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BACHARELADO EM JORNALISMO
Rio de Janeiro
2022
MARIANA OCHOTORENA FARTURA REIS
Rio de Janeiro
2022
MARIANA OCHOTORENA FARTURA REIS
BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Orientadora: Prof.ª Dra. Jacqueline Sobral
(Centro Universitário IBMR)
_________________________________
Avaliador 1
(Centro Universitário IBMR)
_________________________________
Avaliador 2
(Centro Universitário IBMR)
Rio de Janeiro
2022
Dedico esta monografia aos meus pais, aos
meus irmãos e aos meus amigos mais
próximos por toda a colaboração, paciência e
apoio durante o processo de desenvolvimento
deste trabalho.
RESUMO
O trabalho tem como objetivo apresentar um estudo sobre como Getúlio Vargas,
durante o “Estado Novo” (1937-1945), utilizou-se de seus poderes políticos para a
implantação da censura e a redução da liberdade de expressão dos jornais no Brasil.
Por meio de um estudo de caso sobre a censura aplicada no O Estado de S. Paulo, o
intuito é compreender como a prática afetou a linha editorial do jornal, refletir sobre as
filosofias por trás do regime, avaliar qual o papel do Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP) na censura e analisar como as matérias publicadas pelo periódico
foram modificadas com a intervenção.
The work aims to present a study on how Getúlio Vargas, during the “Estado Novo”
(1937-1945), used his political powers to implement censorship and reduce the
freedom of expression of newspapers in Brazil. Through a case study on censorship
applied in O Estado de S. Paulo, the aim is to understand how the practice affected
the newspaper's editorial line, reflect on the philosophies behind the regime, evaluate
the role of the Press and Propaganda Department (DIP) in censorship and to analyze
how the articles published by the journal were modified with the intervention.
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 10
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................................... 61
1. INTRODUÇÃO
Originária do termo latim censere (que significa ter acesso), a censura há muito
tempo apresenta-se como um impedimento para a sociedade. Fundamentada através
do princípio de “filtrar e proibir o que é inconveniente, do ponto de vista ideológico ou
moral”, de acordo com o Dicionário Michaelis On-Line, suprimindo informações e
expressões antagônicas às previamente impostas pelas autoridades, a prática de
cancelamento do pensamento individual é característica de governos autoritários
desde a Roma Antiga, e perdurou durante os séculos como um modus operandi dos
líderes desses regimes.
Quando o tema é censura, frequentemente a associação se dá com setores
que costumam ser mais afetados por essa prática: o teatro, o cinema, a literatura, a
arte, o turismo e a mídia. No entanto, ela pode se dar de diversas formas, desde
propagandas políticas e contrainformações até a intervenção e controle dos veículos
de comunicação oficiais de um país.
Em relação a censura à imprensa, Marx (1842, p.20) complementa afirmando
que:
Na oposição à liberdade de imprensa, bem como na oposição à
liberdade geral da mente em qualquer esfera, os interesses individuais
dos Estados particulares, a natural unilateralidade dos seus caráteres,
aparecem em forma franca e brutal, mostrando simultaneamente seus
dentes (MARX,1842, p.20).
A justificativa por trás do Manifesto era de que o novo governo foi consequência
direta dos processos que tiveram início em 1930. Entretanto, ao contrário das palavras
do presidente e dos homens que corroboraram com o golpe de Estado, a instauração
do Estado Novo foi resultado de uma série de lutas e confrontos ocorridos no período.
A época que precedeu o Estado Novo ficou marcada por discordâncias e
agitações nas esferas civis, políticas e militares. Esse contexto estava relacionado à
diversidade de forças que fizeram parte da Revolução de 1930. Junto aos liberais e
autointitulados “oligarcas residentes”, estavam rebeldes “tenentes” que tentavam
derrubar o regime que estava em vigor desde 1889.
