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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 05
PARTE I:
1 O CONTEXTO HISTÓRICO (1932-37) 11
1.1 O contexto histórico internacional 11
1.2 O contexto histórico brasileiro 15
1.3 O Integralismo e o contexto histórico 23
2 O INTEGRALISMO 25
2.1 Integralismo: projeto político ligado a um pensamento conservador 25
2.2 As características do integralismo e sua relação com o liberalismo e
fascismo 29
2.3 Concepção de Estado integralista e sua relação com a sociedade civil 33
3 $GHPRFUDFLDOLEHUDOREMHWRGHGHIHVDGRV³&RQVWLWXFLRQDOLVWDV´ 37
PARTE II:
1 1932-34: RECONSTITUCIONALIZAÇÃO, OS EFEITOS DA GUERRA
CIVIL DE 1932 E O SEU LEGADO NA SOCIEDADE MONTE-ALTENSE A
3$57,5'$$1È/,6('(³$6(0$1$´ 41
1$DQWHVVDODGD³5HYROXomRGH´HRGHEDWHHPWRUQRGD
reconstitucionalização 41
1.2 A Revolução de 1932 e o seu legado para a sociedade monte-altense 42
1.3 A volta do debate acerca da reconstitucionalização 44
1$OLQKDHGLWRULDOGH³$6HPDQD´QRVLGRVGH-34 45
1.5 A reconstitucionalização do país, do estado de São Paulo e as primeiras
eleições 46
2 OS JORNAIS COMO PROMOTORES DOS GRUPOS POLÍTICOS 47
2.1 Preâmbulo ao capítulo 47
26REUHRSHULyGLFR³$6HPDQD´RGHVSRQWDUGR,QWHJUDOLVPRHP0RQWH$OWR
e a afirmação da linha editorial integralista 47
2.2.1 Sobre a fundação do Núcleo Integralista Monte-altense 50
2.2.2 Sobre o catecismo integralista, a difusão integralista, as aulas de civismo, a
simbologia e a ênfase na educação física 52
2.2.3 A defesa e reação integralista perante os difamadores 54
26REUHR3DUWLGR&RQVWLWXFLRQDOLVWDQRMRUQDO³$6HPDQD´ 55
22SHULyGLFR³)ROKDGH0RQWH$OWR´FRPRSURPRWRUHSDQIOHWiULRGR3DUWLGR
Constitucionalista 56
2.3.1 Uma visão rápida e genérica do periódico 57
1
2.3.2 Por uma defesa da liberal democracia e a superação de uma política
³YLFLDGD´ 57
2.3.3 As eleições municipais de 1936 58
2.3.4 A reconstitucionalizaomRGRHVWDGRQDVSiJLQDVGHD³)ROKDGH0RQWH
$OWR´ 61
22SLQL}HVGRV³FRQVWLWXFLRQDOLVWDV´DFHUFDGRVLQWHJUDOLVWDVHR1~FOHR
IntegralLVWDQDVSiJLQDVGH³$)ROKDGH0RQWH$OWR´ 62
2.3.6 Sobre as tentativas de censura ao integralismo em Monte Alto 63
22DQRGHHDFDPSDQKDGRSHULyGLFR³)ROKDGH0RQWH$OWR´SDUDDV
eleições presidenciais 64
2.3.8 A sucessão presidencial e os efeitos do golpe de Estado 65
2.3.9 As implicações do golpe no jornal 66
CONSIDERAÇÕES FINAIS 68
REFERÊNCIAS 70
2
AGRADECIMENTOS
3
LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS
4
Introdução
1
Este mesmo que aqui traça tais linhas é descendente direto de italianos e portugueses.
2
Muitas indústrias foram criadas por italianos que possuíam experiência em seu país de origem; na
lavoura, baianos e sergipanos eram proprietários das primeiras propriedades rurais. Porém, com a
afluência dos imigrantes, eles se tornaram maioria e exerceram influência marcante e positiva no bom
andamento das mesmas. Quanto ao comércio, sírio-libaneses e portugueses se destacaram e alguns
deles mantém, até hoje, seus estabelecimentos comerciais.
5
XX; dentro desta, procurou-se explicar, a partir de uma análise bibliográfica, o
cenário que emergiu oriundo da conjuntura política, econômica e social da
década. Além, estabelecer nexos entre as vicissitudes do período, dentre elas, o
ocaso do liberalismo e dos governos liberais, o despontar dos grupos de natureza
e ideologia eminentemente conservadora e do Estado interventor em algumas de
suas formas.
Num segundo momento, analisou-se a ideologia do movimento
integralista e as bases do pensamento conservador. A partir da comparação do
discurso e características do primeiro, com as premissas do segundo, afirmou-se
que existe uma relação estreita entre ambos. Destarte, houve a classificação do
IHQ{PHQRGR³VLJPD´FRPRGHQDWXUH]DFRQVHUYDGRUD$GHPDLVDSUHVHQWRX-se
uma concepção ideal de Estado integralista em sua suposta relação com a
sociedade civil.
Num terceiro momento, com o intuito de entender a realidade de época
(cosmus), foi exposta a relação conflituosa do Integralismo com a corrente
ideológica do Liberalismo e a nova ordem constitucional brasileira,
eminentemente liberal de 1934. Nesse intento, valeu-se aqui da análise do
discurso de figuras emblemáticas do integralismo, sobretudo de Plínio Salgado.
Destaque para o caráter combativo do argumento integralista para com o
liberalismo hegemônico de até então.
Num quarto e breve momento, discorreu-se sobre as características,
referências e princípios norteadores da Democracia liberal, modelo político
GHIHQGLGRSHORV³&RQVWLWXFLRQDOLVWDV´SDXOLVWDV
Em regra geral, pode-se afirmar que houve, nesta primeira parte, um
mapeamento do cenário em que VXUJHP ³LQWHJUDOLVWDV´ H ³FRQVWLWXFLRQDOLVWDV´
XPD ³SURVSHFomR´- recuperação da mentalidade de época intentando
compreender aquela realidade ou contexto. Ademais, uma identificação do perfil
dos grupos e a relação deles com a sociedade e ideologia adversária.
6
No que diz respeito à segunda parte, apresentou-se uma síntese de
natureza descritiva do que foi apurado na análise empírica dos jornais A Semana
e Folha de Monte Alto. Atenta-se aqui para o fato de que, em vários momentos,
houve um diálogo com a primeira parte (no qual ± como foi dito atrás± se trouxe
um mapeamento do cenário e uma análise ideológica, sobretudo do grupo
integralista).
Dentre os pontos importantes da segunda parte, destacou-se a descrição
minuciosa dos reflexos da política e fatos relevantes do nacional no universo
municipal, ou seja, a repercussão do macro-espaço político no micro. Por outro
lado, foram expostas a reação e os desdobramentos dos fatos no universo
citadino, como, por exemplo, a Revolução de 1932 e o despontar dos grupos
³,QWHJUDOLVWD´H ³&RQVWLWXFLRQDOLVWD´HP0RQWH$OWR4XDQWRDHVVHV~OWLPRVD
partir dos jornais da cidade, foi apresentado como ambos surgiram, os
protagonistas (atores) da socialização política, a promoção e a popularização dos
grupos; além, a veiculação das ideologias, propostas, debates, controvérsias
HQYROYHQGR ³,QWHJUDOLVWDV´ H ³&RQVWLWXFLRQDOLVWDV´ H D VRFLHGDGH 3RU ~OWLPR
lançou-VH XPD WHVH HQYROYHQGR D SUiWLFD GH XPD ³SROtWLFD UHDO´ SRU SDUWH GRV
³FRQVWLWXFLRQDOLVWDV´HXPD³SROtWLFDLGHDO´TXDQWRDRV³LQWHJUDOLVWDV´
Por final, cabe aqui uma tratativa das dificuldades envolvendo a pesquisa.
