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Livro - Introdução A Ciência Política
Livro - Introdução A Ciência Política
INTRODUÇÃO
À CIÊNCIA
POLÍTICA
SUMÁRIO 1
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
LISTA DE FIGURAS
2 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SUMÁRIO
CONCLUSÃO 25
CONCLUSÃO 46
SUMÁRIO 3
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SUMÁRIO
CONCLUSÃO 61
CONCLUSÃO 82
4 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SUMÁRIO
CONCLUSÃO 95
CONCLUSÃO 117
SUMÁRIO 5
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SUMÁRIO
GLOSSÁRIO 118
REFERÊNCIAS 119
6 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
ICONOGRAFIA
ATENÇÃO ATIVIDADES DE
APRENDIZAGEM
PARA SABER
SAIBA MAIS
ONDE PESQUISAR CURIOSIDADES
LEITURA COMPLEMENTAR
DICAS
GLOSSÁRIO QUESTÕES
MÍDIAS
ÁUDIOS
INTEGRADAS
ANOTAÇÕES CITAÇÕES
EXEMPLOS DOWNLOADS
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
UNIDADE 1
OBJETIVO
Ao final desta unidade, esperamos
que possa:
8 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
1 O QUE É POLÍTICA?
A questão política tem se tornado um tema cada vez mais presente na vida dos brasi-
leiros. Contudo, muitas vezes, ainda é analisado sob uma ótica que não condiz com
a concepção acadêmica e filosófica em torno do tema. Esta unidade tem o objetivo
de apresentar uma breve contextualização histórica e subsidiar análises científicas
sobre o termo política, além de analisá-la sob uma ótica filosófica no passado e no
presente.
Em nossa sociedade, é muito comum que as pessoas associem política apenas aos
partidos políticos, mas essa compreensão reduz a grandiosidade desse campo do
saber. A política se relaciona não apenas aos partidos políticos, mas a todas as rela-
ções sociais. A política é um dos objetos de estudo das ciências sociais e a conceitua-
ção elucidada por Dias (2013) nos ajuda a compreender que:
SUMÁRIO 9
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Dizer especificamente onde surgiu a política não é uma tarefa fácil ou possível, pois
pode-se notar que as relações políticas se estabeleceram há muitos séculos, embo-
ra nem sempre cunhou-se esse termo para dizer sobre relações ou mesmo foram
propostas abordagens teóricas para explicar esse fenômeno.
Os estudiosos compreendem que, para existir relação política, é preciso que tenha-
mos, no mínimo, duas pessoas. Contudo, eles são divergentes ao apontar o que seria
essa política, pois, enquanto para alguns a relação entre duas ou mais pessoas já
pode ser considerada uma relação política, para outros, é preciso mais que isso.
Esse desacordo se dá pelo próprio conceito. Sendo a política uma das nossas diver-
sas atividades humanas, duas pessoas já seriam suficientes para exercê-la. Mas se
formos analisar a política a partir de um contexto histórico e científico, podemos
dizer que tal como a conhecemos na atualidade, ela teve suas origens na antiguida-
de, mais precisamente na Grécia Antiga.
FIGURA 1 - PARTHENON
10 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
O termo política está relacionado à palavra polis, que significa “cidade” na Grécia
antiga. Contudo, sua simbologia não se restringe à palavra cidade, também está
associada à coisa pública. Assim, podemos dizer que a política surge na Grécia, assim
como a filosofia e a ciência. Isso não significa, porém, que não houvesse ciência, filo-
sofia ou política antes dos gregos, significa que esses foram os primeiros povos a
conceituar essas terminologias.
FIGURA 2 - ACRÓPOLES
SUMÁRIO 11
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Aristóteles foi um filósofo grego de grande destaque. Ele viveu entre os anos
384 a.C. e 322 a.C. e formou-se na Academia de Platão, renomado filósofo.
Além da filosofia, Aristóteles também se dedicou ao estudo da física, meta-
fisica, da moral, da ética, entre outros. Seus estudos tornaram-se um marco
e influenciaram diferentes gerações de pensadores.
Aristóteles acreditava que o Estado deveria ser uma associação de homens iguais
visando ao bem-estar comum. Esse bem-estar comum seria tudo aquilo que
12 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
garantisse a sobrevivência na vida cotidiana dos cidadãos, desde que um não inter-
visse na sobrevivência do outro. A garantia dos direitos de cada cidadão seria prote-
gida na forma da lei. Assim, nenhum cidadão teria mais ou menos direito que o
outro, ou se beneficiaria de alguma forma em relação ao outro.
SUMÁRIO 13
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Nicolau Maquiavel nasceu e viveu na Itália entre 1469 e 1527. Foi filóso-
fo, poeta, historiador, diplomata e músico. No campo da ciência, dedicou-
-se à compreensão do que seria a política, o Estado e como os homens se
comportavam diante dessas instituições. Para compreender um pouco
sobre as formas de pensar desse estudioso, recomendamos a leitura da obra
O Príncipe, na qual ele expõe, de forma didática e ampla, sua compreensão
sobre o poder e como ele deve ser exercido nas sociedades.
14 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Marx tem muitos admiradores, mas também tem muitos críticos. No entanto, o que
ambos admitem é que suas reflexões foram complexas e grandiosas, permitindo
uma compreensão não apenas das relações sociais apresentadas no passado, mas
também daquelas que vivenciamos no presente. O que faz com que uns odeiem e
outros amem Marx não é sua teoria propriamente, mas os caminhos indicados por
ele para a construção de um novo modelo de sociedade.
A partir desse breve histórico sobre importantes teóricos que se dedicaram a estu-
dar e a refletir sobre a questão da política e do poder nas sociedades, temos a opor-
tunidade de perceber diferentes campos de investigação nessa área. Enquanto para
Maquiavel o governante deveria ser soberano e elaborar com astúcia estratégias
para estabelecer o seu poder, Marx compreende que a questão econômica é de
extrema importância e deve estar presente nessa análise em torno do campo polí-
tico, para que possamos compreender verdadeiramente as relações estabelecidas
nas sociedades.
SUMÁRIO 15
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
A Ciência Política surgiu somente no século XIX como campo de estudo e, a partir
desse período, cresceu consideravelmente e chegou ao século XXI como um impor-
tante campo de investigação científica. Com base nessa área do conhecimento,
temos a oportunidade de explorar um pouco mais sobre a sociedade em que vive-
mos e as relações sociais.
Essa área pode ser vista como uma disciplina que busca compreender os diferentes
fenômenos ligados aos sistemas políticos, investigando suas estruturas e construin-
do reflexões sobre a sociedade em que vivemos. Para isso, estuda os sistemas de
governo, os comportamentos que as pessoas têm diante das estruturas de poder e
todas as formas de relação social.
Contudo, definir o que é Ciência Política não é uma tarefa tão simples. Nem
mesmo os estudiosos têm uma única definição para esse campo do saber. Dias
(2013) revela que:
16 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
É interessante destacar que a questão do poder não deve ser associada apenas aos
estudos, pois o poder está em diferentes estruturas da sociedade. É preciso olhar
para a Ciência Política como um campo que investiga a manifestação do poder nas
diferentes relações sociais, e não apenas nas relações estabelecidas entre cidadãos e
Estado, conforme destaca Dias (2013):
Assim, a partir dessa breve análise, podemos concluir que existem muitas divergên-
cias no que tange à definição do que seriam os objetos de estudo da Ciência Políti-
ca. Contudo, mesmo em meio a essas divergências, podemos afirmar que o poder
aparece sempre presente nessas análises.
Por meio da viagem que fizemos à Antiguidade, agora poderemos fazer uma análi-
se sobre como a política dos dias atuais se aplica em nossa sociedade moderna.
Existem diversos pensadores que buscam explicar isso, entre eles, podemos citar:
Augusto Comte, Thomas Hobbes, John Locke, Maquiavel, Karl Marx, Emanuel Kant,
Max Weber e muitos outros. O fato é que são muitas as maneiras de se pensar a polí-
tica e várias formas de aplicá-las, tudo vai depender da sociedade que a engloba.
SUMÁRIO 17
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Essa discussão e essa busca constante por uma política que atenda aos interesses
de determinada sociedade já duram mais de dois mil anos e isso só nos mostra que
vamos continuar a ter mais discussões acerca do tema, pois a política é o reflexo da
sociedade: inquieta e mutável.
A filosofia política moderna é uma reunião de diversos teóricos que, ao longo desses
mais de dois mil anos, estudaram e tentaram compreender quais as formas de apli-
cá-la na sociedade. Assim, a maneira de governar está em constante reorganização,
pois, assim como a sociedade, está sempre em busca de novos interesses. É impor-
tante levarmos em conta que o objetivo dessas incessantes ponderações referentes
à efetividade da política tenta estabelecer um vínculo entre os interesses dos gover-
nantes e os anseios do povo.
18 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
O Estado necessita de meios para exercer o poder. Para tanto, ele dispõe de siste-
mas políticos, que são as formas de se governar, nas quais estão inseridas as regras
de cada sistema de governo. Assim, o Estado busca uma organização e legitimidade
diante da sociedade e, se existe uma determinada diretriz de organização estatal,
as autoridades políticas podem exercer a força física e exigir obediência com base
nessas diretrizes. Com isso, o sistema político dita suas regras e tem o sistema econô-
mico a seu favor, por exemplo, as organizações legislativas e as judiciárias. Assim,
vamos discorrer sobre as diferentes especificações de como funciona cada forma de
governo, para melhor entendimento da temática.
SUMÁRIO 19
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
20 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
1.5 DEMOCRACIA
A palavra democracia é de origem grega, e tem como significado “poder que vem
do povo”. Um lugar democrático é aquele que escuta e dá autonomia para que
as pessoas decidam as ações dos governantes e seu futuro político. Existem duas
maneiras de operação desse regime político: democracia direta ou representativa.
[...] por democracia entende-se uma das várias formas de governo, em par-
ticular aquelas em que o poder não está nas mãos de um só ou de poucos,
mais de todos, ou melhor, da maior parte, como tal se contrapondo às formas
autocráticas, como a monarquia e oligarquia. (BOBBIO, 2000, p. 7).
Na Democracia Direta, cada cidadão tem voz ativa na participação da vida pública,
sem a necessidade de quem os represente. Com o passar do tempo, foi aumen-
tando o crescimento populacional e foi ficando cada vez mais inviável praticar esse
tipo de democracia, que foi dar lugar para a Democracia Representativa, na qual,
como o próprio nome já sugere, o cidadão elege mediante o voto, uma voz para
representá-lo.
