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62ª ESCOLA BÍBLICA

DE OBREIROS

2024
TEMPO DE
AMPLIAR A NOSSA
TENDA E FIRMAR
BEM AS ESTACAS.

2024
PA L AV R A D O PA S TO R P R E S I D E N T E

2024
A Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Curitiba (IEADC) tem a
grata satisfação de receber bem-vindos os nossos queridos alunos,
professores da 62ª edição da Escola Bíblica de Obreiros (EBO), no
período de 09 a 13 de fevereiro do ano de 2024.

Neste ano a IEADC completará 95 anos de atividades


evangelizadoras na capital paranaense, firme em seu propósito
prioritário de formar e aperfeiçoar obreiros vocacionados para o
exercício do santo Ministério. A E.B.O. em Curitiba, foi concebida
com este desiderato, e dele jamais se apartou.

Somos gratos ao Senhor porque chegamos até aqui, pela graça


divina, resguardando a unidade doutrinária, ponto convergente
para que essa uniformidade permaneça em nossa denominação.

A cada ano que se passa, ficamos felizes em ver o grande número


de trabalhadores na seara de Cristo (homens e mulheres de várias
faixas etárias), os quais, todos os anos, participam desta abençoada
Escola, com a finalidade precípua, de estudar juntos a inerrante
palavra de Deus, a Bíblia Sagrada, a qual é “lâmpada para os nossos
pés e luz para o nosso caminho” (Sl 119.105).

Nesta oportunidade, a equipe seleta de professores, homens


tementes ao Senhor e com conhecimento doutrinário, serão usados
pelo Espírito Santo para compartilhar um
conteúdo bíblico-teológico, fundamentado na
Palavra, sob a unção do Espírito Santo, além de
suas experiências espirituais e ministeriais.
Nesse sentido, esperamos que cada aluno,
sedento por aprender e assimilar ao máximo
cada um dos conteúdos ministrados, serão
enriquecidos cultural e espiritualmente, com
a ajuda do Espírito Santo. Vamos estudar
assuntos de relevância para o crescimento
ministerial de cada um, e a consequente
edificação da Igreja do Senhor.

02
PA L AV R A D O PA S TO R P R E S I D E N T E

2024
Parafraseando o coro do hino 433 da Harpa Cristã, a Direção da
Igreja lhes dá as boas-vindas, dizendo: “Sois bem-vindos, sois bem-
vindos, campeões de Jeová! Parabéns, mas não fingidos, a IEADC
vos dá”.

Recebam as mais selecionadas bênçãos celestiais, durante a


participação nesta E.B.O.!

Estejam certos de que a vossa participação nesta Escola Bíblica, será


motivo de muita alegria para todos nós.

Nos laços do Calvário,

Pastor Wagner Tadeu dos Santos Gaby


Presidente da IEADC

03
GRADE HORÁRIA - 62ª EBO

2024
PRIMEIRO DIA – 09/02/24 SEXTA-FEIRA

19h30 - 20h00 Abertura Oficial


20h00 - 21h30 Aula 01 - Tema do ano (i) - Pr. Wellington Júnior

SEGUNDO DIA – 10/02/24 SÁBADO

14h00 às 14h30 Devocional


14h30 às 16h00 Aula 02 – Tema Livre (i) - Pr. Wellington Júnior
16h00 às 16h15 Intervalo
16h15 às 17h45 Aula 03 – Introdução Bíblica (ii) – Pr. Elias Moraes
17h45 às 18h15 Lanche
18h15 às 19h45 Aula 04 – Introdução Bíblica (ii) - Pr. Elias Moraes
19h45 às 20h00 Intervalo
19h45 às 20h00 Sorteios e Devocional
20h00 às 21h30 Aula 05 – Panorama do A.T. I – Pentateuco 1 (i)
Pr. Abiezer Apolinário

TERCEIRO DIA – 11/02/24 DOMINGO

14h00 às 14h25 Devocional


14h25 às 15h45 Aula 06 - Panorama do A.T. I – Pentateuco 2 (ii)
Pr. Abiezer Apolinário
15h45 às 16h00 Intervalo
16h00 às 17h30 Aula 07 – Introdução Bíblica (iii) - Pr. Elias Moraes
17h30 às 18h00 Lanche
18h00 às 19h30 Aula 08 – Panorama do A.T. I – Livros Históricos 1 (iii)
Pr. Abiezer Apolinário
19h30 às 20h00 Intervalo/Liturgia Reduzida do Culto
20h00 às 21h30 Aula 09 – Tema Livre – Pr. José Lopes

QUARTO DIA – 12/02/24 SEGUNDA-FEIRA

14h00 às 14h30 Devocional


14h30 às 16h00 Aula 10 - Panorama do A.T. I – Livros Históricos 2 (iv)
Pr. Abiezer Apolinário
16h00 às 16h15 Intervalo
16h15 às 17h45 Aula 11 - Hermenêutica (ii) - Pr. José Lopes
17h45 às 18h15 Lanche
18h15 às 19h45 Aula 12 - Ministério Cristão (Qualificação do
Ministro) Pr. Martim Alves Silva
19h45 às 20h00 Intervalo
20h00 às 21h30 Aula 13 - Hermenêutica (ii) - Pr. José Lopes

04
GRADE HORÁRIA - 62ª EBO

2024
QUINTO DIA – 13/02/24 TERÇA-FEIRA

08h30 às 09h00 Devocional


09h00 às 10h25 Aula 14 - Ministério Cristão (Qualificação do
Ministro) - Pr. Martim Alves Silva
10h25 às 10h35 Intervalo
10h35 às 12h00 Aula 15 - Hermenêutica (iii) - Pr. José Lopes
12h00 às 13h45 Almoço
13h45 às 14h00 Devocional
14h00 às 15h25 Aula 16 - Ministério Cristão (Qualificação do
Ministro) - Pr. Martim Alves Silva
15h25 às 15h35 Intervalo
15h35 às 17h00 Aula 17 - Hermenêutica (iv) - Pr. José Lopes
17h00 às 17h40 Lanche/Intervalo

17h40 às 19h40 FORMATURA

19h40 às 20h10 Lanche/Liturgia Reduzida Culto


20h10 às 21h40 Aula 18 - Ministério Cristão (Qualificação do
Ministro) - Pr. Martim Alves Silva
21h40 às 21h45 Encerramento da 62ª. EBO

05
62ª ESCOLA BÍBLICA
DE OBREIROS

INTRODUÇÃO

BÍBLICA

PR. ELIAS MORAES


SUMÁRIO
INTRODUÇÃO BÍBLICA

Introdução

I - A natureza Teológica das Escrituras (origem)

1.1. A revelação de Deus


1.2. A inspiração das Escrituras
1.3. A inerrância das Escrituras

II - A estrutura física das Escrituras (forma)

2.1. O Cânon das Escrituras


2.2. A Bíblia como Livro
2.3. A Estrutura da Bíblia
2.4. A Tradução da Bíblia

III - O manuseio das Escrituras (prática)

3.1. A necessidade das Escrituras


3.2. Como manusear a Bíblia

Bibliografia

PR. ELIAS MORAES

Nasceu no dia 18 de novembro de 1964. É casado com Lucilene Moraes e


pai de dois filhos, Douglas (in memoriam) e Felipe. Em 2024, completa 42
anos de atividades ministeriais.

É Bacharel em Direito pela Faculdade Catuaí, Pós-graduado em Liderança


Transformadora pela Faculdade Teológica Sul Americana (FTSA), Cidadão
Honorário do município de Londrina e Pastor Presidente da Igreja
Evangélica Assembleia de Deus em Londrina, Paraná.

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INTRODUÇÃO BÍBLICA
A D o u t r i n a d a Pa l a v r a d e D e u s

2024
INTRODUÇÃO

O nosso estudo será exclusivamente sobre a Bíblia. Trata-se de um livro


singular, um dos mais antigos do mundo e, no entanto, ainda é o
bestseller mundial por excelência. É o livro mais traduzido, mais citado,
mais publicado em toda a história da humanidade.