Pode-se afirmar com segurança que esta se deparou com inúmeros obstáculos
durante sua trajetória; em especial na segunda etapa, em que se analisou o
conteúdo dos jornais (fontes primárias). Dificuldades e obstáculos esses de
diferentes naturezas. Dentre eles, pode-se citar aqui a falta de dados e
informações sobre os proprietários dos jornais, redatores e articulistas de um
lado; e de outro, o desafio de filtrar textos com posturas indevidas e conteúdos
sem objetividade e imparcialidade. E há também que considerar e ressaltar que,
a partir de 1936, não existem mais edições disponíveis do periódico A Semana.
7
Dessa forma, pelo que se pôde apurar, a partir das informações do jornal 3Folha
de Monte Alto, durante este ano citado, o primeiro se tornou um jornal
clandestino. Por outro lado, no que diz respeito à bibliografia, sentiu-se a falta
de obras que contemplem com profundidade o Partido Constitucionalista. De
todo modo, eis abaixo uma digressão mais pormenorizada das dificuldades.
Uma primeira dificuldade diz respeito à falta de informações a respeito
dos proprietários dos jornais, seus redatores e articulistas. Empreenderam-se
investigações no próprio arquivo municipal, museus, por meio de pessoas
octogenárias e influentes na cidade, e até nas redes sociais. Infelizmente, não foi
obtido sucesso. A única informação coletada é que as famílias deixaram a cidade
e não legaram descendentes e familiares nesta municipalidade. Assim, as únicas
evidências apresentadas a respeito deles, nesta monografia, são as coletadas nos
próprios jornais ou que são captadas e desenvolvidas a partir de intuições
inegáveis.
Prosseguindo, estabelece-se aqui um destaque para aquela em que foi, em
vários momentos, uma prática recorrente: a censura. Dentro do trabalho são
apresentadas situações em que o clima sociopolítico estava em níveis
cataclísmicos (por exemplo, maio e junho de 1932 em São Paulo, capital).
Contudo, pelas páginas do jornal, são veiculadas apenas notícias banais que
destoam do grau de importância imediato, ou seja, das contradições e dissensões
políticas de então. Muitos fatos são omitidos. Dentre eles, ocorridos aqui mesmo
na cidade de Monte Alto e seu distrito de Aparecida.
-iGXUDQWHRSHUtRGRGDIDPRVD³5HYROXomRGH´RMRUQDOA Semana
apresenta várias omissões (motivadas em virtude da censura), falácias,
conteúdos impregnados de retórica ufanista, inverdades e maniqueísmos
envolvendo as partes em conflito e sua divulgação. Parte dessas manchetes e
boletins de guerra é reproduzida de parceiros da capital (isso será analisado em
3
O periódico Folha de Monte Alto, por sua vez, só é lançado em 1935.
8
pormenores ao longo deste trabalho monográfico). Enfim, o jornal traz
inúmeros textos contemplativos, entusiásticos da causa e não proporciona ao
leitor os reais acontecimentos das batalhas ou um razoável balanço do conflito e
das reais condições/situação. Logo, no período, o jornal mais desinformava que
informava.
Outro problema relacionado ao conteúdo dos jornais é que, até a guerra
civil envolvendo paulistas e o governo central, a maior parte dos textos
veiculados foi produzida fora da cidade; são provenientes da UJB (União
Jornalística Brasileira) e repassados para o interior. Assim, obviamente fica
difícil precisar e medir o grau exato de amplitude que essa notícia repercute
dentro do universo citadino. Após o conflito, essa dependência é gradualmente
rompida e muitos textos são produzidos por locais.
Finalmente, afirma-se com segurança que os dois jornais, sobretudo o
Folha de Monte Alto, assumem papéis de panfletários e promotores políticos dos
respectivos grupos (Núcleo Integralista Local e o Partido Constitucionalista
Local). Com isso, a tarefa de filtrar as informações sobre o universo político
municipal se torna ainda mais complexa.
9
10
Parte I
$ GpFDGD GH ³´ GR VpFXOR ;; IRL XP SHUtRGR GH WUDQVLomR GHQWUR GD
história das nações, sobretudo as ocidentais. Iniciada sob os eIHLWRVGD³JUDQGH
GHSUHVVmR´HVWDFRQMXQWXUDIRLSDOFRGHDFRQWHFLPHQWRVLQLPDJLQiYHLVRQGHXP
sistema ou forma de organização social, política e econômica (até então
hegemônico e incontestável) seria desacreditado e, em seu lugar, instalar-se-iam
novos com nuances totalmente antagônicos ao anterior. O pivô de todo esse
³PDOHVWDU´HVWDULDQDFULVHGHILQVGDGpFDGDGRV³9LQWH´
Controversa e geradora de um dissenso interminável entre economistas,
cientistas políticos e historiadores, a crise gerada a partir da recessão e do
³FUDFN´GDEROVDHPIRLRGHVSHUWDUGDGHSUHVVmRHFRQ{PLFDTXHFRPR
³HIHLWR GRPLQy´ WRUQRX YXOQHUiYHO WRGDV DV HFRQRPLDV LQWHUOLJDGDV GR PXQGR
capitalista e derrubou, uma a uma, de uma forma ou de outra, plataformas e
práticas político-econômicas há muito estabelecidas e governos de natureza
eminentemente liberais. Ademais, propiciou em várias partes, do antes pujante
mundo capitalista urbano, desemprego, fome, estagnação e caos político. Quanto
a este último aspecto, ele se deu muito em função de uma falta de solução,
perspectiva ou receita dos governos (liberais) para combater aquela que foi a
pior das depressões econômicas da história capitalista (HOBSBAWM, 1995).
(P FRQVHTrQFLD D SROtWLFD GH ³(VWDGR PtQLPR´ H GHVUHJXODPHQWDção
econômica, proposta pelo liberalismo clássico, perdia sustentação e passou a ser
desacreditada e combatida em todas as partes por grupos sociais e partidos
políticos. Em seu lugar outras, de cunho notadamente intervencionista e
11
centralizador, foram propostas. Destarte, a depressão obrigou os governos
ocidentais a dar às considerações sociais prioridade perante as econômicas em
suas políticas de Estado. Como bem aponta Eric Hobsbawm (1995), em meio à
depressão não apenas as instituições políticas entraram em colapso, mas todo
sistema de valores liberais:
4
Eric Hobsbawm denomina, em sua obra, o período de 1914-1945, compreendido por duas guerras e a
DVFHQVmRGRIDVFLVPRFRPR³HUDGDFDWiVWURIH´
5
³Tutto nello Stato, niente al di fuori dello Stato, nulla contro lo Stato´. Discurso proferido na Câmara
dos deputados italiana no dia 26/05/1927.
