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Por que Foi


Permitido o Pecado?
“D eus é amor.” Sua natu-
reza, Sua lei são amor.
Sempre foi assim e assim sempre vai
O Pai atuou por meio de Seu Filho
na criação de todos os seres celestiais.
“Pois nEle foram criadas todas as coi-
ser. Toda manifestação do poder cria- sas […], sejam tronos ou soberanias,
dor é uma expressão de amor infinito. poderes ou autoridades” (Cl 1:16). Os
A história do grande conflito entre anjos são ministros de Deus, que estão
o bem e o mal, desde o momento prontos a executar Sua vontade. No
em que se iniciou primeiramente no entanto, o Filho, “o resplendor da gló-
Céu, revela também o imutável amor ria de Deus e a expressão exata do Seu
de Deus. ser”, “sustentando todas as coisas por
O Soberano do Universo não es- Sua palavra poderosa” tem a suprema-
tava sozinho em Sua obra de fazer o cia sobre todos eles (Hb 1:3; ver v. 8).
bem. Ele tinha um companheiro para Deus deseja de todas as Suas cria-
apreciar Seu propósito e participar de turas um serviço de amor – serviço
Sua alegria em proporcionar felici- motivado pela apreciação do Seu ca-
dade aos seres criados (ver Jo 1:1, 2). ráter. Ele não tem prazer na obe-
Cristo, o Verbo, era um com o diência forçada. Concede a todos
Pai eterno, um em natureza, em ca- a liberdade para Lhe prestar ser-
ráter, em propósito. “E Ele será cha- viço voluntário. Enquanto todos os
mado Maravilhoso Conselheiro, seres criados foram leais por amor,
Deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe houve perfeita harmonia por todo
da Paz” (Is 9:6). “Suas origens estão o Universo de Deus. Nenhuma nota
no passado distante, em tempos an- dissonante havia para desfigurar a
tigos” (Mq 5:2). harmonia celestial.

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Entretanto, ocorreu uma mu- os anjos insistiam com Lúcifer. O
dança nesse estado de felicidade. Filho de Deus apresentou perante ele
Houve alguém que usou de forma er- não só a grandeza, a bondade e a jus-
rada a liberdade que Deus concedeu às tiça do Criador, mas a natureza imu-
Suas criaturas. O pecado teve sua ori- tável de Sua lei. Desviando-se dela,
gem com aquele que, abaixo de Cristo, Lúcifer desonraria o seu Criador e tra-
era o mais honrado por Deus e o mais ria ruína sobre si mesmo. Contudo, a
elevado entre os habitantes do Céu. advertência, feita com misericórdia
Lúcifer, “filho da alvorada” (Is 14:12), e amor infinitos, apenas despertou
era santo e incontaminado. “Assim diz maior resistência. Lúcifer permitiu
o Soberano, o Senhor: ‘Você era o mo- que prevalecessem os sentimentos de
delo da perfeição, cheio de sabedoria e inveja que nutria por Cristo e ficou
de perfeita beleza. […] Você foi ungido ainda mais obstinado.
como um querubim guardião, pois O Rei do Universo convocou os
para isso Eu o designei. Você estava exércitos celestiais para uma reunião
no monte santo de Deus e caminhava e apresentou a verdadeira posição de
entre as pedras fulgurantes. Você era Seu Filho, mostrando a relação que Ele
inculpável em seus caminhos desde o mantinha com todos os seres criados.
dia em que foi criado até que se achou O Filho de Deus partilhava do trono do
maldade em você’” (Ez 28:12, 14, 15). Pai, e a glória do Ser eterno, existente
Pouco a pouco, Lúcifer cedeu ao de- por Si mesmo, rodeava a ambos. Ao
sejo de exaltação pessoal. “Seu cora- redor do trono, todos os santos anjos
ção tornou-se orgulhoso só por causa estavam reunidos, “milhares de mi-
da sua beleza, e você corrompeu a sua lhares e milhões de milhões” (Ap 5:11).