Sendo assim, logo após o começo do Governo Provisório, ficou evidente o
contraste entre as opiniões. De um lado era exigido a convocatória instantânea de
uma Assembleia Nacional Constituinte. Do outro, que fosse estabelecida uma ordem
democrática seguida de reformas sociais. Uns desejavam um regime forte, outros um
modelo liberal.
Pandolfi (2015, p. 183) afirmava que:
1Putsch – Golpe, ou tentativa de golpe, com o objetivo de tomar o poder, não raro com a participação
de militares e baseando-se em conspiração secreta; golpe de Estado.
17
aos “camisas verdes” (como ficaram conhecidos os integralistas por conta da cor de
seus uniformes), que ficaram sujeitos às intransigências da Lei de Segurança Nacional
(D’ARAÚJO, 2000, p. 28).
A perseguição contra opositores foi uma das características mais marcantes do
Estado Novo. Quaisquer grupos com ideologias (adeptos ao nazismo, comunismo ou
fascismo) ou nacionalidades (imigrantes ou descendentes de alemães, italianos e
japoneses) que pudessem apresentar ameaças ao regime, estavam sujeitos ao
desmantelamento e prisão, geralmente com o suporte oficial dos países em que
aqueles cidadãos se originaram.
É criada então a Campanha de Nacionalização do Estado Novo, com o objetivo
de diminuir a influência estrangeira no país e “abrasileirar” os imigrantes e suas
famílias no ambiente escolar. Segundo D’Araújo (2000):
2 Dia da Raça – Celebração que ocorria no dia 5 de setembro e que tinha como objetivo enaltecer a
identidade cultural brasileira e todos os imigrantes que contribuíram para a formação de sua raça.
3 Dia do Trabalho – Feriado internacional no dia 1º de maio em que é homenageada a luta dos
6 Eixo – Aliança formada entre Alemanha, a Itália e o Japão para combater os países Aliados.
19
7Campanha da Itália – Série de operações realizadas pelos Aliados para reconquistar o território do
Mediterrâneo.
20
estaria sendo planejado um novo golpe, dessa vez com o suporte das massas e não
dos militares.
O dia 29 de outubro de 1945 fica marcado na história como o encerramento da
primeira fase de Vargas na política. Vítima de um movimento militar promovido por
Góis Monteiro e Gaspar Dutra, estes que “foram exatamente os mesmos que o
puseram no poder em 1937 e que o sustentaram durante o Estado Novo”
(CARVALHO, 1999, p. 342), Getúlio é forçado a se retirar “pacificamente”.
Sob o acordo de deixar o poder nas mãos do presidente do Supremo Tribunal
Federal, Vargas abdica-se de seu cargo como líder do Estado Novo. No dia seguinte
“a imprensa festejava a queda da ditadura, e Getúlio, sob boatos de que seria preso
e deportado, seguia nova etapa de sua carreira política” (D’ARAÚJO, 2000, p. 62).
Na prática, todo o contexto sociopolítico pelo qual o mundo passava após o fim
da Primeira Guerra Mundial influenciou na criação do Estado Novo no Brasil. A
começar pelo nome escolhido para o “novo governo” de Vargas, que fora inspirado —
ou melhor, copiado —, no regime político ditatorial que António de Oliveira Salazar
instaurava em Portugal em 1933, o também conhecido como salazarismo.
“O ‘novo’ aqui representava o ideal político de encontrar uma ‘via’ que se
afastasse tanto do capitalismo liberal quanto do comunismo” (D’ARAÚJO, 2000, p. 8),
uma vez que a proposta, tanto da esquerda quanto da direita, era a de corrigir os erros
causados pelo sistema capitalista, porém com soluções distintas e que estivessem
alinhadas a seus ideais.
Ainda de acordo com D’Araújo (2000, p. 10) “a maneira concreta como esse
‘novo’ apareceu foi o fascismo, na Itália; o nazismo, na Alemanha; e o corporativismo
de Estado, em outros países europeus e também no Brasil”, ou seja, várias foram as
fontes de governança que influenciaram Getúlio a construir a sua ditadura no período
que se decorreu de 1937 a 1945. Tem-se como exemplo a forma que o sindicatário
brasileiro “teve forte influência da Carta del Lavoro8, vigente na Itália de Mussolini, e
que as técnicas de propaganda estado-novistas foram muito influenciadas pelo
exemplo nazi-fascista” (FAUSTO, 1999, p. 18).
