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UNIVERSIDADE DE CAXIAS DO SUL

ÁREA DO CONHECIMENTO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS


CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS

RENATO AUGUSTO ESPÍNDOLA SUSIN

ESTUDO DA ESCRAVIDÃO BRASILEIRA SOB A ÓTICA DA


NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

CAXIAS DO SUL
2023
RENATO AUGUSTO ESPÍNDOLA SUSIN

UMA ANÁLISE NEOINSTITUCIONALISTA DE DOIS SÉCULOS


DA ECONOMIA DO BRASIL INDEPENDENTE

Trabalho de conclusão de curso apresentado


como requisito para a obtenção do grau de
Bacharel em Ciências Econômicas pela
Universidade de Caxias do Sul.

Orientador: Prof. Dr. Mosar Leandro Ness

CAXIAS DO SUL
2023
AGRADECIMENTOS

Inicialmente, agradeço à minha família por todo o suporte emocional durante


essa árdua e longa jornada. Esse trabalho é apenas a ponta do iceberg que fora
construído embasado no alicerce familiar desde que eu era menor.
Agradeço ao meu orientador Prof. Dr. Mosar Leandro Ness pelo grande apoio
nesse caminho, seus conhecimentos transcendem aos modelos econométricos
e equilíbrios de Nash, Mosar além de grande professor de economia, também é
um professor para a vida.
Agradeço também aos colegas do Economia Mainstream, um grupo que me
considero privilegiado em fazer, e agradeço principalmente pela lição de que o
conhecimento é inútil se não é compartilhado, e ao compartilhá-lo ganhamos
admiração, respeito e amizades. Farei o possível para repassar o que aprendi
nesse grupo e ajudar os outros da mesma forma que fui auxiliado.
Ademais, agradecer a todos os amigos e colegas que estiveram presentes
diretamente ou indiretamente nesse período que será marcado para o resto de
minha vida.
“A escravidão permanecerá por muito tempo como a característica nacional do
Brasil”

Joaquim Nabuco
RESUMO

O objetivo de entender a diferença entre êxito e fracasso na economia é uma das


questões mais perenes dessa ciência, desde a economia clássica até a
contemporaneidade. A Nova Economia Institucional é uma escola que analisa a
economia por meio das instituições, que são as regras que ditam uma sociedade
como um todo, podendo ser formais ou informais. A instituição analisada por
esse trabalho é a escravidão, que caracterizou a humanidade desde seus
primórdios. Essa análise com base na Nova Economia Institucional restringiu seu
estudo para a escravidão ocorrida entre os séculos XV e XIX por países
europeus e suas colônias e suas devidas consequências na sociedade atual. Os
capítulos de número 2 e 3 foram compostos pela pesquisa teórica e descritiva,
associando as literaturas sobre história econômica brasileira com os estudos
sobre escravidão e influência das instituições na economia. O quarto capítulo é
composto pela análise do modelo de dados em painel utilizando-se de variáveis
proxy e agregados socioeconômicos. Diante disso, a conclusão foi que a
escravidão influenciou na concentração de renda nos dias de hoje, tanto dentro
de uma nação quanto entre países distintos.

Palavras-chave: Escravidão. História econômica. Economia brasileira. Dados


em painel. Cliometria
ABSTRACT

The goal of understanding the difference between success and failure in


economics is one of the most enduring questions in this field, from classical
economics until nowadays, The New Institutional Economics, a school of thought
that analyzes the economy through the lens of institutions, which are the rules
that govern a society as a whole, whether they are formal or informal. The
institution examined in this work is the institution of slavery, which has
characterized human civilization since its beginning. This analysis based on New
Institutional Economics focused its study on slavery that occurred between the
15th and 19th centuries in European countries and their colonies, and its
subsequent effects on contemporary society. Chapters 2 and 3 were composed
of theoretical and descriptive research, linking literature on Brazilian economic
history with studies on slavery and the influence of institutions on the economy.
The fourth chapter consists of the analysis of panel data using proxy variables
and socioeconomic aggregates. As a result, the conclusion was that slavery
influenced income inequality today, both within a nation and among different
countries.

Keywords: Slavery. Economic history. Brazilian economy. Panel data.


Cliometrics.
LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Logaritmo do PIB per capita correlacionado com o Risco médio de expropriação
........................................................................................................................................... 28
Figura 2 - Nota de 100 trilhões de dólares Zimbabweanos ................................................ 30
Figura 3 - Equilíbrio entre poder do governo e da sociedade ............................................ 31
Figura 4 - Modelo duplo log com a correlação entre a exportação de escravos dos países
africanos com a sua renda per capita ................................................................................ 38
Figura 5 - Correlação entre Escravos por habitante em 1860 e a renda per capita em 2000
........................................................................................................................................... 39
Figura 6 - Gráfico com a correlação entre Índice de desigualdade com a população
escravizada em 1860 ......................................................................................................... 41
Figura 7 - Número de Navios negreiros que atracaram no Brasil durante a vigência do
regime escravista ............................................................................................................... 43
Figura 8 - Mapa do Brasil com os navios negreiros chegados em cada estado ................ 44
Figura 9 - Principais Fornecedores de escravos ao Brasil ................................................. 45
Figura 10 - Escravos trazidos ao Brasil entre 1781 e 1855 ................................................ 56
Figura 11 - Evolução das exportações de café durante a segunda metade do século XIX 58
Figura 12 - Participação das exportações de café durante o período ................................ 59
Figura 13 - Comparação entre as exportações cafeeiras do Brasil com o resto do mundo 60
Figura 14 - Evolução das Instituições escravocratas no século XIX .................................. 62
Figura 15 - Gráfico de setores com a importação de escravos relacionada a seus
respectivos destinos........................................................................................................... 69
Figura 16 - Gráfico com a importação de escravos e seus respectivos destinos entre 1500
e 1870 ................................................................................................................................ 70
Figura 17 - Estrutura de idade no planeta Terra ................................................................ 75
LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Correlação entre IDH e Liberdade Econômica em cada item da análise do


Índice de Liberdade Econômica ......................................................................................... 36
Tabela 2 - Resultados das Variáveis em um Regressão de Método dos Mínimos
Quadrados Ordinários escala log-log ................................................................................. 72
Tabela 3 - Resultados das Variáveis em um Modelo duplo log de Efeitos Aleatórios ........ 73
Tabela 4 - Resultados das Variáveis em um Modelo duplo log de Efeitos Fixos .............. 73
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Total de escravos importados por cada localidade analisada .......................... 71


Quadro 2 - Diferentes agregados socioeconômicos dos países analisados pelo modelo de
dados em painel ................................................................................................................. 71
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

IDH Índice de Desenvolvimento Humano


MEA Modelo de Efeitos Aleatórios
MEF Modelo de Efeitos Fixos
MQG Mínimos Quadrados Generalizados
MQO Mínimos Quadrados Ordinários
NEI Nova Economia Institucional
PPC PIB per capita
PIB Produto Interno Bruto
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 13

1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................ 13

1.2 DEFINIÇÃO DAS HIPÓTESES ...................................................................................... 14

1.2.1 Hipótese principal .................................................................................................. 14

1.2.2 Hipóteses secundárias .......................................................................................... 14

1.3 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA ................................................................... 15

1.4 DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS ...................................................................................... 16

1.4.1 Objetivo geral ........................................................................................................... 16

1.4.2 Objetivos específicos ............................................................................................... 16

1.5 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA ............................................. 17

2 A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL .................................................................. 19

2.1 A GÊNESE DA NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL ................................................. 19

2.2 O CONCEITO DE INSTITUIÇÕES SEGUNDO DOUGLASS NORTH ....................... 22

2.3 INSTITUIÇÕES INCLUSIVAS E EXTRATIVISTAS E A VISÃO DE ACEMOGLU .... 27

2.4 REVISÃO DOS ESTUDOS EMPÍRICOS ....................................................................... 33

3 A ESCRAVIDÃO ENQUANTO INSTITUIÇÃO EXTRATIVISTA .............................. 37

3.1 O TRÁFICO DE ESCRAVOS ENQUANTO ATIVIDADE ECONÔMICA ..................... 37

3.2 A ESCRAVIDÃO NO BRASIL ......................................................................................... 42

3.2.1 A Escravidão na Economia Açucareira ................................................................ 46

3.2.2 A Economia da extração de ouro ......................................................................... 50

3.2.3 A Economia Cafeeira ............................................................................................. 53

3.3 ABOLIÇÃO ........................................................................................................................ 61


4 ESTUDO DA ESCRAVIDÃO COM O VIÉS DA NOVA ECONOMIA
INSTITUCIONAL ............................................................................................................... 65

4.1 MODELO DE DADOS EM PAINEL ................................................................................ 65

4.1.1 Modelo de regressão de efeitos fixos (MEF) ....................................................... 65

4.1.2 Modelo de Efeitos Aleatórios (MEA) ..................................................................... 66

4.1.3 Teste de Haussman ............................................................................................... 67

4.2 ANÁLISE CLIOMÉTRICA DOS DADOS DE IMPORTAÇÃO DE ESCRAVOS.......... 67

4.3 RESPOSTA ÀS HIPÓTESES ......................................................................................... 76

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 77

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 79
13

1 INTRODUÇÃO

A origem da economia se dá pela investigação das causas da riqueza das


nações. Economistas como Solow (1956), Cass (1965) e Koopmans (1965)
identificaram como causa das diferenças de riquezas entre países distintos as
diferenças nos padrões nos fatores de acumulação de riqueza e também às taxas de
poupança que costumam diferir conforme as diferentes culturas.
O presente trabalho visa utilizar a óptica da Nova Economia Institucional,
também conhecida como escola Neoinstitucionalista a fim de justificar o
desenvolvimento e o crescimento da economia brasileira, com ênfase na escravidão.
O ambiente institucional não é importante apenas no crescimento econômico,
mas também no desenvolvimento. Tendo em vista o objetivo magno da economia em
maximizar o bem-estar tendo em vista a escassez de recursos, as instituições
contribuem para que o aumento da riqueza de uma localidade seja gozado por mais
pessoas, ao passo que o trabalho cativo se contrapõe a essa lógica, restringindo o
acesso de muitos a esse aumento de satisfação, tendo em vista que a escravidão
contrapunha os ideais de Locke (2010) que preconizavam direitos inalienáveis a vida
liberdade e propriedade.
Ao observar a sofisticação das instituições ao longo do tempo, verificou-se um
aumento no padrão de vida de uma localidade. Um exemplo disso é a Alemanha
Ocidental, que se reergueu após a Segunda Guerra Mundial sob a égide de Konrad
Adenauer e Ludwig Erhard.
Portanto, o presente trabalho visa analisar a escravidão brasileira sob a luz da
Nova Economia Institucional a fim de verificar as suas influências na atual conjuntura
econômica do país.

1.1 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA

Um dos questionamentos mais antigos feitos pelos economistas é sobre o


que define o sucesso e/ou fracasso de uma nação.
Os economistas pertencentes à escola da Nova Economia Institucional
advogavam que a diferença entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento estava
na formulação das instituições presentes na economia local. O Brasil detém um PIB
per capita de 7,5 mil dólares, pouco se comparado aos mais de 50 mil da Alemanha e
14

Israel ou os mais de 60 mil dos Estados Unidos da América, de acordo com o Banco
Mundial.
Esse espaço complexo é um campo fértil para o surgimento de ideais e pessoas
que possam iluminar um caminho para o futuro do Brasil. Diante do exposto o presente
projeto pretende responder às seguintes perguntas:

1 - Como escravidão afetou o desenvolvimento econômico?


2 - Como as instituições políticas afetam a economia brasileira?
3 - De que forma o ambiente institucional contribui para o desempenho da atividade
econômica?
4 - Qual a influência da colonização no desenvolvimento do Brasil?

1.2 DEFINIÇÃO DAS HIPÓTESES

1.2.1 Hipótese principal

HP : A escravidão gera consequências permanentes após sua abolição.

1.2.2 Hipóteses secundárias

H1 : Uma democracia consolidada, com a independência entre poderes, isonomia


tributária, e uma legislação hostil a oligopólios e monopólios contribui positivamente
para o desenvolvimento dos países.

H2: Instituições inclusivas levam a um ambiente propício ao desenvolvimento


econômico e social.

H3 : As nações são afetadas pela colonização que as acometeu. Sendo suas


instituições herdadas dos seus colonizadores.
15

1.3 JUSTIFICATIVA DA ESCOLHA DO TEMA

Na obra originária da economia, “An Inquiry into the Nature and Causes
of the Wealth of Nations”, Adam Smith (1776) advogou a tese de que a riqueza
das nações não era a riqueza de seus governantes, mas sim a riqueza de seu
povo. Anos mais tarde, Douglass North (1971) versou sobre a eficiência das
instituições, entendendo que fatores geram eficiência ou defasagem de
produção. Acemoglu e Robinson (2012) vislumbraram o que North já
preconizava, o que faz os governantes serem ricos em detrimento ao seu povo
são as instituições, no livro “Why Nations Fail”, dividiu as instituições entre
inclusivas e extrativistas, indicando que as inclusivas visavam o bem do povo,
enquanto as extrativistas servem apenas à poucas pessoas, em detrimento ao
público, sendo característica inerente de países menos desenvolvidos.
Diferentes nações foram estudadas por Acemoglu e Robinson (2012) e
foi concluído que países ricos enriqueceram por instituições e propícias para o
desenvolvimento. Um exemplo disso é o início da Revolução Industrial ocorrido
na Inglaterra no século XVIII. Ela só foi possível em decorrência da Revolução
Gloriosa ocorrida em 1688, o que tirou poderes da monarquia, instituindo o
parlamento, e trouxe leis propícias às patentes, gerando um cenário fértil para
a inovação. Niall Ferguson (2008) também destaca o papel positivo que o
sistema financeiro desenvolvido para a época provocou ao gerar o crédito que
viabiliza os novos negócios.
Exemplos negativos também estiveram presentes na investigação por
trás dos baixos indicadores de desenvolvimento das nações de Robinson e
Acemoglu. Eles citam o fato do presidente do Banco do Zimbábue
constantemente ser o vencedor da loteria realizada pelo banco, havendo
indícios de fraude, embora nada possa ser concluído em decorrência do
sistema jurídico não dar a devida atenção a essa possibilidade de crime.
Williams (1944) advogou pela ideia da nocividade da escravidão a um
sistema econômico, tendo em vista além da contraposição a qualquer ideário
iluminista de sociedade moderna, o escravo ainda seria um ser que não
consumiria os bens e serviços oferecidos por uma economia, logo sendo um
empecilho ao funcionamento da ordem econômica.
Diante disso, o presente trabalho se justifica por analisar a escravidão
brasileira sob a ótica da Nova Economia Institucional, investigando os
16

caminhos que o Brasil deve tomar visando o desenvolvimento econômico.

1.4 DEFINIÇÃO DOS OBJETIVOS

1.4.1 Objetivo geral

Analisar o desenvolvimento da economia brasileira desde sua


independência sob a ótica neo institucionalista com ênfase na atividade
escravocrata a fim de comparar o potencial brasileiro com seus pares ao redor
do globo.

