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CADERNO DE ESTUDOS

Ficha Técnica

Subsídios para o estudo do Tema e Lema do Biênio 2023-2024

Arte do Tema e Lema 2023-2024:


Mythos Comunicação

Elaboração dos textos:


Clovis Horst Lindner, Joni Schneider, Wilhelm Wacholz, Martin Dreher, Mário
Tessmann, Rodolfo Gaede, Roger Wanke, Soraya Eberle, Osmar Witt, Lucia Roe-
sel, Márcia Paixão, Leonídio Gaede, Renato Raasch, Gérson Acker, Edson Márcio
Reginaldo, Bianca Daiane Ucker Weber, Eloir Enio Weber, Valdemar Schultz, Maira
Weyrich Sträher , Leandro Luis da Silva, Daniel Pagung.

Equipe de coordenação e revisão:


Carla Vilma Jandrey, Carmen Michel Siegle, Daniela Hack, Emílio Voigt, Erli
Mansk, Joni Roloff Schneider, Gabriela Giese, Margret Reus, Maria Dirlane Witt,
Martina Wrasse Scherer, Odair Braun, Olmiro Ribeiro Júnior, Paulo Afonso Butzke,
Simone Engel Voigt e Wagner Petry Moraes.

Coordenação geral:
Paulo Afonso Butzke – Núcleo de Produção e Assessoria da IECLB (NPA)

Revisão ortográfica:
Luis Marcos Sander

Projeto gráfico:
Mythos Comunicação

Acesse os materiais da campanha no Portal Luteranos: www.luteranos.com.br


Sumário

Apresentação 4
Texto-base - Tema do Ano 2023-2024 5
Liturgia do Tema do Biênio 2023-2024 9
Somos Igreja de Cristo - Melodia Cifrada 14
Somos Igreja de Cristo - Arranjo para Coro e Acompanhamento 15
Somos Igreja de Cristo - Arranjo para Grupos de Metais 16
Leitura e Releitura do Cartaz 17
Linha do Tempo 24
Reflexões sobre o Tema do Biênio e a Constituição da IECLB 29
História e Teologia do Primeiro Artigo da Constituição da IECLB 30
Teologia do 3o e 6o Artigos da Constituição da IECLB 35
O Lema Bíblico do Biênio 2023-2024 41
Subtemas e Subsídios 47
A Gratidão pela Nossa História 47
1. A Gratidão pela Ação de Deus - Salmo 106 47
2. Até aqui me Trouxe Deus - Reflexão sobre o Hino LCI 470 53
3. A História da IECLB e a História de Nossa Comunidade - Um Seminário para a
comunidade local 59
A identidade da IECLB e sua participação na missão de Deus hoje 63
1. Comunhão solidária: A identidade da Igreja e seu propósito segundo Atos 2.42-47 63
2. Casa de pedras vivas: A identidade da Igreja e seu propósito, segundo 1 Pe 2.4-10 69
3. A identidade de nossa comunidade na missão de Deus: Um seminário para a
comunidade local 72
Nosso Compromisso com o Futuro 79
1. Olhos voltados para o futuro: A Grande Comissão em Mateus 28.16-20 79
2. Sonhar igreja e atravessar o teto 84
3. O futuro da IECLB e o futuro de nossa comunidade: Um seminário para a
comunidade local 86

Atividades relacionadas ao tema e ao lema do ano para instituições educacio-


nais da rede sinodal de educação e outros grupos 91
Apresentação 92
1. Introdução geral sobre o tema e o lema 93
2. Atividades para a Educação Infantil 95
3. Atividades para o Ensino Fundamental - Anos iniciais 98
4. Atividades para o Ensino Fundamental - Anos finais 102
4. Atividades para o Ensino Médio 104
Celebração com professoras e professores 107
Apresentação

Com o Tema do Biênio 2023-2024 ingressamos definitivamente na celebração dos 200


anos de história da IECLB. Tema e lema escolhidos são os seguintes:
Tema do Ano 2023-2024: IECLB. Igreja de Jesus Cristo.
Lema bíblico de 2023-2024: Vocês são o sal da terra. Vocês são a luz do mundo.
(Mt 5. 13-14)
Em 2024 a IECLB celebra com gratidão o jubileu de 200 anos da fundação de suas
primeiras comunidades, em Nova Friburgo (RJ) e em São Leopoldo (RS). Assim iniciou o
caminho da IECLB, sempre movida pelo desejo de suas comunidades de ser sal em terras
brasileiras e luz a apontar para o evangelho de Jesus Cristo. Ao longo da caminhada, sua
identidade foi ficando cada vez mais clara: somos igreja de Jesus Cristo em nosso país. De
igual forma, a IECLB sempre se sentiu desafiada pelo Senhor da igreja a viver a missão
que dele recebeu: ser sal da terra e luz do mundo (Mt 5. 13-14). Tema e Lema do Biênio
2023-2024, portanto, nos convidam a refletir sobre a identidade e a missão da IECLB.
Vamos louvar a Deus, pela sua presença amorosa junto à vida de pessoas, vindas de
terras distantes ao Brasil, que não abriram mão da vivência de fé evangélico-luterana.
Hoje, como IECLB, ao celebrar 200 anos de presença luterana no Brasil, agradecemos a
Deus pela sua ação na história, pela sua força, luz na vida das pessoas e comunidades. Na
certeza da presença de Deus desde o início, queremos pedir que nos fortaleça para con-
tinuarmos a ser IGREJA EVANGÉLICA de CONFISSÃO LUTERANA NO BRASIL- Igreja de Jesus
Cristo, agora e no futuro, reafirmando nossa identidade, participando na missão de Deus.
A cada ano o caderno de estudos do Tema do Ano auxilia comunidades, paróquias, sí-
nodos e instituições da IECLB a refletirem a respeito do Tema e do Lema bíblico propostos.
É importante instrumento na formação e na construção da unidade da igreja. Alegramo-
-nos em colocar o presente caderno de estudos em suas mãos. Agradecemos a todas as
pessoas que se engajaram e contribuíram para que ele se tornasse realidade. E desejamos
a todas as pessoas que utilizarem os textos, estudos, subsídios, liturgias e propostas meto-
dológicas um uso abençoado que promova o diálogo e a ação.

Pa. Sílvia Beatrice Genz


Pastora Presidente da IECLB
Texto-base – Tema do Biênio 2023-2024
Presidência da IECLB, Porto Alegre/RS

TEMA: IECLB. Igreja de Jesus Cristo. é o fundamento e o Senhor da igreja.


LEMA: Vocês são o sal da terra. Vocês são a Como Lema bíblico, a Presidência da
luz do mundo. (Mateus 5.13-14) IECLB escolheu uma palavra de Cristo
com a qual ele desafia seus discípulos
PALAVRAS INTRODUTÓRIAS e discípulas: “Vocês são o sal da terra.
Vocês são a luz do mundo” (conforme
1. Em 2024, as comunidades da IECLB Mateus 5.13-14). Tema e Lema bíblico,
irão celebrar o jubileu de 200 anos de portanto, se complementam. Enquanto
história em nosso país. O objetivo geral que o tema declara o que é a igreja e
do planejamento do jubileu afirma o o que a constitui, o lema bíblico afirma
caráter desta celebração: “celebrar, para que ela existe neste mundo. Ao
com gratidão, os 200 anos de presen- longo do Biênio 2023-2024, teremos
ça luterana no Brasil, fortalecendo sua a oportunidade de refletir no contexto
visibilidade, relevância e crescimento do jubileu de 200 anos, a respeito da
integral”. Além da ação de graças pela identidade e do propósito da IECLB.
história percorrida e da afirmação da
identidade de nossa igreja na missão IECLB. IGREJA DE JESUS CRISTO.
de Deus no presente, também deseja-
mos refletir a respeito de nossos cami- 4. Quando em 1949 foi constituída a
nhos futuros. Federação Sinodal - IECLB, as pessoas
representantes dos sínodos afirmaram
2. Em abril de 2022, por ocasião do lan- que a IECLB é igreja de Jesus Cristo no
çamento do selo comemorativo do Brasil. Expressavam, assim, a convic-
jubileu de 200 anos da IECLB, foi es- ção de que as comunidades, sínodos e
tabelecido o slogan “IECLB. Igreja de igreja de abrangência nacional não tem
Jesus Cristo” para nortear a celebra- sua origem na decisão e no empenho
ção. Trata-se de citação direta do artigo de seus membros, mas na intenção
1º da Constituição da IECLB.1 Ao definir salvadora de Deus manifestada em
o tema do ano, a Presidência da Igreja Jesus Cristo. Naqueles tempos de rede-
julgou importante utilizar o mesmo finição teológica, o texto de 1 Coríntios
slogan como Tema para o Biênio 2023- 3.11 – “ninguém pode lançar outro
2024. Desta forma, as ações previstas fundamento, além do que foi posto,
no planejamento do jubileu de 200 o qual é Jesus Cristo” – adquiriu fun-
anos e a reflexão do Tema e Lema do ção programática. A partir deste texto,
Biênio estarão em sintonia, apoiando- redefiniu-se a base teológica da igreja
-se mutuamente. e elaborou-se a visão para seu futuro.

3. O Tema do Biênio afirma a identidade 5. O P. Ernesto Schlieper, primeiro vice-


da IECLB: ser igreja de Jesus Cristo. Ele -presidente da IECLB naqueles anos,
5
disse: “Cristo é o único fundamento da 2.5), pessoas que pela fé em Cristo
igreja. E pertencer a esta igreja é sa- tornam-se sacerdotes e sacerdotisas e
ber-se edificado sobre este fundamen- se engajam com seus dons pessoais na
to, não por nossa vontade ou decisão igreja e na sociedade. A igreja de Cristo
(...) A igreja em sua ação só pode é uma comunhão sacerdotal à serviço
querer tornar visível o fundamento no da missão de Deus neste mundo. A de-
qual tem a sua existência; ela quer ser finição da missão que a IECLB assume
um sinal no mundo, quer ser teste- está descrita nos artigos 3º e 6º de sua
munha (...) que em Jesus Cristo Deus Constituição.
vem ao nosso encontro e nos salva
em sua morte e ressurreição. Dessa VOCÊS SÃO O SAL DA TERRA. VOCÊS SÃO A
mensagem, dessa palavra que Deus LUZ DO MUNDO (conforme Mateus 5.13-14)
pronunciou em Cristo, vive a igreja“.2
Cada nova geração da IECLB tem a ta- 7. Após o seu batismo, Jesus inicia seu
refa de continuar edificando sobre este ministério na Galileia. Anuncia que as
fundamento. É necessário que tenham pessoas que vivem na escuridão e à
o discernimento humilde para o fato margem, irão experimentar grande
de “que a tarefa de edificarmos a sua luz, assim como prometido em Isaías
igreja ... é uma tarefa além e acima 8: “O povo que vivia em trevas viu
de todas as nossas possibilidades. Mas grande luz, e aos que viviam na região
somente assim, Cristo quer utilizar-se e sombra da morte resplandeceu-lhes
de nós. Lembremo-nos, pois, sempre, a luz.” A luz que a partir de agora irá
de que o fundamento já foi posto por brilhar na vida das pessoas, provém da
Deus mesmo, e esse fundamento é tal graça de Deus presente na atuação de
que todo nosso fazer e edificar só pode Jesus. Ele resume seu ministério com
consistir em segui-lo...”. a proclamação desafiadora: “Arrepen-
dam-se, porque está próximo o Reino
6. Em suas cartas, o apóstolo Paulo deixa dos Céus” (Mt 4. 17). A presença salva-
claro que o fundamento da igreja não é dora de Deus em Jesus traz uma nova
algo estático como nas demais constru- realidade e exige conversão e mudança
ções humanas. Ele é o “poder de Deus” de vida.
(Rm 1.16; 1Co 1.24), é a presença do
Cristo vivo na igreja. Na tradição con- 8. Jesus chama pessoas para deixarem
fessional luterana, expressamos esta suas vidas cotidianas e acompanhá-lo
presença salvadora de Cristo apon- em seu ministério. “Venham comigo, e
tando para a pregação da Palavra e a eu os farei pescadores de gente”, diz
administração os Sacramentos. Através aos irmãos Pedro e André, pescadores
destes meios, o Espírito Santo cria a de profissão no mar da Galileia. Depois,
fé e a comunhão do corpo de Cristo. A chamou Tiago e João e muitas outras
igreja e cada uma de suas comunida- pessoas – e todas “seguiram Jesus”
des é templo, santuário do Deus vivo, (Mt 4.18.-22). Os Evangelhos narram
um espaço de salvação neste mundo que Jesus percorria as vilas e as cida-
(1 Co 3.16). Este templo destinado ao des pregando a boa nova do Reino de
encontro com Deus, igualmente não é Deus, ensinando a vontade de Deus,
uma construção estática. É um santuá­ curando doentes e restaurando pesso-
rio edificado com “pedras vivas” (1 Pe as. Não é por acaso que muitas pesso-
6
as, multidões, queriam estar com Jesus o testemunho cristão no mundo. Um
e buscavam a sua presença salvadora. grande desafio!

9. No capítulo 5 do Evangelho de Mateus, 11. Ser luz do mundo não é menos desa-
a cena muda totalmente. Jesus não fiador. Porém, é preciso levar em conta
está mais em meio ao povo, cercado que aquele que dá este encargo é, em
por multidões. Procurou um lugar soli- verdade, a luz do mundo (Jo 8.12; Mt
tário para estar a sós com seus discípu- 4.16). Discípulos e discípulas refletem
los. É provável que bem mais pessoas a luz de seu Senhor e assim cumprem
do que os doze discípulos nominados importante função de dissipar as trevas
nos Evangelhos estivessem presentes do mundo. Esta metáfora também é
neste momento. Pois, ao lado destes plena de significados para o discipu-
ainda havia muitas pessoas que se- lado. A luz, por mais tênue que seja,
guiam Jesus - homens e mulheres que, oferece orientação em meio à escu-
no entanto, permaneceram em suas ridão. O testemunho cristão, através
vidas cotidianas, em suas famílias e de palavras, obras e atitudes serve de
profissões. O Sermão da Montanha que guia para que as pessoas encontrem o
se segue (Mt 5-7), é ensino para as caminho da vida, encontrem a Deus.
pessoas discípulas. O ensino de Jesus Assim, o que está predito em Mt 4.15-
inicia com as bem-aventuranças. Elas 16 acontece, ainda hoje, em nossa
falam do estilo de vida de quem se- realidade.
gue a Jesus e vive na luz do Reino de
Deus. Não são legalistas. Cativam pela 12. Tema e Lema do Biênio 2023-2024
promessa de uma vida feliz, bem-a- desejam guiar a IECLB na celebração
venturada. Não obstante, estão em de seu jubileu de 200 anos de história
contraposição com o mundo. Jesus pro- em terras brasileiras. Desta forma, o
põe humildade, esperança em meio a jubileu também adquire um caráter de
lágrimas, anima a manter acesa a cha- meditação sobre a jornada feita. Além
ma por paz e justiça, a praticar miseri- da ação de graças pela história percor-
córdia, a sensibilidade, a paz, a pureza, rida e da afirmação da identidade de
mesmo que isto signifique inimizade e nossa igreja na missão de Deus hoje,
perseguição por parte do mundo. também será uma oportunidade para
refletir a respeito dos caminhos futuros.
10. Para Jesus, discípulas e discípulos que
vivem as bem-aventuranças são “sal 13. O presente caderno de estudos dese-
da terra” e “luz do mundo”.4 Ele afirma ja fomentar esta reflexão através de
“vocês são” – uma expressão que de- uma série de subsídios. Após a liturgia
nota encargo e mandato. Sal e luz são do Tema do Biênio e a interpretação
símbolos poderosos para descrever a do cartaz, o caderno traz uma linha do
missão da igreja neste mundo. O sal na tempo dos 200 anos da IECLB. Após,
antiguidade tinha importantes funções: subsídios que auxiliam na compreen-
impedir a deterioração de alimentos, são do significado do Tema do Biênio a
servir como antisséptico, melhorar a partir da exposição da história dos Arti-
fertilidade do solo, expressar amiza- gos 1º, 3º e 6º da Constituição da IECLB,
de, fidelidade e acolhida, entre outras. artigos que definem a sua identidade
Todas estas funções são metáforas para e a sua missão. Na sequência, há a
7
reflexão a respeito do Lema bíblico do Os subsídios oferecidos refletem sobre
Biênio, o desafio de Jesus à sua igreja textos do Novo Testamento a respeito
em ser sal da terra e luz do mundo. A da identidade e do propósito da igre-
inter-relação entre o Tema do Biênio ja: 1 Pe 2. 4-10 e Atos 2.42-47. Estes
e o jubileu dos 200 anos também é textos oferecem imagens a respeito da
refletida nas seções que vem a seguir igreja de Jesus Cristo. Nestas imagens,
e que versam sobre os pontos já cita- podemos refletir nossos próprios an-
dos: a) a gratidão pela nossa história; seios e sonhos, bem como encontrar
b) a identidade de nossa igreja em sua orientações e desafios para a atuação
participação na missão de Deus hoje; c) da igreja hoje. Outro subsídio desta
nosso compromisso com o futuro. Tam- seção é a oferta de um seminário co-
bém neste ano, a Rede Sinodal elabo- munitário intitulado “A Identidade de
rou subsídios para uso nas instituições nossa comunidade na missão de Deus”.
educacionais que, no entanto, também O seminário convida a comunidade
podem ser utilizados com grande pro- local a refletir sobre sua atuação atual
veito nas comunidades e sínodos. na realidade em que está inserida.

14. A reflexão sobre o passado enseja 16. Um jubileu de 200 anos também é
gratidão pela ação de Deus em nossa uma grande oportunidade para refletir
história. Nesta seção o caderno de es- a respeito de nosso compromisso com
tudos oferece um estudo sobre o Salmo o futuro de nossa igreja. Nesta seção,
106, um salmo que tematiza a gratidão a inspiração também vem de textos
pela ação de Deus ao longo da história do Novo Testamento: Marcos 2.1-11
do povo de Israel, mas também deixa e Mateus 28.16-20. Enquanto que o
claro a importância da confissão de Marcos 2 nos desafia a encontrar so-
pecados por erros cometidos. Ademais, luções inusitadas que abram perspec-
oferece a meditação do hino “Até aqui tivas de futuro, o texto de Mateus nos
me trouxe Deus” (LCI 470), um hino convida a sermos igreja missionária.
inspirado em 1 Samuel 7.12 e mui- Outro subsídio desta seção é a oferta
to utilizado em jubileus ao longo da de um seminário comunitário denomi-
história do luteranismo. Outro subsídio nado “O futuro da IECLB e o futuro de
desta seção é a oferta de um seminário nossa comunidade”. Objetivo é refletir
comunitário intitulado “A história da IE- a respeito de visões e perspectivas de
CLB e a história de nossa comunidade”. futuro para a comunidade local e para
A realização deste seminário permitirá toda a igreja.
a comunidade local recontar a sua pró-
pria história e refletir sobre ela. 17. Desejamos às comunidades, paró-
quias, sínodos e instituições da IECLB
15. A reflexão sobre a identidade de nos- uma reflexão frutífera sobre o Tema
sa igreja e sua participação na missão e o Lema do Biênio 2023-2024. Que
de Deus hoje deseja compreender o sirva de fomento para uma celebração
presente, o momento atual da IECLB. significativa do jubileu dos 200 anos de
nossa igreja.

8
Liturgia do Tema do Biênio 2023-2024
Tema: “Vocês são o sal da Terra” Mateus 5. 13
Pela equipe do CONALIC (Conselho Nacional de Liturgia):
P. Daniel Pagung e P. Leandro Luís da Silva

PREPARAÇÃO DO AMBIENTE O sal é um elemento que dá sabor aos


alimentos. Vocês já tiveram a oportunidade
• Propomos entregar para cada pessoa, de comer um pouco de pipoca quando aqui
na recepção do culto, um pequeno chegaram. O que perceberam? Sim, a pipoca
saquinho de pipocas sem sal. Convide estava sem sal. E como é um mundo sem sa-
jovens, ou confirmandos e confirman- bor? No Evangelho de Mateus, Jesus diz para
das, para fazer a distribuição. os discípulos e discípulas: Vocês são o sal da
• Providencie uma parte de pipoca com terra. Vocês são a luz do mundo!
sal e outra sem sal e sacos pequenos Neste culto queremos meditar mais sobre
de papel. “ser sal” neste mundo. Sejam todos e todas
• Faça uma procissão de entrada com a bem-vindos e bem-vindas.
vela, a Bíblia e sal. Essa procissão pode
ser feita por crianças maiores, junta- Hino: LCI - 341 Amanhecer
mente com o ministro ou a ministra.
• Preparar a Santa Ceia com antecedên- Saudação apostólica
cia e solicitar que duas pessoas tragam
os elementos, o pão e o suco de uva, L.: Em nome e na presença de Deus
para o altar, no momento da música do criador, salvador e mantenedor da vida nos
ofertório. reunimos (+). Amém!
• No final do culto as pessoas presentes
receberão novamente um saquinho de Hino: LCI - 15 Em Tuas mãos
pipoca, mas agora salgada e saborosa
(cuidado para não salgar demais por Confissão de pecados
causa de pessoas hipertensas). A pro-
posta é que saibam diferenciar a pri- L.: Jesus Cristo diz que somos “sal da
meira desta última. terra”. A função do sal consiste em dar sa-
bor à comida e conservar os alimentos. O sal
evita o apodrecimento da comida e o gosto
LITURGIA DE ABERTURA insípido. Como comunidade cristã, chamada
a ser sal da terra, assistimos no dia a dia à
Acolhida deterioração dos valores éticos no mundo e
na nossa sociedade. Diante disso, o que faze-
L.: “Vocês são o sal da Terra”. Essas mos ou deixamos de fazer?
palavras, que encontramos no Evangelho de
Mateus 5.13, querem ser nossa inspiração Primeiramente, cada qual faz sua oração
para este culto do Tema do Ano da nossa individual silenciosa; em seguida, oremos
Igreja (IECLB). em conjunto.
9
(Silêncio!) pessoas de fé, chamadas a ser sal da terra,
não nos conformamos com a violência, a in-
Oremos: justiça, os preconceitos e as mentiras destrui-
L.: Misericordioso Deus, chegamos diante doras, transformadas em verdades. Por isso,
de ti com o coração pesado e sobrecarregado nos inclinamos diante de Deus e oramos:
pela culpa que nos aflige. Sabemos muito
bem que não fazemos a tua vontade, so- Hino: LCI 53 – Kyrie
mos fracos e fracas em nosso testemunho.
Deixamos nossa timidez na fé falar mais Glória
alto. Sabemos que não nos empenhamos na
missão que nos deste de ser sal da terra e Louvemos a Deus pelo seu amor, sua bon-
luz do mundo. Deixamos de dar mais sabor dade e misericórdia. É Ele quem, por meio
a esse mundo com nossas ações e, assim, do seu Filho Jesus, restaura a vida, e com o
contribuímos para que a nossa realidade seja Espírito Santo espalha o bom sabor da sua
insípida. Perdoa-nos, ó Deus, pelas vezes que palavra no mundo. Na certeza de que o trino
deixamos a correria do dia a dia ocupar o es- Deus nos ampara e nos sustenta em todos os
paço que tu deverias ocupar. Reconhecemos momentos da vida, sigamos no testemunho
que pecamos contra ti e contra as pessoas dessa fé.
quando deixamos de promover a vida digna,
coerente com os valores do teu evangelho. Hino: LCI 69 – Povos da Terra
Por isso, te pedimos, tem misericórdia de nós
e perdoa nossos pecados, quando juntos e Oração do dia
juntas cantamos.
Bondoso Deus, orienta-nos através da tua
Hino: LCI 34 – Concede o teu perdão palavra. Que ela nos dê sabedoria e discer-
nimento para desempenharmos nosso papel
Palavra de absolvição de ser sal e dar um sabor diferente em meio
à realidade na qual vivemos, que, por vezes,
L.: “Portanto, aproximemo-nos do trono é dolorosa e sofrida. Abre nossos corações e
da graça com confiança, a fim de recebermos ouvidos para aquilo que tens a nos ensinar.
misericórdia e encontrarmos graça para aju- Por Cristo Jesus, teu Filho, nosso Salvador.
da em momento oportuno”. Hb 4.16 Amém.

L.: A todas as pessoas que confessaram LITURGIA DA PALAVRA


sinceramente os seus pecados e deles se
arrependeram, eu anuncio o perdão e a gra- Hino: LCI - 152 Pela Palavra de Deus
ça de Deus, em nome do Pai, do Filho e do
Espírito Santo (+). Amém. Leituras bíblicas

Kyrie Primeira leitura – Salmo 106


Segunda leitura – 1Pe 2.4-10
L.: A deterioração dos valores do evan- Leitura do Evangelho – Mateus 5.1,13 -16
gelho se mostra diante das situações de dor
e sofrimento especialmente causados pelas Hino: LCI - 186 Aleluia
ações humanas. São sinais de que a vida
perde o bom sabor dado pelo Criador. Como Mensagem (Leia os subsídios no Caderno
10
de Estudos do Tema do Ano 2023-2024, em Senhor, nós intercedemos pelas lideranças
especial, o estudo do Lema) de nossas comunidades e igreja, que estão
cansadas e sobrecarregadas ao ponto de desis-
Confissão de fé tir do chamado ao serviço. Acode-nos, Senhor.
Senhor, nós intercedemos e pedimos para
Hino (composição referente ao Tema do que renoves em nós a alegria e o encanta-
Ano) mento para sermos luz e sal neste mundo
escuro e sem sabor Acode-nos, Senhor.
Motivação e recolhimento das ofertas Senhor, nós intercedemos por todas as
pessoas que sofrem, incluindo (...). Acode-
Hino para as ofertas: LCI - 477 Obrigado -nos, Senhor.
Pai Celeste Amém!

Oração de intercessão LITURGIA DA CEIA

Nossa gratidão: (Durante o hino que segue, os elementos


Senhor Deus, agradecemos pelas dádi- da Ceia (pão e suco do fruto da videira) são
vas que dás criando e recriando a natureza levados ao altar. Pode-se convidar um casal
e tudo que existe. Somos imensamente da comunidade, bem como confirmandos ou
gratos e gratas pela dádiva da vida, pela mesmo crianças, para este momento.)
certeza do teu cuidado para com todos e
todas nós. Somos gratos e gratas por nos Hino: LCI - 218 Trazemos os frutos da Terra
fazeres teus discípulos e discípulas, sal e
luz neste mundo carente de bons exem- Preparo da mesa (pode ser dito pelo
plos e de bons testemunhos. Graças te casal que trouxe os elementos ou pela dupla
damos, Senhor. de confirmandos e confirmandas)
Senhor de bondade e graça, nós te agra-
decemos pela igreja que nos dás e, através Primeira pessoa: (apresenta o pão) Aqui
da qual, nos chamas a sermos sal que dá sa- trazemos o pão. Ele veio do trigo, dádiva da
bor ao mundo por meio de ações justas, por terra, sinal de tudo o que Deus nos dá para o
meio da solidariedade para com as pessoas sustento de nossas vidas. Seus grãos foram
que sofrem. Graças te damos, Senhor. moídos e sua massa bondosamente prepara-
Senhor misericordioso e amoroso, nós te da. Colocamos este pão neste altar, nas mãos
agradecemos pela oportunidade de sermos de Deus, para que Ele o use e, na Ceia do
sal, restaurados e restauradas por ti para Senhor, seja para nós o corpo de Cristo.
servir-te nesta sociedade. Dá-nos coragem
e determinação no servir. Graças te damos, Segunda pessoa: (apresenta o suco do
Senhor. fruto da videira) Aqui também trazemos o
suco do fruto da videira, que para nós é sinal
Nossos pedidos: de tudo que nos alegra na vida. Este fruto é
Senhor, nós intercedemos por todas as dádiva de Deus e resultado do trabalho hu-
pessoas que perderam o gosto pela vida, mano. Aqui o colocamos no altar do Senhor
que caminham errantes neste mundo, sem para que Deus o use e, na Ceia do Senhor,
coragem para mudar, muitas vezes já des- seja para nós bebida da salvação.
gastadas pela dor e pelo sofrimento. Acode-
-nos, Senhor. Hino: LCI – 223 Assim como as espigas
11
Oração eucarística Pai Nosso

L.: Querido Deus generoso e bondoso, és Fração: (elevando os elementos enquan-


digno de todo o nosso louvor, pois é da tua to diz as Palavras...)
vontade que todas as pessoas tenham o pão
diário e uma vida digna. Por isso nos cha- L.: O pão que partimos e acolhemos é a
mas para sermos luz neste mundo escuro de comunhão do corpo de Cristo. O cálice que
tantas injustiças e medos, e para sermos sal, compartilhamos é a comunhão do sangue de
que dá sabor à vida, testemunho e cora- nosso Senhor Jesus Cristo.
gem para ser influência de paz e de justiça
para todas as pessoas e para toda a tua boa C.: Nós, embora muitos e muitas, somos
criação. Por isso, juntos e juntas, cantamos o um só corpo.
sempre eterno hino:
L.: Cristo nos convida a nos alimentar
Hino: LCI - 237 Santo, Santo, Santo com a Ceia que Ele próprio nos oferece. Ele
é quem nos diz: “Venham a mim vocês que
L.: Nós te bendizemos e te adoramos, estão desanimados e desanimadas e eu ali-
pois sabemos que vens a nós e te tornas viarei vocês.” (Mateus 11.28). Venham, pois
presença real nesta comunhão, de acordo tudo já está preparado.
com a ação de Jesus, que, na noite em que
foi traído, tomou o pão, e tendo dado graças, Comunhão
repartiu com os seus discípulos e discípu-
las, dizendo: “Este é o meu corpo dado por Oração pós-comunhão:
vocês, façam isso, todas as vezes que come-
rem, em memória de mim”. De semelhante L.: Nós te agradecemos, Senhor Deus,
modo, após cear, tomou o cálice e o repartiu pela dádiva da Ceia e pela comunhão rece-
com seus discípulos e discípulas dizendo: bida. Abençoa nossa vida e caminhada de
“Tomam e bebam dele todos, este cálice é fé. Por meio de Jesus Cristo nosso Senhor e
a nova aliança no meu sangue, que é der- salvador. Amém.
ramado em favor de vocês, para a remissão
dos pecados de vocês, façam isso, todas as LITURGIA DE SAÍDA
vezes que beberem, em memória de mim.”
Avisos comunitários
L.: Deus de bondade, alimenta nossa fé e
fortalece a nossa comunhão contigo. Bênção e envio:

C.: Alimenta-nos com coragem e ousadia L.: Neste dia recebemos o alimento pela
para sermos sal e luz neste mundo. Palavra de Deus e pela Ceia do Senhor.
Temos o desafio de sermos sal para este
L.: Sustenta-nos, Senhor, com a tua Ceia, mundo sem sabor e sem gosto. O reformador
para que no dia a dia possamos ser testemu- Martim Lutero disse: “É uma função maravi-
nhas vivas em tua seara, como sal da terra lhosa e uma grande e esplêndida honra que
e luz do mundo. Por Cristo, com Cristo e em Deus nos chama de Seu sal”. Que Deus nos
Cristo, seja a ti, Pai todo-poderoso, na unida- sustente nesta maravilhosa função. Por isso,
de do Espírito Santo, toda a honra e toda a queremos abrir nossas mãos para receber a
glória, agora e para sempre. Amém. bênção de Deus:
12
Abençoados e abençoadas sejam vocês, abençoadas em nome do Pai, do Filho e do
que confiam no Senhor e, por Ele são chama- Espírito Santo. Amém.
dos e chamadas a serem sal neste mundo.
Vocês são o sal da terra, vocês dão sabor Hino Final: LCI - 289 Bênção da Irlanda
para este mundo, vocês são instrumentos
de ajuda para quem está doente, vocês são Pósludio
testemunhas vivas de Deus para o mundo.
Por isso vão, e saibam que Deus vai junto (Neste momento, um grupo está na saída
de vocês, preparando o caminho. Estejam da igreja e distribui pequenos saquinhos de
atentos e atentas, preparados e preparadas pipoca, agora com sal. Ao entregar, as pes-
para servir e ser testemunhas de Deus neste soas podem dizer: “Você é sal da terra, seja
mundo. Assim sejam vocês abençoados e sal”. Assim, damos um encerramento para a
atividade realizada no início do culto)

13
Somos igreja de Cristo
Melodia cifrada

Louis Marcelo Illenseer


Baião Outubro/2022
 = 100
G /D
 
D D Em7 A7 D

 
3 3 3 3

                    
1.So mos i gre ja de Cris to, do Cris to que'é mi se ri cór dia.
2.So mos i gre ja de Cris to, do Cris to que'é paz e jus ti ça.

G /D

D D Em7 A7 D D

 
9 3
3 3 3 3

                     
So mos i gre ja de Cris to, do Cris to que'é li ber ta ção. So mos i
So mos i gre ja de Cris to, do Cris to que'é co mu nhão. So mos i

G /D

D Em7 A7 D

 
18 3 3
3

             
  
gre ja que pre ga, o Cris to que so fre na cruz. .
gre ja que so fre, com fal ta de com preen são.

G /D

D D Em7 A7 D G
   
25 3

   
3 3 3

              
So mos i gre ja que'a pon ta, a gra ça e'o'a mor de Je sus. Sal da
So mos i gre ja que'in sis te, que'oa mor ge ra mais co mu nhão.


34 A Bm7 A /C♯ D G A Dsus D

             
ter ra'e luz do mun do, é nos sa mis são.

 
G A Bm7 A /C♯ D G A D D.C.

41

       
        
Que tem pe ra e re fle te, o Cris to que traz sal va ção.

14
Somos igreja de Cristo
Arranjo para Coro e acompanhamento

Baião Louis Marcelo Illenseer


 = 100 G /D
  
D D Em7 A7 D

     


3 3 3 3

                

1.So mos i gre ja de Cris to, do Cris to que'é mi se ri cór dia.
2.So mos i gre ja de Cris to, do Cris to que'é paz e jus ti ça.

          

Uh uh uh uh uh uh

G /D
  
9 D D Em7 A7 D D


3 3 3 3 3

                      
So mos i gre ja de Cris to, do Cris to que'é li ber ta ção. So mos i
So mos i gre ja de Cris to, do Cris to que'é co mu nhão. So mos i

          

uh uh uh uh uh uh uh

G /D
  
18 D Em7 A7 D D


3 3 3 3

                   
gre ja que pre ga, o Cris to que so fre na cruz. So mos i
gre ja que so fre, com fal ta de com preen são. So mos i

         

uh uh uh uh uh uh

15
Somos igreja de Cristo
Arranjo para Grupos de Metais

Baião Louis Marcelo Illenseer

 = 100
  3    3  3 3
  3
3

      
3


           
              

               
 

14
   3
3
 
3 3

                 
  
       
3 3 3


     

               
 

 
       
28

   
3

3


                  

          
          
        

   
41

          


          
            
    
    
  

16
Leitura e Releitura do Cartaz
Cat. Ma. Joni Roloff Schneider – São Leopoldo/RS

INTRODUÇÃO o uso de cartazes desde a antiga Mesopo-


tâmia, esse recurso de comunicação consa-
Você já elaborou um cartaz em algum grou-se principalmente a partir do século 19
momento da vida? Dificilmente vai dizer (sic), com o desenvolvimento das artes gráfi-
“não”. Provavelmente foi na escola! Talvez cas. Exemplos expressivos desse período são
quando estudou os gêneros textuais ou na os cartazes criados por Toulousse-Lautrec,
aula de artes para aprender composição. Ou Bonnard e Chéret, reconhecidos hoje como
fez na comunidade, para divulgar uma festa, legítimas peças de arte”.
informar o horário do culto ou para passar
uma mensagem de fé e de esperança. Mesmo o cartaz sendo uma peça muito
antiga, como estes cartazes de artistas fran-
O cartaz é um gênero textual que tem ceses do século XIX, e apesar de todas as
como objetivo transmitir uma mensagem. inovações na área da comunicação, ele não
Ele é um meio muito antigo. Há relatos de sai de moda. A IECLB produz cartazes para e
que o primeiro cartaz comercial foi criado sobre o Tema do Ano desde 1980. Você tem
pelo impressor William Caxton na Inglaterra, acesso a todos eles no Portal Luteranos (veja
em 1477, através das novidades técnicas abaixo). É muito interessante ver como a
trazidas da Alemanha. As impressões de car-
tazes possuíam características de livro, com Conheça todos os Cartazes dos Te-
mas do Ano já lançados pela IECLB,
tipografia pequena e em cor preta. acessando o Portal Luteranos pelo
QR-Code ao lado. Aproxime o seu
celular, que ele leva você direto à
Rabaça e Barbosa apud Abreu (2011, p.3) página dos cartazes.
explicam que, “embora haja registros sobre

Pierre Bonnard Toulousse-Lautrec Jules Chéret

17
Igreja foi desenvolvendo os temas e lemas demos a ler letras, palavras e frases. Ler é
e como foi representando os mesmos de atribuir significados ao que vemos na tenta-
forma visual, através dos cartazes. No início, tiva de interpretar e compreender o que está
quando ainda não havia os recursos tecnoló- sendo transmitido.
gicos de hoje, eles eram feitos de forma bas-
tante manual, através de diferentes técnicas, A autora Eni Orlandi, no livro Interpreta-
como desenho ou pintura à mão livre, rasga- ção; autoria, leitura e efeitos do trabalho
dura e colagem, fotomontagem, xilogravura simbólico, diz que “a interpretação está
e outras, e o processo era bastante trabalho- presente em toda e qualquer manifestação
so, principalmente quando se desejava fazer da linguagem. Não há sentido sem interpre-
alguma modificação antes da publicação. De tação. Mais interessante ainda é pensar os
uns anos para cá, com o advento de diferen- diferentes gestos de interpretação, uma vez
tes ferramentas tecnológicas para a criação, que as diferentes linguagens, ou as diferen-
há uma facilidade muito grande para modifi- tes formas de linguagem, com suas dife-
car cores, formas e letras até chegar à ima- rentes materialidades, significam de modos
gem desejada. distintos” (Orlandi, 2007, p. 9).

