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Jesse Bering Devassos Por Natureza - em Portugues Do Brasil - Ed Zahar - 2013 - PDF
Jesse Bering Devassos Por Natureza - em Portugues Do Brasil - Ed Zahar - 2013 - PDF
Tradução:
Maria Luiza X. de A. Borges
Para JCQ
Sumário
Um convite à impropriedade
Notas
Agradecimentos
Índice remissivo
Um convite à impropriedade
ATÉ ONDE POSSO ME LEMBRAR, sempre fui abertamente curioso com relação a
certos assuntos “impróprios”. Minhas perguntas mais sérias, eu percebia,
tendiam a levar os outros a se afastar de mim bem devagar. Você poderia
dizer que eu era um pouco analítico demais para meu próprio bem. Num dia
memorável, perguntei à menina absolutamente horrorizada que se sentava
ao meu lado na sala de aula da sexta série: “Não é esquisito que meu pênis,
quando ereto, pareça mais uma cimitarra do que um punhal? Na certa isso
deve significar que sou deformado”, confidenciei, cochichando em seu
ouvido, “já que obviamente, para penetrar uma mulher como você da
maneira apropriada, o pênis deve entrar direto na vagina, não aproximar-se
dela num ângulo de 45 graus, como o meu.” Com o tempo, aprendi a ficar
calado. Mas uma mente despudorada raramente encontra descanso.
À medida que, muito devagar, adquiri algumas habilidades sociais
extremamente necessárias, vi-me gravitando cada vez mais para o mundo
da ciência, um mundo em que nada era sagrado, nenhuma questão absurda
demais ou proibida (pelo menos para efeito de discussão, se não
necessariamente forragem ética para o laboratório), e no qual descobri
outras almas de conformação semelhante, que não me olhavam como se eu
tivesse três cabeças quando eu perguntava, por exemplo, se pessoas que
preferiam ser passivas num intercurso anal poderiam ter uma anatomia
anal-genital interna diferente daquelas a quem isso parecia intensamente
desagradável. Aliás, ainda não sei a resposta para essa questão.
Por falar nisso, eu provavelmente deveria acrescentar (já que isso ficará
bastante óbvio por meu foco desproporcional na genitália masculina) que
havia algo muito importante para mim a que não pude dar plena expressão
em meus primeiros anos e que sem dúvida moldou minha visão do mundo.
Eu era gay. Na verdade, muito, muito gay. Confirmei essa verdade
irrefutável mediante numerosos experimentos em minha adolescência,
inclusive apalpadelas e beijos em “namoradas” inadvertidas, que, apesar de
suas aparências lindas e personalidades maravilhosas, eram tão excitantes
para mim quanto uma fatia de presunto perfumada com reluzentes dentes
brancos. Não era apenas o nervosismo dos virgens, posso lhe assegurar, mas
as meninas pareciam tornar meu pênis catatônico, ao passo que mesmo de
longe os garotos o faziam erguer-se naquele esquisito ângulo de 45 graus
que mencionei antes.
Permita-me começar, portanto, fazendo uma revelação completa: minha
perspectiva é a de um cientista psicológico gay, ateu, com uma queda por
teorias evolucionárias. Ainda assim, embora eu certamente não tente
esconder minhas próprias convicções pessoais, sou uma pessoa apolítica. A
única coisa que lhe peço é que tente suspender seu julgamento até ter lido
pelo menos um punhado de ensaios. Apenas recline-se, desabotoe as calças
e fique bem confortável consigo mesmo. Relaxe, talvez com um copo de
Chardonnay. E pense. Espero tornar esta última parte fácil para você. Quero
que goste de aprender sobre seu pênis impetuosamente ejaculante, sua vulva
gotejante, e seus próprios medos, preconceitos, fetiches e desejos. Apesar
de nossas diferenças, e elas são por certo muitas neste mundo, há algo que
todos nós temos em comum: somos humanos.
Não estou interessado no sensacionalismo pelo sensacionalismo, mas
muitas das questões que mais me atraem são, por definição, bastante
sensacionais. Se você as examinar com atenção suficiente, contudo, notará
quantas vezes os tópicos mais excitantes são capazes de suscitar questões
filosóficas mais profundas e trazer outras muito mais substanciais à
superfície. Por exemplo, ao ler sobre zoófilos, você poderá se ver, como eu
me vi, questionando suas próprias repulsas sexuais moralistas impensadas;
um olhar para a evolução do pelo pubiano ou da acne revela, de maneira
inesperada, nossas estreitas relações genéticas com outros símios; fantasias
de masturbação revelam o que nos torna únicos no reino animal; e
fetichistas de pés revelam como as coisas que nos excitam como adultos são
permanentemente calibradas por experiências infantis muitas vezes
inocentes.
Antes de mais nada, tento ser um bom cientista, quer esteja investigando
a ejaculação feminina, o nascimento inesperado de pelo pubiano em bebês
de seis meses ou a psicologia de mulheres encantadas por homens gay.
Como muitos destes ensaios foram publicados originalmente em minhas
colunas nas revistas Scientific American e Slate, e portanto examinam
apenas as dimensões mais interessantes de determinado tópico, certamente
não sou capaz de cobrir todos os aspectos e pontos de vista contrários que
envolvem cada questão. Entretanto, encorajo você a continuar lendo sobre
os assuntos que deixarem um gosto de quero mais na sua boca, e para isso
incluí notas finais para ajudá-lo a seguir adiante.
Então, por favor, junte-se a mim na impropriedade. Não aceitemos a
escola de vida segundo a qual sobre certas coisas é melhor não falar. Como
isso deve ser enfadonho. Convido-o a me acompanhar numa viagem de
descoberta científica. Sinta-se livre para entrar e sair de sua leitura ou ler os
ensaios fora da ordem. Eles são todos independentes. Mas olhe onde pisa: o
terreno é escorregadio. E note que, embora o tom em geral seja leve, nem
tudo será divertido. Alguns dos ensaios que incluí nesta antologia tendem
de fato a nos fazer refletir muito seriamente – eles incluem um exame
realmente detalhado da maneira de pensar de um suicida. Escrevi esse texto
específico em resposta à alarmante onda de suicídios de adolescentes gays
nos últimos anos. Foi um artigo que lamentavelmente calou fundo em
muitos leitores, alguns dos quais compartilharam corajosamente suas
histórias pessoais comigo depois de topar com ele por acaso.
Há oito seções neste volume, cada uma representando um tema geral ou
área de assuntos e examinando uma amostra das estarrecedoras esquisitices
da simples condição humana. A primeira dessas seções, “Uma visão
darwiniana do que pende”, inclui tudo que você não sabia que sempre quis
saber sobre a anatomia reprodutiva masculina. Na Parte II (“Corpos
generosos”), examinaremos como podemos ser destinados pela Mãe
Natureza a consumir a carne uns dos outros, por que somos o único símio
que sofre de acne e muitas outras coisas pouco sabidas sobre partes do
corpo aparentemente banais. Em seguida, na Parte III (“Mentes
indecorosas”), vamos explorar um pouco de neurociência realmente suja,
empurrando nosso senso comum para alguns cantos desconfortáveis nesse
processo. Isso nos prepara para a Parte IV (“Estranhos companheiros de
cama”), em que faremos um exame crítico, não condenatório, de alguns dos
mais intrigantes fetiches, parafilias e distúrbios sexuais, explorando as
origens de seu desenvolvimento, teorias e debates relacionados a
diagnósticos clínicos. Se você pensa que fazer sexo com animais é
inerentemente errado, ou que a sexualidade começa na adolescência, com a
primeira descarga de hormônios, talvez esta seção o leve a uma inesperada
mudança de ideia.
Em “A noite das damas” (Parte V), voltaremos nossa atenção
especificamente para as mentes e corpos das mulheres. Observe apenas que
sou um homem gay considerando essas mentes e corpos, portanto tenho
uma visão um pouco diferente da maioria. Por falar nisso – e não sei bem o
que Nietzsche teria a dizer sobre o conteúdo da seção seguinte –, na Parte
VI (“A gaia ciência, cada vez mais gay: há algo estranho aqui”) vamos
então focalizar alguns dos mais recentes e mais provocantes estudos sobre a
homossexualidade. Na parte VII (“Como diz a Bíblia”), examinaremos
como a religião origina-se de nossa psicologia evolutiva e como nossas
práticas usuais de sepultamento não estão fazendo nenhum favor a nós
mesmos ou ao planeta. Por fim, na última seção do livro, “Rumo às
profundezas: trabalho existencial em laboratório”, investigaremos algumas
questões densas e consternadoras sobre suicídio, o sentido da vida e a
evolução da alegria e da felicidade.
Animado? Espero que sim. Então, para começar em grande estilo, lanço
a pergunta: por que cargas-d’água os testículos ficam pendurados daquela
maneira – e por que dói tanto levar um pontapé ali?
PARTE I
Aqui entra a dor. Não apenas a dor, mas a dor inusitadamente aguda,
lancinante, que acompanha o machucado testicular. A maioria dos homens
tem histórias terríveis para contar a esse respeito – seja uma bolada na
virilha ou o pontapé de um irmão –, mas todos nós homens temos algo em
comum: tornamo-nos todos extraordinariamente hipervigilantes contra
ameaças ao bem-estar de nossos testículos escrotais. Segundo os autores, o
fato de os homens serem tão melindrosos e sensíveis em relação a essa parte
do corpo em particular pode mais uma vez ser compreendida no contexto da
biologia evolucionária. Se você é homem, a razão por que provavelmente
tem um sobressalto maior ao ouvir as palavras “esmagamento” ou “ruptura”
associadas a “testículo” do que ao ouvi-las associadas a, digamos, “braço”
ou “nariz” é que os testículos são desproporcionalmente mais vitais para seu
sucesso reprodutivo do que essas outras partes do corpo. Eu, por exemplo,
tive de fazer uma pausa para me proteger antes de sequer digitar essas
palavras juntas.
Não é que essas outras partes do corpo não sejam adaptativamente
importantes, ou que não doam quando você se machuca. Trata-se antes de
uma questão de grau de dor. A variação da sensibilidade à dor entre
diferentes regiões do corpo, segundo essa visão, reflete a vulnerabilidade de
diferentes adaptações e a importância que elas têm em seu sucesso
reprodutivo. Muitas crianças nasceram de homens de nariz quebrado, mas
nem uma única foi jamais gerada por um homem com testículos
irreparavelmente danificados. O importante é que ancestrais do sexo
masculino que aprenderam a proteger suas gônadas terão deixado mais
descendentes, e a dor é um ótimo motivador para promover a ação
defensiva preventiva. Ou, para pensar sobre isso de outra maneira: qualquer
homem no passado ancestral que ignorasse ou apreciasse o dano testicular
teria sido rapidamente extirpado do pool genético.
As maravilhas do músculo cremastérico não terminam aqui. Ele
também se flexiona em resposta a estímulos ameaçadores, de fato puxando
os testículos para mais perto do corpo e pondo-os fora de perigo. Na
verdade, salientam os autores, médicos japoneses eram conhecidos por
aplicar uma alfinetada na coxa interna de pacientes do sexo masculino
como uma preparação cirúrgica: se o paciente não exibisse nenhum reflexo
cremastérico, a anestesia epidural tinha pegado, e ele estava pronto para
entrar na faca. Outras evidências sugerem que o medo e a ameaça de perigo
desencadeiam o reflexo cremastérico. Há várias maneiras de testar isso em
casa, se você estiver disposto. Trate apenas de assegurar que o dono dos
testículos medrosamente reflexivos saiba o que você está querendo fazer
antes de apavorá-lo.
Portanto, aí está – uma explicação evolucionariamente informada dos
testículos escrotais descidos nos seres humanos. É tudo uma maluquice?
Não me deixem pendurado, pessoal. A bola está com vocês.
Tão perto e tão longe: a contorcida história
da autofelação
MUITO ANTES QUE EU SOUBESSE tudo que sei sobre sexo, fiz o que muitos
homens jovens fazem, ou seja, pus um rolo vazio de papel toalha sobre meu
pênis e chupei esperançosamente a outra ponta do papelão. Certo, talvez
nem todo mundo faça isso; eu estava um pouco confuso sobre o princípio
da sucção. E agora estou um pouco embaraçado pela história, embora um
ano inteiro tenha se passado depois disso e hoje eu esteja muito mais bem-
informado sobre a felação. Ah, relaxa, estou só brincando.
Bem, mais ou menos. Eu realmente tentei essa proeza, mas tinha doze
ou treze anos na época. Para lhe dar uma ideia mais clara de meu parco
conhecimento carnal nessa idade, esse foi também o momento aproximado
em que comuniquei à minha irmã mais velha, de maneira muito sigilosa,
que uma chupada [blow job] consistia em usar os próprios lábios para
soprar [blow] uma brisa fresca no ânus de outra pessoa.
Assim, para evitar confusões semelhantes, vamos definir nossos termos
claramente. Autofelação, o assunto em pauta, é o ato de aplicar a boca aos
próprios genitais para obter prazer sexual. A terminologia é importante
aqui, porque pelo menos uma equipe de psiquiatras que escreveu sobre o
tema distingue entre auto-fellatio e auto-irrumatio. No sexo não solitário, a
maior parte da ação na felação cabe à parte que chupa, ao passo que no
irrumatio a ação de enfiar tem um papel maior, a boca da outra pessoa
servindo como um receptáculo passivo para o pênis.
De qualquer maneira, meu ato com o rolo de papel toalha foi
simplesmente um plano B naquela idade pueril, uma tentativa vã de
contornar as óbvias limitações anatômicas da autogratificação oral. E, pelo
que todos dizem, eu não fui o único a tramar o plano A. Em
Comportamento sexual no macho humano, Alfred Kinsey e colegas
relataram, de fato, que “uma considerável porção da população registra
tentativas de autofelação pelo menos no início da adolescência”.
Infelizmente, dadas a inoportuna caixa torácica e a espinha dorsal hesitante
de nossa espécie, Kinsey estimou que somente dois ou três de cada mil
homens são capazes de realizar essa façanha. Há a história do poeta italiano
decadente Gabriele D’Annunzio, que teria mandado que lhe tirassem um
osso para facilitar o ato, ou aquele antigo esquete no Saturday Night Live
em que Will Ferrell se matricula num curso de ioga para se tornar flexível o
bastante para fazer felação em seu próprio órgão. Mas a realidade com
frequência é mais estranha que a ficção. Em 1975, a psiquiatra Frances
Millican e colegas descreveram o caso real de um paciente “muito
perturbado” que aprendeu ioga precisamente por essa razão.
Agora, talvez você pense que ser parte do percentual ultraflexível da
população é puro divertimento. (Todos nós ouvimos aqueles gracejos sobre
nunca precisar sair de casa.) Mas pense de novo. Há uma longa e
lamentável história de patologização desse comportamento; psiquiatras
descreveram seus praticantes como sexualmente desajustados, presos num
estado infantil de dependência lactente, ou mesmo motivados por desejos
homossexuais reprimidos. Tome o caso descrito pelos psiquiatras Jesse
Cavenar, Jean Spaulding e Nancy Butts, que escreveram em 1977 sobre um
soldado solitário de 22 anos que vinha fazendo felação em si mesmo desde
os doze. Ele ficava desesperado “pelo fato de que só era fisicamente capaz
de incorporar a glande, e queria ser capaz de incorporar mais”.
Sinceramente, devia ser tão – oh, qual é a palavra que estou procurando…
ela está bem na ponta da minha língua – frustrante para esse pobre soldado.
Essa é a suprema provocação, ele estar tão perto e no entanto tão longe.
Desde os dias de Freud, psicanalistas deram tratos à bola sobre o
assunto da autofelação. Num artigo de 1971 de autoria do psiquiatra Frank
Orland, vemos a linguagem típica, cheia de jargão, usada para dissecar as
bases “simbólicas” da autofelação, que é conceitualizada como um “anel de
narcisismo” virtual:
SE ALGUM DIA você deu uma boa e longa olhada no falo humano, o seu ou o
de outra pessoa, provavelmente ficou pensando sobre seu formato peculiar.
Vamos admitir: ele não é o apêndice configurado do modo mais intuitivo
em toda a evolução. Mas, segundo o psicólogo evolucionário Gordon
Gallup, o pênis humano é na realidade uma “ferramenta” impressionante no
sentido mais verdadeiro da palavra – uma ferramenta manufaturada pela
natureza ao longo de centenas de milhares de anos de evolução humana.
Talvez você se surpreenda ao descobrir o quanto ela é especializada. Além
disso, ficaria pasmo com o que sua aparência pode nos revelar sobre a
natureza de nossa sexualidade.
O curioso sobre a evolução do pênis humano é que, em se tratando de
algo que difere tão obviamente em forma e tamanho do de nossos parentes
vivos mais próximos, somente nos últimos anos os pesquisadores tenham
começado a estudar sua história natural mais detalhadamente. A razão para
essa negligência não é clara. É difícil imaginar que cientistas pragmáticos
pudessem estar preocupados que o assunto trouxesse à baila sentimentos
puritanos. A questão tem, de fato, um fator risível inerente, então
compreendo que é necessário um tipo especial de cientista psicológico para
contar à velhinha sentada a seu lado num voo para Denver que ele estuda a
maneira como as pessoas usam seus pênis quando ela lhe pergunta qual é o
seu trabalho. Seja como for, se você pensa que só há uma maneira de usar o
pênis, que ele é um mero instrumento de fertilização interna que não requer
maior reflexão, ou que tamanho não importa, bem, isso só serve para
mostrar o quanto você pode aprender com os achados da pesquisa de
Gallup.
A abordagem de Gallup ao estudo do design do pênis humano é um
exemplo perfeito de engenharia reversa tal como a expressão é usada no
campo da psicologia evolucionária, e engenharia reversa é um conceito
muitas vezes não explicitado que você me verá usar repetidamente em todo
este livro. Trata-se de uma técnica investigativa lógico-dedutiva para
descobrir o propósito adaptativo ou a função de traços físicos, processos
psicológicos ou preconceitos cognitivos existentes (ou sobreviventes). Isto
é, se você começa com o que vê hoje – neste caso, o pênis com seu formato
esquisito, sua glande bulbosa (a “cabeça”, na linguagem comum), sua haste
longa e rígida, e a aresta coronal, que constitui uma espécie de lábio em
forma de guarda-chuva entre essas duas partes – e vai recuando no tempo,
observando como ele veio a assumir essa aparência, a engenharia reversa é
capaz de propor um conjunto de hipóteses baseadas na função, derivadas da
teoria evolucionária. Neste caso, estamos falando sobre pênis, mas a lógica
da engenharia reversa pode ser aplicada a praticamente qualquer coisa
orgânica, da forma de nossos dentes incisivos à oponibilidade de nossos
polegares ou o arco de nossas sobrancelhas.
Para o psicólogo evolucionário, as questões prementes são,
essencialmente: Por que isso é assim? e Para que isso serve? A resposta
não é sempre que se trata de uma adaptação biológica – de que aquilo
resolveu algum problema evolucionário e portanto deu aos nossos
ancestrais uma vantagem competitiva em termos de seu sucesso
reprodutivo. Por vezes um traço é apenas um “subproduto” de outras
adaptações. O sangue não é vermelho, por exemplo, porque vermelho
funcionava melhor do que verde, amarelo ou azul, mas apenas porque
contém a proteína hemoglobina, que é uma excelente transportadora de
oxigênio e dióxido de carbono e por acaso é vermelha. Mas no caso do
pênis humano, todos os sinais indicam que ele veio a ter a aparência que
tem por uma genuína razão adaptativa.
Se você fosse examinar o pênis objetivamente – por favor, não o faça
em público ou sem a permissão da outra pessoa – e comparar a forma desse
órgão com o design do mesmo órgão em outras espécies, notaria as
seguintes características unicamente humanas. Primeiro, apesar da variação
de tamanho entre os indivíduos, o pênis humano é especialmente grande
comparado ao dos outros primatas. Quando ereto, ele tem em média entre
12,5 e 15 centímetros de comprimento e cerca de 12,5 centímetros de
circunferência. Nem o mais bem-dotado chipanzé, nosso parente vivo mais
próximo, chega sequer perto disso. Mesmo considerando a massa total e o
tamanho do corpo, os pênis dos chimpanzés têm cerca da metade do
tamanho dos pênis humanos tanto em comprimento quanto em
circunferência. Tenho a impressão de que sou uma fonte mais confiável a
este respeito do que a maioria. Tendo passado os cinco primeiros anos de
minha vida acadêmica estudando a cognição dos antropoides, vi um número
incalculável de pênis simiescos. Certa vez passei um verão com um gorila
prateado que tinha um pênis minúsculo (mas era um ótimo sujeito) e cuidei
de um lascivo bebê orangotango que gostava de enfiar seu pênis em
praticamente qualquer coisa com um buraco, o que infelizmente um dia
incluiu minha orelha.
Além disso, só a espécie humana tem aquela glande como uma calota de
cogumelo, conectada à haste pelo fino tecido do frênulo (a delicada
saliência de pele logo abaixo da uretra). Chimpanzés, gorilas e
orangotangos têm um design fálico muito menos extravagante – quase só
haste. Ocorre que uma das características mais significativas do pênis
humano não é tanto a glande em si, mas a aresta coronal que ela forma por
baixo. O diâmetro da glande onde ela encontra a haste é mais largo que a
própria haste. Isso resulta na aresta coronal que circunda a circunferência da
haste – algo que Gallup, usando a lógica da engenharia reversa, acreditava
poder ser uma importante pista evolucionária das origens da estranha visão
do pênis humano.
Bem, a ironia não me escapa. Mas ainda que este psicólogo
evolucionário em particular (este que vos fala) seja gay, para as finalidades
da pesquisa devemos considerar a evolução do pênis humano em relação à
vagina humana. Estudos de imagiologia magnética de casais heterossexuais
fazendo sexo revelam que, durante o coito, o pênis típico se expande
completamente e ocupa o aparelho vaginal, e com penetração total pode até
chegar ao colo do útero da mulher e levantá-lo. Isso, combinado com o fato
de que a ejaculação humana é expelida com grande força e por uma
distância considerável (até sessenta centímetros se não contida), sugere que
os homens são projetados para liberar esperma dentro da porção mais alta
possível da vagina. Num artigo publicado na revista Evolutionary
Psychology, Gallup e Rebecca Burch afirmam que “um pênis mais longo
seria vantajoso não só para deixar sêmen numa parte menos acessível da
vagina, mas, ao encher e expandir a vagina, ele também ajudaria e incitaria
o desalojamento de sêmen deixado por outros machos como um meio de
maximizar a probabilidade de paternidade”.
Essa “teoria do desalojamento do sêmen” é a parte mais intrigante da
história de Gallup. Talvez prefiramos ver nossa espécie como ditosamente
monógama, mas, ao menos em algum grau, pular a cerca tem sido nosso
modus operandi pelo menos desde que andamos sobre duas pernas. Como
as células de esperma sobrevivem no muco cervical de uma mulher por até
vários dias, se ela tiver mais de um parceiro sexual do sexo masculino
durante esse período, digamos dentro de 48 horas, o esperma desses dois
homens estará competindo por acesso reprodutivo ao seu óvulo. Segundo
Gallup e Burch, “exemplos incluem sexo em grupo, estupro por bando,
promiscuidade, prostituição e insistência do macho residente em sexo em
resposta a uma suspeita de infidelidade”. E embora o desalojamento do
sêmen seja o objetivo do macho competidor, nem mesmo pênis
satisfatoriamente desenvolvidos são perfeitos. De fato, como evidência das
inclinações sexuais naturais de nossa espécie, os autores citam casos bem-
documentados de heteroparidade, nos quais “gêmeos fraternos” são de fato
gerados por dois pais diferentes que fizeram sexo com a mãe num intervalo
curto de tempo.
Como então a natureza equipou os homens para resolver o problema
adaptativo de outros homens engravidando suas parceiras sexuais? A
resposta, segundo Gallup, é que seus pênis foram esculpidos de tal maneira
que o órgão iria efetivamente desalojar o sêmen de competidores da vagina
de sua parceira, um efeito bem sincronizado facilitado pelo “sorvo” do
empurrão dos quadris durante o intercurso. Especificamente, a saliência
coronal oferece um serviço especial de remoção ao eliminar esperma
estranho. Segundo essa análise, o efeito do empurrão dos quadris seria
puxar o esperma de outros homens para fora do colo do útero e trazê-lo de
volta em torno da glande, recolhendo assim o sêmen depositado por um
rival sexual.
Você poderia pensar que tudo isso é muito bonito, mas não é possível
provar uma coisa dessas. Mas, nesse caso, estaria subestimando Gallup, que
vem a ser um pesquisador experimental muito talentoso (entre outras coisas,
ele é também muito conhecido por desenvolver, no início dos anos 1970, o
famoso teste do autorreconhecimento no espelho para ser usado com
chimpanzés). Numa série de estudos publicados na revista Evolution and
Human Behavior, Gallup e uma equipe de alunos seus puseram a hipótese
do desalojamento do sêmen à prova usando genitálias humanas artificiais de
diferentes formatos e tamanhos. Chegaram até a preparar várias fornadas de
fluido seminal realístico.
Os achados do estudo podem não ter “provado” a hipótese do
desalojamento do sêmen, mas sem dúvida confirmaram seus pontos
principais. Aqui está como o plano básico do estudo funcionou. (E talvez eu
deva me antecipar ao refrão usual observando que sim, Gallup e seus
colaboradores receberam plena aprovação ética de sua universidade para
conduzir esse estudo.) Os pesquisadores selecionaram vários conjuntos de
genitais protéticos de lojas de novidades eróticas, inclusive uma realística
vagina de látex, vendida como companheira de masturbação para homens
heterossexuais solitários e amarrada numa ponta para impedir vazamento, e
três falos artificiais. O primeiro falo de látex tinha 15,5cm de comprimento
e 3,3cm de diâmetro, com uma aresta coronal que se estendia por cerca de
cinco milímetros a partir da haste. O segundo era do mesmo comprimento,
mas sua aresta coronal estendia-se por apenas 1,2 milímetro a partir da
haste. Por fim, o terceiro igualava-se aos outros dois no comprimento, mas
era inteiramente desprovido de aresta coronal. Em outras palavras, enquanto
os dois primeiros falos assemelhavam-se bastante ao pênis humano real, o
terceiro (o falo de controle) era o cavaleiro sem graça e acéfalo do bando.
