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GIOVANNA BILOTTA, HAYKAL MORAGAS,

JU MOURA E NICOLE SCHLANGER

DSG 1004 - PROJETO AVANÇADO ESTRATÉGIA E GESTÃO

Giovanna Bilotta - gika.bilotta@gmail.com


Haykal Moragas - moragasfarage.haykal@gmail.com
Ju Moura - jusomoura@gmail.com
Nicole Schlanger - ninickole@gmail.com

PUC-RIO. DEPARTAMENTO DE ARTES E DESIGN - 2020.1


SUMÁRIO

1. CONTEXTUALIZAÇÃO 6 5. CONTEÚDO REVISADO 31
1.1. ADOLESCÊNCIA E INCERTEZA 6
6. BRIEFING DE PROJETO 32
1.1.1. Introdução à Questões de Gênero e Sexualidade 6
6.1. SITUAÇÃO DE USO 32
1.1.2. Representatividade e Mídia 7
6.2. OBJETIVO 33
1.1.3. Análise da Relação Público x Conteúdo 9
6.3. PARÂMETROS 33
1.2. REPRESENTATIVIDADE LGBTQ NA MÍDIA 9
6.4 IMPACTO / RELEVÂNCIA 33
1.2.1. Contexto Histórico LGBTQ na Mídia 9
6.5 MÉTRICA-CHAVE 34
1.2.1.1. Internacional 11
6.6 CONCEITO 34
1.2.1.2. Nacional 11
1.2.2. Tipos de Representatividade 12 7. ANÁLISE DE SIMILARES 36
1.2.2.1. Estigmatizada 12 7.1 SIMILARES 36
1.2.2.2. Queercoding 13 7.2 SEMELHANÇA E DIFERENÇAS 36
1.2.2.3. Queerbaiting 13
1.2.2.4. Saudável 14 8. DESENHOS E ESTUDOS DE ALTERNATIVAS 37
1.3. ORIGENS DA LGBTQFOBIA 14 8.1 PRIMEIRAS ALTERNATIVAS INDIVIDUAIS 37
1.3.1. Religião 15 8.2 VISUAL NOVEL 39
1.3.2. Cultura 15 8.3 RPG DE CARTAS 40
1.3.3. Ciência 15 9. REGISTROS E ANÁLISE DE SIMULAÇÕES E TESTES 42
1.4. RELAÇÕES COM O FEMINISMO 16 9.1 TESTES DE RPG DE CARTA 42
1.4.1. Machismo e LGBTQfobia 16 9.2 DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO 43
1.4.2. Exploração de Corpos e Invisibilização 16 9.3 FEEDBACKS DE USUÁRIOS 45
1.5. TEORIA QUEER 16
1.6. MOVIMENTO CONTRA REVOLUCIONÁRIO 17 10. DETALHAMENTO DA SOLUÇÃO FINAL 46
1.7. O SISTEMA ENVOLVIDO 17 10.1 ESTUDO DO CONTEÚDO 46
1.7.1. Capitalismo 17 10.2 EXPLICAÇÃO DA JOGABILIDADE 47
1.7.2. Patriarcado 18 10.3 EVOLUÇÃO DO MODELO DE NEGÓCIO 51
10.4 VISUAIS FINAIS 53
2. REGISTRO DA PESQUISA DE CAMPO 19
2.1. MÉTODOS 19 11. CONCLUSÃO 54
2.2. OBJETIVOS 19
12. BIBLIOGRAFIA 55
2.3. ENTREVISTADOS 19
2.3.1 Adolescentes 19 13. ANEXOS 58
2.3.2. Especialistas 19 13.1 ENTREVISTAS 58
13.2 QUESTIONÁRIO 77
3. JORNADA DO USUÁRIO 26
13.3 IMAGENS 77
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS DA G1 29 13.4 MANUAL 80
4.1. INSIGHTS 29
4.2. CONCLUSÃO 30
1. CONTEXTUALIZAÇÃO 1.1.2. Representatividade e Mídia

A pesquisa realizada tem foco em estudar a importância da representação LGBTQ na fase A representatividade na mídia é de suma importância para a construção da sociedade. Se ver
da adolescência, dada principalmente pela mídia. Para isso, estudamos as plataformas mais refletido no conteúdo que consome é crucial para que haja a confirmação de que sua identida-
utilizadas para entretenimento nessa faixa etária e estudamos os tipos de representatividade de é válida, tanto para as pessoas a sua volta quanto para si mesmo. Bradley Bond, professor
LGBTQ oferecidos em seus conteúdos. Dessa forma, apontaremos a relevância desse tipo de comunicação sobre os efeitos da mídia na socialização, focados com gênero e sexualida-
de conteúdo e o impacto que causa não só a esses adolescentes, mas à toda a sociedade a de, afirma em sua pesquisa4 que casos de suicídio e episódios depressivos na adolescência
qual pertencem. de pessoas queer tende a diminuir quando esses jovens se veem representados.

1.1. ADOLESCÊNCIA E INCERTEZA Figura 1 - Estudos da Kantar IBOPE MEDIA

Nos baseando na teoria do desenvolvimento psicossocial1, apontamos nosso público principal


como os adolescentes entre 12 e 18 anos de idade. Essa faixa etária, de acordo com o es-
tudo, é caracterizada como a etapa de incerteza e construção de identidade, que se dá pela
interação da pessoa com o meio que a rodeia e também consigo mesma procurando onde se
encaixa. Para que essa fase seja fechada corretamente e o indivíduo tenha saído dela com
uma ideia concreta de sua individualidade, é necessário que as possibilidades para a constru-
ção de si mesma tenham sido exploradas. Com isso, o bloqueio de opção por meio da opres-
são pode causar diversas sequelas no desenvolvimento pessoal do adolescente, levando à
entrada na vida adulta com uma personalidade frágil e indecisa, que muitas vezes não sabe
impor suas vontades por não saber identificar quais são elas.

Adolescentes nessa faixa etária procuram experimentar de sua liberdade e, assim, procurar
referências não parentais. O começo do distanciamento de figuras parentais é extremamente
importante na criação de uma identidade diferenciada, agora não mais tão vinculada aos inte-
resses desses adultos que antes guiavam suas tomadas de decisões. Para isso, o adolescen-
te se volta a pares e à mídia para conhecer caminhos por onde pode seguir para se tornar a
sua própria pessoa, tentando se refletir em diferentes pessoas ou personagens.

1.1.1. Introdução à Questões de Gênero e Sexualidade

Por conta da formação da maioria das sociedades atuais, as questões LGBTQs ainda são as
mais difíceis de se abordar na fase de exploração. Dada como tabu, a conversa sobre gênero Fonte: IBOPE (2016)
e sexualidade não é abordada em escolas, dada a desinformação sobre educação sexual2 e
também é muitas vezes evitadas por país. A mídia tem um papel fundamental para essa formação, é nela que o adolescente mais
busca informação e se entretém, como aponta pesquisa feita pelo IBOPE5. Juliana Spinelli6,
O Brasil apresenta uma morte por homofobia a cada 23 horas3, demonstrando a complicação psicóloga, constata que:
de um adolescente encontrar meios de conseguir respostas para as questões levantadas a
sua identidade e sexualidade em um ambiente que tenta reprimir a diversidade a todo custo. “(...) podemos destacar a característica de aproximação que a televisão compreende em
relação à realidade. Como instrumento que une som e imagem, parece exibir a realidade
Essa realidade alarmante leva o adolescente a procurar sobre esse assunto na mídia. No e se torna, a partir desse mecanismo, mais próxima dos interesses de crianças que outras
momento em que já se prioriza a busca por referência não parentais, esse tabu distancia instituições socializadoras.”
ainda mais o filho dos pais, o que acarreta na dependência do jovem a se basear nas poucas
referências encontradas nos conteúdos que assiste. Dessa maneira, percebe-se que a mídia Entretanto, a mídia atualmente não tem apresentado tanto conteúdo LGBTQ quanto pode-
está especialmente presente no desenvolvimento das pessoas quando se fala sobre questões ria. Observando dados de comparação de personagens de 126 filmes lançados em 2016 da
LGBTQ, visto a maneira como os outros núcleos da sua vida podem fugir desse assunto. Glaad7, uma instituição não governamental que monitora como os LGBTQ são retratados na
mídia, constatamos como a porcentagem de representações cis-héteros, 82,4%, é superior
a LGBTQ.

4 BOND, Bradley. The Mediating Role of Self-Discrepancies in the Relationship Between Media
1 CHERRY, Kendra. Erik Erikson’s Stages of Psychosocial Development. VeryWell Mind, 2018. Exposure and Well-Being Among Lesbian, Gay, and Bisexual Adolescents. 2015
2 NUNES, Fernanda; DOMINGOS, Juliana. O debate sobre educação sexual no Brasil. E por que 5 ABEP. Estudo da Kantar IBOPE Media aponta que 44% dos entrevistados consideram a inter-
abordá-la nas escolas. 2019. net sua principal fonte de entretenimento. 2016.
3 Segundo portal de notícias da Globo, G1.Brasil registra uma morte por homofobia a cada 23 6 Mestranda em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela USP.
horas, aponta entidade LGBT. 2019. 7 GLAAD.Overview of Findings. 2015.
6 7
Por conta da tradição patriarcal enraizada, gays são muito mais representados na mídia, uma
Figura 2 - Where we are on TV vez que estão a vários passos a frente em representações do que outros grupos e gêneros,
como afirma uma de nossas entrevistadas, Renata Nolasco, criadora de conteúdo indepen-
dente. Dessa forma, uma visibilidade igualitária para todas as classificações que compõem a
comunidade LGBTQ se torna necessária. Por conta disso, optamos por trabalhar com a mídia
para procurar como se dá essa representatividade e como ela pode ajudar os jovens dessa
faixa etária.

1.1.3. Análise da Relação Público x Conteúdo

O objetivo dessa pesquisa é analisar a relação do público com esse conteúdo. Ao apontar a
representatividade LGBTQ oferecida por essas mídias em questões voltadas para o público
adolescente, faremos um panorama da situação histórica e atual sobre como a sociedade lida
com a visibilidade LGBTQ e como isso é refletido também na própria mídia pelas pessoas que
estão por trás da produção. Com isso, pretendemos principalmente afirmar a importância de
haver ícones saudáveis para a reflexão de adolescente nesses personagens e a necessidade
Fonte: GLAAD (2016) da conversa sobre diversidade sendo abordada nos espaços da vida do jovem.

Esse fato ocorre pelo distanciamento da normalização de grupos LGBTQ, como afirma as 1.2. REPRESENTATIVIDADE LGBTQ NA MÍDIA
psicóloga Grazielle Tagliamento8:
O ideal de representatividade é algo complexo para uma comunidade minoritária. “Ser visto”
“A própria indústria cultural colabora muito com isso [homofobia]. Nas novelas e nos progra- implica em ocupar espaços destinados à um público maioritário, pressionar autoridades go-
mas humorísticos, o espaço concedido ao homossexual é o do humor. A ausência dessas vernamentais por mais direitos e garantir que múltiplas visões de mundo são compartilhadas.
pessoas em literatura ou outros ambientes é uma violência. (...) Não se cria repertório e Ao educar uma parcela de espectadores com o intuito de promover empatia, inclusão e igual-
quando não se tem isso, não tem uma normalidade.” dade, é possível humanizar os grupos sociais mais marginalizados, promovendo mudança.
E Rafaela Freitas9: Dentro do imaginário LGBTQ, essa visibilização não se limita à exploração de corpos: não
basta ter um personagem que “pareça” LGBTQ, isso não é realista. A comunidade queer não
“Quanto mais cedo as crianças visualizarem que existem outras experiências de afeto, sexu- possui um rosto definido, ela é formada por pessoas de todas as cores, tamanhos e castas
alidade e de família, mais fácil é para elas entenderem que isso faz parte da realidade (...)” sociais, sendo irreal utilizar de características rasas para defini-los. Portanto, democratizar a
mídia não se trata apenas de democratizar seu produto, mas sim seu processo de construção:
Em pesquisa realizada pela Superinteressante10 que analisou a presença e evolução dos tais personagens exigem um desenvolvimento tanto histórico como de relações dentro da
personagens LGBTQ nas novelas brasileiras, de 2017, é possível observar a disparidade de narrativa, que reflitam vivências baseadas em pessoas reais, e não em estereótipos criados
representatividade que acontece dentro do próprio grupo LGBTQ. pelo senso comum.

Figura 3 - Membros LGBTQ em Novelas 1.2.1. Contexto Histórico LGBTQ na Mídia

Ao observar a história da representação LGBTQ na mídia visual brasileira e internacional


é possível perceber uma forte ligação entre a criação de leis de diversidade e a represen-
tatividade. Entretanto, também é perceptível a quantidade de programas que tiveram seu
conteúdo censurado ou modificado, em sua maioria pela rejeição por parte do público mais
conservador. Isso demonstra que muitas vezes, por mais que as leis estejam de acordo com
o pensamento político contemporâneo, o povo ainda possui ideais demais retrógrados para
absorver esse conteúdo.

Com isso em mente, elaboramos uma linha do tempo marcando as principais conquistas den-
tro do universo LGBTQ, seja na mídia visual ou nos direitos adquiridos:

Fonte: SUPERINTERESSANTE (2017)

8 Integrante da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia.


9 Doutoranda em Psicologia Social pela UFMG.
10 BERNARDO, André. Infográfico: evolução dos personagens LGBT nas novelas, ano a ano.
SUPERINTERESSANTE, 2017.
8 9
1.2.1.1. Internacional

Dentro do cenário internacional, iniciamos nossa contagem com o primeiro filme que teve a
Figura 4 - Linha do tempo das principais conquistas dentro da comunidade LGBTQ homossexualidade tratada de forma positiva, a obra “Different From The Others”, um filme
mudo alemão de 1919.

Passamos então para 1960, com o fim do Código Hays, permitindo a abordagem do assunto
LGBTQ dentro das grandes produções estadunidenses. Em 1969, após uma demonstração
de repressão policial no bar Stonewall Inn, em Nova Iorque, um bar conhecido como um es-
paço seguro para a comunidade LGBTQ, e, após a invasão e prisão de seus frequentadores,
uma série de manifestações violentas teve início. Tais manifestações foram o que deu início
ao movimento pela libertação LGBTQ, acarretando em diversas organizações em prol dos
interesses da comunidade fossem criados.

Nos anos 70, com Judith Butler, surge a teoria queer, movimento contrário ao feminismo radi-
cal TERF11. Nos anos 90, a personagem Ellen, interpretada por Ellen DeGeneres se assume
homossexual, seguida pela própria atriz. Tal evento foi de extrema importância para impulsio-
nar a imagem LGBTQ, uma vez que ambas personagem e atriz eram favoritas do público e,
antes delas, a maioria dos personagens queer eram de caráter trágico.

1.2.1.2. Nacional

Nossa linha do tempo tem início com a remoção às referências de sodomia do Código Penal
brasileiro em 1830, caracterizando a descriminalização da homossexualidade. Entretanto, se-
ria somente em 1960 com a telepeça “O Caso Maurízius” que o Brasil veria seus primeiros
personagens homossexuais masculinos na televisão, seguidos pela novela “Entre Quatro Pa-
redes”, com suas primeiras personagens homossexuais femininas, em 1963, ambos na TV
Tupi.

A década de 1970 é inaugurada com o primeiro personagem homossexual da TV Globo, Ro-


dolfo Augusto em “Assim na Terra como no Céu”. Em 1978, “Dancin’ Days” é pioneira no uso
de personagens gays afeminados em posições de servidão, mordomos, secretários ajudan-
tes, representação que torna-se clássica nas décadas seguintes, com Everaldo. No mesmo
ano, há o lançamento da primeira revista homossexual brasileira, “O Lampião”, que viria a
perdurar até 1981.

Em 1985, na novela “Um Sonho a Mais”, ocorre o primeiro beijo LGBTQ na televisão brasilei-
ra, entre um homem e uma mulher transgênero. Seguido, em 1987, pelo primeiro personagem
bissexual, Laio, na novela “Sassaricando”. A década se encerra, em 1989, com a primeira lei
contra a discriminação de orientação sexual, assinada por Mato Grosso e Sergipe.

Em 1990 tem-se o primeiro beijo gay masculino na novela “Mãe de Santo”. Cinco anos de-
pois, em 1995, Marta Suplicy, política, psicanalista e sexóloga brasileira, propõe o primeiro
projeto de lei acerca de uniões civis homossexuais. Em 1998 ocorre o caso da novela “Torre
de Babel”, no qual, por forte pressão do público, duas personagens lésbicas são removidas
da trama configurando o estereótipo narrativo “enterre seus gays”12.

Em 2011 é apresentado ao público brasileiro o personagem Crodoaldo Valério, da novela


Fonte: Ju Moura (2020) “Fina Estampa”, sendo um dos mais clássicos personagens gays mordomos e afeminados.
Em 2013 é legalizado o casamento entre pessoas do mesmo sexo no Brasil. No mesmo ano,
ocorre o primeiro beijo gay na Tv Globo, na novela “Amor à Vida”. Em 2016 o público nacional

11 Trans Exclusionary Radical Feminist, corrente do feminismo que exclui pessoas transgênero.
12 HULAN, Haley. Bury Your Gays: History, Usage, and Context. McNair Scholars Journal: Vol. 21:
Iss. 1 , Artigo 6, 2017.
10 11
tem contato com a primeira cena de sexo homossexual, em “Liberdade, Liberdade”, enquanto parte do autor, mas também de uma desinformação sobre o personagem criado. Visto que o
que em 2018, tem-se o primeiro personagem transgênero masculino, apesar de interpretado autor baseia sua a história por um ponto de vista externo, não compartilhando a vivência da
por uma atriz cisgênero, na novela “A Força do Querer”. qual escreve, esse tipo de escrita pode gerar falsas informações sobre a comunidade LGBTQ.

Também em 2018 a Suprema Corte estabelece que pessoas trans não precisam ter passado Fortalecendo noções preconceituosas ao construir personagens ridículos para alívio cômico
por cirurgia para poderem mudar de nome em documentos oficiais. Em 2019, é estabelecido ou predatórios, essa representação pode ser percebida em duas instâncias:
que crimes de LGBTQfobia devem ser punidos tais quais crimes de racismo. Ou com o intuito de mistificar a figura do LGBTQ, desumanizando-o. Tal estratégia costuma
ser muito mais nociva, e caracteriza-se pela intencionalidade dos atos, geralmente resultando
1.2.1.3. Previsões Futuras em vilões estigmatizados. Ou pela falta de pesquisa e entendimento de quem escreve, acar-
retando em criações inevitavelmente estereotipadas.
O streaming já está na vanguarda sobre criação de conteúdo com representatividade e prova-
velmente continuará assim. Esse fato se torna possível por conta da distribuição em catálogo Ao basear-se em alegorias de “o que é ser LGBTQ”, ao invés de ouvir as vozes da comunida-
e diversidade de conteúdo, com objetivo de fazer grande quantidade de produtos para agra- de, abre-se margem ao erro. Sejam esses personagens humorísticos, promíscuos, hipersse-
dar o maior número de pessoas. Diferente do broadcasting, restrito pelos horários limitados de xualizados ou insanos, não há problema de esse tipo de personagem existir, e ser LGBTQ, o
programação para apresentar suas séries e filmes, o streaming pode aproveitar a lacuna no erro ocorre quando o único representante dentro de uma mídia é feito dessa forma.
mercado e fazer conteúdo direcionado a públicos minoritários que não ganham essa chance
em grandes canais. Netflix e outras plataformas de streaming como Amazon Prime e Hulu Outra forma de perpetuação de estereótipos é feita quando temos esse espaço ocupado por
tentam cada vez mais criar conteúdo de apelo universal, se beneficiando das vozes diversifi- alguém que não é LGBTQ. Personagens trans interpretados por atores cis caracterizados
cadas para aproveitar da vanguarda na contratação desses criadores. como o gênero oposto apenas perpetuam a ideia de que pessoas trans estão apenas perfor-
mando como pessoas do outro gênero.
O apelo por conteúdo com representatividade se torna cada vez maior com o apoio popular
ao conteúdo que já existe. A crescente satisfação por séries que apresentam personagens 1.2.2.2. Queercoding
LGBTQ gera impacto sobre as grandes mídias que não podem ignorar esse fato, tendo de su-
prir a demanda. Isso possibilita a maior facilidade na entrada de pessoas antes segregadas a Queercoding é uma denominação para personagens aos quais são atribuídos características
esse espaço de voz, onde pode compartilhar sua vivência para gerar esse conteúdo inovador. ligadas a noção estereotipada comum do que é ser queer, mas que nunca se assumem como
tal. Ela se originou com o Código Hays, um conjunto de normas morais estadunidense de
Vê-se a representação saudável ainda muito exclusiva a histórias de amadurecimento, com censura para grandes estúdios cinematográficos entre as décadas de 1930 e 1960, o qual ve-
algumas exceções de comédia, nas quais a narrativa é centrada no fato do personagem ser tava temas dados como “perversos” de serem explorados, incluindo questões LGBTQ. Dessa
LGBTQ. Futuramente é possível que haja maior diversidade na colocação de pessoas queer maneira, personagens não podiam demonstrar sua sexualidade explicitamente, levando cria-
em histórias, tomando papéis em que essa não é sua questão central, deixando essa carac- dores a abordarem tal assunto somente escondido nas entrelinhas narrativas.
terística como secundária ao foco. Histórias de ação em que a personagem principal é por
acaso lésbica e no final termina com uma esposa, comédias românticas em que ser gay não O problema do queercoding ocorre quando essas características são usadas como indese-
é uma questão, criar um personagem transgênero em uma comédia romântica, abre-se uma jáveis. Principalmente em filmes13 direcionados ao público infantil, é comum encontrar uma
gama de opções. grande quantidade de antagonistas que subvertem o padrão de gênero, usando esses aspec-
tos como manobra para enfatizar características conformativas dos seus heróis. Exemplos
Toda a visibilidade criada em torno das questões de gênero e orientação sexual ajudam a disso são muito explorados pela companhia Disney14, que cria histórias como de Hércules, o
normalizar a vivência queer. Quando se passa a reconhecer que pessoas LGBTQ são pes- herói, um homem hipermasculino dentro dos padrões estipulados pela sociedade em contra-
soas como aquelas dentro do padrão social, há a quebra da barreira de repúdio, criando uma partida a Hades, o vilão, um homem afeminado e debochado. Essa tática é vista também em
conexão do público com a obra. Dando aos personagens características humanas e complexi- Rei Leão (Simba e Scar), A Pequena Sereia (Ariel e Úrsula) ou Alladin (Alladin e Jafar).
dade, isso passa a refletir na sociedade a ponto de mudar estigmas: vivências plurais na mídia
geram o reconhecimento de vivências plurais na vida real. 1.2.2.3. Queerbaiting

