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CAMPINAS
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CAMPINAS
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DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
COMISSÃO JULGADORA:
A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.
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AGRADECIMENTOS
A realização deste trabalho só foi possível devido ao auxílio de algumas pessoas. Assim,
agradeço, primeiramente, a Deus, pela dádiva da vida!
Gratidão especial aos meus pais que, desde o início, não mediram esforços para me apoiar; ao
meu marido, pelo incentivo constante e compreensão por minhas ausências; e à minha irmã,
que sempre, com muito amor e companheirismo, esteve ao meu lado.
À minha filha, Maria Fernanda, que me ensinou e ainda me ensina, todos os dias, a ser mãe, e
que me inspira a pensar cada vez na Educação e suas complexidades.
À minha orientadora, Prof.ª Dra. Selma de Cássia Martinelli, pela paciência e dedicação na
orientação deste trabalho, sempre contribuindo com apontamentos enriquecedores, pertinentes
e valiosos.
À Prof.ª Dra. Andreza Schiavoni, que propiciou contribuições significativas ao trabalho à
época da qualificação.
À banca examinadora, composta pela Prof.ª Dra. Débora Cecilio Fernandes e pela Prof.ª Dra.
Camila Alves Fior, pela leitura cuidadosa deste trabalho, propiciando importantes
contribuições.
Gratidão ao incentivo constante de amigos e colegas de trabalho durante todo o percurso.
À Faculdade de Educação e, em especial, aos funcionários da Secretaria de Pós-Graduação
que, desde o início, foram muito pacientes e atenciosos.
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RESUMO
Peccin, L. A. (2018). Atitudes para o estudo e sua relação com o desempenho escolar.
Dissertação de Mestrado, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil.
O desempenho escolar tem sido bastante investigado ao longo dos anos, por representar uma
variável importante no cenário educacional sobre a qualidade do ensino ofertado aos alunos.
A literatura tem apontado constantemente que o desempenho escolar dos alunos pode estar
relacionado às variáveis de ordem afetiva, cognitiva, social e comportamental. Dentre a
multiplicidade de variáveis relacionais, optou-se, no presente trabalho, por investigar, de
modo mais específico, as atitudes adotadas pelos alunos em relação aos estudos. Como
atitudes, entende-se o que os alunos pensam, sentem e o modo como se comportam diante dos
estudos. Nessa perspectiva, o presente estudo pautou-se nos objetivos de analisar a relação
entre as atitudes para o estudo declaradas pelos alunos e a sua relação com o desempenho
escolar; avaliar as atitudes em relação ao estudo declaradas com maior frequência pelos
alunos; verificar se há existência de diferenças entre os sexos e os anos escolares em relação
às atitudes para o estudo e investigar a relação entre as atitudes e o desempenho escolar em
Língua Portuguesa. Participaram desta pesquisa 545 alunos do 2º ao 5º ano do Ensino
Fundamental, de ambos os sexos, com idades que variavam de 6 a 11 anos, provenientes de
duas escolas públicas de uma cidade do interior do Estado de São Paulo. Para a avaliação,
foram utilizadas as notas escolares da disciplina de português dos alunos, como medida de
desempenho, e um Inventário de Atitudes para o Estudo, desenvolvido para essa pesquisa. Os
resultados apontaram para uma correlação negativa e baixa entre desempenho escolar e
atitudes displicentes para o estudo (r=-0,234). Os resultados não revelaram diferenças
significantes entre os sexos no que diz respeito ao fator displicência (F=0,030 e p=0,356) e ao
empenho para o estudo (F=0,002 e p= 0,705). No que se refere a diferença entre ano escolar e
atitude, os resultados indicaram que houve diferença estatisticamente significante no fator
empenho (F=13,247 e p=<0,001), a variável significante apontou para a formação de dois
grupos, demonstrando que os alunos do 2º e 3º ano declaram-se mais empenhados em relação
aos estudos do que aos alunos do 4º e do 5º ano. Considera-se que os resultados apresentados
e discutidos, neste estudo exploratório, apresentam contribuições para a investigação das
atitudes em relação ao estudo, além de permitirem uma reflexão sobre o ato de estudar e sua
relação com o desempenho escolar.
ABSTRACT
Peccin, L. A. (2018). Attitudes towards studying and their relation to school achievement.
Masters Dissertation, State University of Campinas, Campinas, SP, Brazil.
School achievement has been extensively investigated throughout the years, for representing
an important variable in the educational scenario, regarding education quality. Literature on
the topic has been constantly pointing out that students’ school achievement may be related to
affective, cognitive, social and behavioral variables. Among the multiple relational variables,
in the present study we chose to investigate, in a more specific way, the attitudes adopted by
students in relation to studying. By attitudes, we mean what students think and feel and how
they behave towards studying. From this perspective, the present study aimed to analyze the
relations between the attitudes towards studying declared by the students, as well as their
relation to school achievement; evaluate the attitudes in regard to studying that are most
frequently declared by the students; verify if there are differences between the sexes and the
school years in relation to the attitudes towards studying and investigate the relation between
these attitudes and the school achievement in Portuguese classes. A total of 545 students
participated in this research; they were from both sexes, aged between 6 and 11 years, and
attended from the 2nd to the 5th grade at two public elementary schools in an inland city of São
Paulo State. The students’ school grades were used as an indicator of achievement for the
evaluation. In addition, an Inventory of Attitudes Towards Studying was developed for this
research. The results indicated a negative and low correlation between school achievement
and careless attitudes towards studying (r=-0,234). The results do not reveal any significant
differences between the sexes concerning the carelessness factor (F=0,030 and p=0,356) and
the effort towards studying (F=0,002 and p= 0,705). In regard to the difference between
school year and attitude, the results indicated that there was a statistically significant
difference in the effort factor (F=13,247 and p=<0,001); the significant variable pointed to the
formation of two groups, demonstrating that 2nd and 3rd year students declare themselves to be
committed to the studies more frequently than 4th and 5th year students. It is considered that
the results presented and discussed in this exploratory study provide contributions to the
investigation of attitudes towards studying, besides allowing a reflection about the act of
studying and its relation to school achievement.
LISTA DE ABREVIAÇÕES
LISTA DE TABELAS
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ............................................................................................................... 11
OBJETIVOS ......................................................................................................................... 43
REFERÊNCIAS .................................................................................................................... 61
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APRESENTAÇÃO
A educação é uma área do conhecimento bastante explorada por pesquisadores por ser
considerada de grande relevância para se compreender os processos de formação pessoal e
social dos sujeitos. No entanto, muitos estudos têm apontado para algumas dificuldades
presentes no contexto escolar, entre as quais se destacam os baixos índices de desempenho. A
literatura sobre o desempenho escolar tem procurado investigar, principalmente, fatores
relacionados a um melhor ou pior desempenho dos alunos, o que tem aberto um leque de
variáveis a serem exploradas. Embora esta seja uma temática bastante investigada, observa-se
que ainda existem lacunas que exigem a ampliação das investigações e discussões sobre a
mesma. De acordo com Palermo, Silva e Novellino (2014), os fatores que interferem no
desempenho escolar têm sido investigados por mais de cinco décadas em âmbito
internacional, tendo como marco de referência, segundo os autores, o Relatório Coleman,
publicado em 1966.
No Brasil, por sua vez, os estudos sobre a qualidade da educação e a eficácia escolar
começaram a se intensificar no ano de 1995, com a consolidação do Sistema de Avaliação da
Educação Básica (SAEB). Palermo et al. (2014) ressaltam que os estudos realizados no
Brasil, que foram pautados em uma estrutura hierárquica dos dados educacionais, confirmam
os resultados das pesquisas internacionais, embora apresentem características específicas.
Observa-se que, apesar de o desempenho ser uma variável analisada por muitos estudiosos,
são poucas as pesquisas que se detêm a definir o que se compreende por desempenho. Nesse
sentindo, buscou-se, neste estudo, adotar a perspectiva proposta por Nogueira, Resende e
Viana (2015), que entendem desempenho escolar como a aferição do resultado apresentado
pelos alunos, por meio de avaliações utilizadas para verificar a aprendizagem dos conteúdos
escolares.
Além da variável desempenho, buscou-se também explorar, nesta proposta de
investigação, o constructo atitude, que é uma das variáveis tradicionalmente mais estudadas
pela Psicologia (Neiva & Mauro, 2011). A justificativa para a escolha da variável atitude
pautou-se no entendimento da literatura de que este constructo é um dos que mais se
aproximam da possibilidade de se conhecer o que o sujeito pensa e sente e como se comporta
diante de diversas situações postas em seu cotidiano (Neiva & Mauro, 2011). Inúmeras são as
definições e os enfoques adotados para a conceituação de constructo, mas, de maneira geral,
destaca-se que as atitudes não são observáveis, porém, podem ser inferidas por meio de ações
apresentadas pelo sujeito diante de um objeto ou situação (Neiva & Mauro, 2011). Embora
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não haja consenso em sua definição, o constructo é considerado de grande relevância, pois seu
estudo permite a compreensão de uma série de comportamentos humanos. Assim, optou-se,
para este estudo, adotar a perspectiva proposta por Petty, Briñol & DeMarree (2007), que
dentro do Modelo Metacognitivo de Atitudes (MCM) pautam-se na visão construtivista, na
qual, as atitudes são formadas com base em crenças (cognição), sentimentos (afeto) e
comportamentos, armazenados na memória e que podem ser acessados mediante as
experiências dos sujeitos, tanto no que se refere aos aspectos positivos e negativos.