1.4.2 Objetivos específicos

1 - Investigar a forma como as instituições políticas afetam a economia


brasileira;
2 - Avaliar a maneira que o ambiente institucional contribui para a atividade
econômica;
3 - Explorar se as instituições brasileiras foram benéficas para o
desenvolvimento;
4 - Analisar a influência da colonização no desenvolvimento do Brasil;
5 - Estudar o processo de desenvolvimento das instituições de um
país;
6 - Esmiuçar detalhes sobre a escravidão no Brasil e como ela afetou
sua economia ao decorrer da história.
17

1.5 METODOLOGIA E PROCEDIMENTOS DE PESQUISA

Lakatos e Marconi (2022, p.93) determinam que não há ciência sem a presença
de métodos científicos. Métodos esses, que são definidos como o conjunto de
processos que levam à busca da verdade. (Santos e Filho, 2012, p. 81)
Alicerçado nisso, o presente trabalho visa uma investigação teórico-quantitativa
a fim de entender os pressupostos que nortearam a economia brasileira. O capítulo
dois usa o método teórico descritivo para apresentar as teorias que servirão de base
para o desenvolvimento do projeto, com o intuito de entender os métodos de análise
das instituições. Será investigado e devidamente descrito a maneira como os teóricos
neoinstituicionalistas desenvolveram suas teorias e postulados. De acordo com
Tumelero (2018): “O conceito de pesquisa descritiva pode ser definido como aquela
que descreve uma realidade.”
O capítulo 3 contará com uma análise histórica, estatística e social do
desenvolvimento econômico, político e institucional do Brasil colônia. Ressaltando os
dados presentes nos documentos e estudos históricos que compõem a historiografia
brasileira. Lakatos (1981, p. 32) definiu o método histórico como a análise das
instituições, costumes e modos de vida atuais requer uma investigação das suas
origens históricas, uma vez que essas formas sociais evoluíram ao longo do tempo,
moldadas por contextos culturais específicos de cada período. O método histórico
envolve a pesquisa de eventos, processos e instituições do passado para
compreender como influenciaram a sociedade contemporânea, uma vez que as
instituições adquiriram sua forma atual por meio de mudanças ao longo do tempo.
Portanto, para entender o papel que desempenham atualmente, é essencial investigar
sua formação e evolução ao longo da história.
O capítulo 4 será composto pelo método estatístico, sendo baseado numa
análise cliométrica1 dos fatos, tendo como base a história a fim de entender o contexto
no qual os dados e suas análises estão inseridos.
Portanto, esse trabalho se baseará em documentos e estudos históricos e
sociológicos, sendo aplicados a estes, metodologias estatísticas, econométricas e
cliométricas a fim de melhor compreensão do desenvolvimento institucional brasileiro

1
Cliometria consiste na análise estatística de fenômenos históricos. Também chamada de Nova
História Econômica,é amplamente difundida pela Nova Economia Institucional. (NOGUEIROL, 2020,
n.p.)
18

e suas consequências.
19

2 A NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

O presente capítulo trata sobre as origens da análise econômica por meio das
instituições e suas diferentes correntes por meio da história. Também investigar-se-á
as diferentes ideias por trás do conceito de instituição e as distintas interpretações que
estas possibilitam. Por fim, será estudada a literatura contemporânea sobre o assunto,
a qual pode ser relacionada a efeitos políticos e sociais dentro do cotidiano.

2.1 A GÊNESE DA NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

O conceito de instituição aplicado à economia surgiu com Thorstein Veblen.


Veblen (1857-1929) foi fruto do período de bonança cultural que se iniciou na Europa
e se alastrou por todo o mundo entre o fim da Guerra Franco - Prussiana (1871) e o
início da Primeira Guerra Mundial (1914). Veblen era um inconformado com a ordem
econômica vigente no período, por isso, criticou os postulados da economia vigente
da época. (CAVALIERI, 2013 )
Veblen distinguiu duas categorias fundamentais responsáveis pela economia:
os instintos e as instituições. Para ele, o homem seria dotado de um “instinto do
trabalho eficaz”, no qual definia como o homem em busca de trabalhos que visassem
a minimização dos esforços que não fossem contribuir de forma útil para a
sobrevivência da espécie. (CAVALIERI, 2013)
Portanto, os seres humanos projetam meios para o cumprimento de seus
próprios fins impostos pelas inclinações instintivas. A definição de instituição surge
desta construção de meios. "As finalidades da vida, então, os propósitos a serem
realizados, são designados pelas propensões instintivas dos homens; mas os
caminhos e os meios para atingir o que as proclividades instintivas fazem valer a
pena são um assunto da inteligência".(VEBLEN, 1994)
Outrossim, as instituições surgem da natureza que algumas ações ou vetores
acabam tendo durante a vida. Instituições são modos de agir ou de pensar que
nascem da necessidade humana de perseguir algum determinado objetivo, e vem a
se tornar uma dinâmica própria, isto é: um fim em si mesmo.
Posteriormente, a escola da Nova Economia Institucional surgiu com Ronald
Coase (1910 – 2013) e seus estudos por trás dos custos de transação, natureza da
firma e as externalidades no artigo “The firm, the market and the law” (1937). Coase
20

defendia que as instituições devem reduzir os custos de administrar o risco contratual


envolvido nas transações, além de advogar pela ideia de direitos de que propriedade
bem consolidados eram propícios ao aumento dos investimentos privados, o que
colabora para o crescimento econômico.
Isso é exemplificado no teorema de Coase através do caso judicial Sturges x
Bridgman, em que um fabricante de doces barulhento é vizinho de um médico
silencioso, que tem seu trabalho importunado por aquele, tal que ambos recorreram
à justiça para decidir qual dos dois poderia permanecer no local que já habitava.
Coase defendeu que independente do juiz julgar se o doceiro deveria diminuir a
poluição sonora que gerava ou se o médico deveria se adaptar a ela, ambos
poderiam atingir um acordo mutuamente benéfico tal que a eficiência alocativa fosse
máxima. (COASE, 1960)
Por exemplo: tal que um se mude e o outro compense-o financeiramente de
modo que a alocação de recursos seja equivalente à produção exercida pela parte
que se mudou, caso ficasse no local, ou que uma parte compense a outra
financeiramente pelas adequações necessárias tal que ambas permaneçam no local,
de modo que o benefício mútuo seja máximo. Todavia, Coase argumenta que os
custos de transação envolvidos na barganha são um empecilho a essa. Por exemplo,
o fabricante pode ter que lidar com numerosos vizinhos e casos judiciais, e com
alguns que se aproveitem deste cenário para exigir compensação mais elevada, isso
traz à tona o aspecto vantajoso da barganha.
Coase (1960) foi o progenitor da escola que é conhecida como Nova
Economia Institucional com o já mencionado artigo “The firm, the market and the law”,
neste, ele discorre sobre a existência de firmas e sobre as externalidades. A escola
neoinstitucionalista também inovou ao advogar pela ideia de cooperação entre os
indivíduos. Quando defendeu essa ideia, ele contrapôs os economistas que
defendiam a ideia de competição. Dentro do campo de estudo da Nova Economia
Institucional, há três áreas de estudo: desenvolvimento, organizações e finanças.
Quanto maior fosse a escassez do bem, maior seria a demanda das pessoas,
de acordo com a Teoria da Utilidade Marginal, e por conseguinte, também cresceria
a necessidade de estabelecer os direitos formal de propriedade, sendo uma outra
forma de relacionar os custos de transação com o direito da propriedade. No
princípio, com a colonização de uma região inicialmente deserta fica nítido a
prevalência de instituições informais de respeito à propriedade privada baseadas no
21

bom senso e na política da boa vizinhança.


No entanto, com o crescimento deste povoado, fica evidente o aumento dos
custos de transação e a insuficiência das instituições informais para poder determinar
o bem estar geral dos indivíduos da localidade. O respeito à propriedade passa a
exigir a existência de instituições com maior clareza e rigor formal, daí o surgimento
do ordenamento legal.
O exemplo pode comprovar a fala de Fiani (2003, p. 139): “A divisão crescente
do trabalho nas economias modernas exige o desenvolvimento de uma estrutura
institucional que dê conta do aumento progressivo da complexidade nas interações
entre os agentes econômicos”. O entendimento da incerteza como fonte da existência
dos custos de transação é fundamental para o entendimento das instituições, que
são a alternativa para a incerteza, visto que reduzem os custos de transação. (GALA,
2003).
Associado à ideia de externalidade com o princípio também de analisar as
interações entre os diferentes agentes econômicos, a teoria de Coase gerou
dissidentes e influenciou autores e sucessores em áreas que transcendem a
economia, como a ciência política e o direito.
Conforme Roldan (2018), outro campo do estudo da ação humana que
converge com a Nova Economia Institucional é Teoria da Ação Coletiva de Elinor
Ostrom 2.
A Teoria da Ação Coletiva gira em torno do estudo dos bens comuns, e acaba
por discutir as variáveis situacionais em torno da dinâmica das instituições dentro de
uma sociedade. A perspectiva dinamista da Nova Economia Institucional que
confronta a ideia de economia neoclássica como estática é presente na obra de
Ostrom. (ROLDAN, 2018)
Forsyth e Johnson (2014) definem como mais significativo legado de Elinor
Ostrom o esforço em compreender a cooperação e as instituições através do
individualismo metodológico, isto é, uma compreensão da visão dos agentes
econômicos sobre si mesmos. A autora trouxe inúmeros avanços na análise
sobretudo da tragédia dos comuns, a qual consiste no abuso de bens públicos por
parte dos entes privados, sob a regência da velha ideia de que um bem comum não

2
.Ostrom (1990) foca nas instituições e a ação coletiva que acometem os bens comuns, questionando a eficácia
do governo e dos agentes privados na condução dos indivíduos ao uso sustentável, eficiente e duradouro dos
recursos naturais. A autora também evidencia a existência de instituições alheias ao domínio estatal e privado que
podem contribuir com o objetivo, em um processo de autorregulação.
22

tem dono. Tal situação se assemelha com o campo de estudo da Teoria dos Jogos,
tendo em vista a existência de um jogo cooperativo no qual os agentes não cooperam
e geram consequências negativas a todos.

2.2 O CONCEITO DE INSTITUIÇÕES SEGUNDO DOUGLASS NORTH

Outro autor que teve influência na teoria econômica foi Douglass North (1920
– 2015) . North trouxe os métodos estatísticos e matemáticos à análise histórica, o
que fez com que fosse laureado com o Prêmio de Ciências Econômicas em
homenagem a Alfred Nobel em 1993.
Para North (1990), as instituições são as regras do jogo que ditam a forma
como vive uma sociedade, são as restrições que moldam e caracterizam a forma como
os indivíduos interagem uns com os outros. O ordenamento institucional molda a
forma como as sociedades rumam ao longo da história, sendo um fator chave para o
entendimento da mudança histórica.
O papel central dado às instituições foi evocado antes por North (1973, p. 1):
“os fatores que listamos (inovação, economias de escala, educação, acumulação de
capital, etc.) não são causas do crescimento; eles são o crescimento”. Determinou as
instituições como fator determinante não apenas na economia, mas também em toda
a sociedade.
North (1971) utiliza - se da queda do Império Romano para exemplificar o
conceito. O antigo Império ruiu nas condições caóticas do século V d.c.. Tal período
foi caracterizado pela fome e pela alta taxa de escravizados no território romano, os
quais eram oriundos das antigas conquistas do império, cuja característica sempre
fora o belicismo e as conquistas militares. Após a tomada de Roma pelos germânicos
em 476 d.c., a Europa Ocidental se tornaria um território quase anárquico, havendo
uma transformação e desenvolvimento graduais, como confere-se na situação
verificada no fim da Idade Média em 1453. A evolução mencionada é atribuída às
heranças deixadas pelas civilizações greco - romanas que resistiram ao teste do
tempo, e que moldaram os arranjos institucionais surgidos na alta idade média. Ainda,
o direito romano deu as bases para os direitos de propriedade na Europa. O fato daria
o pontapé inicial ao que viria a se chamar capitalismo mercantil anos mais tarde.
North também defendeu a ideia de que a racionalidade era limitada, o que iria
vir de desencontro com o conceito do homo economicus que fora sintetizado pela
23

teoria clássica. Portanto os indivíduos visam maximizar suas oportunidades tendo em


vista as escolhas que lhes são disponibilizadas, no entanto limitados pelo seu
processamento de informações incompleto que os impede de verificar as melhores
oportunidades oferecidas. (AZEVEDO, 2015, p. 63)
North (2005, p. 4-5) indica a incerteza como instituição humana. Para ele, a
força que impulsiona o esforço humano como fonte de intencionalidade vem da
consciência, e é o esforço onipresente das pessoas a fim de inteligibilizar o ambiente
no qual vivem a fim de reduzir as incertezas. No entanto, os próprios esforços
humanos resultam em alterações no ambiente e consequentemente novos desafios
na sua compreensão. Apontou - se portanto a necessidade por parte da ciência
econômica em explorar os esforços onipresentes dos seres humanos em um mundo
sem dinamismo. A questão dos direitos de propriedade já foram investigadas por
North e Tomas (1973) como fator dependente do desenvolvimento institucional, e por
conseguinte como causa por trás de prosperidade e riqueza.
O crescimento não ocorre sem uma organização econômica eficiente. Devem
haver incentivos que induzam ao empreendedorismo e também é necessária a
existência de taxas privadas de retorno à paridade mais próxima. Os benefícios ou
custos privados são os ganhos ou perdas para um participante individual em qualquer
transação econômica que afetam a sociedade como um todo. A discrepância entre
benesses ou custos privados e sociais pode significar uma das partes envolvidas na
transação sem o devido consentimento. Essa diferença geralmente decorre da má
definição dos direitos de propriedade ou sua má aplicação. (NORTH, THOMAS, 1973,
p. 2-3)
Outro conceito da teoria Northiana é a ideia de matriz institucional, que pode
ser definida como a estrutura por trás do conjunto de instituições presentes em
determinada sociedade. Essa estrutura sofre com mudanças ao decorrer do tempo,
uma vez que a sociedade em geral está em constante alteração. Conforme Gala
(2003, p. 102): “Em grande parte, a história das sociedades se resume, para North,
na evolução de suas matrizes institucionais e suas decorrentes consequências
econômicas, políticas e sociais”.
Ao analisar a evolução das riquezas em diferentes sociedades ao longo do
tempo, é possível verificar um crescimento significativo durante o século XIX. Antes
desse período, o crescimento das nações sempre foi próximo a zero, praticamente
nulo. Isso ocorreu por causa das diminuição de renda que sucederam cada fase de
24