SUMÁRIO 21
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
1.6 A AUTOCRACIA
Esse sistema de governo é parecido com o totalitarismo, pois o poder é exercido por
um único governante, um único detentor do poder, porém não há uma ideologia
específica. Autocracia possui origem grega e tem como significado “governar por
si próprio”, ou seja, os anseios da sociedade não dizem nada para seu líder, que está
preocupado somente com as suas convicções.
Nessa figura do líder, está concentrada toda a administração estatal, e ele detém
todo o controle das estruturas governamentais; sua jurisdição é livre para tomar
todas as medidas.
22 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Nossa atualidade está cada vez mais marcada pelo descaso ou pela polarização
política por grande parte da nossa sociedade, como também por uma parcela dos
próprios políticos. Existe um grande descontentamento em relação à política no
nosso país, pois ela é meticulosamente assombrada com as atitudes dos políticos,
especialmente dos ruins.
SUMÁRIO 23
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Dessa forma, não podemos relegar a política simplesmente como ato de ir às urnas,
pois ela é exercida no nosso dia a dia. Fazemos política quando escolhemos deter-
minado produto no supermercado, devido ao preço ou à qualidade; quando saímos
com os amigos e damos nossa opinião sobre um assunto; ou mesmo quando esta-
mos discutindo sobre futebol. A política está presente em todos os aspectos do nosso
cotidiano.
Na atualidade, temos visto cada vez mais grupos tentando se apropriar daquilo que
lhes faz falta em relação à omissão do Estado. Para exemplificar, podemos apontar
o movimento negro, que ficou relegado pelo poder público em distinção de outro
grupo étnico, europeu e elitizado. Temos também o movimento feminista, que luta
contra o machismo arraigado em nossa sociedade, que trata a mulher com discrimi-
nação e violência. E, ainda, a luta do movimento LGBT por dignidade, respeito e direi-
tos. Para finalizar, podemos citar a luta de milhões de trabalhadores rurais sem-terra
em um país em que o agronegócio mata, explora e desmata.
24 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
CONCLUSÃO
Nesta unidade, tivemos a oportunidade de visitar o passado e perceber como a polí-
tica se faz presente em nossa história e em nosso cotidiano. Vimos que, desde a
Grécia Antiga, já tentávamos ajustar um modelo político para as nossas necessida-
des, mas percebemos também que não é tão fácil assim, pois cada sociedade tem
suas peculiaridades e é difícil um sistema que agrade a toda uma sociedade. Percor-
remos por teóricos da Teoria Política, como Aristóteles, Maquiavel, Karl Marx, e anali-
samos a maneira de se pensar a política por eles. Estudamos, ainda, os diferentes
modelos políticos experimentados por nossa sociedade ao longo da nossa História.
SUMÁRIO 25
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
UNIDADE 2
OBJETIVO
Ao final desta unidade, esperamos
que possa:
26 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
2 POLÍTICA E TEORIA
POLÍTICA: DO PASSADO AO
PRESENTE
No Brasil, o termo política sempre aparece associado a governo ou a partidos políti-
cos; no entanto, esse termo é muito mais amplo. Nesta unidade, será proposto um
breve passeio pela história da humanidade, investigando o conceito de política ao
longo dos tempos com o intuito de apresentar como cada sociedade, em seu tempo,
tratou dessa questão e construiu sua história de poder e as relações entre as pessoas
em sociedade.
O conceito de política é muito extenso. Pode-se dizer que a política, como conhece-
mos na atualidade, teve suas origens na Antiguidade, mais precisamente na Grécia
Antiga.
Para compreender melhor esse cenário, serão abordados a seguir importantes movi-
mentos e filósofos que contribuíram para a conceituação do termo política como
conhecemos na atualidade.
SUMÁRIO 27
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
2.1.1 SOFISTAS
FIGURA 5 - FILÓSOFOS
Na Grécia Antiga, havia uma liberdade que permitia que intelectuais pudessem
se organizar e promover reflexões. Tais reflexões, por sinal, deram origem à filoso-
fia. Contudo, é interessante destacar que não existiu um único movimento filosó-
fico, mas, sim, várias correntes de pensamento apresentando ideias e teorias diver-
sas para explicar o mundo, a sociedade, os fenômenos da natureza, enfim, todos os
aspectos da vida social.
É certo que algumas ideias filosóficas tinham mais abrangência que outras. Também
podemos dizer que algumas nem ao menos chegaram a ser divulgadas e que havia
uma disputa entre as correntes de pensamento. É necessário que todo esse emara-
nhado de relações seja observado para ser possível compreender a grandiosidade
do pensamento grego.
28 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Na Grécia Antiga, havia uma diversidade de pensamentos que deu origem a diferen-
tes linhas de reflexão filosófica. Dentre elas, vamos destacar os sofistas, que, segun-
do Dias (2013):
(...) caracterizavam, mais do que por terem ideias comuns, por uma identida-
de de pontos de vista e pelo emprego do mesmo método. Os mais notáveis
dentre eles foram Protágoras, Górgias e Prodico. Eles rechaçavam a ideia de
uma verdade universal e os princípios abstratos da justiça. Acreditavam que
“o homem é a medida de todas as coisas”, e que cada indivíduo pode definir
e estabelecer, de acordo com as suas crenças e desejos, o que é direito. Ao
negar a existência de normas fixas, que regem a conduta humana, atacavam,
por sua vez, os princípios racionais da natureza, que constituíam a base da
moral e da filosofia gregas (DIAS, 2013, p. 20).
O termo sofista faz referência à palavra sabedoria. Percebe-se, nesse período, que
os sofistas gregos começaram a se organizar em posições políticas predefinidas e
passaram a tratar a temática da política como uma arte, uma especialização para
os cidadãos que quisessem se destacar no mundo político e alcançar o poder. Era
como uma escola, na qual os estudantes, vindos de famílias abastadas de toda a
Grécia, pagavam para serem introduzidos no mundo político e aprendiam com seus
tutores a arte da oratória, da filosofia, da retórica, bem como ciências e uma série de
áreas de estudo para que ampliassem seus conhecimentos acerca do Universo.
Para eles, o homem precisava da intervenção do Estado por meio de sua força, para
controlar os cidadãos, pois acreditavam que o homem era naturalmente mal e que
as desigualdades sociais o levavam para a desobediência civil. Defendiam ainda que
um governo era constituído da união dos fracos para defenderem-se dos mais pode-
rosos ou, então a união, dos fortes para dominar os cidadãos mais fracos.
SUMÁRIO 29
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
2.1.2 PLATÃO
FIGURA 6 - PLATÃO
Esse grande filósofo grego foi um dos pioneiros a dar corpo e forma para a concep-
ção de política. Discípulo de Sócrates, Platão tinha uma visão de que o Estado deve-
ria ser justo e agir de forma abstrata na vida de seus cidadãos, tornando a individua-
lidade harmoniosa para todos, diferentemente dos sofistas, que acreditavam que o
Estado deveria interferir na vida dos cidadãos, nem que para isso fosse preciso o uso
da força.
30 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
O principal objeto de estudo de Platão eram os governantes; por isso, ele não dava
muito destaque aos cidadãos comuns e seus ofícios, preocupando-se em explorar o
perfil dos aristocráticos, considerados o governo dos sábios, o modelo ideal de Estado.
Ele defende que os governantes possuam virtudes, tais como sabedoria, coragem,
temperança e justiça, e que a educação tenha papel fundamental para que se
tornem guardiões e filósofos para que executem bem a sua função.
Como tema central de sua obra, propunha a discussão em torno do conceito de justi-
ça e de sociedade ideal e explorava as diferentes formas de governo. Platão também
discutia os tipos de governo e seus modelos – monárquico, democrático, aristocrá-
tico, tirânico, timocracia (que é uma espécie de falsa aristocracia, que pode incluir
outros setores da sociedade, como o militar, por exemplo) e oligarquia (o governo
dos ricos). Platão defendia ainda que a tirania era a pior forma de governo.
Por fim, notamos que o objeto de estudo de Platão não era só a política e seus
formatos, mas também a ética, a cidadania e a educação principalmente, pois
somente por meio de orientação e conhecimento é possível a construção de uma
sociedade com homens de bem, capazes de zelar uns pelos outros e com grande
senso de justiça.
2.1.3 ARISTÓTELES
FIGURA 7 - ARISTÓTELES
SUMÁRIO 31
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Discípulo de Platão, Aristóteles tem uma visão bem diferente de seu mestre em
alguns pontos. Para ele, adepto da prática e da lógica, o sistema político deve ser
independente das outras disciplinas, inclusive da ética.
Ele defende a ideia de que cada governo se adapte ao seu povo, que não existe um
modelo único de governo que se adéque a todos e que cada sociedade, alimentada
por seus anseios, deve se basear em um sistema político que busque o bem-estar
social para seus cidadãos. Para ele, essa é a tarefa máxima da política.
Aristóteles parte do princípio de que todo homem é um ser político e que existe
naturalmente para a vida em comunidade. A consequência disso é que também
somos criados para atuar politicamente, ou seja, para participar sempre da vida uns
dos outros, seja na família, na escola, em nossa comunidade, em nossa cidade ou no
nosso país; em suma, em qualquer lugar ao qual pertencemos e/ou atuamos como
sujeitos políticos. Segundo Dias (2013):
Em sua obra, ele distanciará o Estado do governo. Para ele, o Estado é o corpo da
sociedade; nele, reúnem-se as leis e as questões ligadas ao convívio comum de todas
as pessoas. Já o governo está relacionado aos governantes, aos que exercem o poder
perante os cidadãos.
32 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
FIGURA 8 - CÍCERO
Mais conhecido como Cícero, foi um filósofo e estudioso dos pensadores gregos.
Viveu na Grécia por um período, no qual ficou fluente na língua, o que possibilitou o
estudo das obras dos grandes pensadores gregos. Quando Cícero retornou a Roma,
ingressou na vida pública.
Até então, Cícero era conhecido como grande linguista, tradutor e filósofo, e tinha
algum prestígio e respeito por ser um bem-sucedido advogado. Porém, queria
ingressar na política e, assim, participou de grandes eventos da história política de
Roma, como as guerras civis, que abriram caminho para o Império. Foi um grande
defensor da República e escreveu duas obras principais no campo político: Das Leis
e Da República. Nessas obras, Cícero classifica sistema político assim como Aristó-
teles, que o divide em aristocracia, monarquia e democracia. Segundo Dias (2013):
SUMÁRIO 33
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Cícero defende que a sociedade deve se manter fiel à lei natural, ou seja, não se deve
tomar nenhuma ação contra as leis da natureza. Sua filosofia política vai de encon-
tro com as ideias de Platão, que se utiliza da justiça para dar legitimidade ao Estado.