Há diferentes profissionais que se dedi- Para fazer a leitura ou a interpretação


cam à área de criação de cartazes, posters, de uma obra de arte, há alguns aspectos a
banners, flyers e outros, como designers, serem considerados, como os seguintes:
publicitários, artistas plásticos. O cartaz é
uma das formas de transmitir mensagens e, Leitura formal: é a observação dos ele-
tendo em conta as suas características, é um mentos expressivos que compõem e formam
meio de comunicação que consegue atingir a obra de arte, como a linha, a cor, o volume,
de forma eficaz um grande público. O cartaz a perspectiva.
do Tema da IECLB de 2023-2024 foi criado
pela Mythos Comunicação, que usou seu co- Leitura interpretativa: é a percepção
nhecimento sobre a história da IECLB, a sua individual do que se vê, sente e pensa sobre
vivência com o contexto atual, a sua experi- a obra que se está vendo. Neste aspecto não
ência com a criação de peças de comunica- há certo ou errado, pois cada pessoa faz a in-
ção e trouxe este resultado. Utilizando-se de terpretação conforme a sua história de vida.
recursos e ferramentas para a edição da arte,
fez diversos estudos até chegar ao objeti- Contextualização histórica: é a localiza-
vo que a IECLB tem com o Tema e o Lema, ção da obra no tempo histórico e no espaço,
aliado às comemorações dos 200 Anos de observando o tema, os significados, ou seja,
Presença Luterana no Brasil. Eis aí o resulta- os contextos em que foi criada, auxiliando
do, que agora fica a critério da interpretação na compreensão e no significado da obra em
pessoal e grupal. questão.

LEITURA E RELEITURA Conforme Orlandi, quando se realiza uma


DO CARTAZ – ALGUMAS ORIENTAÇÕES leitura produzem-se sentidos, que depois
são reproduzidos ou transformados, atra-
Fazer uma leitura de uma obra de arte, no vés da releitura. A releitura de uma obra de
caso o cartaz do Tema do Ano, é um processo arte é dar a sua própria visão e acrescentar
idêntico ao da decodificação da linguagem elementos novos a esta obra, mantendo
verbal, ou seja, idêntico a quando apren- a conexão com a obra original. A releitura
18
não é cópia ou plágio, mas é dar uma visão A Leitura do Cartaz
diferente, um novo significado, através de
uma visão crítica, de humor, ou simplesmen- a) Obtenha uma primeira impressão
te visando inspirar para um novo contexto de avaliando se o cartaz desperta alguma
releitura. As releituras permitem unir estilos, emoção, sentimento ou sensação. Se
técnicas, materiais, gerando formatos inédi- sim, qual?
tos de arte.
b) Observe a composição: as linhas (se
No último Caderno do Tema do Ano dão força e condução, se são suaves
já colocamos algumas orientações
sobre a leitura e a releitura de um
e leves ou escuras e fortes), as cores
cartaz ou outra obra de arte. Se dese- e os tons (são quentes ou frias, que
jar ler o que consta lá, é só acessar o sentimento passam), as formas dos
Portal Luteranos, e abrir a página 15.
objetos (dão equilíbrio ou instabilida-
de, são simétricas ou assimétricas, se
conectam ou são isoladas, há sobre-
posições), a luz e a sombra (há con-
ATIVIDADES SUGESTIVAS trastes luminosos, é luz própria ou é
PARA A LEITURA DO CARTAZ projetada).

Convido você ou seu grupo a se debruçar c) Procure e liste símbolos que aparecem
sobre a imagem do cartaz para extrair dele o no cartaz.
máximo de ideias e percepções. Sugerimos
seguir os seguintes passos: d) Agora atente para o tema, lema, fra-
ses e números que constam no cartaz.
Qual a relação destes com a composi-
ção do cartaz (item b)?

Possíveis Interpretações
da Leitura da Imagem do Cartaz

a) O cartaz traz matizes das cores primá-


rias amarelo e azul, e da secundária
verde, formando entre elas derivações
e tonalidades, numa relação de equilí-
brio, harmonia e serenidade.

Podemos atribuir várias explica-


ções às cores utilizadas no cartaz,
pois a reação a cores é particular e
subjetiva, dependendo das vivências
e da cultura de cada pessoa. No caso
do cartaz deste tema, é provável que
o mais citado seja a lembrança das
cores da bandeira do Brasil. Por isso, é
importante lembrar a derivação des-
tas cores:
19
Originalmente, simbolizavam as de sal que, como as luminárias de sal
cores das casas reais da família de D. rosa, iluminam e contagiam com a sua
Pedro I, sendo o verde a cor símbolo beleza. Ou ainda, comparados com
da casa real dos Bragança e o amarelo os pequenos cristais de sal que dão
da casa real dos Habsburgo. No en- sabor quando espalhados em meio a
tanto, ao longo dos anos os brasileiros alimentos.
associaram outros significados a cada
uma das cores, mesmo que estes não e) Os símbolos que aparecem no cartaz
sejam considerados oficiais: – o logo da IECLB e o numeral 200,
Branco: significa o desejo pela paz têm relação com o primeiro artigo
Azul: simboliza o céu e os rios brasilei- da Constituição da IECLB - “A IGREJA
ros EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA
Amarelo: simboliza as riquezas do país NO BRASIL, a seguir denominada por
Verde: simboliza as matas (a rica flo- abreviação ‘IECLB’, é Igreja de Jesus
resta brasileira) Cristo no País, formada por Comunida-
des e pelos membros a elas filiados”.
As diferentes tonalidades de azul, O P. Martin Dreher pormenoriza esta
verde e amarelo do cartaz quebraram formulação em um belo texto, sob o
com as cores tradicionais da bandeira, título História do Primeiro Artigo da
fazendo com que todos os atributos Constituição da IECLB, neste caderno.
do cartaz operem cooperativamente -
forma, cor, movimento, tema, lema e f) O tema, IECLB: Igreja de Jesus Cristo,
a data comemorativa. tem um destaque em tamanho e cor
no nome JESUS CRISTO. O destaque é
b) Os círculos, de diferentes cores e tama- justamente para deixar claro que para
nhos, podem ser comparados às comu- a IECLB não há outro nome maior que
nidades que se formaram ao longo des- este – JESUS CRISTO. A IECLB não se
tes dois séculos, desde 1824 até a mais utiliza de apelidos, de nomes de pes-
nova comunidade formada em 2022, soas ou de coisas porque o nome de
em Iguatu/CE, no Sínodo Brasil Central. nossa Igreja não é negociável. Por isso,
proclamamos o nome daquele que é o
Estas comunidades da IECLB espa- Salvador do mundo, o centro da nossa
lhadas pelo Brasil estão conectadas vida e o centro da nossa Igreja. Esta
umas às outras, formando novos ma- nossa afirmação se baseia nos teste-
tizes (comunidades, instituições, tra- munhos bíblicos como de Atos 4. 12:
balhos) na medida em que se encon- “E não há salvação em nenhum ou-
tram, se relacionam, se interligam com tro, porque debaixo do céu não existe
a cultura e a realidade local, cumprin- nenhum outro nome, dado entre os
do a sua missão de ser Igreja de Jesus homens, pelo qual importa que seja-
Cristo no mundo. mos salvos”.

c) Os círculos também podem ser en- g) O lema da IECLB, de Mateus 5.13-14


tendidos como facho de luz que res- – Vocês são o sal da terra. Vocês são
plandece ou que pisca quando ela é a luz do mundo, é uma afirmação de
colocada em lugares visíveis (Mt 5.15). Jesus para todas as pessoas que o
Ou podem ser comparados a cristais seguem. As comunidades da IECLB,
20
formadas por pessoas que confessam Proposição de atividade:
Jesus Cristo como único Senhor e Sal-
vador, são como o sal da terra e a luz a) Utilizando a ciência da colorimetria,
do mundo; por isso mesmo, fazem ou criar um cartaz sobre os 200 Anos de
devem fazer a diferença no Brasil (dão Presença Luterana no Brasil, observan-
sabor e iluminam na escuridão). Leia do as pessoas que constituíram o país
o profundo texto do P. Rodolfo Gaede ao longo dos dois séculos, utilizando
sobre o lema, neste caderno. símbolos e cores que representam os
povos, a natureza, os animais.
Uma dica valiosa: as Agendas Esco-
lares da Rede Sinodal de Educação tra- b) Você pode utilizar a técnica e os ma-
zem bonitas curiosidades sobre sal e teriais de sua preferência: rasgadura
luz e a sua relação com a tarefa do ser ou recorte e colagem, desenho ou
humano no mundo. Você pode acessar pintura; tintas aquarela, guache ou
estes textos a cada início de mês, nas acrílica, giz de cera, lápis de cor ou
agendas físicas ou no Portal Luteranos. hidrocor...

Comunidades Conectadas
ATIVIDADES SUGESTIVAS
PARA A RELEITURA DO CARTAZ Como colocado anteriormente, uma das
interpretações dos círculos no cartaz é que
A Colorimetria do Brasil significam as comunidades da IECLB espa-
lhadas pelo Brasil, que foram se formando
Todos os dias centenas de milhões de ao longo desses dois séculos. As comunida-
pessoas tomam decisões de compra basea- des são compostas por diferentes grupos,
das nas cores dos produtos... 93% das deci- serviços, instituições, organizações, que se
sões de compra são baseadas na avaliação conectam em vários momentos e situações.
visual e cor, 6 % na textura e 1% no cheiro Lembramos os grupos da OASE, grupos de
ou som, sendo que 85% dos compradores jovens, Culto Infantil, Ensino Confirmatório,
apontam a cor como o primeiro item avalia- grupos da LELUT, grupos de música, coral,
do em uma compra. (dados da Kissmetrics, grupos de liturgia, grupos de oração, grupos
disponível em: https://www.deltacolorbra- de visitação e instituições como hospitais,
sil.com/palestra_colorimetria.html, acesso lares, creches, escolas e muitos outros. Todos
em 20.08.2022). esses grupos e instituições são como peque-
nas comunidades, que se conectam através
Para compreender quais são as cores que do trabalho missionário que realizam, sendo
mais impactam as diferentes pessoas, exis- sal e luz para o mundo!
te uma ciência chamada colorimetria. Esta
ciência analisa as cores com o objetivo de Proposição de atividade:
entender os tipos de cores e a reação que
produzem ao serem misturadas com outras a) Pensando no seu grupo, instituição,
cores e texturas. Além de artistas, também turma de alunos... como contribuímos
estilistas, cabeleireiros e maquiadores se uti- para a missão da Igreja de Jesus Cristo,
lizam da colorimetria para alcançar resulta- para ser sal e luz no mundo? Formar
dos cada vez mais próximos da a cor da pele duplas ou trios para dialogar sobre
e dos interesses de seus clientes. esta pergunta.
21
b) Preparar diversos círculos, de tama- chamou para ser igreja no Brasil e para servir
nhos diferentes, de cor branca. Tam- a este povo, compartilhando a fé em Cristo
bém disponibilizar lápis de cor, tinta que recebemos por graça, para vivermos em
guache, papel colorido de revistas ou amor e solidariedade com todas as demais
outro e cola. Cada dupla pega um pessoas no caminho das quais somos envia-
círculo e nele representa o que conver- dos como crentes e como comunidade mis-
sou, utilizando os materiais disponí- sionária que anuncia esperança”.
veis.
Proposição de atividade:
c) Após concluírem, formar um mural no
formato do globo terrestre, colando a) A partir desta compreensão de Igreja
os círculos. Mas, a colagem deve ser de Jesus Cristo, criar slogans que
gradativa para que haja conexão entre transmitam, na prática, o que sig-
os círculos, deixando alguns espaços nifica esta afirmação. Slogan é uma
em branco. Segue um exemplo de frase curta, construída para fixar algo
imagem: na mente de quem lê, utilizada para
gerar identificação com o que se
quer transmitir.

b) Após a frase pronta, criar um símbo-


lo que possa acompanhar o slogan.

c) Criar um novo cartaz, juntando o


slogan e o símbolo.

Sal e Luz – Uma Vida com Sentido

A partir das leituras dos textos deste


caderno sobre o Lema do Ano baseado em
Mateus 5.13-14, crie cenas onde aparecem
“vida insossa” e “vida com sabor”; “vida
privada de luz” e “vida iluminada”.

Proposição de atividade:
IECLB. Igreja de Jesus Cristo.
a) Através de dramatizações, criar ce-
Hoje muitas pessoas usam o nome de Je- nas opostas estáticas das situações
sus Cristo, dizendo que são suas seguidoras, acima. Cada grupo apresenta as
afirmando serem evangélicas, mas na vida duas cenas. Ao apresentar a pri-
do dia a dia não praticam os ensinamentos meira cena, posicionar-se de forma
de Jesus. Conforme o PAMI – Plano de Ação estática e esperar que as pessoas
Missionária da IECLB, “só faz sentido sermos observadoras relatem o que estão
igreja cristã se assumimos o dom de Deus vendo. Depois, apresentar a cena
como serviço evangelizador e solidário ao oposta e novamente aguardar as
povo brasileiro, sem fazer distinção de classe, demais pessoas relatarem o que
etnia, gênero ou credo religioso. Deus nos estão vendo.
22
b) Utilizando a técnica do positivo e
negativo, escolher uma cena citada
acima e desenhá-la duas vezes, do
mesmo jeito. O espaço positivo é
aquele espaço que ocupa o objeto
e o negativo é o espaço em volta
do objeto (o fundo), a exemplo do
desenho ao lado. É importante que
as cores utilizadas condizam com a
cena.

Bibliografia
ABREU, Karen. Cartaz Publicitário: um resgate histórico. Guarapuava, PR. Dissertação (doutoranda e mestre em Ciências da Linguagem)
- Universidade do Sul de Santa Catarina.
ORLANDI, Eni P. Interpretação: autoria, leitura e efeitos do trabalho simbólico. 5. Ed. Campinas: Pontes, 2007.

23
24
24
25
25
26
26
27
27
Pesquisa e Textos: Dr. Wilhelm Wachholz, Dr. Martin N. Dreher,
Me. Osmar Luiz Witt, Clovis Horst Lindner e Dr. Paulo Butzke
Arte: Cristiano Zambiasi Júnior
28
28
Reflexões sobre o Tema do biênio 2023-2024, jubileu
de 200 anos da IECLB e a Constituição da IECLB
TÍTULO I Senhor da una, santa, universal e apostólica
DA DENOMINAÇÃO, COMPOSIÇÃO, FIM, Igreja.
SEDE E DURAÇÃO § 1o - Os credos da Igreja Antiga, a Confis-
são de Augsburgo (“Confessio Augustana”)
Art. 1o – A IGREJA EVANGÉLICA DE CONFIS- inalterada e o Catecismo Menor de Martim
SÃO LUTERANA NO BRASIL, a seguir deno- Lutero constituem expressão da fé confessa-
minada por abreviação “IECLB”, é igreja de da pela IECLB.
Jesus Cristo no País, formada por Comunida- § 2o - A natureza ecumênica da IECLB se
des e pelos membros a elas filiados. expressa pelo vínculo de fé com as igrejas
Art. 2º - A IECLB é organização religiosa, no mundo que confessam Jesus Cristo como
pessoa jurídica de direito privado, sem fins único Senhor e Salvador.
lucrativos, organizada com a autonomia esta-
belecida na Constituição Federal e no Código Art. 6º - Constituem objetivos fundamen-
Civil e demais legislações pertinentes, e se tais da IECLB, além do disposto no art. 3o
rege por esta Constituição e pelas normas desta Constituição:
complementares estabelecidas em Concílio I - fortalecer e aprofundar a comunhão
da Igreja e por normas regulamentares esta- entre as Comunidades em sua ação evange-
belecidas pelo Conselho da Igreja. lizadora;
II - zelar pela unidade na vida eclesiás-
Art. 3º - Em obediência ao mandamento tica, no testemunho e na pura pregação da
do Senhor, a IECLB tem por fim e missão: Palavra;
I - propagar o Evangelho de Jesus Cristo; III - promover o ensino, a missão e a dia-
II - estimular a vivência evangélica pesso- conia;
al, familiar e comunitária; IV - proporcionar o aprofundamento teo-
III - promover a paz, a justiça e o amor na lógico e o crescimento espiritual nas Comuni-
sociedade; dades;
IV - participar do testemunho do Evange- V - propiciar condições para que os mem-
lho no País e no mundo. bros das Comunidades possam exercitar seus
Art. 4o - A IECLB tem sede e foro jurídico dons na missão da Igreja, na perspectiva do
na Rua Senhor dos Passos, 202, na cidade de sacerdócio geral de todos os crentes e do
Porto Alegre, no Estado do Rio Grande do Sul, ministério compartilhado;
e é constituída por tempo indeterminado. VI - zelar pela formação de ministros or-
denados e colaboradores em todos os níveis
TÍTULO II para seus diferentes campos de atividade
ministerial;
DO FUNDAMENTO E DOS OBJETIVOS VII - zelar pela ordem e disciplina
evangélica a serem observadas por suas
Art. 5o - A IECLB tem como fundamento Comunidades, seus membros, ministros
o Evangelho de Jesus Cristo, pelo qual, na e instituições, de acordo com a presente
forma das Sagradas Escrituras do Antigo e Constituição e outros documentos normati-
do Novo Testamentos, confessa sua fé no vos da Igreja.
29
História e teologia do primeiro
artigo da Constituição da IECLB
P. Dr. Martin N. Dreher, São Leopoldo/RS

O tema do biênio 2023-2024 e da cele- de Hamburgo e de aldeias do Palatinado. O


bração dos 200 anos de história das comu- celebrante foi o Pastor Ehlers.
nidades da IECLB é uma citação direta do
primeiro artigo de sua Constituição: “A IGRE- O idioma em que sepultamento e culto
JA EVANGÉLICA DE CONFISSÃO LUTERANA NO foram celebrados era o alemão padrão surgi-
BRASIL, a seguir denominada por abreviação do a partir da tradução da Bíblia por Lutero.
‘IECLB’, é Igreja de Jesus Cristo no País, for-
mada por Comunidades e pelos membros a A LÍNGUA ALEMÃ E O ENSINO BILÍNGUE
elas filiados”. Por trás desta formulação há
uma longa história e decisões teológicas fun- A esses primeiros luteranos e suas co-
damentais, que queremos contar nas linhas munidades acresceram-se outros imigrantes
que seguem. protestantes, majoritariamente falantes de
dialetos alemães provenientes da Rússia, da
OS INÍCIOS DA IMIGRAÇÃO Ucrânia, da Romênia, da República Checa, da
Áustria, da Hungria, de Luxemburgo, da Fran-
Sempre é bom lembrar que o luteranismo ça, da Suíça, do Tirol, da Holanda, da Polônia,
foi trazido ao Brasil por imigrantes falantes da região do mar Báltico, mas também da
principalmente de dialetos alemães, mas Suécia e de territórios que em 1871 forma-
também de outras procedências, como letos, ram o Império Alemão.
suecos, húngaros, romenos, japoneses, entre
outros. Esse predomínio de falantes da língua
alemã fez com que a língua de culto perma-
Esse processo teve história continuada necesse o alemão padrão, ainda mais que,
desde 1824, quando imigrantes da localida- seguindo exigência de Lutero, as comunida-
de de Becherbach junto a Kirn, no território des criassem e mantivessem escolas e cen-
da atual República Federal da Alemanha, tros de formação de professores, visto que
foram instalados em Nova Friburgo/RJ, em o Estado brasileiro muito pouco investia na
maio daquele ano. Ali encontraram imigran- educação formal. Já preocupadas com o fu-
tes suíços de língua francesa chegados em turo da Igreja em terras brasileiras, o ensino
1818, entre os quais se encontravam alguns ministrado nessas escolas era bilíngue, bem
protestantes de origem reformada, tradição como o material didático que para elas ia
que remonta a Zwínglio e Calvino. Seu pri- sendo preparado no Rio Grande do Sul e em
meiro culto foi um ato de sepultamento do Santa Catarina.
filhinho do Pastor Sauerbronn.
A IECLB que se formava era igreja de des-
Em dezembro do mesmo ano foi celebra- cendentes de falantes do alemão, o que não
do culto de Natal em São Leopoldo/RS com impediu que pessoas provenientes de outras
imigrantes que provinham da Dinamarca, etnias e idiomas se filiassem às incipientes
do Grão-Ducado de Mecklenburg-Schwerin, congregações.
30
AS PRIMEIRAS LIDERANÇAS TEOLÓGICAS na criação da IECLB em 1949, que teve seu
primeiro concílio no ano seguinte, ainda com
Como eram imigrantes os que traziam o nome de Federação Sinodal.
o luteranismo ao Brasil e não missionários,
como aconteceu com outras denominações, A ALEMANHA IMPÕE O GERMANISMO
houve falta de lideranças teológicas para as
comunidades. Ocasionalmente houve pas- A questão da língua passou a ficar com-
tores empregados pelo Império, por coloni- plicada e tomou proporções ideológicas após
zadoras ou por comerciantes, como no caso a fundação do Império Alemão, em 1871.
do Rio de Janeiro. Muitas das congregações Em busca de mercados para a Alemanha em
elegeram pastores de seu meio, mais tarde expansão, aquele país passou a desenvolver
desqualificados como “falsos pastores”, o agressiva política de preservação da germa-
que não confere. nidade, da cultura e das tradições alemãs
no exterior, pensando que assim os falantes
A situação se alterou, quando houve co- do alemão se tornariam compradores dos
moção internacional por causa da denúncia produtos alemães. Era a concorrência entre a
de escravização de pessoas luteranas e ou- Alemanha e a Inglaterra.
tros imigrantes em São Paulo. Embaixadores
da Suíça e da Prússia percorreram as áreas Como os governantes controlavam as
de imigração e motivaram sociedades mis- Igrejas Territoriais alemãs, aqueles obreiros
sionárias a enviar jovens que se preparavam que eram por ela enviados para atuar no
para a missão na África, na Oceania e na Ásia Brasil assinavam declaração de que, além
para que viessem a atuar no Brasil. da pregação do Evangelho, se dedicariam à
preservação da germanidade. Como Igrejas
Foi assim que pastores oriundos de casas Territoriais que estavam enviando obreiros
de missão passaram a atuar no Brasil nas ao Brasil, sabiam-se responsáveis por sua
comunidades que até então haviam existido aposentadoria e pensão – o que não era
sem a sua presença. Esses pastores missioná- mau nem errado –, exigiram que os Sínodos
rios vinham de Basiléia/Suíça e de territórios entrementes constituídos no Brasil (desde
alemães como Barmen, Breklum, Herman- 1886) acrescentassem a seu nome a palavra
nsburg, Leipzig, Neuendettelsau. Ocasional- “alemão”. Assim, o Sínodo Riograndense
mente vieram pastores formados em uni- passou a ser Igreja Evangélica Alemã no Rio
versidades ou dos Estados Unidos. No século Grande do Sul, o Sínodo Evangélico Luterano
20 ainda vieram missionários e missionárias passou a ser Igreja Luterana Alemã no Brasil.
avulsos em busca da criação de círculos de Além disso enviaram ao Brasil um Repre-
piedade nas congregações existentes e de sentante Permanente com o título de “Pre-
sociedade missionária dos Estados Unidos pósito”. Com isso houve, praticamente, uma
que havia perdido seu campo de missão na desnacionalização da Igreja Luterana em
China, após a vitória de Mao Tse Tung, ou da formação no Brasil.
Noruega.
A TENSÃO IDEOLÓGICA
As muitas procedências dos fiéis, dos pas-
tores e missionários e as ideologias políticas Ao final da Primeira Guerra Mundial
trazidas por imigrantes e as que existiam no (1914-1918), muitos imigrantes chegados da
Brasil produziram pluralidade no corpo ecle- Alemanha e também muitos pastores passa-
siástico que ia se formando e que culminou ram a reproduzir o slogan de que a derrota
31
alemã havia sido obra de socialistas e difun- Nos territórios alemães houve distanciamen-
diram a “lenda da punhalada”, segundo a to do entrelaçamento de igreja e germanida-
qual socialistas, comunistas e judeus haviam de. O discurso das lideranças era o daqueles
sido responsáveis pela derrota alemã frente que haviam se oposto a Hitler e cujo hino era
aos aliados e pela rendição. aquele que ficou conhecido na IECLB como
“hino da OASE”: Jesus Cristo é rei e Senhor,
O pior, porém, ainda estava por acontecer, seu é o reino e o louvor, é Senhor somente,
quando Hitler assumiu o poder em 1933. hoje e eternamente (LCI 519). Nesse hino,
Muitos membros nascidos na Alemanha Jesus é o soberano do Reino (oposição ao
e pastores filiaram-se ao partido nazista, Reich de Hitler); Ele é o único Senhor (opo-
passaram a fazer parte do movimento “teu- sição ao Führer); dele é o louvor (oposição
to-cristão” e denunciaram aqueles que se ao “Heil” dirigido a Hitler); somente Ele (em
diziam partidários da Igreja Confessante, re- alemão o hino diz “hilft kein anderer Name”
presentada por Karl Barth, Martin Niemöller, = nenhum outro nome ajuda). Não há outro
Dietrich Bonhoeffer, contrários a Hitler. Messias. Só um é Cristo.

Os Sínodos quase racharam; nas comuni- Esse Jesus vai fazer parte da Constituição
dades havia grandes tensões, pois também da IECLB que se forma em 1949, ainda sob
havia aqueles que optaram pelo Partido Inte- o nome de “Federação Sinodal”. Quando
gralista, liderado por Plínio Salgado. Havia o definem “nome, fim, sede e foro jurídico da
perigo do fascismo tomar conta da Igreja. Federação”, os estatutos da Federação Sino-
dal rezam: “Sobre o fundamento da fé cristã,
Em 1942, o governo brasileiro, até então que lhes é comum, e com a finalidade de
simpatizante de Hitler, optou pelos aliados serem Igreja de Jesus Christo no Brasil, con-
e os descendentes de alemães, italianos, gregam-se ...”.
poloneses e japoneses foram considerados
inimigos do Brasil. Membros e pastores fo- A formulação “Igreja de Jesus Christo”
ram presos e colocados em campos de con- tem a história antes relatada como pano
centração, mesmo que sem culpa formada. de fundo e tornou-se determinante para a
Os Sínodos tiveram que lutar por sua sobre- caminhada da IECLB desde então, mas tam-
vivência. De uma hora para a outra a língua bém foi responsável por muitas discussões
alemã, até então considerada língua oficial internas que, por vezes, levaram a cisões. No
da Igreja Luterana, foi banida. Hinos e litur- ano de 1949, o primeiro Presidente da IECLB,
gia foram traduzidos e sermões no vernáculo Hermann Dohms, participou em Amsterdam
tiveram que ser produzidos para serem lidos do primeiro Concílio do Conselho Mundial de
por pastores que não dominavam o portu- Igrejas, no qual se reuniram igrejas que con-
guês. Muitos membros, principalmente em fessavam a “Jesus Cristo como único Senhor”.
áreas rurais, nada entendiam nos cultos além Logo a Federação também se filiaria à Fede-
de “Jesus” e “Amém”. ração Luterana Mundial.

SURGE UMA IGREJA CONFESSANTE SURGE UMA IGREJA BRASILEIRA

Findada a Guerra, era necessário recons- Enquanto a atual Constituição da IECLB usa
truir a vida eclesiástica, mesmo que ainda a formulação “no país”, os Estatutos da Fe-
sob os efeitos dos sofrimentos e das feridas deração Sinodal valem-se da formulação “no
provocadas por causas internas e externas. Brasil”, ainda presente no nome da IECLB.
32
Esse “no Brasil” só pode ser entendido a par- Ao ter como base as Sagradas Escritu-
tir da história antes vivida. Principalmente os ras do Antigo e Novo Testamento, a IECLB
acontecimentos da Guerra, mas não só eles, acentua que Jahveh ou Adonai é o Pai de
haviam ensinado que essa Igreja só teria fu- Jesus Cristo e volta-se contra toda e qualquer
turo no Brasil ou não teria futuro nenhum. forma de antissemitismo e qualquer teoria
de dois deuses, segundo a qual o deus do
Assim, podemos compreender como afir- Antigo Testamento é o deus da Lei, enquanto
mação de fé a primeira das teses aceitas no que o Deus do Novo Testamento seria o deus
Primeiro Concílio da Federação Sinodal, acon- do Amor. O Deus do Antigo Testamento deve
tecido nos dias 14 a 16 de maio de 1950, ser lido a partir de Jesus Cristo.
em São Leopoldo: “A Federação Sinodal é
Igreja de Jesus Cristo no Brasil (O itálico está A definição de quem seja esse Jesus Cristo
no original!) em todas as consequências que nos é dada a partir dos escritos reunidos no
daí resultarem para a pregação do Evangelho Novo Testamento. Essa reunião foi feita com
neste país e a corresponsabilidade para a for- base no Credo Apostólico em época na qual
mação da vida política, cultural e econômica se negava que Jahveh fosse o Pai de Jesus
de seu povo”. A partir dessa formulação dos Cristo e na qual não se aceitavam os textos
pais fundadores podem e devem ser entendi- que hoje compõem o Novo Testamento (1º
das todas as alegrias e tristezas da IECLB. artigo), em que se negava a encarnação do
Filho de Deus na pessoa de Jesus (2º arti-
A BASE BÍBLICA E CONFESSIONAL go), acentuando, veementemente, que ele
é Deus desde a eternidade e verdadeiro ser
Assim como define o artigo 5º da consti- humano nascido de Maria e que, como ser
tuição da IECLB, fundamental é que a Igreja de carne e osso padeceu, realmente foi cru-
tenha por base à qual sempre de novo pode cificado, morreu, foi sepultado e, depois de
recorrer a Jesus Cristo, como nos foi trans- morto, ressuscitou. Confessa que é o Espírito
mitido pelas Sagradas Escrituras do Antigo Santo presente desde sempre que nos ajuda
e Novo Testamentos, pelos Credos da Igre- a crer e confessar e a permanecer na verda-
ja Antiga (o Credo Apostólico, o Credo de deira e única fé (3º artigo).
Niceia e o Credo Atanasiano), o Catecismo
Menor de Lutero e a Confissão de Augsbur- A TEOLOGIA DA CRUZ
go Inalterada.
A IECLB rejeita, por meio do Credo Apos-
Nos anos posteriores à Segunda Guerra tólico do ano de 150 e do Credo de Niceia
Mundial, muitos queriam que a Declaração de 325, além do Credo Atanasiano, qualquer
Teológica de Barmen, o Credo contra Hi- forma de pensamento que nega que Deus
tler e sua ideologia, também fosse assumi- seja capaz de sofrer e de se solidarizar até as
da como base que nos auxiliasse a definir últimas consequências com os seres huma-
“quem é Jesus Cristo”. nos e a criação.

Designa-se a isso, no Catecismo e na Con-


fissão de Augsburgo, dois escritos calcados
Conheça a Declaração de Barmen
na íntera, acessando o Portal
na teologia de Lutero, de Teologia da Cruz.
Luteranos pelo QR-Code ao lado.
Aproxime o seu celular, que ele
leva você direto ao documento.
Não temos outra maneira de saber e de
reconhecer quem e como Deus é, senão
33
através de Jesus Cristo: Deus tem o rosto do haver outros senhores e mitos ao lado de
Crucificado, pois até mesmo o Ressurreto Jesus Cristo na vida da Igreja. Com isso dis-
tem as marcas, as chagas, do Crucificado. tanciavam-se do fascismo, do germanismo,
Deus padece, sofre por causa do ser humano do comunismo stalinista e do capitalismo,
e de sua criação e a cruz de Jesus é clamor ideologias que sempre de novo confrontam o
do amor incondicional de Deus por causa da povo de Jesus, pois tinham o critério do Deus
criação e do ser humano, mas também sua Crucificado e Ressurreto que lhes dá elemen-
denúncia de tudo o que o leva à cruz. tos para viver sob ideologias, mas sem fazer
delas fundamento de seu viver, mesmo que
CONSEQUÊNCIAS PARA vivam em e com essas ideologias.
O DISCIPULADO CRISTÃO
Com isso privilegiaram a IECLB com liber-
Seguir a Jesus é colocar-se sob sua cruz e dade, que só temos a partir de Jesus Cris-
seu significado (que não pode ser reduzido to, de nos posicionarmos frente a todas as
a um perdão de pecados individuais), de- temáticas que nos afligem. Se não levarmos
nunciando tudo que nega a criação divina e isso em conta, não poderemos jamais enten-
oprime os seres humanos e anunciando a es- der a história dessa Igreja no tempo e espa-
perança que irrompe a partir da ressurreição ço chamado “Brasil”.
de Jesus. Seguir a Jesus é sofrer por causa do
Evangelho de que Deus estava em Cristo re- PERGUNTAS PARA REFLEXÃO:
conciliando o mundo e anunciar a esperança
de novo céu e nova terra, nos quais impera 1) Como definimos a Jesus Cristo na
a justiça de Deus, o que também pode ser Igreja Evangélica de Confissão Lute-
resumido nas palavras: justificação por graça rana no Brasil?
e fé. Por isso se canta: “Cristãos, alegres ju-
bilai, felizes exultando, com fé e com fervor 2) Como entender a riqueza do ser
cantai, a Deus glorificando o que por nós fez Igreja Evangélica de Confissão Lute-
o Senhor” (LCI 484). rana no Brasil?

Nossos pais que pretenderam acrescentar 3) É possível e importante ser luterano


a Declaração Teológica de Barmen quiseram e viver em situação de conflito a
reforçar essa convicção, negando que possa partir de uma Teologia da Cruz?

