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3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X

POSSIBILIDADES DA PESQUISA QUALITATIVA E QUASE-


EXPERIMENTAL NA INCLUSÃO ESCOLAR
Aline Aparecida VELTRONE1
Universidade Federal de São Carlos-UFSCar
Programa de pós-graduação em Educação Especial

INTRODUÇÃO
Tendo em vista a necessidade de se avaliar e monitorar as práticas advindas da política
da inclusão escolar em nosso país, principalmente por meio da opinião e percepção dos
principais atores envolvidos neste processo, que são os alunos, em meu estudo de
mestrado intitulado de: “A inclusão escolar sob o olhar dos alunos com deficiência
mental” (VELTRONE, 2008) tive como objetivo identificar, descrever e analisar a
percepção dos alunos egressos de classe/escola especial para deficientes mentais a
respeito da atual matrícula na classe comum, das interações sociais na escola, dos
relacionamentos com a aprendizagem do conteúdo curricular, das expectativas futuras,
comparando a experiência de escolarização em classe comum com outros espaços da
Educação Especial por eles vivenciados.
O estudo foi desenvolvido na rede municipal de educação de Araraquara-SP.
Participaram do estudo dois grupos de alunos de escolas públicas comuns, sendo o
primeiro grupo composto por 10 alunos egressos de espaços especializados (classe ou
escola especial) para estudantes com deficiência mental e o outro grupo com 10 alunos
que eram os respectivos colegas de classe dos alunos com deficiência.
Tratou-se de um estudo de abordagem qualitativa, em que o procedimento de coleta de
dados envolveu entrevistas com os 20 alunos e demandas de desenhos acompanhados
de interrogativas. A análise dos dados para as respostas das entrevistas foi feita a partir
da análise de conteúdo (BARDIN, 1977), e a análise dos desenhos foi baseada na
impressão global e nos aspectos específicos relacionados à situação escolar comentados
pelos alunos. Os resultados evidenciaram que as experiências dos alunos em ambientes
inclusivos podem envolver tanto impactos positivos quanto negativos.
As maiores conquistas em termos de práticas inclusivas, estão relacionadas ao papel
socializador da escola, contudo, não há unanimidade, sendo que alguns alunos relataram
experiências de situações excludentes e estigmatizantes na interação com seus pares.
Merece também destaque a aprovação dos alunos aos serviços de apoio especializado,
que no contexto estudado são ofertados na forma de serviços de itinerância de
professores especializados, e também a importância que os alunos egressos dos espaços
especializados atribuem à escola no tocante a inserção social futura. A maior
dificuldade relatada por eles diz respeito à dificuldade na aprendizagem do conteúdo
curricular.
Assim a prática de inclusão escolar, compreendida como a escolarização em classe
comum de escola regular parece produzir benefícios para a maioria dos alunos,
entretanto, tal prática não pode ser vista a priori como algo bom ou ruim, pois se

1
Possui graduação em Pedagogia pela UNICAMP. Mestre e doutoranda em educação do indivíduo
especial pelo Programa de Pós-graduação em Educação Especial da UFSCar. Endereço: Rodovia
Washington Luiz, Km 235, SP-310, São Carlos/SP, CEP: 13565-905. E-mail:
aline_veltrone@hotmail.com