Nessa perspectiva e com base na literatura os objetivos do presente estudo buscaram
analisar a relação entre as atitudes para o estudo declaradas pelos alunos e a sua relação com o
desempenho escolar; avaliar as atitudes em relação ao estudo declaradas com maior
frequência pelos alunos; verificar se há existência de diferenças entre os sexos e os anos
escolares em relação às atitudes para o estudo e investigar a relação entre as atitudes e o
desempenho escolar em Língua Portuguesa. Assim, o primeiro capítulo apresenta uma revisão
teórica sobre questões relacionadas à avaliação do desempenho no contexto escolar e sobre as
bases teóricas do constructo atitudes. Em relação à avaliação do desempenho, destaca-se uma
breve discussão sobre o percurso da educação, o marco legal e a qualidade do ensino ofertado.
Em seguida, são apresentados os dados das avaliações externas e também algumas
considerações da literatura a respeito das avaliações internas, realizadas com o intuito de
aferir o desempenho dos alunos do país, além de algumas variáveis relacionadas ao
desempenho. Na sequência, discute-se a variável atitude, com a apresentação de algumas
definições propostas pela literatura, os principais modelos teóricos, os principais instrumentos
utilizados para mensurar as atitudes e, por fim, estudos realizados que aproximam o
desempenho escolar e as atitudes. Em seguida, são apresentados os objetivos traçados para o
estudo. No segundo capítulo, delineia-se o estudo com a descrição dos participantes e os
devidos procedimentos para a realização da pesquisa e para a coleta de dados. O capítulo
terceiro apresenta os principais resultados da pesquisa, e o capítulo quarto, a discussão dos
mesmos, que são foco de uma reflexão nas considerações finais.
Espera-se que este estudo possa trazer novas contribuições para o cenário
educacional, ao ressaltar a importância de se observar que tipo de atitudes os alunos declaram
adotar em relação aos estudos e o modo como estas se relacionam com o desempenho.
Espera-se, também, proporcionar às escolas e aos profissionais da Educação a oportunidade
de conhecerem a percepção dos alunos sobre seu próprio estudo e, assim, contribuírem para
fomentar condições que possam levá-los a alcançar um desempenho eficaz, ou seja, uma
aprendizagem significativa.
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CAPÍTULO 01
EDUCAÇÃO ESCOLAR E AVALIAÇÃO DO DESEMPENHO
A educação, no decorrer de seu percurso histórico, nem sempre foi vista como um
direito essencial para a formação dos sujeitos. De acordo com documento expedido pela
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (Brasil, 2013), a educação só
passou a ser reconhecida como tal a partir da formação do Estado de Direito, advindo das
revoluções ocorridas no século XVIII. Após a Segunda Guerra Mundial, a educação torna-se
um direito social, cuja proteção e regularização foram garantidas pela Declaração Universal
dos Direitos Humanos (DUDH), que foi apresentada em assembleia pela Organização das
Nações Unidas (ONU), no ano de 1948. No Brasil, a trajetória histórica da educação foi
marcada por muitas reformas e, de acordo com Silva (2010), a educação brasileira, desde os
primórdios, sempre adotou uma tendência elitista e excludente.
Embora as Constituições Federais de 1824 e 1891 trouxessem, entre seus princípios, a
educação como um direito de todos, o cenário político e social não possibilitava o
cumprimento desse direito, ao garantirem o acesso à educação apenas a uma minoria
privilegiada da população. Foi a partir da Constituição de 1934 que o direito à educação, em
seu aspecto formal, passou a ser contemplado, porém, ainda sem adotar o caráter de
universalidade (Brasil, 2013). Assim, somente a partir da Constituição Federal de 1988, do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) - Lei 8069/90 e da Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (LDB) - Lei 9.394/96, o acesso e a permanência passaram a ser
considerados como fundamentais para a formação do sujeito. Dessa maneira, a educação
assume, também, o papel de promover o exercício da cidadania, a preparação para o trabalho
e a participação social.
Para além do marco legal, observa-se que surgiram avanços pedagógicos ao longo do
tempo, além da incorporação de algumas mudanças em relação à concepção de escola. Nessa
perspectiva, a escola deixa de ser vista apenas como uma instituição promotora do
desenvolvimento cognitivo do aluno e passa a ser considerada como capaz de promover e
contribuir para a ampliação de suas vivências, visando à formação integral do sujeito. Sobre
esses apontamentos, Oliveira, Viana, Boveto e Sarache (2013) afirmam que a escola passa, ao
longo dos anos, a se responsabilizar por um desenvolvimento mais amplo do indivíduo, ou
seja, passa a ser considerada como uma instituição capaz de oferecer mais do que apenas a
aquisição de conhecimento, contemplando, assim, a formação de cidadãos plenos e capazes de
participar ativamente da construção social da qual fazem parte.
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Silva e Ferreira (2014) destacam que a escola é uma instituição social de grande
relevância na sociedade, pois, além de proporcionar condições para o desenvolvimento
intelectual e moral dos alunos, também permite a inserção social e a ampliação das esferas de
relações. É na escola que o sujeito passa a conhecer outras pessoas, com as quais poderá
ampliar as experiências trazidas do âmbito familiar e fazer novas descobertas por meio da
articulação dos conhecimentos social e culturalmente construídos. Nesse sentido, Libâneo,
Oliveira e Toschi (2009) enfatizam que a escola é uma organização cujos objetivos,
resultados, processos e meios estão constantemente relacionados com a formação humana,
assim, o fortalecimento das relações sociais, culturais e afetivas passam a ocupar um lugar
importante na escola.
Para Pires (2007), a escola, na atualidade, por estar inserida em um mundo em
constante transformação, deve se centrar, de maneira equilibrada, entre a função sistêmica
voltada para a preparação dos cidadãos para o desenvolvimento de suas qualidades e para a
vida em sociedade. Assim, deve desenvolver nos alunos uma visão crítica, cujo foco está em
estudar os principais problemas presentes no contexto social e propor soluções. Em síntese, a
escola é uma instituição que tem como papel principal priorizar atividades educativas formais,
como espaço de desenvolvimento e aprendizagem para o sujeito, além de propiciar
experiências que considerem os padrões relacionais, culturais, cognitivos, afetivos, sociais e
históricos que estão presentes nas interações e relações (Dessen & Polonia, 2007).
Ao considerar a escola como espaço de relevância social, com a finalidade de
proporcionar elementos formativos para o indivíduo, Vieira (2007) destaca que a escola só
será capaz de ocupar seu locus como agente formador se conseguir exercer a função de
produzir e ensinar conhecimentos às pessoas, pois é na escola que o aluno recebe os principais
elementos formativos. Desse modo, os professores, a equipe gestora e a comunidade escolar
devem cumprir sua função de cuidar dos vários aspectos que permeiam a formação da pessoa,
sem descuidar de seu papel essencial que é conservar, ensinar e produzir conhecimento
científico. Cabe ainda destacar que as mudanças e a busca por melhorias nos diversos cenários
da sociedade dependem, em grande parte, do modo como a educação tem sido considerada.
Esses princípios norteadores têm subsidiado as ações voltadas à educação no Brasil, com o
intuito de otimizar a qualidade da mesma, devido aos baixos índices de desempenho
apresentados pelos alunos nas avaliações realizadas em âmbito nacional, mas também
internacional (Lima, 2016).
Ao se tratar da questão do desempenho escolar e de sua avaliação, alguns desafios se
apresentam. O primeiro deles, talvez, seja encontrar uma definição que melhor possa
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representá-lo. Observa-se que a expressão desempenho escolar tem sido empregada com
grande frequência e estudada em conjunto com inúmeras variáveis, mas não há, na maioria
das pesquisas, uma definição clara do se entende por desempenho escolar. Na tentativa de
delimitar o que se compreende por desempenho escolar, adota-se, como definição, a
perspectiva de Nogueira, Resende e Viana (2015), para os quais, o desempenho escolar
refere-se à aferição do resultado apresentado pelos alunos, por meio de avaliações utilizadas
para verificar a aprendizagem dos conteúdos escolares. Com esta definição se pode
identificar outro grande desafio a ser enfrentado, que diz respeito, exatamente, sobre como
avaliá-lo. Acredita-se que essas duas questões devem ser analisadas conjuntamente.