34
Teologia do 3º e 6º Artigos da Constituição da IECLB
P. Dr. Mário F. Tessmann, Curitiba/PR

I - CONSIDERAÇÕES INICIAIS: com muitos membros. Estes recebem dons


(1 Co 12.14ss) que são diversos, a serem
A IECLB é igreja de Jesus Cristo no país, exercidos de maneira mútua dentro da
conforme afirma a artigo I de sua constitui- unidade do Espirito (Ef 4.1ss), nas tarefas da
ção. A palavra “igreja” tem longa história vida da igreja ou para cumprir o seu chama-
e diversidade de entendimento. Em fun- do junto aos de fora da comunidade cristã (1
ção disto, torna-se indispensável resgatar Pe 2.9ss; 4.10ss). Ao explicar o terceiro artigo
brevemente as raízes da palavra no Novo do Credo Apostólico no Catecismo Menor,
Testamento, para que saibamos do que se Lutero escreve: “o Espírito Santo me chamou
trata, quando se diz que a IECLB é igreja de pelo evangelho, me iluminou com seus dons,
Jesus Cristo. me santificou e me conservou na fé verda-
deira. Assim também chama, congrega, ilu-
O apóstolo Paulo escreve que igreja, mina e santifica toda a cristandade na terra,
quando se refere à sua origem, é o grupo e em Jesus Cristo a conserva na verdadeira e
de pessoas “chamadas para serem de Jesus única fé”. Percebe-se nestas palavras de Lu-
Cristo” (Rm 1.6). Este chamado é um ato de tero o quanto ele assumiu a compreensão de
Deus (Rm 8.29ss). Em outras palavras, Lu- igreja do apóstolo Paulo e a atualizou para os
tero revela o mesmo entendimento, quan- seus dias.
do escreve o seguinte: “a Igreja é criatura
do Evangelho”1. Por mais que somente “o Após a sua ressurreição, Jesus Cristo dei-
Senhor conhece os que lhe pertencem” (2 xou o seguinte mandamento para a igreja:
Tm 2.19), a igreja é realidade visível peran- “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
te as pessoas (1 Co 11.18). Em decorrência, nações, batizando-os em nome do Pai e
como teólogo biblista que é, Lutero aborda do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os
com regularidade nos seus escritos as duas a guardar todas as coisas que vos tenho
dimensões indissociáveis da igreja: seu ordenado. E eis que estou convosco todos
ocultamento e sua manifestação. Voltando os dias até à consumação do século” (Mt
ao Novo Testamento, Paulo menciona ainda, 28.19ss). O cumprimento do mandamento
entre outros aspectos, que a igreja tem lo- não se baseia na inteligência, empenho
calização e está dentro de limites geográfi- ou compaixão dos discípulos, mas sim, no
cos: “a igreja de Deus que está em Corinto” poder de Deus prometido por Cristo: “Rece-
(1 Co 1.2; 2 Co 1.2). bereis poder, ao descer sobre vós o Espírito
Santo, e sereis minhas testemunhas tanto
Cabe destacar nesta reflexão o modo em Jerusalém como em toda a Judeia e
como o apóstolo Paulo entende a igreja. Ele Samaria e até os confins da terra” (At 1.8).
fala dela como corpo de Cristo (1 Co 12.27), Lutero resumiu, de maneira muito precisa, o
que é metáfora alusiva a um organismo vivo conteúdo deste texto bíblico, afirmando que
o Espírito Santo “chama, congrega, ilumina
1. LUTERO, M., OSel, Vol.1, p.378. e santifica” a igreja.
35
II - PASSOS EM DIREÇÃO pastor a quem julgavam competente, demi-
À FORMAÇÃO DA IECLB tindo-o quando lhes parecia conveniente. O
pastor era simples empregado. As comunida-
Os séculos se passaram e a Palavra de des eram associações livres, sem estatutos,
Deus foi sendo testemunhada pelo mundo dando margem às maiores arbitrariedades.
afora por intermédio da igreja em movi- As consequências destes 35 anos, em parte,
mento. Desta maneira, o mandamento de ainda hoje se fazem notar” (FISCHER, p. 46).
Jesus Cristo tem sido cumprido. A Palavra de
Deus levou também ao surgimento da Igreja Com o passar dos tempos, a organização
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil da vida da igreja obteve êxito. Foram funda-
(IECLB). Segundo Ernesto Theófilo Schlieper2 dos sínodos regionais, que envolviam comuni-
(1909-1969), historicamente falando, a IECLB dades espalhadas nos estados do RS, SC, PR e
teve o seu nascedouro junto à imigração de outros, de 1886 até 1912/13, visando superar
pessoas evangélicas da Europa para o Brasil a dispersão das mesmas. Após a traumática
desde o fim da segunda década do século experiência da Segunda Guerra Mundial, de
XIX, fato que levou à formação contínua de hostilidades e perseguição aos membros e
comunidades (FISCHER, p. 233). Ele observa destruição de templos, ficou evidente a im-
que a mesma é “a mais antiga (sic) Igreja portância de novos enfoques para as comuni-
evangélica no Brasil” (FISCHER, p. 45). dades e sínodos até ali existentes. Schlieper
resume os novos desafios da seguinte forma:
Schlieper anota que, nestas primeiras dé- “a época da Igreja dos imigrantes, cuja tarefa
cadas de existência, “as comunidades eram primordial era de congregá-los e mantê-los,
inteiramente autônomas. Escolhiam como estava chegando ao fim; e em seu lugar
surgia uma Igreja arraigada no País, partícipe
da responsabilidade pela formação da vida
do seu povo, responsável para que neste País
hoje e no futuro, a todos os homens, sem
distinção alguma, seja anunciado o Evangelho
de Jesus Cristo” (FISCHER, p.52).
Pastor Dr.
Ernesto Theo-
filo Schlieper
O surgimento da Igreja “arraigada ao
foi professor País” deu seus primeiros passos com a rea-
de teologia e
presidente da
lização do I Concílio Eclesiástico Constituinte
IECLB quando da Federação Sinodal, ocorrido em maio de
era denominada 1950. Nesta ocasião, o pastor Hermann G.
de Federação
Sinodal. Dohms3 apresentou uma declaração funda-
mental para a formação da Federação Sino-
dal, onde constam as seguintes teses: “1.
A Federação Sinodal é Igreja de Jesus Cristo

3. Hermann Gottlieb Dohms nasceu em 03 de novembro de 1887


2. Ernesto Theofilo Schlieper nasceu em 30 de maio de 1909 em Sapiranga/RS. Realizou seus estudos de teologia de 1908
em Taquara/RS. Estudou teologia na Alemanha de 1929 a 1933. a 1913 na Suíça e na Alemanha. No início de 1914 regressou
Durante 33 anos (1936-1969), exerceu atividades pastorais, ao Brasil. Desde então, exerceu atividades pastorais, ensinou
ensinou teologia na Faculdade de Teologia em São Leopoldo e teologia desde a fundação da Faculdade de Teologia em 1946 e
ocupou cargos de liderança na igreja, sendo pastor-presidente ocupou cargos importantes no Sínodo Riograndense e na Federa-
da Federação Sinodal desde 1956 até a sua morte. Mais detalhes ção Sinodal. Faleceu em 04 de dezembro de 1956. Mais detalhes
sobre a biografia de Schlieper, ver FISCHER, p.7-11 sobre a biografia de Dohms, ver DREHER, p. 7-33.

36
da obediência ao mandamento de Deus. Este
assunto atravessa a Bíblia em inúmeras pas-
sagens do Antigo e do Novo Testamento. No
Evangelho de João, por exemplo, Jesus afirma
aos seus discípulos: “Se guardardes os meus
Pastor Hermann mandamentos, permanecereis no meu amor;
Gottlieb Dohms
foi professor de
assim como também eu tenho guardado os
teologia impor- mandamentos de meu Pai e no seu amor
tante liderança
pastoral na Fede-
permaneço” (Jo 15.10). Vê-se aqui a correla-
ração Sinodal. ção direta entre obediência ao mandamento
e a prática do amor. O amor cristão só existe
no exercício dos mandamentos de Cristo. O
apóstolo Paulo, por sua vez, salienta “a obe-
diência por fé” (Rm 1.5). É sabido que a fé é
“dom de Deus” (Ef 2.8) e que ela “atua pelo
amor” (Gl 5.6).
no Brasil [...]; 2. Esta Igreja é confessional-
mente determinada (sic) pela Confissão de Em obediência aos mandamentos de
Augsburgo e o Pequeno Catecismo de Lute- Cristo, a IECLB estabelece, no artigo 3º, sua
ro” (FISCHER, p.53). Já em 1954, a Federação finalidade e missão em quatro propósitos:
Sinodal passou a se chamar “Federação Sino-
dal, Igreja Evangélica de Confissão Luterana I - propagar o Evangelho de Jesus Cristo;
no Brasil”.
II - estimular a vivência evangélica pesso-
Com a fusão dos sínodos e com uma nova al, familiar e comunitária;
constituição, surgia em 1968 a IECLB, como em
boa medida é conhecida hoje. Schlieper via III - promover a paz, a justiça e o amor na
este passo assim: “O Concílio Extraordinário de sociedade;
outubro de 1968 terá uma tarefa de singular
responsabilidade, que exige uma grande fé IV - participar do testemunho do Evange-
em Deus, o Senhor da Igreja, e a confiança em lho no País e no mundo.
que não somos nós que formamos a Igreja, A - A divulgação do evangelho:
mas é Deus mesmo que pelo seu Santo Espí-
rito determina os desígnios de sua Igreja” (o A propagação do Evangelho tem em Jesus
grifo é nosso) (FISCHER, p. 55). O Concílio Ex- Cristo o seu iniciador (Mc 1.14ss). Durante a
traordinário, realizado em Santo Amaro/SP em caminhada com seus discípulos, Jesus os cha-
outubro de 1968, extinguiu os sínodos exis- mou para participarem com Ele nesta tarefa
tentes e constituiu o corpo eclesiástico com (Mt 10.5ss), e, após a ressurreição, os enviou
estrutura centralizada com o nome de Igreja dizendo: “Ide por todo o mundo e pregai o
Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). O Novo
Testamento relata, com preciosos detalhes, a
III - REFLEXÕES TEOLÓGICAS divulgação e a expansão do Evangelho. Desta-
ACERCA DO 3º E 6º ARTIGOS ca ainda a formação de igrejas nas mais diver-
sas regiões do Império Romano. O testemunho
O artigo 3º da constituição da IECLB, com- cristão, naqueles dias, era feito “publicamente
plementado pelo 6º, destaca a importância e também de casa em casa” (At 20.20). Cabe
37
aqui lembrar também Lutero. Ele ajuda a em tua casa, e andando pelo caminho, e ao
entender a razão para o ímpeto missionário da deitar-te, e ao levantar-te” (Dt 6.4ss).
igreja em qualquer época, quando explica o
significado da afirmação “Pai nosso, que estás O apóstolo Paulo lembra a Timóteo a tra-
nos céus” no Catecismo Menor: “Deus quer jetória espiritual que ele herdou de sua avó
atrair-nos carinhosamente com estas palavras e de sua mãe e a importância da mesma:
para crermos que ele é o nosso verdadeiro “Pela recordação que guardo de tua fé sem
Pai, e nós somos os seus verdadeiros filhos”. fingimento, a mesma que, primeiramente,
habitou em tua avó Loide e em tua mãe
O anúncio do Evangelho não é feito por
Eunice, e estou certo de que também, em ti”
pessoas e comunidades isoladas umas das
(2 Tm 1. 5). Acerca da igreja emergente de
outras, mas sim, em vínculo, em comunhão,
Jerusalém, lê-se o seguinte: “E perseveravam
como bem lembra o apóstolo Paulo no Novo
(os primeiros cristãos) na doutrina dos após-
Testamento. Este modelo de caminhada con-
tolos e na comunhão, no partir do pão e nas
junta (justamente o significado da palavra
orações” (At 2. 42).
“sínodo”), formando a igreja de comunida-
des, quer ser também a marca da IECLB, con-
Palavra e sacramentos, desde cedo, fize-
forme registram os quatro primeiros incisos
ram parte da vivência da igreja. Lutero escre-
do artigo 6º da constituição:
veu os catecismos com a finalidade de que a
I - fortalecer e aprofundar a comunhão Palavra de Deus fosse ensinada “às pessoas,
entre as Comunidades em sua ação evange- especialmente aos jovens” (Prefácio - Ca-
lizadora; tecismo Menor). Aos pais, cabia a tarefa de
II - zelar pela unidade na vida eclesiás- ensinar todo o Catecismo Menor “com sim-
tica, no testemunho e na pura pregação da plicidade a sua casa” (Catecismo Menor).
Palavra;
C - O custo do discipulado
III - promover o ensino, a missão e a dia-
conia; O evangelista Mateus testemunha que
IV - proporcionar o aprofundamento teo- Jesus, logo após chamar os seus primeiros
lógico e o crescimento espiritual nas Comuni- discípulos (Mt 4. 18ss), apresentou o seu
dades. “programa de discipulado” (Bonhoeffer) no
B - A comunhão e o ensino: Sermão da Montanha (Mt 5-7) para as mul-
tidões que o acompanham. Jesus inicia o
O estímulo à vivência cristã, de forma mesmo ensinando as bem-aventuranças (Mt
pessoal, familiar e comunitária, encontra na 5.3ss), uma lista de qualidades e atitudes
Bíblia suficiente fundamento. Observem-se incomuns, que ofertam a felicidade. Para o
alguns exemplos. bom entendimento do assunto, é decisivo
afirmar que as bem-aventuranças, antes
O livro do Deuteronômio é precioso teste- de qualquer outro significado, descrevem a
munho sobre este tema. Ele afirma: “Ouve, pessoa e o ministério de Cristo. Ele é o bem-
Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SE- -aventurado por excelência!
NHOR. Amarás, pois, o SENHOR, teu Deus, de
todo o teu coração, de toda a tua alma e de Por intermédio da fé em Jesus, contudo,
toda a tua força. Estas palavras que, hoje, te os seus seguidores têm a oportunidade de
ordeno estarão no teu coração; tu as incul- serem e viverem como bem-aventurados,
carás a teus filhos, e delas falarás assentado como Cristo mesmo enfatiza: “Em verdade,
38
em verdade vos digo que aquele que crê o apóstolo Paulo ao mencionar os perigos
em mim fará também as obras que eu faço” vindos de ‘falsos irmãos’ (2 Co 11.26). A
(Jo 14. 12). Conforme Lutero, esta afirmação Confissão de Augsburgo ratifica esta per-
bíblica aponta para algo central na existência cepção ao afirmar que na sociedade exter-
cristã: a “troca maravilhosa”. O Senhor Jesus na da igreja “continuam entre os piedosos
Cristo passa a sua vida e salvação para os muitos falsos cristãos e hipócritas” (Artigo
que creem, e recebe destes pecado, morte e 8). Independentemente de onde venham
condenação. Por isto, as bem-aventuranças as hostilidades e a negação da paz e da
jamais serão conquista humana, mas sim, justiça, permanece para igreja a palavra de
dádivas recebidas em fé. Cristo: “Bem-aventurados os perseguidos
por causa da justiça, porque deles é o Reino
À luz deste entendimento, vê-se que dos Céus” (Mt 5.10).
a promoção da paz, da justiça e a realiza-
ção das obras do amor, como finalidade e D - A missão no país e no mundo:
missão da IECLB, é oportunidade concedida
por Cristo, para pôr a igreja em movimento A IECLB recebe de Deus a oportunidade
e fazer dela uma participante das bem-a- e a tarefa de participar do testemunho do
venturanças. A prática destas qualidades e Evangelho no País e no mundo. O fundamen-
atitudes pôs, e põe hoje em diversas ocasi- to desta afirmação vem do comissionamento,
ões, as pessoas cristãs dentro do “temporal do encargo e da missão dados por Jesus Cris-
de medo, angústia e dor” (Livro de Canto to aos seus seguidores após a ressurreição:
da IECLB, hino 577), onde emerge a per- “Ide, portanto, fazei discípulos de todas as
gunta aflitiva: suportarão até o final? Isto nações” (Mt 28.19). O apóstolo Paulo, como
acontece porque as resistências aos que imitador de Cristo (1 Co 11.1), anuncia à
agem como “pacificadores” (Mt 5.9) e que igreja em Corinto que Deus “nos reconciliou
têm “fome e sede de justiça” (Mt 5.6) não consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu
são pequenas. Jesus mesmo, em oração ao o ministério da reconciliação” (2 Co 5.18).
Pai, recorda esta dura realidade dos seus Ele confiou a “palavra da reconciliação” (2 Co
discípulos ao dizer: “Eu lhes tenho dado a 5.19) às pessoas cristãs, tornando-as assim
tua palavra, e o mundo os odiou, porque “embaixadores de Cristo” (2 Co 5.20). Ser
eles não são do mundo, como também eu embaixador significa atuar “como se Deus
não sou” (Jo 17.14). O apóstolo João lem- exortasse por nosso intermédio” (2 Co 5.20),
bra que o mundo é, por um lado, objeto cuja mensagem é a seguinte: “Em nome de
do amor de Deus (Jo 3.16) a ser salvo (Jo Cristo, pois, rogamos que vos reconcilies com
12.47). Por outro lado, ele está sob do- Deus” (2 Co 5.20).
mínio do poder mentiroso que se revolta
contra Deus (Jo 14.30; 16.11). Seguindo esse pensamento, o apóstolo
Pedro menciona que os batizados perten-
Logo, torna-se compreensível que, de cem à “raça eleita, sacerdócio real, nação
tempos em tempos, a igreja enfrente in- santa, povo de propriedade exclusiva de
sultos, perseguições e todo tipo de calúnia, Deus” (1 Pe 2.9), e que são capacitados
pela causa de Cristo (Mt 5.11). É indispensá- com os mais diversos dons para a edificação
vel recordar que o repúdio a pessoas cristãs, da igreja (Rm 12.3ss). Durante a Reforma
que exercitam as bem-aventuranças, não no século XVI, Lutero novamente afirmou a
vem apenas de fora da igreja, mas também importância deste conteúdo no seu ensino
de dentro da mesma, como bem destaca sobre o sacerdócio geral de todos os cren-
39
tes. De acordo com ele, Batismo, Evangelho de ser testemunha (Lc 24.48; At 1.8) do
e fé tornam as pessoas cristãs e sacerdotes Evangelho que é “o poder de Deus para a
de Cristo. Faz bem a IECLB, quando insere salvação de todo o que crê” (Rm 1.16).
em sua constituição que “na perspectiva
do sacerdócio geral de todos os crentes e PARA REFLEXÃO
do ministério compartilhado”, ela deseja “
propiciar condições para que os membros 1. Qual ou quais aspectos do entendi-
das Comunidades possam exercitar seus mento bíblico apresentado sobre a
dons na missão da Igreja” (Art. 6, V). Igreja igreja lhe chamam especial atenção?
constituída com base no sacerdócio geral é 2. Segundo o relato do pastor Ernesto
igreja povo de Deus. Schlieper acerca da formação da
IECLB, que desafios a igreja tem pela
Importante para a realização do teste- frente?
munho do evangelho no Brasil e no mundo,
é o cuidado com a formação “de ministros 3. A constituição da IECLB estabelece
ordenados e colaboradores em todos os quatro propósitos como finalidade e
níveis para seus diferentes campos de ati- missão da igreja. Como eles podem
vidade ministerial” (Art. 6º, VI). Para isto, a ser trabalhados na sua comunidade,
IECLB firmou convênios com instituições de paróquia e sínodo?
ensino superior no campo da Teologia. Além
disto, o bom cumprimento desta tarefa está
BIBLIOGRAFIA:
associado diretamente com a necessária
atenção “pela ordem e disciplina evangélica BÍBLIA SAGRADA COM REFLEXÕES DE LUTERO. São Paulo: Sociedade
Bíblica do Brasil, 2012.
a serem observadas por suas Comunidades,
seus membros, ministros e instituições, de BRANDENBURG, Y. (Ed.). Livro de Concórdia: As Confissões da
Igreja Evangélica Luterana. São Leopoldo; Porto Alegre: Sinodal;
acordo com a presente Constituição e outros Concórdia; Comissão Interluterana de Literatura, 2021.
documentos normativos da Igreja” (Art. 6º, DREHER, M. N. (Org.). Hermann Gottlieb Dohms: textos escolhi-
VII). Por fim, mas não por último, a IECLB dos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

pela sua natureza ecumênica se vincula FISCHER, J., (Ed.) D. Ernesto Th. Schlieper: testemunho evangélico
na América Latina. São Leopoldo: Editora Sinodal, 1974.
“com as igrejas no mundo que confessam
LUTERO, M., Comentários de Lutero sobre suas Teses Debatidas
Jesus Cristo como único Senhor e Salvador” em Leipzig, In: Obras Selecionadas. São Leopoldo; Porto Alegre:
(Art. 5º, § 2), com o objetivo fundamental Sinodal; Concórdia, Vol.1, p.333-384.

40
O Lema Bíblico do Biênio 2023-2024
P. Dr. Rodolfo Gaede Neto, São Leopoldo/RS

SAL DA TERRA E LUZ DO MUNDO. Vejamos algumas informações e reflexões


A VISÃO DE UMA IGREJA MISSIONÁRIA EM acerca do ser o sal da terra e a ser luz do
MATEUS 5.13-14 E A CAMPANHA VAI E VEM. mundo.

INTRODUÇÃO 1. SAL DA TERRA E LUZ DO MUNDO

Jesus costumava explicar as grandes ver- 1.1 Ser o sal da terra


dades do Reino de Deus através de parábolas
e metáforas. Recorria a fatos comuns do dia Jesus viveu séculos antes do invento da
a dia da vida para usá-los como comparação. refrigeração. Naqueles tempos, assim como
No Sermão do Monte (Mt 5 a 7) valeu-se do nos tempos de nossos antepassados, a fun-
sal e da luz para compará-los à missão de ção do sal de conservar os alimentos era
seus discípulos e de suas discípulas neste especialmente importante. Evitava a deterio-
mundo. ração, principalmente da carne e do peixe.

Em todos os tempos da civilização huma- Já nos tempos do Israel bíblico o sal era
na, sal e luz foram elementos indispensá- amplamente usado para diferentes finalida-
veis, usados em cada lar, por mais pobre que des e com diferentes simbologias. Crianças
fosse. Podemos imaginar que o próprio Jesus, recém-nascidas eram banhadas com sal
desde a sua infância, tenha observado sua como medida de higiene e prevenção contra
mãe usando o sal na cozinha e acendendo infecções (Ez 16.4). Pequenas quantidades
uma lâmpada quando o sol se punha. Atri- de sal eram colocadas na forragem dos ani-
bui-se ao historiador Plínio, nascido no ano mais, que funcionava como antisséptico (Is
23 da era cristã, a expressão de que nada é 30.24). Também se fazia uma leve aplicação
mais útil do que o sal e o sol (sale et sole). de sal ao solo para melhorar sua fertilidade,
Suas funções são óbvias: conservar e dar com vistas a melhores colheitas. Os livros de
sabor aos alimentos, e iluminar o ambiente. Números e Crônicas apresentam o sal como o
Ambos possuem um oposto: o sal deixa de símbolo que confirma a amizade e a parceria:
cumprir seu papel quando se torna insípido e em algumas regiões do Mediterrâneo, comer
a luz deixa de iluminar quando for escondida sal juntos (expressão usada para se referir a
num lugar baixo ou debaixo de um caixote. comer juntos o pão, sobre o qual se colocava
A metáfora quer afirmar que as seguidoras sal) era considerado um sinal de amizade,
e os seguidores de Jesus cumprem sua mis- boas relações, acolhida e hospitalidade.
são quando puderem ser comparados com
o sal e a luz; e deixam de cumpri-la quando A palavra salário tem sua origem do latim
se tornam insípidos ou comparáveis a uma salarium e significava o auxílio oferecido
lâmpada escondida. Por que Jesus terá esco- aos soldados romanos para que pudessem
lhido justamente esses elementos para expli- comprar o sal tão necessário em cada dia.
car tão relevante causa como o discipulado? Também se faz uso do simbolismo do sal
41
para se referir a algo que impede a corrup- dida honra que Deus nos chama de seu sal”
ção e a morte (2 Rs 19-22). Assim como sa- (Obras Selecionadas, v. 9, p. 68-69).
larium representava a lealdade entre empre-
gado e empregador, o texto de Lv 2.13 faz Instigante, porém, é a segunda parte do
referência ao sal da aliança, que simboliza versículo: “se o sal vier a ser insípido, como
a lealdade no relacionamento entre Deus e lhe restaurar o sabor? Para nada mais presta
o seu povo (veja também Nm 18.19; Jó 6.6; senão para, lançado fora, ser pisado pelos
Êx. 30.35; etc.). homens”. O sal pode estragar? No tempo
de Jesus o sal era colhido na região do Mar
Evitar a deterioração (apodrecimento), Morto, onde existiam as maiores jazidas de
exercer a função de antisséptico, melhorar sal do mundo. Acontece que não existiam
a qualidade do solo, ser um elemento para refinarias. Dependendo de onde o sal era
o cultivo da amizade, da hospitalidade e da encontrado, podia conter impurezas, como
comunhão de mesa, ter dinheiro para com- magnésio, cal e restos de plantas; ou poderia
prar o necessário para cada dia, impedir a ter perdido o sabor em decorrência da sua
corrupção e a morte e manter a lealdade desintegração física por causa de umidade. O
no relacionamento com Deus. Certamente sal encontrado na superfície da terra, expos-
Jesus conhecia essa riqueza de funções e to à chuva, ao sol e ao vento, tem gosto de
simbolismos. Por isso, escolheu o sal como areia. Perfeito é o sal encontrado no subso-
metáfora para explicar o significado da lo, em contato com a rocha. O sal puro era
missão de suas seguidoras e de seus segui- separado para ser usado na conservação e
dores neste mundo. no tempero dos alimentos. Quanto ao sal
impuro, podia ser usado, por exemplo, nos
Ou seja: o discipulado consiste em desen- telhados planos das casas, onde era espalha-
volver ações que evitem a deterioração da do para evitar goteiras; este espaço servia
comunidade humana; ações que conservem para o encontro das pessoas adultas e como
a humanidade com a identidade que lhe é espaço de lazer das crianças; portanto, era
própria enquanto criação de Deus; ações que pisado pelas pessoas.
proporcionem mais qualidade ao “solo” no
qual a vida se desenvolve, para que boas co- Outra possibilidade era o uso do sal sem
lheitas e um bom salarium tragam mais qua- sabor durante o inverno, quando as tempe-
lidade de vida; ações que evitem a corrupção raturas em Jerusalém podem chegar a níveis
e a morte; ações que construam a amizade, muito baixos. Ocasionalmente pode até cair
o relacionamento saudável, a hospitalidade, neve. Nessas circunstâncias, as ruas utiliza-
a comunhão de mesa e o bom sabor para a das pelos frequentadores do templo ficavam
vida; e, finalmente, ações que visem manter muito lisas. Para oferecer segurança aos
a lealdade e a fidelidade no que diz respeito caminhantes jogava-se sal nas estradas, para
à aliança entre Deus e sua comunidade. derreter o gelo. Também ali o sal imprestável
É gigantesca esta missão. A afirmação para o consumo era pisado pelas pessoas.
“vocês são o sal da terra” é uma clara indica-
ção de que quem segue a Jesus age na pers- Portanto, era real a existência do sal insí-
pectiva da chegada do Reino de Deus a este pido, que não cumpre sua função de salgar
mundo. Ser incumbido desta missão pode e evitar o apodrecimento dos alimentos.
assustar; porém, acima de tudo, representa Este sal é usado como metáfora para aquilo
uma honra. Lutero o expressa assim: “É uma que representa o oposto do discipulado. Há
função maravilhosa e uma grande e esplên- uma forma de exercício do discipulado que
42
é inútil, em que a missão recebida não é pulas e os discípulos de Jesus é o de agirem
cumprida. no mundo para evitar que as trevas tomem
conta.
1.2 Ser a luz do mundo
A luz pode ter também a função de ser-
Na sequência de seu sermão, Jesus vir de guia, como o faz a lanterna em nos-
compara a missão de seus seguidores e sas caminhadas noturnas; ou de servir de
suas seguidoras à função da luz: dissipar orientação, como o faz o farol, a luz-guia dos
a escuridão. Quando a lamparina é colo- navegantes, para evitar o perigo e indicar o
cada debaixo de um caixote, ela se apaga caminho seguro.
e deixa de cumprir seu papel. Ou quando
uma cidade está situada em local muito No contexto da navegação, os faróis eram
baixo, ficando escondida, não iluminará o erguidos nas costas marítimas, em lugares
ambiente que a cerca. Jerusalém está cons- elevados, indicando a existência de algum
truída sobre um monte; por isso, é chama- perigo que pudesse interferir na passagem
da de “cidade-luz”. Comparados com o sal, das embarcações. Um exemplo é o Farol de
as discípulas e os discípulos de Jesus agem Mãe Luiza, situado no bairro Mãe Luiza, em
para evitar o apodrecimento do mundo; Natal/RN. Desde 1951, com a construção do
comparados com a luz, agem para evitar o farol, o bairro Mãe Luiza ilumina a chegada
escurecimento do mundo. das embarcações às praias. O nome do farol
foi escolhido em homenagem a uma senho-
Acredita-se que a parábola da luz escon- ra considerada referência na localidade pelo
dida seja também uma referência à comuni- seu espírito solidário (Luiza Pirangi). Como
dade de Qumran, que existiu nas margens do parteira, quando chamada durante a noite,
Mar Morto e optou em viver em cavernas, de deslocava-se iluminando seu caminho com
forma isolada do mundo. A vida comunitária um lampião, para ajudar mães a darem à luz
era orientada por rigorosa exigência moral. suas crianças.
Qumran era conhecida como a “fortaleza dos
piedosos” e seus membros se consideravam Também esta missão é gigantesca. Em
“os filhos da luz” em oposição aos “filhos das relação à afirmação “vocês são a luz do
trevas”. Qumran vivia na expectativa de uma mundo”, Lutero afirma: “Esse é o segundo
intervenção divina para trazer paz ao mundo, aspecto do ministério do qual ele incumbe
fazendo a opção de desistir de uma atuação os amados apóstolos: que sejam chamados
na sociedade para transformá-la. luz do mundo e que, também, o sejam, isto
é, que instruam as almas e lhes mostrem o
Pelo fato de a comunidade dos “filhos caminho para a vida eterna. Isso também é
da luz” ter optado em viver uma santidade necessário porque Cristo não quer que esse
isolada do mundo, em um gueto, ela é consi- ministério seja exercido às escondidas ou
derada, no Sermão do Monte, uma luz es- somente em determinado lugar, mas que
condida, ou uma cidade não construída sobre seja levado publicamente pelo mundo afora”
um monte. Assim ela não terá condições de (Obras Selecionadas, v. 9, p.75s).
ser a luz do mundo.
Exercer o ministério da Igreja às escon-
O farol deve ficar no alto para poder cum- didas, praticando uma santidade isolada, é
prir sua função de lançar luz sobre o entorno. equivalente a uma lâmpada escondida, a
Portanto, o desafio colocado para as discí- uma comunidade que se isola do mundo, a
43
um gueto, a pessoas autorreferentes, a ins- a identidade de testemunha do Evangelho
tituições que giram em torno do seu próprio neste lugar, nesta sociedade, neste contexto;
eixo. Pelo contrário, ser a luz do mundo é ou seja, assumiu o desafio de ser sal e luz
também uma clara indicação de que quem nesta terra. As implicações desta declaração
segue a Jesus age na perspectiva da presen- são de um enorme compromisso e de uma
ça do Reino de Deus neste mundo. Mateus enorme responsabilidade. À luz das anota-
identifica o próprio Jesus como sendo a luz do ções acima, ousamos apresentar as reflexões
mundo (4.12-17). Se agora o mestre incum- que seguem.
be seus seguidores e suas seguidoras dessa
missão, então essas simples pessoas chama- A IECLB, através de suas comunidades, pa-
das ao seguimento terão parte na missão do róquias, grupos, setores, sínodos, instituições,
próprio Jesus e, em consequência, não pode- organismos, entidades e de sua estrutura na-
rão exercer o discipulado às escondidas, nem cional sente-se desafiada a fazer o movimen-
poderão ser ignoradas pelo mundo. to constante de tirar o caixote de cima da
lâmpada, de sair da caverna, de edificar-se
2. IECLB: O DESAFIO DE SER para ser cidade sobre um monte e de evitar a
O SAL DA TERRA E A LUZ DO MUNDO deterioração da vida comunitária e social.

Quanta responsabilidade! Porém, consola- Este movimento pode desencadear atitu-


-nos o fato de que Jesus não escolheu supe- des e ações, como as que seguem:
respecialistas para serem o sal da terra e a luz
do mundo. Chamou aquele grupo de pessoas • A Igreja se apresenta ao mundo que a
simples, que creram nele, conheceram sua cerca, transpõe fronteiras, marca presença,
mensagem sobre a chegada do Reino de participa, dá testemunho em palavras e
Deus a este mundo e, desta forma, tornaram- ações, ilumina o ambiente com os valores
-se corresponsáveis pela sua divulgação e, fundamentados no Evangelho. Ao assumi-
assim, por influenciar a comunidade humana rem o “ser a luz do mundo”, as pessoas
para mudanças de grande alcance. seguidoras de Jesus não exercerão o minis-
tério da Igreja às escondidas e não pode-
Hoje Deus continua chamando para a rão ser ignoradas pelo mundo.
missão de ser o sal da terra e a luz do mun- • A Igreja assume a função do sal que,
do. A IECLB se deixa desafiar para esta mis- misturado aos alimentos, nem é visto,
são. Manifesta isto na declaração aprovada mas produz o efeito de acrescentar sabor
em concílio e registrada nas primeiras duas e qualidade aos mesmos; ou seja, com
linhas do 1º artigo de sua Constituição: “A humildade, livre de arrogância, a Igreja
IECLB é igreja de Jesus Cristo no País”. traz ao ambiente em que está inserida, a
leveza, a alegria e o bom gosto de viver
Com a sua carga histórica de ser igreja sob a graça de Deus.
de imigração, a IECLB necessitou de algum
tempo para desconstruir sua autocompre- • A Igreja assume a radicalidade da função
ensão de uma igreja estrangeira no Brasil, do sal de misturar-se aos alimentos, assim
recolhida em suas comunidades, às vezes como Jesus se misturava com as pessoas
vistas como guetos, alheias e descomprome- sofridas de seu tempo.
tidas com as questões do contexto nacional. • A Igreja, como cidade construída sobre um
No momento em que decidiu anunciar-se monte e como o farol-guia dos navegan-
como igreja de Jesus Cristo no País, assumiu tes, orienta, com a sua luz, a comunidade
44
e a sociedade, indicando caminhos seguros morais e éticos. A Igreja contribui para que
para evitar rotas perigosas e colisões. o mundo seja mais humano, em todos os
• A Igreja desenvolve ações diaconais para níveis da vida: individual, familiar, comuni-
oferecer qualidade de vida a pessoas e tário e social.
grupos em situação de vulnerabilidade, a A Igreja não tem o poder de transfor-
exemplo do que fazia a parteira Mãe Luiza, mar o mundo inteiro; porém, tem o dom,
que, com o auxílio do lampião, iluminava a graça e a missão de influenciar pessoas,
seu próprio caminho para poder prestar grupos, comunidades e instituições a partir
seus serviços voluntários e solidários às dos fundamentos do Evangelho de Cristo, na
parturientes, para que pudessem, com se- perspectiva da chegada do Reino de Deus a
gurança, trazer suas crianças à luz do dia. este mundo. Tem a incumbência de indicar o
• A Igreja participa ativamente de projetos caminho para que se possa olhar para o futu-
como a Campanha Vai-e-Vem (Campa- ro e enxergar o mundo desejado por Deus.
nha Nacional de Ofertas para a Missão),
um movimento de solidariedade entre as SUGESTÃO DE AÇÕES QUE PODEM
comunidades da IECLB que tem o objetivo SER DESENVOLVIDAS COMO ILUSTRAÇÃO
de ampliar e consolidar a ação missionária DA MISSÃO DA IECLB DE SER SAL
da IECLB e, assim, oferecer apoio financeiro DA TERRA E LUZ DO MUNDO
a projetos missionários articulados pelas
comunidades e paróquias acompanhados Considerando que na IECLB há grupos com
pelos respectivos sínodos. A IECLB vai ao perfis diferentes em termos de faixa etária,
encontro das pessoas e também convida contexto social, etnia, gênero, etc., caberá às
a participar da edificação de uma Igreja lideranças adequar cada proposta de ativida-
aberta, acolhedora e inclusiva e, ao mes- de às características de seu respectivo grupo.
mo tempo, com inserção propositiva na
sociedade, junto às pessoas que sofrem. A METÁFORA DO SAL
Desta forma, a Campanha Vai-e-Vem refor-
Quanto ao “ser o sal da terra”, pode-se
ça a unidade da IECLB, ajuda a desenvolver
levar para a respectiva atividade uma por-
a consciência missionária dos seus mem-
ção de sal, uma porção de areia e um copo
bros, além de fomentar a sua autossusten-
d’água. Pode-se fazer a experiência de que
tabilidade como Igreja no Brasil.
o sal misturado com areia se torna impres-
• A Igreja contribui para a preservação, na tável para o consumo na culinária. Precisa
comunidade local e na sociedade, dos ser jogado fora. Igualmente o sal misturado
valores genuínos e autênticos do Evange- com água se dilui e deixa de ter utilidade na
lho, para, assim, evitar a “deterioração” da cozinha. O estrago que é causado pela au-
sociedade, exercendo o seu papel profético sência do sal pode ser mostrado através da
de denunciar estruturas eticamente dete- exibição, pela internet, de imagens de carne
rioradas. Na metáfora do sal, destaca-se deteriorada.
sua função de evitar esta deterioração. Os
sinônimos desta palavra indicam o sentido Essas experiências indicam que Jesus uti-
de apodrecimento, decomposição, dege- lizou o sal como metáfora para afirmar o que
neração, degradação e corrupção. Não é não é o discipulado. Esses sais não são úteis
necessário mencionar o quanto a nossa para dar sabor à comida ou evitar o apodre-
sociedade está afetada pela realidade que cimento dos alimentos. Assim, as pessoas
estas palavras representam, em termos seguidoras de Jesus que não cumprem a sua
45
função de discípulas e discípulos são inúteis o discípulo, quando assumem a missão de
para o Reino de Deus. ser a luz do mundo, não se isolarão em gue-
tos, nem poderão ser ignorados pelo mundo.
Por outro lado, a porção de sal puro (de Caberá às lideranças a tarefa de contextuali-
preferência evitar o sal refinado com seus zar localmente, regionalmente, o significado
aditivos químicos e usar o sal natural) pode de “escuridão” e a necessidade de “luz” para
servir para a seguinte experiência: escolher o bem da comunidade humana.
um alimento que sem sal não alcança o sa-
bor desejado; ao contrário, com o tempero do PROPOSTA METODOLÓGICA ADICIONAL
sal se torna saboroso. Por exemplo, pão ou Uma proposta adicional para trabalhar o
ovos cozidos. Quanto à função do sal de con- tema “sal e luz” pode ser encontrada na revis-
servar a carne, pode-se exibir, pela internet, ta Amigo das Crianças nº 79. Ela também pode
a imagem da carne de sol, ingrediente utili- ser adaptada para adolescentes e jovens. Para
zado em muitos pratos da culinária brasileira. baixar a proposta metodológica, utilize o link
abaixo e selecione o PDF “proposta metodoló-
Essa experiência indica que Jesus a utili- gica – O Amigo das Crianças 79”
zou como metáfora para expressar a neces-
sidade de suas discípulas e seus discípulos
estarem presentes na comunidade e na Aproxime seu celular do QR-
sociedade (misturados como o sal) para -Code ao lado e baixe o PDF da
atuar na perspectiva de evitar o seu apodre- proposta metodológica de O
Amigo das Crianças No 79
cimento e exercer influência para que a vida
das pessoas tenha sabor e seja saudável. Ca-
berá às lideranças a tarefa de contextualizar
localmente e regionalmente o significado de Repetimos uma dica valiosa: as Agendas
“podridão” na vida das pessoas, das famílias, Escolares da Rede Sinodal de Educação tra-
da comunidade e da sociedade, e também o zem curiosidades sobre sal e luz e a sua rela-
significado de “conservação” dos princípios e ção com a tarefa do ser humano no mundo.
valores do Reino de Deus. Você pode acessar estes textos a cada início
de mês, nas Agendas físicas ou no Portal
A METÁFORA DA LUZ Luteranos.
Quanto ao ser a “luz do mundo”, pode-se
levar para a atividade uma vela e um caixo-
te, para fazer a experiência de acender uma REFERÊNCIAS
luz, colocá-la sob um caixote, e constatar
GRUNDMANN, Walter. Das Evangelium nach Matthäus. 6. Aufl.
que, escondida, ela não iluminará o ambien- Berlin: Evangelische Verlagsanstalt, 1986.
te e apagará por falta de oxigênio. Ou escon-
HILLYER, N. Sal. In: COENEN, Lothar & BROWN, Colin. Dicionário
der a vela em local muito baixo. Internacional de Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida
Nova, 2000.
Por outro lado, uma luz colocada no alto BOTELHO, Marcos. Sermão do Monte: sal da terra e luz do mundo.
cumprirá seu papel de dissipar a escuridão YouTube https://www.youtube.com/watch?v=Tm7K_mUrdEM
no seu ambiente, assim como uma cidade
construída sobre um monte. O discipulado
tem a função de atuar para evitar o “escure-
cimento” do mundo, seja nos níveis pessoal,
familiar, comunitário ou social. A discípula e
46
Subtemas e Subsídios

A gratidão pela nossa história nos convida a reconhecer e a confessar nossa


culpa e nosso pecado, justamente, por nos
1 - A GRATIDÃO PELA AÇÃO DE DEUS exortar contra a falta de memória diante do
NA HISTÓRIA – ESTUDO DO SALMO 106 que Deus fez e faz em nossa vida. Queremos
olhar mais de perto o Salmo 106, uma das
P. Dr. Roger Wanke, São Bento do Sul/SC orações de gratidão mais impactantes da
Bíblia.
INTRODUÇÃO
Na interpretação do texto bíblico vamos
O povo de Deus sempre foi chamado a imaginar que ele tem rosto, pés, coração e
agradecer. A gratidão é parte fundamental olhos. Falar do rosto, pés, coração e olhos do
da vida de quem crê e busca a Deus. Ela é texto bíblico é abordar a relação de pessoali-
parte inseparável da fé. Ao rendermos gra- dade entre texto e intérprete como princípio
ças, reconhecemos que tudo o que somos, metodológico. Esse método foi desenvolvido
temos e fazemos são, na verdade, dádivas por Hans Walter Wolff1, o qual considerava o
de Deus e não apenas frutos do nosso esfor- texto uma pessoa: O rosto do texto (aspec-
ço e trabalho. Ao agradecermos, damos toda tos da forma e gramática); Os pés do texto
a glória e a honra a Deus. Por isso, a gratidão (aspectos do contexto histórico); o coração
é resposta da fé, diante do que Deus fez para do texto (aspectos de seu conteúdo) e os
o seu povo. olhos do texto (aspectos da contextualização
do texto). Assim, interpretar é dialogar com
Infelizmente, o povo de Israel, no Antigo o texto, assim como dialogamos com uma
Testamento, nem sempre teve um coração pessoa.
grato ao Senhor. Muitas vezes, a amargura,
a murmuração, a ingratidão e a infidelidade O ROSTO DO TEXTO
fizeram parte de seu relacionamento com
Deus. Aliás, a ingratidão e a infidelidade de O Salmo 106 inicia e termina com a
Israel são dois aspectos tristes da história expressão hebraica “aleluia” (Louvai ao
do povo de Deus, que, inclusive, os levaram Senhor). O louvor assume, assim, a moldu-
à idolatria e ao abandono da fé. Israel se ra deste salmo, que conclui a quarta parte
esqueceu muitas vezes do Senhor e de suas do Livro de Salmos (Sl 90-106). Louvar ao
dádivas. Até dá para dizer que Israel se es- Senhor significa reconhecer quem Ele é e o
queceu, que havia se esquecido de Deus. que Ele faz por nós. Esse pequeno detalhe
é bem importante, pois não há gratidão
Contudo, no livro de Salmos, encontramos sem reconhecimento do que Deus é e do
muitas orações de gratidão. Todas elas agra- que Ele faz. O Salmo inicia e termina dan-
decem a Deus e convidam a render graças do, assim, a glória devida a Deus. Ele pode
pelos poderosos feitos do Senhor na vida e
na história do povo de Israel. Neste sentido, 1. Para saber mais, confira o artigo de Milton Schwantes, aluno
de Hans Walter Wolff: A cidade da Justiça – Estudo Exegético de
encontramos na Bíblia um Salmo que nos Isaías 1.21-20. In: Estudos Teológicos. São Leopoldo: Faculdade de
convida a agradecer, mas ao mesmo tempo, Teologia – IECLB, 1982, nº 1, Ano 22, p. 5-48.