1.2.2. Tipos de Representatividade O termo Queerbaiting surge dentro do contexto político15, no qual oponentes traziam à tona
elementos da vida pessoal de seus concorrentes e indicavam que tais fatores comprovavam
A representatividade LGBTQ dentro da mídia visual é apresentada de múltiplas formas. Mui- sua homossexualidade, com o intuito de prejudicar sua campanha. Entretanto, nos últimos
tas vezes o espaço garantido à figura queer é de personagem secundário, raso e simples em nove anos, o termo teve seu uso apropriado pela internet para denominar a estratégia de
essência, dando espaço a reprodução de inúmeros estereótipos. Entretanto, já é possível marketing pautada na criação de uma tensão homoerótica entre dois personagens, com a
encontrar obras que valorizem a vivência LGBTQ. falsa promessa de uma relação que nunca se concretiza. Essa estratégia é usada tanto para
atrair o público LGBTQ, quanto para manter o conservador.
1.2.2.1. Estigmatizada
13 The Celluloid Closet. Direção: Rob Epstein, Jeffrey Friedman, Estados Unidos: Sony Pictures
Classics, 1996.
A representatividade estigmatizada é aquela que gera uma visão nociva sobre a comunidade. 14 MARTINEZ, Ren. Fabulously Fiendish: Disney Villains and Queercoding. Margins Magazine,
Os motivos por trás de uma representação estigmatizada não são necessariamente má-fé por 2015.
15 Queerbaiting. 21st-Century Interdisciplinary Dictionary, 2016.
12 13
duo teme a possibilidade de fazer parte da comunidade queer.
Tal estratégia se ancora em conceitos como Pinkmoney ou Pinkcapitalism, que descrevem Existem muitos estudos e teorias que afirmam as várias origens do preconceito LGBTQ. De-
um modelo no qual empresas atendem ao mercado LGBTQ não necessariamente por com- batendo diferentes pontos que unidos formam uma visão geral da nossa sociedade, é pos-
partilharem dos mesmos ideais, mas para se aproveitar do poder de compra da comunidade. sível uma análise para a desconstrução de tais discursos de ódio. Entre tais pesquisadores,
Judd Marmor16 apresenta três principais fatores que favorecem a homofobia:
Portanto, quando cria-se uma situação narrativa na qual não só é indicada a existência de um
personagem, mas também a de um relacionamento queer, apenas para ser negada em segui- 1.3.1. Religião
da, seja ao fazer o personagem entrar em um relacionamento hétero, tratar a situação como
piada ou quando há negação dos autores, sem mudar as atitudes dos personagens, torna-se A forte doutrinação religiosa sempre foi um dos principais fatores para a LGBTQfobia. A Torá
óbvio o uso da alegoria LGBTQ apenas para ganho financeiro. é a principal fonte para se analisar a visão da homossexualidade no judaísmo. Nele está des-
crito que: “Um homem não deve deitar com um homem como ele se deita com uma mulher;
1.2.2.4. Saudável isto é uma toeva (abominação)” (Levítico 18:22). O que levou a expansão do cristianismo
continuar com outras perseguições a práticas homossexuais.
A representação saudável incorpora tanto defeitos quanto qualidades em um personagem
complexo com falas e dimensão. Para que um personagem LGBTQ seja bem explorado, é No império Romano, por questões religiosas a homossexualidade era vista como uma ame-
necessário dar voz a sua personalidade para não ser baseado em estereótipos rasos, tornan- aça constitucional, o que levou ser uma das razões para antigas perseguições e argumenta-
do-o mais do que sua sexualidade ou gênero. A humanização de um personagem acontece ções a favor da condição de sobrevivência e expansão.
quando se atribui a ele aspectos de normalidade, como dificuldades, amores, família, ami-
gos; vivências universais que possam conectá-lo com o espectador. Personagens LGBTQ A Igreja se posicionou oficialmente em questão a homossexualidade com os escritos de Santo
saudáveis demonstram a diversidade de personalidades e vivências que uma pessoa dessa Agostinho, que dizia que os órgãos reprodutivos tinham a finalidade natural de procriação e
comunidade pode enfrentar, tornando-a o mesmo que qualquer outro personagem de fora. em nenhuma hipótese poderiam ser usadas para outra forma de prazer, colocando a homos-
sexualidade como pecado. Dessa maneira, continua a ser reprovada pela maior parte das
Exemplos dessa representação ainda são muito escassos, mas se apresenta crescente. Ela tradições cristãs pelo mundo, assim como diversas outras religiões.
aparece em comédias, como Brooklyn 99, na qual o chefe de polícia, Reymond Holt é um
homem gay negro e, mesmo secundário, apresenta profundidade em personalidade e seus 1.3.2. Cultura
conflitos não se baseiam somente em sua orientação sexual ou cor de pele. Em termos de
protagonismo, se vê ainda menos personagens LGBTQ, sendo a maior parte deles voltado a A ignorância do que seja a homossexualidade surge a partir da construção social do que é o LGB-
histórias de amadurecimento em que adolescente apresentam dificuldade em lidar com sua TQ. Os estereótipos formados e diferentes questões culturais ainda alimentam esse preconcei-
descoberta sobre sexualidade, como Kate em Everything Sucks, que sofre em se assumir to. Orientação sexual e identidade de gênero são termos não compreendidos pela maioria da
para os amigos por conta do preconceito. população, visto que a visibilidade dada ao tema da diversidade sexual e de gênero ainda é foco
de piadas entre grupos, na mídia, nos programas da televisão e entre outros. Isso gera uma cons-
A representatividade saudável pode ser muito mais presente em obras quando são contrata- trução nociva de representatividade, que fortalece a marginalização desses grupos minoritários.
das pessoas de dentro da comunidade para escrever personagens. Dando voz a essas pes-
soas para compartilhar sua histórias com mais direito de espaço de fala, é possível retratar O assunto se torna urgente quando preconceitos, costumes e visões de mundo se voltam con-
de modo mais realista personagens LGBTQ. Criadores de conteúdo televisivo infantil, como tra cidadãos pelo simples fato de não se identificarem ou não serem percebidos como dentro
Rebecca Sugar de Steven Universe, uma das séries pioneiras em questão queer por ser a pri- do padrão cis-hétero. Há muito tempo pessoas homossexuais, bissexuais, transgênero e de-
meira a mostrar um beijo lésbico, comentam a dificuldade de produzir esse tipo de conteúdo mais, sofrem agressões físicas e morais intensas. Essa dinâmica é reforçada por opiniões,
quando os supervisores ainda apresentam ideais preconceituosos: crenças, valores heteronormativos e pela falta de informação.

“Havia elementos que não podiamos incorporar por sermos um programa infantil, foi crítico 1.3.3. Ciência
pra mim perceber que pessoas LGBTQ são ainda consideradas impróprias para crianças e
famílias, não há igualdade enquanto isso ainda acontecer” Um exemplo que reforça o preconceito cultural é a medicina. Na metade do século XIX, a
homossexualidade foi rotulada como doença passível de tratamento. Somente em 1990 a
Disse Rebecca em entrevista para o jornal Entertaiment Weekly, confirmando o estigma refe- Organização Mundial da Saúde (OMS) a removeu da Classificação Internacional de Doenças
rente a essa comunidade. A autora é bissexual e não binária, e diz como foi importante para (CID)17. A transgeneridade só foi deixada de ser considerada doença pela décima primeira
ela mostrar sua realidade por meio de personagens empáticos e histórias de aceitação para edição do CID em 2018, ganhando a classificação “incongruência de gênero”18 aprovado ofi-
que sua mensagem de igualdade fosse repassada. cialmente em 2019, entrando em vigor no começo de 2022.

1.3. ORIGENS DA LGBTQFOBIA

A profunda insegurança e medo em relação ao próprio gênero ou orientação sexual pode


causar repúdio à própria identidade, visto a violência contra a população LGBTQ presente nos 16 Psicanalista e psiquiatra americano conhecido por seu papel na remoção da homossexualidade do
diversos núcleos sociais e constituições (como no universo familiar, nas escolas, na igreja, na Manual de Diagnóstico e Estatística de Transtornos Mentais da Associação Psiquiátrica Americana.
rua, no posto de saúde, na mídia, nos ambientes de trabalho, na justiça, na polícia), o indiví- 17 History Channel. OMS exclui homossexualidade da classificação Internacional de Doenças.
18 Governo Federal. OMS retira transexualidade da lista de doenças e distúrbios mentais. 2018.
14 15
1.4. RELAÇÕES COM O FEMINISMO 1.6. MOVIMENTO CONTRA REVOLUCIONÁRIO

Pode-se ligar o tópico de libertação sexual principalmente de papéis de gênero impostos pela Um dos movimentos contrários à maior exposição midiática de minorías (não somente LGB-
sociedade tanto à questão feminina quanto LGBTQ. No momento em que os dois grupos TQ) trata-se do Alt-Right. Ele, traduzido literalmente por Direita Alternativa, comporta uma
são marginalizados e há grande porcentagem de mulheres dentro da comunidade LGBTQ, é comunidade de supremacistas brancos ressentidos pelo avanço dos direitos civis de negros,
comum que hajam similaridades nas dificuldades impostas a esses grupos pelos opressores, mulheres e pessoas queer, como afirma reportagem da BCC News Brasil21. Incentivados por
que tentem também a ser os mesmos. Todas as pessoas que desviam dos padrões sociais e discursos de representantes conservadores no poder, e em meio ao contexto de globalização,
buscam emancipação desse sistema prejudicial a sua liberdade de expressão tem suas ca- esse grupo se expressa majoritariamente pela internet, de forma a não concretizar um número
racterísticas de diversidade oprimidas. específico de participantes, o que preocupa a sociedade como um todo, que desconhece a
totalidade dessa ameaça. Não somente isso, outra questão é a grande parte dos acionistas do
1.4.1. Machismo e LGBTQfobia Alt-Right são jovens22, faixa etária especificamente prejudicial ao público trabalhado, uma vez
que essa tendência torna-se nociva à liberdade de expressão durante a etapa da incerteza no
A LGBTQfobia acontece principalmente por conta da rejeição da quebra de papéis sociais. desenvolvimento psicossocial.
Em uma sociedade que prega a superioridade masculina e classifica características ligada a
esse gênero como boas, há a contrapartida na qual características femininas são associadas
com fraqueza, inferiorizadas. No momento, então, quando um homem “se apropria” do papel 1.7. O SISTEMA ENVOLVIDO
feminino ao se relacionar com outro homem, podendo também demonstrar características
mais afeminada em sua personalidade como ser mais sensível ou reproduzir uma voz mais Os sistemas de opressão dentro do mundo contemporâneo têm suas raízes historicamente
aguda, isso é visto como uma traição e, dessa forma, esses homens são também inferiori- ligadas à cultura. Sendo eles sistemas individuais, sociais ou institucionais, tais sistemas ba-
zados como as mulheres cis hétero. Ao aceitar que homens demonstrem comportamentos seiam-se na discriminação. Ao sermos assinalados categorias e identidades, entramos em
femininos, em tese também se abre uma brecha para que mulheres tomem para si elementos uma classificação: os grupos dominantes garantem benefícios e privilégios aos seus seme-
masculinizados, quebrando as castas de gênero estipuladas secularmente. lhantes, considerados dentro da norma, e aos membros dos grupos não-dominantes é reser-
vada a opressão, caracterizando um preconceito institucionalizado contra minorias, com o
1.4.2. Exploração de corpos e invisibilização intuito de manutenção desse sistema hierárquico.

O impacto do machismo na representatividade é uma das diferenças na opressão desses 1.7.1. Capitalismo
dois grupos. Enquanto o corpo da mulher é explorado para perpetuar visões misóginas de
mundo, em que mulheres são escritas para terem papéis sexualizados, os quais não possuem Tendo origem no pastoreio, como apontado por Engels23, a primeira divisão social do trabalho
importância além de parecerem bonitas para o apelo masculino, como em filmes clássicos de também foi o que gerou a primeira divisão da sociedade em classes. Apesar de a separação
ação (James Bond 007 e as “Bond girls”), os indivíduos LGBTQs não têm corpo específico entre as funções do trabalho já existir no sistema nomádico, nele ainda não existiam os con-
para serem explorados. O artifício usado nesse caso, então, é a invisibilização, que comoda- ceitos de desigualdades sociais. A mudança para uma vida estabelecida, permanente, com
mente exclui a comunidade LGBTQ da maioria das obras por simplesmente não reconhecer a uma produção e acúmulo do excedente dessa produção é onde nasce a relação entre o dono
existência dessas pessoas. Ao passo que a luta feminina é para serem representadas como dos meios de produção e seus empregados, o explorador e o explorado.
pessoas diversas e competentes, mais do que um corpo, a comunidade LGBTQ ainda tem
problemas para simplesmente ser abordada pela mídia. Em um modelo no qual as disparidades já existentes são acentuadas, entende-se a opressão
como um mecanismo de manutenção do status quo24. Apesar de os sistemas de opressão
1.5. TEORIA QUEER não terem surgido com o capitalismo, eles adquirem nesse modelo as características que os
constituem hoje. Tal molde não tem o patriarcado como herança, e sim como necessidade
Queer é um termo de origem inglesa inicialmente usado para toda e qualquer classe margi- de existência: um aliado que o complementa simbioticamente. Nesse sentido, o capitalismo
nalizada britânica: prostitutas, gays, pobres, devedores; que ganhou contexto mais específico deixa de ser apenas um padrão de produção econômico e torna-se um processo histórico,
voltado para a comunidade LGBTQ após a prisão de Oscar Wilde19 por crime de sodomia, social e político.
primeira figura pública a ser chamada de queer.
Nessa relação, as minorias não-dominantes só tornam-se algo a ser valorizado quando re-
A teoria queer de Judith Butler surge nos anos 70 como uma corrente feminista, contrária ao conhecidas como um potencial mercado. As rebeliões de Stonewall marcaram o início do
feminismo radical. Bebendo de Simone de Beauvoir20, a teoria reforça a ideia dos papéis de movimento de libertação LGBTQ, garantindo acesso e visibilidade a um grupo antes tão mar-
gênero como construções sociais performáticas, criadas para a manutenção de um sistema ginalizado, sendo o ponto de partida para uma diminuição na discriminação, aumentando o
opressor capitalista no qual a figura do homem branco cis-hétero é a única beneficiada.

21 Segundo BCC News Brasil. A extrema-direita está em ascensão nos EUA?. 2017.
22 Reportagem do portal ADL: Fighting Hate For Good. Alt Right: A Primer on the New White Su-
premacy.
23 ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. 1884.
19 History Channel. Escritor Oscar Wilde é preso por relacionamento com filho de marquês. 24 Status quo é uma expressão do Latim que significa “o estado das coisas”, portanto, manter o sta-
20 DE BEAUVOIR, Simone. O Segundo Sexo. 1949. tus quo implica em manter o estado ou circunstância igual como se encontra no presente momento.
16 17
acesso à empregos antes heteronormativos. O Pinkcapitalism25 nasce quando a comunidade 2. REGISTRO DA PESQUISA DE CAMPO
LGBTQ adquire poder de compra o suficiente (denominado Pinkmoney) dentro de uma socie-
dade para passar a ser incluída no interesse de companhias.
A pesquisa de campo, a qual usamos para enriquecer nossa pesquisa, é uma metodologia
de observação, coleta, análise e interpretação de fatos ou fenômenos dentro de seus grupos,
Apesar de tais medidas agregarem e contribuírem para o acesso da comunidade queer a pro-
cenários e ambientes. Foi uma etapa importante para extrair dados e informações diretamen-
dutos e espaços próprios, eles ainda estão longe de serem ideais. A comoditização26 dos direi-
te da realidade do usuário, assim sendo possível definir melhor as necessidades de quem
tos LGBTQ é um processo perigoso, pois implica na possibilidade de retorno da comunidade
estamos estudando.
à uma categoria desumanizada, uma vez perdida sua capacidade de compra, ou quando
associada a outros preconceitos sistêmicos relacionados ao capitalismo: uma mulher negra
LGBTQ é invisível comparada à um homem branco LGBTQ. 2.1. MÉTODOS

1.7.2. Patriarcado Em nossa pesquisa de campo, fomos atrás das plataformas e redes sociais para encontrar
nichos e grupos de dentro e de fora da comunidade LGBTQ com intuito ver o que tem a
dizer sobre a mídia. Além de analisar as postagens de longe, como discussões, opiniões,
O patriarcado como sistema precisa perpetuar papéis de gênero para continuar prosperan-
conteúdos autônomos, troca de notícia e informação, queríamos entrar em contato com esse
do. A base do patriarcado se constrói colocando homens e características masculinas como
universo mais de perto. Desta maneira criamos um questionário para recrutar alguns jovens e
racionalidade, frieza, brutalidade e intelectualidade no topo da hierarquia social, repudiando
entremos em contato por email com alguns criadores de conteúdo e especialistas.
mulheres e designando características femininas ligadas à emoção, cuidado e sensibilidade
como ruins e inferiores. Essa ideia de gênero binário e morfológico tomava o corpo como
Com os especialistas, procuramos orientação de pessoas dentro deste universo para compre-
classificação final de papéis e expectativas.
ender melhor com o que estamos lidando. Criar uma base real e humana com esse contato
mais próximo foi importante para estabelecermos nosso foco e desenvolvermos nossos insi-
A comunidade LGBTQ é infligida por esses ideais ao fugirem da ideia heteronormativa do que ghts no futuro.
é “correto moralmente”. Dessa maneira, de acordo com a advogada Camargo, a repressão da
expressão pessoal dessas pessoas vem quando o comportamento expressado por elas não
é o estipulado propriamente para seu “sexo”, com isso condenando relações homoafetivas, 2.2. OBJETIVOS
expressões de gênero fora do padrão, etc. A ideia de binariedade estipulada pelo patriarca-
do funciona para manter a alienação e a segregação, ignorando as diversas características Nosso objetivo visava em coletar dados dentro da realidade brasileira que acompanharia nos-
que englobam gênero e sexualidade, de acordo com a autora. Com isso, a opressão obriga sa pesquisa, além de chamar esses adolescentes e jovens adultas para entender melhor sua
pessoas a se encaixarem nesses padrões ou serem corrigidos por métodos violentos de de- vivência e avanço ou progresso que tiveram ao ter contato com a existência da representação
sumanização. ou a falta dela durante sua infância, ver mais de perto essa formação até os dias de hoje.

2.3. PLATAFORMAS EM DISCUSSÃO

Para chegar aos entrevistados do público alvo, realizamos um questionário online préviamen-
te para compreender um pouco mais nossos usuários. Em gráfico de resposta do questio-
nário, pudemos constatar quais eram as plataformas midiáticas mais usadas pelos jovens e,
assim, caracterizá-las de certa forma.

Plataformas de exposição são todas as quais o conteúdo passa por uma equipe de aprovação
do produto para só assim ser produzido, levando o conteúdo a atender, em sua maioria, a
opinião da maioria. Exemplos como essas plataformas são: canais de televisão aberta, plata-
formas de streaming e jogos eletrônicos de grande empresas.

Redes sociais de exposição são plataformas mais abrangentes, na qual a criação de conteú-
do independente se torna mais presente, a medida que o conteúdo passa por menos barrei-
ras de aprovação. Exemplos como essa plataforma são: Youtube, Webtoon, Tiktok, Twitter e
Instagram.

Redes sociais de discussão são plataformas direcionadas a discussão, troca de opiniões e


informações. Estas são bastante usadas pelas comunidade e grupos diversos para manterem
contato e troca de ideias, sendo exemplos dessas plataformas: Amino, Reddit e Facebook.
25 Pinkcapitalism, ou “Capitalismo Rosa”, é o termo utilizado para designar a incorporação dos dis- Após realizar essa caracterização, percebemos que redes sociais de exposição são as mais
cursos do movimento LGBTQ à economia de mercado, especialmente do modelo de homem gay cis utilizadas por criadores de conteúdos como meio de autopublicação, por serem mais viáveis
ocidental, branco e de classe média alta
e não restringir de forma exacerbada temas e interesses como as mídias tradicionais. A es-
26 Do inglês, commodification, é a transformação de bens, serviços, ideias, informação pessoal e
pecialista Renata Nolasco afirmar também, que a internet e o espaço de autopublicação tem
pessoas em commodities, ou seja, objetos de troca
18 19
aumentado bastante, diminuindo a necessidade de recorrer a grandes mídias para buscar
representatividades que nem sempre são as ideias.

Figura 6 - Gráfico de Respostas do Questionário

Fonte: Giovanna Bilotta e Ju Moura (2020)

2.4.1 Adolescentes

Carolina de Assis é assexual, tem vinte anos e está terminando a faculdade de design. Seus
passatempos favoritos são desenhar, pintar e customizar bonecas e que, além disso, deixa
seu youtube aberto praticamente o dia todo, geralmente com vídeos de jogos ou críticas de
filmes e séries.
Fonte: Giovanna Bilotta, Haykal Moragas, Ju Moura e Nicole Schlanger
Dos gêneros de entretenimento que a chamam mais atenção, ela aponta animação e comédia
romântica, porém comenta também que prefere quando os gêneros se misturam. Para jogos,
2.4. ENTREVISTAS
apresenta um gosto maior por simulação e aventura gráfica.
Nossos jovens entrevistados foram recrutados através do nosso questionário, nele pedimos
Quando perguntamos a ela sobre representatividade, ela comentou sobre uma visão geral da
contato por email ou whatsapp e fomos atrás de todos que se disponibilizaram. De cinquenta
realidade brasileira, a qual nunca se sentiu representada já que não via sua realidade nos pro-
participantes, conseguimos conversar com seis para ir mais a fundo em suas vivências pes-
gramas, desenhos e jogos. Outro fator discutido foi sobre a questão de representação queer:
soais.
“Tem hora que eles querem representar alguma coisa e não sabem como. Fica tão jogado que
Quanto aos especialistas, procuramos orientação de pessoas dentro deste universo para me-
falta personalidade nos personagens, eles só servem para estar lá como se fosse cota. Falta
lhor compreendê-lo. Criar uma base real e humana de contato mais próximo foi importante
personagem bem construído e com representatividade” disse Carolina na entrevista.
para estabelecermos nosso foco e desenvolvermos nossos insights no futuro, juntamente aos
dados frios. Seu contato com a religião mais conservadora fez com que tivesse um pensamento muito LGB-
TQfóbico. Ela comenta isso e reforça que a culpa é da mídia, por ao invés de mostrar a realidade,
Figura 5 - Representação visual da pesquisa de campo mostra estereótipos de reforço ao discurso de ódio contra a comunidade LGBTQ. Carolina só
desconstruiu esses conceitos com o contato com sua prima lésbica e seu melhor amigo trans.

No seu auto descobrimento, ela aprendeu sobre a assexualidade pela plataforma do tiktok e
de tirinhas feitas por artistas autônomos. Por esse motivo, apoia e gostaria de ver mais sobre
o tema em grandes mídias, para se sentir validada.

Cecília Diniz é bissexual e tem 17 anos. No seu tempo livre gosta de ler na internet, ficar no
Youtube e no Twitter, jogar The Sims, desenhar e escrever, principalmente fanfics que posta
Tumblr e no Archive of Our Own. Fala que não tem um grande público, mas que fica muito
feliz que pessoas acompanham seus trabalhos, é uma experiência boa que fez ela crescer
bastante.

Seus gêneros de entretenimento favoritos, estão comédia romântica, musical, fantasia, sus-
pense, mas não os que dão susto. Ela não tem uma simpatia por ação e nem conteúdos que
apresentam um clima muito pesado, porém assiste às vezes. Os personagens que ela mais
tem interesse são os que apresentam camadas, com um desenvolvimento e crescimento

20 21
próprio. cisou pesquisar e descobrir sobre sozinho, sem muitas referências. Ele teme como poderia ter
sido complicado se tivesse um grande contato com discursos de ódio.
O tema LGBTQ sempre foi discutido abertamente dentro de casa com a sua mãe, e comenta
que na escola, assuntos de minoria sempre são pautas comentadas. Entretanto, o de sexua- “Não teria acontecido se eu não compreendesse que é algo normal. Então o primeiro contato
lidade e gênero é o que se menos discute, ela acredita que essa temática ainda não é muito do assunto para a criança não pode ser de ódio, isso pode causar um sentimento de confusão
aceita nesse ambiente. e vergonha…”, diz ele.

Seu processo de autodescobrimento ainda está acontecendo, Cecília afirma que foi aos 15 Em relação ao seu gênero, comenta ter sido uma montanha-russa por não era questão de
anos que teve seu maior contato com as redes sociais e tópicos LGBTQ, quando começou se aceitar, mas medo de ser invalidado e essa insegurança é presente até hoje.
a entender melhor a comunidade e a si mesma. A representatividade foi crucial, ela comenta
que foi por conta de uma personagem de jogo que começou a se entender melhor. Marianna Bilotta é gênero fluido, panssexual e tem dezesseis anos, estudante que usa seu
tempo livre para se dedicar a arte, gosta de cantar, desenhar, pintar quadros e criar textos
Cinthia Recruz é uma jovem bissexual de vinte anos que atualmente, em 2020, mora com como poemas. Ela também comenta que pesquisa bastante sobre universidades de fora do
sua mãe, padrasto e irmão mais novo. Ela comentou que estava planejando se mudar, porém país, pois pretende estudar no exterior um dia.
com a situação do codiv-19, esse plano ficou para 2021. No momento é desempregada e não
estuda, porém tem o hobby de desenhar e geralmente vende seus trabalhos pela internet. Seus gêneros de entretenimento favoritos são musical, animação e comédia romântica. Ela
Seu passatempo favorito é jogar pelo celular e jogar RPG27 com os amigos pela plataforma percebe que a fórmula usada em quantidade nos filmes e séries são as que representam um
do Discord. casal hétero que passam por alguma desventura, mas voltam a ficar juntos no final, enquanto
a animação tem sempre um elementos e temáticas mais criativos e diferenciados.
Dos gêneros de entretenimento, Cinthia comenta que prefere animação e também documen-
tários na infância por ser uma criança interessada em aprender. Infelizmente, relata que não Falando sobre representatividade, Marianna percebe a falta dela e comenta que quando exis-
via muita representação e essa realidade foi muito prejudicial para a sua etapa de auto des- te, sempre apresenta o mesmo enredo e artifícios. Já em animação, a indústria entende como
cobrimento. Seu primeiro e único contato na adolescência não envolveu mídia, família e nem se o conteúdo LGBTQ fosse impróprio para crianças e familiares, deixando de lado princi-
a escola: foi através de uma amiga que assumiu gostar de meninas em uma conversa dentro palmente representação de transgêneros. A importância da visibilidade na mídia, para ela, é
do seu grupo social. principalmente ajudar os outros as se sentirem incluídos, justamente por experiência própria.

Por conta de sua vivência, percebeu o como a representação faz falta, porém, comenta que Seu processo de auto descobrimento teve altos e baixos, disse que você nunca sabe qual
é preciso falar do assunto da maneira correta para não se tornar uma representação nociva, vai ser a reação das pessoas a sua volta. Em casa, o assunto não era comentado de início,
não bastando utilizar representatividade como cota. havendo depois o preconceito explícito quando Marianna levou sua namorada pela primeira
vez para conhecer sua família. Depois de inúmeras discussões, seus pais começam a aceitar
Seu processo de auto descobrimento foi aos quatorze anos e passou muita negação no início, sua realidade.

