Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Mestrado em Educação
2003
O DILEMA DO PROFESSOR: FORMAR PARA QUÊ?
Influência do nível de exigência conceptual dos exames
nacionais de biologia na recontextualização pedagógica e na
aprendizagem científica de alunos socialmente diferenciados
2003
AGRADECIMENTOS
Este estudo apenas se tornou possível devido ao apoio e ajuda de várias pessoas e
instituições. A todos desejo expressar o meu agradecimento.
Em primeiro lugar, o meu especial agradecimento vai para a Professora Isabel Neves,
orientadora da tese, pelo seu profissionalismo e exigência conciliados com uma invulgar
simpatia e humanidade.
Ao meu marido e às minhas filhas, pela minha ausência frequente e pela paciência
demonstrada naqueles momentos mais difíceis...
Por fim, à Maria, cujo apoio foi fundamental para colmatar algumas falhas informáticas
e ao Filipe, pela abertura dos meus “horizontes” poéticos.
i
RESUMO
Esta investigação teve como finalidade detectar possíveis inconsistências no sistema educativo
português (no âmbito da área das ciências no ensino secundário) e a influência daí decorrente na
qualidade das práticas pedagógicas e nos resultados nos exames nacionais de alunos socialmente
diferenciados. Com base nos dados da investigação, pretendia-se reflectir sobre as opções da
escola/professor perante o dilema: “Formar para quê?” e questionar a pertinência dessas opções,
tendo em conta os níveis de sucesso obtidos nos exames nacionais de biologia por alunos
socialmente diferenciados.
O estudo partiu de dois problemas centrais: 1) Em que medida a tipologia de exames nacionais de
biologia do ensino secundário condiciona a relação entre as competências valorizadas ao nível
do programa (currículo intencional) e as competências desenvolvidas ao nível da prática
pedagógica dos professores (currículo implementado)?; 2) Em que medida o nível de exigência
conceptual promovido nas práticas pedagógicas dos professores pode influenciar os resultados
nos exames nacionais (currículo atingido) de alunos socialmente diferenciados? Com base nestes
problemas, foram estabelecidos os seguintes objectivos do estudo que orientaram os
procedimentos metodológicos de recolha e análise de dados: a) Comparar as competências
propostas nos actuais programas de biologia do ensino secundário com aquelas que são avaliadas
nos exames nacionais de 12º ano; b) Analisar a evolução das competências “desenvolvidas” ao
nível das práticas pedagógicas dos professores no decurso do ensino secundário (10º, 11º, e 12º
anos); c) Analisar o tipo de recontextualização do programa expresso na prática pedagógica de
professores de escolas socialmente diferenciadas; d) Comparar os resultados, nos exames
nacionais de biologia, de alunos socialmente diferenciados sujeitos a práticas pedagógicas com
diferentes níveis de exigência conceptual.
iii
Partindo destes problemas e objectivos, utilizaram-se, como fontes de dados, os textos seguintes:
programas de C.T.V. de 10º e 11º anos e de biologia de 12º ano; testes de avaliação sumativa (das
mesmas disciplinas/anos) de professores de diferentes escolas; prova de exame nacional de
biologia de 2000/2001; entrevistas aos professores; os resultados, nos exames nacionais de
2000/2001, obtidos pelos alunos internos das escolas seleccionadas.
O estudo envolveu quatro escolas da zona de Lisboa e professores e alunos de biologia do ensino
secundário dessas escolas. As escolas eram diferentes na composição social da sua população
discente e correspondiam a escolas que, no ano lectivo de 2000/2001, haviam revelado resultados
diferentes nos exames nacionais de biologia.
O estudo indicia uma necessidade urgente de conferir coerência a todo o sistema de ensino,
remodelando a tipologia do exame nacional no sentido de lhe conferir uma composição
equilibrada no âmbito de todas as competências que enformam o processo cognitivo da
aprendizagem e, simultaneamente, de reformulação dos programas de forma a adequá-los
relativamente ao equilíbrio conteúdos/ competências. No sentido de viabilizar essa mudança, o
estudo apela a uma reflexão que permita apurar qual o/os poder/res que mantêm, de longa data,
estas inconsistências. O estudo contribui ainda para uma reflexão sobre o significado da
classificação das escolas nos “rankings” em termos da qualidade do ensino que promovem, já que
essa avaliação das escolas não clarifica devidamente sobre a efectiva qualidade promovida,
tendendo, em alguns casos, a exaltar níveis de qualidade que entram em contradição com o baixo
nível de exigência conceptual promovido.
iv
ÍNDICE
Agradecimentos .................................................................................................................i
Resumo ............................................................................................................................iii
Índice ................................................................................................................................v
Lista de quadros e figuras................................................................................................ix
v
3.3. Análise do exame nacional de biologia de 2000/2001 ................................67
3.3.1. Construção do instrumento de análise ..............................................67
3.3.2. Validade e fidelidade do instrumento de análise ..............................70
3.3.3. Análise e tratamento de dados ..........................................................71
3.4. Análise da prática pedagógica das professoras............................................72
3.4.1. Análise dos testes .............................................................................72
3.4.2. Entrevista ..........................................................................................75
vi
5. Relação entre o nível de exigência conceptual das escolas estudadas
e os resultados nos exames de alunos socialmente diferenciados ....................120
Bibliografia............................................................................................................141
Anexos....................................................................................................................155
Anexo1. Análise de programas...............................................................................157
Anexo 2. Instrumento de análise dos testes de avaliação .......................................165
Anexo 3. Análise da prova de exame .....................................................................173
Anexo 4. Análise dos testes das escolas (A,B,C e D) ............................................177
Anexo 5. Guião de entrevista .................................................................................205
vii
LISTA DE QUADROS E FIGURAS
Capítulo 1.
Figura 1.1. Esquema síntese da investigação ...................................................................7
Capítulo 2.
Figura 2.1. Modelo do discurso pedagógico ..................................................................14
Figura 2.2. Metodologia de investigação sociológica ....................................................19
Capítulo 3.
Quadro 3.1.Resultados do estudo exploratório da análise de todos os testes.................73
Capítulo 4.
Quadro 4.1. Ênfase relativa atribuída no programa às competências cognitivas
simples (CS) e complexas (CC) ................................................................86
Figura 4.1. Ênfase atribuída no exame nacional de biologia às competências
simples e complexas ..................................................................................87
Figura 4.2. Comparação do nível de exigência conceptual do programa e do
exame nacional de biologia .......................................................................88
Quadro 4.2. Análise dos testes sumativos na escola A..................................................89
Figura 4.3. Relação entre o nível de exigência nos testes de 12º ano da escola
A, nos programas e no exame....................................................................91
Quadro 4.3. Análise dos testes sumativos na escola B..................................................94
Figura 4.4. Relação entre o nível de exigência nos testes de 12º ano da escola
B, nos programas e no exame....................................................................96
Quadro 4.4. Análise dos testes sumativos na escola C..................................................99
Figura 4.5. Relação entre o nível de exigência nos testes de 12º ano da escola
C, nos programas e no exame..................................................................102
Quadro 4.5. Análise dos testes sumativos na escola D................................................108
Figura 4.6. Relação entre o nível de exigência nos testes de 12º ano da escola
D, nos programas e no exame..................................................................110
Figura 4.7. Comparação da relação CS/CC nos testes sumativos das
diferentes escolas.....................................................................................113
Figura 4.8. Relação entre o nível de exigência conceptual correspondente às
diferentes escolas e a classificação interna/classificação no exame ..........120
ix
“... Os grandes ideais humanistas frequentemente são acompanhados de
INTRODUÇÃO
1. INTRODUÇÃO
3
sua plenitude, já que, tal como se pretende investigar no âmbito deste estudo, parece
haver indícios de que a tipologia de exames nacionais de biologia assim o determina.
Esta tendência do nosso sistema de ensino, entra em contradição com as sugestões mais
recentes dos currículos nacionais e internacionais que apontam para uma preparação dos
alunos que permita perpetuar as aprendizagens ao longo da vida¹, o que pressupõe uma
participação activa dos alunos na construção do conhecimento, facultando uma
integração lógica dos conceitos, em oposição à postura passiva dos alunos, inibidora de
raciocínios complexos, envolvendo apenas a reconstrução de conhecimento previamente
elaborado, disponibilizado pelo professor ou pelo manual escolar (OCDE, 2002). Estas
sugestões encontram-se em sintonia com as investigações internacionais que apontam
para um consenso relativamente às vantagens de um processo de ensino aprendizagem
de cariz construtivista (Gil-Pérez et al, 2002). Na sequência destes raciocínios, parecem
fazer sentido os resultados do TIMSS (Third International Mathematics and Science
Study) e do PISA (Programe for International Student Assessment) que apontam para
graves atrasos no que se refere ao desenvolvimento de competências de maior nível de
complexidade dos alunos portugueses. Após análise e reflexão sobre estes dados, o
GAVE (Gabinete de Avaliação Educacional) sugere que, eventualmente, o tipo de
avaliação feito nas escolas portuguesas não se assemelha áquele que é realizado
internacionalmente (Sanches, 2001). Torna-se, por isso, necessária uma reflexão atenta,
investigativa e diagnosticante sobre o que se faz e o que se pretende fazer no ensino e na
aprendizagem das ciências nas escolas portuguesas e, fundamentalmente, fomentar a
concertação das diversas políticas educativas de forma a permitir uma perspectiva global
e coerente de transformação do sistema educativo, indispensável para a viabilização de
um ensino de qualidade (Smith, & O’Day, 1990, citados por Popkewitz, 2000;
Benavente, 1991; Newmann, Smith, Allensworth & Bryk, 2001; Swanson & Stevenson,
2002). Newmann e colaboradores (2001), defendem que não existem dados
disponibilizados pela investigação que permitam uma reflexão clara e sistemática sobre
a exploração do nível de coerência curricular, organizacional e política em termos
educacionais.
4
competências cognitivas avaliadas, e, fundamentalmente, apurar em que medida a
promoção destas competências é condicionada pela actual tipologia de exames
nacionais. Ou seja, perante esta possível “teia” de incoerências, e colocado no âmbito de
um dilema “Formar para quê?”, o professor poderá, eventualmente, privilegiar uma
metodologia viabilizadora da preparação dos alunos para os exames - porta
fundamental, para o acesso à universidade, socialmente legitimada - comprometendo a
promoção de competências fundamentais sugeridas nos currículos, que correspondem,
afinal, áquelas que são avaliadas nos testes internacionais de ciência.
5
Partindo da aprendizagem da biologia no ensino secundário, o estudo pretende
investigar os seguintes problemas:
6
2000/2001; entrevistas aos professores; e os resultados nos exames nacionais de
2000/2001 relativos aos alunos internos das escolas seleccionadas.
7
A apresentação desta tese é feita em cinco capítulos. No capítulo 1 - Introdução - faz-se
uma breve abordagem ao contexto geral da investigação, identificando-se os problemas
levantados e os objectivos que guiaram os procedimentos metodológicos de recolha e
análise de dados. No capítulo 2 - Contexto Teórico do Estudo - faz-se referência aos
principais quadros conceptuais que orientaram a investigação e a trabalhos empíricos
desenvolvidos no âmbito desses quadros conceptuais e que estão mais directamente
relacionados com a investigação realizada. O capítulo 3 - Metodologia -clarifica os
pressupostos metodológicos que estiveram na base do estudo e descreve
pormenorizadamente as diferentes etapas metodológicas (sujeitos do estudo,
procedimentos de recolha e análise de dados) que viabilizaram a consecução dos
objectivos previstos no âmbito da investigação. No capítulo 4 - Análise e Interpretação
de Dados - apresentam-se, analisam-se e interpretam-se os resultados. Finalmente, no
capítulo 5 - Conclusões - são apresentadas as principais conclusões do estudo, referindo-
se os seus contributos e limitações e sugestões para futuras investigações.
Notas
1. Esta “perpetuação das aprendizagens ao longo da vida”, de que tanto se ouve falar ultimamente,
depende, fundamentalmente, do desenvolvimento de raciocínios mais complexos que dotam o aluno
de ferramentas que lhe permitem enfrentar, com sucesso, o confronto com a realidade ao longo da
vida (Bruner, 1969) e não apenas de aprendizagens viabilizadas por um ensino que acompanha os
alunos ao longo da vida (Carneiro et al, 2001).
2. Segundo a classificação de Robitaille et al (1993, citado em Neves & Morais, 2001), podem
distinguir-se três dimensões do currículo: o currículo intencional (programas), o currículo
implementado (práticas pedagógicas do professor) e o currículo atingido (aprendizagens dos alunos).
3. Colocou-se, entre aspas, o termo “desenvolvidas”, pois não se teve acesso directo às competências
de facto desenvolvidas pelos alunos. A informação fornecida pelos testes e pelas práticas em que os
alunos estiveram envolvidos, sugere apenas a natureza das competências que são valorizadas pelos
professores, e, nesse sentido, poderá ser tomada como um indicador da promoção provável de
determinado tipo de competências.
8
CAPÍTULO 2
CONTEXTO TEÓRICO
1. INTRODUÇÃO
11
análise não só ao nível macro-estrutural (Sociedade/Sistema Educativo) mas também ao
nível micro-interaccional (Escola/Sala de aula). A linguagem de descrição interna
contida nesta teoria (cujo aprofundamento será feito no ponto seguinte), viabiliza o
desenvolvimento de linguagens de descrição externa susceptíveis de orientar análises
empíricas mais sistematizadas, pela introdução de um vocabulário conceptual que
estabelece a relação entre os vários contextos analisados.
12
primeira recontextualização, ou seja, o texto é alterado no sentido de se adaptar ao novo
contexto (sistema educativo). Gera-se, desta forma, o discurso pedagógico oficial
(DPO), que se encontra expresso no currículo escolar, nos programas e ainda em
normas diversas. A produção deste discurso é, desta forma, resultante de diversas forças
intervenientes num processo que envolve muitos conflitos, descontinuidades e rupturas
entre os distintos interesses dos diversos agentes envolvidos.
13
Campo Internacional
Geração
Nível I
CAMPO
DO ESTADO
P
R
O Campo da Campo do
D Economia Controlo
U Simbólico
Ç
à PRINCÍPIOS
O DOMINANTES
(DRG)
D
O
Campo de Recontextualização
D
Recontextualização
Oficial
P
Nível II
DISCURSO PEDAGÓGICO
OFICIAL
(DPO)
Campo de Recontextualização
Pedagógica
U
Ç Espaços/Agências Regras
à Discursos discursivas
O Sujeitos Código Pedagógico Regras
hierárquicas
D
O Aquisidores
D
P
Campo de Recontextualização
Contexto
ContextodedeRecontextualização
contextualização Primária
(Família/Comunidade)
Figura 2.1 – Modelo do discurso pedagógico de Bernstein (Morais e Neves, 2003; Adapt. de Bernstein,
1990).
14
definido pela relação DI/DR, em que o discurso instrucional específico (DI) do
programa de uma dada disciplina ou área disciplinar, é veiculado através do conjunto de
conhecimentos e competências cognitivas que constituem o objecto directo do ensino-
aprendizagem dessa disciplina ou área disciplinar e em que o discurso regulador
específico (DR) é veiculado através do conjunto de valores, atitudes, competências
sócio-afectivas que são valorizadas no referido contexto de aprendizagem. Mas o
discurso regulador, sendo um discurso de ordem, relação e identidade, também encerra
as normas de conduta social que estão subjacentes e regulam a forma assumida pelo
ensino-aprendizagem do discurso instrucional específico. Desta forma, a relação DI/DR
mostra que, subjacente à forma como os conhecimentos são transmitidos na relação
pedagógica (DI), estão princípios e normas de conduta social (DR). É, porém
importante salientar que a reprodução do discurso pedagógico, ao nível das práticas
pedagógicas, permite um potencial espaço de mudança, na medida em que viabiliza uma
realização diferencial do discurso pedagógico oficial por intermédio de um conjunto
variado de textos. Este potencial espaço de mudança poderá permitir ao professor, por
exemplo, a implementação de distintas modalidades de prática pedagógica, viabilizando
a modificação do padrão diferencial do sucesso escolar de todos os alunos.
15
valores fortes (E+) ou fracos (E-). Um enquadramento forte significa que o controlo é
centrado na categoria que detém o poder, isto é, hierarquicamente, com uma posição
mais elevada. Um enquadramento fraco indica um controlo partilhado pelas diferentes
categorias envolvidas na comunicação. A classificação e o enquadramento podem,
dentro de certos limites, variar independentemente. Por exemplo, a uma classificação
forte pode corresponder um enquadramento fraco. A prática pedagógica específica que
ocorre na sala de aula corresponde, então, à realização de um determinado código
pedagógico cuja caracterização é feita pelos distintos valores assumidos em termos de
classificação e enquadramento segundo a seguinte fórmula:
OE/R
Cie± Eie±
16
em que a classificação é forte e o enquadramento é fraco, no que se refere à relação
professor-aluno. Se, por um lado, isto significa que as relações de poder são assimétricas
entre os referidos agentes, querendo isto dizer que é o professor que detém o poder, por
outro lado, no que respeita as relações de controlo, significa que são os alunos que
detêm parte do controlo na interacção pedagógica. Especificando, por exemplo, para a
selecção, significa que os alunos têm algum controlo sobre os conteúdos a aprender e
que, relativamente aos critérios de avaliação, estes estão implícitos e, por essa razão, o
aluno parece ter controlo sobre eles. No que se refere às regras hierárquicas, significa
que uma interacção em que o aluno tem algum controlo na relação, a modalidade de
controlo predominante é do tipo pessoal. Modalidades de prática pedagógica baseadas
em fracos enquadramentos correspondem a modelos teoricamente designados por
“progressistas”. Porém, se os enquadramentos, em vez de serem fracos, forem fortes,
estaremos perante modalidades de prática pedagógica de cariz “tradicional”.
17
Com base neste quadro teórico, considera-se que os textos pedagógicos (programas,
exame nacional e testes sumativos) podem diferir na valorização relativa que é
atribuída, no âmbito do discurso instrucional específico, a competências de diferentes
níveis de complexidade, nomeadamente, competências cognitivas simples (CS) e
competências cognitivas complexas (CC). Segundo Pires, Morais e Neves (2003), os
conhecimentos científicos e as competências investigativas, que são objecto de
aprendizagem, podem ser consideradas de acordo com diferentes níveis de exigência
conceptual e essa exigência determina o estatuto que é dado ao texto científico que é
disponibilizado às crianças. Por esta razão, o que da aprendizagem pode ser considerado
uma cracterística sociológica. Partindo dos mesmos conteúdos científicos, os
professores podem fazer diferentes recontextualizações, não só com base em
pressupostos epistemológicos e psicológicos, mas também com base em pressupostos
sociológicos. O professor pode implementar uma prática pedagógica com um baixo
nível de exigência conceptual quando, fundamentalmente, promove uma aprendizagem
de termos e factos e apela para competências investigativas de nível baixo, limitando a
criança ao desenvolvimento/aquisição de competências cognitivas simples, como é o
caso da memorização, compreensão de baixo nível e observação. Contudo, o professor
pode implementar uma prática pedagógica com um elevado nível de exigência
conceptual, quando promove um processo de aprendizagem baseado na
conceptualização e na aplicação de conhecimentos e no desenvolvimento de
competências com potencial investigativo, como é o caso da resolução de problemas e
na formulação de hipóteses. Nesta situação, o professor promove o desenvolvimento de
competências cognitivas complexas e o acesso de todas as crianças a um texto mais
valorizado pela comunidade científica e pela sociedade (p. 2).
18
Segundo Morais (2002), a actual situação de “desordem” relativamente à metodologia
de investigação nesta área, será, em parte, responsável pela rejeição dos resultados dos
estudos de natureza sociológica por parte de muitos educadores.
EMPÍRICO
Modelos
Conceitos
o Pr
tic ev
isã
nós o
ag
Di
19
De acordo com Morais (2002), a linguagem interna de descrição é constituída por uma
teoria ou conjunto de teorias (por exemplo: Vygotsky, Ausubel, Bruner, Bernstein)
contendo conceitos e modelos de elevado nível de abstracção. A linguagem de descrição
externa é constituída por proposições e modelos derivados do confronto entre a
linguagem interna de descrição e os dados empíricos. As relações sociais da actividade
pedagógica referem-se aos textos e contextos pedagógicos analisados, constituindo o
nível empírico da metodologia da investigação.
3. A DUALIDADE CONTEÚDOS/COMPETÊNCIAS
3.1. INTRODUÇÃO
20
que este possa desenvolver raciocínios mais complexos. Se, pelo contrário, as práticas
se basearem em modelos de aprendizagem “significativa”, elas podem permitir um
desenvolvimento psicológico mais completo do aluno, por abrangerem também os
níveis mais complexos do processo cognitivo. A distinção fundamental entre estas duas
categorias de práticas pedagógicas reside na forma como as novas informações são
adquiridas. Assim, segundo um modelo de ensino expositivo, a aprendizagem é
fundamentalmente mecânica, sendo a nova informação adquirida sem ligações
específicas a elementos existentes (conceitos) na estrutura cognitiva. Segundo o modelo
de aprendizagem significativa, a aprendizagem ocorre pela integração da nova
informação nos conceitos já existentes de forma a prefazer uma estrutura lógica.
Para Ausubel, Novak e Hanesian (1978), a nova informação adquirida pelo aluno deverá
integrar-se em conceptualizações mais abrangentes, preexistentes na sua estrutura
cognitiva. Segundo Bruner (1969, 1996), o conhecimento adquirido, sem uma suficiente
estrutura a que se ligue, é um conhecimento fadado ao esquecimento. Ainda, segundo
Luria (1975), é a Vygotsky que se deve o mérito do primeiro trabalho sistemático das
formas superiores da memória. Para Vygostsky, a linguagem assume um papel
fundamental na aprendizagem, tendo em conta que constitui um instrumento
fundamental na organização da nova informação em estruturas que a integram
logicamente (Lúria, 1975). No modelo expositivo de aprendizagem apela-se a uma
postura passiva do aluno ao exigir-se, apenas, uma memorização mecânica dos factos.
No segundo modelo, ao apelar-se a raciocínios mais complexos que viabilizem uma
integração lógica dos saberes, exige-se, evidentemente, uma postura mais activa do
aluno.
21
que se deve promover uma selecção adequada dos mesmos, não só tendo em conta a sua
pertinência no âmbito dos saberes fundamentais para qualquer indivíduo ao longo da
sua vida, mas igualmente tendo em conta a sua utilidade numa perpectiva do
prosseguimento de estudos da maioria dos alunos a que se destina a sua aprendizagem.
Esta selecção adequada dos conteúdos poderá disponibilizar mais tempo para
desenvolver práticas pedagógicas que permitam “trabalhar” competências mais
complexas no âmbito do processo cognitivo. Para além desta razão, persistem outras,
que pretendemos clarificar no ponto seguinte, que tendem a gerar alguns equívocos
relativamente à efectiva qualidade de um ensino decorrente da tipologia de aulas por
aprendizagem significativa, e que corresponde, afinal, aos fundamentos básicos de uma
aprendizagem construtivista/sócio-construtivista. Ou seja, pretenderemos clarificar que
é esta integração lógica dos materiais em estruturas semânticas, favorecida por uma
postura “activa” do aluno, que viabiliza uma aprendizagem significativa e que esta
situação poderá ocorrer em diferentes tipologias de práticas pedagógicas, desde que o
aluno seja impelido a formular a suas generalizações e a integrar os seus conhecimentos
como consequência de uma série de questões programadas nesse sentido.
22
algum modo, proporcionado uma reflexão no âmbito deste paradigma, como, por
exemplo, Piaget, Vygotsky, Bruner e Ausubel. Tal como já foi referido, centrar-nos-
emos apenas nos fundamentos destas teorias que se relacionem com os problemas
levantados no âmbito do presente estudo.