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observa que os alunos com deficiência mental vêem tanto aspectos positivos quanto
negativos nesta forma de escolarização. Os resultados positivos parecem vinculados a
existência de suporte do professor itinerante, e sugerem o aprofundamento de
investigações no sentido de identificar quais suportes favorecem a escolarização
inclusiva.
Estes dados são importantes uma vez que forneceram conhecimentos para o campo de
estudo da temática da inclusão escolar e também porque permitiu que se identificasse,
sob o ponto de vista do aluno, as reais condições sociais, políticas e pedagógicas que o
aluno com deficiência mental estava vivenciando com o ingresso em uma classe comum
de uma escola regular. Os dados obtidos e analisados se transformaram em
conhecimentos que podem subsidiar a tomada de decisão e encaminhamento para
futuras pesquisas sobre a temática da inclusão escolar, além de gerar indicadores para o
acompanhamento das políticas públicas de inclusão escolar.
Com relação ao delineamento, a abordagem qualitativa se mostrou adequada aos
objetivos propostos porque é uma abordagem que permite que se identifique as reais
concepções dos sujeitos envolvidos, contribuindo com a avaliação das políticas públicas
e também para aprimorar os conhecimentos teóricos desenvolvidos sobre a temática.
Nesse sentido, a abordagem qualitativa de pesquisa adquire sua importância para o
desenvolvimento de estudos na área da Educação Especial, principalmente tendo em
vista o seu caráter de compreender os fatos sociais dentro de uma dimensão histórica e
também humana.
A abordagem de pesquisa qualitativa tem como objetivo principal interpretar como os
fatos sociais ocorrem, como se dão os significados humanos dentro de um determinado
contexto histórico e social. Nesse sentido, é importante considerar a subjetividade, as
representações, os significados dos sujeitos, pois eles são determinantes para a
compreensão dos fatos sociais.
Partindo desta perspectiva, o pesquisador deve buscar compreender o ambiente dos
sujeitos, descrevendo-os e tentando conhecer suas percepções e o que influi para que
eles comecem a desenvolver as percepções que têm, correlacionando ao contexto do
qual fazem parte. As questões formuladas dentro da perspectiva qualitativa se orientam
para a compreensão do fenômeno em toda a sua complexidade e fazer histórico
(BOGDAN e BIKLEN, 1994).
Dessa maneira, os estudos qualitativos com o olhar da perspectiva sócio-histórica, ao
valorizarem os aspectos descritivos e as percepções das pessoas, devem focalizar o
particular como instância da totalidade social, procurando compreender os sujeitos
envolvidos e, por seu intermédio compreender também o contexto. Adota-se, assim,
uma perspectiva de totalidade que, de acordo com André (1995) leva em conta todos os
componentes da situação em suas interações e influências recíprocas, dando valor a
questão de como os sujeitos interpretam seu mundo e como os pesquisadores
interpretam seus atos de interpretação.
Os estudos de abordagem qualitativa permitem uma maior aproximação e envolvimento
do pesquisador com todos os envolvidos no estudo, no sentido de compreender o
significado das ações das pessoas, interpretá-las e verificar e/ou atribuir significações
para o que foi observado. Também permite que se identifique pontos de vista presentes
em uma determinada população sobre determinados assuntos.
No campo específico da Educação Especial, os estudos qualitativos podem fornecer
elementos para que se compreenda o que se passa com os usuários da Educação
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Especial, suas famílias, bem como com os profissionais que com elas atuam. A
experiência vivida destes sujeitos pode fornecer informações para direcionar ou
aprimorar as políticas públicas e práticas que vem sendo desenvolvidas no âmbito da
Educação Especial .
Enfim, a abordagem de pesquisa qualitativa, ao aproximar pesquisador e sujeito de
pesquisa para uma maior compreensão do ambiente a ser investigado, e ao colocar as
percepções, conceitos e representações do sujeito sobre sua realidade como centro de
análise, fornece elementos para que a ciência possa, de maneira bem-sucedida, elaborar
conhecimentos significativos e aplicáveis, que de fato possam contribuir para que as
pessoas tenham uma maior qualidade de vida.
O delineamento qualitativo se mostra bastante adequado para estudos a respeito da
inclusão escolar e também da escolarização dos alunos com algum tipo de deficiência e
necessidades educacionais especiais. Outro delineamento que pode ser utilizado na
investigação destas temáticas é o delineamento quase-experimental. Partindo disto, o
objetivo deste estudo é mostrar as contribuições da pesquisa quase-experimental para
estudos que tratem da temática da inclusão escolar.

MÉTODO
Trata-se de um estudo teórico. Para tanto, foi feito uma busca na base de dados do
Capes sobre pesquisas com a temática da inclusão escolar e que utilizassem o
delineamento de pesquisa quase-experimental. As palavras chaves utilizadas foram:
inclusão escolar, pesquisa quase-experimental e necessidades educacionais especiais.
Todo o material encontrado de acordo com os objetivos do estudo foram lidos e
fichados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
O objetivo principal da pesquisa -experimental deve ser definir sistematicamente a
razão de determinadas relações e as variáveis que se estabelecem entre elas. As
variáveis são conhecidas como variável independente (causa) e a variável dependente
(efeito). Num experimento a variável a ser manipulada é sempre a variável
independente. (COZBY, 2003). Dessa maneira, os estudos experimentais têm como
objetivo encontrar a causalidade dos eventos por meio da investigação das relações que
se estabelecem entre a variável independente e também dependente para controlar
comportamentos.
Os estudos quase-experimentais também procuram estabelecer relações entre variáveis.
No entanto, estes estudos são utilizados quando não é possível atingir o mesmo grau de
controle do que os delineamentos experimentais propriamente ditos (COZBY, 2003).
Cozby (2003) ainda ressalta a importância de que os delineamentos quase-
experimentais, apesar de serem utilizados para diversos objetivos, são especialmente
utilizados na avaliação de programas, em que se propõe e implanta programas para
atingir algum efeito positivo sobre um grupo de indivíduos. Os programas devem ser
avaliados em termos de avaliação das necessidades, avaliação da teoria do programa,
avaliação do processo, avaliação do resultado e avaliação da eficiência.
Outra característica dos estudos quase-experimentais é que, para medir os efeitos das
variáveis investigadas, eles utilizam pré-teste e pós-teste com grupo controle não
equivalente.