sabedoria por causa do seu esplendor” Perante os habitantes do Céu, o Rei de-
(Ez 28:17). “Você, que dizia no seu co- clarou que ninguém, a não ser Cristo,
ração: […] ‘erguerei o meu trono acima poderia penetrar inteiramente em Seus
das estrelas de Deus; […] serei como o propósitos e executar os poderosos
Altíssimo’” (Is 14:13, 14). Embora fosse conselhos de Sua vontade. Logo Cristo
mais honrado do que a hoste celestial, deveria exercer o Seu poder divino na
ele ousou cobiçar a adoração devida criação da Terra e de seus habitantes.
unicamente ao Criador. O príncipe dos
anjos desejou o poder que pertencia, A Batalha no
por direito, a Cristo somente. Coração de Lúcifer
A perfeita harmonia do Céu foi Os anjos reconheceram alegre-
então quebrada. No conselho celestial, mente a supremacia de Cristo e
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extravasaram seu amor e adoração. sugerindo que os anjos não necessi-


Apesar de Lúcifer ter se curvado com tavam dessas leis, pois sua sabedoria
eles, existia em seu coração um con- era um guia suficiente. Todos os seus
flito estranho e violento. A verdade pensamentos eram santos; não havia
e a lealdade estavam lutando contra para eles maior possibilidade de errar
a inveja e o ciúme. Por algum tempo, do que para o próprio Deus. A exal-
ele se deixou levar pela influência dos tação do Filho de Deus da mesma
santos anjos. Quando os cânticos de forma como era feita com o Pai foi
louvor se elevavam, o espírito do mal representada como sendo uma injus-
parecia dominado; indescritível amor tiça para com Lúcifer. Se esse prín-
fazia vibrar todo o seu ser; em har- cipe dos anjos pudesse tão somente
monia com os adoradores sem pe- alcançar a sua verdadeira e elevada
cado, sua alma se expandia em amor posição, grande bem resultaria para
para com o Pai e o Filho. Mesmo todo o exército do Céu, pois era o seu
assim, seu desejo de supremacia re- propósito conseguir liberdade para
tornou e uma vez mais ele cedeu ao todos. Enganos sutis foram rapida-
sentimento de inveja por Cristo. As mente ganhando terreno nas cortes
altas honras conferidas a Lúcifer não celestiais por meio dos planos perver-
provocavam nenhuma gratidão para sos de Lúcifer.
com o seu Criador. Ele se gloriava em A verdadeira posição do Filho
seu brilho e aspirava ser igual a Deus. de Deus tinha sido a mesma, desde
Os anjos se alegravam em executar o princípio. No entanto, muitos dos
suas ordens, e estava ele revestido de anjos ficaram cegos devido aos en-
glória mais do que todos eles. Apesar ganos de Lúcifer. Infiltrou na mente
disso, o Filho de Deus era mais exal- deles a desconfiança e o desconten-
tado do que ele. “Por que”, perguntava tamento de forma tão astuta que
esse poderoso anjo, “deveria Cristo não perceberam o que ele estava fa-
ter a supremacia?” zendo. Lúcifer apresentou os propó-
Lúcifer saiu então para espalhar o sitos de Deus sob uma falsa luz para
espírito de descontentamento entre que os anjos ficassem pouco a pouco
os anjos. Durante algum tempo, es- aborrecidos e insatisfeitos. Ao mesmo
condeu seu verdadeiro propósito, fin- tempo que alegava ser totalmente leal
gindo ser reverente para com Deus. a Deus, insistia em afirmar que mu-
Disfarçadamente ele começou a danças eram necessárias para a esta-
plantar dúvidas com respeito às leis bilidade do governo divino. Assim,
que governavam os seres celestiais, enquanto promovia a discórdia às

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escondidas e a rebelião, ele fazia pare- os deveria reconhecer diante de todo
cer que seu único objetivo era promo- o Céu. Se ele tivesse feito isso, pode-
ver a lealdade e preservar a harmonia ria ter salvado a si mesmo e a muitos
e a paz. anjos. Se estivesse disposto a se voltar
Embora não houvesse uma rebelião para Deus, satisfeito por preencher o
declarada, a divisão de sentimentos lugar a ele designado no grande plano
crescia gradualmente entre os anjos. divino, teria sido reintegrado em suas
Alguns olhavam com simpatia para funções. Havia chegado o tempo para
as críticas e sugestões sutis de Lúcifer. uma decisão final; deveria se render à
Eles estavam descontentes, infelizes e soberania divina, ou se colocar em re-
insatisfeitos com o propósito de Deus belião aberta. Quase chegou à decisão
em exaltar a Cristo. Entretanto, os de voltar; mas o orgulho o impediu.