A falta de uma reflexão mais ampla do que se entende por desempenho escolar tem
gerado uma série de críticas quanto ao que, de fato se consegue, e o que se está medindo
com as avaliações propostas. Ao se considerar o contexto da Educação, é possível
identificar, de maneira direta, a existência de, pelo menos, dois tipos principais de
avaliação: uma que ocorre internamente ao ambiente escolar e outra que tem sido realizada
de forma externa. O sistema de avaliação da educação é um tema amplamente discutido que
aborda os mais diferentes aspectos que envolvem os tipos de avaliação. Nesse sentido, Horta
Neto (2010) apresenta e discute os tipos de avaliações que ocorrem no sistema educacional,
ou seja: as avaliações que acontecem em sala de aula e permeiam as relações entre alunos,
professores e o conhecimento; e as realizadas em larga escala, com o propósito de
compreender o cenário educacional, conhecer as necessidades do sistema e propor melhorias.
Na tentativa de destacar a relevância da avaliação para se pensar o processo educativo
do aluno, Azevedo, Andre e Guimarães (2016) destacam que, se a avaliação não for
utilizada de maneira adequada, de modo que seus resultados, de fato, possam ser aplicados
para melhorar o sistema educativo, ela pode tomar outro rumo ou proporção e assumir um
caráter coercitivo e excludente: coercitivo, quando o professor faz uso da avaliação para
ameaçar e pressionar os alunos; excludente, a partir do momento em que a nota se torna um
fator determinante para verificar se o aluno tem ou não capacidade de dar continuidade aos
estudos. A busca pela qualidade da educação e sua relação com o desempenho escolar tem
sido explicitada e evidenciada na literatura, não só pelas pesquisas acadêmicas realizadas,
mas também por meio dos resultados apontados pelas avaliações de larga escala, conduzidas
pelos órgãos governamentais, que são encarregadas de apresentar os índices da educação
brasileira (Oliveira et al., 2013).
No Brasil, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP), vinculado ao Ministério da Educação (MEC), é a instituição responsável por
16
Nessa perspectiva, os autores ressaltam que o papel das avaliações em larga escala é o de
descobrir as carências educacionais na tentativa de solucioná-las, no entanto, pouco tem
sido realizado neste sentido, uma vez que os problemas continuam os mesmos, ou seja, sem
solução e/ou insuficientemente minimizados.
Bassetto e Lemes (2013) apontam que os sistemas de avaliação em larga escala não
têm conseguido elevar a qualidade do ensino tampouco provocar mudanças relevantes no
sistema educacional, a ponto de torná-lo mais eficaz. Essas constatações apontadas por
diferentes autores são referendadas pelas análises feitas pelos órgãos governamentais. De
acordo com os dados apresentados pelo Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(IDEB), referente ao ano de 2015, é possível verificar que o desempenho dos alunos encontra-
se abaixo do esperado. O IDEB é realizado a cada dois anos, sendo composto pelos dados do
SAEB e do Censo Escolar com o objetivo de avaliar os alunos nas habilidades de português e
matemática, atribuindo notas de zero a dez. O IDEB (2015) aponta que a meta proposta para
os anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) foi de 5,2 pontos em relação ao
desempenho, mas alcançou 5,5 pontos. Os resultados apontam que alunos dos anos iniciais do
Ensino Fundamental avançaram, embora muitos alunos do país ainda apresentem um nível de
proficiência muito abaixo do desejável.
Para os alunos do 6º ao 9º ano a meta proposta foi de 4,7 pontos, mas esta não foi
atingida pelos alunos, pois o resultado foi 4,5 pontos. Ao se observar esses resultados do
IDEB (2015), nota-se que o Brasil avançou nos anos iniciais do Ensino Fundamental, mas
ainda estamos distante do patamar desejado, pois as taxas de aprovação estão subindo muito
lentamente e a evolução em proficiência está abaixo do desejável. O mesmo ocorre com os
alunos do Ensino Médio, que também não conseguiram alcançar a meta de 4,3 pontos que foi
proposta, pois atingiram, como resultado, apenas 3,7 pontos. O Ensino Médio apresenta
índices preocupantes, pois não tem evoluído nos últimos anos, além disso, as taxas de
aprovação crescem muito lentamente e os índices de proficiência estão muito baixos.
Ao se analisar, separadamente, os índices do SAEB de 2015, publicados pelo INEP
(2016), foi possível verificar que, em muitos estados brasileiros, há um grande percentual de
alunos que apresenta resultados escolares inferiores ao da média nacional, cujo desempenho
foi considerado muito aquém do ideal, principalmente, quando a meta é proporcionar uma
educação de qualidade. Os dados referentes ao 5º ano do Ensino Fundamental revelam que 16
estados (Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Tocantins, Maranhão, Piauí, Rio
Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia e Mato Grasso) não
conseguiram atingir a média nacional de 208 pontos para proficiência em língua portuguesa,
20
por exemplo, os estudos propostos por Hoffmann (2012), Luckesi (2012), Perrenoud (1999),
Rabelo (2009), Russel e Airasian (2014), Villas Boas (2006), entre outros.
Levantamento realizado por Baroni e Bonfim (2017) evidencia que os processos
avaliativos, no Brasil, passaram por diferentes enfoques. Segundo os autores, a década de
1980 foi marcada por discussões sobre a função social da escola, resultando em estudos sobre
os métodos avaliativos, com intuito de se romper com práticas de natureza seletiva e
classificatória. Embora diferentes práticas tenham sido adotadas e modificadas para aferir a
aprendizagem dos alunos, enfatiza-se que o papel do professor tem importância fundamental
nesse processo. Nessa perspectiva, Gatti (2003) aponta que a avaliação desenvolvida pelo
professor em sala de aula tem como objetivos acompanhar os processos de aprendizagem
escolar e oferecer informações relevantes para o desenvolvimento do ensino, do planejamento
e do replanejamento de atividades. Em virtude desses apontamentos, a avaliação realizada
pelo professor deve ser pautada como uma atividade contínua e integrada aos propósitos de
ensino.
Para Luckesi (2012), a avaliação da aprendizagem, na escola, possui dois objetivos: o
primeiro é auxiliar o educando em seu próprio desenvolvimento pessoal, por intermédio do
processo de ensino e aprendizagem; e o segundo relaciona-se ao papel social atribuído à
escola, à qual cabe educar as novas gerações com o intuito de responder às necessidades da
sociedade. Ao considerar esses dois objetivos, o autor enfatiza que esses aspectos devem
caminhar juntos para que a avaliação da aprendizagem escolar possa auxiliar tanto o professor
quanto o aluno no processo de crescimento, permitindo que o educando possa construir um
caminho de aprendizagem com qualidade. Assim, é relevante destacar que o processo de
avaliação da aprendizagem dos alunos deve ocorrer de modo que o professor possa delimitar
o que espera que o aluno aprenda, além de diagnosticar, previamente, as habilidades que o
aluno apresenta para alcançar o aprendizado esperado, ou seja, cabe ao professor traçar
objetivos para avaliar e criar estratégias para que o aluno possa ter uma aprendizagem
significativa.
Gatti (2003) aponta, ainda, que a prática em sala de aula deve ser desenvolvida de
modo a permitir que o professor possa, ao longo de sua prática pedagógica, criar um acervo
de referências para suas atividades de avaliação, tanto de processos de aquisição de
conhecimentos como de desenvolvimento de atitudes. Almeida e Franco (2011) apontam que,
historicamente, o sistema educacional, muitas vezes, utiliza, como instrumentos para avaliar o
desempenho dos alunos, provas, exames, testes e arguições, como ferramenta de poder,
controle, repressão simbólica e exclusão social. Dentre esses instrumentos, Gatti (2003)
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destaca que as provas, enquanto instrumento de avaliação do desempenho dos alunos, são as
mais utilizadas pelos professores, com a função, muitas vezes, restrita à verificação do
aprendizado sobre um determinado conteúdo, o que nem sempre pode evidenciar a construção
e apropriação do que foi ensinado.
Ainda segundo Gatti (2003), os alunos podem dominar o conteúdo solicitado na prova,
porém, podem não apresentar um bom desempenho no momento da realização da avaliação.
As provas podem ser propostas pelos professores de modo a não considerar o esforço do
aluno, priorizando a memorização ao invés do raciocínio, entre outras possibilidades. Assim,
os sentimentos negativos a respeito das provas são desenvolvidos ao longo do processo de
escolarização, dessa maneira, é necessário que exista a compreensão clara, por parte do
professor, de seu papel em proporcionar a desmistificação da prova enquanto instrumento
avaliativo, fazendo-se necessário o uso de mais de um tipo de instrumento, mas,
principalmente, da avaliação contínua, que considera todo o processo de ensino e
aprendizagem. Na concepção de Azevedo et al. (2016), o problema não está em avaliar o
processo de ensino e aprendizagem, mas em fazer uso correto das avaliações, visto que o
objetivo de avaliar deve ir além de medir a quantidade de conhecimento adquirido pelo aluno,
ou seja, deve ser evidenciar a qualidade do trabalho do professor e do ensino oferecido pela
escola.
