ “e-governo” ou "e-administração": Visa criar um novo paradigma de


gestão pública caracterizado por uma maior transparência,
disponibilizando gratuitamente conteúdos e dando abertura à
participação de cidadãos e outros interessados na formulação de
propostas e colaborando com o Estado em investigação.

★ Plano Partidário: Algumas formações políticas têm sido reorganizadas


no sentido de uma maior intervenção de militantes e simpatizantes em
escolhas eleitorais internas.

2.3 DEMOCRACIA DELIBERATIVA


Conceito: Decisão pública como processo dialógico que apresenta mecanismos
destinados a permitir vias de comunicação e discussão inclusiva, alargada e
participada no espaço público sobre matérias submetidas à decisão por parte das
autoridades representativas. Envolve um alargamento dos intervenientes no
processo de decisão e a transmissão e circulação de razões argumentativas de

31
Surgiu com o pós segunda guerra mundial na Alemanha

33
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

fácil acesso num processo dinâmico, suscetíveis de conduzir a uma decisão


vinculativa por um ciclo temporal limitado, findo qual se admite uma nova lei.

★ Objetivos: Potenciar o diálogo real entre os poderes públicos envolvidos


no processo de decisão e a promoção de uma cidadania crítica,
responsável e vigilante, capaz de discutir as questões relevantes.

★ Legislador: Deve fundar as normas que propõe e aprova em razões


argumentativas consistentes que respondam a razões contrárias ou
diversas, oriundas de outras instituições e dos cidadãos. A legitimidade
das suas decisões vem do processo deliberativo.

Democracia Deliberativa Institucional e Extra-Institucional: A política


deliberativa operaria através de duas vias:

★ Via Institucional: Traduz-se na comunicação dialógica entre órgãos de


poder, mas onde seria possível e desejável integrar canais formais de
intervenção cidadã.

★ Via Extra-Institucional: Integrada pelo debate dinâmico e livre no


espaço público.

Democracia Digital como Variante da Democracia Deliberativa


Extra-Institucional: O ativismo político informalizou-se nas redes sociais,
ultrapassando a rigidez da comunicação social, fronteiras nacionais, hierarquias
tradicionais de feitura da opinião pública e barreiras culturais e legais entre o
público e o privado. O novo espaço público de debate alargou-se à blogosfera e
ao ciberespaço. Esta e-política cria uma democracia deliberativa informal de
vocação globalista e multicultural.

2.4 DEMOCRACIA SEMIDIRETA


Noção: Instituto juridicamente regulado que permite aos cidadãos, por via do
sufrágio universal, direto e secreto, manifestar a sua posição ou decidir sobre
questões de relevância política que lhes são submetidas, seja por iniciativa ou
convocação dos governantes. Mecanismo referendário. Complemento (não
substituição) da democracia representativa.

★ Argumentos a Favor da Expansão da Democracia Representativa:

34
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ O referendo é uma das manifestações mais genuínas de


democracia: Ao dar poder de deliberação ao povo em vez de a
mandatários, legitima as escolhas e afasta lobbies.

○ Quebra o défice de comunicação entre governantes e governados:


Tomando em maior consideração as visões do povo, que fica
vinculado à sua escolha.

○ Evita a redução da democracia a simples eleições periódicas:


Revitaliza o papel individual dos cidadãos na tomada de decisões
sem intermediários, revalorizando a dimensão personalista de uma
cidadania não apática, participativa e minimamente informada

○ Potencia um maior controlo do poder

○ Possibilidade de “Desempate”: Em assuntos divisos em que exista


um claro défice de legitimidade dos representantes para decidir,
permite transferir para os governados a faculdade decisória

○ Na era da comunicação, do aumento da literacia, do acesso dos


cidadãos ao ensino e da circulação da informação no ciberespaço, a
capacidade de decisão dos indivíduos é potenciada.

★ Argumentos Contra a Expansão da Democracia Representativa:

○ Deslegitimação da democracia representativa

○ Permitiria que certas instituições conseguissem curto-circuitar


outras

○ Criaria riscos de tiranias maioritárias opressivas

○ Não integraria as visões intermédias devido à linearidade do “sim”


ou do “não”, típica dos referendos

○ Envolveria pessoas muito pouco ou nada informadas, mas com


poder de decisão

○ Seria vulnerável à demagogia e à captura do processo por grupos


económicos ou de interesses mais fortes

35
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

5. AS DEMOCRACIAS LIMITADAS: REGIMES DEMOCRÁTICOS “ILIBERAIS”,


“AUTORITÁRIOS” E “DEFICITÁRIOS”
Democracias "Defectivas" ou “Defeituosas”32: Regimes em transição que
não alcançam o paradigma da democracia liberal, mas que já não se enquadram
nos regimes autoritários por apresentarem condições mínimas de limitação do
poder através da sua separação e de um sistema eleitoral que envolve sufrágio
livre, todavia, incorporam restrições suficientemente significativas para lhes ser
reconhecida alguma atipicidade ou hibridismo

5.1 DEMOCRACIAS ILIBERAIS


Definição: Estado de Direito dotado de sistemas políticos e eleitorais que
potenciam executivos estáveis e fortes, reduzindo a essência da representação
parlamentar às principais forças partidárias. A prática constitucional e política
proporciona apenas garantias parciais do exercício de diversos direitos políticos.
São fixados limites a formas de heterocontrolo da legalidade do poder político.
Quem vence as eleições prossegue o interesse nacional, se necessário contra os
interesses de minorias, reduzindo o poder de “veto players” - ex: Hungria

★ Justificação: A democracia insuflada por ideias liberais deixa de ser um


poder soberano do povo assente no critério maioritário, para ser uma
democracia de “direitos do homem” em que a soberania se transfere para
o indivíduo, para os tribunais e um conjunto de “veto players”. Reação do
princípio democrático contra um défice na soberania popular.

5.2 DEMOCRACIAS AUTORITÁRIAS


Definição: Regime em que, apesar dos governantes serem designados pelos
governados em eleições minimamente pluralistas, há condicionamentos fáticos e
jurídicos à liberdade, igualdade e equivalência de opções entre forças políticas,
uma excessiva concentração de poderes no executivo e compressões nos direitos
políticos dos cidadãos. Híbrido entre regimes democráticos-representativos
competitivos e regimes autoritários semi-competitivos

Variantes deste tipo de democracia:

★ Democracia Tutelada: Regime basicamente representativo onde existem


domínios reservados a entidades não eleitas democraticamente que
detém, sobre esses, um poder auto-regulador e/ou direito de veto ou
impedimento. Comum nos Estados em transição para a democracia33.

32
O Prof. CBM prefere o uso da designação: “Democracias Limitadas”
33
Ex: Portugal entre 1976 e 1982 - o Conselho de Revolução exercia um poder de autogestão em
matéria militar e operava como órgão político e controlo da constitucionalidade

36
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Democracia de Domínio: Caracteriza-se pela existência de forças fáticas


com grande poder que condicionam a autonomia dos governantes eleitos
por um sufrágio eleitoral competitivo34.

★ Democracia Delegante: Implica que os freios e contrapesos não operem


adequadamente na lógica elementar do princípio da separação de
poderes, fazendo acrescer competências à esfera do Executivo que atua
com controlos débeis35.

★ Democracia Excludente: Apresenta sufrágio não universal e não


inclusivo, atualmente é difícil encontrar este regime36.

★ Democracia Neo-Cesarista: Situa-se na linha ténue de fronteira com


regimes autocráticos semi-competitivos. Associa-se à idiossincrasia de um
povo secularmente associado a uma liderança executiva forte37.

SECÇÃO III: REGIMES AUTOCRÁTICOS


SUBSECÇÃO I. EM QUE CONSISTE UMA AUTOCRACIA

1. CARACTERIZAÇÃO
Autocracia: Ordem de domínio fundada num ideário oficial que fundamenta o
exercício concentrado e não efetivamente controlado do poder político por parte
de um grupo que domina as instituições estaduais e restringe ou veda acesso
dos governados poder através da supressão dos seus direitos políticos.

★ Núcleo de Condução Política: Atribuído a um órgão unipessoal ou


diretório político ou militar. Está ausente o princípio da separação de
poderes. Mesmo quando componentes das funções do Estado são
atribuídas a órgãos diversos, existe sempre um deles que se encontra
numa posição de supremacia.

34
Ex: Kosovo - Estado criado pela NATO e sujeito à sua proteção e influência
35
Ex: Argentina desde a democratização em 1982 - nem o Congresso nem o Judiciário conseguem
limitar a concentração de poder no Presidente da República
36
Ex: África do Sul até 1994 - com o Apartheid, o direito de sufrágio competitivo (para a eleição
de câmaras separadas) só era garantido a brancos, mestiços e indianos
37
Ex: Rússia desde 1991 - Apresenta um partido hegemónico de ideologia conservadora e
nacionalista, mas de estrutura fraca e fortemente dependente da vontade do líder executivo,
favorecido pelo sistema eleitoral e pelo envolvimento do sistema do Estado no sufrágio. Existem
partidos de oposição, cujos direitos de manifestação e reunião se encontram limitados para os
partidos que mais criticam o regime.

37
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Controlos Interorgânicos: A ausência de uma real separação de


poderes priva o regime de freios e contrapesos genuínos entre
instituições, esvaziando a utilidade dos controlos interorgânicos.

★ Restrição ou Supressão de Direitos Políticos: Meio indispensável de


conservação do monopólio do poder por um grupo restrito e organizado
que exclui ou reduz o papel de qualquer alternativa política.

★ Ideário: O Estado é embebido num ideário que intenta justificar o


fundamento da concentração da autoridade na esfera do grupo de domínio

2. TIPOLOGIA ELEMENTAR
2.2 POSIÇÃO ADOTADA
O Prof. Regente considera que os Estados autocráticos se podem diferenciar em
dois modelos: o Estado totalitário e o Estado autoritário.

2.2.1 O ESTADO TOTALITÁRIO


Definição: Conceção ideológica integral do Homem, da sociedade e do poder
político construída por uma filosofia pública de Estado, dinamizada por um
partido único que detém a autoridade pública e a exerce de forma exclusiva,
utilizando o monopólio da educação, dos media e um aparelho repressivo de
carácter judicial, policial e paramilitar para a conservação - ex: Rússia comunista
estalinisita e Alemanha nazi.

Características:

★ Ideologia Oficial do Partido e do Estado: Utópica ou com pretensões


de cientificidade, propõe construir uma sociedade ideal, reduzindo a
autonomia individual na política, direito, economia, cultura, educação,...

★ Partido Único: Com carácter dirigente, organizado como uma formação


política de massas fortemente hierarquizada e disciplinada. Controla
política e ideologicamente o Estado e a sociedade, através do seu forte
poder de mobilização social, operando a partir de comités em todos os
domínios da vida coletiva.

★ Liderança do Estado e Partido por um Ditador ou Diretório:


Concentra o núcleo das funções estaduais sem controlos interorgânicos
reais. É nomeada por convenções partidárias e assembleias institucionais
designadas direta ou diretamente em eleições não competitivas pelo povo.

38
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Meios de Comunicação de Massas: Operam como veículos de


propaganda oficial monopolizados pelo partido. A liberdade de expressão e
de imprensa dos opositores e dissidentes é severamente censurada.

★ Aparelho Repressivo Policial: Dirigido contra toda a oposição e


divergência política, atuando uma polícia secreta ou do Estado.

★ Direitos: Nominalização dos direitos civis, esvaziamento dos direitos


políticos e cedência do direito em vigor perante decisões do Estado,
carecendo os tribunais de independência e imparcialidade

★ Economia: Planificada, centralizada, condicionada e restringida.

2.2.2 O ESTADO AUTORITÁRIO


Definição: Existência de um ideário público que justifica a concentração do
poder num órgão supremo que, sem intentar moldar a esfera privada dos
cidadãos ou a vida em sociedade, pretende dominar aspectos fundamentais da
vida política do Estado, limitando a escolha dos governantes pelos governados.

Características:

★ Ideologia Estatal: Integra valores de abertura e consistência variável


Destina-se a configurar o poder instituído no quadro de um Estado de
legalidade formal e a estruturar alguns aspetos da vida em sociedade,
respeitando, dentro de limites, expressões do pluralismo social.

★ Órgão de Poder Supremo: Geralmente o Chefe de Estado ou Governo,


sustentado numa estrutura de poder38 que vai exercer um poder de
direção e controlo decisivo sobre as demais instituições e de mobilização
social sem grande intensidade permanente.

★ Aparelho Policial Repressivo: Dirigido, seletivamente, a inimigos do


regime e a opositores cuja conduta o possa enfraquecer. Associado à
restrição expressiva de direitos políticos, sem que se iniba formas
toleradas de oposição política e alguma margem de liberdade de
expressão e de exercício do direito de comunicação social

★ Direitos: Respeito pelos direitos de propriedade e iniciativa privada, sem


prejuízo de quadros de preferência no exercício desses direitos e de um
grau variável de medidas de planeamento e intervenção do Estado.

38
composta por uma aliança entre as forças armadas, um partido ou movimento político
dominante e diversos corpos sociais, económicos e administrativos.

39
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Formas Limitadas de Legitimidade Democrática: Compromisso , mais


ou menos variável, do Estado de legalidade com formas nominais ou
limitadas de legitimidade democrática, nomeadamente através de
plebiscitos e eleições semi-competitivas, ou seja, escrutínios parcialmente
afetados nos seus predicados elementares de liberdade, igualdade,
competência e transparência.

Variantes:

★ Sultanismo: Mistura entre o poder político e patrimonial dos


governantes, pertencentes a uma família ou clã político

★ Regimes Militares: As forças armadas governam em ditadura durante


um período, tentativamente, transitório

★ Cesarismos Revolucionários: Regime vanguardista civil-militar liderado


por um chefe carismático

★ Gerontocracias Institucionais: Grupo organizado e fechado que exerce


o poder com apoio das forças armadas, grupos económico-sociais e
administração pública

★ Teocracias com Pluralismo Limitado: Subordinação do poder civil


designado em eleições não competitivas ou semi-competitivas a
autoridades religiosas com poder de direção e veto

CAPÍTULO III. OS SISTEMAS POLÍTICOS EM REGIME


DEMOCRÁTICO

SECÇÃO I: OBSERVAÇÕES CONCEPTUAIS E TIPOLÓGICAS


2. CONCEITO E ATRIBUTOS: SISTEMA POLÍTICO, ESTRUTURA DO PODER
Sistema Político: Modelo de estruturação e de relacionamento dos órgãos de
soberania no exercício do poder através do qual se agrupam os atributos comuns
dos modos de organização do poder, para os incluir em categorias.

★ Órgãos de Soberania: Relevam para a definição de sistema político,


sendo aqueles que exercem o poder político, ou seja, a função política

40
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Função Política Sentido Amplo: Ordenação da vida coletiva, através


de decisões que definem o interesse público na prossecução dos
fins do Estado. Inclui a atividade legislativa e a política stricto sensu

■ FUNÇÃO POLÍTICA EM SENTIDO ESTRITO: Exercício de


direção e controlo por atos políticos individuais e concretos.

3. INTRODUÇÃO AOS TIPOS ELEMENTARES DE SISTEMAS POLÍTICOS


3.1 SISTEMAS PARLAMENTARISTAS
Conceito: A fonte da legitimação, da responsabilidade política e da subsistência
em funções do governo repousa num Parlamento democraticamente eleito, não
exercendo o Chefe de Estado poderes de direção e controlo político relevantes.

Características:

★ Função Política: Exercida pelo Chefe de Estado, Parlamento e Governo.

★ Poder Executivo: Governo e Chefe de Estado

★ Relação Fiduciária entre o Parlamento e o Governo: Existem


controlos recíprocos, mas dependência do Governo do Parlamento39

Parlamentarismos com arbitragem presidencial: O Chefe de Estado é eleito


democraticamente e apresenta poderes pouco relevantes, mas podem emergir
responsabilidades arbitrais, reguladoras ou de atenuado controlo interorgânico,
como a nomeação de cargos públicos ou o veto suspensivo - ex: Bulgária

Representação Partidária no Parlamento:

★ Bancada Parlamentar Maioritária Apoia o Governo: O governo,


apoiado por uma bancada parlamentar maioritária que controla, afirma-se
como instituição liderante. Normalmente, 2 partidos que alternam o poder.

★ Parlamento Fragmentado: Existe uma pluralidade de partidos rígidos e


independentes. Dificulta governos maioritários homogéneos, tornando-os
dependentes de alianças e acordos.

39
Dependência do Governo: O Governo emana do Parlamento, sendo confirmado em funções por
um voto de investidura, a sua atividade é objeto de controlo e responde politicamente, apenas, ao
Parlamento, permanecendo em funções se não merecer a sua reprovação

41
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

3.2 SISTEMAS PRESIDENCIALISTAS


Conceito: Consiste na legitimação popular do Presidente da República por via de
uma eleição por sufrágio universal, na chefia direta do Governo ou
Administração pelo Presidente da República e na independência política e
funcional estabelecida entre o Chefe de Estado e o Parlamento, sem prejuízo da
existência de controlos recíprocos. O Presidente exerce funções políticas e
executivas e o Congresso funções políticas e legislativas

3.3 SISTEMAS SEMIPRESIDENCIALISTAS


Conceito: Sistema misto, com traços do Parlamentarismo e do Presidencialismo.
O Governo, encabeçado pelo Primeiro-Ministro, é duplamente responsável
politicamente perante o Parlamento, e o Presidente é eleito por sufrágio
universal, podendo exercer poderes com alguma relevância de controlo ou
direção inter-institucional (como a competência para dissolver o Parlamento).

3.4 SISTEMA DIRETORIAL COMO FIGURA RESIDUAL


Conceito: Democracia consociativa de fonte parlamentar, alicerçada numa
relação estreita entre o Parlamento e um Diretório executivo, em que os
membros do segundo são eleitos pelo primeiro de modo a que nele estejam
representadas as principais forças partidárias, sendo a chefia do Estado um
cargo simbólico assumido rotativamente entre os membros do diretório. O chefe
de Estado não pode dissolver o Parlamento nem ser destituído por este.