12
principais postulados. Além disso, o movimento funcionaria como um
instrumento para fins fundamentais, que propunham a recuperação da
integridade do homem pelas instituições e sua integração à teia institucional das
sociedades (SILVA, 2000). Porém, importante destacar que houve não apenas
um fascismo6 (a despeito da matriz italiana), mas sim várias manifestações
pulverizadas e formas de movimentos particulares com matizes fascistas.
Genericamente, eles compartilhavam nacionalismo, anticomunismo,
antiliberalismo, uma ojeriza aos princípios da Revolução Francesa com outros
elementos não fascistas da direita. Vários desses, notadamente de grupos
reacionários (HOBSBAWM, 1995). Além disso, o viés romântico em que:
6
O próprio Hobsbawm em sua obra distingue três tipos.
7
Adendo meu.
8
Tal premissa destoa daquela de Plínio Salgado, um dos principais idealizadores do integralismo (que
para muitos é uma espécie de fascismo brasileiro) no Brasil. Ele era avesso a qualquer forma de
modernização tecnológica. Para ele, de grosso modo, o integralismo levaria o homem brasileiro de
volta a um estágio pré-capitalista e eminentemente tradicional.
13
expansiva implicando nisso a subordinação e o sucumbir da nacionalidade civil
aos objetivos identificados como nacionais. Assim, o que se constata é um total
desprezo por qualquer iniciativa exclusiva da sociedade civil e o do mundo
privado (idem).
2 SRQWR GH LQIOH[mR QD]LIDVFLVWD QD GpFDGD GRV ³7ULQWD´ GHX-se com a
ascensão de Hitler e o Partido Nacional-Socialista na Alemanha. Em pouco
WHPSR FRP ³PmRV ILUPHV´ WDO JRYHUQR HOLPLQRX R GHVHPSUHJR IH] XPD
parceria com a burguesia nacional e internacional, reprimiu, controlou e
neutralizou o movimento operário e promoveu um crescimento econômico9. Tal
panorama, dentro daquele estado de coisas internacional, funcionou como
espelho e modelo para outros Estados que não conseguiam superar ainda os
efeitos desastrosos da depressão. Em conseqüência, o nazifascismo inspirou
movimentos pelo mundo que resultaram numa derrubada em cadeia de regimes
liberais e uma guinada mundial para a direita:
9
Digno de nota também que existiram outras de formas de superação da depressão econômica,
QRWDGDPHQWHRFDVRHVWDGXQLGHQVHFRPDSROtWLFDGHPDWUL]³NH\QHViDQD´, o ³1HZGHDO´GH5RRVHYHOW
14
onde podia. Em suma, as condições que potencializaram o triunfo dessa
ultradireita eram:
15
O ano de 1932, na história brasileira, foi marcado por uma conjuntura
política conturbada, em que o país estava sendo presidido por um governo
provisório ±desamparado constitucionalmente- oriundo de um movimento
político ou de uma suposta revolução (FRQKHFLGDSRU³5HYROXomRGH´). Além,
importante destacar que tal governo, em meio a esse cenário, sofria forte
oposição vinda de uma elite oligárquica tradicional, destituída dois anos antes do
poder. Tratava-se de um cenário de rearranjo institucional, em meio a uma crise
internacional (tratada no item anterior), donde houve uma acomodação de novos
e velhos quadros, oriundos da elite, dentro do contexto político, mas que não se
pode entender por uma quebra de status quo (NOGUEIRA, 1998).
Como bem aponta Luís Werneck Vianna (1997), no Brasil, nunca houve,
de fato, uma revolução. O que ocorria naquela oportunidade era que
determinadas elites, sedentas por ascender politicamente, voltavam as atenções
para uma necessidade maior de dinamização e modernização estrutural e social
do país:
10
Adendo meu.
17
$ ³5HYROXomR &RQVWLWXFLRQDOLVWD´ p LQGXELWDYHOPHQWH XP REMHWR TXH
gerou e gera muita controvérsia na história brasileira. Emília Viotti da Costa
(1982) ilustra bem tal questão ao enfatizar que os mitos nascidos no calor da luta
dificultaram e dificultam D FRPSUHHQVmR GHVVH SURFHVVR 6HJXQGR HOD ³R
movimento de 32 era senão o desenvolvimento inevitável das contradições da
UHYROXomR GH ´ '$ &267$ S RX VHMD WDQWR GHQWUR GR JUXSR
situacionista como no oposicionista. Logo, afirma-se isso muito em função de
que a oligarquia paulista, ressentida da marginalização política que sofrera,
questionava tal ordem extralegal; e, principalmente, a natureza dos interventores
inseridos na organização de sua administração política. Ademais, sentiam
ojeriza por serem eles militares. Portanto:
12
Entenda-se de forma ampla.
19
Logo, destaca-se que esse trabalho aborda e trata da questão do civismo
na política brasileira, sobretudo a partir do desdobramento dos efeitos da
³5HYROXomR&RQVWLWXFLRQDOLVWD´ HGR 0RYLPHQWR ,QWHJUDOLVWD13. No que toca ao
primeiro, segundo Marco Antônio Villa (2010), tal levante14 assumiu uma
importância fundamental na representação de civilidade do povR SDXOLVWD ³R
tesouro perdido de 1932 foi a defesa da democracia, de uma constituição
democrática, enfim, de um Estado democrático, isso em um ambiente marcado
SHOR DXWRULWDULVPR WDQWR QD HVIHUD LQWHUQDFLRQDO FRPR QD QDFLRQDO´ 9,//$
2010, p.81). Por outro lado, ao refletir um pouco adiante na história, e ter como
referência 1937, e a ausência de manifestações de indignação públicas, constata-
se que, segundo Antônio Cabral Neto (1997), o autoritarismo recorrente é um
problema à efetivação e continuidade democráticas, no Brasil:
13
O Integralismo não será tratado de maneira aprofundada nesta secção.
14
Classifica-VHDTXLD³5HYROXomR&RQVWLWXFLRQDOLVWD´FRPROHYDQWHSRUVHUDPHOKRUGHQRPLQDomR
possível para o fenômeno.
15
Adendo meu.
20
Retomando o raciocínio, acredita-se que, após tal conflito de 1932, houve
uma harmonização entre a elite paulista e o Governo Provisório. Quanto aos
³WHQHQWHV´IRUDPJUDGDWLYDPHQWHSHUGHQGRHVSDoRSDUDVHXVDQWLJRVVXSHULRUHV
Isso se deu, muito em função, de que este estado (SP) gerava a maior parte da
riqueza nacional e tinha ainda no café seu principal produto de exportação.
Assim, houve um acordo, acomodação de interesses e compromisso entre as
partes. A partir daí, em conseqüência, foi efetivada uma Assembléia Nacional
Legislativa, em 1933, e a promulgação da 3º Constituição Brasileira em 1934.