Bibliologia (biblio, bíblia + logia, estudo) é uma disciplina teológica e,


também, uma das divisões da Teologia Sistemática, que visa o estudo
introdutório e auxiliar das Sagradas Escrituras.

Afinal, do que se constitui esse caráter inusitado da Bíblia? Como foi que
ela se originou? De onde nos veio a Bíblia? A Bíblia contém erros? Por que
há tantas traduções da Bíblia? Essas são apenas algumas das muitas
perguntas importantes acerca da Bíblia, cujas respostas são tratadas nesta
disciplina.

I - A NATUREZA TEOLÓGICA DAS ESCRITURAS

1.1. A REVELAÇÃO DE DEUS

O Deus absoluto e eternamente consciente de si mesmo tomou a


iniciativa de se tornar conhecido à sua criação. A revelação que Deus fez
de si mesmo foi um ato deliberado, ninguém forçou Deus a tornar-se
conhecido; ninguém o descobriu por acidente. Deus fez-se conhecido aos
que, de outra forma, não poderiam conhecê-lo. Devemos estar certos:
não podemos conhecer a Deus, a não ser que Ele tenha decidido revelar-
se a nós.

O ser humano jamais progride além desta realidade: o que


Deus revelou pela própria vontade estabelece os limites de
todo o conhecimento a respeito dEle. Ele determinou qual seria
essa revelação e a forma que ela teria. Não se revelou de uma
só vez, mas optou por revelar-se paulatinamente no decorrer
dos séculos. "Havendo Deus, antigamente, falado, muitas vezes
e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos,
nestes últimos dias, pelo Filho" (Hb 1.1). Fez-se conhecer no
jardim do Éden, no deserto de Midiã e no monte Sinai. Nos
palácios, nos campos e nas prisões, Ele tornou conhecida a sua
Pessoa, bem como seus caminhos (Lc 2.8-14). Quando o ser
humano busca a Deus, só consegue achá-lo segundo às
condições por Ele estabelecidas (Jr 29.13).

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INTRODUÇÃO BÍBLICA
A D o u t r i n a d a Pa l a v r a d e D e u s

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Há aspectos de sua Pessoa e do seu propósito que Ele optou por não
tornar conhecidos (Dt 29.29; Jó 36.26; SI 139.6; Rm 11.33). O que Deus não
revelou está além das necessidades e possibilidades da descoberta
humana. A revelação tem sua base, mas também os seus limites. As duas
categorias primárias da revelação divina são a revelação natural e a
especial:

a) A Revelação Natural:

· Natureza;
· Universo;
· História.

A revelação natural traz o conhecimento de Deus a todas as pessoas e,


desde que este conhecimento de Deus acha-se disponível a todos,
ninguém é indesculpável diante de Deus (Rm 1.20).

b) A Revelação Especial: Não podemos conhecer o plano divino da


redenção por meio da revelação natural, mas sim, mediante uma
revelação especial de Deus. Por exemplo: normas, mandamentos e O que Deus não
proibições morais foram estabelecidos para Adão no Éden, pela revelação
revelou está
especial, e não natural. A revelação especial complementa e edifica-se no
alicerce da revelação natural. A revelação especial é, por sua vez, uma além das
revelação: necessidades e
possibilidades da
· Pessoal;
· Compreensível;
descoberta
· Progressiva; humana. A
· Registrada; revelação tem
· Transmitida.
sua base, mas
1.2. A INSPIRAÇÃO DAS ESCRITURAS também os seus
limites.
Quando falamos de inspiração, não se trata de inspiração poética, mas de
autoridade divina – a Bíblia foi literalmente "soprada por Deus". A
característica mais importante da Bíblia não é sua estrutura, mas o fato de
ter sido inspirada por Deus. Enquanto a revelação é a comunicação da
verdade divina de Deus para a humanidade, a inspiração diz respeito à
transmissão dessa verdade.

Ao analisar as passagens que ensinam sobre a inspiração divina,


descobrimos que a Bíblia é inspirada no seguinte sentido: homens
movidos pelo Espírito escreveram palavras sopradas por Deus, as quais
são a fonte de autoridade para a fé e para a prática cristã. Assim, Paulo

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INTRODUÇÃO BÍBLICA
A D o u t r i n a d a Pa l a v r a d e D e u s

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escreveu a Timóteo: "Toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa
para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça" (2Tm
3.16). As passagens de 1 Coríntios 2.13 ("As quais também falamos, não
com palavras de sabedoria humana, mas com as que o Espírito Santo
ensina, comparando as coisas espirituais com as espirituais") e 2 Pedro
1.21 ("porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem
algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito
Santo") realçam a verdade sobre a inspiração.

Uma definição teológica

Para uma melhor compreensão, a teologia destaca dois elementos


essenciais da inspiração:

a) Causalidade Divina

b) Autoridade Escrita

A inspiração é plena

A Bíblia, em todas as suas partes, é inspiração de Deus, ela é plena, total e


absoluta – conforme nos apresenta Paulo (2Tm 3.16). Nenhuma parte das
Escrituras deixou de receber total autoridade doutrinária, “Porque tudo
que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela
paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança" (Rm 15.4).
Tudo quanto a Bíblia ensina, quer no AT, quer no NT, é integralmente
dotado de autoridade divina. Nenhum ensino das Escrituras deixou de ter
origem divina.

Provas da inspiração da Bíblia

Algumas evidências que dão apoio à doutrina da inspiração


da Bíblia:

a) A perfeita Harmonia e Unidade da Bíblia

b) A aprovação da Bíblia por Jesus

c) O cumprimento Fiel das Profecias

d) A Bíblia é sempre nova e inesgotável

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1.3. A INERRÂNCIA BÍBLICA

Inerrância (lat. infalível, que não erra), é a doutrina na qual a Bíblia Sagrada
não contém quaisquer erros. A Bíblia é infalível nas informações que nos
transmite e nos propósitos que declara.

A inerrância das Escrituras afirma que os manuscritos originais (escritos


pelas próprias mãos dos escritores bíblicos) não contêm nenhum erro
(teológico, textual, histórico ou científico). A lógica da doutrina da
inerrância da Bíblia é a seguinte: Se Deus não erra, então comunicou com
perfeição a sua mensagem e garantiu que os escritores bíblicos a
registrassem sem erro, mesmo que eles mesmos não a entendessem em
sua plenitude. “A lei do Senhor é perfeita e refrigera a alma; o testemunho
do Senhor é fiel e dá sabedoria aos símplices" (Sl 19.7).

Por esta doutrina, o propósito principal da Bíblia é revelar Deus, a essência


do ser humano, a origem e o destino da vida em geral. Neste aspecto
principal, os livros bíblicos são inerrantes e verdadeiros.
A lógica da
Ao afirmarmos a inerrância da Bíblia, não estamos falando que não há doutrina da
passagens difíceis de entender – a mensagem central é clara, mas há inerrância da
passagens difíceis, como o próprio Pedro reconhece (2Pe 3.15-16).
Bíblia é a
Também, não estamos falando que não é preciso estudá-la para melhor
compreendê-la. seguinte: Se Deus
não erra, então
As supostas contradições bíblicas são geradas, em sua grande maioria, comunicou com
por um ou mais dos seguintes motivos: (1) falta de maior leitura bíblica; (2) perfeição a sua
falta de conhecimento das regras de interpretação bíblica; (3) cegueira
mensagem e
espiritual dos “não nascidos de novo”; (4) deficiências de tradução do
hebraico e do grego para demais línguas; (5) a própria natureza divina da
garantiu que os
Bíblia, que traz seus mistérios (inexplicáveis). escritores bíblicos
a registrassem
II - A ESTRUTURA FÍSICA DAS ESCRITURAS sem erro, mesmo
que eles mesmos
2.1. O CÂNON DAS ESCRITURAS não a
entendessem em
Como foi que a Bíblia veio a ser composta de 66 livros? Esse assunto
intitula-se canonicidade. A inspiração é o meio pelo qual a Bíblia recebeu
sua plenitude.
sua autoridade, a canonização é o processo pelo qual a Bíblia recebeu sua
aceitação definitiva – Uma coisa é um profeta receber uma mensagem da
parte de Deus, a outra, é tal mensagem ser reconhecida pelo povo de
Deus. Canonicidade é o estudo que trata do reconhecimento e da
compilação dos livros reconhecidos como componentes da Bíblia.