“Esconder quem você é e não saber ao certo como as pessoas ao seu redor vão agir é uma Pâmela Thompson é lésbica, tem 20 anos e estuda letras-francês na UFF. No seu tempo livre
das piores coisas que alguém pode passar. Depois que eu admiti como realmente me sen- tem o hábito de ler, tocar violão e atualmente começou a gravar vídeos para o seu canal no
tia, as coisas melhoraram” conta Cinthia em entrevista. youtube. Ela conta um pouco de suas preferências de gêneros em livros, que são os contos e
crônicas, que costumam ter uma leitura rápida e podem ser lidos a qualquer momento do dia
Ivan Luiz Pimentel é não-binário, pansexual, tem dezenove anos e não tem preferência sem a necessidade de uma leitura contínua.
para uso de pronomes no dia a dia. Estuda design de mídia digital e sua rotina se baseia em
fazer trabalhos, desenhar e ver vídeos no youtube. Já em séries e filmes, comenta que costuma maratonar qualquer um que seja original Ne-
tflix, geralmente comédias românticas ou os que trazem temas que gerem reflexões mais
Dos seus gêneros de entretenimento favoritos, Ivan comenta que animação sempre foi profundas, trazem questionamentos sobre o mundo e a sociedade atual. No Youtube, ela
sua preferência, já que as possibilidades narrativas sempre são infinitas. Para jogos, suas consome videos de Daily Vlogs e vídeos relaxantes, que se tornou um hábito antes de dormir.
escolhas são principalmente os que dão liberdade de criação e exploração, especialmente Seu autodescobrimento ainda está acontecendo, já que pelas palavras dela, isso é uma cons-
quando podem ser jogados com amigos. tante, estamos nos descobrindo o tempo todo. Mas quando tinha dezesseis anos e se enten-
deu como lésbica, precisou buscar referências e conteúdos para que se acalmasse, buscava
O jovem fala um pouco sobre ser co-criador de uma história em quadrinhos na qual o protago- explicações de como lidar com esses sentimentos que não estavam ali antes. Queria achar
nista é um jovem gay. Ele aborda o assunto de maneira natural dentro de sua criação: em vídeos, filmes, livros e pessoas que falassem sobre a sua realidade:

“Uma forma muito boa de normalizar ele ser gay, ela ser lésbica, ser transexual é por simples- “Entrar em contato com alguem que ja tenha passado pelas mesmas dificuldades que a
mente ser, não ter um motivo narrativo de ele ser assim, igual na realidade. Tento botar isso gente passou em algum momento da vida e saber que aquilo vai ser só um momento ruim
nos meus projetos de quadrinho” disse Ivan na entrevista. que um dia vai acabar” diz Pâmela na entrevista.
Ele passou por dois processos de auto descobrimento: sexualidade e de gênero. A questão
da sexualidade se apresentou no ensino fundamental, comentou que foi “tranquilo”, mas pre-
27 Role Playing Game, ou jogo de interpretação de papéis no qual há criação de uma narrativa con-
A representatividade influenciou a sua vida seu canal do Youtube. Comenta que uma grande
junta
22 23
inspiração é Mari Morena28, que de tempos e tempos disponibiliza vídeos mostrando seu co- pautas aos seus editores relacionadas à comunidade queer. Dentro desse período redigiu di-
tidiano e rotina junto de sua namorada. Pâmela a admira por ser uma maneira de naturalizar versos artigos sobre entretenimento, arte, política, etc. Saindo do jornal, Felipe buscou cana-
essa questão da homossexualidade, muitas pessoas criam essa distância e veem como algo lizar esse conteúdo que fazia enquanto contratado para seu meio de autopublicação, criando
diferente, quando na realidade é bem parecido como a vivência de um casal hétero: a revista Rio Gay Life.

“Esses canais me inspiraram a, de certa forma, representar outras pessoas e acolher mais Em nossa entrevista, Felipe comentou sobre a dificuldade de conciliar seus interesses de pes-
gente da comunidade”. quisa, com a vendabilidade de suas matérias. Tanto em conteúdo contratado, quando você
deve convencer seus superiores da pertinência dos temas, como no autopublicado, em que
2.4.2. Especialistas você deve encontrar seu próprio nicho, que se interesse pelo proposto, existem dificuldades
a serem superadas:
Renata Nolasco é uma criadora de conteúdo independente de 24 anos. Trabalha principal-
mente como ilustradora mas também é quadrinista, escrevendo suas próprias histórias. Tra- “É difícil de construir o trabalho independente, pela militância, existe uma dificuldade de se
balhou em diversas parcerias por causas LGBTQ, como a coletânea Sob a luz do arco-íris e virar com os próprios recursos, dependendo de anunciantes pra revista. Já as empresas têm
Histórias quentinhas sobre sair do armário. Além disso, suas obras autorais também abordam muita restrição à se associar com marcas e produtos destinados ao público LGBT.”
a questão LGBTQ de forma intrínseca a narrativa, como em Só Ana, na qual a personagem
principal é lésbica, mas a principal trama da história é sobre ela ser uma heroína e as conse- Em seu trabalho, o jornalista também percebeu que a figura do indivíduo LGBTQ é muito es-
quências de sua vida dupla. tigmatizada, portanto, torna-se difícil incluir pessoas queer em reportagens cotidianas. Existe
uma idéia dentro do meio da comunicação de que minorias apenas existem dentro do contex-
Ao conversarmos com a autora, pudemos ver um pouco sobre seu processo de criação e to de minoria:
como trabalhava com a sexualidade e gênero de seus personagens. “Acredito que suas his-
tórias, como autor, sejam um reflexo do ambiente a sua volta”, como diz Renata, é um fator “Editor mais velho, de 50 anos, tem cabeça fechada, é difícil de propor pauta sobre sexu-
decisivo para se entender os problemas com a representatividade na mídia: também não há alidade. Falta a naturalização, (...) as redações têm muitos chefes homens héteros, muito
diversidade no meio dos criadores. fechados.”

“Mais importante pra mim do que ler sobre minorias de poder é saber que criadores de mino- Entretanto, Felipe ressalta que houve sim uma evolução desde quando se formou:
rias de poder estão escrevendo e sendo lidos, porque isso significa mais do que uma estreli-
nha de progressista, significa que uma visão de mundo está sendo compartilhada.” “Editorialmente, houve uma evolução mas tá longe do ideal. É possível pautar aqui e ali uma
matéria sobre o tema, mas se você colocar com frequência ficam achando que você quer falar
Com isso, ela conta como a visão conservadora assimila a inclusão de diversidade, principal- sobre um assunto só.”
mente LGBTQ, como uma cota desnecessária, já que se foi codificado o padrão de humano
como homem branco cis-hétero, logo todos que saem desse papel precisam de um motivo
para terem suas histórias contadas, ainda são vistos como agenda.

Renata também comentou sobre como a representação feita de forma estigmatizada pode
prejudicar a visão de uma pessoa sobre si mesma:

“Odiava personagens mulheres, elas eram sempre tão bonitonas e maquiadas e sedutoras e
nada como eu e nada como eu queria ser … por muito tempo me perguntei se isso não era
só misoginia internalizada me fazendo odiar o feminino e me espelhar em mulheres “masculi-
nas”, mas hoje eu detesto essa classificação.

Não existe isso de “mulher masculina”, existem mulheres e suas personalidades. Eu teria
odiado menos a feminilidade se ela não tivesse sido escrita por homens que consideram fe-
minino uma fraqueza.”

Esse problema se estende a ideia de reduzirem minorias a um papel somente, negando a di-
versidade de identidades. Dessa forma, a ilustradora afirma a importância da autopublicação
para a melhora da representação, no momento que as pessoas começam a procurar por re-
presentatividade em trabalhos de artistas LGBTQ do próprio bairro, diminuindo a importância
da grande mídia e abrindo espaço para que ela reconheça a necessidade de contratar esses
autores também.
Felipe Martins é um jornalista, professor e especialista em cidadania LGBTQ. Ele se formou
em 2003 em jornalismo, passando por veículos como UOL e O Dia, sempre procurando levar
28 Youtuber que apresenta vídeos sobre produtos de beleza e temáticas LGBTQ.
24 25
3. JORNADA DO USUÁRIO
SEM REPRESENTATIVIDADE

HORARIOS DO DIA 7:00 7:30 - 12:30 13:30 15:00 17:00 00:00

FAZENDO

Acorda cedo durante a Assiste à aula online Almoça vendo televisão Faz os deveres de casa Descansa, mexe nas Deita-se para dormir
semana para presenciar
passado pelos redes sociais
a aula online
professores

Não queria acordar É importante assistir, Por que o LGBTQ Não é a melhor Nada de tão Ser diferente não
mas é muito chato desse filme é o coisa, mas tenho que relevante parece nada bom
Cama confortável vilão? estudar
Algumas matérias Sempre as mesmas Me sinto cada vez
são legais, mas nem Quase não aparece É importante para coisas mais sozinho
todas LGBTQ, e quando aprender
PENSANDO aparece ele é todo Por que eu sou
esquisito assim?

Chateado Normal Chateado Encucado Sem senso de Desconfortável


pertencimento
Cansado Não se sente Concentrado Triste
representado
SENTINDO Solitário

COM REPRESENTATIVIDADE

FAZENDO

Acorda cedo durante a Assiste à aula online Almoça vendo videos Faz os deveres de casa Descansa, mexe nas Antes de dormir lê
semana para presenciar
no youtube passado pelos redes sociais webcomics
a aula online
professores

Não queria acordar É importante assistir, Conteúdo que me Não é a melhor Muitas discussões e Essa comic entende
mas é muito chato representa coisa, mas tenho que conteúdos LGBTQ perfeitamente como
Cama confortável estudar disponíveis online, eu me sinto
Algumas matérias Essa pessoa passou isso é muito bom
são legais, mas nem pelo mesmo que eu, É importante para Esse personagem é
todas que bom que não aprender igual a mim, que
PENSANDO estou sozinho legal
Ainda bem que
existem videos que
apresentam esse tipo
de conteúdo

Chateado Normal Contete Encucado Feliz Representado


Cansado Feliz Concentrado Representado Satisfeito
SENTINDO Senso de vinculo Interessado Aceito

26 27
A partir dos nosso dados coletados pelo questionário e entrevistas pudemos montar dois tipos 4. BRIEFING & CONSIDERAÇÕES FINAIS DA G1
principais de usuários para a nossa jornada: os que não têm acesso a representatividade e
os que possuem esse acesso. Por fim, serão expostos nossos insights e nossas conclusões referentes a textos e pesquisas
lidas e analisadas durante o decorrer do projeto. Dessa forma, explicaremos pontos impor-
Os que não têm acesso a uma representatividade verossímil, como por meio de pessoas que tantes para o desenvolvimento do trabalho como um todo, a importância dele, não só para o
não participam da comunidade LGBTQ, podem ter uma dificuldade de conexão com persona- jovem mas os impactos sociais que ele gera, e de que forma pretendemos abordar e trabalhar
gem, muitas vezes estereotipado e irreal. Dessa forma, o público tem dificuldade de se aceitar os temas anteriormente escritos.
pelo medo de não ser aceito pela sociedade, visto que os personagens da televisão são rasos
e superficiais, forçados. Com isso, o adolescente sofre diversas sequelas negativas, como 4.1. INSIGHTS
podemos observar nos pensamentos e sentimentos expressados e apresentados na Jornada
do Usuário. Nesse caso, o desenvolvimento psicossocial daqueles na fase da incerteza é
Pessoas LGBTQ não são garantidas espaço de fala quanto a assuntos cotidianos por
afetado, comprometendo a formação de identidade desses.
conta da marginalização das pessoas dessa comunidade.
Os que têm acesso a uma representatividade realista, como por meio de protagonistas reais e O jornalista Felipe comentou sobre a realidade na escolha de pessoas para realizar entre-
de profundidade psicológica, que efetivamente participam da comunidade LGBTQ, possuem vistas para a mídia jornalística: é comum a preferência àqueles dentro do padrão social para
maior facilidade de se conectarem com os personagens que se parecem com o público que expressar opiniões sobre assuntos cotidianos, abafando sua humanidade por não serem ga-
os assiste. Com isso, o adolescente é capaz de encontrar a própria identidade e evoluir com rantidas espaço de fala. Essa situação se assemelha a falta de LGBTQs em obras que não
mais apoio da mídia, como podemos observar nos pensamentos e sentimentos expressados sejam focadas em histórias de descobrimento, segregando o discurso queer a somente suas
e apresentados na Jornada do Usuário. Nesse caso, essa fase do desenvolvimento psicos- orientações sexuais e de gênero.
social é cumprida e facilitada pela exposição à personagens mais complexos, formando gera-
ções mais receptivas para com as diversas identidades sexuais e de gênero. “A própria indústria cultural colabora muito com isso [homofobia]. Nas novelas e nos progra-
mas humorísticos, o espaço concedido ao homossexual é o do humor. A ausência dessas
Todos esse pontos são trabalhados no diagrama, de forma minuciosa: através de ações, pessoas em literatura ou outros ambientes é uma violência. (...) Não se cria repertório e quan-
pensamentos e sentimentos. Sobre as ações, generaliza-se uma rotina de pontos chaves no do não se tem isso, não tem uma normalidade.”
cotidiano do adolescente em isolamento social. Já sobre os pensamentos, explicita-se como
o jovem lida com os momentos apresentados, e os sentimentos, como ele se sente durante Integrante da Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, Grazielle
a exposição. Tagliamento, comenta como essa normalização da pessoa LGBTQ como pessoa é importan-
te, quando se resume uma comunidade a uma imagem rasa e estereotipada, sua realidade é
O esquema sintetiza como os dois casos, de contato e não contato da mídia LGBTQ, afetam o menosprezada e não se dificulta a criação de empatia com o diferente.
dia-a-dia do jovem. Isso se mostra por meio de ilustrações, anotações e símbolos, garantindo
a compreensão. A discrepância na representação de homens gays e outras pessoas de dentro da comu-
nidade LGBTQ se dá por conta da tradição patriarcal.

A pesquisa realizada pela revista Superinteressante demonstra uma discrepância entre a re-
presentação do público homossexual masculino e o restante da comunidade LGBTQ nas
produções de telenovelas brasileiras. Essa disparidade nasce no momento em que, numa so-
ciedade patriarcal, a figura do homem já é explorada e desenvolvida naturalmente, portanto, o
próximo passo para sua representatividade seria a exploração da sexualidade, enquanto que
a parcela feminina da população ainda luta pela visibilidade.

A tradição de criar personagens “minorias” rasos e sem falas desfavorece ainda mais
a representatividade LGBTQ, que necessita do desenvolvimento de características e
história para existir.

A diferença na escrita de personagens de grupos oprimidos se dá principalmente por conta


da questão de censura. Por meio da fala da artista Renata Nolasco, na qual ela pontua seu
desagrado com a representação de personagens femininas na mídia e a falta total de perso-
nagens LGBTQ, pudemos perceber que a construção de representação LGBTQ é ainda me-
nos explorada por necessitar de desenvolvimento no papel do personagem, não só um corpo
para fazer-se raso. Para que um personagem seja realmente queer, é preciso dar a ele falas
e o deixar ter uma voz para contar sua história, uma situação indesejada para as pessoas que
desejam manter essa comunidade abafada. A mídia usada como reforço do imaginário social
sobre padrões comportamentais, de acordo com Heloísa Souza, doutora em ciências sociais,

explora do corpo das mulheres para manter o ideal de submissão e inferioridade, enquanto
28 29
usa desse artifício para invisibilizar a existência da comunidade LGBTQ ao todo. 5. CONTEÚDO REVISADO
A representação é essencial para a autoaceitação do jovem por meio da reafirmação de Após segunda análise, junto aos professores de pauta e de orientação, tanto nossos conceitos
sua identidade. de Objetivo como Insights passaram por algumas mudanças, para melhor enquadrarem-se
em nossa visão de projeto. Abrigando a ideia, não nova, porém amadurecida de que, apesar
Confirmando os dados do professor em questões LGBTQ Bradley Bond, a entrevistada Cin- de estarmos trabalhando com a Representatividade LGBTQ na Mídia Visual, nossas propos-
thia Recruz comenta como é difícil para ela viver tendo que esconder uma parte importante de tas estão muito mais profundamente relacionadas com os ideais de autoaceitação e autoex-
si mesma, com medo da reação externa. O jovem, por estar exposto a pressões do sistema pressão do que a mídia visual em si que, apesar de permitir e auxiliar no entendimento desse
para se adequar a um padrão estipulado, cria barreiras para evitar expressar sua individuali- estado, capaz de eliminar um discurso nocivo, é apenas um dos veículos dessa influência.
dade quando não se sente em um ambiente seguro. O tabu envolvendo orientação sexual e
gênero acarreta em agravamento dos sentimentos ruins sobre si mesmo, tornando a repre- Ao se assistirem representados, os jovens podem enxergar e construir-se mais fortes e inte-
sentatividade na mídia fundamental para a reafirmação do adolescente ao se ver refletido. grados com suas personalidade e identidade. Entretanto, passamos a entender que assistir-
Essa experiência traz conforto e serve de escape como um espaço seguro. De acordo com a -se é apenas o primeiro passo: precisamos trabalhar com ideais muito mais profundos que a
psicóloga Rafaela Vasconcelos Freitas: representatividade, ou seja, trabalhar com protagonismo. Colocando o adolescente em foco,
mudamos o discurso de passivo para ativo, no qual ele deixa de estar na posição de espec-
“Quanto mais cedo as crianças visualizarem que existem outras experiências de afeto, sexu-
alidade e de família, mais fácil é para elas entenderem que isso faz parte da realidade (...)”. tador para construtor da própria narrativa, capaz de contar e criar suas histórias e vivências.

4.2. CONCLUSÃO

Em nosso briefing, vimos que nossos usuários e stakeholders, isto é, os envolvidos e aqueles
impactados com nosso projeto, são os adolescentes, criadores de conteúdo, pais e pares.
Dentro da situação de uso, é possível a solução ser física ou virtual, para ser utilizada em
momentos do dia de lazer, inspiração e busca de acolhimento, com o foco de usuário na fase
de desenvolvimento psicossocial, doze aos dezoito anos.

Em seguida, chegamos em nossos insights, sendo possível ver nossos achados inesperados
dentro de nossa pesquisa, as necessidades e desejos dentro do grupo, histórias individuais
que afirmam nossos dados para dar relevância a propósitos e por fim, ver as visões de futuro
desejado no universo do projeto.

Com todas as nossas pesquisas e análises, alcançamos o que seria o nosso objetivo a ser
atingido pela solução do projeto: Dar mais visibilidade ao público LGBTQ, tendo o precon-
ceito como problema a ser resolvido. Isso nos faz a pensar em nossos parâmetros, em que
utilizaremos obrigatoriamente a orientação positiva para o autodesenvolvimento durante um
período de busca de referências não-parentais e, principalmente, a geração de empatia. Deve
se evitar ao máximo estereótipos e construção de representatividade rasa com o personagem
queer sem um enredo mais elaborado, com pouca humanização. Os aspectos desejáveis que
não estão direcionados diretamente ao nosso objetivo é criar estilos e narrativas que cativam
o público jovem e também dialoga com um público mais velho, além do conteúdo ser acessí-
vel e compartilhável.

Nossas relevância e impacto, nos quais acentuamos a importância de atingir o objetivo, são
criar um espaço seguro para a exploração da identidade e também um senso de pertenci-
mento e acolhimentos para uma comunidade marginalizada. Caso não exploremos o uso de
empatia, existe uma grande possibilidade de rejeição do público, por conta do contexto social
de rejeição ao diferente. A relevância a curto prazo do projeto é atuar com os adolescentes,
no processo de autoaceitação; em médio, visamos o núcleo familiar, para gerar cada vez
mais apoio e, por fim, no longo prazo, seria o restante da comunidade, desenvolvendo um
ambiente inteiro seguro para a expressão da individualidade e normalização da diversidade
como o comum.

30 31
6. BRIEFING DE PROJETO 6.2. OBJETIVO A SER ATINGIDO

O objetivo do projeto é alcançar um nível de empatia e autoaceitação para/com jovens perten-


Insights: centes à comunidade LGBTQ, normalizando a representatividade LGBTQ para a integração
saudável dos grupos na sociedade. Dessa forma, visamos superar o problema da não comu-
Durante pesquisas e entrevistas, tivemos achados importantes e inesperados que auxiliaram
nicação sobre o assunto, dentro e fora da comunidade. Logo, ao garantir igual representativi-
na nossa formação de ideias e conclusões do tema de projeto. Conseguimos analisar neces-
dade a todos os membros do grupo LGBTQ, sem distinção por gênero e cor, espera-se que
sidades e desejos da comunidade por meio das pesquisas de campo e afirmar dados com
diferentes orientações sexuais e de gênero sejam aceitas, livres de preconceito.
depoimentos de demais membros.

O Insight no qual vimos que “Pessoas LGBTQ não têm garantias de espaço de fala sobre as- 6.3. PARÂMETROS CONCEITUAIS
suntos cotidianos por conta da marginalização dessa comunidade” pode ser ligado ao “Cria-
dores independentes de conteúdo sobre o tema utilizam a internet para a autopublicação viá- - Empatia
vel por haver menos restrição a esse conteúdo”, já que aponta a internet como uma solução - Conversa e ajuda
para a liberdade na produção dos seus conteúdos autorais sem a existência de uma censura - Igualitário
pelas grandes empresas. - Divertido
- Propagável
Analisando questões de preconceito como “Pessoas da comunidade LGBTQ por estarem - Incentivo a exploração de identidades
em contato constante com a LGBTQfobia ainda reproduzem discursos “LGBTQfóbicos” se
relaciona diretamente a pontos da nossa sociedade atual, em que “A maior representação de Nossos parâmetros para chegar ao objetivo em foco incluem, principalmente, a criação de
homens gays em relação a outras pessoas da comunidade LGBTQ se dá por conta da tradi- um espaço seguro. Para incentivar a exploração e o fortalecimento da construção identitária,
ção patriarcal”. É algo tão enraizado que afeta a própria comunidade. é importante adicionar o fator de empatia ao produto, descartando preconceitos para evitar a
autocensura. Dessa maneira, o ambiente de uso seria igualitário, dando voz a todas as perso-
Na mídia, analisando como a representatividade funciona, identificamos a “Necessidade de nalidades que o utilizam para gerar conversa e, assim, promover a empatia.
desenvolvimento narrativo para a criação de personagens minorias que representem LGBTQ”
e que a “A representação é essencial para a autoaceitação do jovem por meio da reafirmação Além disso, outro parâmetro importante é o fator divertimento do projeto. Para não evocar
de sua identidade”. Então é de extrema importância que personagens queer sejam escritos estigmas ao assunto de orientação LGBTQ, a linguagem do produto deve ser baseada no
de uma maneira em que o jovem possa se sentir acolhido ou representado, criando essa au- entretenimento do usuário, evitando a ideia de que esse tópico é sempre ligado ao sofrimento
toaceitação e liberdade de ser quem é. e a tabus. Ao incluirmos esse produto no lazer desse jovem, ele poderá propagar os objetivos
de empatia e conversa com os amigos sem se sentir amedrontado de haver comprometimen-
Usuários + stakeholders: to com pautas ou entrar em assuntos dolorosos sem necessidade.

Nossa solução de projeto impacta diretamente adolescentes na faixa entre 15 e 18 anos. Sua 6.4. IMPACTO / RELEVÂNCIA
família e pares também estariam envolvidos, já que são também possíveis usuários além des-
ses jovens. Como a produção do jogo é disponível de forma online, nosso cliente é o mesmo Com isso, observa-se que, ao criar tal espaço, cria-se também um local, tanto físico quanto
que o usuário, que iria adquiri-lo para uso próprio ou para presentear um conhecido. emocional, seguro para que o jovem possa explorar sua identidade, sem pressão de decisões
definitivas ou que suas atitudes gerem consequências reais com julgamentos. Ao colocar-se
6.1. SITUAÇÃO DE USO em uma posição de descontração, o adolescente se enxerga não mais como o foco de aten-
ções, mas protegido por personas que o inibem: a atleta, a nerd, a exotérica, a artista, todas
Em nossas pesquisas, observamos a frequente presença da discussão de assuntos LGBTQ são máscaras sociais efêmeras, e a sua efemeridade é importante para que o usuário possa
na Internet. Entretanto, tais assuntos mal são abordados em ambientes físicos, como nas experimentar e descobrir seus interesses e seu lugar no mundo.
escolas e dentro de casa. Portanto, optamos por um projeto físico, levando a discussão do
mundo virtual para o mundo real. Ao subverter o discurso do “é só uma fase” para uma métrica positiva, tornamos gênero e
sexualidade elementos da identidade também passíveis de exploração. Auxiliar o adolescen-
Nosso foco é tornar essa discussão mais constante entre os jovens, principalmente na faixa te a entender que essa descoberta é um processo: que é normal se entender, desentender,
dos 15 aos 18 anos, que estão passando pela fase da incerteza do desenvolvimento psi- mudar de rótulos durante ele. Tal ideia desconstrói a visão de que tudo é final e permanente,
cossocial. Tornar esse contato de diferentes orientações sexuais e de gênero apresenta-se auxiliando o jovem a ter uma transição menos conturbada entre as fases infantil e adulta.
necessário para a formação de identidade do jovem, que durante essa idade, busca por re-a-
firmação e aceitação. Dessa forma, o projeto tem os seguintes parâmetros: ser portátil, diver- Ao trazer a temática LGBTQ como uma opção de construção de identidade, cria-se um senso
tido e interativo, para ser usado em diferentes ocasiões e lugares com os amigos, e sempre de pertencimento e acolhimento para essa comunidade, que passa a se enxergar e ser en-
envolver a questão do debate saudável, seja onde for. xergada como parte da sociedade. Humanizar tais indivíduos por meio do exemplo os afasta
da visão mistificada de que são algo à parte do “normal”, colocando-os como mais uma forma
da diversidade humana.