anjos que eram leais defenderam a sa- Era um sacrifício grande demais para
bedoria e a justiça do decreto divino. quem foi tão altamente honrado con-
Cristo era o Filho de Deus, um com Ele fessar que tinha cometido um erro!
antes que os anjos fossem chamados à Lúcifer apontou a longanimi-
existência. Ele sempre estivera à direita dade de Deus como uma prova da
do Pai. Por que precisava haver discór- superioridade de si mesmo e não do
dia agora? Criador, uma indicação de que o Rei
Deus foi muito paciente com do Universo aceitaria suas condições.
Lúcifer. O espírito de descontenta- Se os anjos permanecessem firmes
mento era um elemento novo, estra- com ele, declarou, poderiam ainda
nho e inexplicável. O próprio Lúcifer conseguir tudo o que desejassem.
não percebeu para onde estava sendo Entregou-se totalmente ao grande
levado. Mesmo assim, esforços que conflito contra o seu Criador. Assim,
somente o amor e a sabedoria infi- Lúcifer, o “portador de luz”, tornou-se
nitos poderiam revelar foram feitos Satanás, “o adversário” de Deus e dos
para convencê-lo de seu erro. Ele foi seres santos.
levado a ver qual seria o resultado de
persistir em revolta. Satanás Lidera a Rebelião
Lúcifer estava convencido de que Ao rejeitar com desprezo os ape-
não tinha razão. Viu que “o Senhor los dos anjos que permaneceram fiéis,
é justo em todos os Seus caminhos ele os chamou de escravos iludidos.
e é bondoso em tudo o que faz” Nunca mais reconheceria a supre-
(Sl 145:17), que os estatutos divi- macia de Cristo. Resolveu reclamar
nos são justos e que, como tais, ele a honra que deveria ter sido conferida
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a ele. Prometeu àqueles que entras- espírito de descontentamento re-


sem em suas fi leiras um governo sultasse em revolta completa. Era
novo e melhor. Disse que todos te- necessário que seus planos se desen-
riam liberdade. Um grande número volvessem completamente a fim de
de anjos declarou seu propósito de que todos pudessem ver sua verda-
aceitá-lo como chefe. Lúcifer esperava deira natureza. O governo de Deus
conquistar todos os anjos para o seu incluía não somente os habitantes do
lado. Queria se tornar igual ao pró- Céu, mas todos os mundos que Ele
prio Deus e ser obedecido por todo tinha criado. Lúcifer concluiu que,
o exército celestial. Os anjos fiéis se ele havia conseguido convencer os
ainda insistiam com ele e seus sim- anjos do Céu à rebelião, poderia tam-
patizantes para que se submetessem bém convencer os outros mundos.