Com base na concepção proposta pelos autores, cabe ainda apontar que a avaliação do
desempenho escolar dos alunos é marcada, em grande parte, pela atribuição de notas e
conceitos, ponto este bastante discutido na literatura, visto que nem sempre as notas traduzem,
de fato, o quanto o aluno se apropriou de um determinado conteúdo. Luckesi (2014) assinala
que as notas escolares devem registrar a aprendizagem dos educandos, ou seja, devem
considerar todo o processo vivenciado pelo aluno no decorrer do percurso escolar, porém, sua
utilização, por vezes, tem sido distorcida, e as notas escolares passam a ser consideradas como
quantidade de aprendizagem.
Ao se considerar os inúmeros caminhos que percorre a discussão da avaliação da
aprendizagem e os diversos meios utilizados para se aferir o desempenho dos alunos, observa-
se que tanto avaliações externas, em larga escala, quanto avaliações internas, presentes nas
escolas, possuem seus prós e contras. Desse modo, a análise dessas formas de avaliação
permite afirmar que nenhuma delas, em sua totalidade, é capaz de mensurar a qualidade e a
quantidade de ensino e aprendizagem em termos de conhecimento adquirido pelos alunos.
Apesar de se conhecer as limitações de cada forma de avaliação e da parcialidade dos
resultados obtidos com cada uma delas, na presente pesquisa optou-se por utilizar, como
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medida de desempenho dos alunos, as notas atribuídas pelos professores. Tal escolha se
justifica pelo fato de se entender que os professores são os agentes mediadores que estão mais
próximos dos alunos e, nesse sentido, apresentam melhores condições de aferir o processo de
aprendizado.
É importante pontuar que há inúmeras circunstâncias que podem comprometer o
desempenho dos alunos no momento da avaliação, dentre as quais, fatores de natureza
cognitiva, de ordem emocional, motivacional, volitiva, da personalidade, resultante das
interações sociais, da estrutura e organização familiar e do próprio contexto escolar, que
devem ser consideradas (Pereira, 2015). Também é possível identificar, com frequência, que
estados de ansiedade, estresse, fadiga, entre outros, que podem levar a bloqueios mentais e
interferir, negativamente, no desempenho dos alunos (Azevedo et al., 2016). Nesse sentindo,
diversas pesquisas têm se debruçado na tentativa de identificar a relação entre variáveis
afetivas/emocionais, cognitivas ou comportamentais e o desempenho dos alunos nas
atividades escolares, o que tem aberto um leque de olhares sobre essa questão.
Dentre essa multiplicidade de interesses, pode-se citar estudos recentes que se
dedicaram a explorar: a relação entre clima escolar e desempenho acadêmico (Melo, 2017); a
motivação e o desempenho escolar (Maieski, Oliveira, Beluce, & Rufini, 2017; Martinelli,
2014); o autoconceito e o desempenho (Conte, Ciasca, & Capelatto, 2016; Muniz &
Nascimento, 2014); a relação entre o ambiente familiar, os recursos materiais e humanos e o
desempenho escolar (Guidetti & Martinelli, 2017; Osti, 2016); o monitoramento
metacognitivo e a relação com o desempenho (Tanikawa & Boruchovitch, 2016); a avaliação
das habilidades sociais, dos problemas de comportamento e do desempenho acadêmico (Elias
& Amaral, 2016); a associação do senso de autoeficácia com o desempenho escolar (Silva,
Beltrame, Viana, Capistrano, & Oliveira, 2014), dentre outros. De maneira geral, esses
estudos têm revelado que, em maior ou menor proporção, as variáveis investigadas
mostraram-se correlacionadas positivamente ao desempenho escolar dos alunos.
Destaca-se que, entre essas variáveis, as de cunho pessoal e relativas à percepção de si
mesmo, como o autoconceito, a autoeficácia e a motivação, têm apresentado relações bastante
consistentes com o desempenho escolar. Da mesma maneira, os estudos que se detiveram a
investigar variáveis relacionadas às relações sociais, tais como habilidades sociais, problemas
comportamentais, convivência entre alunos, professores e gestores e variáveis familiares,
como, por exemplo, o suporte familiar, também apontam que, quanto mais positivas as
relações sociais e mais presente o apoio familiar, melhores são as condições de aprendizagem
e, por conseguinte, o desempenho escolar dos alunos. No que se refere aos aspectos
24
cognitivos, como o monitoramento, observa-se que os alunos que demonstram monitorar seus
conhecimentos e processos de aprendizagem de modo mais preciso tendem a apresentar
melhor desempenho.
Os estudos citados acima partem da tentativa de ilustrar algumas das inúmeras
investigações que se dedicaram a explorar o desempenho escolar em conjunto com variáveis
distintas, entretanto, é necessário destacar que, por meio desse breve levantamento, é possível
ter clareza de que existe uma multiplicidade de direcionamentos nos estudos sobre
desempenho escolar e uma diversidade de variáveis envolvidas. Além dos fatores abordados
anteriormente, também se torna relevante apontar que, para que o aluno alcance um
desempenho escolar de sucesso, é necessário que ele esteja envolvido com seu próprio
processo de aprendizagem e que apresente atitudes positivas diante do estudo. Sabe-se que o
ato de estudar envolve aspectos que vão desde a organização do tempo e do espaço até a
estruturação de uma rotina que favoreça esse comportamento, de modo a conduzir o aluno
rumo à ampliação de seus conhecimentos e ao alcance de melhores resultados escolares, o
que, por sua vez, irá contribuir para a formação integral desse sujeito. Desse modo, pretende-
se direcionar o olhar para o constructo atitude, pelo fato de este ser visto como um dos que
mais se aproximam da possibilidade de conhecer o que os alunos pensam, sentem e o modo
como se comportam diante dos estudos.
O termo atitude vem do latim aptitudo que significa forma de pensar ou comportar-se
em relação a um objeto, pessoa ou situação (Crowther, 1995). O constructo atitude é
considerado um dos mais antigos e estudados pela Psicologia e, segundo Briñol, Falces e
Becerra (2007) as atitudes são importantes por permitir a aquisição de novos conhecimentos,
já que as pessoas assimilam e relacionam as informações que recebem do contexto em que
estão inseridas, por meio de dimensões avaliativas. Os autores consideram, também, que as
atitudes desempenham diversas funções que são imprescindíveis no momento em que se
busca, processa e responde, não somente as informações relacionadas ao contexto, mas
também as que estão presentes no próprio sujeito. Para os autores, as atitudes possuem uma
estreita relação com as condutas, o que, por sua vez, possibilita um maior ou menor
conhecimento sobre a atitude, o que poderá ser útil para prever a conduta social-humana e
suas mudanças. Em outras palavras, as atitudes podem influir sobre o modo de pensar e agir
das pessoas.
25
destaca também que os objetos de atitude podem desenvolver associações avaliativas globais
e essas associações podem variar em força. Paralelamente a esse aspecto, o modelo aponta
que as características do contexto em que o sujeito está inserido podem determinar se a
avaliação que foi ativada na memória será usada, ou seja, as pessoas podem recuperar
avaliações associadas com objetos de atitudes e modificá-las de acordo com a situação e
contexto posta no momento (Petty et al. 2007).
Nesse sentido, o Modelo Metacognitivo destaca que os objetos de atitude às vezes
podem estar correlacionados na memória a associações avaliativas de valência oposta, ou seja,
quando se considera o número de experiências positivas e negativas armazenadas
anteriormente pelo sujeito e a experiência recente, observa-se que o contexto em que essas
experiências aconteceram são importantes para indicar as atitudes que serão adotadas pelo
sujeito. Pode-se dizer que diferentes contextos podem revelar diferentes respostas a um
mesmo objeto atitudinal (Petty et al. 2007). O MCM enfatiza a possibilidade de um mesmo
objeto despertar avaliações ambivalentes, isto é, ser ao mesmo tempo associado a avaliações
positivas e negativas (Petty, 2006; Petty & Briñol, 2006; Petty, Briñol, & DeMarree, 2007;
Petty, Wheeler, & Tormala, 2003).
Além de considerar esses aspectos, nota-se que esse modelo tem sido bastante
utilizado quando se busca conhecer os mecanismos relacionados à mudança de atitude. Rivas,
Requero, Santos e Briñol (2015) acrescentam que os processos metacognitivos, no campo das
atitudes, estão relacionados à persuasão e são considerados como fundamentais quando se
busca compreender o que as pessoas pensam sobre a validade de seus próprios pensamentos.
Transpondo as características do Modelo Metacognitivo de Atitudes para a proposta deste
estudo, considera-se que as atitudes dos alunos, em relação ao estudar, encontram-se dentro
de uma perspectiva construtivista, na qual, as atitudes positivas ou negativas sobre o estudar
são formadas com base em crenças (cognição), sentimentos (afeto) e comportamentos e são
armazenadas na memória dos alunos, e podem variar de acordo com as situações vivenciadas
em relação aos estudos.
1.2 Mensuração
com a literatura, diversos instrumentos são utilizados para medir as atitudes, sendo os mais
comuns: as medidas fisiológicas, as técnicas de observação e as medidas autodescritivas.