SECÇÃO II: OS FATORES CONDICIONANTES DA


CONFIGURAÇÃO DA DINÂMICA DE UM SISTEMA POLÍTICO
3. A RELAÇÃO INCONTORNÁVEL ENTRE SISTEMA ELEITORAL, DE PARTIDOS E
POLÍTICO DE GOVERNO
3.1 SISTEMAS ELEITORAIS
3.1.1 CONCEITO
Sufrágio Eleitoral:

★ Direto ou Individual: Colégio eleitoral geral e homogéneo que congraça


os cidadãos eleitores, podendo coincidir com um círculo nacional único ou
decompor-se em colégios territoriais (ex: eleição do Chefe de Estado por
sufrágio universal em Portugal)

★ Indireto: Sucessão ordenada de colégios em que os eleitores de um


colégio eleitoral vão designar os eleitores de outro de grau superior que
irá eleger o titular do poder (ex: eleição presidencial nos EUA)

42
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Eleição Política: Meio de designação dos titulares de um órgão de poder,


mediante uma votação, na qual intervêm as pessoas a quem é reconhecido o
direito de sufrágio. Em democracia é individual, livre, competitiva, igual e com
alternativa de opções, representando o consentimento dos governados

★ Sistema Eleitoral: Conjunto de normas, procedimentos e técnicas que


estruturam o modo como os votos dos eleitores se transformam na
designação de mandatários

○ Eleição Presidencial:

■ 1 VOLTA: É eleito o candidato com mais votos.

■ 2 VOLTAS: Em caso de nenhum candidato receber na


primeira volta mais de 50% dos votos, é feita uma nova
eleição entre os dois candidatos mais votados.

○ Eleição Parlamentar: Produz efeitos expressivos no sistema

■ SISTEMAS PRESIDENCIALISTAS: Pode facilitar ou travar a


tomada de decisões do Chefe de Estado consoante a maioria
partidária politicamente homogénea faz apoio ou oposição.

■ SISTEMAS PARLAMENTARISTAS E SEMIPRESIDENCIALISTAS:


Pode estimular ou frenar a liderança institucional e a
durabilidade do Governo consoante a maioria parlamentar é
de apoio ou oposição, já que a subsistência e estabilidade
política governamental depende da confiança parlamentar.

3.1.2 TIPOLOGIA ELEMENTAR


Sistemas Eleitorais:

★ Sistemas Maioritários: O Estado divide-se em círculos eleitorais,


geralmente uninominais40, de pequena dimensão e o partido vencedor
ganha a totalidade dos mandatos em disputa - círculos plurinominais41
favorecem os maiores partidos do sistema.

★ Sistemas Proporcionais: O Estado divide-se num único círculo


plurinominal ou em círculos regionais plurinominais e os partidos
apresentam listas de candidatos para os círculos. Consoante o número de
votos obtidos, são eleitos candidatos de cada partido - tende a resultar na
distribuição equitativa de lugares entre todas as formações partidárias.

40
elege um só representante
41
elegem vários representantes

43
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Sistemas Mistos: Combinam uma forma de escrutínio proporcional com


outra maioritária. O eleitor dispõe de dois votos, um para eleger um
mandatário num círculo uninominal e outro para eleger mandatários
constantes de listas partidárias em círculos plurinominais - procura
favorecer os maiores partidos, sem prejudicar as minorias.

Efeitos dos Sistemas Eleitorais:

★ Sobre os Eleitores: Sistemas maioritários favorecem o voto “útil”,


sistemas proporcionais simples o voto “sincero”.

★ Sobre os Partidos: Sistemas maioritários favorecem a concentração dos


votos em poucos partidos, sistemas proporcionais uma fragmentação
pluripartidária no parlamento.

★ Sobre o Sistema Político: Sistemas bipartidários e multipartidários


bipolares com partidos independentes ou mitigados com formações de
charneira tendem a formar governos estáveis. Sistemas multipartidários
dispersivos tendem a debilitar o Executivo, reforçando o Parlamento.

3.1.4 BENEFÍCIOS E CUSTOS DOS PRINCIPAIS SISTEMAS ELEITORAIS


Sistemas Maioritários:

★ Vantagens:

○ Vencedor Claro

○ Estabilidade Governativa e Viabilidade de Execução do Programas:


Devido à formação de executivos apoiados em maiorias
parlamentares tendencialmente monopartidárias ou em coligações
de partidos politicamente afins

○ Aproximação do Eleitor do Mandatário Eleito: Acentua a


responsabilização do mandatário pela sua atividade parlamentar,
que terá de visitar o seu círculo eleitoral e interagir com os seus
residentes se quiser ser reeleito.

○ Reforça o Estatuto da Oposição: Reduzindo o leque de escolha


política e limitando a representação parlamentar de partidos
anti-sistema de média dimensão ou pequenos partidos de protesto

44
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Desvantagens:

○ Risco de Distorção do Princípio Democrático: Se o número de


eleitores não estiver equitativamente distribuído pelos círculos o
partido mais votado pode não obter o maior número de mandatos

○ Subversão da Representação: Supervalorização com maiorias


absolutas partidos que obtiveram na primeira volta números não
tão altos e subvalorização de partidos com expressão média42.

○ Desperdício de Votos e Penalizações Desproporcionais: Ocorre nas


votações a uma só volta quando não se consegue o primeiro lugar
nos círculos eleitorais em disputa

○ Fomenta o Localismo: Leva os deputados a defenderam os


interesses das suas circunscrições ou regiões em detrimento do
interesse nacional, afetando a disciplina parlamentar

Sistemas Dispersivos de Representação Multipolar

★ Vantagens:

○ Justiça na Representação de Todas as Correntes Políticas: Devido à


correspondência aproximada de votos e mandatos, ficando o
Parlamento um retrato das preferências dos eleitores.

○ Integração Participativa de Todos os Grupos Políticos: Canaliza a


conflitualidade inerente às sociedades para o Parlamento

○ Elege membros que, de outra forma, não teriam oportunidade

○ Privilegia o Voto Sincero: Escrutínio de ideias e não homens

○ Dá voz a Minorias e novas forças políticas

○ Compromisso: Potencia opções fundadas na negociação

★ Desvantagens:

○ Fragmentação Excessiva das Opções: Permite a representação de


micropartidos e confere uma expressão significativa a partidos
pequenos, extremistas ou de protesto.

42
Em 2017 o REM obteve apenas 32,7% dos votos em França mas 350 em 577 deputados

45
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Não Favorece a Formação de Governos Duradouros: Geralmente


são eleitos governos minoritários, instáveis, precários ou produto de
coligações entre partidos heterogéneos.

○ Reduz a Eficácia do Processo de Decisão Política: Preocupação de


acomodar compromissos e não de prosseguir o interesse público.

○ Aproxima Programas Políticos Entre Partidos Diversos: Acaba por


reduzir alternativas reais de poder, podendo gerar abstenção e
crescimento de partidos extremistas ou ideológicos anti-sistema.

○ Reduz a Relação Eleitor/Eleito

○ Favorece Lideranças Parlamentares Oligárquicas: Inibe a autonomia


de deputados

○ Pulveriza o Voto e a Representação: Favorecendo a entrada de


representantes que nunca teriam sido eleitos

○ Potencia a Corrupção: Parcerias foscas com grupos do setor privado

3.2 INTRODUÇÃO AO SISTEMA DE PARTIDOS


3.2.2 TIPOLOGIA
Sistemas com Partido Hegemónico e Multipolarismo Limitado: A
representação parlamentar supõe a existência de um partido que se conserva
duradouramente no poder, solitariamente ou com aliança com pequenas
formações satélites, dispondo de uma larga maioria de mandatos que se
contrapõe a uma pluralidade limitada de partidos de oposição de ideologias
muito distintas e de média ou pequena dimensão - ex: Rússia

Bipartidarismo Bipolar: Sistema marcado por dois partidos dominantes,


independentes e rígidos que polarizam em dois centros de gravidade a
representação parlamentar, absorvendo conjuntamente cerca de 85% da
mesma, alternam no poder em ciclos de duração variável - ex: EUA

Multipartidarismo Bipolar: Implica o domínio da representação parlamentar


por duas alianças alternativas da mesma família política, flexivelmente
organizadas e em que em cada uma delas um partido assume uma posição
dominante ou liderante - ex: França até 2017

46
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Multipartidarismo Multipolar de Elevada Dispersão: Pauta-se pela


fragmentação da representação numa pluralidade significativa de partidos, na
maioria rígidos e independentes, cuja dimensão e relações políticas incertas com
outras formações tanto podem gerar coligações minimamente duráveis entre
partidos da mesma família política como coligações frágeis de partidos de
ideologia heterogénea ou, ainda, executivos minoritários.

Multipartidarismo Multipolar Mitigado: Dispersão limitada do número de


partidos representados no Parlamento, com predomínio de grandes formações
liderantes que não dispõem do número de mandatos necessário para formarem
governos monopartidários, ensaiando coligações com outros partidos

3.3 DOS CRITÉRIOS RESPEITANTES AO IMPACTO DO SISTEMA ELEITORAL NO SISTEMA


DE PARTIDOS E DESTE NO SISTEMA POLÍTICO
3.3.1. INTRODUÇÃO À TEORIA CLÁSSICA DOS EFEITOS INTERSISTÉMICOS DO MODELO
DE ESCRUTÍNIO ELEITORAL
Leis Sociológicas43 de Maurice Duverger: Relativas à influência do sistema
eleitoral no sistema de partidos, sustentam que:

★ Sistemas Maioritários a Uma Volta: Geram um bipartidarismo perfeito.

★ Sistemas Maioritários a Duas Voltas: Geram um multipartidarismo


bipolar (ou dualista) com alianças de partidos em cada polo.

★ Sistemas Proporcionais: Geram multipartidarismo e fragmentação


representativa

3.3.2 LINHAS DE FORÇA CONTEMPORÂNEAS SOBRE OS EFEITOS DOS SISTEMAS


ELEITORAIS NO SISTEMA PARTIDÁRIO E DESTE SISTEMA POLÍTICO
Fatores Causa de Metamorfoses nas Leis Sociológicas:

★ Fatores Exógenos:

○ Contexto político, histórico e cultural do Estado em causa

○ Existência de minorias ou fortes comunidades nacionais, étnicas e


linguísticas concentradas em determinados círculos

43
O Prof. CBM não fala em “leis”, mas tendências devido ao seu carácter probabilístico e não certo

47
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Abstenção

○ Comportamento deliberado do eleitorado contrário à lógica eleitoral

○ Aparecimento de novos eleitores de camadas mais jovens


(abaixamento da idade para votar)

○ Alterações da composição partidária (cisões de grandes partidos,


entrada de novos partidos de média dimensão ou com um perfil
anti-sistema que enfraquecem os partidos mainstream,....)

★ Fatores Endógenos: Efeitos transformistas da engenharia eleitoral sobre


os sistemas de escrutínio clássicos que geram novas democracias e
alterações sensíveis à operatividade ordinária dos sistemas eleitorais.

○ Génese de novos sistemas mistos com componente maioritária e


proporcional

○ Correção ou modificação de fórmulas

○ Redefinição da dimensão dos círculos

○ Elevação do quociente eleitoral

○ Introdução ou alteração de cláusulas barreira ou de desempenho

○ Acoplamento de mecanismos de voto preferencial ou transferível

Tendências na Correlação entre Sistemas Eleitorais-Partidos-Governo44:

★ Sistemas Eleitorais Maioritários a 1 Volta:

○ Formato partidário estruturado45: Potenciam o voto estratégico nos


grandes partidos, fomentando o bipolarismo e o bipartidarismo,
levando a governos maioritários de legislatura, geralmente de um
só partido - ex: RU e Malta.

○ Formato partidário não estruturado: Podem emergir e desaparecer,


em pouco tempo, partidos de variável força política, logo não se
verifica o tal voto estratégico, o bipolarismo e o bipartidarismo - ex:
América Latina

44
Preconizadas pelo regente
45
A opção do eleitorado centra-se mais no partido, menos no candidato

48
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Com representação expressiva de partidos autonomistas ou


separatistas com uma estrutura rígida, forte expressão identitária e
número significativo de círculos eleitorais nominais: Pode fomentar
um quadro tripartidário46, ou até, um multipartidarismo dispersivo
ou multipolar47, com governos de coligação e estabilidade variável.

○ Com uma elevada concentração de eleitores de partidos nacionais


de média dimensão em regiões específicas, permitindo vencer um
número considerável de circunscrições: Pode quebrar a lógica
bipartidária e acentuar o protagonismo de um terceiro partido, cuja
representação parlamentar pode favorecer fenómenos de
tripartidarismo, dificultando a criação de governos maioritários48.

○ Se um dos grandes partidos no poder sofrer uma cisão e se


fracionar em várias formações políticas: Pode vir a favorecer uma
situação de multipolarismo limitado49.

★ Sistemas Eleitorais Maioritários a 2 Voltas: Tendem a potenciar o


bipolarismo num quadro multipartidário formado por dois blocos de
partidos independentes, reduzindo a representação de pequenos e médios
partidos fora dessas alianças. Favorece governos de coligação no quadro
da mesma família política e, por vezes, governos de um só partido.

○ Exceções:

■ NOVOS PARTIDOS, FORA DAS ALIANÇAS TRADICIONAIS,


REGISTAREM UMA VOTAÇÃO ELEVADA NA PRIMEIRA VOLTA:
Num contexto de desestruturação partidária, estes partidos
conseguem alterar o sistema de desistências para o segundo
turno, gerando um quadro multipartidário fragmentado

■ SE A BARREIRA DE ACESSO À SEGUNDA VOLTA FOR BAIXA:


Facilita o acesso a uma série de partidos, criando risco de
uma fragmentação parlamentar multipolar e a constituição de
governos de ligação excêntricos e frágeis.

46
Reino Unido em 2010, em vez da dicotomia Trabalhistas/Conservadores, nenhum partido
chegou aos 30% devido à entrada dos Liberais no espaço político com 23% e da expressão de
partidos autonomistas - Foi formado governo com uma coligação Conservadores (26%)/Liberais
47
Caso da União Indiana que, devido à emergência de partidos pequenos de ideologias marxistas,
criou um sistema multipartidário com 36 partidos representados no Parlamento em 2014
48
Criação dos Novos Democratas no Canadá que surgem como terceira força política devido a
círculos como o Quebec, tendo chegado a ultrapassar os Liberais e a quebrar o bipartidarismo,
ainda que os Conservadores tenham mantido a maioria parlamentar
49
cenário hipotético

49
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Sistemas Proporcionais: Potenciam um multipartidarismo multipolar,


pois, a eleição proporcional pelos votos obtidos implica uma dispersão
representativa entre partidos e a formação tendencial de governos de
coligação, ficando o Governo mais dependente do Parlamento.

○ Exceções:

■ INTRODUÇÃO DE MECANISMOS CORRETIVOS PARA REDUZIR


A PROPORCIONALIDADE: Como cláusulas-barreira, fazendo
diminuir a representação de pequenos partidos nacionais e
potenciando ciclos bipartidários imperfeitos ou
multipartidarismo limitado .
50

■ INSTABILIDADE GOVERNATIVA PROLONGADA CAUSADA


PELA DISPERSÃO PARTIDÁRIA: Potenciar o comportamento
reativo do eleitorado no sentido de concentrar o voto nos
maiores partidos, eliminando as formações minúsculas e
reduzindo a representação das médias ou pequenas, criando
ciclos de bipartidarismo imperfeito

■ IDENTIFICAÇÃO ESTÁVEL DE FRANJAS DO ELEITORADO A


GRUPOS ÉTNICOS MAIORITÁRIOS ASSOCIADOS A
MOVIMENTOS NACIONAIS DE EMANCIPAÇÃO: Formam-se
concentrações anómalas de voto num partido
hiperdominante, resultando na quase irrelevância política de
partidos médios e pequenos, reduzindo o espectro
representativo e eternizando-se de um governo monocolor,
por vezes participado por pequenos partidos satelizados51.

○ Fatores Redutores do Número de Partidos no Parlamento: Dimensão


reduzida das circunscrições eleitorais plurinominais, introdução de
cláusulas-barreira nacionais pouco exigentes, menor número de
mandatos parlamentares a adjudicar na globalidade - contudo,
nada disto consegue quebrar a representação multipartidária, rígida
e multipolarizada.

★ Sistemas de Natureza Mista: Reduzem a proporcionalidade na


representação, penalizam os partidos pequenos e potenciam sistemas
partidários de variável dimensão, estrutura e estabilidade, estimulando
sistemas de pendor proporcional e um cenário multipartidário limitado.

50
Sistema Proporcional Corrigido Espanhol: com pequenos círculos e cláusulas-barreira nos 3%
que procuram reduzir o peso de pequenos partidos nacionais ou regionais, proporcionou em
Espanha um bipartidarismo imperfeito ou quase perfeito até 2015
51
Desde o fim do Apartheid pelo ANC na África do Sul em 1994, que o ANC obtinha ⅔ dos lugares
no parlamento, beneficiando do voto da maioria dos negros até 2016, contudo, reduziu para a
maioria absoluta, com uma série de outros partidos a começar a receber votos.

50
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

3.3.3 SÍNTESE SOBRE A NATUREZA E AS DIMENSÕES DO IMPACTO DO SISTEMA DE


PARTIDOS EM CADA UM DOS TIPOS DOMINANTES DE SISTEMA POLÍTICO
Estabilidade Governativa: Condicionada pelo impacto de sistemas eleitorais
que, a par da capacidade exigida para reduzir o número ou o peso
representativo de pequenos partidos, conseguem, com durabilidade, potenciar:

★ 2 Partidos Fortes: Alternativos e sem uma grande distância ideológica,


capazes de governar solitariamente com maioria absoluta ou em coligação
com outros partidos da mesma família política.

★ 1 Partido Forte e Hegemónico: Contraposto a um conjunto de partidos


de média ou pequena dimensão situados à sua esquerda e direita e que
exibam dificuldades ideológicas em coligarem-se para o enfrentarem

★ Pluralidade de Partidos: Da mesma família política ou de famílias afins


que se coliguem sem dificuldade sob a égide de um partido liderante que
opere como alternativa a uma coligação da mesma natureza ou a um só
partido forte.

