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ARTIGOS SOBRE PRÁTICA DE HIDROTERAPIA EM PESSOAS COM PARALISIA CEREBRAL

OBJETIVO DA PROVA: Demonstrar que a prática de hidroterapia com pessoas com paralisia
cerebral é amplamente difundida e reconhecida pela sociedade acadêmica e clínica, possuindo
cientificidade e eficácia comprovada
revisão
relato de caso

A importância da hidrocinesioterapia na
paralisia cerebral: relato de caso
The importance of hydrokinesiotherapy in cerebral palsy: case report

Fabiana Magalhães Navarro1, Bruna Beatriz Xavier Machado2, Aline


Dayane Néri2, Eloísa Ornellas2, Andressa Altrão Mazetto2

RESUMO SUMMARY
O termo paralisa cerebral é definido como uma desordem do mo- The term cerebral palsy is defined as a movement and position
vimento e da postura devido a uma lesão no cérebro imaturo. É clutter due to a lesion in immature brain. It is not a gradual pa-
uma patologia não progressiva e provoca debilitações variáveis thology and provokes changeable weakness in the coordina-
na coordenação da ação muscular, com resultante incapacida- tion of muscular action, with resultant incapacity in keeping
de em manter posturas e realizar movimentos normais, sendo positions and carrying out normal movements, being that the
que a gravidade das alterações depende da extensão e localiza- gravity of the alterations depends on the extension and loca-
ção da lesão. O objetivo deste estudo foi verificar a importância lization of the lesion. The goal of this study was to verify the
da hidrocinesioterapia no tratamento da paralisia cerebral para importance of the hydrokinesiotherapy in the treatment of
a manutenção e/ou melhora do quadro clínico. Para isso foi ava- the cerebral palsy for the maintenance and/or improvement
liado um paciente na Clinica Escola de Fisioterapia da Faculdade of the clinical status. Then, a patient who presented spastic te-
UNINGÁ, que apresentava quadro de tetraparesia espástica e ata- traparesis and ataxia was evaluated and received attendance
xia, que recebeu atendimento no setor de hidroterapia durante o in hydrotherapy sector during 2006 in Physiotherapy Clinic of
ano de 2006, onde se enfatizou a melhora e/ou manutenção da UNINGÁ. This treatment emphasized the improvement and/
sua funcionalidade. Verificou-se que a terapia aquática é muito or maintenance of his functionality. It was verified that the
eficaz para o relaxamento muscular, redução de espasmos mus- aquatic therapy is very efficient for the muscular relaxation,
culares e espasticidade, melhora da musculatura respiratória, reduction of muscular contraction and spasticity, improves
melhora do equilíbrio e da amplitude de movimento, sendo os the respiratory muscles, improves the balance and the ampli-
princípios físicos da água auxiliares no processo de tratamento. tude of movement, and the physical principles of the water
are helpful in the treatment process.

Unitermos. Paralisia Cerebral, Espasticidade Muscular, Hidroterapia. Keywords. Cerebral Palsy, Muscle Spasticity, Hydrotherapy
Citação. Navarro FM, Machado BBX, Néri AD, Or- Citation. Navarro FM, Machado BBX, Néri AD, Ornellas E, Ma-
nellas E, Mazetto AA. A importância da hidroci- zetto AA. The importance of hydrokinesiotherapy in cerebral
nesioterapia na paralisia cerebral: relato de caso. palsy: case report.

Endereço para correspondência:


Trabalho realizado no setor de hidroterapia da Clinica de Fisio- Fabiana M Navarro
terapia da Uningá, Maringá-PR, Brasil. R. Mandaguari, 586/503, zona 7
CEP 87020-230, Maringá-PR, Brasil.
1.Fisioterapeuta, Mestre em Ciências da Saúde pela Universi-
dade Estadual de Maringá (UEM), Docente do curso de Fisio-
terapia e Responsável pela disciplina e estágio supervisionado
em hidroterapia da Unidade de Ensino Superior Ingá (Uningá),
Maringá-PR, Brasil. Relato de Caso
2.Discentes do curso de Fisioterapia da Unidade de Ensino Su- Recebido em: 29/11/2007
perior Ingá (Uningá), Maringá-PR, Brasil. Revisado em: 30/11/2007 a 08/11/2008
Aceito em: 09/11/2008
Conflito de interesses: não

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INTRODUÇÃO (aquisições das etapas motoras), persistência de
A paralisia cerebral (PC) consiste num distúr- reflexos posturais primitivos e manutenção de ati-
bio do movimento e/ou postura, persistente, mas tudes e posturas próprias de recém-nascido6.
não invariável, podendo surgir nos primeiros anos A Fisioterapia tem um papel reabilitador,
de vida por lesões não progressivas do cérebro visando a melhora do controle de movimento e
imaturo1. prevenção da fraqueza muscular decorrentes dos
O desenvolvimento do cérebro tem início danos ao desenvolvimento motor normal, e tam-
logo após a concepção e continua após o nasci- bém retornar ao ritmo e seqüência normais do de-
mento. Qualquer agressão ao tecido cerebral pode senvolvimento motor7.
resultar em uma lesão cerebral e as áreas atingidas A hidroterapia ou hidrocinesioterapia é uma
têm sua função prejudicada de forma permanente modalidade de reabilitação da Fisioterapia que
e não progressiva. Segundo Bobath2, alterações possui uma longa história. Hoje, com o crescimen-
provocam debilitações variáveis na coordenação to de sua popularidade, os fisioterapeutas são en-
da ação muscular, com resultante incapacidade corajados a utilizar a água como recurso de trata-
em manter posturas e realizar movimentos nor- mento, aproveitando ao máximo suas qualidades
mais. únicas8. A reabilitação neuromotora aquática foi
Existem muitas controvérsias sobre o limite descrita como um precursor útil para os progra-
de idade que caracteriza uma paralisia cerebral mas tradicionais de reabilitação de lesão cerebral9.
após uma lesão no sistema nervoso central. Alguns O tratamento de um paciente com distúr-
autores apontam o período pré-natal até os 2 anos bios neurológicos na água oferece uma grande
de idade, outros estendem até os 5 anos de idade3. variedade de opções em um ambiente altamente
O tipo de alteração está relacionada com a dinâmico. A meta de uma reabilitação é tornar o
localização da lesão no cérebro e a gravidade des- indivíduo mais independente possível, melhoran-
tas alterações dependem da extensão da lesão4. do sua funcionalidade e qualidade de vida.
Alterações qualitativas de movimento e de tônus A piscina terapêutica oferece oportunidades
podem se desenvolver e gerar desordens senso- estimulantes para os movimentos mais difíceis e
riais, intelectuais, afetivas e emocionais. A incoor- complexos, pois forças diferentes agem na água.
denação de movimento pode aparecer, junto de Os efeitos de flutuabilidade, metacentro e das
inabilidade para segurar objetos, falar e deglutir5. rotações fornecem campo para as técnicas espe-
Os fatores desencadeantes de uma paralisia cializadas. E ainda, os efeitos terapêuticos trazem
cerebral podem ser pré-natais, perinatais e pós- benefícios como o alívio da dor e dos espasmos
natais. Dentre os pré-natais, estão as infecções musculares; manutenção ou aumento da amplitu-
congênitas, fatores metabólicos maternos, trans- de de movimento das articulações; fortalecimento
tornos tóxicos e fatores físicos, como a exposição dos músculos enfraquecidos e aumento na sua to-
ao raio-X. Já os perinatais abrangem a prematuri- lerância aos exercícios; reeducação dos músculos
dade, baixo peso ao nascimento, icterícia grave, paralisados; melhoria da circulação; encorajamen-
hemorragia intraventricular, desnutrição, asfixia, to das atividades funcionais e manutenção e me-
prolapsos de cordão umbilical, parto prolonga- lhoria do equilíbrio, coordenação motora e postu-
do, entre outros. Os fatores pós-natais podem ser ra8.
meningecefalites, encefalopatias pós-vacinais e O objetivo desse trabalho foi verificar a im-
pós-infecciosas, traumatismos crânio-encefálicos portância da hidrocinesioterapia no tratamento da
e processos vasculares6. paralisia cerebral para manutenção e/ou melhora
A maior causa da PC no ambiente clinico de do quadro clínico e sua funcionalidade, através de
reabilitação é a anóxia perinatal por um trabalho um estudo de caso.
de parto anormal ou prolongado. A prematurida-
de e o baixo peso ao nascimento aparecem como
a segunda maior causa, estimando-se que cerca de MÉTODO
43% das crianças são atingidas2. Estudo de caso descritivo e exploratório,
O diagnóstico deve ser feito o mais preco- de natureza qualitativa e observacional, onde
ce possível, nos primeiros meses de vida, com a foi estudado um paciente do sexo masculino, 34
detecção das alterações do tônus e motricidade anos, portador de Paralisia Cerebral do tipo es-

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pástica e atáxica, com quadro de tetraparesia. Quadro 1. Programa de atividades aquáticas desenvolvido.
O estudo foi realizado no setor de Hidroterapia da ETAPA ATIVIDADES’
Clínica Escola de Fisioterapia da faculdade UNIN- Programa 1 ·Ajuste mental e adaptação com uso de bolinhas,
GA, no setor de Hidroterapia, cidade de Maringá- canudos, brinquedos e exercícios respiratórios;·
Exercícios passivos para tronco na posição de ca-
PR. Foram coletados os dados do paciente durante deira e supino;·
o ano de 2006, partindo-se de uma avaliação do Alongamentos passivos de membros superiores,
inferiores e tronco;·
setor, realizada em Fevereiro até sua reavaliação Mobilização passiva de proximal para distal;·
em Dezembro do mesmo ano, onde o paciente Exercícios respiratórios;·
freqüentou o setor duas vezes na semana com ses- Estimulo de marcha com correção postural e uso
do bastão;·
sões de hidroterapia de 45 minutos. Durante este Finalização com relaxamento em supino.
período, também foi questionado o paciente a res- Programa 2 Aquecimento com marcha anterior, posterior e la-
peito do grau de satisfação do tratamento. teral, evoluindo para uso de steps como obstácu-
Primeiramente esclareceu-se ao paciente los;· Alongamentos ativos de membros su-
periores e inferiores na barra;·
sobre o funcionamento do setor e o possível uso Treino de marcha, coordenação motora e equilíbrio
de seus dados para fins de pesquisa, respeitando com uso de steps, bola, bastão...;·
todos os preceitos éticos disciplinados pela reso- Fortalecimento muscular em supino com exercí-
cios ativos e uso de flutuadores;·
lução 196/96 do Conselho Nacional a respeito de Exercícios respiratórios e alongamento de cadeia
pesquisas envolvendo seres humanos. Também anterior com paciente em prono;·
Finalização com relaxamento em supino.
foi assegurado sigilo quanto às informações pres- Fonte: Elaborado pelas pesquisadoras, baseado em Campion8 e Ruoti
tadas e anonimato sempre que os resultados da et al.9
pesquisa fossem divulgados. Assim, foi assinado
pelo paciente um termo de consentimento livre mos programa 1 e programa 2 (Quadro 1).
esclarecido que continha todas estas informações. O tratamento foi realizado em um período
A avaliação continha os seguintes itens: de 11 meses com a freqüência de 2 vezes semanais
identificação, anamnese e exame físico, onde com a permanência na piscina de 60 minutos.
observou-se que o paciente deambulava com di- O programa de tratamento teve evolu-
ficuldade. Este era independente em suas ativida- ções junto com o paciente ao longo dos me-
des de vida diária (AVD´s), necessitando de ajuda ses. No final de 11 meses, o paciente foi rea-
apenas para se locomover (meio de transporte). valiado com os mesmos parâmetros iniciais.
Encontramos um grande encurtamento da cadeia A análise dos dados foi feita através da compara-
flexora dos membros superiores (MMSS), inferiores ção das informações da avaliação inicial e final e
(MMII) e tronco, déficits de coordenação motora relatos do paciente no decorrer do tratamento.
e equilíbrio estático e dinâmico, marcha compro-
metida e hipertonia moderada a grave, nos quatro
membros. RESULTADO E DISCUSSÃO
Após a avaliação, foi elaborado como objeti- O paciente do estudo teve diagnóstico pre-
vo de tratamento a melhora da marcha, melhora do coce de PC e, com o apoio da família, realiza fisiote-
equilíbrio estático e dinâmico, melhora da coorde- rapia desde os dois anos de idade. A importância
nação motora de membros superiores e inferiores, de um diagnóstico precoce e início de tratamento
melhora da capacidade respiratória, relaxamento está na esperança de se perceber anormalidades
muscular, ganho de amplitude de movimento, do desenvolvimento antes de estarem bem insta-
normalização do tônus, prevenção de contraturas ladas. A atuação é de forma a atenuar ou afastar
e deformidades, melhora da propriocepção arti- condições desfavoráveis, que dificultem ou impe-
cular, ganho de força muscular em MMII, sempre çam o desenvolvimento motor normal, existindo
buscando a funcionalidade e independência para assim, um melhor aproveitamento das etapas de
atividades de vida diária. maturação do desenvolvimento, com estimulação
Desta forma, o programa de tratamento foi e aproveitamento da inervação recíproca, utilizan-
desenvolvido em duas etapas. Na primeira reali- do o potencial da plasticidade neuroaxonal da ar-
zou-se a adaptação e ajuste do paciente ao meio, quitetura cerebral10. Esta iniciativa precoce da fa-
evoluindo posteriormente para exercícios cada mília junto às deficiências da criança contribuíram
vez mais independentes e difíceis, onde elabora para que o paciente deste estudo se tornasse mais