32 33
Dessa maneira, as consequências desse projeto ramificam-se não somente afetando os pró- algo diferente toda vez que se entra no jogo, podendo investigar mais sobre as preferências,
prios adolescentes e como eles se enxergam, mas também como eles são recebidos e trata- gostos e orientações de seus personagens. Esse espaço no jogo, em que damos a liberdade
dos em seu núcleo familiar, de amizades e escolar. para os jovens de se experimentarem e testarem novas vivências, é o meio mais favorável
para a construção de autoaceitação e autodescobrimento.
6.5. MÉTRICA-CHAVE

- Aumentar exploração para fortalecer a identidade


- Portátil para alcançar o maior número de pessoas possível, com rapidez
- Divertido para gerar ambiente descontraido
- Representatividade igualitária e saudável para todas as identidades

Nossa primeira métrica-chave envolve aumentar a gama de explorações sobre identidades


para fortalecer uma principal. Para conseguirmos alcançá-la, tentamos desenvolver um jogo
fundamentado no acaso: um sistema de cartas a serem embaralhadas e compradas em or-
dens diversas durante toda partida. Dessa forma, a combinação desses diferentes elementos
faz com que sempre haja surpresas a cada jogada, não deixando o jogo repetitivo e exaustivo
de se jogar mais de uma vez. Podemos adicionar a essa categoria a forma de jogatina rápida
e sem muita complexidade, para o entendimento fácil e o engajamento sem muita dificuldade
ou experiências prévias.

Para alcançar o maior número de pessoas possível e desenvolver mais rapidamente a nor-
malização das diversas vivências, procuramos criar um produto portátil. O fácil acesso dessas
cartas se daria por meio da técnica de print & play. Com isso, procuramos levar a discussão
do tópico LGBTQ para escolas, festas e encontros com mais facilidade.

O ambiente descontraído para incentivar o “faz de conta” ao se colocar em diferentes papéis


será mais viável ao introduzir diversão à jogabilidade. Procuramos abordar a temática em
questão de maneira leve e convidativa para haver maior aceitação de todos os jovens, adicio-
nando piadas internas, aplicando uma linguagem visual que remete ao casual para conectar
de forma humorística os eventos do jogo em comparação com a própria vida dos usuários.
Para que o humor não seja extremamente temporal, há a possibilidade da adição de pacotes
de expansão, de acordo com as épocas, ou até da personalização pelos próprios usuários.

A representação igualitária e saudável para todas as identidades é fundamental no desen-


volvimento de empatia e diminuição do preconceito. Mostrar as diversas possibilidades de se
construir uma pessoa e a relação que ela tem com o mundo são imprescindíveis para norma-
lizar pessoas em estado de opressão e, então, poder integrá-las como iguais à sociedade.
Sendo assim, a jogabilidade do nosso jogo exalta a diferença e a usa como símbolo de força
para a criação de laços fortes para vencer diferentes situações cotidianas.

6.6. CONCEITO

No conceito, procuramos identificar o que o nosso jogo simboliza e como seria possível de-
monstrar todas as nossas ideias ao usuário em uma partida, buscando analogias e metáforas
de uma maneira simples sem pensar se é possível ou não reproduzir com a tecnologia ao nos-
so alcance. Essa decisão ajudou a nossa criatividade a encontrar a essência do nosso produto.

Dentre as ideias, podemos relacionar o nosso jogo a uma peça de teatro, em que cada joga-
dor assume um papel desconhecido e vai aprendendo sobre si mesmo durante o ato: “cal-
çar o sapato dos outros” e ter uma vivência de empatia, ajudando a relacionar sua vida ao
próximo, vendo coisas em comum e normalizando o que antes era tratado como diferente.

Outra metáfora explorada é a de realidades alternativas: cada partida sendo um “você” dife-
rente, explorando ao máximo diversas possibilidades. Dessa forma, cria-se a chance de tentar

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7. ANALISE DE SIMILARES 8. DESENHOS E ESTUDOS DE ALTERNATIVAS

7.1. SIMILARES Após definidos os parâmetros, selecionados e analisados os similares, partimos para a gera-
ção de diversas alternativas utópicas com o intuito de elaborar metáforas para melhor com-
Ao buscar possíveis soluções do nosso objetivo no mundo real, procuramos por aquelas que preendermos nossas intenções, e como pretendíamos executá-las. Partimos do princípio tal
trouxessem elementos de representatividade, seja ela LGBTQ ou de outros grupos, de forma qual tudo era possível: tecnologia avançada, orçamento indefinido e até mesmo elementos
saudável. Também procuramos por peças que tivessem como público-alvo os adolescentes, fantásticos. Dessa forma, pudemos expandir nossa margem de criação e definir múltiplas al-
com linguagem e visual próprios para atender a essa demanda. ternativas que jamais teríamos cogitado de outra forma.

Apesar de todos terem esses fundamentos em comum, eles podem ser abordados de diferen- Figura 6 - Similáres
tes formas, tons e níveis de interação com o usuário. Com o objetivo de melhor analisá-los, de
forma a identificar os pontos mais correlacionáveis com nosso ideal de solução em métricas e
parâmetros, dividimos os produtos em algumas categorias:

Gerador de discussão
Jogos de cartas como Cards Against Humanity trazem um elemento muito vivo como
gatilho para conversas. Tendo em sua mecânica o uso dos jogadores como jurados, a
conversa entre os participantes é imperativa.

Vivência LGBTQ imersiva


RPG’s como Monster Hearts usam da criação de personagens pelo jogador como
sua representatividade. Tendo o protagonismo dessa narrativa no jogador, podendo
escolher se personagem que interpreta é LGBTQ, é criado um cenário de exploração
profundo onde o jogador pode usar de suas próprias experiências na criação.

Denúncia e conscientização
Jogos como Pesterquest conseguem promover, ainda que de forma bem humorada, o
tom crítico necessário para abordar temas mais sérios.

Constroem narrativa relacionável sobre problemas reais e “como superá-los”


Narrativas, sejam livros, séries ou quadrinhos - como Nimona - que abordem os dra-
mas e problemas da juventude como eles são - de forma não-romantizada e mostran-
do que existem saídas e possibilidades de resolver e superar questões - são especial-
mente necessárias nessa fase de transição que é a adolescência.

Constroem narrativa de identificação acolhedora por personagem em contexto


utópico 8.1. PRIMEIRAS ALTERNATIVAS INDIVIDUAIS
Além da importância em identificar e abordar os temas da juventude, o adolescente
também sente a necessidade de “fugir” para um lugar onde tais problemas não exis- Seguindo as orientações dos professores, demos início ao desenvolvimento de algumas das
tam. Por conta disso, narrativas como She-ha: Princesas do Poder, em que as ques- ideias que achamos mais pertinentes para solucionar o objetivo do projeto. Essas primeiras
tões dos personagens não estão ligadas ao fato de ser LGBTQ, e ele simplesmente é alternativas individuais envolviam construir um desenho para melhor entender como funciona-
aceito como é por seus aliados ou inimigos, também torna-se necessária como esca- riam os produtos ao serem construídos no mundo real, não só das ideias.
pe. O adolescente precisa poder identificar que mesmo que ele não esteja nesse lugar
agora, o espaço onde ele é visto e aceito existe. As três alternativas de Giovanna incluíam ideias de interatividade do usuário com o conteúdo
e promovia conversas com outras pessoas. Essas alternativas foram: um jogo de cartas com
Oferece apoio a pessoas reais temática Drag com propostas de desafios artísticos e divertidos para desenvolver a expres-
Canais de suporte como The Trevor Project tornam-se efetivos e necessários por in- são pessoal; um clube do livro RA (realidade aumentada), o qual funcionaria como espaço de
filtrar sua voz um núcleos que não oferecem suporte e incluir o adolescente que não compartilhamento de histórias criadas a partir de uma mesma base narrativa, contida nesse
enxerga saída e não está em um lugar seguro para se expressar. livro, onde os integrantes poderiam contar e mostrar como suas escolhas moldaram os rumos
da ficção; um espaço de simulação para debate em que as pessoas interpretem papéis de
Dessa forma, procuramos unir todos os elementos que julgamos necessários em um só proje- poder e tomem decisões, a partir da conversa e dialética, sobre tópicos como legalização do
to. Apesar de as alternativas citadas já existirem e executarem seu papel em seus ambientes casamento homossexual. A partir dessas primeiras ideias, a aluna adaptou os mapas visuais
propostos, sentimos uma carência de um objeto que pudesse estar com o adolescente e ser- para construir uma maquete do clube do livro, mostrando a interação da ideia com seus usu-
vir como um gatilho para criar esse círculo de descontração e apoio, sem o peso de algumas ários em um espaço.
das alternativas.
36 37
Haykal procurou desenhar ideias para fortalecer a própria pessoa LGBTQ dentro da socieda- participantes na mesa. Nele não se nomeia ganhador ou perdedor: não cabe ninguém julgar
de. As quatro soluções do aluno incluíam um óculos que permite saber a orientação sexual e qual história e sentimento é merecedor de ser o melhor, afinal, não é essa a proposta. O jogo
gênero das pessoas, para evitar discursos preconceituosos ou errôneos por conta da ignorân- está mais para ser um estimulante de iniciar uma conversa, além de poder ser usado de forma
cia; um zíper de boca para impedir o usuário de machucar outras pessoas com suas palavras; terapêutica e de desabafo.
uma roupa de super herói feita para dar força às pessoas LGBTQ no combate à discriminação
e, por fim, um sistema de personalização para jogos que possua opções diversas para criação A alternativa gerada por Haykal e Ju procurava trazer o tópico de exploração e troca de uma
de personagens. forma mais cômica. As cartas humoradas levavam o jovem a criar uma conexão com o conte-
údo do jogo e construíam um ambiente leve para abordar assuntos complexos, que poderiam
Nas alternativas de Ju, ele buscou usar ideais de cooperatividade e competitividade entre apresentar dificuldade de terem sido abordados em outra situação por conta do medo.
os participantes. Entre elas, estavam: Uma plataforma que unisse diversos blogs, sites e
portfólios de diferentes artistas jovens LGBTQ para que pudessem compartilhar seus traba-
8.2. VISUAL NOVEL
lhos entre si, criando conexões e dividindo experiências. Em seguida, um jogo de tabuleiro
jogado em grupos, com seu principal foco em trazer discussões de dentro da esfera LGBTQ
para o ambiente físico, levando-o para dentro das casas e escolas desses jovens. Por fim, A visual novel é um jogo de narrativa visual com mecânicas de rpg de mesa. Ela usa do
foi formulada a ideia de um aplicativo no qual pessoas que estariam desenvolvendo projetos sistema jogo/mestre/jogador para criar uma experiência interativa em que os jogadores são
pudessem ser combinadas com trabalhadores LGBTQ interessados em prestar serviços de apresentados a um evento pelo jogo, mas eles mesmos desenvolvem a história por meio de
freelance para tais projetos. A partir dessas três alternativas, o aluno desenvolveu a maquete NPCs e seus próprios personagens. O jogo tenta abordar a vivência do cotidiano adolescen-
de um projeto de Game Jam com foco na temática LGBTQ em jogos, em que grupos de de- te, utilizando da construção de papéis para trabalhar o assunto da empatia ao poder explorar
signers e programadores pudessem reunir-se para desenvolver projetos durante um período com diferentes personas ao se distanciarem da auto censura.
de tempo pré-estabelecido, incentivando a criação, criatividade, a cooperação dentro e a com-
petitividade entre os grupos Figura 7 - Quiz

Na geração de três alternativas ilustradas da Nicole, foram exploradoras algumas soluções


difíceis de se alcançar com a tecnologia atual, já que a proposta do exercício é não criar bar-
reiras.

O primeiro produto seria um jogo de realidade virtual. Nele seria possível viver em um corpo
de outra pessoa, entender sua história e escolher seu rumo. É um exercício claro de empatia
e auxilia no autodescobrimento.

No segundo produto, a proposta seria um chip que censura conteúdos prejudiciais ao período
de desenvolvimento do jovem. Nele seria possível evitar a exposição ao preconceito e figuras
nocivas em personagem na mídia.Já no terceiro produto, é visto um espelho que traz a pro-
posta de poder modificar a sua aparência. Essa experiência, mesmo com suas falhas, evitaria
possíveis disforias com o próprio corpo e gênero.
O jogo teria três jogadores no máximo e cada um começaria respondendo algumas perguntas
A partir das características mais importantes dessas ideias, foram desenvolvidas outras al- de introdução. Essas perguntas gerariam dados para os status de personalidade, que ficariam
ternativas entre o grupo, focando na interatividade dos jogos como a maneira de envolver o visíveis durante o restante do jogo e poderiam mudar de acordo com escolhas futuras. Para
adolescente no assunto LGBTQ e de fortalecimento de sua identidade. Os alunos produziram iniciar a história realmente, o jogo apresentaria um evento e os jogadores se revezariam entre
três jogos durante esse momento, sendo eles dois sobre evocar sentimentos a partir de ideias seus personagens e os personagens não jogáveis (NPCs). As escolhas de fala seriam conta-
abstratas e gerar uma conversa a partir dessas imagens e outro sobre passar por obstáculos bilizadas aos status, no final do turno, assim como o tipo de interação que o personagem teve
do cotidiano adolescente, estipulados pelo jogo, trazendo o tópico de uma maneira menos com o NPC na rodada.
profunda. Figura 8 - Escolha de personagem

A ideia dos jogos de interpretação de imagem não traziam diretamente, em sua jogabilidade, o
tópico LGBTQ, mas trabalhavam a expressão de ideias que subvertem o padrão social de ra-
cionalidade e frigidez que censura as diferenças pessoais. O jogo desenvolvido por Nicole era
jogado somente com cartas ilustradas com desenhos surreais, os quais os jogadores deve-
riam interpretar da forma como acharem mais real para si mesmos, trazendo a tona as ques-
tões de diversidade e abrindo espaço para uma troca de vivências. Enquanto isso, o jogo de
Giovanna também possuía essas cartas incríveis, mas sua jogabilidade procurava ligar esses
sentimentos a um cenário concreto para se conectar ao cotidiano adolescente diretamente.

A mecânica seria bem simples, ao tirar uma carta de frase, cada jogador deve escolher uma
carta de ilustração e explicar a escolha. Dessa forma, seria possível gerar empatia entre os

38 39
Figura 9 - Diálogo Figura 9 - Primeiras cartas

Trabalhando em tom de comicidade, procuramos utilizar uma linguagem condizente com a


faixa etária alvo do produto. Fazendo uso de referências à época para se conectar com o
O jogo teria cinco eventos para cada jogador, tendo o evento final sempre como uma con- público, abrimos espaço para uma conversa descontraída sobre temas muitas vezes vistos
quista. Uma imagem especial seria dada para cada jogador dependendo das escolhas feitas como tabu. Seu conceito englobava a ideia de ser portátil para que os jovens pudessem car-
durante todo o jogo para recompensá-lo, junto da comparação de seus status do começo e regá-lo para onde quisessem, levando um divertimento para festas, partidas rápidas na escola
final do jogo para haver um momento de reflexão sobre as mudanças e crescimento de per- ou reuniões de amigos.
sonagem. Esse sistema, preferencialmente, incentivaria o jogador a passar por essa experi-
ência diversas vezes e se colocar em diferentes papéis para conseguir colecionar todas as Figura 10 - Testes de cartas
imagens, explorando possibilidades de identidade pelo caminho.

8.3. RPG DE CARTAS

A partir de todas as alternativas desenvolvidas, unimos os principais elementos para formular


o RPG ( jogo de interpretação de papéis) de cartas. Ao início do jogo seriam sorteados dife-
rentes tipos de personagens, dadas aos jogadores diversas características para se trabalhar:
gênero, sexualidade, gostos. A partir desses personagens, os jogadores ganhariam vanta-
gens e desvantagens diversas, por exemplo: um jogador “gamer” teria vantagem para fugir de
situações, enquanto um jogador “militante” teria desvantagem para fugir.

O jogo teria dois bolos, um de “monstros” e outro de “tesouros”, você abre a cada turno uma
carta de monstro e aí deve enfrentá-lo, com ajuda de amigos ou sozinho. Quando derrotar o
monstro, sobre um nível e compra o número de tesouros indicados na carta do monstro. As
cartas desse bolo são tanto itens que podem ser equipados pelo jogador para dar “bônus” no
momento de enfrentar os “monstros”, quanto sexualidades, que podem trocar durante o jogo,
demonstrando que a fluidicidade de sentimentos nessa época é natural.

Um jogo rápido e descontraído, no qual todos participam a todo momento, mesmo que não
seja sua vez. Durante uma rodada, cada participante, em sequência, retira uma carta do mon-
te de “monstros”, a qual deve enfrentar, sempre ligados à temas pertinentes à adolescência
e as confusões ligadas à esse período. Com a jogabilidade baseada no acaso, o jogador se
vê na necessidade de interpretar diferentes personagens às vezes completamente diferentes
de si mesmo.

40 41
Figura 11 - Teste de Layout e cores
9. REGISTROS E ANÁLISES DE SIMULAÇÕES E TESTE
Após dar a devida atenção aos diferentes projetos e realizar uma análise sobre suas relações
com o objetivo do projeto, concordamos que a ideia do RPG de cartas é a mais fiel aos nossos
parâmetros. Dessa forma, começamos a desenvolver essa ideia para englobar ainda mais o
fortalecimento da identidade pessoal a partir da experimentação de outras, se colocando em
papéis diferentes e entrando em contato com outras pessoas, também performando, em um
espaço sem julgamentos. Com isso em mente, modificamos o jogo diversas vezes para aten-
der à proposta da maneira mais coesa possível.

9.1. TESTES DO RPG DE CARTA

Para iniciar nossa produção visual das cartas, começamos pesquisando tamanhos já utiliza-
dos em outros jogos. Procurando ter uma visualização e noção melhor, recortamos em pa-
pelão cada uma das medidas e vimos como ficavam em relação à mão, o que foi de extrema
importância para os próximos passos.

Figura 10 - Teste de tamanhos

9.2. DESENVOLVIMENTO DO PROCESSO

Buscando uma forma de tornar o sistema de criação de personagens - presente dentro dos
Com o tamanho já definido, começamos a discutir sobre a jogabilidade e quais seriam os con- jogos de RPG - algo mais rápido e descontraído, decidimos usar do acaso:
teúdos escritos nas cartas. Cada um do grupo ficou encarregado de fazer testes individuais.
Após todos já terem desenvolvido uma proposta, discutimos em conjunto e decidimos sobre Durante o processo, tivemos que amadurecer e especificar melhor nossa jogabilidade. Foi
os estilos, itens, gênero, sexualidade e outras categorias abordadas no jogo. Durante esse necessário debater em grupo para deixarmos nossas regras e ideias bem fechadas, principal-
momento, tivemos que tomar muito cuidado ao usar ironias e piadas para não se tornarem mente à questão das fichas e cartas de colaboração, que são elementos novos em relação
sátiras e nem reforçarem os estereótipos que estamos tentando combater. aos nossos similares observados. O resultado foi o seguinte:
Com todos os testes e as escritas desenvolvidas, foi possível estipular as características a Adição de fichas
serem usadas para definir nosso layout. Começando a trabalhar com testes digitais definimos Ao optarmos por desenvolver a alternativa do RPG de cartas, notamos uma ausência
o traço, estilo de pintura e seleção de cores para nossa identidade visual. Dessa forma, pude- dos aspectos narrativos e de consequências de suas ações, elementos fundamentais
mos refletir uma personalidade jovem com texturas e traços semelhantes a lápis, remetendo na alternativa de Visual Novel. Dessa forma, procuramos adicionar a mecânica de
a ideia do jogo de criação da própria narrativa, assim como os grafismos utilizados, que incor- fichas para incentivar a noção de criação de laços ao compartilhar vivências, como
poram nas cartas digitais a vivência escolar de rabiscar em cadernos. marcos visuais das interações entre os personagens. Por esse motivo, visamos cons-
truir a existência do personagem como uma figura complexa com gostos e a ligações
com os demais.

42 43
Adição de cartas conjunto
Com o intuito de promover a maior interpretação de papéis pelos jogadores, adiciona-
mos cartas de obstáculos a serem superadas em conjunto. Gênero sorteado no dado
- As cartas de gênero seriam sorteadas ao início da partida, fazendo uso de um dado,
para dar oportunidades ilimitadas aos jogadores: ao passo que sortear um número pré
definido de cartas tornaria uma mesa sempre homogênea (ao ter seis cartas disponí-
veis, duas de Mulher, duas de Homem e duas de Queer, esse seria sempre o número
de gêneros distribuídos aos jogadores), enquanto que sorteá-los com o uso do dado
garante maiores possibilidades de organização (uma mesa com cinco Mulheres; qua-
tro Homens e duas pessoas Queer, etc).

Adição de narrativa no progresso


Vendo a necessidade de criar um senso de linearidade no progresso da narrativa
durante o jogo, separamos as cartas de obstáculos em níveis de dificuldade, conse-
quentemente em três baralhos diferentes. Com isso, tem-se eventos condizentes com
o momento do jogo em bolos específicos, ainda assim mantendo-se o acaso, uma vez
que esses bolos seriam embaralhados de formas diferentes em cada partida.

Mudança das cartas boato 9.3. FEEDBACK DO USUÁRIO


De início, determinamos que as cartas de boato seriam separadas entre boas, colo-
cadas no baralho de itens, e ruins, no baralho de obstáculos. Entretanto, ao notar que Durante o processo, testamos o jogo com diversas pessoas dentro e fora da nossa faixa etária
desse modo seria impossível concretizar as consequências de laços negativos - uma alvo. Foi possível conseguir alguns feedbacks cruciais para a melhora do nosso desenvolvi-
vez que boatos ruins só afetariam o jogador que os tirasse - optamos por colocar todas mento de projeto e da jogabilidade do jogo. Um destes relatos surgiu quando nosso jogo ainda
as cartas de boato dentro do baralho de itens, permitindo relações mais complexas e estava em teste preto e branco: constatamos que as pessoas com quem testamos apresenta-
exploração de personalidades. ram tanto dificuldade de entender qual seria o bolo de cartas de obstáculos e qual seria o de
itens; quanto, ao observarem o layout da frente, de identificar se a carta era um item, boato,
Print & play sexualidade, estilo, etc…
Além das versões já impressas a serem vendidas, resolvemos disponibilizar uma ver-
são print & play preta e branca disponível para download e impressão caseira. Seu À partir dessas críticas, modificamos o layout final para atender às necessidades a partir de
custo seria muito mais baixo e o jogo se tornaria mais acessível para todos os públi- sinalização com grafismos específicos e indicação por nomes.
cos: desde diversas classes sociais como jogadores que não se encontram próximos
a um ponto de venda. Essa versão seria otimizada em preto e branco, com algumas
modificações para alterar hierarquias e sinais de jogabilidade antes definidos por cor.