Análise Consoante as Formas de Governo:

★ Presidencialismo: O sistema de partidos não altera o sistema político,


mas permite acentuar o seu pendor - o presidente que goze de apoio
partidário em ambas as câmaras pode beneficiar de um ciclo presidencial
forte, enquanto que a ausência dessa maioria tende a favorecer
presidências mais débeis ou bloqueadas.

○ Presidencialismo Clássico com Tripartição de Poderes: Favorecido


pelo bipartidarismo - ex: EUA

○ Presidencialismo de Coligação: Associa-se a uma dispersão


multipartidária e multipolar no Parlamento - ex: Brasil

★ Semipresidencialismo: O sistema de partidos vai ser especialmente


relevante para reforçar o pendor do sistema político.

○ Pendor Presidencial: Favorecido por um multipartidarismo bipolar


em ciclos de confluência entre a maioria parlamentar e presidencial.

○ Predomínio do Parlamento: Favorecido pelo multipartidarismo


multipolar ou em ciclos de maior dispersão parlamentar.

51
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Parlamentarismo: Cenário onde mais é relevante o sistema partidário na


definição do sistema político, pois o abandono de um sistema maioritário
levaria à fragmentação total, evoluindo o sistema para parlamentarismo
de Assembleia, deixando o Governo de assumir papel liderante.

○ Proeminência do Governo e do Primeiro-Ministro: Favorecido pelo


bipartidarismo perfeito ou imperfeito.

○ Governo Minoritário Fracos com Peso da Liderança Parlamentar:


Favorecido pelo multipartidarismo multipolar com formações rígidas
e independentes que gera coligações incertas

SECÇÃO III: SINOPSE SOBRE OS SISTEMAS POLÍTICOS


CONTEMPORÂNEOS
SUBSECÇÃO I. OS SISTEMAS POLÍTICOS PARLAMENTARISTAS

3. OS “PARLAMENTARISMOS DE ASSEMBLEIA"
3.1 NOÇÃO
Parlamento: Instituição soberana eleita por voto popular de onde deriva o
poder das restantes instituições

3.3 SÍNTESE SOBRE AS LINHAS DE FORÇA DO PARLAMENTARISMO DE ASSEMBLEIA NA


SUA VERSÃO CONTEMPORÂNEA
Chefe de Estado: Monarca ou Presidente eleito maioritariamente pelo
Parlamento52 com competências honoríficas, notariais e, residualmente, arbitrais
- formação do Governo, quando há dificuldades prolongadas na sua formação

Parlamento: Instituição política e legislativa dominante, eleita por escrutínio


proporcional, que gera multipartidarismo dispersivo com partidos independentes
e semi-rígidos. Plataforma de, fiscalização, sustentação e demissão do Governo.

★ Deputados da Bancada Governamental: Intervêm na feitura das leis e


na definição de políticas públicas

★ Parlamentarismo Governante: Em conjeturas de maior fragilização


governamental, os deputados assumem um maior protagonismo
normativo, pressionando o Governo em troca de ganhos políticos e
alterando políticas governamentais através de coligações negativas

52
Contudo, na Finlândia é eleito por sufrágio direto

52
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Governo: Exclusivamente dependente da “não desconfiança” parlamentar e


dotado de um grau de autonomia variável (maior em coligações homogéneas,
médio em heterogéneas e menor em executivos claramente minoritários).

★ Primeiro Ministro: Atua como articulador político com um protagonismo


variável em função do seu perfil, da composição e dimensão da bancada
que sustenta o governo no parlamento e do apoio que goza no partido.

★ “Veto Players” à Ação Governativa: Em número expressivo - justiça


constitucional, parlamento, parceiros de coligação, fações do partido

4. OS PARLAMENTARISMOS RACIONALIZADOS
4.1 NOÇÃO
Racionalização do Parlamentarismo: Conjunto de institutos destinados a
garantir maior estabilidade e poder de impulsão política dos Governos, em face
dos Parlamentos dos quais dependam, seja através do estímulo a uma maior
concentração do voto do eleitorado nos grandes partidos, de modo a reduzir a
representação parlamentar, seja através de mecanismos de controlo
inter-orgânico. Tipo parlamentar com preponderância do Governo.

★ Modelo Primo-ministerial Britânico: A proeminência do Governo é


mais acentuada, resultando de uma combinação antiga entre um sistema
eleitoral constrangedor e um complexo de normas consuetudinárias.

★ Variantes Mais Recentes: Marcadas por engenharia eleitoral e moções


de censura construtiva, onde a proeminência do Executivo é mais
acentuada e incerta face às oscilações no sistema partidário, geradas por
uma forma de escrutínio eleitoral mais dispersiva - ex: Alemanha

4.2 O SISTEMA PRIMO-MINISTERIAL BRITÂNICO COMO MODELO SINGULAR DE


PARTIDARISMO RACIONALIZADO
4.2.1 CONSTITUIÇÃO
Conceito: Com carácter fragmentário e predominantemente consuetudinário e
não escrito, evolutivo na sua adaptação a novas contingências e flexível. Encima
uma ordem constitucional em sentido histórico, resultando de um complexo de
normas de valor diferenciado

53
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Blocos de Normas Constitucionais:

★ “Statute Law”: Complexo desagregado de leis constitucionais escritas,


ditadas através de séculos, onde ressaltam importantes documentos
normativos, muitos deles já parcial ou totalmente derrogados e com valor
histórico. Em termos de procedimento e força não se distinguem das leis
comuns. Integram as “regras constitucionais” - rules.

★ Normas Consuetudinárias:

○ “Common Law”: Costumes reconhecidos como obrigatórios pelas


decisões de tribunais superiores de onde se deduzem princípios
jurídicos que assumem uma hierarquia e vinculatividade idêntica à
da statute law. Integram as “regras constitucionais” - rules.

○ Conventions (ou regras oriundas das práticas constitucionais):


Consolidadas pela força da sua aplicação constante e da sua
afirmação na consciência coletiva por via da tradição, merecendo
um acatamento geral como Direito Constitucional na regulação de
matérias centrais do sistema político. Valor jurídico inferior à
“common law” e à “statue law”, mas base do sistema político.

4.2.2 REGIME E SISTEMA POLÍTICO


Coroa: Todos os órgãos agem em seu nome, sendo sinónimo de regime político.
Não é o monarca, mas sim o Estado, organizado pela forma de Monarquia.

Monarca: Irresponsável diante dos outros órgãos. Tem um grande peso


representativo, produzindo, uma palavra, impactos significativos53, o que é
proporcional à sua posição de imparcialidade, contenção e ao exemplo que
promana a sua vida pública e privada.

★ Poderes Constitucionais: São limitados e assumem, uma posição


honorífica, cerimonial e estatutariamente religiosa54.

★ Poderes Partilhados com o Gabinete: Mediante iniciativa e


propositura do Gabinete

○ Dissolução do Parlamento: Competência quase-vinculada do Rei de


decretar a dissolução se solicitada pelo Primeiro-Ministro55.

53
magistratura da palavra
54
O Rei é o Chefe da Igreja Anglicana
55
O monarca só tem margem de recusa caso a dissolução solicitada resultar de uma manobra do
governo para ser derrubado por moção de desconfiança da sua bancada, para eleições antecipadas

54
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Mediante Iniciativa do Gabinete:

■ Nomeação de membros da Câmara dos Lordes e de altos


funcionários

■ Tomada de medidas de exceção, decisões em matéria militar

■ Ratificação de tratados, depois de aprovados pelo Parlamento

■ Convocação extraordinária da Câmara dos Comuns

■ Iniciativa legislativa

■ Assinatura das orders in council.

○ Discurso do Trono: Enuncia o programa governamental para cada


sessão legislativa. Elaborado pelo Gabinete, mas discursado pelo
Monarca, pois este é, ainda, tido como cabeça do Poder Executivo.

★ Domínios com Maior Margem de Discricionariedade:

○ Veto: Caiu em desuso - último usado em 1708 pela Rainha Ana

○ Nomeação do Primeiro-Ministro: Embora a mecânica usual do


sistema eleitoral maioritário, geradora de maiorias absolutas de um
só partido, retire autonomia a esta competência, correspondendo o
Primeiro-Ministro designado líder do partido mais votado, nas
situações em que do ato eleitoral não resulta nenhuma maioria
absoluta (“hung parliament”), ou quando o partido maioritário não
apresente um líder, cabe à discricionariedade do Rei a escolha de
chefe de Governo.

○ Formulação de Recomendações e Advertências ao PM: O Chefe de


Governo é investido no dever de informar o monarca sobre a
condução dos negócios públicos, podendo este dar recomendações
e advertências A Rainha não pode demitir o Primeiro-Ministro por
razões ordinárias de falta de confiança política

Parlamento: Fonte do poder democrático do Estado e suprema autoridade


legislativa, não podendo as suas leis ser questionadas. Depois o início de funções

55
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

do Governo, o Parlamento tende a apagar as suas funções, raramente negando


confiança no Gabinete e aprovando a maioria das propostas56

★ Poderes: Exerce controlo sob a administração, fiscaliza a atividade


política e executiva dos ministros, é a fonte do poder do gabinete57 e
decide sobre a própria dissolução antecipada.

○ Condicionamentos:

■ NOMEAÇÃO DO PRIMEIRO MINISTRO: Apesar de dever gozar


do apoio maioritário na Câmara dos Comuns, ele não é
investido pelo Parlamento, mas nomeado pelo monarca

COMPOSIÇÃO DO PARLAMENTO: O Primeiro-Ministro e os



membros do Gabinete são, simultaneamente, parlamentares
● Autodissolução Antecipada: O Primeiro-Ministro pode
provocá-la apresentando uma moção de confiança que
seja rejeitada pela bancada maioritária
★ Composição :
58

○ Câmara dos Comuns: Eleita por sufrágio universal a uma volta, de


modo a preencher 650 círculos, desempenha um papel dominante.
O mandato dos deputados é de 5 anos. É presidida por um
speaker59. Desempenha um papel dominante.

■ FUNÇÕES: Desenvolve intensa atividade legislativa e realiza


atos de fiscalização e inquérito sobre a atividade do Governo,
que pode derrubar mediante aprovação de uma moção de
censura ou reprovação de uma moção de confiança.

■ DISSOLUÇÃO ANTECIPADA: Carece da aprovação de uma


moção de não confiança no Governo por maioria dos votos ou
da aprovação de uma moção de antecipação de eleições
tomada pelo voto favorável de ⅔ dos deputados.

■ OPOSIÇÃO: Constituição de um “Governo de Sombra”


destinado a acompanhar e criticar a atividade da maioria

56
é por isso que chega a ser qualificado de “Parlamento Carimbante” (“Rubbing Stamp
Parliament)
57
O Gabinete é designado pelo monarca em razão da composição parlamentar, sendo alvo de
fiscalização permanente do Parlamento e só se mantendo em funções enquanto não for objeto de
desconfiança parlamentar
58
Bicameralismo assimétrico com preponderância da câmara baixa
59
Também chamado de Presidente da Câmara dos Comuns, é escolhido dentro da bancada
maioritária com o acordo da principal força da oposição. Depois de eleito, opera como um
parlamentar sem partido

56
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

sobre as principais questões, intervindo sobre o discurso da


Coroa, o debate orçamental, formulando moções e
suscitando a realização de inquéritos, apresentando
propostas de lei e formulando questões ao Primeiro-Ministro

○ Câmara dos Lordes: Desde o Parliament Act em 1911 que assume


um papel meramente institucional e secundário. Constituída por
pares espirituais (26 membros do alto clero da Igreja Anglicana) e
temporais (90 membros hereditários da aristocracia eleitos entre si
e outros membros designados pelo Monarca, sob proposta do
Gabinete ou pela própria câmara) titulares de uma posição
nobiliárquica vitalícia. 2 a 4 membros desta câmara costumam
integrar o Governo, mas não nunca como Primeiro-Ministro

■ FUNÇÕES: Cerimoniais, de discussão política e de fiscalização


mitigada da atividade governativa. Opera, ainda, como
câmara de “esfriamento” da legislação adotada na câmara
dos comuns ao escrutinar a legislação deliberada, propor
emendas e poder retardar a aprovação de diplomas60.

Gabinete: Órgão de direção política do Executivo, não corresponde exatamente


à configuração de um Governo, sendo composto pelo Primeiro-Ministros e os
Ministros por ele escolhidos (geralmente os principais chefes de bancada e os
titulares das pastas mais importantes61). Cabeça do “Ministério”, composta por
ministros e alguns junior ministers (equivalentes a secretários de Estado). Os
ministros que não fazem parte vão ter funções meramente administrativas.

★ Funções: Determinar as linhas fundamentais da política interna e


externa, dirigir superiormente a Administração Pública, orientar a
atividade financeira, proceder a nomeações políticas e administrativas,
liderar o exercício da função legislativa.

★ Primeiro-Ministro: Concentra em si a chefia do gabinete (escolhe os


seus membros, que são nomeados pelo Rei), lidera o Partido do Governo e
a efetiva bancada parlamentar maioritária.

○ Fatores que robustecem o seu estatuto:

■ NOMEAÇÃO PELO REI: Em vez de ser investido por voto


parlamentar. Responde institucionalmente perante o Rei, mas
não politicamente, pois o Monarca não o pode demitir.
60
Diplomas de natureza financeira podem apenas ser atrasados 3 meses, já de natureza não
financeira 1 ano
61
como o responsável pela Presidência do Gabinete, Finanças, Defesa, Interior, Saúde

57
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ SER LÍDER: Líder do Gabinete, da maioria parlamentar e do


partido no poder.

■ INEXISTÊNCIA DE “VETO PLAYERS” INSTITUCIONAIS: Não


há órgãos capazes de o impedir num governo maioritário

■ CAPACIDADE DE INFLUENCIAR A AÇÃO SETORIAL DA


ATIVIDADE DE OUTROS MINISTROS: Por se posicionar no
centro de uma “rede de contactos bilaterais” que podem ser
mais decisivos que as próprias reuniões do Gabinete.

○ Fatores que atenuam o seu estatuto:

■ RISCO DE NÃO SER ELEITO NO SEU CÍRCULO ELEITORAL:


Mataria a sua liderança mesmo se o partido ganhasse a nível
nacional, pois o PM tem de pertencer à câmara dos comuns.

■ PASSO EM FALSO NA DISSOLUÇÃO ANTECIPADA DO


PARLAMENTO: Uso de uma dissolução antecipada do
parlamento para reforçar o partido governamental, mas
acabar a perder votos e poder.

■ DESGASTE DA SUA FIGURA E INCAPACIDADE AOS OLHOS


DOS SEUS COLEGAS: O grupo parlamentar e os colegas de
Gabinete tornam-se ambiciosos em busca do lugar do
Primeiro-Ministro, podendo convocar uma audiência
inesperada, urgente e na sua residência para lhe explicar que
deixou de ter confiança no Partido, ou então desafiar o líder,
no grupo parlamentar, para um ato eleitoral interno. Assim
que o Primeiro-Ministro deixe de ser líder do Partido, deixará
de se poder conservar na chefia do Governo.

■ REBELIÕES DOS DEPUTADOS EM QUESTÕES


FRACTURANTES: Vão contra o Primeiro-Ministro,
condicionando-o

58
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

SUBSECÇÃO II. OS SISTEMAS POLÍTICOS PRESIDENCIALISTAS

2. O PRESIDENCIALISMO DE DIVISÃO DE PODERES NORTE-AMERICANO


2.1 CONSTITUIÇÃO
2.1.2. REVISÃO CONSTITUCIONAL
Carácter Rígido da Constituição: Envolve procedimentos especiais e
agravados de revisão.

Processos de Revisão:

★ Processo Comum: Envolve a aprovação de uma emenda ou aditamento


por maioria de ⅔ dos membros de cada uma das câmaras do Congresso.
Depois da aprovação no Congresso tem de ser ratificado pelas
assembleias legislativas de ¾ dos Estados Federais.

★ Processo Especial: Convocação de ⅔ das legislaturas dos Estados de


uma Convenção investida de poderes de revisão. A Constituição nunca
sofreu modificações por esta via.

Jurisprudência do Supremo Tribunal Federal: Alavanca poderosa para


permitir atualizações no sentido das normas e para produzir mutações
inovadoras no seu sentido e alcance.

2.1.3. CONTROLO DA CONSTITUCIONALIDADE


Tribunais dos Estados: Controlam a constitucionalidade das normas federadas
contrárias às constituições estaduais com recurso para os Tribunais Supremos
dos mesmos entes territoriais

Tribunais Federais: Têm o poder desaplicar normas federais contrárias à


Constituição da Federação

Supremo Tribunal Federal: Tem o poder de proferir a última palavra sobre


controvérsias que resultem da impugnação das decisões de tribunais estaduais
ou federais em feitos que envolvam a violação da Constituição federal.

59
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

2.2 SISTEMA DE GOVERNO


Modelo Institucional mais Próximo do Modelo de Montesquieu: No
respeitante à separação de poderes e introdução simultânea de um conjunto de
freios e contrapesos como controlos interorgânicos recíprocos.

★ Separated Institutions Sharing Powers: Ideal do sistema, fruto dos


controlos recíprocos interorgânicos.

★ Separated Institutions Competing for Power: Realidade quando a


maioria presidencial não coincide com a maioria partidária nas câmaras,
surgindo um cenário de competição entre o Legislativo e o Executivo.

“Veto Players”: Existem vários devido ao sistema de freios e contrapesos entre


as instituições - veto presidencial, “executive orders”, confirmação parlamentar
de diplomas vetados, ratificação de nomeações presidenciais para cargos
públicos, inquéritos, impeachment, controlo da constitucionalidade pelo STF,
poder dos estados federados e, informalmente, o inusitado poder dos lobbies.

2.2.1 O PRESIDENTE
Eleição do Presidente: O Presidente é eleito indiretamente: em cada Estado
existe um conjunto de eleitores (delegados) que representam os candidatos. O
partido que obtiver a maioria dos votos arrebata todos os delegados62, que,
embora livres, atuam com fidelidade ao candidato que os designou63. Assim que
um candidato obtiver os 270 votos, a eleição fica decidida. O Vice-Presidente
concorre juntamente, sendo escolhido pelo Presidente.