Dessa maneira, ele define as ideias para encontrar uma base de apoio à fundação do
Império, compreendendo a existência do poder que Roma possui. Sua obra, em um
primeiro momento, não causa muito impacto nas estruturas políticas de Roma, pois
esta cidade passava por uma turbulenta transição política.
Sua obra e seu pensamento ficaram enraizados nos juristas posteriores a ele e nos
primeiros escritores cristãos, pois ele deixou como legado a importância da socieda-
de em se apoiar com confiança em um Estado de Direito baseado em uma lei geral
que seja comum a todos os cidadãos e que sejam respeitadas as liberdades indivi-
duais de cada um.
34 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Veremos a seguir como essas localidades concebiam a ideia de política e como seus
sistemas políticos foram se modificando ao longo de suas histórias.
2.2.1 EGITO
Nessas terras, localizadas no continente africano e banhadas pelo rio Nilo, desenvol-
veu-se uma grande civilização: a egípcia. Essa ocupação iniciou-se ao final do Neolí-
tico, quando indivíduos (hamíticos, semitas e núbios), procurando se estabelecer
num lugar para agricultura e caça, se organizaram no entorno do rio Nilo procuran-
do por um terreno fértil que os mantivesse alimentados. Logo se deu um grande
crescimento populacional devido à abundância do rio, que, graças à grande quan-
tidade de água que disponibilizava à população, deixava as terras férteis e produti-
vas. Dessa maneira, logo se formaram pequenas comunidades no entorno do Nilo.
Essas sociedades, em um primeiro momento, eram descentralizadas e viviam como
pequenos agrupamentos.
Assim, das aldeias – que antes eram simples – começaram a aparecer as primei-
ras cidades do Vale do Rio Nilo. Ao mesmo tempo, era fundamental uma organiza-
ção política mais complexa e atrelada às necessidades de seus cidadãos. Surgiram,
então, dois Estados distintos: o Alto Egito, localizado na região sul, e o Baixo Egito, na
região norte, que abrangia o todo o Vale do Rio Nilo.
No Alto Egito, quem governava era o faraó Menés, que unificou os dois Estados e
colocou os nomarcas sob seu controle. Sob o comando do faraó Menés, o Antigo
Egito tornou-se uma monarquia centralizada formada por súditos subordinados ao
poder do faraó. Com isso, todas as atividades eram controladas por ele, que obrigava
seus súditos a trabalharem em prol dos interesses da monarquia. Os súditos, nada
satisfeitos com a situação, questionavam com frequência o poder dos faraós. Após
um período de estabilidade, devido à grande pressão sob o faraó, o poder foi descen-
tralizado novamente.
SUMÁRIO 35
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
A história política do Antigo Egito foi marcada pela instabilidade e pela centraliza-
ção do poder nas mãos de um único governante. Por terem sofrido com invasões de
diversos povos, as influências culturais dos egípcios são únicas e fascinantes.
2.2.2 GRÉCIA
A Grécia Antiga, palco de grandes filósofos e estudiosos da política, não era um país
unificado. Muito pelo contrário, Esparta e Atenas, por exemplo, apesar de terem em
comum a língua, algumas leis e costumes, eram inimigas mortais.
Nas duas cidades-estados, aqueles que eram considerados cidadãos, com exceção
das mulheres, dos escravos e dos estrangeiros, tinham participação ativa na política
e nas decisões da sociedade. Apesar de serem governados de fato pelos aristocratas
(nobreza), todos os cidadãos podiam participar da vida política emitindo opiniões,
e aqueles que se recusavam em participar da vida política eram vistos como seres
inúteis, incapazes de oferecer algo de bom para o bem comum.
36 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Enfim, os espartanos aumentaram sua ofensiva sob os atenienses, que viram sua
soberania sucumbir. Esparta inicia, então, o domínio de toda a Grécia.
2.2.3 ROMA
SUMÁRIO 37
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Roma foi, sem dúvida, uma das civilizações que mais impactou o mundo ociden-
tal. Teve sua história política demarcada por três períodos: Monarquia (753-509 a.C.),
República (509-27 a.C.) e Império (27 a.C. - 476 d.C.). Esses ciclos da história romana
possuem características próprias, que certificam a evolução socioeconômica e polí-
tica dessa sociedade.
Na Monarquia, um rei era visto como uma criatura divina, enviada pelos céus, que
governa de forma a centralizar todo o poder em suas mãos. As outras camadas da
sociedade eram compostas por plebeus e patrícios. Nesse período, existiram sete
monarcas, que acumulavam os poderes executivo, judicial e religioso. O único poder
que fugia das mãos do rei era o legislativo, que estava concentrado nas mãos do sena-
do, composto por anciãos que podiam ou não vetar as leis impostas pelo monarca.
Já na República, no lugar do rei havia a figura dos cônsules, que eram eleitos pelos
patrícios. Os patrícios eram a minoria da população, mas tinham muita influência na
política, visto que vinham de famílias abastadas de toda a Roma. Nesse período, o
senado ganhou mais soberania e era responsável pelas finanças públicas, pela admi-
nistração e pela política externa. O poder executivo, que antes era exercido pelos
monarcas, na República era exercido pelos cônsules e por representantes da plebe,
que era a maioria da população. Esse período ficou marcado pela luta dos plebeus
por maior participação na política e melhores condições de vida.
Por fim, no Império iniciou-se um período de certa calmaria em Roma, que estava
preocupada com a expansão de seu Império e teve como principal líder Júlio César
e, depois, Augusto. Júlio César foi um ditador adorado pelo povo e tomou medidas
para reorganizar a política em Roma. Ele nomeava e vigiava os governantes para que
esses não prejudicassem os cidadãos.
38 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Outra característica importante do período foi o papel exercido pela Igreja Cató-
lica, que dominava a esfera religiosa. Como única detentora do poder espiritual
das pessoas, a Igreja interferia diretamente no modo de pensar, de governar e no
comportamento social na Idade Média. Grande possuidora de terras e de pessoas de
boa vontade trabalhando para ela, a Igreja era uma instituição muito rica e poderosa.
No período compreendido como Baixa Idade Média, o poder dos reis era fragmen-
tado, pois existiam muitos reinos, e os países como conhecemos hoje ainda não exis-
tiam. A organização social baseava-se em uma comunidade que vivia no campo e
que tinha na agricultura seu meio de subsistência. Predominava o Feudalismo, e a
sociedade sentia-se ligada apenas a uma cidade, a um feudo ou a um reino, e não a
um país, como nos dias atuais.
A estrutura social nesse período era condicionada à suserania, ou seja, o suserano era
o dono das terras e “dava” um lote de terra ao vassalo, que era um camponês pobre
que dependia da terra para sobreviver. O vassalo, mediante juramento, oferecia sua
mão de obra e fidelidade ao suserano. Existiam vários suseranos, e o mais poderoso
deles se tornava rei.
Existiam, então, quatro grupos sociais: reis, burguesia, nobres e vassalos. Todos os
poderes jurídico, econômico e político estavam concentrados nas mãos dos susera-
nos, também chamados de senhores feudais.
SUMÁRIO 39
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Por meio dos pensamentos de Aristóteles e Platão, essas novas monarquias busca-
vam legitimar sua autoridade suprema com a criação de estados organizados poli-
ticamente e com forte aparato militar. Um teórico que se destacou nesse período,
principalmente por seu pensamento político, foi Nicolau Maquiavel, autor de O prín-
cipe (1513). Em sua obra, dividiu os capítulos e elaborou uma teoria de como deve
proceder o rei com seus súditos, seus aliados, seus inimigos e com as finanças de
seu reino. Tal teoria serviu como base para modelar a estrutura governamental dos
tempos modernos.
Nicolau Maquiavel
A Monarquia Absolutista, como o próprio nome diz, é um sistema que tem como
marca o poder absoluto do rei, ou seja, todo o poder se concentra nas mãos de uma
única pessoa, de maneira absoluta; não há outras pessoas ou instituições (exceto a
Igreja Católica) que participem das decisões do reino. Assim, nesse contexto, não há
uma divisão de poderes como em uma democracia; o rei é o único responsável pelas
decisões jurídicas, sociais e econômicas.
40 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Nesse modelo de governo, apenas um rei governa por vez, por meio da hereditarie-
dade e do direito divino. O direito divino, assegurado pela Igreja Católica, consistia em
fazer com que os súditos acreditassem que o rei e seus descendentes eram enviados
por Deus, que estavam ali para fazer valer a vontade divina, e que não poderia haver
questionamento das decisões do monarca, pois o divino o iluminaria para tomar as
devidas decisões para o reino. Assim, todos os súditos deviam fidelidade absoluta ao
rei, que, por sua vez,, em contrapartida, detinha a prerrogativa de julgar e legislar a
seu bel-prazer. Nesse cenário, ir contra o desejo do rei ou questioná-lo era uma atitu-
de passível de punição severa.
O poder do rei era tão imensurável que os súditos, em algumas localidades, chega-
vam a suplicar que ele beijasse um doente para que fosse curado.
Todas as decisões são tomadas pelo Parlamento, que é responsável pelo funciona-
mento do Estado e regula não só a vida da sociedade, como também a do rei e de
sua família. Nesse contexto, a família real tem um papel mais ligado à representa-
tividade do que ao poder. Claro que são munidos de prestígio e poder, porém, não
podem ditar como será a sociedade, pois, para isso, existem o Parlamento e o primei-
ro ministro, que são quem governam de fato por meio de legislação específica de
cada país. Dessa forma, o poder é distribuído, e cada um tem um papel definido na
sociedade, não sendo possível que uma só pessoa dite como serão as regras do jogo.
SUMÁRIO 41
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Como vimos até aqui, existem várias formas de governo, assim como diversas formas
econômicas de gerir o Estado.
Nesse contexto, um sistema econômico pode ser definido como a forma econômica,
política e social pela qual está organizada uma sociedade. As relações entre os bens
de consumo, o direito à propriedade, a gestão da economia, os processos de circu-
lação das mercadorias, o desenvolvimento tecnológico e a divisão do trabalho serão
determinantes para a adoção de um sistema político-econômico específico.
42 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
2.4.1 CAPITALISMO
2.4.2 SOCIALISMO/COMUNISMO
SUMÁRIO 43
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Os ideais defendidos no comunismo, que tem como principais teóricos Karl Marx e
Friedrich Engels, já eram encontrados em obras da Antiguidade Clássica. Platão, em
A República, já havia proposto uma sociedade que abolia a propriedade privada.