23
pelo próprio indivíduo (Pozo, 1993). Defende, porém, uma aprendizagem da criança
centrada no sócio-construtivismo, destronando progressivamente o modelo Piagetiano
defensor de um construtivismo individual, dado que considera a aprendizagem como
um complexo processo social, onde o conhecimento é construído socialmente num
contexto sócio-cultural e histórico (Pollard, in Daniels, 1995). Existe ainda outra
diferença fundamental entre os dois autores que se pode resumir através da expressão de
Vygotsky : “A pedagogia deve ser orientada não para o ontem mas para o amanhã do
desenvolvimento da criança” (Davydov, 1995, p. 18), o que significa, contrariamente às
ideias de Piaget, que a instrução precede o desenvolvimento. Esta postura, relativamente
à aprendizagem, vem alterar o paradigma educativo que se centrava em aprendizagens
destinadas a um certo nível de desenvolvimento, designadas, segundo Vygotsky (1978),
por “nível real de desenvolvimento” (aquilo que a criança é capaz de fazer, sem a
colaboração dos outros).
24
um problema, complementado com a realização de tarefas. A formação de conceitos é
uma actividade complexa (tanto mais complexa, quanto mais abrangentes são os
conceitos) na qual estão implicadas várias operações mentais conduzidas através da
linguagem, a qual é salientada por este autor como um instrumento fundamental da
aprendizagem. Se o meio não apresentar tarefas, se não fizer exigências, se não
estimular o intelecto, proporcionando novos objectivos, o raciocínio não atingirá os
níveis de desenvolvimento mais elevados ou só os atingirá com atraso.
Bruner (1969, 1996) sugere ainda que o conhecimento deve ser construído de uma
forma personalizada, atendendo aos valores, sentimentos e realidades dos alunos. A
“Aprendizagem por Descoberta”, um dos principais fundamentos da sua teoria, valoriza
a resolução de problemas, devendo o aluno procurar, do modo mais independente
25
possível (e de uma forma personalizada, portanto), a solução dos mesmos. Com esta
tipologia de prática pedagógica, ele pretende não só respeitar as diferentes realidades
correspondentes a cada aluno, como ainda viabilizar situações que potenciem
raciocínios mais complexos, permitindo não só a aceleração cognitiva como ainda uma
retenção mais provável dos conteúdos, tendo em conta a sua integração lógica em
sistemas mais abrangentes. Desta forma, para Bruner (1996), “ o conhecimento está
organizado de tal maneira, que a apreensão da sua estrutura conceptual lhe torna os
pormenores mais auto-evidentes, redundantes, até” (p. 12). Assim, Bruner (1996) sugere
que “ o conhecimento adquirido é mais útil ao aluno quando ele é descoberto através de
esforços cognitivos do próprio aluno, pois fica integrado no conhecimento anterior” (p.
12). O carácter lúdico que Bruner confere à aprendizagem, relacionado com a
motivação intrínseca, reporta-se a este “desafio intelectual” perante o qual o aluno é
colocado, permitindo-lhe usufruir do prazer de pensar. Contudo, a interpretação, por
vezes errada, deste carácter lúdico terá levado a actividades de ensino-aprendizagem
assumidas como brincadeiras, o que entra em contradição com os fundamentos da sua
teoria podendo ter sido responsável por um eventual facilitismo bloqueador de um
efectivo desenvolvimento dos alunos.
26
Bruner sugere, ainda, outros elementos fundamentais numa perspectiva da eficácia do
processo de ensino-aprendizagem. Citaremos apenas alguns, a título de exemplo, que
mais se relacionem com o âmbito da tese. Bruner (1969, 1996) sugere, por exemplo,
que a manutenção de um nível de exigência conceptual elevado é fundamental para uma
efectiva aprendizagem dos alunos, principalmente para os menos capazes. Para ele, um
ensino de qualidade que enfatiza a estrutura de um assunto, provavelmente é ainda mais
valioso para os alunos menos capazes, pois são estes os que com maior facilidade são
deixados à margem por um ensino deficiente. Para Bruner será, então, uma
aprendizagem de qualidade que permitirá combater as injustiças sociais (Linaza, 1984).
Relativamente às “aprendizagens ao longo da vida”, Bruner (1969) salienta que o
conhecimento adquirido deve tornar-se “valioso”, ou seja, o conhecimento adquirido
deverá ser utilizável pela mente de quem o adquiriu, em situações posteriores àquela em
que a aprendizagem ocorreu. Para ele, “aprender não deve apenas levar-nos a algum
lugar, mas permitir-nos, posteriormente, ir mais além, de maneira mais fácil” (Bruner,
1969, p.15). Ou seja, é a promoção destas competências nos alunos que poderá
viabilizar as “aprendizagens ao longo da vida” e não tanto, como parece por vezes ser
entendido, como aprendizagens viabilizadas por distintos contactos com a escola em
períodos diferentes da vida do indivíduo. Parecem também muito pertinentes, no âmbito
desta tese, as suas ideias relativamente à importância de uma verdadeira teoria de
aprendizagem. A constatação da ausência de uma verdadeira teoria de aprendizagem
implica a existência de um vazio de orientações pedagógicas articuladas e integradoras.
Este vazio interfere a todos os níveis do sistema educativo, nomeadamente em termos
da estruturação dos currículos. Para ele, estruturar currículos, de modo a reflectir a
estrutura básica de um dado campo de conhecimento, requer um profundo domínio de
conhecimentos na área das ciências da educação. A estruturação dos currículos deve,
por exemplo, ter em conta a necessidade de organizar logicamente os factos em termos
de princípios e ideias, minimizando, desta forma, a probabilidade de esquecimento dos
factos memorizados, assim como, deve ter em conta a necessidade de seleccionar
criteriosamente os conteúdos, de forma a disponibilizar também o espaço/tempo
adequados ao desenvolvimento psicológico equilibrado dos alunos. Bruner (1969)
considera que a estrutura cognitiva do ser humano tem limites, sendo por isso
necessário fazer uma selecção da quantidade de informação a ser utilizada na mente do
aluno de forma a disponibilizar condições para que haja compreensão dos assuntos.
27
Salienta-se ainda a importância conferida por Bruner (1996) à cultura, por ser esta que
faculta os instrumentos de organização e de compreensão dos nossos mundos em termos
comunicáveis. Bruner (1996) sugere “ que é sobretudo pela interacção com os outros
que as crianças descobrem que coisa é a cultura e como esta concebe o mundo” (p. 40).
Finalmente, salienta-se a sugestão de Bruner (1996) relativamente à dificuldade que a
nossa tradição pedagógica ocidental revela em render justiça à importância da nossa
capacidade de captar a função do contexto. Pelo contrário, inclina-se frequentemente,
para a preferência por um grau de explicitação que parece ignorá-la. “Um dos dons mais
importantes que uma cultura psicológica pode proporcionar à educação é a
reformulação desta empobrecedora concepção” (p. 41).
28
clarificação que permite relativamente a algumas reflexões elaboradas no âmbito do
ponto anterior, assim como pela importância conferida ao desenvolvimento do processo
cognitivo neste estudo, cuja clarificação requer uma análise das “leis da memória”
(Claxton, 1980) principalmente as relacionadas com a psicologia da memória. Para
Claxton (1980), o estudo da memória assume um papel fundamental no âmbito da
psicologia cognitiva, viabilizando a clarificação das estruturas e mecanismos em que
assenta o processo cognitivo. Em acréscimo às razões já apontadas, a importância
conferida à memória remete para o primeiro problema levantado no âmbito do estudo o
qual questiona a influência da actual tipologia de exame nacional de biologia sobre as
competências valorizadas ao nível das práticas pedagógicas.
29
directa com os processos de pensamento, recebendo um apoio fundamental da
organização semântica dos materiais. Ora, num processo de ensino-aprendizagem em
que o apelo às conceptualizações mais abrangentes seja raro, ou quase inexistente, esta
integração semântica, à qual se deve apelar nesta estapa de desenvolvimento psicológico
(em que se situam os alunos do ensino secundário), torna-se inacessível, o que tem
como consequência um apelo a uma tipologia de memória mais mecânica a qual se
adequa mais a fases precoces do desenvolvimento psicológico. Segundo Lúria (1975) “o
estudante avançado ou o adulto que efectuam operações complexas de codificação
lógica do material recordado, executam um complicado trabalho intelectual e o processo
de memorização aproxima-se, neste caso, ao processo do pensamento discursivo” (p.
128). A memória discursiva constitui o aspecto mais complexo e elevado da memória
humana. Esta implica sempre um processo complexo de recodificação das informações
recebidas, relacionado com o processo de abstracção relativo à generalização dos
elementos informativos centrais. Tal como é afirmado por Lúria (1975), “o mérito do
primeiro estudo sistemático relativo à formas superiores da memória na criança pertence
ao psicólogo soviético L. S. Vygotsky “ (p. 59). Não é por isso de estranhar que, para
Vygotsky, um dos instrumentos fundamentais da aprendizagem seja precisamente a
linguagem a qual potencia os processos mais elevados do trabalho intelectual,
envolvendo operações complexas de codificação lógica do material memorizado.
4. AVALIAÇÃO EDUCACIONAL
Clímaco (1992, b), num seminário intitulado Observatório da Qualidade da Escola, faz
uma reflexão sobre os vários conceitos de qualidade educativa que se têm sucedido nas
últimas décadas, quer no âmbito do nosso país, quer da esfera cultural a que
pertencemos, assim como sobre as práticas de avaliação das escolas. Segundo esta
30
autora, têm-se sucedido diferentes estratégias e prioridades no sentido de uma qualidade
do ensino, as quais podem afinal organizar-se segundo “três grandes linhas
orientadoras” que ela designou, utilizando a metáfora de Toffler, de “vagas de reforma”.
A primeira vaga caracterizar-se-ia pela ênfase nos princípios de igualdade no acesso à
educação, a qual decorre do desenvolvimento ou da reconstrução económica das
sociedades, bem como da sua democratização. Ela corresponderá, afinal, à expansão
quantitativa dos sistemas educativos. A avaliação destas políticas de reforma, teve como
referência a qualidade e a capacidade de expansão numérica ou quantitativa. A segunda
vaga caracteriza-se por uma fase em que, como consequência do crescimento
económico, os sistemas educativos registaram uma expansão acelerada que se traduziu
em alterações drásticas na socialização da população escolar. Aqui, a avaliação passou a
incidir não apenas na garantia de acesso mas também do sucesso educativo. Na
sequência desta preocupação, a escola é concebida numa perspectiva de formação
integral do indivíduo abrangendo um “leque” de competências que incluem os domínios
cognitivo, sócio-afectivo e psico-motor. Como resultado da perpetuação do insucesso,
sugere (na sequência de dados de natureza sociológica) que, afinal, a escola constitui
um local de “reprodução e perpetuação das desigualdades”. Na terceira vaga, ocorrida
na década de 80, a reforma foi determinada, fundamentalmente, por factores de ordem
económica, social e científica, tendo sido dada ênfase à diversificação de soluções,
como expressão da capacidade de resposta aos problemas reais e como expressão da
autonomia dos indivíduos e das instituições.
Na sequência destas reformas, surge a ideia das escolas como unidades política, social e
culturalmente autónomas e com a capacidade de instituir a “norma” comum à
especificidade de cada lugar. O professor e o aluno adquirem, então, autonomia para
seleccionar e construir o próprio conhecimento. Descentralizou-se para o local e o
indivíduo – os professores, os pais, e a comunidade (e não o Estado) – a
responsabilidade de orientar a sua mudança. A escola tende, contudo, a ser ainda uma
corresponsabilidade do Estado e das comunidades locais, o que tem como consequência
a obrigatoriedade da escola disponibilizar uma avaliação sistemática e rigorosa do seu
desempenho. Na sequência desta necessidade, problematizam-se novas culturas na
gestão escolar, assim como reconceptualizações da noção de qualidade e de eficácia
escolar. Também na sequência de uma maior participação na vida comunitária e na
decisão política, característica das sociedades democráticas, surge a necessidade de
31
disponibilizar informação que permita o diálogo crítico entre políticos e decisores, os
intervenientes do processo educativo e o público em geral. Esta politização da educação
vem também agudizar a necessidade de processos eficazes de avaliação das escolas. Na
sequência desta situação, surge um paradigma de avaliação que sugere que um sistema
de informação do desempenho global da educação, ao nível do sistema ou de cada
subsistema escolar, terá de descrever os resultados e as condições de desempenho, os
quais envolvem o contexto, os recursos e os processos ou o funcionamento (Oakes,
1989 e Scheerens, 1990, citados por Clímaco, 1992 c). Porém, a validade do processo
de informação que está subjacente a toda a avaliação, implica, para além da noção
abrangente de dados, também o processo de recolha de dados, o seu tratamento, análise
e interpretação, bem como a disseminação e crítica dos resultados e a tomada de decisão
(Clímaco, 1992 c). Este paradigma de avaliação encontra-se em sintonia com os
movimentos de descentralização, que caracterizam as reformas da administração pública
em muitos países ocidentais; há, assim, um diferente entendimento da Escola, enquanto
instituição e enquanto realidade contextualizada, bem como o entendimento da gestão
partilhada como estratégia de desenvolvimento e mudança (Clímaco, 1992 c).
32
esta reflexão.
Não obstante as sucessivas reformas que têm vigorado no nosso sistema de ensino, a
Escola, na sua essência, ou seja, relativamente às práticas pedagógicas que promove,
persiste fundamentalmente tradicional. Perante esta situação, segundo Clímaco (1992,
a), as políticas mais recentes de reforma educativa, têm visado a alteração das práticas
pedagógicas, mais do que dinamizar ou revitalizar a escola. Neste contexto, a avaliação
é assumida, fundamentalmente, como estratégia inovadora para a introdução dos
processos de mudança e como seu instrumento orientador, para além de constituir um
processo de produzir informação conducente à formulação de juízos de valor e ao
controlo do ensino-aprendizagem.
Não obstante a constatação destas tendências, nos anos mais recentes, no nosso país, o
processo de avaliação das escolas entra em contradição com as mesmas,
operacionalizando-se por intermédio de “rankings” que se limitam a uma seriação das
escolas baseada nas classificações obtidas nos exames nacionais, abdicando de outros
dados sobre o contexto, os recursos e o funcionamento dos processos de ensino –
aprendizagem nas mesmas. Este processo de avaliação poderá ser alvo de críticas, tendo
em conta as lacunas referidas, assim como as eventuais inconsistências da sua tipologia
relativamente à grandes metas explicitadas nos programas.
Nesta tese, para além de uma breve reflexão sobre a pertinência da actual avaliação das
escolas, pretende-se abordar, fundamentalmente, uma perspectiva de avaliação
(relacionada com o ensino da biologia no ensino secundário) que tem em conta a
avaliação sumativa dos alunos no âmbito das práticas pedagógicas e a nível do exame
nacional. Mais concretamente, pretende-se proceder a uma análise sobre a influência
exercida pela tipologia do exame nacional sobre a qualidade do ensino nessas práticas
pedagógicas, assim como sobre o facto dessa tipologia de exame ser ou não coerente
com o que é sugerido nos programas. Ou seja, procura-se avaliar em que medida o
nosso sistema educativo contém incoerências e quais as consequências que daí derivam
em termos da qualidade de ensino que se promove.
33
impeditiva da promoção de um ensino de qualidade. Segundo Newmann, Smith,
Allensworth e Bryk (2001), parece fundamental, para o sucesso dos alunos, que os
directores das escolas, as organizações que as apoiam e os políticos procurem o
fortalecimento da coerência do programa instrucional. Também para Swanson e
Stevenson (2002), os movimentos para a mudança educacional, que procuram
resultados a uma escala nacional, enfrentam constrangimentos relacionados com a
promoção de um modelo coerente de reforma. Para estes autores, na ausência de um
padrão organizado de política estatal, a probabilidade de se organizar um movimento
com efeitos sistemáticos e válidos é reduzido. Segundo eles, não obstante a importância
desta questão, no que concerne à eficácia do poder político, pouca investigação tem sido
feita nesse sentido. Newmann, Smith, Allensworth e Bryk (2001) também referem que
nenhuma investigação disponibilizou ainda uma reflexão sistemática e clara sobre o
nível de coerência do programa instrucional e as suas consequências para o sucesso dos
alunos. Defendem que, não obstante alguns argumentos (directos ou indirectos) a favor
dessa coerência curricular, organizacional e política, em termos educacionais, esses
argumentos não explicitam, de uma forma clara e inequívoca, a importância que ela
pode assumir como estratégia de sucesso. Não disponibilizam também um quadro
conceptual que permita clarificar a eficácia dessa coerência no sucesso dos alunos.
Segundo estes autores, estes argumentos não providenciam ainda uma definição
operacional que possa viabilizar estudos empíricos sobre os efeitos resultantes de uma
maior coerência no ensino-aprendizagem dos alunos. Segundo Benavente (1991),
houve, desde o 25 de Abril, diversas e contraditórias políticas educativas, sem uma
perspectiva global de transformação do sistema educativo. Também Smith e O’Day
(1990, citados em Popkewitz, 2000) lançam um alerta, referindo que “ a não ser que a
clareza e coerência ocorram nas políticas escolares e nas práticas, a relativa qualidade
oferecida aos alunos mais carenciados desaparecerá” (p. 262).
Segundo Foucault (1979, citado por Popkewitz, & Brennan, 1998) “Os grandes ideais
humanistas frequentemente são acompanhados de realidades desumanas. No contexto
34
educativo podemos ilustrar esta situação através dos pressupostos idealizados dos
currículos que entram em contradição com a avaliação, a qual não é mais do que o
reflexo do poder. Através da avaliação, os indivíduos são identificados, diferenciados,
classificados e marcados ad infinitum de acordo com a norma – a norma que nasceu
controversamente da igualdade” (p. 352). Desta forma, graças à avaliação, cada
indivíduo pode ser integrado numa hierarquia minuciosa, a qual se organiza com base
no conceito de norma. Ainda, para Foucault (1979, citado em Popkewitz, & Brennan,
1998) “Numa sociedade industrial moderna, são necessárias escolas que incutam as
normas padronizadas, o que implica a existência de escolas com determinadas
características como a avaliação” (p. 352). Também para Ecclestone (in Filer, 2000), as
análises sociológicas, segundo as perspectivas de Bourdieu, revelam como as
identidades e o capital cultural são moldados através dos sistemas de avaliação e
respectiva tradução por professores e alunos nos processos sociais quotidianos. Para
Ecclestone (in Filer, 2000), o conflito e a confusão no âmbito do que é de facto avaliado
nos instrumentos do poder, está patente no produto final de professores e alunos.
35
campos envolvidos na sua geração, recontextualização e reprodução (ver ponto 2. deste
capítulo). Estas relações sugerem que o discurso pedagógico oficial reflecte os
princípios dominantes da sociedade que são gerados no campo do Estado sob a
influência do campo internacional e dos campos da produção (recursos físicos) e do
controlo simbólico (recursos discursivos, nos quais se incluem as universidades).
36
XIX, para compreender as mudanças sociais e os movimentos políticos. Esta
reconceptualização implica uma necessidade de reflexividade sobre os sistemas de
conhecimento em educação e na investigação em educação.
5. TRABALHOS EMPÍRICOS
37
2003; Morais, Neves et al, 2000; Morais & Neves, 2001; Pires, 2001; Morais, Peneda,
Neves & Cardoso, 1992b; Morais, Neves, Antunes, Fontinhas, Medeiros, Peneda &
Reis, 1996). Com estes últimos estudos, tem-se pretendido explorar o significado
sociológico da relação entre a orientação de codificação dos sujeitos e o seu
desempenho em contextos instrucionais e/ou reguladores de sala de aula, pretendendo-
se contribuir para a definição de modalidades de prática pedagógica que conduzam à
melhoria do aproveitamento de todos os alunos.
38
No que se refere ao meso nível do sistema educativo, Morais, Neves e Fontinhas (1998)
realizaram um estudo que, incidindo na análise comparativa de programas de ciências
(das reformas de 1975 e 1991), teve por finalidade investigar o modelo da teoria de
instrução enfatizado, na reforma de 1991, ao nível do ensino das ciências e apreciar o
sentido da mudança relativamente à anterior reforma (1975). Os dados do estudo
permitem concluir, que, eventualmente, a reforma educativa de 1991 preconizava uma
teoria de instrução tendencialmente menos centrada no aquisidor. Ainda no âmbito das
investigações realizadas sobre a análise dos programas, os estudos de Neves, Morais,
Medeiros e Peneda (1999b) sugerem, entre outros aspectos, que o programa de ciências
naturais do 7º ano de escolaridade (relativo à reforma de 1991) não revela a existência
de relações significativas intradisciplinares, interdisciplinares e do conhecimento
académico com o conhecimento não académico. Também o estudo de Neves e Morais
(1998), realizado no âmbito das investigações anteriores, procurou reflectir sobre o grau
de controlo dado ao professor na implementação dos programas. Os dados do estudo
mostram alterações nas relações Ministério-Professor traduzidas por um maior controlo
sobre o professor (na reforma de 1991), relativamente ao cumprimento do programa,
havendo, no entanto, uma alteração da modalidade de controlo, assumindo esta um
carácter de natureza mais interpessoal.
39
conceptual dos cursos de ciências que faz aumentar a diferença de aproveitamento entre
os dois grupos de alunos na aula de ciências. Ou seja, sempre que o nível de exigência
conceptual é baixo, a diferença de aproveitamento entre os dois grupos sociais é baixa.
Mas, sempre que esse nível é elevado, então a diferença de aproveitamento entre os
grupos aumenta. Quer isto dizer que diferentes cursos geram diferentes graus de
aproveitamento diferencial: quanto maior é a exigência conceptual do curso e, portanto,
maior o seu nível de abstracção, maior é a diferença de aproveitamento entre os alunos
da classe média e da classe trabalhadora. Porém, o estudo revelou, também, que os
professores devidamente esclarecidos nos contextos da psicologia educacional e dos
métodos de ensino, ao promoverem práticas correspondentes a um nível de exigência
conceptual relativamente elevado, produzem um nível de aproveitamento relativamente
elevado em alunos de classe trabalhadora.
40
professores.
41
muitos países existe uma relutância dos jovens relativamente aos estudos,
principalmente na área das ciências, por a considerarem difícil e abstracta. As raparigas
estão particularmente subrepresentadas nesses estudos científicos (com a excepção de
alguns países, como Portugal, aonde se verifica precisamente o inverso) o que trará,
concerteza, consequências a longo prazo em termos de desenvolvimento. Finalmente, os
licenciados em ciências enfrentam graves problemas de desemprego, que se mantêm por
longos períodos, o que revela que não foram, de facto, atingidos os resultados
esperados.
Evidentemente que as razões que justificam estes resultados não se enquadram apenas
no âmbito da educação, mas parece-nos pertinente, no âmbito desta tese, questionar
alguns factores relacionados com o ensino-aprendizagem das ciências que,
enventualmente, poderão ter influenciado esta situação, nomeadamente, os currículos,
as práticas de ensino-aprendizagem, os métodos e o tipo de avaliação. De seguida
referir-se-ão alguns estudos relativos a diferentes vertentes do ensino das ciências, mas
que, de alguma forma, procuraram contribuir no sentido de melhorar esta situação.
Duggan e Gott (1995), no seu estudo sobre a função da investigação sobre o trabalho
prático no Currículo Nacional em Ciências no Reino Unido, defendem que a educação
científica deve ter como finalidade o conhecimento mais transferível dos processos
científicos, correspondente a um nível mais elevado de exigência conceptual, e não a
aquisição de conhecimentos factuais. Papanastasiou (2002), no seu estudo baseado nos
resultados do TIMSS para Chipre, em que analisa a influência da família, do ensino-
aprendizagem e da escola nas atitudes dos alunos relativamente à ciência, sugere que a
qualidade dos professores parece assumir um papel fundamental na geração de atitudes
positivas dos alunos perante o ensino-aprendizagem das ciências e, portanto,
condicionador do bom aproveitamento nessa área.
No mesmo sentido, Borman e Hewes (2002), no estudo que efectuaram sobre os efeitos
a longo prazo sobre a relação custos/sucesso efectivo de todos os alunos, defendem que
a promoção de práticas pedagógicas viabilizadoras de experiências de aprendizagem
eficazes, são suficientes para assegurar o sucesso dos alunos ao longo da vida. Segundo
estes autores, tanto os seus resultados como os relativos a outros estudos semelhantes
confirmam esta tese. Também, segundo Neves (in Vieira, Pintassilgo & Melo, 2003), a
igualdade no sucesso de todos os alunos, estará dependente de uma igualdade na
qualidade das práticas dos professores. Será, porventura, a manutenção de um elevado
42
nível de exigência conceptual nas práticas dos professores, que permitirá essa igualdade
de sucesso. No mesmo sentido, Cachapuz et al (1997) no âmbito do seu estudo sobre
estratégias inovadoras de formação de professores, sugerem ser fundamental, no
momento, alterar o currículo implementado (práticas pedagógicas) e não o currículo
intencional (programas) como tradicionalmente tem sucedido. Ou seja, para estes
investigadores é essencial melhorar o que os professores fazem no quadro das
estratégias de ensino-aprendizagem que propõem, sendo, desta forma, indispensável um
outro olhar sobre a questão da formação de professores.
