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PESQUISAS CIENTÍFICAS SOBRE EQUOTERAPIA

EXPLICAÇÃO DO MOTIVO DA JUNTADA DOS DOCUMENTOS

OBJETIVO DA PROVA: As pesquisas científicas anexas têm o objetivo de comprovar a


cientificidade e aplicabilidade da referida terapia para o quadro de Autismo
A equoterapia como estratégia de reabilitação em distúrbios neurológicos

Gardenia de Oliveira Barbosa


Mey de Abreu van Munster

A atividade assistida por cavalos é antiga na humanidade, referida na mitologia e


histórias antigas. No entanto, somente no século XIX, que a terapia com a utilização do
cavalo passou a ser utilizada para transtornos neurológicos e demais deficiências
(NERINO, et al., 2011).
A equoterapia objetiva auxiliar na melhora do funcionamento neurológico em
nível cognitivo, afetivo e motor (APEL, 2007) é uma estratégia terapeuta na qual o
movimento do cavalo promove alterações na postura, equilíbrio e função motora geral, e
têm sido utilizada a muito tempo para tratamento de pessoas com paralisia cerebral,
esclerose múltipla, traumatismo crânio encefálico, distrofia muscular, atraso no
desenvolvimento, deficiências sensoriais entre outras (BENDA, 2007).
Os ganhos por meio da equoterapia estão relacionados ao movimento
tridimensional produzido pelo cavalo ao passo, que são correspondentes aos
movimentos pélvicos durante a marcha humana; as variações do passo do cavalo
(antepistar, sobrepistar e transpistar), velocidade e direção estimulam respostas de
equilíbrio sobre o centro de gravidade do praticante facilitando a dinâmica de
estabilização postural e reorganização, após desorganização do sistema a cada
movimentação, sendo indicada para inibir posturas inadequadas e para melhorias em
todo o estado de saúde (BENDA, 2007; STERBA, 2007; NERINO, et al., 2011).
O cavalo como uma ferramenta de tratamento dinâmico e passível de
combinação de técnicas, é uma alternativa eficaz para distúrbios neurológicos. Rood
com a abordagem sensório motora desenvolvida em 1940, cujo principal objetivo é
ativar o movimento e a resposta postural em nível automático, enquanto seguem normas
seqüenciais de desenvolvimento, vai ao encontro da proposta equoterápica, pois vários
estímulos sensoriais simultâneos são desenvolvidos nas sessões de intervenção. Como
também os Bobaths com a abordagem do desenvolvimento neurológico desenvolvida
também em 1940, cujo objetivo principal era normalização do tônus, a fim de inibir
padrões inadequados ou reflexos primitivos e, facilitar reações automáticas como
resultado de movimentação adequada, onde para alcance dos objetivos faz-se necessário
intervenção cuidadosa e posicionamento adequado (MEREGILLANO, 2004).
A equoterapia proporciona um ambiente controlado capaz de fornecer base para
adequação do processamento sensorial e funcionamento neuromotor, ou seja, o
praticante emiti respostas adaptativas ao meio ambiente e aos movimentos do cavalo
podendo resultar em melhor adequação da função (MEREGILLANO, 2004).

O CAVALO NA REABILITAÇÃO

As alterações neurológicas podem levar a perda do controle motor seletivo,


evidenciar reflexos primitivos e alterar o tônus, os quais são evidenciados por
inadequação da postura, posicionamento e movimentação, como também pela
diminuição do equilíbrio. Tais alterações podem ser minimizadas pela equoterapia, pois
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esta atua de modo a influenciar na estabilidade de tronco, postura, mobilidade pélvica,
equilíbrio e conseqüentemente na marcha (MEREGILLANO, 2004). Os movimentos
realizados pelo cavalo promovem estímulos que aumentam a entrada sensorial para
vários sistemas do corpo, por exemplo, o sistema vestibular pode ser ainda mais
estimulado quando o praticante está em montaria invertida; a propriocepção pode ser
enfatizada quando praticante posiciona-se em quatro apoios sobre o cavalo; ênfase em
estímulo tátil quando praticante toca diferentes partes do cavalo, somando-se a
dissociação de tronco e equilíbrio proporcionados ao praticante com o cavalo ao passo;
e ênfase em estímulos olfativos e visuais por estar em contato com a natureza
(MEREGILLANO, 2004).
Durante a equoterapia os movimentos suaves e ritmados proporcionados pelo
cavalo facilitam e adequam a co-contração, estabilidade articular, deslocamento de
peso, respostas posturais e de equilíbrio, resultando em melhorias na função motora
grossa de pessoas com afecções neurológicas (STERBA, 2007; JANURA, et al., 2009).
O tônus também é influenciado pela movimentação do cavalo, quando um
praticante com espasticidade está em montaria (flexão de quadril, abdução e rotação
externa de membros inferiores) a redução da espasticidade pode ser atribuída a uma
inibição em decorrência da postura e, ao constante alongamento dos adutores por
estarem proporcionando entrada sensorial para o relaxamento do tônus durante toda
sessão, como também devido aos movimentos ritmicos do cavalo ao passo (mais
adequado cavalo que transpista) transmitidos a pelve e ao tronco do praticante
(MEREGILLANO,2004; LECHNER et al., 2007; MCGIBBON, et al., 2009); no
entanto, para praticantes com diminuição de tônus o cavalo que antepista fornece
estímulos sensoriais mais adequados (MEREGILLANO,2004).

ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO

Quando o praticante se adéqua a movimentação tridimensional e passa a sentar-


se simetricamente no dorso do cavalo, o terapeuta pode modificar cuidadosamente a
movimentação do cavalo e a posição corporal do praticante, a fim de proporcionar
maiores desafios e facilitar o desenvolvimento ou o refinamento de estratégias motoras
adequadas conforme a necessidade do praticante. Por meio da alteração da passada do
cavalo há a possibilidade de fornecer intensos estímulos vestibulares e proprioceptivos,
como também aumentar a consciência corporal, por meio dos pequenos e repetidos
ajustes posturais que o praticante deve realizar para manter-se sobre a linha média do
cavalo (MCGIBBON, et al., 2009).

Atividades sugeridas com praticante em montaria


- Mudanças de ritmo e direção do cavalo
- Aceleração e desaceleração do passo
- Alternância de posicionamento (supino, prono, quatro apoios)
- Transição de posicionamento com cavalo em movimento (de montaria para montaria
lateral, de montaria lateral para montaria invertida e assim sucessivamente)
- Fechar os olhos
- Rotação de tronco
- Utilização ou não dos estribos
- Posicionamento de cócoras sobre o cavalo
- Posicionamento em pé sobre o cavalo

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Além disso, diversos matérias podem ser utilizados para complementar a terapia
por meio do lúdico, como bolas, chapéus, figuras com velcro, argolas, livros, músicas e
os mais diversos brinquedos que possam ser utilizados na intervenção a fim de
proporcionar mais estímulos motores e/ou cognitivos dependendo do enfoque dado a
terapêutica e as necessidades do praticante.

EVIDÊNCIAS CIENTÍFICAS

Shurtleff, Standeven e Engsberg (2009), encontraram em seu estudo que


crianças com paralisia cerebral (PC) tiveram melhora significativa no controle de tronco
e equilíbrio sentado depois de sessões de equoterapia. McGibbon et al. (2009) no estudo
referente aos efeitos imediatos e de longo prazo da equoterapia na simetria da
musculatura adutora e capacidade funcional de crianças com PC espástica, encontrou
melhora na simetria da muscultura adutora gerando influência positiva sobre a marcha e
o equilíbrio, inferiu que tais ganhos foram devido aos movimentos ritmicos simétricos
do cavalo que proporcionou deslocamento do praticante da linha média e posterior
alinhamento. No estudo de Ha et al. (2010), verificaram que houve melhor controle
pélvico após intervenção de equoterapia o que culminou em melhora da marcha em
crianças com paralisia cerebral espástica.
Drnach et al. (2010) verificaram em seu estudo que a intervenção de cinco
semanas (uma vez por semana, por uma hora) de equoterapia proporcionou a uma
criança de 10 anos com PC, melhora nas categorias de ficar em pé, andar, correr e saltar
que requerem a utilização de múltiplos músculos posturais, equilíbrio e coordenação
motora; ganho do controle postural e fortalecimento muscular; atribuiu os benefícios
ao deslocamento do cavalo ao passo, pois grandes grupos musculares nos membros
inferiores e de tronco são recrutados proporcionando ao praticante deambulação mais
eficiente. Kwon et al. (2011) no estudo referente aos efeitos da equoterapia nos
parâmetros da marcha em crianças com paralisia cerebral espástica verificaram melhora
na velocidade e na cadência da passada. No estudo de revisão de Zadnikar e Kastrin
(2011) encontraram nos estudos analisados que ocorre melhora no controle postural e
no equilíbrio em crianças com PC, após intervenção com equoterapia.
Frank, McCloskey e Dole (2011) em seu estudo verificaram que no final de oito
semanas de intervenção, os praticantes com PC foram capazes de realizar montaria com
angulação adequada da pelve como também posicionamento de tronco com assistência
mínima do terapêuta, além disso o praticante demonstrou habilidade para manter o
controle postural nos momentos de parada e avanço da passada do cavalo, também com
assistência mínima; e de modo geral foi verificado melhoras nas habilidades motoras
grossas.
Além dos benefícios físicos, há uma forte conexão psicológica e emocional entre
cavalo e praticante, pois há grande motivação e alegria em estar montado e movendo-se
livremente em um animal poderoso, sem as restrições impostas pelos equipamentos
usuais de assistência, como também por poder olhar-se em uma atividade completa
proporcionando inúmeras percepções além das oferecidas quando está em cadeira de
rodas, por exemplo (BENDA, 2007).

CONCLUSÃO
Mediante ao que foi abordado verificamos que a equoterapia é uma ferramenta
eficaz na prática terapêutica em distúrbios neurológicos, sendo inúmeros os benefícios
físicos como a melhora da simetria muscular dos membros inferiores, nas habilidades

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motoras, no equilíbrio, na força muscular, na movimentação geral, na coordenação entre
região torácia e lombar do tronco, como também a harmonia entre tronco inferior do
praticante e a movimentação no dorso do cavalo quando este está se movimentando ao
passo (GRANADOS; AGIS, 2011). Além disso, é evidente a influência da equoterapia
em aspectos sociais, emocionais e afetivos. Desse modo, fica explicíto a adequabilidade
da equoterapia para pessoas com necessidades especias em decorrência de alterações
neurológicas.

REFERÊNCIAS

APEL, L. Hippotherapy and therapeutic riding highlight! Disponível em:


<http://www.eparent.com/EP MAGAZINE*> Acesso em: 04 nov. 2011.

BENDA, W. Hippotherapy and the significance of complementary and alternative


medicine: a Q&A with Willian Benda. Alternative and Complementary therapies, v.
13, n. 5, p. 266-268, 2007.

DRNACH, M.; O´BRIEN, P. A.; KREGER, A. The effects of a 5-week therapeutic


horseback riding program on gross motor function in a child with cerebral palsy: a case
study. The Journal of alternative and Complementary Medicine, v. 16, n. 9, p.
1003-1006, 2010.

FRANK, A.; MCCLOSKEY, S.; DOLE, R. L. Effect of hippotherapy on Perceived self-


competence and participation in a child with cerebral palsy. Pediatric Physical
Therapy, v. 23, n. 3, p. 301-308, 2011.

GRANADOS, A. C.; AGI´S, I. F. Why children with special needs feel better with
hippotherapy sessions: a conceptual rewiew. The Journal of Alternative and
Complementary Medicine, v. 17, n. 3, p. 191-197, 2011.

HA, Y.; KWON, J.; CHANG, H. J.; LEE, J. Y.; LEE, P. K. W.; KIM, Y. H. Effects of
hippotherapy on pelvic and hip kinematics in children with bilateral spastic cerebral
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56, 2010.

JANURA, M.; PEHAM, C.; DVORAKOVA, T.; ELFMARK, M. An assessment of the


pressure distribution exerted by a rider on the back of a horse during hippotherapy.
Human Movement Science, v. 28, n. 3, p. 387-393, 2009.

KWON, J.; CHANG, H. J.; LEE. J. Y.; HA, Y.; LEE, P. K.; KIM, Y. Effects of
hippotherapy on gait parameters in children with bilateral spastic cerebral palsy.
Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 92, n. 5, p. 774-779, 2011.

LECHNER, H. E.; KAKEBEEKE, T. H.; HEGEMANN, D.; BAUMBERGER, M. The


effect of hippotherapy on spasticity and on mental well-being of persons with spinal
cord injury. Archives of Physical Medicine and Rehabilitation, v. 88, n. 10, p. 1241-
1248, 2007.

MCGIBBON, N. H.; BENDA, N. H.; DUNCAN, B. R.; SILKWOOD-SHERER, D.


Immediate and long-term effects of hippotherapy on symmetry of adductor muscle

4
activity and functional ability in children with spastic cerebral palsy. Archives of
Physical Medicine and Rehabilitation, v. 90, n. 6, p. 966-974. 2009.

MEREGLIANO, G. Hippotherapy. Physical Medicine and Rehabilitation Clinics of


North America, v. 15, n. 4, p. 843-854, 2004.

NERINO, R.; BERTOLO, F.; GUIOT, C.; BERGERO, D.; CONTIN, L.; GARBIN, P.
WBSN for the assessment of the hippotherapy: a case study. International Conference
on Body Sensor Networks, p. 101-106, 2011.

SHURTLEFF, T. L.; STANDEVEN, J. W.; ENGSBERG, J. R. Changes in dynamic


trunk/head stability and functional reach after hippotherapy. Archives of Physical
Medicine and Rehabilitation, v. 90, n. 7, p. 1185-1195, 2009.

STERBA, J. A. Does horseback riding therapy or therapist-directed hippotherapy


rehabilitate children with cerebral palsy? Developmental Medicine & Child
Neurology, v. 49, n. 1, p. 68-73, 2007.

ZADNIKAR, M.; KASTRIN, A. Effects of hippotherapy and therapeutic horseback


riding on postural control or balance in children with cerebral palsy: a meta-analysis.
Developmental Medicine & Child neurology, v. 53, n. 8, p. 684-691, 2011.

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Centro Universitário de Brasília
Instituto CEUB de Pesquisa e Desenvolvimento - ICPD

RODRIGO MACIEL RAMOS

A EQUOTERAPIA E O BRINCAR – RELAÇÕES TRANSFERENCIAIS

NA EQUOTERAPIA E O CAVALO COMO OBJETO TRANSICIONAL

Brasília
2007
RODRIGO MACIEL RAMOS

A EQUOTERAPIA E O BRINCAR – RELAÇÕES TRANSFERENCIAIS

NA EQUOTERAPIA E O CAVALO COMO OBJETO TRANSICIONAL

Trabalho apresentado ao Centro


Universitário de Brasília
(UniCEUB/ICPD) como pré-requisito
para a obtenção de Certificado de
Conclusão de Curso de Pós-Graduação
Lato Sensu em Teorias Psicanalíticas.
Orientadora: Sandra Baccara

Brasília
2007
RESUMO

A Equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o


cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e
equitação, buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência.
No presente trabalho, é realizada uma discussão teórica sobre uma possível
vinculação entre as relações transferenciais na Equoterapia e o uso do cavalo como
objeto transicional. Buscou-se demonstrar que uma atitude contratransferencial
baseada em atitudes positivas – tais como aceitação incondicional, confiança e
alegria – leva a uma facilitação na criação de um vínculo positivo entre praticante e
terapeuta. Uma vez estabelecido esse vínculo, o terapeuta pode apresentar ao
praticante de Equoterapia, o cavalo como um objeto transicional. O cavalo tem
diversas características citadas por Winnicott como próprias de um objeto
transicional, tais como textura (a maciez de seu pêlo), calor e vitalidade, e que se
referem ao primeiro objeto relacional de um ser humano, o seio. A relação de um
praticante com o seu cavalo dá-se também na ordem do imaginário, onde esse
animal passa a ser dotado de poderes e atitudes mágicas, em uma zona fronteiriça
entre o mundo interno e o externo. Sendo a Equoterapia lúdica por natureza, tem-se
a possibilidade de explorar o cavalo como um objeto transicional e levar o praticante
através do brincar a desenvolver-se com plenitude. O brincar é uma forma
espontânea e eficaz para desenvolver-se, pois, brincando, faz-se algo, ou seja
externaliza-se o que é interno, e tem-se a oportunidade de adequar o mundo
imaginal ao real, fortalecendo o verdadeiro Self. A utilização do cavalo como objeto
transicional pode ser eficaz tanto para praticantes com grave comprometimento
fisico e mental pois, enriquece o arcabouço de experiências sensoriais, motoras,
afetivas e cognitivas através do brincar, como também para praticantes menos
comprometidos, e que podem vir a controlar de forma independente um cavalo, pois
passam de uma situação de um controle imaginário até uma efetiva ação de domínio
de um animal de aproximadamente 400 a 500 quilos, passando pelos diversos
programas de Equoterapia, a hipoterapia, a educação/reeducação, o pré-esportivo e
o hipismo adaptado. Isso torna o cavalo um objeto transicional perfeito. Uma criança
que brinca é mais saudável, bem como um adulto também, na Equoterapia existe a
possibilidade de um resgate da ludicidade humana ou até mesmo do aprendizado
dela, para aqueles que por diversos motivos não tiveram um objeto transicional em
sua infância. Essa discussão foi originada a partir de um trabalho vivencial com
Equoterapia, como psicólogo na equipe interdisciplinar no Centro Básico de
Equoterapia General Carracho, da ANDE-BRASIL (Associação Nacional de
Equoterapia), confrontado com as teorias psicanalíticas de Donald Woods Winnicott,
inglês, autor de diversos livros sobre psicanálise e desenvolvimento humano, o que
possibilitou um embasamento e um aprofundamento no estudo da Psicologia
aplicada à Equoterapia.

Palavras-chave: Equoterapia; Psicologia e Equoterapia; Relações


transferenciais na Equoterapia; o cavalo como objeto transicional.
ABSTRACT

The Therapeutic Riding is a therapeutical and educational method that


uses the horse with an interdisciplinary approach of the areas of health, education
and horsemanship to achieve an integral development for disabled persons.

This monograph is a theoretical discussion about the possible connection


between the transference and counter-transference in the Therapeutic Riding and the
use of the horse as a transitional object, with the purpose of reaching the
development of the patient based on playing activities.