Em seguida, os pesquisadores usaram uma receita de sêmen simulado
emprestada de outro psicólogo evolucionário de ideias parecidas, Todd
Shackelford, e prepararam várias fornadas de fluido seminal. A receita
“consistia em 0,08 xícara de farinha crua, branca e peneirada misturada com
1,06 xícara de água. Essa mistura era posta no fogo até levantar fervura,
cozida em fogo brando por 15 minutos, sendo mexida ao mesmo tempo, e
depois posta para esfriar”. Numa série controlada de “ensaios de
desalojamento”, a vagina era carregada com esse sêmen falso, e os falos
eram inseridos em diferentes profundidades (para simular o empurrão dos
quadris) e removidos, e depois disso o orifício de borracha era examinado
para determinar quanto sêmen havia sido desalojado dele. Como fora
previsto, os dois falos com as arestas coronais desalojaram
significativamente mais sêmen da vagina (cada um removeu 91%) que o
controle “sem cabeça” (35,3%). Adicionalmente, quanto mais os falos eram
inseridos – isto é, quanto mais profunda era a inserção –, mais sêmen era
desalojado. Quando inserido até três quartos da extensão da vagina, o falo
com a aresta coronal mais impressionante removeu somente um terço do
sêmen, ao passo que, quando inserido completamente, removeu quase todo
o sêmen. A inserção rasa, simulada pelos pesquisadores inserindo o falo
artificial até a metade ou menos da extensão da vagina artificial, não
desalojou nenhum sêmen. Portanto se você quer um conselho que o ajudará
a ter mais sucesso na corrida armamentista evolucionária, não hesite – vá
fundo.
Para a segunda parte do estudo, Gallup administrou um questionário a
estudantes universitários sobre sua história sexual. Tomadas de estudos
anteriores que mostravam como o ciúme sexual inspira respostas previsíveis
(e biologicamente adaptativas) de “proteção da companheira” em machos
humanos, essas questões destinavam-se a determinar se certo
“comportamento peniano” (a expressão é minha, não deles) podia ser
esperado com base na suspeita, pelos homens, de infidelidade em suas
parceiras. No primeiro desses questionários anônimos, homens e mulheres
relataram que na esteira de alegações de traição da mulher, os homens
inserem seus pênis mais profunda e rapidamente. Resultados de um
segundo questionário revelaram que ao se reencontrarem sexualmente pela
primeira vez após algum tempo separados, os casais se envolviam num sexo
mais vigoroso – isto é, comparado com a atividade sexual de linha de base,
quando os casais se encontram mais regularmente, o intercurso vaginal após
períodos de separação envolvia empurrões mais rápidos e profundos dos
quadris. Espero que você esteja pensando como um psicólogo evolucionário
neste ponto e possa inferir o que esses dados de levantamento significam:
usando seus pênis de maneira mais proficiente como um dispositivo de
desalojamento, os homens estão subconscientemente (em alguns casos
conscientemente) combatendo a possibilidade de que suas parceiras tenham
feito sexo com outro em sua ausência.
Duvida desta interpretação? O que há de realmente bonito na psicologia
evolucionária – ou de mais frustrante, se você for um de seus muitos
críticos – é que você não precisa acreditar que é verdade para que isso
funcione precisamente dessa maneira. A seleção natural não se importa
muito caso você prefira uma explicação alternativa para a razão por que
você fica tão excitado ao se reencontrar com sua parceira. Seu pênis
executará sua tarefa de desalojar esperma da mesma maneira.
Muitas outras hipóteses relacionadas baseiam-se na lógica central da
teoria do desalojamento do sêmen. Em sua obra de 2004, Evolutionary
Psychology, por exemplo, Gallup e Burch expõem várias ideias fascinantes
derivadas dela num artigo de acompanhamento de seu trabalho anterior
sobre a história natural do pênis. Por exemplo, uma crítica óbvia à teoria é
que os homens iriam essencialmente prejudicar seu próprio sucesso
reprodutivo ao remover o próprio esperma da parceira sexual. No entanto,
em sua própria vida sexual você terá provavelmente notado o “período
refratário” que se segue imediatamente à ejaculação, durante o qual os
homens perdem sua tumescência de maneira quase instantânea (a ereção
esvazia-se para metade de seu tamanho pleno dentro de um minuto após a
ejaculação), seus pênis se tornam hipersensíveis e continuar empurrando os
quadris torna-se até um pouco doloroso. Na verdade, por algo entre trinta
minutos e 24 horas, a maioria dos homens fica temporariamente impotente
após a ejaculação. Segundo Gallup e Burch, essas características pós-
ejaculatórias, além do efeito de “sedação” comum do orgasmo, podem ser
adaptações ao problema do “desalojamento do próprio sêmen”, significando
que as chances de remover seu próprio esperma são consideravelmente
reduzidas quando seu pênis está dolorido e flácido ou enquanto você dorme
profundamente.
Gallup e Burch também nos deixam com uma questão hipotética muito
intrigante em seu artigo. “É possível (salvo por inseminação artificial)”,
perguntam eles, “que uma mulher engravide de um homem com quem
nunca fez sexo? Pensamos que a resposta é ‘sim’.” É uma ideia difícil de
entender, mas basicamente Gallup e Burch dizem que a teoria do
desalojamento prevê que algo como o exemplo seguinte seria possível
(observe que fiz alterações a partir do artigo original para seu prazer de
leitura; observe também como a situação é especialmente relevante para
homens não circuncidados): se “Josh” fosse fazer sexo com “Kate”, que
recentemente fez sexo com “Mike”, no processo de Josh empurrar seu pênis
para a frente e para trás na vagina, parte do sêmen de Mike seria impelido
para baixo do frênulo de Josh, se acumularia atrás de sua aresta coronal e
seria desalojado da área mais próxima ao colo do útero. Depois que Josh
ejacula e substitui o sêmen de outro macho pelo seu, quando ele se retira da
vagina, parte do sêmen de Mike ainda estará presente na haste de seu pênis
e atrás de sua aresta coronal. Quando sua ereção cede, a glande se recolhe
sob o prepúcio, levantando a possibilidade de que parte do sêmen de Mike
tenha sido capturada sob o prepúcio e atrás da aresta coronal nesse
processo. Se Josh fosse então fazer sexo com “Amy”, várias horas depois, é
possível que parte do sêmen desalojado de Mike ainda estivesse presente
sob seu prepúcio, podendo assim ser inadvertidamente transmitido a Amy,
que por sua vez poderia então ser fecundada pelo esperma de Mike.
Esta não é exatamente uma imaculada conceição. Mas imagine só os
gritos sufocados da plateia de um programa de auditório. As pessoas têm
alguns sentimentos bastante fortes em relação a pênis. As reações iniciais
ao ensaio que você acaba de ler foram de incrédulas (“Está sugerindo
seriamente que chimpanzés não são promíscuos?”) a bastante irritadas
(“Mais um pensamento idiota e tendencioso de um ‘psicólogo
evolucionário’”), passando pelas imaginosas (“Pênis! Eles são tão fofinhos,
a gente tem vontade de beliscar suas bochechas e lhes dar um doce”). Por
isso decidi conversar diretamente com Gordon Gallup, cuja controversa
teoria do desalojamento do sêmen, afinal, foi o que provocou toda a
comoção em torno do funcionamento adaptativo desse órgão enigmático.
Talvez ele pudesse nos oferecer mais alguns detalhes elucidativos sobre a
teoria. Peguei algumas das questões essenciais e pedi a Gordon que
respondesse.
Bering falando. E por falar em gatos, e pênis, talvez seja útil refletir, ao
terminar, sobre os pênis dos gatos. Como os machos humanos, os gatos
machos possuem pênis extraordinariamente especializados. Eles vêm
equipados com uma faixa de cerca de 150 espinhos apontados para trás que
raspam, como um ancinho, as paredes da vagina da gata (daí o uivo
ensurdecedor que muitas vezes acompanha o sexo felino). Isso provoca ao
mesmo tempo a ovulação e desaloja o esperma de machos anteriores que
possam ter cruzado com ela recentemente. Deveríamos ser gratos – e digo
isso como um homem gay, e portanto não sem algum interesse em toda essa
penosa questão – pelo fato de a evolução ter seguido um curso mais suave
em nossa espécie.
Não tão depressa… O que há de tão
“precoce” na ejaculação precoce?
OCORREU-ME POUCO TEMPO ATRÁS, em condições que deixo para sua ampla e
provavelmente sórdida imaginação (como você se atreve?), que o próprio
conceito de ejaculação precoce em machos humanos é estranho, ao menos
de uma perspectiva teórica evolucionária. Afinal, a função da ejaculação
não é realmente uma ocorrência biológica misteriosa; ela é um mecanismo
projetado pela natureza para lançar sêmen, e portanto células de
espermatozoides, o mais longe possível no abismo escuro e labiríntico do
aparelho reprodutor feminino. E quando um desses gametas masculinos
impetuosamente arremessados, numa vigorosa corrida contra milhões de
outras células com uma única tarefa, encontra um óvulo fértil e o penetra, e
– milagre dos milagres – a concepção bem-sucedida ocorre, quer dizer, a
seleção natural pode congratular a si mesma por um trabalho bem-feito.
Assim, dados estes fatos biológicos básicos – e supondo que a
ejaculação não seja tão precoce que ocorra antes da intromissão e os
espermatozoides se vejam embaraçosamente fora do aparelho reprodutivo
de uma mulher, agitando-se de um lado para outro como peixes fora d’água
–, o que, exatamente, há de tão “precoce” na ejaculação precoce? Na
verdade, tudo o mais sendo igual, no passado ancestral, não teria havido
provavelmente algumas vantagens reprodutivas em ejacular o mais depressa
possível durante o intercurso intravaginal – tal como inseminar o maior
número possível de mulheres no menor intervalo de tempo possível? Ou
permitir a nossos ancestrais concentrarem-se em outros comportamentos
adaptativos além do sexo? Ou talvez, sob condições subreptícias de
acasalamento, praticar o ato de maneira pronta e rápida sem provocar uma
grande cena?
Como tantas outras coisas, ocorre que esse meu insight estava na
verdade várias décadas atrasado, porque em 1984, quando eu ainda não
passava de um ejaculador precoce, um sociólogo chamado Lawrence Hong
publicou um artigo extremamente especulativo, mas muito original, nessas
mesmas linhas, de que vale a pena nos ocuparmos aqui. Ele é
apropriadamente intitulado “Survival of the Fastest: On the Origin of
Premature Ejaculation”. Nesse artigo, Hong – cujo trabalho mais recente,
até onde pude apurar, foi sobre a transgeneridade de cabaré – propõe que
durante o longo curso da história evolucionária, “um parceiro despachado,
que montasse rapidamente, ejaculasse de imediato e desmontasse sem
demora poderia [ter sido] o melhor para a fêmea”.
O fator empírico mais importante para que Hong chegasse a essa
conclusão é o fato de que, em média, os machos humanos alcançam o
orgasmo ejaculando apenas dois minutos após a penetração vaginal, ao
passo que as donas dessas vaginas levam, em média, duas vezes mais tempo
para fazer o mesmo depois que um pênis se introduz nela – isto é, quando
chegam a ter um orgasmo em algum momento. Esse óbvio desencontro
entre latências de orgasmo só pode ser compreendido, raciocina Hong, se
reconhecermos que o sexo evoluiu, pelo menos de início, para fins
puramente reprodutivos. Não se deve esquecer, lembra-nos ele, que o sexo
heterossexual recreativo só foi permitido por inovações tecnológicas
relativamente recentes, como os dispositivos contraceptivos.
Hong compara os hábitos de acasalamento dos seres humanos com os
de outros ejaculadores rápidos – e não tão rápidos – na família primata,
observando que quanto mais rápida uma espécie primata é na esfera do
coito, menos agressiva é quando se trata de comportamentos relacionados
ao acasalamento. Ele chama isso de “hipótese da baixa
velocidade/agressividade elevada”. Por exemplo, os resos frequentemente
se envolvem em longas e árduas sessões de coito, em que o sexo com uma
fêmea pode se estender por mais de uma hora de cada vez (incluindo muitos
intervalos, e portanto sem inserção contínua). Isso pode parecer ótimo, mas
antropomorfizadores libidinosos advertem: o sexo entre esses macacos é
uma atividade caótica e violenta, em grande parte porque a duração do ato
muitas vezes atrai atenção hostil de outros machos competitivos. Em
contraste, espécies primatas cujos machos evoluíram para ejacular
rapidamente teriam evitado em grande parte essa violência mortífera, ou
pelo menos a teriam minimizado num grau considerável.
Essencial para a análise de Hong é a ideia de que latências na ejaculação
intravaginal em machos são hereditárias; havia inicialmente variações de
nível dentro da população em nossos ancestrais machos, conjectura ele, mas
ao longo do tempo “a linhagem de Homo sapiens tornou-se superpovoada
por ejaculadores rápidos”. Segundo Hong, isso aconteceu porque machos
jovens em idade reprodutiva que ejaculavam mais rapidamente (isto é,
tinham pênis mais sensíveis) evitavam ferimentos, viviam mais tempo e por
isso tinham maior chance de alcançar um status elevado e adquirir as
fêmeas mais desejáveis.
O raciocínio de Hong sobre esses elementos de hereditariedade de fato
recebeu apoio recente. Talvez você tenha deixado isto escapar em sua
leitura mensal de periódicos, mas em 2009, num artigo publicado no
International Journal of Impotence Research, uma equipe de psicólogos
finlandeses liderada por Patrick Jern relatou evidências de um amplo estudo
de gêmeos mostrando que a ejaculação precoce é significativamente
determinada por fatores genéticos. Milhares de pares de gêmeos do sexo
masculino – fraternos e idênticos – responderam a um questionário sobre
quanto tempo demoravam para chegar ao orgasmo; e os tempos de gêmeos
idênticos eram mais estreitamente assemelhados entre si que os de gêmeos
fraternos. Portanto, tal como Hong supôs muitos anos atrás, este é
realmente um traço herdado; se vocês duvidam, vão em frente, rapazes, e
tenham aquela embaraçosa conversa com seus pais. Na verdade, uma vez
que descobriram que a ejaculação retardada – o outro extremo do contínuo
da latência da ejaculação – não revelava essas contribuições genéticas, Jern
e colegas concordam em geral com Hong, postulando que a ejaculação
“precoce” pode ser um produto da seleção natural, ao passo que a
ejaculação retardada “seria completamente disfuncional”. Os ejaculadores
retardados são consideravelmente mais raros, com uma taxa de prevalência
de apenas 0,15% na população masculina, comparados aos nada menos que
30% de ejaculadores precoces; e sua condição na maior parte é devida a
enfermidades crônicas ou ao uso recente de antiadrenérgicos, inibidores
seletivos da recaptação da serotonina, neurolépticos ou outros
medicamentos dos nossos dias que estão muitas vezes associados com
anorgasmia como um deplorável efeito colateral.
Conferindo maior credibilidade ao modelo evolucionário há um
conjunto separado de dados fornecidos pelos próprios sujeitos publicados
no Journal of Sexual Medicine, em que Jern e colegas demonstraram que as
latências de ejaculação eram significativamente menores quando homens
chegavam ao orgasmo através de penetração vaginal do que quando o
faziam no curso de outras atividades, como sexo anal, oral ou manual. De
fato, à luz dessas latências diferenciais de ejaculação, os autores sustentam
que desmembrar o próprio construto desse “timing” orgásmico em
comportamentos sexuais discretos seria melhor do que tratá-lo como um
fenômeno clínico geral. E oferecem vários acrônimos úteis para esses
subtipos de latência de ejaculação, também, como “Tleo”, para “tempo de
latência da ejaculação oral”, e “Tlem” para “tempo de latência da
ejaculação na masturbação”.
Estou com a incômoda sensação de que deixamos alguma coisa de fora
da equação evolucionária com relação à variação nas latências masculinas
de ejaculação. Hum… Mas o que poderia ser? Oh, é claro, é a satisfação
sexual das mulheres. Na realidade, Hong não deixou os orgasmos femininos
inteiramente fora desta viscosa análise; ele apenas não os considerou
centrais para pressões seletivas. Presumivelmente, como outros teóricos
daquela época que escreveram sobre as razões biológicas para orgasmos
femininos (como Stephen Jay Gould, que pensava que orgasmos femininos
eram algo muito parecido com mamilos masculinos, um feliz resquício do
Bauplan, ou projeto embriológico humano), ele via o prazer das mulheres
como uma característica agradável, mas irrelevante, do sexo humano que a
natureza tinha jogado na mistura.
Hong reconhece – com grande humildade e humor, de fato – que suas
ideias sobre as origens evolucionárias da ejaculação precoce em machos
humanos são sobretudo conjecturas. E elas foram criticadas pelo psicólogo
Ray Bixler. Entre as muitas falhas que Bixler encontra na teoria da
“sobrevivência dos mais rápidos” de Hong está a de que sua lógica básica
simplesmente não se coaduna com a óbvia busca de intercurso sexual por
parte da fêmea. Em chimpanzés, por exemplo – uma espécie para a qual as
latências de ejaculação do macho são medidas em segundos, não em
minutos –, com frequência são as fêmeas que iniciam comportamentos de
acasalamento. Além disso há o fator “ui!” de ter uma parceira fêmea não
excitada, cujos genitais secos não são nada convidativos. Se o modelo de
Hong estivesse correto, diz Bixler, “haveria pouca ou nenhuma causa
proximal, afora a coerção, para a cooperação da fêmea – e deveria estar
muito claro que ela teria de cooperar caso o acasalamento voluntário
devesse ser rápido! Se ela não estivesse lubrificada, ele teria de introduzir o
pênis raspando-o, uma experiência penosa para a mulher e… ‘não
prazerosa’ para ele também”.
De maneira decepcionante, o pensamento evolucionário sobre esse
assunto se detém mais ou menos por aqui. Ao que parece, nenhum outro
teórico – pelo menos nenhum outro teórico evolucionário de inclinação
experimental – seguiu o exemplo de Hong na tentativa de desemaranhar
argumentos adaptacionistas concorrentes com relação às latências de
ejaculação masculinas. Suspeito que peças do quebra-cabeça flutuam por aí,
como a pesquisa finlandesa que mostra que o sexo vaginal conduz a
ejaculações mais rápidas comparado a outros comportamentos sexuais. Mas
o artigo de Hong apareceu antes de seu tempo – ele próprio precoce, à luz
da biologia evolucionária mais informada de hoje, que está pronta agora
para construir um modelo empírico com mais nuances sobre esse legado
evolucionário que está por trás do fato de tantos de nós terminarmos
depressa.
Uma outra grande peça do quebra-cabeça talvez esteja ligada às
habilidades cognitivas sociais singularmente evoluídas de nossa espécie. É
possível que apenas dezenas de milhares de anos atrás, uma ínfima
lasquinha de tempo no longo curso de nossa história primata, os ancestrais
humanos tenham se tornado a única espécie capaz de experimentar empatia
com seus parceiros sexuais durante o intercurso. Os homens puderam então
pensar em satisfazer suas parceiras durante o sexo, e não apenas a si
mesmos, prolongando assim, deliberadamente, o ato do coito para retardar
seu próprio orgasmo em benefício delas. Antes disso, nossos ancestrais
mais distantes talvez fossem mais semelhantes aos chimpanzés, vendo o
corpo de outrem como carne sem sentimentos.
Dado o desagradável estigma associado à ejaculação precoce, uma
abordagem evolucionária do “problema” poderia influenciar enormemente
os tratamentos clínicos, uma área terapêutica que (não surpreendentemente)
gera muito dinheiro e em que não faltam trabalhos sendo feitos. De todo
modo, as ideias seminais de Hong deveriam fazer com que todos nós
parássemos de rotular qualquer ejaculação intravaginal particular de
“precoce” e refletíssemos. É bem possível que a Mãe Natureza, que afinal
de contas talvez seja o único amante que realmente importa, tivesse uma
predileção especial por nossos ancestrais de um minuto.
Ode às muitas virtudes evolutivas do sêmen
humano
Corpos generosos
O pelo lá de baixo: o que o pelo pubiano
humano tem em comum com o pelo dos
gorilas
COMO MUITA GENTE, indago-me a todo instante sobre alguns dos maiores
mistérios da vida. Por que estamos aqui? Qual é o sentido da vida? Por que
temos esses pelinhos estranhamente esparsos e crespos crescendo em volta
de nossos genitais – um pelo que é singularmente diferente de todos os
outros pelos e cabelos em nossos corpos? Felizmente, cientistas foram
capazes de me tranquilizar ao menos quanto a uma dessas inquietantes
questões existenciais. Nos últimos anos, ao que parece, pesquisadores
fizeram alguns avanços espetaculares no estudo do pelo pubiano.
Assim, vamos começar pelo que já sabemos sobre o pelo pubiano. É
uma marca da maturidade sexual, brotando em volta de nossas virilhas em
algum momento no início da adolescência. Se ele aparece no corpo de uma
pessoa algum tempo antes disso no desenvolvimento (digamos, antes dos
nove anos de idade), claramente há algo errado. Algumas coisas
simplesmente não andam juntas neste mundo – bebês e pelo pubiano são
sem sombra de dúvida duas delas.
Puberdade precoce não é motivo para risos, é claro, porque crianças que
começam a desenvolver características sexuais excepcionalmente cedo em
seu desenvolvimento podem de fato ter um grave problema de saúde
subjacente, como uma lesão do sistema nervoso central que ativa
prematuramente o hipotálamo. Mas para um jovem casal no Alabama a
expressão “puberdade precoce” mal faz justiça ao que observavam em seu
bebê alguns anos atrás. Imagine estar trocando a fralda de seu filho de seis
meses e notar o que parece ser um tufo de pelo pubiano de cor clara em sua
virilha. Durante os dez meses seguintes, esse pelo se tornaria pouco a pouco
mais escuro e parecido com o pelo adulto, o que – acompanhado por um
pênis estranhamente grande para um bebê de dezesseis meses e, ahã,
frequentes ereções – foi por fim suficiente para incitar esse casal a buscar
conselho médico.
Esse foi o pano de fundo do caso, tal como apresentado a um grupo de
médicos que finalmente o relataram em Clinical Pediatrics. Ao examinar a
criança, Samar Bhowmick e colegas notaram, para seu espanto, que “o pelo
pubiano era [o de um adolescente], mais concentrado na base do falo,
escuro e crespo”. Uma inspeção mais completa revelou um bebê saudável e
vigoroso – completamente de acordo com a idade em todos os outros
aspectos –, mas os resultados de laboratório indicaram um nível de
testosterona anormalmente elevado. Por fim, os médicos decifraram o caso.
Revelou-se que o pai do menino vinha espalhando um gel de testosterona
duas vezes por dia sobre os ombros, costas e peito, num tratamento
prescrito por seu médico para uma libido baixa ocasionada por depressão.
Como o garotinho dormia na mesma cama que os pais, com o pai
acarinhando-o e abraçando-o logo após aplicar o gel, o contato entre as
peles nuas estava levando a criança a se tornar um homem muito mais cedo
do que a natureza pretendia. (Uma consulta posterior de acompanhamento
revelou, felizmente, que o pelo pubiano havia quase desaparecido depois
que o pai fora informado desse efeito de seu uso do gel, e os médicos
acreditavam que a criança não teria nenhuma complicação de longo prazo
decorrente da exposição à testosterona.)
Este caso peculiar do bebê com pelo pubiano é tão impressionante,
claro, porque esse tipo característico de pelagem na virilha tende a coincidir
com a maturação sexual, não com o estágio do desenvolvimento em que
você mal acaba de aprender a andar. O caso também realça a esquisitice do
pelo pubiano humano de maneira mais geral. Afinal, parece que somos a
única espécie de primata (talvez a única espécie, tout court) que exibe esse
estranho tipo de pelo em torno dos genitais. Robin Weiss, pesquisador na
Divisão de Infecção e Imunologia no University College London, viu-se
debaixo do chuveiro um dia, olhando para baixo e fazendo-se exatamente
essa pergunta:
Embora macacos nus [seres humanos] tenham pelos pubianos, nossos
primos peludos não os têm, não é? Como eu poderia testar minha
hipótese? Eu sabia que havia um chimpanzé empalhado no Grant
Zoological Museum no University College London e fiz-lhe uma visita
a caminho do meu laboratório. Infelizmente ele era um jovenzinho, o
que deixou minha questão em aberto. Uma enérgica caminhada através
do Regent’s Park para inspecionar os gorilas adultos em seu esplêndido
novo pavilhão no Jardim Zoológico de Londres reforçou minha
suspeita, que pude confirmar mais tarde com uma visita aos chimpanzés
no Whipsnade Zoo, no norte de Londres. De fato, todas as espécies de
símios, macacos do Velho Mundo e macacos do Novo Mundo, parecem
ser menos peludas na região pubiana que no resto do corpo; o pelo está
presente, mas é curto e fino.
Weiss especula que uma das principais razões para que o homem tenha
sido o único a desenvolver um “denso matagal de cabelo crespo” em torno
de suas regiões genitais seja indicar visualmente a maturação sexual.
(Provavelmente ele também serve para capturar odor e ajuda no transporte
de feromônios humanos.) Assim, o pelo pubiano age como um anúncio
peludo, indicando para possíveis parceiros sexuais que o acasalamento com
esse indivíduo poderia ser, potencialmente, um exercício frutífero de
perpetuidade genética. Weiss acredita que exibir nossa fecundidade dessa
maneira sugere que o pelo pubiano só deve ter aparecido depois que nos
tornamos “macacos nus”, para destacar-se vividamente contra o pano de
fundo de um corpo desprovido de pelos em outras partes.
Igualmente fascinantes no pelo pubiano são sua textura e composição
incomuns se o comparamos ao resto do pelo e ao cabelo em nossos corpos e
cabeça. Não chega a ser possível usá-lo como fio dental (acredite em mim),
mas o pelo pubiano é consideravelmente mais grosso que o pelo das axilas e
o que cresce em nossas pernas, peitos (para alguns, costas) e o cabelo de
nossas cabeças. Provavelmente não sou o único que estremece ao pensar
numa via alternativa de seleção natural, em que o cabelo de nossas cabeças
tivesse se desenvolvido para ter proporções pubianas – considere apenas
qual seria o aspecto do piso de uma barbearia comum no fim do dia. Não
está de todo claro por que o pelo pubiano é tão grosso, curto e, em geral,
crespo, mas a bióloga Anne Clark da Suny (State University of New York)
de Binghamton de fato me mostrou (enquanto caminhávamos pela ilha
Kapiti na Nova Zelândia) que qualquer outra coisa teria sido bastante pouco
prática. Ter cachos longos, fluidos e atraentes crescendo lá embaixo não
seria lá muito conveniente, em especial dada a logística do intercurso
sexual.
Mas, como Weiss salienta, embora o pelo pubiano tenha suas vantagens
como sinalização, ele também teve um preço. E o nome desse preço é
Phthirus pubis – mais comumente conhecido como chato. O chato tem uma
história evolucionária extraordinária, que Weiss relata num número do
Journal of Biology. Se alguma vez você se maravilhou com a semelhança
entre o pelo pubiano humano e a textura áspera do pelo do gorila (e vamos
encarar: quem não o fez?), já está na pista certa.
