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Priscila Silva Costa1, Elaine Cristina Cartaxo Villas Bôas2, Erika Pedreira da Fonseca3
Autor para correspondência. Universidade Católica do Salvador. Salvador, Bahia, Brasil. ORCID 0000-0003-3538-3665. priscilacosta432@gmail.com
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Universidade Católica do Salvador. Salvador, Bahia, Brasil. ORCID 0000-0003-3634-1117. elainecartaxo@hotmail.com
3
Universidade Católica do Salvador. Salvador, Bahia, Brasil. ORCID 0000-0002-5572-0553. erikapedreira@gmail.com
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ros nestes domínios, “alto risco de víeis” quando não e resumo foram excluídos nove artigos, pois um não
mencionados e “incerto risco de viés” se existiu a é ensaio clínico randomizado, dois não tem relação
informação, mas sem clareza. com hidroterapia e seis não avaliaram a marcha.
Os seis artigos restantes foram analisados na ínte-
gra e foi verificado que três destes realizaram trei-
no na água, porém não especificamente de marcha
Resultados durante o protocolo de intervenção, portanto foram
excluídos. A amostra final resultou em três artigos
Inicialmente foram encontrados 15 estudos nas para análise da qualidade metodológica, todos de
bases de dados, dos quais após a análise de título língua inglesa (Figura 1).
Figura 1. Fluxograma da coleta e seleção de artigos científicos para análise da qualidade metodológica
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Um estudo publicado no ano de 2014 realizou uma encontraram mudanças significativas em ambos os
intervenção com 25 pacientes com DP, um grupo em grupos, no que se refere ao comprimento do passo,
água que foi submetido a um treino de marcha as- largura do passo e tempo do passo13.
sociado a outros exercícios e outro grupo com os
mesmo protocolos, porém em solo, duas vezes por O terceiro estudo, com uma amostra de 56 pacien-
semana, com duração de 16 semanas. Verificou-se tes, realizou um protocolo de treino de marcha na
através da análise biomecânica da marcha uma água e treino convencional durante três semanas,
melhora na velocidade e na cinemática das articu- todas as manhãs por 45 minutos, com análise da
lações somente no grupo que realizou o treino de marcha em 2D e 3D de pacientes com DP após in-
marcha na água17. Outro estudo, com uma amos- tervenção em água e em solo. Ambos os grupos ob-
tra de 21 indivíduos, avaliou os efeitos do treino de tiveram melhora na marcha, porém somente o grupo
marcha na água em comparação com a fisiotera- que realizou treino convencional obteve melhora na
pia convencional, duas vezes por semana, durante velocidade da marcha15. A qualidade metodológi-
seis semanas, sobre a variação da marcha através ca destes três artigos foi analisada através da fer-
de um programa. Após a análise da marcha não ramenta da Colaboração Cochrane (Quadro 1).
Quadro 1. Análise da qualidade metodológica dos estudos: risco de viés de cada estudo baseado na ferramenta da Colaboração Cochrane
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Discussão a ser abordado, pois ao verificar o efeito após a
saída na água é possível comprovar ou não a efeti-
Após a análise dos estudos foi percebido que o vidade do treino de marcha para a funcionalidade
treino de marcha na água tem efeito positivo para do indivíduo. Todos os três estudos avaliados para
indivíduos com DP, em relação à velocidade da a qualidade metodológica realizaram o follow up
marcha e mobilidade funcional, porém houve uma de uma semana após a intervenção, porém não em
diferença entre os artigos quanto aos desfechos, solo. Autores18 realizaram o follow-up no solo após
o que denota uma frágil evidência destes efeitos. 17 dias de intervenção e não houveram resultados
Estes achados conflitantes podem ser resultado da significativos nos aspectos da marcha, porém com
forma de randomização, pois a análise da qualida- uma significante manutenção da melhora no equi-
de metodológica mostrou que dois destes estudos líbrio. Em concordância, outros pesquisadores20 re-
analisados obtiveram um alto risco de viés15,17, em alizaram o follow-up no solo de uma semana após
relação a sigilo de alocação e cegamento, o que a intervenção para treino de equilíbrio e obtive-
pode comprometer a confiabilidade dos resultados. ram melhorias significantes neste aspecto. Esta ma-
Os programas utilizados para análise biomecânica nutenção da melhora do equilíbrio sugere que os
da marcha obtiveram um incerto risco de viés no pacientes poderiam desenvolver um desempenho
domínio escala validada, o que pode ter causado da marcha mais seguro e com menos instabilidade
essa grande divergência de resultados de desfecho. postural12. Entretanto, é necessária uma análise es-
A terapia em água através de seus efeitos térmicos, pecífica da marcha no solo após o treino desta na
traz efeitos fisiológicos que permitem a realização água para confirmar esta afirmação.