★ Se Nenhum Candidato Atingir os 270 Votos: A eleição é decidida, de


entre os 3 candidatos mais votados, pela Câmara dos Representantes, e
o Vice-Presidente pelo Senado. Em caso de se esgotar o prazo estipulado
para a eleição presidencial, o Vice-Presidente fica como Presidente.

★ Distorção do Princípio Democrático: Nem sempre o voto popular


corresponde ao número de delegados eleitos, este número nem é
proporcional ao de votantes por Estado. Em vez de ser respeitado o
critério da maioria, já aconteceu vencer um candidato com menos votos64.
Contudo, tentativas para abolir o colégio por revisão constitucional
encontram grande resistência dos Estados, sobretudo nos pequenos que
querem conservar o seu peso na eleição.

62
excepto no Maine e no Nebraska em que se atribui 2 votos ao vencedor no Estado e 1 voto ao
vencedor em cada distrito eleitoral para o Congresso
63
esta fidelidade não é absoluta, em 2016 4 dos delegados da Hillary votaram no Trump, e 2 do
Trump na Hillary
64
Geroge Bush/Al-Gore em 2000, Trump/Hillary em 2016,...

60
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Crítica do Prof. CBM: Este sistema deixou de fazer sentido no séc.


XX por criar um grave risco de distorção à legitimação democrática
e permitir a eleição de quem tem menos preferência dos eleitores.

★ Seleção dos Delegados: Assegurada por um sistema de “primárias” em


sentido amplo que abrange as eleições primárias em sentido estrito e os
“caucus”. Diversos candidatos dos principais partidos submetem-se ao
voto popular conforme o estipulado no Estado ou partido. Ocorre por
Estado ao longo do ano que antecede a eleição geral.

○ Eleições Primárias em Sentido Estrito: Organizadas e financiadas


pelos Estados Federados e decorrem na maior parte dos casos em
termos próximos aos de uma eleição nacional.

■ PRIMÁRIAS ABERTAS: Participação popular de todos os


eleitores - ex: Arkansas, Alabama, Indiana, Colorado,...

■ PRIMÁRIAS FECHADAS: Só podem votar os eleitores


registados no partido - ex: Delaware, Florida, Kansas,...

■ PRIMÁRIAS SEMI-FECHADAS: (SISTEMA MISTO): Podem


votar militantes e não militantes que se registem antes ou
até ao dia do ato eleitoral - ex: Carolina do Norte, Ohio,...

○ “Caucus”: Assembleias organizadas e financiadas pelos partidos


abertas em cada condado do Estado que consente este processo
pré-eleitoral. Em alguns “caucus” votam só militantes e noutros
militantes e não filiados registados antes ou no dia de votação

○ Sistema Misto: Utilizam-se primárias e “caucuses”

○ Escolha do Tipo de Primárias: Em alguns Estados, a Lei permite que


seja o próprio partido a escolher o tipo de eleição:

■ PARTIDO REPUBLICANO: Na maioria dos Estados, o sistema


de eleições primárias assume natureza maioritária (winner
takes all), nos restantes o voto é proporcional corrigido, com
distribuição de delegados entre os dois partidos mais votados
ou entre os que ultrapassem a cláusula-barreira.

■ PARTIDO DEMOCRATA: Realizam-se as primárias através de


com base em um sistema proporcional que pode estar sujeito
a cláusula-barreira.

61
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Mandato: Período quadrienal (4 anos), podendo o titular ser reeleito para


apenas um mandato consecutivo.

Funções: Como Chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas,


chefia diretamente a Administração Federal (dirigida pelo Governo) e conduz a
política externa de defesa e segurança do País. Não responde politicamente
perante o Congresso, mas também não o pode dissolver. Desprovido da
faculdade de direção ou controlo permanente sobre o partido de que é oriundo e
das respectivas bancadas parlamentares.

★ Funções Governativas Administrativas: Único responsável político65


pelo funcionamento do poder Executivo Federal, que é protagonizado por
uma estrutura orgânico-fundamental designada por “Administração”. Esta
é dirigida pelos “head of departments”, geralmente secretários federais
responsáveis pelos departamentos, conselheiros e altos funcionários.

★ Funções de Defesa Nacional: Como Comandante Supremo das Forças


Armadas, dirige as Forças Armadas, envolve-as em operações militares e
dispõe da última e decisiva palavra sobre o uso de armas nucleares.

○ Limites à Discricionariedade do Presidente: O Congresso tem de ser


notificado nas 48h subsequentes ao envio de unidades militares
para uma ação armada externa e não as pode deixar no estrangeiro
por um período superior a 60 dias (mais 30 de retirada) sem
autorização do Congresso - War Power Resolution de 1973

★ Funções de Direção da Política Externa: Assinar acordos


internacionais sob forma simplificada (“executive agreements”) e concluir
tratados que submete à aprovação do Senado.

★ Funções Financeiras: Preparação do orçamento com envolvimento de


diversas agências independentes e direção da execução orçamental.

★ Função de Nomeação e Demissão Membros: Para membros da


Administração, do alto comando militar, de representantes do corpo
diplomático e de altos funcionários, ainda que sob ratificação do Senado
(“advise e consent”), sendo raramente recusadas por ele66. A demissão
destes membros, apesar de não estar explicitamente consagrada na
Constituição, também lhe compete.
65
a administração é uma estrutura monocrática apenas dependente da vontade política do
Presidente
66
Geralmente, os candidatos são sujeitos a audições parlamentares (“hearings”), que podem ser
arrastadas no tempo graças a ações de filibustering na Câmara Alta do Congresso, dificultando o
início da atividade governamental. O rigor das audições levam alguns candidatos a desistir, de
modo a evitar terem dados embaraçosos expostos.

62
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Funções Normativas: Poder de iniciativa junto do Congresso que


desenvolve indiretamente através de senadores da bancada do seu
partido, de produzir legislação sob autorização do Congresso (“delegated
legislation”) e emitir “executive orders”67. Pode, ainda, emitir atos
regulamentares de execução de leis do Congresso

★ Direito de Veto: Pode vetar as leis do Congresso68, sendo que este veto
é suspensivo, pois pode superado mediante confirmação por maioria de ⅔
tomada pela Câmara dos Representantes e pelo Senado.

○ Veto de Bolso: Retardamento temporário da lei até ela expirar

★ Funções Judiciais: O Presidente pode conceder perdões

2.2.2 O CONGRESSO
Competências: Além de exercer o primado da função legislativa, dispõe da
faculdade de aprovar leis sobre o aumento dos impostos, realizar despesas de
defesa e bem-estar público, autorizar empréstimos, sistema monetário, comércio
interno e internacional, nacionalidade, criar tribunais e dispor em matéria militar.

★ Competências de Investigação: Fiscalização da atividade do Executivo,


controlo dos seus atos de confirmação de nomeações políticas e
administrativas e poder de destituir o chefe de Estado por impeachment69.

Composição: Órgão parlamentar bicameral composto pela Câmara de


Representantes e pelo Senado

★ Câmara dos Representantes: Câmara de representação popular


composta por 435 representantes eleitos para mandatos de 2 anos por
círculos eleitorais uninominais de acordo com uma forma de escrutínio
maioritário que divide a Câmara Republicanos e Democratas.

○ Competências:

■ LEGISLATIVAS: Iniciativa legislativa exclusiva em matéria


tributária, poderes de revisão constitucional, produção de leis
com o Senado que devem ser aprovadas nas duas câmaras e
de, com este, reverter o veto presidencial, por maioria de ⅔.

67
Normas que podem assumir força de lei e que servem uma série de objetivos, como orientar os
departamentos da Administração sobre a execução de leis, concretizar legislação do Congresso,...
68
O Congresso pode revogar as executive orders do Presidente, especialmente quando usurpam
os seus poderes legislativos, mas o Presidente pode vetar a lei revogatória, sendo, por isso, muito
difícil ao Congresso reverter o veto.
69
fundado em crimes de responsabilidade do exercício de funções

63
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

■ FISCALIZADORAS: Sobre a atividade da Administração,


mediante inquéritos, investigações, audições e atos de
bloqueio.
● Responsabilização: Faculdade de iniciar um processo
de responsabilização dos funcionários da
administração, inclusive o Presidente (impeachment).

■ ELEIÇÃO PRESIDENCIAL: Caso nenhum candidato conseguir


ser eleito no colégio eleitoral

★ Senado: Presidido pelo vice-presidente dos EUA, é a Câmara Alta que


assegura a representação dos Estados, cada um com 2 senadores, eleitos
por escrutínio maioritário, somando em 100. O mandato é de 6 anos,
renovando-se ⅓ do senado a cada biénio, coincidindo com a renovação
bienal da Câmara dos Representantes. Apresenta um bipartidarismo
perfeito entre o Partido Republicano e o Democrata.

○ Competências: Controlo das nomeações do Presidente para altos


cargos, ratificação de tratados por maioria de 2/3, propositura de
emendas a tratados por maioria simples e ratificação da nomeação
de embaixadores.

■ PARTILHADAS COM A CÂMARA DOS REPRESENTANTES:


Exercício da revisão constitucional, da função legislativa, do
desenvolvimento de atividades de fiscalização e da superação
do veto presidencial. Responsabilização dos funcionários da
administração, inclusive o Presidente (impeachment70)

2.2.3 O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL


Autoridade judicial mais alta autoridade judicial do País, exercendo o controlo da
constitucionalidade. Tem 9 membros com mandato vitalício, designados71 pelo
Presidente e sujeitos a ratificação no Senado. Vinculando tribunais inferiores, é
um importante custódio de direitos fundamentais, de dirimição de conflitos entre
o Executivo e Legislativo e entre a Federação e os Estado.

2.2.4. MECÂNICA ELEMENTAR DO SISTEMA POLÍTICO


Nível de Ascendência Institucional do Presidente: (3 cenários)

★ Presidente apoiado com maioria absoluta nas duas câmaras:


Presidências tendencialmente fortes de propensão reformista. A estratégia
política é concebida pelo presidente e executada nas câmaras após
70
Processo iniciado na Câmara dos Representantes, podendo o Chefe de Estado ser destituído pelo
voto de maioria de ⅔ dos senadores
71
A designação dos juízes é sempre uma batalha ideológica direita/esquerda.

64
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

negociações entre o Chefe de Estado e a sua bancada. Todavia, os


compromissos dos congressistas com os seus eleitores, as estruturas
financiadoras e o facto de os partidos nos EUA não terem lideranças
fortes, envolvendo numerosas fações, não garante ao Presidente bancadas
disciplinadas em todas as matérias. A fidelidade da bancada do partido e o
carisma do presidente podem favorecer, ou não, a liderança.

★ Presidente apoiado por apenas uma câmara: O Chefe de Estado deve


ter capacidade para criar consensos bipartidários com a oposição na
câmara que não domina.

○ Apoio do Senado: Terá maior facilidade em termos de políticas


externas e militares e na nomeação dos membros do STF e de
outras autoridades

○ Apoio da Câmara dos Representantes: Será na realização de


reformas financeiras e sociais que vai ter facilidade - quando
congressistas do partido do Presidente desertam para a oposição
podem-se criar severas crises orçamentais.

★ Presidente sem apoio das câmaras: O exercício da governação


torna-se muito difícil relativamente a reformas conflituais, podendo-se
gerar bloqueios críticos, como o arrastamento da aprovação de processos
como o próprio orçamento. O resultado pode traduzir-se em políticas
públicas canceladas ou sujeitas a compromissos que as desvitalizam.

SUBSECÇÃO II. OS SISTEMAS POLÍTICOS SEMIPRESIDENCIALISTAS

2. VARIANTES DO SEMIPRESIDENCIALISMO
2.1 SEMIPRESIDENCIALISMOS DE PENDOR PRESIDENCIAL: O PARADIGMA FRANCÊS
2.1.1 A CONSTITUIÇÃO
Constituição de 1958: Institui um regime político democrático e republicano,
servido por um sistema político semipresidencialista, sob uma forma territorial
de Estado unitário com regionalização administrativa. Aprovada por plebiscito.

★ Constituição Rígida: As alterações ocorrem mediante proposta do


Presidente ou dos deputados, deliberada pelas Câmaras parlamentares e
sujeita a referendo ou então por proposta do Presidente às Câmaras,
investidas na competência para aprovar alterações por maiorias de ⅗.

★ Conselho Constitucional: Garante da constitucionalidade das leis

65
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Controlo Preventivo: Escrutina a constitucionalidade das leis antes


da sua promulgação quando instado pelos órgãos competentes

○ Controlo Sucessivo e Concretos: Mediante reenvio prejudicial por


parte dos tribunais supremos no caso de se suscitar a violação de
direito fundamentais.

2.1.2 O SISTEMA POLÍTICO DA V REPÚBLICA


Presidente da República: Supremo chefe das forças armadas, garante da
Constituição e da independência nacional

★ Eleição: Sufrágio universal direto na medida em que se consiga a maioria


absoluta dos sufrágios, realizando-se, se essa maioria não for alcançada,
uma segunda volta entre os dois candidatos mais votados,
considerando-se eleito o mais sufragado.

★ Mandato: Tem a duração de 5 anos, sendo admitida a reeleição para


apenas mais um mandato consecutivo.

★ Destituição: O Presidente não é politicamente responsável perante o


Parlamento, contudo, este pode destituí-lo por faltas nos seus deveres
manifestamente incompatíveis com o seu mandato. Para tal, uma das
Câmaras exerce funções de tribunal supremo, decidindo por maioria de ⅔.

★ Competências: Iniciativa de revisão constitucional, pode convocar atos


referendários mediante proposta do Governo ou do Parlamento, exercer
magistratura de influência e declarar estados excepcionais.

○ Funções Políticas Ligadas ao Governo:

■ CONSELHO DE MINISTROS: Presidir o Conselho de Ministros


e estabelecer a ordem de trabalhos (contudo, não é
responsável pela atividade do Governo, é o Primeiro-Ministro)

■ CONTROLO: Promulgar, exercer o veto absoluto sobre as


"ordonnances" do Governo e assinar decretos regulamentares
e governamentais.

■ PRIMEIRO-MINISTRO:
● Nomeação: Tendo em conta a composição parlamentar,
pois o governo depende da confiança da Assembleia

66
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

● Demissão: Apesar da Constituição não prever, sendo


um costume contra legem, pode solicitar a demissão
do Primeiro-Ministro em ciclos de confluência72

■ NOMEAÇÃO E DEMISSÃO DOS MEMBROS DO GOVERNO: Sob


proposta do Primeiro-Ministro, ainda que, em ciclos de
influência possa ter uma palavra decisiva, algo que já não
acontece em ciclos de coabitação, podendo apenas
condicionar a escolha (influindo ou vetando) dos titulares de
defesa e Negócios Estrangeiros, domínios em que a prática
extrai da Constituição poderes de orientação pelo presidente.

○ Funções de Direção da Política Externa: Negociação e ratificação


tratados, nomeação de embaixadores, tomada de decisões sobre o
envolvimento do País em conflitos armados externos, presença, a
par do Primeiro-Ministro, em cimeiras diplomáticas internacionais

○ Funções de Defesa Nacional: Assentimento presidencial na escolha


dos ministros e do alto comando militar, última palavra no uso de
armas nucleares, tomada de decisões sobre o envolvimento do País
em conflitos armados externos. Sendo o Chefe das Forças Armadas,
presidindo aos conselhos de defesa nacional.

○ Poderes de Controlo Interorgânico sobre o Parlamento: Por ser


responsável pelo Parlamento, pode dissolvê-lo livremente.
Faculdade de vetar leis parlamentares73, e abrir e encerrar sessões
extraordinárias do Parlamento, mediante proposta do Governo ou
dos Parlamentares.

○ Funções Judiciais: Conferir perdões, sujeitos a referenda do


Primeiro-Ministro, nomear alguns membros do Conselho
Constitucional, do Conselho de Estado e do Tribunal de Contas.
74

Promover, junto do Conselho Constitucional, o controlo da


constitucionalidade das leis.

Governo:

★ Demissão: O Governo depende da confiança política do Parlamento,


responsabilizando-se diante da Assembleia Nacional. O Parlamento pode

72
Depois de nomeado, o PM entrega ao Presidente uma carta de demissão não datada e assinada,
para que ele dê uso quando vir oportuno.
73
é um veto meramente suspensivo, pois, se o Parlamento confirmar o diploma, basta maioria
simples, o Presidente fica obrigado a promulgar
74
equivale ao Supremo Tribunal Administrativo

67
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

responsabilizar politicamente o Governo, caso rejeite uma moção de


confiança ou aprove uma moção de censura pela maioria dos seus
membros efetivos.

★ Funções: Conduzir a política da Nação, dirigindo a Administração e as


Forças Armadas

○ Funções Legislativas: Aprova legislação delegada pelo Parlamento


("ordonnances'') e é titular de iniciativa legislativa (reservada a
matéria financeira). Pode decretar estado de sítio e de emergência,
sujeito a prorrogação parlamentar.

★ Composição:

○ Primeiro-Ministro: Dirige a ação do Governo, coordena a atividade


ministerial, assume a responsabilidade da defesa nacional, faz
executar leis, aprova regulamentos e faz algumas nomeações para
cargos públicos, sendo todas estas decisões referendadas pelos
Ministros encarregues da sua execução. Propõe ao Presidente a
nomeação e demissão de ministros.

○ Conselho de Ministros: Delibera colegialmente. Na esfera da direção


da atividade administrativa pode aprovar, a par de regulamentos de
execução de leis, regulamentos de carácter inovador e
regulamentos independentes, que abrangem todas as matérias
excepto as reservadas a determinados órgãos pela Lei.

Parlamento: Estrutura bicameral

★ Composição:

○ Assembleia Nacional: Câmara baixa com 577 deputados eleitos para


mandatos de 5 anos em círculos uninominais, segundo uma forma
de escrutínio maioritário, com a possibilidade de ir a duas voltas.

■ ESCRUTÍNIO ELEITORAL: Gera, em regra, um sistema


multipartidário tendencialmente bipolar75, constituído por dois
blocos formados por partidos interdependentes, que alternam
o poder em regime de alianças com partidos menores.