Diante dessas possibilidades de se propor a mensuração das atitudes, Neiva e Mauro (2011)
assinalam que as medidas fisiológicas se baseiam em respostas emocionais que são
acompanhadas de reações fisiológicas e que podem ser medidas por meio de resposta
galvânica da pele como o suor nas palmas das mãos e pontas dos dedos. O eletromiograma
permite mensurar as atitudes por meio do funcionamento do sistema nervoso periférico, das
contrações musculares faciais e da dilatação e constrição da pupila, que estão ligados a
respostas afetivas a estímulos.
Sobre as técnicas observacionais, os autores apontam que estas podem variar entre
pouco estruturadas e informais até altamente estruturadas e formais. A técnica pouco
estruturada ou informal é realizada por meio da observação participante, na qual o observador
participa das atividades do experimento de maneira ativa. A técnica mais estruturada, segundo
Neiva e Mauro (2011), denominada Análise do Processo Interativo (IPA), foi proposta por
Bales (1950). Seu uso permite ao observador avaliar as orientações socioemocionais e de
tarefa, a partir da verbalização dos membros de um grupo.
No que se refere ao uso de escalas autodescritivas, Neiva e Mauro (2011) ressaltam
que este tipo de medida tem sido o mais utilizado, destacando-se os modelos de instrumento
propostos por Thurstone (1928), Bogardus (1931), Likert (1932) Guttman (1947), Osgood
(1952) e. A escala sugerida por Thurstone (1928) é considerada uma das primeiras a serem
desenvolvida para medir atitudes. O autor acreditava que seria possível construir uma série de
enunciados em relação aos quais os sujeitos deveriam se posicionar. As afirmações propostas
eram medidas em um contínuo de intervalos aparentemente iguais, numa escala que poderia
variar de extremamente desfavorável a extremamente favorável. Cabe destacar que a proposta
de uma escala tal como a preconizada por Thurstone (1928) tem sido considerada como de
extrema complexidade, pois exige uma quantidade de itens bastante elevada, ou seja, entre
100 e 200 afirmações, e também de 50 a 200 juízes para a classificação da mesma (Pimentel
et al., 2011).
A escala idealizada por Bogardus (1931 como citado em Wark & Galliher, 2007) ficou
conhecida como escala de distância social, uma das primeiras desenvolvidas para mensurar
atitudes nas relações intergrupais. A preocupação inicial de Bogardus (1931) foi propor uma
escala para medir o grau de aceitação ou rejeição entre grupos nacionais e étnicos, mas,
posteriormente, foi estendida para grupos ocupacionais e classes sociais. A proposta da escala
consiste em que os respondentes indiquem suas primeiras reações, de modo espontâneo,
30
positivas em relação à Matemática. O estudo concluiu que é possível afirmar que há uma
associação entre o tipo de atitude em relação à Matemática e a faixa etária, ou seja, quanto
mais jovens, mais a atitude é negativa; quanto mais velhos, mais a atitude é positiva.
Com base nesses aspectos, Faria (2006) destaca que há indícios de que as atitudes em
relação à Matemática se modificam durante a formação inicial e também no transcorrer da
atividade profissional. Os resultados da análise qualitativa, ou seja, das respostas às perguntas
abertas de vários instrumentos e das respostas às perguntas da entrevista oral, corroboram os
resultados da análise quantitativa e sugerem pistas para a explicação da mudança de atitude
nos grupos amostrais. Os resultados permitiram refletir que, ao ingressar no curso de
licenciatura, houve mudança de atitude em relação à Matemática (de positiva para negativa).
Nesse sentindo, o autor destaca que é possível que uma atitude positiva em relação à
Matemática tenha contribuído para a escolha da licenciatura, mas as experiências vivenciadas
logo no início do curso alteraram essa atitude.
Candeias, Rebelo e Oliveira (2012) propuseram um estudo com o objetivo de
investigar a relação entre inteligência emocional e atitudes em relação à escola e às disciplinas
de Língua Portuguesa e Matemática, bem como, o modo como essas atitudes podem variar em
função da idade e sexo do aluno. O estudo proposto contou com uma amostra de 671 alunos
do 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico, destes, 58,4% eram do sexo feminino e 41,6%, do sexo
masculino, com idades médias de 11,47. Foram utilizados quatro instrumentos para a coleta
de dados, um dos quais foi o Questionário de Inteligência Emocional de Bar-On (Bar-on &
Parker, 2004), adaptado por Candeias, Rebelo, Silva e Cartaxo (2011). A versão aplicada é
comporta por 20 itens, tendo como padrão de resposta uma escala tipo Likert de 4 níveis
(nunca, às vezes, por vezes e sempre). O questionário permite medir 5 dimensões da
inteligência emocional (Escala Intrapessoal, Escala Interpessoal, Adaptabilidade, Gestão de
Stress e Humor Geral).
O referido estudo utilizou, também, o Questionário de Atitudes Face à Escola - QAFE
(Candeias, Rebelo, Silva, & Cartaxo), composto por 24 itens que os sujeitos respondem numa
escala tipo Likert de 4 pontos, que varia de discordo totalmente a concordo plenamente. O
QAFE mede três dimensões de atitudes em relação à escola: Aprendizagem, (des)Motivação e
Competência. O Questionário de Atitudes Face à Língua Portuguesa - QAFLP é composto por
22 itens e o QAFM, por 26 itens. Em ambos, é possível medir a atitude dos alunos em três
dimensões – Desafeto, Gosto e Facilidade, por meio de uma escala de tipo Likert que varia de
discordo totalmente a concordo plenamente.
39
Gouveia et al. (2009), com o objetivo de avaliar a percepção dos jovens sobre seu ajustamento
ao contexto escolar. A escala é composta por 17 itens distribuídos em 4 componentes:
dificuldades disciplinares, dificuldades acadêmicas, aspectos gerais sobre a escola e
relacionamento com professores e estudantes. Os itens foram avaliados em escala de cinco
pontos, variando de 1 (completamente falso) a 5 (completamente verdadeiro).Os autores
investigaram três variáveis: o comportamento antissocial, as atitudes frente à escola e o
ajustamento escolar. Os dados foram analisados pelo PASW, para a realização da estatística
descritiva (medidas de tendência central e dispersão), e verificou-se a existência de correlação
entre os constructos, por meio do coeficiente r de Pearson.
Os resultados revelaram que as condutas antissociais relacionaram-se negativamente
com as atitudes frente à escola (r=-0,16; p<0,001); de forma positiva e significativa com
dificuldades disciplinares (r=0,46, p<0,001); e de forma inversa e significativa com os
aspectos gerais sobre a escola (r=-0,32, p<0,001). As atitudes frente à escola correlacionaram-
se significativa e positivamente com os aspectos gerais sobre a escola (r=0,30; p<0,01) e com
o relacionamento com professores e estudantes (r=0,11; p<0,01). Também foi observado que
as atitudes frente à escola correlacionaram-se inversamente e de forma significativa com as
dificuldades disciplinares (r=-0,16; p <0,01) e com as dificuldades acadêmicas (r=-0,15;
p<0,01). Segundo os autores, os resultados demonstraram a necessidade de estudos que
possam compreender a escola como fator de proteção para as condutas não adaptativas no
próprio contexto escolar.
Marfileño (2015), por sua vez, buscou investigar as atitudes de estudantes mexicanos
em relação aos estudos e algumas práticas adotadas por eles. Participaram do estudo 455
estudantes do ensino secundário, ingressantes do 1º semestre do currículo por competências.
Desses sujeitos, 51% eram do sexo feminino e a porcentagem complementar do sexo
masculino, com idade média de 15 anos. Utilizou-se, como instrumento, uma Escala Likert
proposta para o estudo, composta, inicialmente por 30 itens com 4 opções de respostas que
variavam de “Muito de Acordo” até “Muito em Desacordo”, com o objetivo de identificar as
atitudes dos estudantes em relação aos estudos.
Para a criação da escala, o autor do estudo baseou-se no modelo tradicional, que
considera três componentes das atitudes (afetivo, cognitivo e tendência à ação). A escala
proposta passou por análise fatorial e, após serem eliminadas sete questões que demonstraram
comportamento disperso, a escala final foi composta por 23 itens. Os instrumentos foram
aplicados no laboratório de informática da instituição, com tempo médio de respostas de 30
minutos. Além desse instrumento, os participantes também responderam a um questionário
41
que explorou os hábitos de estudo, as técnicas empregadas para estudar, as razões para não
estudar e a percepção sobre o domínio das técnicas empregadas para o estudo.
Os resultados evidenciaram que os estudantes adotam atitudes favoráveis diante dos
estudos; no componente afetivo, as porcentagens oscilaram entre 72,5% e 94,9%. O mesmo
ocorreu com o componente cognitivo, pois 4 dos itens variaram de 55,9% a 95,6%, e somente
o item “Os jovens que não estudam fracassam na vida” concentrou um acordo de 40,4%. No
componente de tendência à ação, a atitude favorável se mostrou em apenas um dos fatores,
que agrupa a zona de acordo em 64,1%. A análise de correlação entre os componentes foi
considerada moderada e significativa para os fatores afetivos e cognitivos (r= 0,335 e p=000),
o que indica consonância entre os fatores. O componente de tendência à ação não mostrou
correlações significativas com os outros dois. O questionário que investigou os hábitos de
estudo apontou que 82% dos participantes contam com um ambiente adequado para estudar e
90% prepararam todos os materiais necessários.