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independente. da manutenção e melhoria do equilíbrio, coorde-
O contato com a água de um paciente com nação e postura, como relatado pelo paciente3.
paralisia cerebral, seja criança ou adulto, traz algu- Os princípios físicos da água (densidade,
mas preocupações para os fisioterapeutas, prin- flutuação, pressão hidrostática, tensão superficial,
cipalmente em relação às alterações da forma e empuxo, entre outros), conforme sua utilização,
densidade corporal e precisam ser estudadas in- favorecem a cinestesia aquática (que consiste no
dividualmente com cada paciente. Tais problemas sentido pelo qual o movimento, o peso e a posição
caracterizam-se por desordens de percepção, difi- das várias partes do corpo são percebidos). Estas
culdade de controle da cabeça, tônus postural po- sensações cinestésicas provêm do estímulo da
bre e falta de rotação sobre o eixo corporal8. água nas terminações neurosensoriais dos mús-
A conscientização e a necessidade do con- culos, dos tendões e articulações, bem como das
trole dos membros podem ser atingidas por meio alterações sensoriais do aparelho vestibular nos
de atividades favorecidas pelos princípios físicos diferentes posicionamentos11.
da água, visto que a pressão hidrostática supor- O estado mental (ansiedade e estresse) do
ta todos os movimentos realizados, dando maior paciente influencia no tônus muscular do mesmo
estabilidade e estímulo sensitivo. A espasticidade modo que em indivíduos normais. Desta forma, o
é favorecida pela temperatura e flutuação, que paciente deve se manter calmo e tranqüilo e ser
também promovem uma diminuição de espasmos estimulado pelo terapeuta através de atividades
musculares e maior liberdade para os movimen- de relaxamento e controle respiratório, para que a
tos9. tensão não desencadeie alguma atividade muscu-
Quanto às observações feitas ao longo do lar desnecessária3.
período e através de avaliações subjetivas, pode-
mos relatar a melhora no equilíbrio e manutenção
da independência motora do paciente. Questio- CONSIDERAÇÕES FINAIS
namos o mesmo sobre sua satisfação e mudança
com o tratamento aquático: Verificamos a importância do diagnóstico
precoce da paralisia cerebral, bem como a par-
“Melhorou o quadro. Fico mais relaxado e me ticipação da família durante todo o processo de
sinto melhor, minha amplitude de movimento fica desenvolvimento e convívio com alguns déficits
menos limitada. Também houve melhora do equilí- e limitações. Observamos os benefícios da hidro-
brio. No entanto, a coordenação motora e os movi-
cinesioterapia para a reabilitação de um quadro
mentos de incoordenação ainda estão com déficit”.
clínico de tetraparesia espástica, bem como as dis-
cordâncias da literatura a respeito da não eficácia
Alguns autores defendem a reabilitação
do tratamento aquático na coordenação motora.
aquática para tratamento de lesões cerebrais e
Ressaltamos a necessidade de haver mais
seus problemas associados, como fraqueza, défi-
pesquisas direcionadas à influência do ambiente
cit de coordenação motora e equilíbrio, mas não
aquático na reabilitação de distúrbios do movi-
defendem o treinamento de atividades funcionais
mento e lesões cerebrais.
na água. Eles consideram que o ambiente aquáti-
co fornece instabilidade possibilitando reações as-
sociadas que interferem no movimento desejado.
REFERÊNCIAS
Outros autores, porém, acreditam que o ambiente
aquático, se adequadamente usado, é capaz de 1.Marcondes E. Pediatria Básica. São Paulo: Savier, 1994, p.251-
fornecer um ambiente estável para a participação 360.
ativa do paciente na melhora da habilidade funcio- 2.Bobath K. Uma base neurofisiológica para tratamento da pa-
ralisia cerebral. 2ª ed. São Paulo: Manole, 1989, p.50-74.
nal9. 3.Baladi ABPT, Castro NMD, Filho MCM. AACD – Medicina e
Os efeitos terapêuticos dos exercícios reali- Reabilitação – Princípios e prática. São Paulo: Artes Médicas,
zados na água podem trazer ao paciente o alívio 2007, p.55-120.
do espasmo muscular, manutenção ou até mesmo 4.Soler APSC, Hoffman ANL. Espasticidade na Paralisia Cere-
bral: fisioterapia e toxina botulínica. Reabilitar 2000;12:834-45.
aumento da amplitude de movimento das articu-
5.Castilho DPL, Bezerra FMG, Parisi MT. Estimulação motora
lações, fortalecimento muscular e aumento a tole- precoce para portadores de paralisa cerebral: orientação aos
rância aos exercícios, melhora da circulação, além pais e cuidadores. Rev Reabil 2005;2:52-6.

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Rev 2008: inpress
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relato de caso
6.Ratliffe KT. Fisioterapia Clinica Pediátrica, Guia para equipes 9.Ruoti RG, Morris DM, Cole AJ. Reabilitação aquática. São Pau-
de fisioterapia. São Paulo: Santos, 2002, p.163-208. lo: Manole, 2000, p.29-135.
7.Zaniolo LO. Desempenho corporal e performance mo- 0.Lianza S. Medicina de reabilitação. 3ªedição. Rio de Janeiro:
tora em portadores de paralisia cerebral. Temas Desenvol Guanabara Koogan, 2001, p.282-6.
2004;13:51-4. 11.Degani AM. Hidroterapia: os efeitos físicos, fisiológicos e
8.Campion MR. Hidroterapia Princípios e Prática. Barueri: Ma- terapêuticos da água. Fisioter Mov 1998;11:45-56.
nole, 2000, p.33-165.

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RAS DOI: 10.13037/rbcs.vol12n42.2428 artigo de revisão

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ATIVIDADES AQUÁTICAS EM PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL:


UM OLHAR NA PERSPECTIVA DA FISIOTERAPIA
AQUATIC ACTIVITIES IN PATIENTS WITH CEREBRAL PALSY:
A LOOK FROM THE PERSPECTIVE OF PHYSIOTERAPY

Flayani da Silva Schmitza*, Felipe Stiggerb*


a
flayaniss@gmail.com, bfstigger@yahoo.com.br
*
Universidade Luterana do Brasil – Santa Maria (RS), Brasil

Data de entrega do artigo: 04/11/2013


Data de aceite do artigo: 05/06/2014

resumo

Introdução: Paralisia cerebral (PC) é o termo utilizado para descrever um conjunto de desordens motoras e
sensoriais decorrentes de distúrbios não progressivos no encéfalo. As lesões podem acontecer antes, durante
ou após o nascimento, levando a um controle motor deficiente, desordem neuromuscular e inatividade.
O tratamento fisioterapêutico deve ser iniciado precocemente para estimular o desenvolvimento
neuropsicomotor da criança com PC. Sendo assim, a hidroterapia é uma abordagem terapêutica que
está sendo muito utilizada entre os fisioterapeutas na busca da recuperação e melhora destes pacientes.
Objetivo e métodos: Realizar uma revisão das publicações indexadas nas bases de dados SciELO, Pubmed
e LILACS, nos idiomas português, espanhol e inglês entre 1996 e 2012. Resultados: Foram obtidos 60
estudos. Destes, 11 artigos foram excluídos por tratarem de temas que não estão diretamente relacionados
à pesquisa. Conclusão: A hidroterapia é uma estratégia terapêutica de grande valia para pacientes com
PC, devido a sua eficácia na melhora da flexibilidade, da postura, da amplitude de movimento, da força
muscular e da funcionalidade. A combinação destes benefícios se reflete na qualidade de vida destes
pacientes.

Palavras-chave: Paralisia cerebral; hidroterapia; exercícios aquáticos.

abstract

Introduction: Cerebral paralysis (CP) is a term used to describe a group of motor and sensory disorders
resulting from non-progressive brain disturbances. The lesions may occur before, during or after birth,
leading to a poor motor control, neuromuscular disorder and inactivity. The physiotherapy treatment
should be started as early as possible to stimulate neuropsychomotor development of children with
PC. Thus, hydrotherapy is a therapeutic approach that is being widely used among physiotherapists in
pursuit of recovery and improvement of these patients. Objective and Method: To conduct a review
of publications indexed in databases, SciElo, Pubmed and Lilacs in Portuguese, Spanish and English
between 1996 and 2012. Results: Sixty studies were obtained. Of these, eleven articles were deleted for
dealing with issues that are not directly related to this research. Conclusion: Hydrotherapy is a therapeutic
strategy of great value for patients with PC due to its effectiveness in improving posture, flexibility, range
of motion, muscle strength and functionality. The combination of these benefits is reflected in the quality
of life of these patients.

Keywords: Cerebral palsy, hydrotherapy; aquatic exercise.

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ATIVIDADES AQUÁTICAS EM PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL 79

Introdução nos idiomas português, espanhol e inglês. Esta revisão


foi dividida em duas etapas, a busca primária utilizando
Paralisia cerebral (PC) é o termo utilizado para des- como descritores os termos “paralisia cerebral”, “hidro-
crever um conjunto de desordens motoras e sensoriais terapia”, “exercícios aquáticos”, “atividades aquáticas”
decorrentes de distúrbios não progressivos no encéfalo. e “natação”, assim como os seus correlatos nas línguas
As lesões podem ocorrer antes, durante ou após o nasci- inglesa e espanhola. A segunda etapa, dita busca secun-
mento, gerando diferentes graus de incapacidade1. dária, foi realizada a partir do referencial bibliográfico
A limitação da atividade motora é uma característica abordado nos artigos encontrados na busca primária.
da PC e ocorre pela falta de controle sobre os movimen- Os critérios de inclusão da pesquisa foram baseados em
tos. As consequências são adaptações musculares que, em artigos que abordassem tanto a hidroterapia e fisiotera-
longo prazo, podem resultar em deformidades ós­seas. Os pia aquática quanto outras diferentes abordagens tera-
primeiros anos de vida parecem ser cruciais para o pro- pêuticas envolvendo o meio aquático na PC, os efeitos
cesso de aquisição das habilidades motoras2. Assim, a fisiológicos da hidroterapia na PC e as propriedades fí-
imobilidade neste período de maturação do sistema ner- sicas da água. Foram excluídos desta, os artigos que tra-
voso pode modificar o desenvolvimento, interferindo no tavam de temas não relevantes para a pesquisa e os que
padrão normal de marcha3. não apresentavam detalhamento metodológico.
Uma das características clínicas mais comuns encon-
tradas nas crianças com PC é a diplegia, que se caracte-
riza por apresentar maior comprometimento motor nos Resultados
membros inferiores4.
O padrão de marcha normal é adquirido na infância, Nesta revisão, foram encontrados um total de 60 es-
proporcionando ao indivíduo independência e funcio- tudos. Destes, 11 artigos foram excluídos por abordar
nalidade, porém, quando comparados com crianças com temas não relevantes para a pesquisa e os que não apre-
PC, este está prejudicado pelos distúrbios neuromus- sentavam detalhamento metodológico. Foram encon-
culoesqueléticos que afetam a posição em ortostase, o trados e utilizados artigos que compreendessem temas
equilíbrio e, consequentemente, a habilidade de andar5. como as propriedades físicas da água10,15-33; diferentes
Neste contexto, a fisioterapia possui um importante abordagens terapêuticas e exercícios na água2,13,34-49 e
papel na PC pelo treinamento específico de atos moto- artigos que evidenciassem cientificamente a prática de
res como: levantar-se, dar passos ou caminhar, sentar-se, atividades aquáticas em crianças com PC9,11,50-58.
pegar e manusear objetos, além de exercícios destinados No total dos 17 estudos, dois50,52 utilizaram o ensaio
a aumentar a força muscular e melhorar o controle sobre clínico controlado; três22,51,57 utilizaram o ensaio clíni-
os movimentos, objetivando a funcionalidade6. co quase-controlado, três11,31,55 eram ensaio clínico não
Uma das abordagens fisioterapêuticas que vem ga- controlado, um58 era estudo piloto e oito2,9,10,15,20,30,53,54
nhando espaço no tratamento de crianças com PC é a séries/relatos de caso.
hidroterapia. Este tipo de tratamento possibilita o de- A tabela 1 apresenta um breve resumo dos 17 arti-
senvolvimento geral da criança, já que, dentro da água, gos utilizados que evidenciam cientificamente a prática
o movimento é facilitado pelas propriedades físicas que de exercícios aquáticos na PC. A população destes estu-
atuam no corpo imerso2. dos consistiu principalmente por crianças com paralisia
Tendo em vista que a compreensão das proprieda- cerebral espástica. Dentre as distribuições topográficas
des físicas da água junto com as respostas fisiológicas das sequelas motoras, foram encontradas, mais especi-
à imersão podem favorecer a atuação fisioterapêutica e ficamente, a diplegia (n= 48), a hemiplegia (n= 17) e
potencializar os resultados do processo de intervenção7, a quadriplegia (n= 16). A faixa etária dos participantes
o objetivo deste trabalho é realizar uma revisão biblio- envolvidos variou entre 1 e 34 anos de idade.
gráfica envolvendo os benefícios das atividades aquáticas Nos 17 estudos, diversas intervenções tera-
em crianças com PC e discutindo-os na perspectiva de pêuticas foram abordadas no ambiente aquático
atuação fisioterapêutica. como: 13 estudos indicaram os treinamentos ae-
róbicos9,11,20,22,30,31,50,51,52,54,55,57,58 e cinco os anaeró-
bios9,20,30,52,55 e 11 estudos foram classificados como “ou-
Objetivos e métodos tro” tipo de treinamento2,10,11,15,22,30,31,50-52,54.
No treinamento aeróbico, foram citadas atividades
No período de março de 2011 a maio de 2012, rea- hidrocinesioterapêuticas, como caminhar/correr, chu-
lizou-se uma revisão bibliográfica nas publicações inde- tar, exercícios resistidos e exercícios de natação. Já nos
xadas nas bases de dados SciELO, Pubmed e LILACS. treinamentos anaeróbicos, as atividades foram limita-
Foram priorizadas as publicações entre 1996 e 2012, das a saltos, nado livre e exercícios de fortalecimento

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80 Schmitz F. da S., Stigger F.