75
em 2017 este bipartidarismo foi fraturado pela vitória de uma aliança centrista amplamente
maioritária, afeta ao presidente Macron

68
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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○ Senado: Câmara alta de representação das coletividades territoriais


composto por 348 senadores eleitos para mandatos de 6 anos,
sufragados indiretamente por um colégio de 150.000 grandes
eleitores (processo que envolve tanto voto proporcional como
maioritário), renovando-se ⅓ do órgão a cada biénio. Não pode ser
dissolvido pelo Presidente.

★ Funções: As duas câmaras exercem funções idênticas relativamente à


revisão constitucional, fiscalização política do Executivo, autorização da
guerra e ações militares no exterior, ao impeachment do Presidente e
acompanhamento da política europeia.

○ Função Política: Os poderes da Assembleia sobrelevam os do


Senado, por ser responsável pela responsabilização política do
Governo, mediante apresentação de moções de censura.

○ Função Legislativo: Em caso de discordância prolongada e oposição


do Senado, o Primeiro-Ministro pode arbitrar o conflito, diferindo a
última palavra à Assembleia Nacional.

Binómio Presidente/Primeiro-Ministro: Depende da maioria eleitoral que o


elegeu com a maioria política que impera na Assembleia da República.

★ Cenário de confluência76: O Presidente é o verdadeiro líder do Executivo


e, indiretamente, líder do bloco parlamentar maioritário. Escolhe
livremente o Primeiro-Ministro, que pode demitir77, e acaba por induzir a
escolha de todos, ou boa parte, dos ministros. O Presidente vai traçar as
linhas políticas de ação governativa e da agenda parlamentar, constituindo
o Primeiro-Ministro o seu articulador, dependendo o seu peso das suas
aptidões e carisma e do perfil de liderança do Presidente.

★ Cenário de coabitação78: O Presidente enfrenta uma maioria


parlamentar adversa e um Governo saído dessa maioria, ficando forçado a
"partilhar", a seu desfavor, a liderança do poder Executivo com o
Primeiro-Ministro, que não pode demitir. Embora presidindo o Conselho de
Ministros, deve concertar com o Primeiro-Ministro a ordem de trabalhos.
Neste contexto, a presidência do Conselho não faz sentido, uma vez que é
o Presidente o “real” líder da oposição, o que leva a que sejam
estruturadas duas agendas, uma para ser discutida com o Presidente e
outra apenas dentro do Governo. O Presidente pode vetar candidatos a
ministros da defesa e das relações externas, exercendo, maioritariamente,

76
A maioria presidencial coincide com a maioria parlamentar
77
costume contra legem mencionado supra
78
A maioria presidencial não coincide com a parlamentar

69
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

faculdades moderadoras e poderes arbitrais. O pendor presidencialista não


é, contudo, apagado, apesar de surgir mitigado.

(PARTE III. TÓPICOS RELATIVOS AO ESTATUTO JURÍDICO DOS ÓRGÃOS


DE SOBERANIA QUE EXERCEM A FUNÇÃO POLÍTICA NA CONSTITUIÇÃO
DE 1976)

70
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

CAPÍTULO I. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

SECÇÃO I: A FUNÇÃO PRESIDENCIAL: O PRESIDENTE DA


REPÚBLICA COMO CHEFE DE ESTADO E REGULADOR DAS
INSTITUIÇÕES PÚBLICAS
Presidente da República: Enquanto chefe de Estado79, é um órgão unipessoal
de representação da República Portuguesa e garantia da unidade do Estado.
Comando supremo das forças armadas (art. 120 CRP). Politicamente
irresponsável diante de qualquer órgão de soberania, de modo a garantir o
exercício independente do cargo.

Funções:

★ Enquanto Chefe de Estado: (decorrem do art. 120 da CRP)

○ Garantir a Independência Nacional: Compromisso de se abster de


qualquer conduta que coloque em causa a independência nacional e
dever de tomar todas as medidas necessárias para afastar condutas
de outros órgãos ou terceiros que questionem o núcleo estruturante
dessa mesma independência.

○ Garantir a Unidade do Estado: Obrigação de abstenção de condutas


que potenciem a disrupção da unidade nacional ou mesmo a
separação de uma parcela do todo nacional. Dever de exercer os
poderes de impedimento sobre a prática de atos ilegítimos por
parte de outros órgãos ou entidades que ameacem essa unidade.

○ Representação Interna e Externamente a República: Daqui decorre


o exercício de competências cerimoniais, honoríficas, notariais e a
adoção de alguns atos constitutivos de direção e controlo com
projeção na política exterior.

○ Comandante Supremo das Forças Armadas: Postula a assunção de


um estatuto simbólico, cerimonial e honorífico e o exercício de
algumas competências constitutivas de direção política.

79
A constituição nunca se refere ao Presidente como Chefe de Estado, contudo, o regente
qualifica-o como tal. Existe algum debate sobre se o Presidente é, efetivamente, o Chefe de
Estado, se devia ser o Primeiro-Ministro ou se Portugal não tem ninguém a exercer o cargo - Luís
Barbosa Rodrigues levanta esta questão.

71
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Enquanto Garante do Regular Funcionamento das Instituições


Políticas do Estado: Tem a incumbência de supervisionar o normal
funcionamento dos demais órgãos constitucionais com mandato popular e
de utilizar as suas competências para travar situações disfuncionais,
impedir condutas ilegítimas e potenciar relações de harmonia e
cooperação entre os órgãos políticos legitimados democraticamente80.

○ Poder Arbitral: Colocando o Presidente numa posição de


imparcialidade, destina-se a dirimir conflitos entre órgãos, partidos
e entidades, sempre que tal relevar para o regular funcionamento
das instituições e para a unidade do Estado.

○ Poder Moderador: Conteúdo essencial da garantia do regulamento


funcional das instituições, coloca o presidente numa posição
institucional de superioridade em seio de freios e contrapesos,
sujeito a limites presentes constitucionais.

SECÇÃO II: LINHAS FUNDAMENTAIS DO SEU ESTATUTO


CONSTITUCIONAL

Eleição: Eleito por sufrágio universal, direto e secreto (art. 121/1 CRP) pelos
cidadãos portugueses recenseados em território nacional e pelos cidadãos
portugueses residentes no estrangeiro que, nas condições estipuladas pela Lei
Orgânica 5/2005, guardem uma efetiva ligação à comunidade nacional (art. 121
da CRP). Se não obtiver mais de metade dos votos, realiza-se uma segunda
volta com os dois candidatos mais votados (art. 126/1 e 3 CRP).

★ Indivíduos elegíveis: Cidadãos portugueses de origem81, maiores de 35


anos (art. 122 da CRP), a quem não sejam aplicáveis as inelegibilidades
previstas na constituição e na lei (art. 123/2, 126/1 e 130/3 CRP), com
entre 7.500 e 15.000 assinaturas a validar a candidatura apresentadas
diante do Tribunal Constitucional até 30 dias antes da data marcada para
a eleição (art. 124/1 e 2 CRP).

○ Morte ou Impossibilidade de qualquer Candidato: Reabre o processo


eleitoral.

80
Acentua o vinco semipresidencialista ao sistema de governo por pressupor a intervenção
escrutinadora do Chefe de Estado através de uma autonomia variável sobre outros órgãos
constitucionais.
81
nacionalidade adquirida pelo nascimento e mantida até ao momento da candidatura

72
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Legitimação Democrática: Expressa no voto popular, permite que o


Presidente se assuma como órgão representativo da República.
Fundamenta o exercício dos poderes de direção e controlo político que lhe
são atribuídos e conferem o status de garante do funcionamento das
instituições democráticas (art. 120 da CRP). Habilita a sua intervenção
político-institucional em qualquer órgão constitucional com função política.

★ Data: Marcada pelo Presidente de acordo com a Lei, devendo ocorrer no


60 dias anteriores ao termo do mandato do Presidente ou no 60 dias
posteriores à vacatura do cargo, não podendo ter lugar nos 90 dias
anteriores ou posteriores à eleição da Assembleia da República (art. 125/1
e 2 CRP)

○ Tomada de Posse: Ocorre perante o Parlamento, geralmente, no


último dia do mandato do Presidente cessante (art. 127/1 e 2 CRP).

○ Lacuna Constitucional: Se o presidente, já eleito, falecer, for preso


em flagrante delito pela prática de crimes graves ocorridos depois
do ato eleitoral ou desistir de tomar posse, a lei não prevê nada.

■ PROF. CBM: Considera que o Presidente em funções deve


marcar um novo ato eleitoral no prazo de 48h contados da
data da posse que se encontrava marcada, ato a ter lugar 60
dias após a referida comunicação, mantendo-se o Presidente
em funções até à eleição e posse do novo Chefe de Estado
(art. 128/1 da CRP).

Mandato: 5 anos (art. 128/1 CRP).

★ Princípio Republicano: Possibilidade de reeleição apenas para o


mandato consecutivo ao primeiro (art. 123/1 da CRP), de modo a evitar
uma perenização dos mesmos titulares no poder ou tentações
bonapartistas ou de personalização excessiva da Chefia do Estado que
alterem os equilíbrios do sistema político. Fica completamente vedada a
(3ª) reeleição no quinquénio subsequente.

★ Renúncia: Ato voluntário e expresso do Presidente em terminar, a título


definitivo e com efeitos imediatos o seu mandato e formalizado em
mensagem dirigida ao Parlamento (art. 131 CRP). O Presidente não pode
recandidatar-se, nem nas eleições imediatas, nem nas que se realizem no
quinquénio imediatamente subsequente à renúncia (art. 123/2 CRP)82.

82
Tem como objetivo evitar renúncias dramatizadas tendentes a um regresso plebiscitado e
orientado politicamente contra as restantes instituições

73
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Cessação de Funções - Acontecimentos que Justificam:

★ Termo do Mandato: 5 anos

★ Morte: O processo de verificação da morte é promovido pelo Procurador


Geral da República (art. 86/1 da LTC83), tendo o Tribunal de, em sessão
plenária, atestar o óbito e declarar a vacatura do cargo (art. 87/2 da LTC)

★ Impossibilidade Física Permanente: O Tribunal tem de designar 3


peritos médicos e ouvir, se possível, o próprio Presidente, declarando,
posteriormente, a vacatura do cargo (art. 86/1 e 88/2 a 4 da LTC).

★ Renúncia: Ato voluntário e expresso do Presidente em terminar, a título


definitivo e com efeitos imediatos o seu mandato e formalizado em
mensagem dirigida ao Parlamento (art. 131 CRP).

★ Impeachment: Condenação pela prática de crimes cometidos no


exercício das funções84. A iniciativa do processo cabe ao Parlamento, por
iniciativa de ⅕ dos deputados e aprovação pr ⅔ dos deputados efetivos,
cabendo ao Supremo Tribunal de Justiça o julgamento (art. 130/1 e 2
CRP). A condenação implica a destituição do cargo e a impossibilidade de
reeleição, devendo o Tribunal Constitucional, depois de receber a certidão
de condenação, declarar a destituição (art. 91/1 a 3 LTC).

★ Ausência do Território Nacional não Autorizada pelo Parlamento85:


O presidente da Assembleia da República requer ao Tribunal Constitucional
a verificação da perda de cargo, que decide em plenário depois de ordenar
diligências probatórias e ouvir o Chefe de Estado (art. 90/1 e 2 LTC).

○ Crítica do Regente: Vê este efeito como algo desproporcional à


gravidade da situação.

Substituição Interina (art. 132 da CRP): Em caso de vacatura do cargo ou


impedimento temporário do Presidente da República, atua o Presidente da
Assembleia da República em seu lugar. Não pode recusar as funções
presidenciais sob pena de perda do cargo, devendo marcar novas eleições num
prazo de 60 dias após a data de vacatura do cargo, nem perder o seu estatuto
de Presidente da Assembleia. Contudo, suspende o seu mandato de deputado.

83
Lei do Tribunal Constitucional
84
a condenação de crimes estranhos ao exercício de funções por parte do Presidente ocorre depois
do termo do mandato, perante a jurisdição comum (art. 130, nº4 da CRP)
85
excetuando a situação disposta no nº2 do art. 129 da CRP

74
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Ficam-lhe Vedadas as Funções de: Dissolução do Parlamento, nomear


membros do Conselho de Estado e do Conselho Superior de Magistratura e
convocar referendos (art. 133 e 139/1 da CRP).

★ Funções que Exigem Ouvir o Conselho de Estado: Decidir marcar


eleições, convocar extraordinariamente o Parlamento e nomear o
Primeiro-Ministro, nomear e exonerar o Procurador-Geral da República, o
Presidente do Tribunal de Contas e membros do alto comando militar (art.
133 e 139/1 e 3 da CRP)

SECÇÃO III: PRERROGATIVAS PRESIDENCIAIS


Atos de Direção e Orientação Política (Poderes de Indirizzo Político):
Decisões que envolvem uma escolha potencialmente livre ou discricionária de
pessoas para o desempenho de cargos, bem como de opções inovadoras de ação
política respeitantes ao funcionamento das instituições da República.

Atos de Controlo: Faculdades de escrutínio, vigilância e impedimento sobre a


conduta e funcionamento de outros órgãos ou titulares de órgãos.

1. PODERES DE DIREÇÃO POLÍTICA RESPEITANTES A ÓRGÃOS DE


SOBERANIA
1.1 GOVERNO
1.1.1 NOMEAÇÃO DO PRIMEIRO MINISTRO
Condicionantes Político Institucionais (art. 187, nº1 da CRP):

★ No Plano Instrutório: Audição prévia dos partidos representados no


Parlamento

★ No Plano Substancial: Necessidade da nomeação ter em conta os


resultados eleitorais, este limite projeta-se na governabilidade do sistema
político.

Atos Preparatórios: Audição formal86, não vinculativa, dos partidos


representados no Parlamento (art. 186/1 CRP). As intenções dos partidos são
ouvidas, pois a viabilidade de formação do Governo depende do apoio de uma
maioria de deputados.

86
A doutrina pressupõe que a audição deve anteceder a aprovação do do decreto de nomeação do
Chefe de Governo - Gomes Canotilho e Vital Moreira

75
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Programa do Governo: O período de diligências preparatórias que


antecede a nomeação do Primeiro-Ministro é crucial para a preparação do
Programa do Governo87

Prática de Indigitação do Líder do Partido/Coligação mais votada: Existe


uma prática consolidada do Presidente, quando opta pela indigitação, convocar,
nos dias subsequentes ao ato eleitoral, o líder do partido/coligação mais votada
para convidar essa formação a indicar um candidato a Primeiro-Ministro que será
indigitado para formar um governo maioritário ou para desenvolver diligências
preparatórias com outros governos tendentes à formação de um governo de
maioria

★ Uso de Carácter Ritual: Nenhuma disposição constitucional constrange o


Presidente a ater-se, no procedimento preparatório de nomeação do
Primeiro-Ministro, às práticas existentes, podendo adotar novos tipos de
diligências que respondam a situações políticas novas ou que, no seu
entendimento, resolvam com maior eficácia do que os usos habituais.
Contudo, iniciativas que desrespeitem a escolha do eleitorado, podem
repercutir negativamente sobre o Presidente.

★ Margem de Discricionariedade da Escolha Presidencial:

○ Menor: Caso resulte de eleições com um cenário de maioria


absoluta de um só partido ou coligação, tendo o presidente pouco
espaço de manobra para não nomear Primeiro-Ministro a
personalidade indicada pela força maioritária

○ Maior: Se, da composição parlamentar, não resultar uma solução


maioritária.

Nomeação no Contexto de um Parlamento Fragmentado: No contexto de


uma situação excecional em que o Parlamento não exista base consistente para
a formação de qualquer Governo, o Presidente pode nomear um Governo da sua
iniciativa com vigência transitória.

Governos de Iniciativa Presidencial:

★ Razão de Ordem (art. 187/1 CRP): Atribui ao Presidente o poder de


nomear o Primeiro-Ministro, considerada a composição parlamentar.

87
Daí que o Presidente não deva proceder à audição formal dos partidos ou à indigitação do
Primeiro-Ministro antes da data oficial de publicação dos resultados eleitorais

76
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Contudo, não veda a faculdade de nomear um Primeiro-Ministro fora do


quadro partidário para constituir um Governo com técnicos e
independentes, ou integrando determinadas personalidades dos partidos,
quando a viabilidade da formação de um Governo estável com base na
composição parlamentar seja, manifestamente, reduzida.

○ Governo em Gestão: O Prof. Jorge Miranda considerava que, no


caso de haver um governo em gestão, até ao momento do
Presidente dissolver o Parlamento, haveria legitimidade para ser
indicado um governo de iniciativa presidencial, todavia o Prof. CBM
discorda, pois, esse governo teria ainda menos legitimidade

★ Argumentos desfavoráveis à formação destes governos:

○ Balanço político-institucional pouco positivo: Os executivos


pautam-se pela sua grande precariedade e hostilidade dos partidos
do sistema

○ Atenuação/Apagamento do protagonismo interventivo do presidente


no sistema político: Entre 1979 e 2015 tem havido sempre, a partir
da composição parlamentar a possibilidade do Chefe de Estado
nomear um governo de base partidária

○ Não conceção do presidente como Pilares do Poder Executivo: Na


Constituição vigente, se excluirmos competências residuais em
matéria de nomeações para alguns cargos militares, o Presidente
não integra, formalmente, o poder Executivo, nem exerce funções
administrativas com eficácia externa. Este dualismo institucional
aproxima o sistema político do semipresidencialismo e do
parlamentarismo.

★ Face Positiva e Negativa do “regular funcionamento das


instituições democráticas e as suas faces negativa e positiva”

○ Face Negativa: Válvula de segurança do sistema político.


Possibilidade de demitir o Governo em caso de ameaça do regular
funcionamento das instituições democráticas (art. 195/2 da CRP)

○ Face Positiva: Num contexto excecional de conflitualidade


paralisante, ruptura ou crise agravada do sistema
político-partidário ou financeiro em que o Governo não esteja em
condições de funcionar normalmente ou em que, na sequência da
sua demissão, se torne inviável a formação em tempo útil de um
Executivo maioritário ou estável tido como indispensável para a
tomada inadiável de decisões fundamentais, tem-se por

77
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

constitucionalmente justificada a génese de governos de iniciativa


presidencial - (art. 187/1 e 195/2 da CRP)

★ Parâmetros do poder extraordinário de nomeação de Governos de


iniciativa presidencial

○ Estado Público de Necessidade (art. 19 CRP): Verificada uma


quebra ilegítima da legalidade ou uma grave catástrofe natural em
que o Governo em funções se mostre objetivamente incapaz de
reunir ou de decretar medidas indispensáveis e inadiáveis para a
gestão dos negócios públicos, o Presidente poderá demitir o mesmo
Executivo e nomear, transitoriamente, um Governo da sua
iniciativa, destinado a tomar essas mesmas medidas que podem ser
admissíveis mesmo em gestão.