Com a Revolução Industrial, a partir do século XIX, o contexto econômico e social dos
países europeus foi alterado. A população começou a migrar do campo para a cida-
de em busca de emprego, mas encontrou apenas exploração e miséria, pois o siste-
ma capitalista estava em pleno desenvolvimento. Os patrões exploravam a mão de
obra dos trabalhadores e não os remuneravam de forma justa. Era comum encontrar
crianças trabalhando nas fábricas, que eram lugares insalubres. Para contrapor esse
sistema de exploração, surgiram, então, algumas correntes ideológicas para tentar
pensar uma sociedade sem o sistema capitalista. Uma dessas alternativas seria o
comunismo, que é a base da teoria marxista.
44 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Para os idealizadores dessa teoria, que assistiam às injustiças sociais contra o proleta-
riado, a história sempre fora marcada por uma luta de classes, na qual os mais ricos,
em todas as épocas da história, lucravam com a miséria das classes mais pobres.
Para eles, os capitalistas eram a classe opressora que dominava e escravizava a classe
oprimida, da qual faziam parte os trabalhadores. Em uma sociedade que tem como
modelo socioeconômico o capitalismo, as classes são representadas pela burgue-
sia, que se refere àqueles que detêm os meios de produção e, por consequência,
boa parte da riqueza gerada. O proletariado, que são os trabalhadores, nada possui
de riqueza material e tem sua própria mão de obra vendida como mercadoria ao
proprietário do capital, os burgueses. No capitalismo, portanto, o proletariado é a
mercadoria dos burgueses, ou seja, os trabalhadores são submetidos à balança do
mercado e às oscilações de preço como qualquer mercadoria.
SUMÁRIO 45
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
CONCLUSÃO
Nesta unidade foram apresentados os processos históricos em torno da concepção
de política, assim como formulações sobre teoria política.
46 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
UNIDADE 3
OBJETIVO
Ao final desta unidade, esperamos
que possa:
SUMÁRIO 47
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
3 OS OBJETOS DA CIÊNCIA
POLÍTICA
O pensamento político se desenvolveu de forma gradual. As mudanças espaciais
e temporais trouxeram consigo mudanças epistemológicas, que são fundamentais
para uma compreensão adequada dos processos políticos e de sua intelectualiza-
ção. Essas questões serão abordadas de forma sintética durante toda a unidade.
Nem toda forma de pensamento político pode ser considerada como uma expres-
são da ciência política. No geral, os pensadores que debatem os temas concernentes
à política ou são filósofos ou cientistas. A linha que separa essas duas formas é um
tanto quanto tênue, contudo há formas simples de fazer essa diferenciação. Uma
linha do tempo faz-se relevante para explicitar a questão.
48 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
homem nasce com o direito natural à sua propriedade (o próprio corpo e o produto
do próprio trabalho). Nesse caso, a emergência do Estado (a partir do contrato social)
teria a função de garantir que cada um pode manter sua propriedade.
Já para Rousseau, o homem nasce livre e dotado de piedade, ao passo que o conví-
vio social o corrompe. O contrato social, nesse caso, deveria garantir que nenhum
homem se sobreponha a ponto de escravizar o próximo. Esses três filósofos foram
de grande importância para o desenvolvimento do pensamento político, pois foram
os primeiros a tocar em temas fundamentais, como a propriedade privada e a igual-
dade entre os homens, temas que serão de importância central na discussão sobre
as abordagens predominantes na ciência política.
Não há dúvidas de que os pensadores discutidos até aqui são filósofos políticos, e
não cientistas políticos, afinal as discussões sobre a natureza humana dos contra-
tualistas não são passíveis de falseabilidade. Além do fato de que a ciência, da forma
como é conhecida hoje, ainda não existia. Todavia, entraremos em um pensamento
limiar entre a filosofia e a ciência política.
Karl Marx (1818-1883) foi um dos criadores do socialismo científico. Sua obra é grande
e diversa, conquanto, em meio a seus escritos, encontramos teorias que são de gran-
de importância para o pensamento político no geral. Marx não chegou a desenvolver
SUMÁRIO 49
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
uma teoria geral do Estado de forma coesa, mas, segundo Carnoy (1988), podemos
extrair três pontos de sua obra que cumprem a função dessa teoria. O primeiro
ponto relevante é a ideia de que o Estado emerge das relações materiais de produ-
ção; em outras palavras, o Estado não tem existência per se, “ele não paira no ar”.
Nesse sentido, as relações materiais de produção formam a base da sociedade e, em
última instância, determina a forma da política. Em decorrência disso, chegamos ao
segundo ponto: as relações sociais de produção de nossa sociedade são cindidas em
classes (dominantes e dominadas). Essa divisão também afeta o âmbito político. O
Estado é visto como um instrumento de dominação da burguesia (nome genérico
das classes dominantes) sobre o proletariado (nome genérico das classes trabalha-
doras). O último ponto é referente à violência física. Na obra de Marx, já podemos
encontrar a ideia de que uma das funções básicas do Estado é exercer repressão físi-
ca sobre camadas dominadas da sociedade.
A pluralidade de assuntos discutidos pela ciência política é limitada, por este motivo
podemos identificá-los de forma a categorizá-los. Basicamente, podemos dizer que
a ciência política se aplica sobre três objetos principais, que são: o Estado, o poder e
os sistemas políticos.
3.2.1 O ESTADO
50 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
3.2.2 O PODER
Deve-se entender que o poder pode ou não ser aceito por aqueles que estão subme-
tidos à sua influência. Caso o poder seja aceito por parte dos dominados, diz-se que
há legitimidade. Caso o poder não seja aceito, não pode haver legitimidade. O poder,
quando exercido de forma legítima, também pode ser chamado de dominação.
SUMÁRIO 51
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
O termo foi adotado dentro da ciência política principalmente por aqueles que
consideraram que o Estado não era mais suficiente para explicar a diversidade de
fenômenos que norteiam a política, ao passo que o poder inclui uma gama de rela-
ções que extrapolam os alcances da política.
Há também alguns autores que vão criticar a noção de sistema político, pois, assim
como a noção geral de sistemas, ela tende a desistoricizar os processos que configu-
ram as relações apresentadas.
Dentro da ciência política não é muito diferente. Apesar de muitas vezes os nomes
das correntes não traduzirem diretamente suas ideologias, podemos encontrar seus
pressupostos claramente em seu interior. Como dito anteriormente, o positivismo
está diretamente associado ao conservadorismo; o marxismo está diretamente rela-
cionado ao socialismo; e o pluralismo está diretamente relacionado ao liberalismo.
52 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SUMÁRIO 53
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
racionalidade (essa ideia vai totalmente contra a premissa liberal de que a raciona-
lidade econômica é característica inerente ao indivíduo). Então, deveria se erguer
uma elite capaz de reger o governo de forma a realizar a função do Estado.
A participação dos cidadãos, nessa perspectiva, é vista de uma forma mais pessimis-
ta. Segundo Carnoy (apud Schumpeter):
54 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Chama-se de marxismo russo as ideias dos líderes da Revolução Russa de 1917, dos
quais se destacam Vladimir Lênin, Leon Trotsky (1879-1940) e Rosa Luxemburgo (1871-
1919). A revolução de 1917 é um marco na história política mundial, sendo o primeiro
país a se declarar socialista. Graças a isso, o pensamento de Lênin sobre o Estado foi
dominante dentro do marxismo até a década de 1960. O Estado, nesse contexto, era
tido como peça fundamental no processo de transição do capitalismo ao socialismo.
Partindo da visão de que o Estado representa a fração armada da burguesia, que
torna física sua dominação, Lênin aponta que para alcançar o socialismo é preciso
tomar o Estado por meio de uma revolta armada. Segundo Carnoy:
Assim, pode-se concluir que a visão russa acerca do Estado se consolidou devido à
revolução de 1917 e serviu ao propósito de guiar as ações dos dirigentes soviéticos
mediante a conformação social que se configurava naquele momento.
SUMÁRIO 55
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Para melhor compreensão do que é a sociedade civil para Gramsci, é preciso analisar
a metáfora predial. A ideia de que a sociedade é dotada de uma estrutura (formada
pelas relações materiais de existência) e uma superestrutura (formada pelas rela-
ções políticas, jurídicas e ideológicas) está presente nas obras de Marx e Gramsci.
Contudo, há uma diferença básica que deve ser observada. Para Marx, a sociedade
civil se encontra localizada na estrutura, enquanto para Gramsci ela está localizada
nas superestruturas.
A última corrente marxista que será tratada é conhecida como estruturalismo. Essa
corrente, que foi dominante nos círculos intelectuais franceses da década de1960,
entrou no campo do marxismo pelas mãos de Louis Athusser (1918-1990), mas foi
Poulantzas (um de seus seguidores) que aplicou a junção das ideias marxistas com
56 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
O Estado, para Poulantzas, tem um papel ativo na luta de classes, que é exercida
de formas diferentes entre classes dominantes e dominadas. É creditada ao Estado
a função de criar os sujeitos/indivíduos que não se veem nem no produto de seu
trabalho, nem em sua posição de classe. Esses indivíduos atomizados são reagrupa-
dos pelo sentimento de pertencimento da nação. Esse processo tem consequências
diferentes entre as diferentes classes; enquanto a classe trabalhadora é minada e
fragmentada, a classe capitalista se consolida como modelo social e toma para si o
controle do Estado.
É possível dizer que existe uma abordagem marxista coerente (enquanto corrente
de pensamento), pois os autores que se apropriam dos conceitos de Marx, em geral,
mantêm o cerne de suas obras nas questões levantadas por Marx. O que não é possí-
vel é considerar todas as versões do marxismo como uma unidade homogênea, como
foi visto nas breves apresentações deste tópico; existe grande variedade de posiciona-
mentos teóricos dentro do marxismo, em especial na sua aplicação à ciência política.
Existe dentro da ciência política uma abordagem, que embora seja minoritária, tem
de ser citada. É aquela chamada de micropolítica, que afasta suas observações das
SUMÁRIO 57
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
É preciso ter em mente que Estado e governo, apesar de aparentarem ser uma coisa
só, são distintos e cumprem funções diferentes. Enquanto o Estado é marcado pelas
relações poder/povo/território e pelos diversos graus de autonomia de seus órgãos, o
governo carrega em si a propriedade de gestão do poder. Existem inúmeras classifi-
cações dos tipos de Estado e formas de governo; sendo assim, trabalharemos com a
simplificação realizada por Dias (2013).