a Deus, apresentando-lhes o resul- Todos os seus atos eram de tal ma-
tado inevitável caso se recusassem. neira revestidos de mistério, que era
Advertiram todos a fechar os ouvidos difícil tornar clara a verdadeira natu-
ao raciocínio enganador de Lúcifer, reza de sua obra. Mesmo os anjos fiéis
insistiram com ele e seus seguido- não conseguiam discernir completa-
res para que buscassem a presença mente o seu caráter ou ver para onde
de Deus sem demora e confessassem sua obra estava levando. Tudo o que
o erro de questionar Sua sabedoria e era simples ele envolvia em mistério
autoridade. e, distorcendo a verdade, lançava dú-
Muitos ficaram inclinados a se ar- vida sobre as mais claras afirmações
repender de seu descontentamento feitas por Deus. Sua elevada posição
e ser recebidos novamente no favor dava maior força às suas afirmações.
do Pai e de Seu Filho. Lúcifer, porém,
declarou que os anjos que se uniram Deus Não Destruiu Satanás
a ele tinham ido muito longe para Enquanto Deus podia empregar
retroceder; Deus não os perdoa- apenas métodos que fossem coeren-
ria. Quanto a ele, estava decidido a tes com a verdade e a justiça, Satanás
nunca mais reconhecer a autoridade usava o que Deus não usaria – a ba-
de Cristo. A única opção que restava julação e o engano. Portanto, era
era exigir sua liberdade e adquirir, necessário demonstrar não só aos
pela força, os direitos que não lhes habitantes do Céu, mas a todos os
haviam sido concedidos. mundos, que o governo de Deus é
Deus permitiu que Satanás le- justo, que Sua lei é perfeita. Satanás
vasse avante sua obra até que o fez parecer que era ele quem estava

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procurando promover o bem do alguns teriam servido a Deus pelo
Universo. Seu verdadeiro caráter temor em vez de o fazerem por amor.
devia ser compreendido por todos. A influência do enganador não teria
Era necessário que ele tivesse tempo sido completamente destruída, tam-
para se manifestar por meio de suas pouco o espírito de rebelião teria
obras perversas. sido eliminado. Para o bem de todo
Ele declarou que todo o mal era o o Universo, ao longo dos séculos
resultado da administração divina; sem fim, ele deveria desenvolver mais
era seu objetivo aperfeiçoar os es- completamente seus princípios, a fim
tatutos de Deus. Por isso, Deus per- de que suas acusações contra o go-
mitiu que Lúcifer demonstrasse a verno divino pudessem ser vistas sob
natureza de suas pretensões, a fim sua verdadeira luz, e para que a jus-
de mostrar o efeito das mudanças por tiça de Deus, bem como a imutável
ele propostas na lei divina. Sua obra natureza de Sua lei, não pudessem
deveria condená-lo. Era preciso que nunca mais ser questionadas.
todo o Universo visse o enganador A rebelião de Satanás deveria ser
desmascarado. uma lição para o Universo, durante
todos os tempos que viriam – um tes-
Por que Deus Não temunho perpétuo da natureza do
Destruiu Satanás? pecado e de seus terríveis resultados.
Mesmo depois que foi expulso do Assim, a história dessa experiência
Céu, a Sabedoria infinita não destruiu com a rebelião seria uma eterna de-
Satanás. A fidelidade das criaturas de fesa a todos os seres santos para im-
Deus deve estar baseada na certeza pedir que fossem enganados quanto
de Sua justiça e amor. Seria difícil à natureza da transgressão.
para os habitantes do Céu e dos mun- “As Suas obras são perfeitas, e
dos não caídos ver a justiça de Deus todos os Seus caminhos são justos.
na destruição de Satanás. Se ele ti- É Deus fiel, que não comete erros;
vesse sido imediatamente destruído, justo e reto Ele é” (Dt 32:4).