This work tried to demonstrate the use of counter-transference – based


on positive attitudes: as unconditional acceptance, trust and joy – as a streamline
way to create a positive link between the therapist and the patient.

Once established that link, the horse can be used as a transitional object.
The horse has several features, as texture, warmness and vitality, in comprised in
the Winnicott theories, that indicates that the horse may be considered as a
transitional object. The relationship between the human being and horse occurs in
the imagination area too; the horse may be seeing with a magical power, in the
border area between the internal and external world. As the Therapeutic Riding is a
ludical therapy in essence, the playing activities that make possible this relationship
can be a very significant way of reaching and organizing the internal world, because
playing is doing, and when we do something, it becomes real, not being anymore
only an idea, amplifying the real Self. One practiser of Therapeutic Riding that can be
independent in riding a horse, controlling an 400, 500 kilos animal, passing for the
four modalities of horse therapy as hypotherapy, education/reeducation, pre-sportive
and adapted horsemanship, also uses the horse as a perfect transitional object,
passing trough a imaginary control for an effective control of the animal. One child, or
one adult who plays is more healthy, and the horse therapy is a effective way of
reaching a ludical way of life. This discussion is based on the work as psychologist of
Centro Básico de Equoterapia General Carracho, of ANDE-BRASIL, embased with
the theories of Donald Woods Winnicott, englishman, recognized author of diversal
books about human development.

Key-words: Therapeutic Riding; Psychology and Therapeutic Riding;


Transference and Counter-transference in Therapeutic Riding; The horse as a
transitional object.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................6

CAPÍTULO 1 - UMA BREVE APRESENTAÇÃO DA


EQUOTERAPIA.................................................................................................9

CAPÍTULO 2 - O USO DA ACEITAÇÃO INCONDICINAL, CONFIANÇA E


ALEGRIA NA CONTRATRANSFERÊNCIA EM
EQUOTERAPIA................................................................................................16

CAPÍTULO 3 - O CAVALO COMO OBJETO TRANSICIONAL E INSTRUMENTO


TERAPÊUTICO NUMA EQUOTERAPIA ATRAVÉS DO
BRINCAR..........................................................................................................26

CONCLUSÃO...................................................................................................41

REFERÊNCIAS................................................................................................44
INTRODUÇÃO

Essa monografia teórica é decorrente da minha experiência como

psicólogo do Centro Básico de Equoterapia General Carracho, filiado à ANDE-

BRASIL, localizado na Granja do Torto, em Brasília, e mais de cinco anos de

experiência com portadores de necessidades especiais, sendo então uma junção de

uma práxis que vem sendo realizada durante minhas atividades profissionais, com

um embasamento posterior adquirido no curso de pós-graduação lato-sensu de

Teoria Psicanalítica, no Uniceub, em Brasília. Minha formação é em Psicologia, pela

Universidade de Brasília, em Educação Física, pela Faculdade Alvorada, além de

uma formação em Psicologia Transpessoal pela Unipaz-DF.

Minha experiência e minha práxis encontraram respaldo teórico nas

teorias psicanalíticas de Donald Woods Winnicott. Escolhi para a realização dessa

monografia um debate teórico, a fim de realizar um embasamento teórico da minha

práxis com as teorias de um dos maiores psicanalistas conhecido. Uma

complementação desse trabalho através de estudos de casos, seria uma atitude

plausível, mas que necessitaria de uma metodologia e uma instrumentação

específica, além de um período maior para aprofundamento das questões aqui

levantadas. Neste sentido, esse trabalho pretende ser apenas uma base teórica de

um assunto que nunca será passível de esgotar-se, mas que me daria muito prazer

em aprofundar.

No presente trabalho pretende-se utilizar o conceito criado por Freud, da

Transferência e Contratransferência em processos terapêuticos, e posteriormente

desenvolvidos por Winnicott, numa tentativa de demonstrar como uma abordagem

baseada numa atitude contratransferencial de aceitação incondicional, confiança e


alegria, pode auxíliar para que a transferência seja melhor utilizada pelo terapeuta

no processo equoterápico, pois, estabelece um vínculo mais forte com o praticante

de equoterapia.

No processo terapêutico, a transferência está imbuída de diversos

fatores que remetem ao passado da pessoa, e que provocaram um déficit em seu

desenvolvimento, sendo uma oportunidade para um equoterapeuta atento atualizar

esse desenvolvimento estando em um lugar privilegiado, tendo o cavalo ao seu lado

como objeto transicional, podendo realizar o processo terapêutico de forma lúdica.

A contratransferência realizada com sentimentos positivos pode levar a

uma aquisição mais rápida da confiança na relação terapeuta-praticante de

Equoterapia, abrindo espaço para o uso do cavalo como instrumento terapêutico e

objeto transicional, na busca do desenvolvimento de portadores de necessidades

especiais, estabelecendo um padrão lúdico para a terapia, pois como revela

Winnicott (1975), o brincar é a melhor forma de terapia que existe.

Ao se fazer uso do cavalo como objeto transicional, da aceitação

incondicional e da alegria, o brincar só pode mesmo se tornar algo espontâneo e

portanto terapêutico.

No capitulo um, explica-se um pouco sobre o que é a Equoterapia, a

doutrina da instituição mantenedora no Brasil, a Associação Nacional de

Equoterapia (ANDE-BRASIL), os programas utilizados e o Centro Básico de

Equoterapia General Carracho (CBECG), situado no terreno da própria ANDE-

BRASIL, e local de atuação do autor.

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No capitulo dois, disserta-se como uma atitude contratransferencial

baseada em atitudes positivas tais como aceitação incondicional, alegria e confiança

podem levar a uma criação de vinculo de forma mais rápida e efetiva.

No capitulo três, coloca-se que uma vez tendo sido realizada essa

vinculação, essencial para o trabalho terapêutico, a atitude do terapeuta auxiliará o

praticante de Equoterapia a usar o cavalo como objeto transicional e realizar uma

atividade terapêutica lúdica através deste.

Por fim, temos a conclusão, onde realça-se que a Equoterapia pode

trazer benefícios variados para o desenvolvimento saudável do ser humano.

Cita-se para efeitos de pesquisa, que Donald Woods Winnicott (1896-

1971) é um renomado autor de livros sobre o desenvolvimento humano, tendo por

base a Psicanálise para suas teorias e sendo discípulo de Melanie Klein,

acrescentou alguns conceitos à Psicologia Moderna, como: mãe suficientemente

boa, verdadeiro e falso Self, o holding e o handling. Adquirindo o mérito de ter

direito à uma linha própria, dentro da Psicanálise, a winnicotiana.

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CAPÍTULO 1 - UMA BREVE APRESENTAÇÃO DA EQUOTERAPIA

No trabalho da Equoterapia não se fala em paciente, um termo originário

da medicina e, que além disso tem uma denotação pejorativa de que é aquele que

tem paciência.

Na Equoterapia se utiliza um termo mais adequado à realidade

equoterápica que é praticante, pois é alguém que pratica uma modalidade

terapêutica e educacional dinâmica, a Equoterapia. Nesse sentido, nesse trabalho,

apenas usaremos o termo praticante, ao invés de paciente, por ser esse um trabalho

desenvolvido dentro de um ambiente de Equoterapia.

1.1 O que é Equoterapia?

De acordo com a Associação Nacional de Equoterapia (ANDE-BRASIL)

a Equoterapia é um método terapêutico e educacional que utiliza o cavalo dentro de

uma abordagem interdisciplinar, nas áreas de saúde, educação e equitação,

buscando o desenvolvimento biopsicossocial de pessoas com deficiência e/ou com

necessidades especiais (CIRILLO, 2007).

Foi reconhecida como método terapêutico pelo Conselho Federal de

Medicina (CFM), em Sessão Plenária de 9 de abril de 1997, através do Parecer

06/97, e como método educacional pela Divisão de Ensino Especial da Secretaria de

Educação do Distrito Federal, instituição conveniada a ANDE-BRASIL, pois através

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de pesquisas realizadas se comprovou que ela favorece a alfabetização, a

socialização e o desenvolvimento global dos alunos portadores de necessidades

educativas especiais.

Atualmente tramita no Congresso Nacional, projeto de lei que visa

colocar a Equoterapia como método terapêutico atendido pelo SUS.

1.2 Quais os programas usados na Equoterapia?

Segundo a doutrina da ANDE-BRASIL (CIRILLO, 2007) são quatro os

programas básicos, a saber:

• Hipoterapia

• Educação/Reeducação

• Pré-esportivo

• Prática Esportiva Adaptada

a) hipoterapia

Primeiro programa da Equoterapia, usado geralmente por praticantes

com comprometimento físico ou mental maior, ou até mesmo alguém que não saiba

ou não queira conduzir o cavalo.

Nesse programa, o objetivo não é ensinar o praticante a conduzir o

cavalo, mas usá-lo como instrumento cinesioterapêutico para melhoria das suas

condições físicas e/ou como objeto transicional para seu desenvolvimento pessoal,

seja psicológico, psicomotor, educacional ou da fala.

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Necessita de um auxiliar-guia, para conduzir o cavalo. Na maioria dos

casos, também de dois terapeutas ou um terapeuta e um auxiliar - lateral, um de

cada lado do cavalo, para mantê-lo montado, dando-lhe segurança.

b) educação/reeducação

Neste programa, o praticante começa a exercer alguma atuação sobre o

cavalo e conduzi-lo, dependendo em menor grau do auxiliar-guia e do auxiliar -

lateral ou terapeuta. O profissional de equitação passa a atuar como um instrutor,

ensinando os primeiros passos na condução do cavalo, sendo este utilizado como

auxiliar no ensino de portadores de necessidades educacionais, ou na recuperação

de pessoas com algum tipo de lesão desabilitadora ou doença degenerativa.

O cavalo, ainda atua como um objeto transicional e os terapeutas podem

tirar muito beneficio disso, através de brincadeiras e jogos educativos.

c) pré-esportivo

O praticante tem boas condições para atuar e conduzir o cavalo,

embora não pratique equitação, mas já está com uma boa autonomia na condução

deste, podendo participar de pequenos exercícios específicos de hipismo.

A ação do profissional de equitação é mais intensa, já que o objetivo a ser

alcançado nesse programa é que o praticante conduza de forma independente o

cavalo, necessitando, contudo, da orientação dos profissionais das áreas de saúde e

educação, já que possíveis dificuldades e conflitos ainda podem, e provavelmente

estão presentes.

O praticante exerce maior influência sobre o cavalo.

11
d) d) prática esportiva adaptada

A ANDE-BRASIL (CIRILLO, 2007) incluiu o hipismo adaptado como parte

deste programa, sendo favorável que seja conduzido por uma Associação Nacional

Especial que venha a regulamentar esta prática no Brasil:

• Este programa, também é aplicado nas áreas de reabilitação e educação;

• A ação do profissional de equitação é mais intensa, necessitando, contudo,

da orientação dos profissionais das áreas de saúde e educação; e

• Visa não só à inserção social, mas também ao prazer pela prática

esportiva, melhoria da qualidade de vida, bem estar e auto-afirmação.

1.3 Quem são os praticantes, a quem se destina a equoterapia?

A prática da Equoterapia busca benefícios físicos, psíquicos,

educacionais e sociais de pessoas com deficiências físicas ou mentais e/ou com

necessidades especiais, tais como (CIRILLO, 2007):

• lesões neuromotoras de origem encefálica ou medular;

• patologias ortopédicas congênitas ou adquiridas por acidentes diversos;

• disfunções sensório-motoras.

• necessidades educativas especiais;

• distúrbios:

- evolutivos;

- comportamentais;

- de aprendizagem;

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- emocionais.

1.4 - A Associação Nacional de Equoterapia (Ande-Brasil)

É uma sociedade civil, de caráter filantrópico, terapêutico, educativo,

cultural, desportivo e assistencial, sem fins lucrativos, com atuação em todo o

território nacional, tendo sede e foro em Brasília – Distrito Federal.

É uma entidade de consultoria técnica em Equoterapia da Sociedade

Brasileira de Medicina Física e de Reabilitação.

Foi criada em 10 de maio de 1989 e como entidade mantenedora da

Equoterapia no Brasil tem por objetivo evitar que a Equoterapia prolifere de forma

desordenada, zelando pela sua normatização , ordenação e controle em âmbito

nacional das entidades conveniadas e, até mesmo, o reconhecimento técnico-

científico dos benefícios decorrentes deste método, pelas autoridades

governamentais das áreas de saúde e educação (CIRILLO, 2007).

São ofertados três tipos de cursos pela ANDE-BRASIL, um curso básico

de Equoterapia, para profissionais formados sendo pré-requisito para se trabalhar

com Equoterapia no Brasil em um centro filiado. Um curso avançado, para

profissionais experientes que buscam um maior aprofundamento na área,

reciclagem e intercâmbio de idéias, e um curso de equitação para Equoterapia,

visando a formação de equitadores aptos a trabalhar com Equoterapia.

13
A ANDE-BRASIL preconiza que para a filiação de um centro de

Equoterapia, existam pelo menos três profissionais habilitados, um fisioterapeuta,

um equitador e um psicólogo.

No entanto, diversos profissionais podem estar envolvidos, como, terapeuta

ocupacional, pedagogo, médico, assistente social, fisioterapeuta, fonoaudiólogo,

educador físico, professores de arte, psicopedagogos, etc, atuando como

equoterapeutas ou prestando contribuição em sua área.

1.5 Centro Básico de Equoterapia General Carracho (CBECG)

O Centro Básico de Equoterapia General Carracho (CBECG), é a

unidade onde são realizadas as atividades equoterápicas dentro do espaço da

ANDE-BRASIL.

Atuando no CBEGC há uma equipe multidisciplinar com atuação

interdisciplinar composta por profissionais diversos, tais, como, educadores físicos,

pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, equitadores, fisioterapeutas e professores

de arte, há ainda a orientação de um médico e de veterinários.

A maior parte dos terapeutas estão cedidos em convênio pela Secretaria

de Educação, há um fisioterapeuta cedido pelo Exército e uma fonoaudióloga

contratada. Esses terapeutas compõem a equipe técnica do CBEGC, essa equipe é

didata em cursos ofertados pela ANDE-BRASIL, em diversas localidades do Brasil,

mas principalmente em sua sede, na Granja do Torto, em Brasília.

14
No CBEGC da ANDE-BRASIL, o atendimento é realizado gratuitamente,

em média são atendidos por ano 90 praticantes.

O terreno da ANDE-BRASIL, onde são realizadas as atividades

equoterápicas possui mais de 100mil metros quadrados, diversos picadeiros

cobertos ou não, pistas de terra e de asfalto, um lago artificial, uma equovia, além de

muitas áreas verdes, o que possibilita ao praticante o benefício do contato com a

Natureza.

15
CAPÍTULO 2 - O USO DA ACEITAÇÃO INCONDICIONAL,

CONFIANÇA E ALEGRIA E CONTRATRANSFERÊNCIA NA

EQUOTERAPIA

A transferência e a contratransferência são dois postulados teóricos de

Freud, advindos do desenvolvimento de sua teoria psicanalítica. A transferência é

relativa a todas as formas de relacionamentos humanos, sejam interpessoais e até

de pessoa à animal ou planta. Já a compreensão da contratransferência se dá a

partir da observação de que a atitude do terapeuta perante o praticante influi no

tratamento (FREUD apud ABREU, 1995). Para a psicanálise e algumas formas de

psicoterapias, a transferência e a contratransferência servem como instrumento

terapêutico.

Freud (1912) sinalizou o caminho, de que a relação entre praticante-

terapeuta é dual, e deu o nome de transferência e contratransferência, fez diversas

referencias à transferência, mas não se aprofundou na contratransferência, sendo

raros os textos em que comenta essa questão, deixando amplo espaço para

pesquisa posterior. Ferenczi (apud ROUDINESCO, 1998) também observou o

fenômeno transferencial ocorrido entre paciente e médico, professor e aluno, e em

todas as relações desde 1909, e posteriormente contrariando Freud, sugeriu que

havia uma relação de mão dupla entre as duas partes, cada um transferindo ao

outro conteúdos subjetivos (LAPLANCHE, 2001), nunca chegando a considerar que

a “contratransferência pudesse ser utilizada de maneira dinâmica no desenrolar do

tratamento” (LAPLANCHE, 2001).

16
Foi a partir de Klein, com a teorização da identificação projetiva e suas

funções, que se tornou possível a utilização dos próprios sentimentos para analisar o

sentimentos do praticante Andrade (1996). Embora Klein, não dedicasse nenhuma

elaboração teórica especificamente falando da contratransferência, seus discípulos

se aprofundaram em pesquisas (LAPLANCHE, 2001).

Entre eles, destaca-se a figura de Winnicott, observando que a

contratransferência é mais do que as respostas do terapeuta em relação à

transferência do analisando (praticante).

Para Winnicott (1975), transferência e contratransferência não podem

ser diferenciados um do outro, pois, fazem parte de uma mesma relação entre

praticante e terapeuta.

Situações do passado da vida do praticante podem estar atuando no

presente, isso é o principio básico de qualquer terapia de cunho analítico, e gerando

reflexos na relação transferencial entre praticante e terapeuta, cabendo ao terapeuta

realizar o manejo dessa relação para o bem do praticante (CORRÊIA, 1995).

Certamente a ótica do praticante, a forma como ele enxerga o mundo tem profundas

raízes em suas experiências, e pode ter gerado um padrão de comportamento,

cabendo ao terapeuta além de tomar conta de sua própria lente, limpando-a com

freqüência, manejar as relações transferências para o benefício do processo de

desenvolvimento do praticante.

É difícil chegar a um consenso de um conceito para transferência e

contratransferência, devido a diversidade de olhares que cada linha da psicanálise

ou da psicologia refletiu a respeito desses fenômenos. As escolas decorrentes do

17
freudismo divergem com relação “a seu lugar no tratamento, seu manejo pelo

analista e o momento e os meios de dissociação” (ROUDINESCO, 1998, p.767).

De certo modo, para efeitos terapêuticos se considera que a

transferência é o fenômeno no qual o praticante revive com o terapeuta, situações

ligadas às suas experiências anteriores, podendo o terapeuta, apreciar e apreender

e portanto “trabalhar” os elementos dos conflitos do praticante, podendo estar

ligados à situações de sua infância, remanescências de atitudes para com os pais.

