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Guimarães, A. M. de Vasconcellos
Mestre pela Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil andremeira@yahoo.com
Marinho, F. A. M.
Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil, fmarinho@usp.br
Resumo: Em 1969, Wind apresentou um método experimental para obtenção simultânea da curva de
retenção e da função de permeabilidade de meios porosos. O método baseia-se no monitoramento de uma
amostra de solo com medidas de sucção por tensiômetros instalados em diferentes alturas e da perda de
massa pela evaporação da água contida na amostra através de uma balança. A literatura sobre o método de
Wind faz referência à sensibilidade dos resultados a diversos aspectos relacionados com a montagem e
medição da sucção. O presente trabalho tem como finalidade avaliar numericamente a metodologia proposta
por Wind (1969), simulando ensaios em materiais com diferentes propriedades de retenção. O estudo leva
em consideração a eventual ocorrência de erros e imprecisões no posicionamento e medições dos
tensiômetros, de maneira a possibilitar uma verificação da influência destes erros nos resultados obtidos.
Abstract: In 1969, Wind presented an experimental method to obtain simultaneously the soil-water
retention curve and the permeability function. The method consists in monitoring a soil sample, measuring
the suction with tensiometers installed at different heights of the sample, and also measuring the loss of
water by evaporation with a balance. The literature about the Wind’s method refers to the sensibility of the
results in relation to the set up of the system and soil suction measurements. The objective of the present
work is to evaluate numerically the Wind’s methodology, simulating using materials with different retention
properties. In the present work is considered errors and imprecisions in the position and measurement of the
tensiometers, making possible to evaluate the influence of these errors on the results.
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Estes métodos têm como princípio básico a A simplicidade do método está na forma como ele
aplicação da Lei de Darcy, tanto para fluxos induz os diversos perfis de sucção e de teor de
permanentes como transientes. No caso da aplicação umidade na amostra. A técnica utilizada para se
de fluxos em regime transiente, aplica-se a lei de remover a água do solo é simplesmente permitir a
Darcy para curtos intervalos de tempo, onde o fluxo evaporação da água do solo.
pode ser considerado como permanente. Embora Wind (1969) considere como a grande
O coeficiente de permeabilidade pode variar em vantagem do seu método a simplicidade da
muitas ordens de magnitude. Esta grande variação é instrumentação requerida, esta não parece ser a
um dos grandes desafios da determinação maior delas. Para que bons resultados possam ser
experimental, pois a grande maioria dos métodos coletados com a utilização deste método, é
não é capaz de cobrir todo o intervalo em estudo. As necessário não só a utilização de instrumentos
limitações de cada método estão diretamente ligadas precisos e acurados, mas também precisamente
à capacidade de se medir a sucção e/ou teor de posicionados ao longo da amostra.
umidade do material em estudo. No caso específico A grande vantagem da utilização deste método
do método de Wind (1969) além da qualidade de parece vir com alguns avanços no sistema de
resposta estar relacionada com a capacidade dos aquisição de dados, que trazem grandes benefícios
tensiômetros, necessita-se de uma grande precisão ao ensaio. A monitoração contínua do ensaio
nas leituras e um acurado posicionamento dos permite que os dados sejam trabalhados e avaliados
tensiômetros no sistema. Para se avaliar os efeitos de maneira mais clara e adequada, pois a grande
destes aspectos, foram feitas diversas análises gama de dados obtida permite esta facilidade.
numéricas, onde os erros em cada um destes fatores A partir dos dados de sucção e massa coletados
foram controlados com o objetivo de se avaliar a durante o ensaio, Wind (1969) propõe um
sensibilidade do método a eles. procedimento interativo para a estimativa da curva
de retenção. Este procedimento consiste em ajustar
2 MÉTODO DE WIND (1969) uma curva de retenção, de modo que as variações
dos teores de umidade, correspondentes as variações
Em 1969, Wind apresentou um método para dos valores de carga matricial medidos, estejam de
obtenção da função de permeabilidade em regime de acordo com a variação de peso total registrado pela
fluxo transiente. Em seu trabalho são mencionadas balança.