Figura 12 - Print & play

44 45
10. DETALHAMENTO DA SOLUÇÃO FINAL Boatos: Boatos são a forma com a qual tal relação entre os jogadores se ma-
nifesta numa partida. Também comprados do monte de “itens” são cartas que
Após finalizarmos todas as alterações, visando a melhor experiência do usuário e relevância refletem se o laço criado foi positivo ou negativo.
de acordo com o objetivo do projeto, apontamos as medidas mais importantes para atingirmos
nossas metas. Itens: Itens são peças, geralmente de vestuário, equipadas pelos jogadores
e que garantem Bônus para aumentar sua força de estima no momento de
enfrentar obstáculos.
10.1. ESTUDO DO CONTEÚDO

O conteúdo de nosso produto consiste em: um baralho de cartas, fichas de laços, uma caixa Caixas
lancheira e uma caixa de papel e cartelas de adesivos. Com o intuito de fornecer ao jogador uma peça integrada ao baralho para armazená-
-lo, formulamos duas caixas:

Baralho De Papel: Diversos packs com temáticas diferentes seriam vendidos separa-
Construído com uma linguagem bem-humorada e casual, tem o propósito de engajar damente em caixas de papel, de material reciclável porém que garantisse certa
o usuário na partida, procurando tornar aqueles personagens mais reais e próximos à durabilidade ao objeto.
suas vivências. Dentre suas cartas, buscamos trazer para o jogo todas as diferentes
esferas da experiência adolescente, representadas nas cartas de: Lancheira de Metal: Integrada à linguagem escolar, a lancheira de metal seria
de dimensões estendidas para armazenar, não somente o pack de cartas que
Estilo: Como o jogador se mostra para o mundo, seus gostos e preferências. a acompanhasse como todos os outros comprados separadamente, unindo
As cartas de estilo encontram-se embaralhadas junto ao monte de “itens”, e todos os objetos do jogo É Só uma Fase em um só lugar. Feita de material re-
podem ser trocadas ao longo da partida, demonstrando a capacidade do ado- sistente e durável, a lancheira viria acompanhada de uma cartela de adesivos
lescente de se modificar conforme sua visão de mundo e de si próprio. para personalização do objeto, entrando em nossas propostas de exaltar a
diversidade, a criatividade e a mudança.
Sexualidade: As cartas de sexualidade, também embaralhadas junto ao mon-
te de “itens”, são outras cartas baseadas no acaso, demonstrando tais orienta-
ções como inerentes ao ser humano, ao invés de escolhas. Sua troca ao longo 10.2. EXPLICAÇÃO DA JOGABILIDADE
da partida também é possível, mas não obrigatória, refletindo as descobertas
do momento. Objetivo

Gênero: Tais cartas não seriam trocadas ao longo da partida, refletindo a ideia Inspirado em um RPG, É só uma fase busca, por meio de diálogos saudáveis, explorar di-
de que ninguém “muda de sexo” e sim, pode descobrir que não se identifica ferentes personagens e jogabilidades, até alcançar o nível máximo: 15. Será você o grande
com aquele designado a si no nascimento. Vivências trans não-binárias estão vencedor? Só jogando para descobrir...
explicitadas na carta de gênero “Queer”, enquanto vivências binárias estão ex-
plicitadas nas cartas “Mulher” e “Homem”, fazendo a distinção entre cisgênero
e transgênero durante a partida, através de cartas de item e obstáculos (carta Começando
de item “Binder”1).
É só uma fase te dá o espaço e os meios para entrar em uma persona completamente diferen-
Obstáculos: Cartas de como o adolescente se relaciona com o mundo. Expe- te de você. Conecte-se com o seu personagem, e a sua jogabilidade ficará milhões de vezes
riências diversas que podem ser encaradas tanto pelo jogador sozinho, quan- mais rica!
do em duplas, trios, etc. Jogadores usam tanto de sua experiência, ou seja,
quantos obstáculos enfrentaram até agora, quanto de sua força de estima, Podem jogar de 3 a 6 jogadores. Separe as cartas em 4 decks: três de obstáculos (de acordo
garantida pelos itens, para enfrentar tais cartas. Ao final de uma rodada solo, com as cores de dificuldade: azul, amarelo e laranja, respectivamente) e um de itens (de cor
o jogador retira um número x de cartas do bolo de itens como premiação, ao rosa). Embaralhe os decks separadamente, distribuindo 5 cartas de itens para cada um dos
final de uma rodada na qual o obstáculo exigia a participação de mais de um jogadores.
jogador, além de recolher as cartas do bolo de itens, também sorteia-se que
tipo de laço esses jogadores criaram entre si. Dê uma olhada em suas cartas iniciais: se você tiver qualquer carta de estilo ou sexualidade,
você pode, se quiser, colocar uma de cada tipo “em jogo”, revelando as cartas e colocando-as
Laços: Laços são criados quando dois ou mais jogadores passam, juntos, por em mesa à sua frente. Se você tiver qualquer item, que possa ser utilizado, você também
uma carta de obstáculo. Tais laços podem ser positivos, negativos ou neutros pode já colocá-lo “em jogo”.
(ou seja, nenhum laço foi criado) e são estipulados por uma rolagem de dado.
Tal mecânica foi criada com o intuito de refletir as relações não só dos jogado- Logo em seguida, cada participante joga o dado para sortear o seu gênero: 1-2 para homem,
res com o mundo, mas também suas relações entre si. 3-4 para mulher e para 5-6 queer. Assim, pegue a carta de gênero, com fundo branco, res-
pectivo ao número sorteado, e inicie sua jornada como uma nova pessoa!
1 Item de vestuário usado no ato de achatar o tecido mamário, comum entre pessoas trans masculi-
nas.
46 47
Sua mão Cartas

As cartas que estão na sua mão não estão “em jogo”: elas não te ajudam, mas podem ser Bolo de obstáculos
guardadas “em segredo” para montar sua estratégia de jogo. No final de seu turno, você deve
respeitar o limite máximo de 5 cartas em sua mão.
Obstáculo Individual
Cada tipo de carta pode ser utilizado em um momento específico. Cartas “em jogo” não po-
dem ser retornadas para sua mão – elas devem ser descartadas ou trocadas se você quiser Para lutar contra um obstáculo, compare a sua força de estima com a dele. Se a força de
se livrar de uma delas. estima do obstáculo for maior à sua, você perde e deve fugir ou sofrer as consequências
ditas na carta. Algumas cartas, como sexualidade ou estilo, ajudam você a se livrar de um
As cartas em sua mão podem ser “equipadas”, com limite de 5 itens equipáveis: 1 de cabeça, obstáculo com mais facilidade.
2 de mãos, 1 para corpo e 1 para os pés, 1 item sexualidade e 1 item estilo.
Se você precisar fugir por não ter a força de estima necessária para derrotar o obstáculo,
terá de rolar o dado uma única vez (uma rolagem de sucesso é 5 para cima): se for bem su-
Início e término da partida cedido, você se livra do obstáculo, mas não sobe de experiência e também não recebe item
algum. Mas se não for, estará de castigo: deverá descartar todos seus itens - equipados ou
O jogo se dá em turnos, cada um com diversas fases. Quando o primeiro jogador começa não. Não se preocupe, você pode se recuperar normalmente durante os próximos turnos.
seu turno, ele retira uma carta do baralho de obstáculos. Sua força de estima, total da soma
da sua experiência (ou seja, número de obstáculos já superados) + qualquer modificador – Se dois jogadores estiverem cooperando em uma vivência (superar o obstáculo) utilizando
positivo ou negativo – conferido por itens e cartas de boato, determinará se ele superará o um laço - somente adiciona o bônus de boatos, não toda a força de estima do outro jogador
obstáculo ou se terá que fugir. Vencendo ou não o obstáculo, começa o turno do jogador a - e mesmo assim não conseguirem superá-la, ambos devem fugir. Cada um roda o dado se-
sua esquerda, assim sucessivamente até alguém alcançar o nível máximo. Vence o jogador paradamente. Ambos podem ser pegos na fuga. A cooperação garante metade do número de
que conseguir atingir o nível 15 primeiro. Como fazer isso? Cada obstáculo superado pelo seu tesouros descrito na carta para o jogador ajudante (metades arredondam para baixo).
personagem lhe garante 1 de experiência (vale ressaltar que todo jogador começa no nível 1).
Só não vai esquecer em que nível você está, hein. Deixe as cartas de obstáculos superadas “Em tais cartas encontra-se determinado o nível, ou level que precisa ser su-
junto de você para a contagem. perado pelo jogador com a ajuda de seus itens e/ou amigos. Por exemplo, um
jogador de level 7, ou seja, que já passou por sete obstáculos, tem experiên-
O jogo possui três etapas, sendo elas azul, amarela e laranja. Seus níveis de dificuldade são cia o suficiente para passar por qualquer obstáculo de level 6 ou inferior. Itens
proporcionais ao nível dos jogadores, ou seja, desde o início da partida você compra cartas diferenciados carregados pelo jogador podem dar bônus extras para ajudá-lo,
do bolo azul. Você só começa a pegar cartas do bolo amarelo após ganhar 5 experiências e então, um jogador de level 7 que carrega um item de bônus +5 soma 12 pontos
do bolo laranja passando de 10. de força de estima, portanto, consegue passar por obstáculos de level 11
ou inferior. Ao enfrentar cartas que devem ser ultrapassadas por mais de um
Turnos jogador juntos, seus levels e bônus de itens se somam.”

No início do seu turno você pode jogar cartas: escolher quais os itens que estarão “em uso”
e quais serão “guardados”. Quando suas cartas estiverem arrumadas do jeito que você quer, Obstáculo Cooperativo
vá para a primeira etapa:
Os obstáculos cooperativos envolvem mais de um jogador. Vocês devem passar juntos pela
1. Vivencie a vida: compre uma carta do deck de obstáculo e revele-a no centro da experiência descrita na carta! Vejam suas força de estima somadas para conseguir o sucesso,
mesa. Resolva o combate completamente pela força de estima antes de continuar. interajam entre personagens e, por fim, rolem um dado para definir se criou um laço com essa
Se você superar o obstáculo, suba +1 experiência e pegue o número apropriado de pessoa (1-2 laço bom, 3-4 laço ruim e 5-6 não cria nada). O número de itens descrito na carta
cartas de item (2 itens na primeira etapa, azul; 3 itens na segunda, amarelo; e 4 itens vale para os dois jogadores (por exemplo, se a carta superada oferece 2 itens de tesouro,
na última etapa, laranja). cada jogador comprará 2 itens do monte). A carta superada vai para a pessoa que a tirou, ou
seja, somente o jogador que tirou a carta sobe de nível.
2. Achados e perdidos: Se você tiver mais de 5 cartas em sua mão depois do turno
de todos os jogadores, você deve descartar quantas cartas forem necessárias para Laços e Fichas
que se respeite o limite de 5 cartas, descartando-as em um bolo de “descartes”. Outra
opção é dar as cartas em excesso ao jogador que possua a menor experiência. Se Todos os jogadores começam sem laços em comum, logo, sem fichas. Os jogadores conse-
houver mais de um jogador empatado com o menor experiência, divida as cartas da guem fichas de laços ao participarem de interações cooperativas, simbolizadas por fichas
maneira mais igualitária possível. Se você for o jogador com o menor nível, mesmo com uma carinha feliz de um lado e nervosa do outro. Esses laços, bons ou ruins, podem ser
que empatado, simplesmente descarte as cartas excedentes e procure melhorar no usados para ajudar ou atrapalhar alguém em sua jornada.
jogo o mais rápido possível, pois a coisa está feia pro seu lado! O turno do jogador é
finalizado e passa-se para o turno do próximo jogador. Descarte a ficha uma vez que desejar usar um boato para interferir no turno de outro jogador.
Após sua ação, pode rodar um dado para ver se consegue a ficha de volta ou deixa-a perma-

48 49
nentemente de lado (1-4 é sucesso, 5-6 fracasso). 10.3. EVOLUÇÃO DO MODELO DE NEGÓCIOS
Você só pode fazer mal a alguém com quem você possua um laço ruim, assim como também
só pode intervir positivamente na rodada de alguém com quem tenha um laço bom. Para conseguirmos trazer o jogo à realidade, organizamos um modelo de negócios para defi-
nir os aspectos chave de gestão: nossos parceiros chave, atividades chave na produção, pro-
Laços bons também conferem a possibilidade de realizar uma troca de item com outro joga- postas de valor do projeto, relacionamento do produto com o consumidor, estrutura de custos
dor: os dois sacrificam uma ficha de laço com referente especificamente ao outro com quem do sistema, fluxos de receita, canais de contato e segmento de clientes.
está fazendo a troca e, assim, pode realizá-la.
Parceiros chave
Bolo de Itens
Influencers: criadores de conteúdo independente com grande número de seguidores.
O bolo de itens possui 4 tipos de carta o compondo: estilo, sexualidade, boato e itens. Essas Oferecer nosso produto em troca de retorno e propaganda em seus canais atrairia o
cartas estarão embaralhadas e podem ser utilizadas durante todo o jogo. público alvo ao se conectar com as pessoas importantes de seu ciclo.

Usuários: a portabilidade do jogo e sua jogabilidade são ideias para serem levados a
Estilo vários ambientes diferentes. Contando que o jogador apresente sua compra para os
amigos e colegas com intenção de compartilhar essa experiência, desenvolve-se um
Todos os jogadores começam o jogo com um estudante normal, sem estilo. Isso muda assim comércio “boca a boca”.
que compra uma carta estilo do bolo de itens ou, como dito no início do manual, já tiver ga-
nhado uma carta estilo durante a distribuição de cartas (sortudo, hein). Esse estilo deve ser Distribuidora: a companhia de distribuição das versões físicas em lojas também é
equipado, ao lado dos itens, e exposto a todos os outros jogadores. Ele te garantirá bônus
únicos que permanecerão durante o jogo inteiro ou até ser mudada pelo próprio jogador a essencial no processo de confecção e distribuição
qual ela pertence, se comprar outra carta estilo do bolo e tiver vontade. Apesar disso, alguns
boatos tem efeito de descartar seu estilo. Atividades chave

Sexualidade Elaboração das cartas e fichas de laços: arte e conteúdo para gerar as cartas, além
do balanceamento delas na jogabilidade.
As cartas de sexualidade, assim como de estilo, devem ser equipadas e podem ser trocadas,
por laços positivos, durante o jogo, a graça é experimentar! A sua sexualidade pode ter efeito Impressão das cartas e fichas de laços: confecção das cartas em papel de linho
em interações, dependendo de quem você compartilha experiências e quais seriam essas, 310g/m² envernizado, nas dimensões 6,5cm x 10cm e das fichas com diâmetro de
além de darem bônus durante o jogo. 27mm em papel paraná com aplicação plástica.

Confecção e montagem das caixas: confecção das caixas de papelão 1.2mm re-
Boato vestido em papel offset 128g/m² com laminação fosca dimensões e, em segundo mo-
mento, das lancheiras versão premium em metal galvanizado com dimensões 20cm x
Cartas boato do bolo de itens têm efeitos positivos e negativos e não precisam ser usadas as- 10cm x 17cm. A montagem das caixas inclui, nas duas versões: 160 cartas (divididas
sim que compradas. Elas permanecem na sua mão até serem utilizadas, sendo descartadas em quatro bolos por elásticos azul, rosa, amarelo e laranja), 15 fichas e dois dados;
depois do uso. Além de usar os boatos em sua personagem, você também pode usar cartas enquanto na versão premium também são incluídas duas cartelas de adesivo.
boato para ajudar ou atrapalhar seus colegas, usando os laços entre vocês.
Marketing: propaganda em redes sociais e outros sites.
Só é possível aplicar os boatos em si durante seu próprio turno. Boatos aplicados em outros
jogadores só acontecem durante o turno dos mesmos, adicionando ou diminuindo bônus do
Site: webpage para distribuição da versão print & play.
participante atingido, dependendo das intenções de quem fez a ação. Sendo assim, imagine
interpretações a situações nas quais seu boato faça sentido de ser usado.
Propostas de valor
Item
Integrar o jovem LGBTQ no meio social pela normalização: jogabilidade que pos-
sui opções de personagem LGBTQ, assim como cis hétero, e são tratadas com igual-
As cartas itens equipáveis têm seu número bônus adicionado à experiência do jogador para
dade. Trata todos as formas de identidade com validez.
ultrapassar obstáculos. Relembrando: quanto aos itens equipáveis, o limite é de 5 cartas: 1
de cabeça, 2 de mãos, 1 para corpo e 1 para os pés. Esses sinalizadores estão mostrados
Criar espaço de discussão por meio do divertimento: atmosfera leve propicia a
nas cartas.
troca de vivências com menos autocensura utilizando do humor e interpretação de
personas.
Itens específicos de estilos só podem ser equipados pelos estilos determinados na carta,
enquanto itens genéricos podem ser equipados por qualquer um. Se quiser trocar itens com
outros jogadores, deve gastar um laço bom com eles.

50 51
Exploração de realidades distintas para gerar empatia: experienciar, em primeira
mão, as vivências fora de sua realidade enriquecem a empatia e normalizam a diver- Figura 13 - Tabela de evolução de negócios
sidade.

Relacionamento

Exibição em lojas físicas: encontro do possível consumidor com o produto em pra-


teleiras de lojas físicas.

Propaganda personalizada em redes sociais: anúncios personalizados em platafor-


mas como YouTube, Instagram etc.

Contato com jogadores: comércio “boca a boca” ou tendo primeira experiência de


jogo por meio de amigos. Além disso, há possibilidade de conhecimento por meio da
lancheira personalizada premium ostentada pelos consumidores.

Estruturas de custos

Produção das cartas: artistas, game designers, designer de cartas.


Marketing: publicitário.
Distribuidora: confecção dos produtos dentro da caixa e caixa.
Direitos autorais: fontes e referências de conteúdo.

Financiamento 10.4. VISUAIS FINAIS


Financiamento coletivo: Obtenção do capital necessário para iniciar as atividades de
produção através de agregação de múltiplas fontes de financiamento para o interesse Por fim, foram desenvolvidos os designs das caixas de papelão e metal; cartas, fichas,
coletivo: tanto dos desenvolvedores como dos potenciais consumidores (Kickstarter e adesivos e manual. A seguir, apresentamos um exemplo de designs final.
Catarse).
Figura 14 - Layout final
Fluxo de receitas

Pagamento único pelas cartas: print & play com custos reduzidos, opção em caixa
de papelão e versão premium.

Canais

Site: acesso ao print & play.


Lojas de jogo: acesso às versões físicas.

Segmento de clientes

Jovens que buscam explorar suas identidades com amigos: “É só uma fase” cons-
trói o espaço para exploração de identidade.

Jogadores de RPG: o público de jogadores de RPG sentirá a jogabilidade familiar dos


seus sistemas de jogo.

52 53
11. CONCLUSÃO 12. BIBLIOGRAFIA
Concluímos, a partir das nossas pesquisa e produção da solução final que o assunto de identi- ABEP. Estudo da Kantar IBOPE Media aponta que 44% dos entrevistados consideram a internet
dade deve ser abordado com certos cuidados. Principalmente quando, apresentado em forma sua principal fonte de entretenimento. 2016. Acesso em: 8 de abril de 2020, Disponível em: http://
de porta de entrada às possibilidades de construção durante a adolescência, deve-se apro- www.abep.org/blog/tendencias-de-mercado/estudo-da-kantar-ibope-media-aponta-que-44-dos-entre-
priar a linguagem a fim de não se reproduzirem preconceitos e fechar ainda mais a vontade vistados-consideram-a-internet-sua-principal-fonte-de-entretenimento/
do jovem se descobrir plenamente. A linguagem cômica do jogo deve ser medida a ponto de
deixar clara a intenção de exaltar e brincar com as diferenças e momentos dessa fase, e não AMENDOLA, Beatriz. Criadora de nova She-Ra explica por que deu dois pais para o Arqueiro.
abrir espaço para humilhação. Nosso jogo procura servir de suporte em prol do fortalecimento Reportagem para UOL, 2019. Acesso em 21 de março de 2020, Disponível em: https://entretenimento.
identitário, reafirmando possibilidades de existência a partir de cenários casuais. uol.com.br/noticias/redacao/2019/07/19/criadora-de-nova-she-ra-explica-porque-deu-dois-pais-para-
-o-arqueiro.htm
O feedback do usuário é necessário em todos os momentos do processo criativo. Deve-se
A REDAÇÃO O Tempo. Temática LGBT para crianças. Matéria do jornal O Tempo, 2015. Acesso em
sempre ter em mente as necessidades de quem se está desenvolvendo para acatá-las da
19 de março de 2020, Disponível em: https://www.otempo.com.br/pampulha/tematica-lgbt-para-crian-
melhor forma possível. Saber se o jogo cumpre com seu objetivo testando suas mecânicas cas-1.1063816
com usuários e entender se o manual consegue explicá-las com êxito são etapas primordiais
de qualquer projeto. A REDAÇÃO RBA. ‘Homofobia é construída no cotidiano, desde a infância’, afirma psicóloga.
Matéria do portal Rede Brasil Atual (RBA), 2016. Acesso em: 19 de março de 2020, Disponível em:
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-anniversary/
THE CELLULOID Closet. Direção: Rob Epstein, Jeffrey Friedman. Produção: Rob Epstein Jeffrey
MARTINEZ, Ren. Fabulously Fiendish: Disney Villains and QueeCoding. Margins Magazine, 2015. Friedman, Howard Rosenman. Roteiro: Vito Russo Rob Epstein Jeffrey Friedman Sharon Wood Armis-
Acesso em: 27 de abril de 2020, Disponível em: http://www.marginsmagazine.com/2015/12/18/fabulou- tead Maupin. Estados Unidos: Sony Pictures Classics, 1996. 1 fita de vídeo (1 h 47 min).
sly-fiendish-disney-villains-and-queer-coding/
VELOCCI, Carli. Steven Universe: television’s most inclusive show. Reportagem realizada para
MENDES, Gyssele. Representação de LGBTs na mídia: entre o silêncio e o estereótipo. Matéria da o site Geek, 2016. Acesso em 19 de março de 2020, Disponível em: https://www.geek.com/television/
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co PRIDE, 2018. Acessado em 19 de março de 2020, Disponível em: https://www.pride.com/comin-
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13. APÊNDICE muito legal. Basicamente, gosto de personagens tímidos que começam a quebrar essa bar-
reira, já que me identifico muito.
13.1. ENTREVISTAS
Você acha que há falta da representatividade no geral dos conteúdos que assiste?
ADOLESCENTES Sim, uma coisa que acho muito engraçada é que eu não sou minoria e mesmo assim não
me sentia encaixada. Nunca tinha personagem “padrãozão” brasileiro. Eu sinto muita fal-
Carolina de Assis ta de representação, principalmente quando só percebo ser forçada. Tem hora que eles
querem representar alguma coisa e não sabem como, os personagens só servem para
Queria que você me contasse um pouco sobre quem é você, sua idade, se estuda algu- estar lá como se fosse cota. Falta personagem bem construído e com representatividade.
ma coisa e o que costuma fazer no seu tempo livre. Eu sei o quanto faz falta porque já fui extremamente homofóbica, na intensidade de reproduzir que
Eu tenho vinte anos e faço faculdade design. Gosto de desenhar, fazer Custom Dolls e basi- gay é pecado e vai pro inferno. Eu tinha essa cabeça, quando era criança, e na adolescência eu falava
camente pinto coisas; gosto de customizar tudo pela frente. Eu não moro sozinha, moro com que “gosto de gay, mas não precisa ser legalizado. Não tenta falar que é normal, isso é escolha sua”.
minha mãe e mais duas pessoas Dá pra ver como faz falta quando eles tratam essas pessoas como se fossem “um E.T.”. Uma
das minha séries favoritas, o Príncipe e o Dragão, tem sido minha preferência justamente
Que tipo de entretenimento você consome? Qual seus favoritos? por isso, eles tratam de forma normal. A representatividade é boa quando ela é tratada como
Eu costumo ver muito Youtube, ele está sempre ligado. Vejo muito vídeo de customização, qualquer outra coisa; ressaltar sem “furdúncio” porque quem é preconceituoso só vai ter mais
gameplays e críticas de algumas séries que assisto. Eu acho muito legal quem faz crítica motivo para criticar. De jeito natural, fica mais fácil das pessoas entenderem: “Olha não é
construtiva, que realmente faz sentido. grande coisa”.

Dentre os gêneros de entretenimento (ação, aventura, comédia, comédia romântica, Você está envolvido com a comunidade LGBTQ? Conhece, tem amigos, faz parte?
documentário, drama, fantasia, ficção científica, suspense, terror, musical, animação, Eu sou assexual mas ainda estou me descobrindo. Me considero mas não entro de cabeça
romance), ordene do seu preferido ao que menos gosta? Disserte. na comunidade, sigo muitas pessoas no Tiktok. Meu melhor amigo é trans e minha prima é
Animação, comédia romântica, musical, fantasia, documentário, aventura, ficção científica, co- lésbica, o que me ajudou muito no processo de normalizar.
média, suspense e terror por último. Romance depende muito. Se for romance colegial clichê, bem
Disney Channel, está junto com comédia. Romance com muito +18 está no final, junto com terror.
Eu gosto muito de histórias com gêneros misturados, que tem um pouco de cada coisa. Sobre Você se lembra do primeiro, ou de um dos primeiros contatos que teve com o tema?
terror e suspense, amo saber as histórias por trás porque são sempre muito bem construídas, Pessoalmente eu não lembro, mas sei que comecei a aprofundar por conta desse meu amigo.
só não consigo assistir e vivenciar pessoalmente. De jogos, eu gosto muito de simulação, com Eu vi mais coisas e com tempo eu fui percebendo que existiam pessoas que não estavam
histórias que são quase um filme e quebra cabeças tipo escape. nesse estereótipo da comunidade. As comunidades de cosplay e de desenho também me
ajudaram muito a conhecer e entender um pouco mais.
Como era essa preferência na infância? Que tipo de conteúdo gostava de assistir e por
que? Se mudou, me conta por que? Você costuma discutir pautas de minoria e diversidade? Acha que é importante?
Não mudou muito, eu continuo gostando mais ou menos dos mesmos estilos e até reassisto Sim, acho importante, principalmente para mostrar esse lado. É muito legal quando os dois
os que já assisti. Eu assistia muito filme educativo, veja; sou filha de educadora então ela colo- lados tão abertos e dispostos a conversar. Eu pessoalmente não saio tomando frente nestes
cava para eu assistir no meu tempo livre. Vários foram documentários que continuo gostando. movimentos, eu não gosto, mas acho interessante consumir.