Também Costa (1984, citado por Novais & Cruz, 1989), salienta a necessidade de
introduzir nos métodos de ensino-aprendizagem e na formação de professores,
estratégias eficazes que desenvolvam as competências do pensamento e que viabilizem
uma postura refexiva sobre os procedimentos e as regras que governam a utilização de
tais competências (metacognição). No seu estudo sobre o ensino das ciências, o
desenvolvimento das capacidades metacognitivas e a resolução de problemas, Novais e
Cruz (1989) sugerem que, com frequência, no ensino das ciências, dá-se ênfase à
memória de muitos factos e definições (grande número dos nossos cursos está nestas
condições). Segundo estas autoras, dados fornecidos por várias investigações sugerem,
porém, que esta informação fica inerte, mesmo quando relevante para vários problemas,
o que indicia que ela não permite a formação de instrumentos conceptuais. Será pois
fundamental “ensinar a pensar”, ou seja, desenvolver as capacidades intelectuais dos
alunos de forma a que estes as possam aplicar a situações de aprendizagem de novos
conceitos, leis e teorias, procedimentos experimentais e resolução de problemas, quer
em contextos académicos, quer no contexto da sua vida quotidiana, presente e futura
(Novais & Cruz, 1989).
43
investigação feita com base nos dados do TIMSS que confirma esta sugestão, o que vem
reforçar a necessidade de clarificar a forma como as aulas práticas deverão ser
desenvolvidas com o objectivo de promover as referidas competências.
Também White (1996), no seu estudo sobre a relação entre as práticas laboratoriais e a
aprendizagem, defende que um excesso de actividades do tipo “verificação” pode
conduzir a que os alunos aprendam anti-ciência em vez de ciência, transmitindo-lhes a
convicção de que existe uma resposta certa, sancionada pela autoridade (o livro do
professor). A mesma tendência é defendida por Woolnough (1998), ao sugerir que,
segundo investigações realizadas nas últimas três décadas (Hodson, 1996, citado por
Woolnough, 1998), a maioria dos professores referem dar mais importância à promoção
de atitudes e capacidades relacionadas com o processo de resolução de problemas, mas
na realidade o que mais frequentemente realizam nas suas aulas são experiências
estruturadas relacionadas com a teoria. Desta forma, este equívoco relativamente à
compreensão das práticas adequadas à promoção de competências pertinentes, levou a
uma consequente perda de tempo, dinheiro e recursos. Woolnough, sugere então, que
uma pertinente promoção de literacia científica raramente resulta da aprendizagem da
teoria, tornando-a explícita através de práticas que a ilustram. É um processo mais
complexo dependente essencialmente do conhecimento pessoal e tácito, construído
através da experiência pessoal, experimentando ideias que parecem apropriadas e
modificando-as através de uma avaliação interactiva. A ciência não pode ser percebida
como um corpo rígido e inquestionável de factos, mas sim como uma interpretação
dinâmica dos fenómenos.
Em conclusão, e para Woolnough (citado por Duggan & Gott 1995): “Melhor do que
trabalho prático tradicional, dirigido pelo professor, seria uma forte componente de
demonstrações, exposição, discussão e curtas experiências práticas para proporcionar
contacto directo com os fenómenos básicos estudados e a utilização de investigações de
longa duração, pelos alunos, para uma genuína experiência de fazer ciência”.
44
relacionado com este contexto, Ferreira e Morais (1998) promoveram um estudo com o
objectivo de compreender quais as dificuldades que os alunos do 6º ano de escolaridade
manifestam na resolução de problemas em ciências e contribuir para a definição de uma
modalidade de prática pedagógica conducente ao sucesso de um maior número de alunos.
Nesse sentido, analisaram a forma como os alunos resolviam situações problemáticas, tendo
para esse efeito analisado o reconhecimento do conteúdo, o reconhecimento da capacidade,
a selecção dos significados e a produção do texto legítimo. A forma de resolução dos
problemas foi relacionada com diversas variáveis associadas aos contextos familiar e
escolar dos alunos, nomeadamente o género, a raça, a classe social, a orientação geral de
codificação, o desenvolvimento cognitivo, a prática pedagógica, e o aproveitamento em
ciências. Os resultados mostraram que foi a modalidade de prática pedagógica onde os
alunos tinham algum controlo na própria aprendizagem, que se apresentou como sendo a
mais facilitadora do reconhecimento e da realização no micro-contexto da resolução de
problemas.
45
desenvolvimento das capacidades de pensamento que viabilizariam a capacidade de
resolução de problemas. Rodrigues (2001) sugere também que, não obstante o
pensamento crítico e a resolução de problemas terem coexistido como áreas distintas
(provavelmente devido às distintas origens de cada uma, respectivamente na filosofia e
na psicologia), na área da didáctica das ciências esta separação não faz sentido. Segundo
esta investigadora, numa altura em que se constata que os estudantes, de uma forma
geral, têm as suas capacidades de pensamento pouco desenvolvidas, possivelmente
porque na escola se faz fundamentalmente um apelo à memória (Smith, & Good, 1984,
citados por Rodrigues, 2001), seria vantajoso que todos os esforços de investigação que
se fazem separadamente nestas duas áreas convergissem para uma investigação com
carárcter único, ou seja, ensinar os alunos a resolver problemas através do
desenvolvimento das suas capacidades de pensamento crítico.
Na sua investigação, Andrich (2002) sugere que a mais recente reforma educacional na
Austrália, ao pôr em evidência a preocupação com os resultados educacionais,
influenciou a elaboração de um relatório explicitando as competências que devem ser
promovidas nos alunos (Standards Outcome Statements – SOS). O autor sugere uma
clara influência da Taxonomia de Objectivos Educacionais de Bloom na construção do
SOS. Não obstante o interesse que manifesta perante o trabalho de Bloom, Andrich
defende que se deve promover um alerta no sentido de evitar os erros que decorreram
no passado como consequência da utilização da Taxonomia e que se prendem com uma
tendência para segmentar as competências correspondentes a diferentes níveis de
complexidade tal como sucedeu no paradigma de ensino-aprendizagem behaviorista.
Desta forma, ele sugere que, na tentativa de evitar os erros do passado, inerentes à
utilização deste instrumento, se deve procurar promover as competências que se
encontram nos níveis mais elevados do SOS (correspondentes, também aos níveis mais
elevados da Taxonomia de Bloom) pois, de acordo com as mais recentes tendências do
paradigma construtivista, ao apelar aos níveis mais complexos do processo cognitivo,
consegue-se uma promoção plena de todas as competências sugeridas no SOS.
Segundo Martins, Dias e Silva (2000), a melhoria dos níveis de literacia científica passa
também por uma mudança indispensável nos currículos. As mudanças a nível curricular
passam por mudanças a nível dos programas que, de acordo com Gangliardi (1994,
citado por Martins, Dias & Silva, 2000) devem conter menos informação e centrar-se no
desenvolvimento de redes conceptuais, viabilizando, assim, as competências de
46
transferência de aprendizagem. Também Rutherford e Ahlgren (1990, citados em
Martins, Dias & Silva, 2000) referem ser necessário “ensinar menos para ensinar
melhor” (p.170).
47
Não obstante parecer clara a influência da tipologia de avaliação sobre a qualidade do
ensino-aprendizagem, parece, controversamente, persistir uma tendência no sentido de
manter a natureza das avaliações nacionais inconsistentes com as sugestões mais
recentes dos currículos em ciências, as quais se enquadram nos fundamentos do
paradigma construtivista. Segundo Lewin (1992, citado por Caillods, Göttelmann-Duret
& Lewin, 1997), na área das ciências, a evidência relativa às relações entre a avaliação e
o desenvolvimento do currículo, sugere situações de ambiguidade. Os movimentos de
reforma científica dos anos 60 e 70 estimularam o desenvolvimento de novos currículos,
nos países desenvolvidos, enfatizando a descoberta orientada e as competências
científicas de resolução de problemas, reduzindo a ênfase tradicionalmente concedida
ao conhecimento factual. No entanto, na maioria desses países, a tipologia de avaliação
revelava lentas mudanças no sentido de reflectir esta nova ênfase. Segundo Black (1990,
citado por Caillods, Göttelmann-Duret & Lewin, 1997), têm sido pouco frequentes as
mudanças na tipologia de avaliação nacional, de forma a viabilizar as mudanças
desejáveis no ensino-aprendizagem. Segundo ele, as razões que levam às mudanças nos
sistemas de avaliação, fundamentam-se, com frequência, na redução de custos, no
aumento de credibilidade relativamente ao sistema educativo, raramente se baseando
nas novas sugestões do currículo.
48
programas orientados com uma mesma estrutura relativamente ao currículo, instrução,
avaliação e clima de aprendizagem, sendo ainda fundamental a sua vigência por
períodos de tempo adequados. Eles concluem, então, no seu estudo, que as medidas
implementadas pelas escolas e novas reformas, no sentido de melhorar o sucesso dos
alunos, tendem a não resultar se não existir coerência no âmbito da globalidade das
medidas assumidas. Ou seja, todos os esforços exercidos nesse sentido, quer a nível do
currículo, das práticas pedagógicas, dos materiais didácticos e das avaliações, serão em
vão, caso não ocorra uma linha condutora de consistência ao longo de todas essas
medidas. Nesse sentido, e desconhecendo investigações que disponibilizem uma
reflexão profunda e sistemática sobre estas inconsistências nos sistemas educativos, eles
sugerem a urgência da realização de estudos que explorem devidamente este problema.
Também Benavente (1990) sugere que as reformas e mudanças no sistema educativo
exigem o desenvolvimento de investigação em educação, que a equacione numa
perspectiva de referência sócio-política e cultural alargada.
49
Roderick, Jacob e Bryk (2002), no seu estudo sobre o impacto resultante da divulgação
dos resultados dos exames em escolas de Chicago, sobre o sucesso dos alunos dessas
escolas, defendem que o debate sobre os efeitos das avaliações nacionais é a questão
mais pertinente no âmbito da política educacional na actualidade. Segundo estes
autores, os resultados dos alunos melhoraram substancialmente nos Estados que se
submeteram a estes programas. Evidentemente deverão minimizar-se, na medida do
possível, as limitações das análises realizadas, procurando, desta forma, que os dados
recolhidos se aproximem o mais possível da realidade das escolas em termos da
qualidade de ensino que promovem.
Segundo Clímaco (1992a), o debate sobre o novo modelo de avaliação dos alunos levanta
questões pertinentes sobre o processo de ensino-aprendizagem, onde se incluem questões de
currículo e de avaliação, assim como sobre a qualidade da escola enquanto contexto de
aprendizagem e de desenvolvimento. Sugere ainda, esta investigadora, a íntima relação
destas duas dimensões em qualquer processo de mudança. Benavente (1990) considera
fundamental “a avaliação permanente dos sistemas educativos no sentido de corrigir erros
numa planificação flexível”, sugerindo que esta estratégia de mudança poderá favorecer as
transformações dos sistemas educativos. Segundo Benavente (1990), “a construção de
conjuntos integrados de avaliação, articulando elementos qualitativos e quantitativos, aos
diversos níveis do Sistema, permite que se apreenda a sua coerência e eficácia, se se procura
desenvolver e melhorar a qualidade de ensino” (p.43).
Notas
1. A publicação dos “rankings” das escolas nos anos mais recentes tem levantado grande polémica,
50
principalmente devido à limitação de dados que está na sua base. Inicialmente, os dados utilizados
limitavam-se às classificações obtidas nos exames nacionais de biologia. Em 2001/2002, ao tentar
melhorar a eficácia desta classificação, adicionou-se o factor “localização das escolas”, não se dando,
porém, a devida importância à caracterização sociológica dos alunos. Consequentemente, surgiram
algumas situações peculiares, como, por exemplo, escolas localizadas na cidade mas com alunos de
classe trabalhadora, que concorriam em desvantagem com escolas de província cujos alunos
pertenciam à classe média. Se partirmos do pressuposto (como indiciam os dados da sociologia e os
dados empíricos recolhidos em inúmeras investigações) que a classe social tem um papel crucial na
definição do sucesso dos alunos, poderemos concluir que estes critérios de classificação assumem um
carácter pouco rigoroso.
51
CAPÍTULO 3
METODOLOGIA
1. INTRODUÇÃO
55
modelo teórico (linguagem de descrição interna).
56
3) Analisar o tipo de recontextualização do programa expresso na prática pedagógica
de professores de escolas socialmente diferenciadas.
57
Partindo destes pressupostos, pretendia-se avaliar em que medida o posicionamento
pedagógico (passível de ser traduzido numa mensagem sociológica) dos professores das
escolas investigadas se encontra em conformidade com as tendências preconizadas nos
programas nacionais de biologia, ou se, pelo contrário, está em maior sintonia com o
discurso valorizado nos exames nacionais de biologia (partindo do princípio, como se
pretende também confirmar neste estudo, que podem existir inconsistências entre os
dois documentos referidos). Ao considerarmos que os documentos a analisar traduzem
mensagens pedagógicas passíveis de ser comparadas, pretendia-se, através deste estudo,
discutir a recontextualização pedagógica sofrida pelos programas tendo em conta o que
é valorizado nos actuais exames nacionais de biologia de 12º ano, assim como as
diferenças nessa recontextualização, tendo em conta a prática pedagógica dos
professores de escolas socialmente distintas e as consequências que daí advêm em
termos dos resultados obtidos pelos alunos nos exames nacionais de biologia.
2. SUJEITOS DO ESTUDO
O procedimento levado a cabo para a selecção das escolas a analisar teve, assim, em
conta os seguintes critérios:
58
- Composição sociológica dos alunos da escola
- Número de alunos internos (que foram a exame) semelhante nas diferentes escolas
- Duas escolas com resultados elevados nos referidos exames (escolas classificadas no
nível mais elevado dos “rankings” publicados pelo Ministério da Educação), ambas
pertencentes à classe média;
- Duas escolas, ambas pertencentes à classe trabalhadora, uma com resultados acima
da média nacional e outra com resultados abaixo da referida média.
59
trabalhadora, em que a média da classificação dos alunos internos (20 alunos) no exame
nacional de biologia foi relativamente baixa (10.16 valores) mas acima da média
nacional. Relativamente à média da classificação interna destes alunos (14.3 valores)
houve uma descida na classificação do exame.
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Procurou-se tornar o estudo objectivo o que nos levou a prestar uma atenção constante
aos critérios de validade e fidelidade das suas observações. Os procedimentos a ter em
conta no sentido de contribuir para a validade e fidelidade do estudo, foram concebidos
no âmbito de uma investigação interpretativa.
60
Amendoeira, 2002), procurou-se clarificar os critérios relativos a esses conceitos no
sentido de avaliar a qualidade das opções metodológicas assumidas.
Relativamente à fidelidade, esta é um critério que não se reporta directamente aos dados
de um estudo, aplicando-se fundamentalmente às técnicas e instrumentos de medida ou
observação, partindo do princípio que produzem sempre o mesmo resultado,
independentemente do tempo e do espaço em que são aplicados (Lessard-Hébert et al.,
1994, citados em Amendoeira, 2002). Van der Maren (1987, citado em Amendoeira,
2002) sugere a importância de documentar devidamente todas as fases da investigação,
de forma a confirmar a fidelidade e a constância na aplicação dos princípios, como a
padronização das regras de análise, do tratamento e de interpretação. Nesse sentido, será
importante a verificação por outro investigador de forma a aferir a aplicação correcta
das regras recomendadas.
61
Borg, 1996) os conceitos de validade e fidelidade dificilmente se conseguem distinguir
no âmbito de alguns tipos de investigação de estudos de caso.
7. Encadeamento de evidências: Segundo Yin ( 1994, citado em Gall & Borg, 1996), a
validade de um estudo é fortalecida se o investigador apresentar ligações claras e
significativas entre os objectivos da investigação, os dados recolhidos e os resultados.
9. Padrões de adequação: Segundo Yin (1994, citado em Gall & Borg, 1996), as
inferências causais retiradas dos resultados são fortalecidas se as conclusões retiradas do
62
estudo de caso correspondem aos pressupostos previstos teoricamente.
63
previstos inicialmente.
O instrumento utilizado para a análise dos programas (C.T.V. de 10º e 11º anos e
biologia de 12º ano) não careceu de pilotagem por já ter sido utilizado em estudos
anteriores sobre a análise dos programas do 2º e 3º ciclo do ensino básico de várias
disciplinas de ciências ( por exemplo, Morais, Neves & Fontinhas, 1998; Neves,
Morais, Medeiros & Peneda, 2000; Lopes & Morais, 2001). O instrumento baseia-se na
teoria de Bernstein ( Bernstein, 2000) e parte do pressuposto que o programa veicula,
pela sua organização e constituição, determinada mensagem sociológica em termos do
que e do como do discurso pedagógico oficial.
64
Na sequência de uma dialéctica entre elementos de natureza conceptual da teoria de
Bernstein, elementos constituintes do programa e ainda elementos relacionados com
outras análises realizadas no âmbito do estudo, procedeu-se à definição das áreas e
categorias de análise do programa. Foram assim seleccionadas, como categorias de
análise do texto do programa as competências cognitivas veiculadas no discurso
instrucional específico e, no âmbito deste, as competências cognitivas simples e
complexas. No que se refere às áreas de análise do programa seleccionaram-se a
Introdução Geral ( da qual apenas se seleccionou o Enquadramento dos Programas do
Ensino Secundário na Reforma Curricular e os Objectivos Gerais, exceptuando assim a
estrutura curricular) e os Programas das Disciplinas (C.T.V. de 10º e 11º anos e biologia
de 12º ano ) com todas as suas rúbricas, com excepção dos conteúdos, dos quais apenas
se retiraram os mapas organizadores. Constatou-se, ao longo desta análise, que a
maioria das rúbricas relativamente aos Programas das Disciplinas eram idênticas (no
10º e 11º nos de C.T.V. e no 12º ano de Biologia) exceptuando apenas a rúbrica relativa
aos conteúdos que era obviamente distinta.
Todos os excertos que foram objecto de análise organizaram-se em quadros gerais3 por
rubricas do programa e foram numerados (Anexo1). Estes quadros permitiram a análise
da ênfase atribuída, no âmbito do discurso instrucional específico, às competências
cognitivas simples (CS) e complexas (CC)4. Utilizaram-se três símbolos no âmbito
desta classificação: (- ) quando o excerto não permitiu qualquer interpretação
relativamente à análise em causa; (*) quando o excerto se revelou ambíguo
65
relativamente à mensagem relacionada com a análise. Estas duas situações não foram
contabilizadas para efeitos de análise dos dados por não contribuirem para o objectivo
da análise em questão; (X) sempre que o excerto permitiu extrair o sentido da
mensagem relacionada com o foco de análise. No caso das competências cognitivas
simples e complexas o símbolo (X) significa a presença destes elementos nos excertos.
Não obstante as competências complexas pressuporem as simples, quando, no excerto,
apenas se fez referência às competências complexas, apenas estas foram assinaladas.
Somente quando no excerto apareciam claramente referidos os dois tipos de
competências, eram ambas assinaladas.
A título de exemplo apresentam-se frases que ilustram, para diferentes áreas de análise
do programa, a classificação efectuada.
Introdução Geral
(CC): Promover o sentido crítico dos fenómenos e a capacidade de análise e de concepção de soluções
alternativas para problemas da realidade envolvente.
(*): Criar condições que permitam a consolidação e aprofundamento da autonomia pessoal conducente a
uma realização individual e socialmente gratificante.
(? ): A função social do ensino secundário, enquanto patamar de formação para o ingresso na vida activa
ou para o prosseguimento de estudos de grau médio ou superior, impõe que se prossigam metas mais
exigentes de desenvolvimento, tendo em vista, tanto quanto possível, a maturidade sócio-cultural...
66
relativamente ao que é valorizado pelos programas relativamente às competências
referidas o que, indirectamente, permitiu concluir sobre o nível de exigência conceptual
sugerido nesse documento.
67
necessidade de proceder ao seu aperfeiçoamento progressivo, recorrendo para o efeito a
contínuas reflexões sobre a adequação das várias categorias do instrumento com a
diversidade de questões que surgiam e a vários trabalhos sobre Taxonomia do Domínio
Cognitivo. Entre estes consta, evidentemente, uma das mais conhecidas taxonomias de
objectivos educacionais no domínio cognitivo desenvolvida por Bloom, assim como de
outros investigadores (Morais, Neves & Galhardo, 1984; Gilbert,1992). Foi esta
dialéctica entre as categorias “teóricas” e os dados empíricos (resultantes da análise
exploratória das questões/alíneas de todos os testes) que viabilizaram a reformulação
progressiva do instrumento.
Tal como na Taxonomia de Bloom (Bloom, Engelhart, Furst, Hill & Krathwohl, 1977),
as categorias do instrumento baseiam-se em níveis “cognitivos” que diferem quanto à
complexidade dos processos psicológicos exigidos. Assim, começou-se por estabelecer
uma escala com dois níveis distintos de complexidade6 (competências cognitivas
simples - CS - e competências cognitivas complexas - CC), cada um dos quais foi
subdividido em mais categorias (competências cognitivas simples de nível mais
elementar – CS? ; competências cognitivas simples de nível mais elevado – CS+;
competências cognitivas complexas de nível mais elementar – CC? e competências
cognitivas complexas de nível mais elevado – CC+). Cada uma destas categorias foi
ainda desdobrada em várias categorias. A lógica que presidiu ao estabelecimento dos
vários níveis e subníveis teve por base não só o grau de complexidade dos processos
psicológicos requeridos como ainda o nível de abstracção/abrangência dos conceitos
envolvidos nas questões apresentadas. Estes níveis e subníveis encontram-se em
conformidade com as distintas situações ocorridas nos documentos analisados
deixando-se por isso em aberto a possibilidade de ocorrência de outras situações não
abrangidas por este estudo. Parece-nos que tendo em conta a grande diversidade e
complexidade das competências cognitivas existentes persistirá sempre a possibilidade
de melhoramento no sentido de instrumentos que viabilizem categorizações
progressivamente mais claras e abrangentes.
68
sido estudada e analisada anteriormente. Ora, no presente estudo, a impossibilidade de
aceder a esse contexto colocou-nos perante uma situação de limitação relativamente à
categorização dos itens dos testes e exames analisados. De qualquer forma as dúvidas
possíveis enquadram-se dentro de uma mesma categoria das quatro existentes, o que,
em termos de balanço do tipo de competências privilegiadas, não afectará as reflexões
pretendidas no âmbito deste estudo.
69
categoria “planifica experiências” (Capacidade de integrar os procedimentos da
investigação num plano para a solução de um problema) foi retirada por não ocorrer
uma única vez nos materiais analisados, o mesmo sucedendo com a categoria “formula
problemas” (Capacidade para formular adequadamente os problemas contidos num
enunciado). Da mesma forma se acrescentou a categoria “ formula críticas em contextos
mais abrangentes” (Avaliação crítica de situações/afirmações, fundamentada em
conceitos aprendidos) por terem surgido algumas questões deste tipo. Esta categoria
acresce ainda de importância no actual contexto educativo dado que se enquadra nas
pertinentes “competências para a cidadania” as quais requerem, afinal, um domínio da
literacia científica por parte do aluno, a sua relação com outros contextos (sociais,
económicos, políticos, etc.) e a capacidade de assumir uma posição crítica e
fundamentada relativamente aos temas em causa. A cada categoria de análise seguem-se
exemplos de questões retiradas dos materiais analisados.