Muito embora, algumas situações transferidas não tenham realmente

ocorrido, mas nem por isso se perde a relevância da transferência, pois, se

considera válido o realismo psíquico, ou seja, para a mente não importa se o fato

ocorreu ou não, mas sim, se ela acredita nisso (LAPLANCHE, 2001).

E para esse trabalho considera-se que a contra-transferência é a

contrapartida do terapeuta, revivendo e projetando, experiências anteriores em seu

praticante, mas acima de tudo podendo compreender a emoção do praticante a

partir da compreensão de suas próprias experiências, seguindo a visão winnicottiana

que irá embasar a criação e utilidade terapêutica do objeto transicional, como a

transferência como uma repetição do vinculo materno (ROUDINESCO, 1998).

Para Abreu (1995), uma atitude de abertura, de escuta ao outro, além de

ajudar a criar um vínculo mais bem estabelecido, faz com que a contratransferência

seja mais positiva. Essa atitude do terapeuta evita que pensamentos pré-concebidos

atuem durante a sessão, permitindo ao paciente confiar mais no terapeuta, pois nota

um interesse sincero, sente-se acolhido e ouvido.

18
As relações transferenciais são um interjogo de subjetividades (ABREU,

1995) na qual a atitude do terapeuta influencia diretamente a atuação do praticante.

Para Andrade (1996, p.825) a influência da personalidade do analista sobre o

praticante é de grande importância.

Devo esclarecer, para melhor compreensão do que quero mostrar no


material clínico, que trabalho com o conceito de contratransferência tanto
como uma reação do analista(terapeuta) à transferência do paciente
(praticante), quanto com seus próprios sentimentos em relação ao
paciente(praticante). E considero, também, que a contratransferência
possa vir a ser motivada por pontos cegos do analista (terapeuta) que no
entanto podem vir a ser compreendidos e utilizados para a evolução do
processo analítico. Penso que em todo encontro analítico ocorrem
manifestações transferenciais e contratransferenciais, cabendo ao analista
(terapeuta) utilizá-las para compreender seu paciente (praticante), bem
como o desenvolvimento do processo analítico em curso.

Ao ser colocada a palavra processo analítico, não se deve levar em

consideração apenas aquilo que é realizado por um psicanalista, mas por todo

terapeuta que em seu processo terapêutico se utiliza de um processo racional de

saber.

Na citação acima, fica claro, que as relações transferenciais podem e

devem ser analisadas pelo terapeuta, de forma a auxiliar o avanço terapêutico do

praticante, sendo ela manejada de forma consciente e responsável pelo terapeuta,

conhecedor de sua existência, e visando gerar uma melhora da saúde do praticante.

Ainda cita-se o psicanalista Meurer (1996, p.840): “analista algum pode

funcionar em condições de absoluta neutralidade ou ‘assepsia’; de um modo ou de

outro, ele se contagia com certas emoções e conflitos”

Numa relação transferencial segundo ele, o praticante revivencia com

seu terapeuta uma experiência objetal de sua infância, com os seus primeiros

19
objetos (seio, mãe, pai, irmãos). E “Por isso mesmo, a transferência encerra e recria

basicamente as mesmas ansiedades, impulsos, mecanismos de defesa e fantasias

inconscientes” (MEURER, 1996, p.840), de tal forma que através deste processo ele

possa reestruturar suas emoções e representações relativas à essas experiências.

Rapidamente o praticante transfere para o terapeuta a função de pai,

mãe, ficando aqui, claro, o cuidado que o terapeuta tem de ter ao fazer o manejo da

relação transferencial, sempre levando em conta os interesses do praticante, de

forma a auxiliar no seu desenvolvimento.

Ao terapeuta, o caminho terapêutico fornecido pelas relações

transferenciais consiste em abrir a escuta, deixar que o paciente seja ele mesmo,

somente assim poderão aparecer personificações obscuras, disfarçadas ou visíveis,

de imagos hostis ou amorosas (MEURER, 1996), devendo o terapeuta permanecer

atento e apto à captá-las.

Para que, isso se torne uma possibilidade, e mais, para que essa

possibilidade seja potencializada, o terapeuta deve adotar em relação a seu

praticante uma atitude de aceitação incondicional, uma tentativa de agir sem

julgamento, numa ampla tentativa de permitir ao praticante que se exponha, pois

será sempre acolhido em qualquer circunstância, a escuta estará presente, numa

atitude que pode ser chamada também de amor incondicional.

O terapeuta ao se portar de modo a ter uma aceitação incondicional do

praticante, passa a mensagem de que não importa como o praticante é, qual sua

deficiência, sua dificuldade, como é sua auto-estima, o grau de sentimento de culpa

que possui, pois, ele tem ali um amigo que o aceitará da forma como ele é, ou

20
melhor, dois, o cavalo também não faz distinção entre pessoas com ou sem

diagnóstico, portadores ou não de necessidades especiais.

Essa postura do terapeuta seduz o praticante, o faz se interessar mais

pela terapia, o leva a confiar mais no terapeuta e consequentemente mais no cavalo

também. Criando um vínculo mais forte, é mais fácil o manejo a transferência para o

auxílio do desenvolvimento físico, motor, cognitivo e afetivo do praticante.

Se por um lado, a aceitação incondicional pode trazer benefícios ao

processo terapêutico, cabe aqui se perguntar, o que o terapeuta pode fazer com o

seu ódio então, já que com certeza ele não pode ser varrido para debaixo do tapete.

Se torna necessário uma vigília constante acerca de si mesmo, por

parte do terapeuta, pois atrás de um sorriso amigável e de uma intenção amorosa

pode estar camuflado um sentimento de ódio, não percebido pela consciência. Ter

consciência de que um possível ódio por seus praticantes está latente é a melhor

atitude para o terapeuta (WINNICOTT, 1947).

Cabe aqui ressaltar também que uma atitude de aceitação incondicional

não implica em que o terapeuta deixará o praticante fazer o que bem entender,

como bater no cavalo, no terapeuta, puxar a crina, etc. O uso do não, não é proibido

em casos de comportamentos inadequados e a aceitação incondicional não implica

em uma inexistência de limites.

O praticante é aceito como ele é, mas é levado a entender que existem

regras que têm de ser cumpridas. A diferença é que um terapeuta ao repreender um

praticante por uma atitude inadequada, agindo com aceitação incondicional e

consciente de um possível ódio atuante, toma uma atitude corretiva mas, deixa claro

21
que a sua reprimenda está relacionada ao comportamento inadequado e não à

pessoa do praticante.

Na relação transferencial sempre ocorrem movimentações recíprocas,

de ódio e de amor, mas cabe ao terapeuta manter a distância necessária para

observar essa relação (LEVISKY, 1995). Isso tem um interesse maior ainda por

colocar a terapia como processo evolutivo tanto para praticante quanto para o

terapeuta, pois, conflitos mal resolvidos do terapeuta também poderão aparecer.

Dentro da Equoterapia, onde se trabalha com portadores de

necessidades especiais, a pessoa do terapeuta pode ser alvo de inúmeras

simbolizações de um imago excluído. Não é preciso dizer aqui como o portador de

necessidades especiais é excluído pela sociedade. O terapeuta recebe como carga

uma transferência de alguém, geralmente, considerado inferior, coitado, feio, inútil.

Se abrir para essa realidade transferencial exige bastante da saúde mental e do

auto-conhecimento do terapeuta, mas também, uma vez que se entregue, e viva

com franqueza essa relação, abre-se espaço para um amplo desenvolvimento

pessoal.

Marcel Mauss (1950), em seu Ensaio sobre a dádiva, traz uma

contribuição nesse sentido, ao postular dentro da antropologia, o paradigma da

dádiva e a vantagem de se tomar uma atitude de aceitação incondicional.

Cabe aqui uma breve apresentação desse brilhante cientista. Mauss, foi

um antropólogo, que deveria, pelo ineditismo e importância de seu trabalho, ser

conhecido como um dos grandes antropólogos ao lado de Malinowski e Levi-

Strauss, tendo sido contemporrâneo deste último (CAILLE, 1998). O fato de seu

trabalho não ter tido a divulgação que merecia na época pode ter se dado pelo

22
zeitgeist do século passado (o século XX foi o século da competitividade, enquanto

ele falava sobre um sistema de cooperatividade).

O paradigma da dádiva estudado por Mauss (1950), provém,

resumidamente, de um estudo realizado em diversas tribos primitivas, onde foi

observado que, quando um membro de uma tribo dava algo a alguém de outra tribo,

isso obrigava este a receber o presente, e consequentemente a retribuí-lo, uma vez

que, se houvesse uma recusa na recepção do presente, estava se dizendo que essa

pessoa não era bem-vista ou desejada, isso significava guerra.

Da necessidade de se unir ou de se enfrentar, surge então a tendência

do ser, de aceitar o outro, dialogar, exercer comércio ou então de guerrear.

Para Mauss (1950), ao se dar algo a alguém, isso exige que ele dê outra

coisa de igual valor ou superior em troca, senão será considerado inferior, essa

retribuição tende a ser mais importante ainda se a dádiva for ofertada sem intenção

de receber nada em troca.

Em todas as sociedades imediatamente anteriores às nossas e que ainda


nos rodeiam, e mesmo em numerosos usos da nossa moralidade popular,
não existe o meio termo: confiar-se inteiramente ou desconfiar inteiramente
(MAUSS, 1950,p.195).

Trazendo isso para o ambiente equoterápico, cabe ao terapeuta efetuar

o primeiro passo, de aceitação incondicional, ofertar sua confiança ao praticante,

implicando que ele estará imediatamente convidado a fazer o mesmo, aceitar e se

entregar incondicionalmente à figura do terapeuta e à terapia.

Evidente que o terapeuta tem ao seu lado um fator fortíssimo de

convencimento, o cavalo, instrumento terapêutico e objeto transicional, que só pode

ser montado, na Equoterapia, com a autorização deste.

23
O praticante, então, não tem opção, se quiser ter acesso ao cavalo, tem

de ser amigo do terapeuta, pois os dois estão interligados. Para ser amigo do

terapeuta, tem de aceitar a confiança deste e ofertar a sua também.

Geralmente funciona muito bem, pois são raros os casos em que o

cavalo não exerce seu poder de sedução.

O cavalo por si só, já faz o trabalho de aceitação incondicional, ao se

deixar ser montado, utilizado, não julga quem o está montando por sua aparência

física, mas mais pelas suas habilidades de equitador. É sabido que um cavalo pode

jogar um cavaleiro inapto ao chão se sentir que esse não o domina, mas que é

dominado por ele.

Para a Equoterapia, principalmente nas modalidades de hipoterapia e

educação eqüestre, são utilizados animais mansos, que aceitam bem a montaria.

A aceitação incondicional ofertada pelo terapeuta ainda traz outro

benefício, a quebra de um ciclo negativo de sedução que o praticante pode e

provavelmente está trazendo de seu círculo familiar, já que a criança desde que

nasce é sujeitada a uma série de manipulações que nada tem a ver com o amor

incondicional.

Para se ganhar um presente, se dá um beijo ou abraço, ao se comportar

“bem”, ganha-se em troca alguma outra coisa de seu interesse. Ao entrar na escola,

aprende a trocar “bom” comportamento por notas e mais tarde vai trocar força de

trabalho por outras notas (CREMA, 1995).

Ao se aceitar incondicionalmente a pessoa como ela é, quebra-se esse

ciclo, trazendo à tona outro ciclo, muito mais saudável, onde “eu oferto algo à você

24
(minha confiança), e espontaneamente você, me oferta algo em troca (sua

confiança), simplesmente porque eu gosto de você (aceitação incondicional) e vou

continuar gostando de você mesmo que não me dê nada em troca”. E isso é algo

que vai em desencontro a tudo que temos visto em nossa sociedade.

Cessando o conflito, a resistência cede e o processo terapêutico pode

seguir com maior fluidez. Isso condiz com que Carl Rogers (1977, p. 63) propunha

ao papel de terapeuta em sua escola:

O terapeuta é a pessoa autêntica que realmente compreende as vacilações


e fraquezas do cliente e as aceita sem tentar negar ou corrigí-las. Aceita,
preza e valoriza o indivíduo todo, dando-lhe incondicionalmente, a
segurança e a estabilidade no relacionamento de que ele precisa para
correr o risco de explorar novos sentimentos, atitudes e condutas. O
terapeuta respeita a pessoa como ela é, com seus anseios e medos,
portanto, não lhe impõe critérios de como ela deve ser. Acompanha-o no
caminho que ela própria constrói, e participa, como elemento presente e
ativo, deste processo de autocriação, facilitando a percepção, a cada
instante, dos recursos pessoais e dos rumos deste caminho, tais como a
pessoa os vivencia.

Na Equoterapia, o terapeuta também é um mediador, pois ele media a

interação do praticante com o cavalo, acompanhando-o em seu processo evolutivo

para que benefícios psíquicos, cognitivos e físicos que se alcançam ali se estendam

para outras áreas da sua vida.

Ele é um mediador da relação praticante-cavalo, não só por auxiliar o

praticante a confiar nele e no cavalo, através do manejo das relações

transferenciais, mas também por mediar as relações transferenciais, a interação e a

confiança entre praticante e guia, participante do processo também. Esse manejo

serve para a criação do vínculo e da confiança do praticante na terapia.

25
Mas mais do que isso, o manejo deve continuar durante o resto do

tratamento, já que para o praticante o cavalo é um objeto transicional, situação

riquíssima de possibilidades terapêuticas.

26
CAPÍTULO 3 - O CAVALO COMO OBJETO TRANSICIONAL E

INSTRUMENTO TERAPÊUTICO NUMA EQUOTERAPIA ATRAVÉS

DO BRINCAR

O vínculo enraizado com a aceitação incondicional, com o terapeuta

atuando com alegria, traz para a terapia um caráter lúdico excepcional, pois a

atividade é realizada em cima de um cavalo, um agente lúdico, vivo, um objeto

transicional peculiar, um convite para uma brincadeira, com benefícios terapêuticos

diversos.

Um desses benefícios, bem conhecido se refere à melhoria da parte

física e motora, do praticante, pois o cavalo ao mover-se, força o cavaleiro a realizar

ajustes tônicos, equilibrando-se a cada passo que o cavalo executa. Cada passo do

cavalo força o cavaleiro a realizar de 1 a 1,25 movimentos por segundo. Em um

trabalho padrão de Equoterapia, que dura cerca de trinta minutos, o cavaleiro terá

executado, então, de 1800 a 2250 ajustes tônicos posturais (ANDE-BRASIL, 2002).

Ela permite através do movimento do cavalo uma repetição de

movimentos sem, no entanto tornar-se uma atividade monótona, pelo contrário, é

divertido andar à cavalo. Deve-se dizer que dentro do campo da reabilitação física é

raro encontrar um método terapêutico que tenha essa característica.

Sabe-se ainda que os ajustes tônicos realizados através do movimento

tridimensional, frente-trás, direita-esquerda e cima-baixo, são equivalentes ao do

caminhar humano (ANDE-BRASIL, 2002).

27
Imagine isso, na reabilitação de uma pessoa com algum tipo de paralisia

ou paresia que o impeça parcialmente ou totalmente de andar. Ou para o

fortalecimento muscular de pessoas hipotônicas através de um exercício que mais

parece uma brincadeira.

Cita-se aqui, a tentativa de Charles S.Castel, abade de St. Pierre em

1734 e Samuel T. Quelmaz, médico alemão, em 1747 , provavelmente decorrente

do pensamento mecanicista da Ciência Cartesiana, de se construir uma máquina

que imitasse o movimento do cavalo, com a vantagem de ser economicamente mais

viável, mais seguro e num ambiente controlado, mas não se obteve sucesso com tal

empreitada. Esclarece-se que os efeitos benéficos da equitação já são conhecidos

há milênios, Hipócrates de Loo (458-370 a.C) já aconselhava a equitação em seu

Livro das Dietas (apud ANDE-BRASIL, 2002), para regenerar a saúde e preservar o

corpo humano de muitas doenças (ANDE-BRASIL, 2002)

O cavalo, apesar de apresentar um custo maior e maiores riscos que

uma máquina não foi e nem será superado por ela como instrumento terapêutico,

por aliar as suas qualidades cinesioterapêuticas com o fato de ser um objeto

transicional.

Para o presente trabalho, pretendemos estudar o uso do cavalo como

objeto transicional.

Para Winnicott (1975), o objeto transicional faz referência à primeira

relação do bebê com um objeto, geralmente o seio, não sendo nem um objeto

interno, nem um objeto externo, mas a ilusão que o bebê cria da sua relação com

ele, se assim for permitido por uma mãe suficientemente boa, que possibilita ao

bebê acreditar que o que ele criou realmente existe.

28
Se, no início essa fantasia surge do seio, os objetos transicionais

posteriores serão uma referência a ele, sugerindo-se um objeto pelo qual a criança

tem particular afeição, como um urso de pelúcia, uma fralda, o dedo, e que age

como um acalmador, um tranqüilizador, algo que produz satisfação ou prazer.

A Psicanálise de um modo geral estudou bastante a estimulação da

zona erógena oral, através do seio, e posteriormente dos dedos, punhos, chupeta,

entre outros, e como depois a zona erógena passa a ser mais catexizada em outras

áreas do corpo, dando origem à fase anal e à fase fálica, e também, é sabido que a

maioria dos bebês acaba por desenvolver uma espécie de relação especial com

algum objeto, seja um boneco, um bichinho de pelúcia, uma fralda, etc. Para

Winnicott (1988), haveria uma relação direta entre esses dois conjuntos de

fenômenos, fator que não havia sido estudado por outros pesquisadores

psicanalíticos.

A eles deu o nome de fenômenos transicionais e ao objeto escolhido

chamou de objeto transicional, como algo que não é o seio da mãe, mas que remete

à ele, e que serve de suporte emocional em substituição à ela, proporcionando-lhe

tranqüilidade, acalmando-lhe como citado acima,e agindo como uma defesa contra a

ansiedade.

Em alguns casos, durante o desenvolvimento da pessoa pode não ter

existido um objeto transicional, o que pode ser algo extremamente prejudicial,

impossibilitando um desenvolvimento normal.

O termo fenômenos transicionais se refere ao uso que é dado à esses

objetos que permanecem num estado fronteiriço, do não-eu, mas que também não é

reconhecido como um objeto interno. Winnicott (1975) sugere que os padrões dos

29
fenômenos transicionais surgem por volta dos quatro e seis aos oito e doze meses

de idade.