Tabela 1: Resumo dos 17 artigos utilizados na revisão dos efeitos dos exercícios aquáticos na PC

MÉTODO
AUTOR/ DESENHO DO AMOSTRA/
OBJETIVO VARIÁVEL INTERVENÇÃO CONCLUSÃO
ANO ESTUDO IDADE
AVALIADA

A combinação
Avaliar a efetivida- ∆t= 6 meses- 30min;
de musculação
de de um progra- Capacidade vital, Crianças divididas
n= 46; e hidroterapia
Hutzler ma de natação e questionário em dois grupos: (1)
Ensaio clínico crianças com PC; melhorou a função
et al., movimentos na de avaliação natação- 2X/sem
quase-controlado 5 e 7 anos respiratória das
1998a22 função respiratória da orientação associada à atividade
crianças com PC,
e habilidades de aquática terrestre 1X /sem (2)
assim como sua
orientação na água Bobath 4X/sem
orientação aquática

∆t= 6 meses- 30min;


Descrever o efeito
Crianças divididas
de um programa A hidroterapia
Questionário em dois grupos: (1)
Hutzler de natação e movi- n= 46; melhorou
Ensaio clínico de avaliação da natação 2X/sem
et al., mentos globais na crianças com PC; orientação aquática
quase-controlado orientação aquá- associada à atividade
1998b51 função motora na 5 e 7 anos das crianças com
tica; Escala SPS terrestre em grupo
e autopercepção na PC
1X/sem.(2) Bobath
água
4X/sem
Avaliar o resultado
de um programa
∆t= 10 sem- 45min;
de hidroterapia na n= 7; A hidroterapia
3X/sem
força de membros crianças com promove a melhora
Teste TUG; Sessão composta por
Thorpe et inferiores, veloci- PC espástica (6 da mobilidade fun-
Série de casos GMFM; Gasto alongamentos, exer-
al., 200554 dade da marcha, diplégicas e 1 cional, da velocida-
energético cícios resistidos, de
mobilidade fun- hemiplégica); de da marcha e da
resistência, caminha-
cional e equilíbrio 7 a 13 anos função motora
das e brincadeiras
em crianças com
diagnóstico de PC
Verificar o efeito
A hidroterapia
do tratamento n= 6
promove a melhora
hidroterapêutico crianças com
Bonomo funcional significa-
Ensaio clínico não na funcionalidade diagnóstico de Escala de ∆t= 5 meses-40min;
et al, tiva para pacientes
controlado e tono muscular PC tretaparesia Ashworth; PEDI 2X/sem
200731 com paralisia cere-
de crianças com espástica;
bral e tetraparéticas
tetraparesia 2 a 6 anos
espásticas
espástica
A hidroterapia é
Verificar os bene- eficaz no aumento
fícios da hidrote- do equilíbrio, e da
n= 1
Cardoso rapia na melhora Cinemática da confiança durante
criança com PC ∆t= 1 mês-50min;
et al, Estudo de caso do equilíbrio da marcha e do a marcha, quan-
diplegia espástica; 2X/sem
200720 marcha em pacien- equilíbrio do combinado
sexo masculino
te portador de PC com o tratamento
diplégica espástica fisioterapêutico
convencional

continua...

Revista de Atenção à Saúde, v. 12, no 42, out./dez. 2014, p.78-89


ATIVIDADES AQUÁTICAS EM PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL 81

Tabela 1: Continuação

MÉTODO
AUTOR/ DESENHO DO AMOSTRA/
OBJETIVO VARIÁVEL INTERVENÇÃO CONCLUSÃO
ANO ESTUDO IDADE
AVALIADA
Investigar a
influência de um As atividades aquá-
Teixeira-
programa de ativi- n=2; ticas são indicadas
Arroyo Estudo de caso
dades aquáticas no PC espástico; Avaliação ∆t= 5 meses- 60min para a estimulação
e De descritivo e
comportamento 12 e 7 anos; psicomotora 2X/sem psicomotora de
Oliveira, exploratório
psicomotor de sexo masculino crianças com parali-
20072
crianças com para- sia cerebral
lisia cerebral
∆t= com duração de
Ambos os trata-
40 sessões.
mentos são efetivos
Comparar dois mé- Crianças divididas
n= 22 para o tratamento
todos de tratamen- Escala de em dois grupos:
Torres et Ensaio clínico crianças com PC de crianças com PC
to fisioterápico: fi- Ashworth, (1) Fisioterapia
al., 200757 quase-controlado espástica; espástica promo-
sioterapia aquática GMFM convencional asso-
1 à 16 anos vendo a melhora
e a convencional ciada à aquática (2)
significativa da
somente fisioterapia
espasticidade
convencional
Crianças divididas
Inventário de
em dois grupos: (1 -
Determinar o Comportamentos
controle) mantinha
efeito do treina- para Crianças e
seu tratamento con- O treinamento
mento envolvendo Adolescentes -
vencional (Bobath) aquático possibili-
a natação sobre a n= 23; Child Behavior
Özer at al, Ensaio clínico (2) ∆t= 14 sem de tou uma melhora
competência social, crianças com PC; Checklist;
200750 controlado hidroterapia-30min; na percepção cor-
os comportamen- 5 a 10 anos
3X/sem; poral em crianças
tos e a consciência Sensibilidade
Envolvendo alonga- com PC
corporal em crian- corporal (Body
mentos, exercícios
ças com PC Awareness
estáticos, jogos com
– Kirkendall)
bolas e nado
Avaliar a
efetividade e a
Os exercícios
segurança de
aeróbicos
um programa ∆t= 14 sem-45min
promovem a
Fragala- de atividade em Teste de corrida 2X/sem
n=16 (2 com melhora da
Pinkhan Ensaio clínico não grupo de crianças de 500m; Envolvendo alonga-
PC); resistência
et al., controlado com necessidades M-PEDI; Teste mentos, exercícios
7 e 10 anos cardiorrespiratória
200811 especiais, no de sentar-levantar resistidos e exercícios
em crianças com
condicionamento aeróbicos
necessidades
cardiorrespiratório,
especiais
força e habilidades
motoras
continua...

Revista de Atenção à Saúde, v. 12, no 42, out./dez. 2014, p.78-89


82 Schmitz F. da S., Stigger F.

Tabela 1: Continuação

MÉTODO
AUTOR/ DESENHO DO AMOSTRA/
OBJETIVO VARIÁVEL INTERVENÇÃO CONCLUSÃO
ANO ESTUDO IDADE
AVALIADA

A terapia aquática
com os princípios
∆t= 11 meses-45min
físicos da água é
Verificar a 2X/sem;
eficaz para o rela-
importância da n=1; O procedimento
Marcha; xamento muscular,
Relato de caso hidrocinesioterapia PC tetraparesia foi em duas etapas:
Navarro et AVD’s. ADM diminuição de
descritivo e no tratamento de espástica e ataxia; (1) adaptação no
al, 200830 e coordenação espasmos muscula-
exploratório PC para melhora e/ 34 anos; meio aquático e (2)
motora res e espasticidade,
ou manutenção do sexo masculino aumento progressivo
melhora da muscu-
quadro clínico do nível dos
latura respiratória,
exercícios
melhora do equilí-
brio e ADM

O programa de
Verificar o efeito de
∆t= 10 sem-55min natação possuiu um
um programa de
Chrysagis n= 12; GMFM; Escala 2 X/sem efeito positivo na
Ensaio clínico natação no tono,
et al, com PC; de Ashworth; Envolvendo warm atividade motora,
controlado função motora e
200952 12 a 20 anos ADM -up, nado crawl, coll- espasticidade e
ADM de estudan-
down e nado livre ADM de estudantes
tes com PC
com PC
Descrever a
n=2; A associação da
implementação de GMFM; Dor;
7 a 10 anos; fisioterapia terrestre
um programa de FM; ADM; PED; ∆t= de 6 sem a 8
Fragala- crianças com e aquática favoreceu
fisioterapia aquá- FRT; Índice de meses
Pinkhan PC, sendo 1 com a melhora tanto dos
Série de casos tica num hospital gasto energético; 1 a 2X/sem;
et al., artrite idiopática pacientes com PC
pediátrico e docu- COMP; Atividades terrestres
200915 e outra com quanto das crianças
mentar as melhoras OGS; Teste de e aquáticas
síndrome de portadoras de
encontradas após a sentar-levantar
Prader-Willi outras patologias
intervenção
Verificar se o
O método
método Watsu
Watsu auxilia
é capaz de atuar
na reabilitação
na Fisioterapia
n=1; motora e na
Aquática
Pastrello, PC tetraparética; ∆t= 4 meses-30min funcionalidade,
Estudo de caso complementar, GMFM
200910 4 anos; 2X/sem visto que
no processo de
sexo masculino proporciona
reabilitação de
maiores
uma criança com
experiências
PC tetraparética
motoras
espástica
continua...

Revista de Atenção à Saúde, v. 12, no 42, out./dez. 2014, p.78-89


ATIVIDADES AQUÁTICAS EM PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL 83

Tabela 1: Continuação

MÉTODO
AUTOR/ DESENHO DO AMOSTRA/
OBJETIVO VARIÁVEL INTERVENÇÃO CONCLUSÃO
ANO ESTUDO IDADE
AVALIADA
Avaliar o efeito do
CIF; COMP;
exercício aeróbico A hidroterapia
GMFM; TC6;
aquático na par- promove melhora
n= 1; Índice de ∆t= 12 sem-30min;
Retarekar ticipação, função de todos os
PC com diplegia gasto energético 3X/sem
et al., Estudo de caso motora, resistência componentes da
espástica; modificado; Envolvendo
20099 para caminhar e CIF, sendo eficaz
5 anos de idade Questionário exercícios aeróbicos
gasto energético para este paciente
relacionado às
em uma criança com PC
atividades físicas
com PC
Avaliar o efeito e
n= 12; O treinamento
a viabilidade do
PC espástica aquático em grupo
treinamento aquá- Gasto energético; ∆t= 20
Ballaz et Ensaio clínico não (hemiplégicos, foi capaz de melho-
tico na eficiência FM; Marcha; sessões-45min
al., 201055 controlado diplégicos, rar a eficiência da
da marcha em um GMFM 2X/ sem
quadriplégicos); marcha em adoles-
grupo a adolescen-
14 a 21 anos centes com PC
tes com PC

A hidroterapia
promove melhora
Avaliar a flexibi-
da flexibilidade em
lidade da cadeia
relação à cadeia
muscular poste-
muscular posterior,
Espíndula rior, utilizando o n= 3;
Flexômetro de rt= 1 mês-30min pelo relaxamento
et al., Estudo de caso método PC diparética;
Wells 1X/sem global e consequen-
201053 proposto por Wells 7 a 10 anos
te diminuição do
e Dillon, antes e
tônus muscular,
após cada sessão de
quando associada a
hidroterapia
exercícios de alon-
gamentos passivos

Comparar os
resultados do Concluímos que
programa de tanto os programas
treinamento aquáticos quanto
no ecossistema os terrestres foram
aquático com eficazes na melhoria
n= 17; Teste de
o programa em 10-m velocidade,
Getz et PC espástica caminhada de 10 rt= 4meses- 30min
Estudo piloto terra, analisando o enquanto os
al., 201258 diplégica; metros; GMFM; 2X/sem
custo metabólico aquáticos também
3 a 6 anos PEDI
da caminhada, a melhoraram a
função motora marcha estacionária
grossa e o em crianças com
desempenho PC diplégica
locomotor em espástica
crianças com PC
n- quantidade de participantes da amostra; rt- tempo total das intervenções e a duração de cada sessão; COPM- medida de desempenho ocupacional cana-
dense; FM- força muscular; FRT- teste de alcance funcional; GMFM- medição da função motora; OGS- escala observacional de marcha; PEDI- avaliação
pediátrica de inventário deficiência; SPS- escala autopercepção; TUG- timed up and go; TC6- teste de caminhada 6 minutos; CIF- Classificação Internacional
de Funcionalidade Incapacidade e Saúde.

Revista de Atenção à Saúde, v. 12, no 42, out./dez. 2014, p.78-89


84 Schmitz F. da S., Stigger F.

de membros superiores e inferiores. Estes treinos de avanços como uma modalidade da fisioterapia, ganhan-
força ou de resistência se baseavam no uso de halteres do seu espaço como recurso auxiliar da reabilitação e na
e flutuadores. E, nos artigos classificados como “outro” prevenção de alterações funcionais16.
treinamento, eram inseridas atividades de relaxamento, Tendo em vista as características específicas do am-
alongamento, técnicas de adaptação no meio aquáti- biente aquático, a hidroterapia é considerada um dos
co, atividades lúdicas e, ainda, os métodos Halliwick recursos mais utilizados no tratamento de crianças com
e Watsu. As intervenções realizadas variaram de uma a PC17. Os programas de exercícios neste ambiente apre-
três vezes por semana, com duração de 30 a 60 minutos sentam inúmeras vantagens quando comparados com o
diários durante um período que variou entre dez sema- solo18. Durante a imersão, o corpo sofre influência de
nas e 11 meses, de acordo com os objetivos propostos. diversas propriedades físicas, que juntas desencadeiam
alterações fisiológicas extensas que afetam quase todos
os sistemas do organismo16 e possibilitam a vivência de
Discussão atividades mais complexas de serem realizadas no am-
biente terrestre.
As experiências motoras são importantes para a ma- Dentre as propriedades físicas da água abordadas na
turação do sistema nervoso e, consequentemente, res- hidroterapia e os inúmeros efeitos terapêuticos desenca-
ponsáveis por um melhor desempenho neuromuscular deados, destacam-se: a pressão hidrostática, a viscosida-
na adolescência e na vida adulta8. de, a flutuação e a temperatura.
As crianças com PC, no período inicial de vida, são A pressão hidrostática é a pressão exercida pelo líqui-
menos ativas, permanecem mais tempo sentadas e têm do no corpo submerso16 influenciada pela densidade do
menor participação em atividades como correr, pular líquido e pela profundidade19. Com isso, quanto maior
e caminhar9. As limitações das atividades durante este a profundidade em que o corpo se encontra, maior será
período crucial do desenvolvimento motor potenciali- a pressão exercida sobre ele20. Este princípio físico pos-
zam as desordens sensoriais e motoras que resultam em sui vários efeitos terapêuticos, como a oferta de estímu-
diminuição da força muscular, do equilíbrio, da coor- los proprioceptivos e táteis que auxiliam na adequação
denação, da resistência cardiorrespiratória, e também do tônus, na resposta sensorial e também na resistência
alterações do tônus muscular10,11. aos movimentos21. Fisiologicamente a pressão hidrostá-
As abordagens fisioterapêuticas no tratamento de tica tem impacto sobre os vasos sanguíneos, aumentan-
pacientes com PC vêm se aprimorando na busca de um do a circulação e a atividade respiratória, o que condi-
atendimento integral ao paciente. Os exercícios tera- ciona maior eficiência na manutenção da aptidão geral
pêuticos e o treinamento funcional são os instrumentos do corpo22.
mais utilizados12. Entre as abordagens terapêuticas, po- A viscosidade representa o atrito que o líquido exerce
demos citar a hidroterapia, cada vez mais utilizada na em um corpo submerso em movimento. Assim, quanto
atuação do fisioterapeuta para a recuperação e melhora mais viscoso o líquido, maior a força requerida para se
dos pacientes com PC13. criar um movimento19. A viscosidade e a pressão hidros-
As propriedades da água como a flutuação, a resistên- tática atuam de forma concomitante, podendo ser utili-
cia e a pressão hidrostática auxiliam o fisioterapeuta na zadas no tratamento de pacientes com PC por facilitar
reabilitação14, potencializando o fortalecimento muscular, o fortalecimento da musculatura hipotônica sem sobre-
a funcionalidade e o equilíbrio, proporcionando, ao mes- carregar o tecido mole ou estressar partes específicas do
mo tempo um ambiente divertido, motivante e seguro15. corpo23.
Os fisioterapeutas precisam possuir um conhecimen- A flutuação pode ser considerada como uma força
to, detalhado e atualizado, em relação às propriedades que atua em sentido contrário à força da gravidade19. Os
da água e dos possíveis exercícios terapêuticos realizados benefícios da flutuação nos pacientes com PC devem-se
no ambiente aquático. Sendo assim, é essencial embasar ao fato de que, na água, o efeito da força da gravidade
sua atuação tendo como base evidências clínicas e cien- pode ser minimizado, auxiliando no alívio do estresse
tíficas, favorecendo a tomada de decisões com objetivos sobre as articulações24,25. Isto permite o início de movi-
e condutas adequadas para os pacientes com PC no âm- mentos independentes difíceis de serem alcançados em
bito da hidroterapia7. solo, devido às restrições gravitacionais22. A flutuação
também pode ser utilizada como uma forma de resistên-
cia ao movimento. Os exercícios resistidos possibilitam
As propriedades físicas da água aos pacientes hipotônicos aumentar sua força muscular
e suas habilidades26.
O uso da água com o objetivo terapêutico vem A viscosidade e a flutuação, consideradas pro-
sendo descrito desde a antiguidade e obtendo grandes priedades de suporte27, 28, favorecem o tratamento