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ser dividido em quatro partes principais: vados para a Babilônia. A outra, se encontra
a) Introdução (vv.1-5): Título e convite ao nos dois livros de Crônicas, contando-nos a
louvor (v.1); Pergunta dirigida à comuni- mesma história, mas sob o ponto de vista da
dade (v.2); Bem-aventurança (v.3); Petição esperança do retorno à Terra Prometida, após
pessoal do salmista (vv.4-5); b) Oração de o exílio na Babilônia.
confissão de pecados coletiva (v.6): As- Nesse sentido, o Salmo 106, assim como
sim como os seus antepassados, o salmista os demais salmos históricos, se conecta prin-
reconhece a sua ingratidão e infidelidade; cipalmente com a primeira versão da história
c) Lista de eventos da história do povo de de Israel e, por isso, se torna uma oração co-
Israel, nos quais há necessidade de reco- letiva de confissão de pecados. É o povo de
nhecer e confessar os pecados (vv.7-43): Israel lembrando de sua história, confessan-
no Egito (v.7); no Mar Vermelho (vv.8-13); do o seu pecado, sua ingratidão, sua infide-
no deserto (vv.14-15); no acampamento lidade e idolatria e, assim, rendendo graças
(vv.16-18), no Monte Horebe (vv. 19-23); na ao Senhor por sua bondade e misericórdia.
Terra Prometida (vv.24-43); no exílio entre
as nações (vv.44-47); d) Doxologia/Louvor Provavelmente, esse salmo era usado
final (v.48). como parte da liturgia de seu culto de arre-
pendimento (cf. Ne 9.3-7). Israel é um povo
Desta forma, o salmo 106 descreve a his- que aprendeu a viver da memória dos feitos
tória de Israel desde a libertação da escravi- de Deus. Israel considera o seu pecado. Não
dão no Egito até a esperança de retorno dos esconde os seus erros. Ao mesmo tempo,
exilados na Babilônia. Os eventos mencio- na liturgia de arrependimento de Israel, a
nados retratam a ingratidão e a infidelidade, primeira manifestação é o louvor a Deus.
a desconfiança e a desobediência do Povo Confessar a grandeza de Deus leva o povo
de Israel em relação aos feitos poderosos e de Israel a confessar o próprio pecado. Ser
ao agir de Deus em seu favor. Enquanto na perdoado leva o povo a louvar a Deus. Assim
moldura do salmo está o reconhecimento é na vida do povo de Deus.
e louvor ao Senhor (aleluia), no centro está
uma das mais profundas orações de confis- Por mencionar no final uma súplica para
são de pecados da Bíblia. que Deus os congregue de entre as nações,
isto é, do exílio, o Salmo 106 é datado do
OS PÉS DO TEXTO período após o Exilio Babilônico.

O Salmo 106 é conhecido como um dos O CORAÇÃO DO TEXTO


“salmos históricos” (cf. Sl 78; 105 e 136).
Justamente, por seu conteúdo histórico, ele Os vv.1-5 possuem semelhança com o Sl
convida o povo de Israel a reconhecer os 104.31-35. O título no v.1 é idêntico ao Sl
feitos e as dádivas de Deus em seu favor. 107.1; 118.1; 136.1; 1 Cr 16.34. Além disso,
Israel é um dos poucos povos da Antiguidade o Salmo 106 pertence ao grupo dos Salmos
que deixou registrada a sua história. A Bí- de Aleluia (cf. Sl 111; 112; 113; 135; 146;
blia, inclusive, conta duas versões da mesma 148-150). A partir do Salmo 136, pode-se
história. Uma vai do livro de Gênesis até 2 concluir que esse verso era usado como res-
Reis, contando principalmente a história de ponsório na liturgia do culto (cf. Sl 118.2-4).
Israel sob o ponto de vista de seu pecado, Assim, a comunidade se conscientiza no cul-
identificando qual foi a causa que os levou a to, por meio da liturgia, do que Deus faz. O
perderem a Terra Prometida e a serem le- salmista convida a comunidade ao louvor do
48
Senhor. A bondade (cf. Êx 33.19), a lealdade fez em favor do povo de Israel, mas, lamen-
e misericórdia (cf. Êx 34.6-7) do Senhor são tavelmente, descreve também como o povo
as razões deste louvor (v.1). A bondade e a foi ingrato e infiel em resposta ao que Deus
misericórdia do Senhor são seus atributos, havia feito por eles. Vejamos esses eventos
que fundamentam a sua aliança em favor do em detalhes:
povo de Israel. O v.2 aponta para os atos e
para o louvor de Deus, que são tão grandes, No Egito (v.7): A oração de confissão
ao ponto de não haver quem os possa enu- de pecados inicia com os eventos do livro de
merar e anunciar (cf. Sl 40.6; 92.6, 104.24; Êxodo. O verso cita duas coisas que os ante-
139.17; 150.2 – Dt 3.24). Os lábios humanos passados não fizeram: eles se rebelaram con-
não são capazes de anunciar o que Deus faz. tra Deus e não consideraram os feitos mara-
Isso já aponta aqui para a realidade peca- vilhosos de Deus (cf. Sl 78.56; Êx 14.10-12).
minosa do ser humano. O v.3 aponta para Israel não foi grato a Deus pela sua salvação.
a felicidade e bem-aventurança de quem
obedece ao Senhor. Esse aspecto aparece em No Mar Vermelho (vv.8-13): A saída da
Êxodo 19.5; Levítico 26.14ss.; Deuteronômio escravidão do Egito teve como ápice o mi-
11.27. Guardar o direito e praticar a justiça lagre da travessia pelo Mar Vermelho. Esse
são as exigências éticas, que têm seu funda- é o evento salvífico mais importante da fé
mento na aliança de Deus com o seu povo judaica. Os versos apontam para o que Deus
(cf. Êx 15.25; Js 24.25; Ez 18; 33; Dn 9.4). O fez por eles: Deus os salvou, repreendendo
v.4 é uma oração individual, pedindo que o e fazendo secar o mar, fazendo o povo pas-
Senhor se lembre do salmista e o visite com sar em terra seca. Deus os livrou de seus
sua salvação. Essa oração individual encontra inimigos. O povo de Israel até louva a Deus
eco comunitário dentro do próprio salmo, no por isso, mas logo depois se esqueceram dos
v.47 (cf. Sl 25.6-7). Experimentar a bondade feitos de Deus no Mar Vermelho.
e a salvação de Deus leva o salmista à ale-
gria como resultado de sua súplica, no v.5. No deserto (vv.14-15): Após terem
atravessado o Mar, o povo de Israel passou a
No v.6 o salmista introduz uma longa murmurar no deserto, mesmo Deus os tendo
oração de confissão de pecados coletiva. Ou sustentado com o maná, água e codornas.
seja, a geração que agora retorna do Exílio Israel não foi grato a Deus pelo seu sustento
Babilônico reconhece os seus pecados nos em meio ao deserto. A cobiça tomou conta
pecados de seus pais (antepassados). Assim de seus corações.
como a geração de seus antepassados, da
mesma forma esta nova geração pecou e se No acampamento (vv.16-18): Enquanto
afastou de Deus. Ela se tornou culpada de estiveram acampados no deserto, alguns do
ingratidão e infidelidade. O pecado confes- povo de Israel tiveram inveja de Moisés e
sado pelo salmista é descrito por meio do Arão, seus líderes. Israel não foi grato a Deus
afastamento do povo de seu relacionamento pelos seus líderes. A inveja é como um fogo
com Deus, pela culpa e iniquidade e pela que pode consumir lideranças existentes na
rebeldia e perversidade do povo. Para deixar comunidade.
essa confissão mais clara, o salmista mencio-
na a partir do v.7 até praticamente o final do No Monte Horebe (vv.19-23): O monte
salmo, eventos da história de seus antepas- Horebe, também conhecido na Bíblia como
sados, nos quais o pecado se tornou concre- monte Sinai, foi o local em que Israel recebeu
to. Cada uma das partes descreve o que Deus de Deus duas dádivas muito importantes para
49
a sua vida e seu testemunho na terra pro- outros, a rejeitar a Palavra de Deus, os man-
metida: as Leis (os Mandamentos) e o Culto damentos de Deus e o culto a Deus. O Salmo
(Tabernáculo). Mas Israel não foi grato a Deus 106, portanto, nos ensina a sermos gratos
pela sua Palavra e desprezou o relaciona- a Deus pela sua salvação (vv.7-13), pelo
mento com Deus. Eles fizeram um bezerro de sustento que ele nos dá ao longo de nossa
ouro e lhe prestaram culto. Israel se esqueceu caminhada (vv.14-15), pelas pessoas que ele
de Deus e dos seus poderosos feitos de novo coloca em nosso caminho (vv.16-18), pela
e caiu gravemente em idolatria. sua Palavra e seus mandamentos, bem como,
pelo privilégio de nos encontrarmos com
Na terra (vv.24-43): Quando entraram ele no culto (vv.19-23). Assim como a Terra
na Terra Prometida para vê-la como era e Prometida era uma dádiva de Deus ao povo,
experimentar antecipadamente suas dádivas, podemos a partir do Salmo 106 agradecer a
o povo de Israel rejeitou a terra (Nm 13-14). Deus por todas as dádivas que ele tem dado
Eles não queriam mais escutar a Palavra de a nós (vv.24-43). O Salmo 106 também nos
Deus, nem confiar na promessa divina. Mur- ensina a agradecer a Deus pela esperança
muraram mais uma vez e se tornaram per- que podemos ter nele (vv.44-48), porque ele
versos, comendo sacrifícios de ídolos (v.28), é bom e porque a sua misericórdia dura para
tornaram-se rebeldes ao Espírito do Senhor sempre (v.1). Assim, o Salmo 106 se torna
(v.33), não conquistaram a Terra Prometida consolo para um povo que tem problema de
como Deus lhes havia dito (v.34), mistura- memória, pois é Deus aquele que se lembra
ram-se com as nações, aprendendo suas prá- (v.45) do seu povo e tem compaixão por cau-
ticas perversas e adorando os seus deuses. sa de sua muita misericórdia.
Israel derramou sangue inocente, tornou-se
um povo idólatra rejeitando a Deus. OS OLHOS DO TEXTO

Entre as nações (vv.44-47): Por causa Ao celebrarmos em 2023 e 2024 o jubileu


disso, Deus os entregou ao poder das nações de 200 anos de presença luterana no Brasil,
(v.41). A ingratidão e a infidelidade levaram somos convidados a parar e refletir sobre a
o povo e Israel novamente para a opressão. nossa história, nossa trajetória, assim como
Foram subjugados e abatidos. Os vv.44-47 o Povo de Israel fez. Somos exortados a
descrevem tanto os eventos registrados no reconhecer o nosso pecado, que nos afastou
livro de Juízes, como também a realidade, de Deus e nos trouxe sérios “problemas de
séculos mais tarde, nos exílios assírio (722 memória” como igreja.
a.C.) e babilônico (586 a.C.). Por fim, o salmo
termina com o salmista lembrando das ações 1. O salmista pergunta: Quem poderá
salvíficas de Deus (cf. Êx 3.7-9): Deus olha a contar os feitos do Senhor? O que Deus
angústia, ouve o clamor, lembra-se do seu tem feito ao longo da história da nossa
povo por causa de sua aliança. Isso faz com comunidade, desde o seu surgimento?
que o salmista possas clamar: “Salva-nos, Se- O que podemos enumerar dos feitos
nhor nosso Deus, e congrega-nos de entre as de Deus em nossa comunidade para
nações, para que demos graças ao teu santo agradecermos a ele?
nome e nos gloriemos no teu louvor” (v.47).
2. O salmista confessou os pecados de
Como podemos ver, a ingratidão e a seus antepassados como seus peca-
infidelidade levaram o povo a se esquecer dos. Ele se colocou no lugar do seu
de Deus, a ter cobiça, a sentir inveja uns dos povo. Que pecados identificamos na
50
história de nossa comunidade e preci- e amigos e a chance de conviver com eles
samos confessar diante do Senhor? em comunhão e amor. Dás-me uma tarefa a
cumprir, e minha vida, mesmo que seja mo-
3. O salmista aprendeu com os erros de desta, chega a ter alvo e sentido. Fazes-me
seus antepassados. Ao confessar os conhecer e aceitar o evangelho de teu Filho
pecados, ele pôde agradecer a Deus e Jesus. Perdoas os meus pecados por amor
suplicar com esperança pelo futuro do dele. Substituis os trapos de minha justiça
seu povo. O que podemos aprender própria pelo vestido branco de sua justiça.
da história da nossa comunidade para Ensinas-me a viver em sua comunhão, a
continuarmos no presente e no futuro amar os meus próximos e a servir-lhes com
edificando nossa comunidade e cres- os dons que me deste. Fazes-me viver na
cendo de forma integral? comunidade dos que creem em Jesus Cristo e
me guardas em Cristo através do teu Espírito
4. O avivamento de uma comunidade só Santo. Dás-me a esperança da vida eterna
acontece onde há arrependimento. O em teu reino. O teu amor e a tua fidelidade
arrependimento, por sua vez, leva o excedem o meu entendimento e enchem
povo de Deus à prática de ações con- o meu coração de gratidão. Louvado sejas,
cretas de gratidão (v.48), de justiça Deus Pai, Filho e Espírito Santo” (Orações
(v.3). Que ações concretas de gratidão para a Família Cristã, 1990, p. 7).
a Deus e justiça você e sua comunida-
de estão dispostos a fazer? Que impli- SUGESTÕES DE LEITURAS BÍBLICAS
cações elas têm para o planejamento
missionário da nossa comunidade? A Bíblia fala muitas vezes e de formas di-
ferentes sobre gratidão. Além do Salmo 106,
SUGESTÃO DE MÚSICAS o livro de Salmos contém outros salmos de
gratidão: Salmo 34; 100; 105; 107; 116; 117;
Há várias músicas de louvor e gratidão 136; 138. No Novo Testamento, encontramos
em nosso livro de Canto (LCI): 78 [A ti, ó o famoso texto de Lucas 17.11-19, o qual
Deus, fiel e bom Senhor]; 79 [Louvo, eu te narra que apenas um dos leprosos, curados
louvo, ó Deus]; 84 [Te agradeço]; 125 [Salmo por Jesus, retornou para lhe agradecer. O
106]. Além dessas, sugiro ainda uma música apóstolo Paulo também nos deixou várias
baseada no Salmo 106, gravada pelo Ven- exortações à gratidão: Colossenses 3.16-17;
cedores por Cristo. Link: https://youtu.be/ Efésios 5.19-20; 1 Tessalonicenses 5.18.
MzOAl9KPBzE
SUGESTÃO DE ATIVIDADES
ORAÇÕES COM DIFERENTES FAIXAS ETÁRIAS

O saudoso P. Lindolfo Weingärtner nos a) Para crianças: No contexto da família,


deixou uma bela oração de gratidão: mas também no contexto do culto in-
fantil, pode-se fazer o “Dia da Família”,
“Hoje quero louvar-te, Senhor – quero no qual se tira um tempo para grati-
agradecer-te por tudo que me fizeste. Tu dão. Você pode programar a visita na
me deste a vida, essa dádiva maravilhosa. casa dos avós e pedir que eles contem
Deste-me um corpo sadio que me permi- algo da história deles aos filhos. Se for
te trabalhar e agir, em busca de uma vida com o culto infantil, pode-se fazer uma
plena, realizada e feliz. Deste-me familiares visita na casa de uma pessoa idosa e
51
pedir que ela conte algo da sua história b) Para jovens: As mesmas sugestões
de fé e/ou da história da comunidade. acima se aplicam muito bem no con-
Você pode tirar um tempo para rever texto de pessoas jovens. Mas pode-se
o álbum de fotos da família. Ao ver também programar um culto de lou-
as fotos, você está trazendo à memó- vor e gratidão e convidar o grupo de
ria momentos especiais junto com a jovens para dirigi-lo.
família. Pode-se também fazer uma
“Caixinha da Gratidão”, na qual são co- c) Para adultos: Promover uma “Noite
locados motivos de gratidão que serão de Testemunhos”, na qual se deixa
levados como motivos de oração. Ou espaço aberto para pessoas compar-
então, fazer uma “Árvore da Gratidão”, tilharem seus motivos de gratidão.
na qual se pendura folhas de papel Lideranças e o presbitério da comuni-
com motivos de gratidão. A árvore dade podem também trazer motivos
pode ser colocada dentro da igreja e de gratidão da comunidade. Sugere-se
durante algumas semanas novos moti- intercalar os testemunhos com músi-
vos de gratidão podem ser colocados. cas, leitura de salmos e orações.

52
2. ATÉ AQUI ME TROUXE DEUS - REFLEXÃO SOBBRE O HINO LCI 470

Mus. Dra. Soraya Heinrich Eberle, La Ceiba/Honduras Rudolstadt (Turíngia/Alemanha), porque sua
família aí se refugiou, fugindo dos horrores
Cada pessoa olha para o passado de uma da Guerra dos Trinta Anos que assolava seus
forma distinta, e esse olhar também muda, domínios. Era uma guerra que tinha num
dependendo de cada época da vida. Como primeiro plano motivos religiosos, envolven-
você olha para o que já passou? O olhar sobre do vários países e muitas diferenças teológi-
nossa vida vivida fornece o substrato para cas. Mas havia também disputas políticas e
vivermos o presente e sonharmos o futuro. territoriais. Sangrenta e cruel, a guerra veio
acompanhada de doenças, pilhagens e, além
Que diriam as pessoas imigrantes que
de provocar a morte, desalojou muitas pesso-
chegaram ao Brasil há 200 anos, se lhes per-
as. Esse foi o caso da família do conde Albert
guntássemos o que desejavam para o seu fu-
Friedrich de Barby e Mühlingen, pai de Ämilie.
turo? E em termos de fé, sonhariam elas com
uma igreja estabelecida em território brasilei-
Em 1641 ela perdeu o pai. Um ano após,
ro, fruto de sua chegada e perseverança?
a mãe. Foi acolhida por sua tia em Rudolsta-
Há mais de 400 anos uma mulher escre- dt, cidade na qual havia nascido e viveu até
veu uma poesia que atravessou o tempo. Um o final de sua vida. Casou-se com o primo,
texto de cunho pessoal, uma declaração de o conde herdeiro Albert Anton von Schwarz-
fé e confiança em Deus. Essa mulher viveu burg-Rudolstadt. A seu lado, viveu um casa-
com privilégios socioeconômicos. Ao mesmo mento estável, mas não sem dores.
tempo, fez da devoção pessoal a Deus o seu
maior legado. A morte cercou sua história. Além de pai
e mãe, perdeu irmãos e irmãs de sangue e
Abra o Livro de Canto da IECLB no número
de criação muito cedo. Perdeu a filha com
470. Leia e absorva as estrofes do hino que
apenas três dias de vida. Convém ter em
denominamos Até aqui me trouxe Deus.
mente essa permanência da morte na vida
Este hino normalmente é cantado em da condessa, para compreender o conteúdo
celebrações do ciclo da vida (aniversários, de suas poesias e de sua devoção.
bodas, jubileus), ou momentos cruciais e
limítrofes, como enfermidades e sepulta- Em Rudolstadt se primava por uma ex-
mentos. Há várias formas de olhar para este celente formação. A poesia tinha um papel
hino. Aqui, vamos sugerir algumas delas; especial naquela corte. Pode-se dizer que
quem sabe você e sua comunidade encon- ela alcançou em Rudolstadt o papel que
trem outras? a música teve em outras cortes. Ämilie se
destacava como poetisa. Ela foi pratica-
1. A AUTORA E SEU CONTEXTO mente contemporânea de Johann Sebastian
Bach e sua obra é um pouco posterior à do
Ela é Ämilie Juliane, condessa imperial de grande poeta luterano Paul Gerhardt. Mui-
Schwarzburg-Rudolstadt, nascida condessa tas de suas poesias foram publicadas ainda
de Barby. Nasceu e foi batizada em 1637 em durante sua vida.
53
Como uma mulher chegou a ter tal espaço Durante um desses momentos de ora-
e visibilidade naquela época? Há alguns as- ção, em 3 de dezembro de 1706, aos 69
pectos que colaboraram para isso. O primeiro anos, a condessa deixou esta vida. Suas
é que ela fazia parte da nobreza. Dificilmente últimas palavras foram um grito de triunfo:
uma mulher ocupada com as tarefas da casa, “transformada!”, “transformada!”1! A que se
campo ou oficina teria o tempo para dedicar- referia a condessa? Não se sabe, porém, a
-se à arte. O trabalho cotidiano era pesado julgar pela forma como conduziu sua vida, é
demais! Além disso, tinha excelente forma- pouco provável que estivesse se referindo à
ção. Mas o momento também era oportuno. sua herança, casamento, alguma doença...
mas sim, que finalmente havia chegado à
Desde o tempo da Reforma, no meio solução desse impasse que a vida terrena
protestante surgiram várias mulheres como significava para ela, entre a gratidão pelo
autoras de textos espirituais. Já no tempo de que vivia e o desejo de se encontrar com
Ämilie Juliane, o pietismo crescente motivava seu Salvador.
muitas mulheres na produção textual. E não
só isso, mas em determinados círculos pietis- 2. O HINO - ASPECTOS GERAIS
tas mulheres assumiram tarefas de pregação
da Palavra e liderança de comunidades. Há muita diferença entre escrever para a
comunidade ou para a devoção pessoal. Quem
O aspecto mais marcante, no entanto, era compõe sabe disso – ou deveria levar isso em
a devoção pessoal da condessa. Essa piedade consideração. As poesias e hinos de Ämilie
individual é muito característica do período Juliane não foram escritas para a comunidade,
(chamada inclusive de piedade barroca). salvo raras exceções. São expressões privadas,
Ämilie recebeu impulso para escrever do das quais desfrutava um pequeno círculo, e
poeta e jurista Ahasverus Fritsch, tutor de não eram material para o culto.
seu esposo. Fritsch era um adepto do pietis-
mo luterano de Philipp Jakob Spener, o qual Por isso, suas poesias eram tão pessoais
ele transmitiu a Ämilie. Também a literatura e intimistas, que chegariam a soar estra-
espiritual de edificação, típica do luteranismo nhas para nós. Está muito presente a lin-
desde metade do século XVI, estava presen- guagem em primeira pessoa, demonstrando
te naquela casa. E na vida cotidiana, havia uma relação afetiva com Jesus (eu-tu, infor-
momentos de oração e meditação pessoal. mal no alemão). Aparece a figura da Noiva
Suas poesias eram resposta às mais diversas de Cristo e das Bodas do Cordeiro. Assim a
situações cotidianas. Nasciam da fé vivida. autora se entende, chegando a denominar-
Tudo a inspirava: uma visita, uma enfermida- -se “Prometida do Cordeiro”. Isso explica
de, ou a gratidão por uma refeição. as poesias relacionadas à morte: será, para
ela, seu grande encontro com seu amado
Havia na condessa uma especial dedicação noivo. Da mesma forma, suas poesias fazem
em preparar-se para a morte. Por isso, rela- referência às feridas de Jesus (chagas). Essa
ta-se que ela mantinha, nos últimos anos de linguagem pode ser chocante para nossos
vida, as Sterbebetstunden, momentos de ora- dias, mas era um aspecto comum da pieda-
ção em preparação para a morte. Fazia parte de da época.
de seu universo devocional um anseio, uma
alegria pela morte. Isso porque ela representa-
1. A palavra em alemão Aufgelöst, (do verbo auflösen), além de
va o reencontro com Jesus e a saída do mundo “transformada”, ainda pode ter outras acepções, como encerra-
de pecado. Um alívio e um ponto de chegada. do, extinto, desfeito, dissolvido, reconstituído.

54
Da pena de Ämilie Juliane foram vertidas sia, pois a métrica segue a chamada estrofe
em torno de 600 poesias, todas submetidas luterana, o que possibilita a adaptação a
à correção de Ahasverus Fritsch. Sua obra muitas melodias com a mesma estrutura.
poética foi criativa e da mais alta qualidade
artística. A condessa escolhia com cuida- A melodia que utilizamos no LCI parece
do quem iria musicar suas poesias e quais pouco dramática e sem sobressaltos, em
melodias seriam utilizadas. Diferentemente comparação com outras do mesmo período e
dos textos de Paul Gerhardt, para os quais hinos da mesma autora. Peter Sohren, autor
somente mais tarde era criada a melodia, da música, era um professor, Kantor4 e edi-
para ela a música era primordial. Com exati- tor de hinários. Entre eles, um hinário muito
dão colocava as palavras nos pontos corretos, importante: Praxis pietatis melica, de 1668,
para dar-lhe a ênfase necessária e para que onde essa melodia apareceu pela primeira
juntos, texto e música reforçassem a inten- vez, para outro texto.
ção e o aspecto teológico.
No pensamento teológico luterano do
Ämilie Juliane mantinha momentos devo- período barroco, desenvolveu-se uma teoria
cionais diários. A partir disso, surgiu a obra, sobre o cuidado e socorro de Deus a cada
impressa por Heinrich Urban em Rudolstadt, criatura. O tema deste hino é a ação de Deus
Tägliches Morgen-, Mittag- und Abendopfer2. para com as pessoas que colocam sua con-
Em 1699, o hino Até aqui nos trouxe Deus fiança em Jesus Cristo e a ele permanecem
aparece nessa publicação, sob o título (que é, fiéis até o final5. Ämilie se entendia como
portanto, o título original da autora), Quartas- parte desse coro de pessoas fiéis e que des-
-feiras após a refeição. É provável, no entan- frutam da companhia de Deus.
to, que o hino já existisse há alguns anos.
A poesia é monotemática e não procura
Dentro do todo da obra, Até aqui me
abarcar toda a Teologia. Essa concentração
trouxe Deus é um hino, de certa forma, inco-
teológica Ämilie aprendeu de Spener, que
mum, que chama a atenção pela temática; é
aconselhava que as pregações fossem dire-
possível dizer que ele parece leve demais3.
tas e simples.
Contém uma alegria pela vida terrena que
não era habitual na autora. Somente a ter-
3. MEDITANDO SOBRE A POESIA
ceira estrofe deixa novamente transparecer
o tema da morte. Alguns estudiosos levan-
Leia outra vez a poesia da condessa Ämi-
tam hipóteses: seria esse hino uma exceção,
lie Juliane. Observe a organização das estro-
composta para o canto da comunidade?
fes. Você percebe como nelas há uma suces-
A melodia sofreu alterações, especialmen- são de tempos (passado – presente – futuro)?
te no século XIX, quando houve uma grande
revisão dos hinos na Alemanha e elementos Temos diante de nós a versão em portu-
rítmicos barrocos foram retirados. Outras me- guês da poesia que foi escrita originalmente
lodias também foram usadas para esta poe- em alemão. Nunca é fácil fazer uma versão;
métrica, ritmo, acentos, expressão são pen-

2. Algo equivalente a Ofertas/Sacrifícios diários da manhã, do


meio-dia e da noite.
3. Basta comparar com a outra poesia da mesma autora, LCI 332, 4. Na tradição luterana, o Kantor é o diretor musical de uma
Quem sabe o termo desta vida?. Considerar também as datas da igreja, responsável pelos coros, organização e acompanhamento
melodia em uso para este hino, muito posteriores à poesia. Ver da música no culto e pela instrução musical da comunidade.
posteriormente a explicação sobre a estrofe luterana. 5. A chamada Providentia Dei peculiaris

55
sados para o idioma original. Por isso, vamos ço geográfico (entre Mispa e Sem). Quando
considerar que a versão em português é Ämilie Juliane utiliza a mesma expressão,
o melhor que pudemos ter, e realmente é refere-se a um espaço temporal. No olhar re-
muito boa. Mas, em algumas considerações, trospectivo sobre o tempo de vida, ela tam-
teremos que nos referir também ao original. bém diz: aqui estamos, até aqui chegamos.
Mas se refere ao tempo, não a um local.
Cantemos a primeira estrofe:
Agora, vamos cantar a segunda estrofe:
Até aqui me trouxe Deus;
guiou-me com bondade. Louvor te rendo e gratidão
Ele amparou os passos meus por tudo que fizeste;
com graça e fieldade. por toda a graça e proteção
Até aqui me protegeu, que sempre, ó Pai, me deste.
perdão e paz me concedeu, Quero exaltar, meu Salvador,
conforto e alegria. o teu poder, o teu amor
com que me agraciaste.
Você observa a expressão Até aqui? Ela
aparece duas vezes. Repetição, em poe- Já na segunda estrofe, se trata de gra-
sia, sempre é ênfase. E isto ela faz olhando tidão por perceber a fidelidade de Deus.
retrospectivamente, para o que já viveu. Nos Essa estrofe remete ao Magnificat de Maria,
verbos trazer, guiar, amparar, proteger, con- relatado em Lucas 1.49 (Quero exaltar, meu
ceder está revelada a forma de ação de Deus Salvador/o teu poder, o teu amor/com que
na trajetória de quem nele confia. Trata-se me agraciaste), demonstração consciente
quase de um catálogo6: é assim que Deus de louvor e exaltação ao dar-se conta dos
age! Então, é um convite a reconhecer a ação feitos de Deus na própria existência. E esse
de Deus na vida, na caminhada. No origi- aspecto é muito importante trazer para a
nal, a expressão Até aqui (Bis hierher) não vida cotidiana. As dificuldades diárias muitas
aparece duas, mas cinco vezes na primeira vezes turvam o olhar, não permitindo perce-
estrofe, e mais uma vez na segunda! ber a graça de Deus. Cantar o hino é trazer
esse dar-se conta para dentro do cotidiano,
Até aqui... esta expressão está claramen- é atravessar o dia a dia com a memória das
te ligada ao texto bíblico que serve de mo- bênçãos vividas. Exaltar a Deus com gratidão
tivação a todo o hino, que se encontra em 1 pelo passado, pelo já vivido, é força e impul-
Samuel 7.12. Após uma vitória apertada na so para o cotidiano: também aqui e agora
batalha contra o povo filisteu, Samuel buscou Deus está presente! Esse é o meio do cami-
uma pedra (não uma pedrinha para guardar nho, até aqui chegamos.
no bolso, certamente), a colocou a meio ca-
minho entre Mizpa7 e Sem, como que dizen- E chegamos à terceira estrofe:
do: aqui estamos, até aqui chegamos. Em
seguida, deu a essa pedra um nome: Eben- Ajuda no porvir, Senhor,
-Eser (Pedra de Socorro), e disse as palavras: com teu poder me guia;
Até aqui nos ajudou o Senhor. Até aqui, na revela o teu eterno amor
acepção de Samuel, referia-se a um espa- em dor e em alegria.
Confessarei até morrer:
6. No original, aparecem outros verbos: manter, alegrar, ajudar.
7. Mizpa era o local do qual o povo havia saído para lutar contra
Por Cristo, ó Deus, me hás de valer!
o povo filisteu. Leia desde o início do capítulo 7 de 1 Samuel. Somente em ti confio!
56
A terceira estrofe é a consciência de que O tempo perguntou pro tempo
ainda há caminho a percorrer. Novamente é Quanto tempo o tempo tem.
reconhecida a fidelidade de Deus no passa- O tempo respondeu pro tempo
do, e ela agora é impulso para o restante da Que o tempo tem tanto tempo
jornada. É necessário, sim, parar de tempos Quanto tempo o tempo tem.
em tempos para tomar fôlego, olhar para
trás e perceber o percorrido, avaliar como A partir dela, vamos dialogar, partindo de
seguir. Mas a jornada não para. E a poetisa algumas perguntas: De que assunto trata a
reconhece: ele ajuda, como já ajudou an- parlenda? Como dividimos o tempo de vida
tes (no original: er hilft, wie er geholfen). que temos? Chamamos de presente, passado
É nesse passado que se afirma o futuro. No e futuro. Quanto tempo de passado você já
cuidado já experimentado, a jornada segue. tem? O que você sonha para o seu futuro? Já
A presença e o cuidado de Deus vão conosco tem alguma ideia?
até o final, o passo derradeiro. A aspiração
da poetisa para o que vem adiante é seguir Vamos conhecer um hino escrito há
confessando o cuidado e o amor de Deus, muito tempo, lá na Europa, do outro lado
através de Cristo Jesus. Porque não basta do Oceano Atlântico. Foi escrito por uma
começar bem, é necessário terminar bem. condessa, e ela o escreveu porque percebia
como Deus havia cuidado dela no passado.
A pedra Eben-Eser é o memorial do povo Então, no presente, ela está louvando e
israelita. O hino é o memorial de Ämilie Ju- agradecendo a Deus, e pedindo que Deus
liane. Precisamos trazer à memória em nossa cuide dela no futuro. Vamos conhecer esse
vida cotidiana o caminho que já trilhamos; hino e cantá-lo também? (Cantar o hino
dar graças a Deus pelo ponto no qual nos com as crianças, ensinando e comentando
encontramos. E rogar pelo futuro. estrofe a estrofe)

Rumores de guerra e violência, pilhagens, Confeccionar uma linha do tempo de vida


mortes e luto, doenças dizimadoras da popula- das crianças. Pedir que coloquem momentos
ção, desespero, desorientação, migração, pes- especiais em que sabem/perceberam que
soas desalojadas e refugiadas. Nossos tempos Deus as acompanhava. Explicar que muitas
têm muito em comum com os dias de Ämilie vezes Deus nos acompanha através de outras
Juliane. No entanto, e ainda assim, podemos pessoas, que nos consolam, abraçam, são
dizer: Até aqui nos trouxe Deus, guiou-nos amigas e nos protegem.
com bondade. Quem sabe, seja tempo de
você também fazer o seu memorial? 2. Para adolescentes e jovens:
Realizar o mesmo diálogo sobre o tempo
SUGESTÕES DE DESDOBRAMENTOS sugerido acima para crianças, e apresentar o
hino. Além disso, organizar um diálogo com
1. Para crianças (pode ser adaptado uma pessoa idosa, com larga caminhada
para jovens e adolescentes): comunitária, para contar sobre o passado
Hoje vamos conhecer uma parlenda. Vocês da comunidade de fé. E com uma pessoa do
sabem o que é uma parlenda? Talvez você presbitério, para falar dos planejamentos e
até a conheça. Não sabemos quem a inven- sonhos para o presente e o futuro.
tou; as parlendas passam de geração em
geração e não se sabe ao certo onde e como 3. Para adultos:
surgiram. Vamos lê-la? (Tentar memorizar). • Como este hino “conversa” com a
57
história da IECLB, neste momento de MATERIAL ADICIONAL
celebração dos 200 anos de presen-
ça luterana no país, e quando ainda Músicas:
sentimos os efeitos da pandemia • Deus que renova (ou Até aqui chega-
Covid-19? mos, Deus) L: Felipi Schulz Bennert e
M: Soraya Heinrich Eberle (este hino
• Quais os impulsos que o estudo do contém uma similaridade temática
hino traz a vocês, como comunidade com Até aqui nos trouxe Deus, mas
de fé, para o futuro? com uma roupagem contemporânea.
Foi escrito no decorrer do primeiro ano
da pandemia de COVID-19).