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A palavra cânon deriva do grego “Kanon” e significa “vara”, dando a ideia
de uma vara reta que era usada para medir a retidão de objetos, que, por
sua vez, se origina do hebraico "Kaneh" - vara ou cana de medir (Ez 40.3,
Ap 21.15). Mesmo em época anterior ao cristianismo, essa palavra já era
usada de modo mais amplo, com o sentido de padrão ou norma. Nos
primórdios do cristianismo, a palavra cânon significava "regra" de fé, ou
escritos normativos.

A canonização dos livros da Escritura foi se dando aos poucos. No


decorrer dos séculos, Deus dirigiu de tal maneira a redação do seu livro,
que os líderes religiosos foram reconhecendo a inspiração dos livros até
completar o cânon.

O procedimento canônico

· Inspiração;

· Reconhecimento;

· Preservação.

2.2. A BÍBLIA COMO LIVRO

O vocábulo "BÍBLIA" não se acha no texto das Sagradas Escrituras (consta


apenas na capa). Os gregos davam o nome à folha de papiro preparada
para a escrita de 'biblos'. Um rolo de papiro de tamanho pequeno era
chamado "biblion" e vários destes eram uma "bíblia". Portanto,
literalmente, a palavra bíblia quer dizer: "coleção de livros pequenos".
Com a invenção do papel, desapareceram os rolos, e a palavra biblos deu
origem a "livro", como se vê em biblioteca, bibliografia, etc. O nome Bíblia
foi primeiramente aplicado às Sagradas Escrituras por João Crisóstomo,
no Século IV.

Os nomes mais comuns que a Bíblia dá a si mesma, são:

· Escrituras (Mt 21.42)

· Sagradas Escrituras (Rm 1.2)

· A Palavra de Deus (Mc 7.13; Hb 4.12)

· Livro do Senhor (Is 34.16)

· Os Oráculos de Deus (Rm 3.2)

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Materiais empregados na escrita da Bíblia

Diante dos diversos materiais utilizados na redação da Bíblia,


examinaremos os dois principais:

a) Papiro
Dentre os antigos materiais de escrita, o mais comum era o papiro, uma
planta aquática que cresce junto a rios, lagos e banhados no oriente, cuja
entrecasca servia para escrever. Essa planta ainda existe no Sudão e na
Galileia. Seu uso na escrita vem de 3.000 a.C. A impossibilidade de
recuperar muitos dos antigos manuscritos (uma cópia à mão das
Escrituras) se deve basicamente aos materiais perecíveis empregados na
escrita da Bíblia. A palavra portuguesa "papel" vem da palavra grega
papyros, isto é, papiro.

b) Pergaminho
O pergaminho é de pele de animais, geralmente cabra ou carneiro e seu
uso é mais recente; vem dos primórdios da era cristã. É um material
gráfico superior ao papiro. Essas peles eram "tosadas e raspadas" a fim de
se obter um material mais durável para a escrita. A palavra "pergaminho”
tem origem no nome da cidade de Pérgamo, na Ásia Menor, onde a
produção desse material era feita.

As formas dos livros antigos

a) Rolos
A Bíblia foi originalmente escrita em forma de rolo (livros antigos tinham
forma de rolo - Jr 36.2), sendo cada livro um rolo. Os rolos eram folhas de
papiro coladas uma ao lado da outra, formando longas tiras, e, então,
enroladas num bastão. O tamanho do rolo era limitado por causa da
dificuldade de seu uso. Em geral, os rolos tinham entre seis e dez metros.

b) Forma de códice ou livro


A fim de tornar a leitura mais fácil, as folhas de papiro foram montadas em
forma de livro, sendo escritas em ambos os lados. O cristianismo foi o
principal motivo para o desenvolvimento de formato do códice.

As línguas da Bíblia

Originalmente a Bíblia fora escrita em três línguas, a saber: hebraica,


aramaica e grega.

a) A Língua do Antigo Testamento


O AT foi escrito nas línguas hebraica (grande parte) e aramaica. A língua

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do povo de Israel e é chamada “a língua judaica” (2 Reis 18.26). Esta língua
continuou a ser falada e escrita pelos hebreus até o cativeiro, quando
adotaram a aramaica ou siríaca, que é um dialeto da hebraica.

b) A Língua do Novo Testamento


Os livros do NT foram escritos originalmente na língua grega. Depois da
grande conquista de Alexandre Magno, a língua grega espalhou-se em
toda parte do Egito e do Oriente, e tornou-se a língua dos hebreus que
residiam nas colônias de Alexandria e outras partes.

2.3. A ESTRUTURA DA BÍBLIA

Estudaremos neste ponto a estrutura ou a composição da Bíblia, isto é, a


sua divisão, seus livros e certas particularidades indispensáveis. A Bíblia
divide-se em duas partes principais: Antigo Testamento e Novo
Testamento, tendo ao todo 66 livros: sendo 39 no AT e 27 no NT. Estes 66
livros foram escritos num período de 1500 anos e teve cerca de 40
escritores.

Na primeira divisão da Bíblia, temos o Antigo Concerto (pacto, aliança),


que veio pela Lei, feito no Sinai e selado com sangue de animais (Êx 24.3-
8; Hb 9.19,20). Na segunda divisão, temos o Novo Concerto, que veio pelo
Senhor Jesus Cristo, feito no Calvário e selado com o seu próprio sangue
(Lc 22.20; Hb 9.11-15), sendo um concerto superior.

A Bíblia de edição da Igreja Católica Romana contém 73 livros. Os 7 livros


a mais, são chamados apócrifos (duvidoso, falso, não inspirado). Além dos
livros apócrifos, contém mais 4 acréscimos nos livros canônicos.

Conhecendo a estrutura do Antigo Testamento

Seus 39 livros estão classificados em 4 grupos, conforme os assuntos a


que pertencem: Pentateuco, Históricos, Poéticos e Proféticos.

a) PENTATEUCO (Lei/Torá). São 5 livros: Gênesis, Êxodo, Levítico, Números


e Deuteronômio. Estes livros tratam da origem de todas as coisas, da Lei, e
do estabelecimento da nação israelita;

b) HISTÓRICOS. São 12 livros: Josué, Juízes, Rute, I e II Samuel, I e II Reis, I e


II Crônicas, Esdras, Neemias e Ester. Ocupam-se da história de Israel nos
seus vários períodos: Teocracia, Juízes, Monarquia, Divisão do reino e
cativeiro, Pós-cativeiro;

c) POÉTICOS. São 5 livros: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes e Cantares de

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Salomão. São chamados poéticos devido ao gênero do seu conteúdo;

d) PROFÉTICOS. São 17 livros e estão subdivididos em:

· Profetas Maiores (5 livros): Isaías, Jeremias, Lamentações de Jeremias,


Ezequiel e Daniel;

· Profetas Menores (12 livros): Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas,


Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Os nomes maiores e menores não se referem ao mérito do profeta, mas


sim, ao tamanho dos livros. Os livros do AT foram classificados por
assuntos, não pela ordem cronológica. Calcula-se, por exemplo, que Jó
seja o mais antigo dos livros da Bíblia.

Conhecendo a estrutura do Novo Testamento

Contém 27 livros. Foi escrito no grego Koiné. Seus livros também estão
classificados por assuntos em 4 grupos: Evangelho, Histórico, Epístolas e
Profecia.

a) EVANGELHO (biografia). São 4 livros: Mateus, Marcos, Lucas e João.