2
*
A Criação
“M ediante a palavra do
Senhor foram feitos
os céus, e os corpos celestes, pelo
Deus o homem à Sua imagem, à
imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou” (Gn 1:26, 27).
sopro de Sua boca. Pois Ele falou, e De uma forma bem clara está
tudo se fez; Ele ordenou, e tudo sur- estabelecida a origem da raça hu-
giu” (Sl 33:6, 9). mana. Deus nos criou à Sua ima-
Quando a Terra saiu das mãos de gem. Não há razão para supor que
seu Criador, era extraordinariamente evoluímos por meio de lentos graus
bonita. Por toda parte, o solo fértil de desenvolvimento, a partir das
produzia uma vegetação exuberante. formas inferiores da vida animal
Não existiam pântanos lamacentos ou vegetal. A Palavra inspirada des-
nem desertos áridos. Arbustos gra- creve a origem da nossa raça não
ciosos e flores delicadas agradavam a como estando relacionada ao de-
vista por toda a parte. O ar era puro senvolvimento de uma linhagem
e saudável. A paisagem era mais bo- de germes, moluscos e quadrúpe-
nita do que os terrenos ornamenta- des, mas ao grande Criador. Embora
dos do palácio mais luxuoso. tendo sido formado do pó, Adão era
Depois que a Terra foi chamada “fi lho de Deus” (Lc 3:38).
à existência, repleta de todo tipo de Os seres criados de ordem infe-
vida animal e vegetal, o homem – a rior não podem compreender o con-
obra-prima do Criador – entrou em ceito de Deus; no entanto, foram
cena. “Então disse Deus: ‘Façamos o feitos com a capacidade de amar
homem à Nossa imagem, conforme e servir ao homem. “Tu o fizeste
a Nossa semelhança. Domine ele dominar sobre as obras das Tuas
sobre […] toda a Terra […]. Criou mãos; sob os seus pés tudo puseste:
* Este capítulo é baseado em Gênesis 1 e 2.

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[…] e até os animais selvagens, as em amor e simpatia. Eva foi criada de
aves do céu” (Sl 8:6-8). uma costela tirada do lado de Adão.
Somente Cristo é “a expressão Ela não deveria dominar, como a ca-
exata” (Hb 1:3) do Pai, mas Adão e beça, nem ser pisada sob seus pés,
Eva foram formados à semelhança como se fosse inferior, mas devia
de Deus. Sua natureza estava em estar ao seu lado, como sua igual,
harmonia com a vontade de Deus, amada e protegida por ele. Ela era
sua mente era capaz de compreen- o seu segundo eu, mostrando isso
der os propósitos divinos. Suas a união íntima que deveria existir
afeições eram puras; o apetite e as nesse relacionamento. “Além do mais,
paixões estavam sob o domínio ninguém jamais odiou o seu próprio
da razão. Eles eram santos e feli- corpo, antes o alimenta e dele cuida”
zes por terem em si a imagem de (Ef 5:29). “Por essa razão, o homem
Deus e obedecerem à Sua vontade deixará pai e mãe e se unirá à sua mu-
perfeitamente. lher, e eles se tornarão uma só carne”
Quando nossos primeiros pais (Gn 2:24).
saíram das mãos do Criador, a face “O casamento deve ser honrado
deles irradiava a luz da vida e da ale- por todos” (Hb 13:4). É uma das duas
gria. Adão era muito mais alto que instituições que, depois da queda,
os homens que vivem atualmente. Adão trouxe consigo para além dos
Eva era um pouco menor em altura; portais do Paraíso. Quando os prin-
porém, suas formas eram nobres e cípios divinos são reconhecidos e obe-
cheias de beleza. Esse casal, sem pe- decidos, o casamento se torna uma
cado, não usava roupas artificiais; bênção; preserva a pureza e felicidade
eles estavam vestidos de uma co- do gênero humano e eleva a natureza
bertura de luz, semelhante à que física, intelectual e moral.