de treino para mobilidade, equilíbrio e coordena-
ção em condições seguras e relaxantes para estes Um ensaio clínico de braço único21 obteve um re-
indivíduos13,14. sultado significativo nos padrões cinemáticos da
marcha com um aumento na velocidade em 20%,
Os efeitos do treino de marcha na água para in- no comprimento do passo em 30% e redução da
divíduos com DP são controversos entre os estudos. cadência em 6%, mesmo sem a realização de treino
Autores encontraram mudanças significativas na ve- de marcha na água. Foi observado que a realiza-
locidade da marcha somente em pacientes que re- ção de exercícios na água para mobilidade, treino
alizaram treino em água15, porém em outro estudo de transferências, equilíbrio e coordenação pode
foi observado aumento significativo da velocidade ter efeito positivo no desempenho da marcha21. Em
somente em pessoas que realizaram fisioterapia discordância, alguns estudos17,18 realizaram análise
convencional17. Já outros pesquisadores não verifi- de marcha após a intervenção com o mesmo padrão
caram mudanças significativas nos aspectos da mar- dos exercícios do estudo anterior e não obtiveram
cha. Este estudo revelou que o tempo de doença da resultados significativos. Este resultado considerável
amostra foi de 7 a 10 anos, com faixa etária de somente no primeiro estudo citado pode ser atribuí-
aproximadamente 70 anos13, o que pode dificultar do a grande quantidade de exercícios no protocolo
a melhora clínica. Ao considerar que o tempo de de intervenção que foi maior que os restantes e o
intervenção foi relativamente curto em comparação tempo dedicado a pesquisa, que foi de cinco meses.
com os outros estudos analisados, com frequência Este resultado significante nesse ensaio clínico21 su-
de duas vezes por semana e duração de 6 sema- gere que somente o treino na água pode não ser
nas, pode-se sugerir que esses indivíduos com difi- suficiente para otimizar a marcha de pessoas com
culdades maiores de melhora clínica não obtiveram esta condição de saúde.
tempo hábil para apresentar melhorias esperadas
nos aspectos da marcha, uma vez que este estudo
apresentou mudanças discretas no aspectos desta, Este estudo tem como vantagens a confiabilidade
porém não significativas no grupo que realizou a da escala utilizada para avaliação da qualidade
hidroterapia. metodológica dos artigos científicos e a relevância
clínica do tema proposto, pois é possível utilizar este
Uma avaliação da marcha no solo a longo prazo estudo para oferecer com segurança alternativas fi-
após a intervenção na água é um aspecto válido sioterapêuticas utilizadas na água para a melhora
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do desempenho da marcha de indivíduos com DP e se a subvenções e financiamentos, conselho consultivo, desenho de
estudo, preparação de manuscrito, análise estatística, etc).
consequente diminuição do índice de quedas, o que
é bastante frequente nesta população. Tem como
limitação a carência de estudos que analisassem so-
mente o treino de marcha na água, de forma isola-
da, associado com follow-up em solo, o que dificulta Referências bibliográficas
a determinação da real efetividade do treino de
1. Delong MR, Wichmann T. Circuits and circuit disorders
marcha na água a curto e longo prazo, visto que of the basal ganglia. Arch Neurol. 2007;64(1):20-4. doi:
estes pacientes sofrem de uma doença neurodege- 10.1001/archneur.64.1.20
nerativa e progressiva10.
2. Rivlin-Etzion M, Marmor O, Heimer G, Raz A, Nini A,
Bergman H. Basal ganglia oscillations and pathophysiology of
movement disorders. Curr Opin Neurobiol. 2006;16(6):629-
37. doi: 10.1016/j.conb.2006.10.002
Conclusão
3. Morris ME. Movement disorders in people with
Foi evidenciado que o treino de marcha realiza- Parkinson’s disease: a model for physical therapy. Phys Ther.
2000;80(6):578-97.
do na água tem impacto positivo na mobilidade
de pacientes com Doença de Parkinson quando as- 4. Reichmann H. Clinical criteria for the diagnosis of
sociado a outros exercícios, bem como na terapia Parkinson’s disease. Neurodegenerative Dis. 2010;7(5):284-
convencional. Para um resultado clínico significativo, 90. doi: 10.1159/000314478
deve ser associado a outros exercícios para mobi-
5. Merello M, Fantacone N, Balej J. Kinematic study of
lidade, equilíbrio e resistência muscular. Este estu-
whole body center of mass position during gait in Parkinson’s
do contribui para verificação da efetividade do disease patients with and without festination. Mov Disord.
treino de marcha associado a outros exercícios re- 2010;25(6):747-54. doi: 10.1002/mds.22958
alizados na água para pacientes com doença de
Parkinson. Entretanto, por se tratar de uma doença 6. Tan DM, McGinley JL, Danoudis ME, Iansek R, Morris
ME. Freezing of gait and activity limitations in people
crônica e progressiva, estes indivíduos necessitam
with Parkinson’s disease. Arch Phys Med Rehabil.
de propostas terapêuticas eficazes com efeitos a 2011;92(7):1159-65. doi: 10.1016/j.apmr.2011.02.003
longo prazo para diminuição do índice de quedas.
Por esta razão, são necessários estudos futuros com 7. Morris ME, Menz HB, McGinley JL, Watts JJ, Huxham
prioridade em ensaios clínicos randomizados, com FE, Murphy AT et al. A randomized controlled trial
to reduce falls in people with Parkinson’s disease.
uma análise tanto do treino específico de marcha,
Neurorehabil Neural Repair. 2015;29(8):777-85. doi:
como também em associação com outros exercícios, 10.1177/1545968314565511
além do follow-up em solo para agregar evidências
científicas sobre este tema e que sigam as diretrizes 8. Canning CG, Sherrington C, Lord SR, Close JC,
para apresentar uma qualidade metodológica sa- Heritier S, Heller GZ et al. Exercise for falls prevention
in Parkinson disease: a randomized controlled trial.
tisfatória.
Neurology. 2015;84(3):304-12. doi: 10.1212/
WNL.0000000000001155
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11. Goodwin VA, Richards SH, Taylor RS, Taylor AH,
Campbell JL. The effectiveness of exercise interventions
for people with Parkinson’s disease: a systematic review
and meta-analysis. Mov Disord. 2008;23(5):631-40. doi:
10.1002/mds.21922
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