Neste mesmo ano, outros fatos são dignos de nota. Vargas foi empossado
pelo congresso presidente legítimo do Brasil. Surgiu o Partido
Constitucionalista, formado por personagens do Partido Democrático e de outros
partidos menores; tinha à frente Armando de Salles Oliveira, interventor civil no
estado de São Paulo. Sua principal bandeira política era a defesa do
constitucionalismo, dos princípios da democracia liberal e, sobretudo, o fato de
seus correligionários terem participado ativamente do levante de 32. Por essa
razão, arrogavam-se portadores dos verdadeiros ideais de civilidade da nação e
da memória da legalidade em 1932 (SOUZA, 2010).
Dito isso, ressalta-se que, dentro do breve período da 2º República
brasileira, a luta ideológica entre integralistas e comunistas foi a que mais
chamava a atenção. Assim, relacionando Brasil e mundo, ficava caracterizado o
destoar do regime e constituição brasileira da grande maioria dos países do
mundo. A carta, de matizes notadamente liberais, recebia por parte de muitos
setores da sociedade -antes mesmo de aprovada- uma reprovação, pois divergia
GHFRQVWLWXLo}HVGHSDtVHVGH(VWDGRVLQWHUYHQWRUHVRX³IRUWHV´FRPRRDOHPmRH
italiano (que estavam na moda) ³2V QRYRV WHPSRV SHGLDP JRYHUQRV IRUWHV
como os da Itália, da Alemanha, dD8566RXPHVPRGR³1HZGHDO´DPHULFDQR
Os reformistas autoritários viam no liberalismo uma simples estratégia para
HYLWDU DV PXGDQoDV H SUHVHUYDU R GRPtQLR ROLJiUTXLFR´ &$59$/+2
p.102).
21
Dentro desse breve período democrático, em que grande parte do mundo
era palco de lutas ideológicas polarizadas no espectro, entre comunistas e
fascistas (com clara prevalência dos segundos), uma quartelada, no Brasil,
possibilitou o recrudescimento do governo Vargas, a depuração de insurretos do
aparelho burocrático e militar e a firme participação do exército no cenário
sociopolítico. Trata-VH DTXL GD ³,QWHQWRQD FRPXQLVWD´ GH 6HXV
desdobramentos, desse evento até 1937, só tomariam vulto. José Murilo de
Carvalho (2008) dá um panorama da conjuntura:
22
1.3 O integralismo e o contexto histórico16
16
As características e parte da ideologia integralista serão tratados na próxima secção.
23
específico de um determinado espaço econômico-político
(CHASIN, 1978, p.142).
2 O Integralismo
25
liberdade humana de conduta, de escolha e pensamento. Dessa forma, e
seguindo aqui o raciocínio de Bernardo Ricupero (2010), o integralismo seria,
naquele momento, uma espécie de logos conservador que direcionaria a
³SUi[LV´RXVHMDXPSURMHWRFRPYDORUHVHLGpLDVGDTXela natureza objetivando
aplicação, estruturação e rotinização no dia a dia da sociedade. Logo, para
embasar tais postulados, nesta secção, tratar-se-á do que vem a ser um
SHQVDPHQWRFRQVHUYDGRUVHXVLPSXOVRVREMHWLYRVHXPSHTXHQR³GLiORJR´FRP
o as propostas integralistas.
Ao contrário do que aparenta, mesmo dentro de um quadro de
modernidade, um pensamento conservador se processa continuamente, ou seja,
não é estático. Espécie de contra-sistema à modernidade burguesa, ele nasce e
toma forma a partir da universalização da tradição em grupos dentro do coletivo,
nas dadas circunstâncias históricas e sociais:
Dessa forma, ser conservador é muito mais que uma afinidade política; é,
sobretudo, uma forma de pensar e organizar a sociedade a partir da história
particular, na terra e em entidades orgânicas como a família e a religião.
Roberto Stelmacki Jr. (2006), em artigo intitulado: Uma análise a
respeito do pensamento conservador, explora grandes nomes desta linhagem,
26
como Edmund Burke (1729-1797), o já citado Karl Mannheim (1893-1947),
dentre outros. Em meio ao texto, ele apresenta genericamente pressupostos do
pensamento conservador como: a defesa da cristalização de uma ordem social,
econômica e política vigente e a determinação de uma continuidade como valor
soberano. Quanto às mudanças, que elas sejam superficiais, pré-deliberadas e
que tragam o mínimo de efeitos possíveis. Em suma, só são aceitas, na
sociedade de cunho conservadora, se encaradas como instrumentos de
aperfeiçoamento da ordem vigente e que caracterizem a ampliação das bases de
sustentação do status quo.
Karl Mannheim, expoente do pensamento conservador, por sua vez, atenta
para a maneira de proceder, na sociedade contemporânea, de um governo
conservador:
28
questionada ou fragilizada. Enfim, impedindo que houvesse rupturas e
transformações.
17
Plínio Salgado e boa parte dos intelectuais integralistas participaram de uma variante do
modernismo brasileiro da década de 20 numa variante conhecida por verde-amarela. Esta tinha por
características a valorização do nacionalismo e do Brasil rural e folclórico.
30
afirmar que o movimento integralista nada mais é que fruto da década de
³9LQWH´GHWRGDVVXDVYLFLVVLWXGHV, complexidade e:
18
Os efeitos da crise de 1929 variaram de lugar para lugar. Os efeitos, no Brasil, não foram os mesmos
do centro capitalista, pois boa parte de sua população habitava o espaço rural e não participava
ativamente de uma cultura de consumo.
31
representava também a hipertrofia do individualismo, o promotor da dissolução
da moral cristã, a negatividade da razão que questiona a autoridade, a religião e
a fé. Logo, eles identificavam no Estado liberal um ente desvirtuado, indiferente,
que gera anarquia, indisciplina, opressores e que promove a exploração de
alguns poucos homens sobre a grande massa da nação. Portanto, para os
GHIHQVRUHV GR ³VLJPD´ R OLEHUDOLVPR R PHUFDGR DV EROVDV GH YDORUHV H RV
valores libertários eram os grandes FDXVDGRUHVGR³DSRFDOLSVH´VRFLRHFRQ{PLFR
moral e ético que afligiu o mundo desde a Revolução Francesa.
Dessa forma, dentro da ideologia integralista, existia um discurso
antiliberal que permeava os aspectos sociais, econômicos e políticos. Para Plínio
Salgado, o liberalismo teve seu lado mais negativo na incorporação gradativa do
individualismo e materialismo na sociedade. Em conseqüência, gerou a citada
hipertrofia da personalidade e enfraquecimento a coletividade:
$VVLPVREDyWLFD³SOLQLDQD´DVOLEHUGDGHVGHQWURGD contemporaneidade
(modernidade), tornaram-se negativas, pois vitimavam a si mesmas num
processo em que se transformavam e degeneravam incessantemente o homem e
a sociedade.
Em síntese, tal qual boa parte da intelectualidade conservadora pelo
mundo, os intelectuais integralistas diagnosticaram um colapso do liberalismo e
da democracia; ou seja, tinham-nas formas de organização da sociedade, da
política e economia desumanizadas que não forneciam mais respostas
32
satisfatórias aos problemas das nações. Eis um fragmento dos manifestos, escrito
por Plínio Salgado, que trata sobre tal questão:
19
Adendo meu.
33
imperialista e que trouxesse por meio de seus atos uma justiça social. A partir
destes adjetivos ou características, fica evidente que haveria pouco ou nenhum
espaço para a sociedade civil.
