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BRASÍLIA
2016
SAMARA MOREIRA DA COSTA
NEUROLÓGICA – CEAFI.
A paralisia cerebral foi descrita conceitualmente pela primeira vez pelo Dr.William
Jonh Little, em 1861 como um dano do desenvolvimento fetal ou infantil que promove
alterações permanentes dos movimentos e da postura¹. A paralisia cerebral pode estar
associada a outras afecções, como distúrbios sensoriais, cognitivos, epilepsia e problemas
músculo esqueléticos.¹ A alteração do tônus, a presença de posturas patológicas, apraxia
motora, disfagia e paresia da musculatura torácica, do pescoço e dos membros superiores,
além da alteração da resposta do centro respiratório são os principais fatores de complicações
respiratórias nesta população2.
A paralisia cerebral não é uma patologia de notificação compulsória, assim os dados
relacionados a incidência e a prevalência são limitados, principalmente no Brasil3.A paralisia
cerebral atinge cerca de 1,5 e 2,5 a cada mil em nascidos vivos em países industrializados.3
Estima-se que 70 a 80 % dos casos de encefalopatia crônica não progressiva da infância são
adquiridos no período pré- natal, e a etiologia, na maioria das vezes é idiopática4. Os
principais fatores de risco da paralisia cerebral são complicações obstétricas, prematuridade,
baixo peso, fenômenos hipóxicos, apresentação fetal anômola, hiperbilirrubinemia,
septicemia, desnutrição, traumatismo crânio encefálico e síndromes epilépticas3.
A classificação da paralisia cerebral leva em consideração as anormalidades motoras,
as habilidades motoras funcionais, a distribuição anatômica e exames complementares tais
como achados na tomografia computorizada ou na ressonância magnética de alargamento
1
ventricular, anomalia cerebral ou alterações na substância branca .A Associação de
Assistência à Criança Deficiente (AACD) entende que a classificação pelo tipo clínico é
dividido em espástico, distônico, atáxico, misto e flácido. Já a classificação anatômica é a
tetraparesia, diparesia, e hemiparesia3.Ashabilidades motoras funcionais são qualificadas na
classificação internacional de funcionalidade (CIF) que permite expor a funcionalidade e as
restrições apresentadas pelos pacientes1.
As crianças portadoras de paralisia cerebral sofrem influências de fatores externos,
devido à falta de atividade sobre o sistema osteomuscular, além do próprio impacto da lesão
cerebral no desenvolvimento motor, o que causa prejuízo nas habilidades funcionais da vida
diária.5Um programa de reabilitação desenvolvido para estas crianças deve visualizar
estratégias funcionais para preparar o indivíduo para uma função, aprimorar e manter as já
existentes, aperfeiçoando o controle dos movimentos e inibindo as respostas indesejadas.6
Algumas técnicas como a eletroterapia, cinesioterapia, mobilização neural, Bobath,
terapia de restrição induzida de movimento e terapia do espelho estão sendo utilizadas na
reabilitação neurológica e têm demonstrado efeitos benéficos no paciente reduzindo o grau de
espasticidade, melhorando o padrão postural e da capacidade funcional.7
Entre as técnicas promissoras na abordagem do indivíduo com paralisia cerebral
recentemente foi descrita na literatura,a aplicação do Kinesio taping, que consiste em uma fita
elásticaconstituída de um algodão fino e uma camada adesiva antialérgica e possui
propriedade de elasticidade semelhante a pele humana.7,8
Este método foi desenvolvido pelo Dr. Kenso Kase, por volta de 1970, com o desígnio
de promover estabilidade para os músculos e articulação sem restringir o movimento.9 Esta
terapia também tem como objetivos aumentar o feedback proprioceptivo, melhorar a aptidão
física, incrementar a função motora grossa e aprimorar as atividades de vida diária.10, 11
Diante da necessidade do aprimoramento das condutas terapêuticas a serem aplicadas
nas crianças com paralisia cerebral, buscando melhorar a qualidade de vida, o
desenvolvimento do controle motor, a facilitação no autocuidado e principalmente
proporcionar maior autonomia. O objetivo deste estudo é revisar na literatura a aplicabilidade
do uso da Kinesio Taping em crianças com diagnóstico clínico de paralisia cerebral.
Métodos
A pesquisa da literatura foi realizada nas bases de dados eletrônicas: Centro Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciência da Saúde. (LILACS), U.S National Library
of Medicine( PUBMED), Physioterapy Evidence Database (PEDro) e Scientific Eletronic
Library Online (SciELO) no período de Janeiro a Maio de 2016. Os descritores usados foram
“Kinesio taping”, crianças, bandagem e paralisia cerebral. As combinações utilizadas foram:
Kinesio Taping e crianças, Kinesio taping e paralia cerebral, bandagem e criança e bandagem
e paralisia cerebral. A pesquisa foi limitada às línguas inglesa, espanhola ou portuguesa, com
estudos realizados com crianças com diagnóstico de paralisia cerebral. Não foram incluídos
na pesquisa revisões bibliográficas, resumos de dissertações ou teses acadêmicas. No processo
de busca foram encontrados sete artigos, nos quais dois foram excluídos por serem
classificados como resumo de dissertação. Os artigos encontrados repetidos em mais de uma
base de dados foram naturalmente excluídos da pesquisa.
Resultados e Discussão
Foram localizados cinco estudos relevantes à revisão. Estes estudos foram dispostos de
forma simplificada na tabela 1.
Tabela 1- Descrição simplificada dos artigos incluídos na revisão
Kara, K,O. . Investigar o efeito da Foi utilizado a técnica Os resultados demonstram que o
et al. 2015 bandagem funcional na função em “I” para grupo estudo teve melhoras
corporal e atividades de crianças estabilização da significativa no torque
com paralisia cerebral escapula, otimização do muscular, na habilidade de
controle postural, levantar, na independência
melhorar da supinação, funcional e na habilidade de
facilitar a ação da autocuidado comparado com o
musculatura abdutora do grupo controle.
quadril e para corrigir a
hiperextensão do joelho
e a dorsoflexão
Simsek et . Avaliar a postura sentada, O kinesio tapping foi Houve melhora significativa no
al. 2011 independência funcional e aplicado grupo estudo quando comparado
função motora grossa. longitudinalmente entre com o grupo controle no
S1 e C7 na musculatura instrumento avaliativo Sitting
paravertebral. Durante Assessment Scale ( SAS). Os
12 semanas dois grupos obtiveram
resultados positivos, quando
comparado a avaliação inicial
com a final na subescala que
avalia a posição sentada
noGross motor classification
system (GMFM) e na escala de
independência (WeeFIM) o
grupo estudo apresentou
melhora significativa após a
intervenção.
Costa et al. Observar o efeito imediato da O kinesio taping foi Ocorreu redução do tempo da
2013 aplicação do kinesio taping na cortado em “Y” e transferência de sentado para
transferência do sentado para de posicionado no posição ortostática e melhora no
pé, equilíbrio e controle postural quadríceps e a técnica controle postural dinâmico,
dinâmico. utilizada no tibial
anterior foi o corte
em“I”..
Caneschi Verificar o impacto social, O kinesio taping foi Foi verificado a redução dos
et al, 2014 número de toalhas de boca posicionado na casos de engasgo e a redução da
utilizadas, percepção da musculatura Hióidea sialorréia.
gravidade da sialorréia e análise
quantitativa da sialorréia.
Considerações finais
Referência
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