No entanto, esses padrões podem ressurgir a qualquer momento da

vida, e uma psicoterapia, para atingir seus objetivos acaba acessando em algum

momento um padrão de fenômeno transicional, que ao ser trabalhado pode auxiliar

no desenvolvimento do praticante.

O objeto transicional e os fenômenos transicionais constituem uma área

intermediária de experiência do bebê que se bem processada, e adaptada às

exigências da realidade no adulto, no que concerne ao compartilhamento do que

Ser, trará como resultado alguém que pode desenvolver atividades como “arte,

religião, ao viver imaginativo e ao trabalho cientifico criador” (WINNICOTT, 1988,

p.407), possibilitando uma ponte entre o que é subjetivo, e o que pode ser percebido

objetivamente.

Para Winnicott (1988), o fato de um cobertor, por exemplo, não ser o

seio da mãe, mas representar o seio, inaugura a capacidade do bebê de lidar com o

simbolismo, já que o bebê sabe que o cobertor não é o seio da mãe, sendo capaz de

distinguir fantasia e fato. Isso é primordial para o desenvolvimento saudável do Ser,

já que somente através do simbolismo será possível estabelecer uma comunicação,

uma exploração com o nosso inconsciente.

Essa experiência, dos fenômenos transicionais, só pode ser inaugurada

através de uma mãe que permita a seu filho que crie um objeto transicional,

adaptando-se às exigências que essa criança tem em seus primórdios de vida,

numa fase onde é completamente dependente, só trará benefícios futuros e um

30
desenvolvimento saudável, se essa mãe também permitir-se ir se adaptando cada

vez menos ás necessidades de seu filho.

Permitindo a ele, um contato cada vez maior com a realidade, e

descatexizando o objeto transicional, que não deverá ser pranteado, mas

sumamente esquecido, tendo cumprido o seu papel (WINNICOTT, 1988).

Na equoterapia, o cavalo pode agir como um objeto transicional a ser

trabalhado pelo terapeuta, por ter algumas características que remetem aos

primeiros objetos geralmente escolhidos pelos bebês.

O cavalo possui o corpo todo recoberto de pêlos, apresentando textura,

a exemplo dos bichinhos de pelúcia. Ele é macio e quentinho, como um seio, uma

fralda, ou um bicho de pelúcia. Ainda, possui vitalidade e se movimenta, que são

mais duas qualidades procuradas para um objeto transicional segundo Winnicott

(1975).

O cavalo pode carregar uma pessoa em seu dorso, montada, o que é

mais um facilitador para ser escolhido como um objeto transicional. E ao caminhar, o

cavalo produz um embalo no cavaleiro, que pode ser assemelhado ao holding,

acalmando o praticante a exemplo do que sua mãe fazia quando era apenas um

bebê, ou em alguns casos ainda faz, porque indica-se a equoterapia para pessoas a

partir de três anos de idade.

Na criação de um vínculo entre o praticante e o cavalo, sendo esse o

objeto transicional, o terapeuta pode agir como um facilitador, a exemplo de como

age uma mãe ao deixar um bebê “criar” um seio.

31
O terapeuta pode facilitar o encantamento do praticante pelo cavalo,

permitindo a ele criar uma relação com o cavalo da maneira que quiser, de forma

saudável, ao passar confiança e oferecer segurança ao praticante, e até dando asas

à imaginação, aceitando e fazendo parte do encantamento, da brincadeira, do

praticante.

Num trabalho psicoterapêutico com portadores de necessidades

especiais, o uso do objeto transicional e o resgate dos fenômenos transicionais tem

relevante papel, até pela dificuldade de se encontrar em tais casos uma mãe que

possa ter sido suficientemente boa.

Explica-se, supõe-se que toda mãe espere que seu filho nasça belo,

bonito e saudável, à semelhança dos bebês que fazem propaganda em fraldas

descartáveis, em produtos para bebês ou que aparecem na TV, em revistas, etc. Até

hoje, não se conhece o relato de uma mãe que esperava que seu filho fosse

portador de alguma síndrome, distúrbio ou doença.

Observo na prática clínica, que em tal situação duas coisas são mais

prováveis de acontecer, ou uma superproteção à criança portadora de necessidades

especiais que geralmente nasce com a saúde debilitada, o que leva a uma mãe

excessivamente boa. Ou pode haver uma rejeição, uma dificuldade de aceitar a

criança como ela é, fruto da incapacidade de gerar um filho saudável, sendo isso

para algumas mulheres, e principalmente, a sociedade pode estar reforçando isso,

um ataque violento ao ego, o que poderia causar uma mãe não suficientemente boa.

Em ambos os casos, são mães que terão dificuldade em oferecer a seu

filho um objeto transicional.

32
Nesses casos, o cavalo pode então, estar proporcionando a criação de

um fenômeno transicional, facilitado pelo terapeuta. Às vezes, a criança nunca teve

um objeto transicional que possibilitasse seu desenvolvimento normal ou tinha um

objeto especial, que lhe trazia um conforto, uma proteção, era um amigo, mas que

não tinha as características de um objeto transicional verdadeiro, um objeto não-eu

que substituísse a presença da mãe, como um acalmador.

A relação com o cavalo pode abrir ao praticante um mundo novo, como

um ser encantado, com poderes e atitudes projetadas nele, o cavalo pode vir a falar,

raciocinar, participar de aventuras, fazer parte de um mundo de fantasias criado pelo

praticante. A literatura infantil tem diversos exemplos de como pode atuar um objeto

transicional na mente de uma criança, como o ursinho Pooh, ou o tigre Haroldo do

Calvin.

Alguns praticantes, dependendo de suas características e de suas

possibilidades, podem passar de um programa de Equoterapia a outro, da

hipoterapia, à educação/reeducação e ao pré-esportivo ou à pratica esportiva

adaptada, o que lhes permitirá experimentar um outro aspecto do objeto transicional,

porque nesses casos, a Equoterapia parte da adaptação quase completa às

necessidades do praticante, com dois terapeutas fazendo a segurança dele e um

guia à frente do cavalo, como na hipoterapia.

Passando para o programa de educação/reeducação, o praticante tem a

oportunidade de passar a conduzir o cavalo variando com guia e sem guia e um

terapeuta perto oferecendo segurança.

Durante o programa pré-esportivo, o praticante passa a conduzir sozinho

o seu cavalo, e na prática desportiva adaptada, prevê-se a autonomia total.

33
Isso é o objetivo de um objeto transicional, permitir ao praticante,

partindo da ilusão que tem de exercer um domínio mágico do objeto, realizar

experiências, que acabarão por demonstrar gradativamente que a realidade não

corresponde às suas fantasias, desiludindo o praticante, até um ajuste de suas reais

competências (WINNICOTT, 1975).

È preciso habilidade para se conduzir um cavalo, ele é um ser vivo, com

vontade própria, e mesmo os cavalos ditos mansos, testam o controle do cavaleiro,

em outras palavras há um teste de realidade, que proporciona um ajuste da auto-

estima, pois se o praticante tem em conta própria que é um grande cavaleiro, mas o

cavalo não executa seus comandos, sua auto-estima que era exarcebada tende a

diminuir. Por outro lado, se um praticante possui uma auto-estima baixa, ao dar-se

conta de que consegue fazer com que um cavalo, um ser enorme, pesando algo

entre 400 a 600 quilos, forte, musculoso, execute alguns comandos seus, sua auto-

estima tende a aumentar. Em ambos os casos, há um ajuste da auto-estima.

O cavalo por não obedecer completamente aos comandos do praticante

gera nele pequenas frustrações que são essenciais para o desenvolvimento

saudável do ser, pois é através das frustrações que se desenvolve o pensar

(WINNICOTT, 1975).

Se o praticante consegue passar pelo processo de ilusão de ter o

domínio sobre o cavalo, até o efetivo controle deste, pode-se dizer que ele

conseguiu resolver o paradoxo que lhe proporcionava o cavalo como objeto

transicional, e usá-lo para realizar atividades que possam realmente ser

compartilhadas no mundo real.

34
Para isso também foi necessário que se desenvolvesse no praticante o

seu verdadeiro Self, pois o animal só atende aos comandos que lhe são dados com

clareza de intenção.

Essa área intermediária de experiência, incontestada quanto a pertencer à


realidade interna ou externa (compartilhada), constitui a parte maior da
experiência do bebê e, através da vida, é conservada na experimentação
intensa que diz respeito às artes, à religião, ao viver imaginativo e ao
trabalho cientifico criador (WINNICOTT, 1975, p.30).

Se esse caminho foi trilhado pode-se dizer que a terapia teve sucesso,

pois pôde proporcionar ao praticante um resgate de seu desenvolvimento, através

do uso dos fenômenos transicionais, partindo do cavalo como objeto transicional, um

ser encantado, que age sob domínio mágico do praticante, passando pela desilusão,

até a descatexização do objeto, o cavalo passando a ser cada vez mais apenas um

cavalo (WINNICOTT, 1975).

O terapeuta, ou os terapeutas, que ajudaram o praticante a trilhar esse

caminho fizeram o mesmo papel que uma mãe suficientemente boa faz com seu

bebê, para Winnicott (1975), “a principal tarefa da mãe (após propiciar oportunidade

para ilusão) é a desilusão”.

O praticante, que devido às suas peculiariedades, nunca chegará a

conduzir de forma autônoma um cavalo, mesmo assim poderá receber benefícios na

equoterapia, através dos fenômenos transicionais, sendo o cavalo um objeto

transicional, e, de um terapeuta com uma postura descontraída, alegre, que estimule

o brincar.

Winnicott (1975, p. 59) nos traz o pensamento, de que:

35
A psicoterapia se efetua na sobreposição de duas áreas do brincar, a do
paciente (praticante) e do terapeuta. A psicoterapia trata de duas pessoas
que brincam juntas. Em conseqüência, onde o brincar não é possível, o
trabalho efetuado pelo terapeuta é dirigido então no sentido de trazer o
paciente (praticante) de um estado em que não é capaz de brincar para um
estado em que o é.

Ao permitir que o praticante tenha um espaço para brincar, numa região

intermediária entre o interno e o externo, permite-se que ele se expresse, que ele

faça, crie, interaja. Pode existir alguém que nunca foi estimulado a brincar, mas não

alguém tão comprometido fisicamente ou mentalmente que não possa brincar.

Uma criança saudável é uma criança que brinca, e só assim será um

adulto saudável. Se uma pessoa adulta desaprendeu a brincar ou não brincou o

suficiente em sua infância, através do resgate dos fenômenos transicionais, pode

aprender ou reaprender a brincar na equoterapia.

...é a brincadeira que é universal e que é própria da saúde: o


brincar facilita o crescimento e portanto, a saúde; o brincar conduz
aos relacionamentos grupais; o brincar pode ser uma forma de
comunicação na psicoterapia; finalmente, a psicanálise foi
desenvolvida como forma altamente especializada do brincar, a
serviço da comunicação consigo mesmo e com os outros.
(WINNICOTT, 1975, p.63).

Não há duvidas de que alguém que sabe brincar, que desenvolveu a

habilidade de brincar, é mais saudável, sabe lidar melhor com situações de conflito,

é mais bem humorado, em suma, está orientado pelo seu verdadeiro Self.

E mais uma vez, cita-se que a equoterapia, por ser realizada em um

animal, que permite a montaria, que possui as características de um objeto

transicional, é uma ótima ferramenta para se estimular a arte do brincar. Ainda mais

se o terapeuta adota uma postura alegre, brincalhona, de aceitação incondicional,

estimulando o outro a participar da brincadeira.

36
Nada impede que o guia, participe da brincadeira também, aliás é até

recomendado. Pode acontecer de um praticante por escolha própria e que fogem a

explicações racionais desenvolver um vinculo maior com o guia do que com o

terapeuta ou os terapeutas.

Para alguns praticantes, o cavalo participante da sessão é indiferente,

não importa se num dia foi um e depois foi outro. Para ele um cavalo é um cavalo.

Já outros praticantes escolhem um determinado cavalo e exigem sempre o mesmo,

o que algumas vezes gera dificuldades para a equipe, pois, um cavalo pode

adoecer, ser transferido, ou até falecer, exigindo cuidados especiais na troca.

Outros criam um apego especial por um terapeuta, ou um guia, exigindo

a mesma atenção para se realizar substituições. Já para outros, guia e terapeuta

são indiferentes, para ele o que importa é o cavalo. Mas a equoterapia costuma ser

muito prazerosa e divertida para praticantes de diversas características e idades.

Winnicott (1975) desenvolve em seu livro O Brincar e a Realidade, uma

teoria do brincar onde descreve que, o objeto transicional surge da atitude da mãe

de orientar seu bebê a descobrir um objeto, para o qual ele já está pronto para

encontrar.

Na atitude da mãe de devolver esse objeto ao bebê, sendo que, esse

será por várias vezes repudiado, e encontrado novamente, numa ação oscilatória

entre encontrar e deixar ser encontrado, sem interferências, é o que permitirá ao

bebê ter uma experiência de controle mágico ou onipotência.

Então, da experiência que o bebê tem da sua onipotência e controle

mágico confrontada com o controle que tem do real começa se formar a sua

37
personalidade, tendo sempre por pano de fundo, o relacionamento, o amor e a

confiança pela mãe, ou amor-ódio por ela.

O bebê se desenvolve e passa a aceitar ficar sem a presença da mãe,

com quem brinca e em quem confia, generalizando a confiança e o amor antes

experimentado com a mãe, a primeira pessoa a brincar com ela.

Passando por essas etapas, o bebê através da brincadeira desenvolve

uma capacidade própria de aceitar ou não idéias que não são suas e está preparado

para brincar em conjunto com outras pessoas.

Na Equoterapia, ocorre o seguinte, o praticante forma vínculo com o

terapeuta, e baseado na aceitação incondicional e afetividade, passa a confiar nele.

O terapeuta lhe apresenta o cavalo, que só será montado se aceito pelo praticante,

a aproximação é sucessiva e pode durar o tempo que for necessário para que o

praticante aceite montar o cavalo.

O terapeuta mantêm-se particularmente próximo durante as primeiras

sessões, até que a confiança no cavalo e no guia estejam bem estabelecidos. A

confiança no terapeuta também tende a crescer com o tempo. À medida que a

confiança no cavalo e no guia aumenta, o terapeuta pode se permitir afastar-se

gradualmente, até o praticante poder permanecer sozinho em cima do cavalo, se

sua condição física assim o permitir. E isso tudo se dá através da brincadeira.

O cavalo, como ser vivo, também precisa de um tempo para passar a

confiar e geralmente obedece a mesma regra, o guia e o terapeuta que já detêm a

sua confiança lhe apresentam seu novo amigo, o praticante. Os dois estabelecerão

um relação recíproca de confiança.

38
Passadas as dificuldades iniciais, a dificuldade da criação do vínculo, o

medo do cavalo, o estabelecimento da confiança, cada praticante tem um tempo

próprio para superar essas questões, então o praticante pode começar a

experimentar sentir prazer na brincadeira que é realizada em cima do cavalo, pode

experimentar soltar as mãos da alça da sela ou da manta, experimentar aclives e

declives em cima do cavalo, se sente à vontade para conversar, ou estimulado a

falar em casos, onde existem problemas da fala, ou seja, se solta mais, se dispondo

mais ao brincar.

O fato de ter superado as dificuldades iniciais já significa uma melhora

na auto-imagem do praticante, pois sua coragem venceu o seu medo de montar o

cavalo.

Durante a brincadeira, a pessoa tem a oportunidade de externalizar seus

medos, receios, seus perigos internos projetados no mundo externo, podendo com

uma escuta atenta por parte terapeuta, que facilita o processo, vir a obter triunfo

sobre suas dificuldades. A brincadeira age como um facilitador de uma organização

interna mais saudável. O acúmulo de experiência gratificantes, pode levar o

praticante a fortalecer sua crença em bons relacionamentos e auto-confiança, o que

fortalece o seu aspecto emocional.

Se durante a sessão de Equoterapia, seja ela realizada por um

fisioterapeuta, um fonoaudiólogo, um educador físico, a atividade é realizada através

da ludicidade, então algo de positivo está acontecendo além dos resultados físicos

esperados pois, o brincar é por si mesmo uma terapia (WINNICOTT, 1975, p. 74).

Talvez, se um fisioterapeuta, psicólogo, fonoaudiólogo, ou outro, ao

participar de um encontro equoterápico, não utilizar a ludicidade, mas visar apenas

39
resultados específicos de sua área, não realize ali uma terapia verdadeiramente,

pois não está enxergando o praticante como um todo, um ser biopsicosocial, mas se

centra somente em seus conhecimentos técnicos específicos de sua área. Tal

profissional, estará então, realizando uma Equoterapia ou uma equotecnia? Entendo

que um terapeuta é aquele que cuida do Ser em sua integridade, o que o diferencia

do trabalho do técnico.

Um terapeuta presume-se ser alguém que cuida da pessoa de forma

integral, aliás esse é o sentido de se ter uma equipe multidisciplinar, que trabalhe de

forma interdisciplinar dentro de um centro de Equoterapia. Nisso se ressalta que a

atitude contratransferencial de um equoterapeuta, citada no capitulo dois desse

trabalho, tem de ser de aceitação incondicional, alegria, para se estimular que o

outro brinque, e de buscar a confiança do praticante, pois só se brinca com quem se

confia (WINNICOTT, 1975).

O praticante precisa sentir que ele é importante para o terapeuta, e esse

consequentemente demonstrar que se importa com ele. Busca-se aqui uma atitude

mais humana durante uma terapia, se é que uma sessão sem uma atitude humana

pode ser chamado de terapia.

Parece-me válido o principio geral de que a psicoterapia é efetuada


na superposição de duas áreas lúdicas, a do paciente e a do
terapeuta. Se o terapeuta não pode brincar, então ele não se
adequa ao trabalho. Se é o paciente(praticante) que não pode,
então algo precisa ser feito para ajudá-lo a tornar-se capaz de
brincar, após o que a psicoterapia pode começar. O brincar é
essencial porque nele o paciente manifesta sua criatividade
(WINNICOTT, 1975, p. 80).

Não se discute aqui que um trabalho fisioterápico realizado com o

praticante montado no cavalo trará benefícios à sua musculatura, equilíbrio

40
dinâmico, articulações, etc. Já existem diversos estudos relatando como a

Equoterapia pode melhorar significativamente os atributos físicos do praticante.