Em qualquer das situações (análise dos testes e do exame nacional), os desvios relativos
à análise das questões em função das categorias gerais CS e CC foram muito baixos,
situando-se entre 2.7% e 5.4% na análise do exame e entre 0% e 6.1% na análise dos
testes, sendo ainda de salientar que, em mais de metade das situações, não se
70
observaram diferenças nas análises das várias avaliadoras. Os desvios relativos à análise
das questões, quando se discriminaram as competências em CS- e CS+ e em CC- e CC+,
foram também baixos, situando-se entre 2.7% e 5.4% para o exame nacional e entre 0%
e 15.6% para os testes das professoras. Os desvios relativos à análise das questões, em
função de todas as categorias e subcategorias presentes no instrumento, situaram-se
entre 16.2% e 24.3% na análise do exame e entre 0% e 26.7% na análise dos testes.
Tendo em conta as diferenças encontradas na avaliação das questões em função dos três
critérios referidos, decidiu-se usar, para a análise dos testes e da prova de exame, apenas
os dados relativos às avaliações em que os desvios, sendo baixos, não comprometiam a
objectividade da análise feita pela investigadora. Assim, usou-se nesta análise, os dados
relacionados com a ênfase dada (nos testes e nos exames) às competências cognitivas
simples (CS) e complexas (CC) e, dentro de cada uma destas categorias, às
subcategorias incluídas em CS (CS- e CS+) e em CC (CC- e CC+).
Após o registo dos dados resultantes da análise de cada uma das questões do exame,
procedeu-se à caracterização do nível de exigência conceptual desta prova. Para esta
caracterização consideraram-se as seguintes relações: a) distribuição relativa das
questões classificadas como CS e como CC no conjunto de todas as questões da prova
(T) ; b) distribuição relativa das questões classificadas como CS- e CS+ no conjunto das
questões CS e das questões classificadas como CC- e CC+ no conjunto das questões CC
(P) (ver Anexo 3).
71
3.4. ANÁLISE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA DAS PROFESSORAS
72
Quadro 3.1. – Ênfase relativa atribuída nos testes (10º e 11º anos de CTV e 12º ano de Biologia) às competências
cognitivas complexas (CC) - Resultados do estudo exploratório
ANOS DE PROVA
OUT/NOV DEZ JAN FEV MARÇO ABRIL MAIO/JUN MÉDIA CC
ESCOLAS ESCOLA- GLOBAL
(%)
RIDADE CC T % CC T % CC T % CC T % CC T % CC T % CC T % CC T %
10º Ano: Escola D (20.1%) → Escola A (20.5%) → Escola C (34.4%) → Escola B (49.0%)
11º Ano: Escola D (26.3%) → Escola A (29.6%) → Escola C (36.8%) → Escola B (41.3%)
12º Ano: Escola D (12.5%) → Escola A (20.8%) → Escola B (28.0%) → Escola C (31.1%)
De acordo com estas tendências, é possível observar que, em qualquer dos anos de
escolaridade, se formam nitidamente dois grupos de escolas no que se refere ao nível de
exigência conceptual promovido. Nas escolas A e D este nível de exigência é
semelhante e sempre bastante inferior ao das escolas B e C.
Nesta selecção foi ainda tido em conta outro factor: a maior ou menor abrangência dos
testes relativamente aos conteúdos programáticos avaliados. Ou seja, considerou-se que
seria mais correcto seleccionar testes que avaliassem uma maior quantidade de
conteúdos programáticos (testes mais globais), como é habitual acontecer, por exemplo,
em finais do 2º e do 3º períodos.
Seleccionou-se então, para cada ano, a prova global (a pertinência desta escolha
prendeu-se com a abrangência de conteúdos característica desta prova) e um teste (na
medida do possível também abrangente) cuja média das percentagens das CC traduzisse
a distinção entre os dois grupos de escolas relativamente ao nível de exigência
conceptual.
Tendo então em conta os dados expressos no quadro 3.1. e a abrangência dos conteúdos
avaliados, seleccionaram-se os seguintes testes:
74
- 11º ano de C.T.V.: Provas globais e testes de Março/Abril (correspondentes à
avaliação final do maior período do ano -2º Período);
Os procedimentos utilizados para análise e tratamento dos dados foram idênticos aos
referidos para o exame nacional de biologia (ver 3.3.3. deste capítulo).
3.4.2. Entrevista
75
de facto valorizado por esses professores, em termos de competências cognitivas, pois,
ao clarificar as opções pedagógicas mais frequentes, viabilizam informações sobre as
competências que provavelmente serão promovidas no âmbito dessas pedagogias. Por
exemplo, se as opções se centrarem em aulas de recepção, estar-se-á a apelar às
competências mais elementares do processo cognitivo. Contrariamente, se as
metodologias apontarem preferencialmente para aulas centradas no aluno sendo este
envolvido em actividades enquadradas no âmbito de paradigmas construtivistas ou
sócio-contrutivistas, então estar-se-á a fazer um apelo também à promoção das
competências cognitivas de nível mais elevado. No que se refere às actividades
experimentais, se estas se limitarem a exemplificar a teoria através de práticas que se
desenvolvem como “receitas”, estarão a ser promovidas competências mais
elementares. Se, pelo contrário, a prática surgir como resposta a um problema
levantado, criam-se as condições mais adequadas à promoção de competências
complexas.
Nas quatro escolas que foram objecto do estudo, os critérios de selecção dos professores
para o acompanhamento dos alunos ao longo do ensino secundário era diferente. Nas
escolas A e B uma mesma professora acompanhava sempre os alunos desde o 10º ano
até ao 12º ano. Desta forma, em cada uma destas escolas, entrevistou-se a professora
que acompanhou os alunos ao longo destes três anos (efectiva na escola há mais de 15
anos). Nas outras escolas (C e D), os professores que acompanhavam os alunos não se
mantinham ao longo de todo o ciclo, tendo um professor leccionado nos 10º e 11º anos
de C.T.V. e outro professor leccionado no 12º ano de Biologia. Optou-se, nestas
escolas, por entrevistar uma professora efectiva, com grande antiguidade na escola
(mais de 15 anos) que já havia leccionado 10º e 11º anos de C.T.V. assim como 12º de
Biologia e que, por motivos de ordem vária (assumir com frequência cargos de
76
delegada, orientadora de estágio e outros) poderia fornecer informações fiáveis sobre
as tendências pedagógicas que orientavam as práticas dessas escolas.
77
grande rigidez, respostas recolhidas em diferentes agrupamentos de questões, sempre
que tal situação se mostrou esclarecedora.
EXCERTOS:
“[...] nas aulas práticas os miúdos vão pesquisar, vão aferir, vão verificar, trabalhar em diversos assuntos,
que depois vão dar na teórica [...]”
“[...] No 10º e 11º ano havia também uma prática, que eu chamo aprendizagem por descoberta orientada
[...]”
EXCERTOS:
“ [...] aulas com apresentação de acetatos, que vou pondo aos bocadinhos, à medida que é preciso
exemplificar, faço sempre no quadro esquemas segundo aquilo que vou dizendo, nunca falo sozinha,
portanto vou falando e para eles chegarem às coisas, vou perguntando, vou puxando conhecimentos
anteriores... [...]”
“[...]. Efectivamente o ideal para eles compreenderem melhor uma determinada etapa da respiração, era
com aquelas fichas, que no fundo eram exercícios de inquérito. Ou eram apresentados sob a forma de
exercício de inquérito, com factos que iam sendo sugeridos e eles, com base nos factos, iam tirando
conclusões, ou eram aquelas fichas de trabalho com tópicos de discussão, que no fundo desbravavam um
texto, que de certo modo ia passando, ia pedindo para destacar factos e depois acabava por chegar ao
conceito, não é? Ou à teoria,... [...]”
EXCERTOS:
“[...] faço trabalhos em grupo, muito trabalho em grupo... eles deram-se muito bem com este método
porque são obrigados a estar ali a pensar, a raciocinar, a discutir em grupo, porque eu ando ali
78
permanentemente à volta e portanto aquilo não há hipótese de eles não estarem a trabalhar [...]
“ [...] Na apresentação oral dos trabalhos de grupo eles tinham que organizar os conhecimentos e traduzir
aquilo num discurso de que se tinham apropriado... Eu até tinha um bocadinho de trabalho na área da
psicologia, porque uma vez houve uma aluna que me disse assim: “ eu mesmo assim aquilo que me
lembro mais da professora, que foi mais útil para mim como professora de Ciências, foi o ter percebido
que eu só sabia as coisas quando as sabia explicar”[...]
“[...] os projectos que eu acompanhei foram fantásticos, acho que nunca vi os alunos tão envolvidos como
nessa fase de execução dos projectos.... Eles estavam a sentir-se actores e sumultaneamente eles eram
divulgadores dentro da própria escola. Portanto se eles estavam tão motivados para ir ao encontro dos
outros colegas, ir ao encontro dos outros professores, e fazerem o que fizeram muitas vezes nas
conferências, nas exposições cá em baixo, é porque eles se tinham apropriado de uma maneira tal que
deixaram quase de ser os simples alunos [...]”
EXCERTOS:
“[...] Em TLB a prática ilustra a teoria, sim, sim, tem como objectivo clarificar a teoria. Exactamente,
claro [...]
“[...] Porque eu na minha disciplina de C.T.V. não tenho possibilidade de fazer muita prática, é muita
matéria, muito extensa, normalmente eu faço a parte teórica... a professora de TLB contribui um pouco
com a parte prática, fazendo as experiências, algumas relativas à parte teórica, na maioria dos casos as
práticas vão ilustrar a teoria, quando possível [...]”
EXCERTOS:
“[...] Eu dou uma ficha para cada aluno. Sempre. Ou fazem na aula, ou vão fazendo em casa e vamos
corrigindo na aula. Ainda hoje lhes entreguei fichas que estive a fazer no fim de semana, muito escolha
múltipla, para ser rápido de fazer, mas com grande parte da matéria e depois até lhes dei as soluções
todas. Portanto eles fazem muitos exercícios destes, muitas fichas ao longo do ano... Por vezes corrigimos
as fichas na aula...Porque eu não tenho tempo para estar a corrigir as fichas todas e mais os testes e mais
aquilo tudo [...]”
“[...] Eu utilizo muito os acetatos... Eles podem intervir quando querem... E quando eu não ponho acetatos
eles começam logo a dizer: “ Professora, então hoje não temos acetatos? [...]”
“[...] Como digo, aulas práticas tem sido difícil... Prática mesmo virada para a prática tem sido difícil [...]”
“[...] O 12º ainda viu uns filmezinhos este ano, mas não teve muito tempo, o 12º é andar para a frente [...]”
79
INDICADOR: Trabalhos de grupo centrados na realização de tarefas de revisão/consolidação de
conhecimentos
“[...] Trabalho de grupo fazem às vezes as fichas, às vezes passo fichas resolvidas... nunca faço uns
grupos muito grandes... Dois... três, pontualmente... [...]”
“[...] Eu para mim gosto muito de trabalhos ilustrados sempre. Os trabalhos que eles fizeram, o ano
passado, sobre o sistema solar, sobre a ida à Lua, etc., eu quis muito pouco escrito... Muito pouco escrito
no trabalho... Um cartaz grande ilustrado. Com figurazinhas com legendas [...]”
Notas
1. O movimento construtivista defende que a realidade é construída pelos indivíduos que nela
participam (Gall & Borg, 1996).
3. Na maioria das rúbricas do programa o texto é apresentado na íntegra. Porém, nos capítulos da
“Introdução Geral” e “Introdução às Disciplinas” (que é comum aos três anos), optou-se ora por
apresentar versões integrais do texto, ora por apresentar apenas sínteses (quando o tema em causa e a
extensão ocupada assim o determinaram).
4. Optou-se, no âmbito destes quadros de análise, por não fazer uma descriminação tão minuciosa das
competências cognitivas (tal como ocorreu no instrumento de análise dos testes e do exame nacional
de biologia) pois os estudos exploratórios realizados apontaram para a impossibilidade de uma
análise tão pormenorizada devido ao carácter genérico das frases apresentadas.
80
entendimento da sua importância, interrelações e sua relevância no que se refere a generalizações
implícitas ou descritas no enunciado original) e as competências complexas de nível mais elevado -
CC+ (incluem o nível mais elevado da compreensão – a extrapolação, a aplicação, a análise, síntese
e avaliação). Cada uma destas categorias encontra-se subdividida em várias subcategorias cujas
definições constam do instrumento de análise em anexo (Anexo 2).
7. Embora se faça referência nesta rúbrica ao exame nacional de biologia, os procedimentos utilizados
para tratamento e análise dos dados aplicaram-se também aos testes das escolas.
8. Para Ausubel (Pozo, 1993), depois da escola primária, a aprendizagem por recepção verbal constitui
o método mais eficaz de assimilação significativa do conteúdo de uma disciplina. Ele sugere, então,
uma aprendizagem similar ao questionamento Socrático, em que o aluno é impelido a integrar os
seus conhecimentos como consequência de uma série de questões programadas nesse sentido.
81
CAPÍTULO 4
ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO
DOS DADOS
1. INTRODUÇÃO
Pretendia-se, com esta análise, comparar o nível de exigência conceptual sugerido nos
programas com o nível expresso no exame nacional de biologia. Com o objectivo de
definir a ênfase relativa atribuída às competências cognitivas simples e complexas no
âmbito do programa em estudo (ver Anexo 1), registaram-se no Quadro 4.1. as
frequências correspondentes a cada nível das referidas competências relativamente a
cada uma das rubricas gerais do programa (Introdução Geral e Programas das
Disciplinas).
85
Quadro 4.1.– Ênfase relativa atribuída no programa às competências cognitivas
simples (CS) e complexas (CC)
FREQUÊNCIA
RUBRICAS DO PROGRAMA CS CC
Nº % N %
1. Enquadramento
INTRODUÇÃO dos programas do
GERAL Ensino Secundário ? ? 2 5.6
na Reforma
Curricular.
2. Finalidades ? ? 6 16.7
PROGRAMAS DAS
3. Objectivos Gerais
DISCIPLINAS
das disciplinas 1 2.8 9 25.0
(CTV 10º e 11º ANOS
e 12º ANO DE 4. Conteúdo ? ? 2 5.6
BIOLOGIA)
5. Orientação
Metodológica 2 5.6 5 13.9
Segundo os valores apresentados podemos concluir que existe uma sugestão clara do
programa relativamente à promoção de competências correspondentes a um nível
elevado de exigência conceptual.
Para definir o nível de exigência conceptual expresso no exame nacional (ver Anexo 3),
calculou-se a ênfase atribuída às competências cognitivas simples e complexas, quando
se consideram as categorias mais abrangentes (CS e CC) e as respectivas subcategorias
consideradas no instrumento de análise (CS -, CS +, CC - e CC +). O gráfico da Figura
4.1. apresenta os resultados desta análise.
86
CS
CC
CS-
CS+
% de ênfase 100
CC-
90 CC+
80
70
60
50
40
30
20
10
0
CS/CC - + - +
CS /CS CC /CC
Competências cognitivas
87
perante um constante dilema: Formar para quê?
Programa
Exame
% de ênfase 100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Competências cognitivas
complexas (CC)
3.1. ESCOLA A
Os dados relativos à análise dos testes sumativos, nesta escola, ao longo dos três anos
do ensino secundário (Anexo 4) encontram-se organizados no Quadro 4.2.
88
Quadro 4.2 – Análise dos testes sumativos na Escola A
MÉDIA
MÉDIA DAS SUBCATEGORIAS DE CS E DE CC (%)
ESCOLA CS/CC ( %)
Através dos dados expressos no Quadro 4.2., podemos observar que a percentagem de
questões dos testes que avaliam competências cognitivas complexas (CC) é sempre
reduzida, baixando drasticamente do 10º/11º anos para o 12º ano. Relativamente às
questões que avaliam competências cognitivas simples (CS), a ênfase é sempre maior
nas competências simples de nível mais elementar (CS -) do que nas competências
simples de nível mais elevado (CS +), sendo esta ênfase também mais evidente no 12º
ano. Relativamente à categoria CC, não há nenhuma questão correspondente às
competências complexas de nível mais elevado (CC +) no âmbito do 10º e 11º anos,
havendo apenas duas questões correspondentes a este nível no 12º ano. Podemos, pois,
concluir que o nível de exigência conceptual é baixo e que o facto de esse nível diminuir
bastante no 12º ano poderá revelar uma preocupação da escola/professora com a
preparação dos alunos para as competências que são avaliadas no exame.
89
(dois, três alunos). As aulas expositivas, parecem ser a opção prioritária desta
professora. Desta forma, as aulas centradas no aluno, mais potenciadoras do
desenvolvimento de competências complexas são praticamente inexistentes, limitando-
se à resolução de fichas cujas soluções a professora entrega aos alunos, retirando, desta
forma, todas as oportunidades que os alunos teriam para pensar, ou seja, desenvolver
competências cognitivas de ordem mais complexa.
“[...] Em TLB a pática ilustra a teoria ... tem como objectivo clarificar a teoria. [...]”
“[...] Porque eu na minha disciplina de CTV não tenho possibilidade de fazer muita prática, é muita
matéria, muito extensa, normalmente eu faço a parte teórica... a professora de TLB contribui um pouco
com a parte prática, fazendo as experiências, algumas relativas à parte teórica, na maioria dos casos as
práticas vão ilustrar a teoria, quando possível. [...]”
“[...] Como digo, aulas práticas tem sido difícil... Prática mesmo virada para a prática tem sido difícil [...]”
“[...] Como o exame avalia principalmente competências factuais, portanto nós temos de os preparar
muito para isso. [...]”
“[...] Eu dou uma ficha para cada aluno. Sempre. Ou fazem na aula, ou vão fazendo em casa e vamos
corrigindo na aula. Ainda hoje lhes entreguei fichas que estive a fazer no fim de semana, muito escolha
múltipla, para ser rápido de fazer, mas com grande parte da matéria e depois até lhes dei as soluções
todas. Portanto eles fazem muitos exercícios destes, muitas fichas ao longo do ano... Por vezes corrigimos
as fichas na aula...Porque eu não tenho tempo para estar a corrigir as fichas todas e mais os testes e mais
aquilo tudo... Eu utilizo muito acetatos...Eles podem intervir quando querem. [...]”
“[...] O 12º ainda viu uns filmezinhos este ano, mas não teve muito tempo, o 12º é andar para a frente.[...]”
“[...] Trabalho de grupo fazem às vezes as fichas, às vezes passo fichas resolvidas... nunca faço uns
grupos muito grandes... Dois... três, pontualmente... Às vezes fazem uns trabalhos de grupo que
apresentam, mas este ano não houve tempo para isso. [...]”
90
testes do 12º ano, dado serem estes que melhor ilustram o que é exigido nas escolas
como preparação para o exame. Além disso, verificara-se (ver Quadro 4.2.) que a ênfase
relativa atribuída, no 12º ano, às competências de diferente nível de complexidade,
seguia uma tendência geral semelhante nos 10º e 11º anos.
O gráfico da Figura 4.3. clarifica a relação entre o nível de exigência conceptual nos
testes de 12º ano desta escola, no programa e no exame.
Testes
Programa
Exame
% de ênfase 100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Competências cognitivas
complexas (CC)
Figura 4.3. – Relação entre o nível de exigência nos testes de 12º ano da Escola A, no
programa e no exame
Através dos dados expressos na Figura 4.3 podemos observar que a mensagem expressa
nos testes da escola/professora se aproxima claramente do exame estando muito
distanciada do que é sugerido nos programas. Verificamos também que o nível de
exigência conceptual correspondente aos testes da escola/professora é ainda mais baixo
do que o do exame nacional.
91
explicita relativamente ao discurso pedagógico oficial (DPO) expresso no programa e
no exame parece um pouco ambíguo e confuso. Ao referir que os resultados dos alunos
portugueses nos Testes Internacionais em Ciência exigem competências complexas que
não constam nos nossos programas, a professora clarifica um desconhecimento
relativamente a esse documento. No que se refere ao exame nacional afirma
simultaneamente que este apenas avalia conhecimento factual mas que concorda com a
tipologia deste. Considera porém que esta tipologia de exame favorece os alunos
“menos dotados” que com frequência atingem as melhores classificações nos exames.
“[...] Eu acho que os exames são muito, muito, muito de aquisição de conhecimentos... eu acho que o
exame não avalia competências. Só avalia realmente o conhecimento que eles têm... penso que no 12º ano
é difícil prepararmos simultaneamente os alunos para os exames nacionais e dar cumprimento às
tendências dos programas... No entanto eu sou apologista dos exames, ahm!... relativamente ao insucesso
dos alunos portugueses nos testes internacionais em Ciência, acho que devem exigir, se calhar, coisas em
que os nossos programas estão bastante limitados.[...]”
“[...] Eu às vezes verifico que há alunos que nós vemos que eles são... por exemplo, este ano temos o caso
de um aluno de 11º ano que me dizem que o miúdo é muito inteligente e eu continuo a dizer que não é.
Mas há-de provar que não é. Porque eu acho que um aluno inteligente não precisa de fazer certas
perguntas. Percebe? Portanto eu acho que o miúdo, não me lembro agora que nota é que ele tirou, eu sei
que foi um dos melhores, no exame nacional, o ano passado, tirou uma nota excepcional. Por acaso foi
para Farmácia, não foi para Medicina, foi para Farmácia com uma média elevadíssima, com média de
dezanove ou o que é que foi. E não era muito inteligente. Ele era marrão, mas um marrão muito grande.
Portanto eu quando vejo isso... prova que de facto os exames avaliam o conhecimento factual.[...]”
“[...] O insucesso dos alunos a biologia a nível nacional relaciono-o mais com o que se passa agora nas
famílias do que com a origem social dos alunos... há crianças aí que os pais casaram já cinco vezes... Eu
acho que a vida actual é que é muito problemática... Agora quando me falou no problema sócio-cultural,
eu pus-me a pensar assim naquelas terrinhas de província. Mas às vezes até são muito melhores do que
aqueles que têm um certo nível nas famílias.[...]”
“[...] Eu acho que o sucesso dos alunos desta escola se relaciona com o ideário da escola. Não é só um
projecto educativo . É um ideário a nível internacional... E portanto tudo isso depois é integrado na
educação deles... Está completamente relacionado... Porque como eu lhe digo, eles, desde que entram
aqui assim, os mais pequeninos não tanto, mas logo a partir aí da terceira, quarta classe, eles começam a
contactar com a realidade. Claro, nós procuramos muito levá-los às casas onde temos as nossas religosas.
92
Porque temos muito mais conhecimento do que se passa e portanto os miúdos não é levá-los assim para
qualquer bairro, para qualquer coisa. Nunca levamos, não é? Levamos aos bairros onde estão as nossas
religiosas a trabalhar. E depois há muitos miúdos que vêm cá. Agora no fim do ano há sempre miúdos
que vêm dessas casas. Vêm uns grupinhos, os nossos vão lá, eles vêm cá, levam lanche e oferecem lanche
aos miúdos quando vêm, etc. Quer dizer, isso a nível até ao décimo segundo. Os do décimo segundo, este
ano, fizeram várias vezes visitas assim. Um bocadinho já mais estruturadas, etc. Os mais pequeninos vão
assim mais informalmente. Eu acho que sim, que o ideário é fundamental para o sucesso dos alunos... É o
seguinte: temos que ver também, o colégio tem o projecto a nível nacional e o projecto a nível de colégio.
Portanto temos o ideário a nível dos três colégios que procuramos integrar. O projecto educativo engloba
o ideário, portanto está completamente baseado no ideário das religosas. Isto tem uma linha de conduta.
Desde os pequeninos até aos maiores. Há sempre um fio condutor. Penso que o sucesso desta escola
também se relaciona com o bom corpo docente que temos, muito estável. [...]”
“[...] ...Parece haver uma certa preocupação da escola no sentido de tornar os alunos à vontade nos
exames, principalmente no 12º ano. No 10º e 11º anos há a preocupação de os treinar do ponto de vista
não da matéria, está claro, mas de os treinar do ponto de vista de chegar ao exame e não encontrarem
nada que eles não tenham pelo menos pensado que existe. Não serem confrontados por exemplo com
sequências... com escolhas múltiplas, etc. Isto é para dar só o exemplo de uma. [...]”
Podemos, pois, concluir, que o nível de exigência conceptual desta professora é baixo,
reflectindo as suas opções pedagógicas uma recontextualização do programa no sentido
de uma aproximação do exame.