Descrevem a vida terrena do Senhor Jesus e seu glorioso ministério. Os
três primeiros são chamados Sinópticos, devido a certo paralelismo que
têm entre si.

b) HISTÓRICO. É o livro de Atos dos Apóstolos. Registra a história da igreja


primitiva e a propagação do Evangelho, pelo poder do Espírito Santo.

c) EPÍSTOLAS (Cartas). São 21 livros que contêm a doutrina da Igreja e


estão subdivididos em:

· Epístolas Paulinas (13 livros): Romanos, 1 e 2


Coríntios, Gálatas. Efésios, Filipenses, Colossenses, 1
e 2 Tessalonicenses, 1 e 2 Timóteo, Tito e Filemom;

· Epístolas Gerais (8 livros): Hebreus, Tiago, 1 e 2


Pedro, 1, 2 e 3 João e Judas.

d) PROFECIA (Revelação). É o livro de Apocalipse.


Trata da volta do Senhor Jesus à Terra e das coisas
que precederão esse glorioso evento.

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INTRODUÇÃO BÍBLICA
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O tema central da Bíblia

Jesus Cristo é o tema central da Bíblia. Ele mesmo declara em Lucas 24.44
e João 5.39. Se olharmos de perto, veremos que, em tipos, figuras,
símbolos e profecias, Ele ocupa o lugar central das Escrituras.

Capítulos e versículos da Bíblia

As Bíblias mais antigas não eram divididas em capítulos e versículos. Essas


divisões foram feitas para facilitar a tarefa de citar as Escrituras. O AT
possui 929 capítulos e 23214 versículos. Já o NT possui 260 capítulos e
7959 versículos. No total, a Bíblia é composta de 1189 capítulos e 31173
versículos. O Salmo 119 é o maior capítulo da Bíblia e o Salmo 117, o
menor.

2.4. AS TRADUÇÕES DA BÍBLIA

Como já sabemos, a Bíblia foi escrita originalmente no hebraico, aramaico


e no grego. No entanto, foi necessário que houvesse traduções destes
originais para as demais línguas, sendo vital para a evangelização e
expansão da igreja, para assim, poder alcançar os demais povos. Vejamos
as primeiras e principais traduções feitas, a partir das línguas originais:

a) Septuaginta - A Septuaginta (LXX) é a tradução em grego do texto


hebraico do AT, tradição diz ter sido feita no Egito, em Alexandria, por 70
judeus helenistas, cerca de dois séculos antes de Cristo;

b) Vulgata latina - Vulgata (Lat. uso público), tradução a partir dos


originais hebraico e grego para o latim. Feita no século IV por Jerônimo
(erudito e teólogo). Tornou-se a tradução oficial da Igreja Católica;

c) Inglesa - Houve 13 principais versões em inglês, abrangendo a


Inglaterra e os Estados Unidos, feitas entre 1380 e 1978. A primeira, de
1380, foi feita por John Wycliffe, traduzida a partir da Vulgata. A segunda
tradução foi a de Tyndale, feita a partir dos originais;

d) Alemã - Martinho Lutero traduziu a partir dos originais hebraicos e


gregos a fim de preparar uma melhor tradução para o alemão. Concluiu-a
em 1534, e foi de inestimável valor para o Movimento da Reforma;

e) Português - João Ferreira de Almeida, nascido em Portugal e ministro


da Igreja Reformada Holandesa, traduziu a Bíblia para o português em
1628. Traduziu primeiramente o NT. Já o AT, traduziu até o livro de
Ezequiel.

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INTRODUÇÃO BÍBLICA
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As principais versões da Bíblia em Português

Dentre as traduções mais populares em circulação, da Bíblia evangélica,


usadas no Brasil estão:

· ARA – Almeida Revista e Atualizada


· ARC – Almeida Revista e Corrigida
· FIEL – Almeida Corrigida Fiel
· Almeida Século 21 – revisão da Almeida
· NTLH – Nova Tradução na Linguagem de Hoje
· NVI – Nova Versão Internacional
· Viva
· A Mensagem

III - O MANUSEIO DAS ESCRITURAS

3.1. A NECESSIDADE DAS ESCRITURAS

É inquestionável a importância das Escrituras na vida dos cristãos. Sendo


assim, a Bíblia se torna uma necessidade, não temporária, mas sim
permanente e contínua para a fé cristã. Muitos são os motivos, tais como:

a) A Bíblia é necessária para CONHECER O EVANGELHO

Em Romanos 10.13-17, Paulo diz: "Porque todo aquele que invocar o


nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não
creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão,
se não há quem pregue? [...] De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela
palavra de Deus".

Essa declaração aponta para a seguinte linha de raciocínio: A fé salvadora


vem pelo ouvir, e esse ouvir a mensagem do evangelho vem pela
pregação de Cristo.

Essa passagem é uma das várias que mostram que a salvação eterna vem
somente pela fé em Jesus Cristo, e de nenhuma outra forma. João 3.18 diz:
“Quem crê nele não é condenado; mas quem não crê já está condenado,
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus”. Do mesmo
modo, em João 14.6 diz Jesus: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida.
Ninguém vem ao Pai senão por mim”.

A salvação por meio de Cristo é exclusiva, porque Jesus é o único que


morreu pelos nossos pecados. Não há outro meio de se reconciliar com
17
INTRODUÇÃO BÍBLICA
A D o u t r i n a d a Pa l a v r a d e D e u s

2024
Deus senão por Cristo, pois não há outra forma de expiar a culpa do nosso
pecado diante de um Deus santo (1Tm 2.5,6).

b) A Bíblia é necessária para SUSTENTAR A FÉ ESPIRITUAL

Jesus disse: “Nem só de pão viverá o homem, mas de toda a palavra que
sai da boca de Deus” (Mt 4.4). Aqui Jesus indica que nossa vida espiritual é
sustentada pela porção diária da Palavra de Deus, assim como nossa vida
física é sustentada pela porção diária de alimento físico. Negligenciar a
leitura regular da Palavra de Deus é tão prejudicial à saúde da nossa alma,
quanto é à saúde do nosso corpo negligenciar o alimento físico.

Pedro estimula os cristãos “... desejai afetuosamente, como meninos


novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que, por ele,
vades crescendo” (1Pe 2.2). O “leite racional”, neste contexto, refere-se
certamente à Palavra de Deus sobre a qual Pedro falava (1Pe 1.23-25). A
Bíblia, então, é necessária para sustento da vida espiritual e para
crescimento na vida cristã.

c) A Bíblia é necessária para o CONHECIMENTO SEGURO DA VONTADE


DE DEUS

Se não existisse a Palavra escrita de Deus, não poderíamos alcançar a


certeza da Sua vontade por nenhum outro meio, fosse consciência,
conselhos de outras pessoas, mudanças das circunstâncias ou o uso da
razão. Todos esses meios podem proporcionar uma aproximação da
vontade divina, mas, seria impossível obter a certeza acerca da vontade de
Deus.

Na Bíblia, porém, temos afirmações claras e precisas sobre a vontade de


Deus. Ele não nos revelou todas as coisas, mas revelou-
nos o bastante para que conheçamos a sua vontade: "As
coisas encobertas são para o Senhor, nosso Deus; porém
as reveladas são para nós e para nossos filhos, para
sempre, para cumprirmos todas as palavras desta lei” (Dt
29.29).

Deus nos revelou as suas palavras para que possamos


obedecer às suas leis e cumprir a sua vontade. Ser
“irrepreensíveis” aos olhos de Deus é andar “na lei do
Senhor” (Sl 119.1). Amar a Deus é guardar “os seus
mandamentos” (1Jo 5.3). Se quisermos ter um
conhecimento preciso da vontade de Deus, então
devemos estudar as Escrituras.

18
INTRODUÇÃO BÍBLICA
A D o u t r i n a d a Pa l a v r a d e D e u s

2024
3.2. COMO MANUSEAR A BÍBLIA

"Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que
se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade" (2Tm 2.15);

"Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas
que de mim testificam." (Jo 5.39).