Antes de se enveredar por tal análise, importante atentar que de 1930 até
1934 o Estado brasileiro foi presidido extralegalmente, a partir de um governo
provisório que lançava mão de decretos para governar. Como já comentado
anteriormente, trata-se do governo de Getúlio Vargas alçado ao poder em
YLUWXGHGD FRQKHFLGD ³5HYROXomRGH´3OtQLR6DOJDGRSRUVXDYH]RVFLORX
no início, entre apoiar ou combater tal revolução. Por ser avesso a qualquer
forma de quebra de ordem por mobilizações sociopolíticas, primeiramente,
manteve-se fiel ao governo de Júlio Prestes. Entretanto, com o tempo,
vislumbrava -naquela conjuntura e momento político- XP ³YiFXR´ XPD
oportunidade em que ele e seus correligionários poderiam ocupar e dar rumos à
política nacional, a partir da introjeção de um embasamento ideológico
³LQWHJUDOLVWD´3RUWDQWRXPD RSRUWXQLGDGHSDUD UHJHQHUDURSDtVLQWHJUDOPHQWH
Em virtude disso, Salgado e os intelectuais integralistas se valiam de espaços
midiáticos20 para promover as diretrizes e concepções acerca de um futuro
Estado aos moldes integralistas.
E é num desses espaços que as Diretrizes Integralistas foram lançadas.
Nelas, e, em especial nesse fragmento abaixo, podemos identificar algumas das
premissas principais que sustentariam um Estado Integral ideal:
20
Tais espaços eram o jornal A Razão e o jornal da Legião Revolucionária Tenentista.
34
depaupere as forças da produção, que o trabalho seja
reduzido a uma simples mercadoria sujeita à lei da oferta e
da procura; que o intermediário asfixie o produtor e
esmague o consumidor; que o capitalismo os escravize, cada
vez mais aos grupos financeiros de Londres e Nova Iorque,
não transferindo, como faz o Estado Liberal democrático, a
soberania econômica da nação ao capitalismo burguês, que
permite a orgia dos trustes, cartéis, monopólios, espoliações
de toda a sorte através dos juros onerosos, do jogo da praça,
das manobras com as quais o capitalismo atenta contra os
SULQFtSLRV GD SURSULHGDGH¶ Intervenção estatal que não
LPSOLFD GHVFXLGDU GD GHIHVD GD SURSULHGDGH SULYDGD µ2
Integralismo defende o direito da propriedade até ao limite
imposto ao bem comum, estabelecendo ao lado do direito
também o dever do proprietário. O Integralismo reconhece
na iniciativa privada o fato mais fecundo da produção
econômica, mas para salvaguardar das ambições
particularistas o bem estar e a liberdade do povo brasileiro,
fará a nacionalização dos serviços que por sua natureza não
podem ser explorados com fins de lucro, e que se destinem
ao desenvolvimento da economia nacional e interesse
público, tais como: estradas de ferro, navegação, minas,
fontes de energia e aparelhamento bancário. (SALGADO
apud CHASIN, 1978, p. 147).
35
Em suma, a burocracia hierarquizada da AIB possuía além do gabinete do
chefe, conselho nacional que dispunha de consultorias e departamentos com
inúmeras subdivisões que iam da propaganda até as milícias (idem). Sem
temeridade, é possível afirmar que a AIB queria fazer do Estado nacional sua
imagem e semelhança.
2XWURGRFXPHQWRTXHDX[LOLDQHVWDHPSUHLWDGDpRSUySULR³0DQLIHVWRGH
2XWXEURGD$omR,QWHJUDOLVWD%UDVLOHLUD´GH1HOHWDPEpPILFDPSDWHQWes
seus propósitos autoritários, paternalistas e de extirpação das oposições (dentre
outros) em relação aos vários setores da nação:
$GHPRFUDFLDOLEHUDOREMHWRGHGHIHVDGRV³&RQVWLWXFLRQDOLVWDV´
37
Em outras seções deste trabalho já foi exposto o fato de que o Partido
Constitucionalista surgiu da fragmentação do PD e de outras pequenas
agremiações do estado de São Paulo. Assim, desde sua formação enquanto
segmento político, o PC arrogou-se o título de legítimo herdeiro do movimento
que culminou com a Revolução Constitucionalista, em 1932. Ainda, dentro de
um cenário marcado por governos interventores, de diferentes matizes, defendeu
a aplicação de um modelo democrático liberal para o país, a partir da carta
constitucional vindoura.
Em geral, os adeptos da democracia liberal defendem as liberdades
liberais; acreditam que essas são necessárias e essenciais para que se possa dizer
que exista uma democracia:
Logo:
38
Os teóricos da democracia liberal têm como referência ou parâmetro
autores de diferentes épocas, tais como John Locke (1632-1704), James
Madison (1751-1836), John Stuart Mill (1806-73), Benjamin Constant (1767-
1830), etc. . Quanto ao último, eminente escritor e político francês de origem
VXtoDpOKHDWULEXtGRQRFpOHEUHGLVFXUVR³$OLEHUGDGHGRVDQWLJRVFRPSDUDGD
FRP D GRV PRGHUQRV´ R SLRQHLULVPR GD HODERUDomR GD FRQFHSomR GH (VWDGR
liberal:
21
Analfabetos, soldados, padres e mendigos não poderiam ter direito ao voto.
39
40
PARTE II
$ DQWHVVDOD GD ³5HYROXomR GH ´ H R GHEDWH HP WRUQR GD
reconstitucionalização
41
Nesses artigos, há um constante e intenso trabalho de conscientização
VRFLDODUHVSHLWRGDLPSRUWkQFLDSDUDXPDQDomR³FLYLOL]DGD´HVWDU VREHIHLWRH
regulação de leis que possam trazer uma segurança aos contratos e às pessoas
contra as arbitrariedades de diferentes naturezas. Assim, há uma ampla
mobilização para informar e atrair a sociedade civil para participar do debate em
torno da elaboração da nova carta constitucional. Destes textos, alguns são
escritos por locais que se valem de pseudônimos para assinar suas colunas e
artigos; outros são oriundos da UJB (União Jornalística Brasileira), órgão de
imprensa que repassava textos para reprodução aos jornais do interior22. Dessa
IRUPDHUDFRQVHQVRGHQWURGDTXHODPtGLDTXHD³UHYROXomR´SUHFLVDYDGHXPD
constituinte legítima para não se esboroar. Logo, o que se constata, dessa forma,
p D WHQWDWLYD GH ³SDYLPHQWDomR´ SRU SDUWH GD PtGLD GH XP FDPLQKR SDUD D
redemocratização do país e a volta ao estado de constitucionalidade.
22
Curiosamente, muitos são de autoria de Menotti Del Picchia (1892-1988), intelectual paulista que
participou do movimento modernista. Em um deles, o versátil escritor atenta para que a população
fique inteirada dos acontecimentos e se levante contra uma potencial outorga constitucional.
