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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Gabriela Mansur Marinho


Marco Túlio Alves Guimarães
Maria Luiza Monteiro da Silva
Mariana Luiza Eduardo de Jesus
Raíssa Gabriela de Carvalho

O USO DE ESTÍMULOS ACÚSTICOS NA FACILITAÇÃO DA MARCHA


FUNCIONAL DE PACIENTES COM PARKINSON DE LEVE A MODERADO –
REVISÃO DE LITERATURA

BELO HORIZONTE
2022
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Gabriela Mansur Marinho


Marco Túlio Alves Guimarães
Maria Luiza Monteiro da Silva
Mariana Luiza Eduardo de Jesus
Raíssa Gabriela de Carvalho

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso


de Fisioterapia da Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do
título de Bacharel em Fisioterapia.

Orientadora: Profa. Claudia Silva Dias

Área de concentração: Fisioterapia Neurofuncional Adulto

BELO HORIZONTE

2022
RESUMO

Introdução: Pessoas com doença de Parkinson geralmente têm a incapacidade


de manter o ritmo interno da marcha que é dependente de dopamina estriatal,
responsável pela padronização sequencial dos movimentos do passo. Essa perda
vem sendo compensada pela Estimulação Auditiva Rítmica (EAR) durante a
realização da marcha, constituindo-se como uma ferramenta para a reabilitação
funcional. Objetivo: Compilar evidências de qualidade para investigar os efeitos dos
estímulos auditivos rítmicos no desempenho do padrão da marcha funcional em
indivíduos com doença de Parkinson tipo 1 a 3 na escala Hoehn e Yahr. Metodologia:
após busca nas bases de dados foram selecionados 5 artigos para compor essa
revisão. Resultados: Quando analisados, sua resposta foi positiva quanto à melhora
dos episódios de congelamento, aumento do comprimento da passada, velocidade de
caminhada e diminuição da variabilidade da cadência durante a marcha funcional.
Conclusão: Por conseguinte, com esta revisão sistemática, a estimulação auditiva
rítmica é uma terapia eficiente no tratamento do desempenho do padrão da marcha
funcional em indivíduos com doença parkinson. Todavia, são necessários mais
ensaios clínicos de rigor e qualidade metodológica, para análise comparativa da
eficácia do método em todos os parâmetros da marcha, a curto e longo prazo.

Palavras chave: Doença de Parkinson, Passo, Marcadores Acústicos e Padrão da


Marcha.

ABSTRACT
Introduction: People with Parkinson's disease usually have the inability to
maintain the internal rhythm of the gait, which is dependent on striatal dopamine,
responsible for the sequential patterning of step movements. This loss has been
compensated by Rhythmic Auditory Stimulation (RAS) during gait, constituting a tool
for functional rehabilitation. Objective: To compile quality evidence to investigate the
effects of rhythmic auditory stimuli on functional gait pattern performance in individuals
with Parkinson's disease type 1 to 3 on the Hoehn and Yahr scale. Methodology: after
searching the databases, 5 articles were selected to compose this review. Results:
When analyzed, their response was positive regarding the improvement of freezing
episodes, increased stride length, walking speed and decreased cadence variability
during functional gait. Conclusion: Therefore, with this systematic review, rhythmic
auditory stimulation is an efficient therapy in the treatment of functional gait pattern
performance in individuals with Parkinson's disease. However, more rigorous and
methodological quality clinical trials are needed to comparatively analyze the
effectiveness of the method in all gait parameters, in the short and long term.

Keywords: Parkinson's Disease, Step, Acoustic Markers and Gait Pattern.

INTRODUÇÃO

Os pacientes com Doença de Parkinson possuem sintomas clínicos


característicos da patologia como tremor, rigidez, bradicinesia, hipocinesia e
instabilidade postural, que afetam principalmente o padrão de marcha e o seu
desempenho motor (1). Normalmente pessoas com essa condição de saúde, têm a
incapacidade de manter o ritmo interno da marcha que é definido como um controle
interno dependente de dopamina estriatal responsável pela padronização sequencial
dos movimentos da marcha (2), resultando em um parâmetro anormal que inclui
passos curtos, diminuição do balanço do braço, festinação, diminuição do
comprimento da passada, redução da velocidade de caminhada, aumento da
cadência, tempo de dupla postura e congelamento (3).