Você sabe manusear as Escrituras? Sabe encontrar com facilidade um


versículo em sua Bíblia? Jesus tinha essa habilidade, em Lucas 4.17 diz: "E
foi-lhe dado o livro do profeta Isaías; e, quando abriu o livro, achou o lugar
em que estava escrito:”. O objetivo de saber manusear a Bíblia é o de
auxiliar-nos na localização das palavras e frases bíblicas. A fim de
encontrar qualquer referência bíblica com rapidez e facilidade, é
necessário aprendermos as suas divisões:

a) Principal divisão - A Bíblia está dividida em duas principais partes:


Antigo e o Novo Testamento;

b) Livros - A Bíblia está dividida em livros. Como já estudamos, está O objetivo de


composta por 66 livros;
saber manusear
c) Capítulos e Versículos - Os capítulos são especificados por números a Bíblia é o de
maiores colocados num começo de narrativa parcial. Os versículos são as auxiliar-nos na
divisões que encontramos dentro dos capítulos, normalmente os
versículos aparecem em números pequenos;
localização das
palavras e
d) Abreviaturas - O sistema usado pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) é frases bíblicas.
o mais indicado pela sua simplicidade e rapidez. Os livros da Bíblia são
abreviados com duas letras e sem ponto. Entre capítulo e versículo põe-se
apenas um ponto. No índice das bíblias editadas pode ver-se a lista dos
livros assim abreviados.

· A primeira letra da abreviatura é maiúscula - Livro de Jonas: Jn


· Os capítulos são separados por ponto - Jn 1.3
· Os versículos são separados por vírgulas - Jn 1.3,4
· Usa-se o hífen ( - ) para indicar o prosseguimento de um capítulo ou um
versículo a outro: Jn 1.3-6;

e) Referências marginais - Uma 'letrinha' ou 'número' encontrada ao lado


de uma palavra remete à margem, na qual vai ser encontrado um
sinônimo para aquela palavra; ou, uma explicação que se julgue
necessária; ou, trata-se de outras passagens bíblicas que falam sobre o
mesmo assunto;

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INTRODUÇÃO BÍBLICA
A D o u t r i n a d a Pa l a v r a d e D e u s

2024
f) Siglas - Outra grande dificuldade que encontramos entre novos
convertidos, ou até mesmo leitores da Bíblia, é saber as siglas de cada
livro.

Antigo Testamento (AT) Novo Testamento (NT)

Gênesis Gn Mateus Mt
Êxodo Êx Marcos Mc
Levítico Lv Lucas Lc
Números Nm João Jo
Deuteronômio Dt Atos dos Apóstolos At
Josué Js Romanos Rm
Juízes Jz 1 Coríntios 1Co
Rute Rt 2 Coríntios 2Co
1 Samuel 1Sm Gálatas Gl
2 Samuel 2Sm Efésios Ef
1 Reis 1Rs Filipenses Fp
2 Reis 2Rs Colossenses Cl
1 Crônicas 1Cr 1 Tessalonicenses 1Ts
2 Crônicas 2Cr 2 Tessalonicenses 2Ts
Esdras Ed 1 Timóteo 1Tm
Neemias Ne 2 Timóteo 2Tm
Ester Et Tito Tt
Jó Jó Filemon Fm
Salmos Sl Hebreus Hb
Provérbios Pv Tiago Tg
Eclesiastes Ec 1 Pedro 1Pe
Cântico dos Cânticos Ct 2 Pedro 2Pe
Isaías Is 1 João 1Jo
Jeremias Jr 2 João 2Jo
Lamentações de Jeremias Lm 3 João 3Jo
Ezequiel Ez Judas Jd
Daniel Dn Apocalipse Ap
Oséias Os
Joel Jl
Amós Am
Obadias Ob
Jonas Jn
Miquéias Mq
Naum Na
Habacuque Hc
Sofonias Sf
Ageu Ag
Zacarias Zc
Malaquias Ml

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INTRODUÇÃO BÍBLICA
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2024
BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Claudionor. Dicionário Teológico. CPAD;

BAPTISTA, Douglas. Lições Bíblicas. A Supremacia das Escrituras. CPAD;

BAVINCK, Hermann. Teologia Sistemática. SOCEP;

BÍBLIA SAGRADA. Versão Almeida Revista e Corrigida;

Bibliologia - Visão panorâmica e aspectos da formação da Bíblia

CHAFER, Lewis S. Teologia Sistemática - vol.1. Hagnos;

ERICKSON, Millard J. Introdução à Teologia Sistemática. Vida Nova;

GEISLER, Norman L. Introdução Bíblica - Como a Bíblia chegou até nós.


Vida;

GILBERTO, Antônio. A Bíblia através dos séculos. CPAD;

GRUDEM, Wayne. Teologia Sistemática. Vida Nova;

HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática. CPAD;

PONTES, Ederaldo X. Bibliologia - Estudo das Sagradas Escrituras.


EBESP;

STRONG, Augustus H. Teologia Sistemática - vol.1. Hagnos.

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62ª ESCOLA BÍBLICA
DE OBREIROS

2
PANORAMA DO
ANTIGO
TESTAMENTO

PR. ABIEZER APOLINÁRIO DA SILVA


SUMÁRIO
PA N O R A M A D O AT

Introdução

ANÁLISE DOS LIVROS POR GRUPO

I - O PENTATEUCO

1.1. GÊNESIS
1.2. ÊXODO
1.3. LEVÍTICO
1.4. NÚMEROS
1.5. DEUTERONÔMIO

II - LIVROS HISTÓRICOS

2.1. INTRODUÇÃO E AUTORIA


2.2. JOSUÉ
2.3. JUÍZES
2.4. RUTE
2.5. 1º e 2º SAMUEL
2.6. 1º e 2º REIS
2.7. 1º e 2º CRÔNICAS
2.8. ESDRAS e NEEMIAS
2.9. ESTER

PR. ABIEZER APOLINÁRIO DA SILVA

Presidente da Comissão e da Assessoria Jurídica da CGADB.


Fundador e Professor titular de Antigo Testamento do Instituto de Ensino.
Teológico de Petrópolis-RJ (IETEP).
Conferencista bíblico em todo o Brasil e Exterior.
Advogado profissional.

23
PA N O R A M A D O AT

2024
INTRODUÇÃO

O que é e qual a utilidade da Bíblia para os humanos?

Concisamente, Jesus deu as respostas mais adequadas às perturbadoras


indagações formuladas por muitos humanos: “Examinais as Escrituras,
porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de Mim
testificam”, Jo 5.39. Em determinadas ocasiões, Jesus ao responder
questionamento dos fariseus, disse-lhes: “Vocês não leram as Escrituras? ...
Elas, registram que, desde o princípio, o Criador os fez homem e mulher
...”, Mt 19.4, e “Jesus respondeu: O erro de vocês está em não conhecerem
as Escrituras nem o poder de Deus ...”, Mt 22.29.

As respostas de Cristo acima transcritas apontam para as quatro


características essenciais das “Escrituras”, que a distinguem de todos os
demais livros já escritos ou que venham a ser escritos pelos humanos, e
que a qualificam e a credenciam como a santa e inerrante Palavra de Deus:
1) elas contêm “a vida eterna”; 2) elas “de Mim testificam”; 3) elas
“registram” toda a obra da criação divina, e 4) testemunham “o poder de
Deus”.

Segundo o ensino ministrado pelo apóstolo Paulo, o Onipotente e excelso


Deus se dá a conhecer aos humanos através de tudo o que Ele criou e
sustenta criado: “Pois o que se pode conhecer a respeito de Deus é
manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos
invisíveis de Deus, isto é, o seu eterno poder e a sua divindade, claramente
se reconhecem, desde a criação do mundo, sendo percebidos por meio
das coisas que Deus fez” (NAA), Rm 1.19,20. Todavia, quis o Altíssimo, com
a sua infinita sabedoria e graça, acrescentar outra forma e fonte de
testemunho de si mesmo aos humanos, a Bíblia sagrada, que é a sua
palavra escrita. Por ela, O supremo Criador se dá a
conhecer em linguagem humana, utilizando elementos
humanos, escrita por humanos frágeis e limitados, de
forma que todos tenham pleno acesso a Ele através da
/bíblia, de modo que, segundo o apóstolo Paulo, “Por
isso, os seres humanos são indesculpáveis”, Rm 1.20.