42
sucessivamente, as edições conclamavam e convocavam as pessoas para
comícios cívicos em praça pública ou cine-teatro municipal com personalidades
ligadas ao governo estadual e à elite política citadina; apresentavam boletins do
poder público estadual e municipal; além, lançava os recursos levantados
TXDQWLGDGHHTXHPRVGRRXHILQDOPHQWHFRQYRFDYDRVMRYHQVSDUDR³IURQW´
de batalha. Dessa forma, nota-se a ampla mobilização popular em torno da
causa, uma vez que a cidade participou e contribuiu ativa e decisivamente seja
com voluntários seja com itens variados, como alimentos, matérias-primas,
armas, animais de corte e tração, dinheiro e ouro. Tudo arrecadado e enviado
para São Paulo e outras cidades.
Por outro lado, as edições de A Semana apresentam alguns pontos que
podemos ter como preocupantes. Antes da eclosão do conflito, o jornal, em
nenhum momento, apresentou o clima político cataclísmico que São Paulo
vivera, sobretudo em maio com a invasão dos jornais tenentistas e de Plínio
Salgado e também não noticiou as mortes dos jovens que foram inspiração, a
partir de suas iniciais, para a sigla MMDC. A omissão -supostamente pela
censura- era tamanha que graves distúrbios políticos ocorridos (que ocasionou a
perda de uma vida e prisões), no distrito de Monte Alto, Aparecida do Monte
Alto, foram apenas mencionados superficialmente, em poucas e minúsculas
linhas e sem maiores explicações.
Com o conflito, o jornal passa a atuar como panfletário. Quanto às
notícias do front de batalha, estas eram poucas. Os artigos, vindos de São Paulo,
também eram omissos e carregados de falácias, maniqueísmos, retórica,
inverdades e ufanismo. Infere-se, a partir disso, que tais notícias eram veiculadas
muito em função de manter o ânimo da população exaltado, ou seja, com a
moral elevada. Em muitas situações, como na notícia abaixo, conseguimos
constatar inversões de situação:
43
Amadeu Olivério, intelligente moço montealtense, visitou a
nossa redação, pela tarde quinta-feira última, e depois de
externar sobre a ação do Exército Constitucionalista, na
zona de Itapira, disse que o ânimo de nossas forças é
excellente e que o Exército Ditatorial está em franco
declínio. Asseverou-nos que a munição é farta e que a
distribuição do serviço de campanha é sob rigorosa
disciplina militar e de vivo entusiasmo. Nestas condições é
bem possível que a ditadura brasileira, tenha de render mui
breve, dadas as suas columnas indisciplinadas, influírem
para a debandada constante dos mercenários dictatoriaes (A
Semana, 1932, 158, p.2).
44
LPSRUWkQFLD D IRUPDomR GD ³)UHQWH ÒQLFD 3DXOLVWD´ 23 e a coesão de todas as
entidades políticas paulistas em torno do objetivo.
Deste modo, segundo os articulistas de A Semana, a futura constituição
deveria ser eminentemente liberal, que visasse pelas liberdades e que garantisse
os direitos individuais dos cidadãos. Quanto ao regime, necessário o
estabelecimento de uma república federativa, donde esta pudesse garantir a
liberdade e autonomia para os estados e que atuasse como um escudo contra as
³LQYLiYHLV´DVSLUDo}HVXQLWDULVWDVHFHQWUDOL]DGRUDVGDGDVDGLVWkQFLDHIDOWDGH
comunicação). Em suma, estamos diante, em fins de 1932, de uma situação de
reconstrução nacional, de um debate sobre quais formas são as mais pertinentes
para o Brasil e sobre as novidades que se abrem a partir da outorga do código
eleitoral da época (voto secreto e possibilidade de voto feminino).
23
$VRFLHGDGHFLYLOPRQWHDOWHQVHHVXDVHQWLGDGHVSRUVXDYH]IHFKDUDPFRPD³)UHQWHÒQLFD
3DXOLVWD´HP
45
(Antônio Carlos Villas Boas) com o integralismo. Com isso, há um
compromisso pela difusão e seu catecismo em colunas e notas semanais ao
público24.
24
O integralismo tem sua primeira nota de importância no A Semana de 19 de novembro de 1933
quando uma comitiva de adeptos integralistas dos núcleos vizinhos de Jaboticabal e Taquaritinga veio
apresentar a ideologia e teoria às pessoas desta cidade. Nos pontos importantes da fala do apresentador
reproduzidos em nota, destacam-se: a democracia como algo ultrapassado e integralismo como uma
DGYHUWrQFLDjVPDQLIHVWDo}HVPDOpILFDVGDDWXDOLGDGHGHpSRFDSRUILPIRLGLVWULEXtGRjVSHVVRDV³2
PDQLIHVWRGH´
46
sem coação, embora tenham suas opiniões formadas nas
respectivas correntes políticas (A Semana, 1934, 248, p.1).
25
Só na cidade de Monte Alto. Se somados os distritos, os votos iam além de 3000.
47
Ao observar as edições de A Semana, nos anos de 1934-35, é possível
QRWDUJUDGDWLYDPHQWHDDVFHQVmRGHVSRQWDUGDLGpLD³LQWHJUDOLVWD´QRVHPDQiULR
preenchendo espaço considerável, cativando os escritores do periódico e sendo
assumida como paradigma de linha editorial. Especialmente a partir do segundo
semestre de 1934 matérias e textos de cunho integralista são veiculados pela
mídia. Muitos são reproduzidos de periódicos integralistas da capital; alguns são
escritos por redatores do jornal26; posteriormente, pelo encarregado da
propaganda do núcleo e muitos não tem assinatura (anônimos). De maneira
geral, esses textos, inclusive os assinados pelo pessoal do núcleo, reproduzem a
cartilha prescrita pela sede da AIB e seu manifesto.
Por outro lado, as edições de A Semana também revelam o clima de
instabilidade social, política econômica que o Brasil e o mundo viviam à época.
Instabilidade essa gerada pelos desdobramentos da crise de 1929 e a crise das
liberais democracias. No Brasil, segundo as páginas do jornal, o cenário de
principal atrito se dá entre as ideologias e grupos antagônicos de direita e de
esquerda (Ação Integralista Brasileira (AIB) e Aliança Nacional Libertadora
(ANL) - PCB). Nota-se um clima de apreensão, pois, naquela época, em São
Paulo, capital, aconteceram muitos distúrbios e incidentes entre adeptos das duas
correntes.
No que concerne ao conteúdo dos textos integralistas (a maioria
panfletários), eles expõem a natureza apartidária, conservadora e nacionalista da
doutrina e grupo. Coloca o Integralismo como uma nova força sociopolítica que
traria ordem e serviria como orientadora dos rumos e a elevação do Brasil:
49
UHYROXomRLQWHJUDOLVWD´FULWLFDYDRVSROtWLFRVEUDVLOHLURVSHORGHVYLRGHFRQGXWD
pela finalidade de perpetuação no poder, indiferença para as coisas públicas e
pelo excesso de individualismo; Riemma aponta a abnegação de Torres (em fins
de carreira) à política, a sua manutenção da moral e ética. Profetiza Salgado
como aquele que substituiria a altura o primeiro. Por outro lado, quanto à
política de Estado HPVLGH7RUUHVD6DOJDGRpSUHPHQWH³DQHFHVVLGDGHGHXPD
guinada ao nacionalismo econômico para que este proteja a nação e o seu
SUROHWiULRGDVQRFLYLGDGHVGRFDSLWDOHVWUDQJHLUR´ $6HPDQDS
Além, uma política corporativa, pois, na sua leitura, o povo não tinha capacidade
FUtWLFD SDUD GLVFHUQLU D ³UHDO SROtWLFD´ )LQDOL]DQGR WDO UDFLRFtQLR VREUH D
³RUDomR´GH1HYLOOH5LHPPDDFDGrPLFRGHGLUHLWRR%UDVLOSRVVXtD³FKDJDV´H
o Integralismo despontava como uma renovação espiritual e panacéia para
erradicação dessas supostas doenças. Para ele, o integralismo era uma ideologia
³JHQXLQDPHQWH EUDVLOHLUD´ H ³RV FDPLVDV-verdes (...) fadados a construir um
%UDVLOQDEDVHGHVXDVUHDOLGDGHV´A Semana, 1935, 277, p.1).