QUANDO EU PERAMBULAVA, não muito tempo atrás, por uma das mal
iluminadas salas dos fundos de uma ala das National Galleries da Escócia,
meus olhos interiores ainda ardendo com milhares de pós-imagens
impressionistas – rechonchudos querubins rubenescos e quadrângulos
góticos –, uma pintura irreverente saltou-me aos olhos de uma maneira
muito contemporânea. Ela era parte de um tríptico do início do século XVI
mostrando o que parecia ser um sacerdote solene, de meia-idade, em vestes
eclesiásticas douradas, dando ordens a três meninos adolescentes nus diante
dele numa banheira.
Bem, devo confessar que meu primeiro pensamento ao ver essa imagem
lasciva foi que a Igreja católica vem sendo um refúgio para efebófilos há
muito mais tempo do que qualquer pessoa jamais se deu conta. Mas meu
constrangimento foi abrandado quando me inclinei para ler a legenda, que
declarava que o pintor holandês Gerard David, prolífico iconógrafo
religioso que vivia em Bruges, na Bélgica, estava apenas pintando uma cena
de canibalismo por fome. Ufa! Que alívio – então era apenas um inocente
caso de antropofagia (a ingestão de carne humana por seres humanos) e
nada mais sinistro que isso. Os meninos haviam sido abatidos por um
açougueiro, é claro, e suas carcaças estavam salgando num tonel
improvisado, à espera de ser ingeridas pela gente esfaimada da cidade.
Felizmente, calhou que ninguém menos que aquele notório amante das
crianças, são Nicolau – o clérigo de meia-idade –, estava passando por ali,
descobriu o escândalo dos meninos servindo de repasto e ressuscitou-os na
banheira.
De qualquer maneira, o tempo que passei em Edimburgo deu-me muito
o que pensar sobre o assunto da carne humana. Da galeria de arte, meu
companheiro, Juan, e eu rumamos para o Surgeon’s Hall Museum, onde
vagamos por alas abarrotadas do piso ao teto com conservas de pés
gangrenados, braços peludos amputados de mulheres idosas da era
industrial, cabeças trepanadas e diversos genitais enfermiços. Estava
também em exibição uma elegante caderneta de couro, composta de uma
substância semelhante a couro de vaca, mas na verdade feita com a pele do
famoso assassino e fornecedor de cadáveres William Burke.
E tudo isso me levou a pensar sobre a logística do canibalismo. A hábil
comercialização da indústria alimentícia mudou as coisas enormemente,
mas houve, no passado, condições relativamente frequentes – safras
perdidas, escassez de moradias, fome – em que o canibalismo teria tido uma
utilidade adaptativa vital para nossa espécie. Um par de antropólogos, por
exemplo, realmente fez os cálculos, concluindo que um adulto humano
médio fornece trinta quilos de carne comestível, incluindo gordura, tecido
conectivo, músculo, órgãos, sangue e pele. Coágulos de sangue ricos em
proteína e medula são considerados (pelos raros connaisseurs) iguarias
especiais. Pelo menos um eminente teórico evolucionário, Lewis
Petrinovich, afirmou que o canibalismo é uma genuína adaptação biológica
comum a todos os seres humanos – inclusive aqueles de vocês que estão
agarrando o assento da privada enquanto leem isto.
A antropofagia emerge rotineiramente, diz Petrinovich, sob previsíveis
condições de fome, e pelo menos durante o início de nossa evolução o
canibalismo humano não era tão raro quanto você poderia pensar. Hoje o
termo “canibalismo” evoca histórias sensacionalistas de desastres de avião
em remotas regiões montanhosas nos Andes, serial killers ou expedições
fracassadas ao Ártico no século XIX. Mas nossa história mais longínqua
sugere que ele não deve ter sido uma ocorrência de todo incomum. “O
importante é que o canibalismo está no repertório comportamental
humano”, escreve Petrinovich em The Cannibal Within, “e provavelmente é
exibido por várias razões – uma delas, comum, a privação nutricional
crônica e severa. Um comportamento poderia ser exibido apenas em
circunstâncias extremas e ainda assim fazer parte de nossa herança
biológica, e o fato de seu curso seguir um padrão sistemático refuta a
hipótese de que ele é de caráter psicótico.”
Petrinovich abre caminho através de uma história humana apinhada dos
ossos roídos de nossos ancestrais canibalizados, revelando – em oposição a
críticos que afirmam que a ingestão de carne humana é um mito fabricado
por ocidentais para demonizar os “primitivos” – que nós estivemos
realmente nos devorando uns aos outros durante um tempo muito, muito
longo. Nós somos apenas uma das 1.300 espécies em que a predação
intraespecífica foi observada. Entre primatas, o canibalismo pode em geral
ser explicado por estresse nutricional e ambiental, ou aparece como uma
estratégia reprodutiva em que babuínos, por exemplo, consomem bebês
doentios para abrir caminho para crias mais viáveis.
Apontar com precisão os fatores específicos que causam o canibalismo
é uma tarefa bastante difícil no laboratório, principalmente por causa
daqueles irritantes conselhos de ética universitários. Apesar disso, um
intrépido pesquisador japonês ignorou essas considerações e induziu
canibalismo entre uma população cativa de macacos-esquilo, fornecendo a
fêmeas grávidas uma dieta de baixa proteína. Isso levou a uma taxa elevada
de abortos espontâneos, tendo os fetos sido devorados pelas mães – uma
dose de proteína muito necessária. Agora imagine fazer esse mesmo estudo
com seres humanos sob condições controladas de laboratório similares.
Bastante assustador, eu diria, mas isso não significa que os achados não
poderiam ser generalizados para nossa própria espécie. E não me leve a
falar sobre as várias maneiras como mamães mamíferas se banqueteiam
com as placentas e membranas fetais expelidas do útero após o parto.
Algumas das nossas preferem-nas com uma pitada de páprica, outras na
forma de um prato de espaguete com almôndegas.
Mas o fato de o canibalismo em primatas, inclusive seres humanos, ser
motivado pela fome é precisamente o argumento que Petrinovich está
defendendo. Onde ele difere de outros teóricos evolucionários, porém, é em
sua afirmação de que a antropofagia representa uma verdadeira adaptação
em nossa espécie, assim como o canibalismo para outros animais. Ela não é
simplesmente um comportamento anômalo encontrado num punhado de
indivíduos depravados. Essas pessoas existem, sem dúvida – como aquele
homem que estava tão curioso para saber que gosto tinha sua própria carne
que… bem, vou deixar que o psiquiatra clínico que o examinou lhe conte
com suas próprias palavras:
Quando estou falando com pessoas, sempre olho direto em seus olhos
para vigiar se suas pupilas vagam para outros lugares de meu rosto onde
tenho uma espinha. E em geral isso acontece.
A sociedade não permite [aos homens] usar maquiagem, por isso temos
de sair no mundo embaraçados. E se dizemos às pessoas que estamos
nos sentindo deprimidos ou preocupados com nossa aparência, somos
encarados como fracos e patéticos, em especial por outros homens.
Por falar em pensar sobre os pensamentos dos outros, sei o que você
está pensando: os que são capazes de julgar um livro pela capa ou de
rejeitar um pobre companheiro espinhento dessa maneira deveriam ser eles
próprios desprezados em público. Concordo integralmente. Mas apesar de
nossa simpatia – talvez empatia – pelos que sofrem essas doenças de pele
visíveis, até o mais bondoso de nós parece associar os que sofrem de acne
com características indesejáveis. Pelo menos esses foram os resultados
relatados pela psicóloga Tracey Grandfield e colegas no Journal of Health
Psychology. Empregando uma variação do Teste de Associação Implícita –
uma medida empírica usada para chegar às atitudes e crenças inconscientes
das pessoas –, os autores descobriram que, em contraste com o modo como
classificamos pessoas de pele boa, apressamo-nos a associar coisas
desagradáveis (como “brutal”, “mau”, “feio”, “zangado”, “agressivo”,
“vômito” e “vil”) com pessoas que sofrem de acne. Esses autores concluem
que essa reação injusta, inconsciente e visceral aos que sofrem de acne
grave trai nossas origens evolucionárias. Pesquisas indicam que alterações
significativas da superfície da pele – exibindo sangue, pus ou descamação –
provocam mais nojo e temores de contaminação entre observadores que
alterações “mais limpas”, como vitiligo ou hemangiomas.
Para muitas pessoas, em especial aquelas com elevada sensibilidade
social, a acne não é apenas um inconveniente; na verdade, ela pode se
infiltrar de maneira ruinosa no cerne do conceito que o indivíduo tem de si
mesmo e levar a graves problemas de saúde mental, gerando um sofrimento
que rivaliza até com aquele associado à desfiguração facial resultante de
queimaduras ou acidentes. Um terço dos adolescentes da Nova Zelândia
que se dizem “sofredores de acne” tinha ideias de suicídio, um quarto exibia
níveis clinicamente significativos de depressão e um décimo tinha elevados
níveis de ansiedade. Já em 1948, os clínicos Marion Sulzberger e Sadie
Zaidens concluíram: “É nossa opinião, após cuidadosa reflexão, que não há
uma única doença que cause maior trauma psíquico, mais desajustamentos
entre pais e filhos, maior insegurança geral e sentimentos de inferioridade e
maiores somas de sofrimento psíquico que a Acne vulgaris.”
Isso foi mais de sessenta anos atrás, e é claro que a indústria do
tratamento da acne cresceu enormemente desde então. (Assim como o
subcampo psiquiátrico da psicodermatologia.) Embora nem sempre sem
seus próprios efeitos colaterais desagradáveis, há um jardim farmacêutico
sempre florescente de unguentos, cremes e pílulas com que os sofredores de
acne dos velhos tempos purulentos poderiam apenas sonhar. Apesar disso,
nem todos esses tratamentos estão igualmente disponíveis a todos os que
têm acne; há consideráveis diferenças individuais na resposta aos
medicamentos, e uma “cura” infalível continua elusiva. De fato, suspeito
que, em contraste com gerações anteriores, os que experimentam acne de
moderada a severa atualmente se veem ainda mais deprimidos. Assim como
pessoas acima do peso que experimentaram todas as dietas sem sucesso
muitas vezes relatam sentir-se impotentes em relação à sua afecção, alguém
que tenha tentado se livrar da acne sem sucesso com uma ampla variedade
de opções de tratamento pode se sentir ainda mais envergonhado que nunca.
Não é um grande consolo para essas pobres almas que a condição, como
a maioria dos outros traços humanos, seja determinada por uma combinação
de genes e ambiente. Como, exatamente, nosso DNA interage com dieta,
hábitos de lavagem do rosto, exposição ao sol ou qualquer outro fator
permanece pouco compreendido. Apesar disso, assim como alguns
membros daquela deplorável raça, os cachorros mexicanos sem pelo, alguns
de nós, macacos nus, somos mais propensos à acne que outros. No fim das
contas, a acne parece ter menos a ver com nosso modo de viver do que com
a família em que nascemos. Curiosamente, e por razões que ainda não são
claras, certas populações humanas, como os ilhéus kitavan da Papua Nova
Guiné e os achés do Paraguai, são poupadas da praga dos cravos. Embora
suas dietas e estilos de vida sejam muito diferentes dos nossos, seus genes
também são.
Sim, menos é mais no presente caso. Mas poucos de nós têm a sorte de
ter a pelagem sedosa de um wookie ou de ter nascido um ilhéu kitavan, e os
que passam toda uma existência livres de espinhas são extremamente raros.
A melhor coisa que pode acontecer é que sua pele não seja muito
workaholic quando se trata da produção de sebo, e assim, como todas as
outras pessoas, você obterá apenas uma trégua ocasional aqui e ali.
Idealmente, em termos de sua saúde psicológica, as espinhas ficarão
escondidas em algum lugar por aí, em vez de aparecer bem ali naquela
marquise lampejante que é o seu rosto, desprotegido dos elementos.
Quer sua acne tenha desaparecido na adolescência ou continue com
você nos seus quarenta, um dia, eu lhe prometo, suas glândulas sebáceas
secarão como um leito de rio antigo. Embora fosse facilmente possível se
perder nas gloriosas rugas de minha avó, por exemplo, não me lembro de
um único cravo no seu rosto quando aquela sua casca não etérea foi
reidratada tranquilamente com formaldeído. Por isso lembrem-se, todos
vocês com couros avermelhados escondidos, aqueles em penoso,
exsudativo descontentamento, a acne é uma calamidade cosmética
passageira. Não há nenhuma vergonha na vergonha, por isso peçam ajuda
se precisarem dela. Vocês não estão sozinhos em seu sofrimento, mas
poupem alguma preocupação para aquelas rugas lentamente gestadas e
bem-merecidas que haverão de chegar. Acima de tudo, sejam bondosos com
seu macaco interior, que perdeu seu pelo depressa demais.
PARTE III
Mentes indecorosas
Devassos por natureza: quando um dano
cerebral torna pessoas muito, muito
despudoradas
PODE LHE PARECER QUE, similarmente aos galos, os órgãos reprodutivos dos
homens no mundo inteiro participam de uma irrefletida sincronia de rígidas
saudações ao sol nascente. Contudo, esse “tesão matinal”, na verdade, é um
resto autonômico de uma série de episódios de tumefação peniana noturna
(TPN) que ocorrem pontualmente durante a noite para todos os machos
humanos saudáveis – com mais frequência nos períodos de sono marcados
por movimentos oculares rápidos (REM, na sigla em inglês) e cheios de
sonhos, dos quais somos tantas vezes rudemente despertados de manhã por
campainhas, mães ou outras pessoas.
Para aqueles com pênis, talvez surpreenda saber com que frequência seu
membro se levanta enquanto o resto de seu corpo está reduzido a um estado
de catatonia pela paralisia muscular que o impede de pôr seus sonhos em
ação. (E dê graças a Deus por isso. Carlos Schenck e colegas do Minnesota
Regional Sleep Disorders Center descrevem o caso de um rapaz de
dezenove anos com um distúrbio dissociativo relacionado ao sono que certa
vez andou de gatinhas pela casa, rosnando e mastigando um pedaço de
bacon – ele “sonhava” que era uma jaguatirica, saltando sobre um naco de
carne crua que uma tratadora do zoológico segurava.) Cientistas
determinaram que o pênis de um homem normal de treze a dezenove anos
fica ereto por cerca de noventa minutos a cada noite, ou 20% do tempo total
de sono. Com seu cérebro girando entre os quatro estágios do sono, suas
“ereções relacionadas ao sono” se produzem a intervalos de 85 minutos,
durando em média 25 minutos. (É verdade; eles usaram um cronômetro.)
Até onde sei, não há muitas teorias evolucionárias bem desenvolvidas da
TPN, nem foi proposta uma “função adaptativa” para ela, mas sabemos que
ela não tem relação com a atividade sexual exercida durante o dia, declina
com a idade e está positivamente correlacionada com os níveis de
testosterona. Embora um número muito menor de estudos tenha examinado
a atividade genital noturna de mulheres, elas exibem similarmente
lubrificação vaginal durante seus episódios de sono REM, presumivelmente
com muitas delas sonhando com pênis eretos.
Bem, talvez você não pense que esses enfadonhos detalhes biológicos
poderiam ser matéria para dilema moral, mas está subestimando a enorme
confusão de nossa espécie quando se trata de compreender como nosso
cobiçado livre-arbítrio se conjuga com nossos genitais. Considere o caso do
jovem francês cujas ereções relacionadas ao sono foram interpretadas por
um outro homem como sinal de interesse sexual, mas o jovem jurou que
não se tratava de nada parecido. Como descrito por um um grupo de
investigadores na reunião anual da Sociedade Francesa de Pesquisa do Sono
em 2001, o homem heterossexual de 24 anos despertou, para seu horror,
com dolorosas lesões anais. Embora não tivesse nenhuma lembrança
consciente da ocorrência de tal incidente, uma vez que estava
completamente embriagado no momento, isso o levou a deduzir que devia
ter sido violentado durante a noite. “O exame médico-legal relatou de fato
dilaceramentos visivelmente recentes da margem anal”, confirmaram os
pesquisadores.
Seguiu-se a busca do culpado. Especialmente inquietante era o fato de
que o patrão do homem passara aquela noite na casa dele. Antes os dois
relaxaram junto à piscina e assaram juntos na sauna. Não houve
absolutamente nenhuma evidência de drogas facilitadoras de estupro, mas o
álcool, como acontece tantas vezes no sul da França, fluiu com alegre
abandono aquela noite, e por isso o empregado heterossexual, sendo um
cavalheiro, havia convidado o chefe para curar o porre dormindo em seu
sofá enquanto ele se recolhia ao mezanino. Ao que parece, porém, foi o
empregado que dormiu um sono particularmente pesado aquela noite, não o
patrão embriagado. O homem mais velho admitiu prontamente que sem
dúvida os dois haviam feito sexo durante a noite, e ele só podia supor que a
ereção de seu subordinado, combinada com o fato de o mesmo não ter
resistido quando montara nele, sugeria ser ele um parceiro consensual.
(Você pensava que seu sono era pesado; imagine a potência sonambulística
necessária para ressonar durante sua primeira penetração anal.) Enquanto os
tribunais tentavam resolver o caso, o suposto estuprador passou dois anos
na cadeia, até que finalmente um juiz decidiu que os dois homens estavam
mais ou menos certos, e o acusado deveria ser libertado.
Mas este é apenas um de muitos exemplos curiosos de entrelaçamento
de sexo e lei. O fenômeno relacionado da “sexônia” (sexo durante o sono)
despertou interesse público periódico através de uma série de casos muito
divulgados, histórias que por sua vez motivaram intrigante pesquisa
acadêmica sobre esse assunto pouco conhecido. Nem Alfred Kinsey – o
grande arquivista de fatos carnais, que dedicou grande parte de suas
discussões à questão dos “sonhos molhados” e das poluções noturnas em
ambos os sexos – mencionou como algumas pessoas exibem
comportamentos sexuais durante o sono.
Diferentemente do caso referido anteriormente, em que o empregado
adormecido é o recipiente passivo, imobilizado, do intercurso indesejado,
em acessos de sexônia é a pessoa adormecida que provoca o problema.
Embora os pesquisadores ainda não tenham uma estimativa exata da
frequência dessa parassonia, a maioria dos especialistas acredita que ela é
provavelmente bastante comum. Quase todas as pessoas que exibem atos
sexuais recorrentes enquanto dormem têm uma história de sonambulismo.
De fato, muitos especialistas acreditam que a sexônia nada mais é que uma
variante do sonambulismo, que afeta de 1 a 2% dos adultos, e é assim que
ela é classificada atualmente no principal manual de diagnósticos, The
International Classification of Sleep Disorders, Revised. A maioria das
pessoas não busca tratamento clínico, seja em razão de sua ignorância da
doença ou de embaraço; ademais, muitas vezes seus “automatismos”
sexuais são bastante inócuos – como masturbação, empurrões pélvicos
fracos, ou conversas sexualmente excitantes em estado de fuga. (Mais sobre
o conceito de automatismo logo adiante.)
Num número de 2007 da Brain Research Reviews, porém, a
psicobióloga Monica Andersen e colegas investigaram todos os estudos de
caso publicados até então na literatura e tentaram reunir alguns
denominadores comuns subjacentes à sexônia. Descobriram que os fatores
precipitantes mais comuns do sexo durante o sono são privação de sono,
estresse, consumo de álcool ou drogas, fadiga excessiva e superatividade
física à noite. Ser homem e ter menos de 35 anos é também um fator
importante, relataram eles. Além disso, quando mulheres caem nesse estado
noturno alterado, suas ações tendem a ser comparativamente inofensivas;
elas gemem e se masturbam, em vez de acariciar e agarrar qualquer coisa
que tenha a má sorte de estar nas proximidades de sua cama aquela noite,
como fazem os homens acometidos de sexônia.
Uma das coisas mais extraordinárias sobre a sexônia é que os
comportamentos impróprios da pessoa adormecida são por vezes dirigidos a
pessoas que, durante suas vidas despertas, não lhes pareceram
particularmente excitantes. Num número de 1996 da Medicine, Science, and
the Law, o psiquiatra Peter Fenwick descreve o caso de um cadete
supostamente heterossexual que foi levado à corte marcial por agressão
homossexual depois que se enfiou na cama de outro soldado e acariciou-lhe
as partes pudendas. O caso foi encerrado depois que a corte aceitou que a
ausência de ereção no acusado – a sexônia pode ou não envolver ereções –
significava ser improvável que o episódio tivesse sido “proposital”,
devendo ter sido apenas um bizarro incidente de sonambulismo. Um outro
exemplo de homossexualidade atípica na sexônia envolveu um menino de
dezesseis anos que entrou no quarto da tia e do tio uma noite e começou a
molestar o tio adulto.
Ereções, como sugeri anteriormente, complicam as coisas para o
sistema judicial. Um caso notório que atraiu atenção da mídia internacional,
tal como revisto na Current Psychiatry por um grupo de pesquisadores do
sono da Cleveland Clinic, girou em torno de um paisagista de trinta anos
chamado Jan Luedecke, que bebeu demais durante um animado coquetel
em um jogo de croquet nos subúrbios de Toronto numa noite de 2003 e
adormeceu num sofá. “Algum tempo depois”, explicam os autores, “ele se
aproximou de uma mulher que dormia num sofá adjacente, pôs um
preservativo e iniciou um intercurso sexual com ela.” De sua aterrorizada
perspectiva, a mulher acordou para descobrir que sua calcinha fora
removida e um Luedecke de olhos vidrados tentava estuprá-la. Ela o
empurrou, correu para o banheiro e, ao voltar, encontrou-o parado ali,
perplexo. Luedecke, que tinha um histórico estabelecido de sonambulismo,
foi absolvido depois que o psiquiatra Colin Shapiro provou, em sua defesa,
que ele se encontrava num estado dissociativo quando o incidente ocorreu,
não tendo portanto consciência de suas ações.
Casos legais difíceis como esses dependem inteiramente da
demonstrabilidade (ou pelo menos forte probabilidade) de um automatismo
– um crime cometido durante o sono. Fenwick forneceu uma das mais
claras definições desse conceito:
Um automatismo é um comportamento involuntário sobre o qual um
indivíduo não tem controle. O comportamento é em geral inapropriado
às circunstâncias e pode ser incongruente com o indivíduo. Pode ser
complexo, coordenado e aparentemente deliberado e dirigido, embora
desprovido de julgamento. Posteriormente o indivíduo pode não ter
nenhuma lembrança ou apenas uma memória parcial e confusa de suas
ações.
A vantagem para o macho poderia ser que o esperma mais jovem é mais
aceitável para a fêmea e/ou mais capaz de alcançar uma posição segura
no aparelho feminino. Além disso, uma vez retido no aparelho
feminino, o esperma mais jovem poderia ser mais fértil na ausência de
competição de espermas [relações sexuais monogâmicas] e/ou mais
competitivos na presença de competição de espermas [quando a mulher
está tendo sexo com outros homens]. Por fim, se esperma mais jovem
vive mais tempo no aparelho feminino, qualquer maior fertilidade e
competitividade também durariam mais tempo.
Neles ele “via” meninos adolescentes nus com seus pênis rigidamente
eretos, desfilando diante de si. À medida que ele avançava em sua
masturbação, os pênis dos meninos cresciam, até que por fim todo o seu
campo de visão estava preenchido por um pênis pulsante, ereto, imenso,
e em seguida o paciente tinha um orgasmo prolongado. Esse tipo de
fantasia masturbatória homossexual começou pouco depois de sua
primeira experiência homossexual, que ele teve aos dez anos, e persiste
inalterado até agora.
Estranhos companheiros de
cama
Sobre pedófilos, hebéfilos e efebófilos:
orientação erótica de idade
Embora Michael Jackson possa ter caído em desgraça por causa de sua
orientação hebefílica, e seu nome vá ficar para sempre emaranhado com o
sinistro termo “garotinhos”, ele não foi a primeira celebridade ou figura
famosa que pôde ser vista caindo nessa categoria hebefílica. De fato,
ironicamente, a primeira mulher de Michael Jackson, Lisa Marie Presley, é
o produto de uma atração hebefílica. Afinal, não nos esqueçamos que
Priscilla atraiu o olhar muito adulto de Elvis quando não tinha mais que
catorze anos, sendo apenas um ou dois anos mais velha que os meninos que
Michael Jackson foi acusado de molestar sexualmente. Depois houve, é
claro, o escandaloso incidente Jerry Lee Lewis, em que o cantor de 22 anos
de “Great Balls of Fire” se casou com uma prima em primeiro grau de treze
anos.
Na comunidade psiquiátrica, houve recentemente intenso debate em
torno da questão da adequação de considerar a hebefilia um distúrbio
médico, como a pedofilia, ou, em vez disso, vê-la simplesmente como uma
variante normal da orientação sexual e não indicativa de patologia cerebral.
O acréscimo da hebefilia à lista das doenças mentais tem importantes
implicações políticas, uma vez que isso pode permitir a pessoas que abusam
sexualmente de púberes invocar uma doença mental em sua defesa. Por um
lado, essa defesa daria aos perpetradores uma desculpa médica para seus
comportamentos criminosos. Na maior parte das sociedades ocidentais, a
maioria das pessoas não se sente inteiramente confortável com isso, não só
porque elas desejam que o indivíduo seja considerado responsável por suas
ações criminais, mas porque uma defesa com base em doença mental pode
também traduzir-se no acesso, pelo ofensor, às comodidades de uma
internação hospitalar, em vez do encarceramento em prisões menos
acolhedoras. Por outro lado, se a hebefilia fosse encarada como uma
legítima doença mental, seria mais fácil manter esses indivíduos
indefinidamente longe de crianças, uma vez que suas liberdades civis
seriam, de fato, absorvidas pelo Estado e eles poderiam portanto ser
mantidos em instituições após cumprir suas sentenças iniciais. Assim, um
homem que violenta uma criança de dez anos poderia mais facilmente
evitar a prisão porque é visto como tendo um distúrbio mental
“certificável”, reconhecido pela Associação Psiquiátrica Americana, mas a
longo prazo é mais provável que isso signifique que ele nunca mais poderá
reingressar na sociedade como um cidadão livre que “cumpriu sua pena”.