Revista de Atenção à Saúde, v. 12, no 42, out./dez. 2014, p.78-89


ATIVIDADES AQUÁTICAS EM PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL 85

hidrocinesioterapêutico das crianças com PC, por fa- que permitam à criança selecionar um padrão de mo-
cilitar a posição ortostática10, melhorar o equilíbrio e vimento mais eficaz. Na abordagem da hidroterapia,
auxiliar na deambulação29. Tendo em vista que o meio tanto as propriedades físicas da água quanto o con-
aquático é um ambiente de baixa gravidade, o corpo texto ambiental são utilizados para facilitar a aquisi-
é mais facilmente desestabilizado. Sendo assim, estes ção de padrões funcionais31. O contato com um novo
princípios alteram os pontos de referência para o equi- ambiente permitirá às crianças com PC a melhora no
líbrio em todas as posturas, gerando a necessidade de comportamento motor e emocional2. O ambiente
uma reeducação do movimento para a aquisição da aquático é apropriado para a prática de fisioterapia,
funcionalidade20,30. permitindo o atendimento em grupo e facilitando a
A eficácia da hidroterapia com pacientes neurológi- recreação e a socialização que, associadas a melhoras
cos é atingida quando a água da piscina for mantida funcionais, elevam a autoestima e autoconfiança do
aquecida com uma temperatura entre 32 e 35 °C10,31. A paciente40.
temperatura e a turbulência da água são capazes de pro- Estudos sobre a hidroterapia envolvendo crianças
mover a normalização do tônus muscular, favorecendo com problemas neurológicos descrevem os efeitos de
o movimento mais eficiente das crianças com PC32. O intervenções aquáticas individualizadas25. Em con-
mecanismo que faz com que esses dois princípios facili- trapartida, alguns autores41 acreditam que o exercício
tem a normalização do tônus muscular é a depressão da aquático em grupo estimula as crianças, além de pro-
sensibilidade do fuso muscular e a redução da atividade mover motivação e socialização. Dentro de um contex-
das fibras gama. O efeito é a promoção do relaxamento to em grupo, jogos e atividades de cooperação podem
muscular, com diminuição dos espasmos musculares, ser usados para melhorar o envolvimento das crianças
garantindo a optimização da reabilitação funcional19, 33. com as intervenções fisioterapêuticas. Embora, em
A combinação adequada de todas as forças físicas alguns casos, seja indicado o atendimento individua-
que atuam na água geram resistência ou assistência aos lizado, para garantir qualidade técnica e intensidade
movimentos. O uso correto dos flutuadores e das torno- adequada dos exercícios, devem-se enfatizar os trata-
zeleiras, aumentam a estabilidade corporal, evitam com- mentos em grupo para estimular a participação global
pensações e propiciam a marcha20, fornecendo, além do das crianças13.
benefício terapêutico, um ambiente divertido e motiva- Os objetivos estabelecidos pelo fisioterapeuta permi-
dor para crianças com PC15. tem o emprego de diferentes técnicas, em destaque o
Watsu, o método Halliwick, o Bad Ragaz e a hidroci-
nesioterapia. Fundamentado no Zen Shiatsu que utiliza
Exercícios terapêuticos na água pontos de fluxo de energia (meridianos), com o objetivo
de reeducação muscular, ventilação e relaxamento16,42, o
As intervenções tradicionais usadas para melhorar a Watsu se caracteriza por movimentos rítmicos rotacio-
performance motora de crianças com PC são baseadas nais, trações e manipulações articulares, sequenciais ou
na abordagem do desenvolvimento neuromotor34. A livres, alongamentos passivos10.
hidroterapia, sendo considerada uma nova abordagem O método Halliwick foi desenvolvido como uma
nos programas de reabilitação, também estimula as fases atividade recreativa para facilitar a independência na
do desenvolvimento neuropsicomotor, como o controle água dentro do processo de aprendizagem para pacien-
de tronco, a marcha e a melhora do equilíbrio, propor- tes com alguma incapacidade16,43. As crianças com PC
cionando estímulos multissensoriais, facilitando os mo- se beneficiam deste método baseado no controle pos-
vimentos e treinando as atividades funcionais21,35. tural44 e nos princípios científicos da hidrodinâmica e
Estudos recentes recomendam intervenções que en- da mecânica corporal, propondo a independência no
fatizem a aprendizagem e a reaprendizagem das tarefas meio líquido45. É realizado por meio de atividades lú-
práticas com base na abordagem funcional36,37. Uma dicas em grupo, sendo aplicado de forma individua-
abordagem funcional considera uma pessoa como parte lizada, tendo ênfase nas habilidades e não em déficits
de um sistema, que engloba tanto contextos ambientais funcionais46. Este método objetiva a normalização do
quanto os da tarefa, necessitando a interação de vários tônus muscular e o controle do equilíbrio, aumentan-
subsistemas em referência a uma habilidade específica, do a estabilização postural do tronco, da pelve e dos
no contexto em que é realizada38. membros inferiores44.
O fisioterapeuta é considerado um agente transfor- O Bad Ragaz associa a realização de exercícios fun-
mador, que facilita a busca de soluções para déficits cionais baseados na técnica de facilitação neuromus-
funcionais, permitindo, assim, o aprimoramento das cular proprioceptiva (FNP) de Kabat com o uso de
habilidades da criança39. A partir desta perspectiva, flutuadores19. Os objetivos terapêuticos são: a redução
devem-se usar diversos estímulos ambientais e práticas do tônus muscular, o pré-treinamento para a marcha, a

Revista de Atenção à Saúde, v. 12, no 42, out./dez. 2014, p.78-89


86 Schmitz F. da S., Stigger F.

estabilização do tronco, o fortalecimento muscular e a Considerando os efeitos já citados da hidroterapia


melhora da amplitude articular16. na espasticidade e na função motora, em protocolo hi-
A hidrocinesioterapia é fundamentada na teoria do droterapêutico para analisar a cinemática da marcha e o
Controle Motor. Esta técnica é definida como um conjun- equilíbrio, foi possível verificar a melhora do equilíbrio
to de procedimentos e modalidades para promover a ma- e o aumento de confiança durante os ciclos da marcha20.
nutenção ou melhora da capacidade funcional do paciente, Esta eficiência do treinamento aquático na marcha nos
adequar o tônus muscular, aumentar as amplitudes de mo- indivíduos com PC está associada a adaptações cardior-
vimentos das articulações e estimular a propriocepção47-49. respiratórias55. Portanto, um programa de hidroterapia
Desta forma, quando um programa de hidrocinesio- é eficaz na melhora da função respiratória e no gasto
terapia é utilizado com crianças com PC, deve-se realizar energético de pacientes com PC22,54.
uma avaliação fisioterapêutica criteriosa. Identificando Pesquisadores11 concordam com este achado cientí-
as limitações funcionais, diminuem-se os riscos de inter- fico e evidenciam os benefícios dos exercícios aquáticos
corrências, como dores musculares tardias e microlesões aeróbicos em crianças com necessidades especiais na
articulares, e adequa-se o planejamento terapêutico às melhora da resistência cardiorrespiratória. Embora este
necessidades do paciente16. estudo forneça informações sobre os efeitos do exercício
aeróbico aquático nas crianças com PC, os resultados
não são conclusivos.
Evidências científicas A combinação de exercícios aquáticos com os terres-
tres permite a realização de movimentos com amplitu-
Atualmente a hidroterapia vem se consolidando des e padrões diferenciados, viabilizando a recuperação
como um importante recurso na recuperação cinético- cinético-funcional de forma mais completa e precoce56.
-funcional dos pacientes com PC. Considerada como Diversos estudos ressaltam que a associação destes am-
uma estratégia terapêutica, a fisioterapia aquática é bientes promove a diminuição da espasticidade57, do
fundamentada na apropriação e utilização dos efeitos equilíbrio e da confiança durante a marcha20, garantindo
provenientes da imersão do corpo com o intuito de ad- a funcionalidade15. Da mesma forma, outros autores58
quirir, manter ou melhorar a capacidade funcional. De afirmam que, com bases nos princípios físicos, é prová-
acordo com evidências científicas, os benefícios da hi- vel que, por rea­lizar atividades físicas por um longo pe-
droterapia são amplos e diversos podendo variar desde ríodo de tempo no ambiente aquático, as crianças com
o desenvolvimento das capacidades psicomotoras até a PC garantem um melhor condicionamento muscular,
melhora da marcha e funcionalidade. diminuindo a fadiga quando comparado com exercícios
Além do ambiente aquático em grupo ser motivante terrestres.
e permitir a socialização de crianças com PC13, as novas
experiências às quais as crianças são submetidas durante
a hidroterapia permitem o desenvolvimento psicomo- Conclusão
tor. Os ganhos em equilíbrio, coordenação, lateralidade
e orientação (espacial e temporal)2 favorecem a percep- Cada vez mais percebemos a importância do fisio-
ção corporal50 e facilitam a aquisição de habilidades de terapeuta em possuir um conhecimento, detalhado
orientação na água22,51. e atualizado, em relação às suas condutas e objetivos.
A hidroterapia pode atuar na diminuição da sensi- Atualmente, vem crescendo bastante a necessidade de
bilidade do fuso muscular e, consequentemente, redu- uma atuação fisioterapêutica baseada em evidências,
zir os espasmos musculares desencadeando um relaxa- em que o fisioterapeuta fundamenta sua atuação em
mento global e a normalização do tônus muscular19,33. evidências clínicas e científicas. Tomando como base
Estudos comprovam que, em crianças com PC espásti- a Fisioterapia Aquática, esta visão auxilia a tomada de
ca, este tratamento proporciona a normalização do tô- decisões, permitindo ao fisioterapeuta a elaboração de
nus e permite o aumento da amplitude de movimentos, objetivos e condutas mais adequadas para uma ampla
promovendo a melhora das atividades motoras e, conse- classe de pacientes como os com PC.
quentemente, funcionalidade30,52,53. Conforme apresentado nesta revisão bibliográfica, a
A melhora da função motora representada pelo au- grande maioria dos artigos encontrados que abordavam
mento de habilidades motoras grossas (com base na es- a atuação fisioterapêutica era constituída por uma amos-
cala de medição da função motora GMFM) pode ser tragem reduzida e por uma metodologia não detalhada.
adquirida tanto pela elaboração de um programa hidro- Entretanto, mesmo mediante este fato, foram encontra-
cinesioterapêutico convencional31,54 quanto pela utiliza- das evidências científicas que demonstram a eficácia da
ção de técnicas específicas como o Watsu10, ou a partir hidroterapia na dor; no aumento da mobilidade articu-
de um protocolo de exercícios aeróbicos9. lar e na força muscular; na melhora da funcionalidade e

Revista de Atenção à Saúde, v. 12, no 42, out./dez. 2014, p.78-89


ATIVIDADES AQUÁTICAS EM PACIENTES COM PARALISIA CEREBRAL 87

do equilíbrio; e no aumento do condicionamento físico. 10. Pastrello FHH, Pereira, K. Método watsu como terapia com-
Os exercícios aquáticos podem ser divertidos, motivan- plementar na reabilitação da paralisia cerebral tetraparética
tes, trazendo mais segurança e confiança para a criança espástica: estudo de caso. Rev Fisioter Mov. 2009; 22: 95-102
com PC, dessa forma auxiliando na adesão a um progra- 11. Fragala-Pinkham M, Haley SM, O’Neil ME. Group
ma de intervenção terapêutica. aquatic aerobic exercise for children with disabilities.
Na literatura, há um consenso sobre os benefícios do Developmental Medicine and Child Neurology. 2008; 50
ambiente aquático no tratamento de pacientes com di- (11): 822-7.
ferentes disfunções cerebrais, porém existem divergên- 12. Martins SMMQ, Del Guidice AV. Um novo auxílio para
cias em relação à abordagem terapêutica específica a ser tratar a paralisia cerebral. Fisio & Terapia. 2001; 28: 25-7.
utilizada, assim como o embasamento teórico-científi- 13. Kelly M, Darrah J. Aquatic exercise for children with ce-
co da sua prática. Devido a este fato, na perspectiva da rebral palsy. Developmental Medicine & Child Neurology.
Fisioterapia, ressalta-se a importância do conhecimento 2005; 47: 838-42.
teórico sobre a Fisioterapia Aquática, sua prática e seus 14. Candeloro JM, Caromano FA. Discussão crítica sobre o uso
benefícios em PC, para que, assim, o fisioterapeuta pos- da água como facilitação, resistência ou suporte na hidroci-
sa elaborar seu plano de tratamento com mais proprie- nesioterapia. Acta Fisiatrica. 2006; 13(1): 7-11.
dade, baseando-se nas necessidades de cada paciente. 15. Fragala-Pinkham MA, Dumas HM, Barlow CA, Pasternak
Para tanto, é essencial haver mais publicações referentes A. An aquatic physical therapy program at a pediatric reha-
a esta temática associada à PC, com maior rigor meto- bilitation hospital: a case series. Pediatr Phys Ther. 2009;
dológico e delineamento do tratamento proposto. 21(1):68-78.
16. Biasoli MC, Machado CMC. Hidroterapia: técnicas e
aplicabilidades nas disfunções reumatológicas. Temas de
Referências Reumatologia Clínica. 2006; 7(3): 78-87.
17. Hurvitz EA, Leonard C, Ayyanger R, Nelson V.S. Com­
1. Monteiro M, Matos AP, Coelho R. A adaptação psicológica plementary and alternative medicine use in families of
de mães cujos filhos apresentam paralisia cerebral: revisão de children with cerebral palsy. Developmental Medicine and
literatura. Rev Port Psicossom. 2002; 4(2): 149-75. Child Neurology. 2003; 45: 364-70.
2. Teixeira-Aroyo C, de Oliveira SRG. Atividade aquática e a 18. Ide MR, Caromano FA, Dip MAVB, Guerino MR.
psicomotricidade de crianças com paralisia cerebral. Motriz. Exercícios respiratórios na expansibilidade torácica de ido-
2007 abr/jun; 13(2): 97-105. sos: exercícios aquáticos e solo. Fisioterapia em Movimento.
3. Marcuzzo S, Dutra MF, Stigger F, do Nascimento PS, Ilha 2007; 20 (2): 33-40
J, Kalil-Gaspar PI. Achaval M. Beneficial effects of tread- 19. Carregaro RL, Toledo AM. Efeitos fisiológicos e evidências
mill training in a cerebral palsy-like rodent model: walking científicas da eficácia da fisioterapia aquática. Revista Mo­
pattern and soleus quantitative histology. Brain Res. 2008; vimenta. 2008; 1: 23-27.
1222: 129-40. 20. Cardoso AP, Silva RL, Silva AC, de Paula BF, Alves DN,
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1