bonança econômica. As sociedades modernas fizeram a transição para o acesso


aberto e viriam a se tornar mais ricas e prósperas que qualquer outra nação em toda
a história da humanidade, o que reduziria os episódios de crescimento negativo. Essa
análise histórica dos dados estatísticos não foi possível fazer sempre, é uma dádiva
recente provocada pela maior acessibilidade aos dados. (NORTH, WALLIS e
WEINGAST, 2009, p. 3-4)
A análise do desenvolvimento econômico ao longo dos anos foi
acompanhada de estudos a respeito do desenvolvimento social e político nesse
período, sendo associado pelos autores. Para North, a grande razão desse
desenvolvimento incomum ocorrido nos últimos dois séculos é institucional. (North,
Wallis e Weingast, 2009, p. 2-3). Até o século XVIII, as sociedades eram
caracterizadas por sistemas políticos nos quais os direitos e liberdades civis eram
restritos apenas a uma minoria.
A grande alteração que caracterizou esse período nos regimes e instituições
políticas vigentes pode ser apontada como causa que diferiria sociedades
desenvolvidas e as subdesenvolvidas. Os autores ainda desenvolveriam a ideia de
ordens de acesso limitado e Estado natural, a qual dividiria - se em três categorias:
natural, básico e maduro. Estados Naturais Frágeis (North, Wallis e Weingast, 2009,
p. 21), isto é, aquele em que o Estado só tem capacidade de se defender de forma
precária, o que daria a fluidez na coalizão dominante e sendo facilmente dissolvidos.
Um estado natural costuma administrar o problema da violência o que geraria
um estado dominante de coalizão, o qual limita o acesso aos fatores de produção. A
criação de rendas através da limitação do acesso fornece subsídios para que a
coalizão permaneça unida, o que daria a permissão a grupos de elite que possam
assumir compromissos críveis uns com os outros a fim de apoiar o sistema vigente,
bem como a realização de suas funções e a abstenção da violência. Os grupos de
elite são capazes de usar a aplicação de outros dentro de suas coalizões para a
estruturação de contratos organizacionais. O limite ao acesso a formas
organizacionais é fundamental para o estado natural, pois ele não apenas cria rendas
através de privilégios, como também os aumenta, o que tornaria as elites mais
produtivas através de suas respectivas organizações. (NORTH, WALLIS e
WEINGAST, 2009, p.30)
Nesse estado, as estruturas são caracterizadas pela simplicidade, isto é, a
ausência de regras claras e bem estabelecidas, no qual o poder muda
25

constantemente. Mesmo o reconhecimento da necessidade de ter instituições


melhores, a incerteza existente na sociedade impossibilita essa ação. Nesse tipo de
sociedade, as leis comumente fazem distinções entre pessoas de distintos grupos
sociais, o que negligenciava conceitos para as sociedades do mundo contemporâneo,
como o império da lei e o princípio da igualdade. Como exemplo de sociedade inscrita
neste Estado, os autores apontam o Haiti, Iraque, o Afeganistão, a Somália, entre
outros. (NORTH, WALLIS e WEINGAST, 2009)
Os Estados Naturais Básicos estão em um conceito mais estruturado que os
frágeis, tendo à disposição mecanismos para auxiliar as organizações além do próprio
Estado. O Estado acaba por se estruturar de maneira mais estável e sólida, tornando-
se capaz de estabelecer acordos mais duráveis dentro da sociedade. As instituições
que compõem esse tipo de sociedade são leis de direito público que visam ordenar o
andamento da sociedade. Nesse tipo de organização social, a violência ainda é um
risco presente, mas tende a ser controlada em decorrência da existência de
instituições mais sólidas que as presentes no estado frágil.
A gênese da República Romana, datada de 509 a.C., ilustra esses três
aspectos das instituições públicas. Desde a fundação em 753 a.C., Roma havia sido
governada apenas por reis. No entanto, em 535 a.C., Sexto Tarquínio, filho do rei
Lúcio, estuprou uma mulher de nome Lucretia. Seu marido, Lúcio Tarquínio, e Lucius
Brutus juraram vingança pelo abuso. Como vingança, expulsaram o rei de Roma. No
lugar de estabelecer um sucessor ao trono, ambos os homens foram eleitos pelo
Senado ao recém-criado cargo de cônsul, e a partir de então, dois novos cônsules
seriam nomeados pelo senado. Os cônsules que os sucederam possuíam poder
amplo, no entanto limitado, ainda havendo a exigência de renunciar ao fim de cada
ano. (NORTH, WALLIS e WEINGAST, 2009)
A República conferia à Roma a capacidade de pôr em prática um controle
executivo eficaz de suas forças armadas, pois havia a vantagem organizacional na
distribuição de tarefas, gerando assim as instituições necessárias para organizar o
governo romano em sua devida função. No entanto, a derrocada da República
Romana começou quando os cônsules acabaram por concentrar poder em demasia,
e o senado não era mais capaz de controlar seu poder, gerando a vitaliciedade do
cargo de cônsul. (NORTH, WALLIS e WEINGAST, 2009,)
O terceiro tipo de Estado Natural discriminado pelos autores é o Estado Natural
Maduro, o qual é caracterizado por instituições duráveis e estáveis. Elas devem
26

emergir simultaneamente a fim de desenvolver as organizações públicas e privadas.


(NORTH, WALLIS e WEINGAST, 2009)
Essa análise histórica da economia romana, com base no status quo político e
sociológico que caracteriza os estudos de North também preconiza a respeito da
longevidade do crescimento econômico, visto que este será pouco sustentável a longo
prazo na ausência de um ambiente institucional propício.
A geração de riqueza que fomentou o crescimento econômico de Roma seria
uma grande fonte de instabilidade no longo prazo, com o crescimento de Roma. Após
a tirania se instaurar em Roma, houve duas tentativas de tentar coibir o abuso de
poder dos cônsules. A primeira delas com Sulla em 88 a.C., já a segunda em 49 a.C.
com Júlio César. Após um século de guerra civil, a república acabou, dando início ao
Império Romano. Muitas instituições herdadas do período anterior foram mantidas,
durante o período do império, uma série de alterações de seu ambiente institucional
ocorreu, característica essa determinante nos estados naturais básicos e maduros.
(NORTH, WALLIS e WEINGAST, 2009)
Outrossim, North tem como contribuição à teoria econômica o aprofundamento
das ideias de Ronald Coase, visto que ele associou a situação política com o
entendimento e mensuração dos custos de transação, visto que a situação política
reduz ao custos de transação, visto que o ambiente institucional é capaz de conferir
estabilidade e previsibilidade ao cenário econômico, vindo a atrair mais investimentos
e por conseguinte a geração de empregos.
Bates (1999) também teve um papel determinante no estudo das instituições.
Dedicou-se primordialmente ao estudo da economia africana, investigando os motivos
do atraso econômico em relação aos outros continentes mundo afora. Em um artigo
escrito em 1999, exemplificou o papel das instituições que contrapunham a Colômbia
com a África.
A estrutura industrial do setor de café na Colômbia assemelha-se à de muitas
nações africanas, caracterizada pela presença de numerosos pequenos agricultores.
No entanto, a partir da metade da década de 1930, têm prevalecido no setor cafeeiro
políticas que seriam motivo de admiração para cafeicultores em qualquer parte. O
governo colombiano tem adotado políticas econômicas altamente favoráveis aos
exportadores de café, incluindo uma taxa de câmbio próxima à do mercado, baixos
índices de inflação e impostos que, quando aplicados, são direcionados para fundos
controlados pela própria indústria. Ao definir sua política de exportação, o governo
27

demonstra um claro viés pró-indústria cafeeira. Essas políticas são caracterizadas por
sua estabilidade e previsibilidade, sugerindo um comprometimento institucional com
o setor cafeeiro (BATES, 1999).
Grafstein (1992 apud Bates) indica a tendência das instituições a se formarem
como um processo caracterizado por mútuo acordo entre as partes envolvidas. A ideia
de equilíbrio evocada pelo autor indica que a situação inicial a partir da qual uma
instituição é criada pode refletir um equilíbrio de Nash.
Williamson (1995) advogou pela ideia de que as transações influem na
administração das firmas, necessitando de uma conciliação entre sua estrutura
organizacional e aquela evidente no mercado na qual ela está inserida.
Portanto, confere-se a influência das ideias de North na ciência econômica
pelos outros estudiosos que também foram influenciados por ele. As análises com
associação entre política, história e economia ganharam notoriedade com Douglass
North, e estão cada vez mais presentes na literatura macroeconômica, como visto no
subitem 2.4.

2.3 INSTITUIÇÕES INCLUSIVAS E EXTRATIVISTAS E A VISÃO DE


ACEMOGLU

Acemoglu deu sequência nas análises de North, tendo em vista suas associações
entre a economia, ciência política e história, e justificou a performance econômica dos
países por meio das instituições, assim como parte de seus antecessores que fizeram
parte dessa escola.
28

Figura 1 - Logaritmo do PIB per capita correlacionado com o Risco médio de


expropriação

Fonte: Acemoglu et.al (2001)

Em Acemogu et.al (2001), foi examinado pela figura 1 o desenvolvimento dos


países contrastando o PIB per capita com o risco médio de expropriação, esta que foi
considerada uma proxy para o desenvolvimento quantitativo das instituições, verificou
se uma correlação negativa entre o risco de expropriação e o desenvolvimento,
confirmando o que Ronald Coase havia defendido.
O uso de variáveis proxy é recorrente por parte dos estudos feitos pelos
economistas neoinstitucionalistas. O capítulo 4 também utilizará dessa metodologia,
visto que em alguns casos, torna-se inviável a quantificação das instituições.
Acemoglu e Robinson (2006) também estudaram as raízes econômicas sociais e
políticas por trás das ditaduras e democracias. Defenderam a ideia da existência de
quatro caminhos possíveis para a democracia. O primeiro deles seria um regime não
ditatorial que se torna uma democracia paulatinamente, que embora lenta, é
irreversível, se consolidando com a maior participação popular, bem como maior
liberdade aos seus cidadãos.
O segundo caminho consiste naquele em que a sociedade é capaz de ter a
29

democracia, no entanto, ela não ocorre de forma perene e duradoura, vindo a colapsar
no futuro, gerando um pêndulo entre democracia insustentável e ditadura. Na terceira
alternativa, um país não consegue se democratizar em decorrência da sociedade ser
relativamente igualitária e próspera, a despeito do regime. Isso gera uma acomodação
por parte da sociedade que não objetiva a implantação do regime democrático no
país. Já a quarta via é caracterizada pelo impedimento de implantar uma democracia
sólida, havendo todo o tipo de impedimento para a sua consolidação, pois uma
democracia sólida e consolidada poria em xeque o poder das elites oligárquicas que
comandam determinado sistema político.
Acemoglu e Robinson (2012) diferenciam os países desenvolvidos e
subdesenvolvidos através das instituições, criando o conceito de instituição
extrativista contrastando com a ideia de instituição inclusiva.
As instituições inclusivas são aquelas que são de acessibilidade comum a toda
a população, gerando benefícios à sociedade como um todo. Um exemplo seria a
educação universal, mercado de crédito acessível a todos. Instituições extrativistas, o
seu oposto, seria aquela em que apenas um grupo é beneficiado em detrimento do
bem estar geral da população. Comum em ditaduras, um exemplo para essa situação
é o presidente zimbabweano Robert Mugabe que ganhou o prêmio de 100 mil dólares
zimbabweanos (cerca de cinco vezes a renda per capita do país) na loteria local. O
mesmo presidente concedeu a si mesmo e a seu gabinete um aumento salarial de
200%. O mesmo Zimbabwe teria um fenômeno hiperinflacionário grande, o que levou
o país a adotar a nota de 100 trilhões de dólares zimbabweanos.
30

Figura 2 - Nota de 100 trilhões de dólares Zimbabweanos

Fonte : UOL

As nações fracassam hoje porque suas instituições econômicas extrativistas são


incapazes de engendrar os incentivos necessários para que as pessoas poupem, invistam
e inovem, e suas contrapartes políticas lhes dão suporte à medida que consolidam o poder
dos beneficiários do extrativismo. As instituições econômicas e políticas extrativistas,
ainda que seus pormenores variem sob diferentes circunstâncias, encontram-se sempre
na origem do fracasso. (ACEMOGLU E ROBINSON, 2012, p. 360)

Os estudos desses autores advogam a ideia de que a democracia e a ampla


participação do povo nas decisões políticas, como preconiza o conceito de estado
democrático de direito são necessários para uma evolução sustentável e longeva dos
padrões de vida das suas respectivas populações, em suma, os autores
desenvolveram a teoria de North sobre os papéis das instituições.
Acemoglu e Robinson (2019) contrastam o que chamaram de “Despotic Leviathan”
e “Absent Leviathan”, advogando a ideia que o caminho ideal era um equilíbrio entre
a força repressiva do Estado e a sua ausência completa, sendo esse o “Shackled
Leviathan”, ou seja, um Estado forte com uma série de freios e contrapesos que
limitariam suas ações. Em referência a Thomas Hobbes (1651), argumentam que um
31

governo demasiadamente ausente gera um poder das milícias e outros agentes


paralelos que corroem a liberdade dos seus cidadãos, ao passo que um governo
autoritário e despótico tornar-se-á um fim em si mesmo, extraindo recursos da
população a seu bel prazer.
O equilíbrio entre os dois que haveria de ditar as políticas conduzidas pelos
governantes se daria pelo que os autores chamaram de “Shackled Leviathan”,
indicando que o leviatã estaria forte e presente, no entanto algemado e suas ações
seriam devidamente limitadas pelos freios e contrapesos institucionais.

Figura 3 - Equilíbrio entre poder do governo e da sociedade

Fonte: Elaboração própria com base em Acemoglu e Robinson (2019)

Portanto, confere-se a posição de equilíbrio e controle na ação estatal por parte


dos autores dessa escola, que também ressalta a importância do Estado na garantia
32

de direitos básicos à população, no entanto, com os devidos controles a fim de evitar


a concentração de poderes e por conseguinte a existência de instituições extrativistas.

Acemoglu (2022) defende que a democracia é a forma mais adequada de se


obter a prosperidade econômica:

Certamente, mas a democracia precisa estar inserida em um contexto


institucional que defenda o Estado de Direito. Não é uma democracia
majoritária, na qual a maioria pode atropelar os direitos das minorias.
Precisa haver garantias de liberdade de expressão, direitos civis,
direitos de todos os tipos de minorias, gêneros, diferentes pontos de
vista.(GUABDALINI, 2022, n.p.)

Greenspan e Wooldridge (2018) apontam como argumento à supremacia


econômica dos Estados Unidos da América o ordenamento institucional herdado da
antiga metrópole. O protestantismo exigia a leitura da bíblia e a população da jovem
nação protestante tinha na alfabetização uma obrigação, portanto, o desenvolvimento
educacional da América foi algo que a caracterizou desde o princípio do país.
Outro fato que também pode ser apontado como matriz institucional americana
é o papel dos pais fundadores no nascimento do país. Inspirados no iluminismo e no
liberalismo político de John Locke, a constituição garantia a propriedade privada como
direito inalienável, instituição que segundo os autores da Nova Economia Institucional
seria fundamental para o desenvolvimento das nações.
A lei das falências também permitiria que as companhias fechassem e
abrissem rapidamente, gerando um país que seria a aplicação prática do que
Schumpeter (1883-1950) chamaria de destruição criativa. Ainda segundo os autores,
o ordenamento jurídico propício a patentes e inovações gerou um país no qual a
evolução tecnológica seria regra, benesse herdada de sua antiga metrópole, e que
futuramente tornaria os EUA em destino dos imigrantes que melhorariam de vida em
terreno americano.
Outro fator seria o desenvolvimento de um mercado financeiro sólido desde
sua gênese, que seria caracterizado pelo surgimento da Bolsa de Nova York ainda no
início do século XIX e dos inúmeros bancos que permearam a história do capitalismo
global, fatores apontados por Schumpeter (Ano) como necessários para a destruição
criativa.
33

A despeito dos anos de escravidão em solo americano, Greenspan e


Wooldridge apontam os ensinamentos da Nova Economia Institucional como
responsáveis pela soberania econômica da América sobre o mundo.
Portanto, percebe-se a convergência das ideias desses autores com seus
antecessores da escola, bem como o seu desenvolvimento. Após a análise dessas
obras, é notória a preferência destes por um regime democrático de ampla
participação popular, o que virá a denotar as chamadas instituições inclusivas.