as dificuldades relacionadas com a determinação da O procedimento é iniciado adotando-se uma curva
função de permeabilidade, citando entre elas a de retenção qualquer. São estimados, a partir dos
necessidade de se medir tanto a sucção matricial valores de sucção matricial medidos, os teores de
como o teor de umidade ao longo da amostra. umidades correspondentes a curva inicialmente
Entretanto, em seu método, é proposto que as adotada. Calcula-se, então, o teor de umidade médio
medições de teor de umidade sejam substituídas a partir destes valores. Este teor de umidade é,
pela medição da perda de água da amostra. Isto é então, comparado com o teor de umidade total da
feito utilizando-se um balança, que registra a perda amostra, determinado pela variação de peso
de massa total da amostra em intervalos de tempo registrada pela balança. Verifica-se, então, se há
pré-definidos. uma boa correlação entre os teores de umidade
Para avaliar o teor de umidade referente a cada comparados. Caso a média dos teores de umidade
medidor de sucção instalado na amostra, é utilizado calculados não corresponda adequadamente ao teor
o procedimento de cálculo proposto no método, que de umidade médio da amostra, determinado pela
permite o ajuste de uma curva de retenção aos dados variação de peso registrada pela balança, multiplica-
coletados, conforme apresentado mais adiante. se cada teor de umidade estimado pela razão entre o
O ensaio é feito utilizando-se um cilindro onde a teor de umidade total registrado e a média dos teores
amostra é colocada. No cilindro, são inseridos de umidade calculados.
lateralmente, através de furos nas paredes, Plota-se, então, os novos pares de dados obtidos
tensiômetros em profundidades diferentes. Maiores (teor de umidade versus sucção) e traça-se uma nova
detalhes podem ser encontrados em Guimarães curva de ajuste. Repete-se o procedimento até que
(2004). ocorra uma convergência satisfatória.
Após a colocação do solo e a instalação dos Estimada a curva final de retenção do material, são
tensiômetros, o cilindro é posto na água para a traçados os perfis de umidade finais com base nos
saturação do solo. Quando o peso total do cilindro e valores de sucção medidos. Com os perfis de
os sensores de sucção entram em equilíbrio, o umidade, a velocidade de fluxo é conhecida a
sistema é colocado em um ambiente seco e permite- qualquer momento e em qualquer profundidade da
se a evaporação pelo topo da amostra. amostra. Esta velocidade deve corresponder à perda
de umidade do solo e o gradiente de carga.
2
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ferro (PFM).
Para possibilitar uma análise adequada da
metodologia proposta, foram realizados ensaios de 0,3
permeabilidade, através do permeâmetro com carga
constante, com exceção do material siltoso SR-40,
cuja permeabilidade foi determinada a partir do 0,2
ensaio de adensamento. Foram ainda determinadas
as curvas de retenção de cada material através das
metodologias convencionais. 0,1
Os valores de permeabilidade obtidos dos ensaios
são apresentados na Tabela 1
0
Tabela 1 – Permeabilidade saturada 0,1 1 10 100 1000
Material ksat (m/s) Sucção Matricial (kPa)
AR-100 3.1x10-4 AR-100 (e = 1.00) AR-100 (e = 0.88)
AN1000GO 2.8x10-4 AN1000GO (e = 0.51) SR-40 (e =1.40)
SR-40 8.0x10-8 PFM (e = 0.89)
PFM 1.9x10-6
Figura 1 – Curvas de retenção dos materiais (ajuste
As curvas de retenção foram obtidas utilizando-se através do Modelo de van Genuchten, 1980)
placa de sucção e placa de pressão e estão
apresentadas na Figura 1. Na Tabela 2 estão Tabela 2 – Parâmetros de ajuste das curvas de
apresentados os parâmetros de ajuste obtidos com o retenção dos materiais em estudo através do Modelo
modelo de van Genuchten. Estes dados foram de van Genuchten.
utilizados nas análises numéricas feitas com o s r
programa Hydrus 1D. Material n
(%) (%) (cm-1)
AR-100 41,0 0,030 0,027 7
4 ESTUDOS NUMÉRICOS
AN1000G
33,0 0,035 0,040 6
O
Com a finalidade de avaliar individualmente o SR-40 58,0 0,010 0,001 1,5
comportamento de cada um dos materiais durante os
PFM 47,0 0,010 0,015 1,4
ensaios, foram realizadas simulações numéricas para
os quatro materiais apresentados anteriormente.