Com tal entendimento e visão, estudemos alguns


acontecimentos registrados no Velho Testamento, os
quais, segundo o apóstolo Paulo, foram e estão escritos
“para o nosso ensino”: “Pois tudo o que no passado foi
escrito, para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela
paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos
esperança”, Rm 15.4.

24
PA N O R A M A D O AT

2024
VISÃO PANORÂMICA DO TEMA: A ORGANIZAÇÃO DA BÍBLIA

Inicialmente, à guisa de esclarecimento, o vocábulo “Bíblia” não é


encontrado nos textos sagrados, sendo originário da língua original do
Novo Testamento, o grego. Originalmente, era utilizado o papiro, planta
aquática que era comumente cultivada no Egito, cujas folhas eram feitas
das hastes e utilizadas nas escritas. Posteriormente, passou a ser utilizado
o pergaminho, originário da pele de animais como cabras, ovelhas e
bezerros. Igualmente, eram empregadas peles de animais que haviam
sido abortados para obter um material ainda mais suave para a escrita ou
desenho fabricados desde a Antiguidade. Acredita-se que os
pergaminhos tenham tido origem no século II a.C. na cidade de Pérgamo.
O emprego do pergaminho se tratou de uma revolução, pois o material é
mais resistente e durável que a argila e o papiro, por exemplo. Na Idade
Média, os pergaminhos eram usados nos mosteiros para copiar livros.
Com a descoberta do papel e a popularização da palavra impressa, foi
abandonado o pergaminho, embora que, atualmente, ainda seja utilizado Por uma ação
para a confecção de diplomas e empregados em móveis e decoração. milagrosa do
Espírito Santo, os
Uma folha de papiro escrita era chamada de “biblion”, o singular,
enquanto, mais de duas folhas, no plural, “biblia”, que significa coleção de 66 livros que
pequenos livros. Com o advento do papel, a palavra deu origem ao atual compõem a Bíblia
vocábulo “livro” e outros como “biblioteca”, “bibliófilo”, etc. foram escritos no
período de mil e
Porém, com o desenvolvimento atual da tecnologia e dos meios
seiscentos anos,
eletrônicos, até o papel não é mais considerado como o único meio
utilizado para a palavra impressa, o que tem contribuído para a
dezesseis séculos,
universalização e propagação da Bíblia Sagrada em incrível velocidade, sendo 37 no
com fácil e gratuito acesso de todos os interessados. Antigo
Testamento e 29
Por uma ação milagrosa do Espírito Santo, os 66 livros que compõem a no Novo
Bíblia foram escritos no período de mil e seiscentos anos, dezesseis
Testamento, por
séculos, sendo 37 no Antigo Testamento e 29 no Novo Testamento, por
cerca de quarenta escritores, que guardam impressionante harmonia, sem cerca de quarenta
qualquer distorção ou distonia entre si. Como disse certo pensador: “Com escritores.
toda razão pode-se dizer, que o novo Testamento está escondido no
Velho e o Velho é revelado no Novo”. O termo “testamento” significa, de
um lado, “aliança”, “concerto”, “pacto”, e, de outro, as disposições de
última vontade de uma pessoa quanto a distribuição de seus bens, após a
sua morte.

No primeiro sentido ou primeira divisão da Bíblia, conhecido como o


“VELHO TESTAMENTO”, foi celebrado no Monte Sinai, três meses após a
saída dos israelitas do Egito, que veio pela Lei dada por Deus a Israel

25
PA N O R A M A D O AT

2024
através de Moisés, e selado pelo sangue de animais: “Moisés escreveu
todas as palavras do Senhor e ... Moisés pegou a metade do sangue ...
Depois pegou o livro da aliança e o leu para o povo ... Então Moisés pegou
aquele sangue, e o aspergiu sobre o povo”, Ex 24.4-8.

No segundo sentido ou segunda divisão da Bíblia, conhecido como


“NOVO TESTAMENTO”, foi demarcado pelo próprio Jesus na noite que
instituiu a Santa Ceia, ao assim dizer aos seus apóstolos: “Este cálice é a
nova aliança no meu sangue ...”, 1Co 11.25. A “Nova Aliança” ou o “Novo
Testamento” foi efetivada mediante o sangue de Jesus derramado na Cruz
do Calvário, nos mesmos moldes do Velho Testamento celebrado no Sinai,
culminando com a sua morte que efetivou a “Nova Aliança”, como bem se
referiu o escritor da carta aos Hebreus: “Porque, onde há um testamento,
é necessário constatar a morte de quem o fez. Sim, porque um
testamento só é confirmado depois da morte de quem o fez, pois de
maneira nenhuma um testamento tem força de lei enquanto ainda vive
quem o fez”, Hb 9.16,17.

O Antigo Testamento é composto por 39 livros, escritos em sua maioria na


língua hebraica, e estão assim agrupados:

1) LEI, são cinco livros, também chamados de o pentateuco: Gênesis,


Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio. Eles registram desde o início e
criação de todas as coisas até os preparativos do povo de Israel para
entrar na terra prometida;

2) HISTÓRIA, são doze livros: Josué, Juízes, Rute, 1º de Samuel, 2º de


Samuel, 1º dos Reis, 2º dos Reis, 1º das Crônicas, 2º das Crônicas, Esdras,
Neemias, Ester;

3) POESIA, são cinco livros: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cântico dos
Cânticos ou Cantares;

4) PROFECIAS, são dezessete livros, classificados como: a) Profetas


Maiores, cinco livros, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel; b)
profetas menores, doze livros: Oséias, Joel, Amós, Obadias, Jonas,
Miquéias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias e Malaquias.

Não devemos esquecer a solene advertência do apóstolo Paulo à igreja


dos tempos atuais, quanto ao conteúdo do Antigo Testamento que tem
sido desprezado por muitos: “Pois tudo o que no passado foi escrito, para
o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação
das Escrituras, tenhamos esperança”, Rm 15.4.

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HARMONIZAÇÃO DOS VELHO E NOVO TESTAMENTOS

Como acima destacado, se constitui em verdadeiro milagre a Bíblia ser


absolutamente harmônica, sem qualquer discrepância em todo o seu
conteúdo, pois, repete-se aqui o pensamento de um estudioso, quando
disse “que o Novo Testamento está escondido no Velho e o Velho é
revelado no Novo”. O apóstolo Pedro se manifestando acerca da perfeição
do conteúdo bíblico, disse que “Foi a respeito desta salvação que os
profetas indagaram e investigaram. Eles profetizaram a respeito da graça
destinada a vocês, investigando qual a ocasião ou quais as circunstâncias
oportunas que eram indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao
predizer os sofrimentos que Cristo teria de suportar e as glórias que viriam
depois desses sofrimentos. A eles foi revelado que, não para si mesmos,
mas para vocês, ministravam as coisas que, agora, foram anunciadas a
vocês por aqueles que, pelo Espírito Santo enviado do céu, lhes pregaram
o evangelho” (NAA), 1Pd 1.10-12.