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de ao lado e veja a edxecução
do hino no YouTube

• Até aqui nos trouxe Deus, LCI 470 –


Produção: Paróquia Matriz da IECLB.

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• Comentário sobre o hino:

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sobre o hino no Portal Luteranos

58
3. A HISTÓRIA DA IECLB E A HISTÓRIA DE NOSSA COMUNIDADE
- UM SEMINÁRIO PARA A COMUNIDADE LOCAL

P. Me. Osmar Luiz Witt, São Leopoldo/RS cuidadosa investigação de tudo desde a sua
origem, dar-lhe por escrito, excelentíssimo
A fé cristã se funda em acontecimentos Teófilo, uma exposição em ordem, para que
do passado. As pessoas cristãs confessam você tenha plena certeza das verdades em
que Deus tem agido e age por meio da his- que foi instruído.” (Lucas 1.1-4)
tória humana. No testemunho das Sagradas
Escrituras encontramos também o povo de Por sua vez, as primeiras gerações de
Israel fazendo referência ao seu passado com pessoas cristãs buscaram guardar a memória
Deus para expressar a sua fé: “Meu pai foi formulando os “Credos”, nos quais temos a
um arameu prestes a perecer. Ele foi para o expressão de como professaram e vivencia-
Egito, e ali viveu como estrangeiro com pou- ram a fé no Deus Triúno.
ca gente; e ali veio a ser uma nação gran-
de, forte e numerosa. Mas os egípcios nos O tema do ano “IECLB. Igreja de Jesus
maltrataram, oprimiram e nos impuseram Cristo” também nos convida a refletirmos
dura servidão. Clamamos ao Senhor, Deus sobre a nossa história enquanto Igreja de
de nossos pais; e o Senhor ouviu a nossa Jesus Cristo no Brasil. Estamos celebrando
voz e viu a nossa angústia, o nosso trabalho 200 anos de presença evangélica luterana
e a nossa opressão. E o Senhor nos tirou do no Brasil. Os primeiros imigrantes chegaram
Egito com mão poderosa, com braço esten- em maio de 1824, a Nova Friburgo, no Rio de
dido, com grande espanto, com sinais e com Janeiro. Logo em seguida, em julho de 1824,
milagres. Ele nos trouxe a este lugar e nos chegaram imigrantes a São Leopoldo, no Rio
deu esta terra, terra que mana leite e mel.” Grande do Sul. Seguiram-se muitas outras
(Deuteronômio 26.5-9) levas de imigrantes (conforme podemos ver
na linha do tempo), das quais se constituíram
Do mesmo modo, preservar a memória Comunidades que perseveraram em sua fé.
histórica sempre foi uma característica da fé
cristã. O que Deus fez em Jesus Cristo, em sua Entre os elementos que ajudavam nessa
encarnação, morte e ressurreição é decisivo preservação estavam a Bíblia Sagrada e o Ca-
para a confissão de fé no Salvador. Por isso, tecismo Menor de Martim Lutero. Pessoas sem
a Igreja cristã sempre se empenhou na pre- formação teológica formal, mas que eram
servação da memória do que aconteceu no eleitas pelas Comunidades, exerceram o papel
passado. Os Evangelhos foram escritos para de lideranças que ajudaram na preservação
que se pudessem guardar os ensinamentos e da fé evangélica de confissão luterana. Com
as práticas de Jesus. O evangelista Lucas ini- elas também vieram os primeiros pastores e
cia sua narrativa com a seguinte informação: professores que ajudaram a reunir as Comuni-
“Visto que muitos já empreenderam uma dades em Sínodos (a palavra Sínodo significa
narração coordenada dos fatos que entre nós o caminho que andamos juntas e juntos).
se realizaram, conforme nos transmitiram
os que desde o princípio foram deles tes- As primeiras Comunidades enfrentaram
temunhas oculares e ministros da palavra, os desafios do isolamento e da condição de
igualmente a mim pareceu bem, depois de minoria religiosa num Império que era ofi-
59
cialmente católico romano, conforme o artigo b) Refletir sobre o lugar da história em
5º da Constituição do Império do Brasil de nossa vida de fé.
1824. Hoje, somos regidos e regidas pela c) Celebrar, com gratidão, o agir de Deus
Constituição de 1988, a qual prevê um Es- no passado e no presente.
tado laico e liberdade religiosa para todos
os credos. Nossos desafios para vivenciar e Saudação e boas-vindas
testemunhar a fé também são outros do que
os que tiveram nossos antepassados em seu Hino e oração
tempo. Mesmo assim, podemos aprender de
seus exemplos e da sua perseverança na fé. Apresentação do tema
A palavra do Evangelho de Jesus quer alcan-
çar a nós como alcançou nossos pais e mães a) Escolher algumas passagens bíblicas
na fé. Mas, os desafios missionários de nosso dentre as indicadas.
tempo são outros e são nossos. A memória b) Ler as passagens em conjunto com o
histórica será sempre inspiração e fonte de grupo.
entendimento do tempo presente que Deus c) Convidar para que transcrevam numa
nos concede viver. folha de ofício, em letras grandes, uma
passagem escolhida (a mesma passa-
Para nos aproximarmos dos acontecimen- gem bíblica poderá ser escolhida por
tos do passado e para crescermos na consci- várias pessoas).
ência de quem somos hoje, enquanto Igreja d) Fazer um varal com as passagens bíbli-
de Jesus Cristo no Brasil, vamos promover se- cas.
minários de estudo e de convivência. Serão e) Convidar cada participante a comentar
três encontros, cada qual com uma temática a escolha feita ao fixar o versículo no
própria, mas também com a perspectiva de varal.
continuidade entre eles. Assim, caso alguém
não possa estar em todos os encontros, po- Versículos bíblicos:
derá ter proveito na participação em um, ou
dois. Uma possibilidade, para alcançar mais Deuteronômio 26.5-9: a memória do pas-
pessoas, seria a de filmar os encontros e sado ajuda a entender o presente.
produzir a edição de vídeos com os momen- Lucas 1.1-4: é preciso entender o que
tos mais significativos, os quais poderiam ser efetivamente aconteceu.
partilhados com os membros da Comunida-
Lamentações de Jeremias 3.21-24: a me-
de. Para isso, será necessária a concordância
mória do passado traz esperança de futuro.
de todas as pessoas do grupo.
Êxodo 28.6-14: as vestes litúrgicas ajudam
1º ENCONTRO na preservação da memória.
Salmo 102.12: de geração em geração
Assunto: A memória histórica em passa- permanece a memória do nome do Senhor.
gens das Sagradas Escrituras. Isaías 26.7-9: nossas almas anseiam pela
Material: Bíblia, folhas de ofício, canetas justiça de Deus.
pincel, corda de varal e prendedores.
Objetivos: Mateus 26.6-13: guardar a memória das
a) Oportunizar o contato com passagens lideranças exemplares.
bíblicas que se referem ao tema da 1 Coríntios 11.23-26: a memória do Se-
memória histórica. nhor cria comunhão/comunidade.

60
Encaminhamentos para Hino e oração
o próximo encontro:
Apresentação do tema
a) Estimular que cada pessoa busque a) Demarcar em papel pardo um cami-
contato com um familiar ou uma pes- nho, no piso ou na parede, que repre-
soa mais idosa que saiba contar alguns senta a história da Comunidade.
acontecimentos relacionados com a b) Quem conseguiu reunir as informações
história da sua Comunidade. Anotar as mais antigas pode começar depositan-
informações colhidas e trazer para o do-as no início do caminho, explican-
próximo encontro. do para as pessoas o que descobriu.
b) Reunir fotografias, recortes de jornal Sempre que possível colocar ao lado
ou revistas que ajudam a preservar a de cada informação uma data para
memória histórica da Comunidade e situá-la no tempo.
das famílias que dela fazem parte. c) Cada participante poderá trazer a sua
c) Visitar o cemitério e identificar túmu- contribuição. Uma pessoa de cada vez.
los históricos, bem como a fé que se Assim, todas tomam conhecimento
expressa em passagens bíblicas ou das descobertas feitas.
inscrições nas lápides. d) Se houver cópias dos textos, imagens
d) Não é necessário que todas as pessoas e fotos pode-se afixar o papel pardo
façam todas as tarefas. Pode-se dividir com o caminho percorrido pela Co-
o grupo para cada atividade. munidade na parede da igreja ou do
salão. Os materiais originais devem
Fazer uma avaliação breve sobre a experi- voltar para o lugar de onde vieram.
ência feita
Fazer uma avaliação breve sobre a experi-
Oração final e hino de encerramento ência feita

2º ENCONTRO Oração final e hino de encerramento

Assunto: A história de nossa Comunidade Encaminhamentos para


Material: Alguns metros de papel pardo, o próximo encontro
cola ou fita para fixar e canetas pincel.
Objetivos: a) Entrevistar pessoas que não são mem-
a) Reconstruir a história da Comunidade. bros e ouvir o que elas sabem dizer
b) Relacionar fotos, textos e testemunhos sobre a Comunidade. Pode-se pensar
colhidos com a história da Comunida- em grupo e formular as perguntas que
de. podem ser feitas.
c) Reconhecer que a história é feita de b) Escrever em uma folha quais memó-
pessoas idosas, jovens, crianças, ho- rias são significativas para mim na par-
mens e mulheres. ticipação na Comunidade (p. ex., quem
d) Vincular, se possível, a história da me ensinou a orar? Havia meditação
Comunidade com a linha do tempo ou leitura bíblica em casa? Quem me
dos 200 anos de presença evangélica trouxe para o culto infantil? Quando a
luterana no Brasil. Comunidade se reuniu para um muti-
rão e o que foi realizado? Quais são os
Saudação e boas-vindas grupos dentro da Comunidade?...)
61
c) Reunir receitas de alimentos que são em quatro espaços onde se pode fazer
tradicionais em nossa família e que um desenho ou escrever uma palavra
estão ligadas à memória de nossos escolhida.
antepassados. Preparar um alimento b) Após feitos os desenhos, deixar que
para partilhar com o grupo. cada qual compartilhe os momentos
significativos de sua vida de fé (se o
3º ENCONTRO grupo for muito grande será necessá-
rio escolher algumas pessoas que se
Assunto: Preservar o passado e construir disponham a partilhar; ninguém deve-
o futuro rá ser forçado a fazê-lo).
Material: Alimentos preparados em casa, c) Com base nos depoimentos, procurar
folhas de ofício, canetas pincel, quadro e caracterizar os elementos de nossa
pincel ou datashow. identidade confessional luterana que
Objetivos estão presentes (escrever num quadro
a) Contribuir para a consciência de que ou projetar com datashow).
conhecer a história não é somente d) Ouvir o resultado das entrevistas com
saudosismo, mas oportunidade para pessoas não membros da Comunidade
descobrir o potencial que pode ser sobre o que dizem a nosso respeito.
posto a serviço da missão de Deus. e) Refletir com o grupo sobre desafios
b) Ajudar a entender que sempre há para a Comunidade no lugar onde se
“altos” e “baixos” na história da Igreja. encontra e propor algumas iniciativas
Há motivos de gratidão a Deus e há viáveis de serem realizadas.
motivos de buscar o perdão de Deus.
c) Fortalecer a compreensão de que a Segue-se uma refeição em conjunto
Comunidade/Igreja existe não para partilhando os alimentos trazidos. Algu-
si mesma, mas para servir a Deus no mas pessoas poderão compartilhar infor-
mundo. mações sobre as receitas, tais como de
onde elas vêm, em que épocas são servi-
Apresentação do tema: das nas casas, quais memórias elas des-
a) Cada participante desenha quatro mo- pertam, etc.
mentos significativos de sua história
pessoal de fé (ou escolhe quatro pala- Fazer uma avaliação breve sobre a experi-
vras). Numa folha de ofício fazem-se ência feita
duas dobras ao meio, formando duas
linhas cruzadas, de modo a resultar Oração final e hino de encerramento.

62
A identidade da IECLB e sua
participação na missão de Deus hoje

1 - COMUNHÃO SOLIDÁRIA: to fundamental para a igreja que professa


A IDENTIDADE DA IGREJA a sua fé em Jesus. O exemplo deixado por
E SEU PROPÓSITO Jesus nos identifica enquanto igreja ainda
SEGUNDO ATOS 2.42-47 hoje. As seguidoras e os seguidores de Jesus
registraram aquilo que de mais significativo
Diác. Dra. Márcia Paixão, Santa Maria/RS ficou da experiência vivenciada com Jesus e
que expressa os princípios éticos da fé e a
INTRODUÇÃO importância de uma prática coerente, justa
e amorosa. Atos 2 é o registro do exemplo
Este texto tem por objetivo refletir acerca de uma comunidade que seguiu os ensina-
da identidade da igreja e a sua participação mentos de Jesus e mostrou sua fé na ação
na missão de Deus hoje, a partir da perspec- cotidiana da vida das pessoas, fazendo o que
tiva da teologia diaconal. O texto de At 2 será o texto descreve/ensina.
a base para o diálogo a respeito dos desafios
atuais da igreja no século XXI. A proposta A comunidade cristã tem a sua referência
metodológica se centra em rodas de conversa em Jesus Cristo: os seus ensinamentos e a
que poderão mobilizar diversos grupos nas sua ação. E ele foi mestre, pois a fé e a ação
comunidades luteranas, nas escolas e nas eram indissociáveis. Jesus foi o diácono por
instituições que se unem nessa proposta de excelência. Vários são os textos bíblicos que
ser sal e luz neste mundo. Este estudo traz referenciam esses aspectos: Mt 20.28; Mc
elementos pedagógicos e teológicos que vi- 10.45; At 6; Mt 4.14-17; Mc 1.14-15; Lc 4.21-
sam contribuir com o fortalecimento da ação 24; Lc 22. 24-30; Jo 13.12-17; Jo 8.1-11, entre
transformadora da IECLB em seu contexto. outros.

O EXEMPLO QUE NOS IDENTIFICA É inquestionável para a comunidade cristã


que Jesus seja o exemplo que nos identifica.
O texto de Atos 2 está ancorado nos
ensinamentos de Jesus, na sua prática e na Os seis versículos do texto de Atos são
sua vivência cotidiana com as pessoas e que muito elucidativos quanto à identidade da fé
foram experimentados pelos discípulos e e à importância de mostrar na prática aquilo
discípulas. Com base nisso, seus seguidores e em que se acredita. É um texto descritivo e
seguidoras seguem testemunhando através que guardou no registro escrito os detalhes
de palavras e ações. O texto descreve a ex- das práticas diaconais e os momentos coleti-
periência vivida e a concretização da fé que vos de fortalecimento da fé. Tem uma sequ-
é professada. É a partir desses ensinamentos ência de ações que descrevem as necessida-
vivenciados antes com Jesus que suas segui- des materiais e espirituais das pessoas sem
doras e seguidores fazem agora o anúncio colocar hierarquia entre elas.
do evangelho, e este cresceu e se espalhou
entre o povo. O texto enfatiza a prática e a O versículo 42 inicia ressaltando a perse-
vivência da fé no cotidiano, e esse é o aspec- verança nos ensinamentos de Jesus: comu-
63
nhão entre as pessoas, partilha do pão e a testemunho, dá sinais concretos no cotidia-
oração. Os exemplos que as seguidoras e os no. Neste relato Lucas enfatiza o ideal da
seguidores de Jesus deixavam no contexto igreja, que, por sua vez, transforma também
onde estavam, anunciando o reino de Deus e a sociedade. Essa transformação que o evan-
ajudando as pessoas em suas necessidades, gelho provoca, modifica a vida individual das
tornavam a comunidade unida e forte. Quem pessoas, e as pessoas transformadas agem
crê fica junto e tem tudo em comum, e, no mundo e vão alterar as relações de poder
assim, fortaleciam a fé diariamente no tem- que mantêm as opressões, as explorações e
plo e quando partilhavam o pão nas casas. O as desigualdades nas relações sociais, políti-
vínculo era fortalecido nesses encontros, no cas e econômicas. Justamente por alterar as
coletivo. Conheciam as realidades e as neces- desigualdades produzidas pelos sistemas de
sidades, porque se visitavam, se ouviam, se dominação é que este projeto comunitário e
conheciam. Tratava-se de princípios básicos social não foi pacífico e nem bem aceito pela
que Jesus ensinou e que essa comunidade sociedade, nem pela da própria igreja, e não
fez. Vendiam suas propriedades e bens e aconteceu sem conflitos.
repartiam o dinheiro entre as pessoas con-
forme as suas necessidades. O cuidado entre O EXEMPLO QUE DESAFIA
o equilíbrio das necessidades materiais e as
necessidades da fé se expressa nesses exem- É importante lembrar que o poder político
plos descritos com muitos detalhes neste e econômico na época de Jesus era romano.
texto. A descrição é o retrato da primeira A dominação romana se deu por invasão e
comunidade cristã que em muito nos desafia expropriação de terras, colonização da cultu-
e desassossega ainda hoje. ra, das crenças, dos saberes, escravização de
povos, violências de todos os tipos, explora-
O EXEMPLO QUE ENSINA ção e dominação econômica e política.

O livro de Atos foi escrito muito tempo Este era o modo de ser da sociedade na
depois da morte de Jesus, provavelmente, época de Jesus. Um cenário de exploração
entre 80 e 90 d.C. O texto é o registro de total. Em termos contemporâneos, pode-
uma experiência vivida a partir da perspec- -se dizer que a colonialidade da dominação
tiva de quem escreveu, no tempo em que aconteceu por gênero, classe e raça.
viveu. Lucas é considerado o autor do Evan-
gelho de Lucas e de Atos. As ênfases de cada Neste cenário, a proposta do evange-
texto são diferentes, mas complementares. lho que transforma as vidas, as relações e
No Evangelho, Lucas apresenta o caminho, a as estruturas sociais mexia com os grupos
trajetória de Jesus. Em Atos, o autor destaca dominantes desta sociedade e não era bem-
o caminho da comunidade, isto é, a missão -vista. Os interesses dos dominantes não se
da igreja no mundo: a evangelização. coadunavam com os ensinamentos de Jesus.
O livro de Atos narra esses conflitos da igreja
A igreja é chamada, é desafiada, é com o poder político e econômico romano.
convocada a dar seu testemunho público O texto de Atos 2 apresenta outro modo de
anunciando o evangelho que liberta: a vida relações pessoais e sociais completamen-
digna para todas as pessoas. E isso se faz te diferente do modelo opressor vivido até
na caminhada, em movimento, ouvindo então pelas pessoas e pelo poder estatal da
as necessidades das pessoas e agindo. Em época. E por isso, esse texto é um exemplo
Atos, a comunidade se fortalece na fé e dá que desafia ainda hoje. É um texto que mexe
64
em muitas áreas, sendo por isso polêmico no gia Prática estão o aconselhamento, a diaco-
contexto da igreja e da sociedade. nia, a ciência das religiões, a missiologia, a
edificação de comunidades, a educação cristã
O modelo, a referência de vivência da fé e o culto cristão. São temas trabalhados
e da igualdade material e econômica que profundamente no estudo da Teologia com o
Atos 2 propõe substituía a opressão do poder intuito de ampliar o conhecimento, motivar a
romano pela solidariedade, pela partilha, vivência da fé, entender os contextos, com-
pela vida comunitária e coletiva, pela vivên- preender a ética da fé para dar sinais/teste-
cia da espiritualidade, pela partilha dos bens munho ali onde estamos. Todos os conheci-
em prol da eliminação das desigualdades mentos específicos reunidos apontam para a
sociais e econômicas. A vida digna tinha a identidade da igreja cristã.
ver com essas vivências que as comunidades
cristãs estavam experimentando e exercitan- Atos 2 é um texto da Teologia Prática,
do nas relações sociais cotidianas. Esse modo mas que conversa com todas as outras áreas
de ser não explorava ninguém. Ao contrário: da Teologia por conter os princípios da fé e o
libertava e colocava as pessoas no mesmo seu testemunho, ou, como a fé se relaciona
patamar de igualdade social e econômica. com a prática e na prática.
Sem dúvida, um exemplo que desafia e
transforma, mas que incomodou os sistemas Nós temos um texto que foi escrito num
de dominação vigentes na época de Jesus (e contexto e numa época, a partir da perspec-
que se mantêm até hoje). tiva de Lucas. Na sequência, vem a pergunta
sobre a missão de Deus hoje. E a missão é um
A IDENTIDADE DA IGREJA E SUA grande desafio, pois traz a pergunta para o
PARTICIPAÇÃO NA MISSÃO DE DEUS HOJE nosso tempo: é possível vivenciar At 2 hoje?

Esse tema perpassa toda a reflexão teoló- Precisamos analisar o tempo presente e
gica acerca da identidade cristã nos tempos tecer algumas considerações. Como nos ensi-
atuais. Atualmente, a Teologia, enquanto na a teoria feminista (SAFFIOTI, 1987), temos
área do conhecimento, divide-se em três três sistemas de dominação no mundo: o
grandes núcleos: bíblico, histórico-sistemático capitalismo, o racismo e o patriarcado. Esses
e prático. O estudo da Teologia através das sistemas têm refinado os seus modos de ex-
áreas contribui com a construção da identi- ploração e dominação ao longo dos tempos,
dade da igreja cristã hoje. As especificidades e seguem produzindo as mais repugnantes
de cada área apresentam o cenário histórico, formas de desigualdade e discriminação
social e político da época de Jesus, a cami- social nos dias atuais em todos os lugares do
nhada de fé do povo, as bases da fé e os mundo. A fome, a pobreza, as doenças, o
desafios do testemunho público desta fé no desmatamento, as guerras, a violência con-
cotidiano. São esses estudos aprofundados e tra as mulheres, os ataques à democracia,
contextualizados que chegam hoje até as co- a homofobia, o capacitismo, o racismo têm
munidades com o intuito de fortalecer a fé, se tornado aceitáveis, coisa natural no nosso
estabelecer os vínculos identitários e desafiar tempo através das ideias propagadas pelos
para a ação, para o testemunho público, a sistemas de dominação. Mas isso não é natu-
exemplo de At 2. ral, não é aceitável.

Minhas reflexões partem da Teologia Prá- Desde os tempos de Jesus, temos um


tica, especificamente da Diaconia. Na Teolo- poder opressor instituído e que impede que
65
a proposta de At 2 se concretize. Transformar tiças e destruições que o sistema romano
o mundo não tem sido fácil, nem dentro do produzia.
contexto religioso e nem fora dele. Quais as
alternativas para At 2ser possível? Como nos alerta Boaventura, teremos de
levar uma lanterna portátil para iluminar o
Penso que um diálogo com outras áreas caminho.
do conhecimento é salutar para pensarmos
alternativas. As Ciências Sociais têm pensado Os ensinamentos de Jesus são a luz, mas
em alternativas potenciais contra a domina- somos nós que teremos que levar a lanterna
ção e a opressão. O sociólogo Boaventura de para iluminar o caminho. Isso é ação, isso é
Sousa Santos tem defendido a ideia de que testemunho público. A luz mostra as neces-
“temos de transformar o mundo ao mesmo sidades, as injustiças, a falta de direitos, os
tempo que permanentemente o reinterpre- diversos sofrimentos, indicando que precisa-
tamos; tanto quanto a própria transformação, mos dar nosso testemunho para transformar
a reinterpretação permanente é uma tarefa estas situações de injustiças e de exclusões.
coletiva” (SANTOS, 2020, p. 9). Responder se é possível cumprir At 2 hoje
não é algo simples nem fácil, mas não é
Boaventura defende a ideia de ações impossível. Assim como nos mostra o exem-
coletivas e sustenta que precisamos sair do plo do texto, as pessoas que seguiram os
circuito da lógica que nos diz que vivemos ensinamentos de Jesus se colocaram do lado
em crise, mas é necessário pensar e agir de e ao lado de quem sofria opressão e agiram,
forma crítica. E ressalta: “Numa época como cumprindo os ensinamentos.
esta, os que lutam contra a dominação não
podem contar com a luz ao fundo do túnel. Entender e compreender os sistemas de
Terão de levar consigo uma lanterna portá- dominação existentes e as formas como
til, uma luz que, mesmo sendo trêmula ou agem no mundo é tarefa da Teologia hoje.
fraca, ilumine o suficiente para que sejam Dialogar com outras áreas do conhecimento
capazes de identificar o caminho como sen- para compreender como as opressões são
do o seu caminho e, assim, evitar acidentes produzidas e ensinadas no mundo é a tarefa
fatais” (SANTOS, 2020, p.11) da igreja comprometida com a vida digna e
abundante oferecidas por Jesus a todas as
O nosso mundo se encontra em crise pessoas.
profunda e as desigualdades em todos
os níveis continuam assolando a vida das LEVANDO A LANTERNA PARA
pessoas, impedindo que a dignidade seja ILUMINAR O PENSAR E O AGIR
para todas as pessoas. Esse é o cenário que
temos. A partir de uma perspectiva crítica Deixo algumas dicas para pensarmos na
que está ancorada nos ensinamentos de concretude de Atos 2 hoje. Os desafios são
Jesus e na prática de At 2, a igreja hoje muitos, e segue a sugestão de continuida-
precisa “transformar o mundo ao mesmo de de aprofundamento desta temática em
tempo que o reinterpreta”. Temos o exem- outros momentos.
plo nos textos bíblicos para essa ação. Atos
2 aconteceu no coletivo, trata de ações que Com grupos de jovens
prestavam atenção às necessidades das
pessoas, fortaleciam a fé no coletivo e não Ouvir a música Outras frequências (Enge-
se conformavam com a produção das injus- nheiros do Hawaii)
66
Conversa: Qual parte da música chamou 98, abril de 2022, p.16).
a atenção? O que seriam as outras frequên- A notícia da ressurreição de Jesus ani-
cias de que a música fala? mou e encorajou as pessoas a continuarem
Ler o texto de At 2. 42-47. Há alguma re- se reunindo nas casas para relembrar essa
lação do texto com a música? Conhecem situ- história. Foi assim que nasceu a igreja cristã.
ações de injustiças, sofrimentos… no contex- Ali, entre irmãos e irmãs na fé, as pessoas
to onde vivem? Que sinais concretos podem cantavam, oravam e faziam a refeição em
deixar a partir do texto e da realidade? conjunto. Essa refeição alimentava as pes-
soas e também rememorava a ceia de Jesus
Com grupos de pessoas adultas com seus discípulos.
Havia, nesse grupo, pessoas necessitadas.
Ouvir a música O sal da terra (Beto Gue- Quem tinha mais repartia com quem tinha
des). menos. Ninguém passava fome ou necessi-
Assistir ao filme Quanto vale ou é por dade.
quilo? Existem muitas maneiras de experimentar
Ler o texto de At 2.42-47 o cuidado de Deus na comunidade. Com Je-
Impressões da música e do filme. sus, podemos aprender muitas delas, como:
Relações com o texto bíblico. ouvir e levar uma palavra amiga quando
Conhecem algum projeto da sua cidade alguém está triste; fazer uma visita a quem
que está empenhado pela vida digna? Podem está doente; orar uns pelos outros; ajudar e
fazer alguma parceria? Que sinais concretos receber ajuda quando for preciso; perdoar,
podem assumir a partir da realidade de sofri- receber perdão; cantar, celebrar e estudar a
mentos dentro e fora da comunidade? Bíblia juntos.
Essas atividades são espaços de parti- Participar da comunidade é tão espe-
lha necessários que as comunidades cris- cial que, no livro de Salmos, o salmista diz:
tãs podem fazer hoje. Conversar, partilhar “Como é bom e agradável que o povo de
e perceber as injustiças, as exclusões e as Deus viva unido como se todos fossem ir-
discriminações que impedem a vida digna mãos” (Salmo 133.1). Bom e agradável é
das pessoas é fundamental para que a igreja quando Deus, através de nós, pode transmitir
dê sinais onde ela está. Compreender que as seu cuidado e seu amor para com todas as
formas modernas de dominação e opressão pessoas e a natureza.
acontecem pelo capitalismo, pelo racismo,
pelo colonialismo e pelo patriarcado e se- Primeiro momento: Narre a história
guem excluindo as pessoas. Por isso, ouvir bíblica de Atos 2.42-47 para as crianças.
as pessoas, conhecer suas realidades e seus Após a narração, peça que as crianças com-
sofrimentos é a forma que temos de cons- partilhem as suas impressões. O que chamou
truir no coletivo outros modos de viver de a atenção na história? Será que é possível
forma justa. Atos 2 dá a dica! A ação evange- seguirmos o exemplo das primeiras comuni-
lizadora é coletiva, acontece nesse mundo e dades cristãs? De que forma?
precisará se reinventar.
Segundo momento: Forme grupos. Cada
Com grupos de crianças grupo elabora e apresenta uma cena estática
Atos 2.42-47 de algo que não está de acordo com a his-
UMA GRANDE FAMÍLIA (proposta elabora- tória narrada. Pode ser uma cena de desa-
da pela Cat. Maria Dirlane Witt; Fonte consul- vença, de maltratar a criação de Deus, de
tada: Revista O Amigo das Crianças, edição alguém passando necessidade.
67
Terceiro momento: As demais crianças REFERÊNCIAS
que assistem à cena podem modificá-la de DIAKONIA PROPHETIC-PRAXIS-AGIR. Caderno de Estudos The DOTAC
acordo com os ensinamentos do texto bíbli- Conference, Brasil, 1999.
BÍBLIA SAGRADA. Edição Pastoral. São Paulo: Edições Paulinas,
co, tornando-a acolhedora e amorosa. 1990.
SAFFIOTI, Heleieth. O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987.
SANTOS, Boaventura de Sousa. O fim do Império Cognitivo: A
Quarto momento: Converse com as afirmação das epistemologias do sul. Coimbra/Portugal: Edições
crianças sobre a experiência. Almeida, 2020.

68
2. CASA DE PEDRAS VIVAS: ouro refinado pelo fogo. É tão bonito quando
A IDENTIDADE DA IGREJA E SEU Pedro diz, que, como cristãos, eles já tinham
PROPÓSITO, SEGUNDO 1 PE 2.4-10 experimentado o quanto Deus é bondoso. Já
entendiam na prática a graça de Jesus. Então,
Mis. Lucia Roesel, Novo Hamburgo/RS como crianças recém-nascidas, que desejam
ansiosamente o leite da mãe, deveriam ter o
CONTEXTO mesmo anseio, o mesmo desejo pela Palavra
pura de Deus. Lembrando que desejar não é
No ano 64 d.C., uma grande parte da só querer, é querer com todo o ser. Isso traz
cidade de Roma foi queimada. E Nero acusou crescimento para a salvação, diz ele. Usando
um grupo de cristãos. Mais ou menos nesse a metáfora de Ezequiel que comeu a Palavra
mesmo período, os judeus da Palestina tam- de Deus (Ez 2-3), podemos dizer que, comer
bém se rebelaram contra os romanos. Tudo e se alimentar da palavra, da verdade de
isso acabou em uma guerra no ano 66 d.C., Deus não é apenas para aprender mais ou
que culminou com a destruição de Jerusalém para adquirir mais conhecimentos, mas sim,
e da nação judaica. A partir daí a persegui- para amadurecer na fé.
ção aos cristãos se agravou.
PEDRAS VIVAS
Nero, além de perseguir os cristãos em
Roma, foi provavelmente o responsável O termo “pedra viva” é uma citação do
pelas mortes de Pedro e Paulo. O apóstolo Antigo Testamento. Pedro anuncia que Jesus
Pedro escreveu a sua primeira epístola du- é a pedra viva agora. As pedras aqui se re-
rante este período. Ele estava convencido ferem às pedras que eram moldadas e pre-
que muitas pessoas cristãs iriam enfrentar paradas para serem usadas em construções.
essa nova onda de perseguição. Através da Nas construções antigas, a pedra da esquina
carta ele queria prevenir as pessoas a respei- era a primeira a ser colocada sobre a funda-
to da tribulação que se abateria sobre elas ção, e só depois todas as outras pedras eram
em breve. E queria encorajá-los a permane- alinhadas a ela.
cerem fiéis.
O que mais Pedro diz em relação a essa
COMO ENTENDER... pedra? Que é preciso achegar-se a ela. Por-
tanto, é preciso achegar-se a Jesus, a pedra
Pedro inicia a carta falando das bênçãos viva. Chegar perto, muito perto, bem perto.
espirituais que eles tinham recebido, dizen- Isso é imprescindível! Não receber a Jesus é
do: Bendito seja Deus que nos regenerou o mesmo que rejeitá-lo segundo Jo 3.18 e
para uma viva esperança, mediante a ressur- Rm 1.18-23.
reição de Jesus. Essa herança não pode ser
destruída! Jesus é a base de sustentação onde o
alicerce das pedras vivas é assentado. A re-
Pedro fala de pedras vivas. Ele diz que a ferência do versículo 6 é uma palavra linda,
fé deles era muito mais preciosa do que o que se encontra em Isaias 28.16: “Assim diz
69
o Senhor: Eis que ponho em Sião uma pedra, No Antigo Testamento, somente aquelas
pedra já provada, pedra preciosa, angular, pessoas que nasciam de uma certa tribo po-
solidamente assentada”. Jesus era maior que diam ser sacerdotes. Aqui, Pedro diz que to-
a tradição que eles receberam de seus pais; dos os que nasceram de novo e fazem parte
maior que o templo em Jerusalém; maior da família de Deus, ou seja, os cristãos e as
que as tradições dos gentios com seus ídolos cristãs, são sacerdotes e sacerdotisas, e têm
sem vida. A grande novidade é que agora o privilégio e a responsabilidade de oferecer
existe uma nova casa de Deus, uma casa a Deus sacrifícios espirituais. (Rm 12.1,2; Hb
espiritual, da qual Jesus é a pedra angular. 13.15,16). “Agora alcançaram misericórdia”.
Ou seja, Jesus é pedra angular, a pedra viva Embora merecêssemos ser condenados por
da Igreja! E como é maravilhoso saber que causa da nossa incredulidade e pecado (Jo
os cristãos são parte do grande projeto da 3.18,36; Ef 2.1-3), nós não estamos mais
casa espiritual de Deus. Sendo assim, já que debaixo dessa acusação (Ef 2.4-7). Somos
somos parte da casa de Deus, nosso olhar pessoas salvas e convocadas a servir!
deve estar sempre voltado para essa pedra
angular como nos diz Hebreus 12.2. QUESTÕES PARA DIALOGAR

Para os que creem esta pedra é precio- 1. Como vimos, a proximidade com Cristo
sa. A honra é para os que creem. A honra, o decide se seremos “pedras vivas” ou
privilégio que nós temos é que, jamais nos “pedras frias e mortas”. Então pode-
envergonharemos do nosso relacionamento mos nos perguntar: Qual o nosso de-
com Jesus Cristo e jamais tropeçaremos por sejo de estar próximos a Jesus? Qual o
causa dele. Aqueles que confiam em Jesus nosso desejo de sermos transformados
nunca serão envergonhados. Já os descren- por ele? Qual o nosso desejo de ser-
tes, aqueles que queriam adequar Jesus às mos renovados por ele? Qual o nosso
necessidades deles, viram que isso era inútil. desejo de estarmos sendo preenchi-
Mas, mesmo que ele não fosse o que eles dos, sempre de novo, pelo Espírito
esperavam, foi ele que Deus Pai escolheu Santo?
para ser o fundamento da sua obra eterna.
2. Uma pedra precisa ser lapidada e
GERAÇÃO ELEITA unida com o cimento para então po-
der ser encaixada numa parede, ao
Pedro segue dizendo: - “Vocês, porém, lado de outras pedras. Depois disso é
são...” É o versículo que mostra a diferen- que ela se torna o suporte para outras
ça entre os que creem em Jesus Cristo e pedras e é suportada por elas. Isso é
os que não creem. “São geração eleita...” o que dá firmeza à construção. O que
Deus mesmo os escolheu. “São sacerdó- essa imagem diz a respeito de nossa
cio real”. Os cristãos são transformados vida comunitária?
por dentro e por fora. “Nação santa...” Os
cristãos são separados como instrumentos 3. A comunidade de Cristo é o templo
de Deus. “Propriedade exclusiva”. Ele os onde Deus ele está presente, onde é
adquiriu. “A fim de proclamar as virtudes possível receber perdão e experimen-
daquele que os chamou das trevas para a tar reconciliação – com Deus, consigo
maravilhosa luz...” Nós fomos transforma- mesmo, com os outros. Podemos tes-
dos para que pudéssemos proclamar ao temunhar isso de nossa comunidade?
mundo as obras dele. Se alguém necessita experimentar
70
a graça de Deus – nós o convidamos nho e formato. Convide para que formem pa-
para vir à nossa comunidade e o aco- res com as palavras paz, bondade, amizade,
lhemos? solidariedade, amor, gratidão, perdão, cuida-
do, alegria, ou outras palavras importantes
4. Desde o Antigo Testamento é função no contexto da reflexão. Caso no grupo haja
sacerdotal mediar reconciliação, aben- crianças não alfabetizadas, as palavras po-
çoar, interceder, anunciar a vontade dem ser substituídas por desenhos.
de Deus e anunciar a sua palavra. Que
desafios percebemos para a vivência Como jogar o jogo de memória “pedras
do Sacerdócio Geral hoje? vivas”:

5. Como tudo isso se aplica a nós, IECLB? 1. Misture e distribua as cartas sobre
Que desafios percebemos? uma mesa, com os desenhos virados
para baixo.
Dinâmica para crianças (elaborada pela
2. Faça o par ou ímpar para ver quem
Cat. Maria Dirlane Witt). Materiais necessá-
começa o jogo.
rios: pedras de vários tamanhos, papelão,
canetinhas coloridas, tesoura. 3. Cada participante vira duas cartas bus-
cando um par igual.
Primeiro momento: No primeiro mo-
mento, coloque à disposição das crianças 4. Se a pessoa que está jogando conse-
pedras de vários tamanhos e tonalidades. gue encontrar outra carta que tenha
Peça que usem essas pedras para a constru- o mesmo desenho da que ela virou,
ção de um poço, de uma ponte, de um muro, recolhe as duas e joga outra vez.
por exemplo. Após as diferentes construções,
5. No caso de a pessoa virar duas cartas
converse como se sentiram construindo com
com desenhos ou palavras que não
as pedras. - Foi fácil? Sentiram alguma difi-
são iguais, vira as cartas novamente
culdade? Todas as pedras foram importantes?
com o desenho para baixo e passa a
jogada para a pessoa que está do seu
Segundo momento: Num segundo mo-
lado direito.
mento, narre a história bíblica para as crian-
ças, dando ênfase à pedra principal, Jesus, e 6. As cartas que formarem par são retira-
a nós, pedras vivas. das do jogo e conta como ponto para a
pessoa que as encontrou.
Terceiro momento: E num terceiro mo-
mento, faça com as crianças um jogo de 7. Quem tiver o maior número de cartas
memória em forma de pedras. Você já pode escolhe uma das palavras e diz como
levar as pedras cortadas. Isso auxiliará para ela pode ser colocada em prática para
que todas as cartas tenham o mesmo tama- que nos tornemos pedras vivas.