8 Carta Del Lavoro – Documento utilizado pelo Partido Nacional Fascista para determinar como
deveriam acontecer as relações de trabalho na Itália.
21
9 Disponível em <https://cpdoc.fgv.br/sites/default/files/verbetes/primeira-
republica/JOVENS%20TURCOS.pdf>. Acesso em 30 de mai. de 2022.
22
comprovar-se uma ditadura, o Estado novo foi um grande reflexo das novas doutrinas
que surgiam no mundo pós-guerra.
nítida o uso de sua retórica positivista. “A lei não é arbítrio do legislador; esta nada
mais faz do que reconhecer as necessidades gerais, garantir-lhes o desenvolvimento,
aplainando as dificuldades que lhe possam sopear a marcha progressiva” (Correio do
Povo, 16/08/1906, p.1).
Além da influição do ideário sobre o vocabulário de Getúlio, também é possível
notar sua presença nos autores em que mencionava (Spencer, Comte, Mill) e na
defesa de particularidades fundamentais deste princípio, como, por exemplo, o
antiliberalismo. Em um trecho retirado do debate entre Vargas e Gaspar Saldanha, no
ano de 1919, é possível constatar como ocorria o apoio destes valores na prática:
(...) permita-me dizer que V. Exa. está filiado à velha teoria econômica
do ‘laissez faire’, teoria essa que pretende atribuir unicamente à
iniciativa particular o desenvolvimento econômico ou industrial de
qualquer país, deixando de lado a teoria da nacionalização desses
serviços por parte da administração pública, amplamente justificada
pelas lições da experiência, não levando V. Exa. /, em linha de conta,
que nos países novos, como o nosso, onde a iniciativa é escassa e os
capitães ainda não tomaram o incremento preciso, a intervenção do
governo em tais serviços é uma necessidade real (Annais da
Assemblea ..., 1919, p. 124).
A oratória de Vargas sob o ponto de vista positivista permanece forte até 1928,
ano em que assume a presidência do Rio Grande do Sul. A partir deste momento, o
uso de termos e expressões positivistas vai sendo abandonado, porém continua
presente em suas atitudes e feitos, o que “não raro surpreende ao aparecer em
discursos posteriores, mesmo que muitas vezes de forma implícita e dissimulada”
(FONSECA, 2001, p. 6).
A partir do velho ideal de progresso presente no positivismo, Vargas começa a
adotar em seus discursos o princípio de desenvolvimento econômico, um
“keynesianismo precoce10” (FONSECA, 2001, p.6), e que mais tarde se transformaria
em uma autêntica ideologia que o acompanharia até o fim de sua primeira fase no
governo do país.
Surgido na América Latina nos anos de 1930, o desenvolvimentismo, ou
nacional-desenvolvimentismo, “pode ser conceituado, de forma simplificada, como o
projeto de desenvolvimento econômico assentado no trinômio: industrialização
10Keynesianismo – Doutrina criada por John Maynard Keynes que defendia que o Estado deveria fazer
uma intervenção na economia sempre que se mostrasse necessário, no intuito de dificultar a retração
econômica e assegurar o emprego pleno.
25
Para Carneiro (2002), a censura executada no Estado Novo pode ser resumida
da seguinte maneira:
12 Conselho composto por seis membros, sendo três deles nomeados pelo presidente e outros três
eleitos através de assembleias gerais convocadas pela Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e pelo
Sindicato de Proprietários de Jornais e Revistas do Rio de Janeiro, que assistiam a divisão de imprens a
na execução de suas tarefas.