Um pesquisador que argumentou veementemente em favor da
classificação da hebefilia como distúrbio mental foi o psicólogo Ray
Blanchard. Num número da Archives of Sexual Behavior, Blanchard e
colegas fornecem novas evidências de que muitas pessoas diagnosticadas
sob o rótulo tradicional de pedofilia estão de fato interessadas não em
crianças pré-púberes, mas em pré-adolescentes. Para distinguir essas
diferenças de orientação erótica de idade, Blanchard e colegas estudaram
881 homens (heterossexuais e gays recrutados na população geral) em seu
laboratório usando testes falométricos (também conhecidos como
pletismografia peniana) enquanto lhes mostravam imagens de modelos nus
de diferentes idades. Por medir mudanças de volume sanguíneo no pênis,
essa técnica é vista como um índice bastante objetivo de excitação sexual
diante dos modelos que estão sendo mostrados na tela – pelos quais, para
aqueles atraídos por crianças e pré-adolescentes, o participante poderia
negar verbalmente sentir-se atraído. Em outras palavras, o pênis não sabe
mentir muito bem. Assim, por exemplo, a imagem de uma menina nua de
doze anos (nada lasciva, mais parecendo um sujeito num livro didático de
medicina) era acompanhada pela seguinte narrativa gravada em fita
magnética: “Você está vendo um filme na TV tarde da noite com a filha de
doze anos de seus vizinhos. Seu braço está em volta dos ombros dela, e seus
dedos roçam-lhe o peito. Você percebe que os seios dela começaram a se
desenvolver…”
Blanchard e seus coautores descobriram que os homens em sua amostra
caíam em categorias um tanto discretas de orientação erótica de idade:
alguns tiveram a resposta peniana mais forte para as crianças pré-púberes
(os pedófilos), outros para as crianças púberes (os hebéfilos) e os demais
para os adultos mostrados na tela (os teleiófilos). Essas categorias não eram
mutuamente exclusivas. Por exemplo, alguns teleiófilos mostraram alguma
excitação por crianças púberes, alguns hebéfilos mostraram alguma atração
por crianças pré-púberes, e assim por diante. Mas os autores constataram
que é possível distinguir empiricamente um verdadeiro pedófilo de um
hebéfilo usando essa técnica, em termos das faixas de idade para as quais os
homens exibiam sua excitação mais forte.
Com base nos achados desse estudo, eles concluem que a hebefilia “é
relativamente comum comparada com outras formas de interesse erótico
por crianças”. Blanchard e colegas afirmam também que a hebefilia deveria
ser acrescentada à próxima versão do DSM (Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders, atualmente sob revisão) como um genuíno
distúrbio mental parafílico – distinto da pedofilia. Mas nem todos os
colegas de Blanchard que trabalham na área concordam com essa
abordagem patologizante. A maioria, de fato, opõe-se fortemente à
conceituação da hebefilia como um distúrbio mental. Sua recalcitrância tem
origem nas razões políticas mencionadas antes (nós as exploraremos em
algum detalhe mais adiante), mas também em preocupações logísticas
muito básicas. O psicólogo Thomas Zander salienta que, como a idade
cronológica nem sempre corresponde perfeitamente à idade física, incluir
essas gradações sutis de preferências eróticas de idade seria problemático
de uma perspectiva diagnóstica: “Imagine a inviabilidade de exigir que
avaliadores forenses determinem a existência de pedofilia com base no
estágio de adolescência da vítima. Tais determinações poderiam degenerar
literalmente numa cisão de pelos pubianos.”
Há também importantes razões teóricas para se questionar a
recomendação de Blanchard. Homens que se veem atraídos em especial por
pré-adolescentes ou adolescentes de “meia-idade” são párias sociais,
tamanho o estigma social em que isso incorre, mas em termos históricos (e
evolucionários) esse não foi necessariamente o caso. De fato, hebéfilos – ou
pelo menos efebófilos – podem ter uma vantagem significativa sobre seus
competidores. Psicólogos constataram de forma repetida que marcadores de
juventude têm alta correlação, atual e historicamente, com percepções de
beleza e atratividade. Para homens heterossexuais, isso faz sentido, pois o
potencial reprodutivo de uma mulher (e portanto seu “valor”, de uma fria
perspectiva evolucionária) declina de modo progressivo após os vinte anos,
mais ou menos. É óbvio que fazer sexo com uma criança pré-púbere seria
infrutífero – literalmente. Mas, quer gostemos disso ou não, o mesmo não
pode ser dito em relação a uma adolescente recém-chegada à maturidade,
que é viável em termos reprodutivos e cujo estado de fertilidade novo em
folha pode mais ou menos assegurar a paternidade (portanto, ser atraído por
meninas representa uma poderosa estratégia anticorneação) para o macho.
Esses motivos evolutivos foram inadvertidamente retratados em muitos
livros e filmes, inclusive o controverso Pretty Baby – menina bonita. Nele,
uma jovem Brooke Shields fez o papel de Violet, a filha de doze anos de
uma prostituta na Nova Orleans de 1917, cuja cobiçada virgindade vai a
leilão.
Compreender a atração de homens adultos por meninos ou adolescentes
do sexo masculino é um enigma evolucionário mais complicado; afinal, a
corneação ou os anos reprodutivos que restam não são uma questão aqui.
Mas a “teoria da formação de aliança” do psicólogo Frank Muscarella tenta
desemaranhar essa orientação de idade homossexual. Segundo ele, no
passado, casos homoeróticos entre homens mais velhos, de alto status, e
adolescentes serviam aos últimos como uma maneira de galgar categorias
superiores, uma espécie de ficha de barganha expressa em capacidade de
sexo. O exemplo mais óbvio desse tipo de dinâmica homossexual era
encontrado na Grécia antiga, mas algumas tribos na Nova Guiné também
exibem essas tendências. E, claro, aquele desejo que inspirou o malicioso
Davi de Donatello ainda floresce, para dizer o mínimo, no mundo hoje.
Apenas digite a palavra twink (um termo de gíria derivado de “hostess
twinkie” – um bolinho dourado, recheado de creme, de formato fálico – que
descreve um jovenzinho gay “de constituição esguia, ectomorfo, com pouco
ou nenhum pelo corporal e nenhum pelo facial”) na barra de pesquisa de
imagens do seu Google e veja o que (ou melhor, quem) aparece. Se você é
tímido demais para isso, não faltam artigos sobre esse tipo de
apadrinhamento homossexual escandaloso acontecendo no Congresso que
podem ser pesquisados com mais segurança.
De qualquer maneira, aposto que Oscar Wilde teria endossado a
perspectiva teórica de Muscarella. Afinal, seu famoso “amor que não
ousava dizer seu nome” não era a homossexualidade per se, mas sim uma
“grande afeição de um homem mais velho por um mais jovem”,
como houve entre Davi e Jônatas, como aquela que Platão transformou
na própria base de sua filosofia, e como aquela que encontramos nos
sonetos de Michelangelo e Shakespeare. É essa afeição espiritual
profunda que é tão pura quanto perfeita. Ela dita e impregna grandes
obras de arte como as de Shakespeare e Michelangelo … . Ela é bela, é
excelente, é a mais nobre forma de afeição.
Não há nela nada de antinatural. Ela é intelectual, e existe
reiteradamente entre um homem mais velho e um mais jovem, quando o
mais velho tem intelecto, e o mais jovem tem toda a alegria, esperança e
encantamento da vida diante de si. Que deva ser assim, o mundo não
compreende. O mundo zomba dela e por vezes leva alguém ao
pelourinho por causa dela.
Eu diria que nunca tive um sonho ou uma fantasia, uma fantasia sexual,
por exemplo, sobre estar com outra mulher. Portanto posso muito bem
dizer que não tenho nenhum tipo de tendência lésbica. Você poderia
pensar que na minha idade eu teria alguma fantasia ou sonho ou alguma
coisa, não é? … Mas nunca tive um sonho ou uma fantasia sexual sobre
estar fazendo sexo com um homem também. Nunca, nunca, ao que me
lembre.
JÁ DISCUTIMOS PEDOFILIA, mas vamos falar sobre podofilia, o amor aos pés e,
por extensão, aos sapatos. De fato, como há uma parcela de podófilos
pedófilos, vale a pena assinalar que as duas coisas não são mutuamente
exclusivas. Mas, seja como for, sob o risco de me desviar desde já para um
fetiche de tipo inteiramente diferente (a acrotomofilia, que é o amor pelos
amputados ou, mais especificamente, desejo sexual por seus membros
cortados), permita-me começar dizendo que de certa forma sempre achei
pés – aquelas mãos terrestres, compridas, malcheirosas e cheias de nós –
extremamente repelentes. Não que eu preferiria que os de meus parceiros
fossem cortados fora, mas você entende o que quero dizer.
Na verdade, minha própria aversão por pés torna a podofilia ainda mais
intrigante para mim, porque, entre outras coisas, ela mostra o quanto nossas
papilas gustativas podem ser de fato receptivas à aprendizagem ao
contribuir para o que se torna deleitável mais tarde. Talvez tenha faltado a
meus genitais apenas um misterioso encontro com os pés de outras pessoas
durante um período crítico de meu desenvolvimento sexual. Muitas pessoas
que derivam sua principal satisfação sexual de carícias com os pés podem
encontrar as origens de seu gosto por pés em episódios específicos seja em
sua infância ou durante a puberdade.
Um dos tratamentos históricos mais importantes e detalhados do assunto
do fetichismo de pé (e de sapato) foi o realizado em 1927 pelo sexologista
britânico Havelock Ellis. “Numa minoria pequena, mas não insignificante
de pessoas”, escreve Ellis, “o pé ou a bota torna-se a parte mais atraente de
uma mulher, e em alguns casos mórbidos a própria mulher é vista com um
apêndice comparativamente sem importância.” Ellis descreve o caso de
Rétif de la Bretonne, um romancista francês do século XVII cujas
irreverentes obras literárias estavam cheias de referências a seus gostos
pessoais. (De fato, a palavra inglesa epônima, retifism, é um termo
enigmático para fetichismo de pé.) Na autobiografia muito franca de Rétif,
Monsieur Nicolas, o escritor, então com sessenta anos, recorda ter se
enamorado pelos pés de uma menina quando tinha apenas quatro anos de
idade. A teoria de Rétif sobre as origens de seu fetichismo de pé era que,
sendo a pureza e o frescor femininos tão valorizados em seu tempo, aquelas
damas que conseguiam manter essa parte de seu corpo que entrava em
contato direto com a sujeira tão delicada e intacta eram as mais atraentes de
todas.
“Esse gosto pela beleza dos pés”, reflete Rétif em relação à sua criação
na região francesa da Borgonha, “era tão forte em mim que infalivelmente
despertava desejo … . Quando eu entrava numa casa e via as botinas
arrumadas numa fileira, como é o costume, tremia de prazer; ficava corado
e baixava os olhos como se estivesse na presença das próprias moças.” O
que era especialmente excitante para Rétif, explica Ellis, era seu
conhecimento de que esses objetos haviam absorvido a essência dos pés que
tanto desejava. “Ele beijava com fúria e arrebatamento qualquer coisa que
tivesse entrado em contato com a mulher que adorava.” Na realidade,
desejava desesperadamente ser enterrado com os “chinelos verdes com
saltos cor-de-rosa e debruns” de uma mulher mais velha por quem se
apaixonara na adolescência.
Trabalho mais recente confirmou o palpite de Ellis de que o fetichismo
de sapato não é simplesmente uma atração peculiar por esses objetos
inanimados e que a excitação sexual está relacionada com a íntima conexão
entre determinados sapatos e os pés de seu dono. Por exemplo, numa série
de relatos sobre fetichismo de pé em homossexuais do sexo masculino, o
sociólogo Martin Weinberg e colegas perguntaram a membros da Foot
Fraternity o que lhes parecia especialmente atraente em sapatos. A maioria
desses 262 homens expressou completo desinteresse por sapatos novos,
nunca usados. Ao contrário, tinham clara preferência por calçados que
haviam sido muito usados por uma pessoa atraente. Comprar sapatos em
brechós era uma dádiva de Deus para muitos desses fetichistas, pois isso
lhes permitia fazer fantasias sobre o dono original, em vez de encarar a
feiura de uma criatura esteticamente prejudicada. E assim como a podofilia
heterossexual tem um elemento simbólico, com connaisseurs
heterossexuais exibindo gostos muito particulares por certos estilos de
calçados e polainas femininas, podófilos gays associam tipos de sapato com
homens idealizados. Um homem, por exemplo, explicou aos investigadores
como uma rica tapeçaria de sentidos havia se vinculado a associações
estereotipadas com diferentes tipos de calçado masculino: “os odores e as
imagens correspondentes; docksides e mauricinhos, tênis e jovens rebeldes,
botas e homens dominadores.” Outros fetichistas de pé gays do sexo
masculino repetiram esse tema simbólico em seus gostos e aversões:
TERAPEUTA: É muito importante que você saiba que cada vez que se
fantasia e se masturba em torno de lutas com meninos, está agravando
seu fetiche. É como fazer isso na realidade. Você fortalece o hábito.
PACIENTE: Suponho que você está certo, mas isso foge ao meu
controle.
TERAPEUTA: Bem, vou ajudá-lo a ganhar controle sobre o hábito.
PACIENTE: Você pode?
TERAPEUTA: Bem, temos uma boa chance, se você cooperar. Posso lhe
ensinar relaxamento, ensinar-lhe a tríade de autocontrole para você se
livrar de seus pensamentos negativos e passar a imaginar que algo
terrível ou repugnante está acontecendo se iniciar uma fantasia sexual
inadequada.
PACIENTE: É só isso?
TERAPEUTA: Não. Há outros mecanismos de enfrentamento que
podemos usar. Além disso, podemos tentar fazê-lo sentir-se excitado por
mulheres.
PACIENTE: Mas isso não é pecado?
TERAPEUTA: Bem, o que é mais pecaminoso: ter um fetiche de pé que
pode arruinar sua vida ou aprender a ser excitado por mulheres?
PACIENTE: Bem, se você põe as coisas nesses termos.
TERAPEUTA: Estou apenas dizendo que, em minha experiência no
tratamento de fetiches, é necessário desenvolver relações e excitação
heterossexuais. Depende de você querer mudar. Essa é a minha
abordagem.
PACIENTE: Certo. Isso faz sentido.
É bastante difícil explicar a existência de heterossexuais podófilos de
uma perspectiva evolucionária. Sob certas condições no passado ancestral,
esses fetichistas de pé do sexo masculino (talvez entre outros fetichistas)
podem ter tido, muito estranhamente, uma vantagem sobre aqueles cujos
padrões de excitação eram menos discriminativos. Sabe-se que a maioria
dos fetichistas tem gostos muito específicos, por isso parceiros que
correspondam a seus desejos e se disponham a aceitá-los – ou, neste caso,
que possuam pés que os façam ruborizar – são difíceis de encontrar. Apesar
disso, em alguns casos, ter menos parceiros reprodutivos e fazer sexo
apenas com mulheres muito particulares pode ser a chave para o sucesso.
Esta é a teoria intrigante, ainda que especulativa, sugerida pelo
pesquisador James Giannini e colegas na revista Psychological Reports.
Parece que, historicamente, a erotização cultural do pé feminino coincidiu
com a ocorrência de epidemias sexualmente transmissíveis nessas culturas.
Gostos podofílicos ampliaram-se e declinaram à medida que doenças
seguiram seu curso, e os autores ilustram como o amor ao pé se manifestou,
depois declinou, durante as epidemias de gonorreia no século XIII, de sífilis
no século XVI e XIX e de Aids no século atual. Na Espanha do século XVI,
por exemplo, os pintores começaram a se especializar, pela primeira vez na
história, em retratos do pé feminino, e sapatos que mostravam um
pedacinho provocante da “divisão entre os dedos” faziam o maior sucesso.
Mais uma vez, as ideias de Giannini aqui são extremamente especulativas,
mas essa é uma hipótese promissora à espera de ser corroborada por mais
dados populacionais sobre comportamentos sexuais e fetichismo. Se o
sapato servir, como se costuma dizer.
A história de um amante da borracha
NÃO MUITO TEMPO ATRÁS, fui convidado a fazer uma breve palestra para a
turma da primeira série de meu sobrinho Gianni. Nada muito profundo,
claro, apenas contar como foi viver num lugar estrangeiro como Belfast. O
ponto alto de minha apresentação foi a gargalhada que arranquei ao
mencionar que as pessoas daquele lado do Atlântico chamam fraldas de
“nappies” e não de “diapers” e biscoitos de “biscuits” e não de “cookies”.
Mas é preciso agradar à plateia.
Ora, minha irmã mora numa cidadezinha no centro de Ohio, de modo
que talvez haja algo no Meio-Oeste que gera crianças de seis anos
especialmente cativantes e afetuosas. Mas eu deveria ser perdoado por
tomar o partido de Rousseau por um momento naquela tarde com relação à
sua ideia excessivamente simplista de que a sociedade corrompe e
transforma esses anjinhos ingênuos, inocentes, em adultos monstruosos.
Para dar um exemplo, uma menininha acenou para mim de uma maneira tão
gentil que tive a impressão, naquele instante, de estar em presença de uma
espécie melhor de ser humano, para o qual as outras pessoas aparecem
como benévolas curiosidades, e para o qual os artifícios da etiqueta social
não embaçaram e subjugaram brutalmente as emoções genuínas.
O que estilhaçou essa minha rósea ilusão foi ter consciência de que
essas diminutas pessoinhas que riam, sentadas de pernas cruzadas no tapete
diante de mim, podiam também ser vistas como incubando adolescentes.
Talvez seja coisa minha, mas eu seria capaz de jurar que o mundo não
conhece uma alma mais sádica que a de uma adolescente intoxicada por
hormônios, irritada e dominada pela angústia. E dentro de poucos anos essa
garotinha de tranças pode se transformar numa aluna da nona série, que
revira os olhos, fofoca, rejeita, faz sarcasmos, repudia e forma panelinhas,
enredada no clássico comportamento maldoso que as adolescentes exibem
nas cantinas das escolas.
Se isso lhe parece uma expressão de misoginia, esteja certo de que é
apenas uma afirmação empírica. (Fique certo, também, que temo ter muito
em comum com esse estilo tático, e tenho grande respeito por
maquiavélicos mais refinados, de modo que não estou jogando pedras aqui.)
De fato, ao longo das últimas décadas, estudiosos de várias disciplinas –
inclusive psicologia do desenvolvimento, biologia evolucionária e
antropologia cultural – observaram uma surpreendente diferença nos
padrões usuais de agressão entre homens e mulheres em idade reprodutiva.
Embora os meninos adolescentes e adultos jovens sejam mais propensos a
se envolver em agressão física direta, inclusive golpes, socos e chutes, as
meninas, em comparação, exibem pronunciada agressividade social.
Aqui está um exemplo prototípico, tomado de um estudo publicado no
International Journal of Adolescence and Youth:
EU GOSTARIA DE PODER DIZER que decidi sair do armário com vinte e poucos
anos por razões mais admiráveis – como amor ou o princípio da coisa. Mas
a verdade é que passar por heterossexual havia se tornado uma tal amolação
que não me parecia valer a pena. Desde a terceira série, eu havia
despendido muitos recursos cognitivos valiosos inventando esquemas
enganosos para encobrir o fato de que eu era gay.
Na verdade, minha primeira tática consciente para encobrir minha
homossexualidade envolveu ser grotescamente homofóbico. Quando eu
tinha oito anos de idade, imaginei que se usasse a palavra “bicha” a torto e a
direito e expressasse minha repugnância por gays em todas as ocasiões
possíveis, os outros pensariam obviamente que eu era hétero. Embora isso
parecesse bom na teoria, eu não era muito hostil por temperamento e tinha
dificuldade em canalizar minha indignação fictícia numa prática
convincente.
Posso ter fracassado como homofóbico, mas muitas pessoas têm êxito.
E o que se revela é que podemos ter algo em comum: muitos homens
jovens homofóbicos podem alimentar secretamente desejos homossexuais
(quer estejam tentando conscientemente enganar o mundo a respeito de si
mesmos, como eu, ou não tenham sequer ciência de que eles existem). Uma
das linhas de trabalho mais importantes nessa área remonta a um artigo
publicado em 1996 no Journal of Abnormal Psychology em que os
pesquisadores Henry Adams, Lester Wright Jr. e Bethany Lohr relatam
evidências de que homens jovens homofóbicos podem ter secretamente
impulsos gays.
Nesse estudo, 64 homens que se diziam heterossexuais com idade média
de vinte anos foram divididos em dois grupos (“homens não homofóbicos”
e “homens homofóbicos”) com base em seus escores num questionário que
media a aversão a homens gays. Aqui, a homofobia foi operacionalmente
definida como o grau de “pavor” experimentado quando posto em estreita
proximidade com um homossexual – basicamente, quão confortável ou
desconfortável a pessoa se sentia ao interagir com gays. (Há um debate na
literatura clínica sobre a semântica desse termo, com alguns estudiosos
introduzindo outros construtos como “homonegativismo” para sublinhar a
natureza mais cognitiva da postura antigay de algumas pessoas.)
Em seguida cada participante concordava em prender um pletismógrafo
peniano a seu, bem, “eu inferior”. Esse aparelho, com que já nos
encontramos antes, é “um extensômetro circunferencial de mercúrio em
elástico usado para medir respostas eréteis a estímulos sexuais. Quando
preso, mudanças na circunferência do pênis causam mudanças na
resistência da coluna de mercúrio”. Pesquisas anteriores com esse aparelho
(o pletismógrafo, não o pênis – bem, na verdade com ambos) haviam
confirmado que mudanças significativas na circunferência ocorrem apenas
durante a estimulação sexual e o sono.
Em seguida, os participantes foram levados para uma câmara privada
onde lhes foram mostrados três breves segmentos de pornografia gráfica.
Os três trechinhos de vídeo representavam pornografia heterossexual (cenas
de felação e intercurso vaginal), pornografia lésbica (cenas de cunilíngua ou
de “tribadismo”, que é, essencialmente, a fricção das vulvas) e pornografia
masculina gay (cenas de felação e intercurso anal). Após cada apresentação
aleatoriamente ordenada, cada participante classificou o grau em que se
sentira sexualmente excitado e também o grau de sua própria ereção
peniana. Continue. Adivinhe os resultados.
Ambos os grupos – homens não homofóbicos e homofóbicos –
mostraram significativo engurgitamento diante da pornografia hétero e
lésbica, e suas classificações subjetivas da própria excitação
corresponderam às medidas do pletismógrafo peniano para esses dois tipos
de vídeo. No entanto, tal como previsto, somente os homens homofóbicos
mostraram um significativo aumento da circunferência peniana em reação à
pornografia masculina gay: especificamente, 26% desses homens
homofóbicos mostraram “tumescência moderada” (seis a doze milímetros)
diante desse vídeo, e 54% mostraram “clara tumescência” (mais de doze
milímetros). (Em contraposição, para os homens não homofóbicos, essas
porcentagens foram 10% e 24%, respectivamente.) Além disso, os homens
homofóbicos subestimaram significativamente seu grau de excitação sexual
diante da pornografia masculina gay.
A partir destes dados, os pesquisadores concluíram que “indivíduos que
tiveram escore elevado no questionário de homofobia e admitiam afeto
negativo em relação à homossexualidade demonstram significativa
excitação sexual diante de estímulos eróticos homossexuais masculinos”.
Evidentemente, não fica claro se essas pessoas estão se autoenganando de
maneira inconsciente ou tentando conscientemente esconder dos outros sua
atração secreta por membros do mesmo sexo. O mecanismo de defesa de
formação reativa freudiano – no qual os desejos reprimidos das pessoas se
manifestam por suas ardorosas reações emocionais e comportamentos
hostis em relação à própria coisa que desejam – poderia explicar a primeira
hipótese. (Shakespeare escreve em Hamlet: “A senhora protesta demais, ao
que me parece.”) A segunda sugere um ato de trapaça social deliberada, tal
como minha equivocada maquinação aos oito anos. Poderia, é claro, ser um
pouco de cada coisa, ou funcionar de maneira diferente para diferentes
pessoas. Quem pode dizer se todas aquelas figuras públicas cujo
homossexualismo foi inconvenientemente revelado (como os
televangelistas Eddie Long e Ted Haggard, o psiquiatra conservador George
Rekers e os políticos Mark Foley e Larry Craig) – as próprias encarnações
desse fenômeno – estavam se autoenganando ou se sabiam o tempo todo
que tinham impulsos homossexuais plenamente desenvolvidos?
A interpretação de Adams e colegas para esses achados obtidos por
meio do pletismógrafo não passaram incontestes. Num artigo publicado no
Journal of Research in Personality, o pesquisador Brian Meier e colegas
afirmam que os achados de Adams podem ser mais bem interpretados como
uma “aversão defensiva” de homossexuais gays do que como atração
secreta. Recorrendo a uma analogia com outras fobias, eles declaram:
“Acreditamos ser inexato afirmar que os fóbicos a aranhas têm um desejo
secreto por elas, ou que claustrofóbicos gostam secretamente de ser metidos
em espaços escuros e apertados.” Esses investigadores raciocinam que a
amostra homofóbica de Adams experimentava ereções em resposta à
pornografia masculina gay não por excitação sexual, mas em razão da
ansiedade que as imagens lhes transmitiam, a qual por sua vez provocava a
resposta fisiológica do engurgitamento peniano.
Em minha opinião, contudo, essa reinterpretação de Meier da ereção
como expressão de “aversão defensiva” é um pouquinho tortuosa. É
verdade que foi demonstrado que a ansiedade ambiente aumenta o grau de
excitação sexual em resposta a estímulos que já são sexualmente excitantes,
mas não pude encontrar nenhuma evidência de que a ansiedade por si só
pode dar uma ereção a um homem. Pelo menos espero que seja assim. Falar
em público me deixa ansioso. Se, como se isso não bastasse, eu tivesse de
ter medo de ter uma ereção durante minhas palestras, talvez eu devesse
simplesmente cancelar minhas apresentações. Da mesma maneira, pela
lógica desses investigadores, aracnófobos do sexo masculino deveriam
sentir um leve comichão lá embaixo sempre que avistam uma aranha
correndo por suas mesas de trabalho. Suponho que seja possível, mas me
parece bastante improvável.
Se tomarmos os achados de Adams de que homens homofóbicos têm
ereções ao assistir à pornografia gay como uma razoável evidência de sua
excitação sexual, esses achados assumem enorme importância. Por
exemplo, eles podem nos ajudar a compreender algumas das causas
psicológicas das agressões físicas violentas a gays. Alguns dos dados mais
surpreendentes com que deparei envolvem um levantamento feito em 1998
junto a quinhentos homens heterossexuais na área de São Francisco.
Cinquenta por cento desses homens declararam que haviam sido agressivos
de alguma maneira contra homossexuais (e estes foram apenas os que
admitiram tais atos). E um terço dos que não haviam atacado gays dessa
maneira disse que agrediria ou maltrataria um “homossexual que lhes
fizesse uma proposta”. Se você não percebeu a ironia, isso foi em São
Francisco – presumivelmente um dos lugares mais “amigáveis com gays”
no mundo.