27
Como relatado anteriormente, o núcleo funcionava provisoriamente desde outubro de 1934.
28
Jornal estampa o discurso na íntegra.
51
empossado chefe do núcleo local, atentou para o perigo comunista, os
desmandos políticos que acometeram e acometiam, naquela conjuntura, a pátria.
&LWD3OtQLR6DOJDGRD³EDQGHLUDGR6LJPD´FRPRDOJXpPTXHYLDDQHFHVVLGDGH
de construir um Brasil forte, a partir de uma revolução de idéias, nos costumes e
na política; que combateria a iniqüidade social, a nocividade da política
SDUWLGiULDHD³WRUSHHREVROHWDOLEHUDO-GHPRFUDFLD´$6HPDQDS
29
(OHPHQWRVHVVHVTXHFRQYHUJHPSDUDR³WLSRLGHDO´DOHPmRSUHVFULWRSHORQD]LVPR
52
Alegre do Alto e Aparecida foram empreendidas para levar ao conhecimento das
pessoas daquele território a ideologia integralista. Portanto, do mesmo modo que
o núcleo de Monte Alto recebeu a influência dos núcleos das cidades vizinhas de
Taquaritinga e Jaboticabal, ele colaborou no processo de difusão da ideologia
para os distritos montealtenses.
Em todas as atividades é possível notar que houve toda uma formalidade e
simbologia prescrita nas cerimônias. O jornal de 1 de setembro de 1935 revela
que, naquela semana, houve comemorações no núcleo muito em função do
recebimento de uma bandeira integralista por Neville Riemma e um grupo de
estudantes integralistas vindos de São Paulo. Todo cerimonial estava revestido
GDV ³RUDo}HV´ D VDXGDomR $QDXr R KLQR QDFLRQDO HWF . Em 07 de outubro
DFRQWHFHXDQRLWHGRV³WDPERUHVVLOHQFLRVRV´VHXiSLFHVHGHXjVKRUDVIRLR
primeiro aniversário da fundação do núcleo montealtense.
Sobre o quesito religião, em 8 de setembro de 1935, por exemplo, a
coluna trouxe nomes de personalidades integralistas que possuíam religiões
diversas; o intuito era dar a impressão que o integralismo não deveria ser
associado com um movimento clerical exclusivamente católico, mas agregador
de várias religiões cristãs. Entretanto, nesta cidade, o integralismo teve uma
receptividade muito grande entre os católicos.
Outro ponto a se destacar, nessa análise descritiva do núcleo, diz respeito
às mulheres e as divisões departamentais por gênero. A participação feminina,
segundo as notas, foi grande; se tiver em mente que até então, a participação das
mulheres em organizações político-culturais era exígua, interessante admitir que
o integralismo permitiu uma abertura política feminina no cenário:
54
aqui uma resposta do chefe do núcleo local, José Zacharias de Lima, perante os
difamadores. Nela se percebe as nuances do pensamento conservador do grupo:
Da mesma forma que (conforme irá se tratar mais adiante) o jornal Folha
de Monte Alto não abre espaço para difusão de amplos textos sobre os
integralistas, o homólogo A Semana, por sua vez, e de maneira pioneira, fez o
55
mesmo com os constitucionalistas; o que se constata são apenas breves notas
sobre formação, encontros, reuniões e decisões da sigla. Talvez apenas dois
fatos tenham proporcionado um diálogo e dissenso entre os semanários 30 e os
grupos antagônicos. Vamos a eles.
O primeiro (que se torna um parêntese em nossa análise) diz respeito à
perda territorial (desmembramento) que Monte Alto sofre dos seus (até então)
distritos de Palmares, Fernando Prestes (as duas se tornam cidades emancipadas)
e partes de Ibitirama e Aparecida do Monte Alto. Fruto de um decreto31 do
JRYHUQDGRU ³SHFHtVWD´ $UPDQGR GH 6DOOHV D SHUGD GH VXEVWDQFLDO SDUWH GR
PXQLFtSLRDEDORXDFLGDGHHH[DOWRXRVkQLPRVGD³UHDO´SROtWLFDPRQWHDOWHQVH
Assim, um ator político que não é aqui analisado -o PRP montealtense- atacou
constantemente, em A Semana32, o PC pela suposta medida discricionária
WRPDGDSHORHQWmRJRYHUQDGRU³SHFHtVWD´(PUHVSRVWDD Folha de Monte Alto
deu abertura ao PC local para contra-argumentar ou contra-atacar. Quanto ao
segundo fato, este diz respeito a uma desavença que gerou acusações, réplicas e
tréplicas nos jornais envolvendo um vigário que, supostamente, teria orientado
seus pupilos integralistas a votar no PRP33.
Finalmente, assiste-VH D SRXFR GLVVHQVR HQWUH ³FRQVWLWXFLRQDOLVWDV´ H
integralistas; mesmo porque o PC era pragmático e só dirigia ataques aos
adversários em momentos de campanha política. Genericamente, pode-se
afirmar que foram constatadas poucas polêmicas envolvendo ataques entre os
dois jornais em 1935 (o único em que os dois jornais estão ativos).
34
Existia uma comissão permanente de propaganda do PC local responsável pela produção das
matérias e panfletos.
57
colunas e matérias, tratava-se do regime mais nobre existente; nobre porque
dava abertura para que o povo tomasse contato com a política, participasse e
HVFROKHVVH VHXV UHSUHVHQWDQWHV -XVWDSRVWR D LVVR RV ³FRQVWLWXFLRQDOLVWDV´ H R
PC, por aquele jornal, intitulavam-se herdeiros do movimento de 1932, um
movimento pró-democracia que lutou pela constitucionalidade da nação. Do
mais, periódico e partido defenderam a superação da política oligárquica
³SHUUHSLVWD´HXPDSURPRomRGHXPD³GHPRFUDFLDEHPSUDWLFDGD´RULHQWDGDSRU
uma ética e moral política. Dito isto, constatou-se que o diálogo e debate
político se travavam com o PRP e não com os integralistas, uma vez que esses
últimos se recusavam a participar do jogo político local, ou seja, das eleições no
município.