2.4 REVISÃO DOS ESTUDOS EMPÍRICOS

A Nova Economia Institucional foi utilizada no intuito de analisar o agronegócio


por Mendes et. al (2009), que além de encontrarem diferenças significativas entre o
novo e o velho institucionalismo, enfatizaram o papel do Estado para estabelecer o
ordenamento institucional adequado para a prosperidade econômica a qual haveria
de reduzir os custos de transação.
Mendes et. al (2009) concluíram que a Nova Economia Institucional privilegia
o racionalismo, compreendendo o indivíduo como objeto da análise. O indivíduo,
sendo motivado por seus próprios interesses, necessita de instituições eficientes para
colocá-los em prática. Ou seja, a Nova Economia Institucional faz com que as
melhores decisões sejam tomadas, ou seja, aquela que não são influenciadas pelo
ambiente institucional. A análise do agronegócio sob a ótica neoinstitucionalista
permitiu concluir que embora não explique, a Nova Economia Institucional pode estar
presente nos mais diversos objetos de estudo.
Em uma revisão bibliográfica da literatura recente sobre os custos de
mensuração, Silveira et. al (2022), identificando complementariedade entre a
Economia dos Custos de Mensuração, Economia dos Custos de Transação e a Nova
Economia Institucional. Uma parcela significativa dos estudos indica essa associação
relacionada à possibilidade de não conseguir mensurar os custos em decorrência da
matriz institucional, também apontando a necessidade de mais estudos empíricos que
destaquem a Economia dos Custos de Mensuração e a Economia dos Custos de
Transação.
Postigo (2022) apontou o papel institucional do Banco Central, enfatizando o
papel de sua autonomia na possibilidade de incrementar o sistema de pagamentos
brasileiro. O grau de independência da autoridade monetária manteve - se estável
34

durante o vintênio 2002 - 2021. Mesmo após a aprovação da autonomia do Bacen


durante o governo Jair Bolsonaro (2019 - 2022), ainda não se verificou aumentos
significativos analisando o lado real da economia brasileira, ao contrário do status
legal, fazendo - se necessária uma série de outros arranjos institucionais formais e
informais, necessitando a efetividade das instituições para fazer valer o cumprimento
desse ordenamento institucional adicional.
Ainda de acordo com Postigo, (2022), a discrepância entre a meta de inflação
e a inflação realizada pode ser explicada pela pandemia de coronavírus que afetou o
funcionamento de mercados ao redor do globo durante sua vigência, e durante a qual
o modus operandi dos bancos centrais de todo o mundo foi o de juros baixos, muitas
vezes caracterizando uma situação de rendimento real negativo, tanto que a situação
de aumento de preços foi globalizada, o que permite concluir que esse não
cumprimento da meta pode ser atribuído a fatores além da matriz institucional.
É possível associar esse tipo de medida ao trabalho de North (1991), visto que
um sistema financeiro estável e líquido estimula a velocidade e o volume das
transações, além de incentivar a concorrência da economia, garantindo a estabilidade
dos preços, o que trará previsibilidade ao sistema.
Outro fator onde a Nova Economia Institucional se faz presente é a questão
referente à transparência pública. Em um mundo imperfeito, dotado de pessoas
corruptas e/ou corruptíveis que se aproveitam das oportunidades para auferir
vantagens ilegítimas, agentes de racionalidade limitada e informações assimétricas.
Nesse contexto, a escola da Nova Economia Institucional ganha espaço para
poder analisar os padrões de comportamento presentes na sociedade. Pedroso
(2022) analisou a transparência pública sob a luz do neoinstitucionalismo,
metrificando o tamanho da relação entre as instituições e suas consequências
relacionadas com o comportamento dos indivíduos. O campo da análise se compôs
do ambiente público e da transparência, diagnosticando a nocividade de um ambiente
público cujo status quo favorece à corrupção, minando a segurança jurídica da
sociedade e consequentemente sua prosperidade econômica.
Noroes (2023) estudou a Nova Economia Institucional aplicada às parcerias
público privadas. Dissertou sobre a insegurança jurídica com entrave devido ao
aumento dos custos de transação, percebendo significativa evolução desde o início
de parcerias para o desenvolvimento produtivo desde seu princípio.
Em se tratando das questões relacionadas ao cumprimento dos trâmites pelo
35

setor público, a solução se torna um tanto custosa, não havendo a mesma eficiência
da iniciativa privada em decorrência da intransponibilidade de custos. Em caso de
transações no setor privado, a resolução de intempéries cabe à justiça, no entanto,
em se tratando de setor público, o acionamento da justiça seria mais incerto e mais
arriscado, tendo em vista a contraparte ser estatal, gerando uma maior
intransponibilidade dos custos de transação entre setor público e privado,
aumentando - os por causa de sua intransponibilidade. (NORÓES, 2023, p. 76)
Ainda é possível identificar o sistema tributário como uma instituição a ditar os
rumos de uma economia, e também a moral tributária, assim como as características
sociodemográficas e da religiosidade na motivação intrínseca para se pagar impostos.
Ervedosa (2023) encontrou relação positiva entre a moral tributária e a confiança
vertical, satisfazendo a questão da administração tributária. Também se identificou
uma baixa confiança nas instituições, sobretudo nas instituições políticas, ainda
havendo diferenças estatisticamente significativas na idade, escolaridade e ocupação
profissional do teste empírico. O estudo conclui a influência da matriz institucional no
ordenamento tributário de uma sociedade.
Vasconcelos (2023) não identificou fatores comumente atribuídos à moral
tributária como a complexidade do sistema e a justiça fiscal, identificando também
elevados níveis de evasão fiscal. Ainda conclui que a grande motivação para o
pagamento de tributos consiste na obrigação, havendo desconfianças na forma como
é despendido tamanha arrecadação por parte do governo, sendo que aqueles que
associam a contribuição tributária a aspectos sociais de benefício em prol da
sociedade são uma minoria, portanto, o monopólio da força estatal se demonstra
imponente para a arrecadação tributária do Brasil . Medidas para a moral tributária do
Brasil consistiram em alterações institucionais como o combate à corrupção e a
melhor educação fiscal.
A presença de instituições inclusivas privilegiam a liberdade econômica, o que
virá a trazer o desenvolvimento de um país. Os testes empíricos feitos por Silva (2023)
chegaram a essa conclusão, indicando que garantias mínimas para empreender e
inovar serão postas em práticas, consequentemente o desenvolvimento econômico,
facilitando o processo de destruição criativa.
As instituições inclusivas são capazes de gerar os incentivos e os benefícios
necessários para a inovação e prosperidade, ao passo que as instituições extrativistas
desestimulam a melhora econômica e social. Isso ocorre pelo fato das instituições
36

inclusivas reduzirem os custos de transação, fornecendo maior previsibilidade ao


sistema econômico como um todo, em contrapartida, as instituições extrativistas
causam o efeito oposto, aumentando o nível dos custos de transação e incrementando
a insegurança jurídica.

Tabela 1 - Correlação entre IDH e Liberdade Econômica em cada item da


análise do Índice de Liberdade Econômica

Coeficiente de P-valor
Coerrelação
Índice de Liberdade Econômica 0,68 0
Tamanho do Governo -0,23 0,0036
Sistema Legal e Direitos de Propriedade 0,78 0
Estabilidade Monetária 0,53 0
Liberdade de Comércio Internacional 0,64 0
Regulação 0,59 0
Fonte: United States Department Program (2022) e Fraser Institute (2022) Elaboração: Silva (2023)

A tabela 1 demonstra que existe correlação positiva entre os métodos de


medição da liberdade econômica e o IDH, rejeitando a hipótese nula de que ela é
inexistente.
Portanto, os estudos empíricos de Silva (2023) podem contribuir para a
identificar pontos para a investigação da causa por trás do sucesso das nações. O
autor ainda apontou a influência que as instituições inclusivas têm para a garantia dos
direitos que propiciarão a liberdade econômica, pavimentando o caminho para o
desenvolvimento sustentável e longevo.
Portanto, fica evidente o quão polivalente a Nova Economia Institucional pode
ser . Utilizando - se do arcabouço histórico para justificar seus postulados, inclusive
desenvolvendo novos métodos de investigação de eventos passados, o que ficou
conhecido como Nova História Econômica, utilizando-se de dados estatísticos e
econométricos para diagnosticar e avaliar a situação econômica dos agentes.
Diante disso, nos capítulos subsequentes serão apresentados estudos que
visam analisar a escravidão brasileira e seus impactos na economia sob o viés da
Nova Economia Institucional, tendo em vista a ampla gama de assuntos que tal escola
consegue abordar.
37

3 A ESCRAVIDÃO ENQUANTO INSTITUIÇÃO EXTRATIVISTA

A escravidão é inerente a vários povos e em diferentes tempos da história


humana. Este capítulo irá expor a evolução do trabalho escravo no Brasil com o intuito
de possibilitar a compreensão do cenário que se desenvolveu a economia brasileira
sob as bases do que Galor (2023) chamou de mais extrativista das instituições - a
escravidão

3.1 O TRÁFICO DE ESCRAVOS ENQUANTO ATIVIDADE ECONÔMICA

A escravidão tem suas origens junto com os primórdios da humanidade, isto é,


a escravidão quase sempre coexistiu junto com a raça humana. A frase que sintetiza
esse sentimento, atribuída ao ex-presidente Abraham Lincoln, preconizava que os
homens escravizam uns aos outros desde que inventaram os deuses para perdoá-los.
O Código de Hamurabi, tida como a mais antiga codificação de leis da história da
humanidade versava sobre o trabalho cativo. (BOFF, 2020)
O desenvolvimento ou subdesenvolvimento das nações segundo a Nova
Economia Institucional tem papel fundamental das instituições, estas por sua vez, nos
países colonizados, são heranças de suas antigas metrópoles e colonizadores. Nunn
(2008) atribui o subdesenvolvimento que caracteriza países do continente africano ao
seu passado escravista, e poder-se-ia associar esse fato com o conceito de
instituições extrativistas evocado por Acemoglu e Robinson (2012), tendo em vista que
estas beneficiaram uma pequena gama de colonizadores às custas da população.
Nunn (2008) analisa os estudos entre a importação de escravos no passado e
sua influência na economia contemporânea. Com o intuito de responder à questão de
se parte do subdesenvolvimento atual do continente africano pode ser explanado pelo
comércio de escravos no passado, o autor utiliza-se de registros de embarque e
documentos históricos contendo locais de origem e etnias dos cativos trazidos ao
continente americano durante a vigência do regime escravocrata. As evidências
históricas e o uso de variáveis instrumentais permitiram a conferência do efeito
negativo da escravidão no desenvolvimento econômico.
38

Figura 4 - Modelo duplo log com a correlação entre a exportação de escravos


dos países africanos com a sua renda per capita

Fonte: Elaborado pelo autor com base em : NUNN (2008)

O coeficiente estimado para a variável Ln da renda per capita é -2.3243. Isso


significa que, o que mantém as outras variáveis constantes, um aumento de uma
unidade no logaritmo natural do número de escravos exportados está associado a um
decréscimo de 2.3243 unidades na variável dependente. O valor p associado à
estatística F é 7.518e-05, o que significa uma probabilidade baixa de obter uma
estatística F tão extrema quanto a observada. Isso sugere uma forte evidência contra
a hipótese nula, que é a de que as duas variáveis não estão correlacionadas. Utiliza -
se do coeficiente de correlação de Pearson, o que permite verificar um índice de -
0,52. Isto é, a quantidade de escravos exportada, influenciou negativamente em 52%
o PIB per capita dos países atualmente. Em suma o modelo representado na figura
três indica a existência de correlação negativa entre a exportação de escravos por
39

parte dos países africanos com a sua respectiva renda per capita atual.

Figura 5 - Correlação entre Escravos por habitante em 1860 e a renda per


capita em 2000

Fonte: Elaborado pelo autor com base em : NUNN (2007)

A regressão linear realizada apresenta um modelo com baixo ajuste aos dados.
O coeficiente estimado para a variável renda não é estatisticamente significativo, o
que mostra que essa variável não é um preditor significativo da proporção de escravos.
A proporção de escravos não varia substancialmente com o aumento da renda. O
modelo possui um R-quadrado múltiplo de apenas 4.18%, o que significa que apenas
uma pequena parte da variabilidade na proporção de escravos é explicada pelo
40

modelo. O R-quadrado ajustado, que considera o número de variáveis independentes,


é ainda menor, o que indica que a inclusão da variável renda no modelo não melhora
sua capacidade de explicar a variação nos dados. Portanto, com base nos resultados
da regressão, não há evidências suficientes para afirmar que a renda esteja
relacionada de forma significativa com a proporção de escravos. Portanto, com base
nos dois modelos apresentados, a escravidão gerou efeitos maiores a longo prazo na
renda dos países africanos que tiveram sua população. No entanto, o gráfico
possibilita notar diferenças consideráveis na renda per capita a depender da metrópole
que colonizou cada país do novo continente.
41

Figura 6 - Gráfico com a correlação entre Índice de desigualdade com a


população escravizada em 1860

Fonte: Elaborado pelo autor com base em : NUNN (2007)

Ao analisar a conexão entre a historicidade da exploração de mão de obra


escrava e a situação atual da economia, há evidências sólidas que sustentam a
suposição amplamente aceita de que a prática da escravidão teve impactos adversos
no progresso econômico. (NUNN, 2007)
Portanto, é notória a influência negativa que tanto o tráfico negreiro quanto a
mão de obra cativa provocaram nos locais em que se fizeram presentes, o que gerou
consequências seculares tanto aos países explorados quanto aos países que
importaram os escravos capturados.
42