Quais seus personagens favoritos? Você se identifica, se vê representada em algum deles? Alguma vez esses temas foram abordados na sua escola, pelos seus pais ou psicólo-
ARapunzel do Enrolados! Me identifico na questão de insegurança e do medo de como é “lá fora” mas go? Com que frequência?
mesmo assim tendo a vontade de descobrir tudo.Também gosto do Adrien, do Miraculous LadyBug: Em escola e em casa foi “zero”, mas em psicólogo já. Não foi uma experiência boa, já que
ele é bem complexo por conta do passado dele e pelas emoções intensas, gosto muito dele. eu sou diagnosticada com ansiedade e TDA e ela cismava muito com os motivos de eu não
Deku de Boku no Hero é incrível por querer salvar todo mundo, se importa tando com os namorar ninguém e porquê não tinha amigos. Eu falava muito desse meu amigo e ela insistia
outros mesmo que ele se machuque. Ele realmente quer ser um herói completo e acho isso que eu estava apaixonada por ele. No caso da época, ele não tinha se aberto como trans,

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então ficou falando que eu gostava de uma garota. Pra mim é muito confuso, eu não sabia que é mais interessante que a protagonista, gosto de personagens secundários, não gosto muito
era assexual e ela me perturbava todas as sessões por uma resposta. Isso a levou a comentar de badboys revoltadões, gosto de personagens que mostram as emoções.
sobre pacientes dentro do espectro LGBT e comecei a me sentir mal até sair da psicóloga.
Por um lado foi até bom: eu comecei a pensar “se eu gostasse de garota, seria tão ruim as-
sim?”. O que você acha que há e que falta na representatividade no geral dos conteúdos que
assiste?
Você acha que a representatividade possa ter te ajudado ou não foi algo que teve aces- Bom, sobre representatividade, nos últimos anos tem crescido muito a quantidade dos perso-
so? nagens, a representatividade no geral, tem aumentado muito o espaço pra esse tipo de deba-
Sim, “cara”, principalmente porque eu não sabia que a assexualidade existia. Descobri por te, isso é algo muito bom, que eu acho muito legal, que ainda faltam em algumas séries, em
conta de tirinhas e por conta do Tiktok. Existem pessoas como eu e está tudo bem, não pre- alguns produtos, que falta uma certa representatividade também, mas eu to muito feliz com
ciso de uma atração romântica sendo adulta e vejo como isso é normal. como isto tem crescido, a quantidade de personagens mulheres, LGBT, negros.

Cecília Diniz Você produz conteúdo independente seu?


Se a pessoa já tem experiência, perguntar: Como foi?
Queria que você me contasse um pouco sobre quem é você, sua idade, se estuda algu- Sim, eu as vezes desenho um pouco, mas o que eu mais faço é escrever, eu escrevo bas-
ma coisa e o que costuma fazer no seu tempo livre. tante, e posto minhas obras no Tumblr, obras não, minhas fanfics no Tumblr e no AO3 que
Olá, meu nome é Cecília Diniz eu tenho 17 anos e moro com minha mãe, minha avó, minha é o Archive of Our Own, que é onde eu posto. Eu já fiz uma fanfic muito grande, de 20-24
bisa e minha gata. No meu tempo livre gosto de ler na internet, ficar no Youtube, jogar The capítulos no Spirit Fanfics e essa fanfic teve uma quantidade boa até de visualizações, não
Sims que eu gosto bastante, ficar no Twitter, escrever e desenhar. foi assim nossa como ela bombou, mas foi uma quantidade boa até, eu fiquei bem feliz, e foi
uma experiência boa pra mim compartilhar com outras pessoas algo que eu gosto de fazer,
Dentre os gêneros de entretenimento (ação, aventura, comédia, comédia romântica, me fez crescer bastante.
documentário, drama, fantasia, ficção científica, suspense, terror, musical, animação,
romance), ordene do seu preferido ao que menos gosta? Disserte. Você está envolvido com a comunidade LGBTQ? Conhece, tem amigos, faz parte?
Eu gosto muito de comédia romântica, fantasia, suspense, mas não suspense que dá susto, Sim, eu estou envolvida na comunidade LGBT, eu sou bissexual, esse é o meu envolvimento.
MUSICAL, amo musical, animação e romance. Não gosto muito de ação, não gosto muito de Mas eu tenho amigos que são, eu tenho familiares que são, eu conheço bastante gente na
documentário, e nem dramas pesados, mas assisto de vez em quando, ficção científica não minha escola, no meu ano, principalmente pessoas bissexuais, ou homossexuais, mas eu
é muito a minha praia. conheço outras pessoas assexuais, “transsexuais”.

Como era essa preferência na infância? Que tipo de conteúdo gostava de assistir e Você se lembra, do primeiro, ou de um dos primeiros contatos que teve com o tema?
porque? Se mudou, me conta porque? Olha, eu não lembro da primeira vez que tive contato com esse tema porque foi uma coisa que
Na infância eu gostava muito de ver animação, eu via o que tava passando na Disney e no a minha discutiu muito abertamente, minha mãe comigo, então eu sempre soube da existên-
Disney Jr, mas não peguei muito, e no Disney XD, eram os canais que eu mais via. Eu não cia dessa comunidade, mas na minha época quando eu era pequena não era algo tão deba-
via muito Nickelodeon e nem Cartoon. Também via muito novelinha pra criança, tipo Violeta, tido quanto hoje em dia. Então por exemplo acho que os meus primos mais novos tão tendo
desenho animado e os filmes que eu tinha em casa. muito mais contato com esse tema do que eu, mesmo que a minha mãe tenha conversado
comigo, o mundo tá mais maduro pra isso agora.
Quais seus personagens favoritos? Você se identifica, se vê representada em algum
deles? Você tem o costume de discutir pautas sobre diversidade? Feminismo? LGBTQ? Cor?
Eu não tenho um personagem favorito mas normalmente eu simpatizo mais com personagens Você acha importante que haja essa troca?
que têm mais camadas, aqueles que não são unidimensionais. E principalmente na mídia e tal Eu discuto muito essas pautas, principalmente com a minha mãe e minhas amigas, é onde eu
eu gosto muito das personagens femininas no geral, mas eu também simpatizo com muitos mais converso, todos os tipos de pautas, feminismo, LGBTQ, racismo, essas coisas todas, eu
personagens masculinos. E eu não sou muito aquela pessoa que se apaixona do vilão da his- discuto muito, principalmente, como eu não sou negra eu não tenho tanto lugar de fala para
tória, não sou aquela fangirl do vilão, mas eu muitas vezes gosto do antagonista, às vezes ela discutir essa questão racial, mas apesar de eu ser muito mente aberta sobre isso eu não te-

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nho a vivência de como é. Mas sobre ser LGBTQ e ser mulher eu tenho mais propriedade pra Dentre os gêneros de entretenimento (ação, aventura, comédia, comédia romântica,
falar e debater com as minhas amigas. documentário, drama, fantasia, ficção científica, suspense, terror, musical, animação,
romance), ordene do seu preferido ao que menos gosta? Disserte.
Animação, musical, romance, comédia romântica, comédia, documentário, aventura, fantasia,
Alguma vez esses temas foram abordados na sua escola, pelos seus pais ou psicólo- drama, suspense, terror, ação e ficção científica.
go? Com que frequência?
Na escola pelos próprios alunos eles são muito abordados principalmente nas aulas as vezes Como era essa preferência na infância? Que tipo de conteúdo gostava de assistir e por
um professor puxa um assunto ou um aluno puxa um assunto, na minha aula de filosofia a que? Se mudou, me conta por que?
gente discute bastante sobre feminismo principalmente, na minha aula de geografia o meu Basicamente só animação; eu dificilmente me interessava por programas que tivessem pessoas
professor fala muito sobre racismo, a pauta que é menos discutida sinceramente é a pauta reais. Documentário sempre me interessou também como criança, porque eles são bem informa-
LGBTQ, mas, infelizmente é a que menos se discute porque é algo que o mundo ainda não tivos e eu gostava muito de aprender. Hoje em dia, eu não me interesso muito por documentários
aceita tão bem, a escola meio que não, ela sempre “apoiou” as pessoas que são LGBTQ mas mas ainda assim gosto, só é mais difícil de sentar pra ver já que a maioria são bem longos. Já o amor
ela nunca chegou a debater o assunto. por animação ainda continua o mesmo e qualquer filme nesse estilo vai chamar minha atenção.

Você costuma discutir sobre esses tópicos na internet? Existem espaços específicos Quais seus personagens favoritos? Você se identifica, se vê representada em algum deles?
pra isso? Com que frequência você interage? Eu gosto muito da Rose de Steven universo, é uma personagem que a galera não gosta muito
Eu vejo muita discussão sobre isso no Twitter e eu participo, me informo, e no Tumblr e acho e eu acabei simpatizando porque me identifiquei. Para mim pareceu que toda a história dela foi
muito importante que tenha esses espaços pra se discutir, principalmente o Twitter porque é contada pela visão de outras pessoas e a gente nunca ouviu de verdade o lado dela da história. Eu
lá onde eu tenho contato com uma das comunidades que eu menos tinha informação sobre sempre tento ver todos os lados possíveis das situações, por quê alguém age daquele jeito, o que
antes de me informar, que é a comunidade “transsexual”, porque eu não sou, eu sou cis e fez ela fazer tal coisa, então para mim, personagens nesse estilo acabam sendo meus favoritos!
não tenho nenhuma amiga que é, tirando um familiar, então, tenho muita dificuldade ainda
em saber, em me informar sobre alguns tópicos, então não é dificuldade, mas eu to ainda me Você acha que há falta da representatividade no geral dos conteúdos que assiste?
aprimorando e evoluindo, e aprendendo mais, porque eu era muito mal informada antes, não Eu acho que a representatividade vem crescendo bastante nos últimos anos mas, na minha
que eu fosse preconceituosa, eu era só mal informada, realmente não sabia nada. opinião, é preciso saber como representar, tem que saber como falar do assunto e em certos
casos é melhor não incluir do que representar de forma errada. Então pra mim não falta muita
Como foi/está sendo seu processo de autodescobrimento? representatividade, mas sim falta representatividade certa!
Eu to gostando muito, aos quinze anos que comecei usar as redes e a ver os tópicos LGBT,
que foi quando eu realmente comecei a me descobrir e entender. Você está envolvido com a comunidade LGBTQ? Conhece, tem amigos, faz parte?
Estou sim! Eu sou bi! Tenho igualmente amigos bi, gays e trans!
Em que você acha que a representatividade possa ter te ajudado?
A representatividade me ajudou muito por conta de uma personagem de um jogo que me aju- Você se lembra, do primeiro, ou de um dos primeiros contatos que teve com o tema?
dou a descobrir esse lado em mim, descobrir essa característica minha. Me lembro a primeira vez que ouvi sobre isso: foi com algumas amigas comentando sobre
gostarem de outras meninas e até então eu nunca havia tido nenhum contato, seja por mídia
Cinthia Recruz ou qualquer coisa. Minha reação na época foi de achar que elas eram muito novas para terem
certeza sobre a sexualidade delas.
Queria que você me contasse um pouco sobre quem é você, sua idade, se estuda algu-
ma coisa e o que costuma fazer no seu tempo livre. Alguma vez esses temas foram abordados na sua escola, pelos seus pais ou psicólo-
Eu me chamo Cinthia, tenho vinte anos de idade.Atualmente, moro com minha mãe, meu pa- go? Com que frequência?
drasto e meu irmão mais novo; estava tentando sair de casa esse ano mas, por conta da pan- Nunca comentaram sobre, comigo! Eu basicamente “descobri sozinha”.
demia, os planos não deram certo. Eu gosto bastante de desenhar e jogar joguinhos bobos
de celular, atualmente ando jogando bastante RPG com alguns amigos meus pelo Discord. Como foi seu processo de autodescobrimento?
Muita negação e choro! Eu lembro quando tinha quatorze anos, de sentir coisas que eram

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mais que amizade por uma amiga próxima e negar totalmente até não aguentar mais e esses Eu sou co-criador de uma história em quadrinho 100% independente. O protagonis-
sentimentos explodirem. A Confissão veio como uma explosão no peito mas de certa forma ta é um personagem gay, mas o jeito que tentamos abordar esse assunto é simples-
foi um alívio! Esconder quem você é, sobre não saber ao certo como as pessoas ao seu redor mente não fazendo um “big deal” disso. É extremamente importante terem uma iden-
vão agir, é uma das piores coisas que se pode passar. Depois que eu admiti como realmente tificação, mas também acho que, às vezes, é um pouco repetitivo toda história que
me sentia, as coisas melhoraram. aborda personagens LGBTQ só pelo fato de serem LGBTQ. Sempre são eles enfren-
tando problemas por serem gay, o que eu acho bom, mas não tem que ser sempre isso.
Você acha que a representatividade possa ter te ajudado ou não foi algo que teve Uma forma muito boa de normalizar é ele ser gay, ela ser lésbica, ser transexual por simples-
acesso? mente ser, e não ter um motivo narrativo de ele ser assim, igual na realidade. Tento botar isso
Não tive acesso algum sobre isso! Na verdade, acho que só comecei a ver esse tipo de coisa muito nos meus projetos de quadrinho.
nos últimos anos!
Você está envolvido com a comunidade LGBTQ? Conhece, tem amigos, faz parte?
Ivan Luiz Pimentel A princípio sim. Hoje em dia é difícil dizer quais amigos são hétero-cis a esse ponto, ninguém quer
se envolver muito na comunidade por própria invalidação, como acontece com os bissexuais.
Queria que você me contasse um pouco sobre quem é você, sua idade, se estuda algu- A comunidade é acolhedora, mas como tudo, tem suas partes ruins que não devemos passar
ma coisa e o que costuma fazer no seu tempo livre. pano, não vou me aprofundar.
Eu moro com os meus pais, estudo design de mídia digital na PUC-RJ. Minha rotina se baseia
em fazer trabalho e, nos poucos horários livres, eu desenho vendo animações. Você se lembra, do primeiro, ou de um dos primeiros contatos que teve com o tema?
No lugar onde eu fui criado, em Magé, as pessoas não aceitavam muito essas coisas. Vendo
Dentre os gêneros de entretenimento (ação, aventura, comédia, comédia romântica, tanto ódio, eu normalizei esse preconceito. Ao passar do tempo, apesar disso, eu vi que não era
documentário, drama, fantasia, ficção científica, suspense, terror, musical, animação, assim: foi no ensino fundamental que eu tive essa busca por me autoconhecer fazendo que eu
romance), ordene do seu preferido ao que menos gosta? Disserte. descobrisse a bissexualidade. Não teria acontecido se eu não compreendesse que é algo nor-
Animação é meu gênero favorito, sempre tive essa queda. As possibilidades de história são mal. Assim, o primeiro contato do assunto para a criança não pode ser de ódio, já que pode causar
infinitas. De resto ação, aventura e comédia, filmes de heróis; eu adoro. Documentários um sentimento de confusão e vergonha… espero que eu esteja conseguindo me expressar bem.
e ficção: depende, se me prender eu gosto, mas caso ao contrário, não tenho interesse. O problema é essa criança, ao se descobrir, não conseguir se aceitar.
De resto, eu não sei, nunca me chamaram muita atenção. Geralmente tem um ou outro como
“IT” e “Corra” que eu curto também. Você costuma discutir pautas de minoria e diversidade? Acha que é importante?
Na realidade, esses debates têm que ser debatidos por quem entende do assunto, além de
Como era essa preferência na infância? Que tipo de conteúdo gostava de assistir e por eu não achar que deva ser debatida no geral. É um absurdo o tema ser, por exemplo, racis-
quê? Se mudou, me conta os motivos? mo. “Vamos debater o racismo, porquê? Qual o sentido?” Você só está abrindo espaço para
Gostaria de dizer que mudou mas, não. Ainda é na maioria animação. os racistas darem opinião, isso não é válido. Outra situação é ter um foco específico dentro
do tema, não questão se é certo ou errado. Quando a opinião desrespeita a existência de
Quais seus personagens favoritos? Você se identifica, se vê representada em alguém, deixa de ser opinião.
algum deles?
Personagens favoritos eu tenho bastante, geralmente é por conta de como o personagem é es- Alguma vez esses temas foram abordados na sua escola, pelos seus pais ou psicólo-
crito. Como não existe tanta representação em personagem que tem protagonismo, são mais go? Com que frequência?
de fundo, é difícil dizer… Um exemplo muito bom é Steven Universe, porque mesmo sendo para Na realidade, são assuntos que entraram em discussão recentemente, mas a princípio eu não
criança, eles pegam esse fator da não-binariedade e colocam de maneira não polêmica, bem sei falar sobre especifico, já falei um pouco nas outras perguntas.
normal. Gostaria que mais disso fosse implementado em programas, principalmente infantis.
Acho que de favoritos com representação, seriam as gems desse desenho em geral. Como foi seu processo de autodescobrimento?
Na realidade eu tive dois, o primeiro sobre ser bi e foi bem tranquilo, já estava dentro da nor-
Você produz conteúdo independente? Já teve alguma experiência com representativi- malidade do assunto. Não tem muito tempo que eu estava me questionando de gênero, foi
dade, como tentou abordar? uma montanha-russa, já que não-binário agênero é difícil. Não em questão de me aceitar, mas

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medo de me invalidar. Até hoje não deixo claro para as pessoas com medo de ser julgado. Meus personagens favoritos são de Gravity Falls, incluindo Bill Cipher, o vilão que consegue
ser astuto e carismático para manipular os outros. Meus outros personagens favoritos são de
Você acha que a representatividade possa ter te ajudado no autodescobrimento? Steven, incluindo a Garnet como um ícone LGBTQ, vendo que foi um marco a Cartoon deixar
Com certeza, sem sombra de dúvida. Se não existisse em mídia, eu teria entrado em conflito. passar esse tipo de coisa (como aconteceu também com o beijo da princesa Jujuba e Marce-
Nem imagino como seria sem. line de Hora de Aventura), a Garnet foi uma obra de arte expressando o amor entre mulheres
e como o amor consegue superar tudo, o que me inspira e me representa.
Você acha que o machismo e movimentos de Alt right tem a ver com LGBTQ?
Eu acho que a questão do machismo é muito prejudicial a liberdade do mundo LGBT, principal- Você produz conteúdo independente? Já teve alguma experiência com representativi-
mente quanto a homens afeminados... pessoas de masculinidade tóxica não costumam aceitar dade, como tentou abordar?
esse “mundo gay” em geral e isso, infelizmente, pode resultar na agressão física às pessoas LGBT. Sim, produzo conteúdo independente. Desde pequena sempre fui muito ligada ao desenho e
Os movimentos Alt-right não prejudicam apenas o LGBT, mas tudo o que é considerado “mi- maneiras de me expressar, aprendi tudo com minha irmã e meu primo. Esse conteúdo progre-
noria” socialmente. (Por mais que eu não me sinta bem com esse termo, mas enfim). Porém, diu comigo, refletindo o que eu sentia no momento.
não dá pra negar o fato de que movimentos alt-right são contra a liberdade de pessoas fora Além disso também faço textos: poemas falando sobre diversos assuntos, tanto de ódio e
do padrão, seja por orientação sexual, gênero, cor da pele e etc... então impacta diretamente. raiva quanto amor.

Marianna Bilotta Você acha que há falta da representatividade no geral dos conteúdos que assiste?
Acho que falta representatividade nas obras live action. Muitas vezes o programa em si, seja
Queria que você me contasse um pouco sobre quem é você, sua idade, se estuda algu- lá o que for, só da representatividade pro que é o óbvio: comédias, romance, drama; acabam
ma coisa e o que costuma fazer no seu tempo livre. sempre usando os mesmos artifícios de enredo. Animações também mostram esse problema
Meu nome é Marianna Bilotta, moro com meus pais e minha irmã mais velha, estudo no co- pelo público que acha que crianças e famílias não devam ver essa representatividade LGB-
légio PH, na filial de Botafogo. No meu tempo livre costumo desenhar, cantar, pintar quadros TQ, sem falar da cultura trans, que acho que até agora não vi nenhum exemplo.
e pesquisar sobre universidades fora do país, além de me encontrar com minha namorada.
Você está envolvido com a comunidade LGBTQ? Conhece, tem amigos, faz parte?
Dentre os gêneros de entretenimento (ação, aventura, comédia, comédia romântica, Sim, estou envolvida com a comunidade. Tenho uma namorada gênero fluido, o que eu tam-
documentário, drama, fantasia, ficção científica, suspense, terror, musical, animação, bém sou; tenho amigos homossexuais e a maioria das minhas amigas são bissexuais ou
romance), ordene do seu preferido ao que menos gosta? Disserte. lésbicas; também tenho dois amigos trans, então a comunidade está muito presente na minha
Dentre os meus gêneros de entretenimento favoritos estão musical, animação e comédia ro- vida.
mântica, que apresenta para bem ou para mal uma história que você já sabe o que vai acon-
tecer, sempre é um homem e uma mulher que se apaixonam de repente,acontece algo que Você se lembra, do primeiro, ou de um dos primeiros contatos que teve com o tema?
separa eles e no final eles acabam voltando. A animação sempre tem uma coisa nova, que Um dos meus primeiros contatos com o tema deve ter sido com Steven Universe ou com as
cria enredos e problemas diferenciados como por exemplo Monstros SA. Musicais me atraem meninas da minha sala no sétimo ano, quando eu também fiquei com uma menina pela pri-
por sempre estar ligada a música, acaba que musicais como Noviça Rebelde Hairspray abor- meira vez. Essa exposição me fez pensar sobre a possibilidade de gostar de garotas.
dam situações históricas que também me interessam.
Alguma vez esses temas foram abordados na sua escola, pelos seus pais ou psicólo-
Como era essa preferência na infância? Que tipo de conteúdo gostava de assistir e por go? Com que frequência?
que? Se mudou, me conta por que? Meu grupo de amigos tem costume de falar sobre feminismo, comunidade LGBTQ. As duas
Minha preferência na infância já eram animações e musicais por motivos diferentes. Tudo era escolas que frequentei faziam debates sobre isso, além de rodas próprias dos alunos. Houve
muito cativante, mesmo que você não entendesse a história, mas os elementos te fazem se até um caso em que uma professora cometeu transfobia e os próprios alunos levaram como
conectar com a obra. problema para a direção.