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Segundo, Collado, Lucio e Sampiere (2006) os estudos quase-experimentais são


bastante parecidos com os estudos experimentais na medida em que ambos:
“manipulam deliberadamente pelo menos uma variável independente para observar seu
efeito e relação com uma ou mais variáveis dependentes”. No entanto, os estudos quase-
experimentais diferem dos experimentais: “no grau de segurança ou confiabilidade que
se possa ter sobre a equivalência inicial dos grupos”.
Nesse sentido, nos estudos quase-experimentais os participantes do estudo não são
distribuídos aleatoriamente nos grupos a serem investigados, mas já estavam formados
antes do início da pesquisa. Para os autores, a falta de distribuição aleatória pode
introduzir possíveis problemas de validade interna e externa.
Por esta razão, da questão da validade interna e consequentemente externa, o
pesquisador deve estabelecer ao máximo as semelhanças entre os grupos investigados
(grupo que recebe a intervenção e grupo controle). Para tanto, é necessário obter
informações sobre os grupos para identificar as semelhanças e as variáveis particulares
de cada grupo, que não são controladas pelo experimento.
Dessa maneira, é possível identificar a validade interna, que seria as relações de causa e
efeito dos dados obtidos com o estudo, tanto como a validade externa, que estaria
relacionada a generalização dos resultados do estudo para outros participantes e
contextos.
No sentido de assegurar a validade interna e externa, é necessário também que os
estudos sejam bem definidos e operacionalizados, enfocando especificamente
determinados aspectos: descrição suficiente dos métodos e procedimentos, identificação
das variáveis a serem investigadas e caracterização do contexto e da população a ser
estudada (COSBY, 2003 e COLLADO, LUCIO e SAMPIERE 2006).
Collado, Lucio e Sampiere (2006) ainda discutem a questão de, em conseqüência de que
nem sempre os grupos podem ser equiparáveis nas variáveis relevantes para o estudo, a
pesquisa experimental deve: “ evitar fazer a pesquisa com finalidades explicativas e
limitar-se a objetivos descritivos ou correlacionais”.
Na literatura nacional foram encontrados estudos a respeito da temática da inclusão
escolar e consequente escolarização dos alunos com necessidades educacionais
especiais que utilizavam o delineamento quase-experimental nas suas pesquisas.
Nesse sentido, Baleotti, Martins, Omote e Oliveira, (2005) tiveram como objetivo
verificar a possibilidade de modificar, por meio de atividades organizadas na forma de
um curso breve, as atitudes sociais de estudantes do CEFAM, futuros professores das
séries iniciais do Ensino Fundamental, em relação à inclusão.
Com base em algumas técnicas de modificação de atitudes sociais, foram organizadas
atividades direcionadas à temática da inclusão, na forma de um curso de 14 horas
distribuídas em sete encontros semanais de duas horas. As atitudes sociais em relação à
inclusão foram mensuradas e depois dessa intervenção, por meio da Escala Lickerte de
Atitudes Sociais em relação à inclusão (ELASI). Em ambos os grupos os escores do
pós-teste foram significativamente maiores que o do pré-teste, indicando que as atitudes
sociais de futuros professores do Ensino Fundamental com relação à inclusão se
tornaram mais favoráveis. A partir disso, os autores discutem a necessidade de se
incluírem no currículo de formação de professores atividades capazes de modificar suas
atitudes sociais.