O Beneficio da hidroterapia no tratamento de pacientes


portadores de Paralisia Cerebral: Uma Revisão Bibliográfica

Bruna Medeiros Hernandes¹


Bruna.hernandes.fisio@gmail.com
Dayana Priscila Maia Mejia²
dayana_giovanna@hotmail.com
Pós-graduação em Pediatria e Neonatologia – Faculdade FASAM

Resumo
A paralisia cerebral (PC) é definida como uma alteração da postura e do movimento,
permanente, mas não imutável. Resulta de um distúrbio no cérebro não progressivo,
devido a fatores hereditários, eventos ocorridos durante a gravidez, parto, período
neonatal ou durante os primeiros dois anos de vida. Consiste num distúrbio do
movimento e/ou postura, persistente, mas não invariável, podendo surgir nos primeiros
anos de vida por lesões não progressivas do cérebro imaturo. Podem estar presentes
distúrbios associados como cognitivos, sensoriais e de comunicação. A utilização da
abordagem hidroterapêutica torna-se viável em vários aspectos estruturais, funcionais
e sociais no processo de reabilitação.A piscina terapêutica oferece oportunidades
estimulantes para os movimentos mais difíceis e complexos, pois forças diferentes agem
na água. Os efeitos de flutuabilidade, metacentro e das rotações fornecem campo para
as técnicas especializadas. A hidroterapia proporciona ao paciente portador de
paralisia cerebral ganhos sensório- motores. A utilização da abordagem
hidroterapêutica torna-se viável em vários aspectos estruturais, funcionais e sociais no
processo de reabilitação.
Palavas-chave: Paralisia cerebral; Fisioterapia; Hidroterapia.

1.Introdução
Stanley (2000) afirma que a Paralisia Cerebral (PC) descreve um grupo de desordens do
desenvolvimento do movimento e postura, causando limitação da atividade, que são
atribuídos a distúrbios não progressivos que ocorrem no desenvolvimento do cérebro
fetal ou infantil até o segundo ano de vida pós-natal. As desordens motoras da PC
podem frequentemente estar acompanhadas por distúrbios sensoriais, cognição,
comunicação, percepção, comportamental, desordens epiléticas, dentre outros prejuízos.
De acordo com Grenwood (2005) a etiologia da PC é multifatorial e geralmente não é
estabelecida devido à dificuldade de precisar a causa e o momento exato da lesão. No
entanto, a etiologia compreende aspectos pré-natais (malformações do sistema nervoso
central, infecções congênitas e quadros de hipóxia), perinatais (anóxia perinatal) e pós-
natais (meningites, infecções, lesões traumáticas e tumorais) (GARNE,2008;
BLAIR,2006;CANS,2007).
Morris(2007) descreve que o quadro clínico da paralisia cerebral é caracterizado por
uma disfunção predominantemente sensório-motora, com alterações do tônus muscular,
da postura e da movimentação voluntária e involuntária. Dentre os tipos de alterações de
tônus a forma espástica é a mais frequente, sendo caracterizada por hipertonia muscular
associada à persistência de reflexos posturais primitivos que alteraram os padrões de
movimento e todo o organograma de aprendizagem e aquisição motora (PATO,2002;
KELLY,2005).
Apesar do carácter não progressivo, alguns autores observam a presença do aspecto
mutabilidade na Paralisia Cerebral, onde o repertório motor sofre alterações devido ao
processo maturacional, ao aprendizado e a influência do meio (BORGES,2005).

1. Aluna Pós- Graduanda em Fisioterapia em Pediatria e Neonatologia


2.Fisiterapeuta Especialista em Metodologia do Ensino Superior e Mestre em Bioética e Direito em Saúde
2

Atualmente, tem-se utilizado o termo Encefalopatia Crônica Não Progressiva ou Não


Evolutiva para deixar bem claro seu caráter persistente, mas não evolutivo, apesar das
manifestações clínicas poderem mudar com o desenvolvimento da criança e com a
plasticidade cerebral (BARBOSA, 2010).
Segundo Rotta (2002) a expressão Paralisia Cerebral (doravante PC) é definida como
“seqüela de uma agressão encefálica, que se caracteriza, primordialmente, por um
transtorno persistente, mas não invariável, do tono, da postura e do movimento, que
aparece na primeira infância e que não só é diretamente secundário a esta lesão não
evolutiva do encéfalo, senão devido, também, à influência que tal lesão exerce na
maturação neurológica”.
Bonomo (2007) afirma que os distúrbios presentes na PC caracterizam-se por desordens
do desenvolvimento do movimento e da postura, causando limitação das atividades
funcionais (PASTRELLO,2009) e prejuízo de controle sobre os movimentos pelas
modificações adaptativas do comprimento muscular. Podem estar presentes distúrbios
associados como cognitivos, sensoriais e de comunicação (GOMES, 2001).
De acordo com Madeira e Piovensana (2002) a incidência de ECNPI em países
desenvolvidos é cerca de 1,5 a 2,5 por 1.000 nascidos vivos. Estima-se que no Brasil
esse número de casos seja maior, devido às circunstâncias precárias da saúde geral,
especialmente os cuidados voltados à gestante e ao recém-nascido (MADEIRA, 2009;
GOMES, 2001).
Alves(2007) cita que dentre as possibilidades de reabilitação motora, destaca-se a
hidroterapia que graças às particularidades presentes no meio líquido, é capaz de
proporcionar à criança com PC uma variedade de benefícios, tais como: a facilitação
para aquisição postural e controle dos movimentos, a adequação tônica, o ganho de
amplitude de movimento, da força muscular, da estimulação sensorial, do equilíbrio, da
coordenação motora, da dinâmica respiratória e da socialização.
A hidroterapia é um dos métodos terapêuticos mais antigos utilizados para o
gerenciamento de disfunções sensório-motoras e físicas. As propriedades de suporte,
assistência e resistência da água favorecem os fisioterapeutas e pacientes na execução
de programas voltados para melhora da amplitude de movimento, recrutamento
muscular, exercícios de resistência e no treinamento de deambulação e equilíbrio
(ORSINI, 2008).
As propriedades de suporte, assistência e resistência da água favorecem os
fisioterapeutas e pacientes na execução de programas voltados para melhora da
amplitude de movimento, recrutamento muscular, exercícios de resistência e no
treinamento de deambulação e equilíbrio (ORSINI, 2008).
Os exercícios terapêuticos e a água aquecida atuam em diversos sistemas do corpo
humano seja o sistema cardíaco, muscular, respiratório, endócrino entre outros, levando
a alterações fisiológicas (KABUKI, 2007).
Biasoli (2011) defende que os efeitos físicos da água que fornecem estas vantagens são
a densidade relativa que determina a capacidade de flutuação; a força de empuxo que é
a força de sentido oposto ao da gravidade; a tensão superficial que atua como resistência
ao movimento; a pressão hidrostática que consiste na pressão sobre o que está imerso e
depende diretamente da profundidade da imersão.
As forças físicas da água agindo sobre um organismo imerso, provocam alterações
fisiológicas extensas, afetando quase todos os sistemas do organismo. Os efeitos
fisiológicos podem somar-se aos desencadeados pela prática de exercício físico na água,
tornado as resposta mais complexas. ( CAROMANO, 2002)
A água promove um ambiente agradável e lúdico para as crianças e adolescentes com
PC, principalmente para aquelas com níveis de maior comprometimento motor. Estudos
vêm relatando que realizar atividade na água pode aumentar potencialmente a
3

confiança, motivação e interesse por facilitar tarefas que fora da água são difíceis ou até
mesmo impossíveis de serem realizadas (GORTER,2011).
Esses benefícios estão relacionados com os princípios fundamentais da hidrodinâmica e
termodinâmica que envolvem as características específicas da água, como a densidade,
gravidade,pressão hidrostática, flutuação, tensão superficial, calor específico,
viscosidade, fluxo e efeitos de resistência.
Borges(2007) afirma que fisioterapia aquática tem valor efetivo na reabilitação destas
crianças por proporcionar numerosos benefícios, sendo um deles a flutuação, que
facilita ao portador de deficiência física manter-se em ortostatismo sem uso de órteses.
Os benefícios psicológicos também estão presentes através da sensação de maior
liberdade proporcionada pela possibilidade de atividades motoras não realizáveis em
solo.

2.Referencial Teórico

2.1 Paralisia Cerebral


Little, em 1843, descreveu, pela primeira vez, a encefalopatia crônica da infância, e a
definiu como patologia ligada a diferentes causas e características, principalmente por
rigidez muscular. Em 1862, estabeleceu a relação entre esse quadro e o parto anormal.
Freud, em1897, sugeriu a expressão paralisia cerebral, que, mais tarde, foi consagrada
por Phelps, ao se referir a um grupo de crianças que apresentavam transtornos motores
mais ou menos severos devido à lesão do sistema nervoso central, semelhantes ou não
aos transtornos motores da Síndrome de Little (ROTTA,2002).
Designa um grupo de afecções do SNC da infância que não têm caráter progressivo e
que apresenta clinicamente distúrbios da motricidade, isto é, alterações do movimento,
da postura, do equilíbrio, da coordenação com presença variável de movimentos
involuntários.
A definição mais adotada pelos especialistas é de 1964 e caracteriza a PC como “um
distúrbio permanente, embora não invariável, do movimento e da postura, devido a
defeito ou lesão não progressiva do cérebro no começo da vida.”
A Paralisia cerebral não é uma doença: é ao contrario, uma categoria de deficiência que
inclui pacientes com um tipo de problemas: distúrbios crônicos não progressivos de
movimentos ou da postura com início precoce prematuro. Os locais anatômicos de
envolvimentos, os graus de deficiências motora associadas às disfunções e as causas são
heterogênicos. A paralisia Cerebral frequentemente está associada com dificuldades
neurológicas, incluindo o retardo mental (TECKLIN, 2002).
Ratliffe(2002) classificou a paralisia cerebral de acordo com a qualidade do tônus
muscular ou do movimento ,do padrão do comprometimento motor e, às vezes,
pela sua gravidade.
As desordens motoras no indivíduo com PC são variadas e complexas. Os déficits
primários incluem anormalidades do tônus muscular, prejuízo no balanço e
coordenação, diminuição de força e perda do controle de movimentos seletivos,
refletindo muitas vezes no aparecimento tardio ou, até mesmo, no não aparecimento de
alguns padrões motores maduros (MURLEY,2009;GILLETTE,2008).

2.2 Classificação
As pessoas com paralisia cerebral podem ser classificadas, de acordo com a
característica clínica mais dominante, em espástico, discinético e atáxico (CANS, 2007).
A paralisia cerebral espástica caracteriza-se pela presença de tônus elevado (aumento
dos reflexos miotáticos, clônus, reflexo cutâneo plantar em extensão – sinal de Babinski
e é ocasionada por uma lesão no sistema piramidal (SCHOLTES, 2006). A
4

espasticidade é predominante em crianças cuja paralisia cerebral é consequente do


nascimento pré-termo, enquanto que as formas discinéticas e a atáxica são frequentes
nas crianças nascidas a termo (HIMPENS, 2008).
A paralisia cerebral discinética caracteriza-se por movimentos atípicos mais evidentes
quando o paciente inicia um movimento voluntário produzindo movimentos e posturas
atípicos; engloba a distonia (tônus muscular muito variável desencadeado pelo
movimento) e a coreoatetose (tônus instável, com a presença de movimentos
involuntários e movimentação associada); é ocasionada por uma lesão do sistema
extrapiramidal, principalmente nos núcleos da base (corpo estriado – striatum e globo
pálido, substância negra e núcleo subtalâmico).A paralisia cerebral atáxica caracteriza-
se por um distúrbio da coordenação dos movimentos em razão da dissinergia,
apresentando, usualmente, uma marcha com aumento da base de sustentação e tremor
intencional; é ocasionada por uma disfunção no cerebelo.Os quadros de espasticidade
devem ser classificados também quanto à distribuição anatômica em unilateral (que
engloba as anteriormente classificadas como monoplégicas e hemiplégicas) e bilateral
(que engloba as anteriormente classificadas como diplégicas, triplégicas,
quadri/tetraplégicas e com dupla hemiplegia) (ROSENBAUM, 2007).