Quais seus personagens favoritos? Você se identifica, se vê representada em algum Em casa quando eu era pequena, antes de me descobrir, não falávamos desse assunto, meus
deles? pais sempre tentaram evitar. Eu me identifiquei com minhas amigas e levei essa pauta para

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dentro de casa, tudo estourou quando levei minha namorada pra casa. Sim, eu costumo consumir bastante conteúdo audiovisual, eu diria que é até minha segunda
Não costumo discutir esse tópico na internet. Acabo falando algumas coisas nas minhas redes maior fonte de lazer além da leitura. Não assisto tanto desenho, mas série e filme assim eu
sociais mas não saio tanto dos grupos de feminismo on-line da escola. consumo direito. Série eu costumo maratona qualquer original Netflix, os filmes que mais me
interessam ou são comédia romântica ou aquele tipo de filme que te bota pra pensar e que
Como foi seu processo de autodescobrimento? tem um plot twist no final, eu adoro um filme de suspense. Vídeo eu consumo bastante, princi-
Meu processo de descobrimento teve altos e baixos. Você nunca sabe qual vai ser a reação palmente no Youtube, como Daily Vlogs e vídeos mais relaxantes sobre rotina, inclusive é um
das pessoas a sua volta, as vezes você acaba assustando alguém. Quando fui contar para hábito que eu tenho antes de dormir.
meu melhor amigo sobre isso, ele falou “não esperava que você fosse assim”, com o tempo
ele foi se acostumando com a ideia. Em casa tive brigas com a minha mãe, várias discussões Quando você era mais nova, seu gosto era o mesmo de atualmente ou houve uma mu-
quando ela tentava me manipular para parar de namorar a Clara. Agora tudo está mais fácil, dança? Se houve essa mudança, foi por algum motivo específico?
um ano depois. Teve mudança sim, acho que principalmente por causa da maturidade. Conforme eu fui enve-
lhecendo, eu comecei a me engajar mais com movimentos sociais, ter uma consciência social
Você acha que a representatividade possa ter te ajudado ou não foi algo que teve aces- e política mais ativa, isso fez com que eu buscasse no audiovisual algo que me representasse
so? também. Quando eu era menor, eu gostava de desenhos infantis, essas coisas que não ti-
A representatividade ajuda as pessoas principalmente na autoestima. Por exemplo, antes de nham tanta reflexão profundas e, hoje em dia, esses filmes que quebram a cabeça me trazem
lançaram a Barbie diversidades, as pessoas ainda tinham uma visão muito forte da garota uns questionamentos sobre o mundo e a sociedade de um jeito mais profundo. Eu acho que
perfeita alta, magra, loira, curvilínea. Elas queriam se espelhar naquilo, mesmo que não se quando eu era menor eu não seria capaz de me interessar por isso.
identificassem. A representatividade te dá opção de ficar bem consigo mesmo e isso acaba
trazendo melhor sua aceitação; antes disso você se sente anormal, um monstro. Isso acaba Pelo amadurecimento houve essa necessidade de achar algo que te representasse, o
também ajudando na sociedade em si, que ainda é muito fechada e muitas vezes deixa gru- que você diz com te representar?
pos separamos de LGBTQ, héteros, em que LGBTQs são errados. A representatividade te faz Eu acho que a gente tá se descobrindo o tempo todo constantemente e quando eu tinha de-
sentir mais incluído. zesseis anos, quando me entendi como lésbica, precisei começar a procurar algum tipo de
conteúdo que me explicasse um pouco melhor como lidar com esses novos sentimentos que
Pâmela Thompson tinham aparecido, se estava tudo bem ser homossexual. Quando eu digo representar, é eu
poder enxergar no conteúdo audiovisual outras pessoas que são como eu sou, entender que
Queria que você me contasse um pouco sobre quem é você, sua idade, se estuda algu- elas levam uma vida normal e que a gente passa por alguns tipos de dificuldades, mas não
ma coisa e o que costuma fazer no seu tempo livre. é o fim do mundo. É importante a gente entrar em contato com alguém que já tenha passado
Meu nome é Pâmela Thompson, eu tenho vinte anos, estudo letras francês na UFF e no meu pelas mesmas dificuldades que a gente passou em algum momento da vida e saber que aqui-
tempo livre eu tenho hábito de ler, tocar violão e atualmente gravar vídeos para o meu canal, lo vai ser só um momento ruim que um dia vai acabar. Então, essa questão da representati-
que nasceu a pouquinho tempo. vidade surgiu pra mim nesse aspecto, o amadurecimento me trouxe por uma necessidade de
sobrevivência quase, parece intenso falar isso mas foi como eu me senti, eu precisava achar
Você disse que gosta de ler, você tem alguma preferência de gênero? Se sim, teria como você em vídeos, em filmes, em livros, pessoas que falassem sobre minha realidade também.
me dizer os que mais gosta e os que menos gosta, se possível explicar por que essa escolha.
Eu tenho uma preferência e gêneros sim e geralmente são contos e crônicas, porque eles E achar esse tipo de conteúdo foi algo tranquilo ou houve alguma dificuldade em achá-
costumam ser mais rápidos pra ler, ou seja, eu posso pegar pra ler em qualquer momento da -lo? E como foi seu primeiro contato com o conteúdo apresentado, que tipo de experi-
rotina e eu não necessariamente preciso ter uma leitura contínua, eu posso ler um conto no ência foi?
começo do livro, depois pular para algum do final, voltar para algum do meio, enfim. Não tem Principalmente no ano de 2016, foi um ano que misturou muito esse tipo de conteúdo. Então
nenhum gênero que eu gosto menos, na realidade eu sou bem aberta pra qualquer gênero eu, particularmente, não senti tanta dificuldade de achar. O primeiro vídeo que abriu portas
literário, mas eu não tenho tanto costume de ler tanta coisa assim de terror, mas adoro sus- assim, para eu encontrar outros conteúdos, foi o da Loui Ponto falando sobre uma pegadinha
pense e às vezes fica difícil desvincular um do outro. que estavam fazendo na época de contar para a mãe que era lésbica. Ela problematizou isso,
Além dos livros, você costuma consumir conteúdos audiovisuais? como desenhos, claro, realmente é uma questão super discutível e até desnecessária de fazer. Esse foi o pri-
séries, filmes, vídeos. meiro canal que começou a me mostrar uma realidade mais próxima da minha. Daí por diante,

68 69
eu comecei a descobrir outros canais de maneira mais natural, não lembro exatamente como Você se sente confortável dizendo quais foram as causas para essa procura? Algum
foi, mas tem muito isso de ter convidado dentro de um canal, acho que um foi levando ao outro problema, série, livro...
e agora eu sigo um monte. Bom, eu comecei a procurar porque eu queria entender o que eu faria depois que eu me en-
tendesse como lésbica. Eu queria saber como tinha sido o processo de outras pessoas para
Você acha que o contato com esses canais te influenciaram a criar o seu? Ou teve al- contar para a família, se foi algo natural, como as pessoas reagiram. Lógico que cada um vai
gum motivo diferente? reagir de uma forma diferente, mas eu queria ter pelo menos uma noção de como falar e isso
Influenciaram quase que diretamente. Eu sigo um canal da Mari Morena e ela tem dois obje- me ajudou bastante a me aceitar, digo, eu mesma. É um processo quando você se entende
tivos de conteúdo: um é fazer vídeo explicando tratamentos capilar, enfim, e o outro foco dela LGBTQ e você precisa lidar com isso; primeiro com você mesmo e depois falar com os outros
é justamente mostrar a rotina com a namorada. Isso é incrível, é super relaxante e meio que se você quiser. Então eu busquei conteúdos com esse intuito.
naturaliza essa questão da homossexualidade que já é uma coisa natural mas que algumas
pessoas ainda veem com muito preconceito, como algo extremamente diferente e distante, Em que você acha que a representatividade possa ter te ajudado?
quando na realidade é bem parecido com a vivência de pessoas hétero, por exemplo. Esses A representatividade me ajudou com certeza a fazer com que eu não me sentis-
canais me inspiraram a, de certa forma, representar outras pessoas e acolher mais gente da se só, eu acho que esse é o grande poder na realidade, das lutas sociais, da represen-
comunidade. tatividade de qualquer minoria. Por mais que o nome já diga que você é uma mino-
ria, não quer dizer que você é fraco. A representatividade foi fundamental para que eu
Atualmente você discute um pouco sobre a temática em seu canal, mas existe outros pudesse encontrar outras pessoas que tinham a mesma vida que a minha, os mesmos
espaços na internet que você discuta temáticas de representatividade, seja LGBTQ, fe- sentimentos, os mesmo conflitos e, principalmente, para que eu me sentisse amparada.
minismo, cor, entre outras? E você acha que essa troca de conhecimento é importante
para a sociedade? ESPECIALISTAS
Eu confesso que já discuti mais de outras formas, mas hj em dia tento evitar um pouco. Eu
acho que as redes sociais não são um ambiente muito saudável pra falar sobre essas te- Felipe Martins:
máticas, principalmente depois das eleições de 2018. As pessoas estão muito reativas em
completos extremos, parece que o mundo virou um interruptor que só pode assumir um lado Você podia contar pra gente um pouco do que você faz?
ou outro. Então, eu particularmente tento evitar, lógico que eu acho que é super importante Eu escrevo sobre o tema a pelo menos uns 15 anos, me formei e terminei a graduação tem
discutir essas coisas, mas a gente tem que entender também qual é o ambiente que a gente um bom tempo e desde então pelos veículos por onde passei tentei levar a pauta, blog,
tá e com que tipo de pessoa a gente tá falando, se não a gente acaba recebendo ofensas materiais artigos, forma de canalizar pelo jornal o que já fazia como contratado agora como
gratuitas e não conseguir nenhuma troca. Ninguém se escuta e não vira um diálogo, vira uma dono do meu próprio nariz, Rio gay life como site viável financeiramente, continuando a fazer
troca de ofensas, então eu estou evitando. conteúdo de cidadania mas viável comercialmente, não tinha nada no mercado, com ajuda do
Só complementando que, nesse momento específico que tá o cenário político, além da so- namorado designer. Continuando a falar sobre cidadania.
ciedade do brasil em um modo geral, eu acho que a gente tem que discutir com quem está
disposto a ouvir. Não é que você precise se isentar de dar uma opinião em uma rede social, E qual a diferença que você percebeu de quando você faz um material contratado e
mas saber que é melhor dar sua opinião em um espaço seguro, ao invés de falar com qual- independente?
quer pessoa que você não conheça e que você não saiba como pode reagir. Eu costumo fazer Estabilidade financeira e segurança do contratado, pra quem começa trabalho independente,
mais com grupos de amigos, com pessoas que eu conheça e que sei qual é o posicionamento. você é desconhecido, suporte do jornal pras pautas com abertura e com quem quisesse en-
Por um lado, isso é ficar na própria bolha, mas ao mesmo tempo é o lugar onde eu me sinto trevistas (matérias de cidade, repórter para jornal, sugerir pautas) x trabalho do blog indepen-
segura. dente difícil de conseguir os meios para conseguir as infos, locomoção tudo mais; é difícil de
construir o trabalho independente, pela militância, é difícil de construir o trabalho independen-
Você me disse que sua busca começou aos 16 anos, mas antes disso, temáticas de te, pela militância, existe uma dificuldade de se virar com os próprios recursos, dependendo
representatividades foram expostas para você na escola e/ou dentro de casa? de anunciantes para revista. Já as empresas têm muita restrição à se associar com marcas e
Não, antes eu não tinha tido acesso e ninguém tinha me apresentado uma temática parecida. produtos destinados ao público LGBT.
Precisou ser uma busca pessoal minha.
Você sempre quis trabalhar esse tema de representatividade dentro do jornalismo ou

70 71
foi uma necessidade de abordagem que você percebeu ao longo dos anos? Como você acha que faz diferença quando é uma pessoa de dentro da comunidade
Romantismo do jornalista escolher a profissão como forma de mudar o mundo, gay negro escrevendo sobre esse assunto?
periférico, sempre viu como uma forma de ajudar na forma de transformação social, cada Vai existir sempre uma diferença, dependendo sempre do nível de envolvimento e de do tem-
trabalho conta pra dar visibilidade com o poder que a mídia tem. Sugeriu o blog pra revista. A po que ele tem pra fazer a matéria. Jornalismo hoje em dia é feito rápido que nem fast food,
temática foi por vivência. para lançar matéria. Os repórteres foram vendo com o tempo que não tem mais carro de ir a
campo para apurar, tendo que fazer pelo telefone, caindo a qualidade e o resultado final, e não
Você acha que tinha mais dificuldade de abordar esse tema no início da sua carreira? tendo já um envolvimento com o tema as chances de você errar no texto aumentam.
2005 não tinha Facebook, aplicativo de relacionamento, as pessoas ainda eram muito mais
no armário, madureira ruazinha é um point LGBT da zona norte, era muito difícil darem entre- O que você acha de como empresas usam a imagem do LGBTQ na publicidade?
vista, não queriam se expor, hoje em dia as pessoas querem aparecer, dar entrevista, junta Eu acho que a publicidade segue um padrão para todas elas, que é o cis-heteronormativo.
galera. Mudou o aspecto de conseguir as pessoas para falarem. Isso vem ganhando discretas mudanças nos últimos anos, mas os corpos que são retratados
são basicamente os mesmos, dos homens brancos. Ainda falta aquela palavra, que já está
Editorialmente, houve uma evolução mas tá longe do ideal. É possível pautar aqui e ali uma batida, diversidade e pluralidade. Se teve um caso emblemático, que a diversidade foi retra-
matéria sobre o tema, mas se você colocar com frequência ficam achando que você quer fa- tada em uma propaganda do Banco do Brasil, e que o governo atual resolveu censurar ela.
lar sobre um assunto só. Editor mais velho (50 anos) tem cabeça fechada, é difícil de propor É isso, ainda falta muito e o caminho é longo. A publicidade entende que existem corpos que
pauta sobre sexualidade. Falta a naturalização, tem que entrevistar as pessoas diversas para vendem e corpos que não vendem, então cria esse padrão vendável.
conseguir dados de entrevista variados também. As redações tem muitos chefes homens Ainda temos que ver os novos meios, como Instagram, que apesar de darem novas vozes e
héteros, muito fechados. possibilidades de pronunciamento, a propaganda segue com maior número, você tem que in-
fluenciar. Esses números estão nas mãos de pessoas brancas, que por terem mais facilidade
Você ainda dá o curso sobre representatividade? Como foi essa experiência? No que de comunicação e de uma câmera mais adequada a produção de conteúdo, então continua a
você acha que esse seu trabalho beneficiou a comunidade? repetir esse ciclo vicioso.
Na verdade foi mais um workshop, não dou mais.
O que te inspira a continuar fazendo esse trabalho, apesar das adversidades?
História: Falta de diversidade nos meios de comunicação, empregados de grande maioria O que me inspira é uma percepção de que, sem falsa modesta, tem muitas poucas pessoas
brancos, de classe média. A Coca-cola divulgou seu “grupo de diversidade” e todos eram jo- fazendo realmente um trabalho de diversidade no segmento LGBT em mídia. Se você for nas
vens brancos que pareciam irmãos. onde estava a diversidade? Resultado que se vê na mídia páginas de LGBTI em geral, vai ver um conteúdo homogêneo. A timeline do Facebook, Insta-
nos meios de comunicação é de falta de diversidade dentro das empresas, elas continuam gram, é dominada por imagem de pessoas brancas. Eu fujo dessas regras e tento fazer um
cometendo erros porque elas não têm diversidade dentro do seu corpo. trabalho que contemple realmente a diversidade com corpos diferentes e com todas as letras
da nossa população. Por isso ainda acho que sou útil a fazer o meu trabalho de mídia LGBTI.
Foram experiências maravilhosas, o tempo de estudante e de professor eu vi a evolu-
ção da sociedade, principalmente dos jovens. Estudei na mesma faixa e a única vez que Renata Nolasco:
eu vi falarem sobre homossexualidade nos 4 anos de graduação foi numa aula de técni-
cas de entrevista e ele levava um aluno a frente para ser entrevistado por todos os alu- O que inspira seu trabalho?
nos e um deles falou abertamente sobre homossexualidade dele e foi uma das poucas ve- Coisas diferentes inspiram trabalhos diferentes. Eu costumava separar meu trabalho em Tiras
zes que o assunto surgiu, as pessoas não sabiam como abordar. Voltar ministrando uma e Quadrinhos (hoje, eu não faço mais tiras; ou pelo menos não é meu foco). Tiras partiam de
aula sobre isso, vendo que agora ha um conhecimento pleno sobre transsexualidade, in- um lugar mais de calor do momento. Algo que me tocou e eu tinha que colocar aquele sen-
terssexualidade, não bianrismo que é mais difícil de entender porque é um assunto mais timento pra fora. Porque nós vivemos no Brasil em 2020, né, esse lugar era constantemente
novo. as pessoas estão mais por dentro do tema. o público das duas faixas o público raiva com a política atual. Essa forma de me fazer ouvir acabava coincidindo com as vozes de
em sua maioria eram LGBTI, os alunos héteros não compareceram ao workshop, é uma outras pessoas. Fazer tiras é um rolê meio catártico. Já meus quadrinhos, esses vem da mi-
pena que a população hetero continua tratando o tema ainda com muito desinteresse. nha vontade de contar histórias que eu gostaria de ler. Desde criança eu gosto de me projetar
em outros universos e criar novas pessoas - aliás, como toda criança, o impulso só não parou
depois que cresci -, agora que eu desenho profissionalmente ter me voltado para quadrinhos

72 73
parece apenas uma progressão natural. propósito com essas exceções? Por que não é um homem branco?) Quebrar a construção
social do homem branco como representante de toda a raça humana é um trabalho cansativo
Por que acha importante abordar os assuntos de representatividade? que ainda vai perdurar por muito tempo. Histórias sobre homens são histórias, histórias sobre
Engraçado que sempre me falam isso de que meu trabalho tem representatividade, mas na mulheres são agenda. Enquanto as pessoas pensarem assim, muitos vão ser repelidos por
maioria das vezes eu nem reparo. Não é deliberado. Eu desenho as pessoas que eu vejo a essas narrativas. Também pesa pra mim que, mesmo quando nós vemos esse tema aborda-
minha volta e conto histórias que eu conheço. Na primeira vez que me apontaram que a Ana do, muitas vezes quem está fazendo não é uma parte desse grupo.
é negra, deficiente e lésbica como se eu tivesse montado isso para atender uma agenda eu
tomei um susto. Ela é negra porque a maior parte da população brasileira é e a história se O que acha da falta de boa representatividade lésbica na mídia, principalmente, e maior
passa no Brasil, ela não tem uma perna porque é relevante na construção de seu passado na visibilidade gay masculina em comparação à outras sexualidades?
história, e ela é lésbica porque o mundo já contou histórias de romances hétero o suficiente e E normalmente quando tem lésbicas é fetichizado, né? Não existe só um motivo para isso.
eu não tenho interesse em escrever mais um. Acredito que suas histórias, como autor, sejam Sociedade misógina e misoginia internalizada de mulheres, a ausência de personagens femi-
um reflexo do ambiente a sua volta. Se você só lê histórias de homens brancos héteros, você ninas complexas na mídia, a própria fetichização de relações lésbicas... Nossa, muito pano
vai ver homens brancos héteros representados. Mais importante pra mim do que ler sobre mi- pra manga. Se nós já temos que lutar para ter UMA personagem de destaque na trama, logo
norias de poder é saber que criadores de minorias de poder estão ESCREVENDO e SENDO DUAS e fazer elas virarem um CASAL. A representação de homens gays está vários passos
LIDOS, porque isso significa mais do que uma estrelinha de progressista, significa que uma na frente, nós já vemos muitos homens na mídia, a escada para os homens é a sexualidade
visão de mundo está sendo compartilhada. representada. Mulheres ainda estão lutando para serem vistas e terem falas e serem parte da
narrativa mesmo sendo hétero.
O que você achava da retratação da mídia quanto à diversidade quando era criança e
no que acha que isso te afeta hoje em dia? Como foi escrever dois trabalhos diferentes incluindo personagens LGBTQ? Qual foi a
Eu odiava personagens mulheres. Tinha asco. Nojo. Nossa, ódio. Elas eram sempre tão bo- diferença de abordagem entre um quadrinho de ação e outro focado justamente nesse
nitonas e maquiadas e sedutoras e nada como eu e nada como eu queria ser. Me lembro de assunto?
ficar totalmente obcecada pela Jade de As Aventuras de Jackie Chan quando era criança A Ana é só a Ana, sua sexualidade está no meio de uma série de acontecimentos na histó-
porque ela aventureira, forte, engraçada, enfim, ela era um modelo para mim. Eu estava bem ria, não é algo que eu passei muito tempo refletindo ou que eu me demore muito na história
mais interessada em artes marciais do que em maquiagem com meus 13 anos de idade. E explorando. Essa é a Ana, essa é sua namorada, Deusa. É isso. Vida que segue, a trama
por muito tempo me perguntei se isso não era só misoginia internalizada me fazendo odiar anda, é posto de forma natural e sem rodeios. Não tenho interesse em escrever romances
o feminino e me espelhar em mulheres “masculinas”, mas hoje eu detesto essa classifica- heterossexuais, então a decisão já estava tomada quando eu decidi que ela ia estar em um
ção. Não existe isso de “mulher masculina”, existem mulheres e suas personalidades. Pearl relacionamento amoroso. Já em Histórias Quentinhas eu refleti bastante sobre a experiência
(Steven Universe) é extremamente feminina e é minha personagem favorita do desenho. A LGBT para o Túlio, não queria fazer feio. Quis abordar como você pode estar completamente
diferença é que a Pearl não é feminina para alguém e sua feminilidade não é construída para oblívio a sua própria sexualidade até alguém te sacudir - ou ignorado ela até que não dê pra
o olhar masculino. Eu teria odiado menos a feminilidade se ela não tivesse sido escrita por ignorar mais. Como bissexual, foi muito divertido de escrever. Acho que a principal diferença
homens que consideram feminino uma fraqueza. Hoje, tudo isso tem um reflexo muito grande é que em Só Ana sua sexualidade é um detalhe na história que não faria a menor diferença
em como eu desenho mulheres. Sobre a questão da sexualidade, ainda é difícil dizer porque se ela fosse hétero e estivesse saindo com um cara (exceto pra lésbicas, grande diferença
eu não fui uma criança que via LGBTs na mídia. Talvez essa ausência me faça escrever mais para a lésbicas), e em Histórias Quentinhas eu tive que falar especificamente sobre a vivência
sobre isso hoje, mas, pra ser sincera, nunca pensei muito nesse aspecto. Narrativa LGBT é LGBT, é intrínseco à narrativa.
algo que entrou mais pra frente na minha vida.
Qual a importância de incluir artistas dentro dessa comunidade para criação de perso-
Por que acha que a questão de gênero é pouco abordada? nagens LGBTQ?
Se eu te disser pra imaginar uma pessoa, grandes chances vão ser que você vai imaginar Acabei já falando sobre isso nas outras respostas. A importância é garantir que uma visão de
um homem branco. O homem branco foi codificado em nossas mentes como o ser humano mundo está sendo representada, não apenas como o mundo vê aquelas pessoas. A forma
padrão. Tudo fora disso é uma exceção e precisa ser especificado. E, por precisar ser espe- como você se vê e o mundo te vê são completamente diferentes, então é claro que como
cificado, muita gente vai achar que você está mais interessado nessa especificidade do que um hétero escreve LGBTs e como LGBTs se escrevem é diferente. Antes de falarmos sobre
na história (mas qual o motivo desse personagem ser negro, mulher, deficiente? Qual o seu “qualquer um pode escrever o que quiser sobre qualquer um”, é importante garantir que as

74 75
pessoas possam escrever suas próprias histórias.
Como você acha que fãs e pequenos artistas ajudam na evolução da representatividade 13.2. QUESTIONÁRIO
da grande mídia?
Meu sonho é que as pessoas parem de procurar representatividade nas mãos de grandes Representações gráficas e visuais sobre as respostas do questionário realizado.
Carimbo de data/hora Endereço de e-mail Nome pelo qual quer ser chamado:
Gênero: Idade: E-mail ou whatsapp (não esqueça
Caso você
o código
seja menor
de área)
de idade,
Você
para contato:
sabe
inclua
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Eu nãosociais
sei categorizadas
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identidade
Olympus,
hulu...),
de
SimOutlander,
Youtube,
gênero eWebcomics
orientação
Dark, Dont romântica
Starve
Homestuck
Together
e Lore Olympus possuem personagens LGBT, além de desenhos conhecidos como Steven Universe
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Raisa Mulher cis 13 a 16 raisapereirasantos50@gmail.com
rairai2070@hotmail.com Sim. É a comunidade que abrange
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parte da
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porcentagem
Animes,
heterossexual
She-ra,
séries
Voltron,
animadas
e/ou
O Principe
cisgênero.
Sim
Dragão, Minecraft
07/04/2020 20:41:48 harley7ds@hotmail.com Dereck Masculino 17 a 20 harley7ds@hotmail.com Lesbicas Gays BissexuaisComunidade
Transgênerode
Queer
pessoas com
Não Sexualidade/Gênero que
Serviços
diferede
dosstreaming
vistos como
(netflix,
Darkest
padrãoamazon
social
Dungeon,
prime,Ragnarok
hulu...),
SimYoutube,
Online, Beastars,
Vídeo games
MortalEnquanto
Kombat mais representatividade deveria ser incentivada, falta muito no mercado uma representividade que trate a comunidade LBGTQ como normal. Muitas mídias se aproveitam para usar personagens dessa comunidade como propaganda e "bait" (te

vejam representadas. Hoje, um autor LGBT não precisa ter publicado um livro sequer por
07/04/2020 20:45:01 danizinha.g.rocha@gmail.com
Dani Feminino 17 a 20 55021971135064 Sim Sim Serviços de streaming (netflix,
Atypical,
amazon
Grey's
prime,
anatomy,
hulu...),
sex
SimVídeo
education,
gamesorange is the new black, the sims 3 e 4
07/04/2020 20:45:25 lelealvesmedici@gmail.com
Lelets Feminino 17 a 20 lelealvesmedici@gmail.com Sim LGBTQ é uma sigla para uma
Sim série de gêneros e sexualidade
Serviços de
diferentes
streaming
de(netflix,
cisGumball,
e hetero,
amazon
senhor
vistos
prime,
como
doshulu...),
anéis,
as comuns
SimStar
Youtube
Wars,
e mais
Breaking
aceitasBad,
na nossa
hora de
sociedade.
aventura, Marvel, DC, animes diversos
07/04/2020 21:14:57 jgabriel.simoes23@gmail.com
Gabriel Homem 13 a 16 jgabriel.simoes23@gmail.com
nem Sim Eu não sei Serviços de streaming (netflix,
Deadamazon
By Daylight(jogo),
prime, hulu...),
TWD(série),
NãoYoutube,Breaking
Vídeo games
Bar(série tbm), Harry Potter(filme), etc
Séries: Dark, Stranger Things, The Crown, Westworld, Game of Thrones, The Witcher, Sex Education, Sabrina
Jogos: two dots, brawl stars, super mario world, donkey Kong, candy crush, atomas