58 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SUMÁRIO 59
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
60 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
CONCLUSÃO
Foi possível compreender que a ciência política é dotada de pluralidade, tanto em
seus objetos como em suas abordagens. A filosofia política é de grande importância
para o desenvolvimento político. As temáticas ao redor do poder, do Estado e dos
sistemas políticos, apesar de também serem tratadas por outras áreas do conheci-
mento, são tidas como os objetos de estudo da ciência política. As abordagens plura-
lista (ligada à ideologia liberal) e Marxista (ligada à ideologia socialista) são dominan-
tes nesse campo do conhecimento. E, por fim, a formação dos Estados, dos governos
e os grupos de pressão são os agentes que compõem os processos políticos.
SUMÁRIO 61
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
UNIDADE 4
OBJETIVO
Ao final desta unidade, esperamos
que possa:
62 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
4 ESTADO MODERNO
À medida que o Estado se torna uma forma de organização fundamental e mais
comum no mundo contemporâneo, surge em nós também a necessidade de
compreender suas origens histórias, filosóficas e sociais. O que é um Estado? Como
ele surge? Como se consolida e perpetua? Existem outras formas de organização
humana? Estado por que e para quem? São vários os questionamentos que podem
surgir em nossa mente quando deixamos de acreditar que o Estado é algo natural,
que sempre existiu e sempre existirá. Ao longo desta unidade, buscaremos respon-
der a algumas dessas perguntas e também criar possibilidades para um pensamen-
to crítico e um questionamento perpétuo acerca dessas invenções.
SUMÁRIO 63
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
64 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
como “potência soberana” (NOVAES, 2003, p.18). Em “Teoria geral do Estado”, cinco
elementos constituem um Estado: soberania, povo, território, governo e finalidade.
Saiba mais
Leitura complementar:
SUMÁRIO 65
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
66 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SAIBA MAIS
Algumas das principais circunstâncias que deram ensejo ao início das viagens
marítimas no século XV couberam aos mercadores empenhados em atividades
comerciais cada vez mais intensas. Com isso, o desenvolvimento de novas tecnolo-
gias e conhecimentos geográficos, ainda que imprecisos ou confusos, contribuíram
para que se manifestasse um vivo interesse pela exploração de outras regiões do
mundo. Nesse sentido, o desenvolvimento do pensamento científico, a invenção
das caravelas, o resgate da astronomia, o surgimento de uma disciplina e organiza-
ção de trabalho nas embarcações marítimas, assim como os imaginários acerca do
novo mundo, foram fundamentais para impulsionar o homem recém-saído da era
medieval rumo à modernidade.
SUMÁRIO 67
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
De acordo com Janaína Amado e Luiz Carlos Figueiredo (1992), em “No Tempo das
Caravelas”, enfrentar os oceanos para saber o que havia depois deles, navegar por
diversas rotas desde o Ocidente até o Oriente foi tarefa demorada. As chamadas
grandes navegações constituem um processo de mais de um século – desde a
conquista de Ceuta (1415) – que implicou uma acumulação de conhecimentos e
territórios às nações europeias. Essa árdua e coletiva tarefa envolveu grandes capi-
tais governamentais e particulares, inúmeras vidas humanas, resultando no desen-
volvimento de uma mentalidade moderna, voltada para o conhecimento, para a
valorização da experiência, da ciência e da técnica, e ao encontro de novos cenários
econômicos e culturais.
FIGURA 16 - BÚSSOLA
Enquanto o resto da Europa achava-se envolvida nos efeitos da crise do século XIV,
Portugal dava o pontapé inicial da expansão marítima. Esse empreendimento tinha
como objetivo encontrar novas rotas comerciais com o Oriente. Contudo, não foi
apenas isso que impulsionou os portugueses às navegações, sendo que diversos
fatores explicam sua proeminência, como a localização geográfica privilegiada, o
domínio de equipamentos e técnicas de navegação, o contato com textos e rela-
tos de viagens, principalmente dos chineses, e o aumento do poder econômico dos
mercadores, assim como da realeza.
68 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
As reformas religiosas que ocorreram a partir do século XVI só podem ser compreen-
didas a partir da análise do contexto e das mudanças que se operavam na Europa
Ocidental. Nesse sentido, pode-se dizer que elas são resultado de diferentes conflitos
políticos, econômicos e sociais que varreram o continente naquele período, e que,
somadas à exploração do Novo Mundo e, portanto, ao desenvolvimento do capitalis-
mo moderno, conformam as mudanças de mentalidade necessárias à conformação
dos Estados Modernos.
Sendo um ultra-agostiniano, Martinho Lutero via o homem como indigno e não apto
a seguir as leis de Deus, sendo que, por sua natureza decaída, este viveria em uma
prisão, amaldiçoado e escravo do pecado. Também não havendo nada nos homens
que agrade a Deus, ou que Ele queira, encontramo-nos diante do impasse da salva-
ção. Para se desvencilhar desse entrave, Lutero explicou que Deus havia criado dois
governos: o espiritual e o secular, ou seja, o Reino de Deus e o Governo do Mundo.
Mas, para compreendermos essa dualidade, é necessário identificar a distinção que
o teólogo fez entre os cristãos e os não cristãos.
SUMÁRIO 69
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
De acordo com Lutero, nenhum homem nasce cristão, ele se torna um por meio de
sua fé, sendo justo e totalmente integro, porque “[...] os verdadeiros cristãos têm o
Espírito Santo em seus corações, que os ensina e os leva a amar todas as pessoas,
a não tratar ninguém de modo injusto e a suportar prazenteiramente as injúrias,
até mesmo a morte” (LUTERO In HÖPFL, 2005, p. 12). Enquanto isso, os não cristãos
seriam os injustos, maus e pecadores e, portanto, submetidos à lei e impedidos de
expressarem sua iniquidade, sendo que o mundo constitui-se em sua maioria de
não cristãos. Portanto, o reino de Deus serve àqueles que acreditam verdadeira-
mente em Deus e, por isso, não necessitam de leis ou príncipes, pois agem espon-
taneamente na justiça; sua função é moldar os verdadeiros cristãos e os justos. Já o
governo do mundo existe porque os não cristãos necessitam de leis para conserva-
rem-se em paz e permanecerem quietos, de modo a reprimir os maus e impedi-los
de agir de acordo com suas inclinações.
Apesar de as leis terem sido criadas para os injustos e pecadores, Lutero nos diz que
todos devem obedecê-las e submeter-se à Espada, pois os bons devem ser exemplo
aos primeiros, pois “[...] como um verdadeiro cristão, enquanto se encontra sobre a
Terra, vive para seu próximo e o serve, e não para si mesmo, faz coisas que não são
em seu próprio benefício, mas das quais seu vizinho tem necessidade” (LUTERO In
HÖPFL, 2005, p. 20). Entende-se, com isso, que a submissão deve ser total e de todos.
Para o teólogo francês João Calvino, o reino de Deus, ou reino espiritual, é um dos gover-
nos aos quais a humanidade está submetida: o governo espiritual. Ele rege a alma e o
interior do homem e diz respeito à vida eterna. Já o reino político diz respeito ao gover-
no civil que rege o mundo, cujo âmbito é o estabelecimento da justiça. Assim, em Cris-
to, o cristão pertence a um reino espiritual, mas enquanto cidadão que está no mundo,
deve se submeter às suas leis. Por outro lado, devido à sua origem divina, as autorida-
des civis teriam direito à obediência em geral, mas dos cristãos em particularmente.
Segundo o teólogo, conforme suas leituras em Paulo, “[...] todo poder existe por deter-
minação divina e que não há nenhum poder que não esteja estabelecido por Deus”.
Ele prossegue e afirma que “[...] os príncipes são ministros de Deus, encarregados de
honrar aqueles que agem corretamente e executar a vingança de sua ira contra os
que praticam o mal” (CALVINO In HÖPFL, 2005, p. 79).
Entende-se, portanto, que Lutero e Calvino foram mais do que teóricos de uma nova
prática religiosa, mas influências de uma nova forma de governar, que começava
70 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SAIBA MAIS
João Calvino (1509 – 1564) foi um teólogo francês também de suma impor-
tância para a Reforma. Suas ideias criaram uma corrente dentro do protes-
tantismo, o calvinismo, que rapidamente espalhou-se pela Europa.
Várias teorias buscam explicar e justificar a origem dos Estados. Além da perspectiva
contratualista – mais consolidada em termos históricos –, diversos outros pensado-
res e correntes filosóficas poderiam ser mencionados. Todavia, para nossos objetivos,
isto é, identificar e analisar os fatores que conformam o Estado na modernidade,
nos deteremos nas teses contratualistas (Teoria Positiva do Estado). Ainda assim, é
possível afirmar que o Estado é um fenômeno original e histórico de dominação, o
SUMÁRIO 71
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
De acordo com Streck e Morais, em “Ciência política e Teoria Geral do Estado”, a visão
instrumental da tradição contratualista do Estado aponta essa instituição como cria-
ção artificial dos homens, isto é, instrumento da vontade racional dos indivíduos que,
na busca de determinados fins, marcam as condições de sua criação. Essa perspec-
tiva, advinda da escola jusnaturalista contratualista, é essencial para a compreensão
da trajetória dos Estados Modernos europeus e suas estruturas institucionais, pois
este modelo de Estado baseia-se na valorização do indivíduo como agente racio-
nal de sua organização política e, consequentemente, colabora com a alteração dos
valores morais da sociedade moderna.
O contratualismo moderno foi uma vertente filosófica que floresceu do século XVI
ao XVIII. Suas estruturas básicas podem ser resumidas na transposição entre Esta-
do de Natureza para o Estado Civil, mediada pelo Contrato Social, estabelecendo,
portanto, uma teoria acerca das origens do Estado, assim como dos fundamentos
do poder político (acordo de vontades). De acordo com os autores acima citados,
para a escola contratualista, o Estado Civil nasce como um artifício da racionalidade
humana, com a finalidade de remediar as carências inerentes ao Estado de Natu-
reza, construído, portanto, como hipótese lógica negativa ou como fato histórico
remoto. Logo, o contrato surge como fundamento de legitimação de um Estado já
existente e como base de construção de um sistema jurídico. Assim, afirma Ricar-
do Guanabara (2009), que o Estado, na teoria jusnaturalista, seria portanto, fruto da
vontade racional dos homens, resolvendo um problema essencial que se colocava
na época: “[...] se os indivíduos são soberanos, justificar-se-ia a necessidade de forma-
ção dos Estados nacionais como forma de organização originada na vontade sobe-
rana do homem, na razão e no cálculo dos custos e benefícios da transferência da
soberania” (GUANABARA In FERREIRA. et al., 2009, p. 17).