O texto acima transcrito indica claramente que a aludida harmonização


bíblica se deve ao “Espírito de Cristo, que neles estava”, que é o mesmo “...
Espírito Santo enviado do céu” que “lhes pregaram o evangelho”, embora
séculos os separassem. Não é sem razão ou motivo que encontramos no
Novo Testamento várias citações de textos do Velho Testamento nas mais
várias situações e ocasiões. Por exemplo: quando Jesus estava agonizando
na cruz do Calvário, exclamou o contido no Salmo 22.1: “Deus meu, Deus
meu, por que me desamparaste? ...”, cf Mt 27.46; o decreto de Herodes
determinando o assassinato de crianças registrado em Mt 2.17,18, era o
cumprimento do que vaticinara o profeta Jeremias: “Assim diz o Senhor:
Ouviu-se um clamor em Ramá, pranto e grande lamento; era Raquel
chorando por seus filhos e inconsolável por causa deles, porque já não
existem”, 31.15; o apóstolo Paulo ministrando “que Cristo foi feito ministro
da circuncisão ...” se referiu a uma profecia do profeta Isaías: “E outra vez
diz Isaías ...”, Rm 15.12. Na visão apocalíptica que o apóstolo João descreve
no capítulo cinco do livro das revelações, diz ele que ouviu do mensageiro
celestial a palavra de consolação: “Não chores! Olha, o Leão da tribo de
Judá, a raiz de Davi, venceu para abrir o livro e seus sete selos”, basta
lembrar a profecia do patriarca Jacó, espiritualmente Israel, ao seu filho
Judá, milênios antes da palavra dita a João, quando estava próximo da sua
morte, acerca de Cristo com a autoridade abrir o Livro e desatar seus sete
selos, para confirmar a perfeita harmonia de todo o conteúdo bíblico:
“Judá é um leãozinho; da presa você subiu, meu filho. Ele se agacha e se
deita como leão e como leoa; quem o despertará? O cetro não se afastará
de Judá, nem o bastão sairá de entre os seus pés, até que venha Siló; e a
ele os povos obedecerão”, Gn 49.9,10.

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PA N O R A M A D O AT

2024
ANÁLISE DOS LIVROS POR GRUPO
1. O PENTATEUCO

Como é comum e natural em todos os leitores de um livro, o primeiro


interesse é descobrir quem é o autor. Não é diferente quanto a autoria dos
cinco livros bíblicos que compõem o Pentateuco. Contudo, no caso de
toda Bíblia, o certo é que o autor é único, Deus, variando apenas os que a
escreveram, os escritores. A forma adotada pelo profeta Jeremias de
utilizar alguém para escrever as palavras do Senhor por ele ditadas, indica
claramente que Deus é o autor e Moisés o escritor do Pentateuco: “Então
Jeremias chamou a Baruque, filho de Nerias, e escreveu Baruque, no rolo,
enquanto Jeremias lhe ditava, todas as palavras que o Senhor lhe tinha
falado”, Jr 36.4.

O teólogo Finis Jennings Dake introduz o livro de Gênesis mostrando


dezesseis provas de que Moisés realmente escreveu o Pentateuco, dentre
as quais listamos as seguintes:

1. “Deus ordenou que Moisés escrevesse um livro” (Êx17.14; 34.27);

2. “Moisés escreveu um livro” (Êx 24.5-7; Nm 33.2; Dt 31.9);

3. “Ele chamou seu livro de o livro da aliança” (Êx 24.7), o livro desta lei (Dt
28.58,61); e este livro da lei (Dt 29.20-27; 30.10; 31.24-26). Isso inclui todo
o Pentateuco, que foi considerado pelos judeus um livro, com cinco
partes;

4. “Cópias do livro de Moisés eram feitas para os reis” (Dt. 17.18-20);

5. “Deus reconhece o livro da lei como escrito por Moisés e ordenou que
ele fosse a regra de conduta para Josué” (Js 1.8; 8.30-35);

6. “Josué aceitou o livro da lei como sendo escrito por Moisés e copiou-o
em dois montes” (Js 8.30-35). Ele contribuiu com o livro, escrevendo,
talvez, o último capítulo (Dt 34) sobre a morte de Moisés (Js 24.26);

7. “Josué ordenou a todo Israel que obedecesse ao livro da lei de Moisés”


(Js 23.6).

8. “Durante o período dos reis esse livro era a lei”. Davi o reconheceu (I Cr
16.40); Salomão foi encarregado por Davi de mantê-lo (1Rs 2.3); Ele foi
achado e obedecido por Josias e Israel (2Rs 22.8-23.25; 2Cr 34.14-35.18);
Josafá o ensinou a todo o Israel (2Cr 17.1-9); Joiada, Amazias e Ezequias
obedeceram a ele (2Rs 12.2; 2Cr 23.11,18; 2Rs 14.3-6; 2Cr 25.4; 2Cr 30.1-
18);
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9. “Os profetas se referem a ele como a lei de Deus escrita por Moisés” (Dn
9.11; Ml 4.4);

10. “Tanto Esdras como Neemias atribuem o livro da lei a Moisés” (Ed 3.2;
6.18; 7.6; Ne 1.7-9; 8.1,14,18).

Ele ainda acrescentou as seguintes observações: “O Pentateuco foi escrito


por um hebreu que falava a língua hebraica e apreciava os sentimentos
dessa nação. Moisés cumpria esse requerimento. Foi escrito por um
hebreu familiarizado com o Egito e a Arábia, seus costumes e cultura.
Desde que os ensinos egípcios foram cuidadosamente ocultados para os
estrangeiros, e eram somente para os sacerdotes e a família real, Moisés
era o único hebreu conhecido que poderia cumprir esse requisito (At 7.22;
Hb 11.23-29). Há uma exata correspondência entre as narrativas e as
instituições, mostrando que ambos são do mesmo autor. A concordância
no estilo dos cinco livros prova um único autor. O próprio Moisés declarou
claramente ser ele o escritor desta lei. Veja Êx 24.4; Nm 33.2; Dt 31.9,22.”

1.1. GÊNESIS

Introdução
É o primeiro livro da Bíblia. Na língua original, “Gênesis” é sinônimo de
“nascimento”, “origem”, “início”, e assim é chamado porque contém a
descrição da obra criadora de Deus: “No princípio criou Deus os céus e a
terra”, 1.1. Ele conta a origem do universo, do gênero humano, do pecado,
da redenção da vida em família, da corrupção dos humanos, das nações,
dos diferentes idiomas, do povo hebreu etc.

Embora não esteja registrada no texto a participação de Cristo no ato


criador, não pode ser esquecida a informação do apóstolo João: “No
princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele
estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e, sem
ele, nada do que foi feito se fez”, Jo 1.1-3, tendo o apóstolo Paulo
acrescentado: “Pois nele foram criadas todas as coisas, nos céus e sobre a
terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam soberanias, quer
principados, quer potestades. Tudo foi criado por meio dele e para ele”, Cl
1.16.

Segundo os estudiosos, Moisés foi quem o escreveu, sendo nele


registrado acontecimentos desde a criação até a morte de José, filho de
Jacó, um período aproximado de 2.315 anos. Também contém a primeira
promessa da redenção e restauração espiritual da humanidade,
corrompida pelo pecado pela ação do Diabo: “Porei inimizade entre você
e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela. Este lhe ferirá

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2024
a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”, 3.15.

Seu conteúdo pode ser assim agrupado: I) A criação; II) Os humanos em


sua forma primitiva; III) A história do povo de Israel: Abraão, Isaque, Jacó,
Esaú e José, sendo interessante notar a curiosidade: enquanto Gênesis
registra o humano perdendo a posse do Paraíso, 3.23, Apocalipse registra
a recuperação e a restauração da posse do jardim pelo humano, 21,22.

Nele pode-se observar dois tipos diferentes de abordagem estrutural. O


primeiro divide o livro entre a história da raça humana e a do povo santo.
Já a seguinte, segue a forma chamada de gerações, derivada de uma frase
repetida por diversas vezes no relato do primeiro livro: “estas são as
gerações”.

Uma das questões mais intrigantes para o estudante da bíblia é o


surgimento das nações, a partir da família primordial. Isto é, como Noé,
seus três filhos e noras geraram toda a humanidade, com tantas
diferenças culturais e raciais. As diferenças raciais para serem explicadas
exigem que o leitor creia que a Palavra de Deus é sempre verdadeira,
portanto, a história registrada.