13 Anuário Brasileiro da Imprensa. DIP, 1941.
29
Travel in Brazil, folheto de caráter regular que contava com fotografias do país e que
foi distribuído entre várias agências de turismo no exterior; e por fim, a divisão de
imprensa.
Esta última talvez tenha sido a que mais exigiu do departamento que articulava
os meios censores, dado que tinham um serviço complexo e que exigia maior
cobertura. A principal função dessa divisão era controlar todos os assuntos
relacionados à imprensa nacional e internacional. Censurava notícias e reportagens,
autorizava ou não a impressão de periódicos, organizava arquivos que compilavam
todos os jornais, livros e revistas publicados e retinha fotografias, clichês e copyright
de artigos de autores brasileiros para que fossem distribuídos no futuro para os
veículos de comunicação.
Além de interceder diretamente na liberdade de expressão dos jornais e
revistas dentro e fora do Brasil, a divisão de imprensa ainda estava associada à
Agência Nacional (AN) que, de acordo com o “Decreto-Lei que aprovava o regimento
interno do departamento” (VIEIRA, 2017, p.2), tinha a obrigação de “fornecer, aos
estrangeiros e brasileiros, uma concepção mais perfeita dos acontecimentos sociais,
culturais e artísticos da vida brasileira”19.
Segundo Souza (2003):
É por conta disso que “as relações do DIP com a imprensa caracterizaram-se
sempre pela ocorrência de numerosos atritos”20. Os casos mais notórios, em que
foram tomadas medidas drásticas de intervenção com o intuito de calar a opinião
contrária dos jornais ao governo de Vargas, foram os que ocorreram em 1940 com os
jornais A Noite, O Dia e O Estado de S. Paulo, atual Estadão e objeto de estudo da
presente pesquisa.
Nesse mesmo ano, o DIP tem a dimensão de seus poderes amplificada, e é
instalado em cada estado um Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda
(DEIP), seguindo os mesmos princípios da divisão de imprensa. “A partir de outubro,
o Ministério da Justiça passou a coordenar todos os meios e órgãos de divulgação e
publicidade existentes no país, inclusive o DIP”21, e o departamento passa a distribuir
verbas de publicidade apenas para os jornais de sua escolha.
No Atlas Histórico do Brasil, publicado no site da FGV, Araújo (1988) cita que:
A linha editorial escolhida para ser seguida pelo jornal foi “doutrinária no exame
dos problemas sociais e econômicos do país, pregando a necessidade de ‘um regime
forte (não ditatorial) para se colocar a democracia em estado de legítima defesa’”24,
conforme pontua “Marieta de Morais Ferreira, no ‘Dicionário histórico e biográfico
brasileiro pós-1930’, na relação elaborada por Costa Netto e Carrazzoni”25. Nas
edições, geralmente compostas por editoriais munidos de ideologias estado novistas,
De início, suas primeiras tiragens eram de 2 mil exemplares, número que foi
aumentando consideravelmente com o passar dos anos. Em 1888 já eram 4 mil
edições, e apenas dois anos depois, em 1890, conquistava o incrível número de 8 mil.
Nessa mesma época, o jornal alcança outras duas etapas importantes de sua
evolução. Após a Proclamação da República, o periódico começa a ser publicado
como O Estado de S. Paulo, e sob a nova direção de Júlio Mesquita, que toma o lugar
de Rangel Pestana como redator-chefe, fecha parceria com a Havas, agência de
telegramas que acaba por trazer mais velocidade na transmissão de notícias entre os
jornalistas que trabalhavam no cenário internacional.
Figura 4 – Notícias de pautas recebidas através dos telegramas da Havas publicada no dia 17
de abril de 1890
São Paulo anos depois, vítima de uma doença pulmonar e falece em 15 de março de
1927 em sua fazenda no interior.
regionalista’ e o receio de mudança das estruturas do país fizeram com que os liberais
de OESP atuassem como um dos principais articuladores do movimento de 1932”
(CAPELATO e PRADO, 1980, p. 46).