De fato, um estudo posterior publicado no Journal of Abnormal
Psychology por Adams e colegas descobriu que, numa tarefa competitiva,
homens homofóbicos se mostravam mais agressivos com homens gays do
que com heterossexuais. Nesse estudo, 52 homens que se declaravam
heterossexuais com idade média de dezenove anos foram novamente
classificados como “homofóbicos” ou “não homofóbicos” com base em
suas respostas a vários itens num questionário de homofobia. Em seguida
foi dito aos participantes que eles seriam expostos a tipos aleatórios de
estímulos sexuais para determinar o efeito da pornografia no tempo de
reação. Na realidade, só lhes foi mostrada pornografia masculina gay.
Antes e depois de assistir a esse vídeo de dois minutos de um casal de
homens envolvendo-se em preliminares, felação e penetração anal, os
participantes responderam a várias perguntas que mediam seu estado
emocional no momento (por exemplo, se sentiam raiva, ansiedade, tristeza e
assim por diante). Em seguida passavam à tarefa competitiva de tempo de
reação, em que, em vinte provas diferentes, deviam apertar um botão assim
que uma luz vermelha se acendesse no console. Os participantes
acreditavam que, nessa tarefa, estavam competindo com um outro jogador
numa sala vizinha. Na verdade, não havia nenhum outro jogador, e o jogo
estava armado de tal maneira que o participante perderia numa metade
aleatoriamente distribuída das provas. A cada “vitória”, o participante era
informado de que poderia dar um choque elétrico de grau e intensidade
variados no outro jogador (inexistente); alternativamente, ele tinha a opção
de não administrar absolutamente nenhum choque nessa outra pessoa.
Todos os jogadores “perderam” na primeira prova e experimentaram
eles mesmos um choque elétrico brando, presumivelmente administrado
pelo outro jogador. A manipulação decisiva nesse estudo foi que metade
dos participantes pensava estar competindo com um homem gay, ao passo
que a outra metade pensava estar competindo com um homem hétero. Antes
da tarefa, e após assistir à pornografia gay, os participantes tinham visto um
breve vídeo que lhes apresentava esse outro “jogador”. Numa condição,
esse competidor fictício era mostrado como um homossexual com afetações
estereotipadas que dizia ao entrevistador estar numa “relação gay de
compromisso com seu parceiro, Steve, há dois anos”. Na outra condição,
esse mesmo ator fazia o papel de um heterossexual e dizia-se “envolvido
numa relação de compromisso com sua namorada há dois anos”.
Embora não tenha havido nenhuma diferença significativa entre os
grupos homofóbico e não homofóbico na intensidade e duração do choque
administrado ao competidor hétero ao levar a melhor em provas, o grupo
homofóbico administrou choques mais intensos e de maior duração quando
pensava que a pessoa na outra sala era gay. Nas classificações subjetivas de
disposição de ânimo, a maior diferença entre os dois grupos foi na
dimensão raiva-hostilidade: os não homofóbicos mostraram um pequeno
sinal positivo no radar nessa dimensão, ao passo que os homofóbicos
mostraram um enorme aumento na raiva-hostilidade entre a medição da
disposição de ânimo anterior ao vídeo e a classificação posterior. Esses
dados sugerem que estímulos homoeróticos – como ver dois homens de
mãos dadas – poderiam fazer um homofóbico já irritado perder o controle.
Embora seja certamente verdade que o mundo hoje “aprova” a
homossexualidade mais do que há uma década – muitas vezes a
contragosto, em minha opinião –, ainda há elementos sociais perigosos e
nefastos sob a superfície impedindo a verdadeira aceitação. O dia em que,
estando em público em qualquer cidade dos Estados Unidos, eu puder
simplesmente ficar de mãos dadas com a pessoa que amo (algo que a
maioria dos casais faz sem pensar duas vezes) sem nos expor, a meu
parceiro e a mim, a perigo físico – esse será o dia em que ficarei
convencido de que fomos além da retórica com relação a “direitos iguais” e
mudamos realmente corações e mentes.
Nesse meio-tempo, na próxima vez que você topar com alguém que se
revela especialmente hostil ou crítico em relação a gays, olhe-o nos olhos,
coce seu queixo e repita comigo: “Humm… muito interessante.”
O modismo do poliamor, o ciúme gay e a
evolução de um coração partido
COMO ERA MESMO AQUELA frase famosa de Edna St. Vincent Millay? Ah,
sim. Agora me lembro: “Eu amo a humanidade; mas detesto pessoas.” Esse
sentimento expressa bem meu tipo normal de humanitarismo temperado
com uma pitada de misantropia, mas ele vem extremamente a propósito em
certas ocasiões. Por exemplo, quando eu estava conversando na pizzaria de
uma pequena aldeia na Irlanda do Norte, o assunto recaiu em como eu
ganhava a vida. Ora, eu costumava ter muita dificuldade para responder a
essa pergunta simples; quando dizia que era professor, inevitavelmente me
perguntavam o que ensinava. Quando falava em psicologia, as pessoas
diziam alguma coisa sobre seus problemas, entre risadinhas contrafeitas, ou
respondiam – como se essa fosse a fala mais original – que eu estava na
cidade certa para isso. Quando eu as corrigia dizendo não ser um psicólogo
clínico mas um pesquisador, tinha de explicar exatamente o que pesquiso.
“Psicologia evolucionária” tende a fazer surgir algumas ideias esquisitas
na mente de muitas pessoas. E foi o que aconteceu nessa ocasião, enquanto
eu me esforçava para expressar a natureza de minha profissão no salão
apinhado de uma pizzaria com cerca de uma dúzia de moradores do lugar
tentando ouvir o que eu dizia de outras mesas. De uma maneira ou de outra,
como ocorre com frequência em conversas comigo, a homossexualidade
veio à baila como um exemplo de comportamento humano complexo que os
psicólogos evolucionários ainda estão tentando compreender.
Teria sido ótimo ter um notebook em mãos para registrar palavra por
palavra os comentários do jovem empregado, de modo a poder lhes
fornecer um relato etnográfico apropriado. Mas aqui está, em síntese, o que
ele me disse com muita segurança, condimentado com os peculiares floreios
de linguagem encontrados naquela parte do mundo: “Sim. Não me entenda
mal, não tenho nada contra os gays. Mas o que não entendo é por que eles
escolhem ser egoístas e não ter uma família e filhos – pois é para isso que
estamos aqui, o sujeito vai contra a evolução não continuando a linhagem
porque ele não pode ajudar a espécie se não tiver filhos. Isso me parece
meio egoísta.” Respondi que para mim, sendo eu mesmo um homem gay,
não se tratava de uma questão de “escolher” não reproduzir; como mulheres
são mais ou menos tão excitantes a meus olhos como aquela fatia de pizza
com pepperoni pela metade que estava ali sobre a mesa, eu nunca seria
capaz de engravidar uma delas. Consigo contudo, continuei, obter uma
grande ereção vendo a ereção de outros homens, ali portanto – apontei o
dedo para o céu para efeito de ênfase – reside o verdadeiro mistério
darwiniano! Em seguida peguei minha pizza e saí. Depressa. E agora estou
escrevendo isto em Ohio.
De qualquer maneira, porém, a conversa me fez lembrar o que disse o
sociólogo alemão Michael Blume sobre reprodução e religiosidade. E
ocorreu-me que a homofobia motivada pela religião pode estar, pelo menos
em parte, enraizada nessa suposição de que as pessoas gays estão se
furtando às suas obrigações reprodutivas. Detecto um forte cheiro de
resíduo religioso nos comentários do empregado sobre homossexualidade, o
que, dada a forte presença da Igreja na Irlanda do Norte, provavelmente não
foi imaginação minha.
Em termos biológicos evolucionários, em que a seleção natural ocorre
no nível do gene, não no da espécie, há sérias falhas na conjectura dessa
pessoa sobre reprodução da linhagem. Deixando de lado métodos
tecnológicos modernos que ajudam gays a ser pais, há muitas maneiras
pelas quais indivíduos sem filhos podem, ainda assim, ser geneticamente
bem-sucedidos, em alguns casos mais do que sendo pais ou mães
biológicos, por exemplo investindo pesadamente em parentes biológicos
que compartilham seus genes. (Em linguagem científica, isso é conhecido
como seleção de parentesco ou aptidão genética inclusiva.) Tendo dito isto,
vou reconhecer que ele também não estava inteiramente errado com relação
à principal significação evolucionária da reprodução. As pessoas realmente
precisam se reproduzir, direta ou indiretamente, para que a natureza
continue operando em seus genes. Esta não é a “razão” ou a “finalidade” de
nossa presença aqui, pois isso seria insinuar alguma forma de desígnio
inteligente para a existência humana; trata-se antes tão somente de um fato
mecânico.
Mas tudo isso fica realmente interessante, diz Blume, no ponto em que a
ilusão de desígnio inteligente cruza com um imperativo reprodutivo –
essencialmente, a ideia lugar-comum de que Deus “quer” ou “pretende” ou
“exige” que nós, como membros fiéis de nossas comunidades, tenhamos
uma ninhada de filhos igualmente crentes. Você foi abençoado com seus
órgãos reprodutivos produtores de prazer por uma razão, diz essa lógica, e
ela é casar-se com o sexo oposto e procriar. Por Deus, basta olhar para o
Antigo Testamento. “Sede fecundos e multiplicai-vos” é exatamente o
primeiro dos 661 mandamentos diretos. Deus parece não estar fazendo
meramente uma sugestão aqui, mas emitindo uma ordem categórica.
Blume descobriu que as religiões que realmente põem essa questão no
centro de seus ensinamentos estão – por razões bastante óbvias – em
vantagem como grupo seletivo em relação àquelas que não endossam esse
implacável mandamento. Ele examina várias religiões que estão ou já
extintas ou em vias de desaparição atualmente por terem se afastado demais
desse princípio reprodutivo. Os shakers, por exemplo, restringiam e até
proibiam a reprodução entre seus próprios seguidores, preferindo enfatizar
o trabalho missionário, o proselitismo e a conversão de infiéis. Mas esta se
revelou uma estratégia insensata, evolucionariamente falando. “No final das
contas”, salienta Blume, “conversões em massa vêm a ser a exceção
histórica, não a regra. O mais das vezes, só frações de populações tendem a
se converter a partir da mitologia religiosa que lhes foi transmitida
verticalmente pelos pais e convertem-se em diferentes direções … .
Comunidades em que membros jovens começam a escassear também
tendem a perder seu apelo missionário para outros jovens. Por isso os
shakers ficaram velhos demais e se deterioraram.”
Alguns grupos religiosos cismáticos também brincaram um pouco
demais com o imperativo reprodutivo de Deus, chegando até a explorar a
eugenia ao tentar “aperfeiçoar” a prole comunal. Mas um plano deliberado
de procriação humana como esse pode malograr, caso signifique também
impedir as pessoas de se reproduzirem segundo sua vontade pessoal. Esse
foi um dos fatores da ruína da Comunidade Oneida, do norte do estado de
Nova York, uma comunidade cristã do século XIX que tinha uma visão
muito prática – quase prática demais – da sexualidade humana. A
reprodução era estritamente regulada por um sistema eugênico conhecido
como “estirpicultura”. Ao longo de várias gerações, os médicos da
comunidade Oneida acasalaram homens e mulheres cuidadosamente
selecionados por sua saúde genética (vi algumas fichas médicas manuscritas
quando examinava os arquivos do Kinsey Institute, e posso lhe assegurar
que o sistema de procriação era real e meticuloso). As crianças que nasciam
através desse processo de seleção artificial eram criadas comunalmente, e o
vínculo materno era desencorajado.
Para evitar crianças não planejadas, não produzidas por engenharia, os
membros da Comunidade Oneida implementavam uma série de controles,
um dos quais consistia em estimular meninos adolescentes a fazer sexo com
mulheres já na menopausa. Isso saciava simultaneamente as libidos de
ambas as partes e, ao forjar alianças pessoais entre os dois, fornecia aos
jovens uma importante tutelagem ecumênica exercida por mulheres mais
velhas muito devotas. Homens adultos praticavam a continência masculina,
uma “técnica” sexual em que os homens não ejaculam durante o intercurso;
uma vez que Oneida admitia também relações poliamorosas, isso era
fundamental para os propósitos da estirpicultura.
Tudo isto pode soar lógico na teoria, até notavelmente racional em se
tratando de religiões, mas as regulações estritas significaram uma morte
rápida para a Comunidade Oneida. Após cerca de apenas trinta anos, e
tendo chegado a seu apogeu com apenas cerca de duzentos membros, a
comuna religiosa dissolveu-se oficialmente em 1881. Seus membros,
presumivelmente de boa cepa genética mas escassos em número, passaram
a se dedicar ao comércio de prataria; hoje a Comunidade Oneida é
conhecida como a companhia extremamente bem-sucedida Oneida Limited.
Em contraposição, religiões igualmente isoladas, não proselitistas, que
estimulam seus membros a propagar alelos da maneira antiquada – como os
judeus ortodoxos, os huteritas e os amish – e além disso enfatizam a fé
“nativa” em que os membros do grupo nascem e são doutrinados, estão
prosperando. A história dos amish, marcada por uma explosão exponencial
em seus números num espaço muito curto de tempo, é particularmente
impressionante. Os amish emergiram como um ramo do movimento
anabatista na esteira da Reforma Protestante na Europa, e cerca de quatro
mil deles fugiram da Alemanha para evitar perseguição e encontraram
refúgio nos Estados Unidos e no Canadá durante o século XVIII e início do
século XIX. A maioria das pessoas sabe que os amish vivem extremamente
isolados, evitando todo contato com o mundo não amish – exceto durante o
breve período Rumspringa (ou “pular por aí”), em que jovens amish ainda
não batizados flertam com as diabólicas coisas boas do exterior antes de
decidir se querem ou não retornar para sua família e sua fé. Para rapazes,
um incentivo para retornar à comunidade é que se você quiser fazer sexo
(isto é, casar-se) com uma moça amish local, precisa ter sido batizado antes,
o que só é possível para os que voltam para casa. Oitenta por cento o fazem.
O que você talvez não saiba é que a população amish vem crescendo
desde a chegada da seita ao Novo Mundo. Com taxas de crescimento
oscilando entre 4% e 6% ao ano, seus números dobram de vinte em vinte
anos, aproximadamente. Em 2008 eles eram 231 mil; no ano anterior, 218
mil. Ter filhos é uma bênção do céu, mas também um dever oficial. Com
uma média de seis a oito filhos nascidos para cada mulher amish, e com
80% dos jovens retornando ao grupo depois de seu Rumspringa, é fácil
compreender essa extraordinária taxa de crescimento. O que é
especialmente irônico, salienta Blume, é que o país de origem dos amish, a
Alemanha, vem sucumbindo há décadas a acentuados declínios da
população: “O fechamento das igrejas foi seguido pelo dos playgrounds,
jardins de infância, escolas e aldeias inteiras.” Portanto, pelo menos em
termos puramente numéricos, parece que os amish – por muito tempo
ridicularizados por seus compatriotas europeus como os “alemães patetas”
que não queriam abrir mão de suas tolas crenças arcaicas – estão rindo por
último.
De fato, a pesquisa de Blume também mostra muito vividamente que
pessoas seculares, não religiosas, estão se reproduzindo em taxas
muitíssimo menores que pessoas religiosas de qualquer fé. Através de uma
larga faixa de dados demográficos relativos à religiosidade, os devotos
estão ganhando força em termos de filhos gerados. Por exemplo, há uma
correlação positiva em nível global entre a frequência de comparecimento
ao serviço religioso pelos pais e o número de filhos. Os que “nunca”
comparecem a serviços religiosos têm, numa média mundial, 1,67 filho
durante a vida; entre os que o fazem “uma vez por mês” a média sobe para
2,01 filhos; “mais de uma vez por semana”, 2,5 filhos. Esses números
crescem – e rapidamente.
Alguns dos dados mais fortes das análises de Blume, no entanto, vêm de
um levantamento conduzido pelo Departamento Suíço de Estatísticas em
2000. Esses dados são especialmente valiosos porque quase toda a
população da Suíça respondeu a esse questionário – 6.972.244 pessoas,
correspondendo a 95,67% da população –, que incluiu uma pergunta sobre
filiação religiosa. “Os resultados são extremamente significativos”, escreve
Blume. “Mulheres de todas as categorias denominacionais dão à luz muito
mais crianças que aquelas sem filiação religiosa. E isto se aplica até àquelas
comunidades (judaica e cristã) que combinam quase o dobro de
nascimentos com porcentagens maiores de professores universitários e
classes de renda mais alta que seus contemporâneos suíços sem filiação
religiosa.”
Em outras palavras, não se trata apenas de que pessoas “instruídas” ou
da “classe alta” têm menos filhos e tendem também a ser menos religiosas;
mesmo que essas coisas sejam estatisticamente controladas, a religiosidade,
por si só, permite prever o número de filhos que as mães têm. Mesmo em
denominações religiosas turbulentas, que põem sua ênfase na conversão de
infiéis, como as Testemunhas de Jeová, as mulheres reproduzem mais que
as não religiosas. Por outro lado, os hindus (2,79 nascimentos por mulher),
muçulmanos (2,44) e judeus (2,06) são prolíficos produtores de seres
humanos. Mães suíças não religiosas têm míseros 1,11 filho.
Blume reconhece, é claro, que não se pode inferir demais desses dados.
Não está inteiramente claro se ser religioso leva as pessoas a ter mais filhos
ou se – como é um pouco menos plausível, mas também possível – a
ligação segue a direção contrária (com pessoas que têm mais filhos
tornando-se mais religiosas). É muito provável que ocorram as duas coisas.
Apesar disso, Blume especula sobre intrigantes caminhos causais
associados ao fato de pessoas religiosas terem mais filhos. Sabemos por
estudos de gêmeos, por exemplo, que os componentes emocionais da
religiosidade são hereditários. A palavra “religiosidade” designa a
intensidade dos sentimentos associados à religião, não o conteúdo
proposicional de crenças particulares. (Em outras palavras, um gêmeo
idêntico pode ser um ateu arrebatado enquanto o outro é um pastor
evangélico, mas ambos são impetuosos e preocupados com Deus.) Assim,
Blume supõe que quaisquer filhos nascidos de pais religiosos são não
apenas impregnados de sua fé através de sua cultura, mas também
geneticamente mais suscetíveis à doutrinação que filhos de pais não
religiosos.
Seja como for, a situação em seu conjunto não parece propícia para
movimentos secularistas. A biologia evolucionária opera segundo uma lei
de números, não de sentimentos racionais. Blume, que não tenta esconder
suas próprias crenças religiosas, vê a cruel ironia que existe nisso também:
“Alguns naturalistas estão tentando livrar-se de nossas habilidades
evolutivas de religiosidade citando a biologia. Mas, de uma perspectiva
evolucionária, tanto quanto de uma perspectiva filosófica, pode parecer
bastante estranho tentar derrotar a natureza com argumentos naturalísticos.”
Como uma alma ateia gay sem filhos, nascido de um nada rígido casal
inter-religioso, suspeito que, talvez felizmente, meus próprios genes têm um
futuro muito mortal pela frente. Quanto ao resto de vocês, casais
heterossexuais não religiosos que estão lendo isto, joguem fora seus
contraceptivos e ocupem-se na cama. É isso, ou percam as esperanças, Deus
não vai desaparecer tão cedo.
Criando raízes com minha mãe morta
O DIA DAS MÃES ESTÁ PARA SEMPRE marcado em mim com uma certa
tristeza, porque foi o dia em que acompanhei minha mãe, muitos anos atrás,
até o cemitério em que ela está enterrada desde então. Bem, isto não é
inteiramente verdade. Ela não morreu exatamente naquele dia; a morte
ainda demoraria mais seis meses para chegar.
Estivemos na agência funerária para comprar um lustroso caixão novo e
tomar as providências finais para seu cadáver, um visitante indesejado que
não demoraria a chegar, embora nem os médicos pudessem dizer quando
isso ocorreria ao certo. Ainda que apenas para sua paz de espírito, ela estava
decidida a pôr em ordem as minúcias financeiras e administrativas que vêm
com a morte de um ser humano. Afinal, assim que o cordão umbilical é
cortado, começamos a nos prender a regras e regulações burocráticas, um
cipoal que fica mais denso a cada ano que passa, de modo que ao final
morremos emaranhados nele.
Não sei por que ela escolheu logo o Dia das Mães, entre todos os outros,
para uma tarefa tão lacrimosa quanto essa, mas ela tinha certo ar de atriz
trágica – o que, eu poderia acrescentar, era bem merecido, em face de tudo
por que passara. Antes de fazer quarenta anos, ela sofrera uma mastectomia
em razão de um câncer de mama, junto com várias longas rodadas de
quimioterapia. Dentro da mesma década meus pais passariam por um súbito
e doloroso divórcio, e poucos meses depois do divórcio, justamente quando
“estava conseguindo se reerguer”, minha mãe foi atingida por um outro
golpe pesado, sendo diagnosticada com um câncer ovariano em estágio
avançado, e teve de se submeter a mais cirurgias e enfrentar mais sete anos
de quimioterapia. Ela morreu – relutantemente – com apenas 54 anos.
É uma história muito triste, nem é preciso dizer, e infelizmente
compartilhada por muitas outras mães amorosas e maravilhosas que não
estarão conosco no próximo Dia das Mães. O fato de que eu estava
conduzindo uma pesquisa sobre as crenças das pessoas numa vida após a
morte quando ela morreu devia-se quase inteiramente às muitas conversas
teoricamente inspiradoras e perceptivas que tivemos quando ela tentava
imaginar sua própria vida após a morte. (Ela tendia para o materialismo
científico, mas não era ateia e tinha uma mente aberta em relação a toda
essa questão, creio que é seguro dizer.)
Entre os aspectos mais desagradáveis dessa história – tanto para ela na
época quanto para meus irmãos e para mim até hoje – foi a logística
sombria de organizar seu sepultamento. O que mais ficou gravado na minha
mente de todo aquele Dia das Mães de 2000 foi a imagem de minha mãe
com seus dedos trêmulos folheando um catálogo, semelhante aos das
cadeias de lojas de luxo, que lhe foi entregue pelo agente funerário muito
amável, mas insensível. Era um livreto bastante grosso, cheio de imagens
lustrosas de todos os últimos modelos de caixões, câmaras mortuárias,
urnas, catafalcos, lápides e outros novos produtos então em voga funerária,
sendo essa coleção particular especialmente adequada para cadáveres de
classe média. Como ela morreu perto de Fort Lauderdale, desejosa de ficar
mais próxima de sua própria mãe, encontrava-se numa parte do país
especialmente lucrativa para a indústria da morte, pois a área concentra
grande população idosa.
Todo o incidente aquele dia deixou um gosto ruim em minha boca.
Havia alguma coisa de tão plástico, tão escorregadio, tão “comercial”
naquele negócio da morte que ele – mais ou menos como o resto do
superdesenvolvido sul da Flórida, em que esse cemitério sem graça,
adjacente a uma autoestrada, está situado – me pareceu frio demais. Os
cemitérios modernos, com seus lotes sem nenhuma delimitação, suas sebes
perfeitamente manicuradas e lápides de aparência idêntica, tornaram-se
lugubremente parecidos com os subúrbios; ou talvez os subúrbios tenham
se tornado lugubremente parecidos com cemitérios. De uma maneira ou de
outra, o que mais me incomoda é que, olhando para trás, isso não precisava
ter sido assim.
A morte raramente é agradável, é claro, não importa como nos
desfaçamos do cadáver. Nos últimos anos, porém, tornei-me cada vez mais
interessado em “sepultamento verde”, um termo amplo que designa
qualquer prática funerária “alternativa” em que o morto é enterrado num
caixão ou mortalha biodegradável, muitas vezes em reservas florestais, e
sem conservantes embalsamadores (fluidos que mantêm um cadáver com
boa aparência, em geral apenas para que possa ser visto) que retardam e
perturbam enormemente o processo de decomposição.
Embora isto seja objeto de permanente debate e as implicações reais
para a saúde permaneçam obscuras, esses produtos químicos
embalsamadores podem se tornar contaminadores à medida que
formaldeído e outros agentes potencialmente carcinogênicos forem
absorvidos pelo solo e pelo lençol freático. Os defensores do sepultamento
verde colocaram a questão quase inteiramente em termos de evitar o
tremendo impacto do enterro tradicional. Considere que, a cada ano, os
americanos enterram 827.060 galões de fluido embalsamador, 90.272
toneladas de aço (caixões), 2.700 toneladas de cobre e bronze (caixões),
1.663.000 toneladas de concreto reforçado (câmaras mortuárias) e mais de
70.800 metros cúbicos de madeira de lei (grande parte dela tropical;
caixões). Além disso há os incontáveis hectares terraplenados para esses
indisfarçados aterros sanitários de restos humanos sintéticos.
A cremação não constitui um aperfeiçoamento muito grande em relação
a essas coisas. A subida na forma de fumaça pode usar menos recursos
naturais que o enterro tradicional, mas também consome uma significativa
quantidade de combustíveis fósseis. O Trust for Natural Legacies, uma
organização sem fins lucrativos de conservação do solo que trabalha para
impulsionar o crescimento sustentável de práticas verdes de sepultamento
no Meio-Oeste, fez a seguinte declaração: “Seria possível dirigir mais de
7.700 quilômetros com a energia equivalente à usada para cremar uma
pessoa – e ir e voltar à Lua 83 vezes com a energia usada em todas as
cremações feitas em um ano nos Estados Unidos.” Há também o problema
não desprezível do mercúrio que é liberado na atmosfera sempre que uma
pessoa com obturações dentais de amálgama é cremada.
Essas preocupações ambientais por si sós tornam o enterro verde uma
solução óbvia. Mas como psicólogo, e alguém que também teve uma
experiência pessoal negativa ao enterrar uma pessoa amada da maneira
tradicional, penso que nossa concepção da morte e do sepultamento precisa
ser seriamente repensada. Vamos fechar a tampa sobre essas práticas
culturais laminadas anônimas, impelidas pelo lucro, com que temos sido
todos tão complacentes. Tem de haver uma maneira melhor de lidar com
essas coisas do que a que temos adotado todos esses anos. E uma forma
específica de enterro verde, que vou resumir em seguida, é benéfica para
todos.
Embora a ideia de enterros verdes em reservas florestais ou ambientes
semelhantes a parques não seja nova, e constitua provavelmente uma
perspectiva desejável para certas futuras almas mortas que prefeririam o
esquecimento absoluto, parece-me que isso não atrairá a maioria das
pessoas porque nós, seres humanos, tendemos a ter uma premente
necessidade de “imortalidade simbólica”. Esta expressão foi cunhada pelo
antropólogo cultural Ernest Becker em seu livro A negação da morte, mas
desde então vem sendo empiricamente desenvolvida por cientistas que
trabalham com a teoria do controle do terror. A ideia básica por trás da
imortalidade simbólica é que artefatos culturais que sobrevivem à morte
literal do indivíduo, contendo ao mesmo tempo algum lembrete de sua
existência especial, podem reduzir de maneira significativa a ansiedade
humana perante a morte.