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Vieira (2006) descreveu concepções e atitudes sociais de crianças não-deficientes acerca


da deficiência mental e da inclusão e analisou os efeitos de um programa informativo
sobre elas.
Participaram do estudo quarenta crianças de duas salas de primeira série de uma escola
estadual. Um das salas participou como grupo controle. Todas as crianças passaram por
um pré e pós-teste, na forma de entrevistas individuais sobre o tema e de aplicação de
uma escola infantil de atitudes sociais em relação à inclusão.
O grupo experimental participou do programa informativo, nos quais foram discutidas
as limitações e as possibilidades das pessoas com deficiência mental, o atendimento
especializado, sua escolarização e aspectos familiares e sociais, utilizando estratégias
lúdicas e educacionais variadas.
Os dados coletados nas entrevistas foram categorizados e analisados em seu conteúdo.
Os resultados indicam que o programa informativo proporcionou um maior
entendimento da deficiência mental, incluindo uma visão mais realista das possíveis
limitações, das habilidades de pessoas deficientes e das necessidades de apoio e
transformações do meio para atender às suas necessidades. Além disso, aumentou a
percepção das similaridades entre pessoas com e sem deficiência, a aceitação social do
deficiente e as atitudes favoráveis à inclusão.
Albuquerque (2007) contextualizando a problemática da sexualidade das pessoas com
deficiência mental no campo da inclusão, em que estes ainda são vistos como crianças e
não tem direito a sexualidade e estas nem sem discutidas por seus pais e professores
autonomia e realização pessoal. A autora teve como objetivo principal investigar o que
pensam pais e professores de jovens com deficiência mental sobre a sexualidade da
pessoa com deficiência mental, visando elaborar e implementar uma proposta de
intervenção.
Foram feitas entrevistas com os pais e professoras para coletar informações necessárias
à intervenção posterior. Buscou-se, por meio de um roteiro de entrevista semi-
estruturada conhecer mais acerca das visões e opiniões dos participantes sobre questões
ligadas à sexualidade em geral, à sexualidade na deficiência mental e aos
comportamentos de educação-orientação sexual com seus filhos e alunos, bem como as
principais necessidades e dúvidas existentes. Foi, então, oferecido um curso chamado
“Sexualidade e deficiência mental” para dois grupos de participantes: um para os pais e
outro para os professores. O curso foi realizado por meio de encontros semanais,
resultando em oito encontros com cada grupo (dois meses ao todo). Tais encontros
tiveram uma parte teórica e momentos para se trabalhar as dificuldades e necessidades
relatadas
Após a intervenção, foram feitas novas entrevistas com os pais e com os professores
para verificar os efeitos da mesma. . Foram percebidos alguns indícios de mudanças de
opinião dos participantes, como uma ampliação das reflexões sobre o tema sexualidade
– deficiência mental, e uma percepção da importância da sexualidade na vida das
pessoas com deficiência mental, bem como uma atenção e respeito maior por seus
interesses e necessidades afetivos - sexuais. Foram notadas também algumas mudanças
de atitudes, como uma predisposição a agir de forma adequada quando envolvido em
situações relacionadas à sexualidade a partir de um maior questionamento do seu papel
frente a esse processo; e também um aumento da segurança e preparo para lidar com o
tema. Além do mais, foram percebidas algumas mudanças de comportamento referentes
à orientação sexual, como um aumento do diálogo sobre sexualidade.
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Na literatura internacional também identificamos alguns estudos a respeito da temática