editora para se manter com literatura. Talvez esse seja o impacto. Os espaços que criamos na
07/04/2020 21:23:46 tereza.lumo@hotmail.comTereza feminino 21 a 25 tereza.lumo@hotmail.com sim movimento de luta de lésbicas,
Não gays, bissexuais, trans
Serviços
e queerde streaming (netflix,
não seiamazon
o queprime, hulu...)Sim
é webcomics gente fiz o questionário p ajudar vcs mas tenho pouquíssimo conhecimento desse assunto então n me chamem pra entrevista kkk boa sorte!
07/04/2020 21:36:00 sofiahuppes2@gmail.comSofia Mulher cisgênero 13 a 16 49991959711 Sim LGBTQ são todos aquelesSim
que se consideram fora do
Serviços
padrão de
hetenormativo
streaming (netflix,
e Jojo's
cisgenero.
amazon
Bizarre
São
prime,
Adventure,
pessoas
hulu...),
trans,
Attack
SimYoutube,
homo,
on Titan,
Vídeo
aro/ace...
League
games,
of ps:
mangás/animes
Legends,
sinto mto
TWDG,
não botar
Danganronpa
telefone de contato para responsável, não sei se vcs vão chamar eles e não quero envolver minha família
07/04/2020 22:48:37 luizaverdier@gmail.com luiza mulher 21 a 25 (21) 98664-7816 sim sendo bem literal a sigla que
Eu envolve
não sei pessoas da comunidade
Serviços de
lesbica,
streaming
gays,(netflix,
bissexuais,
harryamazon
potter,
trans
sex
prime,
eeducation,
queer.
hulu...),
AsSimgood
vezes
Youtube
place,
tbm tem
atypical,
um + doirmão
ladodoindicando
jorel, gravity
que falls
engloba qualquer outra orientação sexual não normativa
07/04/2020 22:48:50 caiogoesbiriba@gmail.comCaio Masculino 17 a 20 caiogoesbiriba@gmail.com Sim Eu não sei TV aberta, Serviços de streaming
Harry Potter,
(netflix,
modern
amazon
family,
prime,
Simjane
hulu...),
the virgin,
Youtube
stranger things, elite
08/04/2020 00:00:26 antoniogf003@gmail.com Antonio Masculino 13 a 16 (21) 99710-0908 acredito que sim é uma minoria social para Eu
pessoas
não sei
que estão fora daServiços
heteronormatividade
de streaming e(netflix,
que
Sex é muito
Education,
amazon
malprime,
vista
Brooklyn
ehulu...),
sofre
99,
Sim
com
Youtube,
Harry
muito
Potter,
Vídeo
preconceito
The
games
Witcher,
(LGBTQfobia)
Fallout 4, LoL

ausência de voz na grande mídia tem crescido tanto que eles não podem mais nos ignorar e
08/04/2020 00:15:18 isabellapfeferdelcielo@gmail.com
Isabella Feminino 13 a 16 Isabellapfeferdelcielo@gmail.com
Shinyshycord@gmail.comEm uma resposta curta, são
Tenhos
tipos de
LGBT
sexualidade
e eu mesma
e identificação.
Sim
sou LGBT, sendo
SendooLB(Lesbica),
daServiços
composição
G (Gay),
de streaming
heh.
B (Bissexual),
Tento(netflix,
entender
Steven Tamazon
(Transgênero),
Universo,
todosprime,
os gêneros
Good
hulu...),
Q Omens,
(Queer)
eSimsexualidades
Youtube,
Undertale
e TEM Webcomics
MAIS
para
e até
respeitar
mesmo
Acho do
Personagens
adorável
melhor jeito
estaOriginais
as
entrevista,
pessoas.
de amigos
espero que
(issoaconta?)
entrevista dê certo
08/04/2020 00:23:13 renatacrrocha@gmail.comRenata Mulher Cis 17 a 20 renatacrrocha@gmail.com Sim Eu não sei Serviços de streaming (netflix,
Harryamazon
Potter, prime,
Lore Olympus,
hulu...),
SimYoutube,
Senhor dos
Webcomics
Aneis, Steve Universo, Avatar (série animada), Castlevania
08/04/2020 00:30:48 pedrofariax@gmail.com Pedro Faria Xavier Masculino 26 a 30 pedrofariax@gmail.com Sim Não Serviços de streaming (netflix,
Senhor amazon
dos Anéis,
prime,Vikings,
hulu...),
Sim
Game
Youtube,
of Thrones,
Vídeo games
série Mount&Blade, Rick & Morty...
08/04/2020 00:31:22 trashqueen4@gmail.com Beatriz Feminino 17 a 20 trashqueen4@gmail.com Sim Tudo que não é hetero e/ou
Sim
cis Serviços de streaming (netflix,
She-ra,amazon
Avatar
prime,
( Aang
hulu...),
e Korra
SimYoutube,
), Pokémon,
VídeoKipo,
games,
Príncipe
Representatividade
Webcomics
Dragão, Carmen
é algo
Sandiego,
extremamente
Orange is
importante.
The New Black,
Além de
Good
fazer
Doctor,
com que
Rock
os and
LGBTS+
Riot se identifiquem e se aceitem com mais facilidade, normaliza o assunto pra quem não entende ou não tem contato com pessoas da comunidade.
08/04/2020 00:35:24 erika.foscolo17@gmail.com
Érika feminino 13 a 16 (11) 99002 5505 gfoscolo@gmail.com Sim. Não sendo a comunidade?Sim
Siglas que definem um encurtamento
Serviços de streaming
de sexualidades
(netflix,
Zelda,eamazon
identificações
Assassin's
prime,
Creed,
de
hulu...)
gênero,
The
SimFever
em conjunto
King, Black
por todos
Mirror,fazerem
The Twilight
parteZone.
de um espectro de auto descoberta de identidade (lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, etc).

acabam nos contratando para nosso público.


08/04/2020 00:59:31 alcides.angelo10@gmail.com
Cid Oliveira Não-binário / Agênero (Qualquer
17 a 20pronome) alcides.angelo10@gmail.com Sim Sim Youtube, Vídeo games Celeste, Animal Crossing, Sim
Zelda, Overwatch Não sou outed ainda então queria tomar cuidado com exposição
08/04/2020 01:49:50 jessimanuele@outlook.com
Jessica Feminino 13 a 16 +55 19 989002786 Eu prefiro que não tenha contato
É a comunidade
com responsável.
que enquadra
Eu entendo
os gays,
como
lésbicas,
uma comunidade
bissexuais,
Sim trans,
que junta
quers,
deseja
e outros
TV
se aberta,
ajudar
gêneroseServiços
ter
oumais
orientações
de
visibilidade
streaming
Diabolik
sexuais
em
(netflix,
Lovers:
todos
diversas.
amazon
Haunted
os meios
�� prime,
Dark
Sim
de comunicação
Bridal
hulu...),
e Youtube,
La Casa
e buscar
de
Vídeo
Papel.
porgames
seus direitos pela vida e pelo conviver, esperando respeito de outras pessoas, mutualidade, além de estarem dispostos a se defenderem e se ajudarem em momentos de necessidade. É uma comunidade que engloba diferentes tipos de pessoas, de
08/04/2020 07:10:33 marianaamlv@gmail.com Mariana Feminino 13 a 16 21967692996 21999292388 Sim Sim TV aberta, Serviços de streaming
Brooklyn(netflix,
99, jogos
amazon
vorazes
prime,
Sim
, grey’s
hulu...),
anatomy
Youtube
08/04/2020 10:24:01 larissapowerangel@gmail.com
Larissa Rangel Saide Feminino 17 a 20 (21) 999307858 Sim É a parte da comunidade que
Sim não se encaixa dentroServiços
dos padrões
de streaming
que a sociedade
(netflix,
Steven amazon
exige,
Universo,
sendo
prime,
Puppy
dehulu...),
gênero
Cat,
SimYoutube,
ou
Hora
sexualidade.
de Webcomics
aventura... Acho que não. Boa sorte!
08/04/2020 10:50:06 mysticgalaxy@outlook.com
Isadora Feminino 13 a 16 61981816765 61992253696 sim comunidade de pessoas onde
Sim se é livre para expressão
Serviços
de gênero
de streaming
e sexualidade,
(netflix,
Steven
quaisquer
amazon
Universe,
prime,
sejam
Adventure
hulu...),
SimYoutube,
Time, Animal
Vídeo
Crossing
games
08/04/2020 12:06:12 ana.carolinarib@live.com Ana Feminino 17 a 20 +55 (13) 97416-2432 . Sim. Uma comunidade que reúnem
Eu não
aqueles
sei que são excluídos
Serviços
da representatividade
de streaming (netflix,
Steven
social.
amazon
Universo,
prime,
Harry
hulu...),
Potter,
SimYoutube,
SenhorTwitter
dos Anéis, The
Não
Gray
queGarden,
eu saibaHora
no momento.
de Aventura, Hollow Knight, BNHA
08/04/2020 12:55:51 shiroiyuukichan2@gmail.com
Giovanna Feminino cisgênero 21 a 25 shiroiyuukichan2@gmail.com Sim Grupo que abriga todas asSim
escolhas de gênero e sexualidade.
TV aberta,Esse
Youtube,
grupoVídeo
permite
Steven
games,
a liberdade
universe,
Webcomics
deSonic
escolher
theSim
Hedgehog,
o que vocêThe
quiser
elder
serscrolls,
e quem Senhor
amar dos Anéis, Dark souls
08/04/2020 14:08:42 Kethlen.cristini@gmail.comFelix Não Binário 17 a 20 21 98398-7871 Sim Sim Serviços de streaming (netflix,
Harryamazon
Potter, prime,
Stevenhulu...),
universe,
SimYoutube,
Life is Strange
Webcomics
08/04/2020 20:58:04 adrianaooura@gmail.com Moura Feminio Mais de 30 21988074444 Sim Gays lasbicas trans bi queridos
Não TV aberta, Serviços de streaming
Todas as
(netflix,
seriesamazon
de sci fi prime,
Sim hulu...), Youtube Sensate


08/04/2020 21:09:30 mangi1967@gmail.com Miguel Masculino Mais de 30 21988604444 Sim A sigla que determina as situações
Não de gênero que cada
TV aberta,
pessoaServiços
se identifica
de streaming
Harry Potter
(netflix, amazon prime,
Não hulu...)
09/04/2020 19:25:08 tylaracconde@yahoo.com.br
Tylara Feminino 13 a 16 14988115640 Sim Lgbtq é uma sigla que significa
Sim lésbicas, gays, bis, trans,
Serviços
queer,
de etc.
streaming
É uma (netflix,
comunidade
Hollow amazon
Knight
queprime,
(jogo),
luta pelos
hulu...),
Lovespells
direitos
SimYoutube,
das
(comic),
pessoas
Vídeo
onegames,
day
que at
fazem
Webcomics
a time
parte
(série),
dessaSteven
minoria
universe (cartoon), hora de aventura (cartoon), the good place (série)
09/04/2020 19:45:55 Nathaliadalbello@hotmail.com
Nathalia feminino 17 a 20 +55 (14) 98803-4912 +55 (14) 98803-4914 Sim, sei sim (mas admito não
O que
saber
eu sei
todas
sobre
as siglas,
a comunidade
Sim
é uma comunidade
LGBTQ nãobem
é muito.
abrangente)
TV Sei
aberta,
que Serviços
é uma comunidade
de streaming
Stardew
grande,
(netflix,
Valley,
diversa,
amazon
Slime onde
Rancher,
prime,
Sim
as pessoas
hulu...),
TAWOG Youtube,
se(Gumball),
sentemVídeo
deEspero
ADT
determindadas
games,
(hora
queWebcomics
de
dêaventura),
tudo
formas,
certocom
Harry
na pesquisa
determinadas
Potter, Minecraft,
de vocês!
características,
Se
I ameunot
puder
okay
dentro
ajudar
withde
this,
respondendo
aspectos
lovespells,
(asmais
vezes
Greenhouse
alguma
até bem
pergunta,
Academy,
específicos),
estarei
The Walking
dividido
a disposição!
em
Dead,
vários
La Casa
espectros.
de Papel,
Por mais
The Good
que seja
Place,
umaHilda,
comunidade
She-Ra,muuuuito
The Louddiversa,
House, acredito
ODAT (One
que Day
boa at
parte
Time)
do pessoal parta do princípio de:
10/04/2020 15:16:10 carlosaquarema@gmail.com
Magno Masculino 17 a 20 21 99501-3553 Sim Eu entendo o LGBTQ como
Euuma
não comunidade
sei buscando
Youtube,
ascenção,
Vídeoeles
games
querem
Hora
ser de
vistos
Aventura,
como pessoas
Gumball,
Sim
normais,
Todo mundo
o queodeia
os foionegado
Chris,
Crescer
Doom,
pelos
com
preconceitos
Wolfenstein,
todos dizendo
enraizados
Megaman
que serX,
em
daMortal
comunidade
nossaKombat,
sociedade
LGBTQ
Deltarune
por era
muito
umtempo.
pecado ou falta de surra foi bem aterrorizante. Ainda sim, eu não vou mudar meu jeito de ser independente do que for.
11/04/2020 09:32:50 minatomat@gmail.com Matheus Homem Hétero Cis 21 a 25 21999306677 Sim Lésbica Gay Bi Trans Queer.
NãoNão entendo muito mais
Youtube,
que isso.
Anime Steins;Gate, Shingeky no Kyojin,
Sim Clannad Eu não acho que, sendo quem eu sou, o que eu posso dizer vá ajudar vocês. Mas, se ajudar, sintam-se à vontade para me chamar no whatsapp.
Que precisamos de uma representatividade saudável, real e natural
11/04/2020 15:43:05 izzy.mendes.santos@gmail.com
Isaak ou Izzy Gênero Fluido 17 a 20 izzy.mendes.santos@gmail.com Sim! Entendo que seja um meioSim
de se identificar, onde achamos
TV aberta,
queServiços
podemosde
terstreaming
um
Castlevania,
certo (netflix,
conforto
Beastars,
amazon
com nós
livros
prime,
mesmos,
Simcom
hulu...),
criaturas
sendoYoutube,
livres
fantásticas
dessa
Webcomics
Não
ou
sociedade
nos
apocalípticos.
mostrando
cis-heteronormativa.
como arquétipos ou queerbait

13.3. IMAGENS

76 77
78 79
Manual Objetivo Sua mªo personagem lhe garante 1 de experiŒncia (vale
ressaltar que todo jogador come a no n vel 1). S
Inspirado em um RPG, s uma fase busca, por As cartas que estªo na sua mªo nªo estªo em
nªo vai esquecer em que n vel vocŒ estÆ, hein.
meio de diÆlogos saudÆveis, explorar diferentes jogo : elas nªo te ajudam, mas podem ser
Deixe as cartas de obstÆculos superadas junto de
ITEM personagens e jogabilidades, atØ alcan ar o n vel
mÆximo: 15: SerÆ vocŒ o grande vencedor? S
guardadas em segredo para montar sua
estratØgia de jogo: No final de seu turno, vocŒ
vocΠpara a contagem.
jogando para descobrir... deve respeitar o limite mÆximo de 5 cartas em O jogo possui trŒs etapas, sendo elas azul,
sua mªo: amarela e laranja. Seus n veis de dificuldade sªo
proporcionais ao n vel dos jogadores, ou seja,
Come ando Cada tipo de carta pode ser utilizado em um
desde o in cio da partida vocΠcompra cartas do
momento espec fico: Cartas em jogo nªo podem
s uma fase te dÆ o espa o e os meios para bolo azul. VocŒ s come a a pegar cartas do bolo
ser retornadas para sua mªo elas devem ser
entrar em uma persona completamente diferente amarelo ap s ganhar 5 experiŒncias e do bolo
descartadas ou trocadas se vocΠquiser se livrar
de vocŒ: Conecte-se com o seu personagem, e a laranja passando de 10.
de uma delas.
sua jogabilidade ficarÆ milhıes de vezes mais rica!
Podem jogar de 3 a 6 jogadores. Separe as cartas
As cartas em sua mªo podem ser equipadas , com Turnos
limite de 5 itens equipÆveis: 1 de cabe a, 2 de
em 4 decks: trŒs de obstÆculos (de acordo com as No in cio do seu turno vocŒ pode jogar cartas:
mªos, 1 para corpo e 1 para os pØs, 1 item
cores de dificuldade: azul, amarelo e laranja, escolher quais os itens que estarªo em uso e
sexualidade e 1 item estilo.
respectivamente) e um de itens (de cor rosa). quais serªo guardados . Quando suas cartas
Embaralhe os decks separadamente, distribuindo estiverem arrumadas do jeito que vocŒ quer, vÆ
5 cartas de itens para cada um dos jogadores. In cio e Termino da partida para a primeira etapa:
DŒ uma olhada em suas cartas iniciais: se vocŒ O jogo se dÆ em turnos, cada um com diversas 1. Vivencie a vida: Compre uma carta do deck de obstÆculo e
tiver qualquer carta de estilo ou sexualidade, vocΠfases. Quando o primeiro jogador come a seu revele-a no centro da mesa. Resolva o combate completamente
pela for a de estima antes de continuar. Se vocΠsuperar o
pode, se quiser, colocar uma de cada tipo em turno, ele retira uma carta do baralho de obstÆculo, suba +1 experiŒncia e pegue o nœmero apropriado de
jogo , revelando as cartas e colocando-as em obstÆculos. Sua for a de estima, total da soma cartas de item (2 itens na primeira etapa, azul; 3 itens na
mesa sua frente. Se vocŒ tiver qualquer item, da sua experiŒncia (ou seja, nœmero de segunda, amarelo; e 4 itens na œltima etapa, laranja).
que possa ser utilizado, vocŒ tambØm pode jÆ obstÆculos jÆ superados) + qualquer 2. Achados e perdidos: Se vocŒ tiver mais de 5 cartas em sua
colocÆ-lo em jogo . modificador positivo ou negativo conferido mªo depois do turno de todos os jogadores, vocŒ deve descartar
quantas cartas forem necessÆrias para que se respeite o limite
Logo em seguida, cada participante joga o dado por itens e cartas de boato, determinarÆ se ele de 5 cartas, descartando-as em um bolo de descartes . Outra
para sortear o seu gŒnero: 1-2 para homem, 3-4 superarÆ o obstÆculo ou se terÆ que fugir. op ªo Ø dar as cartas em excesso ao jogador que possua a
menor experiŒncia. Se houver mais de um jogador empatado
para mulher e para 5-6 queer. Assim, pegue a Vencendo ou nªo o obstÆculo, come a o turno com o menor experiŒncia, divida as cartas da maneira mais

+99 B nus carta de gŒnero, com fundo branco, respectivo ao


nœmero sorteado, e inicie sua jornada como uma
do jogador a sua esquerda, assim
sucessivamente atØ alguØm alcan ar o n vel
mÆximo. Vence o jogador que conseguir atingir
igualitÆria poss vel. Se vocŒ for o jogador com o menor n vel,
mesmo que empatado, simplesmente descarte as cartas
excedentes e procure melhorar no jogo o mais rÆpido poss vel,
nova pessoa! pois a coisa estÆ feia pro seu lado! O turno do jogador Ø
o n vel 15 primeiro. Como fazer isso? Cada finalizado e passa-se para o turno do pr ximo jogador.
obstÆculo superado pelo seu

Sua mªo Em tais cartas encontra-se determinado o n vel, ou level que


precisa ser superado pelo jogador com a ajuda de seus itens
Descarte a ficha uma vez que desejar usar um se comprar outra carta estilo do bolo e tiver
e/ou amigos. Por exemplo, um jogador de level 7, ou seja, que jÆ
boato para interferir no turno de outro jogador. vontade. Apesar disso, alguns boatos tem efeito de
Bolo de obstÆculos passou por sete obstÆculos, tem experiŒncia o suficiente para Ap s sua a ªo, pode rodar um dado para ver se descartar seu estilo.
passar por qualquer obstÆculo de level 6 ou inferior. Itens consegue a ficha de volta ou deixa-a
ObstÆculo Individual diferenciados carregados pelo jogador podem dar b nus extras
permanentemente de lado (1-4 Ø sucesso, 5-6 Sexualidade
para ajudÆ-lo, entªo, um jogador de level 7 que carrega um item
Para lutar contra um obstÆculo, compare a sua de b nus +5 soma 12 pontos de for a de estima, portanto, fracasso). As cartas de sexualidade, assim como de estilo,
consegue passar por obstÆculos de level 11 ou inferior. Ao
for a de estima com a dele: Se a for a de estima enfrentar cartas que devem ser ultrapassadas por mais de um VocŒ s pode fazer mal a alguØm com quem vocŒ devem ser equipadas e podem ser trocadas, por
do obstÆculo for igual ou maior sua, vocŒ perde jogador juntos, seus levels e b nus de itens se somam. possua um la o ruim, assim como tambØm s pode la os positivos, durante o jogo, a gra a Ø
e deve fugir ou sofrer as consequŒncias ditas na intervir positivamente na rodada de alguØm com experimentar! A sua sexualidade pode ter efeito
carta: Algumas cartas, como sexualidade ou estilo, ObstÆculo Cooperativo quem tenha um la o bom. em intera ıes, dependendo de quem vocŒ
ajudam vocŒ a se livrar de um obstÆculo com mais compartilha experiŒncias e quais seriam essas,
Os obstÆculos cooperativos envolvem mais de um La os bons tambØm conferem a possibilidade de
facilidade: alØm de darem b nus durante o jogo.
jogador. VocŒs devem passar juntos pela realizar uma troca de item com outro jogador: os
Se vocŒ precisar fugir por nªo ter a for a de experiŒncia descrita na carta! Vejam suas for a dois sacrificam uma ficha de la o com referente Boato
estima necessÆria para derrotar o obstÆculo, terÆ de estima somadas para conseguir o sucesso, especificamente ao outro com quem estÆ fazendo
de rolar o dado uma œnica vez (uma rolagem de interajam entre personagens e, por fim, rolem um a troca e, assim, pode realizÆ-la. Cartas boato do bolo de itens tŒm efeitos
sucesso Ø 5 para cima): se for bem sucedido, vocŒ dado para definir se criou um la o com essa positivos e negativos e nªo precisam ser usadas
se livra do obstÆculo, mas nªo sobe de experiŒncia pessoa (1-2 la o bom, 3-4 la o ruim e 5-6 nªo cria Bolo de Itens assim que compradas. Elas permanecem na sua
e tambØm nªo recebe item algum: Mas se nªo for, nada). O nœmero de itens descrito na carta vale mªo atØ serem utilizadas, sendo descartadas
O bolo de itens possui 4 tipos de carta o depois do uso. AlØm de usar os boatos em sua
estarÆ de castigo: deverÆ descartar todos seus para os dois jogadores (por exemplo, se a carta
compondo: estilo, sexualidade, boato e itens. Essas personagem, vocŒ tambØm pode usar cartas boato
itens - equipados ou nªo: Nªo se preocupe, vocŒ superada oferece 2 itens de tesouro, cada jogador
cartas estarªo embaralhadas e podem ser para ajudar ou atrapalhar seus colegas, usando
pode se recuperar normalmente durante os comprarÆ 2 itens do monte). A carta superada vai
utilizadas durante todo o jogo. os la os entre vocŒs:
pr ximos turnos. para a pessoa que a tirou, ou seja, somente o
jogador que tirou a carta sobe de n vel. S Ø poss vel aplicar os boatos em si durante seu
Se dois jogadores estiverem cooperando em uma Estilo
vivŒncia (superar o obstÆculo) utilizando um la o - pr prio turno. Boatos aplicados em outros
La os e Fichas Todos os jogadores come am o jogo com um jogadores s acontecem durante o turno dos
somente adiciona o b nus de boatos, nªo toda a
Todos os jogadores come am sem la os em estudante normal, sem estilo. Isso muda assim que mesmos, adicionando ou diminuindo b nus do
for a de estima do outro jogador - e mesmo assim
comum, logo, sem fichas. Os jogadores conseguem compra uma carta estilo do bolo de itens ou, como participante atingido, dependendo das inten ıes
nªo conseguirem superÆ-la, ambos devem fugir.
fichas de la os ao participarem de intera ıes dito no in cio do manual, jÆ tiver ganhado uma de quem fez a a ªo. Sendo assim, imagine
Cada um roda o dado separadamente. Ambos
cooperativas, simbolizadas por fichas com uma carta estilo durante a distribui ªo de cartas interpreta ıes a situa ıes nas quais seu boato
podem ser pegos na fuga. A coopera ªo garante
carinha feliz de um lado e nervosa do outro. Esses (sortudo, hein). Esse estilo deve ser equipado, ao fa a sentido de ser usado.
metade do nœmero de tesouros descrito na carta
la os, bons ou ruins, podem ser usados para lado dos itens, e exposto a todos os outros
para o jogador ajudante (metades arredondam
ajudar ou atrapalhar alguØm em sua jornada. jogadores. Ele te garantirÆ b nus œnicos que
para baixo).
permanecerªo durante o jogo inteiro ou atØ ser
80 81
mudada pelo pr prio jogador a qual ela pertence,
Item
As cartas itens equipÆveis tŒm seu nœmero b nus
adicionado experiŒncia do jogador para
ultrapassar obstÆculos. Relembrando: quanto aos
itens equipÆveis, o limite Ø de 5 cartas: 1 de
cabe a, 2 de mªos, 1 para corpo e 1 para os pØs.
Esses sinalizadores estªo mostrados nas cartas.
Itens espec ficos de estilos s podem ser
equipados pelos estilos determinados na carta,
enquanto itens genØricos podem ser equipados
por qualquer um. Se quiser trocar itens com
outros jogadores, deve gastar um la o bom com
eles.

Agradecimentos
Agradecemos pela escolha de comprar e jogar
nosso jogo, esperamos que gostem e se divirtam
muito!

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