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Resumo
O objetivo deste artigo é fazer uma revisão sistemática de literatura a fim de analisar
produções científicas nacionais e internacionais que abordam as funções executivas
(FE) em crianças com Paralisia Cerebral bem como levantar a problemática no processo
de avaliação e intervenção dessas crianças em suas dificuldades ou transtornos de
aprendizagem. O método consiste num levantamento de artigos publicados na
Biblioteca Virtual em Saúde, PUBMED, SciELO e PePSIC. Resultados indicaram que
os estudos selecionados não avaliam as FE da mesma forma. Alguns avaliam as FE
como um componente global, o qual demonstra pouca diferença comparando os alunos
com PC dos neurotípicos, outros avaliam os componentes principais das FE, que são o
Controle Inibitório, a Flexibilidade Cognitiva e a Memória de Trabalho (MT). É
possível concluir que o estudo das FE em crianças com PC está em pleno
desenvolvimento, visto que a maioria dos estudos focam em reabilitação motora. Nos
últimos 5 anos, o interesse nesta temática aumentou, expresso pelo aumento no número
de estudos publicados. Porém, há escassez de estudos no Brasil e ainda muito que se
conhecer, principalmente sobre a importância da intervenção Neuropsicopedagógica
envolvendo as FE, transtornos e dificuldades de aprendizagem em crianças com PC.
Abstract
The objective of this article is to carry out a systematic review of the literature in order
to analyze national and international scientific productions that address executive
functions (EF) in children with Cerebral Palsy as well as to raise the problem in the
process of evaluation and intervention of these children in their difficulties or learning
disorders. The method consists of a survey of articles published in the Virtual Health
1
2
Library, PUBMED, SciELO and PePSIC. Results indicated that the selected studies do
not assess EF in the same way. Some evaluate EF as a global component, which shows
little difference comparing students with CP to neurotypical ones, others evaluate the
main components of EF, which are Inhibitory Control, Cognitive Flexibility and
Working Memory (TM). It is possible to conclude that the study of EF in children with
CP is in full development, since most studies focus on motor rehabilitation. In the last 5
years, interest in this topic has increased, expressed by the increase in the number of
published studies. However, there is a scarcity of studies in Brazil and much remains to
be known, especially about the importance of Neuropsychopedagogical intervention
involving EF, disorders and learning difficulties in children with CP.
1. Introdução
Esta doença possui uma prevalência de 2 a 2,5% a cada 1.000 nascimentos e pode
ocorrer devido a fatores pré, peri ou pós-natais9. Entre as causas pré-natais
encontram-se as infecções intra-uterinas, mal formações cerebrais, anomalias
genéticas e teratógenos10. Os fatores peri-natais são prematuridade, encefalopatia
hipóxico-isquêmica, infecções do SNC, distúrbios metabólicos transitórios e
hemorragias intracranianas. Entre os fatores pós-natais destacam-se as infecções, o
traumatismo cranioencefálico, a desidratação grave e a parada cardiorrespiratória. A
afecção em estudo afeta entre duas e três crianças por 1000 nascidos vivos, e se
constitui a causa mais comum da deficiência física na infância (Vigilância da
Paralisia Cerebral na Europa, 2000).
A classificação da PC pode ser realizada de acordo com a região acometida no
cérebro, segundo o seu grau de comprometimento, pela distribuição topográfica da
lesão e pelas aquisições da função motora grossa (GRAHAM, 2005) 9.
Poucos estudos abordam a capacidade cognitiva e avaliação das funções
executivas em crianças com PC, por isso, a importância do olhar
neuropsicopedagógico diante dessa pesquisa a fim de contribuir com visão das
potencialidades de aprendizagem e consequentemente qualidade de vida dessas
crianças.
Se faz necessário ampliar pesquisas sobre PC não se resumindo apenas nos
déficits motores presentes na condição, visto que a Paralisia Cerebral é uma
encefalopatia não evolutiva da infância e a partir da avaliação Neuropsicopedagógica
é possível criar um plano de intervenção, para ensino de habilidades
neuropsicomotoras: vias motoras, sensitivas, sensoriais, de linguagem, raciocínio e
memória dos sistemas nervoso central e periférico e através destas intervenções é
possível promover melhorias transcendentes na aprendizagem dessas crianças que de
acordo com os estudos na maioria dos casos estão preservadas as capacidades
cognitivas, comunicação, socialização e linguagem receptiva.
2. Metodologia
2.1. Procedimentos
Critérios Diagnósticos
1. Leitura de palavras de forma imprecisa ou lenta e com esforço (p. ex., lê palavras
isoladas em voz alta, de forma incorreta ou lenta e hesitante, frequentemente adivinha
palavras, tem dificuldade de soletrá-las).
2. Dificuldade para compreender o sentido do que é lido (p. ex., pode ler o texto com
precisão, mas não compreende a sequência, as relações, as inferências ou os sentidos
mais profundos do que é lido).