3.2 A ESCRAVIDÃO NO BRASIL

A natureza agrária da economia do Brasil durante as fases de colônia (1500 –


1822) e império (1822 – 1889) são diretamente vinculados. No capítulo 4, quando há
maior exploração dos dados estatísticos a respeito da importação de escravos
evidencia que o Brasil foi o país que mais importou escravos no planeta, isso pode ser
também atribuído à tardia abolição quando comparado a outros países.
O princípio da jornada escravocrata remonta à Idade Média e ao Infante D.
Henrique, que durante o período das cruzadas obteve tratados de exclusividade na
navegação do mar africano, o que gerou o controle do ambiente institucional daquelas
localidades. A Ordem dos Cavaleiros Templários, juntamente da Ordem de Cristo
foram pilares no ordenamento institucional português do fim da Idade Média,
juntamente da possibilidade de dominar algumas regiões costeiras da África e da
evolução da tecnologia naval exercida durante o período das cruzadas. Esse domínio
do território africano deu o conhecimento do mercado escravista do continente,
resultado das operações de guerra cujo objetivo era a captura dos escravos pagãos
durante o período, os quais serviriam de trabalhadores cativos para a Europa.
(CALDEIRA, 2017)
Portanto, percebe-se a existência de trabalho escravo no Brasil, assim como a
dependência desse. Também é notória a influência da Ordem dos Cavaleiros
Termplários na formação das instituições do então estado Português, o que pode
conferir o caráter extrativista que essa instituição teve em seu princípio.
A escravidão foi considerada uma condição essencial para a sobrevivência dos
colonos europeus na nova terra desde o início da colonização. Sem escravos, os
colonos não poderiam se sustentar economicamente na terra. A falta de trabalho
escravo exigiria que os colonos se organizassem em comunidades voltadas para a
produção de subsistência, o que teria exigido uma imigração organizada em bases
diferentes. A captura e o comércio de indígenas tornaram-se a primeira atividade
econômica estável dos grupos de população não envolvidos na indústria açucareira.
A mão-de-obra indígena, considerada de segunda classe, permitiu a subsistência dos
núcleos de população localizados em áreas que não se tornaram produtores de
açúcar. (FURTADO, 2005)
43

Figura 7 - Número de Navios negreiros que atracaram no Brasil durante a


vigência do regime escravista

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do site: slavevoyages.org

A figura 7 evidencia o número de navios negreiros que trouxeram os negros


capturados no continente africano para trabalhar em terras brasileiras ao longo da
vigência do comércio de escravos enquanto atividade econômica. O gráfico evidencia
o apogeu do tráfico rumando ao Brasil após 1807, quando a Inglaterra aboliu a
escravidão. Após abolir a escravidão, houve pressão por parte da coroa britânica aos
demais países em seguir seus passos pois estava em busca da ampliação de
influência econômica e política, tanto que essa pressão gerou alterações no
ordenamento legal e político brasileiro ao longo dos dois reinados que caracterizaram
a história brasileira do século XIX. (WILLIAMS, 1944)
A colonização do século XVI estava ligada à atividade açucareira. Onde a
44

produção de açúcar falhou, como no caso de São Vicente, os colonos conseguiram


sobreviver devido à disponibilidade relativa de mão-de-obra indígena. A captura de
indígenas não teria se tornado uma atividade econômica justificável sem o mercado
de escravos nas regiões açucareiras. Assim, mesmo as comunidades que
aparentemente desenvolveram-se de forma autônoma naquela fase da colonização
devem sua existência indiretamente ao sucesso da economia açucareira. (FURTADO,
2005, p.48)

Figura 8 - Mapa do Brasil com os navios negreiros chegados em cada estado

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do site: slavevoyages.org

O mapa indica o número de navios negreiros aportados nas diferentes


localidades do Brasil durante a vigência do sistema escravocrata. Nota-se a
predominância do nordeste. Isso confirma a diferença ocorrida no povoamento das
45

regiões pautada na escravidão, e gera consequências até os dias atuais. (FURTADO,


2005)
A especialização na captura de escravos indígenas desde o início da
colonização aponta a importância da mão-de-obra nativa na fase inicial de instalação
da colônia. A mão-de-obra africana entrou em cena posteriormente, quando o negócio
já estava estabelecido e a rentabilidade garantida. Os escravos africanos foram a base
de um sistema de produção mais eficiente e mais intensivamente capitalizado. Em
resumo, a escravidão foi considerada crucial para a sobrevivência econômica dos
colonos na nova terra, e a disponibilidade de mão-de-obra escrava, tanto indígena
quanto africana, desempenhou um papel fundamental no desenvolvimento da
economia colonial brasileira. (FURTADO, 2005)

Figura 9 - Principais Fornecedores de escravos ao Brasil

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do site: slavevoyages.org
46

A figura 9 elenca os maiores fornecedores de escravos ao Brasil, nota-se a o


destaque do porto de Angola, que também foi colônia portuguesa e se encontra na
costa africana para o Oceano Atlântico.
A mão-de-obra escrava pode ser comparada às instalações de uma fábrica,
com a compra do escravo sendo o investimento inicial e sua manutenção, o que
representava custos fixos. Mesmo que o escravo não estivesse no trabalho, os gastos
de manutenção são inevitáveis. Ao contrário de uma máquina que pode ser utilizada
continuamente, uma hora de trabalho perdida pelo escravo não pode ser recuperada.
Portanto, os empresários buscavam ocupar a força de trabalho escrava em outras
tarefas quando não estavam diretamente envolvidos na atividade principal, como
construção, abertura de novas terras e melhorias locais. Esses investimentos
aumentavam os ativos do empresário, mas não geravam um fluxo de renda monetária
como na atividade principal. (FURTADO, 2005)
Os gastos de consumo também tinham características semelhantes. Parte
significativa desses gastos era realizada no exterior, através da importação de bens
de consumo. Além disso, parte dos gastos consistia na utilização da força de trabalho
escrava para a prestação de serviços pessoais, onde o escravo era considerado um
bem durável de consumo. Os serviços prestados pelo escravo eram a contrapartida
do investimento inicial feito na aquisição do escravo, assim como o serviço de um
carro é a contrapartida de seu custo. Da mesma forma que a renda da sociedade não
diminui quando os carros particulares estão parados, a renda também não seria
afetada se os escravos deixassem de prestar serviços pessoais a seus donos.
(FURTADO, 2005)
Outrossim, a economia brasileira tem seu princípio ligado ao trabalho cativo, as
próximas sessões dentro do capítulo três irão analisar sua influência dentro de cada
fase dentro da história econômica do país.

3.2.1 A Escravidão na Economia Açucareira

A primeira grande atividade econômica ocorrida no Brasil foi a exploração dos


canaviais, localizados em maior quantidade no nordeste do país. No princípio, os
escravizados eram os povos nativos, encontrados no país com a chegada dos
colonizadores europeus, no entanto, sua prática de agricultura de subsistência
dificultou seu uso em grandes lavouras, o que fez com que portugueses trouxessem
47

africanos para o trabalho.


Os flamengos, atuantes no comércio global, participaram dessa concepção da
economia escravista. Evidências indicam que os holandeses transcenderam o mero
financiamento de refino e venda do produto extraído, tendo
substancial participação também na vinda de cativos para trabalhar na Luso-América
durante o ciclo do açúcar. (FURTADO, 2005)
A influência dos países europeus nota-se presente ao analisar esse período
da economia brasileira, não restringindo apenas à presença da metrópole lusitana.
Os neerlandeses também se fizeram presente na formação da economia brasileira,
sobretudo na região que hoje corresponde ao estado de Pernambuco.
No século XVII, os holandeses buscaram estabelecer um governo no Brasil
através da Companhia das Índias Ocidentais, fundada em 1621. Essa empresa
levantou capital com a venda de ações e tinha o lucro como objetivo final, o considerou
a conquista de novas terras como uma fonte de renda. A formação da empresa estava
ligada à luta pela independência dos Países Baixos contra a Espanha, com
fundamentos religiosos calvinistas, onde o governo era acionista e a Igreja
desempenhava um papel dominante na companhia. (CALDEIRA, 2017)
A expertise portuguesa e o capital financeiro neerlandês não eram suficientes
para a implementação das largas plantações de canaviais, ainda a carência de mão
de obra, que viria a ser superada apenas com a vinda do trabalho cativo. Inicialmente,
a importação de mão de obra assalariada era economicamente inviável, tendo em
vista a escassez de mão de obra já existente em solo europeu, e a necessidade de
remunerações acima do mercado já existente, condição sine qua non para trazer
trabalhadores vindos do outro lado do Atlântico afetariam as margens de lucro do
potencial negócio, o que forçou os colonizadores a importar mão de obra escravizada
do continente africano. (FURTADO, 2005)
O desenvolvimento da economia açucareira foi um processo complexo e
envolvente de fatores econômicos e demográficos, o que revela a complexidade
histórica colonial brasileira, que entrelaçou fatores demográficos, sociais e
econômicos e moldaram o rumo do cultivo do açúcar e bem como do novo mundo.
No início, o empresário açucareiro necessitava operar em larga escala, o que
impossibilitou o espaço para engenhos de pequeno e médio porte, ao contrário do
que ocorrera nas ilhas do Atlântico. Inicialmente, na instalação dos capitais na
48

economia brasileira, houve a importação de capitais, isto é, equipamentos e mão de


obra europeia especializada, portanto, deduz-se que a mão de obra indígena tenha
participação ativa nas tarefas que não careciam de especialização nessa fase inicial
do ciclo açucareiro, tendo importância equivalente ao trabalho cativo dos africanos
que viriam posteriormente. A introdução do negro nas lavouras não provocara uma
mudança radical, apenas indicava a troca de um escravo menos eficiente por outro
mais eficiente e de captura mais garantida. (FURTADO, 2005)
Ou seja, a introdução do negro nos cultivos se fez presente pela melhor
habilidade nos serviços agrários e que já eram característica presente nas sociedades
africanas antes da vinda ao continente americano.
Portanto, não havia qualquer chance de que o crescimento impulsionado
externamente pudesse resultar em um processo de desenvolvimento
autossustentável. Embora o crescimento em extensão permitisse a ocupação de
vastas áreas e a concentração de uma população relativamente densa, o mecanismo
econômico, que não permitia uma ligação direta entre os sistemas de produção e
consumo, e neutralizou as vantagens desse crescimento demográfico como um
elemento dinâmico do desenvolvimento econômico. Como mencionado
anteriormente, os lucros eram a única forma de renda suscetível a mudanças na
produtividade, fossem elas de natureza econômica (melhoria nos preços relativos) ou
resultantes de avanços tecnológicos. (FURTADO, 2005)
A dinâmica econômica da sociedade escravista do Brasil colonial revela uma
interdependência crucial entre a atividade produtiva voltada para a exportação e os
lucros dos empresários. Quando a produção destinada à exportação declinava, os
lucros também sofriam uma redução. No entanto, esse contexto criava uma reserva
de mão de obra excedente que poderia ser direcionada para a expansão da
capacidade produtiva, representando uma oportunidade de investimento para os
proprietários. Caso não houvesse interesse em expandir a produção, esses recursos
econômicos poderiam ser desviados para investimentos em obras relacionadas ao
bem-estar da elite proprietária ou em atividades não diretamente ligadas à reprodução
da economia.
Quando a atividade produtiva para exportação diminuía, os lucros dos
empresários também diminuíram, mas ao mesmo tempo criava-se uma capacidade
de trabalho excedente, que poderia ser utilizada para expandir a capacidade
49

produtiva. Se não houvesse interesse em expandir essa capacidade, o potencial de


investimento disponível poderia ser direcionado para obras de construção
relacionadas ao bem-estar da classe proprietária ou outras atividades não
reprodutivas. Assim, a economia escravista dependia quase exclusivamente da
demanda externa. Se essa demanda enfraquecesse, iniciava-se um processo de
decadência, acompanhado pelo enfraquecimento do setor monetário. No entanto,
esse processo não apresentava as características catastróficas das crises
econômicas. (FURTADO, 2005)
Na segunda metade do século XVII, quando o mercado do açúcar entrou em
colapso e a concorrência antilhana se intensificou, os preços caíram pela metade. No
entanto, os empresários brasileiros fizeram o possível para manter um nível de
produção relativamente alto. No século seguinte, a tendência de queda nos preços
persistiu. Além disso, a economia mineradora, que se expandiu no centro-sul do Brasil,
o que atraíra mão de obra especializada e aumentou os preços dos escravos, reduziu
ainda mais a lucratividade da indústria açucareira. Como resultado, o sistema entrou
em declínio, no entanto, sua estrutura básica permaneceu intacta. Com o surgimento
de novas condições favoráveis no início do século XIX, o sistema voltou a operar com
plena vitalidade. (FURTADO, 2005)
Portanto, nota-se a presença do negro na economia brasileira desde suas
origens. Também é evidente a estrutura em volta do trabalho escravo para o
financiamento e manutenção da existência deste. O Reino dos Países Baixos e os
Flamengos exerceram papéis influentes no comércio global de sua época, por isso se
fizeram presentes na instalação dessa mão de obra no Brasil.
No contexto abordado, evidencia-se que a transição da economia colonial
brasileira do ciclo do açúcar para o ciclo da mineração de ouro trouxe alterações na
estrutura política e econômica. O declínio do açúcar devido à concorrência externa e
o surgimento da mineração levaram a uma reorganização institucional com a
transferência da capital para o Rio de Janeiro e a criação de novas capitanias. A busca
por ouro atraiu um grande fluxo migratório para a colônia. Devido aos ciclos do açúcar
e do ouro, as regiões sudeste e nordeste do país tiveram formações institucionais e
demográficas distintas, que pode explanar a respeito das diferenças regionais do
Brasil nos anos que sucederam esse período.
50

A dependência da mineração gerou desafios, como o esgotamento gradual da


rentabilidade dos escravos e a dispersão da população, resultando em uma economia
de subsistência de baixa produtividade. A análise desse período histórico ressalta a
influência das mudanças econômicas na evolução das instituições políticas e sociais
no Brasil colonial.