2.3 Incidência
Segundo Edelmuth, apud Rotta (2002), os estudos epidemiológicos de PC mostram
dados variáveis. Em 1950, Illingworth considerou 600 mil casos nos Estados Unidos,
aos quais se juntam, mais ou menos, 20 mil por ano. A incidência em países
desenvolvidos tem variado de 1,5 a 5,9/1.000 nascidos vivos. Não existe pesquisa
específica e oficial no Brasil a respeito da incidência de portadores de deficiências
física, sensorial ou mental. surgem no Brasil, 17.000 novos casos de PC ao ano.
Segundo ZANINI, (2009), estudos epidemiológicos do oeste da Austrália , Suécia,
Reino Unido e dos Estados Unidos têm relatado taxas de PC em 2,0 e 2,5 por 1.000
nascidos vivos, isso verificado em países desenvolvidos. Em contrapartida, nos países
subdesenvolvidos a incidência é maior, com um índice de 7 por 1.000 nascidos vivos.
No Brasil, os dados estimam cerca de 30.000 a 40.000 novos casos por ano . A origem
das causas para o desenvolvimento da PC pode ocorrer durante o período pré-natal,
perinatal ou pós natal, mas evidências sugerem que 70% a 80% sejam de origem pré-
natal. As causas podem ser congênitas, genéticas, inflamatórias, infecciosas, anóxicas,
traumáticas e metabólicas. O baixo peso ao nascimento e a prematuridade aumenta
significativamente a possibilidade de uma criança desenvolver PC.

2.4 Etiologia
Segundo Leite (2004) citou Salter (1985) as causas são inúmeras como o
desenvolvimento anormal do cérebro, anoxia cerebral peri natal associada a
prematuridade, lesões traumáticas do cérebro durante o nascimento pela demora no
parto ou por utilizar fórceps, eritroplastose por incompatibilidade do Rh, encefalites na
fase inicial do período pós- natal

2.5 Quadro Clínico da Paralisia Cerebral


Na observação clínica da paralisia cerebral, deve-se levar em consideração a extensão
do distúrbio motor, sua intensidade e, principalmente, a caracterização semiológica
desse distúrbio. Assim a paralisia cerebral apresenta várias formas clínicas.
a) Hemiplegia : É a manifestação mais frequente, com maior comprometimento do
membro superior; acompanha-se de sinais de liberação tais como espasticidade , hiper-
reflexia e sinal de Babinski. O paciente assume atitude em semiflexão do membro
superior, permanecendo o membro inferior hiperestendido e aduzido, e o pé em postura
5

eqüinovara. É comum hipotrofia dos segmentos acometidos, sendo também possível a


ocorrência de outras hemi-hipoestesiaou hemianopsia.
b) Hemiplegia bilateral ( tetra ou quadriplegia) :
Ocorrem de 9 a 43% dos pacientes. Ocorrem lesões difusas bilateral no sistema
piramidal dando além da grave tetraparesia espástica com intensas retrações em
semiflexão, síndrome pseudobulbar (hipomimia, disfagia e disartria), podendo ocorrer
ainda microcefalia, deficiência mental e epilepsia.
c) Diplegia : Ocorre em 10 a 30 % dos pacientes, sendo a forma mais encontrada em
prematuros. Trata-se de um comprometimento dos membros inferiores, comumente
evidenciando uma acentuada hipertonia dos adutores, que configura em alguns doentes
o aspecto semiológico denominado síndrome de Little (postura com cruzamento
dos membros inferiores e marcha “em tesoura”). Há diferentes gradações quanto à
intensidade do distúrbio, podendo ser pouco afetado (tendo recuperação e bom
prognóstico – adaptam-se à vida diária); enquanto outros evoluem mal com graves
limitações funcionais. Os dados semiológicos são muito variáveis. No 1º ano de vida, a
criança apresenta-se hipotônica, evoluindo gradativamente para uma outra fase em que
se observa um quadro de distonia intermitente, com tendência ao opistótono quando
estimulada. Nos casos mais graves a criança pode permanecer num destes estágios por
toda a sua vida, porém geralmente passa a exibir hipertonia espástica, inicialmente
extensora e, finalmente, com graves retrações semiflexoras.
d) Discinesia : Atualmente é a mais rara, pois manifesta-se através de movimentos
involuntários, sobretudo distonias axiais e/ou movimentos córeoatetóides das
extremidades. No primeiro ano de vida este padrão costuma não estar definido, podendo
existir hipotonia muscular. Em geral, quando estes pacientes estão relaxados a
movimentação passiva é facilitada.
e) Ataxia : Igualmente rara. Inicialmente pode traduzir-se por hipotonia e, aos poucos,
verificam-se alterações do equilíbrio (ataxia axial) e, menos comumente, da
coordenação ( ataxia apendicular). Sua marcha se faz com aumento da base de
sustentação podendo apresentar tremor intencional.
f) Formas mistas : É a associação das manifestações anteriores, correspondendo,
geralmente, ao encontro de movimentos distônicos e córeo-atetóides ou à combinação
de ataxia com plegia (sobretudo diplegia). No total, cerca de 75% dos pacientes doentes
com paralisia cerebral apresentam padrão espástico.

2.6 Hidroterapia
A hidroterapia vem sendo indicada e utilizada por médicos e fisioterapeutas em
programas de reabilitação multidisciplinares, principalmente na área reumatológica. O
conceito do uso da água para fins terapêuticos na reabilitação teve vários nomes como:
hidrologia, hidrática, hidroterapia, hidroginástica, terapia pela água e exercícios na
água. Atualmente, o termo mais utilizado é reabilitação aquática ou hidroterapia (do
grego: “hydor”, “hydatos” = água / “therapeia” = tratamento).
Em muitas culturas o uso da água foi relacionado ao misticismo e às religiões. O uso da
hidroterapia como forma terapêutica data de 2400 a.C. pela cultura proto-indiana que
fazia instalações higiênicas. Era sabido que anteriormente, egípcios, assírios e
muçulmanos usavam a água com propostas curativas1,3. Há também documentação de
que os hindus em 1500 a.C. usavam a água para combater a febre. Arquivos históricos
constam que civilizações japonesas e chinesas antigas faziam menções de culto
(adoração) para a água corrente e faziam banhos de imersão por grandes períodos.
Homero mencionou o uso da água para tratamento da fadiga, como cura de doenças e
combate da melancolia. Na Inglaterra, as águas de Bath foram usadas anteriormente a
800 a.C. com propostas curativas.
6

Em seu estudo, Fakaitis (2008), avalia e aborda as seguintes variáveis: força muscular,
amplitude de movimento, equilíbrio, coordenação, postura, habilidade, respiração e
função motora, utilizando como recursos cinesioterapia, mecanoterapia, eletroterapia,
termoterapia e técnicas manuais. Estimulam a habilidade do paciente para ser
independente e se reintegrar na comunidade ou retornar ao trabalho.
O enorme histórico dos tratamentos pela água faz da hidroterapia, um recurso
fisioterapêutico, de grandes benefícios aos tratamentos dos diversos tipos de patologias,
sejam elas ortopédicas, neurológicas, pediátricas, gineco-obstétricas e geriátricas.
Devido aos efeitos físicos e fisiológicos advindo da imersão do corpo em piscina
aquecida, é considerado um dos métodos terapêuticos mais antigos utilizados para o
gerenciamento de disfunções físicas. Possuindo efeitos fisiológicos relevantes que se
estendem sobre todos os sistemas e a homeostase. Tendo grandes benefícios no
tratamento de pacientes com distúrbios musculoesqueléticos, neurológicos,
cardiopulmonar, entre outros.
Degani(1998) cita métodos e técnicas utilizados:
 Método Halliwik: Criado por James Mac Millan em 1949 é uma metodologia
que, através de seu programa dos 10 pontos, ensina aos pacientes habilidades
diversas na água possibilitando movimentação segura e independente. Baseia-se
em princípios científicos e nas reações do corpo quando imerso na água.
 Método Bad Ragaz: Técnica que se desenvolveu nas águas termais da cidade
de Bad Ragaz, na Suíça, nos anos 30, aperfeiçoando-se na Alemanha, nos anos
50. É um programa de importância na recuperação da condição músculo-
esqueléticas, no condicionamento pré e pós-cirúrgico e em algumas afecções
reumáticas e neurológicas.
 Método Watsu: O Shiatsu na água (Water shiatsu - Watsu) é uma prática
pioneira de trabalho corporal que, desenvolvida por Harold Dull nos anos 80,
tem demonstrado alta eficiência no relaxamento, alívio de dores e redução do
estresse físico e emocional.
 Um misto dos métodos supracitados é utilizado amplamente na hidroterapia
convencional, e adaptado para cada individuo a ser tratado.

2.7Contra- Indicações:
 Febre: O ganho de calor pela água associada ao aumento do metabolismo pela
atividade física pode aumentar a temperatura corpórea.
 Infecções do trato urinário: Agentes químicos da piscina contribuirão para o
agravamento da infecção.
 Capacidade vital abaixo de 40% do valor mínimo esperado: A resistência que a
água proporciona no tórax do paciente pode dificultar a expansão pulmonar e
assim comprometer a oxigenação adequada.
 Infecções agudas de ouvido e de vias aéreas superiores: agentes químicos da
piscina quando inalados podem agravar o quadro infeccioso.
 Cardiopatias instáveis associada a PC: pacientes com patologias cardíacas sem
controle clínico e/ou medicamentoso, podem apresentar sistema cardíaco
incapaz de adaptar-se às respostas de mudanças vasculares produzidas pela
temperatura de água.

2.8 Restrições
 Ausência do reflexo de tosse: o terapeuta deve incentivar o controle respiratório
do paciente e permanecer sempre atento para que não haja afogamento durante a
terapia.
7

 Alterações esfincterianas: a ausência do controle esfincteriano pode


proporcionar eventuais interdições do ambiente de trabalho. Orienta-se ao
cuidador a estimular e realizar manobras indicadas corretamente pelo médico ou
enfermagem antes do inicio das terapias.
 Alterações de sensibilidade ou déficit de regulação térmica: o paciente com
regulação térmica ineficaz pode apresentar riscos de choque térmico. Para que
isso não ocorra é necessário um resfriamento adequado antes de sair da piscina,
diminuir gradativamente a intensidade dos exercícios e a percentagem de massa
corpórea e imersão; reduzir correntes de ar, orientar banho morno.

2.9 Objetivos Terapêuticos


O objetivo principal da reabilitação é minimizar as sequelas da patologia e proporcionar
maior grau de independência do individuo nas atividades cotidianas. A fisioterapia
aquática deve fazer parte deste programa por apresentar benefícios únicos que
proporcionam ao paciente satisfação e motivação durante seu processo terapêutico.
1)Adequação das respostas motoras: inclui adequação do tônus de postura e de
movimento. As alterações do tônus proporcionam atraso no desenvolvimento sensório-
motor normal.
2)Estimular seletividade dos movimentos: os pacientes com paralisia cerebral tipo
espástico apresentam alterações no controle seletivo dos movimentos devido a ausência
do sinergismo entre músculos agonistas e antagonistas.
3) Prevenir contraturas: alguns músculos no portador de PC do tipo espástico,
frequentemente apresentam retrações musculares, como é o caso dos músculos
gastrocnêmios, isquitibiais, íliopsoas, adutores das coxas e reto femoral( músculos bi-
articulares).
4)Promover equilíbrio: as reações de equilíbrio e proteção apresentam-se deficitárias,
resultando em dificuldade durante a realização de atividades dinâmicas. Muitas vezes o
movimento é realizado de forma associada a padrões de fixação para manutenção de
postura.
5) Melhorar a dinâmica respiratória: em pacientes com comprometimento motor
grave como o tetraparético, é comum acometimento dos músculos respiratórios.
6) Conscientização corporal: o movimento funcional é muitas vezes alterado pela
assimetria corporal. A hidroterapia tem efeito positivo na percepção da imagem corporal
quando se utiliza o efeito metacêntrico durante suas atividades.

3.Métodos
Trata-se de revisão de literatura. Foi embasada por meio de pesquisa bibliográfica, que
conforme Fachim (2001), consiste em um conjunto de conhecimentos que conduz o
leitor ao tema e a reprodução e utilização dessas informações coletadas. A busca dos
artigos foi realizada nas bases de dados eletrônicos como o Scientific Electronic Library
Online – Scielo e Biblioteca Virtual em Saúde - Bireme. A busca dos artigos ocorreu
mediante os seguintes descritores: Fisioterapia em Pediatria, Paralisia Cerebral e
Hidroterapia. Foram previamente selecionados 23 artigos na língua portuguesa
publicados no período de 2000 a 2015 e utilizou-se todos para a construção do
referencial teórico, cujo conteúdo, atendia os critérios de inclusão determinados para
alcançar o objetivo estabelecido.