Mas será que o praticante não obterá benefícios ainda maiores se o

cavalo for visto como um objeto transicional e o encontro equoterápico ocorrer sob

um clima de ludicidade? Na Equoterapia, o trabalho da equipe tem por objetivo ser

interdisciplinar e, portanto integral, e sob o enfoque da psicologia, pelo menos, na

linha winnicottiana, a atitude do brincar deve ser assumida durante um encontro

equoterápico.

O praticante não deve ser visto sob um enfoque fragmentado, através de

uma ótica que só enxergue sua deficiência, síndrome, doença ou transtorno, o ser

humano está mais além, não necessita só adquirir uma melhor postura, executar

melhor o movimento de um braço ou perna, desenvolver a fala, desenvolver mais

tônus muscular, desenvolver atributos psicomotores, como atenção, esquema

corporal, aumento do tempo de reação, além de orientação espacial, etc. Precisa

desenvolver-se de modo integral, pois, tudo está interligado.

A terapia deve atingir também o centro, o Self humano, permitir ao

praticante desenvolver também seu lado afetivo, sua criatividade, sua alegria, seu

despojamento, sua vontade de viver e se conectar às pessoas, ao cavalo, aprender

a levar a vida mais na brincadeira.

41
CONCLUSÃO

Ao utilizar a aceitação incondicional, a alegria e ofertar confiança na

prática da Equoterapia, a velocidade com que se cria um vínculo e a facilidade com

que se efetuam as mudanças é visível. Ainda mais na Equoterapia, que trabalha

com um público de portadores de necessidades especiais, que por muitas vezes tem

um histórico complicado, o que na maioria das vezes dificulta iniciar o trabalho.

Gerar um vínculo, com uma pessoa vitima de uma síndrome, uma

deficiência, ou um transtorno, que por voltas é rejeitado pela sociedade e muitas

vezes pela própria família, é e sabem muito bem as pessoas que trabalham com

portadores de necessidades especiais, por vezes, difícil. O praticante tende então a

ser passado de terapeuta a terapeuta, por dificuldade de criação de vinculo.

Vivemos em uma sociedade competitiva, onde não se é permitido errar,

é difícil para um portador de necessidades especiais experimentar desenvolver o

seu potencial se na maioria das vezes sua produção fica aquém do que é

considerado normal pela sociedade. Através da aceitação incondicional abre-se um

espaço de potencial transformação, experimentar fazer algo sem um julgamento do

que é belo ou feio, certo ou errado, sem a vergonha ou o sentimento de culpa de

não ser perfeito.

O olhar que o terapeuta dirige a seu praticante o influenciará em seu

desenvolvimento, um terapeuta deve sempre acreditar que seu praticante é passível

de uma melhora, por mais comprometido que seja, esse sentimento, dito

contratransferência, induzirá o praticante a compartilhar a visão do terapeuta. E mais

42
só se confia em quem lhe deposita confiança, cabendo ao terapeuta ofertar primeiro

sua confiança.

A Equoterapia é uma atividade alegre, em que passada uma situação de

insegurança inicial, se torna muito prazerosa e um profissional com uma atitude

alegre só tem a acrescentar ao trabalho terapêutico. Essa situação inicial passa

mais rápido se o praticante confiar em seu terapeuta, essa confiança será

generalizada ao cavalo e ao guia.

O terapeuta que percebe que para o praticante, o cavalo é um objeto

transicional, entende que a Equoterapia é muito mais do que se utilizar do

movimento do animal como uma técnica de reabilitação.

É um instrumento terapêutico global, que atua em diversas dimensões,

biopsicossociais e até mesmo afetiva, podendo trazer um novo animo para a vida de

alguém.

É por isso, que tantas áreas podem se beneficiar do uso da Equoterapia,

como a psicologia, a educação física, a assistência social, a pedagogia, etc.

Ainda, como explorado acima, o brincar é algo natural, saudável, e que

possibilita o desenvolvimento emocional do ser, na Equoterapia um profissional

sisudo, com uma postura de quem tem poucos amigos, ou pouco aberto ao outro

deixa de participar do que mais atrai o praticante na Equoterapia, a alegria de

montar e de brincar com um magnífico animal como o cavalo.

Com sensibilidade, o terapeuta pode realizar o manejo transferencial,

através da contratransferência munida de sentimentos positivos como aceitação

43
incondicional, confiança, alegria, dando a oportunidade ao praticante de aceitar o

cavalo como um objeto transicional.

Uma vez criada essa situação, essa atitude do terapeuta ainda é válida

pois ele vai auxiliar o praticante a experimentar e tirar o melhor proveito de seu

objeto transicional para o seu desenvolvimento.

O cavalo alia as características de um objeto transicional, por ser macio,

quente, dotado de vitalidade com a funcionalidade de um instrumento

cinesioterapêutico.

E se o praticante é capaz de conduzir o cavalo de forma autônoma, este

o leva a realizar constantes ajustes da auto-estima e da adequação do Self, pois ele

desafia o cavaleiro a ser seu líder, o que só é possível através de atitudes firmes e

centradas na realidade, o cavalo não pode ser controlado somente através da

imaginação.

Sendo assim, a Equoterapia possibilita ao praticante superar o paradoxo

do objeto transicional, possibilitando a ele desenvolver esse terceiro espaço, que

será o espaço de ponte entre o que seu mundo interior, subjetivo, imaginário, e o

mundo externo, objetivo, real, no sentido de ser um mundo compartilhado.

44
REFERÊNCIAS

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45
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WINNICOTT, Donald W. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.

46
Universidade Federal do Triângulo Mineiro

EFEITOS DA EQUOTERAPIA EM
PRATICANTES AUTISTAS

Ana Paula Espindula

Uberaba – Minas Gerais


Novembro – 2008
2

Ana Paula Espindula

EFEITOS DA EQUOTERAPIA EM
PRATICANTES AUTISTAS
Tese apresentada ao curso de Pós-
graduação em Patologia, na área de
concentração “Patologia Geral”, da
Universidade Federal do Triângulo
Mineiro, como requisito parcial para a
obtenção do título de Mestre

Orientador: Prof.Vicente
Prof.Vicente de Paula Antunes
Antunes Teixeira

Uberaba – Minas Gerais


Novembro – 2008
3

“Talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para


que o melhor fosse feito. Não somos o que devíamos ser, não somos
o que iremos ser... mas não somos mais o que éramos.

Martin Luther King


4

Dedico esta tese

aos meus pais, Valdelino e Fátima,

aos meus irmão, Robson e Cristina,

ao meu noivo Ismael,

aos meus sobrinhos, Juliana e João Pedro,

e ao Professor Vicente.
5

A Deus

Por mais belas e sinceras que sejam as palavras ditas nesse

momento, serão sempre insuficientes para traduzir meu sentimento

em relação a Deus, no entanto, ergo meu pensamento a ele e

agradeço por tudo que tenho recebido.


6

Aos Meus pais, Valdelino e Fátima

Vocês me deram à vida e me ensinaram a vivê-la com dignidade,

abriram as portas do meu futuro me iluminando com a luz mais

brilhante que puderam encontrar.

Obrigada pelo amor, apoio, carinho, pela dedicação e confiança

depositados em mim durante toda minha vida.


7

Aos Meus Irmãos,


Irmãos, Sobrinhos e ao Ismael

Aos meus irmãos, pelo amor e cumplicidade que nos une.

Aos meus sobrinhos, pela alegria, abraços e brincadeiras.

Ao meu noivo, Ismael, por estar sempre ao meu lado

reservando uma parte de seu tempo para me ouvir, aconselhar e

compartilhar os meus sonhos e anseios.


8

Ao meu Orientador, Prof. Vicente de Paula Antunes


Teixeira

Pela confiança depositada em mim, me concedendo a oportunidade

de dividir das suas experiências, sabedorias e de receber sua

orientação, seu apoio e incentivo ao desenvolvimento profissional,

pessoal e às inúmeras reflexões.


9

A Prof. Marlene Antônia dos Reis

Obrigada por ter me acolhido, por estimular a busca de novos

conhecimentos, pelos momentos marcantes que tanto me

enriqueceu e por ser uma mestra exemplar.


10

Aos funcionários e alunos da APAE de Uberaba

Obrigada pela confiança depositada em mim e no meu trabalho.

Em especial ao Alex Abadío Ferreira– Coordenador Clínico,

Egly Keyla Granzoti – Psicóloga e Jandira Batista Carneiro-

Psicóloga, que não mediram esforços para ajudar-me.


11

Agradeço a todas as pessoas que me fizeram: Sorrir, chorar,


Sentir, Cantar, Produzir,
Produzir, enfim... Viver. Compartilhando
diferentes momentos dessa caminhada tornando possível sua
concretização.

Em especial:

A amiga Mara pelo convívio saudável, pelas inúmeras

contribuições, carinho, companheirismo, que me apoio desde o

momento em que coloquei os “pés” no Laboratório de Patologia

Geral.

Aos amigos (Dione e Virgínia) que estiveram comigo neta jornada e

acreditaram no meu sonho.

Às funcionárias da Pós-graduação da UFTM, Denise e Nelma, as

quais, tão gentis e prestativas, sempre prontas a ajudar-nos.

A todos os Professores e Funcionários do Laboratório de Patologia

Geral.

Aos colegas da Pós-graduação.


12

Apoio Financeiro

O presente trabalho foi realizado com recursos financeiros da

Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM, da Associação de Pais e

Amigos dos Excepcionais de Uberaba – APAE, do Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, da Fundação de Ensino e

Pesquisa de Uberaba – FUNEPU, da Fundação de Amparo à Pesquisa do

Estado de Minas Gerais – FAPEMIG.


13

SUMÁRIO

DEDICATÓRIA.......................................................................................................................IV

AGRADECIMENTO ................................................................................................................V

APOIO FINANCEIRO.............................................................................................................. XII

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................................................................... XIV

LISTA DE TABELA.................................................................................................................. XV

LISTA DE FIGURAS................................................................................................................ XVI

RESUMO.................................................................................................................................... XVIII

ABSTRACT ................................................................................................................................. XXI

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 24

1.1 Hipótese ................................................................................................. 30

2 OBJETIVOS .............................................................................................. 32

2.1 Objetivo geral ......................................................................................... 32

2.2 Objetivos específicos ............................................................................. 32

3 MATERIAL E MÉTODO ............................................................................ 34

3.1 Aspectos éticos do projeto ..................................................................... 34

3.2 Caracterização da amostra .................................................................... 34

3.3 Critérios de inclusão e exclusão............................................................. 36

3.4 Análise Estatística ................................................................................. 37

4 RESULTADOS .......................................................................................... 40

5 DISCUSSÃO ............................................................................................. 51

6 CONCLUSÃO............................................................................................ 56

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 59

8 ANEXOS ................................................................................................... 66
14

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

COFFITO: Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional

APAE: Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

UFTM: Universidade Federal do Triângulo Mineiro

MG: Minas Gerais

ANDE-BRASIL: Associação Nacional de Equoterapia.

TEACCH I: Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com Deficiência de

Comunicação

DSMIII-R / DSM-IV: Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos

Mentais III-R e IV

NI: Não Iniciado

I: Iniciado

P: Progressão

S: Superação

E: Evolução

PR: Permaneceram
15

LISTA DE TABELA

Tabela 1. Dados referentes à área da Percepção Auditiva. Total de perguntas


observadas com os 9 praticantes:36, submetidos a 36 sessões de Equoterapia
na APAE de Uberaba .................................................................................. 41

Tabela 2. Dados referentes à área do Desenvolvimento na Equoterapia. Total


de perguntas observadas com os 9 praticantes:126, submetidos a 36 sessões
de Equoterapia na APAE de Uberaba ......................................................... 42

Tabela 3. Dados referentes à Área Emocional e Social. Total de perguntas


observadas com os 9 praticantes: 90, submetidos a 36 sessões de Equoterapia
na APAE de Uberaba ................................................................................... 43

Tabela 4. Dados referentes à área da Percepção Temporal. Total de perguntas


observadas com os 9 praticantes: 135, submetidos a 36 sessões de
Equoterapia na APAE de Uberaba............................................................... 43

Tabela 5. Dados referentes à área do Desenvolvimento Perceptivo. Total de


perguntas observadas com os 9 praticantes: 72, submetidos a 36 sessões de
Equoterapia na APAE de Uberaba............................................................... 44

Tabela 6. Dados referentes à área da Percepção Espacial. Total de perguntas


observadas com os 9 praticantes: 126, submetidos a 36 sessões de
Equoterapia na APAE de Uberaba............................................................... 44

Tabela 7. Dados referentes à área da Percepção Tátil. Total de perguntas


observadas com os 9 praticantes: 63, submetidos a 36 sessões de Equoterapia
na APAE de Uberaba ................................................................................... 45

Tabela 8. Dados referentes à área do Desenvolvimento Verbal e Compreensão


Verbal. Total de perguntas observadas com os 9 praticantes: 81, submetidos a
36 sessões de Equoterapia na APAE de Uberaba ...................................... 46

Tabela 9. Dados referentes à área do Desenvolvimento da motricidade. Total


de perguntas observadas com os 9 praticantes: 117, submetidos a 36 sessões
de Equoterapia na APAE de Uberaba.......................................................... 47
16

Tabela 10. Dados referentes à área da Coordenação Manual. Total de


perguntas observadas com os 9 praticantes: 180, submetidos a 36 sessões de
Equoterapia na APAE de Uberaba............................................................... 47

Tabela 11. Dados referentes aos Hábitos de Independência. Total de


perguntas observadas com os 9 praticantes: 180, submetidos a 36 sessões de
Equoterapia na APAE de Uberaba............................................................... 48

Tabela 12: Dados referentes as Áreas numéricas de Conceitos Numéricos


Básicos. Total de perguntas observadas com os 9 praticantes: 117, submetidos
a 36 sessões de Equoterapia na APAE de Uberaba ................................... 48
17

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Cavalo “Arco”, usado para a prática da Equoterapia em Crianças


Autistas na APAE de Uberaba. Assim como, o material de montaria utilizado
durante as sessões: rédea, freio, cabresto, sela e manta............................ 38

Figura 2. Cavalo “Criolo”, usado para a prática da Equoterapia em praticantes


autistas na APAE de Uberaba...................................................................... 38

Figura 3. Áreas que evoluíram com a Equoterapia, observadas em praticantes


autistas antes e após 36 sessões ................................................................ 42

Figura 4. Áreas que evoluíram de Iniciado para Superação/ Progressão, após


6 sessões de Equoterapia............................................................................ 45

Figura 5. Áreas que permaneceram com o mesmo grau de habilidade após 36


sessões de Equoterapia em praticantes autistas......................................... 49
18

Resumo
19

RESUMO

Autismo é uma síndrome comportamental caracterizada por distúrbio de

desenvolvimento, há disfunções em nível das capacidades físicas, sociais e

lingüísticas, e anormalidades no relacionamento com objetos, eventos e

pessoas. A utilização do cavalo para tratamento, além de sua função

cinesioterápica, produz participação no aspecto psíquico, favorecendo a

reintegração social. Objetivos: Analisar em praticantes autistas submetidas à

Equoterapia, os possíveis efeitos relacionados: a função neuropsicomotora, a

percepção do meio externo, ao ajuste tônico-postural e comunicação.

Métodos: Aprovado pelo CEP da UFTM, protocolo nº 1101. Analisamos 9

crianças autistas com idades entre 8 à 17 anos, que freqüentam à APAE de

Uberaba, realizando atividades de Equoterapia uma vez por semana.

Analisamos áreas que compreendem: 1) Desenvolvimento perceptivo; 2)

Percepção auditiva; 3) Percepção tátil; 4) Percepção espacial; 5) Percepção

temporal; 6) Desenvolvimento da motricidade e movimentos corporais; 7)

Hábitos de independência; 8) Coordenação Manual; 9) Desenvolvimento

verbal, compreensão verbal e linguagem; 10) Áreas numéricas e conceitos

numéricos básicos; 11) Área emocional e social; 12) Desenvolvimento na

sessão de Equoterapia.

Teste utilizado foi o Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com

Deficiência de Comunicação (Teacch I). Essas avaliações foram agrupadas

de acordo com fase de desenvolvimento de cada criança, sendo NI

(Desenvolvimento não Iniciado), I (Iniciado), P (Progressão), S (Superação) e

SI (100% superado), onde também foi utilizado o número 1 quando a criança


20

apresentou D (Desenvolvimento) e 2 para PR (Permanência). Para análise

estatística usamos o teste de Mc Nemar (SigmaStat). Resultados: O número

de praticantes em evolução nos grupos NI, I, P, S e SI, foram

significativamente superiores na análise da Percepção Auditiva,

Desenvolvimento na Sessão de Equoterapia e Área Emocional. Na análise de

Desenvolvimento Verbal, Coordenação Manual, Desenvolvimento da

Motricidade e áreas numéricas, o número de praticantes que permaneceram

com o mesmo grau de habilidade foi significativamente superior. Quanto a

Percepção Temporal, Desenvolvimento Perceptivo, Percepção Espacial e

Tátil, houve um número significativamente maior de participantes que

permaneceu no grupo NI e que evoluíram nos grupos I/P/S. Conclusões: A

Equoterapia é um método eficaz já que com ela conseguimos proporcionar

aos praticantes autistas melhoras após os estudos realizados nas áreas

relacionadas à Percepção Auditiva, Desenvolvimento na Sessão de

Equoterapia, Área Emocional, Percepção Temporal, Desenvolvimento

Perceptivo, Percepção Espacial e Tátil. Porém vale ressaltar que essa

evolução é variável de acordo com a fase de desenvolvimento de cada

criança. Nosso estudo confirma que a Equoterapia promove nos praticantes

autistas melhoras na qualidade de vida, proporcionando-lhes confiança e

ganho da auto-estima.

Palavras-chaves: autismo; equoterapia; fisioterapia.


21

Abstract
22

ABSTRACT

Autism is a comportamental syndrome characterized by disturbance

development, there are dysfunctions in level of the physical, social and linguistic

capacities, and abnormalities in the relationship with objects, events and

people. The use of the horse for treatment, besides its cinesioterapic function,

produces participation in the psychic aspect, favoring the social reintegration.