Dentre as repercussões observadas, o congelamento da marcha é um distúrbio


episódico da locomoção que ocorre durante o início ou giro da caminhada,
caracterizado por episódios repentinos de incapacidade de produzir um passo efetivo
para a frente onde o tronco continua em movimento enquanto os membros inferiores
ficam presos, se tornando assim, um dos principais fatores de risco para quedas (4).
Tal fato, aumenta o medo de cair ocasionando à restrição da atividade física e
isolamento social, impactando diretamente na qualidade de vida (4)(5).

Outra característica importante observada na marcha é a redução na


velocidade e cadência. Tal fato pode ser justificado devido à alteração do sistema
responsável por transmitir a informação sensorial afetando a interpretação dos sinais
gerados pelos movimentos, levando assim a uma instabilidade postural. Os pacientes
com DP tendem a realizar movimentos com protusão de cabeça, que causa uma
postura curvada e um aumento do centro de gravidade para a frente. A consequência
desse fator é uma marcha festinada, que envolve uma velocidade crescente e uma
passada mais curta.

Outra alteração patológica que afeta a qualidade de vida, é a excitabilidade


cortical que vai repercutir diretamente no desempenho motor. Segundo Nombela et
al. (2013) (6) as áreas cerebrais envolvidas no processamento do ritmo estão
intimamente relacionadas àquelas que servem ao movimento, como o córtex pré-
motora, área motora suplementar (SMA), o cerebelo e os gânglios da base. Os
gânglios da base, particularmente o putamen, está envolvido com o sequenciamento
de eventos rítmicos podendo exercer uma influência na via motora, por meio de
conexões retículo espinhal, que preparam e alteram o tempo da atividade do neurônio
espino motor. O cerebelo, também implicado em associações sensório-motoras, pode
controlar a sincronização auditivo-motora rítmica, monitorando os padrões rítmicos e
ajustando o comportamento às mudanças de ritmo (7).

Diante da perda deste marcador fisiológico através dos processos


degenerativos da DP, a Estimulação Auditiva Rítmica (EAR) durante a realização da
marcha, vem se constituindo como uma ferramenta para a reabilitação funcional. Este
instrumento parece ser capaz de promover mudanças fisiológicas, neuroplasticidade
e reestruturação de circuitos neurais, contribuindo para a recuperação das habilidades
motoras (8).

O estudo de Nieuwboer et al (2008) mostra que as modalidades de dicas


visuais, somatossensoriais e auditivas melhoram o padrão da marcha, porém, as
sugestões auditivas são mais eficazes do que as dicas visuais. Isto foi constatado
através de análises clínicas que envolviam a realização do teste de Time Get Up and
Go, Vitaport Activity Monitor e outros instrumentos semelhantes baseados em
acelerômetros especificamente a pista externa auditiva, conseguia tornar as áreas
parietal lateral, tálamo e áreas pré-motoras mais envolvidas na atividade de caminhar.
As pistas, podem proporcionar um aumento da excitabilidade dos neurônios motores,
através da via retículo-espinhal, quando comparada a atividade realizada sem
nenhuma intervenção. Dessa forma, indivíduos com DP poderão ser capazes de gerar
padrões adequados de marcha, melhorando variáveis como, comprimento de passo,
cadência (9).

O estímulo acústico pode ocorrer por variados dispositivos como o metrônomo,


música ritmada, aplicativos próprios para definir a ritmicidade da marcha
parkinsoniana, bips sonoros ou protótipos desenvolvidos diretamente para realização
de estudos. Tais dispositivos de dicas externas parecem ser promissores para
melhora do comprimento da passada, velocidade de caminhada, cadência, tempo de
dupla postura e congelamento (10), como observados nos estudos citados.
Entretanto, não há consenso na literatura quanto à eficácia dos protocolos de
intervenções e quais os desfechos observados nos padrões da marcha em pacientes
com DP em treinamento com dicas auditivas rítmicas.

Diante do exposto, a presente revisão tem como objetivo investigar os efeitos


dos estímulos auditivos rítmicos no desempenho do padrão da marcha funcional em
indivíduos com doença de Parkinson tipo 1 a 3 na escala Hoehn e Yahr. A hipótese
do estudo é que o uso do estímulo auditivo leva à redução dos episódios de
congelamento, aumento do comprimento da passada e da velocidade de caminhada
e diminuição da variabilidade da cadência durante a marcha funcional em
parkinsoniano de leve a moderado.