71
3. A IDENTIDADE DE NOSSA da igreja – Evangelização, Comunhão, Diaco-
COMUNIDADE NA MISSÃO DE DEUS: nia e Liturgia não é uma unidade formada,
UM SEMINÁRIO PARA mas uma unidade em movimento. Neste
A COMUNIDADE LOCAL seminário vamos trabalhar metaforicamente
com esta realidade. Partimos de uma com-
P. Leonídio Gaede - Itati/RS preensão positiva desse modo de ser igreja.
O fato de estar em desenvolvimento produz
ANTES DO EVENTO movimentos sentidos, pelo menos às vezes,
como abalos sísmicos. São, porém, processos
1) Designar e preparar três ou seis pesso- de formação. Vamos trabalhar com a ideia
as que atuarão como líderes durante o de quatro personagens, ou seja, dois casais.
evento. Eles se chamam Cultivo e Cultura, Sal e Luz.
2) Providenciar o seguinte material: As dinâmicas propostas pretendem ajudar a
Um guarda-sol; quanto maior, melhor; criar pontos de relação – com sentido de se-
cadeiras que possam ser dispostas em melhante e diferente – entre os personagens
forma de barco; pano ou papel para e a realidade da comunidade.
encapar as cadeiras, dando-lhes apa-
rência externa de barco; material para Propõe-se um estudo sobre o jeito de ser
confeccionar bandeirolas (vareta, pa- IECLB representado pelas comunidades lo-
pel rígido claro colado sobre papelão; cais. A inspiração é a ideia de voluntariado,
canetas pincel atômico; recurso para presente de forma diferenciada no imaginá-
fixar o papel/papelão nas varetas: cola rio de membros da igreja. A força voluntária
quente ou percevejo); panos, papéis, é comparável a um cabo de guarda-sol do
pequenos objetos, frascos, pedaços de qual partem raios em todas as direções.
madeira, barbantes arames, cola, te- Estes mantêm estendida a lona da sombra
soura em quantidade suficiente para o protetora. Esses raios representam dedica-
público previsto, e em uma variedade ção a uma causa por motivações diversas. O
suficiente para a confecção de bonecos que seriam esses raios? No presente estudo
e bonecas. Quanto mais material hou- o nosso guarda-sol, a nossa tenda, tem três
ver, quanto mais diversidade houver, raios de dedicação:
tanto mais rica será a experiência. 1) Há quem se dedica simplesmente
3) Ao público deste seminário será dispo- porque “é necessário”. Conta-se que
nibilizado tão somente o ANEXO Histó- no antigo Egito, por exemplo, era
ria. necessário que um viajante pobre, que
chegasse à margem de um rio, rece-
INTRODUÇÃO besse ajuda sem custos para atraves-
sar. Também na sociedade romana,
A igreja de 200 anos que hoje se chama dividida entre aristocratas, cavaleiros
IECLB, compreendida como comunidades e plebeus, havia regras de suprimento
locais e organismos regionais e nacionais de de necessidades para que todos “fos-
direção administrativa e promotora dos bens sem felizes”. Isso simplesmente era
72
necessário. Encontramos mais infor- pos, haverá dois líderes para cada raio. Eles
mações sobre isso, digitando no site atuarão em forma de rodízio, girando pelos
de busca História do Voluntariado no grupos de tal forma que cada um dos três
Brasil e no Mundo (www.aedb.br). raios passará por todos os grupos. Os líderes
Em sua comunidade, existe motivação garantirão que a dimensão de seu raio seja
para esse tipo de dedicação? considerada na conversa do grupo.
2) Há quem se dedica porque “uma mão
lava a outra”. A palavra grega filía ex- No momento da leitura do ANEXO His-
pressa mais ou menos uma forma de tória pelos grupos, as pessoas destacadas
amar, compreendida como busca de como líderes garantirão que as características
retribuição (Tg 4.4). A famosa frase “é dos personagens, conforme se descrevem
dando que se recebe” também pode abaixo, sejam relacionadas com os raios de
retratar isso. No esteio da tenda do vo- dedicação que os líderes representam. Cuida-
luntariado em sua comunidade existe rão ainda que não seja antecipada a temáti-
esse raio de dedicação? ca que virá no SEGUNDO PASSO.
3) Há quem se dedica porque se guia
“pelo amor de Cristo”. Na língua grega Raio 1 – Faz-se porque é necessário
a palavra agápe parece definir o amor fazer: A natureza do personagem Cultivo é
compreendido como via única, sem re- o trabalho. Ele se dedica, presta serviço, faz,
torno. Segundo esta compreensão, não executa, produz. A Cultura vai adiante, vai
é assim que uma mão lava a outra, além disso. Ela considera a Safra importante;
mas que uma mão não fica sabendo o Cultura quer resultado. Para ela a Safra é a
que a outra faz (Mt 6.3). Em sua comu- razão de tudo. Ela também pensa na questão
nidade existe esse tipo de dedicação? do “como fazer”.
Quantos raios tem o cabo da tenda do
voluntariado em sua comunidade? Raio 2 – Faz-se porque uma mão lava a
outra: Sal, por seu lado, é um personagem
PRIMEIRO PASSO que quer agir altruisticamente. Não quer que
suas ações sejam badaladas. A mão esquer-
Assim como os discípulos de Emaús (Lc da não deve saber o que a direita faz, pensa
24. 13ss) fizeram uma caminhada esclare- ele (Mt 6.1-4). Ele, porém, espera que suas
cedora, pois suas mentes foram se abrindo ações impactem, tenham um efeito manifes-
para a compreensão do momento histórico to na comunidade. Com isso se sente recom-
pelo qual passavam, assim também neste pensado.
estudo os grupos vão conversar e alguém vai
se juntar a eles na conversa. São as pessoas Raio 3 – Faz-se pelo amor de Cristo:
designadas como líderes neste estudo. Luz tem uma natureza envolvente. Veio para
esclarecer, para clarear. Nesse sentido, é pre-
O ANEXO História será lido por um, três tensiosa. Não pode ver um lugar escuro. Luz
ou seis grupos, dependendo do número de sempre intervém. Não deixa como está. Age
participantes do evento. Em caso de um ou e interage com todos: em casa, na oficina,
três grupos, haverá três líderes. Em caso de com o Fornecedor, o Cliente, o Cultivo e a
seis grupos, haverá seis líderes. Os líderes Cultura.
serão previamente preparados para a sua
função. Cada líder representará um dos três TAREFA 1 – Primeira Leitura da História
raios acima descritos. Em caso de seis gru- (ANEXO), com o rodízio dos três líderes.
73
SEGUNDO PASSO 6 – Conversas: Como está o serviço diaco-
nal de nossa comunidade? Podemos compa-
Agora os grupos partirão para a tarefa se- rar a conversa de Cultivo e Cultura, Sal e Luz
guinte que é uma segunda leitura do ANEXO com Gálatas 5. 13-15 e a nossa comunidade?
História, fazendo, após cada item lido, uma
pausa para conversar sobre as perguntas 7 – Complementos: Vocês já convidaram
abaixo. Os líderes farão as perguntas, obser- alguém para ajudar na comunidade e rece-
vando a numeração correspondente ao item beram como resposta a pergunta “o que eu
lido. ganho com isso”?

1 - Casais: Vocês conseguem perceber 8 - Travessia:


diferença entre o que a filha Safra significa 8.1 – Utilização: A Palavra de Deus em
para Cultivo e Cultura e o que o filho Cliente Mt 5.13-14, “vocês são o sal da terra” e “vo-
significa para Sal e Luz? cês são a luz do mundo” pode fazer suges-
tões de melhora para a nossa comunidade
2 - Represa: Para a nossa comunidade, o assim como Sal e Luz sugeriram para a Tenda
que poderia ser uma festa que faz pessoas de Cultivo e Cultura?
atravessarem represas?
8.2 – Iluminação: Como é a energia nos
3 - Tenda: Se o lado de cá da represa é a momentos de trabalho em nossa comunida-
vida particular e o lado de lá a vida comuni- de? O clima é tenso? É descontraído? É ale-
tária, vocês conseguem descrever a motiva- gre?
ção de Cultivo e Cultura para investir no lado 8.3 – Significação: Que tipo de interes-
de lá? se nossa comunidade está despertando nas
pessoas? Em que tipo de pessoas?
4 - Equipamento:
4.1 – Iluminação: Como está a “instala- TAREFA 2 – Segunda Leitura da História
ção elétrica” em nossa comunidade? Qual é (ANEXO) respondendo as perguntas dos líde-
a clareza que temos e de onde vem a clareza res, descritos acima.
que nos ajuda a levar adiante a vida e a obra
comunitária? TERCEIRO PASSO

4.2 – Utilização: A nossa comunidade TAREFA 3 – Confecção de bonecos


está fazendo bom uso de suas construções Os participantes do Seminário terão um
(templo, salão, etc.)? Os espaços são ade- tempo para, individualmente, em dupla
quados para qual função? ou grupo, criarem um boneco ou mais, a
4.3 – Significação: Nossa comunidade exemplo de Cultivo e Cultura, Sal e Luz. As
está nos oferecendo oportunidade de nos criações deverão ter nome, profissão, gos-
recuperarmos das canseiras da vida? Está to, preferência, convicção, esperança, pla-
renovando nossas ideias para “andar em no, tristeza, frustração, sonho, conquista,
novidade de vida” (Rm 6.4)? realização, dom. Se forem, mais que um,
deverão esclarecer a relação existente. Os
5 – Oficina: Em nossa comunidade exis- bonecos criados poderão confirmar, ques-
tem lideranças importantes como Sal e Luz, tionar, complementar, modificar a realidade
que confundem ou misturam vida particular de qualquer um dos quatro personagens do
com vida comunitária? ANEXO História. Evidentemente os partici-
74
pantes do evento levarão em conta a reali- ANEXO: História
dade de sua comunidade.
1 - Casais
Concluída a tarefa, os bonecos serão ex-
postos e apresentados por seus criadores e Era uma vez um casal que se chamava
suas criadoras. A coordenação dará tempo e Cultivo e Cultura. O casal se acertava bem
incentivo para que seja contemplada a parte em tudo o que fazia. O Cultivo fazia bem à
da orientação que está em itálico no pará- Cultura e esta dava sentido ao Cultivo. Essa
grafo acima. interação apontava para a chegada da filha
Safra. Havia, porém, a consciência de que
QUARTO PASSO Safra não dependia unicamente de Cultivo
e Cultura. Existia a atuação de outras forças.
TAREFA 4 – Dinâmica do barco A vinda de Safra relacionava-se também
com forças e recursos alheios ao Cultivo e à
No quarto momento os grupos preparam Cultura.
a travessia do Rio da Represa, levando para a
Tenda o essencial para todos os personagens Em certo dia, Cultivo e Cultura conhe-
do dia: Cultivo, Cultura, Sal, Luz, os bonecos ceram o casal Sal e Luz. Não sabiam expli-
criados e os participantes do seminário. car bem por qual motivo, mas houve uma
atração entre os quatro, e passaram a se
Dispor cadeiras na forma de barco com
encontrar. Cultivo e Cultura tinham uma
os assentos voltados para dentro. Encapar as
boa sintonia entre si, se relacionavam mui-
costas das cadeiras, rodeando-as com papel
to bem, pareciam depender um do outro.
pardo ou pano, imitando o casco do barco.
Entre Sal e Luz era diferente. A sintonia
Esta tarefa poderá ser iniciada com a leitura
da relação acontecia no resultado do seu
do livro de Jonas. Os participantes do even-
trabalho para o filho Cliente. Vibravam
to deverão simular uma travessia do Rio da
quando suas ações produziam satisfação
Represa, preparando uma carga do que será
em Cliente.
necessário levar para a cabana. Sobrecarga
faz o barco afundar, por isso é preciso restrin-
Talvez as diferenças tenham unido os dois
gir a quantidade de itens, criando a necessi-
casais. Parece que os quatro sintonizaram na
dade de deixar algo para trás. Os itens po-
ideia de que suas diferenças eram comple-
dem ser objetos carregados de simbologia,
mentares.
como uma Bíblia, documentos, instrumentos,
etc., ou ideias que afloraram durante o dia.
2 - Represa
Tudo tem o mesmo peso. Na medida em que
as pessoas participantes vão definindo ideias
Em certo domingo, um mesmo evento
que devem atravessar a represa para chegar
moveu os dois casais numa mesma direção.
à tenda, elas deverão ser escritas num papel
Atravessaram o Rio da Represa e se encon-
que, fixado em uma vareta, se tornará uma
traram. Depois de alguma conversa, Cultura
bandeirola. Os participantes sentam no barco
disse: “Moramos relativamente próximos e
e tiram foto com as suas bandeirolas.
só nos conhecemos hoje”. Luz respondeu:
Após o desembarque, as bandeirolas, os “Pois é, ainda bem que uma festa nos fez
objetos simbólicos e os bonecos serão dis- atravessar o rio”. Os dois casais moravam do
postos sob o guarda-sol TENDA, que ocupará mesmo lado do rio e, curiosamente, foram
lugar central na celebração final do encontro. se conhecer do outro lado.
75
3 - Tenda noite pode atrair insetos e afugentar animais
que oferecem risco. E acrescentou: “A natu-
Cultivo e Cultura tinham sua residên- reza precisa de claridade e de sombra para
cia bem constituída do lado de cá do rio, se desenvolver. Para descansar precisamos
em meio a bons vizinhos e aos conhecidos da sombra da tenda ou da noite e para agir
problemas que a vida em sociedade traz. precisamos da claridade do sol de todas as
A ideia de Safra os movia para o lado de manhãs”.
lá. Este fato não permitia que resumissem
sua vida ao lado de cá. Passaram a investir 2) Utilização. Levando em consideração o
no outro lado. Cultivo e Cultura tinham um argumento de Cultura, a conversa se esten-
nome a honrar, e isso só acontecia junto ao deu para o assunto da utilização da tenda.
campo no lado de lá. Planejaram então cons- Cultivo alegou a necessidade de usar o am-
truir ali uma tenda. Isto favoreceria sustento biente para manter uma reserva de insumos.
e crescimento. Cultivo e Cultura queriam, po- “Não que eu queira usar a tenda como de-
rém, viver próximos não só na cidade, mas pósito de grandes estoques, mas é preciso
também no lugar que lhes parecia a razão se precaver”, disse. Cultura complementou
de sua própria existência. Assim como Cultu- dizendo que o tipo de uso ajuda a determi-
ra não conseguia se imaginar vivendo sem nar o sentido da tenda e tem implicações
Cultivo, este tinha consciência de que devia a para como será o sistema de fechamento.
sua existência à Cultura. Desta forma, surgiu Disse: “Se quisermos a tenda só para nos
o plano da construção da tenda no lado de lá abrigar do sol e da chuva, ela não precisa-
do rio. A ideia da tenda refletia a maneira de rá de portas e janelas com trancas”. Depois
pensar do casal. acrescentou: “Isso será preciso se quisermos
guardar insumos e utensílios”.
4 - Equipamento
3) Significação. Assim o diálogo foi abrin-
A discussão a respeito da tenda se apro- do o leque do significado da tenda. Inicial-
fundou. Cultivo e Cultura sentiram a necessi- mente, Cultivo e Cultura nem tinham se dado
dade de conversar sobre recursos e equipa- conta disso: a tenda passaria a ter um enor-
mentos. Enquanto Cultivo argumentava em me significado para a vida dos dois. Afinal
favor de recursos e utensílios, Cultura apon- de contas, precisariam ali se alimentar para
tava para a necessidade de haver critérios de recobrar as energias, precisariam ali repou-
escolha. Assim estabeleceu-se um importan- sar para a renovação de suas forças. A tenda
te diálogo sobre assuntos pertinentes, não só seria também ponto de partida para as obras
ao bom funcionamento da tenda, mas tam- de Cultivo e Cultura. Além disso, toda a de-
bém aos princípios que a manteriam: dicação à tenda não anularia a necessidade
de planejar a continuidade da residência na
1) Iluminação. Cultivo e Cultura logo con- cidade, onde de bom estavam os vizinhos e
seguiram acordo num ponto: a tenda precisa de ruim a constante preocupação com furtos
de claridade. “Nela precisamos realizar ati- e roubos, noticiados todos os dias.
vidades que exigem uma boa visão. Seleção
de sementes e dosagem de fertilizantes são 5 - Oficina
atividades que não se realizam na penum-
bra”, disse Cultivo. Cultura acrescentou que, Para Sal e Luz o local de vida era o pré-
como tudo na vida, a iluminação pode trazer dio no qual residiam e tocavam uma oficina
o bem ou o mal. Lembrou que a claridade na mecânica para automóveis. O casal tinha
76
concebido essa forma de construção, jun- sucesso de Safra. A boa Safra os compensa-
tando residência e salas comerciais, pen- va e deixava plenamente realizados. Quase
sando que Luz poderia atender na recepção num gesto de autodefesa, Cultivo comen-
e mesmo assim permanecer próxima aos tou com Cultura sobre Sal e Luz: “Os dois
locais dos afazeres domésticos. Sal também também se realizam pessoalmente quan-
ficaria próximo à Luz porque o local de tra- do o Cliente fica satisfeito”. “Sem dúvida”,
balho de ambos ficava lado a lado. A criação respondeu Cultura, “Luz e Sal satisfazem o
de Cliente seria feita em conjunto. Entre o Cliente, e saber que fazem isso dá sentido à
casal haveria apoio mútuo e a satisfação do vida deles”.
Cliente estaria garantida pelo bom atendi-
mento dos proprietários. Além disso, existiria 7 - Complementos
a vantagem de, no horário de expediente ou
fora dele, Sal e Luz serem encontrados pelo Apesar da forma camuflada, os dois
Cliente, sendo o caso de ele precisar, em casais faziam mea-culpa. Cultivo e Cultura
algum momento, de socorro, como um res- reconheciam que viviam em função de Safra.
gate à margem da rodovia, já que ele esta- Percebiam que havia algum problema nes-
ria, muitas vezes, na estrada. Luz, inclusive, sa relação, onde Safra nada significava por
frequentara alguns eventos de formação si e para si, e tudo significava para Cultivo
visando ao bom atendimento e, sem sombra e Cultura. De outro lado estavam Sal e Luz,
de dúvidas, estava muito bem preparada vivendo dia e noite, sem limite de tempo e
para desempenhar as tarefas na recepção e espaço, dentro e acima da oficina, conser-
no atendimento. O contato frequente com tando o que estava estragado para os outros,
fornecedores também já lhe trouxera bom onde Cliente significava tudo por si e para si,
conhecimento na área das peças e dos asses- e quando o seu automóvel estava em pleno
sórios do setor automotivo. funcionamento, nada, além do que tinham
pago por peças e mão de obra, os ligava ao
6 - Conversas Sal e à Luz.

Como costuma ser, desde o dia em que 8 - Travessia


Cultivo, Cultura, Sal e Luz se encontraram na
festa, um casal passou a ser assunto na con- Certo dia Sal e Luz foram visitar Cultivo e
versa de outro. Certo dia, Sal confessou para Cultura na cidade. Não os encontraram em
Luz que estranhou o relacionamento de Culti- sua casa. Sabendo, através de um vizinho,
vo e Cultura com a Safra. “Tenho notado que que tinham ido cedo para a tenda, resolve-
é a Safra que os deixa realizados”, disse. “No ram visita-los do lado de lá.
nosso caso”, continuou, “quem se realiza é o
Cliente, quando lhe entregamos em perfeito 1) Utilização. Sal e Luz se encantaram
estado aquilo que estava estragado”. “E dis- com a tenda. Surgiu-lhes aquela pergunta:
so vem a renda com a qual vivemos”, acres- “Por que não conhecemos isso antes”? Vi-
centou Luz. E Sal disse: “É claro, Luz, também vendo no espaço de trabalho e trabalhando
temos gosto e realização pessoal quando no espaço de vida, sentiam a necessidade
conseguimos servir o Cliente”. de experimentar um espaço diferente. Quase
sem pedir licença foram emitindo opiniões e
Cultivo, por seu lado, tinha a consciência fazendo sugestões: “Por que não abrir a ten-
de que a sua estreita ligação com Cultura da para quem quer aprender com vocês?”,
confundia o próprio sentido da vida com o disse Sal. E Luz completou: “Aqui tem muito
77
espaço para ensinar e aprender”. Cultura condições de oferecer oportunidade para rea-
reagiu: “Se a intenção for realizar atividades lizar atividades que necessitam de força. Isto
de campo para melhorar nossa área e para são coisas que dão sentido à vida com ou
ajudar quem está se preparando para atuar, sem o benefício de uma Safra.
então a tenda precisará também ser compre-
endida como um espaço de vida e que esteja 3) Significação. Sal lembrou que uma ten-
em condições de receber e tratar bem as da assim organizada poderá despertar inte-
visitas”. “Com certeza passaremos um bom resses por ela que, como diz a Cultura, podem
tempo de nossas vidas na tenda, e vamos ser para o bem ou para o mal. “Nós, porém,
encontrar muita gente nela”, acrescentou estamos aí, inclusive para dar gosto ao que
Cultivo. não tem gosto”. Sendo mencionada, Cultura
quis logo manifestar-se: “Há quem esteja se
2) Iluminação. Luz lembrou que viver em preparando para atuar como nós”, disse. E
função de Safra não pode ser a plena reali- Cultivo a interrompeu: “E também a nós inte-
zação para Cultivo e Cultura. “Vocês precisam ressa o diálogo com as novidades de cada dia
ter vida independente de Safra”, disse. Por e, para isso, é importante o intercâmbio com
isso é necessário um ambiente iluminado, ideias e recursos, que não chegarão a nós se
bom de se viver de dia e de noite. Haven- nos isolarmos em nossa tenda”. Cultura sor-
do luz, não haverá somente claridade, mas riu e disse: “Se não houver esse interesse, a
também a energia que cria um ambiente em tenda aberta nada significa”.

78
Nosso Compromisso com o Futuro
1 - OLHOS VOLTADOS PARA O FUTURO: reto, “alguns duvidaram”. Não sabemos em
A GRANDE COMISSÃO EM MATEUS 28.16-20 qual monte isso aconteceu, mas aquelas pes-
soas demonstram já de cara algo importan-
P. Dr. Renato Raasch, Curitiba/PR te: disposição de obedecer às instruções de
Jesus. E seria a partir de um monte de onde
As palavras que encerram o Evangelho se pode olhar o horizonte amplo que Jesus
segundo Mateus são determinantes para o iria conduzir aquelas pessoas a olharem para
que viria a ser a Igreja cristã. Nesses pou- o futuro. Entre as pessoas que acolheram as
cos versículos estão contidas declarações instruções havia algumas que demonstraram
e orientações que serviram para nortear o obediência e fé reverente, outras que apenas
caminho das pessoas que estavam junto obedeceram, mas estavam ainda confusas,
com Jesus desde a Galileia até Jerusalém e hesitantes e em dúvida. Esse resumo final do
que haviam testemunhado a sua morte e Evangelho de Mateus parece revelar muito
também a sua ressurreição. Aqueles homens do que acontece até hoje em nossas comuni-
e aquelas mulheres ao redor de Jesus eram dades. Um dos temas centrais do Evangelho
pessoas que estavam experimentando uma já fica evidente desde o início da Grande
reorientação de suas vidas a partir do Evan- Comissão: Jesus está chamando à obediência
gelho enquanto Jesus os estava conduzindo: e à fé. Na sua origem a palavra fé (pistis no
ele havia inserido aquelas pessoas em seu grego) pode significar tanto fé como fideli-
discipulado. Algo novo iria iniciar após a res- dade (fides no latim, de onde surgem nossas
surreição de Jesus. Aquelas pessoas dariam palavras fé e fidelidade). Quem caminha
início a um movimento que se espalharia por com Jesus é chamado a uma fé que é mar-
todo o mundo! Mas naquele momento essas cada por fidelidade a Jesus e ao Evangelho.
pessoas eram poucas, estavam ainda confu- Não é por acaso que Jesus se apresenta aos
sas com relação a tudo o que tinha aconte- discípulos com uma palavra de “autoridade”.
cido em suas vidas e nem tinham noção do
que estava pela frente. Para que elas não se Questão prática para sua reflexão: Você
perdessem em seu propósito de existir, Jesus consegue perceber em sua vida e em sua
lhes deu uma orientação decisiva quanto ao comunidade essa relação entre ser uma
futuro. A Igreja que surgiria a partir daque- pessoa cristã e ser alguém que demons-
las instruções precisava ter clareza de quem tra fidelidade a Jesus em sua vida diária?
realmente era e para que existia. É para essa
bússola fornecida por Jesus que estaremos A ordem de Jesus é para que haja movi-
nos voltando agora para continuar a navegar. mento: Ide! Ou melhor traduzido o particí-
pio do grego: Indo, enquanto vocês forem,
A assim chamada Grande Comissão inicia quando estiverem vivendo a vida de vocês.
em Mateus 28.16 apresentando o grupo dos Essa é mais do que uma ordem no impera-
discípulos e das discípulas de Jesus um pouco tivo, trata-se de uma constatação de Jesus.
confuso. Eles estavam seguindo a ordem de Enquanto vocês estiverem colocando em
Jesus de encontrá-lo no “monte que Jesus prática minhas orientações, façam isso de tal
lhes tinha indicado” (cf. Mt 28.7), mas, en- forma que estejam presentes dois aspectos
quanto alguns adoram Jesus ao vê-lo ressur- decisivos: batismo e ensino. Os discípulos e
79
as discípulas de Jesus iriam demorar um pou- na qual a Igreja está inserida. Jesus espera
co ainda para compreender todo o horizonte que seus discípulos tenham aprendido que
que Jesus estava colocando diante deles. eles realmente serão o que foram chamados
Para Jesus, no entanto, já estava muito claro a ser quando viverem em fidelidade a ele.
que aquele grupo de pessoas iria ter de ex- Batizando e ensinando. É assim que cumpri-
perimentar algumas superações de paradig- mos a Grande Comissão na qual estamos in-
mas e romper algumas barreiras (culturais, seridos a partir do momento em que somos
políticas, geográficas, sociais, étnicas). O alvo batizados e chegamos à fé em Jesus Cristo.
da missão seria para muito além daquilo Assim surge a Igreja formada de pessoas que
com o qual estavam acostumadas e familia- se tornaram discípulas de Jesus através das
rizadas até aquele momento. Isso se tornaria quais Deus está em missão neste mundo.
fundamental para o desenvolvimento da Igreja nada mais é do que exatamente as
missão: elas precisavam superar as limita- pessoas que são batizadas e creem em Jesus
ções étnicas e alcançar todos os povos. e estão agindo através da ordem e capacita-
ção de Jesus por meio do Espírito Santo.
Questão prática para sua reflexão: Jesus
quer que experimentemos o alargamen- Questão prática para sua reflexão: Quan-
to de nossos horizontes enquanto Igreja. to tempo, recursos e empenho sua co-
Como isso se aplica de forma concreta no munidade investe em cumprir a Grande
contexto de sua comunidade, ministério Comissão? Estamos mais envolvidos em
ou grupo? manutenção ou em missão?

Depois de orientar seus discípulos a A parte final da Grande Comissão destaca


olharem para além do grupo do qual fazem que a missão de que Jesus incumbe os discí-
parte (naquele caso todos eram judeus da pulos para que a realizem não cabe apenas
Galileia), Jesus lhes ordena batizar e ensinar. a eles através de suas decisões, capacida-
Esses dois verbos determinam a natureza do des, estratégias, metas e interesses. O que é
discipulado. Batizar significa inserir pessoas mais decisivo para realizar a tarefa que nos
em um relacionamento radicalmente novo cabe nessa missão de Deus é a presença do
com Deus e receber a manifestação da graça próprio Jesus, assim como ele prometeu: “E
reconciliadora concretizada em Jesus. Após eis que eu estou com vocês todos os dias.”
essa inserção no relacionamento com Deus, Como Igreja que é fiel aos ensinamentos de
inicia-se um longo processo de se tornar dis- Jesus, nós podemos estar certos da presença
cípulo de Jesus. Isso ocorre quando aquelas contínua e capacitadora de Jesus. Foi isso que
pessoas que já têm uma caminhada de fé e ocorreu em Pentecostes, assim como nos
de experiência com o amparo e presença de apresenta Atos 2. Mais do que algo estático,
Deus conduzem outras a viverem o mesmo. ser um discípulo ou uma discípula de Jesus
Jesus destaca que o conteúdo do ensino a ser tem implicações para toda a vida e para a
experimentado e repassado não é decisão vida toda.
própria e seleção do que parece agradável.
Ele determina que deve ser “todas as coi- Quando lemos a Grande Comissão, esta-
sas que lhes tenho ordenado”. Isso é muito mos nos ocupando com a essência da Igreja.
importante no que diz respeito à essência da No entanto, nem sempre está claro para as
Igreja de Jesus Cristo: a Igreja é fiel aos ensi- pessoas o que a Igreja realmente é e para
namentos de Jesus, mesmo que eles a con- o que ela existe. São muitas e variadas as
frontem como Igreja e confrontem a cultura experiências que fazemos com aquilo que
80
chamamos de Igreja, algumas dessas expe- estabelecer sinais do Reino para salvar a hu-
riências são boas e algumas traumáticas. Por manidade e levá-la a se relacionar com ele.
estarmos envolvidos na igreja e termos nos-
sas experiências com ela, muitas vezes são Em cada novo momento da história, Deus
justamente essas experiências que determi- chama os discípulos e as discípulas de Jesus
nam como entendemos o que é a igreja e para se perguntarem se estão sendo fiéis
qual a sua função e o seu propósito. Talvez à missão que ele, Deus, nos confiou. Por
pelo fato de estarem acostumadas com isso, a Igreja é algo dinâmico, em mudança,
uma comunidade que presta certos “servi- na constante busca pela fidelidade a Deus,
ços religiosos”, muitas pessoas acham que lembrando que essa fidelidade é para ser
a “igreja” é o local onde os recém-nascidos vivida em nosso contexto histórico. Quando
ou adultos são batizados, onde é feito o rito entendemos isso percebemos que ser Igreja
de confirmação e bênção matrimonial, onde é acolher as pessoas e ensiná-las a fazer par-
se vai no Natal e na Páscoa, e que tem a ver te do povo de Deus. Por um simples motivo:
com um prédio ou com pessoas reunidas em porque é justamente para isso que a Igreja
culto ou em uma festa... Na verdade, muita existe! A tarefa e função da liderança de
gente participa daquilo que chama de igreja uma comunidade e de todos os seus mem-
sem nem mesmo saber porque, pois elas bros é justamente se perguntar a respeito
simplesmente herdaram dos pais esse hábito de como ser fiel ao que Deus quer para essa
de “ir à igreja”. Mas a Igreja é muito mais do comunidade no momento histórico em que
que apenas nossas experiências com as pes- ela vive. Vale lembrar: fazer discípulos não
soas que dela fazem parte ou que formam é apenas chamar pessoas à conversão ou ao
uma instituição com um estatuto. batismo e inseri-las no convívio comunitário,
mas também ensiná-las a viver no seu dia a
A Igreja estabelecida por Jesus tem um dia tudo o que Jesus nos ordenou. Mas como
propósito bem claro para existir. E quem nos tornamos discípulos de Jesus e como
determina esse propósito não são os mem- podemos cumprir essa tarefa? Vamos resumir
bros dela. Quem estabeleceu o propósito da de forma prática em três aspectos da vida:
igreja existir e nos chama a fazer parte desse
propósito é o próprio Deus através de Jesus Antes de qualquer coisa precisamos
Cristo por meio do Espírito Santo. Por isso, NASCER para Deus. Uma pessoa nasce para
quando falamos sobre Igreja e missão, nós Deus quando reconhece a autoridade de
precisamos nos voltar primeiramente para Jesus Cristo sobre sua vida (Mt 28.18 e Jo
Deus e perguntar como ele mesmo vê o que 1.12). Você só pode ser discípulo de Jesus
é a Igreja em sua essência. se reconhecer que ele tem autoridade sobre
sua vida. Fé não se herda dos pais, pois fé
Ser parte da Igreja de Jesus Cristo é, é uma entrega a Jesus que estabelece um
antes de qualquer coisa, ser um discípulo vínculo pessoal de fidelidade com o próprio
de Jesus Cristo que vive sob sua autorida- Deus. Por vários motivos Jesus tem direito a
de. Por consequência, uma pessoa que se essa autoridade sobre sua vida: pelo fato de
entende como discípula de Jesus sabe que ele ser o Filho de Deus; pelo fato de ele ter
é um agente da missão que o próprio Jesus entregue sua vida em seu favor; pelo fato de
desempenhou em seu ministério. Assim toda autoridade lhe ter sido dada por Deus.
sendo, é para isso que a Igreja existe: para
ser agente de Deus no mundo. Ser parte Depois de nascer para Deus precisamos
da Igreja é fazer parte do plano de Deus de CRESCER em maturidade: Quando o Evange-
81
lho nos alcança e através do seu poder nos cesso de maturidade dos discípulos de Jesus
torna discípulos de Jesus, o próprio Evange- e como alcançar os de fora da Igreja. Dito de
lho nos possibilita um novo estilo de vida forma mais clara, a função de cada membro
como testemunhas de Jesus (At 1.8). O Evan- da comunidade de discípulos de Jesus é se
gelho passa a ser o padrão pelo qual nós perguntar: como estou agindo como discípu-
nos orientamos em todas as áreas da nossa lo de Jesus a partir da missão que Deus quer
vida e em favor das outras pessoas de forma realizar através da Igreja?
concreta. Quando você se torna discípulo de
Jesus e se reorienta em sua vida, você não Quando uma comunidade ou ministério
o faz individualmente, mas em comunidade, se ocupa com essas perguntas, ela se torna
sendo parte da Igreja. Você é chamado para uma Igreja relevante para Deus. Enquanto
uma vida de comunhão no Reino de Deus, uma comunidade se ocupa apenas com seus
ou seja, uma vida na presença de Deus. próprios interesses de manutenção, ela está
em contradição com sua essência, propósito
Quando você cresce em maturidade, e vocação. Por isso, as pessoas que lideram
logo vai perceber que os discípulos de Jesus a Igreja, sejam elas ordenadas ao ministério
precisam se MULTIPLICAR: Quando você se ou não, precisam se perguntar constante-
torna discípulo de Jesus Cristo e o Evangelho mente a respeito de sua vocação e função
passa a reorientar a sua vida, isso influencia na Igreja. Nesse sentido, a principal pergunta
tudo o que você é e faz e transborda a partir que devemos fazemos enquanto discípulos e
de você na vida de outras pessoas: família, discípulas de Jesus é: como eu posso ajudar
vizinhos, colegas de trabalho, desconheci- você a se tornar instrumento da missão de
dos na rua, pessoas que se encontram em Deus no mundo através da sua vida? Assim
situações de sofrimento. Você quer que mais olhamos junto com Jesus a partir do “monte”
pessoas sejam discípulas de Jesus, pois ex- que ele designou e contemplamos o hori-
perimenta algo que lhe dá sentido de vida e zonte mais amplo para o qual ele nos quer
quer que outros também experimentem. conduzir.