A teoria do controle do terror e este construto têm muitas nuances, mas
o ponto importante a mencionar aqui é que um sentimento de imortalidade
simbólica pode ser obtido por marcadores concretos de prosperidade,
qualquer coisa, desde bancos num parque com o nome do falecido gravado
em ouro a lápides num cemitério, passando por iniciais entalhadas no
tronco de uma árvore ou grafites num vagão de carga. Assim, embora
possam ser desnecessariamente sombrios, os cemitérios convencionais pelo
menos satisfazem essa necessidade psicológica das pessoas de permanecer
implantadas, ainda que apenas simbolicamente, por meio de lápides de
granito sem vida, na cultura imortal. Para que a indústria do sepultamento
verde decole um dia e comece a atrair mais pessoas, suspeito que essa seja
uma questão fundamental – a celebração física – que seus defensores vão
precisar enfrentar.
Parece-me que uma maneira de resolver esse problema, permanecendo
ao mesmo tempo fiel à filosofia central do enterro verde, é enterrar as
pessoas debaixo de uma árvore específica – uma arvorezinha nova de sua
escolha alimentada por seu corpo em decomposição embaixo dela. Em
condições favoráveis de solo, um corpo não embalsamado, com esqueleto e
tudo, pode se decompor inteiramente em quinze a 25 anos. Mas muitas
espécies de árvores, não esqueçamos, podem viver por muitas centenas de
anos (algumas, por milhares). Imagine que um dia, ao tomar as
providências finais na agência funerária, você e seus entes queridos
pudessem escolher entre uma ampla variedade de espécies de árvores
coabitáveis para encontrar exatamente aquela condizente com seu ser
fabulosamente inesquecível – isso em vez de folhear um catálogo cheio de
caixões, ataúdes e criptas como minha mãe viu-se fazendo. Não só sua
morte alimentará uma nova vida, mas você também estará salvando mais
uma árvore, aquela que teria sido sacrificada em seu benefício na forma de
um caixão produzido em massa, com alças de plástico.
Além de proporcionar uma dose saudável de imortalidade simbólica,
essa forma de enterro sob uma árvore específica atenderia a um outro
aspecto central de nossa psicologia. Nos últimos anos, pesquisadores
descobriram que os seres humanos operam com uma forte tendência
essencialista. Tendemos a raciocinar implicitamente, e muitas vezes
explicitamente, como se a “essência” inobservável de uma pessoa fosse
transmitida através do contato físico com ela. Você provavelmente recuaria
ante a ideia de usar os óculos de um molestador de crianças, ou a camiseta
lavada de um assassino serial, mas tem dificuldade em expressar
precisamente por que usar esses objetos lhe causa tanta aversão. De maneira
semelhante, você pode ter o anel de casamento de sua falecida avó, ou a
camisa usada de seu jogador de futebol favorito enfiada em algum lugar, e
tem carinho por esses objetos por estarem estreitamente ligados a essas
pessoas adoradas. No presente contexto, digamos que você enterrou seu
cachorro querido sob uma roseira em seu jardim. Se você for pelo menos
um pouco parecido comigo, terá uma maior afinidade com essa roseira do
que com outras, e lhe seria especialmente desagradável se, digamos, alguém
a desenraizasse e sacudisse na sua frente.
Agora imagine um cemitério inteiramente novo, um terreno planejado,
verdejante, cuidado por arboricultores treinados e cheio não de fileiras de
pedras tumulares desinteressantes e desmoronando, mas sim de fileiras de
árvores vivas. Cada árvore, selecionada segundo sua compatibilidade com a
região e outros fatores de adequabilidade tal como aconselhados pelo staff
arboricultor, simbolizaria uma existência humana singular. (Não devemos
nos empolgar, mas talvez uma placa ou marcador possa ser acrescentado
também, reforçando o elemento simbólico de imortalidade, mas a estética
iria, é claro, variar.) Essas não seriam simples árvores plantadas em
memória dos mortos, mas híbridos frondosos cujas veias absorveram vidas
humanas individuais.
Vou me arriscar aqui e dizer que, mesmo que não acreditemos em uma
versão etérea ou religiosa da vida após a morte, é bastante difícil escapar à
ilusão cognitiva de que a essência inobservável de cada pessoa foi de algum
modo transmudada pouco a pouco para sua árvore individual. Duas
enormes nogueiras crescendo lado a lado, com galhos entrelaçados,
parecem de algum modo mais do que meras árvores quando nos é dito que
estão de fato crescendo sobre o que foram outrora um marido e uma mulher
que viveram séculos atrás. Não faltam imagens essencialistas idílicas como
esta – netos subindo nos braços do avô, crianças que foram enfermiças
durante sua vida agora explodindo com as cores flamejantes do outono,
vencedoras de concursos de beleza para sempre fragrantes com imaculadas
flores de cereja, bebês natimortos agora carvalhos magníficos. Levaria
algum tempo, é claro, para que esse arboreto chegasse à plena maturidade.
Mas para que pressa?
Na verdade, a notória dificuldade de nossa espécie em imaginar sua
própria inexistência psicológica é ainda mais um fator cognitivo que torna
essa forma particular de enterro verde atraente. Como não temos nenhuma
analogia apropriada para o estado de inexistência da morte (não somos
capazes de recriar conscientemente em nossas cabeças “como era” quando
estávamos sob anestesia geral, ou antes de termos sido concebidos, ou
mesmo durante o sono sem sonhos, não REM, da noite passada), o mais
perto que conseguimos chegar de apreender mentalmente “como será” estar
morto reifica inevitavelmente o nada.
Com o sepultamento sob árvores específicas, esse princípio de limitação
da simulação da vida após a morte encontra uma saída não religiosa, ou até
religiosa. Por exemplo, você poderia não acreditar que foi literalmente
reencarnado ou renascido na árvore, mas imaginando o crescimento e o
rejuvenescimento dela ano após ano através de todos os séculos de
atividades sociais humanas ainda por vir, você terá muita dificuldade em
impedir de atribuir algumas de suas próprias emoções a esse caráter vivo da
árvore.
Eu certamente gostaria de abraçar uma jovem palmeira na Flórida este
fim de semana. Claro, teria de me preocupar novamente com a saúde de
mamãe, com a possibilidade de ela pegar uma grave infestação por broca ou
talvez de ser rudemente partida em dois por um raio. Mas nós teríamos
incluído esses “atos de Deus” no contrato, o agente funerário e eu.
PARTE VIII
Para os que não têm pendor para matemática, tudo isso pode ser
traduzido da seguinte maneira: as pessoas são mais propensas a cometer
suicídio quando suas perspectivas reprodutivas diretas são desencorajadoras
e, simultaneamente, sua existência continuada é percebida, correta ou
incorretamente, como reduzindo a aptidão inclusiva ao interferir com a
produção genética de sua família. É importante destacar que deCatanzaro,
bem como outros pesquisadores independentes, apresentou dados em apoio
a esse modelo adaptativo.
Num estudo publicado em 1995 na Ethology and Sociobiology, por
exemplo, deCatanzaro administrou um questionário de 65 itens incluindo
questões sobre demografia (como idade, sexo e instrução), número e grau
de dependência de filhos, netos, irmãos e filhos de irmãos, “peso percebido
para a família”, significação percebida de contribuições para a família e a
sociedade, frequência de atividade sexual, homossexualidade, número de
amigos, solidão, tratamento recebido dos outros, bem-estar financeiro e
saúde física, sentimentos de satisfação, depressão e esperança em relação ao
futuro. Os sujeitos foram indagados também sobre seus pensamentos e
comportamentos suicidas – por exemplo, se haviam alguma vez pensado em
suicídio, se já o haviam tentado alguma vez no passado ou pretendiam
tentá-lo alguma vez no futuro. O questionário foi aplicado a uma amostra
aleatória da população geral de Ontário, mas também a grupos específicos
escolhidos, inclusive moradores de lares para cidadãos idosos, pacientes
internados num hospital psiquiátrico, homens presos indefinidamente por
crimes antissociais e, por fim, homens e mulheres exclusivamente gays.
Muitos achados fascinantes – e bastante tristes – emergiram desse
estudo. Por exemplo, os níveis mais altos de ideação suicida recente
estavam entre os homossexuais do sexo masculino e os pacientes
psiquiátricos, ao passo que a população da prisão mostrou o maior número
de tentativas anteriores de suicídio. “As coisas melhoram”, sem dúvida, mas
estamos sempre em risco, e esse modelo evolucionariamente informado
ajuda indivíduos gays a enfrentar e compreender a lamentável realidade.
Mas a importante mensagem a extrair é que o padrão de dados
correlacionais mostrou-se de acordo com aqueles previstos pelo modelo
evolucionário de deCatanzaro. O autor faz a importante ressalva de que “a
natureza observacional deste estudo limita inferências causais fortes”, mas,
ainda assim: “O perfil das correlações está de acordo com a noção de que a
ideação suicida está relacionada a uma conjunção de más perspectivas
reprodutivas e senso de valor para a família diminuído. A concordância dos
dados com a hipótese fica clara em relações confiáveis de padrões
reprodutivos e produtivos com a ideação suicida.”
Algo que vale a pena ressaltar nesses dados é a significativa mudança
associada ao desenvolvimento que ocorre no algoritmo motivacional.
Enquanto a atividade heterossexual é o melhor preditor inverso de
pensamentos suicidas entre amostras mais jovens, isso é em grande parte
substituído entre os idosos por preocupações com as finanças, a saúde e, em
especial, a sensação de “peso percebido” para a família. Alguns anos depois
da publicação desse relato na Ethology and Sociobiology, um estudo de
acompanhamento publicado na Suicide and Life-Threatening Behavior,
conduzido por um grupo independente de pesquisadores que buscava
submeter o modelo de deCatanzaro a mais provas, replicou as mesmas
tendências previstas.
Por mais que esse modelo me pareça convincente, ainda tenho uma
questão a que a argumentação básica de deCatanzaro não responde, por isso
lhe pedi esclarecimento. Basicamente, eu queria saber como os padrões
suicidas dos seres humanos contemporâneos se relacionam com os de
nossos parentes ancestrais, que presumivelmente enfrentaram as condições
em que a adaptação se desenvolveu originalmente, mas que, sob muitos
aspectos, viveram num mundo muito diferente do nosso. Afinal, mesmo
com armas de fogo, facas e medicamentos à nossa disposição, cometer
suicídio não é sempre uma coisa fácil de fazer, em termos práticos.
Num artigo publicado na Psychological Review, por exemplo, a
psiquiatra Kimberly van Orden e colegas citam o caso de uma suicida
particularmente tenaz: “[Ela] era descrita como socialmente isolada quando
tentou suicídio com uma quantidade e um tipo desconhecido de analgésico
e também cortou suas artérias do pulso. Essa ação levou a certo grau de
inconsciência, do qual ela acordou … . Depois ela se jogou diante de um
trem, o que foi a causa final de sua morte.”
Agora considere os métodos de suicídio que teriam estado disponíveis a
nossos antigos parentes num ambiente de escassa tecnologia – talvez um
salto de uma grande altura que, mesmo sendo malsucedido, poderia ao
menos ocasionar ferimentos suficientes para que ela acabasse morrendo de
uma infecção. Fome. Exposição aos elementos. Afogamento.
Enforcamento. Oferecer-se a um predador faminto. Certo, talvez houvesse
mais métodos à disposição de nossos antepassados do que supus. Mas você
entende o que quero dizer. Hoje, mover um dedo apenas um milímetro num
gatilho é uma rota mais segura para o olvido que qualquer coisa que nossa
espécie tenha algum dia conhecido antes; é tão simples atualmente que é
como se os donos de armas de fogo tivessem um botão de “desligar”. (Essa
é uma das muitas razões por que não tenho um revólver; o algoritmo do
suicídio de deCatanzaro é estocástico, o que significa que o número que ele
gera para um dado indivíduo está em constante estado de fluxo.)
Mas deCatanzaro não vê os avanços técnicos como particularmente
problemáticos para seu modelo. Não é fácil encontrar fósseis de
australopitecíneos ou de Homo sapiens primitivos suicidas, é claro. Mas,
como ele me escreveu:
CERTA VEZ, quando estava num sonolento delírio induzido pela altitude,
voando a 10 mil metros sobre algum lugar da Islândia, procurei às
apalpadelas a confortável manta azul cuja ponta eu via debaixo de meu
assento, só para perceber – para meu inexprimível horror – que estava de
fato puxando com força um dedão do pé coberto por uma meia, que tentava
se esquivar. Ora, com um temperamento como o meu, a vida tende a ser
uma conversa embaraçosa após a outra, assim, quando me virei, sorrindo,
para pedir desculpa ao dono do dedo, meus olhos depararam com um
homem enorme cujo grunhido sugeria que ele estava tendo alguma
dificuldade em ver graça no incidente.
Desagradável, sem dúvida, mas agora eu diria que esse foi um evento
afortunado. Quando pousei de novo a cabeça contra aquele travesseiro
forrado de papel-toalha de companhia aérea, iluminou-se em minha mente,
no meio daquele voo, uma lembrança muito mais feliz. Ela envolvia um
outro dedão, este pertencente a um animal notavelmente mais bem-
humorado que aquele sentado atrás de mim. Esse outro dedão – que era em
tudo e por tudo tão sensível quanto seu superestofado equivalente humano,
devo acrescentar – estava preso a um gorila-ocidental-das-terras-baixas de
mais de duzentos quilos, com gengivas calcificadas, chamado King. Em
1996, quando eu tinha vinte anos e ele 27, passei grande parte do verão com
meu desdentado amigo King, ouvindo Frank Sinatra e os Três Tenores,
brincando de pega-pega e fazendo cócegas em seus dedos do pé. Ele
costumava se recostar em sua casinhola de dormir, esticar um enorme pé
acinzentado através das barras da jaula e deixá-lo pendurado ali, cheio de
expectativa, irrompendo numa gargalhada gutural que o fazia sacudir os
ombros quando eu agarrava um de seus dedos e lhe imprimia gentilmente
um palpável apertão. Ele quase não conseguiu se controlar quando, um dia,
inclinei-me, como se estivesse prestes a dar uma mordida naquele dedo
rechonchudo. Se você nunca viu um gorila tendo um ataque de riso, eu lhe
recomendaria procurar ter essa visão antes de ir embora deste mundo. É
algo que provocaria dissonância cognitiva até no mais sincero dos
criacionistas.
Outros animais além dos seres humanos são dotados de humor? Talvez,
sob certos aspectos, sim. Sob outros, porém, é provável que emoções como
essa tenham propriedades unicamente humanas. Exceto por anedotas,
sabemos muito pouco sobre o riso e o humor de primatas não humanos, mas
alguns dos achados mais significativos a emergir da ciência comparativa
durante a última década envolveram a inesperada descoberta de que ratos –
em particular ratos jovens – riem. É isso mesmo: ratos riem. Pelo menos
essa é a assertiva resoluta que está sendo feita pelo pesquisador Jaak
Panksepp, que publicou um notável, e bastante acalorado, artigo opinativo
sobre o assunto na revista Behavioural Brain Research.
Em particular, o trabalho de Panksepp concentrou-se na “possibilidade
de que os sujeitos animais que usamos mais comumente, os roedores de
laboratório, possam ter experiências semelhantes à alegria social durante
suas atividades brincalhonas e que um importante componente
comunicativo-afetivo desse processo, que fortalece o envolvimento social,
seja uma forma primordial de riso”. Agora, antes que você comece a
imaginar uma risada semelhante às de um jovial ratinho Stuart Little (ou ele
era um camundongo?), o riso de um rato não tende a soar muito parecido
com a variedade humana, que em geral envolve explosões de som pulsantes
que começam com uma inalação vocalizada e consiste numa série de
trinados curtos e distintos com intervalos de tempo quase isocrônicos. O
som estereotípico do riso humano é um h aspirado seguido por uma vogal,
em geral a, e, graças sobretudo à nossa laringe, é rico em harmônicos. Em
contraposição, o riso do rato assume a forma de gritos ultrassônicos de 50
kHz de alta frequência, ou “chilreios”, distintos de outras emissões vocais
em ratos. Aqui está a maneira como Panksepp descreve sua descoberta do
fenômeno:
Tendo acabado de concluir o que talvez tenha sido a primeira análise
etológica formal (i.e., bem controlada) da brincadeira turbulenta na
espécie humana no final dos anos 1990, em que o riso foi uma resposta
abundante, tive o “insight” (talvez a ilusão) de que nossa resposta de
chilreios de 50 kHz em ratos que estão brincando poderia ter alguma
relação ancestral com o riso humano. Na manhã seguinte, cheguei ao
laboratório e pedi ao aluno de graduação que era meu assistente na
época para “vir fazer cócegas em alguns ratos comigo”.
“Com a possível exceção”: Gordon G. Gallup Jr., Mary M. Finn e Becky Sammis, “On the Origin of
Descended Scrotal Testicles: The Activation Hypothesis”, Evolutionary Psychology 7, n.4, 2009,
p.519.
“Não só a pele”: Ibid, p.519.
Segundo um relato publicado em 2009: Stany W. Lobo et al., “Asymmetric Testicular Levels in the
Crotch: A Thermodynamic Perspective”, Medical Hypotheses 72, n.6, 2009, p.759-60.
“Em nossa concepção”: Gallup, Finn e Sammis, “On the Origin of Descended Scrotal Testicles”,
p.521.
“Qualquer explicação de testículos”, Ibid, p.523.
Ou, para pensar sobre isso de outra maneira: Isto não quer dizer que tais indivíduos não existam.
Existem casos de algolagnia (do grego algos [dor] e lagneia [desejo sexual]), e algumas dessas
pessoas derivam sua principal satisfação sexual de agressões a suas zonas erógenas. Mas isso é tão
bizarro que muitos pesquisadores contemporâneos acreditam que a algolagnia – em especial
quando a pessoa só pode ficar excitada por dor testicular ou dilaceramento da vagina – só pode ser
compreendida como sintoma de um perigoso distúrbio neurológico que envolve uma falha da
decodificação de estímulos nocivos.
“uma considerável porção”: Alfred C. Kinsey, Wardell B. Pomeroy e Clyde E. Martin, Sexual
Behavior in the Human Male. Filadélfia, W.B. Saunders, 1948, p.510.
mandado que lhe tirassem um osso: Grazia D’Annunzio, “The Randy Dandy”, New York Times,
disponível em www.nytimes.com/2009/09/13/style/tmagazine/13slijperw.html.
um paciente “muito perturbado”: Frances Millican et al., “Oral Autoaggressive Behavior and Oral
Fixation”, in Irwin M. Marcus e John J. Francis (orgs.), Masturbation: From Infancy to
Senescence. Madison, Conn., International Universities Press, 1975, p.150.
soldado solitário de 22 anos: Jesse O. Cavenar, Jean G. Spaulding e Nancy T. Butts, “Autofellatio:
A Power and Dependency Conflict”, Journal of Nervous and Mental Disease 165, n.5, 1977,
p.356-60.
linguagem típica, cheia de jargão: Frank Orland, “Factors in Autofellatio Formation”, International
Journal of Psychoanalysis 52, n.3, 1971, p.289-96.
O primeiríssimo caso psiquiátrico de autofelação publicado: Eugen Kahn e Ernest G. Lion, “A
Clinical Note on a Self-Fellator”, American Journal of Psychiatry 95, n.1, 1938, p.131-3.
um tema começando a emergir: William Guy e Michael H. Finn, “A Review of Auto-Fellatio: A
Psychological Study of Two New Cases”, Psychoanalytic Review 41, n.4, 1954, p.354-8.
O caso envolve um primeiro-sargento: Morris M. Kessler e George E. Poucher, “Auto-Fellatio:
Report of a Case”, American Journal of Psychiatry 103, n.1, 1946, p.94-6.
paciente do sexo feminino de extrema autossuficiência: Orland, “Factors in Autofellatio Formation”,
op.cit.
“um pênis mais longo seria”: Gordon G. Gallup Jr. e Rebecca L. Burch, “Semen Displacement as a
Sperm Competition Strategy in Humans”, Evolutionary Psychology 2, n.1, 2004, p.14.
“Exemplos incluem sexo em grupo”: Ibid, p.15.
Numa série de estudos: Gordon G. Gallup Jr. et al., “The Human Penis as a Semen Displacement
Device”, Evolution and Human Behavior 24, n.4, 2003, p.277-89.
“É possível”: Gallup e Burch, “Semen Displacement as a Sperm Competition Strategy in Humans”,
p.16.
“um parceiro despachado, que”: Lawrence K. Hong, “Survival of the Fastest: On the Origin of
Premature Ejaculation”, Journal of Sex Research 20, n.2, 1984, p.113.
“a linhagem de Homo sapiens”: Idem, p.117.
mas em 2009, num artigo publicado: Patrick Jern et al., “Evidence for a Genetic Etiology to
Ejaculatory Dysfunction”, International Journal of Impotence Research 21, n.1, 2009, p.62-7.
Conferindo maior credibilidade: Patrick Jern et al., “Subjectively Measured Ejaculation Latency
Time and Its Association with Different Sexual Activities While Controlling for Age and
Relationship Length”, Journal of Sexual Medicine 6, n.9, 2009, p.2.568-78.
“haveria pouca”: Ray Bixler, “Of Apes and Men (Including Females)”, Journal of Sex Research 22,
n.2, 1986, p.265.
“Nosso interesse pelas”: Rebecca L. Burch e Gordon G. Gallup Jr., “The Psychobiology of Human
Semen”, in Steven M. Platek e Todd K. Shackelford (orgs.), Female Infidelity and Paternal
Uncertainty: Evolutionary Perspectives on Male Anticuckoldry Tactics. Cambridge, Mass.,
Cambridge University Press, 2006, p.141.
“isso nos pareceu muito peculiar”: Idem, p.141.
Os achados mais significativos: Gordon G. Gallup Jr., Rebecca L. Burch e Steven M. Platek, “Does
Semen Have Antidepressant Properties?”, Archives of Sexual Behavior 31, n.3, 2002, p.289-93.
que pulsa através das veias de uma pessoa: E isso fica ainda melhor. Uma porcentagem menor
(4,5%) das mulheres sexualmente ativas que “nunca” tinham usado preservativos tinha menor
probabilidade de ter tentado o suicídio que aquelas que “de vez em quando” (7,4%), “usualmente”
(28,9%) e “sempre” (13,2%) usavam preservativos.
“É importante reconhecer”: Idem, p.291.
“O corpo se torna o local”: Dave Holmes e Dan Warner, “The Anatomy of Forbidden Desire: Men,
Penetration, and Semen Exchange”, Nursing Inquiry 12, n.1, 2005, p.18.
tornam o HIV até: Jan Münch et al., “Semen-Derived Amyloid Fibrils Drastically Enhance HIV
Infection”, Cell 131, n.6, 2007, p.1.059-71.
“por volta dos 11-12 anos”: Gilbert Herdt e Martha McClintock, “The Magical Age of 10”, Archives
of Sexual Behavior 29, n.6, 2000, p.596.
O que fazem hormônios femininos: Burch e Gallup Jr., “Psychobiology of Human Semen”, op.cit.,
p.159.
“Parece portanto”: Idem, p.160.
“o pelo pubiano era”: Samar K. Bhowmick, Tracy Ricke e Kenneth R. Retig, “Sexual Precocity in a
16-Month-Old Boy Induced by Indirect Topical Exposure to Testosterone”, Clinical Pediatrics 46,
n.6, 2007, p.540-1.
“Embora macacos nus [seres humanos]”: Robin A. Weiss, “Apes, Lice, and Prehistory”, Journal of
Biology 8, n.2, 2009, p.20.
“Com base na morfologia”: Ibid.
as psicólogas: Marika Tiggemann e Suzanna Hodgson, “The Hairlessness Norm Extended: Reasons
for and Predictors of Women’s Body Hair Removal at Different Body Sites”, Sex Roles, 59, n.11-
12, 2008, p.889-97.
Num outro estudo: Marika Tiggemann, Yolanda Martins e Libby Churchett, “Hair Today, Gone
Tomorrow: A Comparison of Body Hair Removal Practices in Gay and Heterosexual Men”, Body
Image 5, n.3, 2008, p.312-6.
“O importante é que”: Lewis Petrinovich, The Cannibal Within. Piscataway, N.J., Aldine
Transaction, 2000, p.107.
“Depois de cortar o primeiro dedo do pé”: Gregory M. De Moore e Marcus Clement, “Self-
Cannibalism: An Unusual Case of Self-Mutilation”, Australian and New Zealand Journal of
Psychiatry 40, n.10, 2006, p.937.
Pesquisa osteoarqueológica numa: Alban Defleur et al., “Neanderthal Cannibalism at Moula-
Guercy, Ardèche, France”, Science 286, n.5437, 1999, p.128-31.
“Essa vantagem heterozigótica sustentada”: John Brookfield, “Human Evolution: A Legacy of
Cannibalism in Our Genes?”, Current Biology 13, n.15, 2003, p.592.
esses casos refletem crenças essencialistas: Bruce Hood, SuperSense: Why We Believe in the
Unbelievable. Nova York, HarperOne, 2009.
“Não há nenhuma forma”: Margaret St. Clair, prefácio para To Serve Man: A Cookbook for People,
de Karl Würf. Filadélfia, Owlswick Press, 1976, p.1.
lidar com carne coberta por pelo: Stephen Kellett e Paul Gilbert, “Acne: A Biopsychosocial and
Evolutionary Perspective with a Focus on Shame”, British Journal of Health Psychology 6, n.1,
2001, p.1-24.
Considere uma cena: Jean-Paul Sartre, No Exit: And Three Other Plays, 1946. Nova York, Vintage,
1989, p.21.
“Posso sentir o”: Craig Murray e Katherine Rhodes, “The Experience and Meaning of Adult Acne”,
British Journal of Health Psychology 10, n.2, 2005, p.193.
“Quando estou falando”: Idem, p.192.
“A sociedade não permite”: Idem, p.196.
esses foram os resultados relatados: Tracey A. Grandfield, Andrew R. Thompson e Graham Turpin,
“An Attitudinal Study of Responses to a Range of Dermatological Conditions Using the Implicit
Association Test”, Journal of Health Psychology 10, n.6, 2005, p.821-9.
Um terço dos adolescentes da: Diana Purvis et al., “Acne, Anxiety, Depression, and Suicide in
Teenagers: A Cross-Sectional Survey of New Zealand Secondary School Students”, Journal of
Paediatrics and Science Health 42, n.12, 2006, p.793-6.