Investigar a eficácia destes dispositivos e sua aplicabilidade poderá contribuir


para implementar os Programas de Reabilitação (PR) e otimizar as respostas a esta
intervenção. Ainda considerando que se trata de um tema recente, a presente revisão
poderá contribuir para instruir sobre a utilização do recurso das pistas auditivas na
melhoria do padrão de marcha do paciente com Parkinson.

MÉTODOS

O presente estudo é uma revisão sistemática na literatura, cujo tema será


delimitado com uso da estratégia PIO, em que o grupo experimental (P- Patient) será
composto por Parkinsonianos, a intervenção (I – Intervention) será composta por
diversos tipos de estímulos acústicos e os desfechos pretendidos (O-Outcome) serão
as variáveis velocidade e cadência dos padrões da marcha. A partir disso a pergunta
de investigação será “Quais são os efeitos da estimulação acústica na facilitação da
marcha funcional em indivíduos com doença de Parkinson?”

As bases de dados consultadas foram: Pubmed, Medline, Scielo, Lilacs,


EMBASE, por meio das palavras-chave: Doença de Parkinson, Passo, Marcadores
Acústicos e Padrão da Marcha. Os descritores utilizados na busca estão descritos
conforme o Apêndice 1. Para o cruzamento dos descritores usados na busca, foi
empregada os marcadores “booleanos” que compreende os códigos “AND”
(intercessão de dois ou mais assuntos), “OR” (localização individual dos assuntos e/ou
a soma de dois ou mais assuntos), respeitando-se as especificidades de cada base
de dados.

Os artigos escolhidos foram publicados no idioma inglês e português e


selecionados no período de maio de 2022 a junho de 2022. Os critérios de inclusão
foram estudos do tipo Ensaio Clínico Controlado (ECC), com pacientes grau de 1 a 3
na escala de Hoehn & Yahr, artigos que abordam sobre a qualidade da marcha
funcional e que falam sobre qualquer dispositivo que possa traçar a ritmicidade da
marcha e não necessariamente só o metrônomo. Já os critérios de exclusão, foram
pacientes com outras condições de saúde associadas ao Parkinson (diabetes, AVE,
hipertensão arterial, problemas auditivos, demência).

As buscas nas bases de dados e a seleção dos estudos foram realizadas por 5
pesquisadores simultaneamente. Quando houve discordância, um sexto pesquisador
decidiu sobre a inclusão ou não do estudo a partir do título e resumo.

Os estudos que atenderam aos critérios de inclusão foram selecionados para


leitura completa, e sua qualidade metodológica e descrição estatística foram avaliadas
pela escala de risco de viés da PEDro.

RESULTADOS

Os cinco pesquisadores realizaram buscas nas bases de dados e foram


identificados por meio dos descritores, 53 artigos. Após remover os artigos duplicados
e os que não cumpriram os critérios de exclusão e inclusão, foram selecionados 45
artigos das bases de dados sujeitos a revisão completa do texto.

Sendo assim 39 foram excluídos por se tratar de temas que não abordam o
padrão da marcha como objetivo; população de estudo não condizentes com escala
H&Y 1-3, população com condições de saúde associadas (demência, audição
prejudicada) e não se tratava de ensaio clínico. O método da seleção dos estudos
pode ser visto na Figura 1. Logo foi designado para a presente revisão de literatura 5
artigos.

Figura 1. Fluxograma de elegibilidade de artigos


As principais informações referentes aos estudos elegíveis podem ser vistas
no Quadro 1.
Quadro 1. Caracterização dos artigos selecionados