93
3.2. ESCOLA B
Os dados relativos à análise dos testes sumativos nesta escola, ao longo dos três anos do
ensino secundário (Anexo 4) encontram-se organizados no Quadro 4.3
Através destes dados verificamos que, no 10º ano, a percentagem de questões que
avaliam competências cognitivas complexas (CC) supera a percentagem de questões
que incidem sobre competências cognitivas simples (CS). Nos 11º e 12º anos, esta
tendência inverte-se, sendo evidente a diminuição de CC do 10º para o 12º ano.
Relativamente à categoria CS, a ênfase é sempre maior em CS -. No que se refere à
categoria CC, não obstante a ênfase continuar a recair em CC -, registam-se algumas
questões CC +, as quais chegam a atingir 46.7% no 12º ano. Em termos gerais, podemos
considerar que, apesar de haver uma clara diminuição da exigência conceptual ao longo
dos três anos, marcada pela aproximação do exame nacional, a prática desta escola é
caracterizada por um nível de exigência relativamente elevado.
Os dados disponibilizados pela entrevista permitem reforçar esta ideia. Para a professora
desta escola, é claro como as aulas práticas podem contribuir para o desenvolvimento do
raciocínio científico. As práticas como “receitas” ilustrativas da teoria são esclarecidamente
rejeitadas por esta professora. Os resultados experimentais diferentes do que era esperado
94
são, para ela, uma situação interessante propiciadora do raciocínio científico dos alunos.
Para ela, as práticas estão fundamentalmente ligadas à pesquisa e aos raciocínios
complexos. Para esta professora, porém, toda a sequência do raciocínio científico parte não
de um problema, mas da observação para a qual se requerem apenas as competências mais
elementares do domínio cognitivo, progredindo posteriormente no sentido da sequência do
raciocínio científico.
“[...] nas aulas práticas os miúdos vão pesquisar, vão aferir, vão verificar, trabalhar em diversos assuntos,
que depois vão dar na teórica [...]”
“[...] No 11º ano eles pediram que se fizesse pesquisa no campo da Hereditariedade e então chegámos a estar
um ano inteiro a trabalhar com cruzamentos com hamsters. E eles realmente interessaram-se muito, dedicaram-
se muito aquilo. Mas realmente não conseguimos chegar a conclusão nenhuma, por isso também é interessante.
Eles verificaram que nem sempre as coisas resultam como nós estudamos, não é? [...]”
“[...] A nível do secundário é dada toda a importância ao conhecimento de termos e factos pois é pelos
factos, pela observação é que se levanta o problema e depois é daí que surge toda a sequência do
raciocínio científico... e portanto eles vão ter que ir complexificando o seu raciocínio, indo à medida do
10º para o 12º.[...]”
“ [...] aulas com apresentação de acetatos, que vou pondo aos bocadinhos, à medida que é preciso
exemplificar, faço sempre no quadro esquemas segundo aquilo que vou dizendo, nunca falo sozinha,
portanto vou falando e para eles chegarem às coisas, vou perguntando, vou puxando conhecimentos
anteriores... faço trabalhos em grupo, muito trabalho em grupo... eles deram-se muito bem com este
95
método porque são obrigados a estar ali a pensar, a raciocinar, a discutir em grupo, porque eu ando ali
permanentemente à volta e portanto aquilo não há hipótese de eles não estarem a trabalhar. [...]”
“[...] A interdisciplinaridade apenas se faz no básico porque os programas não o permitem, não havia
horas... Eu acho que se não se fizer a intradisciplinaridade não se sabe nada e nos meus testes tenho
sempre aquelas chamadas perguntas de selecção. [...]”
O gráfico da Figura 4.4. clarifica a relação entre o nível de exigência conceptual nos
testes de 12º ano desta escola, nos programas e no exame.
Testes
Programa
Exame
% de ênfase 100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Competências cognitivas
complexas (CC)
Figura 4.4. – Relação entre o nível de exigência nos testes de 12º ano da Escola B, nos
programas e no exame
96
Através destes dados podemos observar que a mensagem expressa nos testes de 12º ano
desta escola/ professora se aproxima da do exame, sendo o nível de exigência
conceptual muito semelhante nos testes e no exame nacional. Este facto torna evidente a
forte recontextualização expressa na prática pedagógica relativamente ao que é sugerido
no programa, de forma a ir ao encontro do que é valorizado no exame nacional.
“[...] O exame de biologia vai muito para a memorização, como é óbvio, mas tem vindo a melhorar, de há
uns dois ou três anos para cá... Mas trazem algumas falhas científicas, respostas, por vezes insolúveis...
relativamente ao exame os meus alunos são avaliados por baixo. O teste de exame é muito mais fácil que
os meus testes... Consigo conciliar a preparação para os exames com o cumprimento dos programas
porque eu não os preparo para os exames, preparo-os para a Faculdade. E é por isso que eu tenho essa
exigência toda, que lhe digo que é a minha fama aqui dentro... uma fama negativa, infelizmente, mas
pronto, eles vêem sempre o aspecto negativo. [...]”
“[...] Só posso justificar o insucesso a biologia a nível nacional com uma grande falta de estudo já que os
pontos são com base na memorização... relativamente ao sucesso dos alunos desta escola, bom, ela
apanha um nível social médio e médio alto, não é? Portanto isso é meio caminho andado... Tem também
grande vantagem fazer os três anos seguidos... vou puxando mais um bocadinho, vão evoluindo mais um
pouco... e depois chegam ao exame e realmente o exame é muito mais fácil que aquilo que lhes foi
97
exigido e fazem com a perna às costas... Efectivamente eles depois fazem os dois primeiros anos de
Faculdade com uma perna às costas. Vão muito bem preparados e eu depois já me questionei se será que
realmente é preciso... mas eles próprios confirmam, que de facto aquele nível de exigência foi positivo
para eles... Acho que há um mau método de ensino, desde o básico. Eles decoram... São obrigados a
decorar... E depois não conseguem interrelacionar aquilo tudo...Há qualquer coisa que mudou
efectivamente... Mudou muito nos miúdos... porque eles vinham no concreto mas conseguiam depois ir
evoluindo, em anos anteriores... eu acho que o que tem de mudar é o método de ensino... o que está mal
agora é a escola... eu digo isto calmamente porque já o disse várias vezes para ir a pedagógico e à
Presidente do Conselho. [...]”
“[...] Esta tipologia de exames nacionais, para os alunos que querem, que gostam de pensar, é horrível, é
decorar por decorar. É irracional. Porque eu acho que não interessa nada decorar aquela sistemática toda
louca, com aqueles pormenores todos. Isto é loucura... porque isso, quando a pessoa precisar disso vai
buscar, ou especializa-se e acaba por trabalhar naquilo... Eles fazem o exame, ‘ligam à terra’ e aquilo
escoa tudo... os alunos mais fracos mais facilmente decoram, sem saber o quê.[...]”
“[...] A interdisciplinaridade torna-se difícil porque tinha de se trabalhar muito extra horário... e os
miúdos, principalmente os pais interferem imenso... Eu sei que há uma corrente que acham que sim, que
os pais devem interferir, mas interferem demais e negativamente... olhe que eu este ano tive uma carta de
pais, incrível, mas é verdade, bastante incómoda, porque eu exigia que os miúdos escrevessem
correctamente em português, marcava os erros todos, ralhava com eles, exigia que eles apresentassem os
ponto limpos, e os pais incomodaram-se com isso... imagine só... porque eles perdem tempo... porque
podiam pensar mais se não fizessem rascunho... interferem desta maneira negativa... mas os miúdos não
recusam isto... Os pais querem que eu exija menos porque eles têm é que ter as notas. [...]”
“[...] Exijo sempre o rigor científico...mas depois fazemos muitos, muitos pontos de exame... claro que
coloco outras perguntas... para criticar e comentar...que não vêm no exame... mas acho essencial para a
formação deles... as cotações vêm no teste... faço sempre comentários personalizados... ponho o como e o
porquê. [...]”
“[...] se bem que o 12º seja um ano mais com base na memória... O raciocínio pára. É um horror... Depois
eles vêm habituados a raciocinar e depois chegam ali e não gostam de decorar aquilo tudo. É realmente
uma frustração o 12º ano. [...] “
98
de 12º ano, aquilo a que a professora não pode nem consegue deixar de dar importância,
ou seja, o conhecimento factual avaliado fundamentalmente no exame.
3.3. ESCOLA C
Observando estes resultados podemos dizer que, nos testes desta escola, a percentagem
de competências cognitivas complexas (CC) foi relativamente elevada nos 10º e 11º
anos, baixando claramente no 12º ano. Relativamente às competências cognitivas
simples (CS), a ênfase é sempre maior em CS - do que em CS +. O mesmo sucede com
as competências cognitivas complexas (CC), havendo porém sempre questões da
categoria CC + que chegam a atingir quase 25% a nível do 12º ano. Pode-se concluir que
99
nesta escola o nível de exigência conceptual nos testes sumativos foi globalmente
elevado, baixando drasticamente no 12º ano. Esta redução revelará provavelmente uma
preocupação da escola/professora com a preparação para o exame nacional.
Parece claro, para esta professora, que as práticas vão ao encontro de um problema
levantado. Segundo ela, frequentemente a estratégia privilegiada nesta escola era um
trabalho diário de Ciência como inquérito, ou descoberta mais ou menos orientada.
“[...] nós levávamos o aluno a problematizar a digestão, a eles próprios conceberem dispositivos
experimentais...A estratégia privilegiada era sem dúvida um trabalho diário de Ciência como inquérito ou
descoberta, mas mais ou menos orientada. [...]”
100
“ [...] Na apresentação oral dos trabalhos de grupo eles tinham que organizar os conhecimentos e traduzir
aquilo num discurso de que se tinham apropriado... Eu até tinha um bocadinho de trabalho na área da
psicologia, porque uma vez houve uma aluna que me disse assim: “ eu mesmo assim aquilo que me
lembro mais da professora, que foi mais útil para mim como professora de Ciências, foi o ter percebido
que eu só sabia as coisas quando as sabia explicar. [...]”
“[...] os projectos que eu acompanhei foram fantásticos, acho que nunca vi os alunos tão envolvidos como
nessa fase de execução dos projectos.... Eles estavam a sentir-se actores e simultaneamente eles eram
divulgadores dentro da própria escola. Portanto se eles estavam tão motivados para ir ao encontro dos
outros colegas, ir ao encontro dos outros professores, e fazerem o que fizeram muitas vezes nas
conferências, nas exposições cá em baixo, é porque eles se tinham apropriado de uma maneira tal que
deixaram quase de ser os simples alunos... Quer dizer, eu quase que não distinguia ali assim os alunos dos
estagiários. [...]”
“[...] No 10º e 11º ano havia também uma prática, que eu chamo aprendizagem por descoberta orientada...
Efectivamente o ideal para eles compreenderem melhor uma determinada etapa da respiração era com
aquelas fichas, que no fundo eram exercícios de inquérito... com factos que iam sendo sugeridos e eles,
com base nos factos, iam tirando conclusões, ou eram fichas de trabalho com tópicos de discussão, que no
fundo desbravavam um texto, ia pedindo para destacar factos e depois acabava no conceito, não é? ... nós
levávamos o aluno a problematizar a digestão, a eles próprios conceberem dispositivos experimentais...A
estratégia privilegiada era sem dúvida um trabalho diário de Ciência como inquérito ou descoberta, mas
mais ou menos orientada... A interdisciplinaridade fez-se sempre no 10º e 11º ano... No 12º ano nem
pensar, com os exames nacionais... A intradisciplinaridade era impossível num programa de 12º ano... não
se consegue ligar muito aquilo... No 10 e 11º ano isso faz-se... Eu acho que por aquilo que eu vi, os
professores agarravam-se com unhas e dentes se podiam relacionar o conhecimento científico com o
conhecimento do quotidiano dos alunos... Evidentemente que era nossa preocupação promover o
desenvolvimento das competências complexas, cognitivas complexas... Nunca fiz um estudo sobre isso
mas quase posso afirmar que os estágios mantiveram a promoção desse tipo de competências. [...]
Tal como nos casos anteriores, pretendemos clarificar com esta análise o tipo de
recontextualização expresso na prática pedagógica quando se considera a relação entre o
nível de exigência conceptual evidenciado na prática e o nível de exigência no programa
e no exame. Nesta análise, tal como aconteceu nos casos anteriores, seleccionaram-se
como indicadores de exigência conceptual de prática pedagógica, os dados relativos aos
testes de 12º ano, dado serem estes que melhor ilustram o que é exigido na escola como
preparação para o exame. Note-se porém, que nesta escola, tal como aconteceu com a
escola B, o nível de exigência conceptual nos 10º e 11º anos foi relativamente mais
101
elevado do que na escola A, havendo posteriormente, no 12º ano uma descida brusca
(ver Quadro 4.4).
O gráfico da Figura 4.5. clarifica a relação entre o nível de exigência conceptual nos
testes de 12º ano desta escola, no programa e no exame.
Testes
Programa
Exame
100
% de ênfase
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Competências cognitivas
complexas (CC)
Figura 4.5. – Relação entre o nível de exigência nos testes de 12º ano da Escola C, no
programa e no exame
Através destes dados, observa-se que a mensagem expressa nos testes de 12º ano se
aproxima claramente do exame, estando muito distanciada do que é sugerido no
programa. Conclui-se, assim, que existe uma forte recontextualização do programa ao
nível da prática no sentido de ir ao encontro das competências valorizadas no exame.
102
exame. Tendo em conta a sua “postura” esclarecida, ela não abdica de “sacrificar”
algumas aulas de 12º ano para promover um “ensino de qualidade”. Mas ela sabe que
pouco mais poderá fazer para além do que todos fazem – Tentar perceber as regras do
jogo e preparar os alunos para fazer os testes de exame.
“[...] Os exames eram sempre aquela rotina. Eles tinham que saber aquilo tudo... e isso implicava muito
tempo... a aquisição pura, a memorização pura aparecia praticamente em todos os grupos de perguntas ...
depois a partir daí acho que havia uma compreensão simples... nos últimos anos começaram a aparecer
assim umas experiências... aquilo era mais o treino de interpretação de dados em tabelas ou gráficos... não
era tão complexa assim... Efectivamente os professores andaram 11 anos a trabalhar com alunos para
desenvolver um conjunto de competências que não têm nada a ver com os exames de 12º ano...Mas se
eles nas aulas práticas conseguiam manipular o microscópio, de tal maneira que focavam precisamente
aquilo que tinha mais interesse e davam ênfase precisamente áquilo que nós estávamos a tentar ver, na
apresentação do trabalho de grupo, por exemplo, se eles tinham uma capacidade de verbalizar e de utilizar
linguagem acessível aos colegas, havia pessoas que tinham competências elevadíssimas a esse nível, mas
nós nunca lhes podíamos dar um grande peso... e isso era saber as regras... O exame avalia
adequadamente o que é sugerido nos programas... isso nem pensar... de facto nunca foi avaliado no fundo,
aquilo que se pedia, que era uma coisa maravilhosa... era uma distância abissal. [...]”
“[...] Em princípio não, não é possível conciliar a preparação dos alunos para os exames com as
tendências preconizadas nos programas se considerarmos todos os princípios referenciados,
principalmente as grandes metas e os princípios orientadores que vinham no próprio programa de
biologia. Já não estou a falar nas considerações gerais inerentes a um 12º ano. Porque, efectivamente, nós
estivemos em reuniões de professores a nível nacional, quando foi o lançamento do primeiro 12º ano
destes programas, e nesses exames nacionais estivemos reunidos com os professores e com os autores de
programas. E representantes do Ministério. Portanto foi nessa fase que nos debruçámos muito sobre
aqueles grandes princípios e as pessoas que já davam 12º ano antes, o 12º ano que era mesmo, mesmo só
para as provas específicas, as pessoas diziam que, de facto, não tinham possibilidade para cumprir aqueles
grandes princípios de atingir todos os conteúdos específicos, que eram uma listagem exaustiva. O que
acontece é que mais ou menos ficou patente nessa reunião que era possível que os conteúdos fossem
seleccionados, não era obrigatório cumpri-los todos. Quer dizer, de certo modo passou a mensagem dos
responsáveis do centro de decisão, autores de programas e Ministério que era possível cumprir o
programa, mesmo com aqueles princípios orientadores. As pessoas em princípio ficaram todas muito
reticentes em relação a essa possibilidade. Porque de facto, era desenvolver competências na área da
pesquisa, da investigação, do pensamento divergente, que constava, portanto tudo que fosse assim
competências mais abertas, as pessoas já estavam um bocado reticentes. Porque implicava desenvolver
103
muitas estratatégias, que depois não daria tempo para cumprir os aspectos conteudísticos. E o que é que
acontece, que eu penso, não tenho estudos sobre isso, mas que eu penso que aconteceu, depois dessa fase?
Foi o lançamento do novo 12º ano. Porque já havia o 12º, que no fundo preparava à mesma, também era
um programa parecido, uma biologia semelhante. Acontece que depois numa primeira fase reduziram os
conteúdos,isto é, puseram lá nos programas uns caderninhos verdes, que eram a gestão do programa,
portanto já estavam a sair daqueles programas oficiais, que eram uma brochura bastante elevada, com
muitas estragégias, muitos conteúdos, e arranjaram os caderninhos verdes fininhos, com normas de gestão
e não sei quanto, que tinha ‘a bold’ os conteúdos obrigatórios. Ora se os conteúdos obrigatórios eram
aqueles, os exames nacionais só podiam incidir sobre aquilo, então era possível cumprir os programas. Ao
nível de conteúdo, isso era possível. Em relação às grandes competências, os princípios continuavam nos
documentos, que eles nunca disseram que anulavam esses documentos, eles continuavam a marcar a
actividade do professor, isso era um bocado difícil. Portanto se o professor desenvolveu uma série de
aulas práticas, uma série de aulas à volta de interpretação de experiências, aulas práticas mesmo voltadas
para o programa, portanto mais voltadas para a observação de seres vivos, por causa da sistemática, para a
fisiologia das plantas, por exemplo, que é uma coisa complexa, e vêm no programa as sugestões, nessas
aulas práticas, não dava tempo para se desenvolver e cumprir o programa todo assim de uma maneira tão
miudinha. Eu acho que os professores evoluíram no sentido de cada ano, adaptavam-se à nova situação
com os exames nacionais. Os exames nacionais é que passaram a ser orientadores do comportamento do
professor. Se passavam a insistir em coisas muito miudinhas, que a eles nem lhes passaria pela cabeça
insistir numa aula, no ano seguinte é certo que estava toda a gente a pegar em fichas de trabalho daquela
área, ou pelo menos naquela área de competências, não é, e iam alterando o seu comportamento.
Conclusão: os documentos originais orientadores, quer dos grandes princípios, quer de objectivos mais
específicos, foram para a gaveta e as pessoas passaram a gerir-se por aquilo que vinha nos exames
nacionais. As competências que eles pediam, que não eram normalmente, havia uma ou duas questões,
como já disse na primeira parte, não é? Um ou dois grupos de perguntas, que eram baseadas em
experiências e tal e depois o resto era por alternativas para seleccionarem, que tinham um conhecimento,
não estou a dizer que fosse só memorização, isso há de facto uma compreensão, porque eram uns
conceitos complexos e para fazer relação factual com conceitos, para dizer quais as frases, e situações
concretas factuais, que corresponderiam a determinados conceitos, é evidente que isso já é uma
compreensão elevada, não é? Agora, não vejo, eu acho que as pessoas deixaram de cumprir a reforma e
voltaram. Mas eu acho que isso é um ciclo que percorre qualquer reforma de ensino. As pessoas vão-se
adaptando áquilo que lhes é pedido em termos de avaliação. Os exames nacionais passaram a ditar e de
que maneira, não é? A conduta dos professores, as estratégias [itálico nosso]. Um professor agora dizia,
“eu vou sacrificar”, eu quase que dizia sacrificar, a gente tem que dizer entre aspas, não é, “vou
sacrificar” esta semana, não abdico de se fazer este debate ou esta simulação. Estou-me a lembrar, por
exemplo, depois das teorias lamarckista e darwinista e não sei quanto. Dividir a turma nos lamarckistas e
darwinistas e fazer uma simulação com um painel, a apresentarem primeiro as teorias e depois eles
fazerem um pseudo debate, era quase um concurso, como agora se faz na televisão. Mas de qualquer das
maneiras, isso demorava muito tempo, para eles se porem na pele de um lamarckista e depois
argumentarem numa aula quase de brincar, mas em que os argumentos eram fundamentais, não é? E no
104
fundo aqueles textos com tópicos de discussão, para eles resolverem em grupo, depois discutirem, estas
coisas para mim não era perder tempo, que as teorias penso que ficaram sempre muito bem
compreendidas. Eu não abdiquei de algumas estratégias e não estou nada arrependida. Porque acho que é
a melhor maneira, quanto mais não seja para consolidar aqueles conceitos mais complexos... Aqueles
alunos que chegam ao 12º com dificuldades da nossa escola, que são de classe trabalhadora... alguma
coisa valorizou a escola... senão eles não tinham feito aquele esforço para chegar ao 12º ano... Portanto a
escola teve valor para eles e na escola socializaram-se de uma maneira diferente e como se socializaram
de maneira diferente, eles de facto aprenderam muito... Aprenderam a ser pessoas diferentes... Eles são
outras pessoas... Com capacidade de comunicação, com capacidade organizativa... com a cabeça a pensar,
a pôr questões entre eles, portanto eu acho que isso é maravilhoso e a escola fez muito por esses alunos da
classe trabalhadora. [...]”
“[...] Porque é que os alunos da classe trabalhadora não entram nas universidades e não alcançam essas
notas tão elevadas? Não sei, possivelmente porque a escola já não tem a mesma importância, é preciso
uma dedicação muito importante ao estudo. Mesmo com muita memorização, não é só memorização, com
muita compreensão, aquilo precisa de muito tempo para estudar... Provavelmente falta-lhes um
desenvolvimento de competências desde a família, não é? Os alunos da classe trabalhadora eram
assíduos, tinham os cadernos impecáveis, quando começava a fazer testes contabilizava a aquisição de
compreensão, eles aí tinham notas elevadíssimas. Quando chegava a fase de utilização da aprendizagem a
novas situações, era um falhanço completo. Não percebiam as regras do jogo e eu lembro-me
perfeitamente de uma filha de uma colega nossa [...] tirou Economia, está agora assim a ser executiva,
não sei aonde e ela ficava muito caladinha, porque sabia que a pergunta que eu estava a fazer, ela já sabia
as respostas até ao fim, lá no fim. Porque sabia perfeitamente o sentido das perguntas que eu estava a
fazer antes. E ela depois explicava-me, explicou-me uma vez porque é que estava calada. Porque ela já
sabia as regras do jogo. Era filha de uma professora, que nem era de ciências. Os filhos dos professores
têm o código pedagógico logo. Logo, explicitamente em casa. Quando perguntam “mãe, como é que
funciona a máquina de lavar?” já sabem que a mãe não diz “olha, carrega neste botão”. É evidente que
não. “O que é que tu pretendes lavar? Qual é a roupa que pretendes lavar?”. É a primeira pergunta que vai
fazer, não é? Os exames nacionais, qualquer exame privilegia sempre a classe média... Relativamente ao
insucesso geral, pode haver, vamos lá, os alunos não estão vocacionados, aquela disciplina é uma
disciplina que não lhes interessa no currículo dos saberes que eles pensam que são importantes para o
curso superior que vão seguir... Houve uma altura em que um aluno até respondeu assim nos jornais:
“Vou para o Técnico, o que é que me interessa saber isso do ciclo de vida do pinheiro?” ou uma coisa
desse tipo? Que aliás até a uma determinada altura, deixou de pertencer aos programas. Portanto, isso
por um lado, podiam ser matérias que não lhes interessavam e porquê? Tirando o sistema imunológico,
evolução e assim alguns grandes capítulos de biologia, que são muito interessantes, e que um bom aluno,
mesmo que vá para engenharia, sabe que isso no fundo faz falta à cultura geral, tirando algumas coisas, a
sistemática e a fisiologia das plantas, isso, por exemplo, as estruturas das raízes, dos caules e das folhas e
distinguir se é primário ou se é secundário, aquilo eles diziam “mas para que é que eu vou saber isso, se
eu não vou nunca para biologia nem agronomia, nem nada disso?” Portanto isso é desmotivador. E se é
desmotivador, pelo menos à partida faz, por exemplo, com que um bom aluno talvez não seja tão bom
105
nesta disciplina. Ou pelo menos nas unidades que são matérias que não estimulam muito. E eu tive
alunos nesse sentido, até me diziam. “Eu vou fazer o melhor que posso, mas eu vou investir mais na
matemática e na física”. E eu compreendia perfeitamente. Portanto, isso por um lado. Não é dizer que é
um insucesso. É dizer que não têm as notas ao mesmo nível que têm nas outras disciplinas. [...]”