3.2.2 A Economia da extração de ouro

Com o declínio da economia açucareira pelo choque de oferta provocado pelo


cultivo de engenhos nas colônias holandesas no caribe, a economia entrara em
declínio, até a descoberta do outro na região sudeste do país por parte dos
bandeirantes,3 o que deu início a uma nova fase da economia brasileira: a extração
do ouro.
Portugal, diante da extensa colônia sul-americana, enfrentava desafios
decorrentes do empobrecimento progressivo da colônia e do aumento dos gastos
necessários para sua manutenção. Era evidente que a agricultura tropical não poderia
proporcionar um milagre semelhante ao do açúcar. Além disso, havia uma intensa
concorrência no mercado de produtos tropicais, com as principais colônias francesas
e inglesas apoiaram-se nos respectivos mercados metropolitanos. No final do século
XVII, os destinos da colônia pareciam incertos. (FURTADO, 2005)
A descoberta do Ouro provocou alterações institucionais nas terras brasileiras.
O governo geral tinha atuação regular apenas na então capital Salvador, tendo pouca
atuação nas demais localidades da colônia. O governo geral foi substituído pelo vice-
reinado e dera o início nas mudanças políticas desse período. Para otimizar a
arrecadação de impostos nas zonas minerais, o governo central transfere a capital
para o Rio de Janeiro em 1763. (CALDEIRA, 2017)
No século XVIII, houve uma expansão do governo central no Brasil, com a
criação de novas capitanias no interior subordinadas à Coroa. Isso ocorreu em áreas
como São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Pará, Santa Catarina e São
Pedro do Rio Grande. Essa centralização levanta a questão de se o Brasil estava se
encaminhando para um governo unificado. Além disso, houve mudanças na

3Os bandeirantes eram exploradores e caçadores de tesouros, em sua maioria de origem


portuguesa, que desbravaram o interior do Brasil durante os séculos XVII e XVIII, buscando riquezas
naturais e povos indígenas.
51

delimitação do território, que passou a ser mais claramente definido a partir de 1750
com o Tratado de Madri. (CALDEIRA, 2017)
A centralização política é um dos temas abordados pela Nova Economia
Institucional. A pouca participação popular nas decisões públicas e o afastamento das
autoridades centrais da vida de seus cidadãos influiu nos rumos que a economia teria
nos anos seguintes, visto que esse status quo se manteria mesmo após a
independência em 1822.
Em Portugal, compreendeu-se claramente que a única solução era a
descoberta de metais preciosos. E retrocedeu à ideia primitiva de que as terras
americanas só seriam economicamente justificadas se produzissem esses metais, os
governantes portugueses perceberam a importância dos conhecimentos técnicos dos
homens do planalto de Piratininga, que possuíam informações sobre o interior do país.
Se esses homens ainda não haviam descoberto ouro em suas explorações pelo
sertão, era devido à falta de conhecimentos técnicos. A ajuda técnica fornecida pela
Metrópole foi crucial nesse sentido. (FURTADO, 2005)
O estado de prostração e pobreza em que tanto a Metrópole quanto a colônia
se encontravam explica a rápida expansão da economia do ouro nos primeiros anos
do século XVIII. Houve uma migração em massa da região de Piratininga, assim como
o deslocamento de grandes recursos do Nordeste, em sua maioria na forma de mão
de obra escrava. Pela primeira vez, Portugal testemunhou uma grande corrente
migratória espontânea em direção ao Brasil. Os rumos da colônia seriam alterados.
(FURTADO, 2005)
A questão imigratória pode ser associada aos autores institucionalistas, que
viam como instituição um modo de agir ou pensar por parte dos indivíduos, também
aos Novos Institucionalistas pela geração de incentivos e instituições que motivavam
a transferência de suas moradias para a região centro-sul do país.
Até então, a existência da colônia estava ligada a um negócio que envolvia um
pequeno número de grandes empresas: os engenhos de açúcar. A emigração não era
atrativa para o homem comum de poucos recursos. Mudar-se de Portugal para o Brasil
só fazia sentido para aqueles que tinham meios para financiar uma empresa de
relativa grandeza. Fora dessas circunstâncias, a emigração precisava ser subsidiada
e tinha objetivos não econômicos. (FURTADO, 2005)
Na região açucareira, os imigrantes regulares eram em sua maioria artesãos e
52

trabalhadores especializados que vinham diretamente para trabalhar nos engenhos.


Em São Vicente, a imigração foi inicialmente financiada pelo donatário com objetivos
econômicos, mas acabou em fracasso. Em outras regiões, como o Norte e o Sul, a
imigração era financiada pelo governo português, que buscava estabelecer colônias
de povoamento com objetivos políticos. No entanto, é evidente que essa imigração
em massa não atingiu números significativos. Os dados sobre a população são
escassos, mas indicam um aumento lento da população de origem europeia ao longo
do século XVII. (FURTADO, 2005)
A economia da mineração abriu um ciclo migratório europeu completamente
novo para a colônia. Devido às suas características, a economia mineira brasileira
oferecia oportunidades para pessoas com recursos limitados, uma vez que não
explorava grandes minas como ocorria com a prata no Peru e no México, mas sim o
ouro de aluvião encontrado nos leitos dos rios. Não há dados precisos sobre o volume
de migração que ocorreu das ilhas do Atlântico e do território português em direção
ao Brasil ao longo do século XVIII, mas é sabido que houve preocupação em Portugal,
e levou à implementação de medidas para dificultar o fluxo migratório. (FURTADO,
2005)
Considera-se as condições de estagnação econômica prevalecentes em
Portugal, sobretudo na primeira metade do século XVIII, quando suas poucas
manufaturas entraram em declínio, a emigração só causaria uma reação forte se
alcançasse grandes proporções. De fato, tudo indica que a população colonial de
origem europeia aumentou dez vezes durante o período da mineração. Os próprios
imigrantes financiaram em grande parte essa transferência populacional. (FURTADO,
2005)
Embora a economia açucareira também tenha utilizado da mão de obra
escrava, o modus operandi de ambos os ciclos se diferem. Ao contrário da extração
açucareira, em nenhum momento os escravos constituíram maioria da população da
região sudeste do país. Houveram escravos que trabalhavam de forma autônoma, isto
é, e se pagaria uma quantia fixa aos seus senhores, o que possibilitou a compra da
alforria posteriormente. (FURTADO, 2005)
No entanto, houve ausência de complexidade na evolução da economia
mineira. Se esta tivesse se desenvolvido de forma mais complexa, poderiam ter sido
distintas. Na Austrália, após um colapso na produção de ouro, o desemprego
53

resultante levou à adoção de políticas protecionistas, que possibilitaram a


industrialização precoce do país. A necessidade de absorver o grande excedente de
mão de obra gerado pelo declínio na produção de ouro levou à conscientização de
que somente a industrialização poderia resolver o problema estrutural da região de
Vitória. No entanto, Furtado (2005, p.89) aponta que se o país tivesse permanecido
sob a influência exclusiva dos grupos exportadores de lã, a predominância das ideias
liberais teria impedido qualquer política de industrialização naquela época.
A existência do trabalho escravo no período da mineração no Brasil evitou
tensões sociais decorrentes do colapso na produção de ouro. No entanto, os
investidores enfrentaram uma diminuição gradual na rentabilidade de seus escravos.
Enquanto o setor açucareiro conseguiu manter sua rentabilidade, a mineração tornou-
se tornou cada vez menos lucrativa, e levou ao colapso das empresas produtivas.
Muitos empresários se tornaram garimpeiros e a economia da mineração entrou em
declínio, e resultaria na dispersão da população e na regressão econômica da região.
O sistema econômico composto por população de origem europeia se desintegrou de
maneira abrupta, o que culminou em uma economia de subsistência com baixa
produtividade. (FURTADO, 2005)

3.2.3 A Economia Cafeeira

Após o declínio da economia com base na mineração, o café foi o carro-chefe


da economia brasileira. O ciclo do café também gerou alterações além da esfera
econômica assim como os ciclos que o antecederam. A escravidão esteve entrelaçada
com esse período. A máxima: “O Brasil é o café e o café é o negro” inspirou os
movimentos que viam a escravidão como fator necessário para a subsistência da
economia nacional, mesmo com a oposição crescente dos abolicionistas e de outros
países.
A segunda e terceira partes do século XIX foram períodos essenciais para o
surgimento e crescimento da indústria cafeeira. Assim como a indústria açucareira, a
produção de café dependia do uso intensivo de mão de obra escrava. No entanto, a
indústria cafeeira tinha um nível de capitalização menor em comparação com a
indústria açucareira, pois se baseava na utilização de terras. Embora o capital também
estivesse investido nas plantações de café, que eram de cultivo permanente, às
necessidades de reposição monetária eram menores, pois os equipamentos eram
54

mais simples e muitas vezes produzidos localmente. (FURTADO, 2005)


O café traz à tona alterações infraestruturais também na região sudeste, pois
havia a necessidade de ferrovias para escoar a produção. Tais alterações provocaram
um aprimoramento institucional do país, além do Brasil ter tido o protagonismo nesse
mercado.
A empresa cafeeira, organizada em torno do trabalho escravo, tinha custos
monetários ainda mais baixos do que a indústria açucareira. Portanto, somente um
aumento significativo nos preços da mão de obra poderia interromper seu
crescimento, desde que houvesse abundância de terras disponíveis. Na primeira fase
do desenvolvimento da economia cafeeira, houve uma utilização intensiva da mão de
obra escrava subutilizada nas regiões anteriormente dedicadas à mineração, o que
explica seu rápido crescimento, apesar da tendência desfavorável dos preços. No
terceiro quartel do século, os preços do café se recuperaram amplamente, enquanto
os preços do açúcar permaneceram deprimidos, o que resultou em uma forte pressão
para transferir mão de obra do norte para o sul do país. (FURTADO, 2005)
A fase inicial da economia cafeeira também foi marcada pela formação de uma
nova classe empresarial que desempenharia um papel fundamental no
desenvolvimento subsequente do país. Essa classe emergiu entre os homens da
região. A cidade do Rio de Janeiro era o maior mercado consumidor do país, e os
padrões de consumo de seus habitantes haviam passado por transformações
significativas desde a chegada da corte portuguesa. O abastecimento desse mercado
tornou-se a maior atividade econômica dos núcleos populacionais rurais estabelecidos
no sul da província de Minas Gerais, como resultado da expansão da mineração. O
comércio de produtos e animais para transporte desses produtos tornou-se uma
atividade econômica influente nessa região, o que originaria a formação de um grupo
de empresários comerciais locais. Esses homens, que acumularam algum capital no
comércio e transporte de mercadorias, passaram a se interessar pela produção de
café e se tornaram os pioneiros na expansão da indústria cafeeira. (FURTADO, 2005)
Por volta da metade do século XIX, a força de trabalho da economia brasileira
era composta por uma grande massa de escravos, estimada em menos de 2 milhões
de pessoas. Isso significava que qualquer empreendimento que se pretendesse
realizar teria que lidar com a escassez de oferta de trabalho. O primeiro censo
demográfico realizado em 1872 indicou a existência de aproximadamente 1,5 milhão
55

de escravos no Brasil naquele ano. Leva-se em consideração que o número de


escravos no início do século era um pouco mais de 1 milhão e que, nos primeiros
cinquenta anos do século XIX, provavelmente foram importados mais de meio milhão
de escravos, pode-se deduzir que a taxa de mortalidade era maior que a taxa de
natalidade. É interessante observar a evolução divergente do estoque de escravos
nos dois principais países escravistas do continente: os Estados Unidos e o Brasil.
Ambos os países iniciaram o século XIX com um estoque de aproximadamente 1
milhão de escravos. No entanto, ao longo do século, as importações de escravos pelo
Brasil foram cerca de três vezes maiores do que as importações norte-americanas.
(FURTADO, 2005, p. 118)
No entanto, durante o início da Guerra Civil nos Estados Unidos, o país possuía
uma força de trabalho escrava de cerca de 4 milhões de pessoas, enquanto o Brasil,
na mesma época, contava com aproximadamente 1,5 milhão de escravos. A explicação
para esse fenômeno está na alta taxa de crescimento natural da população escrava
americana, a maioria dos quais vivia em propriedades relativamente pequenas nos
estados do chamado "Old South". As condições de alimentação e trabalho nesses
estados eram relativamente favoráveis, especialmente porque o aumento contínuo dos
preços dos escravos permitiu que seus proprietários obtivessem renda com o aumento
natural da população escrava. A oferta de escravos nos novos estados do sul, onde
ocorreu uma grande expansão na produção de algodão, dependia do crescimento da
população escrava nos antigos estados escravistas. De fato, entre 1820 e 1860, estima-
se que ocorreram transferências de escravos dos estados vendedores para os estados
compradores, que totalizou cerca de 742 mil indivíduos. Os escravos nascidos no país
tinham várias vantagens, pois estavam culturalmente integrados nas comunidades de
trabalho das plantações, haviam sido melhor alimentados, já conheciam o idioma, entre
outros aspectos.(FURTADO, 2005)
56

Figura 10 - Escravos trazidos ao Brasil entre 1781 e 1855

Fonte: Elaborado pelo autor, com base em : INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Brasil: 500 anos de
povoamento. Rio de Janeiro, 2000.

A figura 10 evidencia a crescente na importação de escravos até a década de


1830, afetada pela alteração nas instituições pró-escravidão, as quais objetivaram
restringir o tráfico negreiro bem como o trabalho cativo. Em 1850, a Lei Eusébio de
Queirós proibiu por completo o tráfico de cativos. A alteração no ordenamento legal
gerou mudanças no ordenamento institucional brasileiro, e afetou a utilização do
trabalho escravo até sua abolição completa em 1888.
O fato de a população escrava brasileira ter uma taxa de mortalidade maior do
57

que a de natalidade indica que suas condições de vida eram precárias.


O regime alimentar dos escravos que trabalhavam nas plantações de cana-de-
açúcar era particularmente deficiente. À medida que aumentava a demanda por
escravos no sul para as plantações de café, o tráfico interno de escravos intensificava-
se em detrimento das regiões que já operavam com lucratividade reduzida. As regiões
decadentes produtoras de algodão, especialmente o Maranhão, sofreram uma grande
perda de mão de obra em direção ao sul. A região açucareira, que estava melhor
capitalizada, conseguiu se defender melhor. Além disso, é provável que a redução do
suprimento de africanos e o aumento do preço desses escravos tenham levado a uma
intensificação do uso da mão de obra existente, que resultou em um desgaste ainda
maior da população escrava. (FURTADO, 2005)
Portanto, nota-se a condição precária dos cativos, que compuseram a massa
de trabalho escravo no Brasil. Tal situação caracteriza um ambiente institucional
extrativista, de acordo com o conceito de Acemoglu dissertado no item 2.3.
Nesta questão, é difícil separar os aspectos estritamente econômicos dos
aspectos sociais mais amplos. No Brasil, a escravidão era a base de um sistema de
vida estabelecido há séculos, e o sistema econômico escravista era caracterizado por
uma grande estabilidade estrutural. Portanto, é compreensível que, para aqueles que
faziam parte desse sistema, a abolição do trabalho escravo fosse encarada como uma
"catástrofe social". (FURTADO, 2005)
Mesmo os indivíduos mais conscientes e fundamentalmente contrários à
escravidão, como Visconde de Mauá (1813 – 1889) nunca conseguiram compreender
de forma plena a natureza real do problema e ficavam assustados com a iminência
dessa "catástrofe" inevitável. Prevalecia a ideia de que um escravo era uma "riqueza"
e que a abolição da escravidão resultaria no empobrecimento do setor da população
responsável pela geração de riqueza no país. Cálculos alarmistas eram feitos sobre
as centenas de milhares de contos de réis de riqueza privada que desapareceriam
instantaneamente com a abolição. Outros argumentavam, por outro lado, que a
abolição da escravidão liberaria consideráveis capitais, uma vez que os empresários
não precisariam mais investir em mão de obra ou na comercialização de escravos,
que liberou grandes parcelas de seu capital. (FURTADO, 2005)
58

Figura 11 - Evolução das exportações de café durante a segunda metade do


século XIX

Fonte: DE MELLO e KRETER (2022)

De acordo com esses dados, é notório a ausência de correlação entre a


importação de escravos e a exportação de café. Mesmo após a Lei Eusébio de
Queirós, em 1850, houve um crescimento da exportação cafeeira. Até mesmo a
abolição em 1888 não foi capaz de gerar decréscimos bruscos na comercialização do
bem, que indicou que o argumento de que a economia brasileira necessitava de
escravos, caso contrário colapsaria, era equivocado.
59

Figura 12 - Participação das exportações de café durante o período

Fonte: DE MELLO e KRETER (2022)

A figura 12 confirma o que a figura 11 indicou, isto é, a ausência de correlação


entre número de cativos e exportações brasileiras. Desta vez, esta analisou não
apenas os cafezais, mas a economia do Império como um todo.
60

Figura 13 - Comparação entre as exportações cafeeiras do Brasil com o resto do


mundo

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados de : DE MELLO e KRETER (2022)