Autores/An Característica da Amostra Intervenção


o de Experimental Controle Experimental Controle Resultados
publicação
nº=15 nº= 11 - Caminhada por 30 min Grupo SPT: Os dados dos parâmetros da
- 10 homens e 5 mulheres; Grupo SPT: com RAS em uma - Realizou caminhada por 30 marcha foram analisados através
- Idade média (69 anos) - 8 homens e 3 superfície plana, subir min sem o uso de RAS em da medição da variabilidade,
- Duração média da doença mulheres; escadas, com paradas uma superfície plana, subir simetria e tempo do período de
de (7 anos); -Idade média de acompanhando o som de escadas com paradas ativação muscular
-Número médio de quedas (74 anos); música ritmicamente; acompanhando o som de
nos últimos 12 meses ao - Duração média acentuada em três tempos música ritmicamente Indivíduos que participaram do
MH Thaut T estudo (4,5). de doença (5 diferentes; acentuada em três tempos treinamento com RAS:
all 1996 anos); - Presença de um diferentes - Melhoraram em média 25% da
- Número médio assistente para conferir os velocidade, comprimento da
de quedas (0,4) dados 1 vez por semana. - Presença de um passada e cadência comparado a
assistente para conferir os linha de base.
Grupo NT: dados 1 vez por semana. Grupo controle:
- Idade média Grupo NT: - Melhorou a velocidade de
(71 anos); - Não realizou nenhum tipo marcha, porém em menos de 1/3
-Duração da de treinamento. comparado ao grupo
doença em experimental, além de melhorar o
média (8 anos); comprimento da passada;
- Número médio - Os indivíduos do grupo controle
de quedas (2,6). sem treinamento não
apresentaram melhora.
Os grupos foram compostos aleatoriamente N°24 nº8 A reaprendizagem dos
por 32 pacientes, sendo 18 homens e 14 - Os pacientes foram - Os pacientes foram parâmetros da marcha nas
Hirotaka
mulheres, com idade média de 70 anos, 5 alocados aleatoriamente instruídos a caminhar no diferentes condições foram
Uchitomi T
anos de diagnóstico da doença. Os em 3 grupos com 8 corredor de 200m, sozinhos, analisadas através do Mini
all 2013
treinamentos foram realizados em período on participantes cada, sem qualquer pista auditiva BESTest.
da medicação dopaminérgica.
- Cada grupo recebeu um Os resultados concluíram que
estímulo auditivo distintos sincronização do passo com as
utilizando o Fe. pistas rítmicas interativas do
- Durante os primeiros 60s WalkMate facilitou a
caminhavam sozinhos em reaprendizagem da dinâmica da
um corredor de 200m, marcha intrapessoal nos sujeitos
sem qualquer dispositivo com DP, diminuindo o intervalo
que traçasse o ritmo da entre as passadas e o
marcha. Nos próximos congelamento, em comparação
60s, caminharam no ao grupo que não realizou
mesmo corredor utilizando nenhuma intervenção
o feedback cruzado e nos
últimos 60s utilizaram o
feedback cruzado + o
walkmate
Grupo 1: - 8 homens e 6 nº= 11 Não realizaram nenhum Grupo 1:
- 4 homens e 7 mulheres; mulheres Grupo 1 – Grupo de treinamento. - Os resultados indicaram que
-Idade média (68,4 anos) - Idade média Tapping, consistiu em houve mudança significativa
- Diagnóstico da doença em (67,28 anos) treinar com RAS em três na velocidade da
média (4,8 anos) - Diagnóstico da blocos de treinamento de 1 marcha, cadência e do
doença (11 minuto com 30 segundos comprimento da passada.
Grupo 2: anos) de descanso entre os
Thenille - 8 homens e 6 mulheres; - blocos. As instruções eram Grupo 2:
Braun T all Idade média (64,2 anos) para bater com o dedo - Não foram observadas
2019 - Diagnóstico da doença (7,7 indicador da mão menos mudanças significativas na
anos) afetada em sincronia com velocidade, cadência e
um metrônomo. comprimento da passada após o
N°=14 treinamento.
Grupo 2 – Os participantes
foram instruídos a balançar Grupo controle:
os dois braços em
movimento alternado em
sincronia com um - Não houve diferença na
metrônomo enquanto velocidade, cadência e
caminhavam. comprimento da passada.
nº=10 nº=11 Cada participante Após uma semana de O desempenho do SIP foi medido
Congeladores: Não completou 2 intervenções treinamento, os pacientes do usando a plataforma de força
- Idade média (65 anos) congeladores: com pelo menos um grupo experimental Kistler. A variabilidade da
- Duração da doença (9 - Idade média período de intervalo de realizaram o mesmo caminhada, velocidade, cadência
anos); (61 anos) uma semana entre: protocolo do grupo controle e e o comprimento da passada
- Mini mental em média 28 - Duração da Grupo 1 vice e versa foram registrados na passarela
pontos doença de 5 -SIP + pistas auditivas eletrônica GAITRite. Já a
anos simultâneas excitabilidade cortical foi avaliada
- Mini mental em Grupo 2 usando TMS.
média - SIP sem pistas auditivas. Os resultados mostraram que
29 pontos Foi executado em 10 após o treinamento SIP, os grupos
rodadas, com 50 passos, congeladores e não congeladores
Hsiu-Yun utilizando o som do tiveram melhorias na variabilidade
Chang T metrônomo como pista da marcha (velocidade, cadência e
all auditiva. Os participantes comprimento da passada). Ao
2019 foram instruídos a acrescentar pistas auditivas, os
combinar seus passos, congeladores demonstraram
com cada bip sendo o mais melhorias na variabilidade da
preciso possível. marcha e maior inibição no córtex
motor primário comparado ao não-
congeladores.