As simulações foram realizadas considerando as Para a realização das simulações numéricas, foram
seguintes condições de contorno: assumidos, ainda, os ajustes da curva de retenção de
3
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Profundidade (cm)
nas Figuras 2 a 5, em forma de perfis de teor de 3
4
5
umidade e carga matricial relacionados com o tempo 6
4 7
e a profundidade. 8
5
Com base nestas figuras, é possível notar que os 9
10
perfis de sucção apresentam uma variação 6 11
12
praticamente linear, perdendo esta linearidade, 7
0.45 0.4 0.35 0.3 0.25 0.2 0.15 0.1 0.05 0
apenas quando o topo da amostra se aproxima do Teor de Umidade Volumétrica ()
Profundidade (cm)
3
4
3
limitações dos tensiômetros usados na parte 5
6
experimental do estudo (e.g. Guimarães, 2004). 4
7
o procedimento de cálculo apresentado 0 -10 -20 -30 -40 -50 -60 -70 -80
Carga Matricial (cm)
anteriormente. Salienta-se, que foram utilizados
apenas os valores de cargas matriciais obtidas nas (b)
profundidades 1, 2, 3, 4, 5 e 6 cm, equivalentes a Figura 2 – Perfis de variação da umidade e carga
leituras de tensiômetros hipotéticos instalados nestas matricial com o tempo e profundidade para a areia
posições, e o balanço de massa total fornecido pelo AR-100
programa, equivalente à perda de massa registrada
0
pela balança. Tempo
(Dias)
A princípio, adotou-se curvas de retenção 1
0
1
quaisquer para o início dos cálculos de cada uma das 2
2
Profundidade (cm)
(b)
Figura 3 – Perfis de variação da umidade (a) e carga
matricial (b) com o tempo e profundidade para a
areia AN1000GO
4
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3
0.75
1
Nas Figuras 6 e 7 é apresentado um exemplo para
1.25 o procedimento de convergência, utilizando os
4 1.5
1.75 dados do minério PFM. Pode-se observar a grande
5 2
2.5
diferença entre a curva resultante do ajuste dos
6 3 dados experimentais, obtida através do modelo de
4
7 van Genuchten (1980), e a curva assumida
0.6 0.55 0.5 0.45 0.4
Teor de Umidade Volumétrica () inicialmente.
(a) Nas Figuras 8 a 11 são apresentadas as funções de
permeabilidade encontradas, após a realização do
0
Tempo
procedimento de calculo proposto, em comparação
1
(dias) com as funções de permeabilidade estimadas a partir
0
0.25
de suas curvas de retenção fazendo uso do modelo
2
de van Genuchten (1980).
Profundidade (cm)
0.5
0.75
3
1 Note-se que as permeabilidades obtidas ficaram
1.25
4
1.5 muito próximas das funções de permeabilidade
5
1.75
2
estimadas a partir do modelo de van Genuchten
6
2.5 (1980). As pequenas variações ocorreram devido a
3
7
4 aproximações/extrapolações que são realizadas
0 -200 -400 -600 -800 -1000 -1200 durante as estimativas das relações permeabilidade
Carga Matricial (cm)
versus carga matricial.
(b)
Figura 4 – Perfis de variação da umidade (a) e carga
matricial (b) com o tempo e profundidade para o 0.6
solo residual SR-40 Modelo de van Genuchten (1980)
1º Curva Adotada
Pontos Calculados
0
Tempo
(dias)
0.5
1 0
0.5
2 1
Profundidade (cm)
2
3 3 0.4
4
4 5
6
5 7
8 0.3
6 9
10
7
0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0
Teor de Umidade Volumétrica ()
0.2
(a)
0
Tempo 0.1
(dias)
1
0
0.5
2
Profundidade (cm)
1
2
3 0
3
4 0.1 1 10 100 1000
4
5
6 Sucção Matricial (kPa)
5
7
8
6
9
7
10 Figura 6 – Exemplo da convergência alcançada
0 -200 -400 -600 -800 -1000 através do processo interativo proposto (1ª Etapa)
Carga Matricial (cm)
(b)
5
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0.6 1,E-02
Modelo de van Genuchten (1980)
1ª Correção
1ª Correção 1,E-03
0.5
1,E-04
0.4 1,E-05
1,E-06
0.3
1,E-07
0.2 1,E-08
1,E-09
0.1
1,E-10
1,E-11
0
0.1 1 10 100 1000 1 10 100
Sucção Matricial (kPa)
Sucção Matricial (kPa)
Modelo de van Genuchten (1980) Pontos Obtidos
1,E-03
1,E-06
Coeficiente de Permeabilidade (m/s)
1,E-04
Coeficiente de Permeabilidade (m/s)
1,E-05
1,E-07
1,E-06
1,E-07 1,E-08
1,E-08
1,E-09
1,E-09
1,E-10
1 10 100 1,E-10
Sucção Matricial (kPa) 1 10 100 1000
Modelo de van Genuchten (1980) Pontos Obtidos Sucção Matricial (kPa)
Modelo de van Genuchten (1980) Pontos Obtidos
6
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1,E-05 1,E-05
1,E-06 1,E-06
1,E-07 1,E-07
1,E-08 1,E-08
1,E-09 1,E-09
1,E-10 1,E-10
1 10 100 1000 1 10 100 1000
Sucção Matricial (kPa) Sucção Matricial (kPa)
Modelo de van Genuchten (1980) Pontos Obtidos Modelo de van Genuchten (1980) Pontos Obtidos
Figura 11 – Resultados obtidos para a função de Figura 12– Resultados obtidos para a simulação
permeabilidade através da metodologia proposta considerando erros no posicionamento dos
(Minério PFM). tensiômetros (Minério PFM).