Sobre as técnicas de estudo, os participantes apontaram que utilizam, com maior
frequência, técnicas que favorecem a memorização de informações, enquanto outros recursos
que demandam processos de ordem superior e o uso de estratégias metacognitivas receberam
menores porcentagens. Os resultados também apontaram que os estudantes declaram que não
estudam por algumas razões, dentre elas: dificuldade para se concentrar, que recebeu a maior
porcentagem (77,3%); e distorções e dúvidas em relação ao conteúdo, o que os impede de
avançar nos estudos. Marfileño (2015) enfatiza, em suas considerações, a importância das
atitudes como elemento explicativo da conduta, além de destacar que é relevante abordar os
distintos objetos atitudinais relacionados ao contexto escolar.
Cabe ainda destacar que, mesmo diante das especificidades de cada um dos estudos, a
maior parte reconhece a relevância do constructo atitudes e, de maneira geral, concorda que as
atitudes positivas adotadas pelos estudantes ou por seus professores, em alguns casos, podem
contribuir para melhorar o processo de ensino e aprendizagem. Embora esses estudos não
tenham sido conduzidos de maneira a permitir estabelecer uma relação de causalidade entre
esses constructos, é possível destacar que parece existir uma influência recíproca entre atitude
e desempenho, ou seja: as atitudes afetam o desempenho e, consequentemente, o desempenho
é afetado pelas atitudes, conforme apontado por Aiken (1972).
Nesse breve levantamento, observa-se que muitas pesquisas têm se debruçado na
tentativa de compreender o constructo atitude e demonstrar sua relevância em áreas distintas
do conhecimento. Observa-se, entretanto, que ainda existem lacunas relacionadas ao
desempenho escolar e às atitudes, assim, outros aspectos devem ser investigados. Na tentativa
42
de direcionar o olhar para além das facilidades, dificuldades e preferências em relação a uma
disciplina específica, faz-se necessário investigar as atitudes dos alunos frente ao ato de
estudar. Dessa maneira, o presente estudo se propõe a avaliar, a partir de uma medida que
prioriza o autoinforme, as atitudes declaradas pelos alunos em relação aos estudos, visando a
identificar quais atitudes são mais frequentes e também a relação entre essas atitudes e o
desempenho escolar. Assim, espera-se ampliar os olhares sobre as variáveis relacionadas ao
desempenho escolar dos alunos, visando a propor reflexões sobre a qualidade do ensino
ofertado.
43
OBJETIVOS
Analisar a relação entre as atitudes para o estudo declaradas pelos alunos e a sua
relação com o desempenho escolar;
Avaliar as atitudes em relação ao estudo declaradas com maior frequência pelos alunos
do Ensino Fundamental;
Verificar se há existência de diferenças entre os sexos em relação às atitudes para o
estudo;
Verificar se há existência de diferenças nas atitudes para o estudo por parte de alunos
que frequentam diferentes anos escolares.
Investigar a relação entre as atitudes e o desempenho escolar em Língua Portuguesa;
44
CAPÍTULO 02
MÉTODO
2.2 Participantes
A pesquisa foi realizada com alunos regularmente matriculados no 2º, 3º, 4º e 5º anos
do Ensino Fundamental, de duas escolas da rede estadual de ensino de uma cidade do interior
do estado de São Paulo. Participaram desta pesquisa 545 alunos; destes, 104 (19,1%)
cursavam o segundo ano; 145 (25,6%), o terceiro ano; 159 (29,2), o quarto ano; e 137 (25,1%)
cursavam o quinto ano. Com relação ao sexo, 298 (54,7%) eram do sexo feminino, com
idades entre 6 e 11 anos; a média das idades foi de 8,76 e o desvio padrão de 1,18.
2.4 Instrumentos
Para verificar o Desempenho Escolar, foi utilizada, neste estudo, a média das notas
referente aos 4 bimestres do ano letivo de 2016, na disciplina de Língua Portuguesa. As notas
utilizadas para aferir o desempenho escolar foram fornecidas pela escola, conforme
orientações previstas no Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), mas só foram
coletadas as notas autorizadas pelos responsáveis pelos alunos.
Após uma reunião com a equipe gestora e com os professores das escolas que
aceitaram participar da pesquisa, agendou-se uma data para a entrega dos TCLE para os pais
47
e/ou responsáveis. Com o devido consentimento dos pais, marcou-se uma data com os
professores para realizar a coleta de dados com as crianças, o que ocorreu de forma coletiva e
na própria sala de aula, com grupos de alunos divididos de acordo com o ano escolar.
Somente os alunos que foram autorizados por meio do TCLE participaram da coleta. O
Inventário de Atitudes para o Estudo foi aplicado pela própria pesquisadora e a aplicação
ocorreu nas respectivas salas de aula e de modo coletivo. Foi entregue um inventário impresso
para cada aluno. A pesquisadora realizou a leitura da instrução de aplicação do instrumento e
em seguida a leitura uma a uma de cada questão proposta, dando tempo necessário para a
resposta. O tempo médio de aplicação foi de 20 minutos. Para os alunos do 2º ano, o tempo
médio de aplicação foi de, aproximadamente, 30 minutos. Os dados referentes ao desempenho
escolar em Língua Portuguesa foram fornecidos pelas escolas.
48
CAPÍTULO 03
RESULTADOS
Os resultados desta pesquisa estão organizados em duas partes. Na primeira parte, são
apresentados os dados da estatística descritiva do Desempenho em Língua Portuguesa e do
Inventário de Atitudes para o Estudo. Na segunda parte, são apresentados os resultados das
análises de correlação entre as atitudes para o estudo e o desempenho em Língua Portuguesa.
O teste t de student foi aplicado para verificar se há diferenças entre os sexos e as atitudes
para o estudo. Por último, a Análise de Variância (ANOVA) buscou verificar se há diferenças
entre os diferentes anos escolares e as atitudes para o estudo. Foram considerados
significantes os valores de p≤0,05.
Conforme os dados da Tabela 1, observa-se que a maior parte dos alunos (519) possui
média escolar acima de 5 pontos, no entanto, cabe descrever que, destes alunos, 287 (52,8%)
apresentam médias escolares que variam de 5,25 a 7,75 pontos, enquanto 195 (35,7%)
49
possuem médias que variam entre 8 e 9 pontos, e somente 37 (6,8%) apresentam médias
acima de 9 pontos. Se a média atribuída pela escola fosse igual à média aritmética obtida pela
amostra de participantes (7,49), quase metade dos alunos apresentaria desempenho abaixo da
média.
Os dados da Tabela 2 apontam que muitos alunos declaram ter atitudes de empenho
em relação aos estudos e que a média se aproxima bastante da pontuação máxima do fator. A
pontuação de displicência encontrada está abaixo da média, no entanto, permite compreender
que parte dos alunos apresenta atitudes de displicência em relação aos estudos. A Tabela 3
apresenta a pontuação dos participantes acima e abaixo do ponto médio do Inventário de
Atitude para o Estudo. Nesse caso, considerou-se a média de questões apresentada em cada
fator, com base na frequência da análise descritiva dos dados.
Dentre esses alunos, 63 (11,5%) declaram adotar cinco ou seis atitudes displicentes, e
7 (1,3%) alunos declaram ser totalmente displicentes em relação aos estudos. Os resultados
ressaltam, ainda, que 321 (58,9%) alunos assumem que adotam de uma a três atitudes de
displicência em relação aos estudos, e somente 94 (17,2%) alunos revelam não adotar
nenhuma atitude de displicência em relação aos estudos.
No Fator 2 - Empenho para o Estudo, os resultados obtidos demonstram que 456
(83,7%) alunos assumem desenvolver, com maior frequência, empenho em relação aos
estudos, e declaram adotar de quatro a seis atitudes, ou seja, se posicionam com maior
frequência de maneira positiva. Desse total, 221 (40,6%) autodeclaram-se altamente
empenhados, atingindo a pontuação máxima nesse fator. Contudo, observa-se que 46 (8,4%)
alunos encontram-se abaixo da média, ou seja, apresentam, com menor frequência, atitudes de
empenho diante dos estudos; 9 (1,7%) revelam adotar somente uma atitude de empenho; e 6
(1,1%) declaram não fazer uso de nenhuma atitude de empenho em relação aos estudos. De
maneira geral, pode-se dizer que os alunos se identificaram como muito empenhados e pouco
displicentes.