Grupo 1 Não receberam treino de Os parâmetros de marcha foram


Tamine TC - 10 sessões de 45 equilíbrio funcional ou avaliados a partir do Mini-BESTest
Capato T all minutos; marcha e do UPDRS.
2020 Ambos os grupos:
- Possuíam histórico de quedas no último ano; - Receberam treinamento - Foi oferecido um programa A melhoria foi maior para o
- Pontuação no Mini exame do Estado Mental de equilíbrio multimodal, de educação geral sobre treinamento suportado pelo grupo
24 ou superior; envolvendo 40 exercícios DP, incluindo prevenção de 1 em comparação com o grupo 2
-Nenhuma outra intervenção de equilíbrio e marcha, quedas e autocuidado o treinamento, tanto para
fisioterapêutica ou exercício utilizando o estímulo - 10 sessões de 45 minutos, congeladores quanto para não
complementar. auditivo 2x na semana por 5 congeladores. Apenas o grupo 1
-10 sessões de 45 semanas. manteve as melhorias em
minutos, 2x na semana comparação com as medições do
por 5 semanas. grupo controle em 6 meses de
Grupo 2 acompanhamento, e isso foi
- 10 sessões de 45 verdade para congeladores e não
minutos; congeladores.
- Treinamento multimodal
regular consistiu em 3
partes: equilíbrio, marcha,
movimentos funcionais e
exercícios apoiados sem
nenhum tipo de RAS
Quanto à avaliação metodológica e risco de viés, os pesquisadores avaliaram,
por meio da escala de risco de viés da Pedro, os estudos da presente revisão,
conforme pode ser visto na tabela 1.

Tabela 1 - RISCO DE VIÉS


ESTUDOS 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 11 SCORE
0 TOTAL
(0-10)

MH Thaut, GC McIntosh , S S N N N N N S N S S 4/10


Arroz RR, RA Miller,J Rathbun,
JM Brault (1996)
Hirotaka Uchitomi, Léo Ota, S S N S S S S S S S S 9/10
Ken-ichiro Ogawa, Satoshi
Orimo, Yoshihiro Miyake
(2013)
Thenille Braun Janzena , S S N S N N N S N S S 5/10
Marion Haaseb, Michael H.
Thauta (2019)
Hsiu-Yun Chang, Ya-Yun Lee, S S N S N N N S N S S 5/10
Ruey-Meei Wu, Yea-Ru Yang,
Jer-Junn Luh (2019)
Tamine TC Capato, Nienke M. S S N S N N N S N S S 5/10
de Vries, Joanna IntHout,
Jordache Ramjith, Egberto R.
Barbosa, Jorik Nonnekes,
Bastiaan R. Bloem (2020)
1: Critérios de elegibilidade; 2: Alocação aleatória; 3: Alocação secreta ou oculta; 4:
Comparação da linha de base; 5: Sujeitos cegos; 6: Terapeutas cegos; 7:
Avaliadores cegos; 8: Mensuração de um resultado chave; 9: Análise e da intenção
do tratamento; 10: Comparação entre os grupos; 11: Estimativas pontuais e
variabilidade.