○ Necessidade ou Urgência do Funcionamento do Executivo: Volvida a


demissão do Governo, implica a acumulação de 3 situações críticas:

■ INVIABILIDADE DE FORMAÇÃO DE UM NOVO GOVERNO


ESTÁVEL: Em tempo razoável, esgotadas já todas as
soluções de base partidária em sede parlamentar.

■ IMPOSSIBILIDADE DE DISSOLUÇÃO DO PARLAMENTO:


Devido à ausência de tempo útil para convocar eleições
antecipadas ou, alternativamente, a enorme probabilidade
das mesmas manterem, no imediato, a mesma configuração
na representação parlamentar

■ NECESSIDADE DE TOMADA IMEDIATA DE MEDIDAS


INDISPENSÁVEIS PARA O NORMAL FUNCIONAMENTO DAS
INSTITUIÇÕES: Para a solvabilidade financeira do Estado ou
para a garantia da paz pública ou soberania

○ Necessidade de Preparação de Eleições Livres e Transparentes:


Quando o Executivo em funções, pela sua conduta, não dá
manifestamente garantia de que o referido ato eleitoral corra com
regularidade

★ Variantes de executivos de iniciativa presidencial

○ Governos de Iniciativa Presidencial em Sentido Impróprio/Indireto:


O Presidente toma a iniciativa, com maior ou menor discrição, de
impulsionar e viabilizar a formação de um Governo, operando ao

78
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

abrigo da sua magistratura de influência como simples articulador


da constituição desse Executivo, sem assumir responsabilidade
política direta na sua legitimação e sustentação futura, de modo a
evitar que o mesmo seja tido como um “governo presidencial”

○ Governos de Iniciativa Presidencial em Sentido Próprio: O


Presidente assume o papel de formador da solução governativa e
garante político da sua subsistência, de caráter transitório e curta
duração. O Chefe de Estado está limitado à expressão parlamentar
dos resultados eleitorais, devendo abster-se de formar governos
que mereçam a desconfiança explícita e notória da maioria
parlamentar ou que não tenham condições para viabilizar o seu
programa.

1.1.2 NOMEAÇÃO E EXONERAÇÃO DOS RESTANTES MEMBROS DO GOVERNO


O Presidente nomeia e exonera os membros do Governo sob proposta do
Primeiro-Ministro (art. 187/2 e art. 133/h da CRP), contudo, esta não consiste
numa competência vinculada, podendo, pontualmente, o Chefe de Estado
condicionar a composição do Governo, sendo este poder mais do que notarial.
Por razões de Estado presas à salvaguarda da legalidade da ordem constitucional
democrática, da soberania e do regular funcionamento das institucional, o
Presidente pode se recusar a nomear:

★ Alguém filiado num partido da oposição sem que o Primeiro-Ministro saiba

★ Uma pessoa já condenada por um crime grave que prejudique a sua


idoneidade como governante

★ Alguém que defenda manifestamente a subversão da ordem democrática,


o separatismo, os interesses de potências estrangeiras ou o termo da
independência nacional

1.1.3 DEMISSÃO DO GOVERNO POR INICIATIVA DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA


Implica a existência de uma crise grave, tornando-se necessário demitir o
governo para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas
(art. 195/2 CRP), estando o Presidente sujeito a um critério de
proporcionalidade, sendo a demissão um último recurso.

Cenários que podem tornar a demissão necessária:

★ Situações que tornem evidente a incapacidade do Governo gerir a


situação: Como uma guerra, revolta, crise financeira, tentativa de golpe
de Estado

79
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Incapacidade do Governo cumprir e fazer aplicar as leis e de fazer


funcionar os serviços fundamentais da Administração: Com relevo
para o Orçamento Estado.

★ Prática de atos graves contrários à Constituição pelo Governo:


Como omissão da apresentação do programa, ameaça da independência
nacional, tentativas ilícitas de controlo da comunicação social e renovação
legislativa ostensiva de diplomas vetados ou declarados inconstitucionais.

★ Prática de crimes contra o Estado de Direito

★ Desrespeito e enfrentamento do estatuto do Presidente da


República: Como quebras sérias da lealdade institucional, recusa
infundada de referenda ministerial e omissão sistemática de informação.

★ Acusação penal ao Chefe do Governo ou a um grande número de


membros do Governo: Com fundamento na prática de crimes graves.

Uso Abusivo deste Estatuto pelo Presidente: Por ser um ato político é
inimpugnável diante do Tribunal Constitucional

★ Sanção Política: Como a contestação pública, não reeleição,


deslegitimação se o Governo for reconduzido após eleições antecipadas.

★ Revisão Constitucional: Para eliminar esta faculdade.

1.1.4 ACEITAÇÃO OU RECUSA DO PEDIDO DE DEMISSÃO DO PRIMEIRO MINISTRO


Pedido de Demissão do Primeiro-Ministro (art. 195/1b CRP): O Governo
não pode auto-demitir-se e exonerar-se das suas funções, mas pode pedir
demissão ao Presidente da República. O pedido de demissão do Governo é
apresentado pelo Primeiro-Ministro, que representa um todo nas relações com o
Presidente (art. 191 da CRP) e a demissão opera mediante um decreto de
demissão do Presidente, que não é constitucionalmente obrigado a aceitar o
pedido, que pode até ser apenas feito como uma jogada para reforçar a posição
política do Governo.

★ Avaliação do Presidente88: O Presidente da República não fica adstrito a


aceitar a demissão, tendo de avaliar as razões aduzidas à luz do interesse
geral e da relação das forças políticas, ouvindo os partidos representados
na Assembleia da República e, se assim entender, o Conselho de Estado.

88
Prof. Jorge Miranda

80
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Recusa do Pedido e Reiteração do Primeiro-Ministro: O Presidente


não pode forçar o Governo a manter-se contra a sua vontade89. Há quem
defenda90 o pedido de demissão pode, no limite, funcionar como renúncia.

○ Posição do Professor Carlos Blanco Morais: O pedido de demissão


não pode funcionar como renúncia, pois o 195/1b tem um conteúdo
amplo ao prever a possibilidade do Presidente não aceitar o pedido
de demissão, abrangendo a recusa de aceitação várias vezes. A
relação do Primeiro-Ministro e do Presidente funda-se num princípio
de responsabilidade institucional, em que o Primeiro-Ministro é
constitucionalmente responsável diante do Presidente que, com
liberdade, procedeu à sua nomeação, logo, faz sentido que este
tenha liberdade de aceitar, ou não, o pedido de demissão.

■ RAZOABILIDADE POLÍTICA: O Presidente, contudo, careceria


de legitimação política para recusar o pedido de demissão
reiteradamente apresentado se, do mesmo, não adviesse
impactos políticos ou financeiros de que resultasse prejuízo
para o funcionamento das instituições ou negócios públicos.

1.1.5. PRESIDÊNCIA DO CONSELHO DE MINISTROS MEDIANTE CONVITE


A Presidência do Conselho de Ministros, mediante convite do Primeiro-Ministro
(art. 133/i) CRP), consiste num exercício episódico, simbólico e de cortesia,
muito raramente utilizado. O Presidente da República preside formalmente a
reunião, sendo, na prática o Primeiro-Ministro a coordenar os trabalhos, a menos
que a sessão tenha carácter emergencial, nesse caso, pode-se justificar que os
trabalhos sejam, efetivamente, dirigidos pelo Presidente (ex: situações de
guerra, catástrofe natural, Primeiro-Ministro ausente,...). O Presidente não está
inibido de votar, se assim quiser.

1.2 PODERES PRESIDENCIAIS RESPEITANTES À ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA


1.2.1. DISSOLUÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

Poder de Dissolução Parlamentar: Faculdade do presidente dissolver a


Assembleia da República, ouvidos os membros do Conselho de Estados91 e os

89
Gomes Canotilho e Vital Moreira consideram que, a menos que o PR recuse o pedido para
reforçar a posição do Governo, se o PM reiterar o pedido de demissão, não é razoável que o PR
force o Governo a manter-se contra a sua vontade
90
Jorge Miranda e Rui Medeiros defendem que, se o PM insistir no pedido, este pode se equiparar
à renúncia do próprio Presidente ou de qualquer deputado
91
o parecer deste órgão não é vinculativo, contudo, agir contra a maioria da vontade deste órgão
enfraquece a posição do PR

81
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

partidos com representação parlamentar (art. 133/e) CRP). Atributo exclusivo ao


semipresidencialismo com um expressivo peso institucional92.

★ Limites:

○ Legais (art. 171/1 e 2 CRP):

■ CIRCUNSTANCIAIS: O Parlamento não pode ser dissolvido


durante a vigência de estados de exceção

■ TEMPORAIS: O Parlamento não pode ser dissolvido durante


os 6 meses posteriores à sua eleição ou no último semestre
do mandato do Presidente, sob pena de inexistência do
decreto
● Crítica do Regente: A impossibilidade de dissolução da
Assembleia nos últimos 6 meses do mandato
presidencial é um excesso cautelar desnecessário, que
pode surgir como bloqueio do sistema e produzir
impactos negativos. O Presidente devia poder dissolver
a Assembleia apenas exceto em estados de exceção e
nos 2 meses subsequentes à eleição do Parlamento.

○ Doutrina: Existe a prática consolidada da dissolução poder ocorrer


apenas em casos de exceção em situações de crise pronunciada.
Sendo a dissolução vista como último recurso/”bomba atómica” do
sistema, ou seja, uma válvula de segurança para situações de crise
política muito acentuada.

■ DISSOLUÇÃO FORA DO CONTEXTO DE CRISE: Será a quebra


de uma prática consolidada que se desvia do espírito da
Constituição, propiciando um reforço imprevisto do poder
presidencial e a elevação do status do Chefe de Governo a
um patamar de intervenção que o afasta da tradição. As
consequências deste ato vão depender do seu êxito, podendo
existir uma sanção política se a maioria regressar fortalecida.

Sugestão de Revisão Constitucional do Prof. CBM: No caso de pontificação


de uma maioria parlamentar absoluta de suporte ao Governo num contexto
monopartidário ou de coligação formal, o Presidente só deveria dissolver o
Parlamento se estivesse em causa o normal funcionamento das instituições

92
Por ser um poder político de direção que permite ao Presidente por fim a um ciclo político,
acarretando forte probabilidade de também pôr termo, a curto-prazo, ao Governo em funções, pois
a dissolução exige a convocação de novas eleições legislativas, dependendo a formação do novo
Executivo da composição parlamentar.

82
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

democráticas, um risco sério para a solvabilidade financeira do Estado, a


independência nacional ou a integridade territorial, carecendo de parecer
favorável do Conselho de Estado.

1.2.2 MARCAÇÃO DE ELEIÇÕES PARLAMENTARES


O Presidente dispõe da competência para marcar eleições para a Assembleia da
República (art. 133/b) CRP). Geralmente ocorrem aos domingos.

Eleições para Nova Legislatura: Realizam-se entre 14 de Setembro e Outubro


(art. 19/2 da Lei Eleitoral para a Assembleia).

★ Prazo Geral: Antecedência mínima de 60 dias contados da data da


marcação para a realização das referidas eleições (art. 19/1 da Lei
Eleitoral para a Assembleia).

Eleições depois da Dissolução do Parlamento: As eleições ocorrem,


necessariamente, nos 60 dias subsequentes à publicação do decreto de
dissolução, mas podem ter lugar dentro deste prazo, com uma antecedência
mínima de 55 dias, e máxima de 60 (conjugação do art 113/6 CRP com o 19/1
da Lei Eleitoral para a Assembleia).

1.2.3 CONVOCAÇÃO EXTRAORDINÁRIA DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA


Limita a faculdade de auto-organização que a Constituição concede ao
Parlamento, acentuando o pendor presidencial dos sistema político nas suas
relações com a Assembleia da República. Só deve acontecer de forma
“extraordinária” e para discutir assuntos “específicos” (art. 174/4 e 133/c) CRP)

★ Caso o Presidente se afaste dos imperativos de excepcionalidade


convocatória: O Parlamento ou os deputados da maioria parlamentar
podem esvaziar o ato, não comparecendo na sessão e prejudicando a
tomada de decisões, encurtando drasticamente o período de trabalhos.

1.3 PODERES RESPEITANTES A OUTROS ÓRGÃOS CONSTITUCIONAIS


1.3.1 PODERES PRESIDENCIAIS AUTÓNOMOS
Regiões Autónomas:

★ Órgãos de Governo Próprio das Regiões Autónomas:

○ Poder de Dissolução dos Parlamentos Regionais: No âmbito do art.


172 da CRP, com as devidas adaptações, ouvidos o conselho de
Estado e os partidos da Assembleia (art. 133/j) CRP).

83
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Poder de Demissão do Governo Regional: Nos termos do art. 234,


nº2 da CRP, sendo implicado também pela dissolução do
Parlamento. Geralmente só ocorre num plano de crise, havendo
consenso entre os ramos regionais dos partidos nacionais.

○ Marcar Eleições para as Assembleias Legislativas: Prevê-se que as


eleições ocorram num prazo entre 60 e 55 dias caso tenha de
acompanhar a dissolução (art 113/6 CRP e 19/1 Lei Eleitoral para a
Assembleia).

★ Representantes da República: Figuras comissariais residentes nas


regiões autónomas dotadas de funções representativas, cerimoniais e
notariais, de controlo de mérito sobre diplomas regionais e fiscalização
preventiva e sucessiva da sua constitucionalidade, sendo nomeadas e
exoneradas pelo Presidente da República, ouvido o Governo, cujo parecer
não é vinculativo (art 133/l) CRP). Cessam as suas funções com o termo
do mandato presidencial (art. 230/2 CRP). O facto de competir apenas ao
Presidente a sua nomeação, resulta num nexo de responsabilidade política
entre o eles, sem prejuízo da sua autonomia

Conselho de Estado: Órgão de aconselhamento do Presidente da República que


se pode pronunciar sobre os assuntos que lhe forem submetidos pelo Presidente
(art. 145/e) CRP) e, obrigatoriamente sobre a dissolução da Assembleia da
República e parlamentos regionais, a demissão do Governo por iniciativa do
Presidente, a declaração da guerra e feitura de paz e atos do Presidente interino
(art. 145/a) a d) CRP). Se o Presidente lhes retirar a confiança publicamente,
eles devem renunciar.

★ Membros:

○ 5 cidadãos designados livremente pelo Presidente

○ 5 cidadãos eleitos livremente pelo Parlamento

○ Presidente do Parlamento, Primeiro-Ministro, Presidente do Tribunal


Constitucional, Provedor de Justiça, presidentes dos governos
regionais, antigos presidentes da República eleitos na vigência da
Constituição e não destituídos do cargo (art. 142 CRP)

1.3.2 PODERES PARTILHADOS NA DESIGNAÇÃO DE TITULARES DE ÓRGÃOS


Chefe de Estado Maior General e das Forças Armadas e Chefes dos
Estados-Maiores dos Ramos: O Presidente nomeia e exonera, sob proposta do

84
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Governo, o Chefe de Estado Maior General das Forças Armadas, e o vice-chefe,


depois de ouvido o Chefe de Estado-Maior General (art. 120 e 199/d) CRP). Os
membros do alto comando militar devem sempre gozar simultaneamente da
confiança do presidente e do Governo.

★ Praxe: O Governo propõe, num procedimento reservado, a nomeação de


um chefe militar, procede uma sondagem prévia à formalização da
proposta sobre os candidatos que pretenda submeter ao Chefe de Estado,
apresentando, usualmente, mais do que uma opção.

Procurador-Geral da República: O Presidente nomeia e exonera, sob proposta


do Governo, de modo a garantir a autonomia do Ministério Público em face do
Governo, sem que se crie um quadro de independência, a um mandato de 6
anos (art. 133/m) da CRP).

Presidente do Tribunal de Contas: O Presidente nomeia e exonera, sob


proposta do Governo, o Presidente deste órgão de função jurisdicional, pautado
por requisitos constitucionais de independência por controlar a gestão do
dinheiro público.

★ Crítica do Regente: A nomeação devia ser partilhada entre o Presidente


e o Parlamento (que deliberaria uma proposta por maioria de ⅔) ouvidos
os conselhos superiores das magistraturas judiciais.

Embaixadores e Enviados Extraordinários: O Presidente nomeia e exonera,


sob proposta do Governo, podendo colocar contrapropostas ou formular
sugestões (art. 135/a) CRP).

1.4 PODERES DE CONTROLO SOBRE ATOS EMANADOS DE OUTROS ÓRGÃOS


Promulgação e Veto dos Atos Legislativos do Parlamento e do Governo:

★ Promulgação: Condição de existência93. Quando o presidente decide


promulgar, ou seja, não necessariamente concordar, mas decidir não se
opor, o diploma é sujeito a referenda ministerial94 e depois enviado para
promulgação.

○ Dúvidas sobre a Constitucionalidade: Deve-se abster de


promulgar/vetar e enviar para o Tribunal Constitucional.

93
Para leis, decretos-lei e decretos-regulamentares
94
ato de prática certificatória requerido nos termos do art. 140 da CRP

85
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Veto Político: Face negativa da promulgação, o Chefe de estado exprime


um poder de impedimento que traduz a sua discordância com o mérito do
diploma, e que implica a respetiva devolução ao órgão que o aprovou.

○ Sobre Decretos-lei e Decretos-Regulamentares do Governo: Tem


eficácia absoluta, ou seja, o Executivo ou se conforma com o veto e
desiste do diploma, ou o reformula e converte num novo ato, ou
apresenta uma proposta de lei do mesmo teor ao parlamento.