Figura 9 – Primeira página da última edição “livre” do jornal publicada no dia 24 de março de
1940
Mais adiante, no decorrer do mesmo artigo, Mourão deixa o seu apoio a Vargas
explícito e idealiza a atitude do presidente em tomar o jornal:
Outra mudança notável que ocorre é a mudança nos temas abordados pelas
colunas de opinião. Isso se mostra problemático, pois essa seção do jornal era
responsável por expor a visão de vários autores sobre questões que ocorriam no Brasil
e no mundo, geralmente aos domingos. Alguns exemplos são A. Piccarolo, na pág. 4
da edição do dia 17 de julho de 1938, dissertando sobre como as capitanias eram
feudos, e Alpheu Canniço, na pág. 3 da coluna especial da edição do dia 8 de março
de 1940, falando sobre a xenofobia na França.
Os assuntos tratados após a intervenção passam a ser menos críticos e de
cunho mais nacionalista. Tem-se como referência dessa observação o artigo de Nuto
Sant’Anna, na pág. 4 da edição de 5 de junho de 1940, comentando sobre os fatos
Alguns autores que já faziam parte das páginas de opinião, como A. Piccarolo,
Nuto Sant’Anna e Conde Emanuel de Bennigsen continuam aparecendo normalmente
nas publicações do jornal, deixando nítido que estes continuariam a colaborar nas
edições. Por outro lado, nomes como S. F, F. Nitti e Paulo Vanorden Shaw não
49
aparecem mais, o que nos dá a entender que foram tirados de cena por possuírem
opiniões que não faziam jus ao que o governo gostaria de comunicar.
Embora as editorias do O Estado de S. Paulo tenha se mantido, percebe-se
que os tipos de informes publicados são outros. Analisando a coluna “Notícias
Diversas”, verifica-se que, antes da intervenção, eram trazidas manchetes como
“Scena de Sangue”, “Tiro a Pistola” e “Ferido a Faca”34, e que após esse
acontecimento, as mesmas passam a ser “Departamento das Municipalidades de São
Paulo”, “Farmácias de Plantão” e “O Combate ao Comunismo”35, ou seja, privando o
povo de ter um contato amplo com as marginalidades que desenrolavam-se no país.
Além desta, pode-se perceber a censura explícita aplicada em outra coluna: a
“Notícias dos Estados”. O DIP — como foi esclarecido no segundo capítulo — proibia
uma série de assuntos, e dentre eles, estavam listadas catástrofes e violência. A
censura nessa coluna acontece exatamente em cima desses temas, e para validar
efetivamente esse fato, foram feitos dois comparativos entre publicações dessa
coluna. No primeiro caso, é feita a análise de duas notícias divulgadas nas datas de
antes e depois da intervenção, mas sobre estados diferentes. Já no segundo, também
foram analisadas notícias publicadas nessas mesmas épocas, porém sobre o mesmo
estado.
Abaixo estão transcritas as duas publicações sobre estados diferentes. A
primeira foi publicada na pág. 2 da edição do dia 8 de março de 1939 e fala sobre
Pernambuco:
Figura 15 – Notícia sobre o presidente Getúlio Vargas na edição do dia 13 de março de 1942
Figura 16 – Notícia sobre a visita do general Gois Monteiro na edição do dia 12 de abril de
1940
1940. A começar pelos meses que antecedem este fatídico dia, percebe-se que o
periódico demonstrava o seu posicionamento contra o Eixo através da divulgação de
notícias que tinham como enfoque a crítica aos países que faziam parte dessa aliança.
Tomando como exemplo pautas relacionadas à Alemanha Nazista e a Itália
Fascista, é possível atestar essa declaração através de algumas publicações que
desaprovavam atitudes e discursos dessas potências: a que foi impressa na pág. 14
da edição do dia 21 de setembro de 1939 sob o título de “O governo francez refuta o
discurso do sr. Adolpho Hitler”; na pág. 2 da edição do dia 12 de dezembro de 1939
comentando sobre “A posição da Italia definida pelo Conselho dos Ministros”; na pág.