Em seus inúmeros ataques ao PRP, o jornal Folha de Monte Alto o
acusava (inclusive o PRP local) de improbidade administrativa, negócios
escusos e manipulação eleitoral. Dessa forma, e a partir do que fora antes citado,
o PC queria passar uma imagem de portador de um novo paradigma de política
democrática, despida ela da era dos vícios oligárquicos da República Velha
³SHUUHSLVWD´ $OpP H VHJXLQGR QHVWH UDFLRFtQLR XPD VXSHUDomR GH XPD IRUPD
elitista de administrar o país, ou seja, uma busca e uma vontade de aproximação
e prestação de contas aos eleitores dos atos tomados pelos
representantes/governantes e a defesa de uma democracia como promotora das
liberdades sociais, direitos naturais, garantias individuais e dos valores
constitucionalistas. Logo, por mais paradoxo que pareça, o periódico, a partir de
VHXV DUWLFXOLVWDV HQWRRX ORDV H DSRQWRX D ³5HYROXomR GH RXWXEUR´ FRPR
necessária para quebra de uma ordem viciada, conduzida ela pelo PRP. Por
outro lado, como apontado acima, o jornal e a comissão de propaganda do PC se
preocupavam muito mais em atacar o PRP a manifestar suas intenções, debater
projetos para a cidade ou uma ideologia política.
35
Plínio Salgado fez uma visita de um dia a Monte Alto em meados de 1935 e finais de fevereiro de
1936.
59
muito menos a ser contra o regimen? (Folha de Monte Alto,
1936, 42, p.1).
36
No que diz respeito a números, naquela eleição de março de 1936, segundo o jornal, 2353 eleitores
votaram no pleito de Monte Alto.
37
Um fato digno de nota é que em 14/03/36 a Folha de Monte Alto SXEOLFDTXHRMRUQDO³FODQGHVWLQR´
(ou seja, que não circula mais como antigamente, de forma legal e transparente) A Semana, associado,
segundo o periódico, ao PRP, veiculou notícias denegrindo a imagem de integrantes do PC local. A
notícia interessa, entretanto, apenas no que toca A Semana, pois não há no arquivo edições deste jornal
no ano de 1936. Outro ponto destacável é que o proprietário até as últimas edições abria muito espaço
do seu jornal para os integralistas.
60
2.3.4 A reconstitucionalização do estado nas páginas de a Folha de
Monte Alto
61
pelo PC como aqueles que defenderão os interesses da Comarca a partir de seus
³KRQRUiYHLV´LGHDLV
2SLQL}HVGRV³FRQVWLWXFLRQDOLVWDV´DFHUFDGRVLQWHJUDOLVWDVH
o Núcleo Integralista nas páginas de A Folha de Monte Alto
38
Em uma dessas escassas notícias, em 30/05/37, saiu uma nota interessante sobre o plebiscito
integralista a respeito da escolha do candidato às eleições presidenciais brasileiras em janeiro de 1938;
a vitória esmagadora foi de Plínio Salgado com 268 votos de 279 válidos. Disso, deduz-se que o
número de votos totais seria o número de adeptos do núcleo local: aproximadamente 300.
62
se notam palestras, festividades e atividades envolvendo o núcleo integralista
(sua natureza é próxima daquelas que antes já comentamos). Entretanto, pelas
páginas do periódico não se percebe textos com o perfil catequista (que o outro
jornal sempre veiculava) contendo ideologia e elementos de defesa do grupo.
39
A proibição era balizada na Lei nº 38, de 4 de Abril de 1935, que define crimes contra a ordem
política e social (Lei de Segurança Nacional).
63
2.3.7 O ano de 1937 e a campanha do periódico Folha de Monte
Alto para as eleições presidenciais
67
Considerações finais
Tendo em mente a curta duração dos grupos que aqui foram objetos de
DQiOLVH^PHQRVGHTXDWURDQRVQRFDVR³FRQVWLWXFLRQDOLVWD´-37) e três no
integralista (1935-37)} em decorrência do golpe de Estado de Vargas, em 10 de
novembro de 1937, a principal conclusão segura a que se chegou foi de que
estava posta, na conjuntura turbulenta em que ambos existiram, na política local,
uma situação ambivalente de uma política real, praticada no jogo político
democrático a partir de partidos, representação, debate, pleito etc. (pelo lado do
Partido Constitucionalista) e uma ideal, onde um grupo era catequizado e
plasmado no afã de concretizar um projeto político de futuro com fortes teores
teleológicos (pelo lado Integralista).
Assim, o Partido Constitucionalista emergiu nessa conjuntura de
reconstitucionalização como a principal força política dentro do jogo
democrático. Fundado na capital paulista, a partir da dissidência de vários
nomes de vários partidos, com destaque ao Partido Democrático, ele reuniu
políticos jovens, oriundos do comércio, indústria, lavoura e profissões liberais
em Monte Alto. Possuía um discurso renovado e purificador, que aliava
democracia, modernidade, moral e ética. Ademais, a sigla pregava a ruptura da
IRUPD GH DWXDomR SROtWLFD YLFLRVD WtSLFD GD 5HS~EOLFD 9HOKD ³SHUUHSLVWD´ H D
emergência de uma nova prática, balizada na liberal democracia e no
constitucionalismo; logo, que viesse, dessa forma, a proteger os direitos
clássicos, elementares e atender as novas demandas da sociedade. Dessa forma,
DSDUWLUGHWDOSODWDIRUPDSROtWLFDRV³FRQVWLWXFLRQDOLVWDV´FRQVHJXLUDPHOHJHUR
prefeito municipal, a maioria da Câmara Municipal e assumir as rédeas da
política montealtense (sem contar o governador na esfera estadual e a maioria da
assembléia legislativa estadual). Obviamente, em função do golpe e da ruptura
da ordem democrática, impossível tirar conclusões sobre a atuação do partido
como um todo, ou seja, se, na prática, ele se diferenciou do principal adversário
68
QDFRQGXomRGRVQHJyFLRVGDFRLVDS~EOLFD$WHQWDWLYDGH³UHJHQHUDU´DRUGHP
democrática legal durou apenas três anos.
O Núcleo Integralista Montealtense, por sua vez, conseguiu reunir em
torno de si bom número de pessoas que se identificaram com a ideologia
desenvolvida por Plínio Salgado e seus correligionários. Os contatos das cidades
vizinhas e de estudantes montealtenses em São Paulo colaboraram para a
difusão das idéias e o sucesso do núcleo. De forma genérica, pode-se afirmar, a
partir da análise dos dois periódicos, que as pessoas revelaram/manifestaram
uma empatia com o caráter salvacionista, conservador, ordeiro, moralista e
regenerador integralista. Porém, o grupo se fechava em torno de si e, seguindo
as prescrições da AIB, não participou do pleito municipal que compôs a Câmara
e Prefeitura Municipal de Monte Alto em 1936. Portanto, por mais popularidade
e aceitação que os integralistas vieram a possuir, tal fato era vazio dentro de um
processo eleitoral e representativo. Aliás, como pregava a cartilha, o fim passava
pela própria negação da república liberal democrática e a efetivação de um
utópico Estado integral.
Finalmente, a efetivação do próprio golpe, e toda censura que vem na sua
esteira, foi uma negação a cada grupo em particular: seja ao livre jogo
democrático e à pluralidade inerente, seja como à continuidade de um processo
de formação de uma nova mentalidade que tem como fim a unidade de ação e
pensamento! Algo controverso esta última, pois ela, por sua vez, também nega
com que diferenças existam no interior da sociedade. Existia assim uma política
real e uma ideal.
69
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