○ Sobre Leis Parlamentares: Tem efeitos suspensivos (art. 136 CRP):

■ SUPERAÇÃO DO VETO: Mediante maioria absoluta dos


deputados efetivos (136/2 CRP). Causa que o Presidente
tenha de promulgar o diploma - veto de bolso proíbido

■ VETO QUALIFICADO: Aplicável a leis orgânicas, leis sobre


relações externas, leis relativas limites entre setores
económicos e regulação legal de atos eleitorais previstos na
Constituição e não aprovados por leis orgânicas, cuja
superação requer a maioria hiper agravada de 2⁄3 dos
deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta
dos efetivos (art. 136/3 CRP).

Ratificação e Assinatura de Convenções Internacionais: Controlo de mérito


político exercido pelo Presidente, traduzido na faculdade de ratificar tratados
aprovados pelo Parlamento e assinar convenções internacionais aprovadas pelo
Parlamento e pelo Governo (art. 135/b) e 134/b) CRP).

★ Recusa da Assinatura/Ratificação: A Constituição não prevê este


poder, mas essa faculdade é tacitamente admitida, na medida em que, nã
só não se impõe a sua obrigatoriedade, mas também porque no art. 137
da CRP se fere com inexistência jurídica os diplomas não assinados pelo
Presidente, pelo que este regime vale para o controlo de mérito dos
acordos internacionais e, por maioria de razão, dada a maior solenidade
destes, também para os tratados.

Promoção do Controlo da Constitucionalidade: Faculdade de promover


junto do Tribunal Constitucional a fiscalização da conformidade das normas
jurídicas com a Constituição, prerrogativa extraída não apenas da sua função de
regulador do normal funcionamento das instituições democráticas, mas do
conteúdo do seu juramento no ato de posse (“cumprir e fazer cumprir a
Constituição"). Esta competência é exercida livre e facultativamente,
exceptuando o caso das propostas de referendo

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★ Manifestações desta Faculdade:

○ Controlo Preventivo: Antes das leis serem promulgadas ou as


convenções internacionais ratificadas (art. 278 e 279 da CRP)

○ Controlo Sucessivo: Após a publicação das normas (art. 281/2 CRP)

○ Controlo de Inconstitucionalidade por Omissão (art. 283 da CRP)

1.5 DECLARAÇÃO DE ESTADOS DE EXCEÇÃO


A declaração do estado de sítio e estado de emergência é um poder excepcional
de necessidade pública, e ocorre quando os meios fornecidos pela legalidade
ordinária são insuficientes para lidar com uma das situações de crise do art. 19
CRP - agressão efetiva e iminente por forças estrangeiras, grave ameaça ou
perturbação da ordem constitucional democrática ou calamidade pública.

Envolvimento dos 3 Órgãos Institucionais:

★ Presidente da República: Órgão competente para declarar os estados


de exceção. Faculdade presidencial autónoma e discricionária que deve
observar diversos limites, entre os quais o princípio da proporcionalidade.

★ Governo: Para existir juridicamente e produzir efeitos intersubjetivos,


carece de parecer obrigatório do Governo, mas que não é vinculativo

★ Assembleia da República: Sem a sua autorização o decreto é


inexistente (art. 138 CRP)

CAPÍTULO II. A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA


1. NATUREZA JURÍDICO-CONSTITUCIONAL
Assembleia da República: Órgão parlamentar soberano que representa os
cidadãos (art. 152/2 CRP). Essência do regime democrático representativo
através da incorporação das opções mais significativas do eleitorado.

★ Composição: Deputados eleitos por sufrágio universal, direto, secreto e


periódico (art. 113/1 CRP) das principais correntes políticas organizadas
em partidos. Representam o país e não os círculos onde foram eleitos (art.
152/2 CRP) e exercem o mandato de forma livre (art. 155/1 da CRP).

○ Partidos: Têm o monopólio da apresentação de candidaturas ao


Parlamento (art. 151/1 da CRP).

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Estrutura:

★ Órgão colegial: Composta por uma pluralidade de titulares que decide


mediante a tomada de deliberações por maioria dos votos

★ Instituição unicameral: Só compreende uma câmara representativa

★ Natureza Complexa: Desdobra-se em diversos órgãos, nomeadamente


no Plenários e nas comissões

★ Autonomia Organizativa: Faculdade de regular a sua composição (art.


148 e 149 da CRP), aprovar o seu regimento (art. 175 da CRP) e de se
auto-organizar administrativamente.

Funções: Órgão representativo, legislativo, fiscalizador e eletivo (art. 161 a 166


da CRP). Resume-se, essencialmente, ao exercício de atividade política “stricto
sensu” e legislativa, apenas exercendo competência administrativas residuais.

★ Primado da Função Legislativa: A Assembleia detém a supremacia


jurídica e política de entre os órgãos com funções legislativa, o que
significa que os representantes do povo reunidos nos parlamentos possam
aprovar leis sobre todas as matérias.

★ Fiscalização: Atividade que implica zelar pela observância de regras ou


adoção de condutas politicamente exigíveis e adequadas, abrangendo as
atividades de acompanhamento, supervisão e controlo, dirigindo-se em
especial à Administração direta e indireta e ao trabalho que o Governo
dirige e superintende com a mesma.

○ Fiscalização de Autoridades Administrativas Independentes: Não


respondem diante do Parlamento, mas estão sujeitas à fiscalização
parlamentar, devendo submeter-lhe os seus planos e relatórios
anuais de atividades e os seus responsáveis devem comparecer,
quando citados para o efeito

○ Fiscalização do Presidente da República: Autoriza as suas


deslocações para o exterior

★ Eletivas: A Assembleia elege titulares de outros órgãos, com relevo para


órgãos de soberania (caso de 10 juízes do Tribunal Constitucional), órgãos
constitucionais (Provedor de Justiça e Conselho Superior da Magistratura)
e autoridades administrativas independentes sem assento constitucional.

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RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Características da Representação Parlamentar: A representação


parlamentar procura assegurar as correntes doutrinárias ou ideológicas da
sociedade portuguesa organizadas partidariamente e que tenham obtido o
número suficiente de votos.

★ Deputados: Representam o país e não os círculos onde foram eleitos (art.


152/2 CRP), exercendo o mandato de forma livre (art. 155/1 CRP)

★ Exclusividade Partidária: Art. 151, nº1 da CRP

★ Proporcionalidade: Critério da representação proporcional segundo o


método de Hondt, garantindo que o máximo de forças políticas consigam
obter representação no Parlamento, daí a proibição de cláusulas-barreira
(art. 152, nº1 da CRP).

★ Garantia de Quotas de Género: No desenvolvimento de disposições


constitucionais como o art. 9/h) e o 109, estabeleceu-se, na Lei da
Paridade, a necessidade de haver, no mínimo, a representação de 33% de
cada um dos sexos nas listas de candidatura.

★ Limitação à Representação Partidária: Associações fascistas e racistas


não podem ter representação no parlamento (art. 46/4 da CRP).

★ Atividade Tribunícia: Implica a discussão pública das questões de


interesses nacional entre mandatários de correntes políticas diferentes ou
opostas (art. 168, 174/2, 177/2, 174/4, 176/1 e 180/2c) da CRP).

★ Função Integradora da Diversidade Social: Mediante um contacto


permanente com os eleitores dos respetivos círculos, a sua articulação
com os parceiros sociais, associações e grupos de cidadania através de
consultas inerentes ao processo deliberativo e do tratamento de questões
colocadas pela sociedade civil, como petições (art. 178/3 CRP).

Relação Fiduciária entre o Governo e a Assembleia:

★ Composição Parlamentar: Base da decisão presidencial para a


designação do Primeiro-Ministro.

★ Faculdade de Demissão do Governo pela Assembleia: Através da


rejeição do seu programa ou de uma moção de confiança ou da aprovação
de uma moção de censura por maioria absoluta

★ Apreciação da Atividade do Governo pela Assembleia: Vai apreciar o


Programa, decretos-lei e conceder autorizações legislativas.

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RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Em matéria financeira: A Assembleia autoriza o Governo a contrair e


conceder empréstimos, aprova a proposta do Orçamento de Estado, toma
as contas do Estado e aprecia a execução dos planos nacionais

★ Esclarecimento: O órgão parlamentar convoca sessões periódicas em


que os membros do Governo estão presentes para prestar
esclarecimentos, podendo constituir comissões de inquérito onde seja
imposta a presença de membros do Executivo.

★ Detenção de membros do Executivo: Por autorização da Assembleia,


ocorre na sequência de um procedimento criminal e decide sobre a
suspensão de funções do mesmo titular.

★ No plano externo: A Assembleia da República acompanha o processo de


integração de Portugal na UE, pronuncia-se sobre matérias pendentes de
decisão na UE que respeitem as suas competências e acompanha o
envolvimento de contingentes militares no exterior.

2. COMPOSIÇÃO, ESTATUTO E MANDATO DOS DEPUTADOS E PROCESSO


DE DECISÃO
Composição: Composto por deputados e pelos grupos parlamentares que os
agrupam, têm o mínimo de 180 e o máximo de 230 mandatários (art. 148 CRP),
devendo as normas que fixam o número de deputados ser aprovadas na
especialidade por maioria de ⅔ (art. 168/6d) da CRP).

Legislatura e Mandato dos Deputados:

★ Duração da Legislatura: 4 anos - 4 sessões legislativas, cada uma de 1


ano (art. 171/1 CRP)

○ Em caso de dissolução: A duração vai compreender o tempo de


legislatura correspondente, acrescido do período não completado da
sessão legislativa em curso à data da eleição (art. 171/2 CRP).

★ Mandato dos Deputados: Coincide com o tempo da legislatura,


iniciando-se com a primeira reunião da Assembleia depois das eleições e
cessando com a primeira após as eleições subsequentes (art. 153/1 CRP).

○ Encurtamento do Mandato: Pode ocorrer devido à dissolução do


Parlamento, morte do deputado, impossibilidade física ou psíquica,
renúncia ou perda do mandato nos termos do art. 160 da CRP.

90
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Preenchimento de Vagas ou Substituição Temporária dos


Deputados: As vagas são preenchidas pelo primeiro candidato não
eleito e ainda não chamado a desempenhar funções de deputado do
mesmo partido (art. 153/2 CRP)

Estatuto dos Deputados:

★ Poderes: art. 156 CRP

○ Apresentação de projetos de revisão constitucional, projetos de lei,


regimento e resolução, requerendo o respectivo agendamento

○ Participar nos debates parlamentares, nos termos do regimento -


realidade limitada pela representação do partido

○ Questionar o Governo sobre atos que ele ou a Administração


tenham praticado, receber resposta em tempo razoável e obter do
mesmo órgão, ou outras entidades públicas, informações relevantes
para o exercício do mandato.

○ Requerer a constituição de comissões parlamentares de inquérito

★ Imunidades: art. 157 CRP

★ Direitos e Regalias: art. 158 CRP

★ Deveres: art. 159 da CRP

Deliberações: Implicam a presença de mais de metade dos deputados efetivos


(art. 116, nº2 da CRP)95, sendo tomadas à pluralidade dos votos, exercidos
principalmente, prevalecendo o critério geral da maioria simples, para qual não
contam as abstenções.

★ Deliberações que exigem maioria qualificada:

○ Impeachment

○ Aprovação da lei de revisão constitucional

○ Eleição de titulares de órgãos constitucionais

95
para procedimentos internos, contudo, basta o quórum ⅕ dos deputados efetivos (art 58/1 RAR)

91
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Luísa Braz Teixeira

○ Aprovação de leis e normas legais previstas no art. 168 nº6 da CRP

○ Reversão do Veto presidencial qualificado - a maioria de ⅔ tem de


ser superior à maioria absoluta dos deputados efetivos

○ Leis orgânicas

○ Lei-quadro das reprivatizações

○ Reversão do veto presidencial simples

○ Moções de censura ao Governo que acarretem a sua demissão (art.


168/5 da CRP)

3. ÓRGÃOS
Plenário: Órgão deliberativo do Parlamento e fonte sub-constitucional dos
demais órgãos da Assembleia. Presidido pelo Presidente da Assembleia da
República e composto por todos os deputados, assumindo a plenitude das
opções políticas dos cidadão

★ Funções:

○ Deliberação e Aprovação: Sobre leis de revisão constitucional,


tratados, acordos internacionais da competência parlamentar ou
submetidos à aprovação do parlamento, todas as leis nas fases de
votação na generalidade e final global, a aprovação de moções para
demitir o Governo e todas as leis

○ Eletivas:Para titulares de outros órgãos

○ Relativas ao Presidente: Testemunhar a sua posse e autorizar as


suas deslocações

○ Residuais de Natureza Política não atribuídas a nenhum outro órgão

Presidente da Assembleia da República: Dirige os trabalhos do Parlamento,


ocupando a segunda posição na hierarquia do Estado por substituir o Presidente
em caso de vacatura do cargo ou impedimentos transitórios (art. 132 nº1 da
CRP). É membro do Conselho de Estado e eleito por maioria absoluta pelos
deputados efetivos. Eleito por maioria absoluta dos deputados efetivos reunidos
em plenário.

★ Funções:

92
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Presidência do Plenário e da Mesa da Assembleia

○ Marcação e direção das reuniões plenárias

○ Tomada de decisão, no âmbito da mesa da Assembleia, sobre a


rejeição preliminar de iniciativas legislativas manifestamente
inconstitucionais

○ Promoção da fiscalização abstrata sucessiva da


inconstitucionalidade das normas

○ Decisão sobre aspetos de ordem estatutária, funcional e disciplinar


dos deputados

○ Admissão, rejeição e submissão de iniciativas a discussão

○ Remissão para as comissões competentes de documentos e


petições.

○ Direção dos serviços administrativos do Parlamento

Mesa da Assembleia da República: Órgão presidido pelo Presidente do


Parlamento e que o coadjuva no exercício de funções, elabora regulamentos
internos e declara a perda de mandatos dos deputados. É composto por 4
Vice-Presidentes eleitos sob proposta dos 4 maiores grupos parlamentares, 4
secretários e vice-secretários eleitos por maioria absoluta dos deputados
efetivos. O mandato destes cargos corresponde a uma legislatura.

Comissões Parlamentares: Órgãos cuja constituição é obrigatória (art. 178/1


e 179 CRP) e que exercem funções especiais que lhes são atribuídas pela
Constituição, Regimento, regras costumeiras ou competências atribuídas pelo
Plenário.

★ Tipos de Comissões:

○ Comissão Permanente (art. 179): Comissão criada pela Constituição


composta por deputados indicados pelos partidos de acordo com a
sua representatividade de modo a criar um “Parlamento
miniaturizado” que, incapaz de aprovar leis ou tratados, não
funciona a título permanente e exerce competências restritas,
respeitantes às matérias do art 179/3 CRP

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RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

○ Comissões Permanentes de Criação Regimental: Comissões que,


por força de um costume contra legem, aprovam leis em discussão
e votação na especialidade, sem prejuízo de avocação deste poder
pelo Plenário e da reserva de votação na especialidade pelo mesmo
plenário (art. 178/1 CRP).

○ Comissões não permanentes: Criadas por deliberação parlamentar


(art. 178/1 da CRP), podem abranger as comissões eventuais de
inquérito e criadas para fins determinados.

CAPÍTULO III. O GOVERNO


1. O GOVERNO COMO CENTRO PREDOMINANTE DE IMPULSÃO E DIREÇÃO
POLÍTICO-LEGISLATIVA E ESTRUTURA DA CÚPULA DA
ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
Governo: Órgão superior da Administração Pública e de condução da política
geral do país, sendo o centro de poder legislativo (art. 182 e 198 da CRP).

Funções do Governo:

★ Políticas: Traça as linhas reitoras das políticas ocasionais ou permanentes


que são prosseguidas em todos os domínios da atividade pública (art. 197
da CRP) condensadas, logo à partida, no Programa de Governo e nas
propostas de lei relativas às grandes opções dos planos e ao Orçamento
de Estado. Vai dirigir políticas de soberania, como as políticas externa, de
defesa e segurança interna e executar a política financeira em estreita
articulação com a U.E.

★ Centro de Impulsão e Produção Legislativa: Podendo ser englobando


nas funções políticas em sentido lato (art. 197/d) e 198 da CRP), trata da
atividade legislativa.

★ Órgão Superior da Administração Pública: Dirige a Administração


direta do Estado, orienta a administração interna e tutela a administração
autónoma (art. 199/d) da CRP). Nomeia, e destitui em alguns casos, os
membros dos órgãos executivos reguladores da economia que assumem
esse estatuto de independência. Produz bens e serviços indispensáveis
para o funcionamento do Estado Social.

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RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

2. COMPOSIÇÃO
Composição:

★ Órgãos Singulares Unipessoais (art. 183/1 e 2 CRP):


Primeiro-Ministro, Secretários, Subsecretários de Estado e Ministros. Pode
acrescer um ou mais Vice-Primeiros Ministros.

○ Adição de membros: A lei ordinária não pode pode aditar outro


membros do Governo, pode, no máximo, atribuir um estatuto
especial a certos ministros.

○ Acumulação de Pastas Ministeriais: O Primeiro-Ministro ou outros


Ministros podem, por força de decreto-lei relativo à orgânica do
Governo ou mediante deliberação do Conselho de Ministros,
acumular pastas ministeriais, se tal for julgado necessário a título
transitório ou permanente - enquanto durar o mandato.

★ Conselho de Ministros: Órgão colegial que opera como instância


deliberativa das mais importantes normas e atos governamentais (art.
200 CRP), neles figurando decretos-lei, acordos internacionais, atos
políticos, propostas de leis, regulamentos e atos administrativos.

3. NOMEAÇÃO E DEMISSÃO DO GOVERNO E DOS TITULARES DE CARGOS


GOVERNATIVOS
3.1 NOMEAÇÃO E DEMISSÃO DO PRIMEIRO-MINISTRO E DOS RESTANTES MEMBROS
DO GOVERNO
Nomeação do Primeiro-Ministro: Nomeado pelo Presidente da República em
função dos resultados eleitorais, ouvidos os partidos representados no
Parlamento (art. 187 nº1 da CRP).