da inclusão escolar, escolarização de alunos com necessidades educacionais especiais e
delineamento quase-experimental.
Daniel e King (1997) tiveram por objetivo determinar os efeitos dos lugares da inclusão
analisando as seguintes variáveis:
1) Preocupação dos pais sobre os programas escolares de seus filhos
2) Percepção dos pais e professores sobre os problemas de comportamento
3) Performance acadêmica dos estudantes
Além disso, os autores tiveram como propósito verificar se três diferentes ambiente de
inclusão (total, parcial e não inclusivo) resultariam nas diferenças das variáveis
dependentes. Os autores realizaram um estudo quase-experimental em12 salas de aula.
Os resultados do estudo indicam que os efeitos dos programas da inclusão são muitas
vezes misturados. Com relação aos problemas de aprendizagem, estes aparecem
bastante nos ambientes da inclusão, indicando que a professora de classe de inclusão
pode dedicar muito tempo para disciplinar problemas, ao invés de despedir tempo na
instrução. Além disso, os autores discutem a questão de que os problemas de
comportamento trazidos para as classes de inclusão pelos estudantes com necessidades
especiais pode ter efeitos negativos em outros estudantes da sala de aula.
Os autores também discutem a questão que os pais de filhos que estudam nas classes
inclusivas consistentemente reportam um maior nível de preocupação com os programas
escolares de seus filhos do que os pais dos estudantes que não estão nas salas inclusivas.
Shavit (2002) em seu estudo teve por objetivo investigar o uso de estratégias
menemônicas utilizando figuras para promover a aquisição de forma e sons de letras
(consoantes) por alunos com deficiência mental moderada.
Participaram do estudo 24 estudantes com deficiência mental moderada na idade entre
10 e 15 anos. Os participantes foram divididos em dois grupos, com e sem técnicas
menemônicas, agrupados por idade, sexo e quantidade de tempo com a professora da
classe. Duas estratégias utilizadas no estudo foram identificadas no processo diferindo
apenas na inclusão de figuras como estratégias menemônica da condição experimental.
O grupo menenônico utilizou cartas de figuras para promover a associação e para
assistir na identificação da carta. Os resultados indicam que o grupo menenônico
aprendeu significantemente mais palavras do que o grupo controle.
Os resultados evidenciaram, portanto, que os estudantes com deficiência mental
moderada podiam aprender símbolos arbitrários utilizando estratégias menemônicas e
isso comprova que os estudantes com deficiência mental moderada são capazes de
utilizar estratégias menemônicas para efetivamente guardarem informações.
O autor defende que, para o campo educacional, os resultados do estudo providenciaram
conhecimentos importantes que indicam que crianças com deficiência mental moderada
podem aprender símbolos arbitrários (letras). Para o autor, o uso de estratégias
menemônicas poderia aprimorar o processo de aprendizagem destes alunos.
Boettcher , Piscmteli e Rafferty, (2003) tiveram como objetivo examinar o progresso
do desenvolvimento de pré-escolares com deficiência em classes inclusivas e também
classes segregadas focando na habilidade da linguagem e competências sociais.
Fizeram parte do estudo 96 escolares que eram atendidos em programas comunitários.
Os resultados dos estudos indicam que habilidades prévias dos estudantes foram
preditoras dos seus progressos. A criança, pais e família não foram associadas com
desenvolvimento de habilidades ou com o progresso. Além disso, crianças com
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deficiências severas em classes inclusivas tiveram maiores níveis de desenvolvimento


da linguagem e das habilidades sociais do que seus pares em classes segregadas,
evidenciando aspectos positivos da inclusão.

CONCLUSÃO
As pesquisas apresentadas de delineamento quase-experimental evidenciam
contribuições importantes para os estudos a serem desenvolvidos sobre a temática da
inclusão escolar e escolarização de alunos com necessidades educacionais especiais.
A abordagem de pesquisa quase-experimental tem uma característica que não é objetivo
dos estudos qualitativos, que seria a busca de causalidade e correlações das variáveis. A
busca da relação destas variáveis, como por exemplo, tipo de ambiente e rendimento
acadêmico, percepção de professores, pais e alunos e problemas de comportamento,
programas de intervenção e mudanças de atitudes etc. podem ser consideradas
importantes na medida em que fornecem dados empíricos para a estruturação de
ambientes de aprendizagem mais favoráveis para os alunos com necessidades
educacionais especiais, além de prever e evitar comportamentos que não sejam
desejados e nem favoráveis para os alunos.
Estas contribuições são bastante importantes para a temática da inclusão e escolarização
de alunos com necessidades educacionais especiais uma vez que ainda prevalecem
indecisões quanto a melhor forma de escolarização e estruturação dos ambientes da
inclusão escolar.
Além disso, o fato de os estudos quase-experimentais não serem desenvolvidos em
ambientes controlados permite que se investigue a inclusão escolar e a escolarização dos
alunos com necessidades educacionais especiais no contexto escolar, que é complexo e
dinâmico e difícil de ser controlado.
Portanto, ambos os delineamentos, qualitativo e quase-experimental, podem ser
considerados importantes, tanto o qualitativo como o quase-experimental, o que vai
diferir no uso é o objetivo proposto para o estudo e os resultados que se espera alcançar.
Mas, todos de alguma maneira possibilitam que determinados aspectos da realidade
sejam desvelados e discutidos. Conforme afirma Cozby:

Talvez mais importante seja reconhecer que a compreensão completa


de qualquer fenômeno requer a utilização de múltiplos métodos de
estudo, tanto experimentais quanto não experimentais. Nenhum
método é perfeito e nenhum estudo isoladamente é definitivo”
(COSBY, 2003, p. 100).

Enfim, consideramos a importância de que no nível científico as abordagens, os


delineamentos de pesquisa devem coexistir para que de fato possamos investigar a
realidade e produzir conhecimentos que importantes para a ciência quanto para a
humanidade, a sociedade de uma maneira geral

REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, P, P. A sexualidade como aspecto inclusivo: uma proposta de


intervenção para pais e professores de jovens e adultos com deficiência mental.

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2007. Dissertação (Mestrado em Educação do Indivíduo Especial). Centro de Educação


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Humanas. Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2006.

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