“[...] Relativamente aos alunos da nossa escola estavam ao nível das médias nacionais. É evidente que
não estavam era a atingir as notas necessárias para entrar em medicina, ou assim... Eu fui correctora
nacional durante estes anos todos e eu cheguei a ver pontos em que os alunos desbobinavam aquilo com
um rigor, tudo, tudo... e eu sabia que os nossos alunos nunca respondiam àquele nível daqueles alunos
que me estavam a aparecer... Os nossos alunos chegavam lá mais ou menos à essência, mas faltava-lhes
depois pegar naquilo num discurso coerente, dizer toda a argumentação ou especificar com todos os
dados, que era necessário ter para as respostas... faltava-lhes ali capacidade de expressão escrita. Mas isso
já eram competências que estavam envolvidas noutras disciplinas... É evidente que estão sempre
envolvidas na nossa, não é? Mas os nossos, mesmo com essa dificuldade de expressão escrita, que é
muito, muito nítida, quando eles têm de escolher, quando têm de seleccionar uma alternativa, não se nota
e têm as cotações completas. Quando têm que desenvolver, aí nota-se na expressão escrita. Logo, se a
questão é uma questão muito pontuada, eles têm grandes reduções nesse tipo de questões. Mas como elas
não são muito grandes, muito abundantes, em termos de peso, não é, e como a maior parte das questões
objectivas, eles mais ou menos apreendem, quer dizer eles no fundo reconhecem, num grau inicial. Eles
sabem andar ali naquela área. Se não lhes é exigida uma explicação, quer dizer a realização deles que é
pedida, a capacidade de realização, isso agora em termos de código, não é, a capacidade de realização
fica, perdem só a parte da escolha e, como se sabe, a escolha não é a realização plena. A capacidade de
realizar é preciso escolher e justificar e argumentar, essa é que é a realização. Portanto eu acho que os
nossos alunos manifestavam aquilo pelo meio, quer dizer, as questões de múltipla escolha, regra geral,
acertavam. [...]”
“[...] O exame de 12º ano, embora pareça assim uma coisa estranha, efectivamente está a dar um pouco mais de
oportunidade à classe trabalhadora... porque reduz o grau de abstracção das perguntas que faz. [...]”
“[...] Tenho a impressão que não há qualquer influência dos encarregados de educação ... regra geral os
pais dos nossos alunos desse nível etário não vêm à escola. [...]”
“[...] Eu tentei gradualmente, fazer o que todos fazem. Tentar perceber ao máximo as regras do jogo, e
prepará-los ao máximo para enfrentar os pontos de exame. Houve uma altura em que disse ‘o tipo de
trabalho que fazias e que fizeste, durante quase trinta anos, acabou’. Mas não abdiquei de algumas coisas
que para mim eram importantes... Mas abdiquei de coisas fantásticas, que para mim foi o que me deu
prazer, ao longo dos anos e deixei de o ter. Coisas que davam muito prazer aos alunos e a mim, não é?
Em termos de ter liberdade para fazer outro tipo de coisas. Bem, mas de qualquer das maneiras, não
abdiquei de algumas. Isso foi-lhes útil, possivelmente foi, porque quando apareceram as perguntinhas
com experiências para interpretar, eu, vamos lá ver. Eu senti que fui uma professora que fez um esforço e
acho que me aproximei bastante em termos de competência, para eu como professora competente de certo
modo preparar os alunos para aqueles pontos de exame. Mesmo quando me vinham as questões mais
abrangentes, eu pensava “olha, ainda bem que eu também dediquei um bocadinho de tempo a criticar este
106
tipo de experiências e a fazer debate sobre este ou outro assunto”... Portanto as estratégias eram muito
voltadas para actividades. Um pouco diferentes das que eu realizava, mas tinha sempre qualquer coisa e
eles apropriavam-se muito bem da matéria. Penso que sim. Claro, quando eles tinham que escrever, via-se
as falhas ao nível da capacidade de expressão escrita. A última parte da matéria é que eles não gostavam
mesmo. Ali havia quase uma rejeição. Que era a fisiologia das plantas. Mas acho que isso, praticamente
toda a gente diz que chega aí assim e eles falham muito. Embora eu tenha a sensação que também não
deixei de dar bastante tempo para esse assunto... Na nossa escola é obrigatório informar os alunos sobre a
cotação das perguntas nos testes sumativos... Tentei sempre fazer comentários personalizados ao corrigir
as respostas... No 12º ano, com poucos alunos, foi-me mais fácil. [...]”
3.4. ESCOLA D
107
conceptual desta escola com base, fundamentalmente, nos testes, complementando-a
posteriormente com dados da entrevista.
Os dados relativos à análise dos testes sumativos nesta escola ao longo destes três anos
(Anexo 4) encontram-se organizados no Quadro 4.5.
D
CS CC CS? CS+ CC? CC+
* Estes valores referem- se apenas às percentagens obtidas num teste, já que no outro teste não existiam
questões CC.
As práticas surgem como “ilustrativas” das aulas teóricas e as aulas são fundamentalmente
expositivas. Os trabalhos de grupo são também muito raros, e quando ocorrem, são
realizados com grupos pequenos (dois alunos). Estas opções da professora são aquelas
que ela achou mais adequadas no âmbito da tipologia de alunos que tinha. Perante
alunos de nível sócio-económico muito baixo, a professora assumiu uma postura
108
“maternal” promovendo apenas as competências que considerava possíveis em função
das características destes alunos.
“[...] É evidente que os alunos que nos chegam cá, são alunos muitos carenciados, em termos cognitivos.
Muitos alunos que chegam ao 7º ano nem sabem ler, não é? São alunos muito frágeis em conhecimentos.
E em princípio são esses alunos que vão ficando aqui na escola. Em princípio, depois no 10º e no 11º
recebe-se um, ou dois, ou três de outras escolas, mas são esses alunos que vão ficando. Portanto, o nível
nunca será muito elevado, embora vá havendo sempre aqueles piores. Enfim, há sempre uma tendência
para ficarem e para chegarem ao 10º ano um conjunto de alunos melhores, principalmente na área
científica, portanto que dá acesso à faculdade... Com esta tipologia de alunos a tendência é para valorizar
as competências que eles têm capacidade de apreender mais facilmente, as mais elementares, e depois
vai-se sempre tentando fazer o possível de puxar por eles... São sempre alunos que vêm com falhas,
principalmente a português e que depois se reflecte em tudo... Mas há sempre uma minoria de alunos para
os quais vale a pena desenvolver outras capacidades. É claro que depois muitos não acompanham, porque
são alunos desmotivados. Portanto há uma grande percentagem de alunos que realmente, não conseguem
acompanhar totalmente... O relacionamento do conhecimento científico com o quotidiano dos alunos...
isso devia acontecer. Simplesmente, muitas vezes o contributo não será muito... Os alunos dizem
frequentemente: ‘Ai nunca ouvimos...não sabemos’. [...]”
“[...] Aqui deve ser um pouco como em todo o lado... Há um pouco de tudo... Há também aulas de
apresentação de matéria... Há aulas práticas... filmes... Relativamente às actividades experimentais, a
prática tem como objectivo clarificar a teoria... Por vezes tentam-se fazer grupos pequenos... mas é difícil
fazer, é difícil fazer. Por vezes a pessoa faz fichas dois a dois. Tenta-se fazer... É difícil cativar estes
miúdos, não é pera doce. É muito difícil... De forma que a tendência é fazer com frequência aulas de
transmissão de conhecimentos. [...]”
109
competências de diferente nível de complexidade, seguia uma tendência geral
semelhante nos 10º e 11º anos.
O gráfico da Figura 4.6. mostra a relação entre o nível de exigência conceptual nos
testes de 12º ano desta escola, no programa e no exame.
Testes
Programa
Exame
% de ênfase 100
90
80
70
60
50
40
30
20
10
0
Competências cognitivas
complexas (CC)
Figura 4.6. – Relação entre o nível de exigência nos testes de 12º ano da Escola D, no
programa e no exame
Através dos dados expressos na Figura 4.6 podemos observar que a mensagem expressa
nos testes da escola/professora se aproxima claramente do exame, estando muito
distanciada do que é sugerido nos programas. Verificamos, também, que o nível de
exigência conceptual correspondente aos testes da escola/professora é ainda mais baixo
do que o do exame nacional.
110
clarifica ainda um posicionamento ambíguo da professora relativamente ao DPO, o que
resultará eventualmente do seu desconhecimento relativamente ao teor daqueles
documentos.
“[...] Caracterizando a prova de exame nacional, acho que estão assim na média. Estão no meio. Tentam
fazer uma amostragem dos vários conhecimentos... Acho que o ponto de exame é feito com cuidado para
abranger todas essas perguntas mais elaboradas, outras menos. [...]”
“[...] Acho que os exames avaliam adequadamente o que é proposto nos programas... acho que de uma
maneira geral os pontos de exame são feitos em conta com isso... Relativamente aos alunos desta escola
acho que avalia demais... Porque os alunos desta escola nem todos se calhar, para eles, se calhar, será um
bocadinho demais, talvez... Devido ao meio sócio-económico dos nossos alunos muitas vezes eles ficam-
se apenas pelas simples... Acho que os nossos alunos num ponto de exame ficam-se por aqui... Acho que
a pessoa tem que gerir muito bem o tempo para conseguir conciliar a preparação dos alunos para os
exames nacionais com o cumprimento das tendências preconizadas nos actuais currículos nacionais... Isso
de cumprir os programas exige um ritmo e uma assiduidade constante. E um ritmo grande... uma pessoa
não pode perder muito tempo. [...]”
“[...] O insucesso dos alunos a biologia a nível nacional deve-se ao facto de o nosso ensino ser mais
teórico, isso é um facto. Na nossa escola, todos alunos que chegam ao 10º ano, pelo menos, não há
nenhum filho de pais licenciados. E todos assim com umas profissões baixas... De uma forma geral as
suas expectativas em termos de prosseguimento de estudos, são baixas... eu sou assim um bocado
maternal porque sinto que eles precisam de mim... porque eles precisam mesmo... Porque há muitos
alunos que, realmente, são pouco apoiados, sei lá, eu tinha alunos, o ano passado, que ainda viviam em
cabanas, daquelas ali assim de transição, de Moscavide para Chelas, viviam aí assim, em condições, se
calhar, sem luz, sem água, portanto em condições muito precárias. E os pais nem sabem ler nem escrever.
Sei lá, não têm acesso a um determinado número de coisas, que eles vêem, que os professores lhes
podem dar. E às vezes, trago livros, daquelas enciclopédias de biologia, com aquelas fotografias muito
bonitas e eles gostam de levar para casa. Leva um uma semana, depois leva outro. Eles não tiveram
acesso a esses livros que nós pensamos que os nossos filhos foram vendo, desde sempre e eles agora, no
10º e no 11º anos, ficam muito encantados de verem aquelas coisas do nosso corpo. Esses livros assim
acham muito engraçado e levam e depois passam. [...]”
“[...] Eu acho que um aluno que tem mais facilidade, mais intuição, pois isso também é sempre um pouco
beneficiado na prova de exame, não é? Poderá ser, poderá ver logo os esquemas, como aquilo é um tempo
limitado, poderá ver como funcionam aqueles esquemas. Portanto, é evidente que só a memorização depois
torna difícil pôr em prática, não é? Torna difícil desenvolver. Portanto, deve ser um aluno com intuição,
mas com conhecimentos. [...]”
111
“[...] Costumo informar os alunos sobre a cotação das perguntas... às vezes escrevo comentários
personalizados durante a correcção, mas não muito, não muito... talvez para não perder tanto tempo... por
uma questão de defesa, se não nunca mais me despachava. [...]”
“[...] Os pais vêm, uma minoria, quando se faz as reuniões... mas é raro aparecerem... mas só numa
perspectiva só de como se porta... portanto não põe em causa nem pressionam de forma alguma os
professores. [...]”
Nesta análise, começaremos por comparar o nível de exigência conceptual das práticas
pedagógicas nas diferentes escolas com base na relação CS/CC expressa nos testes
sumativos. Seguidamente caracterizar-se-á, com uma breve narrativa, o contexto das
escolas de forma a disponibilizar dados que permitam fazer uma reflexão devidamente
fundamentada sobre as relações que se pretendem analisar na rubrica seguinte - Relação
entre o nível de exigência conceptual das escolas estudadas e os resultados nos exames
de alunos socialmente diferenciados. Essa caracterização/síntese culminará com uma
frase/poema de pedagogos/poetas portugueses que, a nosso ver, parecem ilustrar o
sentido fundamental das opções pedagógicas assumidas em cada um dos casos.
112
Escola A
100
% de CC Escola B
nos testes 90 Escola C
sumativos Escola D
das escolas
80
70
60
50
40
30
20
10
0
10º CTV 11º CVT 12º Biologia
Disciplinas/Ano
Figura 4.7. – Comparação da relação CS/CC nos testes sumativos das diferentes escolas
De acordo com estes dados, podemos observar que se formam nitidamente dois grupos
de escolas, promovendo níveis distintos de exigência. As escolas B e C que promovem
um nível mais elevado de exigência conceptual e as escolas A e D, promotoras de um
baixo nível de exigência conceptual. Verificamos ainda que, em qualquer delas, o nível
de exigência baixa bastante no 12º ano. Estes dados permitem concluir claramente que,
seja qual for a postura das escolas em termos de opções pedagógicas, o exame nacional
exerce uma influência irredutível, “impondo as suas regras” , independentemente da
situação em causa, no sentido de uma diminuição do nível de exigência. Poderemos até
sugerir que o exame exerce uma influência negativa no sentido de não deixar outra
alternativa aos professores que não seja uma diminuição da qualidade do ensino que
promovem.
Far-se-á agora uma breve abordagem às quatro escolas desenvolvendo uma breve
narrativa que contribuirá para clarificar as opções pedagógicas assumidas em cada caso.
ESCOLA A
A escola A integra-se num ideário cristão de âmbito internacional tendo como “opção
fundamental, como Escola Católica, despertar a visão cristã da Pessoa, da História e
do Universo, abrindo todo o conhecimento e comportamento humano, ao projecto de
113
vida que vem dos valores do Evangelho.” (Ideário da Escola)
A professora que acompanhou os alunos ao longo dos três anos analisados, lecciona
nesta escola desde longa data com grande dedicação e brio atingindo níveis de
assiduidade muito elevados ( quase 100%). A organização e a disciplina transparecem
no seu trato. Com a frase “ No entanto eu sou apologista dos exames, ahm!” a
professora parece indicar o “caminho” que sempre escolheu no âmbito das
inconsistências programa/exame (que ela nem sequer tentou, nem precisou de clarificar)
e que são afinal também as escolhas dos encarregados de educação (que têm como
objectivo prioritário, na classe média, a entrada dos seus educandos na universidade) e
do próprio sistema educativo, como confirma a placa exposta no átrio de entrada da
escola com o diploma atribuído pelo Ministério da Educação:
Segundo a professora, o sucesso dos alunos desta escola nos exames nacionais, não se
relaciona tanto com a preocupação de os “treinar” logo desde o 10º ano para os
conhecimentos que são avaliados no exame, mas fundamentalmente com o Ideário cristão
com que os alunos contactam precocemente desde o momento em que entram nesta escola.
Na sua perspectiva, o insucesso dos alunos a nível nacional relaciona-se principalmente
com problemáticas de desestruturação familiar. A professora salienta vários alunos seus que
se destacaram nos exames nacionais (com as classificações mais elevadas) classificando-os
de pouco inteligentes mas com grande capacidade de memorizar.
114
Esta professora procurou sempre privilegiar uma metodologia viabilizadora da
preparação dos alunos para os exames, fortemente legitimada pelos encarregados de
educação da classe média, assim como pelo próprio Ministério da Educação. Com a
publicação dos “rankings” das escolas esta situação agravou-se, tendo em conta que foi
legitimada a classificação das escolas com base nos exames nacionais. Validou-se
finalmente uma classificação das escolas com base nas competências que, de longa data,
vêm sendo prioridade do poder no nosso País – O conhecimento factual.
Concluindo, podemos dizer que nesta escola, por influência do seu ideário e/ou por
convicções da professora, provavelmente em consenso com tendências tradicionais da
educação católica, não foi conferida grande importância aos raciocínios científicos
complexos pois, para além destes não serem considerados fundamentais para a entrada
na Universidade, parece haver, no âmbito da religião católica, uma certa propensão no
sentido de “libertar” os crentes dessas reflexões mais profundas, aliás em consenso com
a opinião de António Gedeão no seu Poema para Galileo, quando refere os “homens
ditosos a quem Deus dispensou de buscar a verdade” (Gedeão, 1996, p. 124). O poema
que se segue, também do mesmo autor, pareceu-nos ilustrar claramente esta ideia.
115
ESCOLA B
A classe média domina a caracterização social dos alunos desta escola oficial. Os
contactos feitos para recolha de dados revelaram uma grande eficiência e organização
não só do Conselho Executivo como de todos os departamentos de uma forma geral. É
uma escola recente (1983), destinada ao 3º ciclo do ensino básico e ao ensino
secundário, onde nunca ocorreram estágios. As expectativas dos alunos desta escola
relativamente a prosseguimento de estudos são elevadas.
116
Concluindo, podemos dizer que, nesta escola, a preocupação fundamental centrou-se
numa formação científica muito exigente. As questões de índole sócio-afectiva, por
razões de vária ordem, parecem ter assumido um papel secundário, praticamente
inexistente. A frase que se segue, da autoria de Bento de Jesus Caraça, parece clarificar
esta tendência.
“A Ciência pode ser encarada sob dois aspectos diferentes: Ou se olha para ela tal como vem
exposta nos livros de ensino, como coisa criada, e o aspecto é o de um todo harmonioso onde os
capítulos se encadeiam em ordem, sem contradições; ou se procura acompanhá-la no seu
desenvolvimento progressivo, assistir à maneira como foi sendo elaborada, e o seu aspecto é
completamente diferente – descobrem-se hesitações, dúvidas, contradições que só um longo
trabalho de reflexão e apuramento consegue eliminar para que logo surjam outras hesitações,
outras dúvidas, outras contradições.”
ESCOLA C
Esta escola - antiga escola técnica - caracteriza-se socialmente por uma predominância
da classe trabalhadora. Os seus serviços nem sempre funcionam de uma forma eficaz
devido principalmente à falta de funcionários que é frequente. O estágio no grupo 11º B
funciona nesta escola desde 1971, com a orientação da professora entrevistada, até
praticamente 1997, tendo a partir de então a orientação sido assumida por outra
professora. As expectativas dos alunos em termos de prosseguimento de estudos são
baixas. Alguns aspiram a seguir enfermagem, fisioterapia e, muito raramente,
engenharia.
117
ano até ao 12º (segundo esta professora os exames nacionais passaram a ditar as
estratégias) mantém-se sempre a preocupação de promover outro tipo de competências
para além das que são avaliadas no exame. A professora domina claramente as
estratégias pedagógicas promotoras das competências complexas, mesmo aquelas que
mais recentemente começaram a entrar nos currículos internacionais em ciência,
nomeadamente as que se baseiam no construtivismo social de Vygotsky. Daí a sua
preocupação com o discurso sobre a “linguagem” aquando da apresentação dos
trabalhos de grupo pelos alunos. Na sequência da importância que tem sido dada nesta
escola às competências sugeridas nos programas e na ausência de “pressões”
limitadoras exercidas pelos encarregados de educação (estamos a falar de uma escola de
classe trabalhadora), foram desenvolvidos com estes alunos vários projectos que lhes
promoveram um efectivo desenvolvimento em termos de literacia científica como se
pode verificar através da afirmação da professora defendendo que o discurso científico
dos alunos quase não se distinguia do discurso científico dos professores.
Podemos concluir que, nesta escola, as opções pedagógicas tenderam a contemplar uma
grande abrangência de objectivos. Houve uma preocupação no sentido de formar
pessoas com uma “riqueza interior” resultante não só de um desenvolvimento cognitivo
elevado mas ainda das competências sócio-afectivas no sentido de consolidar aquilo a
que qualquer ser humano deve aspirar – a sua dignidade. Ou seja, perante o dilema
conteúdos/ competências, pareceu haver uma certa “lucidez” viabilizadora de um certo
equilíbrio na promoção daquilo que é importante na formação global de um ser humano
e aquilo que é inevitável (infelizmente) no sentido da preparação para a actual tipologia
do exame. Pareceu-nos que esta definição de “cultura” de Bento de Jesus Caraça
clarificava as opções desta escola que parecem apontar no sentido de uma “elevação” da
condição humana.
118
“Ser-se culto não implica ser-se sábio; há sábios que não são homens cultos e homens cultos que não
são sábios; mas o que o ser culto implica, é um certo grau de saber, aquele precisamente que fornece
uma base mínima para a satisfação das três condições seguintes:
2º - Ter consciência da sua personalidade e da dignidade que é inerente à existência como ser
humano;
3º - Fazer do aperfeiçoamento do seu ser interior a preocupação máxima e fim último da vida.”
ESCOLA D
Esta escola insere-se num bairro resultante de um projecto arquitetónico que pretendia
reunir populações de composição social diferente. Desta forma, inicialmente a escola
tinha uma composição social mista, mas hoje em dia é fundamentalmente composta por
alunos de classe trabalhadora. Alguns dos encarregados de educação destes alunos são
analfabetos e vivem ainda em barracas sem luz e sem água. A maioria dos alunos tem
uma desmotivação grande em relação à escola. Não obstante a simpatia dos funcionários da
escola, transparece um ambiente pouco organizado e disciplinado.
A professora, que lecciona nesta escola há mais de 20 anos, perante este “cenário” de
carências a todos os níveis, assumiu de certa forma um papel “maternal”,
disponibilizando toda a atenção e interesse possíveis para tentar colmatar as carências
com que se deparava frequentemente. O seu desconhecimento relativamente ao discurso
pedagógico oficial (DPO) e tendências recentes das Ciências da Educação não lhe
permitiram reflectir sobre o efeito positivo, relativamente a estes alunos, do aumento do
nível de exigência conceptual. Os seus esforços foram no sentido de motivar, na medida
do possível, os seus alunos mais fracos ( que eram a maioria), manter a disciplina nas
aulas (o que é extremamente difícil com estes alunos cuja socialização primária não lhes
permitiu a interiorização das regras formais da escola), valorizar as competências que
eles têm capacidade de apreender mais facilmente (as mais elementares) e finalmente
tentar promover outras capacidades numa “minoria de alunos para os quais vale a
pena...”.
119
um nível de exigência apenas à medida do “possível”. Esta frase do Padre Américo
parece ir ao encontro desta tendência.
Os dados contidos no gráfico da Figura 4.8. ilustram a relação entre o nível de exigência
conceptual nas diferentes escolas e a média das classificações dos seus alunos a nível
interno e no exame nacional de biologia.
10º/11º 16,45
8,77 / 12,4
Escola D
12º 9,7
global 14,2
trabalhadora
Escola C
12º 18,8
global 33,8
10º/11º 45,6
15,12 / 13,5
Escola B
12º 20,4
global 37
Classe
10º/11º 25,8
15,25 / 17,1
média
Escola A
12º 9,8
global 20,5
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Classificação no Exame
Nacional / Classificação
Interna Média CC nos testes das escolas (%)
Figura 4.8. – Relação entre o nível de exigência conceptual correspondente às diferentes escolas e a
classificação interna/classificação no exame
120
Através destes dados podemos pensar que a classe social parece ter um papel
fundamental nas classificações dos alunos no exame nacional. Nas escolas pertencentes
à classe média (A e B), seja qual for a tipologia de práticas pedagógicas, com baixo ou
elevado nível de exigência conceptual, as classificações nos exames são elevadas.