dos transdutores – os valores dos erros usados nesta Modelo de van Genuchten (1980) Pontos Obtidos
simulação foi de 1cm (0,1kPa) na leitura dos
transdutores. Adotando-se este erro nos cálculos,
Figura 13 – Resultados obtidos para a simulação
observou-se uma grande variação na parte inicial da
considerando erros nas leituras dos tensiômetros
curva onde os valores de carga matricial são
(Minério PFM).
pequenos, fazendo com que, neste trecho da curva,
os erros sejam relativamente maiores, conforme
Alterações na Evaporação Potencial (EP) – estas
apresentado na Figura 13.
variações podem ocorrer por diversos motivos,
como alterações na temperatura, umidade relativa,
7
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dentre outros. As variações foram impostas de estudados. Embora hajam restrições para materiais
forma aleatória durante o período de secagem da que variam de volume com o aumento da sucção.
amostra. As variações impostas são apresentadas na Erros no posicionamento dos tensiômetros
Figura 14. Na Figura 15 são apresentadas as causam alterações na função de permeabilidade no
conseqüências desta simulação para a função de trecho onde os gradientes são menores.
permeabilidade. Como se pode observar a influência Imprecisões nas leituras de sucção pelos
de alterações da evaporação durante o processo não tensiômetros causam significativa variação na
se mostram significativas. função de permeabilidade obtida. Esta variação é
-0.45
maior no trecho onde o gradiente é menor.
-0.4
Os erros gerados pela variação da evaporação
-0.35
potencial não induzem a grandes erros na estimativa
da função de permeabilidade.
Evaporação (cm/dia)
-0.3
-0.25
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
-0.2
-0.15
Bertuzzi, P; Mohrath, L.; Bruckler, J.C. & Bourlet,
-0.1
M. (1997). Wind’s Evaporation Method:
-0.05
Experimental Equipment and Error Analyses -
0
0 2 4 6 8 10 12
Characterization and Measurement of Hydraulic
Tempo (dias) Prop. of Unsat. Porous Media. vol 1. M. Th. Van
Figura 14 – Variação na Evaporação Potencial Genuchten, F. J. Leij e Wu, L. (Ed.) pp: 323-328.
adotada na simulação numérica (Minério PFM) Bicalho, K. V. (1999). Modeling Water Flow in an
Unsaturated Compacted Soil. Ph.D. Thesis,
1,E-05
University of Colorado, Dep. of Civil,
Environmental and Architectural Eng., 235p.
Brooks, R. H. & Corey, A. T. (1966). Properties of
Porous Media affecting Fluid Flow. J. of Irrigation
1,E-06 and Drainage Div. ASCE, vol. 92. pp: 61-88
Guimarães, A. M. de V. (2004). Estudo sobre o
Coeficiente de Permeabilidade (m/s)
5 CONCLUSÕES 7 AGRADECIMENTOS
À luz das análises numéricas realizadas pode-se A Fapesp, pela bolsa de estudos concedida, o que
concluir que: tornou a realização deste estudo possível.Ao CNPq
A metodologia proposta se aplica a materiais de (PRONEX - PUC/RJ), pela ajuda financeira na
diversas propriedades físicas, visto que os resultados aquisição de equipamentos para o estudo.
foram satisfatórios para os quatro materiais