“É nossa opinião, após”: Marion Sulzberger e Sadie Zaidens, “Psychogenic Factors in Dermatologic
Disorders”, Medical Clinics of North America 32, 1948, p.684.
certas populações humanas: Loren Cordain et al., “Acne Vulgaris: A Disease of Western
Civilization”, Archives of Dermatology 138, n.12, 2002, p.1.584-90.
“O cérebro é a manifestação física”: Shelley Batts, “Brain Lesions and Their Implications in
Criminal Responsibility”, Behavioral Sciences and the Law 27, n.2, 2009, p.267.
“todas as sete crianças”: Sunil Pradhan, Madhurendra N. Singh e Nirmal Pandey, “Klüver-Bucy
Syndrome in Young Children”, Clinical Neurology and Neurosurgery 100, n.4, 1998, p.256.
“Por que não fazemos”: Shawn J. Kile et al., “Alzheimer Abnormalities of the Amygdala with
Klüver-Bucy Syndrome Symptoms: An Amygdaloid Variant of Alzheimer Disease”, Archives of
Neurology 66, n.1, 2009, p.125.
“era uma menina inteligente”: D.N. Mendhekar e Harpreet S. Duggal, “Sertraline for Klüver-Bucy
Syndrome in an Adolescent”, European Psychiatry 20, n.4, 2005, p.355.
começou a fazer uma felação: John A. Anson e Donald T. Kuhlman, “Post-Ictal Klüver-Bucy
Syndrome After Temporal Lobectomy”, Journal of Neurology, Neurosurgery, and Psychiatry 56,
n.3, 1993, p.311-3.
“tornando-se sexualmente agressivo”: Vanessa Arnedo, Kimberly Parker-Menzer e Orrin Devinsky,
“Forced Spousal Intercourse After Seizures”, Epilepsy and Behavior 16, n.3, 2009, p.563.
se juntar a ele e à esposa: Dietrich Blumer, “Hypersexual Episodes in Temporal Lobe Epilepsy”,
American Journal of Psychiatry 126, n.8, 1970, p.1.099-106.
Em 2003, os neurologistas: Jeffrey Burns e Russell Swerdlow, “Right Orbitofrontal Tumor with
Pedophilia Symptom and Constructional Apraxia Sign”, Archives of Neurology 60, n.3, 2003,
p.437-40.
Num caso mais recente: Julie Devinsky, Oliver Sacks e Orrin Devinsky, “Klüver-Bucy Syndrome,
Hypersexuality, and the Law”, Neurocase: The Neural Basis of Cognition 16, n.2, 2009, p.140-5.
Em seu primeiro artigo: Régis Olry e Duane Haines, “Fornix and Gyrus Fornicatus: Carnal Sins?”,
Journal of the History of the Neurosciences 6, n.3, 1997, p.338-9.
“A real etimologia do”: Idem, p.338.
Num artigo de acompanhamento: Régis Olry e Duane Haines, “The Brain in Its Birthday Suit: No
More Reason to Be Ashamed”, Journal of the History of the Neurosciences 17, n.4, 2008, p.461-4.
E dê graças a Deus: Carlos H. Schenck, Isabelle Arnulf e Mark W. Mahowald, “Sleep and Sex:
What Can Go Wrong? A Review of the Literature on Sleep Related Disorders and Abnormal
Sexual Behaviors and Experiences”, Sleep 30, n.6, 2007, p.683-702.
Considere o caso do: Peter B. Fenwick, “Sleep and Sexual Offending”, Medicine, Science, and the
Law 36, n.2, 1996, p.122-34.
Num número de 2007: Monica L. Andersen et al., “Sexsomnia: Abnormal Sexual Behavior During
Sleep”, Brain Research Reviews 56, n.2, 2007, p.271-82.
Num número de 1996: Fenwick, “Sleep and Sexual Offending”, op.cit.
“Algum tempo depois”: Mia Zaharna, Kumar Budur e Stephen Noffsinger, “Sexual Behavior During
Sleep: Convenient Alibi or Parasomnia”, Current Psychiatry 7, n.7, 2008, p.21.
“Um automatismo é um”: Fenwick, “Sleep and Sexual Offending”, op.cit., p.131.
o pesquisador do sono londrino: Irshaad Osman Ebrahim, Somnambulistic Sexual Behavior
(Sexsomnia)”, Journal of Clinical Forensic Medicine 13, n.4, 2006, p.219-24.
Após acordar várias noites: Schenck, Arnulf e Mahowald, “Sleep and Sex”, op.cit.
“na maioria das ocasiões”: R. Robin Baker e Mark A. Bellis, “Human Sperm Competition:
Ejaculate Adjustment by Males and the Function of Masturbation”, Animal Behavior 46, n.5,
1993, p.871.
“A vantagem para o macho”: Idem, p.863.
“O refluxo emerge”: Idem, p.864.
“flagelo da raça humana”: Jeffrey Jensen Arnett, “G. Stanley Hall’s Adolescence: Brilliance and
Nonsense”, History of Psychology 9, n.3, 2006, p.192.
No início dos anos 1980: Simon J. Wallis, “Sexual Behavior and Reproduction of Cercocebus
albigena johnstonii in Kibale Forest, Western Uganda”, International Journal of Primatology 4,
n.2, 1983, p.153-66.
“Durante cada observação”: E. D. Starin, “Masturbation Observations in Temminck’s Red
Colobus”, Folia Primatologica 75, n.2, 2004, p.115.
“A possibilidade de que os tipos”: Gilbert van Tassel Hamilton, “A Study of Sexual Tendencies in
Monkeys and Baboons”, Journal of Animal Behavior 4, n.5, 1914, p.296.
“De todos os meus macacos machos”: Idem, p.314.
“Jimmy esforçou-se prontamente”: Idem, p.315.
“uma espécie de embriaguez”: Wilhelm Stekel, Auto-Erotism: A Psychiatric Study of Onanism and
Neurosis. Nova York, Grove Press, 1961, p.139.
“Vejo diante de mim”: Narcyz Lukianowicz, “Imaginary Sexual Partner: Visual Masturbatory
Fantasies”, Archives of General Psychiatry 3, n.4, 1960, p.438.
“Neles ele ‘via’”: Idem, p.441.
Num estudo de 1990: Bruce J. Ellis e Donald Symons, “Sex Differences in Sexual Fantasy: An
Evolutionary Psychological Approach”, Journal of Sex Research 27, n.4, 1990, p.527-55.
Em sua revisão de achados de pesquisa: Harold Leitenberg e Kris Henning, “Sexual Fantasy”,
Psychological Bulletin 117, n.3, 1995, p.469-96.
“Como pessoas privadas”: Idem, p.477.
“Entre os limites de idade”: Vladimir Nabokov, Lolita, 1955. Nova York, Random House, 1997,
p.16.
“Você está vendo”: Ray Blanchard et al., “Pedophilia, Hebephilia, and the DSM-V”, Archives of
Sexual Behavior 38, n.3, 2009, p.339.
“Imagine a inviabilidade”: Thomas K. Zander, “Adult Sexual Attraction to Early-Stage Adolescents:
Phallometry Doesn’t Equal Pathology”, Archives of Sexual Behavior 38, n.3, 2008, p.329.
“teoria da formação de aliança”: Frank Muscarella, “The Evolution of Homoerotic Behavior in
Humans”, Journal of Homosexuality 40, n.1, 2000, p.51-77.
“como houve entre Davi e Jônatas”: Oscar Wilde, “The Love That Dare Not Speak Its Name”,
disponível em www.phrases.org.uk/meanings/the-love-that-dare-not-speak-its-name.html.
A pressão para patologizar: Karen Franklin, “The Public Policy Implications of ‘Hebephilia’: A
Response to Blanchard et al.”, Archives of Sexual Behavior 38, n.3, 2008, p.319-20.
“um exemplo de manual”: Idem, p.319.
“Wilde tirou uma chave”: André Gide, If It Die: An Autobiography. Nova York, Random House,
1935, p.288.
“considerado o maior”: “André Gide Is Dead: Noted Novelist, 81”, disponível em
www.andregide.org/remembrance/nytgide.html.
“meninos roliços, de lábios carnudos, langorosos”: Posner, Donald. “Caravaggio’s Homo-Erotic
Early Works”, Art Quarterly 34, 1971, p.301-24.
Amantes de animais: zoófilos levam cientistas a repensar a sexualidade
humana
“Em considerável medida”: Alfred C. Kinsey, Wardell B. Pomeroy e Clyde E. Martin, Sexual
Behavior in the Human Male. Filadélfia: W. B. Saunders, 1948, p.675-6.
O primeiro estudo de caso: Christopher M. Earls e Martin L. Lalumière, “A Case Study of
Preferential Bestiality (Zoophilia)”, Sexual Abuse 14, n.1, 2002, p.83-8.
“Quando entrei na adolescência”: Christopher M. Earls e Martin L. Lalumière, “A Case Study of
Preferential Bestiality”, Archives of Sexual Behavior 38, n.4, 2009, p.606.
“Quando aquela égua preta”: Idem, p.606.
“Uma outra pesquisadora pioneira”: Hani Miletski, Understanding Bestiality and Zoophilia.
Bethesda, Md., publicação própria, 2002.
“A veemência com que”: Peter Singer, “Heavy Petting”, Nerve, disponível em
www.utilitarian.net/singer/by/2001----.htm.
“Duvidando, ao que parece”: Rebecca Cassidy, “Zoosex and Other Relationships with Animals”, in
Hastings Donnan e Fiona Magowan (orgs.), Transgressive Sex: Subversion and Control in Erotic
Encounters. Nova York, Berghahn Press, 2009, p.95.
estudo especialmente provocativo: Colin Williams e Martin Weinberg, “Zoophilia in Men: A Study
of Sexual Interest in Animals”, Archives of Sexual Behavior 32, n.6, 2004, p.523-35.
No livro de Maurice Temerlin: Maurice Temerlin, Lucy: Growing Up Human. Palo Alto, Science and
Behavior Books, 1975.
“Eu diria que nunca”: Nicole Prause e Cynthia A. Graham, “Asexuality: Classification and
Characterization”, Archives of Sexual Behavior 36, n.3, 2007, p.344.
“Simplesmente não sinto”: Kristin S. Scherrer, “Coming to an Asexual Identity: Negotiating Identity,
Negotiating Desire”, Sexualities 11, n.5, 2008, p.626.
Em 2004, ele analisou: Anthony F. Bogaert, “Asexuality: Prevalence and Associated Factors in a
National Probability Sample”, Journal of Sex Research 41, n.3, 2004, p.279-87.
“Eles não eram particularmente”: Prause e Graham, “Asexuality”, op.cit., p.344.
“Numa minoria pequena, mas não insignificante”: Havelock Ellis, Studies in the Psychology of Sex
(online-ebooks.info, 2004), 5, p.12.
“relatos sobre fetichismo de pé em homossexuais”: Martin S. Weinberg, Colin J. Williams e
Cassandra Calhan, “Homosexual Foot Fetishism”, Archives of Sexual Behavior 23, n.6, 1994,
p.611-26.
Num artigo subsequente: Martin S. Weinberg, Colin J. Williams e Cassandra Calhan, “‘If the Shoe
Fits…’: Exploring Male Homosexual Foot Fetishism”, Journal of Sex Research 32, n.1, 1995,
p.17-27.
Ellis adverte que: Ellis, Studies in the Psychology of Sex, 5, op.cit., p.19.
Um exemplo especialmente vívido: Jules R. Bemporad, H. Donald Dunton e Frieda H. Spady, “The
Treatment of a Child Foot Fetishist”, American Journal of Psychotherapy 30, n.2, 1976, p.303-16.
Cerca de uma década mais tarde: Juliet Hopkins, “A Case of Foot and Shoe Fetishism in a 6-Year-
Old Girl”, in Trevor Lubbe (org.), The Borderline Psychiatric Child: A Selective Integration.
Londres, Routledge, 2000, p.109-29.
Essa abordagem de viva e deixe viver: Joseph R. Cautela, “Behavioral Analysis of a Fetish: First
Interview”, Journal of Behavioral and Experimental Psychiatry 17, n.3, 1986, p.161-5.
Esta é a teoria intrigante: A. James Giannini et al., “Sexualization of the Female Foot as a Response
to Sexually Transmitted Epidemics: A Preliminary Study”, Psychological Reports 83, n.2, 1998,
p.491-8.
“Quando eu tinha quatro anos”: Narcyz Lukianowicz, “Imaginary Sexual Partner: Visual
Masturbatory Fantasies”, Archives of General Psychiatry 3, n.4, 1960, p.432.
Como relatam no estudo: Thomas J. Fillion e Elliott M. Blass, “Infantile Experience with Suckling
Odors Determines Adult Sexual Behavior in Male Rats”, Science 231, n.4739, 1986, p.729-31.
Num extraordinário artigo: Joanna B. Korda, Sue W. Goldstein e Frank Sommer, “The History of
Female Ejaculation”, Journal of Sexual Medicine 7, n.5, 2010, p.1.965-75.
liberação de quantidades “copiosas”: Amy L. Gilliland, “Women’s Experiences of Female
Ejaculation”, Sexuality and Culture 13, n.3, 2009, p.121-34.
uma equipe de pesquisadores egípcios: Ahmed Shafik et al., “An Electrophysiologic Study of
Female Ejaculation”, Journal of Sex and Marital Therapy 35, n.5, 2009, p.337-46.
uma equipe de tchecos: Milan Zaviačič et al., “Female Urethral Expulsions Evoked by Local Digital
Stimulation of the G-Spot: Differences in the Response Patterns”, Journal of Sex Research 24, n.1,
1988, p.311-18.
dúbia afirmação feita por: William H. Masters e Virginia E. Johnson, Human Sexual Response.
Nova York, Little, Brown, 1966.
“Antes ele dizia”: Gilliland, “Women’s Experiences of Female Ejaculation”, p.126.
O estranho caso das fag hags: mulheres que gostam de homens que
gostam de homens
“O orgasmo feminino é uma sensação”: Cindy M. Meston et al., “Women’s Orgasm”, Annual
Review of Sex Research 15, 2004, p.174.
Gould desenvolveu: Stephen Jay Gould, “Male Nipples and Clitoral Ripples”, in Bully for
Brontosaurus: Further Reflections in Natural History. Nova York, W.W. Norton, 1992, p.124-38.
De fato, foi Lloyd quem: Elisabeth A. Lloyd, The Case of the Female Orgasm. Cambridge, Mass.,
Harvard University Press, 2005.
Evidências baseadas em gêmeos: Kate M. Dunn, Lynn F. Cherkas e Tim D. Spector, “Genetic
Influences on Variation in Female Orgasmic Function: A Twin Study”, Biology Letters 1, n.3,
2005, p.260-3.
“o simples fato de algo”: David P. Barash, “Let a Thousand Orgasms Bloom! A Review of The Case
of the Female Orgasm by Elisabeth A. Lloyd”, Evolutionary Psychology 3, 2005, p.351.
A religiosidade é um outro: Sheryl A. Kingsberg e Jeffrey W. Janata, “Female Sexual Disorders:
Assessment, Diagnosis, and Treatment”, Urologic Clinics of North America 34, n.4, 2007, p.497-
506.
Usando dados de relatos pessoais: Todd K. Shackelford et al., “Female Coital Orgasm and Male
Attractiveness”, Human Nature 11, n.3, 2000, p.299-306.
orgasmos e a atratividade física: Randy Thornhill et al., “Human Female Orgasm and Mate
Fluctuating Asymmetry”, Animal Behaviour 50, n.6, 1995, p.1.601-15.
“Durante o orgasmo copulativo”: Danielle Cohen e Jay Belsky, “Avoidant Romantic Attachment and
Female Orgasm: Testing an Emotion-Regulation Hypothesis”, Attachment and Human
Development 10, n.1, 2008, p.1.
mulheres chinesas que namoravam: Thomas Pollet e Daniel Nettle, “Partner Wealth Predicts Self-
Reported Orgasm Frequency in a Sample of Chinese Women”, Evolution and Human Behavior 30,
n.2, 2009, p.146-51.
“é um sinal pelo qual”: Barash, “Let a Thousand Orgasms Bloom!”, op.cit., p.349.
A megera evoluída: por que as adolescentes são tão cruéis umas com as
outras?
“Jo é uma menina de quinze anos”: Rosalyn Shute, Laurence Owens e Phillip Slee, “‘You Just Stare
at Them and Give Them Daggers’: Nonverbal Expressions of Social Aggression in Teenage Girls”,
International Journal of Adolescence 10, n.4, 2002, p.353-72.
e refletissem sobre ela: Nicole H. Hess e Edward H. Hagen, “Sex Differences in Indirect Aggression:
Psychological Evidence from Young Adults”, Evolution and Human Behavior 27, 2006, p.231-45.
Num estudo relatado na: Qazi Rahman, Davinia Andersson e Ernest Govier, “A Specific Sexual
Orientation-Related Difference in Navigation Strategy”, Behavioral Neuroscience 119, n.1, 2005,
p.311-6.
num estudo de acompanhamento: Qazi Rahman e Johanna Koerting, “Sexual Orientation-Related
Differences in Allocentric Spatial Memory Tasks”, Hippocampus 18, n.1, 2008, p.55-63.
axilas de gays exalam: Ivanka Savic et al., “Smelling of Odorous Sex Hormone-Like Compounds
Causes Sex-Differentiated Hypothalamic Activations in Humans”, Neuron 31, n.4, 2001, p.661-8.
Uma das linhas de trabalho: Henry E. Adams, Lester W. Wright Jr. e Bethany A. Lohr, “Is
Homophobia Associated with Homosexual Arousal?”, Journal of Abnormal Psychology 105, n.3,
1996, p.440-5.
“um extensômetro circunferencial”: Idem, p.441.
“Acreditamos ser inexato”: Brian P. Meier et al., “A Secret Attraction or Defensive Loathing?
Homophobia, Defense, and Implicit Cognition”, Journal of Research in Personality 40, n.4, 2006,
p.388.
Alguns dos dados mais surpreendentes: Gregory M. Herek, Stigma and Sexual Orientation:
Understanding Prejudice Against Lesbians, Gay Men, and Bisexuals. Thousand Oaks, Sage, 1998.
um estudo posterior publicado: Jeffrey A. Bernat et al., “Homophobia and Physical Aggression
Toward Homosexual and Heterosexual Individuals”, Journal of Abnormal Psychology 110, n.1,
2001, p.179-87.
“amantes abandonados dedicam-se”: Helen E. Fisher, “Broken Hearts: The Nature and Risks of
Romantic Rejection”, in Ann C. Crouter e Alan Booth (orgs.), Romance and Sex in Adolescence
and Emerging Adulthood: Risks and Opportunities. Mahwah, N.J.: Lawrence Erlbaum, 2006, p.13.
“uma infidelidade a um parceiro”: Brad J. Sagarin et al., “Sex Differences (and Similarities) in
Jealousy: The Moderating Influence of Infidelity Experience and Sexual Orientation of the
Infidelity”, Evolution and Human Behavior 24, n.1, 2003, p.18.
Por exemplo, em 2010, quando um repórter: Boris Kachka, “The Kid Stays in the Picture”, Nova
York, 16 de maio de 2010, disponível em nymag.com/arts/theater/features/66008/.
Vários anos atrás: Trevor A. Hart et al., “Sexual Behavior Among HIV-Positive Men Who Have Sex
with Men: What’s in a Label?”, Journal of Sex Research 40, n.2, 2003, p.179-88.
num estudo que mostrou: David A. Moskowitz, Gerulf Rieger e Michael E. Roloff, “Tops, Bottoms,
and Versatiles”, Sexual and Relationship Therapy 23, n.3, 2008, p.191-202.
“Embora as autodesignações”: Hart et al., “Sexual Behavior Among HIV-Positive Men Who Have
Sex with Men”, p.188.
“essas relações também”: Moskowitz, Rieger e Roloff, “Tops, Bottoms, and Versatiles”, op.cit.,
p.199.
Um outro estudo intrigante: Matthew H. McIntyre, “Letter to the Editor: Digit Ratios, Childhood
Gender Role Behavior, and Erotic Role Preferences of Gay Men”, Archives of Sexual Behavior 32,
n.6, 2003, p.495-7.
“foi rever as evidências”: J. Michael Bailey e Kenneth J. Zucker, “Childhood Sex-Typed Behavior
and Sexual Orientation: A Conceptual Analysis and Quantitative Review”, Developmental
Psychology 31, n.1, 1995, p.44.
referem-se àquela longa lista: Ibid.
entrevistaram 25 mulheres adultas: Kelley D. Drummond et al., “A Follow-Up Study of Girls with
Gender Identity Disorder”, Developmental Psychology 44, n.1, 2008, p.34-45.
“aqueles alvos que, como adultos”: Gerulf Rieger et al., “Sexual Orientation and Childhood Gender
Nonconformity: Evidence from Home Videos”, Developmental Psychology 44, n.1, 2008, p.53.
Dados transculturais mostram: Fernando Luiz Cardoso, “Recalled Sex-Typed Behavior in
Childhood and Sports’ Preferences in Adulthood of Heterosexual, Bisexual, and Homosexual Men
from Brazil, Turkey, and Thailand”, Archives of Sexual Behavior 38, n.5, 2008, p.726-36.
num caso bastante espantoso: Helen W. Wilson e Cathy Spatz Wisdom, “Does Physical Abuse,
Sexual Abuse, or Neglect in Childhood Increase the Likelihood of Same-Sex Sexual Relationships
and Cohabitation? A Prospective 30-Year Follow-Up”, Archives of Sexual Behavior 39, n.1, 2010,
p.63-74.
Em meu livro The Belief Instinct: Jesse Bering, The Belief Instinct: The Psychology of Souls,
Destiny, and the Meaning of Life. Nova York, W.W. Norton, 2011.
“Se a punição sobrenatural é sustentada”: Dominic Johnson e Jesse Bering, “Hand of God, Mind of
Man: Punishment and Cognition in the Evolution of Cooperation”, Evolutionary Psychology 4,
2006, p.219-33.
Esta é uma expressão cunhada: Azim F. Shariff e Ara Norenzayan, “God Is Watching You: Priming
God Concepts Increases Prosocial Behavior in an Anonymous Economic Game”, Psychological
Science 18, n.9, 2007, p.803-9.
Um trabalho mais recente: Will Gervais e Ara Norenzayan, “Like a Camera in the Sky? Thinking
About God Increases Public Self-awareness and Socially Desirable Responding”, Journal of
Experimental Social Psychology (no prelo).
“Essa abordagem nos ajuda”: Deepak Malhotra, “(When) Are Religious People Nicer? Religious
Salience and the ‘Sunday Effect’ on Pro-Social Behavior”, Judgment and Decision Making 5, n.2,
2010, p.139.
Analisando os impudicos: Benjamin Edelman, “Red Light States: Who Buys Online Adult
Entertainment?”, Journal of Economic Perspectives 23, n.1, 2009, p.209-20.
“No final das contas”: Michael Blume, “The Reproductive Benefits of Religious Affiliation”, in E.
Voland e W. Schiefenhövel (orgs.), The Biological Evolution of Religious Mind and Behaviour.
Berlim, Springer Frontiers Collection, 2009, p.122.
“Os resultados são”: Idem, p.119.
“Alguns naturalistas estão tentando”: Idem, p.125.
“No cerne da questão”: Roy F. Baumeister, “Free Will in Scientific Psychology”, Perspectives on
Psychological Science 3, n.1, 2008, p.14.
O primeiro estudo que demonstrou: Kathleen D. Vohs e Jonathan W. Schooler, “The Value of
Believing in Free Will”, Psychological Science 19, n.1, 2008, p.49-54.
“‘Você’, suas alegrias e”: Francis Crick, The Astonishing Hypothesis: The Scientific Search for the
Soul. Nova York, Scribner, 1994, p.3.
“Se a exposição a mensagens”: Vohs e Schooler, “Value of Believing in Free Will”, op.cit., p.54.
“Algumas análises filosóficas”: Roy F. Baumeister, E.J. Masicampo e C. Nathan DeWall, “Prosocial
Benefits of Feeling Free: Disbelief in Free Will Increases Aggression and Reduces Helpfulness”,
Personality and Social Psychology Bulletin 35, n.2, 2009, p.267.
O rato que não parava de rir: alegria e hilaridade no reino animal
Muita gente reclamou de coisas que escrevi neste livro. Para grande
contrariedade delas, meu parceiro, Juan Quiles, aparece de vez em quando,
e sou-lhe muito grato por servir de musa, crítico e, falando de maneira mais
geral, o sempre misterioso yin para meu yang. Ele é uma das poucas
pessoas que conseguiram me manter continuamente conjecturando (o que
significa que introduz um saudável caos de que sempre preciso).
Meu agente, Peter Tallack, da Science Factory, foi um fantástico aliado
trabalhando incansavelmente nos bastidores. É muita sorte minha tê-lo
como meu representante, não só porque o considero um dos melhores
agentes em ação no mundo da ciência atualmente – isto dá a ideia de que é
um cafetão, minhas profundas desculpas, Peter –, mas também porque ele
em geral concorda comigo. Pelo menos é nisso que me faz acreditar.
Tenho também a sorte de ter colaborado neste projeto uma equipe
maravilhosa de editores e revisores. Em especial, minha editora Amanda
Moon, da Farrar, Straus and Giroux, e sua maravilhosa assistente Karen
Maine estiveram no leme, organizando esta coletânea. Amanda representa a
Pessoa Número Um no processo editorial; como a primeira leitora de meus
originais, é ela quem avalia os pontos fortes e, sem dúvida, as muitas
debilidades de meus ensaios antes que qualquer outro possa apontá-los para
mim. Sinto que deveria incluir uma daquelas ressalvas sobre “as atitudes e
opiniões aqui expressas são unicamente do autor e não refletem
necessariamente as de seu patrão”. Mas você entende o que quero dizer.
Estamos ambos, você e eu, em muito boas mãos com ela.
Um outro importante conjunto de editores foi o que surgiu muito antes
que este livro se materializasse, quando versões preliminares dos ensaios
foram publicadas on-line. Apoiando-me na conceituação e implementação
de minha coluna “Bering in Mind” na Scientific American, Karen Schrock
foi quem realmente me fez decolar. Não posso lhe agradecer o suficiente
por me proporcionar o escape para exercitar meus pensamentos obscenos e
lascivos – através da Scientific American, nada menos.
Mais recentemente, meu editor na revista Slate, Daniel Engber, também
contribuiu de maneira decisiva para que eu pudesse conversar com leitores
sobre tantos tópicos gloriosamente impróprios. Dan e eu compartilhamos
uma queda pelo absurdo e o científico, duas coisas que se harmonizam
muito naturalmente e podem ser uma mistura jubilosa quando as coisas dão
certo. Sou enormemente grato por trabalhar ao lado de Dan e aprender com
ele, em seu papel como editor mas também como um colega escritor.