Existe, porém, uma distinção fundamental entre estas duas escolas. Enquanto na escola
A a classificação no exame nacional (15.25) baixou em relação à classificação interna
(17.1), na escola B a classificação de exame (15.12) subiu relativamente à classificação
interna (13.5). Poderemos sugerir que, eventualmente, esta distinção entre as duas escolas
poderá estar relacionada com o diferente nível de exigência conceptual que promoveram ao
longo dos três anos do ensino secundário. Poderemos, ainda, seguramente sugerir que as
classificações internas na escola A estão sobrevalorizadas relativamente à escola B, ou
seja, é mais fácil ter classificações elevadas na escola A do que na escola B porque em
A o nível de exigência conceptual é muito baixo, enquanto que em B é muito elevado.
Esta constatação é confirmada por afirmações da professora da escola A quando diz, na
entrevista, que, com frequência, os melhores alunos da sua escola são alunos pouco
inteligentes mas com uma grande facilidade relativamente às competências de
memorização.
121
desenvolvimento proximal” dos alunos. Para ele, a pedagogia deve ser orientada não
para o ontem mas para o amanhã do desenvolvimento da criança. Vygotsky contraria,
desta forma, alguns dos fundamentos da teoria construtivista de Piaget, a qual, ao
defender que o desenvolvimento cognitivo precede a instrução, terá contribuído,
eventualmente, para a instalação de um certo “facilitismo” bloqueador de um efectivo
desenvolvimento dos alunos. A escola C , ao manter um nível de exigência conceptual
elevado, pelo menos nos anos em que essa situação se tornou possível (41.35% de CC
nos 10º e 11º anos), terá preparado melhor para o exame estes alunos do que a escola D
que manteve um nível de exigência sempre baixo (16.45% de CC nos 10º e 11º anos).
122
CAPÍTULO 5
CONCLUSÕES
1. INTRODUÇÃO
Como consequência de uma tendência que existe, de longa data, no nosso país,
relativamente ao ensino/aprendizagem da biologia no ensino secundário, de valorizar os
conteúdos relativamente às competências, tende-se a promover, fundamentalmente,
competências cognitivas correspondentes a um baixo nível de exigência conceptual, o
que entra em contradição com as tendências internacionais relativamente ao ensino das
ciências, que sugerem, precisamente, a valorização de competências cognitivas que
dotem o aluno da capacidade de desenvolver raciocínios mais complexos (como, por
exemplo, a selecção de informação oportuna, a resolução de problemas e a avaliação
crítica) necessários a um confronto com uma realidade em acelerada mudança. Os maus
resultados obtidos pelos alunos portugueses nos testes internacionais (nomeadamente no
TIMSS e no PISA) que avaliam competências de nível elevado de complexidade,
expressam, em parte, esta situação.
125
em termos da abordagem psicológica, nas ideias de Vygotsky (1978,1996), sobre a
importância da aprendizagem no desenvolvimento cognitivo dos alunos, permitindo-nos
avaliar e reflectir sobre a qualidade do ensino evidenciada em textos pedagógicos
produzidos em diferentes níveis do sistema educativo.
Com base nestes problemas, foram estabelecidos os seguintes objectivos do estudo que
orientaram os procedimentos metodológicos de recolha e análise de dados:
126
de professores de escolas socialmente diferenciadas.
A análise dos dados foi organizada em função dos objectivos do estudo. Assim, de
acordo com o primeiro objectivo, começou-se por fazer uma análise da relação entre as
127
competências sugeridas nos programas e aquelas que são avaliadas no exame nacional
de biologia. Relacionada com o segundo objectivo do estudo, seguiu-se a análise do
nível de exigência conceptual que caracteriza as práticas pedagógicas desenvolvidas em
cada uma das quatro escolas, no decurso dos três anos considerados no estudo
(1998/1999, 1999/2000, 2000/2001) e que correspondem ao percurso dos alunos que
fizeram o exame nacional de biologia em 2000/2001. De acordo com o terceiro
objectivo do estudo, compararam-se os resultados das análises anteriores, no sentido de
apurar as tendências das escolas relativamente ao tipo de recontextualização do
programa que é expresso na prática pedagógica dos professores em escolas socialmente
diferenciadas. Finalmente, atendendo ao quarto objectivo do estudo, procedeu-se a uma
análise da relação entre a exigência conceptual promovida através das práticas
pedagógicas das professoras e os resultados nos exames nacionais de alunos
socialmente diferenciados.
128
exame nacional que dita fundamentalmente as regras que orientam a recontextualização
expressa nas práticas pedagógicas. Ou seja, por mais lúcido e esclarecido que seja o
professor relativamente às directrizes que condicionam um ensino de qualidade e por
mais preciosos que sejam, para este, os princípios e metas sugeridos no programa, a
regra inevitável é sempre a mesma – privilegiar as competências avaliadas nos exames
nacionais. Poderemos, de certa forma, sugerir que a actual tipologia do exame nacional
(ao avaliar, fundamentalmente, competências de menor nível de complexidade) tende a
exercer um efeito negativo e, porventura, até bloqueador de um ensino de qualidade, tal
como é sugerido nos grandes princípios que constam no currículo intencional. Podemos
concluir que, seja qual for a postura dos professores em termos de opções pedagógicas,
o exame nacional exerce uma influência irredutível, impondo as suas regras,
independentemente da situação em causa e que essa influência se faz no sentido de uma
diminuição da qualidade de ensino.
129
questionamento centrado na dualidade saberes/competências, são os meios
universitários tradicionais que, ao sobrevalorizar a transmissão intensiva dos saberes,
são, em grande parte, responsáveis pela dificuldade de implementação de reformas no
sistema educativo que ponham em causa os seus princípios pedagógicos. Outra razão da
persistência de um ensino fundamentalmente centrado nos saberes pode estar
relacionada com um equívoco relativamente ao significado de modalidades de ensino-
aprendizagem centradas no desenvolvimento de competências e que tem suscitado
algumas reservas quanto à sua eficácia. Este equívoco, que resulta, provavelmente, de
uma interpretação deficiente das ideias defendidas por alguns autores (como, por
exemplo, Bruner), nomeadamente quanto ao carácter lúdico conferido à aprendizagem,
terá levado à promoção de actividades de ensino-aprendizagem assumidas como
“brincadeiras”, o que remete a aprendizagem para um facilitismo que afinal se
desadequa da exigência conceptual que deve caracterizar essas modalidades de ensino-
aprendizagem. Também a “Aprendizagem por Descoberta” sugerida por Bruner, por
vezes erradamente interpretada como uma “imagem” de caos e desorientação, poderá ter
contribuído para este quadro de desconfiança relativamente à eficácia do paradigma
construtivista.
Poder-se-á ainda questionar sobre uma tipologia de exame que valoriza, em grande
parte, uma memória descontextualizada que, pelo facto de não estar organizada em
estruturas semânticas, possui uma remota probabilidade de retenção. Segundo Luria
(1975), se o processo de memorização remeter para uma série de materiais isolados,
sem sentido, sem interligações lógicas, a eficácia no processo de memorização diminui,
aumentando, desta forma, a probabilidade do seu esquecimento. Também Bruner (1996)
refere que o conhecimento adquirido por alguém, sem suficiente estrutura a que se
ligue, é um conhecimento fadado ao esquecimento. Para ele, um conjunto desconexo de
factos não tem senão uma vida extremamente curta na nossa memória. Poder-se-á,
então, questionar sobre a pertinência de trabalhar, durante os três anos do ensino
secundário, uma memória cuja probabilidade de retenção é remota… Embora, numa
perspectiva mais optimista, se possa admitir que algo terá ficado retido, eventualmente,
por processos de memorização mais contextualizados, uma nova questão poderá ser
colocada: Em que medida esta profusão conteudística fará sentido para a maioria dos
alunos que fazem o exame? Segundo a opinião expressa nas entrevistas das professoras
das escolas do nosso estudo, grande parte dos conteúdos avaliados, no exame nacional
130
de biologia, nunca mais serão utilizados pela maioria dos alunos que fazem o exame, o
que nos leva a pensar na pertinência de se proceder a uma selecção adequada dos
conteúdos a integrar nesse currículo. Segundo Bruner (1969, 1996), à grande quantidade
de conhecimentos e competências do mundo exterior, não corresponde um fenómeno
idêntico na estrutura cognitiva e perceptiva do indivíduo. Para Bruner, dado que a
estrutura cognitiva tem limites, há que fazer economia, isto é, procurar a quantidade
adequada de informação a ser utilizada na mente do aluno, para que ocorra a
compreensão da matéria.
Tal como sugere este estudo, o tipo de trabalho intelectual a que se apela no exame (e
que acaba por ser o privilegiado nas práticas pedagógicas no secundário) consiste,
fundamentalmente, numa mera memorização de conteúdos, cuja probabilidade de
esquecimento é elevada e, numa perspectiva mais optimista relativamente à sua
retenção, consiste em conteúdos sem utilidade para o prosseguimento de estudos da
maioria destes alunos. Num país relativamente pobre como o nosso, a precisar de
mentes pensantes e criativas que viabilizem um “capital humano” adequado às
realidades actuais, esta constatação aponta para a necessidade de uma reflexão séria
sobre as finalidades da educação ao nível do ensino secundário.
131
pode ter na alteração do padrão de relação entre classe social e sucesso escolar (Morais
et al, 1992, 1993; Morais, Neves et al, 2000). O presente estudo parece, igualmente,
disponibilizar dados que permitem reforçar esta ideia.
Com efeito, quando comparámos as situações das duas escolas da classe trabalhadora,
os dados mostraram que a escola que promovia um ensino de maior nível de exigência
conceptual conseguiu atingir melhores resultados no exame nacional do que a escola
onde o nível de exigência conceptual era muito baixo. No primeiro caso, a média dos
resultados foi positiva, situando-se acima da média nacional e no segundo caso foi
negativa, situando-se muito abaixo da referida média. Este é um resultado importante do
estudo que vem reforçar a ideia de que as práticas pedagógicas promotoras de um
elevado nível de exigência conceptual podem favorecer a aprendizagem científica dos
alunos socialmente mais desfavorecidos e que tendem a evidenciar maiores dificuldades
de sucesso. Tal como defende Morais (1991), “este conhecimento sociológico é uma
condição necessária para aumentar o nível de aproveitamento dos alunos da classe
trabalhadora” (p. 78).
Também quando se compararam as situações das duas escolas de classe média, ambas
com elevadas classificações nos “rankings”, se verificou existir uma distinção
fundamental entre elas. Enquanto na escola que promovia um ensino de baixo nível de
exigência conceptual, a classificação no exame nacional baixou relativamente à
classificação interna, na escola em que o nível de exigência era elevado, a classificação
no exame subiu relativamente à classificação interna. Os dados relativos à tipologia das
práticas pedagógicas características destas escolas, vêm sugerir, uma vez mais, a
importância do nível de exigência conceptual para o sucesso dos alunos. Considerando
as classificações obtidas nos “rankings” pelas duas escolas de classe média, poderemos
ainda sugerir que as classificações internas da escola promotora de um menor nível de
exigência conceptual estarão sobrevalorizadas relativamente à escola promotora de um
maior nível de exigência conceptual, o que significa que é mais fácil ter classificações
elevadas na primeira escola do que na segunda. Esta constatação é confirmada por
afirmações da professora da primeira escola ao relatar, na entrevista, que com
frequência os melhores alunos da sua escola são alunos pouco inteligentes, mas que
revelam grande facilidade relativamente às competências de memorização. Esta situação
levanta-nos uma nova problemática ao sugerir que são os alunos com grande facilidade
de memorização, mesmo que menos inteligentes, que se encontram mais favorecidos
132
perante esta tipologia de exame nacional. Serão, então, estes alunos, que, com maior
probabilidade, entrarão nas universidades, enquanto outros, com maior facilidade para
elaborar raciocínios complexos, mas, eventualmente, sem paciência para memorizar
aquela quantidade exaustiva de conteúdos, irão ficando pelo caminho…
De uma forma mais abrangente, podemos, pois, concluir, que é fundamental, para uma
efectiva aprendizagem científica dos alunos, manter um elevado nível de exigência
conceptual nas práticas pedagógicas mesmo e, principalmente, quando se trata de alunos
socialmente mais desfavorecidos, dado que são estes os mais prejudicados por um
ensino de deficiente qualidade.
Além disso, numa perspectiva psicológica, e tal como defende Bruner (1996), um
ensino de qualidade, ao enfatizar a estrutura de um assunto, provavelmente é ainda mais
valioso para os alunos menos capazes, do que para os mais dotados, pois aqueles, mais
do que estes, são os que, com maior frequência, são deixados à margem por um ensino
deficiente. Ainda, de acordo com Vygotsky (1978), a aprendizagem deve ser
fundamentalmente encarada como meio para promover o desenvolvimento e não como
consequência do desenvolvimento, tal como foi sugerido por Piaget. A famosa
expressão de Vygotsky “a aprendizagem deve ser orientada não para o ontem mas para
o amanhã do desenvolvimento da criança” (Davydov, 1995, p. 18) explicita claramente
esta posição. Desta forma, as considerações de Vygotsky relativamente à relação entre
instrução (ensino/aprendizagem) e desenvolvimento psicológico, centram-se, não
apenas nas funções que já estão amadurecidas, mas fundamentalmente no seu processo
de amadurecimento. Para ele o desenvolvimento psicológico dos alunos é favorecido ao
promover um ensino/aprendizagem com um nível de exigência conceptual adequado à
sua “zona de desenvolvimento proximal”.
O facto de uma das escolas da classe trabalhadora ter privilegiado, durante o 10º e 11º
anos, uma aprendizagem de nível de exigência conceptual relativamente elevado, terá
permitido um maior desenvolvimento psicológico dos alunos, o que terá facultado,
eventualmente, uma melhor preparação destes alunos para os exames relativamente aos
alunos da outra escola de classe trabalhadora que manteve um nível de exigência
conceptual sempre baixo.
133
no sentido de as práticas pedagógicas promoverem unicamente o que é avaliado no
exame, garantindo, desta forma, o acesso à universidade. Contudo, esta atitude perde
sentido se tivermos em conta que, também, para estes alunos, o aumento do nível de
exigência conceptual das práticas pode contribuir para uma melhoria das suas
competências científicas. Na realidade, segundo dados sugeridos pelo estudo, parece
haver uma tendência, relativamente aos alunos da classe média, quando sujeitos a
práticas promotoras de um elevado nível de exigência conceptual, para subir as suas
classificações nos exames nacionais relativamente às suas classificações internas.
O estudo permite ainda sugerir, de acordo com dados disponibilizados nas entrevistas
das professoras, que parece existir uma motivação dos alunos nas escolas onde se
manteve um nível de exigência conceptual elevado. Ou seja, contrariamente ao que seria
de esperar, tendo em conta a postura mais frequente que existe na actualidade
relativamente à motivação dos jovens, que tende a ir ao encontro de determinados
contextos lúdicos caracterizados por um vazio de ideias, os alunos pareceram tirar
prazer destas situações, ao serem colocados perante questões que os obrigaram a
pensar. Em sintonia com as ideias de Bruner (1996), talvez a técnica de despertar a
atenção na escola consista em se darem os primeiros passos no sentido de estabelecer a
autonomia activa da atenção que é a antítese da passividade do espectador. A motivação
intrínseca, que confere o carácter “lúdico” à educação, sugerida por este autor, residirá
então numa aprendizagem mantendo um elevado nível de exigência conceptual,
remetendo para um ancestral “prazer de pensar” que se opõe à passividade e ao
acriticismo. Esta é, aliás, uma questão fundamental, relativamente ao equívoco que
parece persistir no que se refere à validade de um ensino construtivista, decorrente da
sugestão de Bruner (1996) relativamente ao carácter “lúdico” da aprendizagem, cuja
interpretação errónea terá originado práticas pedagógicas destituídas de um confronto
constante com o produto (no momento adequado), causando uma “desorientação” nos
alunos e um facilitismo impeditivos de uma adequada estruturação do conhecimento.
134
orientação lógica no âmbito destas inconsistências, viabilizando-lhes uma postura
correcta, sempre que possível, perante o dilema em causa – Formar para quê?
135
intencional.
O estudo pode ainda contribuir para uma reflexão sobre o significado da classificação
das escolas nos “rankings”, em termos da qualidade de ensino que promovem. Os
resultados do estudo permitem, com efeito, questionar a classificação das escolas
segundo os “rankings”, se tomarmos como critério de seriação o nível de exigência
conceptual promovido, além da caracterização sociológica dos alunos. De facto, a
classificação nos “rankings” coloca as duas escolas da classe média que estivémos a
estudar, respectivamente, no primeiro e segundo lugar e as escolas de classe
trabalhadora, respectivamente, nos níveis duzentos e onze e trezentos e setenta e seis da
referida classificação. Ora, ao tomarmos em consideração os dados do estudo referentes
ao nível de exigência conceptual promovido nas práticas pedagógicas de escolas
136
socialmente diferenciadas, facilmente assumiremos o absurdo desta seriação. Por
exemplo, a escola com alunos fundamentalmente da classe trabalhadora e que promovia
um nível de exigência conceptual relativamente elevado, ficou, no âmbito dos
“rankings”, muito pior classificada do que a escola composta por alunos da classe média
e que promovia um nível de exigência relativamente baixo. Da mesma forma, a escola
da classe média que promovia um maior nível de exigência conceptual, situou-se num
nível inferior do “ranking” quando comparada com a outra escola da classe média.
Desta forma, a avaliação das escolas não clarifica devidamente sobre a efectiva
qualidade promovida nas mesmas, tendendo, em alguns casos a exaltar níveis de
qualidade que entram em contradição com o baixo nível de exigência conceptual
promovido. Ora, esta situação manter-se-á enquanto a tipologia de exame nacional
persistir em valorizar, fundamentalmente, os níveis mais baixos do processo cognitivo.
Parece pois fundamental e urgente repensar-se esta forma de avaliar as escolas, o que
passará pela alteração da tipologia dos exames nacionais, assim como pela integração,
nas análises utilizadas, de elementos relativos à caracterização sociológica das escolas.
Estas avaliações nacionais podem providenciar resultados importantes, não só para
efeitos de auto-avaliação das escolas, mas principalmente no âmbito da política
educacional. Porém, para que isso se torne possível, será necessário viabilizar dados que
tenham em conta a realidade das escolas.
137
uma necessidade há muito sentida no nosso sistema de ensino, permitindo classificar, de
uma forma clara e minuciosa, as competências cognitivas no âmbito dos vários
documentos a analisar.
Teria ainda sido pertinente, no âmbito dos problemas levantados, fazer uma
discriminação (no que se refere à categorização dos itens dos testes e exame)
relativamente aos diferentes tipos de memória classificados no instrumento de análise.
Ou seja, seria interessante avaliar em que medida esses testes/exame valorizam uma
memória descontextualizada (o nível mais elementar das competências simples referidas
no instrumento de análise – conhece termos) a qual, segundo reflexões elaboradas no
âmbito da tese, e segundo dados da investigação, possui uma remota probabilidade de
retenção.
138
4. SUGESTÕES PARA FUTURAS INVESTIGAÇÕES
Seria interessante uma investigação que analisasse os resultados dos alunos das escolas
com melhores classificações nos “rankings” em testes do TIMSS e do PISA, de forma a
avaliar em que medida se promoveu um ensino de qualidade nas referidas escolas e
detectar, desta forma, possíveis inconsistências entre a “seriação proposta nos referidos
“rankings” e a decorrente dos resultados destes testes internacionais, baseados,
fundamentalmente, na avaliação de competências científicas de elevado nível de
complexidade. Os resultados desta investigação seriam fundamentais para aferir
critérios de validade relativamente aos modelos de análise utilizados no âmbito das
avaliações nacionais1 assim como para avaliar a efectiva qualidade do ensino-
aprendizagem promovido nas diferentes escolas, segundo as classificações dos referidos
“rankings”.
139
competências simples. Tendo em conta estes dados e em coerência com os raciocínios
elaborados no âmbito desta tese, poder-se-ia então sugerir que será, provavelmente, a
“socialização primária” que permite, nessa civilização, um “enriquecimento interior” de
remota tradição nessas “paragens”. No ocidente, pelo contrário, parece haver indícios
que reflectem um empobrecimento de raciocínio e um vazio de ideias sobre o qual se
torna urgente reflectir. Ou seja, fazendo um paralelismo com o efeito da “classe social”
no sucesso dos alunos (os alunos da classe média atingem sempre o sucesso,
independentemente das práticas pedagógicas promovidas), também, eventualmente, a
socialização primária dos alunos no oriente facultar-lhes-á raciocínios que lhes
conferem sucesso nesses testes internacionais em ciência, seja qual for a tipologia de
práticas pedagógicas promovidas. Também Bruner (1996) salienta a dificuldade que a
nossa tradição pedagógica ocidental revela em render justiça à importância da nossa
capacidade de captar a função do contexto, optando, frequentemente, por um grau de
explicitação que parece ignorá-la. Será que, tal como sugere o escritor Mia Couto
(2003) alguns países da civilização ocidental parecem indiciar, na actualidade, uma
incapacidade de pensar?
Seria ainda interessante e pertinente investigar que reformas se pretende levar a cabo,
segundo o Processo de Bolonha actualmente a decorrer, e qual a tipologia de
competências que se pretende privilegiar. Estas opções serão fundamentais para delinear
o futuro Europeu.
Nota
1. Os modelos de análise utilizados têm-se limitado às classificações nos exames nacionais, com
excepção do ano de 2001/2002 em que a análise integrou uma componente sociológica que foi alvo
de críticas acentuadas pelas limitações oferecidas relativamente à sua aproximação à realidade das
escolas em termos da qualidade de ensino que promovem.
140
BIBLIOGRAFIA
BIBLIOGRAFIA
Afonso, M., & Neves, I.P. (2000). Influência da prática pedagógica na mudança
conceptual em ciências: Um estudo sociológico. Revista Portuguesa de
Educação, 13 (1), 274-282.
Afonso, M. Morais, A.M., & Neves, I.P. (2002). Contextos de formação de professores:
Estudo de características sociológicas específicas. Revista de Educação, XI (1),
129-146.
Alaiz, V., Góis, E., & Gonçalves, C. (2003). Auto-avaliação das escolas: Pensar e
praticar. Lisboa: Edições ASA.
Andrich, D. (2002). A framework relating outcomes based education and the taxonomy
of educational objectives. Studies in Educational Evaluation, 28, 35-59.
Bernstein, B. (1977). Class, codes and control:Vol III, Towards a theory of educational
transmissions (2ª ed.). Londres: Routledge & Kegan Paul.
Bernstein, B. (1990). Class, codes and control: Volume IV, The structuring of
pedagogic discourse. Londres: Routledge.
143
activity after Vygotsky. Londres: Routledge.
Bloom, B., Engelhart, M. , Furst, E. , Hill, W., & Krathwohl, D. (1977). Taxinomia de
objectivos educationais: Domínio cognitivo. Porto Alegre: Editora Globo.
Borman, G., & Hewes, G. (2002). The long-term efect and cost-effectiveness of success
for all. Educational Evaluation and Policy Analysis. 24(4), 243-266.
Botelho, A., & Morais, A. M. (2001). O que fazem os alunos nos módulos interactivos –
Estudo sociológico dos procedimentos dos alunos num museu de ciência
interactivo. Comunicação apresentada no IV Encontro Nacional de Didácticas e
Metodologias da Educação – Percursos e Desafios, Universidade de Èvora.
Bruner, J.S. (1975). Uma nova teoria de aprendizagem. Rio de Janeiro: Bloch Editores.
Bruner, J.S. (1986). Actual minds, possible worlds. Reino Unido: Harvard University
Press.
Cachapuz, A., Praia, J., & Jorge, M. (2002). Ciência, educação em ciência e ensino das
ciências. Lisboa: IIE.
Caillods, F., Göttelmann-Duret, G., & Lewin, K. (1997). Science education and
development: Planning and policy issues at secondary level. International
Institute for Educational Planning. Paris: Pergamon.
144
transição do século: O que nos mostram os censos populacionais compreendidos
entre os anos de 1890 e 1930. Educação, Sociedade & Cultura, 5, 39-63.