Objectives: To analyze autists patients submitted to hippotherapy, possible

related effects: the neuropsicomotor function, the perception of the external

enviromment, to the tonic-postural adjustment and communication. Methods:

After approved for the Ethics commit of UFTM, we analyzed 9 autistic children

with ages between 8 to 17 years, that frequent APAE, accomplishing activities

of hippotherapy once a week. We analyzed areas that understand: 1)

Perceptive development; 2) auditive perception; 3) tactile perception; 4) space

perception; 5) temporary perception; 6) motricity development; 7) independence

habits; 8) Manual co-ordination; 9) verbal development, verbal understanding

and language; 10) numeric areas and basic numeric concepts; 11) emotional

and social area; 12) development in the session of hippotherapy.

Used test: Treatment and Education of Autistic Children and with Deficiency of

Communication (Teacch I). Those evaluations were contained in accoding with

phase of each child's development, being NI (Development non Initiate), I

(Initiate), P (Progression), S (Superation) e SI (100% Superation); where the

number 1 was also used when the child presented D (Development) and 2 for

PR (Permanence). For statistical analysis we used Mc Nemar's test

(SigmaStat). Results: The number of apprentices in evolution in the groups NI,


23

I, P, S and SI, were significantly superiors in the analysis of the Auditive

Perception, Development in the Session of hippotherapy and Motricity

Emotional Area. In the analysis of Verbal Development, Manual Coordination, of

Motricidade Development and Numeric Areas the number of apprentices that

stayed with the same ability degree it was significantly superior. As the

Temporary Perception, Perceptive Development, Space and Tactile Perception,

there was a number significantly larger of participants that PR in the group NI

and that developed in the group I/P/S. Conclusions: hippotherapy is an effective

method to provide to the autiatic apprentices improvements after the studies

accomplished in the areas related to the Auditive Perception, Development in

the Session of hippotherapy, Emotional Area, Temporary Perception,

Perceptive Development, Space and Tactile Perception. However, it is worth to

point out that that evolution is variable in accord with the phase of each child's

development. Our study confirms that hippotherapy promotes in the autistic

apprentices improvements in the life quality,trust and providing them earnings of

the self-esteem.

Word-keys: autism; hippotherapy; physiotherapy.


24

1 Introdução
25

O termo Autismo foi criado em 1907 por Eugen Bleuler, porém, os

primeiros escritos clínicos aceitos como descrições de autismo foram

publicados apenas em 1943, por KANNER, como Autistic Disturbances of

Affective Contact (ROUDINESCO e PLON, 2000).

O autismo é uma síndrome comportamental com características de um

distúrbio de desenvolvimento. Caracteriza-se por disfunções em nível das

capacidades físicas, sociais e lingüísticas, além de anormalidades no

relacionamento com objetos, eventos e pessoas. Aparentemente, os fatores

emocionais não são causadores isolados da doença, e fatores biológicos

aparecem em quase todos os casos de autismo, porém ainda não foi

descoberto um marcador biológico específico (AARONS e GITTENS, 1992;

FRITH, 1996; POWELL e JORDAN, 1997; MARQUES, 1998; BARON-COHEN,

1999; PEREIRA, 1999; BARANEK, 2002).

Vários autores sugeriram a existência de um problema nuclear central:

uma tríade de incapacidades (Tríade de Lorna Wing), que fazem parte

alterações em nível da interação social; alterações da comunicação; alterações

da imaginação (WING, 1997; MARQUES, 1998; RODRIGUES, 2001).

Referiram ainda existir um conjunto de outras características (doenças, níveis

de desenvolvimento, idade cronológica da criança) que, em associação, vão

desencadear uma diversidade de sintomatologia específica, que se traduz em

quadros diferente (APA, 1994; HAAG et al., 2005).

O Autismo clássico, com início antes dos três anos de idade, pode ser

diagnosticado quando a criança apresenta alterações comportamentais na

interação social e na comunicação, fatos associados a várias características

como, padrões de comportamento, interesses e atividades restritos,


26

movimentos repetitivos e estereotipados, e ainda atraso ou funcionamento

anormal a nível do jogo simbólico ou imaginativo (McCONNEL, 2002; LEITÃO,

2004).

A etiologia do autismo ainda não foi definida. Com os avanços do

domínio da neurocirurgia, algumas investigações sugerem que não há um dano

físico no sistema nervoso central que desempenhe um papel primário no seu

aparecimento. Existem sim, fatores genéticos e ambientais que são

considerados como determinantes, embora a maioria dos autores apontem,

atualmente, para a multi-casualidade (GUPTA, 2006).

Portanto, a identificação precoce do autismo tem sido feita basicamente

com base em dificuldades específicas na orientação para estímulos sociais,

contato ocular social, atenção compartilhada, imitação motora e jogo simbólico.

E assim, a intervenção precoce tem-se tornado possível graças a sua

identificação cada vez mais cedo, a partir dos 18 meses de idade. (BARON-

COHEN et al., 1992).

Descrita por Hipócrates em 458 - 370 ou 351 a.C, a Equoterapia era

indicada para a regeneração da saúde, sobretudo o tratamento da insônia

(FREIRE, 1999).

A Equoterapia é usada desde a Antiguidade, sendo descrita em

trabalhos de Galeno; há também relatos de seus benefícios datando da Idade

Média – Oribasius em 1555, Puller em 1705, Quellmaltz em 1735, Van

Swienten em 1776, Chassaigne em 1870. Mesmo após tão longo período de

uso e de descrição de seus benefícios, hoje ainda existem poucos estudos que

comprovem cientificamente sua eficácia (STERBA et al.,2002).


27

A partir de 1960, a Equoterapia ganhou uma força crescente, resultante

do reconhecimento, já histórico, das qualidades terapêuticas que o cavalo tem

para o corpo e mente humanos. O termo passou então a ser usado para

descrever todos os possíveis usos terapêuticos do cavalo (COPELAND-

FITZPATRICK e TEBAY, 1998).

Desta maneira, em torno da década de 60 na Alemanha, a equitação,

enquanto intervenção terapêutica estruturada dá os seus primeiros passos e

surge originária da medicina, designando-se por Hipoterapia (SCHULZ, 1997),

Um dos conceitos que define esse recurso terapêutico se refere a ele

como um conjunto de técnicas reeducativas que atuam para superar danos

sensoriais, cognitivos e comportamentais e que desenvolvem atividades lúdico-

esportivas utilizando o cavalo. Assim, Equoterapia é um tratamento de

educação, reeducação, reabilitação motora, mental e educacional que utiliza o

cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar e global, buscando o

desenvolvimento físico, psicológico e social das pessoas portadoras de

necessidades especiais. É indicada para o tratamento de distúrbios que afetam

o comportamento, aprendizagem e o desenvolvimento psicomotor global, bem

como dificuldades motoras causadas por lesões cerebrais e medulares. O

tratamento através da Equoterapia pode oferecer ao praticante a interação com

o ambiente a sua volta, e ainda, provocar estímulos tridimensionais através do

cavalo, além de atuar como uma fonte de estímulos ambientais ao redor do

praticante e estimular a atividade física (CITTÉRIO, 1999; FREIRE, 1999;

GARRIGUE, 1999; SANTOS, 1999).

A Equoterapia é um recurso terapêutico que pode ser aplicado às áreas

de Saúde (portadores de necessidades especiais físicas, sensoriais e/ou


28

mentais); educação (indivíduos com necessidades educativas especiais) e

social (indivíduos com distúrbios evolutivos e/ou comportamentais) (SILVA,

2004).

Os efeitos terapêuticos que podem ser alcançados com a Equoterapia

são de quatro ordens

• melhoramento da relação: considerando os aspectos da comunicação,

do autocontrole, da autoconfiança, da vigilância da relação, da atenção e do

tempo de atenção;

• melhoramento da psicomotricidade: nos aspectos do tônus, da

mobilidade das articulações da coluna e da bacia, do equilíbrio e da postura do

tronco ereto, da obtenção da lateralidade, da percepção do esquema corporal,

da coordenação e dissociação de movimentos, da precisão de gestos e

integração do gesto para compreensão de uma ordem recebida ou por

imitação;

• melhoramento de natureza técnica: facilitando as diversas

aprendizagens referentes aos cuidados com os cavalos e o aprendizado das

técnicas de equitação;

• melhoramento da socialização: facilitando a integração de indivíduos

com danos cognitivos ou corporais com os demais praticantes e com a equipe

multidisciplinar (GARRIGUE, 1999).

Hoje em dia, devemos entender a Equoterapia como uma área de

intervenção terapêutica reconhecida pelo conselho de medicina. Como

também, Recurso Terapêutico sendo parte para a formação como disciplina

curricular, reconhecida pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia

Ocupacional – COFFITO, sob parecer 008/2008 em 02 de abril de 2008.


29

(SILVA, 2008). Que utiliza o cavalo dentro de uma abordagem interdisciplinar,

nos planos da saúde e do desporto, na procura incessante do bem-estar físico,

psíquico e social de indivíduos portadores de deficiência e/ou com

necessidades especiais. (GARRIGUE, 1999; WALTER, et al., 2000; CIRILLO,

2005).

A utilização do cavalo para o tratamento, além de sua função

cinesioterápica, produz importante participação no aspecto psíquico, uma

vez que o indivíduo usa o animal para desenvolver e modificar atitudes e

comportamentos, favorecendo a reintegração social, que é estimulada pelo

contado do indivíduo com a equipe e com o animal, aproximando-o desta

maneira, cada vez mais, da sociedade na qual convive (FREIRE, 1999).

Assim, como a Equoterapia e outras terapias podem ser coadjuvantes

dos tratamentos convencionais e rotineiros para o melhor desenvolvimento

motor e cognitivo das pessoas que delam utilizam. Porém, a Equoterapia é

única na qual o praticante tem o movimento do cavalo o qual chamamos de

movimento tridimensional, semelhante ao do ser humano, estimulando a

movimentação ativa do praticante por meio da movimentação do animal

(COPETTI et al., 2007).

O cavalo realiza ciclos de movimentos semelhantes ao do homem

durante sua andadura natural, ao passo. Dentro de um minuto a quantidade de

passadas realizadas pelo cavalo pode variar de 48 a 70 passos (MEDEIROS E

DIAS, 2002).

A freqüência dos passos do cavalo esta associada ao comprimento do

passo e da velocidade da andadura do cavalo. O cavalo pode desempenhar

três tipos de andadura ou engajamento ao passo:


30

a) Transpistar: O cavalo apresenta um comprimento de passo longo, no

qual a pegada da pata posterior ultrapassa a pegada da pata anterior. Sendo

assim, um movimento de baixa freqüência.

b) Sobrepistar: As pegadas das patas posteriores coincidem com as

marcas deixadas pelas patas anteriores. Neste tipo de engajamento de patas o

cavalo possui uma freqüência média.

c) Antepitar: O cavalo apresenta um comprimento de passo curto em

que as pegadas deixadas no solo pelas patas posteriores ultrapassam as

pegadas deixadas pelas patas anteriores. Realizando assim, um movimento de

alta freqüência (BENDA et al., 2003; FREIRE, 2000).

Pesquisas apontam melhoras após intervenções com sessões de

Equoterapia nos campos psicológicos, social, nas funções motoras grossas, na

simetria da atividade muscular de tronco e no equilíbrio em pé e em quatro

apoios (COPETTI et al., 2007).

A Equoterapia é um importante meio terapêutico complementar, com

aparentes resultados positivo em vários domínios da doença Autista (FREIRE,

2000).

1.1 Hipótese

A Equoterapia gera efeitos positivos em praticantes autistas com o

passar das sessões, nas funções:

a) Neuropsicomotora;

b) Percepção do meio externo;

c) Comunicação.
31

2 Objetivos
32

2.1 Objetivo Geral

O objetivo do presente trabalho foi estudar os efeitos da Equoterapia em

praticantes autistas no período de Fevereiro à Novembro de 2007, que

realizam a prática da Equoterapia na Associação de Pais e Amigos dos

Excepcionais de Uberaba – APAE.

2.2 Objetivos Específicos

Analisar nas crianças autistas submetidas à Equoterapia os possíveis

efeitos relacionados:

1) Ao desenvolvimento perceptivo;

2) A percepção auditiva;

3) A percepção tátil;

4) A percepção espacial;

5) A percepção temporal;

6) Ao desenvolvimento da motricidade e movimentos corporais;

7) Aos hábitos de independência;

8) A coordenação Manual;

9) Ao desenvolvimento verbal, compreensão verbal e linguagem;

10) As áreas numéricas e conceitos numéricos básicos;

11) A área emocional, afetiva e social;

12) Ao desenvolvimento na sessão de Equoterapia.


33

3 Material e Métodos
34

3.1 Aspectos éticos do projeto

O presente projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa (CEP)

da Universidade Federal do Triângulo Mineiro – UFTM com o protocolo de n°

1101.

Os responsáveis pelos praticantes inclusos no projeto leram e ouviram o

termo de esclarecimento, compreendendo o objetivo do presente estudo e qual

procedimento adotado. Assinando assim, o termo de consentimento, após

esclarecimento - ANEXO I

3.2 Caracterização da amostra

Foi realizada previamente a análise dos prontuários dos pacientes com

diagnóstico de Autistas que freqüentam a APAE e levantados dados como a

idade, o sexo, a cor e o tempo de atendimento equoterapêutico, sendo que

todos os participantes no projeto estavam iniciando a prática juntamente com o

estudo proposto.

Todos os participantes do projeto faziam uso de anticonvulsivante, e

realizavam tratamento psicológico uma vez por semana na APAE de Uberaba.

Foram analisados 9 praticantes com diagnóstico clássico de Autismo,

sendo 6 do sexo masculino, que freqüentam regularmente a APAE, com idade

entre 8 a 17 anos.
35

Foi utilizado para a avaliação dos pacientes com diagnóstico de Autista

as medidas de avaliação antes do início do tratamento com a Equoterapia e ao

final de 9 meses/36 sessões do tratamento. Variáveis dependentes formam

comportamentos que caracterizam o transtorno autista, de acordo com o

Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais -DSMIII-R e DSM-

IV (FREIRE, 1999). Desta maneira, realizamos o teste Teacch I - validado:

Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com Deficiência de

Comunicação (Teacch I) – ANEXO II.

As áreas avaliadas seguindo o Teacch I foram: 1) Desenvolvimento

Perceptivo; 2) Percepção Auditiva; 3) Percepção Tátil; 4) Percepção

Espacial; 5) Percepção Temporal; 6) Desenvolvimento da Motricidade; 7)

Hábitos de Independência; 8) Coordenação Manual; 9) Desenvolvimento

Verbal, Compreensão Verbal e Linguagem; 10) Áreas Numéricas e

Conceitos Numéricos Básicos; 11) Área Emocional, afetiva e Social; 12)

Desenvolvimento na Sessão de Equoterapia – vale ressaltar, que esta área

avaliada não é uma área validada pelo teste. Sendo esta acrescida pelos

pesquisadores do presente projeto.

Desta forma, avaliamos se os praticantes encontravam-se nos

seguintes grupos: Aquisição ou aprendizagem Não iniciada – NI; Iniciada – I;

Progressão – P; Superação – S e aquisição ou aprendizagem totalmente

alcançada - SI

As avaliações foram realizadas somente por examinadores previamente

treinados para a execução do teste. Foram realizadas duas avaliações, sendo

a primeira no início da pesquisa e a segunda avaliação transcorridos 9 meses

ou 36 sessões após a primeira avaliação.


36

As sessões foram realizadas na APAE, que possui uma área apropriada

para o desenvolvimento das atividades, contendo um picadeiro, um redondel

com rampa de acesso, objetos lúdicos, áreas com pisos variados (cimentado,

areia, terra batida, grama, pedra brita). Foram utilizados dois cavalos treinados

pela instituição em boas condições para os atendimentos, equipamentos

necessários para a prática de Equoterapia como, por exemplo, selas, baixeiros,

cilhões, mantas, cabeçadas, rédeas, materiais pedagógicos e lúdicos como

bolas, bastões, argolas, marionetes, brinquedos de texturas diferentes (Figura

1) e (Figura 2). A rotina do atendimento das crianças com diagnóstico de

Autistas teve a colaboração da equipe técnica da APAE e da Universidade

Federal do Triângulo Mineiro, composta por médicos, fisioterapeutas,

psicólogas, pedagogas, fonoaudiólogas, terapeutas ocupacionais e auxiliares

guias.

3.3 Critérios de inclusão e exclusão

Como critério de inclusão fez se necessário que o paciente com

diagnóstico de Autista estivesse em início de atendimento equoterapêutico na

APAE, bem como encaminhamento médico e termo de responsabilidade

assinado pelo responsável, que fora elaborado pela Associação Nacional de

Equoterapia (ANDE-BRASIL) adotado pela APAE autorizando a prática de

Equoterapia. Alem, da assinatura do Termo de Consentimento para a

realização da pesquisa.
37

Como critério de exclusão, o paciente com diagnóstico de Autista não

podia apresentar: epilepsia não controlada, cardiopatias agudas,

comportamento autodestrutivo ou com medo incoercível, instabilidades da

coluna vertebral, graves afecções da coluna cervical como hérnia de disco,

luxações de ombro ou de quadril, escoliose em evolução de 30 graus ou mais,

hidrocefalia com válvula, processos artríticos em fase aguda, úlceras de

decúbito na região pélvica ou nos membros inferiores.

3.4 Análise Estatística

Para a análise estatística foi elaborada uma planilha eletrônica banco de

dados através do programa Microsoft Excel® e os dados foram analisados

através do Software SigmaStat® 2.3. A normalidade e homogeneidade das

variâncias dos dados foram verificadas a partir do teste de Kolmogorov-

Smirnov.

Os testes estatísticos foram aplicados de acordo com os objetivos

específicos descritos neste projeto, como segue: (1) Objetivos 1 a 12. O

estudo das variáveis não paramétricas foi através do teste de McNemar.

Foram consideradas estatisticamente significativas as diferenças em que a

probabilidade foi menor que 5% (p<0,05).


38

Figura 1: Cavalo “Arco”, usado para a prática da Equoterapia em praticantes autistas


na APAE de Uberaba. Assim como, o material de montaria utilizado durante as
sessões: rédea, freio, cabresto, sela e manta.

Figura 2: Cavalo “Criolo”, usado para a prática da Equoterapia em Crianças Autistas na


APAE de Uberaba.
39

Resultados
40

Foram analisados 9 praticantes autistas com idade entre 8 a 17 anos,

sendo 6 do gênero masculino e 6 da cor branca, iniciados com tratamento

equoterapêutico na APAE de Uberaba.