72 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Para os filósofos Thomas Hobbes (1588-1679) e Spinoza (1632-1677), por exemplo, este
seria um estado de guerra, insegurança e domínio dos mais fortes sobre os mais
fracos. Em contraposição, em “Discurso sobre a origem da desigualdade” (1755),
Jean Jacques Rousseau (1712-1778) descreve a trajetória do homem em sua condi-
ção de liberdade até o surgimento da propriedade e, consequentemente, do esta-
belecimento do Estado Civil. Trata-se de uma história hipotética necessária para a
compreensão da “natureza das coisas. A frase que abre “O contrato social” (1762) nos
dá uma ideia da noção rousseauniana do estágio primitivo da humanidade, no qual
os homens seriam livres e iguais.
[...] Ainda que naquele estado o homem tenha uma liberdade incontrolável
para dispor de sua pessoa ou posses, não possui, no entanto, liberdade para
destruir a si mesmo ou a qualquer criatura que esteja em sua posse [...]
E para evitar que todos os homens invadam os direitos dos outros e que mu-
tuamente se molestem, e para que a lei da natureza seja observada, a qual
implica na paz e na preservação de toda a humanidade, coloca-se, naque-
le estado, a execução da lei da natureza nas mãos de todos os homens, por
meio da qual qualquer um tem o direito de castigar os transgressores dessa
lei numa medida tal que possa impedir a sua violação (LOCKE In WEFFORT,
2008, p. 91).
SUMÁRIO 73
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Quando n’O Contrato Rousseau questiona-se acerca das condições nas quais o
homem perde sua liberdade, ele busca, na verdade, resolver o problema da legiti-
midade dessa mudança paradigmática. De acordo com Milton Meira do Nascimen-
to, o que se pretende é estabelecer as condições de um pacto legítimo, no qual os
homens, após perderem sua liberdade natural, ganham a liberdade civil. O contrato
seria uma forma de alienação sem reservas, na qual cada associado entregaria seus
direitos em favor da coletividade. Afirma o filósofo francês:
74 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Portanto, se afastarmos do pacto social aquilo o que não constitui a sua essência,
acharemos que ele se reduz aos seguintes termos:
“Cada um de nós põe em comum sua pessoa e toda a sua autoridade, sob o supre-
mo comando da vontade geral, e recebemos em conjunto cada membro como
parte indivisível do todo.”
Para Hobbes, a passagem para o Estado Civil se estabeleceria por meio de um contra-
to social fundamentado em uma lei natural, que impulsiona os homens a buscarem
a preservação da própria vida. Entretanto, não basta que exista uma fundamenta-
ção jurídica, mas é necessário que exista um Estado armado e capaz de obrigar os
homens ao respeito.
SUMÁRIO 75
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
De acordo com Renato Janine Ribeiro, Hobbes conclui que o Estado é a própria
condição para haver uma sociedade. Consequentemente, o governo, sendo a condi-
ção para que os homens vivam em paz, deve ser ilimitado. É importante destacar que
o soberano não assina o contrato – que é firmado entre os súditos. Nesse momento,
ainda não existe um soberano, ele surge após o estabelecimento do pacto e disso
resulta sua isenção de qualquer obrigação.
76 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
micas e sociais. Durante a Idade Média, a Europa dividia-se em diversos reinos, nos quais
o poder político se subdividia entre reis, senhores feudais e os governos das comunas.
O processo de fortalecimento das monarquias nacionais iniciou-se no final desse
período após inúmeras revoltas camponesas, o desenvolvimento do comércio e
a ascensão da burguesia, assim como o enfraquecimento do poder dos senhores
feudais. Também a criação de um exército unificado, o desenvolvimento de uma
burocracia cada vez mais especializada, a instituição de uma legislação única e de
um sistema tributário nos permitem traçar as conjunturas desse novo paradigma de
organização social: o Estado nacional soberano.
SUMÁRIO 77
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
De acordo com Torres, essas construções doutrinárias são reflexos de processos polí-
ticos nos quais constituía-se um espaço público.
78 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
I) jurídica e laica, categorizada por Johannes de Terra Rubeam, para qual o funda-
mento da sucessão dinástica é o costume e lei fundamental do reino;
II) teleológica, denominada doutrina do direito divino dos reis, na qual se combi-
nam a ideia de superioridade natural de uma casta – fundamentada na leitura de
São Paulo: “non est postestas nisi a Deo” (não há poder que não venha de Deus)
– e o caráter divino da investidura (São Gregório), cujos expoentes máximos são
Jacques Bossuet e Jean Bodin.
SUMÁRIO 79
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SAIBA MAIS
De acordo com Torres (1989), o Estado Absolutista não é uma forma de Estado Moder-
no, pois neste é essencial a distinção entre o poder político e seu titular, sem o qual
não existe uma esfera efetivamente pública, estranha ao patrimonialismo. Contu-
do, outros autores, como Streck e Morais (2006), consideram os Estados Absolutistas
como primeira expressão dos Estados Modernos. Sem causar polêmica, serão apre-
sentados suplementos para uma análise e caracterização dessa forma histórica de
organização do poder político, que deve ser compreendida como um fator localiza-
do no tempo e no espaço.
Pode-se mesmo dizer que, ao contrário, à medida que o poder real se con-
solida, isto é, uma vez assegurada a independência completa das injunções
papais, quebrada e absorvida a alta nobreza, constituído um aparelho admi-
nistrativo centralizado e relativamente eficaz, ele tende a ser repersonalizado
(TORRES, 1989, p. 72).
80 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
De modo que o rei tem um corpo natural, adornado e investido com o domínio e
dignidade reais; e não tem um Corpo natural distinto e dividido por si próprio do
ofício e dignidade reais, mas tem um corpo natural e um corpo político reunidos e
indivisíveis; e estes dois corpos são incorporados numa pessoa e fazem um corpo,
não diversos, isto é, o corpo corporativo no corpo natural, et e contra o corpo natu-
ral no corpo corporativo. De modo que o corpo natural por esta conjunção do corpo
político a ele (o qual o corpo político contém o corpo, o governo e a majestade reais)
é engrandecido e pela dita consolidação tem em si o corpo político (KANTOROWICZ
In TORRES, 1989, p. 74).
A formação estatal que começa a adquirir clareza nos Estados Absolutistas é resulta-
do do processo combinado de soberania, despatrimonialização e despersonalização
do poder. Assim, ressurge o domínio público, o qual passa a definir positivamente a
abstração Estado Moderno, referida como “[...] inevitável ficção de que esta instância
abstrata representa e em algum sentido incorpora, congrega e une a multiplicidade
diversa que é formado o todo social” (KANTOROWICZ In TORRES, 1989, p. 76).
SUMÁRIO 81
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Assim, salienta o autor que o Estado é abstrato porque se apresenta como lugar
institucional em que uma comunidade real encontra unidade e identidade: “A
abstração está em que unidade, medida e identidade encontram-se fora da vida
social efetiva, determinando-se como uma projeção autonomizada da sociedade
que retorna sobre ela para sintetizá-la, regrá-la e dar-lhe figura” (KANTOROWICZ In
TORRES, 1989, p. 77).
CONCLUSÃO
Sendo o Estado uma forma de organização fundamental e cada vez mais comum no
mundo contemporâneo, surge em nós a necessidade de compreender suas origens
históricas, filosóficas e sociais. Conforme verificamos, apesar de haver uma polisse-
mia de sentidos para a noção de Estado, este pode ser compreendido como um
constructo histórico localizado na Idade Moderna europeia. Em Teoria Geral do Esta-
do, a tríade povo, território e soberania caracteriza este fenômeno original e histórico
de dominação, o qual é conformado pelos modos de produção que o engendram.
82 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
UNIDADE 5
OBJETIVO
Ao final desta unidade, esperamos
que possa:
SUMÁRIO 83
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
5 O PODER POLÍTICO
O estudo das diferentes relações de poder permite uma compreensão ampla em
torno da organização da nossa sociedade e dos indivíduos. Ao longo da unidade
serão apresentados importantes intelectuais que se propuseram a compreender
essa questão. Suas teorias serão analisadas à luz do contexto histórico do passado e
do presente, permitindo uma reflexão sobre a estruturação do poder na atualidade.
Apesar de o poder estar presente em toda a estrutura e relação social, há, no entan-
to, uma espécie de hierarquia que, por meio do poder, difere um grupo social do
outro. Apesar dessa hierarquia que divide os grupos, outro tipo de poder, no entan-
to, é considerado superior e comum a todos os grupos sociais: o poder político. Este
pode ter a função de organizar a sociedade ou simplesmente exercer a dominação
de um grupo sobre o outro, sendo soberano em relação aos demais poderes. Sua
aceitação ou legitimidade se dá pelo fato de ser necessária para a organização social.
Observando o poder em seu caráter abstrato, torna-se mais fácil a aceitação de suas
regras impostas. No entanto, vale pontuar que o poder é exercido por pessoas físicas
reais que determinam a ação dos demais.
84 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Quando se afirma que exercer o poder é um processo social, estamos dizendo que
esse grupo detentor do poder determina ou modifica ações de outros grupos.
O poder está diretamente relacionado às práticas culturais, uma vez que estabele-
cem o que têm ou não valor social para o grupo. Seja qual for o elemento, atividade
ou crença atribuídos como importantes para o coletivo, estes serão utilizados como
formas de poder sobre os demais, sendo que aqueles que dominam tais elementos
são também os indivíduos mais valorizados.
Além disso, para que existam relações de poder, é necessário que haja mais de uma
pessoa, grupos ou organizações, uma vez que o poder intermedia relações sociais,
sejam elas de caráter econômico, cultural, familiar, militar, entre outros. Na prática,
são compreendidos como: poder econômico, poder cultural, poder familiar, poder
militar etc. Podemos assim dizer que na sociedade existem vários tipos de poder,
assim como vários atores sociais. Por outro lado, coexistem também diversos tipos
de enfrentamento que representam uma “parte fundamental da vida social, cons-
tituindo-se de fato no pleno exercício da vontade e da liberdade” (DIAS, 2013, p. 30).
Para alguns pesquisadores, o poder tem sua origem na coação, uma vez que sempre
se pressupõe a capacidade de se decidir sobre o outro. Neste processo social, obvia-
mente, estamos diante de uma relação em que um demonstra superioridade em
relação ao outro ou aos demais. Essas situações sociais, portanto, estabelecem víncu-
los de dependência, sendo benéficas ou prejudiciais para os atores sociais envolvi-
dos. Segundo Reinaldo Dias (2013, p. 30), “a base essencial do poder está na submis-
são e no conformismo dos membros do grupo sobre o qual atua”.
SUMÁRIO 85
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
O poder, então, é legitimado por aqueles que não o têm, mas o aceitam, o
reconhecem e o cumprem.