Parece simples esse processo, mas não é Jesus estipula parâmetros para a continui-
o que acontece na maioria das comunidades dade do que foi iniciado em seu ministério e
cristãs de tradição protestante histórica assim consumado em sua morte e ressurreição. En-
como nós luteranos da IECLB. A maioria das quanto Igreja que se formaria a partir de seus
comunidades estão tão ocupadas com sua discípulos, Jesus estipulou que eles seriam
própria manutenção que correm o perigo de agentes dinâmicos como discípulos que fazem
esquecer o que significa ser Igreja de Jesus discípulos. A Igreja de Jesus é composta de
Cristo. Muitas reuniões de presbitério, muitos pessoas que creem e agem em conformidade
cultos e muitas reuniões de conselhos giram com as instruções do Senhor da Igreja e sob
mais em torno das necessidades da comuni- sua autoridade. Atuantes a partir dessa instru-
dade do que motivadas pela pergunta sobre ção clara, Jesus quer transmitir aos seus dis-
o que Deus quer realizar neste mundo atra- cípulos que ele mesmo tem um compromisso
vés da sua Igreja. Precisamos lembrar que a estabelecido com eles enquanto ao enviá-los.
principal função das pessoas que já são dis- Nessa corrente de discípulos que fazem dis-
cípulas de Jesus é se perguntar sobre como cípulos estão todas as pessoas que passam a
podem gerar novos discípulos de Jesus, como crer em Jesus. Isso nos torna pessoas missio-
podem estabelecer um sistema de discipula- nárias que fazem a Igreja ser um movimento
do e crescimento na fé para auxiliar no pro- de pessoas em missão neste mundo.
82
Para o trabalho com diferentes grupos: 1º Momento
Conte a história bíblica para as crianças.
O texto da Grande Comissão é uma ex- Depois, recorde com elas a narração.
celente base bíblica para trabalhar o tema
da missão e evangelização com crianças e 2º Momento
adolescentes. Medite com elas sobre as di- Dê para cada uma das crianças uma bandeja
versas culturas e povos no mundo. Apresente de isopor e um palito de churrasquinho (pode
imagens de povos e culturas tanto do Brasil cortar a ponta). Peça que cortem as laterais da
(as diversas tribos urbanas: skatistas, cultura sua bandeja, deixando-a totalmente plana. De-
emo, hippies, surfistas, motoqueiros, indies, pois, peça que façam desenhos sobre a cena da
metaleiros, góticos...) quanto do mundo. história que mais gostaram, usando os palitos
Como é possível cumprir o mandato de Jesus de churrasquinho. Quanto mais profundo o sulco
em meio a essas “tribos” para que entre do desenho, melhor ficará o carimbo.
todas as nações e povos haja discípulos de
Jesus? Além disso, reflita com elas sobre seu Após o desenho feito, é hora de passar a
batismo e o que precisa acontecer em sua tinta com os pincéis ou rolinhos esponjados,
vida para que se cumpra o que Jesus deter- na cor preferida sobre a bandeja. Depois,
minou. Onde elas estão percebendo que a para fazer o carimbo, as crianças pressiona-
ordem de Jesus está se cumprindo (no culto rão suas bandejas com tinta sobre a folha de
infantil, ensino confirmatório, nos grupos papel ofício.
nas casas, estudos bíblicos, JE...)? Como elas
podem fazer parte dessa Grande Comissão? 3º Momento
Depois do carimbo feito, cada criança
Obs: O texto do subsídio também contém apresenta o seu desenho para a turma,
perguntas que podem auxiliar a reflexão explicando porque escolheu aquela cena da
individual ou em grupo. história.

Sugestão adicional Dica legal: Se preferir, você pode substituir


de atividade com crianças: a atividade acima por outra. Uma ideia é
pedir que as crianças recortem sobre uma
Material: Para cada criança: bandeja de folha de ofício o formato do seu pé. De-
isopor (pode ser usada e limpa), tintas pois, cada uma pode recortar o desenho,
guache, palito de churrasquinho, uma colorir e escrever sobre ele uma mensa-
folha de papel ofício, tesoura sem ponta, gem sobre Jesus para entregar a alguém.
pincéis ou rolinhos esponjados próprios
Fonte: Proposta metodológica da revista O Amigo das Crianças, nº
para pinturas. 70, 2017.

83
2 - SONHAR IGREJA a encontrar soluções inovadoras e inusi-
E ATRAVESSAR O TETO tadas para superar obstáculos e a cumprir
nosso objetivo maior: trazer pessoas à
presença de Jesus.

UMA CAMINHADA BÍBLICA com Marcos


2. 1-12 (ver Manual Nossa Equipe, p. 95-96).

Leia o texto em voz alta para todo o


grupo. Após, uma outra pessoa lê de forma
pausada o texto uma segunda vez. Durante
esta segunda leitura, cada versículo do texto
de Marcos 2 é disposto no chão (ao colocar
os versículos no chão, deixe um bom espaço
entre eles). Em seguida, convide a equipe a
fazer uma lenta caminhada pelos versículos.
Ao caminhar, cada qual pode ler o texto em
silêncio mais uma vez.

Convide para uma segunda caminhada


pelo texto e peça que as pessoas parti-
cipantes parem diante daquele versículo
que neste momento as toca mais. Peça
Em 2022 a IECLB lançou um novo ma- ao grupo imaginar o texto como um espa-
terial destinado ao desenvolvimento de ço de ressonância para impressões, senti-
equipes de liderança nas comunidades, pa- mentos e emoções: o que move os perso-
róquias, sínodos, instituições, grupos e se- nagens do texto? Onde há concentração,
tores. Chama-se “Nossa Equipe”. Além de onde há amplitude? Que sentimentos e
um conjunto de cartas bíblicas, conta tam- emoções podemos observar? “Pare na-
bém com um manual com muitos métodos quele versículo que toca seus sentimentos
e dinâmicas destinadas ao trabalho com os de forma especial e onde você percebe
quatro temas centrais: desenvolvimento de maior energia!”
equipe, vocação, visão e espiritualidade.
No tema da visão, trabalha com textos e Em seguida leiam o texto de forma des-
imagens do Novo Testamento que permi- continuada. Ou seja: cada pessoa participan-
tem refletir a respeito das perspectivas de te lê o versículo que escolheu, independen-
futuro de nossas comunidades e igreja. Um temente da ordem dos versículos no texto
destes textos é Marcos 2. 1-12. Ele narra bíblico. Não há problema se os versículos
um episódio dos evangelhos que contém forem repetidos. A partir do lugar que esco-
impulsos e símbolos que nos ajudam a lheram, compartilhem com o grupo: “Por que
avaliar a realidade de nossas comunidades estou aqui? Por que este versículo me tocou
e a planejar seu futuro. Enfim, desafia-nos de forma especial?”
84
Na sequência, a determinados versículos • O que na vida de sua comunidade lhe
são associadas perguntas anotadas em fo- causa admiração a ponto de transfor-
lhas A4 (veja os anexos), além de folhas A5 mar-se em gratidão e louvor a Deus?
coloridas e canetões.
Após colocar as folhas A4 com as pergun-
Com referência aos termos “carregar” e tas ao lado dos versículos correspondentes,
“paralítico” (versículo 3) caminhamos uma terceira vez pelo texto.
• Onde estou especialmente engajado Convide as pessoas participantes a parar
neste momento? O que ajudo a carre- diante dos versículos com as perguntas. Peça
gar em minha comunidade? que usem as folhas A5 coloridas para respon-
• Onde percebo estagnação, marasmo, derem as perguntas a partir de sua medita-
“paralisia” na vida da comunidade? ção pessoal. As folhas A5 preenchidas são
Percebo inércia e apatia em mim mes- novamente posiconadas junto ao versículo
mo? De que forma? e às folhas A4 com as respectivas perguntas
geradoras.
Com referência à expressão “remover o
telhado” e ao termo “abertura” (versículo 4) Quando a redação das respostas estiver
• De que forma gostaria que nossas finalizada, o grupo contempla o resultado e
reflexões ajudassem a pensar e forma- dialoga a partir das seguintes perguntas:
tar a igreja e nossa comundiade para • Há algo que me surpreende nas ano-
além do teto e do telhado? tações?
• Com referência à frase “vendo-lhes a • Há alguma anotação sobre a qual eu
fé” (versículo 5) gostaria de saber mais?
• Que pessoa ou qual situação você gos- • Quais são as consequências para a
taria de trazer para Jesus? comunidade que resultam desta medi-
tação?
Com referência à frase “levante-se, pegue • Pelo que queremos agradecer? Pelo
o seu leito e vá para casa” (versículo 11) que queremos pedir?
• O que (ou quem) em sua comunida-
de você gostaria que fosse erguido e Observação: Esta dinâmica pode estar
colocado novamente de pé? envolvida por uma moldura litúrgica. Pode-
• Com referência à frase “a ponto de -se criar esta moldura com elementos co-
todos se admirarem e darem glória nhecidos da comunidade. Ou então utilizar a
a Deus ... Jamais vimos coisa assim!” moldura sugerida na p. 9 do Manual Nossa
(versículo 12) Equipe.

85
3 - O FUTURO DA IECLB E O FUTURO • Canetinhas hidrocor, inclusive canetinhas
DE NOSSA COMUNIDADE: UM SEMINÁRIO brancas que escrevam em papeis pretos.
PARA A COMUNIDADE LOCAL • 2 folhas de tamanho A4 de papel cartão
ou desenho branco cortadas em tama-
P. Gerson Acker, Nova Friburgo/RJ nhos e formatos diferentes, como se
fossem tesselas (pastilhas) para mosai-
Apresentamos uma metodologia para um co. Cada pastilha pode ter dimensões
seminário destinado à comunidade local com próximas a 10cm² (evitar recortar partes
o objetivo de que ela desenvolva uma vi- muito pequenas). Fazer o mesmo com
são que contenha perspectivas de futuro no 2 folhas verdes, vermelhas, pretas e vio-
contexto em que está inserida. Não se trata letas.
de um planejamento missionário, mas um • Cola.
“tempo oportuno” – kairós – de diálogo para • 1 cartolina, papel kraft ou pardo.
sonhar comunitariamente e vislumbrar, dese-
jar e projetar o futuro da comunidade. Preparo do ambiente: No centro do es-
paço organize o altar com a Bíblia, vela, cruz,
A metodologia foi pensada para ser exe- flores e a peça de mosaico. Ao redor do altar,
cutada com um grupo misto de pessoas, ou disponha as cadeiras em 5 grupos confor-
seja, diferentes faixas etárias, agregando me a quantidade de pessoas participantes.
toda a composição comunitária. Sugere-se As cadeiras serão dispostas em círculos. No
programar esse encontro no formato de meio de cada círculo colocar um dos para-
“passa-dia” ou “passa-tarde” com almoço, mentos ou panos coloridos e, sobre este, um
piquenique ou lanche partilhado. cesto ou caixa com as folhas de papel cartão
cortados na respectiva cor do paramento e
PREPARANDO O ENCONTRO as canetinhas hidrocor. Cuidando para que as
canetas brancas fiquem no cesto das folhas
Materiais que você vai precisar: pretas.
• Bíblias, Livro de Canto da Igreja, visu-
alização dos hinos no App da IECLB ou O ENCONTRO: NOSSO FUTURO,
projeção com os hinos. TESSELAS NAS MÃOS DE DEUS
• Bíblia, flores, vela e cruz para compor
um pequeno altar. Acolhida: Como é bom podermos nos en-
• Uma peça ou um quadro de mosaico contrar para meditar na Palavra de Deus e vi-
colorido. venciar comunhão! Que todos e todas vocês
• 5 paramentos (ou panos) nas cores: sintam-se muito bem acolhidos e acolhidas!
branca, verde, vermelha, preta e violeta
(as principais cores litúrgicas). O profeta Jeremias nos diz no capítulo 29,
• Equipamento de som e letra e áudio da versículo 11: “Porque sou eu que conheço os
música “Dias melhores”, da banda Jota planos que tenho para vocês, diz o Senhor,
Quest. planos de fazê-los prosperar e não de causar
• 5 cestos ou caixas pequenas e 1 cesto dano, planos de dar a vocês esperança e um
ou caixa maior. futuro”.
86
Somos Igreja de Jesus Cristo presente há Após, convidar para a seguinte refle-
200 anos no Brasil. Já vislumbramos o nosso xão: A letra da canção diz que “vivemos
passado, agradecemos pelo legado e pela esperando dias melhores”. O que é para
história da qual somos testemunhas vivas! você um dia “melhor”? (Permitir um tempo
adequado de partilha sobre o conceito do
A Igreja se nutre e enraíza sua confes- que as pessoas participantes entendem por
sionalidade do passado. Já pudemos expe- “melhor” e, na medida do possível, tentar
rimentar em outro seminário comunitário, questionar como esse “melhor” influencia a
refletir sobre a IECLB hoje, sua identidade, concepção de Igreja. Sugestão de pergunta:
participação na sociedade e na missão de “Como seria uma comunidade melhor?”).
Deus. Agora, somos convidados e convida-
das a sonhar o futuro da nossa comunidade, Canção: LCI 522 – Jesus Cristo – Esperança
da nossa IECLB... Ousado, não? Dá um pou- do mundo
co de medo, não dá? Por isso não estamos
sozinhos e sozinhas. Somos comunidade. Leitura bíblica: 1 Pedro 2.1-5 (Fazer a lei-
Não sonhamos sozinhos e sozinhas. Sonha- tura bíblica em duas traduções. Sugere-se a
mos em comunidade. Somos Igreja de Jesus NAA e a NTLH. Dialogar com o grupo fazendo
Cristo, somos IECLB neste lugar e cremos que comparações e apontando diferenças entre
sonho que se sonha junto é realidade. as traduções. Perguntar sobre o que o grupo
entende da expressão “pedras vivas”. Esse
Invocação: Jesus Cristo prometeu que mesmo texto bíblico foi utilizado na reflexão
onde dois ou três estivessem reunidos em do momento presente da IECLB. Pode ser um
seu nome, ele estaria junto destes (Mateus exercício interessante analisar a mesma pe-
18.20). Nessa certeza, reunimo-nos na pre- rícope com enfoques distintos. Um olhar para
sença do Trino Deus: Pai, Filho e Espírito o presente (as “pedras” já edificadas!) em
Santo. Amém. (Acender a vela). Cantemos a contraste com um vislumbre do futuro (as
canção de invocação: “pedras” que desejamos inserir e alicerçar!).

Canção: LCI 574 – Adoração Informações exegéticas: O autor da


Primeira Carta de Pedro caracteriza o seu es-
Oração: Amado Deus! Somos pedras crito como palavra de exortação e testemu-
vivas na edificação da tua Igreja. Usa nossos nho da graça de Deus. A carta é dirigida às
dons e talentos na tua missão. Permite que comunidades do norte da Ásia Menor (1.1).
sejamos sal e luz! Que nosso FUTURO, como Os destinatários são cristãos dentre os não
comunidade e IECLB, seja um belo mosaico, judeus que passam por sofrimentos devido
construído com trabalho coletivo digno, com à discriminação e ao preconceito que sofrem
tesselas sonhadas na perspectiva do Reino em seu meio social (2.2,15; 3.14ss; 4.3,14-
e abençoadas por tuas mãos, ó DEUS! Que 16). A finalidade da carta consiste em forta-
Teu Espírito Santo conduza com criatividade lecer, consolar e exortar os leitores, a fim de
e vigor nosso encontro, que nosso pensar e que permaneçam firmes e comprovem a sua
falar nos conduza a reflexões produtivas e fé num mundo hostil.
inspiradas na Tua Palavra. Oramos em nome
de Jesus Cristo. Amém. O trecho 2.1-10 dá continuidade a uma
série de exortações gerais. Os versículos 1-3
Dinâmica: Vamos ouvir a canção “Dias têm estreita ligação com a exortação ante-
melhores” da banda Jota Quest. rior que conclamara para a prática do amor
87
(1.22-25). Os vícios dos quais as pessoas zaremos 1h15min de dinâmica. As informa-
cristãs devem abdicar são frutos da falta de ções sobre a dinâmica são dadas em cada
amor. Segue-se outra exortação: desejar grupo).
como crianças recém-nascidas o genuíno lei-
te espiritual, no sentido figurado de renascer Grupo Branco: A cor litúrgica branca está
e crescer para a salvação. presente nas principais festividades cristãs:
o Natal e a Páscoa. Essas datas nos lembram
Nos versículos 4 e 5, a exortação utiliza a respectivamente do nascimento e da ressur-
imagem das “pedras vivas” para destacar o reição de Jesus. Com o que o Natal e a Pás-
ser comunidade! Não há existência cristã fora coa fazem você sonhar? Pensando no futuro
da comunidade. O versículo 5 é importante da nossa comunidade: O que precisa nascer
para a reflexão sobre o conceito do “sacerdó- e/ou ressuscitar?
cio geral de todas as pessoas crentes”. Além
disso, a figura da casa espiritual, sendo Cristo (As ideias, as frases surgidas no diálogo
a pedra angular e cada pessoa cristã indivi- devem ser anotadas nos pedaços de papel
dualmente uma pedra viva, construída sobre cartão branco disponíveis no cesto. Podem-
ele, é uma metáfora valiosa para refletirmos -se usar tantos quantos forem necessários.)
mais sobre a missão e o nosso futuro como
Igreja. Grupo Verde: A cor litúrgica verde per-
tence ao tempo comum, logo após o Pen-
Dinâmica das tesselas: Cacos de cerâ- tecostes, e lembra a atuação da Igreja no
mica, cacos de vidro a princípio parecem mundo. Além da esperança, esta cor indica
sonhos frustrados. Parecem não ter mais a vida na graça. O que lembra esse tempo
solução. Os cacos, em si, nada significam. litúrgico para você? Pensando no futuro da
Sozinhos não tem beleza e muito menos nossa comunidade: Como precisa ser a atua-
sentido, mas quando usados em artesanato, ção da nossa comunidade cristã de confissão
com criatividade e sonho tornam-se tesselas luterana?
– pedaços revestidos de novo sentido.
(As ideias, as frases surgidas no diálogo
Nossos sonhos e perspectivas para o fu- devem ser anotadas nos pedaços de papel
turo da nossa comunidade e da nossa IECLB cartão branco disponíveis no cesto. Podem-
são “tesselas vivas”, e essas tesselas nascem -se usar tantos quantos forem necessários.)
das nossas vivências cotidianas e da nossa
vida de fé. Convido agora, para uma dinâ- Grupo Preto: A cor litúrgica preta é
mica que se desenvolverá em cinco grupos. usada na Sexta-Feira Santa. Lembra-nos da
Cada grupo terá como motivação e inspiração crucificação e morte de Jesus. Que memó-
uma cor e tempo litúrgico, por que celebrar e rias você tem desse culto? Pensando no fu-
sonhar são perspectivas que não se separam turo da nossa comunidade: Que sonhos não
na vida comunitária. podemos jamais deixar morrer? Que sonhos
devemos impedir a todo custo que sejam
(É necessário haver um rodízio dos parti- crucificados?
cipantes em todos os grupos. Assim sendo,
é importante que sejam delimitados um (As ideias, as frases surgidas no diálogo
tempo de permanência e a forma do rodízio devem ser anotadas nos pedaços de papel
acontecer. Pensamos que 15 minutos seja cartão branco disponíveis no cesto. Podem-
um tempo mais que suficiente; assim, totali- -se usar tantos quantos forem necessários.)
88
Grupo Vermelho: A cor vermelha está da nossa comunidade e da presença cristã
associada ao Pentecostes, lembrando das luterana e da IECLB nesse contexto são um
línguas de fogo conforme a narrativa de Atos grande mosaico, que junta diversas tesselas
do Apóstolos e à Reforma Luterana. É a cor que nascem das nossas vivências, das nossas
do amor, da coragem, da transformação. vidas de fé...
Pensando no futuro da nossa comunidade:
Onde precisamos de mais coragem? Como Nós escrevemos em diversos pedaços de
concretizar mais o amor que recebemos e papel ideias, sonhos, perspectivas do que
testemunhamos? desejamos para o futuro da nossa comunida-
de e da nossa IECLB, porque somos presença
(As ideias, as frases surgidas no diálogo luterana e da IECLB nesta cidade e região.
devem ser anotadas nos pedaços de papel Tais tesselas estão todas reunidas aqui neste
cartão branco disponíveis no cesto. Podem- cesto/caixa. Agora temos um novo desafio:
-se usar tantos quantos forem necessários.) usando cola e uma cartolina (ou cartolinas)
como base, convido para montarmos um
Grupo Violeta: Advento e Quaresma mosaico com todas essas peças. Podemos
são os tempos litúrgicos associados à cor pensar juntos e juntas num símbolo, numa
violeta. Esta nos convida a um tempo de imagem, e vamos fazer um grande trabalho
reflexão e meditação. Advento e Quaresma artístico coletivo.
são tempos de preparação e penitência,
respectivamente. Que memórias você tem O tempo de feitura do mosaico é variável.
do Advento? Que memórias você tem da Durante o processo, podem ser colocadas
Quaresma? Pensando no futuro da nossa músicas ou outro som ambiente. Quando
comunidade: Onde precisamos nos preparar o mosaico estiver pronto, conversar com o
mais? Onde estamos “dormindo no ponto”? grande grupo sobre a imagem que se for-
Pelo que temos que pedir perdão para se- mou, sobre as ideias que apareceram escri-
guir rumo ao futuro? tas nas tesselas, os sentimentos envolvidos e
o que cada qual leva dessa experiência para
(As ideias, as frases surgidas no diálogo sua vida. É importante fazer o registro foto-
devem ser anotadas nos pedaços de papel gráfico do mosaico e uma foto do grupo reu-
cartão branco disponíveis no cesto. Podem- nido. Em seguida, poste a foto do mosaico
-se usar tantos quantos forem necessários.) no link abaixo. Nele haverá outros mosaicos
confeccionados na IECLB. Não deixe o mosai-
Ao final, recolher os cinco cestos e reunir co de sua comunidade de fora!
todas as tesselas no cesto ou na caixa maior.

Canção: LCI 575 - Canção da caminhada


Aproxime seu celular do QR-Co-
de ao lado e poste a foto do seu
Dinâmica do mosaico: Mosaicos são mosaico conforme instruções
obras de arte feitas com cacos. Cacos de
cerâmica, cacos de vidro. Os cacos, em si,
nada significam. Sozinhos não têm beleza e
muito menos sentido, mas quando colados
em forma de mosaico, tornam-se tesselas –
pedaços unidos revestidos de novo sentido.
Nossos sonhos e perspectivas para o futuro
89
Canção: LCI 287 – Cuida bem certeza de que caminhas conosco, de que
caminhas com a tua Igreja. Entregamos
Oração: Gratidão Senhor, por esse tem- nosso futuro, estas tesselas, nas tuas mãos,
po de partilha. Pelas tesselas de sonhos que Senhor. Confiantes, oramos em união como
coletivamente juntamos e, assim, formamos Jesus Cristo nos ensinou:
esse belo mosaico. Esse mosaico represen-
ta os nossos desejos, nossas expectativas Pai Nosso
diante do porvir. Que estes e outros sonhos
nasçam e ressuscitem. Que nossa ação Bênção: Que Deus abençoe tuas me-
presente e futura possa produzir frutos de mórias, para que sejam sal a temperar teu
amor. Que as dificuldades não sepultem presente. Que Deus abençoe teu agora, para
nossos sonhos.Que a chama da coragem que sejas luz onde a rotina é opaca. Que
esteja acesa na nossa vontade de testemu- Deus abençoe teu porvir, para que sonhos se
nhar a fé. Que possamos estar vigilantes. tornem sabor e fulgor. Que assim, te aben-
Não nos deixes perder oportunidades de çoe o Trino Deus: Pai, Filho e Espírito Santo.
missão, porque o futuro já começou. Confes- Amém.
samos, Senhor, que temos nossos medos,
inseguranças e receios; mas temos plena Envio: Vão em paz, sirvam ao Senhor com
alegria!

90
ATIVIDADES RELACIONADAS
AO TEMA E AO LEMA DO ANO
PARA INSTITUIÇÕES EDUCACIONAIS
DA REDE SINODAL DE EDUCAÇÃO
E OUTROS GRUPOS

91
APRESENTAÇÃO

Cat. Joni Roloff Schneider

Como em anos anteriores, uma equipe de pessoas que atuam em escolas da Rede Sino-
dal de Educação (RSE) elaborou reflexões e dinâmicas para professores e professoras traba-
lharem em sala de aula, com os diferentes níveis de ensino, e uma celebração para fazer
com a comunidade escolar. Este material também pode ser trabalhado com grupos de crian-
ças, adolescentes e jovens das comunidades da IECLB.
Para 2023, a equipe se ateve ao Lema do Ano, visto que ele ajudará especificamente nas
temáticas da espiritualidade cristã, da identidade luterana e da conscientização cidadã.
A Rede Sinodal de Educação é uma associação que reúne 50 instituições educacionais fi-
liadas. Elas estão localizadas nos estados do RS, de SC, do PR, de MG e de SP. Estudam nelas
mais de 43 mil alunos/as, da Educação Infantil ao Ensino Superior.
Desejamos um bom proveito, enfatizando que cada qual deve sempre adaptar as propos-
tas aqui apresentadas para a sua realidade.

EQUIPE DE ELABORAÇÃO:

Catequista Edson Márcio Reginaldo - Instituto Ivoti


Catequista Ma. Joni Roloff Schneider - Rede Sinodal de Educação
Pastora Bianca Daiane Ucker Weber - Colégio Sinodal e Centro de Ensino Médio Pastor Dohms
Pastor Eloir Enio Weber - Colégio Sinodal
Pastor Me. Valdemar Schultz - Centro de Ensino Médio Pastor Dohms
Professora Maira Weyrich Sträher - Colégio Sinodal do Salvador

92
1. Introdução Geral sobre o Tema e Lema

P. Me. Valdemar Schultz

O tema de reflexão e estudo para o bi- discipulado de Jesus não tem um fim em si
ênio 2023 e 2024 é “IECLB. Igreja de Jesus mesmo, mas segue o exemplo do mestre:
Cristo”. O Guia da Vida Comunitária na IECLB “o próprio Filho do Homem não veio para
“Nossa Fé – Nossa Vida” define Igreja como ser servido, mas para servir e dar a sua vida
“o convívio de pessoas por ela batizadas ou em resgate por muitos”. (Marcos 10.45).
admitidas, diferentes umas das outras, todas Segundo, usado na medida certa, o sal faz
elas, no entanto, chamadas para viver seu bem para a saúde. Tanto a falta quanto o
Batismo”. Por sua vez, as pessoas batizadas uso exagerado da dosagem comprometem
assumem o compromisso com o discipulado o sabor do alimento. Semelhantemente, os
de Jesus Cristo, que se expressa no lema da discípulos e as discípulas de Cristo precisam
Igreja: “Vocês são o sal da terra. Vocês são a dosar suas ações pela palavra de Deus, que
luz do mundo” (Mateus 5.13-14). se dirige a cada pessoa em sua situação es-
pecífica. “Na verdade, é uma função maravi-
O lema bíblico está inserido em um bloco lhosa e uma grande e esplêndida honra que
temático do Evangelho de Mateus conheci- Deus os chama de seu sal, acrescentando
do como Sermão do Monte, que inicia com que devem salgar tudo que existe na terra”
as “bem-aventuranças” (Mateus 5.1-12). Na (Martim Lutero).
sequência, vêm os versículos do lema bíblico.
Nesse sentido, pode-se dizer que as pessoas A dosagem correta do sal indica a neces-
bem-aventuradas são chamadas a ser sal da sidade do equilíbrio na vivência e no exercí-
terra (v.13) e luz para o mundo (v.14). O sal cio do discipulado. É preciso sabedoria para
tem múltiplas finalidades. Na medida, ser- que haja equilíbrio e coerência entre pala-
ve para temperar e dar sabor à comida. Em vras e ações. Ainda assim, Jesus não espera a
maior proporção, na inexistência do congela- perfeição, pois ele chamou pessoas frágeis e
dor, era usado para conservar os alimentos, instáveis, como nós, para serem seus discí-
especialmente, a carne. Pode auxiliar tam- pulos, entre eles, pescadores e coletores de
bém na cura de ferimentos ou ser emprega- impostos. O discipulado de Cristo implica fa-
do em funções terapêuticas e religiosas. No zer a diferença no mundo, de modo concreto,
entanto, o sal pode perder o seu sabor se for na prática e na vivência do dia a dia, tendo
misturado a impurezas. como princípio e critério o amor de Deus. Um
provérbio popular diz: “Para conhecer al-
Jesus indica dois princípios para o seu guém de verdade, é preciso comer um quilo
discipulado a partir da metáfora do “sal”. Pri- de sal juntos”. A metáfora tem a ver com o
meiro, conforme lembrado pelo reformador longo tempo que seria necessário para que
Martim Lutero, o sal não existe para si mes- duas pessoas pudessem consumir esta quan-
mo, dado que não pode salgar a si mesmo, tidade de sal.
mas serve para temperar a comida ou pre-
servar o seu gosto, mantendo-a conservada A segunda parte do lema bíblico traz a
para que não apodreça. Do mesmo modo, o dimensão pública do discipulado de Cristo.
93
Uma pequena luz, como de uma vela, pode sou a luz do mundo; quem me segue nunca
fazer uma grande diferença em um ambien- andará na escuridão, mas terá a luz da vida”
te escuro, mas, em uma sala iluminada, essa (João 8.12). O testemunho da fé através de
diferença é mínima. A palavra de Deus é luz atitudes concretas é uma forma de promover
que orienta a vida. “A tua palavra é lâmpada a luz de Cristo. Na visão do reformador, o
para guiar os meus passos, é luz que ilumina sentido do discipulado de Cristo não é a pro-
o meu caminho”. (Salmo 119.105). Como moção da luz própria, mas o serviço ao próxi-
a luz, a palavra de Deus revela possibilida- mo. “Esse é o segundo aspecto do ministério
des, evita obstáculos e situações de perigo. do qual ele incumbe os amados apóstolos:
A função simbólica da luz está presente nas que sejam chamados de luz do mundo (...).
expressões diárias, como: “vamos escla- Isso, também, é necessário porque Cristo não
recer”, “precisamos nos manter lúcidos”, quer que esse ministério seja exercido às
“alguém dê uma luz”, “vejo brilho no seu escondidas ou, somente, em determinado lu-
olhar”, “seja claro na sua explicação”. A luz é gar, mas que seja levado publicamente pelo
fundamental para a vida, assim como a água mundo afora” (Martim Lutero).
e o ar que respiramos. Sem a luz e o calor do
sol, não haveria vida na terra. Ser sal e luz é um chamado para ser
instrumento de Deus no mundo. As duas
Assim como o sal, a falta ou o uso exces- imagens remetem para a necessidade de
sivo da luz pode ser nocivo ao ser humano. haver equilíbrio tanto no anúncio da pala-
No dizer de Clarice Lispector, “são os pe- vra quanto no testemunho concreto e diário
quenos brilhos que encantam, os holofotes dela. Sejamos, pois, sal e luz como extensão
cegam”. Na época do inverno, a população das bênçãos de Deus no mundo.
da região Sul tende a sofrer carência da
vitamina D por falta de exposição diária ao REFERÊNCIAS
sol. Não só holofotes são prejudiciais à visão REIS, Ana Isa dos. Auxílio homilético de Mateus 5.13-20. In: HO-
humana, mas igualmente a luz branca, que EFELMANN, Verner (Coord.). Proclamar Libertação. São Leopoldo:
Sinodal, 2016. v. 42, p. 81-86.
está presente na tela do computador, do ce-
Martinho Lutero - Obras Selecionadas. Interpretação do Novo
lular e também na iluminação de ambientes Testamento, Mateus 5-7 - 1 Coríntios 15 - Timóteo. São Leopoldo,
com lâmpadas LED. O uso saudável das telas RS: Sinodal, vol. 9, 2017. p. 68-69.

implica mudança de hábito. Quanto mais os Nossa Fé – Nossa Vida. Guia da vida comunitária na IECLB. 8ª
edição. Nova edição revista e ampliada. 2011. Uma publicação da
adultos utilizam o celular, mais as crianças Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil – IECLB.
tendem a utilizá-lo. Além de causar distúr-
bios de sono, estudos apontam que a expo-
sição excessiva às telas afeta diretamente
os olhos, pois os músculos permanecem
contraídos por longas horas, o que resulta na
fadiga ocular e, até mesmo, no desfoque da
visão.

Assim como o sal, ser luz é igualmente


um convite para fazer a diferença no mun-
do. Como levar a luz às pessoas em situação
de sofrimento e injustiça? Como ser luz em
meio a tantas dúvidas e conflitos? O próprio
Cristo nos oferece a sua luz quando diz: “- Eu
94
2. Atividades para a Educação Infantil
Profª Maira Weyrich Sträher

TEMA 1: O SABOR QUE FAZ A DIFERENÇA colocou uma colherada na boca mas,
logo sentiu algo estranho: o feijão es-
Para desenvolver as atividades, sugeri- tava sem gosto! Lara não precisou di-
mos que você leia a introdução geral sobre zer nada, pois seus pais logo se deram
o tema e lema, elaborada pelo P. Valdemar conta de que algo estava faltando no
Schultz. feijão. Foi aí que sua mãe exclamou:

Material necessário: - Oh!!! Esqueci de colocar sal no


feijão! Estava muito distraída!! Que
Pipoca e um pouco de sal. cabeça a minha!!!

Desenvolvimento da atividade: Bastou sua mãe acrescentar um


tanto de sal e mexer novamente o
a) Convidar as crianças para sentar num feijão, que seu sabor voltou a ser de-
círculo para um momento de espiritua- licioso! Sem querer, naquele dia, Lara
lidade. Iniciar a conversa perguntando: percebeu que um pequeno detalhe
vocês gostam de comer comida sem que faltava no feijão fazia uma grande
sabor? Que tal comer uma maçã sem diferença no sabor!
sentir o gosto dela? E uma melancia
sem qualquer sabor? E que tal uma c. Convidar as crianças para um momen-
sopa sem sal? Ou uma massinha com to de culinária em que farão pipocas.
carne sem nenhum sabor? Será que Pode ser na panela ou no micro-ondas,
vocês iriam gostar de comer algo sem mas é importante que seja pipoca na-
o gostinho que vocês estão acostuma- tural, sem sabor. Prepare uma porção,
dos a sentir? convide as crianças a provar e pergun-
te: qual o sabor que estão sentindo? É
b) Contar a história a seguir. doce? É salgada? Está gostosa?