Nomeação dos Restantes Membros: Nomeados pelo Presidente da República,


mediante proposta pelo Primeiro-Ministro (art. 133 al. h) da CRP). É conferido ao
Primeiro-Ministro um poder autónomo de escolha dos membros do Executivo por
si presidido, sendo o poder de nomeação presidencial uma competência,
tendencialmente, certificatória.

★ Recusa de Nomeação: Deve ser fundada na existência de fatores


extraordinários que coloquem em causa a estabilidade, segurança,
autoridade e prestígio institucional do Estado e do próprio Governo, como
acusação ou forte suspeita de prática de crime grave, anomalia psíquica

95
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

ostensiva, associação indevida aos interesses de potências estrangeiras,


opções políticas ativas contrárias à independência nacional e ao Estado de
Direito democrático ou condutas públicas de ordem ética passíveis de
desprestigiar manifestamente as instituições da República. Quando forem
fundadas em juízos de oportunidade política, devem ser tidas como
abusivas e invasivas.

★ Demissão: Depende do Primeiro-Ministro, que propõe, por decreto de


exoneração, ao Presidente da República, que o deve aprovar. Se tal não
ocorrer, pode ocorrer a demissão do Executivo por consistir numa
interferência direta no poder político do Primeiro-Ministro. Apenas razões
de estado de necessidade é que podem afastar esta demissão96

3.2 DEMISSÃO DO GOVERNO


Art. 195, nº1 e 2 da CRP:

★ Depende do Parlamento e do Próprio Governo: Em caso de proposta


de moção de confiança e aprovação da mesma.

★ Depende do Primeiro-Ministro: Por apresentar o seu pedido de


demissão ao Presidente, ou por morte ou impossibilidade física duradoura.

★ Depende, apenas, do Parlamento: Quando aprova uma moção de


censura por maioria absoluta dos deputados efetivos ou rejeita o
Programa do Governo

★ Depende do Presidente: Ouvido o Conselho de Estado, por ameaça ao


regular funcionamento das Instituições

3.3 INÍCIO, TERMO E SUSPENSÃO DE FUNÇÕES

Primeiro-Ministro: As suas funções iniciam-se com a sua posse e cessam com


a sua exoneração pelo Chefe de Estado (art. 186/1 CRP). Em caso de demissão,
as suas funções cessam com a tomada de posse do novo Primeiro-Ministro (art.
186/4 CRP).

Restantes Membros do Governo: Iniciam as suas funções com a sua posse e


cessam com a exoneração do Primeiro-Ministro, em caso dos Ministros, ou do
Ministro, em caso de Secretários e Subsecretários de Estado (art. 186/2-4 CRP).

96
Como a indispensabilidade da prática de um ato urgência do Ministro das Finanças para evitar a
bancarrota ou a de um Ministro da Defesa ou Administração Interna para evitar a quebra iminente
da institucionalidade democrática e ordem pública.

96
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

Suspensão de Funções: Movido um procedimento criminal contra um membro


do Governo e no caso de acusação definitiva contra o mesmo, a Assembleia da
República decide se ele deve ser suspenso. Em caso de crime doloso, cuja pena
de prisão seja superior a 3 anos, a suspensão é obrigatória (art. 196/2 CRP).

4. PRIMEIRO MINISTRO
Primeiro Ministro: Força motriz da atividade do governo. Exerce a direção
política (art. 201/1a) CRP) e administrativa do Governo, assumindo a sua
representação institucional, e pratica atos diversos de controlo intra-orgânico. As
suas funções iniciam-se com a sua posse e cessam com a sua exoneração pelo
Chefe de Estado (art. 186/1 CRP). Em caso de demissão, as suas funções
cessam com a tomada de posse do novo Primeiro-Ministro (art. 186/2 CRP).

★ Nomeação: Pelo Presidente da República em função das legislativas,


ouvidos os partidos representados no Parlamento (art. 187/1 CRP).

★ Direção Política:

○ Coordenar a atividade do Executivo: Acompanhamento dos eixos


reitores de política governativa a partir do respetivo programa,
criação de mecanismos de garantia da sua execução, supervisão e
articulação da atividade ministerial

○ Orientação individual da atividade dos membros do Governo:


Supervisão da atividade, fixando diretrizes de políticas
acompanhadas de faculdades persuasivas e corretivas e exercício
de funções de superintendência no plano administrativo.

○ Presidir o Conselho de Ministros (art. 184/1 CRP): Bem como


coordenar o ser processo deliberativo

■ PROCESSO DECISÓRIO: Apesar do processo decisório do


Conselho de Ministros ser, em regra, colegial, decorre de uma
longa tradição que as deliberações são, igualmente, tomadas
por consenso induzido pelo Primeiro-Ministro através dos
seus poderes de direção. Estando-lhe vedado, juridicamente,
dar injunções aos ministros, se um Ministro recusar acatar
uma determinação do Primeiro-Ministro relativamente a uma
matéria central de política geral do Executivo, este pode
acionar os mecanismos necessários para a sua substituição

○ Intervir na formação do Governo: Mediante a proposta de


nomeação e exoneração dos membros do Governo

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5. COMPETÊNCIAS DO GOVERNO
5.1 COMPETÊNCIAS POLÍTICAS EM SENTIDO ESTRITO
Políticas Stricto Sensu:

★ Direção Política: Fixação de objetivos primários de ação política estatal e


livre escolha das opções e dos meios estimados como adequados para
preencher os mesmos. Tem como instrumento base o Programa do
Governo (art. 197 CRP).

○ Programa do Governo: Recolhe e concretiza as linhas programáticas


apresentadas no último ato eleitoral pelo partido, ou partidos, que
exercem o poder mediante orientações políticas e medidas a adotar
nos diversos domínios da atividade governamental (art. 188 CRP).
Se for rejeitado, o Governo é demitido (art. 195/1d) CRP).

■ INCUMPRIMENTO DE PROPOSTAS: A menos que o desvio do


Programa seja justificado por razões de força maior, a
responsabilidade do Executivo será política, podendo o
Parlamento votar uma moção de censura, setores populares
ou sociais podem contestar o Executivo nas ruas e o
eleitorado pode penalizar o Governo em tempos de eleição.

○ No plano externo: Negociação e aprovação de convenções


internacionais

○ Aprovação de: Resoluções do Conselho de Ministros de conteúdo


político e programático

○ Apresentação de Propostas ao Presidente de: Referendo,


declarações de guerra ou paz, nomeação ou exoneração

★ Poderes de Controlo: Referenda dos atos do presidente e pronúncia


obrigatória sobre a declaração de estado de sítio ou emergência.

○ Referenda Ministerial: Controlo político atribuído ao Governo sobre


os atos do Presidente, tendo sido convertido pela prática numa
manifestação certificatória ou notarial. A falta de referenda a um
ato presidencial que isso exija resulta na inexistência do mesmo
(art. 140/2 CRP), ainda que não haja memória de tal ter
acontecido. Os atos mais relevantes do Presidente e incidentes
sobre o Governo e o Parlamento não estão sujeitos a referenda.

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RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
Luísa Braz Teixeira

★ Deveres: A par dos poderes descritos, emergem diversas obrigações,


como as que envolvem a prestação atempada de informações sobre a
construção europeia à Assembleia da República (art. 196/1i CRP) e o
dever de informar o Presidente relativamente à condução da política
interna e externa, realizada pelo Primeiro-Ministro

Competências Legislativas: Em termos de quantidade, é o Governo o principal


legislador, destacando-se do costume entre os congéneres na UE

★ Concorrenciais: O Governo legisla em todas as matérias não reservadas


ao Parlamento e vice-versa (art. 198/1a) e 161 CRP).

★ Delegadas: O Governo pode legislar sobre matérias de competência da


Assembleia da República, mediante autorização (art. 198/1b) CRP).

★ Complementares: O Governo desenvolve leis de bases ou leis de


princípios produzidas pela Assembleia da República, que vão estar
subordinadas às leis primeiro da Assembleia (art. 198/1c) CRP).

★ Exclusivas: Matéria da organização interna do Governo (art. 198/2 CRP).

Competências Administrativas: Dirigir, tutelar e superintender os serviços e a


atividade da Administração direta do Estado (art. 199/d) CRP)

5.4 GOVERNO EM GESTÃO


Governo restringido no exercício das suas competências constitucionais
ordinárias, limitando-se a atos estritamente necessários para assegurar a gestão
dos negócios públicos (art. 186 CRP). Só deve adotar atos legislativos, políticos
ou administrativos se estes forem inadiáveis e indispensáveis para assegurar a
gestão dos sobreditos negócios públicos, em termos tais que a sua omissão
possa causar prejuízo sério e objetivo aos interesses do Estado. Carece de um
critério de proporcionalidade.
O Presidente, como garante do regular funcionamento das instituições
democráticas, vê o seu poder de concertação acrescido, aumentando a sua
fiscalização.

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FATORES POLÍTICOS CONDICIONANTES NA DINÂMICA


DO SISTEMA DE GOVERNO PORTUGUÊS
1. COMPOSIÇÃO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA
Existência de uma Maioria: Vai influenciar a capacidade de formação de
Governos com maior ou menor capacidade de cumprir a legislatura e se
afirmarem como instituições liderantes.

★ Períodos com Maiorias Políticas Homogéneas: Reforço do papel do


Governo e apagamento do Parlamento, cuja maioria passa a ser orientada
a partir da chefia do Executivo, passando a Assembleia a exercer,
essencialmente, um papel de fiscalização e debate público.

★ Períodos com Governos Minoritários: Tornam o Parlamento o centro


de gravidade do sistema, passando muitas políticas públicas a ser
negociadas em sede de parlamentar e registando-se uma maior
autonomia da Assembleia da República em termos de impulsão legislativa,
no quadro da fiscalização e no escrutínio da atividade governativa.

Impacto da Composição da Assembleia no Protagonismo do Governo:

★ Governo Suportado numa Maioria Absoluta no Parlamento97: É


estabelecida uma relação fiduciária forte entre Governo e Assembleia da
República, da qual resulta o fortalecimento da liderança governamental
que passa a traçar a agenda política parlamentar.

★ Quadro Intermédio com Maioria Quase Absoluta de um Partido:


Acréscimo do peso do Parlamento, sem pôr em causa uma preponderância
mitigada do Governo, já que oposições politicamente heterogéneas
carecem de força e unidade para demitir o Executivo, limitando-se a
negociar e condicionar algumas das suas políticas públicas e leis
orçamentais.

★ Assembleia da República Dividida e Fragmentada em Partidos


Rígidos: Sem viabilidade da constituição de um Governo maioritário ou
quase maioritário, acentua a proeminência do Parlamento e a debilitação
do Executivo. Governos acentuadamente minoritários são constrangidos a
negociar, gerando cenários instáveis, compromissos incoerentes e
dispersivos, havendo grande dificuldade de cumprir a legislatura.

97
maioria monopartidária ou maioria integrada

100
RESUMOS DC I - REGÊNCIA PROFESSOR CARLOS BLANCO MORAIS - TB - 2020/2021
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2. CONFLUÊNCIA OU COABITAÇÃO ENTRE O PRESIDENTE DA REPÚBLICA


E A MAIORIA GOVERNAMENTAL
Tempos de Confluência98: Duraram cerca de 10 anos descontínuos,
excetuando alguns meses de final de mandato. Resultaram na redução do
protagonismo do Presidente da República, que assumiu um viés mais
parlamentarizante99, reforçando-se o papel do Governo em cenários maioritários
ou mesmo cenários quase maioritários. O Presidente nunca pôs em causa o
Governo ou a maioria da sua família política.

★ Dissolução do Parlamento: O Presidente nunca dissolveu sem o


consenso de todos os partidos.

★ Fiscalização da Constitucionalidade: Uso escasso sobre diplomas do


Governo ou da maioria parlamentar, sobretudo quando envolveu uma
maioria socialista, foi Cavaco Silva o Presidente que mais convocou esta
figura.

★ Uso do Veto: Muito reduzido. Foi Sampaio quem fez maior uso deste
poder.

★ Relação escrutínio - Família política do Presidente: A centro-direita


tende a ser mais escrutinadora da sua família política do que a esquerda

Coabitação em Portugal100: Tiveram momentos conflituais, com o choque


claro entre agendas presidenciais e governativas. Abrem espaço, em períodos
críticos, a dissoluções livremente decididas e a um maior uso do poder de veto e
do controlo de constitucionalidade.

★ Coabitações que envolvam governos suportados por maiorias


absolutas monopartidárias: O papel do Presidente oscila entre estatuto
de colaborador estratégico num primeiro mandato e o de contrapoder no
segundo. O Primeiro-Ministro destaca-se sempre como figura liderante do
sistema político.

★ Coabitações com Executivos minoritários: Têm reforçado a


preponderância parlamentar, colocando o Governo como o poder mais
débil, forçado a acorrer a duas “frentes” (a presidencial e a parlamentar)
para garantir a sua subsistência e a viabilização de algumas das suas
políticas. O Presidente oscila entre momentos de cooperação institucional

98
identidade política entre a maioria que elege o Presidente e a maioria parlamentar que sustenta o Governo
99
conduta menos ativa e mais próxima das faculdade cerimoniais, certificatórias e arbitrais dos sistemas
parlamentares
100
disjunção política entre a maioria que elege o Presidente e a maioria parlamentar que sustenta o Governo

101
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com escrutínio atento e tempos finais de distanciamento crítico ou atuação


como contrapoder.

★ Relação escrutínio - Família política do Presidente: A esquerda tende


a ser mais escrutinadora do Governo do que a centro-direita, na
esperança de uma oportunidade de mudança de ciclo político através de
dissolução parlamentar.

3. O IMPACTO VARIÁVEL DE PRÁTICAS CONSTITUCIONAIS NO USO DE


FREIOS E CONTRAPESOS
Costume: Prática geral, constante e uniforme que é efetuada com a convicção
da sua obrigatoriedade jurídica. Não apresenta qualquer disposição na
Constituição

★ Costume Interpretativo (Secundum Legem): Se uma disposição


normativa da Constituição escrita, com uma relação de sentido
biunívoca , vier a ser interpretada e aplicada no respeito de um dos dois
101

sentidos que dela podem defluir.

○ Tribunal Constitucional: Pode alterar fundamentalmente a


interpretação, optando pelo sentido alternativo àquele que foi
selado por via consuetudinária, causando dissenso.

★ Costume Contra Legem: Contraria o sentido objetivo da norma


constitucional e que, consolidando-se por longo tempo sem reação se
limitam a justificar a caducidade de determinadas normas escritas, como
o caso da eliminação dos latifúndios e da derrogação do nº3 do art. 168
da CRP.

Práticas Constitucionais em Sentido Lato: Normas constitucionais adjetivas,


não escritas, que relevam para a dinâmica e funcionamento do sistema político,
mas que não são providas de força jurídica cogente, não servindo, por
conseguinte, como parâmetros de constitucionalidade. Fontes subsidiárias de
Direito.

★ Usos: Elemento material do costume, sendo uma prática reiterada.


Também chamados de práticas constitucionais “strictu sensu”, definem-se
por comportamentos regulares adotados por instituições e cuja
consolidação contribui para a criação de uma normação não escrita,

101
preceito do qual pode ser retirado mais do que um significado

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ordenadora das instituições. Processa-se, fundamentalmente, no domínio


dos atos políticos, cuja inobservância é sempre desprovida de sanção
jurídica, sem prejuízo da rotura de certas práticas poder ter um
expressivo impacto político, gerando disfunções no sistema político.

★ Convenções Constitucionais: Pactos ou acordos expressos ou tácitos de


poder entre as instituições ou os agentes políticos e que se sedimentam
através de uma longa prática reiterada, análoga aos usos e com uma
convicção de conveniência para o bom funcionamento do sistema, mas
não de juridicidade. Assumem um peso significativo como normação
informal que articula o bom funcionamento do sistema político.

★ Praxes: Condutas e ritos habituais, geralmente não escritos, que se


repetem de forma incremental e que integram o funcionamento do
sistema, sem que revelem para a sua caracterização e alteração, operando
como mecanismos acessórios de funcionamento

Práticas com Maior Impacto no Funcionamento do Sistema Político:

★ Demissão do Governo pelo Presidente: O Chefe de Estado deve


interpretar muito restritivamente o pressuposto do “regular
funcionamento das instituições democráticas” (art. 195/2 CRP) - costume
secundum legem

★ Dissolução Parlamentar Antecipada pelo Presidente Condicionada


pela Emergência de Crises Políticas Relevantes: O poder presidencial
de dissolução parlamentar é um poder livre suscetível de alguns limites
estáticos já observados. Contudo, a prática política tem condicionado a
liberdade subjacente a esse poder presidencial, reconduzindo o seu objeto
a situações de crise, podendo o Presidente, de acordo com o contexto,
mover-se discricionariamente entre dissoluções unilaterais por ele
decididas sem acordo dos partidos representados no parlamento e
dissoluções feitas em consonância com a maioria desses partidos ou com
os dois maiores partidos - convenção de conjugação do art. 133/e) com o
art. 172 CRP

★ Indigitação como Primeiro-Ministro o Líder do Partido/Coligação


mais Votada: O Presidente convoca nos dias subsequentes à realização
do ato eleitoral o líder ou líderes do Partido ou da Coligação Eleitoral que
tenha elegido o maior número de mandatos, de acordo com os resultados
preliminares e convida essa formação a indicar um candidato a
Primeiro-Ministro, que será indigitado a desenvolver diligências para
formar um governo maioritário ou a dialogar com outros partidos, tendo

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em vista à formação de um governo de maioria ou com apoio parlamentar


maioritário.

★ Formação de Governo: Prática de apenas os partidos do arco


democrático (PSD, PS e CDS) formarem governo.

○ Rompimento da Prática: Decisão do PS, em 2015, formar Governo


com dois partidos marxistas. Acresceu ao sistema de partidos e de
governação novas opções ou variantes políticas

★ Escolha Pactuada dos Juízes Conselheiros do Tribunal


Constitucional:

○ Acordo Político Informal Convencional entre PS e PSD: Sobre a


escolha dos 10 juízes do órgão máximo de Justiça Constitucional.

○ Pacto Tácito sobre a Presidência do Tribunal Constitucional: Alterna


de 4 em 4 anos, entre juízes indicados por partidos do
centro-direita e de esquerda.

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