A figura 13 evidencia a predominância do Brasil no comércio mundial de café,


sendo maior que todos os outros países do globo. Além da superioridade brasileira
que pode ser explanada pela Teoria das Vantagens Comparativas de David Ricardo
(1996), nota-se a evolução da produção cafeeira durante a década de 1880, com as
restrições já impostas, bem como a superioridade da produção brasileira frente ao
resto do mundo no princípio da década de 1890, já com trabalho assalariado e governo
republicano.
61

3.3 ABOLIÇÃO

O abolicionismo foi um movimento que ganhou força durante a vigência do


trabalho escravocrata. Influenciado pelo ideário iluminista e pelo humanismo, a ideia
de que seres humanos podiam se apossar de outros fora cada vez mais ojerizada ao
longo dos anos.
No contexto da época, os representantes eleitos viam-se como defensores dos
ideais iluministas, e buscou transformar o governo monárquico em um intermediário
entre a soberania geral e a vontade popular. Embora tenham perdido inicialmente, a
luta pela supremacia entre os poderes simbolizava a disputa entre a desigualdade
representada pela monarquia e a igualdade buscada pelos legisladores. A abolição da
escravidão representava um desafio econômico, pois não existia uma solução eficaz
para aplicar o princípio da igualdade na sociedade civil. A pressão internacional contra
o tráfico de escravos resultou em acordos, mas não na abolição completa. O Brasil
enfrentava o dilema financeiro de compensar os proprietários de escravos caso a
escravidão fosse abolida. A questão não se tratava apenas de direitos, mas também
de uma complexa situação econômica. (CALDEIRA, 2017)
No contexto do século XIX, os representantes eleitos no Brasil buscaram
transformar o governo monárquico em um intermediário entre a soberania geral e a
vontade popular, apesar dos desafios representados pela escravidão. A pressão
internacional, especialmente da Inglaterra, levou a acordos contra o tráfico de
escravos, mas não à abolição completa. A complexa situação econômica envolvia a
necessidade de compensar os proprietários de escravos caso a escravidão fosse
abolida. A Inglaterra, após a Revolução Industrial, aboliu a escravidão e pressionou
outros países a fazerem o mesmo para ampliar seu mercado consumidor, embora
tenha sido criticada por ter se industrializado com base no trabalho escravo.
Após a Revolução Industrial e o enriquecimento com os novos modos de
produção, a Inglaterra aboliu a escravidão e pressionou outros países do mundo a
fazerem o mesmo, com o intuito de ampliar o seu mercado consumidor. Os britânicos
já detinham a ideia confirmada pelos estudos trazidos em 3.1 de que um escravo não
consome, que gerou complicações em especial na comercialização de produtos
manufaturados. Ainda seria passível de crítica o fato da sociedade britânica ter sido
industrializada em especial sob o amparo de trabalho cativo, e uma vez
industrializada, exigiria de outras nações a abolição. (WILLIAMS, 1944)
62

No final do século XIX, a monarquia brasileira enfrentou desafios com o


surgimento de movimentos abolicionistas e pressões pela emancipação dos escravos.
A escravidão foi abolida em algumas regiões, mas ainda persistia em outras. A
situação piorou com surtos de cólera, que gerou agitação política e críticas ao
imperador. Enquanto ele estava em viagem à Europa, o movimento abolicionista
ganhou força, com protestos e rebeliões de escravos que se alastraram por todo o
país por todo o país. O clima de medo e violência se intensificou, com os escravos
que buscaram sua liberdade e os senhores que aumentaram a opressão. Quilombos
e refúgios de escravos fugitivos surgiram, liderados por abolicionistas. Apesar das
tentativas do governo de implementar reformas, a abolição se tornou uma demanda
urgente devido ao cenário de desgoverno. (SCHWARZ e STARLING, 2015, p. 371-
374)

Figura 14 - Evolução das Instituições escravocratas no século XIX

ei Eusébio de eará e
ueirós visa Amazonas
acabar o tráfico abolem a
negreiro escravidão

Proibida a ancionada a ei ei araiva


importação de do entre ivre otegipe ei do
escravos exagenário

Fonte: Elaborado pelo autor com base em CALDEIRA (2017)

O movimento abolicionista brasileiro não pode ser compreendido isoladamente,


mas sim em diálogo com movimentos semelhantes no exterior. A abolição da
escravidão ocorreu em um contexto de mobilização internacional, com países cuja sua
abolição em momentos diferentes. O Brasil estava ciente das experiências e
processos abolicionistas em outros lugares, e os abolicionistas brasileiros
63

estabeleceram alianças e trocaram experiências com ativistas de diferentes países.


Viagens, visitas de estrangeiros, livros e jornais foram meios pelos quais o Brasil teve
acesso a essas informações. Essa interação global influenciou o movimento
abolicionista brasileiro, que buscou exemplos e aliados para pressionar o governo
doméstico e alcançar a abolição da escravidão no país. (ALONSO, 2022)
O caráter cosmopolita e plural do movimento abolicionista foi denotado por
Joaquim Nabuco (1849 - 1910) nas obras “Minha Formação“ (2012) e “O
Abolicionismo“ (1883). Naquela, que seria sua autobiografia intelectual disserta sobre
sua convivência com intelectuais das mais diversas estirpes e classes, que indicou a
alta preparação e cultura adquirida pelo intelectual ao vir ao Brasil. Em “O
Abolicionismo”, ele aponta o pluralismo daqueles que visavam o fim da escravidão. O
autor citou em muitas ocasiões movimentos abolicionistas estrangeiros, fica evidente
a união de diferentes indivíduos, de diferentes matrizes ideológicas e culturais,
visando o fim da escravidão no Brasil.
Era incontestável que um grupo de indivíduos já se identificou com o movimento
abolicionista, encontrando dificuldades em manter sua filiação aos partidos
estabelecidos devido às suas convicções. Sob a bandeira da abolição, estão
atualmente unidos Liberais, Conservadores e Republicanos, sem outro compromisso
senão aquele implícito e, por assim dizer, de caráter político-honroso de priorizar a
consciência humana sobre a lealdade partidária. Da mesma maneira que na
legislatura anterior, diversos liberais sentiram a necessidade de apoiar a causa
abolicionista em detrimento de seu partido, nas próximas legislaturas também haverá
Conservadores dispostos a fazer o mesmo, bem como Republicanos que optarão por
lutar pela liberdade pessoal dos escravos em vez de promover a forma de governo
que almejam. (NABUCO, 1883)
Nabuco ainda profetizou e apontou que a apenas a abolição não seria
suficiente, e sim uma luta secular em busca dos direitos pela igualdade e justiça
dentro do país.
A luta entre o Abolicionismo e a Escravidão é de ontem, mas se prolongará por
muito tempo, caracterizando o período em que entramos. A pobreza ou riqueza
dos adversários não favorece a Escravidão, nem mesmo o seu imenso poderio.
O desfecho é inevitável, e tais contendas não são decididas por dinheiro,
prestígio social ou por uma clientela mercenária, por mais numerosa que esta
seja. O Brasil seria o último dos países do mundo se não tivesse um partido
abolicionista, pois isso indicaria que a consciência moral ainda não havia
surgido. Hoje, devemos acrescentar que essa consciência despontou, e o
Brasil seria o país mais desgraçado se, tendo um partido abolicionista, ele não
64

triunfasse. Seria o fim da esperança de um dia fundarmos a pátria que Evaristo


sonhou." (Nabuco, 1883, p.20-21)

Outrossim, é notória a influência da escravidão na economia contemporânea.


Com poucas evidências significativas o que indicou seus benefícios tanto advogados
por seus defensores e com ideias antigas mas que resistiram ao teste do tempo e se
comprovaram verdades, poder-se-ia chamar algumas ainda de presságio.
65

4 ESTUDO DA ESCRAVIDÃO COM O VIÉS DA NOVA ECONOMIA


INSTITUCIONAL

O capítulo 4 utiliza de modelos de dados em painel a fim de estudar os efeitos


da escravidão na economia contemporânea, utilizando – se do índice de Gini como
proxy. Os países analisados foram as nações que mais importaram escravos durante
o período compreendido pelos séculos XVI e XIX.
A análise permitiu inferir a correlação positiva da concentração de renda ( e por
conseguinte, da escravidão) com as variáveis Natalidade, Escolaridade e renda per
capita. A variável PIB teve correlação negativa, e o IDH não esteve significativamente
correlacionada, utilizando – se do modelo de Efeitos Fixos.
O modelo utilizará de variáveis de diferentes países com o intuito de verificar
as interações (elasticidade) entre os diferentes agregados macroeconômicos, e por
conseguinte, aplicar ao estudo teórico do desenvolvimento do regime escravocrata em
solo brasileiro.

4.1 MODELO DE DADOS EM PAINEL

Os dados em painel são aqueles referentes aos agentes econômicos ao longo


do tempo, o que tende à heterogeneidade, a qual pode não ser observável. A
combinação entre séries temporais e dados de corte transversais permitem a
obtenção de dados informativos, variados, com maior número de graus de liberdade
e maior eficiência. A análise de observações de dados transversais são as adequadas
para o estudo da dinâmica da mudança. (GUJARATI, 2019)

4.1.1 Modelo de regressão de efeitos fixos (MEF)

O modelo de regressão de efeitos fixos é uma maneira de considerar a


heterogeneidade entre os diferentes sujeitos e permite à cada indivíduo a
determinação de seus próprios interceptos. (GUJARATI, 2019)
O termo “efeitos fixos” refere – se à ideia dos interceptos dos contribuintes
serem invariantes com o tempo. (GUJARATI, 2019)
Equação de efeitos fixos para N observações e tempo T :

(4.1)
66

Em que Xit são regressores, β são os efeitos aleatórios específicos de indivíduo


e uit representa o erro idiossincrático.
O termo de erro µit no modelo tem uma correlação com o termo constante β0i
e o regressor Xit é correlacionado com αi, mas não com o erro idiossincrático εit. No
modelo de efeitos fixos, a expectativa condicional de yit dado αi e xit é igual a αi + Xitβ,
e assume que a expectativa condicional de yit dado αi e xit é zero, o que implica que
os coeficientes βj são as mudanças em yit associadas a mudanças marginais em xj,it.
A principal vantagem do modelo de efeitos fixos é que ele fornece estimativas
consistentes dos efeitos marginais dos regressores que variam ao longo do tempo.
(FÁVERO, 2013)
No modelo de efeitos aleatórios, assume-se que αi é uma variável aleatória, ou
seja, não está correlacionada com os regressores. A estimação é realizada com um
estimador FGLS (feasible generalized least squares). A principal vantagem desse
modelo é que ele estima todos os coeficientes, e inclui os dos regressores que não
variam no tempo, e também permite estimar E (yit|xit). No entanto, a grande
desvantagem é que esses estimadores são inconsistentes se o modelo de efeitos fixos
for mais apropriado para os dados. (FÁVERO, 2013)
O modelo de regressão de efeitos fixos apresenta limitações, como o custo de
um grau de liberdade adicional em caso do acréscimo de uma variável binária, ou a
possibilidade de multicolinearidade4 em caso de número excessivo de variáveis
binárias. (GUJARATI, 2019)

4.1.2 Modelo de Efeitos Aleatórios (MEA)

O Modelo de Efeitos Aleatórios presume a existência de uma variável com valor


médio e os interceptos de qualquer unidade no corte transversal é expresso como:
B = B’ + ∈ (4.3)

4 Multicolinearidade, ocorre quando variáveis independentes em um modelo de regressão estão


altamente correlacionadas entre si, tornando difícil a interpretação dos coeficientes e diminuindo a
precisão das estimativas. Isso pode exigir a remoção de variáveis ou estratégias de transformação para
lidar com o problema. (GUJARATI, 2019)
67

Em que ∈ é um termo de erro com um valor médio nulo e variância σ ² . Os


componentes dos erros individuais não estão correlacionados uns com os outros
nesse modelo onde o termo de erro não é correlacionado com qualquer uma das
variáveis explanatórias incluídas no modelo. Se isso acontecer, o MEA irá resultar em
uma estimação inconsistente dos coeficientes de regressão. (GUJARATI, 2019)
O coeficiente de correlação entre os termos de erro das diferentes unidades de
corte transversal é dado por:

(4.4)

Para qualquer unidade do corte transversal, o coeficiente p permanece


alterado. Sem levar esse coeficiente em consideração, os estimadores dos Mínimos
Quadrados Ordinários (MQO) passam a ser ineficientes, o que gera necessidade de
usar o método dos Mínimos Quadrados Generalizados (MQG) MQG. (GUJARATI,
2019)

4.1.3 Teste de Haussman

A determinação entre modelo de efeitos fixos e aleatórios. Caso haja a


presunção da não correlação entre os regressores e os erros, o MEA pode ser
apropriado, mas caso haja a correlação, O MEF pode ser o adequado. (GUJARATI,
2019)
Para a determinação do modelo adequado, Jerry Hausman (1947 -)
desenvolveu o teste estatístico cuja distribuição assintótica com o número de graus
de liberdade igual ao número de regressores do modelo. Caso o valor qui-quadrado
calculado for maior que o valor crítico determinado a certo grau de liberade e nível de
significância, rejeita-se a hipótese nula, que indica que os dois modelos não diferem e
são igualmente apropriados para a análise. (GUJARATI, 2019)

4.2 ANÁLISE CLIOMÉTRICA DOS DADOS DE IMPORTAÇÃO DE


ESCRAVOS
68

Como já foi visto no capítulo 3, a escravidão caracterizou as economias durante


o período conhecido como idade moderna (1453 – 1789), e o Brasil, por ser colônia
lusitana, deteve um padrão sui generis na sua economia, que não fora visto nas
demais colônias americanas. A figura 5 associa as metrópoles europeias com seus
respectivos índices de escravo por habitante, o que comprovou a ideia de que as
instituições herdadas dos colonizadores ditarão o ritmo da economia do país.
O Brasil foi o último país a abolir o trabalho escravo, o que os detratores desse
regime anteviram como nocivo para a economia brasileira durante o século XIX. O
Brasil também foi o país que teve o maior número de importação de escravos durante
a vigência dessa mão de obra. (CALDEIRA, 2017)
A figura 15 evidencia a predominância das terras brasileiras como maior
importador de escravos quando comparado a outros países e colônias.
69

Figura 15 - Gráfico de setores com a importação de escravos relacionada a seus


respectivos destinos

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do site: slavevoyages.org

Os países e localidades contidos na figura 14 são os maiores destinos de


escravos capturados no continente africano durante o período abrangido entre os
séculos XVI e XIX.
Os valores calculados indicam uma totalidade de 12 milhões de escravos
importados pelos países estudados. Nota-se a supremacia do Brasil nesse aspecto,
com quase metade da totalidade de escravos adquiridos, com quase seis milhões de
cativos.
70

Figura 16 - Gráfico com a importação de escravos e seus respectivos destinos


entre 1500 e 1870

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do site: slavevoyages.org

A figura 16 ratifica a predominância brasileira no comércio de cativos e dá


ênfase ao final do período analisado, quando outras economias aboliam a escravidão
com o intuito de se dedicar à mão de obra assalariada, e o Brasil insista na não
abolição.
De acordo com a figura, torna-se notória que a tardia abolição, que teve de
enfrentar os alicerces do extinto império brasileiro. Durante o século XIX,
enquanto a ideia de trabalho escravo ruía devido às alterações que o mundo sofria,
como a eclosão do pensamento iluminista e a Revolução do Haiti (1791), o Brasil, em
pleno apogeu do ciclo do café aumenta a quantidade de vassalos.
71

Quadro 1 - Total de escravos importados por cada localidade analisada

Europa América América Caribe América Caribe Brasil


do Holandesa Francês Hispânica Britânico
Norte
10.797 471.112 508.003 1.324.695 1.575.915 2.761.616 5.531.968

Portanto, infere-se que o fato do Brasil ser o país com a maior quantidade de
trabalhadores importados pode ser atribuída ao fato da abolição ter ocorrido com anos
de atraso.