Carnoy, M., & Loeb, S. (2002). Does external acountability affect student outcomes? A
cross state analysis. Educational Evaluation and Policy Analysis. 24(4), 305-
331.
Claxton, G. (Ed.). (1980). Cognitive psycology : New directions. Londres: Routledge &
Kegan Paul.
Clímaco, M.C. (2001). Avaliação integrada das escolas: Relatório nacional – Ano
lectivo de 1999-2000. Lisboa: Inspecção Geral de Educação.
Daniels, H. (1989). Visual displays as tacit relays of the structure of pedagogic practice.
British Journal of the Sociology of Education., 10 (2), 123-140.
Daniels, H. (Ed.). (1995). Charting the agenda: Educational activity after Vygotsky.
Londres. Routledge.
145
Organização Curricular e Programas: Ensino Secundário. Lisboa: Ministério
de Educação.
Domingos (presentemente Morais), A. M., Barradas. H., Rainha, H., & Neves, I.P.
(1986). A teoria de Bernstein em sociologia da educação. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian.
Duggan, S., & Gott, R. (1995). The place of investigations in practical work in the UK
National Curriculum for Science. International Journal of Science Education, 17
(2), 137-147.
Ferreira, L., & Morais, A.M. (1998). Os problemas na aula de ciências: Estudo de
aprendizagens individuais e em grupo. Revista de Educação. VII (1), 91-105.
Filer, A. (Ed.). (2000). Confusion, contradictions and new forms of complience: Making
sense of assessment policy and practice. Teaching in Higher Education, 5(4),
553-556.
Fontes, A., Morais, A.M., & Neves, I.P. (1996). A prática educativa da actual reforma:
Um estudo comparativo das leis de bases de 1986 e 1973. Comunicação
apresentada no II Congresso de Educação do Algarve, Universidade do Algarve,
Faro.
Fontinhas, F., Morais, A.M., Neves, I.P., & Peneda, D. (1993). Influência da
socialização primária e secundária na relação entre orientação de codificação e o
aproveitamento da escola. Revista Portuguesa de Educação, 6 (2), 81-104.
Gall, M. D., Borg, W., & Gall, J. P. (1996). Educational research: An introduction.
Nova Iorque: Longman.
146
Gil-Pérez, D., et al (2002). Defending construtivism in science education. Science &
Education, 11, 557-571.
Gilbert, S.W. (1992). Sistematic questioning: Taxonomies that develop critical thinking
skills. The Science Teacher, 59 (9), 41-46.
Grácio, S., & Stoer, S. (1982). Sociologia da educação II: A construção social das
práticas educativas. Lisboa: Livros Horizonte.
Guerra, M.S. (2003). Uma seta no alvo: A avaliação como aprendizagem. Correio da
Educação, 41.
Lauvas, P., Havnes, A., & Raaheim, A. (2000). Why this inercia in the development of
better assessment methods? Quality in Higher Education, 6 (1), 91-100.
Leach, J., & Paulsen, A. C. (Eds.). (1999). Practical work in science education: Recent
research studies. Dinamarca: Roskilde University Press.
Lourenço, A., & Neves, I. (1998). O discurso pedagógico nas Ciências Naturais do 7º
ano de escolaridade: Uma análise sociológica de manuais escolares.
Comunicação apresentada no 2º Simpósio de Ensino das Ciências e da
Matemática, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
147
Moscú.
MacBeath, J., et al. (1999). Evaluating quality in school education: Final report.
European Commission.
Martins, I.P., Dias, C., & Silva, I.P. (2000a). A biologia no ensino secundário:
Tendências curriculares, trabalho laboratorial e interesse dos alunos. Revista de
Educação, IX (1), 164-187.
Meng, E., & Doran, R. L. (1993). Improving instruction and learning through
evaluation. Nova Iorque: ERIC/CSMEE.
Miranda, C., & Morais, A.M. (1994). O contexto social na relação entre a exigência
conceptual dos professores e o desenvolvimento científico dos alunos. Aprender,
17, 55-70.
Morais, A. (2002). Basil Bernstein at the micro level of the classroom. British Journal
of Sociology of Education, 23(4), 559-569.
Morais, A.M., Neves, I.P., & Galhardo, L. (1984). Uma forma de estruturar o ensino e
a aprendizagem. Lisboa: Livros Horizonte.
Morais, A. M., Peneda, D., Neves, I. P., & Cardoso, L. (1992b). Socialização primária
e prática pedagógica: Vol. I. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian.
148
Morais, A. M., & Neves, I. P. (1993a). Práticas pedagógicas e teorias de instrução no
contexto de socialização familiar: Um modelo de análise. In Actas do II
Congresso Português de Sociologia, vol. II (pp. 585-601). Lisboa: Editorial
Fragmentos e associação Portuguesa de Sociologia.
Morais, A.M., Fontinhas, F., & Neves, I.P. (1993b). Regras de reconhecimento e de
realização na resolução de problemas em ciências. Revista de Educação, III (1),
105-124.
Morais, A.M., Neves, I.P., Antunes, H., Fontinhas, F., Medeiros, A., & Peneda, D.
(1995a). Contextos pedagógicos diferenciais e aprendizagem científica.
Comunicação apresentada no III Encontro Nacional de Didácticas/Metodologias
da Educação, Universidade do Minho, Braga.
Morais, A. M., Neves, I. P., Antunes, H., Fontinhas, F., Medeiros, A., Peneda, D., &
Reis, E. (1996). Práticas pedagógicas e aprendizagem científica: Um estudo
sociológico. Revista de Educação, V (2), 69-93.
Morais, A.M., Neves, I.P., & Fontinhas, F. (1998). A teoria de instrução na actual
reforma educativa: Uma análise sociológica de programas de ciências.
Inovação,11(1), 109-130.
Morais, A. M., Neves, I.P., et al (2000). Estudos para uma sociologia da aprendizagem.
Lisboa: Instituto de Inovação Educacional e Centro de Investigação em
Educação da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Morais, A.M., & Neves, I.P. (2001). Texts and contexts in educational systems –
Studies of recontextualizing spaces. In A. Morais, I. Neves, B. Davies & H.
Daniels (Eds.), Towards a sociology of pedagogy: The contribution of Basil
Bernstein to research (Cap. 9). Nova Iorque: Peter Lang.
Murphy, R., & Broadfoot, P. ( 1995). Efective assessement and the improvement of
education: Atribute to Desmond Nuttal. Londres: Falmer Press.
Neves, I. P. (1991). Contributo para uma análise sociológica de livros de texto. Revista
de Educação, I (2), 91-97.
149
Neves, I.P., & Morais, A.M. (1998). Espaço de intervenção do professor na actual
reforma educativa: Uma análise sociológica. Educação, Sociedade & Cultura, 9,
95-140.
Neves, I.P., Morais, A.M., Medeiros, A., & Peneda, D. (1999b). Relação entre
conhecimentos nos currículos de ciências: Estudo comparativo de duas
reformas. Revista de Educação, VIII (2), 63-76.
Neves, I. P., Morais, A.M., Medeiros, A., & Peneda, D. (2000). Os discursos
instrucional e regulador em programas de ciências: Estudo comparativo de duas
reformas. Revista Portuguesa de Educação, 13(1), 209-245.
Neves, I.P., & Morais, A.M. (2001). Texts and contexts in educational systems –
Studies of recontextualizing spaces. In A. Morais, I. Neves, B. Davies & H.
Daniels (Eds.), Towards a sociology of pedagogy: The contribution of Basil
Bernstein to research (Cap. 9). Nova Iorque: Peter Lang.
Newmann, F., Smith, B., Allensworth, E., & Bryk, A. (2001). Instructional program
coherence: What it is and why it should guide school improvement policy.
Educational Evaluation and Policy Analysis, 23(4), 247-321.
Novais, A., & Cruz, M.N. (1989). O ensino das ciências, o desenvolvimento das
capacidades metacognitivas e a resolução de problemas. Revista de Educação,
I(3), 65-75.
Olson, S., & Loucks-Horsley, S. (Eds). (2000). Inquiry and the National Science
Education Standards: A Guide for Teaching and Learning. National Science
Teachers Association (1996). http://www.nap.edu/books/0309064767/html/ (8
de Junho de 2001).
150
contributo do pensamento pedagógico português. In N.M. Vieira, J. Pintassilgo
& B. Melo (Coords.), Democratização Escolar: Intenções e apropriações.
Lisboa: Centro de Investigação em Educação da Faculdade de Ciências da
Universidade de Lisboa.
Pires, D., Morais, A., & Neves, I.P. (2003). Desenvolvimento científico nos primeiros
anos de escolaridade: Estudo de características sociológicas específicas da
prática pedagógica. Revista de Educação (Proposto para publicação).
Popkewitz, T.S. (2000). The denial of change in educational change: Sistems of ideas in
the construction of national policy and evaluation. Educational Researcher,
29(1), 17-29.
Proença, M. C. (Coord.). (1998). Sistema de ensino em Portugal: Séc. XIX- XX. Lisboa:
Edições Colibri.
Rocha, C., & Morais, A.M. (1999a). Desenvolver competências sociais nos primeiros
anos de escola: Uma inovação possível. Inovação, 12 (2), 53-73.
Rocha, C., & Morais, A.M. (1999b). A relação investigador-professor nos projectos de
investigação-acção: Uma abordagem sociológica. Comunicação apresentada no
III Congresso Português de Sociologia – Práticas e Processos de Mudança
Social. Associação Portuguesa de Sociologia, Lisboa.
Roderick, M., Jacob, B., & Bryk, A. (2002). The impact of high-stakes testing in
Chicago on students achievement in promotional gate grades. Educational
Evaluation and Policy Analysis, 24 (4), 333-357.
151
Mestrado, Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Schrag, F. (1999). Why Foucault now? Journal of Curriculum Studies ,31(4), 375-383.
Stern, L., & Ahlgren, A. (2002). Analysis of students’ assessments in midle school
curriculum materials: Aiming precisely at benchmarks and standards. Journal of
Research in Science Teaching, 39 (9), 889-910.
UNESCO (2001, Setembro). Education for all for learning to live together: Contents
and learning strategies – Problems and solutions. Forty-sixth session of the
International Conference on Education, Geneva: IBE & UNESCO.
Vieira, M. M., Pintassilgo, J., & Melo, B. (2003). Democratização escolar: Intenções e
apropriações. Lisboa: Centro de Investigação em Educação da Faculdade de
Ciências da Universidade de Lisboa.
Watson, R. (2000). The role of practical work. In M. Monk & J. Osborne (Eds.), Good
practice in science teaching: What research has to say. Buckingham: Open
University Press.
White, R. (1996). The link between the laboratory and learning. International Journal
of Science Education, 18(7), 761-774.
152
J. Wellington (Ed.), (1999), Practical work in school science – Which way now?
London: Routledge.
Yang, M., Goldstein, H., Rath, T., & Hill, N. (1999). The use of assessment data for
school improvement purposes. Oxford Review of Education, 25(4), 470-483.
Zohar, A., & Tamir, P. (1993). Incorporating critical thinking into a regular high school
biology curriculum. School Science and Mathematics, 93(3), 136-140.
153
ANEXOS
ANEXO 1
CONTEXTO
RUBRICAS DO INSTRUCIONAL
FRASES
PROGRAMA Competências
Cognitivas
CS CC
INTRODUÇÃO
GERAL
1. [... Referência à equipa que realizou este trabalho e à necessidade de clarificar as intenções básicas X
gerais que se reflectiram com maior incidência sobre as opções tomadas.
Enquadramento A primeira dessas intenções centra-se na unidade e coerência do conjunto da programação...
dos Programas do ...Será importante que os agentes educativos se apercebam da unidade global do currículo, da
Ensino articulação horizontal e vertical das diferentes disciplinas e da estrutura organizativa do ensino
Secundário na secundário...
Reforma ...Procurou-se imprimir uma nova orientação ao processo educativo, fazendo-o convergir para a
Curricular formação integral dos alunos, sendo, nesse sentido, assinalado um papel nuclear ao desenvolvimento de
atitudes e à consciencialização de valores e subordinando-se a aquisição de conhecimentos ao domínio
de aptidões e capacidades. Ora tal projecto não poderá deixar de reflectir-se na reformulação das
metodologias de ensino-aprendizagem relativamente aos padrões tradicionais, apelando-se para a
intensa participação de cada aluno na construção e avaliação das suas aprendizagens e para o incentivo
da sua autonomia como sujeito intelectual e moral.
... No secundário, mais do que no básico, tais directrizes assumem especial relevância por questões de
natureza psicopedagógica e devido à função social da etapa terminal do currículo.] 1
[ No plano psicopedagógico, importa efectivamente ter em conta que os alunos se encontram numa fase
decisiva da construção da sua autonomia pessoal, sendo indispensável que o sistema de ensino lhes X
proporcione experiências mobilizadoras de um pleno domínio de competências intelectuais e de uma
segurança de atitudes no plano sócio-afectivo.] 2
[... A função social do ensino secundário, enquanto patamar de formação para o ingresso na vida activa
ou para o prosseguimento de estudos de grau médio ou superior, impõe que se prossigam metas mais
exigentes de desenvolvimento, tendo em vista tanto quanto possível, a maturidade sociocultural...] 3
[... Os programas têm por eixo um determinado núcleo de objectivos de desenvolvimento, em função
dos quais se seleccionaram os conteúdos e as metodologias capazes de melhor servir a consecução das
metas fixadas, incluindo ainda disposições relativas ao processo de avaliação que se pretende formativa
e predominantemente orientada numa perspectiva cognitivista.] 4
Aprofundar valores, atitudes e práticas que preparem intelectual e afectivamente os jovens para o
desempenho consciente dos seus papéis numa sociedade democrática. 7
2.1. Favorecer o desenvolvimento da autonomia pessoal, alicerçada numa consciência crítica dos interesses e
valores e no conhecimento das capacidades e aptidões próprias, dentro de princípios de liberdade,
Dimensão responsabilidade e solidariedade. 8
Pessoal
Estimular o desenvolvimento de atitudes de reflexão metódica, de abertura de espírito, de tolerância e de
X
respeito pela diferença. 9
CS CC
2.2. Assegurar que os alunos se identifiquem criticamente com a realidade portuguesa, proporcionando
conhecimentos sólidos sobre a sua história, cultura, características do povo, problemas e desafios que * *
Domínio das enfrenta. 15
aquisições
fundamentais Favorecer a utilização da língua portuguesa com correcção e fluência nos diversos modos de
para o comunicação. 16
desempenho de
papéis Assegurar as condições necessárias para que os alunos possam exprimir-se com fluência pelo menos
socialmente úteis numa língua estrangeira. 17
Fomentar a aquisição de competências culturais consistentes e o apreço pela cultura e pelos valores
estéticos, tanto nacionais como estrangeiros. 19
Proporcionar as bases teóricas necessárias para que os alunos se familiarizem com alguns grandes
X
sistemas de interpretação da realidade. 24
Favorecer a orientação e formação profissional dos jovens através da preparação técnica e tecnológica
com vista à entrada no mundo do trabalho. 25
2.3. Favorecer a compreensão dos mecanismos de organização e funcionamento dos diferentes grupos nos
quais está inserido. 26
Dimensão para a
Cidadania Proporcionar a existência de vivências formais e não formais que favoreçam:
- o aprofundamento da capacidade de analisar criticamente informações e situações do quotidiano X
pessoal, local e nacional; 27
Formar a partir da realidade concreta da vida local, regional e nacional e no apreço pelos valores
permanentes da sociedade em geral e da cultura portuguesa em particular, jovens interessados na
resolução dos problemas do País e sensibilizados para os problemas da comunidade. 33
Anexo 1
CONTEXTO
RUBRICAS DO INSTRUCIONAL
FRASES
PROGRAMA Competências
Cognitivas
CS CC
PROGRAMAS
DAS
DISCIPLINAS
(C.T.V. 10º E 11º
ANOS E 12º DE
BIOLOGIA)
1. [...Como resposta a uma realidade em acelerada mudança sugere-se que a escola promova nos alunos * *
competências que lhes permitam enfrentar essa dinâmica de transformação , para além do acesso ao
Introdução acompanhamento da informação científica actualizada. ] 34
[ Neste mundo caracterizado pela diversidade e evolução rápida e constante, a escola tem de
proporcionar aos alunos, não só o acesso à informação científica, como também ao domínio de
X X
métodos de trabalho e `a prática do processo investigativo que lhes permitam actualizar os seus
conhecimentos, de forma responsável, autónoma e solidária.] 35
[ O tratamento equilibrado das diversas componentes dos programas deverá ter sempre em conta a
experimentação, permitindo um trabalho pessoal na realização de actividades concretas.] 37 * *
Finalidades Estimular uma visão humana da ciência, fomentando a compreensão das relações entre Ciência-
X
Tecnologia-Sociedade.39
Objectivos Gerais Contribuir para a solução de questões, manifestando atitudes de ponderação e sentido de X
das Disciplinas responsabilidade. 49
CS CC
4.
Conteúdos das
Disciplinas
A TERRA
SUA ESTRUTURA
TERRA PRIMITIVA
E ORIGEM DA VIDA
INFORM. GENÉTICA X
E TRANSFERÊNCIA
A CÉLULA
CONTINUIDADE DA VIDA
E REPRODUÇÃO
SISTEMAS VIVOS E ENERGIA
HEREDITARIEDADE
MINERAIS – UNIDADES
BÁSICAS DAS ROCHAS
DIVERSIDADE E ORIGEM
DAS ROCHAS
62
Anexo 1
CONTEXTO
RUBRICAS DO INSTRUCIONAL
FRASES
PROGRAMA Competências
Cognitivas
CS CC
EVOLUÇÃO
DIVERSIDADE
AMBIENTE
X
BIOLOGIA DO AMBIENTE
63
5. No ensino secundário devem ser desenvolvidas metodologias, já adoptadas para o ensino básico, que
valorizem a criatividade e o sentido crítico, face à profusão de informação, indispensáveis a uma
Orientação aprendizagem autónoma. Nesta linha, consideram-se as orientações de base:
Metodológica
O aluno é o agente da sua aprendizagem, a qual envolve o desenvolvimento holístico de capacidades,
X
conhecimentos e atitudes.64
A construção dos conceitos deve assentar nos conhecimentos prévios dos alunos, recorrendo a
X X
actividades diversificadas de experimentação de grau de formalização crescente. 69
O professor deve assumir um papel organizador e orientador. Cada escola e cada professor, utilizando
uma organização flexível de conteúdos de aprendizagem, deve adequar e aplicar os seus próprios
métodos, perseguindo os objectivos seleccionados com respeito pela diferenciação de aprendizagem.
71
Anexo 1
CONTEXTO
RUBRICAS DO INSTRUCIONAL
FRASES
PROGRAMA Competências
Cognitivas
CS CC
Para além da recolha de informações sobre os resultados da aprendizagem, têm muito interesse os
dados que se referem aos processos mentais utilizados pelos alunos, reveladores da natureza das
representações e das estratégias elaboradas. 73
A avaliação, como componente integrante da actividade pedagógica, deve incidir sobre situações a que
se deu ênfase no decurso da aprendizagem. Assim sendo, a avaliação não pode centrar-se apenas em
tarefas com base essencialmente teórica, relativas aos temas estudados, devendo também ter em conta, * *
no processo seguido pelo aluno, a aquisição de competências relativas à actividade experimental. 76
A observação directa e individual desse trabalho experimental deverá ser a principal forma de avaliar,
decorrendo de maneira integrada durante o processo de aprendizagem. Contudo, atendendo às
condições de trabalho, considera-se necessário utilizar instrumentos de avaliação adequados a grupos
numerosos de alunos. Entre esses instrumentos sugerem-se: registos de dados, folhas de
experimentação (relatórios), entrevistas, listas de verificação, escalas (também utilizadas em auto-
avaliação). O processo avaliativo, ao utilizar de forma integrada vários instrumentos além dos testes,
torna-se mais globalizante e fica mais enriquecido. 77
Categorias de análise
Notas
As seguintes notas apresentam exemplos de perguntas mais extensas que no instrumento apenas são
referidas com carácter global.
2. Faça a correspondência correcta entre um número da coluna I e uma ou mais letras da coluna II.
Coluna I Coluna II
3. As patas do pinguim estão bem adaptadas ao meio aquático em que vive, pois têm uma membrana
interdigital.
De entre os conceitos a seguir apresentados, escolha aqueles que, segundo Lamarck, explicariam o
caso acima descrito.
4. De acordo com o modelo de Oparin –Haldane estebelece a ordem de ocorrência dos seguintes
fenómenos:
Anexo 2
A. Fotossíntese
B. Formação de coacervados
C. Síntese de Monómeros
D. Polimerização
E. Formação de protobiontes
F. Surgem os primeiros seres vivos heterotróficos.
Coluna I Coluna II
4 F F CsCs P P P
2.1 F F F P P P
2.2.1 F F F P P P
2.2.2 F T F P P P
2.2.3 F F F P P P
2.3 F T F P P P
2.4 F F F P P P
III 1.1 F F F P P P
1.2 F F F P P P
3 F F F P P P
IV 1 F F F P P P
2.1 F T T P P P
2.2 F T T P P P
3 F T T P P P
V 1.1 F F F P P P
2.1 F F F P P P
2.2 F F F P P P
4.1 F F F P P P
4.2 F F F P P P
VI 1 F F F P P P
2 F CsCs CsCs P P P
3 F T T P P P
4.1 F T T P P P
4.2 F F T P P P
N 37 26 22 24 5 8 5 31 30 29 5 6 7 1 1 1 6 7 8
% 100 P P P P P P T T T P P P P P P T T T
83.9 73.3 82.8 16.1 26.7 17.2 83.8 81.1 78.4 83.3 85.7 87.5 16.7 14.2 12.5 16.2 18.9 21.6
ANEXO 4
Guião de entrevista
Anexo 5
Escola: ________________________________________________________________
Professor(a): __________________________________________ Data: ___________
Pretende-se com esta entrevista clarificar alguns dados que permitam definir o perfil da
escola em termos das suas opções pedagógicas mais representativas, assim como a sua
posição relativamente aos actuais exames nacionais.
CARACTERIZAÇÃO DA ESCOLA:
B1. Relativamente à prática docente mais representativa da escola, refira o(s) tipo(s) de
metodologia(s) que é costume privilegiar e o grau de importância que lhes é atribuída na
preparação científica dos alunos. Exemplifique.
Objectivo das questões A e B: Pretende-se, com este conjunto de questões, obter dados directos (A1
E A2 ) e indirectos (A3, A4, A5, B1 e B2) sobre o nível de exigência conceptual correspondente
à prática pedagógica das professoras.
C. Esta prova de exame de biologia (de 2001/2002) constitui um modelo das provas
realizadas no nosso país no final do secundário.
C2. Em que medida considera que o exame avalia adequadamente o que é sugerido nos
programas?
C3. Em que medida considera que esta prova avalia adequadamente as competências
promovidas nos alunos da sua escola?
C4. Considera possível conciliar a preparação dos alunos para os exames nacionais com o
cumprimento das tendências preconizadas nos actuais currículos nacionais? Justifique.
C5. Como prepara os seus alunos para a metodologia dos exames nacionais?
C6. Costuma informar os alunos sobre a cotação das perguntas dos testes sumativos?
Objectivo das questões C: Com este conjunto de questões pretende-se obter dados sobre a forma como as
professoras vêem a relação entre as competências exigidas nos programas e no exame e sobre a
relação entre a prática pedagógica das professoras e o DPO expresso nos programas e no exame.
D1. A que razões atribui o insucesso dos alunos a biologia a nível nacional?
D2. A que razões atribui o insucesso/sucesso dos alunos da sua escola nos exames nacionais de
biologia? Como relaciona essa situação com a origem social dos alunos?
D3. Qual o perfil de aluno que beneficia com o tipo de prova do exame nacional? Justifique.
D4. Considera haver influência dos encarregados de educação sobre o tipo de competências
promovidas e avaliadas? Em caso afirmativo, qual a preferência dada por estes?
Objectivo das questões D: Pretende-se, com este conjunto de questões, obter dados sobre a forma como
as professoras vêem a relação entre os resultados no exame e a origem social dos alunos e sobre a
relação entre as suas opções pedagógicas e os constrangimentos (de vária ordem) a que se
encontram sujeitas.