1 da edição do dia 18 de março de 1940 com a manchete de “A actuação do ‘Reich’
no Sudeste da Europa”; e na pág. 1 da edição do dia 19 de março de 1940 que falava
sobre como “Divergem as opiniões dos observadores internacionais sobre os
objectivos da conferencia entre os srs. Hitler e Mussolini”.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945, o cenário de caos político que
se instaurava no Brasil e a flexibilização das medidas censórias por parte do Estado
Novo, outro tema toma força nas páginas do jornal: o retorno dos partidos políticos,
as eleições marcadas para o fim do ano e o regime de Getúlio Vargas encaminhando -
se lentamente para o seu fim.
A datar do fim de outubro, são publicados vários materiais informando sobre a
renúncia de Vargas, como se vê na edição do dia 30 de outubro de 1945, sob o título
59
Contando com o apoio do próprio Getúlio Vargas (segundo a carta enviada por
ele mesmo ao O Estado de S. Paulo e que fora publicada na edição do dia 28 de
novembro de 1945), Gaspar Dutra vence as eleições presidenciais no dia 2 de
dezembro de 1945, e no dia 6 de dezembro do mesmo ano, o jornal é finalmente
devolvido aos seus donos originais, os Mesquita. “Ao retomar o controle do jornal,
seus proprietários ignoraram o registro da primeira página e repetiram o número
21.650, que marcara a primeira edição feita sob ocupação da ditadura”36.
Figura 22 – Parte da carta de apoio de Vargas a Gaspar Dutra publicada na edição do dia 28
de novembro de 1945
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho teve como objetivo refletir sobre como Vargas, durante o
“Estado Novo” (1937-1945), utilizou-se de seus poderes políticos para a implantação
da censura e a redução da liberdade de expressão dos jornais no Brasil. Para isso,
foram realizadas pesquisas sobre a história política brasileira desde a época da
República Velha, sobre a vida e o governo de Vargas, a atuação dos jornais no país
e sobre o objeto de estudo em questão, sendo este O Estado de S. Paulo, sob a
consulta de uma extensa base bibliográfica de historiadores, comunicólogos e do
próprio Vargas.
No primeiro capítulo, foi apresentado um pouco mais sobre a história que
envolve nosso país. Através dos olhares de Pandolfi, D’Araújo, Capelato, Vianna,
Fausto, e entre outros, desvendou-se um pouco mais sobre a Revolução de 1930,
movimento que levou Vargas ao poder, quais foram os pontos mais importantes no
Estado Novo, como a política externa influenciou na criação do regime e as filosofias
que estavam por trás do líder do regime.
A partir disso, foi possível perceber como, desde o início, a Era Vargas surgiu
com uma grande ruptura no cenário político, trazendo inúmeros benefícios para o país,
mas a custo da proibição da autonomia do pensamento e dos direitos de se expressar
livremente, fosse através de palavras, artes ou manifestações públicas.
Durante o decorrer do capítulo, nota-se também que grande parte das atitudes
tomadas pelo presidente tiveram como base o positivismo, linha de pensamento muito
difundida durante a República Velha, e que persuadiu toda uma geração de políticos
sulistas que se moldavam sob esse pensamento. Através dos discursos de Vargas, é
possível ver como sua fala foi se adaptando com o passar dos anos para que pudesse
se encaixar nos devidos contextos da época, e como outros líderes autoritários foram
de grande inspiração para sua governança, tal como é citado o nome de Hitler,
Mussolini e Salazar.
Já no segundo capítulo, é explorado qual o papel que os veículos de
comunicação exerciam no país. Através do olhar de Capelato e Araújo, compreende-
se como a censura era aplicada por meio da propaganda política, como o órgão
governamental do DIP se comportava perante à imprensa e como o ato de censurar
impactou muito diretamente os jornais do país. A liberdade de imprensa e direito à
informação, dois fatores tão importantes no que se diz respeito ao conhecimento da
62
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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