Segundo Aristóteles (2005), três tipos de poder podem ser apontados em nossa
sociedade, com base na observação dos diferentes indivíduos que se beneficiam do
exercício do poder:
1) P
oder econômico – aquele que tem posses modifica as ações dos demais.
2) Poder ideológico – aqueles com mais influência nas ideias expressas alteram o
comportamento dos outros.
3) Poder político – possui instrumentos que exercem força de coação em relação aos
demais indivíduos e possuem todo tipo de arma para isso.
86 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
As principais fontes do poder são a força e a autoridade. Mas dificilmente são exer-
cidas isoladamente, pelo contrário, quase sempre estão associadas em diferentes
graus, pondo em prática suas leis sobre os indivíduos ou grupos.
O maior detentor desta força é o Estado, que tem garantido o monopólio e os meios
necessários para sua organização. A força é uma das características mais importan-
tes do Estado, que a utiliza para garantir sua vontade frente à população.
No que se refere à autoridade, podemos dizer que esta se manifesta como certo tipo
de direito adquirido e estabelecido para que decisões sejam tomadas e ordenadas
ao outro. Ou nas palavras de Dias (2013):
No entanto, foi Max Weber que mais contribuiu no campo dos estudos sobre auto-
ridade, identificando três tipos distintos já bastante conhecidos e estudados pelos
cientistas sociais: as autoridades tradicional, carismática e burocrática (ou racional).
SUMÁRIO 87
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
88 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Maquiavel rompe com a tradição medieval quando analisa a política de maneira real,
e não mais relacionada com a religião e a moral. Vale lembrar que, naquele tempo,
política, religião e moral eram termos inseparáveis. Segundo Maquiavel, política era
uma espécie de técnica a serviço do poder.
SUMÁRIO 89
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Fonte: SHUTTERSTOCK. The hard work of an asian lawyer in a lawyer’s office. Counseling and giving advice and prosecutions about
the invasion of space between private and government officials to find a fair settlement. Disponível em: <https://www.shutterstock.
com/pt/image-photo/hard-work-asian-lawyer-lawyers-office-762545014?src=ndr60PciOrOrPTMdadRA7g-1-2>. Acesso em: 18 out.
2018.
Numa primeira perspectiva marxista, por exemplo, a dominação tem sua estrutura
na divisão de classes e no poder econômico dos indivíduos. Deste modo, a classe
social que domina os meios de produção será também aquela que exercerá domi-
nação sobre as demais classes.
Numa outra perspectiva, defendida por Marx Weber, nem toda a dominação limi-
ta-se à questão econômica. O filósofo defende que a base da dominação é a exis-
tência de um quadro administrativo, certa burocracia, vista como imprescindível.
Sendo assim, a dominação política é posta em prática por meio da formação desse
quadro administrativo (grupo de pessoas ligadas ao setor), que garante que as leis
sejam cumpridas.
90 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Weber explica que existem três tipos de dominação política: a racional, também
chamada de burocrática ou legal; a dominação tradicional; e a dominação de cará-
ter carismático.
SUMÁRIO 91
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Elite – o termo elite origina do latim eligere, que significa eleger, escolher. A
elite é um grupo de pessoas eleitas, ou seja, escolhidas.
Este grupo restrito se une por interesses comuns e, diferente da forma como geral-
mente é usada aqui no Brasil, elite não se refere essencialmente a um grupo de
pessoas com alto poder econômico. O pesquisador Adriano Gianturco (2018) explica
melhor as características da elite:
O termo “elites”, nesse sentido, nada tem a ver com a forma como é geralmen-
te usado no Brasil hoje. Não se refere aos ricos, não é uma questão econômi-
ca, social, cultural. É somente uma questão política, de força. É uma questão
politológica e não sociológica. A elite pode ser composta por um grupo de
revolucionários que tomam o poder, por pobres, por minorias sociais. (GIAN-
TURCO, 2018, p. 21-22)
92 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Alguns grupos recebem o nome de elite, como, por exemplo: no campo da cultura,
a elite intelectual; no campo do trabalho, a elite sindical; no âmbito do Estado, a elite
militar; a elite econômica e também a elite política.
Esses grupos sociais compartilham o fato de terem posse de poder social, tomando
decisões e influenciando outros grupos maiores.
1) Elite política – como nos explica Reinaldo Dias (2013), “a noção de elite no âmbi-
to político divide quem exerce o poder de quem é governado, uma minoria que
detém o poder e uma maioria que lhe obedece” (DIAS, 2013, p. 44-45).
2) E
lite social – depois, no âmbito social, explica que:
No campo dos estudos sociais, algumas teorias vêm sendo discutidas em torno da
ideia de elite:
1) Teoria das Elites – Gaetano Mosca (1858-1941) e Vilfredo Pareto (1848-1923): segun-
do esta teoria, toda sociedade é composta por uma maioria comandada e uma
minoria dotada de poder. O poder político, portanto, pertence sempre a este grupo
restrito. É a teoria das elites que pressupõe a oposição: massa versus elite.
SUMÁRIO 93
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SAIBA MAIS
A Teoria de Mosca acerca da sociedade, elite e poder encontra-se expressa
na obra Elementi dí scienza política, publicada pela primeira vez em 1896.
3) Teoria de Pareto – Vilfredo Pareto (1902): esta teoria diz respeito às ideias de Pare-
to, influenciado por Gaetano Mosca, mas que se torna distinta por defender a desi-
gualdade natural entre os homens, independente de sua função ou atividade. Foi
Pareto também que utilizou pela primeira vez o termo elite, definida como uma
classe superior às demais, geralmente formada por indivíduos com maior poder
econômico e político. Ainda segundo o autor, toda sociedade possui uma elite, e
esta permanece sucessivamente no poder, uma vez que é frequentemente subs-
tituída por outros indivíduos, sucessivamente. Este movimento é chamado de
Teorema de Pareto.
4) Teoria de Wright Mills – Wright Mills (1968): este estudo foi desenvolvido com base
na observação da sociedade estadunidense, sendo que, historicamente, é cons-
truída por um restrito grupo de três setores da elite: política, economia e exército.
Estes seriam diretamente ligados e se fortalecem por meio dos instrumentos de
poder.
94 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
CONCLUSÃO
O estudo do poder, sobretudo do poder político, torna-se fundamental nos tempos
atuais por permitir que cada vez mais tenhamos domínio suficiente dos discursos
e ideias que circulam em nossa sociedade. Desta maneira, este conhecimento não
interessa apenas em sua dimensão teórica, mas, sobretudo, em sua aplicação práti-
ca e cotidiana por nós cidadãos.
Vimos que o poder político é posto em prática por meio da força e/ou da autoridade,
sendo que a autoridade é uma espécie de status, e a força, um sistema que colo-
ca em movimento, por meio de recursos diversos, as regras do sistema político ou
metas coletivas.
Estudamos também o conceito de “elite”, sendo que são distintas as elites políti-
ca e social. Estudamos, ainda, algumas teorias relacionadas à sociedade e às elites:
formação das elites, quem a compõe, como atua, entre outras informações. Estas
teorias são: Teoria das Elites, de Gaetano Mosca (1858-1941) e Vilfredo Pareto (1848-
1923); A Teoria de Mosca, de Gaetano Mosca (1896); Teoria de Pareto, de Vilfredo Pare-
to (1902); e Teoria de Wright Mills, defendida por Wright Mills (1968).
SUMÁRIO 95
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
UNIDADE 5
OBJETIVO
Ao final desta unidade, esperamos
que possa:
96 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
6 CONCEITOS
FUNDAMENTAIS NA
POLÍTICA
A política é algo que afeta diretamente a vida de todos nós; por isso, conhecer o bási-
co sobre o tema é extremamente importante se quisermos ter a consciência daquilo
que acontece na nossa sociedade. Mas, para compreender os aspectos inerentes ao
meio político, é necessário conhecer alguns de seus conceitos fundamentais, para
que possamos influenciá-la de maneira mais adequada.
De que forma estamos participando das decisões políticas que influenciam direta-
mente no modo em que vivemos? Além de oferecer subsídios teóricos que auxiliam
na compreensão do funcionamento dos mecanismos políticos, entender o conceito
de representação política nos permite refletir sobre os próprios modos de atuação
de que a sociedade dispõe sobre aqueles que a representam.
SUMÁRIO 97
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
98 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SUMÁRIO 99
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
O fim último, causa final e desígnio dos homens (que amam naturalmente
a liberdade e o domínio sobre os outros), ao introduzir aquela restrição so-
bre si mesmos sob a qual os vemos viver nos Estados, é o cuidado com sua
própria conservação e com uma vida mais satisfeita. Quer dizer, o desejo de
sair daquela miséria condição de guerra que é a consequência necessária
(conforme se mostrou) das paixões naturais dos homens, quando não há um
poder visível capaz de os manter em respeito, forçando-os por medo do casti-
go, ao cumprimento de seus pactos e ao respeito àquelas leis de natureza [...].
(HOBBES, T. Das causas, geração e definição de um Estado. In: Leviatã. São
Paulo: Abril Cultural, 1979, p. 103)
Outro importante teórico a ser mencionado é John Locke, que vai ampliar a noção
de representação política, inserindo os ideais de liberdade e igualdade entre os indi-
víduos. No entanto, Locke acredita que a soberania residia no povo, e não no sobera-
no, defendendo a representação político-parlamentar.
100 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Rousseau acreditava que a vontade geral não podia ser representada, sugerindo
que a democracia deveria ser exercida de forma direta e participativa. Ou seja, sua
proposta era desenvolver um sistema em que a assembleia de cidadãos assumiria
diretamente o governo (DIAS, 2013).
SUMÁRIO 101
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Por meio de um breve olhar sobre o atual cenário político brasileiro, é possível notar
um esgotamento das formas de representações tradicionais. Tal indício tem como
consequência imediata uma notória desconfiança sobre o sistema democrático.
Segundo Dias (2013), são sintomas dessa desilusão:
[...] desinteresse pela disputa eleitoral, baixa participação ativa nos partidos
políticos, diminuição do interesse pelas questões políticas etc. Isto nos leva a
identificar que há uma tendência de diminuição do papel de dois importan-
tes instrumentos da democracia: o parlamento e os partidos políticos. (DIAS,
2013, p. 187)
102 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Esse espaço de participação pode ser ocupado por novos atores políticos, como é o
caso dos movimentos sociais. No entanto, ao longo dos anos, muitos desses movi-
mentos se institucionalizaram, formando novos partidos.
