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CLARA DOS ANJOS – LIMA BARRETO

PERSONAGENS:

Narrador – Kauany
Lima Barreto – Miguel
Clara – Lorena
Cassi – André
Joaquim – Vinicius
Engrácia – Maoma
Marramaque – André Nass
Meneses – Miguel
Lafões – Mateus
Margarida – Maria
Salustiana – Stephany
Manuel – Mateus

ROTEIRO:

Lima Barreto: Bom dia aos aqui presentes, para quem não me conhece, eu sou
Afonso Henriques de Lima Barreto.  
 
(Lima Barreto acena) 
 
Lima Barreto: Sou  filho do tipógrafo João Henriques de Lima Barreto e da
professora Amélia Augusta. Como descendente de escravos, muitas vezes fui
excluído em diversas situações sociais, inclusive nos meios acadêmicos.
Enfrentei problemas de saúde, fui chamado de louco e internado no hospício,
devido aos problemas de alcoolismo. Entretanto, em minhas obras encontrei a
oportunidade de narrar através dos personagens, as minhas experiências. Seja
em Clara dos Anjos, Triste Fim de Policarpo Quaresma ou qualquer outra de
minhas obras, encontrará um pouco de mim, Lima Barreto.

CENA 1

Narrador: Lá, em um bairro do subúrbio do Rio de Janeiro, rodeado de


casebres e pessoas pobres assim como ele, vivia Joaquim dos Anjos. Homem
negro, pai, carteiro e amante da música, Joaquim morava com sua esposa
Engrácia e sua amada filha, Clara dos Anjos.

(Joaquim, Marramaque e Lafões entram em cena, sentados em uma mesa)

Narrador: Certo dia, reuniu-se com Marramaque, padrinho de sua filha, e


Lafões, amigo próximo da família, para jogar uma partida de truco. De tempos
em tempos, Joaquim gritava para a cozinha:

Joaquim: Engrácia! Clara! Café!


Engrácia e Clara: Já vai!
(Clara entra em cena, trazendo o café)
Clara: A bênção, meu padrinho. Bom dia, Seu Lafões.
(Os dois respondem e começam a conversar)
Marramaque: Então, minha afilhada, quando vai se casar?
Clara: Nem penso nisso, padrinho.
Lafões: Mas! No dia do seu aniversário… É verdade, Joaquim, gostaria de sua
permissão para trazer aqui, no aniversário da menina, um mestre do violão e
da modinha.
Clara: Quem é?
Lafões: É o Cassi…
(Marramaque interrompe furioso)
Marramaque: Você anda com esse tipo de gente? É um sujeito que não pode
entrar em casa de família. Pelo menos na minha…
Joaquim: Por que diz isso?
Marramaque: Daqui a pouco, eu direi o porquê.
(Clara sai de cena se perguntando em voz alta quem seria esse Cassi)

CENA 2

(Joaquim, Engrácia, Clara, Marramaque, Margarida e Meneses entram em


cena, fingem que estão conversando)

Narrador: No dia do aniversário de 17 anos de Clara, Joaquim e Dona


Engrácia, que deram à filha uma excelente criação e educação,
proporcionaram à ela uma festa simples. Porém, por causa da grande atração
da noite, Cassi Jones, essa seria uma festa inesquecível para a aniversariante.

(Lafões e Cassi entram em cena)

Lafões: Joaquim, meu amigo, gostaria de lhe apresentar o convidado de quem


lhe falei. Esse é Cassi Jones. (Joaquim e Cassi dão um aperto de mão)
Joaquim: Muito prazer, sou Joaquim.
Cassi: O prazer é todo meu.
Joaquim: Por que não canta?
Cassi: Sinto muito senhor, mas estou sem voz…
Clara: Por que não canta Seu Cassi? Dizem que o senhor canta tão bem…
Cassi: São apenas dizeres de meus camaradas.
Clara: Cante! Por favor!
Cassi: Já que a senhora manda, irei cantar.

Narrador: Assim, Clara ficou encantada com o rapaz, cujo o objetivo de


conquistar a jovem foi cumprido de maneira fácil e sem obstáculos… Ou quase
sem obstáculos. Marramaque, que fazia de tudo pela segurança e bem-estar
da afilhada, e também já sabia da má fama de Cassi, não deixaria de jeito
nenhum Clara ser enganada por tal sujeito, ele havia de fazer alguma coisa.

(Todos se retiram, menos Joaquim e Engrácia, que começam a conversar)

Engrácia: Tudo foi muito bem. Todos se portaram decentemente e com


respeito, mas uma coisa eu não quero mais.
Joaquim: O que é?
Engrácia: Que esse Cassi venha aqui. Dona Margarida me disse que ele é um
depravado, e você não vê como ele canta revirando os olhos? Não o quero
mais aqui, se ele vier…
Joaquim: Não precisa se irritar. Não gostei dele também, e não colocará mais
os pés na minha casa.

CENA 3

Narrador: Os dias se passaram, e Cassi não suportava a ideia de que seus


planos não iriam ter sucesso, então ele agiu. Sabendo que Clara estava
recebendo tratamento para os dentes, procurou Meneses, dentista de Clara, e
fez um pedido.