4.Resultados e Discussão
Bonomo (2007) afirma que os distúrbios presentes na PC caracterizam-se por desordens
do desenvolvimento do movimento e da postura, causando limitação das atividades
funcionais (PASTRELLO,2009) e prejuízo de controle sobre os movimentos pelas
8

modificações adaptativas do comprimento muscular. Podem estar presentes distúrbios


associados como cognitivos, sensoriais e de comunicação (GOMES, 2001).
Segundo Araújo, Formiga & Tudella (2004), apesar da Paralisia cerebral (PC) tratar-se
de uma desordem eminentemente motora, é comumente acompanhada de outros
distúrbios, como crises convulsivas, distúrbios de inteligência, alterações sensoriais,
problemas emocionais ou familiares associados. O dano neurológico é muitas vezes
manifestado por incapacidade diversa e, em função deste nível de complexidade, o seu
tratamento deve ser planejado individualmente para que se possa efetuar uma correta
escolha de estratégia terapêutica. Assim, ao realizar o seu trabalho profissional o
fisioterapeuta destaca-se pela sua atuação direta na reabilitação física, a qual exige o
conhecimento de técnicas que podem ter influências benéficas na reabilitação.
Para Mancini (2004) a paralisia cerebral (PC) pode acometer os indivíduos de diferentes
maneiras, por meio de alterações neuromusculares, com alterações de tônus, com a
persistência de reflexos primitivos, rigidez e espasticidade. Tais alterações geram
padrões de movimentos anormais que podem comprometer o desempenho funcional
dessas crianças. A PC pode interferir na interação das crianças em contextos relevantes,
por exemplo, na aquisição e desempenho de marcos motores básicos como rolar, sentar,
andar e também em atividades de vida diária, como tomar banho, vestir-se, locomover-
se e alimentar-se.
Borges (2005) acrescenta ainda que a hipertonia é a causa mais importante de
deformidades na Paralisia Cerebral (PC), criando um desequilíbrio muscular entre os
músculos espásticos e seus antagonistas fracos. Este desequilíbrio muscular gera
alterações na mecânica respiratória e favorece o encurtamento da musculatura
inspiratória, enquanto que a musculatura abdominal apresenta-se tensa e
enfraquecida.O pescoço encurtado e a postura elevada dos ombros contribuem pra a
manutenção da elevação do tórax com projeção do osso esterno durante o ciclo
respiratório.
Duarte(2004) relata que a hidroterapia vem crescendo como modalidade de fisioterapia.
As técnicas desse modelo de tratamento baseiam-se em conceitos de fisiologia e
biomecânica. Utilizam as propriedades físicas da água como o empuxo, a pressão
hidrostática, a turbulência e a densidade substancialmente distinta da densidade do ar.
Ruoti(2000) acrescenta que eficácia da hidroterapia na reabilitação de pacientes
neurológicos é plena quando a água é aquecida a uma temperatura agradável ao
paciente, na faixa de 32 a 33°C. O calor da água propicia a redução do tono,
temporariamente, permitindo assim, o manuseio adequado para educação motora e
habilitação funcional.
Lianza (2001) alerta que ao perceber os primeiros sinais de anormalidades do
desenvolvimento, é importante tentar antecipar a formação de padrões patológicos,
impedindo-os de se formarem, e evitar que as condutas da criança fixem esses
padrões.O tratamento precoce é importante porque aproveita as etapas de maturação no
sistema nervoso em desenvolvimento, com estimulação e aproveitamento da inervação
recíproca, utilizando o potencial da plasticidade neuroaxonal da arquitetura cerebral.
Bryanton (2006) descreve que as atividades físicas tem se demonstrado um meio eficaz
na melhora da mobilidade em portadores de Paralisia Cerebral. A água pelo Principio
de Arquimedes, exerce uma força de baixo para cima igual ao volume deslocado
subtraindo o seu peso, e isto tende a promover uma flutuação, que seria utilizada para
proporcionar um maior relaxamento e fortalecimento inicial para os músculos mais
fracos, maior mobilidade articular, um stress biomecânico menor, auxílio e resistência
aos movimentos, uma vez que diminui a sobrecarga mas por outro lado tem uma
resistência maior do que a do ar (DI MAIS,2003).
9

Larzen(2002) e Mellandra(2005) citam que a abordagem hidroterapêutica oferece


propriedades fisiológicas, psicológicas e funcionais para o processo de reabilitação,
propriedades descritas na literatura como eficazes em várias outras patologias.
Entretanto, ainda são insuficientes os estudos sobre a real atuação da abordagem
hidroterapêutica em indivíduos com ECNPI.
Campion (2000) acrescenta que a água ainda estimularia a circulação periférica,
facilitando o retorno venoso e melhoraria a respiração, oferecendo um efeito
massageador, estimulando uma melhor contração muscular o que promoveria uma
melhora na postura. Ruoti (2000) afirma que o conjunto de respostas cardiovasculares à
imersão, incluindo bradicardia, vasoconstrição periférica e desvio preferencial do
sangue para áreas vitais, é coletivamente conhecido como reflexo de mergulho. O
reflexo de mergulho ocorreria de várias maneiras, inclusive durante exercícios e terapias
aquáticas. Uma resposta imediata à imersão em água fria seria o aumento do
metabolismo, evidenciado por um aumento no consumo de Oxigênio.
Melandra (2007)diz que a água apresenta um meio desconhecido para a criança
proporcionando muitas vezes medo e dificultando a fase inicial do tratamento. Esta
etapa de adaptação deve ser respeitada e o terapeuta contribui para a interação
transmitindo segurança para a criança.
Queiroz(2007) relata que outar dificuldade que exige atenção do terapeuta é ausência de
controle cervical. O terapeuta deve permanecer sempre atento para evitar incidentes
desagradáveis, como a imersão inesperada da face do paciente.
Kelly(2005) diz que a água se apresentaria como um meio único para a realização de
exercícios, e algumas respostas ao exercício na água seria melhores do que aquelas em
terra para portadores de Paralisia Cerebral. Durante o exercício dinâmico leve e
moderado na água, o metabolismo seria basicamente aeróbico promovendo uma
melhora na respiração.
Os exercícios terapêuticos e a água aquecida atuam em diversos sistemas do corpo
humano seja o sistema cardíaco, muscular, respiratório, endócrino entre outros, levando
a alterações fisiológicas (KABUKI, 2007).
Moura e Silva (2005) defendem que a reabilitação em meio aquático tem valor efetivo
no tratamento de portadores de paralisia cerebral, pois promove benefícios a esses
indivíduos, como, por exemplo, facilita o ortostatismo, por meio da flutuação.
Para Kelly(2005) as atividades com a água na altura do peito, haveria um aumento da
pressão hidrostática nas paredes do peito e abdominais durante a respiração. A água faz
resistência respiração, principalmente em pacientes com baixa capacidade vital, dentre
outros. Atividades aquáticas aliadas a exercícios respiratórios como respiração na água
(fazer borbolhas) são benéficos aos pacientes que tenham problemas respiratórios.
De acordo com Freitas (2005) a água é utilizada para facilitar, resistir ou suportar
movimentos e proporciona ao paciente maior capacidade para manter-se em posição
ortostática, entre outros benefícios. Este é um valioso recurso de tratamento que
promove relaxamento, facilitando o alongamento e a mobilização das articulações. É
também utilizado para o aumento da força muscular, melhora do equilíbrio e
coordenação e treino de marcha.
As propriedades da água oferecem aos profissionais opções de tratamento que seriam
difíceis ou impossíveis de se executar no solo (COLBY; KISNER, 2005). Segundo
Campion (2000), na hidroterapia, o paciente consegue atingir habilidades que podem ser
difíceis no solo trazendo efeitos psicológicos favoráveis e duradouros, que elevam a
autoconfiança e independência que se transfere para o seu dia-a-dia.
Kabuki(2007) descreve que a frequência cardíaca é caracterizada pelo numero de vezes
que o coração se contrai e relaxa, ou seja, o numero de vezes que o coração bate por
minuto. E o mesmo ainda ressalta que a frequência cardíaca aumenta com a elevação da
10

temperatura e como resultado do exercício, o aumento é proporcional á temperatura da


água e a severidade do exercício. No sistema cardiovascular há um conjunto de
respostas á imersão, incluindo bradicardia, vasoconstrição periférica (período inicial),
vasodilatação após alguns minutos imersos, e desvio de sangue para as áreas vitais,
influenciam na pressão arterial corpórea em imersão.
Diante dos prejuízos ocasionados por essa patologia, a fisioterapia aquática apresenta
benefícios únicos que proporcionam ao paciente maior grau de independência indivíduo
nas atividades cotidianas (KELLY,2005). Os benefícios da reabilitação motora são
visualizados tanto do ponto de vista psicológico quanto físicos. Os efeitos psicológicos
são sucesso e senso de realização, melhora da autoimagem, desenvolvimento da
independência, bem estar, oportunidade para auto-expressão, criatividade, socialização e
recreação. Por sua vez, os efeitos físicos incluem melhora do condicionamento físico,
alívio da dor, relaxamento muscular, melhora da propriocepção, aumento das
amplitudes de movimento, fortalecimento muscular, melhora da capacidade respiratória,
melhora do equilíbrio, coordenação e independência funcional (CAMPION,2000).
Melandra (2007) diz que no tratamento da paralisia cerebral do tipo espástica,
atividades dinâmicas estimulam as reações de equilíbrio e proteção. Saltitar alternando
membros inferiores, correr atrás de um objeto jogado na água. O trabalho com
turbulência também favorece o treino de equilíbrio e o terapeuta pode graduar a
intensidade do esforço físico.
A temperatura da água irá favorecer a terapia aliviando a dor, reduzindo os espasmos,
relaxando a musculatura, e facilitando dessa forma a transferência e marcha de
pacientes com déficit muscular, explorando exercícios para preparar o paciente a
realizar os movimentos em terra, (CAROMANO, 2002).
Em Morris (2000), encontramos que a Hidroterapia é um recurso que vem crescendo no
Brasil e começa a ser aceito como opção de tratamento para a Paralisia Cerebral.
Devido às propriedades físicas da água, a movimentação voluntária e adoção de
diversas posturas podem ser facilitadas e os exercícios de alongamento muscular podem
ser realizados com alívio da dor e melhora da funcionalidade, além de facilitar os
exercícios respiratórios, o treino de marcha e, principalmente, as atividades
recreacionais. (CAMPION, 2000).
Melandra (2007) diz que as respostas motoras em pacientes com paralisia cerebral do
tipo piramidal, normalmente são a longo prazo, contudo, o treino adequado facilitará
obtenção da habilidade necessária para controle corporal.
A hidroterapia vem se destacando na área de reabilitação neurológico devido o
dinamismo natural da água que sustenta o corpo atuando como um suporte parcial de
peso. E auxiliado pelos benefícios de seu aquecimento, esta terapia contribui na
mobilização de articulações, movimentos simples e caminhadas sem que haja maior
esforço pelo paciente.

Conclusão
A criança portadora de Paralisia Cerebral exibe os resultados complexos de uma lesão
do cérebro ou de um erro do desenvolvimento cerebral. À medida que a criança cresce e
evolui, outros fatores se combinam com os efeitos da lesão para agravar as deficiências
funcionais. Esses fatores fazem parte dos efeitos da falta de atividade sobre a
flexibilidade do sistema osteomuscular assim como os efeitos que uma série de
atividade muscular limitada e estereotipada exercem sobre o sistema nervoso. É
possível com a hidroterapia, e outros tratamentos, obter uma melhor independência na
realização das atividades de vida diária. A hidroterapia possui propriedades que trazem
benefícios para o sistema cardiovascular proporcionando alterações renais,
musculoesqueléticas, respiratórias, e aos sistemas nervosos centrais e periféricos.
11

Mesmo observando que os resultados são benéficos é preciso que o profissional fique
atento as contra- indicações e restrições do tratamento.

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e_pacientes_que_sofreram_acidente.pdf. Acesso em:15/03/15 às 14:33hs.
1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS


CENTRO DE ESTUDOS AVANÇADOS E FORMAÇÃO INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO EM FISIOTERAPIA PEDIÁTRICA E NEONATAL – DA UTI A
REABILITAÇÃO NEUROLÓGICA

ALINE SILVA REZENDE

EFEITOS DA HIDROTERAPIA EM CRIANÇAS COM PARALISIA


CEREBRAL – UMA REVISÃO

Goiânia
2015
2

ALINE SILVA REZENDE

EFEITOS DA HIDROTERAPIA EM CRIANÇAS COM PARALISIA


CEREBRAL – UMA REVISÃO

Projeto apresentado ao curso de Pós - graduação em Fisioterapia


Pediátrica e Neonatal – Da UTI a Reabilitação Neurológica do
Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada, em parceria
com a Pontifícia Universidade Católica de Goiás, como critério
de avaliação da disciplina de Metodologia Científica: Oficina de
Projetos.

Orientadora: Priscila Freitas da Cruz

Goiânia
2015
3

EFEITOS DA HIDROTERAPIA EM CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL – UMA


REVISÃO

EFFECTS OF THE HYDROTHERAPY IN CHILDREN WITH CEREBRAL PALSY – A


REVIEW

Aline Silva Rezende1, Priscila Freitas da Cruz2

Resumo
______________________________________________________________________
Introdução: A Paralisia Cerebral também é nomeada como encefalopatia crônica não
progressiva da infância, que designa por uma disfunção do movimento e da postura em razão
de uma lesão no cérebro imaturo da criança. O objetivo desse estudo é analisar por meio de
uma revisão bibliográfica, os efeitos da hidroterapia em indivíduos com Paralisia Cerebral em
artigos publicados entre 2005 a 2014. Resultados e conclusão: Com as informações colhidas
observa-se que a hidroterapia, promove melhora significativa na funcionalidade de pacientes
com Paralisia Cerebral, como melhora do equilíbrio, da coordenação motora, orientação
temporal e espacial, melhora da marcha, da flexibilidade muscular e da função social desses
indivíduos.

Palavras - chave: Hidroterapia; Paralisia Cerebral; Reabilitação.

______________________________________________________________________

Abstract
_____________________________________________________________________
Introduction: The cerebral palsy is also named as chronic encephalopathy non progressive of
the childhood, that designates for a dysfunction of the movement and of the posture in reason
of a lesion in the child's immature brain. The objective of this study was to analyze through a
literature review, the effects of the hydrotherapy in individuals with cerebral palsy goods
published among 2005 to 2014. Results and conclusion:With the information collected is
observed that the hydrotherapy, bring about significant improvements in the functionality of
patients with cerebral palsy, such as improved balance, coordination, spatial and temporal
orientation, gait improvement, muscle flexibility and the social function of these individuals.

Key - Words: Hydrotherapy; cerebral palsy; Rehabilitation.


______________________________________________________________________
1. Fisioterapeuta Pós- Graduando em Fisioterapia Pediátrica e Neonatal - Da UTI a
Reabilitação Neurológica pelo Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada,
chancelado pela Pontifícia Universidade Católica de Goiás – Goiânia/GO. E-mail:
alinesilva_rezende@hotmail.com.
4

2. Fisioterapeuta, Especialista em Cardiopulmonar e terapia intensiva,


Especialista em Terapia intensiva neonatal e pediátrica,
Professora convidada do Centro de Estudos Avançados e Formação Integrada.

______________________________________________________________________

INTRODUÇÃO

A Paralisia Cerebral (PC), também denominada encefalopatia crônica não progressiva


da infância, designa uma disfunção do movimento e da postura em razão de uma lesão no
cérebro imaturo da criança¹. Qualquer dano no tecido cerebral promove limitações nas
atividades funcionais, atribuída a distúrbios não progressivos ocorridos no feto ou nos
primeiros anos do desenvolvimento encefálico. Podendo ocorrer no período pré-natal,
perinatal ou pós-natal e ainda apresentar outros distúrbios associados como: deficiência
auditiva, visual, da linguagem, ortopédicos e intelectuais², ³.

A PC acomete mundialmente cerca de 2 a 2,5 por cada 1000 crianças nascidas 5e


dentre suas prováveis causas, destacam-se: infecções, hipoxemia cerebral, distúrbios do
metabolismo, hemorragias cerebrais por trauma do parto, hipóxia e fatores obstétricos,
icterícia grave, convulsões neonatais, traumatismos cranioencefalicos, encefalopatias pós-
infecciosas e pós- vacinais, meningoencefalites bacterianas4.