As áreas avaliadas seguindo o Teacch I foram: 1) Desenvolvimento

Perceptivo; 2) Percepção Auditiva; 3) Percepção Tátil; 4) Percepção

Espacial; 5) Percepção Temporal; 6) Desenvolvimento da Motricidade e

Movimentos Corporais; 7) Hábitos de Independência; 8) Coordenação

Manual; 9) Desenvolvimento Verbal, Compreensão Verbal e Linguagem; 10)

Áreas Numéricas e Conceitos Numéricos Básicos; 11) Área Emocional,

afetiva e Social; 12) Desenvolvimento na Sessão de Equoterapia.

O número de praticantes em evolução nos grupos Não Iniciado – NI;

Iniciado – I; Progressão - P e Superação – S e 100% alcançado, foi

significativamente superior na análise da Percepção Auditiva (Tabela 1),

Desenvolvimento na Sessão de Equoterapia (Tabela 2) e Área Emocional,

Afeto e Social (Tabela 3), (Figura 3).


41

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 1 8 4 0 0

I 0 0 10 0 0

P 0 0 9 4 0

S 0 0 0 0 0

SI 0 0 0 0 0

Tabela 1- Dados referentes à área da Percepção Auditiva. Total de

perguntas observadas com os 9 praticantes: 36, submetidos a 36 sessões

de Equoterapia na APAE de Uberaba.

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 11 17 22 22 21

I 0 0 1 0 18

P 0 0 0 0 4

S 0 0 0 0 2

SI 0 0 0 0 8

Tabela 2: Dados referentes à área do Desenvolvimento na Equoterapia.

Total de perguntas observadas com os 9 praticantes: 126, submetidos a 36

sessões de Equoterapia na APAE de Uberaba.


42

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 30 32 5 0 0

I 0 6 5 0 0

P 0 0 7 0 0

S 0 0 0 0 0

SI 0 0 0 0 5

Tabela 3: Dados referentes à Área emocional, afetiva e Social. Total de

perguntas observadas com os 9 praticantes: 90, submetidos 36 sessões de

Equoterapia na APAE de Uberaba.

Perguntas
120 108
Permaneceu
Evoluiu
100

80

60 49
41

40 28
18
8
20

0
Percepção Auditiva Desenv. na Equot Emocional

Figura 3- Áreas que evoluíram com a Equoterapia observadas em


praticantes autistas antes e após 36 sessões (Teste de McNemar *p<0,05).
43

Quanto a Percepção Temporal (Tabela 4), Desenvolvimento Perceptivo

(Tabela 5), Percepção Espacial (Tabela 6) e Tátil (Tabela 7), houve um

número significativamente maior de participantes que permaneceu no grupo

NI, e que evoluíram nos grupos I/ P/S (Figura 4).

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 118 4 0 0 0

I 0 5 3 0 0

P 0 0 4 1 0

S 0 0 0 0 0

SI 0 0 0 0 0

Tabela 4: Dados referentes à área da Percepção Temporal. Total de

perguntas observadas com os 9 praticantes: 135, submetidos a 36 sessões

de Equoterapia na APAE de Uberaba.


44

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 38 8 0 0 0

I 0 11 7 0 0

P 0 0 3 2 0

S 0 0 0 3 0

SI 0 0 0 0 0

Tabela 5: Dados referentes à área do Desenvolvimento Perceptivo. Total de

perguntas observadas com os 9 praticantes: 72, submetidos a 36 sessões

de Equoterapia na APAE de Uberaba.

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 66 27 4 0 0

I 0 15 10 0 0

P 0 0 4 0 0

S 0 0 0 0 0

SI 0 0 0 0 0

Tabela 6: Dados referentes à área da Percepção Espacial. Total de

perguntas observadas com os 9 praticantes: 126, submetidos a 36 sessões

de Equoterapia na APAE de Uberaba.


45

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 19 9 1 0 0

I 0 16 7 0 0

P 0 0 7 3 0

S 0 0 0 0 1

SI 0 0 0 0 0

Tabela 7: Dados referentes à área da Percepção Tátil. Total de perguntas

observadas com os 9 praticantes: 63, submetidos a 36 sessões de

Equoterapia na APAE de Uberaba

Perguntas Permaneceu 18
18 Evoluiu 16
16
14

12
10
10
7
8
5 5 5
6 4
4

2
0
Percepção Temporal Desenvolvim. Perceptivo Percepção Espacial Percepção Tátil

Figura 4- Áreas que evoluíram de Iniciado para Superação/Progressão


após 36 sessões de Equoterapia (Teste de McNemar * p< 0,05).
46

Na análise de Desenvolvimento Verbal e Compreensão Verbal (Tabela

8), Coordenação Manual (Tabela 9), Desenvolvimento da Motricidade

(Tabela 10), Hábitos de independência (Tabela 11) e Áreas Numéricas -

conceitos numéricos básicos (Tabela 12), o número de praticantes que

permaneceram com o mesmo grau de habilidade foi significativamente

superior, (Figura 5).

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 54 6 0 0 0

I 0 5 3 0 0

P 0 0 8 3 0

S 0 0 0 0 0

SI 0 0 0 0 2

Tabela 8: Desenvolvimento Verbal e Compreensão Verbal. Total de

perguntas observadas com os 9 praticantes: 81, submetidos a 36 sessões

de Equoterapia na APAE de Uberaba.


47

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 83 34 4 0 0

I 0 12 10 3 0

P 0 0 6 2 0

S 0 0 0 0 0

SI 0 0 0 0 26

Tabela 9: Dados referentes à área da Coordenação Manual. Total de

perguntas observadas com os 9 praticantes: 180, submetidos a 36 sessões

de Equoterapia na APAE de Uberaba.

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 20 4 1 0 0

I 0 4 0 0 0

P 0 0 4 6 0

S 0 0 0 0 0

SI 0 0 0 0 78

Tabela 10: Dados referentes à área do Desenvolvimento da Motricidade.

Total de perguntas observadas com os 9 praticantes: 117, submetidos a 36

sessões de Equoterapia na APAE de Uberaba.


48

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 71 27 2 1 0

I 0 13 4 0 0

P 0 0 9 5 0

S 0 0 0 0 1

SI 0 0 0 0 47

Tabela 11: Dados referentes à área dos Hábitos de Independência. Total de

perguntas observadas com os 9 praticantes: 180, submetidos a 36 sessões

de Equoterapia na APAE de Uberaba.

2º Avaliação

1º Avaliação NI I P S SI

NI 99 9 1 0 0

I 0 6 1 0 0

P 0 0 1 0 0

S 0 0 0 0 0

SI 0 0 0 0 0

Tabela 12: Dados referentes as Áreas Numéricas e Conceitos Numéricos

Básicos. Total de perguntas observadas com os 9 praticantes: 117,

submetidos a 36 sessões de Equoterapia na APAE de Uberaba.

140
49

Perguntas
140 Permaneceu
127 Evoluiu
120 106 106

100

80 69

53
60
40
40

20 12 11 11

0
Desenv. Verbal Coord. manual Desenv. motric Hábit. independ Áreas numéricas

Figura 5- Áreas que permaneceram com o mesmo grau de habilidade após


36 sessões de Equoterapia em praticantes autistas (Teste de McNemar * p<

0,05).
50

5 Discussão
51

Em nosso estudo observamos que todos os praticantes de Equoterapia

com autismo que participaram desde trabalho tiveram em alguma das áreas

avaliadas melhoras. Embora, algumas de forma mais evidentes que outras,

como a área emocional – afetiva e social, percepção auditiva, e sessões de

Equoterapia. Os praticantes no desenvolvimento do trabalho passaram a

perceber melhor os profissionais que ali estava e também o cavalo, passaram a

reagir de modo menos desadequado ao contado físico, gostando de estar

montado a cavalo e demonstrando carinho com os profissionais e

principalmente com o animal. Na literatura encontra-se descrito que autista

facilita o trato com os animais por haver uma semelhança em seus

comportamentos (GRANDIN E JOHNSON, 2005).

Nossos dados demonstraram que os comportamentos impróprios, agressivos e

de agitação, apresentaram redução com o passar das sessões de Equoterapia.

Durante as sessões o contato entre o praticante e o cavalo foi multissensorial.

O autista manifestou-se emocionalmente com o cavalo através do toque e da

expressão facial, onde obtivemos melhoras na área afetiva - social e

emocional. Estando de acordo com que foi descrito na literatura. (GARRIGUE

et al,1999; SCHULZ, 1997).

As alterações no nosso estudo na área da percepção auditiva

apresentaram características evolutivas com resultados significativos, estando

de acordo com a literatura, que, em nível sensoperceptivo o cavalo irá

contribuir na estimulação dos sistemas vestibular, somatossensorial,

proprioceptivo, visual e auditivo no paciente (MEDEIROS E DIAS, 2002).

Ao analisarmos a área do Desenvolvimento Perceptivo, Percepção Tátil,

Espacial, e Temporal, observamos que não houve diferença estatisticamente


52

significativa nos grupos que se encontravam em habilidade Não Iniciada - NI.

Porém, entre os praticantes que se encontravam nos grupos Iniciado – I,

Progressão - P e Superação - S, no início do trabalho, obtiveram uma

evolução significativa. Estes dados demonstram que a Equoterapia melhora a

coordenação espaço-temporal e o desenvolvimento perceptivo, dependendo do

grau de evolução de cada praticante (BUCHENE & SAVINI, 1996; BROWN,

2000). Além disso proporciona aos praticantes uma adequação no

estabelecimento do contato tátil (FREIRE, 2000).

Em nosso estudo encontramos o mesmo grau de habilidade, nas áreas

do Desenvolvimento da Motricidade e Movimentos Corporais, Coordenação

Manual, Desenvolvimento Verbal, Compreensão Verbal e Linguagem. Acredita-

se que no Desenvolvimento da Motricidade e Movimentos Corporais, não

encontramos diferença estatisticamente significante, porque os praticantes

autistas, incluídos neste estudo, tinham graus considerados satisfatórios para

esta categoria. Em outros trabalhos, os autores demonstram que a Equoterapia

pode contribuir para uma marcha mais independente, pois sobre o cavalo tem-

se a oportunidade de vivenciar mudanças posturais em postura ereta e praticar

estabilização de cabeça e tronco, além de experimentar diversas forças em

variados planos de movimento, como situações momentâneas e que exigem

novos ajustes posturais para que ele continue a se manter posicionado sobre o

cavalo (FLECK ,1992; LALLERY, 1992; BUCHENE E SANIVI, 1996;

GARRIGUE et al., 1999; ROCHA E LOPES, 2004).

Estudos mostram que os indivíduos do espectro autista apresentam

algum tipo de comunicação (BERNARD - OPTIZ, 1982; MOLINI E


53

FERNANDES, 2003). Ao contrário dos dados estatísticos que encontramos em

nosso estudo.

Em relação a área numérica e conceitos numéricos básicos, observamos

uma permanência dos dados, sem diferença estatisticamente significante, onde

os praticantes na avaliação desta área demonstram falha na coerência e,

conseqüentemente, tendência a prestar atenção em detalhes. Desta forma,

tornou-se difícil o estabelecimento da relação entre as partes e o todo. O que

esta de acordo com outros autores (TAWNEY E GAST, 1984; SPRANDLIN E

BRADY, 1999; ALMEIDA, 2003; HAPPÉ, 2006).

Este estudo demonstrou de forma geral que o autista demonstrou gostar

de estar em contado com o cavalo. Na literatura é descrito que a maioria dos

autistas vivenciam o mundo de forma parecida com a dos animais (GRANDIN

E JOHNSON, 2005).

Em conclusão, o cavalo revelou ser um organizador potente do

comportamento de todas as crianças. Observamos ainda que os praticantes

exibiram manifestações de autoconfiança, capacidade e auto-suficiência,

comportamentos esses imprescindíveis para o desenvolvimento de uma vida

estável.

Acreditamos também que seria importante que o estudo das áreas

numéricas fosse reaplicado com um número maior de participantes. Uma vez

que, justifica-se o desenvolvimento de tecnologias para o ensino de habilidades

acadêmicas que atinjam esse público, pois no Brasil, com o advento da filosofia

de inclusão escolar, a educação de pessoas com necessidades educacionais

especiais, incluindo autistas, passou a ser direcionada para a escola regular

(GOMES, 2007).
54

6 Conclusão
55

6.1 Com relação aos objetivos propostos concluímos que:

6.1.1. A ocorrência de evolução em crianças autistas avaliadas após 9

meses de sessão de Equoterapia uma vez por semana por um

tempo de 30 minutos, nas áreas da Percepção Auditiva,

Emocional, afetiva e social e Desenvolvimento na Sessão de

Equoterapia, demonstrou ser um método eficaz para o praticante

autista já que com ela conseguimos proporcionar a esta

população melhoras após os estudos realizados;

6.1.2. quando analisamos o Desenvolvimento Perceptivo, Percepção

Tátil, Espacial e Temporal, observamos que os praticantes que se

encontravam no início do trabalho no grupo Não iniciado – NI,

mantiveram os mesmos resultados ao final da pesquisa. Porém,

os que estavam nos grupos Iniciado – I, Progresso - P e

Superação – S, obtiveram evolução quando avaliados ao final das

36 sessões.

6.1.3 houve prevalência do mesmo grau de habilidade nas áreas do

Desenvolvimento da Motricidade e Movimentos Corporais,

provavelmente como conseqüência dos praticantes apresentarem

uma boa evolução no início da avaliação; além da área da

Linguagem, Desenvolvimento Verbal, compreensão verbal, os

praticantes mantiveram sem apresentar dados significativos de

evolução.

6.1.4 na avaliação da área numérica e conceitos numéricos básicos não

ocorreu evolução significante, uma vez que os praticantes


56

permaneceram nos mesmos grupos avaliados Não iniciado – NI,

Iniciado – I, Progressão – P e Superação - S.

Finalmente, concluímos que a Equoterapia revelou ser um método eficaz

para o praticante autista, tendo em vista que conseguimos proporcionar a esta

população melhoras após os estudos realizados envolvendo as áreas de

Percepção Auditiva, Desenvolvimento na Sessão de Equoterapia, Área

Emocional, Percepção Temporal, Desenvolvimento Perceptivo, Percepção

Espacial e Tátil. Porém, vale ressaltar que essa evolução é variável de acordo

com a fase de desenvolvimento de cada praticante. Nosso estudo confirma que

a Equoterapia promove nos praticantes autistas uma melhora na qualidade de

vida, reforçando a auto-estima, proporcionando-lhes confiança e segurança

com o passar das sessões. A prática da Equoterapia como agente terapêutico

tem se difundido, e isto se justifica pelos seus objetivos de estimular o indivíduo

como um todo, favorecendo as funções neuromotoras, cognitivas e

psicossociais. Desta forma, a Equoterapia colabora no processo de reabilitação

ativa do indivíduo participando de seu crescimento e desenvolvimento.


57

7 Referências Bibliográficas
58

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23. HAAG, G.; TORDJMAN, S.; DUPRAT, A.; URWAND, S.; JARDIN, F.;

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28. McCONNEL, S. R. Interventions to facilitate social interaction for

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33. ROCHA, C. R. F.; LOPES, M. L. P. Fisioterapia aplicada à

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42. TAWNEY, J. W.; GAST, D. L. Single subject research in special

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44. WING, L. Syndromes of autism and atypical development. Journal

New York Sons, n. 2, p. 148 -172, 1997.


65

8 Anexos
66

TERMO DE ESCLARECIMENTO

TÍTULO DO PROJETO: EFEITOS DA EQUOTERAPIA EM CRIANÇAS


AUTISTAS

Você é responsável por um paciente portador de uma doença denominada Autismo e


seu tutelado está sendo convidado(a) a participar do estudo “Análise dos efeitos da
equoterapia em praticantes autistas”. Os avanços na área da saúde ocorrem através
de estudos como este, por isso a sua participação é importante. O objetivo deste estudo é
analisar os efeitos obtidos pela equoterapia nas “relações físicas e sociais” dos pacientes
Autistas. Caso você aprove a participação, seu tutelado não sentirá desconforto ao
realizar os testes, pois eles serão inseridos nas sessões semanais de equoterapia.

Você poderá obter todas as informações que quiser e poderá retirar seu consentimento a
qualquer momento, sem prejuízo no atendimento. Pela participação no estudo, não
haverá recebimentos de valor em dinheiro, mas terá a garantia de que todas as despesas
necessárias para a realização da pesquisa não serão de sua responsabilidade. Não será
mencionado o nome do paciente e os resultados obtidos serão expressos em letras ou
números.
67

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE, APÓS ESCLARECIMENTO

TÍTULO DO PROJETO: EFEITOS DA EQUOTERAPIA EM PRATICANTES


AUTISTAS

Eu, ____________________________________________________________, li e/ou


ouvi o esclarecimento acima e compreendi para que serve o estudo e qual procedimento
será realizado. A explicação que recebi esclarece os riscos e benefícios do estudo. Eu
entendi que sou livre para interromper a participação a qualquer momento, sem
justificar minha decisão e que isso não afetará o tratamento de meu tutelado. Sei que o
nome não será divulgado, que não terei despesas e não receberei dinheiro por participar
do estudo. Eu concordo em participar do estudo.

Uberaba,............./ ................../................

____________________________________ _______________________

Assinatura do voluntário ou seu responsável legal Documento de identidade

______________________________ _________________________________

Assinatura do pesquisador responsável Assinatura do pesquisador orientador

Telefone de contato dos pesquisadores: 3318-5428 (Disciplina de patologia

Geral/UFTM) 3331-7500 (APAE/Uberaba – MG).

Em caso de dúvida em relação a esse documento, você pode entrar em contato com o

Comitê Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, pelo telefone

3318-5428 Disciplina de Patologia Geral.


68

AVALIAÇÃO

( X ) Primeira Avaliação: Fevereiro de 2007


( *) Segunda Avaliação: Novembro de 2007

Os itens admitem vários tipos de respostas.

Em todos colocaremos um X para a primeira avaliação e um *

para segunda avaliação, na coluna da direita no lugar em

que corresponda a seguinte legenda:

NI: Aquisição ou aprendizagem “Não iniciada”.

I: Aquisição ou aprendizagem em etapa de “Iniciação”.

P: Aquisição ou aprendizagem em fase “progresso”.

S: Aquisição ou aprendizagem em fase “Superação”.

SI: Aquisição ou aprendizagem totalmente alcançada 100%.