DISCUSSÃO

O objetivo desta revisão foi investigar os efeitos dos estímulos auditivos


rítmicos no desempenho do padrão da marcha funcional em indivíduos com doença
de Parkinson tipo 1 a 3 na escala Hoehn e Yahr, sendo possível comprovar como o
uso do estímulo auditivo leva à redução dos episódios de congelamento, aumento do
comprimento da passada, velocidade de caminhada e diminuição da variabilidade da
cadência durante a marcha funcional. Assim, a presente revisão parece demonstrar a
eficácia destes dispositivos e sua aplicabilidade na intervenção fisioterapêutica.
A partir da revisão realizada, o uso do marcador parece ser favorável para a
melhora da variabilidade da marcha em pacientes de ambos os sexos com doença de
Parkinson, idade média de 65 anos, escala H&Y (1-3) e duração da doença em média
7 anos. Ao analisar os estudos incluídos neste trabalho identificamos semelhanças no
que se refere a população e amostra entre os artigos, o que facilita uma síntese sobre
o tema. Quanto ao nível de incapacidade e gravidade da DP, usou-se a escala de
Hoehn & Yahr, no qual foi observado que a maioria dos pacientes deste estudo
apresentou incapacidade leve a moderada, pois condiz ao grupo onde se é possível
ter maiores respostas aos estímulos, visto que possuem maior independência e
funcionalidade quando comparado ao estágio mais grave da escala.
Segundo Nombela et al. (6) através de estudos de neuroimagem, constatou
que a percepção auditiva do ritmo ativa as áreas motoras, pré-motoras suplementares,
gânglios da base e cerebelo, que são dependentes de neurônios dopaminérgicos.
Além disso, os gânglios da base, particularmente o putâmen, estão envolvidos com o
sequenciamento de eventos rítmicos, junto a isso, o cerebelo, controla a sincronização
rítmica auditivo-motora monitorando padrões rítmicos e ajustando o comportamento
às mudanças de andamento. Esse acoplamento sensório-motor, no qual a informação
auditiva conduz a ação motora, esclarece o funcionamento do cérebro de indivíduos
saudáveis e parece ser ineficaz em doenças neurodegenerativas como a DP.
Dessa forma, estímulo auditivo foi escolhido preferencialmente ao estímulo
visual e somatossensorial, por ter tempo de reação reduzido e pelo sistema auditivo
ter um forte viés para detectar padrões temporais de periodicidade e estrutura, isso
significa que tais padrões são fundamentais para movimentos essenciais e planejados
da caminhada e o estímulo acústico irá padronizar e compensar esse defeito,
regularizando assim o sistema motor. Nesse contexto, o som pode aumentar
diretamente a excitabilidade dos neurônios motores espinhais, reduzindo assim o
tempo necessário para que o músculo responda a um determinado comando motor.

Além da ativação do circuito cerebelo-tálamo-cortical, os marcadores acústicos


podem modificar a velocidade, cadência, comprimento da passada, conforme
observado pelo estudo de MH Thaut et all 1996 (11) e Thenille Braun et al. 2019 (12)
e Hirotaka Uchitomi et al. 2013 (13) , concluiu-se que indivíduos que participaram do
treinamento fisioterapêutico associado ao estímulo acústico auditivo melhoraram tais
variabilidades da marcha comparado com os indivíduos que fizeram a terapia sem
estímulo auditivo acústico. Essa melhora é proveniente do ritmo auditivo externo, ao
qual a cadência do passo se sincroniza durante a fase de treinamento, ajudando assim
a suprir os processos internos de desestabilização do tempo e formação do ritmo em
pacientes com DP.

Outro desfecho analisado pela presente revisão, foi o efeito do estímulo


acústico auditivo no congelamento dos pacientes com DP. O autor Hirotaka (13), relata
que ao realizar uma intervenção, inicialmente sem qualquer dispositivo, partindo para
feedback cruzado, que corresponde a resposta a dica realizada através do Walkmate.
Este dispositivo é um sistema interativo de estimulação auditiva, que compreende
sensores de pressão nos sapatos e um sistema de computador em tempo real que
usa osciladores não lineares para captar e se adaptar ao comportamento de um
indivíduo durante as fases da marcha. Diante disso, o sistema interativo não apenas
estabilizou a dinâmica da marcha de pacientes com DP, como diminuiu os episódios
de congelamento resultando em uma estrutura mais previsível, assim como concluído
em outros artigos citados.

Hsiu-Yun Chang et al (14) e Tamine TC Capato et al (15) tiveram resultados


semelhantes quanto a melhora referente ao estímulo acústico no efeito freezing em
pacientes com DP. Chang (14) mostrou que o Step In Place (SIP), utilizado como uma
intervenção para treinamento locomotor, repercute na excitabilidade cortical e
parâmetros da marcha. Segundo o autor, o treinamento SIP associado ao estímulo
auditivo melhorou a variabilidade do movimento dos membros inferiores e modulou a
excitabilidade cortical em pacientes com DP. Porém ao comparar os congeladores e
não congeladores, observou-se que os congeladores podem se beneficiar mais deste
treinamento, devido a ativação do córtex motor primário, associado a maior
estimulação da neuroplasticidade motora.