os anjos usam. “Ora, o Senhor Deus tinha plan-
tado um jardim no Éden, para os
O Primeiro Casamento lados do leste, e ali colocou o homem
Depois da criação de Adão, “o que formara” (Gn 2:8). Nesse jardim
Senhor Deus declarou: ‘Não é bom havia árvores de toda espécie, muitas
que o homem esteja só; farei para ele delas carregadas de frutos deliciosos.
alguém que o auxilie e lhe corres- Lindas videiras cresciam eretas, com
ponda’” (Gn 2:18). Deus deu a Adão seus ramos pendendo sob o peso de
uma companheira que lhe correspon- frutos saborosos. O trabalho de Adão
desse, que poderia ser uma com ele, e Eva era moldar os ramos da videira,
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formando caramanchões, para faze- criação de Deus, mas para que seu co-
rem assim, com árvores vivas, um lar ração se enchesse de amor e reverên-
para eles morarem sob as árvores co- cia para com o Criador.
bertas de folhas e frutos. No meio do O sábado foi dado para toda
jardim estava a árvore da vida, supe- a família humana. Ao observá-lo,
rando em beleza a todas as outras ár- as pessoas demonstrariam, cheias
vores. Seu fruto tinha a propriedade de gratidão, seu reconhecimento a
de manter a vida para sempre. Deus como seu Criador e legítimo
“Assim foram concluídos os céus Soberano. Que elas eram obra das
e a Terra, e tudo o que neles há” Suas mãos e sujeitas à Sua autoridade.
(Gn 2:1). “E Deus viu tudo o que havia Deus viu que o sábado era muito
feito, e tudo havia ficado muito bom” importante para os seres humanos,
(Gn 1:31). Nenhuma mancha de pe- mesmo no Paraíso. Deveriam deixar
cado ou sombra da morte desfigurava de lado os próprios interesses du-
a bela criação. “As estrelas matutinas rante um dos sete dias. Precisavam
juntas cantavam e todos os anjos se de um sábado que os fizesse se lem-
regozijavam” (Jó 38:7). brar de Deus e despertasse neles a
gratidão, pois tudo o que desfruta-
A Bênção do Sábado vam vinha das mãos do Criador.
Em seis dias a grande obra da É plano de Deus que o sábado di-
criação foi finalizada. Deus “nesse rija a nossa mente para as obras que
dia descansou. Abençoou Deus o sé- Ele criou. A beleza que reveste a Terra
timo dia e o santificou, porque nele é um testemunho do amor de Deus.
descansou de toda a obra que reali- As colinas eternas, as altas árvores,
zara na criação” (Gn 2:2, 3). Tudo era o botão que desabrocha e as deli-
perfeito, digno de seu divino Autor; e cadas flores, tudo nos fala de Deus.
Ele descansou, não como alguém que O sábado, que aponta para Aquele
estivesse cansado, mas satisfeito com que tudo fez, também nos convida a
o trabalho realizado, fruto de Sua sa- abrir o grande livro da natureza e en-
bedoria e bondade. contrar nele a sabedoria, o poder e o
Depois de repousar no sétimo amor do Criador.
dia, Deus o separou como um dia de Nossos primeiros pais foram
descanso. Seguindo o exemplo do criados inocentes e santos, mas não
Criador, os seres humanos deveriam estavam isentos da possibilidade
repousar nesse dia santo, não só para de praticar o mal. Deus os fez seres
que pudessem refletir sobre a obra da morais livres. Eles podiam escolher

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obedecer ou desobedecer. Antes de tendência para o mal. Apresentou a
estarem eternamente seguros, a sua eles as mais fortes motivações possí-
lealdade deveria ser provada. Logo veis para que se mantivessem fiéis. A
no início, quando o homem passou obediência era a condição para a felici-
a existir, Deus colocou uma restri- dade eterna e o acesso à árvore da vida.