(Cassi e Meneses entram em cena)


Cassi: Meu amigo, seria pedir demais que entregasse essa carta para Clara?
Sei que está tratando dos dentes dela e vive na casa de Seu Joaquim.
Meneses: Eu posso entregar a ela, mas o padrinho, não sei por qual razão, não
gosta do senhor. Se Lee ficar sabendo…
Cassi: Não se preocupe, doutor. Apenas entregue a carta diretamente para
Clara.
Meneses: Não sei não, Seu Cassi…
Cassi: Olha, doutor, quando precisar de algo é só pedir.
(Meneses fica interessado)
Cassi: De quanto precisa?
Meneses: Dois mil-réis, só.
(Cassi tira umas notas da carteira e entrega)
Cassi: Leve cinco, e não esqueça de entregar a carta.

(Os dois se retiram)

CENA 4

Narrador: Após isso, Clara começou a comunicar-se com Cassi em segredo,


apaixonando-se cada vez mais. Para ela, ele era um cavalheiro, e todos os
alertas de sua família sobre a índole questionável de Cassi foram esquecidos.
Entretanto, não demorou muito para que Marramaque descobrisse o
envolvimento dos dois e intervisse, avisando Joaquim para manter a garota
afastada do sujeito. E Cassi, ao ficar sabendo dessa intromissão, decidiu tomar
uma atitude. Certo dia, ele esperou Marramaque na saída da venda e o atacou.

(Marramaque e Cassi entram em cena)

Cassi: Capenga, você vai apanhar para não se meter onde não é chamado.
(Cassi derruba Marramaque, o chuta e sai de cena arrastando o corpo.
Marramaque morre)
CENA 5

Narrador:: Sem mais obstáculos, Cassi conseguiu o seu objetivo. Certa noite,
pulou a janela de Clara, seduziu a jovem e prometeu que a pediria em
casamento. E sem mais demora, fez suas malas e fugiu para São Paulo,
deixando Clara apenas com uma promessa não cumprida e um bebê a crescer
no ventre.

(Clara e Margarida entram em cena)

Clara: Dona Margarida, por favor, me ajude. Eu preciso de dinheiro


emprestado.
(Margarida encara Clara duramente)
Margarida: Para que você quer esse dinheiro, Clarinha?
(Clara abaixa a cabeça, não a olhando nos olhos)
Clara: Para o presente de minha mãe.
Margarida: Você está escondendo alguma coisa. Clara, me conte a verdade.
(Clara hesita por alguns segundos)
Clara: Estou grávida de Seu Cassi.
(Margarida se espanta)
Margarida: Vamos falar à sua mãe.

(Engrácia entra em cena)

Engrácia: Minha filha… então você está grávida? Meu Deus!


Clara: Me perdoe, mamãe! Me perdoe, pelo amor de Deus!
Margarida: Clara, você sabe onde mora a família desse sujeito?
Clara: Sei.
Engrácia: Para quê?
Margarida: Eu irei até lá com Clara, me entender com a família de Cassi.

(Todas se retiram)

CENA 6

(Salustiana entra em cena, e logo após Margarida e Clara entram também)

Salustiana: Por qual razão vieram até aqui?


Margarida: Dona Salustiana, seu filho teve um envolvimento com essa menina,
e agora ela está grávida. Mas fiquei sabendo que ele está fora, por
Isso viemos até a senhora pedir ajuda.
(Salustiana a encara e responde ironicamente)
Salustiana: Ora, e o que a senhora quer que eu faça?
Clara: Que se case comigo!
Salustiana: O que você disse, negrinha?
Margarida: O que Clara pede é justo, e nós estamos aqui para pedir justiça e
não ouvir desaforos.
Salustiana: Engraçado, essas sujeitas se queixam de que foram abusadas…
Por acaso o meu filho as amarra, as ameaça com faca e revólver? A culpa é
delas! Só delas!

(Manuel entra em cena)

Manuel: O que está acontecendo aqui?


Salustiana: Querido…
(Clara interrompe)
Clara: Tenha pena de mim Seu Azevedo! Seu filho me arruinou!
(Manuel deixa Clara se sentar)
Manuel: Minha filha, eu não posso fazer nada. Não tenho nenhuma espécie de
autoridade sobre ele… Já o deserdei. Ele fugiu, e eu já imaginava que essa
fuga fosse para esconder mais um de seus crimes. Eu, como pai, não o
perdôo, mas peço que Deus me perdoe pelo crime de ser pai de um homem
tão horrível. Me perdoe, minha filha. Crie seu filho e me procure se precisar.
Salustiana: Minhas senhoras, retirem-se, por favor.

(Margarida e Clara saem de cena)

CENA 7

(Engrácia, Clara e Margarida entram em cena)

Narrador: Sem sucesso, Clara e Dona Margarida retornaram para casa, e Clara
foi correndo para os braços da mãe. Após a vizinha relatar o que aconteceu,
Clara olhou para sua mãe e disse:

Clara: Mamãe!
Engrácia: O quê?
Clara: Nós não somos nada nesta vida.

FIM

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