Quadro 2 - Diferentes agregados socioeconômicos dos países analisados pelo


modelo de dados em painel

País PIB (em PPC5 Gini6 Natalidade Escolaridade IDH7


tri de
US$)
Brasil 1.920 8.918 55 22 120 0,754
Argentina 633 13.686 43 21 111 0,875
França 2.783 40.964 31 10,9 107 0,903
Holanda 991 55.985 29 10,2 102 0,941
GBR 3.071 45.850 37 10,1 103 0,934
EUA 25.463 76.399 39 11 91 0,922
Portugal 252 24.275 36 7,7 118 0,867
Uruguai 71 20.795 42 10,473 109 0,809
Espanha 1.398 29.350 35 7,1 108 0,906

Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do Banco Mundial

Os países selecionados para a análise de dados em painel foram obtidos por


meio das nações geradas após a investigação entre as localidades predominantes no
comércio de escravos, como demonstrado nas figuras 15 e 16.

5 O PPC (PIB per capita) é o Produto Interno Bruto de um país dividido pelo número de habitantes,
representando a média de renda ou riqueza por pessoa na nação. É um indicador importante para
avaliar o padrão de vida e a prosperidade média dos cidadãos em um país. Quanto maior o PIB per
capita, geralmente melhor é o nível de vida e o acesso a bens e serviços.
6O Índice de Gini é uma medida que avalia a concentração de renda em uma população, variando de
0 (igualdade perfeita) a 1 (desigualdade total). Quanto mais próximo de 0, mais igualitária é a
distribuição de renda, enquanto valores próximos de 1 indicam alta desigualdade.

7 O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é um indicador que avalia o nível de desenvolvimento


humano de um país. Ele leva em consideração três principais dimensões: a expectativa de vida, o
acesso à educação e o padrão de vida, representado pelo PIB per capita
.
72

Em decorrência de separações, independências e conflitos, as regiões


geográficas de análise podem possuir algumas distinções nos seus limites e territórios.
Como pode ser visto, os registros de viagens para a América espanhola, não
discrimina sobre qual dos vices – reinados ou capitanias gerais os escravos haveriam
de servir.8 Esse fato gera algumas distorções a respeito dos maiores importadores de
escravos.
Esse estudo tem como base a análise das informações estatísticas de acordo
com o modelo de dados em painel descritos no item 4.1. Os dados foram obtidos em
dados coletados pelo Banco Mundial e pela organização colaborativa
slavevoyages.org. Os anos em que não houve coleta de informações foram supridos
com Simulação de Monte Carlo9 para a viabilização da modelagem através das
técnicas descritas acima.
A desigualdade de renda, representada pelo índice de Gini é usada como proxy
nas análises, tendo em vista a sua já comprovada correlação positiva com o número
de escravos conforme descrito no capítulo 3 baseado em Nunn (2007).

Tabela 2 - Resultados das Variáveis em um Regressão de Método dos Mínimos


Quadrados Ordinários escala log-log

Coeficiente Erro Padrão Razão t p-valor

Const 0,273 0,171 1,598 0,1106

PIB 0,026 0,005 5,553 0,000

PPC 0,025 0,010 2,394 0,017

Natalidade 0,328 0,029 11,13 0,000

Escolaridade 0,349 0,025 14,17 0,000

ÍDH -1,134 0,067 -16,88 0,000

8 As colônias na América Espanhola se dividiam entre os Vices Reinados da: Nova Espanha, Nova
Granada, Peru e Prata e as captanias da Guatemala, Cuba, Venezuela e Chile. Porém, os portos para
atenderem esses terrotórios eram o de Cuba, Porto Rico, Caribe e Rio da Prata. Sendo apenas um do
exemplo da subjetividade que permeia esse tipo de análise, o mesmo pode ser visto em outros países

9Uma simulação de Monte Carlo é uma técnica estatística computacional que utiliza amostragem
aleatória para modelar o comportamento de sistemas complexos ou calcular resultados numéricos
difíceis de obter analiticamente.
73

Este modelo tem um R² relativamente alto, o que sugere que ele explica uma
quantidade significativa da variação na variável dependente (GINI). No entanto, é
importante observar que o p-valor do F-test é muito baixo, indicando que pelo menos
uma das variáveis independentes é significativa. As demais variáveis contidas no
quadro um foram excluídas do modelo por não serem significativas.

Tabela 3 - Resultados das Variáveis em um Modelo duplo log de Efeitos


Aleatórios

Coeficiente Erro Padrão Razão t p-valor

Const 1,298 0,093 13,95 0,000

Natalidade 0,024 0,011 2,171 0,030

Escolaridade 0,118 0,046 2,539 0,011

IDH -0,174 0,058 3,000 0,003

O teste de Hausman sugere que o modelo de efeitos aleatórios é preferível ao


modelo de MQO, o que sugere que a inclusão de efeitos aleatórios é apropriada.

Tabela 4 - Resultados das Variáveis em um Modelo duplo log de Efeitos Fixos

Coeficiente Erro Padrão Razão t p-valor

Const 1,794 0,212 8,478 0,000

Natalidade 0,086 0,022 3,870 0,000

Escolaridade 0,098 0,044 2,233 0,026

PIB -0,081 0,026 −3,147 0,002

PPC 0,107 0,028 3,800 0,000

Este modelo de efeitos fixos parece explicar uma porcentagem


significativamente maior da variação na variável dependente em comparação com o
MQO agrupado. O p-valor do F-test para os regressores é muito baixo, indicando a
significância das variáveis independentes. O teste para diferenciar interceptos de
74

grupos também sugere que há efeitos específicos de grupo. . As demais variáveis


contidas no quadro um foram excluídas do modelo por não serem significativas.
Em termos de ajuste e significância, o modelo de efeitos fixos parece ser o
mais apropriado. Ele tem o R-quadrado mais alto e os testes estatísticos indicam a
significância das variáveis independentes e a presença de efeitos específicos de
grupo.
Os coeficientes representam o quanto uma unidade de mudança na variável
independente afeta a variável dependente, com todas as outras variáveis constantes.
A variável natalidade tem uma elasticidade de coeficiente de 9%. Isso sugere
que um aumento de 1% na taxa de natalidade está associado a um aumento de 0,09
% na variável dependente, neste caso, composta pelo índice de Gini. Uma das razões
que pode explicar isso são os fenômenos demográficos que aumentam as taxas de
natalidade nos países periféricos ao passo que países de maior renda, decrescem sua
fertilidade, o que ocasiona no envelhecimento de suas respectivas populações.
A escolaridade tem um coeficiente de 0,10. Isso sugere que um aumento de
uma unidade nesse indicador está associado a um aumento de 0,10 na desigualdade
de renda, o que permite induzir que países de menor concentração de renda tendem
a ter melhores taxas de escolarização.
A variável PIB tem uma elasticidade negativa de coeficiente de -0,08. Isso
sugere que um aumento de uma unidade da produção total de riquezas do país está
associado a uma diminuição de 0,08 na desigualdade de riqueza. Um fenômeno a ser
analisado é a elasticidade negativa do PIB e a elasticidade positiva do PIB per capitaI.
Ambos os coeficientes podem estar relacionados com a taxa de natalidade, também
de elasticidade postiva, que ao sofrer choques positivos, gera impactos negativos sob
o PIB per capita a despeito da evolução dos indicadores de produção total dos agentes
econômicos.
O acréscimo na taxa de natalidade pode estar por trás do fenômeno de aumento
de PIB e retração no PIB per capita, pois isso ocorre em decorrência do acréscimo de
pessoas habitando determinada localidade, mas uma população ainda jovem, que
ainda não está em idade produtiva e por conseguinte, nas riquezas totais de um país.
75

Figura 17 - Estrutura de idade no planeta Terra

Fonte: Ourworldindata.org com base nos dados das Nações Unidas

A figura 17 evidencia esse envelhecimento da população, fatores influenciados


pela taxa de natalidade e que afeta outros indicadores socioeconômicos como PIB e
a renda per capita.
A variável representada pelo PIB per capita tem um coeficiente de 0,11,
portanto, a cada unidade de aumento, gera um acréscimo de 0,11 no índice de Gini
em escala logarítmica.
O modelo conclui que existe uma correlação positiva entre desigualdade
econômica, medida pelo índice de GINI, e a taxa de escolaridade, bem como um
melhor PIB per capita com a maior desigualdade de renda. Uma hipótese para
explicar esse fenômeno se atribui à heterogeneidade de dados dentre as nações
analisadas. Os Países Baixos, com um IDH de 0,941, ocupa o décimo posto entre as
nações medidas pela ONU, ao passo que o Brasil está após a octagésima posição, o
que acarreta em uma heterogeneidade que pode influir na interpretação dos dados.
Portanto em escala logarítmica, o índice de Gini pode ser definido pela seguinte
equação:

GINI = 1,79 - 0,0812 α + 0,107 β + 0,0865 θ + 0,0975 σ + ∈ (4.5)


76

Sendo α o PIB, β a renda per capita, θ a taxa de natalidade, σ a taxa de


escolaridade e ∈ o termo de erro da equação.

4.3 RESPOSTA ÀS HIPÓTESES

HP : A escravidão gera consequências permanentes após sua abolição.


Resposta: A hipótese principal se demonstra correta, pois de acordo com Nunn
(2008), há correlação de variados agregados macroeconômicos com a presença e a
influência que o trabalho escravo exerceu durante sua vigência.
H1: Uma democracia consolidada, com a independência entre poderes,
isonomia tributária, e uma legislação hostil a oligopólios e monopólios contribui
positivamente para o desenvolvimento dos países.
Resposta: Sim, de acordo com Acemoglu et. al (2002), esses fatores
contribuíram positivamente com o desenvolvimento das economias locais.
H2:Instituições inclusivas levam a um ambiente propício ao desenvolvimento
econômico e social.
Resposta: Sim, de acordo com Acemoglu e Robinson (2012), a presença de
instituições inclusivas são benéficas ao crescimento econômico.
H3 : As nações são afetadas pela colonização que as acometeu. Sendo suas
instituições herdadas dos seus colonizadores.
Resposta: Sim, de acordo com Acemoglu, et. al ( 2001), a colonização exerceu
papel chave na determinação das instituições, e por conseguinte no desenvolvimento
econômico.
77

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo magno desse trabalho foi estudar o quanto a escravidão afetou a


alocação ótima dos recursos disponíveis durante a vigência desse tipo de mão de
obra. Tendo em vista que a ciência econômica visa estudar as melhores
oportunidades frente à escassez, utilizou-se do referencial teórico da Nova Economia
Institucional para nortear as análises.
No princípio, a Nova Economia Institucional visava mensurar e estudar os
custos de transação envoltos em uma economia, posteriormente, as preocupações
dos neoinstitucionalistas transcenderem os estudos iniciais da escola, o que os levou
a transferir os estudos para análises históricas e políticas.
Esse referencial teórico baseado na intersecção entre estatística, econometria,
história e ciência política permitiu analisar a escravidão brasileira durante sua vigência,
desde os primórdios da colonização brasileira até a abolição completa do trabalho
escravo em 13 de maio de 1888.
Inicialmente, influenciado pelo capital neerlandês, a exploração do trabalho
escravo nos canaviais do nordeste brasileiro exerceu influência também na própria
demografia do local, e ditou os ares do capitalismo naquela situação. Com a
decadência do ciclo do açúcar, é dado início à exploração do ouro na região sudeste
do Brasil. Tal transição da economia teve importância nos afluxos migratórios e na
própria transferência da capital de Salvador para o Rio de Janeiro, no entanto, a mão
de obra cativa não teve o mesmo protagonismo que teve no ciclo do açúcar.
O século XIX da economia brasileira foi caracterizado pelo ciclo do café.
Cafeicultores se opunham às mudanças que ocorriam na economia global naquele
período, especialmente a troca da mão de obra cativa pelo trabalho assalariado, a
jovem coroa brasileira enfrentava por um lado uma burguesia escravista, com poder
poder político em uma situação que se caracterizava como uma instituição extrativista,
e por outro lado, o Reino Unido que, após utilizar-se de mão de obra escrava na
formação da indústria do país, forçava outros países ao redor do globo a extingui-la,
pois já detinham o conhecimento que a existência de escravidão limitava o mercado
consumidor dos países, influenciando na alocação ótima dos recursos disponíveis na
economia.
78

O período do ciclo do café também foi caracterizado por discussões no entorno


da escravidão, sendo razão de embates políticos dentro establishment burocrático da
época, a demora no Brasil para abolir o trabalho escravo se refletiu nos números,
tendo em vista que foi o pais que mais importou negros para o trabalho forçado, com
cerca de 6 milhões de escravos.
Com o intuito de verificar a perenidade dos efeitos da escravidão na economia
brasileira, analisou-se diferentes agregados macroeconômicos em modelo de dados
em painel.
O modelo de dados em painel, que abrange abordagens como efeitos fixos,
assumindo interceptos individuais constantes ao longo do tempo, e efeitos aleatórios,
permitindo variações aleatórias nesses interceptos, é uma estrutura estatística
utilizada para analisar dados em séries temporais. Além disso, a escolha entre essas
abordagens pode envolver o teste de Hausman, que ajuda a decidir se os efeitos fixos
ou aleatórios são mais apropriados, considerando a presença de correlação entre as
variáveis explicativas e os efeitos individuais não observados.
Os dados analisados foram obtidos no Banco Mundial e no site
slavevoyages.org, e foram analisados os dos dez países que mais importaram
escravos entre os séculos XV e XIX. Para o modelo de efeitos fixos, utilizou-se do
índice de Gini como variável proxy para a escravidão, tendo em vista a sua correlação
negativa, e de diferentes agregados macroeconômicos desde 1960, com os dados
ausentes sendo preenchidos por meio de uma Simulação de Monte Carlo.
O modelo de escala duplo log indicou influência positiva da presença do
trabalho escravo no passado econômico dos países na taxa de natalidade, de
escolaridade, e no PIB per capita, tendo apenas influência negativa na variável PIB.
Tais resultados também podem ter influência na heterogeneidade dos países
analisados e nas demais transformações demográficas que os países se deparam.
Portanto, conclui-se que a hipótese desse trabalho verificou-se correta, pois de
fato, há influência do passado pautado na escravidão para a economia atual.
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