Certo dia a pequena Lara chegou da Depois, colocar sal na mesma por-
escola cheia de fome! Ela estudava de ção, deixe que experimentem nova-
manhã e quando chegou em casa, na mente e pergunte: sentiram diferença
hora do almoço, sentiu um cheirinho no sabor? Está salgada? Poderia ter
delicioso de feijão. mais sal? Vocês preferem com sal ou
sem sal?
- Hummm…,o feijão da mamãe é
muito bom! - pensou ela. d. Relacionar a história com o texto de
Mateus 5.13, dialogando: Vocês sa-
Após lavar as mãos, Lara sentou à biam que Jesus, um dia, pediu aos
mesa, serviu uma pratada de feijão e seus discípulos para que eles fossem
95
o “sal da terra”? Pessoas sendo como banheiro, só que tinha um problema:
o sal! O que será que Jesus quis dizer as luzes que iluminavam os degraus
com esta afirmação? Ele quis dizer que das escadas do cinema não estavam
as pessoas podem fazer a diferença funcionando e ele ficou desespera-
no mundo, assim como o sal faz a do com aquela escuridão. Mesmo
diferença no alimento. Por exemplo: de mãos dadas com o pai, andar no
quando alguém está triste, você pode escuro lhe causou muita insegurança!
tentar deixar essa pessoa mais feliz. Tanto, que ele nem quis voltar para
Ou se alguém se machucou, você pode assistir ao final do filme. Após alguns
ajudar essa pessoa e cuidar dela. Pode dias Cadu e sua família foram jantar na
acontecer de alguém do seu lado estar casa da sua tia Tati, mas o que Cadu
nervoso, e seu jeito de agir com essa não sabia, era que naquela noite sua
pessoa pode fazer a diferença e acal- vida iria mudar!
má-la. É isso que Jesus espera de nós,
que a gente possa dar um gostinho Depois da janta, os adultos ficaram
especial para a vida de alguém sendo conversando na sala enquanto Cadu
amigo, amiga, ajudando, fazendo o e seu priminho de três anos foram
bem e sendo legal! brincar no quarto. Os dois estavam se
divertindo à beça quando, de repente,
TEMA 2: A LUZINHA QUE FALTAVA acabou a luz de toda casa e a escuri-
dão tomou conta do quarto. Cadu co-
Material necessário: meçou a suar frio, não enxergava nada
e seu priminho se agarrou em suas
Velas artificiais de pilha ou lanternas de pernas! E agora? O que iria acontecer?
pilha, cacos e restos de velas (pedir que os O que Cadu e seu primo poderiam
pais já esmigalhem em casa), um pote de fazer? Como sair daquela situação? O
geleia ou outro, um pavio grosso para vela. que vocês fariam, crianças? (Ouvir as
ideias das crianças).
Desenvolvimento da atividade:
Foi aí que Cadu teve coragem de
a) Contar a história a seguir em um am- observar à sua volta e percebeu que
biente com pouca luminosidade. Caso havia uma luz piscando no chão: era
a sala não proporcione a escuridão, de um brinquedo luminoso, tipo uma
podem-se trazer lençóis e cobertores lanterninha. Imediatamente Cadu a
e construir uma barraca para todas as pegou para iluminar o ambiente e
crianças se reunirem debaixo dela. naquela hora percebeu que aquela
pequena luz já permitia que ele con-
Cadu era um menino de seis anos, seguisse enxergar as coisas ao seu
que adorava brincar e se divertir. redor. Isso o encorajou a proteger seu
Curtia pegar um cinema, tinha amigos priminho, segurar sua mão e iluminar
e amigas, gostava da escola e adora- o caminho até a sala onde estavam
va comer banana e polenta frita. Ele seus pais.
tinha alguns medos, mas o pior de
todos era o medo de escuro! Só para b. Dialogar com as crianças:
vocês terem uma ideia, teve um dia, - E você, também tem medo de escuro?
no cinema, em que Cadu precisou ir ao - O que você faz quando fica no escuro?
96
c. Experienciar luz e sombra: Convidar ser como a luz sobre a mesa, que
as crianças a acenderem as suas velas ilumina tudo ao seu redor, dando
de pilha ou lanterninhas. Deixar que alegria, coragem e segurança para as
se observem. Depois, pedir que façam pessoas.
sombra no cobertor, usando as mãos.
e) Confeccionar uma vela da turma:
d. Dialogar sobre Mateus 5.14: Às vezes Convidar as crianças a colocarem
temos medo da nossa própria sombra os cacos de vela que trouxeram de
que se forma quando está escuro. Mas casa dentro do pote. À medida que
a sombra é só uma sombra, que não vão colocando, amassar para que os
faz mal a ninguém! No entanto, há ca- restos fiquem bem firmes e acomo-
sos de pessoas que sentem como se a dados dentro do pote. Antes de com-
sua vida toda fosse escuridão. Quando pletar até o gargalo, colocar o pavio
bate a tristeza, sentem saudade, têm no meio. Depois, acender a vela e
uma doença ou outro problema, es- dialogar com elas:
sas pessoas ficam muito abaladas, se
sentem como cacos sem valor e têm Falamos que muitas pessoas se
sentimentos ruins, igual ao sentimento sentem como cacos e vivem como
que Cadu sentia quando ficava com se estivessem sempre na escuridão.
medo do escuro. Quando essas pessoas recebem aten-
ção, quando a sua vida novamente
Nessas horas essas pessoas preci- faz sentido, voltam a ter luz própria,
sam de ajuda, que pode ser a com- assim como esta vela. Os cacos de
panhia de alguém, um abraço, uma vela, sozinhos, não tinham mais como
música, uma palavra de apoio, uma dar luz, mas todos os cacos juntos,
oração. Essas ajudas funcionam como formaram uma nova vela, que está
uma luz na escuridão, elas iluminam iluminando toda a nossa barraca.
a vida das pessoas em sofrimento. Jesus quer que cada um de nós seja
Cada um e uma de nós pode ser luz “a luz do mundo”, porque juntos
na vida das pessoas quando temos podemos melhorar a vida de muitas
atitudes de ajuda, de solidariedade, pessoas.
de amizade.
f) Realizar a dinâmica do “Guia e do
Uma história da Bíblia, escrita em Cego”: Formar duplas. Uma criança
Mateus 5.14, conta que Jesus foi con- imitará uma pessoa cega, que deverá
versar com os seus discípulos e disse vedar os olhos com uma tira de pano,
a eles o seguinte: - “Vocês são a luz e a outra terá a função de guia. Ini-
do mundo”. Depois ele ainda explicou cialmente deve ser explicado o trajeto
que a luz não pode ficar escondida pelo qual devem caminhar. A criança
debaixo de uma mesa, mas precisa guia deve segurar uma ou as duas
ficar em cima, para iluminar todo o mãos da “criança cega” e a guiará pela
ambiente. sala, cuidando para que não esbarre
em coisas ou outras crianças pelo ca-
Jesus comparou a luz de uma lam- minho. Andam desta forma por aproxi-
parina, de uma vela, de um abajur madamente 2 minutos. Depois trocam
com as pessoas. Todos nós devemos de função.
97
No final do jogo, conversar com as
crianças sobre as sensações, sobre as
dificuldades e os medos que sentiram. 3. Atividades para
Relacionar com andar no escuro e a
importância de ter alguém em quem
o Ensino Fundamental -
confiar, sendo como luz para quem Anos Iniciais
não enxerga.
Cat. Edson Márcio Reginaldo

g) Cantar uma música: Para encerrar,


escolher uma música que fale de sal e TEMA: MEU TEMPO NO MUNDO
luz e cantar com as crianças.
a) Texto orientador

A passagem do tempo é relativa para


cada pessoa, pois depende de como nos
ocupamos nele. Expectativas, desejos, objeti-
vos e os mais variados sentimentos ou emo-
ções podem fazer com que a sensação seja
de que ele esteja passando mais depressa
ou mais devagar. Para cada momento, pode
haver um “tempo” diferente.

Para as pessoas adultas, diante de tantos


compromissos, normalmente o tempo voa.
Os momentos marcados pelo relógio, muitas
vezes ficam apertados no tempo do dia. Para
as crianças, especialmente quando esperam
ansiosas por algo, o mesmo tempo pode dar
a sensação de ser interminável. Diante des-
tas constatações é importante pensarmos a
partir de duas perguntas: o que eu, você, nós
fazemos no tempo de que dispomos? Como
podemos usar o tempo que temos para fazer
do mundo um lugar melhor?

No Evangelho de Mateus 5.13-16, Jesus


dá sinais de como podemos agir no mundo
em que vivemos. Somos chamados e cha-
madas a ser sal e luz. Isto significa que cada
um e uma de nós tem a tarefa de fazer a
diferença na sociedade, assim como o sal
realça o sabor dos alimentos e a luz clareia
em meio à escuridão. Jesus nos convida para,
através dos nossos dons, colocarmos em
prática os seus ensinamentos o tempo todo
e em todas as etapas da vida seja enquanto
98
estudantes, no trabalho, em casa, nos encon- – Mãe, fala aí com o tempo pra ele me
tros ou no lazer. esperar um pouco.
b) Encontro com as crianças
– Filho, tempo não espera.
Preparar um ambiente acolhedor. Se
possível, disponibilizar almofadas ou – Mãe, por que o tempo corre tanto?
tapetes para que as crianças possam se Pra onde ele vai?... Pro trabalho é?…
sentar no chão, formando um círculo. No Tempo trabalha em quê?... Ele viaja com
centro, colocar um relógio em destaque o papai pra Quixadá e pra Crato? Mãe,
sobre uma toalha, junto ao cartaz do quando o pai volta, o tempo vem com
Tema do Ano. ele?

Acolhida: Olá, crianças! Sejam bem-vin- –Tempo trabalha muito e vai pra muitos
dos e bem-vindas. Que bom podermos estar lugares… Por isso tem tanta pressa.
juntos e juntas neste momento! Agradece-
mos a Deus pela sua presença entre nós, – Mas de noite ele não dorme?…
certos de que Ele está conosco sempre.
– Tempo não dorme, filho.
Introdução à história: Fazer referência
ao relógio que está colocado no ambiente. – E não se cansa mãe?…
Perguntar para que ele serve, em que situa-
ções é usado, ‘se sabem ler as horas, o que o – Não sei, mas ele não para nunca…
relógio marca, porque ele é importante...
Zito já achava que o tempo não queria ser
História do livro: ‘O menino e o tempo’ amigo dele.
– Fabiana Guimarães (contar a história ou
acessar o vídeo , abaixo) – Por que o tempo não me espera,
mãe?…

– Tempo é cavalo que corre como um


Aproxime seu celular do QR-Co-
de ao lado e veja o vídeo “O avião. A gente monta nele e sai voando pela
Menino e o Tempo” vida… Vai ao Crato, Icapuí, Baturité... Para
todo lugar que quiser…

A hora é um pedacinho de tempo para – Se ele voa, deve ter asa, né?
fazer as coisas. Zito vivia perdendo a hora
de ir para a aula, de fazer as tarefas, de Zito queria encontrar o tempo, conversar
almoçar, de tomar banho…Sua mãe ficava com ele e ser amigo dele. Mas como fazer
brava e ele ficava triste por nunca alcançar para encontrar o tempo?! ...Pensou... Pen-
o tempo. Os dois passavam o dia inteiro sou... E teve uma ideia:
em uma conversa sem fim, sempre falando
sobre o tempo. – Já que o tempo vive correndo, vou correr
atrás dele até alcançá-lo…
– Filho vai se arrumar, se não vai acabar Correu para todo lugar, mas não conse-
não dando tempo de você ir ao Parque do guia pegar o tempo... Sua mãe já estava
Cocó. irritada com tanta correria, e dizia:
99
– Para com isso, menino! Pra que tanta Desde esse dia, o tempo ficou amigo
correria?… dele, e nunca mais ele perdeu a hora de
fazer as coisas…
– Pra pegar o tempo, mãe. Quero conver-
sar com ele… já te disse... c) Atividade 1:

– Você vai acabar caindo… a) Dialogar com as crianças sobre a histó-


ria que ouviram. Lembrar das pergun-
Cansado de tanto correr sem pegar o tas que Zito fazia à sua mãe e refletir
tempo, Zito resolveu parar e começar a sobre o que ele aprendeu sobre o
andar. Andou pra todos os lados a procu- tempo. Pensar com as crianças sobre
ra do tempo. E nada desse tempo parar a forma como usamos o nosso tempo.
para conversar. Cansou também de andar Compartilhar exemplos de como ele
e resolveu chamar pelo tempo. Chamou pode ser bem aproveitado (tempo
o tempo de todas as formas: em segredo, para brincar, ir à escola, fazer tarefas,
bem baixinho, no ouvido dele, gritando. passear, descansar, se alimentar, aju-
E o tempo nada de responder… Sua mãe dar as pessoas…).
já estava irritada com tanto grito e recla-
mou: b) Fazendo uso do cartaz, apresentar o
Lema do Ano às crianças: ‘Vocês são o
– Para com essa gritaria, menino. sal da terra. Vocês são a luz do mundo’
(Mateus 5.13-14). Relacionar a história
– Ah mãe, deixa eu chamar o tempo pra ‘O menino e o tempo’ ao tempo de
ver se ele me escuta… que dispomos para realizar boas ações
na nossa vida e na vida das outras
Já estava quase rouco de tanto chamar, pessoas. O que Jesus quis dizer ao
sem receber um ‘oizinho’ do tempo. Daí, re- afirmar que nós somos “sal da terra” e
solveu amarrar o tempo no pé da sua cama “luz do mundo”? Questionar as crian-
por um instante. ças sobre a função do sal (dar sabor,
preservar os alimentos) e da luz (Ilu-
– Mas como fazer para amarrar o tem- minar o ambiente, possibilitar a vida).
po?…
c) Citar exemplos de como podemos fazer
Depois de muito pensar, pegou um peda- isto acontecer no dia a dia junto às pes-
ço da corda do varal de sua mãe, fez um laço soas: auxiliar os/as colegas nas tarefas,
e começou uma longa e silenciosa espera. sermos prestativos, amigáveis, bondo-
Ficou muitos dias quietinho (bem escondi- sos… Deixar as crianças responderem.
do), para pegar o tempo de surpresa.
d) Atividade 2:
Muitos dias se passaram... até que Zito,
aos poucos foi aprendendo os ritmos do a) Comentar brevemente sobre a história
tempo (dentro dele). Descobriu que ritmo é e ouvir o que as crianças têm a dizer
velocidade de andar montado no tempo, que sobre o tempo. Perguntar como elas
é cavalo, que voa como o avião. Zito desco- dividem o seu tempo no dia a dia (o
briu como apressar e diminuir o passo, para que fazem, como aproveitam, a que
voar no tempo… horas acontece cada coisa).
100
b) Ouvir ou cantar a canção: ‘Cada dia colegas, do quanto ajudamos as pes-
o dia inteiro’ (Edson Ponick) – Hinos soas, do que precisamos, às vezes,
do Povo de Deus (HPD) - 455. Lem- deixar guardado, do que é importante
brar algumas passagens da canção fazer bom uso a cada dia (atitudes,
que mostram o cuidado de Deus para sentimentos, postura). Frisar que Jesus
conosco. Exemplo: ‘Deus protege os disse para sermos ‘sal da terra e luz do
passarinhos, e enfeita as lindas flores. mundo’, mas, com dosagem equilibra-
E se Deus cuida das plantas, e pra’s da de cada elemento. Como podemos
aves dá o ninho, cuidará também da usar o nosso tempo para isso?
gente, com amor e com carinho!’

c) Com base no cartaz, citando o Lema do


Ano, fazer relação com a última parte
da canção: ‘Amparados desta forma,
Deus espera que a gente, faça o mun-
do mais bonito, mais humano e mais
contente’. O que significa sermos ‘sal
da terra e luz do mundo’ no decorrer
do tempo que Deus nos dá?

e) Atividade 3:

a) Preparar uma mochila escolar contendo


vários objetos (cadernos, livros, régua,
estojo, copo, casaco, brinquedo).
]
b) Numa roda de conversa, perguntar às
crianças como elas arrumam a sua
mochila para virem à escola. Os pais
ajudam? O que carregam? É preciso
tudo que está nela? Como escolhem o
que vai dentro? Quanto tempo levam
para arrumá-la? É pesada?

c) Diante da turma, retirar cada objeto


perguntando sobre a utilidade e a
necessidade de cada um. Comparar
com o que disseram, avaliando com as
crianças o que é mais ou menos im-
portante. Lembrar que é preciso distri-
buir o peso de forma equilibrada.

d) Pensar sobre o que nós levamos conos-


co, como se fossemos uma “mochila”.
O que está “dentro de nós”? Lembrar
dos nossos dons, do que falamos aos
101
4. Atividades para o Ensino Fundamental - Anos Finais
Cat. Edson Márcio Reginaldo

TEMA: SAL E LUZ NA DOSE CERTA com qualidade, sem exageros, mas plena em
nosso agir e servir.
a) Texto orientador
b) Atividade 1:
Ao consultarmos o dicionário, identifica-
mos, de forma breve, o sal como sendo um a) Promover com os e as estudantes uma
cloreto de sódio, cristalino, de cor branca, breve pesquisa / coleta de informa-
usado na alimentação. Já a luz é a claridade ções sobre as características do sal e
proporcionada pela radiação eletromagnéti- da luz buscando identificar os benefí-
ca visível aos nossos olhos. Jesus não tinha cios que ambos trazem para a nossa
a intenção de falar dos conceitos físicos do vida.
sal e da luz, mas de usar estes elementos
para comparar os seus efeitos com a vida das b) Ler o texto bíblico de Mateus 5.13-16
pessoas. No sentido em que Jesus os usou, e fazer uma comparação com o que
podemos dizer que o sal significa graça, viva- Jesus disse aos seus discípulos, de que
cidade e luz significa brilho, fulgor. devemos ‘ser sal e luz para a humani-
dade’.
A afirmação “Vocês são o sal da terra. Vo-
cês são a luz do mundo” encontra-se dentro c) Elaborar um cartaz que expressa ações
de um texto maior, conhecido como “Sermão positivas em favor das pessoas.
da Montanha” (Mateus 5). Jesus fala aos
discípulos junto a uma multidão de pessoas c) Atividade 2:
sobre as chamadas bem-aventuranças, ensi-
nando sobre a verdadeira felicidade daque- a) Ler o texto bíblico do ‘”Sermão da
les e daquelas que creem. Somos chamados Montanha”, em Mateus 5.3-11. Rees-
e chamadas a sermos sal e luz do mundo crever os versículos com palavras de
colocando sinais da graça de Deus entre as fácil compreensão, apontando situ-
pessoas para que juntos e juntas possamos ações da sociedade nas quais pode-
brilhar e, desta forma, encontrar plena felici- mos ‘ser sal da terra e luz do mundo’.
dade no reino que Jesus Cristo anunciou. Exemplo: Felizes as pessoas que cui-
dam da natureza, pois elas deixarão
Não podemos esquecer que, tanto o sal um planeta melhor para se viver…
quanto a luz precisam ser usados com equi-
líbrio. A quantidade de sal pode deixar um b) Expor as frases na escola, em local de
alimento insosso ou salgado. A falta de luz circulação de pessoas.
pode fazer com que não enxerguemos o su-
ficiente e o excesso pode ofuscar e até cegar. d) Atividade 3:
Por isso, a medida certa para cada situação é
o melhor caminho para levarmos uma vida a) Dialogar com os/as estudantes sobre

102
o significado de “ser sal” e “ser luz”,
apontando possíveis ações a serem
realizadas junto às pessoas.

b) Pensar no que precisamos para ter


uma vida saudável: boa alimentação,
sono com qualidade, bom relacio-
namento social são elementos fun-
damentais para que o nosso corpo e
nossa mente se desenvolvam bem.
Citar exemplos de como estes elemen-
tos podem influenciar de forma positi-
va e o que é preciso para mantermos
o equilíbrio físico e emocional.

c) Realizar uma breve consulta pelo ce-


lular, buscando o significado das pala-
vras “sal” e “luz”. Pensar o que Jesus
quis dizer ao fazer esta comparação
com as atitudes da nossa vida. Lem-
brar do uso do celular e das redes so-
ciais: procuramos a luz e o sabor para
a nossa vida a partir das relações virtu-
ais? Através delas, conseguimos deixar
mensagens de esperança, de paz, de
amor ao mundo, ou seja, conseguimos
“ser sal e luz”?

d) Criar uma nuvem de palavras na pla-


taforma Mentimeter, usando o celular.
As palavras deverão elucidar como po-
demos ser sal na dose certa e luz que
ilumina o caminho na direção de um
mundo mais equilibrado, feliz e digno
para todas as pessoas. Breve partilha
sobre os resultados.

103
5. Atividades para o Ensino Médio
Pª Bianca Daiane Ücker Weber

Tema 1: Sal - SEJA a diferença! Somos pessoas desafiadas a fazer a


diferença nos espaços da escola, em
Refletir sobre a importância da ação casa, na sociedade. Diante das situa-
para a transformação. Para o sal fazer ções da vida precisamos decidir qual
diferença no alimento, ele precisa estar atitude tomar. Serei indiferente, me
livre de embalagens que o aprisionam; protegendo com as minhas “embala-
ele precisa se envolver inteiramente gens”? Irei me envolver parcialmente,
para contribuir no sabor. Assim como o guardando na minha “embalagem”
sal não existe para si mesmo, também aquilo que eu tenho de melhor? Ou
as pessoas não existem para si mesmas, me envolverei a ponto de fazer a
podendo contribuir para a construção de diferença real?
um mundo mais justo e solidário quan-
do se libertam das embalagens que as c. Demonstrar os efeitos do sal. Materiais
aprisionam. necessários: 3 copos transparentes
com água, 3 saquinhos pequenos com
Desenvolvimento da atividade: sal e uma colher. Sobre uma mesa,
visível a todos estudantes, coloque os
a. Realizar a leitura do seguinte pará- 3 copos com água. Ao lado de cada
grafo: “A cada dia que vivo, mais me copo, coloque o saquinho com sal. No
convenço de que o desperdício da vida primeiro, deixe o saquinho de sal na
está no amor que não damos, nas frente do copo. No segundo, coloque
forças que não usamos, na prudência o saquinho de sal fechado dentro do
egoísta que nada arrisca e que, esqui- copo. No terceiro, misture o sal com a
vando-nos do sofrimento, perdemos água do copo.
também a felicidade”. Carlos Drum-
mond de Andrade. d. Pedir para os estudantes formarem
grupos e dialogarem sobre o que per-
b. Apresentar o cartaz do Tema do Ano, ceberam com a demonstração do sal.
dando ênfase à seguinte parte do Solicitar que elaborem uma apresen-
lema bíblico: “Vocês são o sal da tação para o grande grupo, encenando
terra”. (Mateus 5.13). Esta foi uma a demonstração do sal com situações
afirmação que Jesus fez aos seus vividas, apresentando a indiferença, o
discípulos. O sal faz diferença quan- envolver-se parcialmente e o envolver-
do é utilizado, dá sabor ao alimento. -se a ponto de fazer diferença real. O
(Realizar a reflexão sobre o sal com que a “embalagem” representa no dia
partes do texto da introdução geral, a dia?
elaborado pelo P. Valdemar Schultz).
Como diz Carlos Drummond de Andra- e. Finalizar com a frase “Seja você a di-
de, o desperdício da vida está em não ferença que você quer ver no mundo”
arriscar, não doar, não se envolver. – atribuída Mahatma Gandhi.
104
Tema 2: Luz - É pra lá que eu vou! bebidas, relacionamentos passageiros,
ficando deprimidos por não serem
Esta atividade tem o objetivo de refletir correspondidos com likes nas redes
com os estudantes sobre os lugares que eles sociais. Na hora da dor e do medo -
buscam para dissipar as dores e medos que escuridão, para qual lugar você vai?
surgem no período da juventude. Em qual lugar você encontra a “luz do
sol”, que ajuda a dissipar a escuridão,
Desenvolvimento da atividade: a dor e o medo?

a. Na canção “O sol”, o autor afirma que d. Pedir para um estudante desenhar “O


a dor e o medo perdem poder diante sol” na outra extremidade do quadro
da luz do sol; por isso, “É pra lá que eu ou da cartolina. Solicitar que retornem
vou”! Pedir aos estudantes para refle- ao trio e conversem sobre esse lugar
tirem sobre os seus medos e dores. de “luz” para o qual eles vão. Vão para
Apresentar a canção “O sol”, de Anto- onde? Para quem?
nio Julio Nastácia, lindamente inter-
pretada por Jota Quest e Milton Nasci- e. Repetir a apresentação da música e
mento Jota Quest - O Sol (Acústico) ft. solicitar que os estudantes represen-
Milton Nascimento tantes apresentem as respostas, regis-
trando-as extremidade do “sol”.
b. Solicitar aos estudantes para que se
organizem em trios e dialoguem sobre f. Finalizar este momento realizando a
os medos e dores que os rondam no seguinte leitura: A luz dissipa a escu-
período da juventude. Em seguida, ridão, espanta o medo. A luz fortalece
pedir para que um estudante de cada a coragem, possibilita o movimento.
trio escreva, numa das extremidades Quem é a luz? Em qual lugar posso
do quadro ou de uma cartolina, quais encontrá-la? Posso estocá-la, para não
são estes medos e dores. viver a escuridão? Deus é a LUZ. Encon-
tro seu brilho na família, na fé, na ver-
c. Refletir com eles utilizando os apon- dadeira amizade. Não posso estocar a
tamentos do quadro ou da cartolina luz, pois existe para todas as pessoas.
no seguinte texto: O período da ado- Ela vence toda e qualquer escuridão.
lescência e juventude é marcado por Por isso, “é pra lá que eu vou!”
muitas coisas novas, também por dor
e medo (citar os apontamentos), pois Tema 3: Brilho - Cada pessoa com a sua luz
mudanças grandiosas acontecem no
corpo e na mente da pessoa. Trans- Esta é uma proposta para um breve mo-
formações físicas, paixões, amadure- mento de meditação com os e as estudan-
cimento, pressão, pergunta pelo seu tes. O objetivo é ajudar na compreensão da
lugar no mundo, pergunta sobre o que importância da sua luz no mundo.
fazer ou não fazer, insegurança sobre
a identidade, futuro, aceitação própria, a) Acolhida: Que a graça, a paz e o amor
aceitação no grupo e tantas outras de Deus estejam com vocês. Amém.
coisas. Neste período, muitos jovens
são seduzidos para o caminho da es- b) Reflexão: No Evangelho de Mateus
curidão, deixando-se levar por drogas, 5.13-14, Jesus declarou aos seus se-
105
guidores: “Vocês são a luz do mundo”. pensa algo bom que queira transmitir
(Realizar a reflexão sobre a luz com ao colega do lado esquerdo, enquanto
partes do texto da introdução geral, fica olhando para as mãos dadas do
elaborado pelo P. Valdemar Schultz). lado direito. Definir quem começa. A
primeira pessoa pensa em algo bom
c) Realizar a leitura do texto “O mundo”, que queira transmitir e aperta, leve-
de Eduardo Galeano. mente, a mão da pessoa à sua esquer-
da, sem falar nada. Na sequência, a
“Um homem da aldeia de Neguá, pessoa que recebeu o leve aperto pen-
no litoral da Colômbia, conseguiu subir sa algo bom para a próxima pessoa e
ao céus. Quando voltou, contou. Disse aperta a mão de seu colega do lado
que tinha contemplado, lá do alto, a esquerdo. Assim se segue até voltar ao
vida humana. E disse que somos um primeiro, que avisa quando recebeu o
mar de fogueirinhas. leve aperto.
- O mundo é isso - revelou. - Um No final, podem dialogar com quem está
montão de gente, um mar de foguei- ao seu lado direito e esquerdo para
rinhas. saber o que transmitiram em pensa-
Cada pessoa brilha com luz própria mento.
entre todas as outras. Não existem
duas fogueiras iguais. Existem foguei- f) Cantar “Minha pequena luz”: Pode ser
ras grandes e fogueiras pequenas e preparada por um grupo musical da
fogueiras de todas as cores. Existe escola. Existem versões em português
gente de fogo sereno, que nem perce- e inglês. Minha Pequena Luz This Little
be o vento, e gente de fogo louco, que Light of Mine | Caleb + Kelsey ou “This
enche o ar de chispas. Alguns fogos, Little Light of Mine”
fogos bobos, não alumiam nem quei-
mam; mas outros incendeiam a vida g) Bênção: “Deus, todo-poderoso, como
com tamanha vontade que é impossí- num ritmo envolvente, quero sentir
vel olhar para eles sem pestanejar, e tua luz ao meu redor; o teu amor me
quem chegar perto pega fogo. envolvendo; a tua força me prote-
gendo; a tua presença sobre mim. Ali
d) Reflexão: Cada pessoa tem o seu jeito onde estou, tu estás. Amém.” (P. Iára
de brilhar, e o menor brilho já con- Muller).
segue fazer diferença na escuridão.
Nosso mundo é marcado por injusti-
ça, corrupção, mentira e morte. Mas
assim como uma pequena luz ajuda
a iluminar o que está ao redor, assim
também pequenas ações de justiça,
verdade e vida fazem a diferença. O
importante é deixar essa luz brilhar
em todos os lugares.
e) Oração – dinâmica “falar com as mãos
e ouvir com os olhos”: Em círculo,
todos os e as estudantes se dão as
mãos e ficam em silêncio. Cada pessoa
106
Celebração com Professoras e Profezssores
P. Eloir Weber

MEDITAÇÃO 1: VOCÊS SÃO A LUZ DO MUNDO Se estamos reunidos,


é porque a nossa luz brilhou,
Atividade preparatória: Dando graças ao Deus vivo,
nosso sal o evangelho conservou!
1. Fazer uma caixa totalmente escura por
dentro (pintar de preto internamente a Quando todos forem sal e luz
fim de que nada seja visível) e deixar no mundo, as guerras, as mortes
uma pequena abertura por onde as e todos os males causados
pessoas possam olhar. Equipar a caixa pelas mãos humanas desaparecerão,
com uma luz interna, que será ligada e todos gozarão de plena paz,
durante a meditação, e um pequeno amor e fraternidade!
cartaz interno com a frase “Vocês são a (Com adaptações da Liturgia Diária - http://musicasdailda.blogs-
luz do mundo”. pot.com/2014/02/sal-e-luz-do-mundo.html)

2. Quando da chegada dos participantes, Reflexão:


pedir que olhem dentro da caixa. Pedir
para não falarem aos outros partici- (a reflexão deve ser feita
pantes o que viram (ou não viram). em forma de diálogo)

Acolhida: - O que tem dentro da caixa? (Como nin-


guém sabe, pois não conseguiram enxergar,
“[Meu Deus], fazes resplandecer a minha irão surgir especulações. Dar vazão à ima-
lâmpada; o Senhor, meu Deus, derrama luz ginação e conduzir o grupo para falar sobre
nas minhas trevas.” Salmo 18.28 escuridão nas mais diversas significações.)

Poema: A escuridão existe ou ela é somente


Vós sois o sal da terra consequência da falta de luz? “O escuro
e do mundo a clara luz, não é uma coisa. Ele é só a ausência de luz.
Sol que dá à vida o sabor, Portanto, na letra fria das leis da física, o
Luz que mostra o caminho do amor! escuro não pode ter uma velocidade. A luz
é composta por partículas, chamadas fótons.
Se há fraternidade, E o preto é o jeito com o qual o seu cérebro
é porque a nossa luz brilhou, avisa que um objeto (ou um local) não está
Se há comunidade, nosso sal emitindo nem refletindo fótons” (Super Inte-
o evangelho conservou! ressante 14/07/2021).

Onde existe a partilha, Leitura bíblica: Mateus 5.13-16


é porque a nossa luz brilhou,
Se é unida a família, - O presente texto vem imediatamente
nosso sal o evangelho conservou! depois das bem-aventuranças. No início do
107
Sermão do Monte, Jesus faz uma lista de cípulo”. Segundo Paulo Freire, toda criança
bem-aventuranças, que podem ser compre- traz consigo uma bagagem, portanto, ela não
endidas como “felicidades”. Essa expressão é é um papel em branco onde o professor irá
simples e profunda. A felicidade que é pro- escrever novos conteúdos.
porcionada pelas ações e posturas de fé não
é passageira, pois é fundamentada e provém Falar sobre os dois conceitos. Pedagogica-
de Deus. Jesus inverteu valores sociais ao dar mente, e como cristãos e cristãs compreen-
honra às pessoas pobres, às que choram, às demos que toda pessoa é chamada por Jesus
humildes e às perseguidas. Então, na medida a “ser luz”.
em que ele diz que os discípulos - e também
a nós - “somos luz”, ele está apontando para Oração e Pai Nosso:
a direção na qual precisa estar focada a nos-
sa ação. As pessoas bem-aventuradas (nós) Palavra de Bênção:
são chamadas para a responsabilidade real Bênção de São Patrício:
e social – a educação nos proporciona inú- Que a fortaleza de Deus os proteja,
meras oportunidades de bem-aventuranças. Que o poder de Deus os preserve,
Pedir para o grupo falar delas. Que a sabedoria de Deus os instrua,
Que a mão de Deus os sustente,
- Jesus diz: “Vocês são”! Não diz “devem Que o caminho de Deus os dirija,
ser” nem que “têm que se converter em Que o escudo de Deus os defenda,
luz”. “Vocês são” é identidade e expressa Que a luz de Deus os transforme em luz,
que a vida toda da pessoa seguidora de Je- Agora e sempre. Amém.
sus, em qualquer circunstância e tempo, está
voltada para ser luz (ou sal). (Atribuída a São Patrício, Irlanda, século V. Tradução e adaptação
de Eloir Weber. Igrejinha, 22 de julho de 2003.)
(Acender a luz dentro da caixa e pedir
que olhem novamente para dentro dela.)

- O que viram dentro da caixa (“Vocês são MEDITAÇÃO 2: VOCÊS SÃO O SAL DA TERRA
a luz do mundo”)? Deixar falar.
Atividade preparatória:
- Qual a sensação ao ler essa frase? O que
ela diz para você, neste momento? Fazer 3 pães: 1 sem sal, 1 salgado no
ponto, 1 super salgado. Cortar os pães em
- “Ter luz” ou “ser luz”? Qual a diferença? cubinhos, deixar separados em três pratos
De que forma ser professor ou professora para mais adiante servir aos participantes.
é ser luz? Etimologicamente, a palavra “alu- Nos pratos colocar a frase: “Vocês são o sal
no” vem do latim, onde “a” corresponde a da terra”. Deixar em um lugar visível desde
“ausente ou sem” e “luno” deriva da palavra a chegada.
“lumni”, que significa “luz”. Neste caso, o
aluno quer dizer sem luz, sem conhecimento. Acolhida:

No entanto, tudo depende do ponto de “Que a palavra dita por vocês seja agra-
vista. Na verdade, a palavra “aluno” vem do dável, temperada com sal, para que saibam
latim alumnus, “criança de peito, lactente, como devem responder a cada um” (Colos-
menino” e, por extensão de sentido, “dis- senses 4.6).

108
Poema: de Deus. Jesus inverteu valores sociais ao dar
honra às pessoas pobres, às que choram, às
Sal da vida, sal da terra humildes e às perseguidas. Então, na medida
em que ele diz que os discípulos - e também
As águas lavam a terra, a nós – “somos sal”, ele está apontando para
ou é a terra que toma banho nas águas? a direção na qual precisa estar focada a nos-
Mas, todas as águas deságuam no mar, sa ação. As pessoas bem-aventuradas (nós)
levando sabores e saberes da terra. são chamadas para a responsabilidade real
e social – a educação nos proporciona inú-
Azul, cinza, verde ou esmeralda, meras oportunidades de bem-aventuranças.
é muito bom banhar-se, Pedir para o grupo falar delas.
esbaldar-se no mar!
Mas também receber alimentos do mar: Jesus diz: “Vocês são”! Não diz “devem
que guardam essências da terra, ser” nem que “têm que se converter em
memórias da terra. luz”. “Vocês são” é identidade e expressa
que a vida toda da pessoa seguidora de Je-
Sal da vida, sal da terra, sal do mar: sus, em qualquer circunstância e tempo, está
Alimenta o nosso corpo, voltada para ser luz (ou sal).
nossa alma,
nosso espírito! Vocês são o sal da terra. O que Jesus quis
Sal da vida, sal da terra, sal do mar: dizer? (deixar o grupo falar).
adoça nossos corações,
nossa paz, Jesus diz aos discípulos que eles “são sal”.
nossas esperanças! Com isso ele indica que a vida e o testemu-
Afinal, somos todos UM. nho cristãos dão sabor e valor para a huma-
Conceição Trucom nidade.

Reflexão: O que faz o sal? Ele purifica, cicatriza, dá


sabor, preserva, conserva.
Deve ser feita em forma de diálogo.
No judaísmo, a criança recém-nascida
Passar as bandejas de pão e pedir para era lavada e esfregada com sal. Acreditava-
cada pessoa pegar e comer um cubinho de -se que isso fortaleceria a sua pele. Para os
cada um dos pães. Qual a diferença no sa- romanos, o sal era um alimento divino: uma
bor? O sal faltou, foi suficiente ou foi demais? dádiva de Salus (a deusa da saúde).

Leitura bíblica: Mateus 5.13-16. Ser professor e professora é ser sal. Qual
a relação que se pode fazer com o cotidiano
O presente texto vem imediatamente da educação?
depois das bem-aventuranças. No início do
Sermão do Monte, Jesus faz uma lista de “...se o sal ficar insípido...” (v. 13) O que
bem-aventuranças, que podem ser compre- fazer para não ficar insípido como professor
endidas como “felicidades”. Essa expressão é ou professora? Ou, ainda, o que faz com que
simples e profunda. A felicidade que é pro- o gosto na boca de um professor ou de uma
porcionada pelas ações e posturas de fé não professora fique insípido (perder o gosto pela
é passageira, pois é fundamentada e provém sala de aula/escola)?
109
Oração e Pai Nosso:

Palavra de bênção:

O Senhor derrame sobre ti a sua paz.


O Senhor te dê sensibilidade
para perceber os dons ofertados a ti.
O Senhor te ensine a amar
sem esperar recompensa.
O Senhor te ensine a servir
com justiça e misericórdia.
O Senhor te acalme
quando estiveres sobrecarregado.
O Senhor te ofereça segurança e fé.
O Senhor te carregue
quando estiveres cansado.
O Senhor seja tua fortaleza e porto seguro
nas horas de dor, dúvida e sofrimento.
O Senhor seja a fonte de alegria
da tua vida e a razão para servi-lo.
O Senhor seja contigo em todos
os teus caminhos, para todo o sempre.
Assim te abençoe o Pai, e o Filho,
e o Espírito Santo. Amém.

110

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