ção ao desejo de satisfação própria, O lar de nossos primeiros pais
um sentimento fatal que constituiu a deveria ser um modelo para outros
base da queda de Lúcifer. A árvore do lares, quando seus fi lhos saíssem para
conhecimento devia se tornar uma ocupar a Terra. Hoje, as pessoas se or-
prova da obediência, fé e amor de gulham dos edifícios magnificentes
nossos primeiros pais. Estavam proi- e casas riquíssimas que constroem,
bidos de provar do fruto dessa ár- gloriando-se nas obras das próprias
vore, sob pena de morte. Precisavam mãos, mas Deus colocou Adão em um
ser expostos às tentações de Satanás; jardim. Esta era uma lição para todos
porém, se suportassem a prova, se- os tempos – a verdadeira felicidade
riam colocados fora do seu poder, não é encontrada na satisfação do or-
para desfrutarem eternamente o gulho e do luxo, mas na comunhão
favor de Deus. com Deus por meio das obras que Ele
criou. O orgulho e a ambição nunca
O Belo Jardim do Éden serão satisfeitos; porém, as pessoas
Deus colocou os seres humanos verdadeiramente sábias encontrarão
sob a lei, súditos do governo divino. prazer real nas fontes de alegria que
Ele poderia tê-los criado sem a facul- Deus colocou ao alcance de todos.
dade de transgredir a lei. Poderia ter Ao casal no Éden foi confiado o
evitado que tocassem no fruto proi- jardim “para cuidar dele e cultivá-lo”.
bido; mas, nesse caso, Adão e Eva Deus designou o trabalho como uma
não passariam de meros robôs. Se bênção para ocupar a mente, forta-
eles não tivessem liberdade de es- lecer o corpo e desenvolver as suas
colha, sua obediência seria forçada. habilidades. Por meio da atividade
Isso seria contrário ao plano de Deus, mental e física, Adão encontrava um
seria indigno dos seres humanos dos maiores prazeres de sua santa
por Ele criados e teria reafirmado a existência. É um erro considerar o
acusação feita por Satanás de que o trabalho uma maldição, mesmo que
governo de Deus não era justo. ele traga cansaço e dor. Há pessoas
Deus fez os nossos primeiros ricas que olham com desprezo para as
pais pessoas corretas, sem nenhuma classes trabalhadoras, mas isso não
A Criação 21

está em harmonia com o propósito As leis da natureza estavam abertas


de Deus ao criar o homem. Adão não à sua mente pelo infinito Criador e
deveria ficar na ociosidade. Nosso Mantenedor de todas as coisas. Cada
Criador, que compreende o que é me- criatura vivente, desde a poderosa
lhor para a nossa felicidade, designou baleia que vive nas águas dos ocea-
a Adão o seu trabalho. A verdadeira nos até o minúsculo inseto que flu-
alegria da vida é encontrada apenas tua em um raio de sol, eram todos
por homens e mulheres que se dedi- familiares para Adão. Ele deu a cada
cam ao trabalho. O Criador não pre- um o seu nome e conhecia a natu-
parou nem um espaço sequer para a reza e os hábitos de todos. Em cada
prática da preguiça. folha da floresta, em cada estrela,
Adão e Eva, como santo par, eram na terra, no ar e no céu, em tudo
não apenas fi lhos sob o paternal cui- estava escrito o nome de Deus.
dado de Deus, mas estudantes que A ordem e a harmonia da criação fa-
recebiam instruções diretamente lavam da infinita sabedoria e poder.
do Criador, que é plenamente sábio. Enquanto Adão e Eva permane-
Eles eram visitados pelos anjos e cessem fiéis à lei divina, eles esta-
tinham o privilégio de conversar riam constantemente adquirindo
face a face com Aquele que os havia novos tesouros do conhecimento,
criado. Estavam cheios do vigor for- descobrindo novas fontes de felici-
necido pela árvore da vida, sua ca- dade e obtendo compreensões cada
pacidade intelectual era somente vez mais claras do imensurável e in-
um pouco menor que a dos anjos. falível amor de Deus.

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