Ainda neste contexto, Tamine (15), separou 2 grupos distintos, realizando a


mesma intervenção, baseada em treinamento de marcha e equilíbrio, onde um grupo
recebeu treinamento com uso do RAS e o outro não utilizou nenhum dispositivo
associado. O grupo do RAS apresentou melhorias tanto imediatas ao programa de
treinamento quanto em 6 meses após o estudo, indicando ainda que a melhora
observada foi mantida a longo prazo, enquanto o grupo não RAS, não obteve
melhoras significativas. Embora todos os artigos apresentados mostraram melhora da
marcha funcional dos pacientes com DP após intervenção com RAS, a grande
variedade de dispositivos acústicos e plataformas que tracem a ritmicidade dificultam
a criação de um protocolo de tratamento padronizado.

Mesmo que o RAS seja uma intervenção inovadora e moderna, durante nossa
revisão de literatura observamos uma escassez de ensaios clínicos que comprovem
sua eficiência, além do baixo risco de viés dos artigos selecionados. Assim, isso nos
faz inferir que essa intervenção ainda é pouco conhecida e aplicada na prática clínica.
Por este motivo, este tema se fez relevante para apontar a eficácia desta intervenção.

CONCLUSÃO

Constata-se, com esta revisão sistemática, que a estimulação auditiva rítmica


é uma terapia eficiente no tratamento do desempenho do padrão da marcha funcional
em indivíduos com doença parkinson. Os resultados foram positivos quando
analisados sua resposta na melhora dos episódios de congelamento, aumento do
comprimento da passada, velocidade de caminhada e diminuição da variabilidade da
cadência durante a marcha funcional.

Apesar dos estudos selecionados apresentarem protocolos de tratamentos


diferentes, a aplicação de instrumentos utilizados em cada um deles, tornou possível
a comparação sobre a eficácia desse método nos parâmetros observados. Todavia,
são necessários mais ensaios clínicos de rigor e qualidade metodológica, para análise
comparativa da eficácia do método em todos os parâmetros da marcha, a curto e longo
prazo.

REFERÊNCIAS

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avaliando o efeito de um dispositivo de sinalização auditiva individual no
congelamento e na velocidade da marcha em pessoas com doença de
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Auditory Stimuli in Parkinson Disease: Effects in Freezers and Nonfreezers.
Physical Therapy, v. 100, n. 11, p. 2023–2034, 31 jul. 2020.

APÊNDICE

Apêndice 1

Descritores

Condição de saúde Intervenção Desfecho

Parkinson Ritmo Marcha

Doença de Parkinson com Velocidade de Distúrbios


corpos de lewy caminhada da Marcha Neurológicos

Doença de Parkinson Idiopática Velocidade da marcha Distúrbios Neurológicos da


Ambulação

Mal de Parkinson Walking Speed Distúrbios Neurológicos da


Deambulação

Paralisia Agitante Gait Speed Distúrbios Neurológicos


da Marcha

Parkinsonismo Primário Gait Speeds Transtornos Neurológicos


da Ambulação

Parkinson Disease Pace, Walking Transtornos Neurológicos


da Deambulação

Idiopathic Parkinson Disease Paces, Walking Ambulation Disorder,


Neurologic

Idiopathic Parkinson's Disease Speed, Gait Ambulation Disorders,


Neurologic

Lewy Body Parkinson Disease Speed, Walking Athetotic Gait


Lewy Body Parkinson’s Disease Speeds, Walking Broadened Gait

Paralysis Agitans Walking Pace Charcot Gait

Parkinson Disease, Idiopathic Walking Paces Charcot Gaits

Parkinson’s Disease Walking Speeds Charcot's Gait

Parkinson’s Disease Idiopathic Charcots Gait

Parkinson’s Disease, Lewy Body Drop Foot Gait

Parkinsonism, Primary Duck Gait

Primary Parkinsonism Festinating Gait

Enfermedad de Parkinson Foot Gait, Drop

Enfermedad de Parkinson con Frontal Gait


Cuerpos de Lewy

Enfermedad de Parkinson Gait Disorder, Neurologic


Idiopática

Parálisis Agitante Gait Disorder, Sensorimoto

Parkinsonismo Primário Gait Disorders,


Sensorimotor

Apêndice 2
Histórico de Busca

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