Tabela 4 - Coeficiente de correlação entre Inventário de Atitudes para o Estudo e o desempenho dos
estudantes
F1 Displicência F2 Empenho
Correlação -0,234** 0,066
Desempenho p < 0,001 0,124
Língua Portuguesa N 545 545
**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).
A análise dos dados revelou existir uma correlação significante e negativa apenas entre
o Fator 1 (Displicência) e o desempenho (r=-0,234, p <0,001). Dessa maneira, pode-se
considerar que, quanto maior a frequência de atitudes displicentes em relação aos estudos,
pior é o Desempenho em Língua Portuguesa. Com o objetivo de verificar a correlação de cada
item do Fator 1 (Displicência para o Estudo) com o desempenho, foi realizada uma correlação
51
entre os itens desse fator com o Desempenho em Língua Portuguesa, conforme apresentado
na Tabela 5.
Desempenho Língua
Fator 1 – Displicência
Portuguesa
r p
5. Tenho dificuldades para me concentrar nos estudos, por isso prefiro -0,275** <0,001
não estudar.
16. Acredito que posso me sair bem nas provas sem estudar, por isso -0,093* 0,030
não estudo.
24. O que não gosto de estudar, deixo para o final. -0,037 0,392
**. A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).
*. A correlação é significativa no nível 0,05 (2 extremidades).
Verifica-se, conforme consta na Tabela 5, que houve correlação entre quase todos os
itens que se referem às atitudes displicentes e ao desempenho em Língua Portuguesa, com
exceção do item 24. Cabe destacar que, quando os alunos declaram ter menos preocupação
com os estudos, demonstram-se mais desinteressados e/ou revelam descontentamento com os
estudos, apresentam mais chances de ter um desempenho insatisfatório.
Foi aplicado o teste t de student para verificar diferenças entre os sexos em relação às
atitudes para o estudo. Os resultados não apontam diferenças significantes entre os sexos no
que diz respeito ao fator displicência (F=0,030 e p=0,356) e ao empenho para o estudo
(F=0,002 e p= 0,705). Uma ANOVA também foi realizada com o intuito de verificar
52
diferenças significantes entre as atitudes para o estudo em função do ano escolar, conforme
Tabela 6.
F p
Pela Tabela 7, observa-se que houve a formação de apenas dois grupos para explicar a
variância do escore total entre os anos escolares e o fator empenho no estudo, sendo um grupo
formado pelos alunos do 4º e 5º anos, e um segundo grupo, por alunos do 2º e 3º anos,
demonstrando as diferenças entre as crianças do 2º e do 5º anos. Com base nesse dado é
possível observar que os alunos do 2º e do 3º demonstram ser mais empenhados em relação
aos estudos quando comparados com os alunos do 4º e do 5º ano, que declaram um empenho
menor em relação aos estudos.
as diversas variáveis apresentadas pela literatura, optou-se por investigar a variável atitude,
considerada um constructo de grande relevância para se compreender como os sujeitos se
posicionam frente a objetos ou situações decorrentes de suas experiências pessoais. O
presente estudo teve como objetivo principal avaliar as atitudes declaradas por alunos do
Ensino Fundamental em relação ao estudo e verificar se estas atitudes se correlacionavam
com o desempenho em Língua Portuguesa.
Embora o delineamento escolhido para esse estudo não permita estabelecer relação de
causalidade entre as atitudes e o desempenho escolar, destaca-se que parece existir uma
influência recíproca entre essas variáveis. Portanto, pode-se dizer que à medida que as
atitudes afetam o desempenho, nota-se que o desempenho também é afetado pelas atitudes
(Aiken, 1970). Pesquisas sobre o desempenho escolar têm destacado que, entre outras
condições, os alunos precisam sentir-se envolvidos com sua própria aprendizagem para que
possam alcançar um desempenho escolar satisfatório. Com base na reciprocidade entre atitude
e desempenho e tendo em vista a importância do constructo atitude, este estudo fornece dados
que podem contribuir para o avanço do conhecimento científico sobre o tema.
Antes de tecer uma discussão sobre a relação entre essas duas variáveis, é necessário
dirigir um olhar mais pontual para os dados relativos ao desempenho dos alunos pesquisados
em Língua Portuguesa e às atitudes que os mesmos declararam. Os dados obtidos no presente
estudo destacam que, em relação ao desempenho escolar, a maior parte dos alunos apresentou
desempenho igual ou acima da média em Língua Portuguesa, adotando-se como referência
uma escala de zero a 10, o que pode ser considerado um desempenho satisfatório. Esse dado é
bastante semelhante ao encontrado por Brito (1996), que investigou o desempenho em relação
à Matemática e às atitudes. Além disso, aproximam-se, também, dos dados apontados pelos
índices de avaliação em larga escala, como é o caso do IDEB (2015), que destaca avanços
significativos entre os anos de 2005 e 2015, no que se refere ao desempenho escolar dos
alunos dos anos iniciais do Ensino Fundamental.
Embora os dados obtidos neste estudo sobre a avaliação interna (escola) e a análise
dos dados de avaliações externas (avaliações governamentais) apontem um desempenho
satisfatório ou avanços nesses conhecimentos, é importante que se faça uma reflexão mais
pontual sobre esses resultados, visto que ainda existem defasagens muito grandes em relação
ao desempenho esperado e o que é, de fato, atingido pelos alunos. Os índices apontados pelas
avaliações em larga escala revelam que, embora os alunos dos anos iniciais do Ensino
Fundamental tenham alcançado a meta proposta no IDEB (2015), ainda há uma grande
porcentagem de alunos que apresentam um nível de rendimento abaixo do desejável. Neste
54
proposta por Marfileño (2015). Entretanto, também foi possível verificar que, embora grande
parte dos alunos tenha declarado adotar atitudes de empenho, poucos se autodeclaram
totalmente empenhados.
Assim, é possível afirmar que, embora os alunos tenham declarado adotar atitudes de
empenho, estas não ocorrem em todas as situações propostas. Assim, pode-se inferir que as
atitudes de empenho diante do estudo podem ser influenciadas por outras condições, sejam
elas de ordem afetiva, cognitiva, social ou comportamental. Esses apontamentos são
evidenciados na literatura, que destaca a existência de variáveis que são importantes para a
explicação de algumas atitudes adotadas, como, por exemplo, as competências emocionais
apontadas por Candeias et al., (2012), ou ainda, as condutas antissociais ou relativas ao
ajustamento escolar, como ficou evidenciado por Freitas et al. (2012).
Por outro lado, também foi possível verificar que, embora tenham se demonstrado
empenhados em relação aos estudos, a maior parte dos alunos (N 451) declarou adotar, ao
menos, um tipo de atitude displicente, ou seja, dos estudantes que participaram do estudo (N
545), somente 17,2% (N 94) declararam que não adotam nenhuma atitude displicente em
relação aos estudos. As atitudes de displicência são as relacionadas à falta de motivação e/ou
preocupação com os estudos e as que demonstram desinteresse pelas tarefas, o que pode estar
associado a dificuldades encontradas no momento do estudo, tanto no que diz respeito à
organização da rotina como à concentração para estudar. Sobre esse aspecto, cabe destacar
que essas dificuldades também foram apontadas pelo estudo de Marfileño (2015), que
destacou como uma das principais razões expressas pelos estudantes, para justificar o fato de
não estudarem, a dificuldade de se concentrarem nos estudos.
Na pesquisa de Marfileño (2015), uma grande porcentagem de alunos declarou essa
dificuldade (85,2%), enquanto, no presente estudo, a porcentagem de alunos que declarou ter
dificuldades para se concentrar foi de 20%. Alguns motivos podem contribuir para a
compreensão dessa dificuldade, entre eles, a complexidade dos conteúdos com o avanço da
escolarização, pois, nesse caso, alunos que já apresentavam certa defasagem podem encontrar
maiores dificuldades para se concentrar. Entre outros elementos que podem contribuir para a
falta de concentração, estão as preocupações afetivo-emocionais e sociais que surgem em
decorrência da maturidade e acabam por interferir no aprendizado. Seria interessante
investigar esses elementos em um momento oportuno, para desvendar o que desconcentra,
com maior frequência, os alunos, nos momentos de estudo, de modo a se pensar em técnicas e
metodologias que possam contribuir para auxiliá-los.
56
Outra questão investigada por Marfileño (2015), que também se aproxima de uma das
atitudes de displicência explorada neste estudo, diz respeito à maneira como os alunos de
posicionam diante da afirmativa “Estudar é chato”. Os resultados, de maneira geral, apontam
que a maior parte dos alunos discorda dessa afirmativa e demonstra adotar uma atitude mais
positiva em relação aos estudos. Na investigação de Marfileño (2015), os alunos que
discordam da afirmativa correspondem a 57,5%, enquanto os alunos que concordam
representam 42,4%. Os resultados da presente pesquisa diferem, em termos percentuais, do
que foi encontrado por Marfileño (2015), pois 82,8% dos alunos declaram que estudar não é
chato, enquanto somente 17,2% consideram o contrário. Esse dado permite inferir que as
variáveis idade e ano escolar são de grande relevância quando se busca conhecer as atitudes
dos alunos frente ao estudar, pois estas podem servir como indicadores de mudança de
atitudes, entretanto, outras variáveis também podem estar associadas.