Aluno (a):

Data: Método de atendimento: Teacch

Responsável pela coleta dos dados:


69

Desenvolvimento Perceptivo NI I P S
1 Segue com vista a trajetória de um objeto (perto – longe)
2 Discrimina intensidade da luz (dia – noite – claro – escuro)
3 Conhece as formas dos objetos e agrupa
4 Discrimina as cores primárias ( branco, preto, vermelho, azul, verde,
amarelo)
5 Discrimina as cores secundárias. Quais?
6 Percebe o que falta em figuras
7 Identifica semelhança entre pares
8 Identifica diferença nos pares

Percepção Auditiva
Discrimina sons produzidos:
1 Pelo próprio corpo
2 Por instrumentos
3 Por animais
4 Localiza de onde vem o som
Percepção Tátil
1 Partes do corpo, Quais?
2 Objetos. Quais?
3 Quente – frio
4 Formas geométricas
5 Discrimina objetos por sua textura (áspero, suaves, rugosos, lisos)
6 Discrimina diferentes sabores (doce, amargo, salgado)
7 Discrimina odores (agradável, desagradável)

Percepção Espacial

Discrimina:

1 Dentro - fora

2 Fechar - abrir

3 Grande - pequeno

4 Alto - baixo

5 Acima - abaixo

6 Cheio - vazio
70

7 Perto - longe

8 Curto - comprido

9 Igual - diferente

10 Largo - estreito

11 Princípio - fim

12 Direita - fim

13 Soluciona quebra -cabeça

14 Discrimina formas geométricas: em cima, em baixo, ao lado, menor,


maior

Percepção Temporal

Discrimina os seguintes conceitos:

1 a) Dia - noite

2 b) Antes – agora - depois

3 c) Manhã – tarde - noite

4 d) Hoje – amanhã - ontem

5 e) Semana (fala os dias, sabe a ordem)

6 f) Mês

7 g) Ano

8 h) Estações do ano – as reconhece. Quais?

Percepção Temporal

Discrimina no relógio:

9 As horas em ponto

10 As meias-horas

11 Os quartos de horas

12 Os minutos

13 Os segundos

14 Verbaliza fatos em ordem cronológica


71

15 Mona estórias em seqüência

DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE NI I P S SI

1 Movimentos e coordenações gerias

2 Controla a cabeça

3 Mantém-se sentado

4 Engatinha

5 Põe-se de pé

6 Caminha

7 Corre

8 Salta

9 Lança objetos

10 Maneja uma bicicleta (de três rodas / de duas)

11 Marcha

12 Andar em um pé só

13 Faz um quatro

HÁBITOS DE INDEPENDÊNCIA NI I P S SI
1 Come sozinho
2 Usando colher
3 Usando garfo
4 Usando faca
5 Controla esfíncteres
6 a) durante o dia (urinário, anal)
7 b) durante a noite (urinário, anal)
8 Calça chinelos
9 Assoa com um lenço
10 Desabotoa
11 Usa o W.C. de forma independente
12 Veste roupas. Quais?
13 Escova os dentes
14 Corta as unhas
15 Usa normas de cortesia com os demais (cumprimenta, despede-se,
desculpa-se, responde a perguntas)
16 Anda sozinho pelas ruas
72

17 Toma banho sozinho


18 Penteia os cabelos
19 Alimenta-se sozinho
20 Sabe preparar refeições simples

COORDENAÇÃO MANUAL NI I P S SI
A Mantém objetos na mão
B Domina os movimentos das mãos
C Pressão
D Força
Precisão
1 Coordena os movimentos viso-manuais
2 Pressão
3 Força
4 Precisão
5 Coordenação grafo-manual (pré-escrita)
6 Realiza traços livres: com as mãos, com os dedos (horizontal,
vertical, inclinado, curvas, espiral, cruzados, saltos, paralelas, etc.
7 Realiza traços com instrumentos: grosso (pincéis, giz)
8 Finos (lápis, caneta)
9 Precisão
10 Preenche espaços de forma geométrica
11 Preenche espaços fechados por moldes
12 Preenche espaço fechado por linhas
13 Une ponto previamente dispostos
14 Traça linhas
15 Reproduz figuras geométricas

DESENVOLVIMENTO VERBAL E COMPREENSÃO VERBAL NI I P S SI

1 Discrimina as pessoas pó seu nome

2 Entende ordens (simples, complexas)

3 Reconhece objetos por seu nom. Quais?

4 Define palavras concretas

5 Define palavras abstratas. Quais?

6 Sabe sinônimo de palavras. Quais?


73

7 Sabe antônimo de palavras. Quais?

8 Explica o significado de uma explicação

9 Resume o significado de uma explicação

ÁREAS NUMÉRICAS CONCEITOS NUMÉRICOS BÁSICOS NI I P S SI

1 Usa significativamente os conceitos: quantitativos referentes a pessoas

(ninguém, nenhum, um, pouco, algum, vários, muitos, todos)

2 Quantitativos referentes a coisas (nada – pouco – muito – tudo)

3 Comparação (mais igual – menos – maior/menor)

4 Ordem (primeiro e último)

5 Resolve multiplicações: por um algarismo. Quais?)

6 Por dois ou mais algarismos

7 Possui um conceito de fração

8 Raciocínio abstrato: resolve quebra-cabeça e outras construções

9 De quantas peças

10 Classifica objetos: de acordo com um critério (cor, forma, tamanho)

11 Encontra relações de igualdade

12 Encontra deifrenças

13 Dá soluções práticas e situações concretas

ÁREA EMOCIONAL – AFETIVA E SOCIAL NI I P S SI

1 Supera os medos

2 Supera as trivialidades

3 Reage equilibradamente à frustração

4 Supera rações de competição

5 Comporta-se de forma correta, sem necessidade de motivação

extrínseca

6 Mostra um estado emocional regular: Quais condutas inadequadas


74

demonstram com mais freqüência? (impaciência, choro, caprichos)

7 Outros: nervosismo, mexe-se com freqüência não atendendo pedidos

para parar

8 Integra-se bem no grupo

10 Em caso negativo: que conduta de egocentrismo mostra?

11 Mostra-se membro ativo no grupo

12 Atém-se a normas de comportamento ético-social. Em caso negativo:

que comportamento realiza?

MELHORAS NAS SESSÕES DE EQUOTERAPIA NI I P S SI

1 Medo do cavalo

2 Faz carinho no cavalo

3 Segura no cepilho

4 Sobe do cavalo e desce do cavalo sozinho

5 Interage com o animal

6 Interage com a Equipe

7 Mantém boa postura em cima do cavalo

8 Mantém maneirismos em cima do cavalo

9 Se mantém sozinho em cima do cavalo

10 Tem noção do balanço do cavalo

11 Coloca os pés no estribo

12 Tem interesse em ir para a sessão

13 Descrimina sons produzidos por animais

14 Mantém o equilíbrio em cima do cavalo

OBS: Melhoras na sessão de Equoterapia, adaptação da avaliação


75

Eventos que ocorreu a apresentação da tese

1. Apresentação em congresso: Congresso de Fisioterapia do Triângulo

Mineiro, Uberaba, Minas Gerais, Maio de 2008.

2. Publicação com Resumos: Suplemento da revista Fisioterapia e

Especialidades.

3. Apresentação em Congresso: I Congresso Latino Americano e IV

Brasileiro de Equoterapia, Curitiba, Paraná, Setembro de 2008-08-28

4. Publicação com Resumos nos Anais I Congresso Latino Americano e IV

Brasileiro de Equoterapia
76

Hippotherapy Autism
35 artigos 13040 artigos

Hippotherapy and Autism


0 artigos

Hippotherapy Autism
3 artigos 77 artigos

Hippotherapy and Autism


0 artigos

Hippotherapy Autism
1 artigos 11124 artigos

Hippotherapy and Autism


0 artigos
ESTUDO DE CASO: EQUOTERAPIA COM UMA CRIANÇA
PORTADORA DE DISTÚRBIO AUTISTA ATÍPICO

Grubits Freire, H. B.
Programa de Equoterapia da Universidade Católica Dom Bosco
PROEQUO-UCDB
Campo Grande / MS - Brasil
Freirejb@terra.com.br

INTRODUÇÃO:

O recurso terapêutico adotado para este estudo foi a Equoterapia,


que segundo CIRILLO (1991:01), “é um tratamento de reeducação
motora e mental, através da prática de atividades eqüestres e técnicas de
equitação"
Os recursos terapêuticos que utilizam o cavalo são consideradas
por CITTERIO (1991), como um conjunto de técnicas reeducativas que
agem para superar danos sensoriais, motores, cognitivos e
comportamentais. A autora também ressalta que a Equoterapia
caracteriza-se como uma atividade lúdico-desportiva, que utiliza o
cavalo.
Segundo o DSM-IV (1995) e CID10 (OMS, 1993), Transtorno
Autista ou Autismo Infantil Precoce é um transtorno invasivo do
desenvolvimento definido pela presença de desenvolvimento anormal
e/ou comprometido que manifesta antes da idade de três anos pelo tipo
característico de funcionamento anormal em todas as três áreas: interação
social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo. Sua
prevalência é de 4 a 5:10.000, com predomínio em indivíduos do sexo
masculino (3:1 ou 4:1), sendo decorrente de uma vasta gama de condições
pré, peri e pós-natal.
De acordo com DSM-III-R (1989) o autismo ocorre antes de três
anos, causado por uma vasta gama de indicações pré, peri e pós-natal.
Apresentam oito a dezesseis itens, dois itens do grupo A, um do B e um
do C.
A . Incapacidade qualitativa na integração social recíproca.
B .Incapacidade qualitativa de comunicação verbal e não-verbal e na
atividade imaginativa.
C .Repertório de atividades e interesses acentuadamente restritos.
OBJETIVOS:

Através deste estudo, observamos o desenvolvimento da


Equoterapia, enquanto recurso terapêutico, no tratamento de uma criança
portadora de distúrbio autista atípico, segundo a classificação do DSM-
IV, analisando dados específicos tais como: desenvolvimento global,
aspectos psicomotores, área emocional, linguagem e socialização,
aprofundando estudos já realizados posteriormente.

MÉTODO:

Trata-se de um estudo de caso, utilizando análises e avaliações


pré e pós intervenção, sendo que a variável independente introduzida foi a
Equoterapia.
As variáveis dependentes foram 11 comportamentos que
caracterizam o transtorno autista, de acordo com o DSM-IV e 09
considerados relacionados com o trabalho a cavalo de acordo com os
itens contidos na tabela ECCA (Freire, 1999).
A criança analisada foi um menino de 05 anos, portadora de
distúrbio autista atípico.
Para este estudo foram utilizados registros contínuos das sessões,
fichas de registro de comportamentos observados e fichas de avaliação
padrão da Associação dos Amigos dos Autistas. Foi realizada uma sessão
de meia hora, por semana, durante dois semestres.
A avaliação final dos resultados foi feita pela pesquisadora e
equipe de atendimento da AMA.

RESULTADOS:

Os resultados abaixo foram retirados das fichas de avaliação


padrão da Associação dos Amigos dos Autistas – AMA. (Freire, 1999)

DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO

• Segue com a vista a trajetória de um objeto (perto – longe)--------------


progrediu
• Discrimina intensidade da luz (dia – noite / claro – escuro)--------------
progrediu
• Conhece as formas dos objetos e agrupa------------------------------------
-iniciou
DESENVOLVIMENTO PERCEPTIVO
Percepção Tátil

• quente – frio---------------------------------------------------------------------
--iniciou

DESENVOLVIMENTO DA MOTRICIDADE

• Movimentos e coordenações gerais----------progrediu


• Engatinha----------------------------------------conseguiu, com agilidade
• Põe-se de pé------------------------------------fase totalmente superada e
sem insegurança
• Caminha-----------------------------------------fase totalmente superada e
sem insegurança
• Corre---------------------------------------------de pequenas tentativas com
muita insegurança passou a correr livremente
• Salta----------------------------------------------não conseguia e agora o
faz
• Lança objetos-----------------------------------não conseguia e agora o
faz

HÁBITOS DE INDEPENDÊNCIA

• Come sozinho---------------------------está tentando antes não o fazia


• Usando colher---------------------------sim
• durante o dia (urinário, anal)----------iniciou o controle
• durante a noite (urinário, ------------- iniciou o controle
• Usa o W.C. de forma independente--iniciou
• Escova os dentes------------------------iniciou
• Usa normas de cortesia com os demais (cumprimenta, despede-se,
responde algumas perguntas)--------------------iniciou
• Toma banho sozinho-------------------iniciou
• Penteia os cabelos----------------------iniciou
• Alimenta-se sozinho-------------------iniciou

ESQUEMA CORPORAL

• Em seu corpo, nos demais, nos desenhos--------------------------iniciou


• Diz para que servem as diversas partes do corpo-----------------iniciou
• Percebe e reproduz estruturas rítmicas (simples e complexas)-----------
iniciou
• Mantém o equilíbrio. (Em quais posições e movimentos de pé, sentado)--
conseguiu
• Dança (com agilidade, com inabilidade seguindo o ritmo, sem segui-lo)--
iniciou

COORDENAÇÃO MANUAL

• Mantém objetos na mão--------------------------------progrediu


• Coordena os movimentos viso-manuais-----------------iniciou

ÁREA EMOCIONAL – AFETO – SOCIAL

• Supera os medos------------------------------------------progrediu
• Reage equilibradamente à frustração------------------progrediu
• Comporta-se de forma correta, sem necessidade de motivação
• extrínsica---------------------------------------------------progrediu
• Mostra um estado emocional regular. Quais condutas inadequadas
demonstra com mais freqüência? (impaciência, choro, caprichos)---------
melhorou
• Integra-se bem no grupo-------------------------------------------progrediu
• Mostra-se membro ativo no grupo-------------------------------progrediu

LINGUAGEM

• Expressão facial----------------------------------------iniciou e progrediu


durante o tratamento
• Gestos comunicativos--------------------------------- iniciou e progrediu
durante o tratamento

SOCIALIZAÇÃO

• *Mantém contato visual-------------------------sim


• *Cumprimenta outros que não os -------------sim
• *Acena bye-bye----------------------------------sim
• *Faz imitação-------------------------------------sim
• *Faz amizades------------------------------------sim
• *Busca contato corporal-------------------------sim

*Estes comportamentos não ocorriam.


Os dados exibidos a seguir foram colhidos através das fichas de registro
de comportamentos observados (Freire,1999)

GRÁFICOS DOS COMPORTAMENTOS OBSERVADOS POR


PACIENTE (ECCA, 1999)

A - Percepção do Outro. Focalizar Atenção em um membro da equipe


(visual ou auditiva), alerta da existência ou sentimentos dos outros. (39%)

B - Imitação. Imitação dos gestos propostos pela equipe.(06%)

C - Jogo Social. Reciprocidade social ou emocional. Relacionar-se com


os membros da equipe.(58%)

D - Amizade com seus pares. Relacionar-se ou procurar outro paciente,


ou seja relacionamento apropriado com seus pares a nível de
desenvolvimento.(06%)

E - Balbucio Comunicativo. Balbucio com intenção de relacionamento


social.(06%)

F - Mímica. Mudança de expressão facial.(61%)


.
G - Linguagem Falada. Palavras inteligíveis.(41%)

H - Sorriso como Resposta. Sorriso que denota algum sentido.(78%)

I - Postura corporal ou gestos para iniciar ou modular a interação.


Vontade objetiva demostrada, tentativa de compensar a linguagem falada
com modos alternativos, tais como gestos ou mímica.(44%)

J - Estereotipias. Maneirismos motores esterotipados e repetitivos, por


exemplo agitar ou torcer as mãos ou dedos ou movimentos complexos de
todo corpo.(39%)

K - Vinculação com objetos inusitados. Estar sempre necessitando de


algum objeto diferente para manipular na hora de sessão.(06%)

L - Percepção em relação ao mundo externo. Observação de objetos e


situações que que diferem do cavalo e equipe que acompanha o
paciente.(39%)

M - Ajuste tônico postural. Ajuste da postura a cavalo.(78%)


PACIENTE E2.

K
E2.
F

0 50 100
A B C D E F GH I J L MN OP QR S T

39 6 56 6 6 61417844393978115017 447844 0
E2.

N - Reação de evitação ao cavalo. Não querer aproximar-se do


cavalo.(11%)

O - Estado de excitação. Agitação excessiva durante a sessão.(50%)

P - Aversão ao contato físico. Não admitir o toque ou afago dos


membros da equipe.(17%)

Q - Obedecer ordens simples. Fazer o que é proposto durante a


sessão.(44%)

R- Percepção, exploração e relacionamento com animal. Perceber o


cavalo.(78%)

S -Iniciativa própria. Mostrar intenção e desejo por algo.(44%)

T- Dispersão. Desligar-se do ambiente, equipe e animal durante a


sessão.(0%)
CONCLUSÃO

Foram resultados relevantes na pesquisa em questão, a aceitação


do contato com os membros da equipe, principalmente contato corporal,
assim como o desenvolvimento afetivo para cognição e aprendizagem.
Existe uma relação entre áreas motoras e o desenvolvimento
emocional e afetivo, o que reforça a importância de trabalhos e propostas
que beneficiem o desenvolvimento da motricidade.
O movimento rítmico do cavalo faz com a gama de estímulos
proprioceptivos e exteroceptivos sejam aumentados, isto estimula a
atenção da criança para com seu corpo e podemos perceber uma melhora
em seu esquema corporal, e cognição.
O recurso equoterápico pode auxiliar na melhora das relações
sociais das crianças autistas e favorece uma melhor percepção do mundo
externo. Melhora o ajuste tônico-postural e a sua “comunicação” quando
submetida à referida técnica.

REFERÊNCIAS BIBLIOGÁFICAS

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EQUOTERAPIA - ANEq - 1º


Seminário Multidisciplinar sobre Equoterapia. Brasília-DF, CORDE,
1991.

ASSOCIAÇÃO Nacional de Equoterapia. Coletânea de Trabalhos.


Brasília: ANDE BRASIL, 1999

DSM-IV. Critérios Diagnósticos do DSM-IV-APA. Porto Alegre: Artes


Médicas, 1955.

DSM – III – R. Washington: APA, 1989.

DSM – IV. Critérios Diagnósticos do DSM – IV. APA. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1995.

FREIRE, Heloisa Bruna Grubits, Equoterapia Teoria e Técnica: uma


experiência com crianças autistas. São Paulo: Vetor Ed., 1999.

SCWARTZMAN, José Salomão. Autismo Infantil. São Paulo; Memnon,


1995.

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