3. Dificuldades para ortografar (ou escrever ortograficamente) (p. ex., pode
adicionar, omitir ou substituir vogais e consoantes).
4. Dificuldades com a expressão escrita (p. ex., comete múltiplos erros de gramática
ou pontuação nas frases; emprega organização inadequada de parágrafos; expressão
escrita das ideias sem clareza).
5. Dificuldades para dominar o senso numérico, fatos numéricos ou cálculo (p. ex.,
entende números, sua magnitude e relações de forma insatisfatória; conta com os dedos
para adicionar números de um dígito em vez de lembrar o fato aritmético, como fazem
os colegas; perde-se no meio de cálculos aritméticos e pode trocar as operações).
6. Dificuldades no raciocínio (p. ex., tem grave dificuldade em aplicar conceitos,
fatos ou operações matemáticas para solucionar problemas quantitativos).
Nas últimas décadas do século XX e continuando até o início do século XXI, tem
havido um número crescente de estudos sobre o tema das dificuldades matemáticas (por
exemplo, Dehaene, Piazza, Pinel, & Cohen, 2003; Geary, Brown , & Samaranayake,
1991; Russel & Ginsburg, 1984; Siegler, 1988).Essas décadas também viram esforços
colaborativos crescentes por parte de pesquisadores nas áreas de educação,
neuropsicologia e neurociência cognitiva com o objetivo de aumentar nossa
compreensão das dificuldades de aprendizagem (matemáticas) relacionando essas
dificuldades a processos cognitivos subjacentes e mecanismos cerebrais (por exemplo, ,
de Jong et al., 2009)12.
Dificuldades de aprendizagem matemática muitas vezes co-ocorrem com
dificuldades de leitura (Dirks, Spyer, van Lieshout, & De Sonneville, 2008). Alloway e
Alloway (2010) descobriram que, embora o QI fosse preditivo do desenvolvimento
tanto da alfabetização quanto da matemática, a MT era um preditor independente dessas
habilidades.
Déficits de FEs têm sido associados à dislexia (Helland & Asbjornsen, 2000). Uma
compreensão de quais correlatos cognitivos são comuns a dificuldades de matemática e
leitura e quais são preditivos de dificuldade em apenas uma área pode contribuir para a
identificação precoce de dificuldades específicas de aprendizagem, possibilitando a
intervenção precoce12.
Tanto a atenção espacial quanto a representação cognitiva de números, que seriam
ativadas durante a computação mental, são mediadas por áreas cerebrais sobrepostas (ou
seja, o sulco intraparietal;Dehaene et al., 2003).
Conforme pesquisa pontuações baixas e desempenho ruim em um teste de
desempenho em matemática podem refletir comprometimento cognitivo na mesma área
do cérebro.
Além disso, a atenção espacial também tem sido implicada na habilidade de leitura
(Facoetti, Paganoni,Turatto, Marzola, & Mascetti, 2000).
Explorar a natureza e a origem das dificuldades de aprendizagem em uma população
específica de pacientes em comparação com crianças com desenvolvimento típico pode
aumentar a compreensão teórica, esclarecer implicações práticas e fornecer caminhos
potenciais para intervenção na população específica de pacientes, bem como em
crianças em geral.
A presença de PC pode ser vista como uma 'bandeira vermelha' indicando uma maior
probabilidade de déficits de WM e/ou EF que, quando presentes, podem levar a
problemas de matemática e/ou leitura. No entanto, déficits de MT e FE certamente não
são exclusivos de crianças com PC. Nos resultados da revisão implicam que é a
presença desses déficits cognitivos subjacentes, e não a própria PC, que contribui para o
desenvolvimento de problemas de aprendizagem de matemática e/ou leitura 12.
Déficits cognitivos e motores combinados também podem expor constantemente a
criança com PC, mesmo aquelas com déficits sutis, a condições de dupla tarefa
(Portanto, deve-se evitar considerar uma relação simplista entre as lesões cerebrais
perinatais causais e os déficits cognitivos observáveis subsequentes. A interação é
provavelmente muito mais complexa e mediada por inúmeras vias 14.
Espera-se que crianças com PC unilateral (UCP), na maioria das vezes (mas nem
sempre) relacionadas a lesões cerebrais vasculares perinatais focais unilaterais em
recém-nascidos a termo, demonstrem melhores capacidades de plasticidade cerebral, o
que pode eventualmente amortecer as consequências do insulto cerebral, em
comparação com crianças com lesões bilaterais responsáveis por PC espástica bilateral
15-16
.
Exemplo de uma criança de 9 anos com Paralisia Cerebral discinética por *kernicterus. A RM ponderada em T2
mostra a lesões bilaterais características hiperintensas em T2 no globo pallidus (setas) 15-16.
4. Conclusões
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