Assim, de acordo com o local da lesão encefálica e onde ela se apresenta


topograficamente, a PC pode ser classificada em: quadriplegia, hemiplegia e hemiparesia,
diplegia e diparesia4. E ainda, ser classificada pelos sinais clínicos em: espástica
(características de lesão do primeiro neurônio motor – hiperreflexia, fraqueza muscular,
padrões motores anormais, diminuição da destreza); atetósica (sinais de comprometimento do
sistema extrapiramidal, presença de movimentos involuntários, distonia, ataxia e rigidez
muscular); atáxica (sinais de comprometimento do cerebelo); hipotônica (grave depressão da
função motora e fraqueza muscular). Há também a forma mista que une características da
forma atetósica, atáxica e espástica6,7.

Sabe-se que a PC não tem cura, mas seus efeitos ou “sinais” podem ser minimizados.
A Hidroterapia, como modalidade da fisioterapia, vem crescendo como tratamento
reabilitador usando os efeitos físicos, fisiológicos e cinesiológicos precedidos da imersão do
corpo em piscina aquecida como recurso auxiliar da reabilitação ou prevenção de alterações
funcionais. Na água, os movimentos são facilitados devido à atuação da gravidade ser
diminuída por causa da força do empuxo. Entre as técnicas mais usadas encontram-se os
métodos de Bad Ragaz, Halliwick e Watsu9.

Um bom resultado da hidroterapia na reabilitação de pacientes neurológicos depende


da temperatura da água, sendo ela aquecida em torno de 32 a 33°C. A água morna propicia a
5

diminuição de tônus muscular temporariamente, no início da terapia, facilitando a realização


dos movimentos desejados7.

A terapia na água é um dos meios usados desde antigamente para o tratamento de disfunções
físicas. As propriedades de suporte, assistência e resistência da água auxiliam os
fisioterapeutas e pacientes na realização de objetivos voltados para melhora da amplitude de
movimento, recrutamento muscular, exercícios de resistência e no treinamento de
deambulação e equilíbrio10, facilitando o conhecimento de funções essenciais para os
movimentos funcionais por meio de exercícios globais, voluntários e convidativos11.

Sendo assim, o presente estudo teve o objetivo de analisar, por meio de uma revisão de
literatura, os efeitos da hidroterapia em indivíduos com PC.

METODOLOGIA

O presente estudo consistiu em uma pesquisa bibliográfica sobre os efeitos da


hidroterapia na paralisia cerebral. Foram realizadas buscas em base de dados científicos tais
como: Scielo, Bireme, PubMed, Lilacs, Portarias do Ministério da Saúde, utilizando como
palavras chave: Hidroterapia; Paralisia Cerebral; Reabilitação.

Foram utilizados como critérios de inclusão para o estudo os textos e artigos que
abordavam a Hidroterapia em indivíduos com Paralisia Cerebral, artigos experimentais
escritos em língua portuguesa e inglesa, com publicação entre 2005 e 2014. Assim, foram
excluídos aqueles que não atendiam aos critérios estabelecidos. Ao final, foram selecionados
16 artigos e os dados foram apresentados em forma de tabela contendo: autor/ano; tipo de
estudo; amostra; intervenção/ método de avaliação e resultados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Da apreciação dos artigos para realização do estudo foram selecionados 12 artigos na


língua portuguesa e quatro na língua inglesa. Os principais achados dos efeitos da
Hidroterapia na PC foram descritos na Tabela 1. Observa-se, dentre os estudos analisados, a
utilização dos seguintes instrumentos para avaliação funcional: Pediatric Evaluation of
Desability Inventory (PEDI), Sistema de Classificação da Função Motora Grossa (GMFCS),
Avalição Tradicional, Avaliação com teste de flexibilidade Banco de Wells. E em relação às
intervenções fisioterapêuticas realizadas destacam-se os tratamentos envolvendo alongamento
muscular, treino de marcha e relaxamento com o método Bad Ragaz, atividade lúdica,
exercícios respiratórios e relaxamento, exercícios aeróbicos e aquecimento e ainda,
alongamento da musculatura retraída.
6

Tabela1. Apresentação da síntese dos artigos selecionados.


AUTOR/ANO TIPO DE AMOSTRA INTERVENÇÃO/MÉTODO RESULTADOS
ESTUDO DE AVALIAÇÃO
Teixeira- Descritivo 2 crianças, 5 meses, 2 vezes por Melhora do
Arroyo e exploratório sexo semana, duração de 60 equilíbrio,
Oliveira masculino, minutos. Avaliação coordenação,
2007 12 e 7 anos Psicomotora Adaptada com esquema
de idade. base Oliveira 2004. corporal,
PC lateralidade e
espástica. orientação
espacial e
temporal.

Aidar et al., Estudo de 21 crianças 16 semanas, 2 vezes por Função social


2007 caso entre 6 anos semana, duração de 45 melhorou,
e 3 meses e minutos. Avaliação com melhorou a
12 anos e 7 Habilidades manuais de habilidade para
meses de manipular papel e lápis, e o manusear papel
idade. PC instrumento PEDI (função e lápis de 2,52
espástico e social). para 3,19. E a
atetose. PEDI de 15,2
para 28,1.

Ozeret.al., Randomiza 23 crianças 14 semanas, 3 vezes por Ganho na


2007 do entre 5 e 10 semana, com duração de 30 consciência
anos de minutos corporal.
idade.
PC.

Bonomoet al., Ensaio 6 crianças 20 sessões, 2 vezes por Tônus muscular


2007 clínico não entre 2 e 6 semana, duração de 40 sem alteração.
controlado anos de minutos. Avaliação com Teve melhora
idade. PC Escala de Ashworth nas habilidades
tetraparético modificada e a PEDI parte I. de autocuidado,
espástico. mobilidade e
função social.

Rosa et al., Descritivo Uma Dois meses, 2 vezes por Equilíbrio


2008 quase criança com semana, duração de 45 (avançou 12
experimenta idade minutos. Manual de meses na idade
l cronológica Avaliação Motora motora)
de 10 anos. (motricidade, equilíbrio, Não apresentou
PC atáxica. lateralidade e organização alterações
espacial e temporal). proporcionais
nas outras áreas.
7

AUTOR/ANO TIPO DE AMOSTRA INTERVENÇÃO/MÉTODO RESULTADOS


ESTUDO DE AVALIAÇÃO
Rocha, Estudo de Uma Um ano de observação. Melhorou força,
Oliveira e caso criança, 12 Avaliação de coleta de equilíbrio,
Rocha anos de dados antes e após ADM e
2009 idade, sexo intervenção com entrevista movimentos
feminino. com responsável simples (junção
PC de mãos).
Pastrello, Quantitativo Uma Etapa I (solo): 16 sessões, 2 Sem alteração
Garcão e criança, 4 vezes por semana, duração na etapa I, na 1ª
Pereira anos e 4 de 30 minutos. e 2ª avaliação.
2009 meses de Etapa II (solo e meio Na 3ª avaliação
idade, sexo aquático): 24 sessões, da etapa II,
masculino. duração de 30 minutos, 2 houve ↑ do
PC vezes por semana (meio desempenho
tetraparética aquático) e 1 vez por para dimensão
espástica semana (solo) A. Houve ↑
nível V do GMFM dimensões A e B também na
GMFCS dimensão B,
mas sem
diferença
comparada com
à outra
avaliação.
Navarro et al., Relato de Um 11 meses, 2 vezes por Melhorou
2009 caso paciente, 34 semana, duração de 60 equilíbrio,
anos de minutos. Avalição manutenção da
idade, sexo tradicional. independência
masculino. motora do
PC paciente.
espástico e
atáxico com
quadro de
tetraparesia
Espindulaet Estudo de 3 crianças, 5 sessões, uma vez por Melhorou a
al., casos duas sexo semana, duração de 30 deambulação,
2010 masculino e minutos. Avaliação com equilíbrio e a
uma sexo teste de flexibilidade Banco flexibilidade.
feminino. de Wells.
PC
diparética.

Abdalla et.al., Quase 7 crianças 16 semanas, 2 vezes por Melhora do


2010 experimenta entre 6 e 9 semana, com duração de 30 equilíbrio em pé
l anos de minutos. ( controle de
idade. PC Plataforma Wii Balance descarga de
espástica. Board . peso e centro de
Nível I e II gravidade).
– GMFCS
8

AUTOR/ANO TIPO DE AMOSTRA INTERVENÇÃO/MÉTODO RESULTADOS


ESTUDO DE AVALIAÇÃO
Ballaz, Estudo de 12 20 sessões, 2 vezes por Melhorou a
Plamadon e caso adolescente semana, com duração de 45 eficiência da
Lemay s entre 14 e minutos. marcha. Com ↓
2011 21 anos de Monitor de FC. da FC e EEI.
idade. PC
espástica.
Connor Estudo de 3 crianças 7 semanas, 3 vezes por Melhora do
2012 caso entre 7 e 14 semana, com duração de 40 equilíbrio
anos de minutos. dinâmico e
idade. PC estático.
espástica.
Nível II -
GMFCS
Lucena et al., Relato de Uma 7 meses e meio, 2 vezes por Melhora do
2013 caso criança, 7 semana, duração de 40 a 60 reajuste
anos de minutos, 30 atendimentos corporal e
idade, sexo em solo e 7 em meio capacidade
masculino. aquático. Avaliação funcional.
PC tradicional.
diplégica
espástica e
deficiência
intelectual
leve.
Maciel, Transversal 6 crianças , Dois meses, 4 crianças fez Ajuste postural
Mazzitelli e Sá entre 6 e 11 hidroterapia e 2 crianças (↓ valgismo, ↓
2013 anos de com cinesioterapia. flexão de
idade. PC Avaliação por Fotometria joelho,
hemiparétic (SAPO) e Pediatric Balance ↓anteversão
as. Scale (PBS) pélvica).
↑ déficit de
equilíbrio.
Possamai e Estudo de Uma 20 sessões ↓ da
Santos caso criança, 2 PEDI (capacidade espasticidade.
2013 anos e 6 funcional) Não houve
meses de Escala de Avaliação do diferença
idade. PC tônus muscular (Durigon e significativa da
espástica Piemonte) capacidade
funcional.
PC= Paralisia Cerebral; PEDI= PediatricEvaluationofDesabilityInventory; ADM= Amplitude de Movimento;
GMFM= Gross Motor Function Measure; GMFCS= Sistema de Classificação da Função Motora Grossa; FC=
frequência cardíaca; EEI= Índice de gasto energético; SAPO= software de análise Postural; PBS= Pediatric
Balance Scale.

Quanto aos resultados encontrados em relação aos efeitos da hidroterapia na PC,


observou-se em 2 estudos realizados, que a função social melhorou, passando de uma média
de 15,2 para 28,1, com uma amostra de 21 crianças12 e outro dado observado a média passou
9

de 26,5 para 39,5, com amostra de 6 crianças, porém não houve alteração de tônus7, ambos
utilizaram a PEDI como instrumento de avaliação. Ainda sobre a função social, realizaram um
estudo com uma amostra superior de crianças (27 crianças) onde foi usado o mesmo
instrumento de avaliação, constatando a melhora na função social dessas crianças submetidas
aos exercícios físicos aquáticos22.

Outro dado observado foi em relação ao tratamento de crianças portadoras de PC nível


II do GMFCS, que obtiveram uma melhora no equilíbrio, tanto dinâmico como estático4, 20.
No entanto um estudo realizado com 4 crianças PC, demonstrou uma melhora no ajuste
postural (diminuição do valgismo e da flexão de joelho), porém com um aumento no déficit
de equilíbrio, foi utilizado como meio de avaliação a Pediatric Balance Scale (PBS) e
Avaliação por Fotometria (SAPO)15.

Sobre a melhora da consciência corporal foram analisados alguns artigos com estes
resultados. Em um estudo realizado em Israel com 23 crianças entre 5 e 10 anos de idade,
observou-se ganho significativo da “consciência corporal” no grupo avaliado 18. Outros
estudos apresentaram a mesma resposta e ainda uma melhora na coordenação, no esquema
corporal e na orientação espacial e temporal 8. Além do ajuste corporal e aumento da
capacidade funcional, reafirmando o ganho significativo da consciência corporal nas crianças
avaliadas 3.

Outro dado observado foi em relação ao ganho de equilíbrio, em um estudo com 3


crianças após as sessões no meio aquático observou-se uma melhora do equilíbrio, da
flexibilidade e uma melhor deambulação Foi utilizado como instrumento de avaliação o
Banco de Wells, que verifica a flexibilidade da parte posterior do tronco e membros
inferiores9.

Analisou-se um estudo utilizando o método Watsu, que caracteriza como uma terapia
na água com fins reabilitacionais, observou-se o aumento das habilidades motoras grossas
segundo a escala Gross Motor Function Measure (GMFM), principalmente nas posturas
supino e prono que são necessárias para as crianças realizarem as mudanças posturais,
demonstrando ser um importante auxiliar a Fisioterapia convencional para o desenvolvimento
motor em crianças com PC tetraparética espástica14.

Outro estudo com uma criança de 11 anos de idade apresentando distúrbio neurológico
decorrente de meningite utilizou como instrumento de avaliação a Escala de Avaliação de
Habilidades Aquáticas Básicas (EAHAB) e Diário de Campo. Neste estudo observou-se como
resultado a evolução das habilidades como imersão, respiração, deslocamento, entrada e saída
da piscina, segurança e à autonomia em meio líquido21.

A partir deste trabalho observamos que a terapia na água é um dos meios empregados
para tratamento das disfunções físicas.
10

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por meio dos estudos analisados colhidos, observa-se que a hidroterapia, como
tratamento em água morna, promove melhora significativa na funcionalidade de pacientes
com PC, como melhora do equilíbrio, da coordenação motora, orientação temporal e espacial,
melhora da marcha, da flexibilidade muscular e da função social desses indivíduos.

Os exercícios aquáticos revelam-se uma opção válida para os portadores de Paralisia


Cerebral com benefícios de uma vida ativa, favorecendo sua funcionalidade e melhorando sua
qualidade de vida.

Há poucas evidências de pesquisas relacionadas à eficácia da terapia aquática na


Paralisia Cerebral. É necessário haver mais estudos com atividade mais funcional e o
envolvimento da criança no ambiente em que vive, para que o efeito desejado seja seguro no
seu tratamento.

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