[...] se não for pelos seus méritos, é por exclusão, tornando-se comum afirmar
que “não é perfeita, mas é o melhor que temos”, e este tem sido o objetivo
almejado pelas novas comunidades que ingressam no sistema de nações for-
mado pela ONU. (DIAS, 2013, p. 173)
Democracia é um termo de origem grega composto por duas palavras: demo, que
significa povo; e kratos, que significa poder ou autoridade. Refere-se ao regime polí-
tico desenvolvido em Atenas. Logo, um sistema de governo em que todos os cida-
dãos participam das decisões políticas.
SUMÁRIO 103
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Apesar de ser tida como o melhor – ou menos pior – sistema de governo na atualida-
de, durante a Antiguidade alguns filósofos criticavam essa forma de governo.
104 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Dessa forma, o exercício da autoridade deve estar prescrito por normas jurídicas,
que têm origem no Poder Legislativo e nos poderes estabelecidos da legitimação
do processo eleitoral, isto é, os atores políticos devem ser escolhidos e controlados
pelo povo. Além disso, todo o processo político deve contar com todos os membros
da comunidade.
Fonte: SHUTTERSTOCK. Vitoria / ES / Brazil – July 27, 2018: The Regional Electoral Court (TRE) presented earlier this week the Elec-
tronic Ballot Boxes that will be used in the October elections throughout Brazil. Disponível em: <https://www.shutterstock.com/pt/
image-photo/vitoria-es-brazil-july-27-2018-1146947054?src=Bfe2LUjdWbdSHa_T488XqQ-2-9>. Acesso em: 18 out. 2018.
SUMÁRIO 105
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
• Liberdade de expressão.
• Direito de voto.
6.3 IDEOLOGIA
O termo “ideologia” pode ser definido como um conjunto de ideias de caráter teóri-
co e político sobre uma realidade social, cultural e econômica específica. A ideologia
é, então, composta por ideias e visões de mundo que, de certa forma, estão associa-
das a propósitos políticos. Assim, determinada maneira de ver e entender o mundo
pode ser utilizada como mecanismos controladores do comportamento político.
106 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
FIGURA 21 - IDEOLOGIA
Fonte: SHUTTERSTOCK. The concept of the information movement in modern business. Disponível em: <https://www.shutterstock.
com/pt/image-vector/concept-information-movement-modern-business-103607756?src=Zhds-gDAmc2jR4qOHHJfhA-2-93>. Aces-
so em: 18 out. 2018.
Esses conjuntos de ideias têm influência direta no modo como nos organizamos em
sociedade. A ideologia, por exemplo, é algo tão poderoso, que pode fazer com que
pessoas, indivíduos ou grupos sociais se sintam superiores ou inferiores em relação
ao outro. Trata-se também de um dos conceitos mais complexos e difíceis de defi-
nir claramente. Isso sem mencionar o constante mau uso do presente termo nas
discussões políticas do mundo contemporâneo. Com isso, procurar identificar aquilo
que não é ideologia e também pode ser útil para compreender seus vários sentidos.
Vamos entender melhor as diferentes atribuições desenvolvidas ao longo do tempo.
O conceito de ideologia foi criado pelo político e filósofo Antoine Destutt de Tracy,
no século XVIII. Tracy pretendia elaborar uma ciência das gêneses das ideias, enten-
do-as como fenômenos naturais que exprimem a relação do corpo humano com o
meio ambiente (CHAUÍ, 1990, p. 22).
SUMÁRIO 107
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Todas as desgraças que afligem nossa bela França devem ser atribuídas à
ideologia, essa tenebrosa metafísica que buscando com sutileza as causas
primeiras, quer fundar sobre suas bases a legislação dos povos, em vez de
adaptar as leis ao conhecimento do coração humano e às lições da história.
(CHAUÍ, 1990, p. 24)
Dessa forma, a ideologia nasceu como uma ciência natural que tratava das ideias
humanas calcadas na realidade. Mas, aos poucos, foi sendo atribuída como um siste-
ma de ideias condenadas a desconhecer sua relação com o real. Por isso, considerar
apenas um único sentido ao termo é algo não só impossível, como inútil. No decor-
rer da história, outros sentidos foram empregados ao termo. A seguir, serão apresen-
tadas algumas dessas concepções.
Foi com Augusto Comte que ideologia voltou a ser utilizada em um sentido mais
próximo do original. Na verdade, em uma perspectiva positivista, o termo ganharia
dois significados. Pode ser entendido tanto como atividade filosófica científica, que
108 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
estuda a formação das ideias a partir da observação das relações humanas com o
meio, ou como significação dos conjuntos de ideia de uma determinada época.
Positivismo
Segundo Chauí (1990), essa concepção de ideologia considera a prática como aplica-
ção das ideias. A autora ainda comenta: “[...] Assim sendo, quando as ações humanas
– individuais e sociais – contradisserem as ideias, serão tidas como desordem, caos,
anormalidade e perigo para a sociedade global [...]” (CHAUÍ, 1990, p. 28).
SUMÁRIO 109
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Fonte: SHUTTERSTOCK. Vector concept illustration of person manipulating people behind the scenes. Disponível em: <https://www.
shutterstock.com/pt/image-vector/vector-concept-illustration-person-manipulating-people-1017660730?src=b-OnR0KZDvpXOBx-
TIFF2Sw-1-67>. Acesso em: 18 out. 2018.
Ora, Marx e Engels mostram que as relações dos indivíduos com sua classe é
uma relação alienada. Ou seja, assim como a Natureza a Sociedade e o Esta-
do aparecem para a consciência imediata dos indivíduos com os poderes se-
parados e estranhos que os dominam e governam, assim também a relação
dos indivíduos com a classe lhes aparece imediatamente como uma relação
de algo já dado e que os determina a ser, agir e pensar de uma forma fixa e
determinada. (CHAUÍ, 1990, p. 76)
Portanto, a ideologia pode ser entendida, de acordo com essa perspectiva, como um
conjunto de ideias falsas, que faz com que os indivíduos não percebam sua própria
realidade.
110 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Não é nosso objetivo esgotar as discussões em torno dos variados sentidos e signi-
ficados sobre o termo. Mas é possível traçar algumas questões importantes, que
servem para pensar a ideologia e seu papel na atualidade, até porque não existem
pensamentos livres de pressupostos ideológicos, seja para aderir, ou romper com
tais ideias.
Por isso, é importante levar em consideração que o termo ideologia não está asso-
ciado somente a um conjunto de crenças, mas está ligado também a questões de
poder, principalmente na esfera política. Segundo Thompson (1987), estudar ideo-
logia é compreender os modos pelos quais o significado (ou significação) contribui
para manter as relações de dominação. Dessa forma, um poder dominante poderia
se legitimar, por exemplo:
SUMÁRIO 111
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
É importante afirmar que a ideologia tem mais a ver com a questão de quem está
falando o que, com quem e com que finalidade, do que com as propriedades linguís-
ticas inerentes de um pronunciamento (EAGLETON, 1997).
112 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Por isso, o ideário liberal defende a limitação do poder político frente ao indivíduo,
ou seja, a liberdade do indivíduo em um estado natural não deverá sofrer qualquer
restrição social. Portanto, a liberdade, de acordo com a perspectiva liberal, é a liber-
dade do indivíduo em relação ao Estado.
A noção de liberdade também pode ser aplicada à esfera religiosa. Assim, o exercício
da fé seria uma escolha livre e individual de uma determinada doutrina, condenan-
do a imposição externa e violenta de conversão a determinado credo. Daí a impor-
tância da tolerância sobre a pluralidade de posições, consciências e expressões.
SUMÁRIO 113
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Mas é com o cientista político Stuart Mill que encontramos a forma mais completa
da ética liberal acerca dos conceitos de igualdade e liberdade. Para Mill, mesmo um
sistema político democrático poderia conduzir ao tipo de conformidade que poderia
fazer definhar o pensamento livre (MACKENZIE, 2011).
Assim, o valor de liberdade deve ser tratado como liberdade civil, e não como livre
arbítrio. Em outros termos, sua preocupação central é discutir os limites entre a inde-
pendência individual e a legítima interferência da autoridade social. Isso aconteceria
porque o poder informal, imposto pelas maiorias, poderia ser tão autoritário quanto
opressões advindas de um sistema político.
Isso ocorre, observa Mill, “onde a sociedade é ela própria o tirano – a sociedade
coletivamente em relação a cada indivíduo que a compõem – seus meios de
tiranizar não se restringem aos atos que possa executar por mão dos seus
funcionários políticos”. (MACKENZIE, 2011, p. 48)
114 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Tal foi ou deveu ser a origem da sociedade e das leis, que deram novos entra-
ves ao fraco e novas forças aos ricos, destruíram irremediavelmente a liberda-
de natural, fixaram para sempre a lei da propriedade e da desigualdade, fize-
ram de uma usurpação sagaz um direito irrevogável e, para lucro de alguns
ambiciosos, daí por diante sujeitaram todo o gênero humano ao trabalho, à
servidão e à miséria. (ROSSEAU, 1978, p. 269)
Portanto, para Rousseau, não se trata de eliminar a propriedade, mas estas devem
estar condicionadas a suprir as necessidades humanas básicas, sendo uma expres-
são da vontade geral, e não de grupos poderosos. Uma sociedade baseada na igual-
dade é aquela na qual a liberdade dos indivíduos manifesta-se no cumprimento das
leis elaboradas por eles próprios.
SUMÁRIO 115
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
Fonte: SHUTTERSTOCK. Large and diverse group of people gathered together in the shape of a scales icon. Disponível em: <https://
www.shutterstock.com/pt/image-illustration/large-diverse-group-people-gathered-together-352105430?src=G0BxIeQVUohnR-
BK_wsKZyA-1-20>. Acesso em: 18 out. 2018.
116 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
CONCLUSÃO
Nesta unidade, foi possível identificar, compreender e refletir sobre alguns conceitos
fundamentais para a ciência política. Além disso, pôde-se perceber que os conceitos
aqui abordados possuem significados e interpretações distintas.
O mesmo acontece com o termo democracia, apesar de suas origens também reme-
terem ao período antigo, especificamente da cidade de Atenas. Os contornos atuais
desse regime político se desenvolvem na Era Moderna, influenciado pelo processo
revolucionário francês do século XVIII.
SUMÁRIO 117
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
GLOSSÁRIO
A politeia é um conceito grego que visa explicar uma forma de governo
semelhante à república como conhecemos na atualidade. Nesse modelo, o
poder seria exercido por uma autoridade escolhida pelo povo para atender
aos interesses do povo.
118 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
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122 SUMÁRIO
INTRODUÇÃO À CIÊNCIA POLÍTICA
SUMÁRIO 123