Considerando os aspectos evidenciados pela literatura, em conjunto com os resultados
encontrados no presente estudo, faz-se necessário pontuar que a displicência e a falta de
interesse em relação aos estudos, podem ser pautadas em alguns questionamentos, a saber: Os
alunos fazem uso de estratégias adequadas na hora de estudar? Os estudantes são ensinados
ou incentivados a criar uma rotina de estudo? São motivados para realizar seus estudos?
Quando apresentam algum tipo de dificuldade, contam com o suporte familiar e com um
ambiente adequado para os estudos? Caberia, por meio destes e de tantos outros
questionamentos, pontuar que, culturalmente pouco se tem caminhado no sentido de se refletir
sobre a importância de uma rotina de estudos. De maneira geral pode-se dizer que não há, por
parte dos alunos, uma rotina diária de estudos, ficando esta atividade, muitas vezes, restrita ao
tempo em que passam na escola. Conforme apontam Felicetti, Gomes e Fossatti (2016) a
atividade de estudar é muito incipiente em nosso país, devendo esta ser despertada tanto no
ambiente familiar, quanto nas instituições de educação infantil. Assim, em momento
oportuno, seria válido investigar a realidade dos alunos que apresentam atitudes de
displicência em relação ao estudo, visto que, torna-se relevante observar que a atitude adotada
pelo aluno em relação ao estudo depende de um conjunto de outras circunstâncias presentes
no seu dia a dia.
No que se refere à correlação entre as atitudes e o desempenho escolar em Língua
Portuguesa, os resultados apontaram para uma correlação negativa e fraca com o fator 1-
displicência em relação ao estudo. Essa correlação permite inferir que, quanto maior o
número de atitudes displicentes os alunos revelaram realizar em relação aos estudos, piores
foram os resultados obtidos em Língua Portuguesa. Nesse sentido, julga-se relevante destacar
57
que um dos itens do inventário de atitudes que apresentaram maior correlação negativa com o
desempenho em Língua Portuguesa foi dificuldade de concentração, “Tenho dificuldades em
me concentrar no estudo, por isso prefiro não estudar” (r= -0,275). Tal constatação permite
retomar a reflexão realizada anteriormente, ou seja, de que esse é, sem dúvida, um elemento
que precisa ser investigado, principalmente pelo fato de prejudicar o desempenho dos alunos.
Desse modo, é de grande relevância pensar em outros aspectos que podem interferir para que
o aluno alcance resultados satisfatórios em seu desempenho. Considera-se que, se os alunos
não souberem estudar ou organizar os momentos de estudo fora do ambiente escolar, as
dificuldades para a internalização dos conteúdos escolares podem se acentuar e, assim,
ocasionar resultados insatisfatórios no que diz respeito à aprendizagem.
O trabalho, aqui proposto, também buscou verificar as diferenças entre os sexos e o
ano escolar cursado pelos alunos em relação às atitudes para o estudo. Em relação ao quesito
sexo não foram encontradas diferenças significativas, o que difere do resultado levantado por
Brito (1996), que apontou, em seu estudo, que os alunos do sexo masculino apresentaram
atitudes mais positivas em relação à matemática, quando comparados aos do sexo feminino.
Essa diferença, talvez, não tenha sido encontrada no presente estudo pelo fato de o
instrumento utilizado não contemplar uma disciplina específica, mas buscar compreender as
atitudes para o estudo de maneira geral. Esses dados podem ser explorados em pesquisas
futuras, visando a identificar se essas diferenças entre sexos se mantêm.
Ao se analisar as atitudes de alunos que cursavam diferentes anos escolares, observou-
se que o fator empenho para o estudo revelou-se estatisticamente diferente e apresentou a
formação de dois grupos. O primeiro grupo foi formado por alunos do 4º e 5º anos, e o
segundo grupo, por alunos do 2º e 3º anos, demonstrando as diferenças entre as crianças do 2º
e do 5º anos. Os resultados apontam que a declaração de empenho dos alunos do 2º ano, em
relação aos estudos, foi relativamente maior do que a dos alunos do 5º ano. Esse resultado
pode estar relacionado aos conteúdos e disciplinas ofertadas e às dificuldades enfrentadas na
transição de cada ano escolar, o que acaba por interferir nas atitudes de empenho
demonstradas pelos alunos. Sobre esse aspecto Caldas e Hubner (2001) destacam que
conforme os alunos crescem, a escola parece demonstrar menor habilidade em tornar o
conhecimento agradável e interessante, além disso, parece existir também, segundo as autoras,
uma dificuldade em permitir que o processo de ensino e aprendizagem seja permeado de
prazer e alegria. Deste modo, o estudo realizado por Caldas e Hubner (2001) destaca que há
um aumento no desencantamento com o aprender à medida que os alunos avançam no seu
processo de escolarização. Os resultados do presente estudo, em relação às atitudes de
58
empenho para com o estudar, parecem também revelar um pouco deste desengajamento dos
alunos à medida que avançam na escolarização. Contudo, julga-se necessário uma
investigação mais detalhada para se desvendar que elementos presentes no contexto escolar,
ou fora dele, poderiam melhor responder por essa modificação em relação às atitudes para
estudar.
Considera-se que os resultados apresentados e discutidos, neste estudo exploratório,
apresentam contribuições para a investigação das atitudes em relação ao estudo, além de
permitirem uma reflexão sobre o ato de estudar e sua relação com o desempenho escolar.
Desse modo, fazem-se necessárias algumas considerações que serão apresentadas, a seguir,
com intuito de ampliar a reflexão em torno das práticas escolares.
variáveis que podem interferir nas notas, entre elas, a ansiedade do aluno em relação às provas
e aos exames escolares, um aspecto já bastante explorado por pesquisadores.
Outro apontamento pertinente quando se discute os aspectos relacionados ao
desempenho escolar relaciona-se ao papel da escola na aprendizagem e desenvolvimento dos
alunos. Nessa perspectiva, ainda é comum encontrar, na educação, a visão de que o aluno é
um sujeito passivo no processo de aprendizagem, e o professor é o sujeito que detém todo o
conhecimento a ser transmitido. Ao se considerar esses dois sujeitos como agentes
importantes no processo de aprendizagem, é indispensável que se amplie o olhar sobre o papel
desempenhado pelos mesmos. Assim, pondera-se que o aluno deve ser visto como ser ativo e
participativo desse processo, e o professor, como mediador entre o aluno e os novos
conhecimentos.
Nesse contexto, julga-se importante destacar que nem sempre as escolas e os agentes
envolvidos demonstram ter clareza sobre esses aspectos, uma vez que alguns estudos apontam
problemas relacionados à formação do professor e à percepção dos alunos em relação à sua
própria aprendizagem. Observa-se que, embora a educação tenha avançado no que diz
respeito ao marco legal e que, novas correntes teóricas tenham surgido e venham contribuindo
para um repensar sobre o papel do aluno e do professor no processo educativo, nota-se ainda a
existência de uma lacuna entre a teoria e a prática.
Assim, acredita-se que o sistema educacional precisa passar por essa e outras
mudanças de paradigma, para que se possa ampliar a percepção do papel da educação e
avançar rumo à tão almejada educação de qualidade, pois só desse modo distorções relativas
ao desempenho poderão ser superadas. Outra consideração, derivada deste estudo, refere-se
aos tipos de escala propostos para mensurar as atitudes, visto que há uma ampla discussão na
literatura, mas não há um consenso sobre que tipo de instrumento é mais adequado para
avaliar o constructo.
No que se refere ao instrumento proposto neste estudo, pode-se afirmar que ele parece
ser interessante para verificar a percepção do próprio sujeito, ou seja: o que pensa, sente ou
como se comporta em relação à sua rotina no momento de estudar. Por se tratar de um
instrumento exploratório, considera-se que outros estudos, utilizando esse mesmo
instrumento, seriam oportunos, pois, desse modo, poderia ser verificada, por meio de uma
análise confirmatória, sua estrutura e validade interna. Considera-se oportuno, também, a
proposição de outros instrumentos para a avaliação das atitudes dos alunos em relação ao
estudo, de modo a explorar aspectos não evidenciados neste trabalho.
60
Pondera-se, também, que outras variáveis sejam exploradas a partir desse constructo,
como, por exemplo: alunos que declaram ser displicentes em relação aos estudos podem
apresentar menor motivação para estudar, ou ainda, podem não saber fazer uso de estratégias
de aprendizagem que otimizariam seu desempenho escolar. Nesse viés, estudar as atitudes é
ampliar discussões em torno de outras variáveis, além disso, como a própria literatura que
aborda as atitudes tem apontado, seria importante investigar como ocorrem as mudanças de
atitude. De maneira geral, a literatura tem destacado que é possível modificar as atitudes
iniciais de um sujeito a partir de intervenções que permitam que o próprio indivíduo
reconheça a importância de modificá-las. Espera-se que os dados evidenciados neste estudo
possam contribuir para o desenvolvimento de ações que propiciem melhorias no cenário
educacional.
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