Que seria de mim sem minha família? Estaria em condições muito
piores, na certa. Suponho que durante muito tempo, os membros de minha
família não souberam muito bem como responder à pergunta de qual era
meu ganha-pão. Obrigado de qualquer maneira, papai, Linda, Stacey(s),
Adam, Jodi, Jakob, Gianni, Sydney e aqueles que estão entre os muitos fios
próximos mas dispersos dos Bering e Roth.
Talvez as pessoas mais importantes a agradecer, contudo, sejam os
cientistas e estudiosos que fizeram o trabalho duro de verdade. Meus
resumos aqui são apenas pálidos relatos de sua inventividade e, muitas
vezes, gênio. Entre os que eu gostaria de mencionar especificamente por
suas contribuições e ajuda ao longo do percurso estão: Gordon Gallup,
Becky Burch, Ray Blanchard, Ara Norenzayan, Denys deCatanzaro, Roy
Baumeister e Michael Blume. Jonathan Jong foi um assistente engenhoso,
que gentilmente me enviou da Nova Zelândia mais de um artigo obscuro.
Eu também gostaria de agradecer ao pessoal do Kinsey Institute em
Bloomington, Indiana, por me acolher como um estudioso independente.
Por fim, permitam-me ao final meditar, com sincera e sorridente
gratidão, sobre alguns dos heróis de meu dia a dia, meus melhores amigos
não humanos, “Big Tommy”, Gulliver e Uma.
Índice remissivo
Aché, 1
acne, 1-2
ansiedade, 1-2
evolução, 1-2
genética, 1
tratamento, 1
acrotomofilia, 1
Adams, Henry, 1, 2, 3
adolescentes, 1, 2-3
como megeras, 1-2
comportamento típico de sexo, 1-2, 3-4
do sexo feminino, 1, 2-3
do sexo masculino, 1-2
homossexuais, 1-2, 3-4, 5-6
masturbação, 1
sexo com, 1-2
suicídio de adolescentes gays, 1-2, 3-4
África, 1, 2
agressão feminina, 1-2
agressão, 1-2, 3
comportamento de proteção do cônjuge, 1-2
feminina, 1-2
“hipótese da baixa velocidade/agressividade elevada”, 1
homofobia, 1-2
masculina, 1, 2-3
Aids, 1, 2, 3-4, 5-6, 7
álcool, 1, 2, 3
Alemanha, 1, 2-3, 4-5
nazista, 1-2
algolagnia, 1
amamentação, 1
América do Sul, 1, 2
American Journal of Psychiatry, The, 1, 2
American Journal of Psychotherapy, 1
American Psychiatric Association, 1
American Psychological Association, 1-2
americanos nativos, 1
amish, 1-2
amnésia, 1
Andersen, Hans Christian, 1
Andersen, Monica, 1
androgênios, 1
animais ver animais específicos; zoofilia
Annual Review of Sex Research, 1
ansiedade, 1, 2
acne, 1-2
ereção e, 1
homofobia, 1-2
morte, 1
suicídio e, 1-2
antiadrenérgicos, 1
antibióticos, 1
antidepressivos, 1, 2
sêmen como, 1-2
antropofagia, 1-2
apatia, 1
aptidão genética inclusiva, 1, 2-3
aranhas-de-dorso-vermelho, 1, 2
Archives of General Psychiatry, 1, 2
Archives of Sexual Behavior, 1, 2, 3, 4, 5
Aristóteles, 1
Arnedo, Vanessa, 1
assexualidade, 1-2
essencialismo, 1-2
genética e, 1
assimetria, 1
testicular, 1-2
astecas, rituais de canibalismo dos, 1
ateísmo, 1-2
Austrália, 1, 2
australopitecíneos, 1-2
autocunilíngua, 1
autofelação, 1-2
homossexualidade e, 1-2
auto-irrumatio, 1, 2
automatismo, 1
Aven, 1
babuínos, 1
canibalismo, 1
Bailey, J. Michael, 1-2
Baker, Robin, 1-2
Barash, David, 1, 2
barebacking, 1-2
Bartholin, Thomas, 1
Bartlett, Nancy, 1, 2
Batts, Shelley, Behavioral Sciences and the Law, 1
Baumeister, Roy, 1, 2-3, 4, 5
teoria da fuga de, 1-2
Beauvoir, Simone de, 1
Becker, Ernest, A negação da morte, 1
Behavioral Neuroscience, 1
Behavioural Brain Research, 1, 2
Beirne, Piers, 1
Belfast, 1
Belief Instinct, The (Bering), 1
Bellis, Mark, 1-2
Belsky, Jay, 1
Bemporad, Jules, 1
benzodiazepínicos, 1
Bering, Vitus, 1
bestialismo, 1-2
Bhowmick, Samar, 1
Bíblia, 1, 2, 3
bissexualidade, 1, 2, 3, 4, 5
Bixler, Ray, 1
Blanchard, Ray, 1-2, 3-4
Blass, Elliott, 1, 2
Blume, Michael, 1, 2, 3, 4
bodes, sexo com, 1
Body Image, 1
Bogaert, Anthony, 1-2, 3
bonobo, 1, 2
“borrachofilia”, 1-2
Brain Research Reviews, 1
Brasil, 1
British Journal of Health Psychology, 1-2
Brookfield, John, 1
Bucy, Paul, 1
Burch, Rebecca, 1, 2, 3, 4-5
Burke, William, 1
Burns, Jeffrey, 1
Burroughs, William, Almoço nu, 1
Butts, Nancy, 1
cachorros, 1
sexo com, 1, 2, 3, 4
Campbell, Anne, 1
câncer, 1-2
canibalismo, 1-2, 3
fome, 1, 2, 3, 4-5
genética e, 1-2
médico, 1
ritual, 1-2, 3
sociopático, 1-2
tabu, 1, 2
caranguejos, 1-2
Caravaggio, 1, 2
Carroll, Lewis, As aventuras de Alice no País das Maravilhas, 1
Cassidy, Rebecca, Transgressive Sex: Subversion and Control in Erotic
Encounters, 1
castração, 1-2
Cautela, Joseph, 1
cavalos, sexo com, 1, 2, 3, 4-5, 6-7, 8
Cavenar, Jesse, 1
cemitérios, 1-2, 3-4
Centers for Disease Control and Prevention, 1
Cercocebus albigena, 1
cérebro, 1-2, 3, 4
consumo, 1
dano, 1-2
epiléptico, 1-2
ereções relacionadas ao sono, 1-2
evolução, 1, 2
homossexualidade e, 1-2
livre-arbítrio e, 1-2
masturbação e, 1-2
neuroanatomia, 1-2
pedofilia e, 1-2
regiões, 1
riso e, 1-2
sistemas libidinais e, 1-2
suicídio e, 1-2
cheiro, 1
chimpanzés, 1, 2-3, 4-5, 6-7, 8
masturbação, 1
pênis, 1, 2-3
sêmen, 1-2
sexo com, 1-2
suicídio, 1-2, 3
teste do autorreconhecimento no espelho, 1
China, 1
canibalismo na, 1
Cho, Margaret, 1
chupador de pau (expressão), 1-2
Churchett, Libby, 1
circuncisão, 1-2
teoria do desalojamento do sêmen e, 1-2
ciúme sexual, 1-2
clamídia, 1-2
Clark, Anne, 1
Clementi, Tyler, 1
Clinical Pediatrics, 1
clitóris, 1, 2-3, 4
clonazepam, 1
cobras, sexo com, 1
coelhos, sexo com, 1-2
Cohen, Danielle, 1
Cohen, David, 1
colículos, 1, 2
colo do útero, 1, 2, 3
Colômbia, 1
Colombo, Matteo Realdo, 1
coma, causado por encefalite, 1, 2
Comunidade Oneida, 1-2
concepção, 1
conjuntivas, 1
Consoli, Angèle, 1
continência masculina, 1
contracepção, 1, 2
contraceptivos orais, 1
coprofagia, 1
copulação ver sexo
córtex cingulado anterior, 1
córtex pré-frontal dorsolateral, 1
córtex pré-frontal, 1
cortisol, 1
Cotard, Jules, 1
Craig, Larry, 1
Crane, Hart, 1
cremação, 1-2
crenças na vida após a morte, 1, 2
crianças, 1-2
abuso sexual de, 1-2, 3, 4-5
comportamento típico de sexo, 1-2
comportamentos hipersexualizados, 1, 2
desenvolvimento sexual de, 1-2, 3-4
fantasias, 1
fetichismo do pé, 1-2, 3-4
interesse por brinquedos, 1
pré-homossexuais, 1-2
puberdade precoce, 1-2
religião e reprodução, 1-2
Crick, Francis, A hipótese espantosa, 1
criminalidade:
fantasia sexual e, 1-2
pedofilia e, 1-2
suicídio e, 1-2
cristianismo, 1-2, 3-4
culturas primitivas, suicídio em, 1-2
cunilíngua, 1, 2-3, 4, 5
autocunilíngua, 1-2, 3-4
pelo pubiano e, 1-2
Current Psychiatry, 1
Current Biology, 1
D’Annunzio, Gabriele, 1
Dahmer, Jeffrey, 1
dano cerebral, 1-2
hipersexualidade e, 1-2
pedofilia e, 1-2
Darwin, Charles, 1, 2, 3
David, Gerard, 1
David, Larry, 1
de Graaf, Reimer, 1-2
deCatanzaro, Denys, 1-2
modelo matemático de autopreservação e autodestruição, 1
sobre suicídio adaptativo, 1-2, 3
deficiências na orientação espacial e homossexualidade, 1-2
Dekkers, Midas, Dearest Pet, 1
Descartes, René, 1
desígnio inteligente, 1
determinismo, 1-2
Developmental Psychology, 1, 2
direitos dos gays, 1
disforia de gênero, 1-2
distúrbio de identidade de gênero, 1-2
distúrbio do desejo sexual hipoativo, 1
DNA, 1, 2
doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ), 1
doença de origem alimentar, 1
doença de Pick, 1
doença, e canibalismo, 1
Donatello, 1
dopamina, 1
dor, 1
suicídio, 1-2
testicular, 1, 2-3
drogas, 1, 2-3, 4
administração vaginal, 1-2
facilitadoras do estupro, 1
Drummond, Kelley, 1
DSM, 1, 2-3
fadiga, 1
fag hags, 1-2
estereótipos negativos, 1-2
na televisão, 1, 2-3
fantasias, 1-2
durante o sexo, 1-2
infância, 1-2
masturbação, 1-2
felação, 1, 2-3, 4-5, 6-7, 8, 9, 10
autofelação, 1-2
pé, 1-2
pelo pubiano e, 1-2
pornografia masculina gay, 1-2
felicidade, 1, 2-3
de primatas não humanos, 1-2
padrões exorbitantes para, 1-2
riso e, 1-2
sêmen e, 1
Fenwick, Peter, 1
ferimentos testiculares, 1, 2-3
feromônios, 1-2
pelo pubiano e, 1
sincronia menstrual e, 1-2
Ferrell, Will, 1
fertilização, 1, 2, 3, 4, 5
fertilização in vitro, 1
fetiche de sapato, 1, 2, 3, 4
fetichismo de pé, 1-2
crianças, 1-2, 3-4
homossexual, 1-2, 3-4, 5
fetichismo ver fetiches específicos
fetichismos, 1-2, 3-4, 5
ver também fetiches específicos
Fillion, Thomas, 1-2
Finn, Mary, 1
Finn, Michael, 1
Fisher, Helen, 1-2
focas, 1
Foley, Mark, 1
Folia Primatologica, 1
Foot Fraternity, 1, 2, 3-4
forças armadas, 1
autofelação e, 1-2
homossexualidade nas, 1, 2
proscrição dos gays com a política do “Não pergunte, não conte”, 1
sexônia, 1
suicídio, 1-2
fórnice, 1-2
Fort, Joseph Auguste Aristide, 1
fosfatase ácida prostática, 1-2
França, 1, 2, 3, 4, 5, 6
Franklin, Karen, 1
frênulo, 1
Freud, Sigmund, 1, 2, 3, 4, 5
Fry, Stephen, 1
Gajdusek, Carleton, 1
Gallup, Gordon, 1-2, 3-4, 5-6
hipótese da ativação, 1-2
sobre a química do sêmen, 1-2
teoria do desalojamento do sêmen, 1-2
gatos, 1-2,
pênis, 1-2
sexo com, 1-2
gêmeos fraternos, 1
gêmeos idênticos, 1-2
gêmeos, 1-2, 3-4
ejaculação, 1-2
fraternos, 1-2, 3-4
idênticos, 1-2
Genet, Jean, 1
genética, 1, 2, 3, 4-5
acne e, 1-2
assexualidade e, 1-2
canibalismo e, 1-2
ejaculação precoce e, 1-2
homossexualidade e, 1-2, 3-4
livre-arbítrio e, 1, 2-3
orgasmo feminino e, 1, 2
religião e, 1-2
suicídio e, 1-2
gerontofilia, 1, 2-3
Gervais, Will, 1
Giannini, James, 1-2
Gide, André, 1-2
Gilbert, Paul, 1
Gilliland, Amy, 1-2
glândula pineal, 1, 2
glândulas sebáceas, 1-2
gônadas, 1-2
gonorreia, 1-2, 3-4
Goodall, Jane, 1, 2
gorilas, 1
pelo, 1-2
pênis, 1
piolhos, 1-2
Gould, Stephen Jay, 1, 2, 3
“Male Nipples and Clitoral Ripples”, 1
Gräfenberg, Ernst, 1
Graham, Cynthia, 1
Grande Salto Adiante, 1
Grandfield, Tracey, 1
gravidez, 1-2
Grécia antiga, 1, 2, 3, 4
suicídio na, 1
grupos de defesa dos direitos dos animais, 1, 2
Guy, William, 1
Igreja católica, 1, 2
ilhéus kitavan, 1
imortalidade simbólica, 1-2
imunossupressores, 1
Índia, 1, 2
infantofilia, 1-2
infidelidade, 1, 2, 3-4
mesmo sexo, 1-2
ingestão da placenta, 1
Inglaterra, 1
inibidores seletivos da recaptação da serotonina, 1-2
inseminação, 1, 2, 3
Instruções secretas concernentes à câmara de jade, 1
International Classification of Sleep Disorders, Revised, The, 1
International Journal of Adolescence and Youth, 1
International Journal of Impotence Research, The, 1
internet, 1, 2
pornografia, 1, 2-3, 4
Inventário Beck de Depressão, 1
ioga, 1, 2
Irlanda do Norte, 1, 2, 3
Irlanda, 1, 2, 3, 4
Itália, 1
Kahn, Eugen, 1, 2
Kama Sutra, 1
Kellett, Stephen, 1
Kessler, Morris, 1
Kinsey Institute for Sex Research, 1, 2
Kinsey, Alfred, 1, 2, 3, 4, 5, 6
Comportamento sexual no macho humano, 1, 2
Klüver, Heinrich, 1
Koerting, Johanna, 1
Korda, Joanna, 1, 2, 3
“kuru”, 1
macacos, 1, 2, 3-4
masturbação, 1-2
riso, 1-2
sexo com, 1
macacos-esquilo, canibalismo em, 1-2
Maddow, Rachel, 1
mágoa profunda, 1, 2
no poliamor homossexual, 1-2
Malhotra, Deepak, 1-2
Judgment and Decision Making, 1
mamangabas, 1, 2, 3-4
Mann, Thomas, Morte em Veneza, 1
Martins, Yolanda, 1
Masters e Johnson, 1
Masters, William, 1
masturbação em Procolobusbadius, 1-2
masturbação, 1, 2-3, 4, 5-6, 7-8, 9, 10, 11-12
em adolescentes, 1
em primatas não humanos, 1-2
fantasias, 1-2
homossexualidade e, 1-2, 3-4
orgasmo feminino, 1-2
pública, 1, 2-3
sexônia, 1-2
McClanahan, Rue, 1
McClintock, Martha, 1
McIntyre, Matthew, 1
Medical Hypotheses, 1
Medicine, Science, and the Law, 1
Meier, Brian, 1, 2
Meiwes, Armin, 1-2
melatonina, 1
memória, 1, 2, 3
meninas adolescentes como megeras, 1-2
menstruação, 1-2
feromônios e, 1-2
sincronia, 1-2
Meston, Cindy, 1
México, 1
Meyer, Martin, 1
Michelangelo, 1, 2, 3
Miletski, Hani, 1
Millay, Edna St. Vincent, 1
Millican, Frances, 1
monogamia, 1
Montel Williams Show, The, 1
morte, 1,-2, 3
ansiedade, 1
imortalidade simbólica, 1-2
indústria, 1
práticas de sepultamento, 1-2
produtos químicos embalsamadores, 1
síndrome de Cotard, 1
suicídio, 1-2
muçulmanos, 1-2
mulheres:
acne, 1
agressão, 1-2
assexuadas, 1, 2-3
atividade genital noturna, 1
autocunilíngua, 1-2
efeitos antidepressivos do sêmen, 1-2
ejaculação feminina, 1-2
fag hags, 1-2
fantasias masturbatórias, 1-2
orgasmo, 1, 2-3, 4-5, 6-7, 8-9
química do sêmen e, 1-2
remoção do pelo pubiano, 1-2
saúde pós-menopausa, 1-2
sexônia, 1, 2, 3
sincronia menstrual, 1-2
Mullally, Megan, 1
Murray, Craig, 1
Muscarella, Frank, “teoria da formação de aliança”, 1-2
músculo cremastérico, 1-2
músculo pubococcígeo, 1
Oceania, 1
ocorrências noturnas:
crises convulsivas, 1
sexo, 1, 2, 3-4
sexônia, 1-2
tumefação peniana noturna (TPN), 1-2
olho, 1
Olry, Régis, 1-2
orangotango, 1-2
pênis, 1-2
orgasmo feminino, 1, 2-3, 4-5, 6-7
genética e, 1, 2
lésbico, 1
masturbatório, 1-2
renda do homem e, 1-2
retenção do esperma e, 1
orgasmo, 1-2, 3, 4, 5
através da penetração vaginal, 1
efeito de “sedação” do, 1-2
falta de, 1
feminino, 1, 2-3, 4, 5-6, 7-8
masculino, 1, 2, 3
masturbação, 1, 2, 3
orientação erótica de idade, 1-2
Orland, Frank, 1
ovários, 1, 2
ovulação, 1-2
induzida, 1
oculta, 1
óvulo:
fertilização, 1, 2, 3, 4, 5
liberação, 1-2
oxitocina, 1
Rahman, Qazi, 1, 2
ratos, 1-2
riso, 1-2
refluxo, 1
Reforma Protestante, 1
Rekers, Eddie, 1
religião, 1-2
cristianismo, 1-2
evolução e, 1-2
genética e, 1-2
hipótese do monitoramento sobrenatural, 1-2
homofobia motivada pela, 1
práticas de sepultamento, 1-2
reprodução e, 1-2
reprodução, como imperativo de Deus, 1-2
resos, 1, 2
cérebro, 1
sexo, 1-2
Rétif de la Bretonne, 1
Monsieur Nicolas, 1
retifism, 1
Rhodes, Katherine, 1-2
riqueza e orgasmo feminino, 1-2
riso, 1-2
alegre, 1-2, 3
cérebro e, 1-2
como um sinal social, 1-2
de escárnio, 1, 2
de primatas não humanos, 1-2
do infortúnio alheio, 1-2, 3
humano, 1-2
por cócegas, 1, 2
Roma, antiga, 1
suicídio na, 1-2
Rússia, canibalismo na, 1
Sacks, Oliver, 1
“sacudidela peniana”, 1
Sagarin, Brad, 1
Sagawa, Issei, 1
sâmbias, rituais de ingestão de sêmen dos, 1-2
Sammis, Becky, 1
sangue, 1
vasos, 1
São Francisco, 1
Sartre, Jean-Paul, Entre quatro paredes, 1
Saturday Night Live, 1
Savage, Dan, 1
Schenck, Carlos, 1, 2
Schooler, Jonathan, 1-2
Science, 1
Segunda Guerra Mundial, 1
Segura a onda, 1-2
seios, 1
seleção de parentesco, 1
seleção natural, 1, 2-3, 4, 5-6, 7-8, 9, 10, 11, 12
sêmen, 1-2, 3
efeitos antidepressivos do, 1-2
ejaculação precoce, 1-2
evolução, 1-2
felicidade e, 1
hormônios HFE e HL no, 1-2
ingestão oral de, 1, 2-3
química, 1-2
rituais de ingestão, 1-2
teoria do desalojamento, 1-2
sepultamento sob árvore específica, 1-2
serotonina, 1
Sex Roles, 1
sexo anal, 1-2, 3, 4, 5, 6
barebacking, 1-2
desprotegido, 1-2
pornografia masculina gay, 1-2
preferências de papel sexual, 1-2
sexônia, 1, 2
termos de gíria, 1
sexo interespecífico, 1-2
sexo oral ver cunilíngua; felação
sexo, 1, 2-3
ausência de desejo, 1-2
autofelação, 1-2
de grupo, 1-2, 3
ejaculação feminina, 1-2
ejaculação precoce, 1-2
empatia e, 1-2
fantasias durante, 1-2
interespecífico, 1-2
noturno, 1, 2, 3-4
orientação erótica de idade, 1-2
ovulação induzida durante, 1-2
poliamor, 1-2
química do sêmen e, 1-2
relacionado ao sono, 1-2
retração dos testículos durante, 1, 2-3
teoria do desalojamento do sêmen, 1-2
vagina penetrada por pênis, 1-2, 3, 4-5, 6
vigoroso, 1-2
ver também tipos específicos de sexo
sexônia, 1-2
estupro, 1, 2
homossexualidade, 1-2, 3
sonambulismo e, 1-2
Shackelford, Todd, 1-2, 3
Shaffer, Peter, Equus, 1
shakers, 1
Shakespeare, William, 1
Hamlet, 1
Shapiro, Colin, 1
Shariff, Azim, 1
Shields, Brooke, 1
Shneidman, Edwin, 1
sífilis, 1-2
síndrome de Cotard, 1
síndrome de Klüver-Bucy, 1-2
síndrome de Turner, 1
Singer, Peter, 1-2, 3
sistema límbico, 1
Smith, John Maynard, 1
Sociedade Francesa de Pesquisa do Sono, 1
Sociological Review, The, 1
sonambulismo, 1
sexônia e, 1-2
sonhos molhados, 1, 2
sono REM, 1, 2, 3, 4
sono, 1-2
ereções durante, 1-2
REM, 1, 2, 3, 4
sexônia, 1-2
Spaulding, Jean, 1
St. Clair, Margaret, To Serve Man: A Cookbook for People, 1
Starin, E.D., 1-2
Stekel, Wilhelm, 1
Suécia, 1
Suíça, 1-2
Suicide and Life-Threatening Behavior, 1-2
suicídio adaptativo, 1-2, 3
suicídio, 1-2
adaptativo, 1-2, 3
afeto negativo e, 1-2
animais não humanos, 1-2, 3-4
autoconsciência elevada e, 1-2
baixa autoestima e, 1-2
cérebro e, 1-2
desinibição comportamental e, 1-2
desconstrução cognitiva e, 1-2
em adolescentes gays, 1-2, 3-4
em culturas primitivas, 1-2
evolução e, 1-2
genética e, 1-2
homossexualidade e, 1-2, 3-4, 5-6
métodos, 1-2
prisão, 1-2
padrões exorbitantes e, 1-2
teoria da fuga, 1-2
Sulzberger, Marion, 1
Supergatas, 1
Swerdlow, Russell, 1
Symons, Donald, 1, 2, 3
Szameitat, Diana, 1
taoismo, 1
teleiofilia, 1, 2-3
televisão, 1, 2
fag hags na, 1, 2-3
Temerlin, Maurice, Lucy: Growing Up Human, 1
temperatura, 1
esperma, 1, 2-3
testículos, 1, 2-3
teoria da formação de aliança, 1-2
teoria de desalojamento do sêmen, 1-2
testagem falométrica, 1-2, 3
Teste de Associação Implícita, 1
teste do autorreconhecimento no espelho, 1-2
Testemunhas de Jeová, 1-2
testículos, 1-2, 3, 4
assimetrias, 1-2
descidos, 1-2
dor, 1, 2-3
evolução, 1-2
ferimentos, 1, 2-3
hipótese da ativação, 1-2
reflexo cremastérico e, 1-2
retração durante excitação sexual, 1, 2-3
temperatura, 1, 2-3
testosterona, 1, 2, 3
Thornhill, Randy, 1
Tiggemann, Marika, 1
“Tlem”, 1
“Tleo”, 1
travestismo, 1-2
Trivers, Robert, 1
trompas de falópio, 1
Trust for Natural Legacies, 1
Universidade Flinders, 1
University College, London, 1-2
urofagia, 1
útero, 1-2
orgasmo feminino e, 1
vagina, 1, 2, 3, 4
administração de drogas via, 1-2
ejaculação feminina, 1-2
lubrificação, 1-2
penetrada por pênis, 1-2, 3-4, 5-6, 7
química do sêmen e, 1-2
teoria do desalojamento do sêmen, 1-2
Vallacher, Robin, 1
van Orden, Kimberly, 1, 2, 3
van Diemerbroeck, Isbrand, 1
ventrículos, 1
View, The, 1
virgindade, 1, 2
vitiligo, 1-2
Vohs, Kathleen, 1-2
voyeurismo, 1
vulva, 1
vulva cerebri, 1
Walsh, Seth, 1
Warhol, Andy, 1
Warner, Dan, 1, 2
Wegner, Daniel, 1
Weinberg, Martin, 1, 2-3, 4
Weiss, Robin, 1, 2-3
Wilde, Oscar, 1-2, 3, 4
Will & Grace, 1
Williams, Colin, 1
Willis, Thomas, 1
Winslow, Jacques-Bénigne, 1-2
Wright, Lester, Jr., 1
Zaidens, Sadie, 1
Zander, Thomas, 1
zoofilia, 1-2
evolução e, 1-2
homossexual, 1-2
Zucker, Kenneth, 1-2
Título original:
Why Is the Penis Shaped Like That?
(…And Other Reflections on Being Human)
A maioria dos ensaios neste livro apareceu primeiro na Scientific American, como colunas on-line e
em versões diferentes. Os ensaios “Tão perto e tão longe: a contorcida história da autofelação”, “A
história natural do canibalismo”, “Devassos por natureza:quando um dano cerebral torna pessoas
muito, muito despudoradas” e “Como o cérebro adquiriu suas nádegas: travessura medieval em
neuroanatomia” foram publicados originalmente na Slate, em versões diferentes.
ISBN: 978-85-378-1036-1