Com o estudo da genealogia do patriarca Noé, nas ilustrações a seguir,


podem ser estudadas as diferentes origens dos povos. Os filhos de Sem,
por exemplo, deram origem aos povos de origem semita, entre eles,
podem ser contados os israelitas. Já, os filhos de Jafé, os europeus (toda a
europa) e os russos, bem como os trácios. Por último, os filhos de Cão
(cananitas, africanos e parte da Ásia).

1.2. ÊXODO

Introdução
O nome em hebraico do livro deriva das primeiras palavras do texto em
hebraico e significa “Nomes”. De forma básica, o livro de Êxodo relata a
história da partida do povo de Israel do Egito. Os descendentes de Abraão
se tornaram um povo numeroso3, com uma população total que poderia
ser contada na casa dos milhões. O relato histórico, então, vai da
libertação até o princípio da caminhada no deserto, para ser mais exato
até o monte Sinai.

Panorama histórico
É possível identificar as datas dos acontecimentos descritos no Êxodo, a
partir de 1Re 6.1. Essa passagem registra que Salomão começou a obra do
templo 480 anos após a saída do Egito, correspondendo, ainda, ao quarto
ano de seu reinado. Assim, expertos indicam que o ano do êxodo seria,
aproximadamente, 1447 a.C. é real.
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PA N O R A M A D O AT

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Ainda dentro de um possível esquema de estruturação do livro, pode-se
dividir o livro em três seções, partindo do ponto de vista do povo israelita.
Assim, tem-se:

(1) Israel no Egito, Ex 1.1 - 13.16;


(2) Israel no deserto, 13.17 - 18.27 e
(3) Israel no Sinai, 19.1-40.38.

É interessante notar, ainda, a símile empregada entre a travessia do


Deserto e a vida de Cristo. No início da caminhada, o povo de Israel é
batizado no Mar de Juncos e Cristo, no Rio Jordão. Depois, seguem por
quarenta anos de deserto e Cristo, quarenta dias. Após o batismo no Mar,
recebem a Lei e Cristo entrega no Sermão da Montanha a nossa lei.

Segundo o apóstolo Paulo, a peregrinação de Israel pelo deserto em


direção a terra prometida, era um tipo da peregrinação atual da igreja na
terra, em direção ao céu: “Ora, irmãos, não quero que vocês ignorem que
os nossos pais estiveram todos sob a nuvem, e todos passaram pelo mar,
... Estas coisas aconteceram com eles para servir de exemplo e foram
escritas como advertência a nós, para quem o fim dos tempos tem
chegado”, 1Co 10.1-11.

Uma das seções mais marcantes do livro, sem dúvidas, é a entrega da


parte mais conhecida e importante da Lei Mosaica escrita em duas tábuas
de pedra: os Dez Mandamentos. Cerca de três meses após ser retirado do
Egito, Israel chegou ao Monte Sinai. Lá, segundo Moisés disse ao povo, os
dez mandamentos foram escritos pelo “dedo de Deus” (Ex 31.18 e Dt
9.10). Por fim, a Lei de Moisés não se restringe ao Decálogo, mas estende-
se para outros 613 mandamentos contidos no Pentateuco.

Impossível não analisar a última seção do Êxodo: a ordem divina de


construção de um tabernáculo dedicado ao culto e considerado como a
morada de Javé desde o Êxodo até o Templo de Salomão. Contribuindo
para a característica nômade do povo de Deus, o local de culto foi
construído na forma de uma tenda que poderia ser montada, desmontada
e carregada conforme a peregrinação do povo.

É de ser salientada a indispensabilidade do conhecimento do conteúdo


dos capítulos 25 ao 40 do Êxodo, para o estudo e compreensão de toda a
carta aos Hebreus, especialmente o capítulo 9 quando registra: “Foi
preparado um tabernáculo. Na primeira parte ... Depois do segundo véu
estava o tabernáculo ... O Espírito Santo estava dando a entender com isto
que o caminho do Santo dos Santos ...”

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PA N O R A M A D O AT

2024
Panorama geográfico
A região do antigo Egito, ao longo do Rio Nilo, alcançando até a região de
Canaã. Durante a saída do Egito, a região do deserto do Sinai, até o sul da
região de Canaã.

1.3. LEVÍTICOS

Introdução
Ele é assim chamado por conter as nomas e as leis reguladoras dos
serviços dos sacerdotes nos ofícios do tabernáculo. O tema central do
livro é a de que o acesso a Deus é pelo sangue e, em razão da santidade
de Deus, todos os que se achegam a Ele devem obrigatoriamente seguir e
observar o padrão de sua santidade: “Isto é o que o Senhor disse:
"Mostrarei a minha santidade naqueles que se aproximam de mim e serei
glorificado diante de todo o povo”, Lv 10.3; “Sejam santos para mim,
porque eu, o Senhor, sou santo e os separei dos outros povos, para que
sejam meus”, Lv 20.26; “Pelo contrário, assim como é santo aquele que os
chamou, sejam santos vocês também em tudo o que fizerem, porque está
escrito: Sejam santos, porque eu sou santo”, 1Pd 1,15,16. A palavra “santo”
é citada em torno de oitenta vezes.

O livro de Levíticos é visto por alguns cristãos como irrelevante para os


nossos dias, haja visto que a Graça aboliu a Lei e com ela o sistema
sacrificial. Na maioria das vezes que é utilizado, infirma-se seu uso
alegórico. Mas, devemos compreender que seu estudo literal poderá
conduzir ao devoto a compreender melhor a Deus e reconhecer os Seus
esforços de redenção ao longo da história.

Não é sem motivo que o capítulo 10 registra a trágica morte dos dois
filhos do Sumo Sacerdote Arão, Nadabe e Abiú, dentro do santuário, que
“trouxeram fogo estranho perante a face do Senhor”, porque a conduta
dos dois feriu a santidade do Senhor. A ira do Senhor se acendeu de tal
forma que “irrompeu fogo de diante do Senhor, e os consumiu, e
morreram perante o Senhor”, cujo acontecimento foi espiritualmente
justificado: “para que possais discernir entre o santo e o profano, e entre o
imundo e o limpo”, v.10.

Ainda dentro de um possível esquema de estruturação do livro, pode-se


dividir o livro em cinco seções:

(1) Como ter acesso ao Deus santo;


(2) As leis quanto ao alimento do povo israelita;
(3) As cinco festas anuais a serem comemoradas pelos israelitas;
(4) Leis acerca do ano sabático e o ano jubileu;
(5) Lei dos votos.
32
PA N O R A M A D O AT

2024
Na busca da santidade desejada para poder se apresentar diante de Deus,
o livro de Levítico registra o sistema sacrificial que deveria ser utilizado
pelos israelitas. Assim temos: holocaustos, oferta de cereal, oferta de
comunhão, oferta pelo pecado e oferta pela culpa. Além dos citados, há
outros três tipos que devem ser analisados. Há a oferta movida, que,
literalmente, deveria ser movida, balanço, ondulação, movida) em direção
ao altar, ao invés de sacrificada sobre ele. A oferta alçada era qualquer
coisa que era levantada, tirada de entre outros objetos e oferecida a Deus
para as necessidades do Tabernáculo (por exemplo, para a alimentação
dos sacerdotes, Êx 29.27). Era uma espécie de oferta voluntária (Dt 12.6,
onde “a oferta das vossas mãos” é a oferta alçada). Por último, a libação
que se tratava de uma oferta de líquido (vinho ou mel, por exemplo) que
era derramada ao lado do altar (Ex 29.40).

O sistema sacrificial instituído em Levíticos estabelece um meio de


aproximação de Deus, e não como um meio de salvação. É preciso
esclarecer que a redenção está representada pelo cordeiro pascal. Os
sacrifícios ensinam ao povo como adorar, dar graças e restaurar a
comunhão interrompida pelo pecado.
Panorama histórico

Os fatos do livro de Levíticos, bem como a outorga da Lei, ocorreram,


provavelmente, em um espaço de 30 dias, entre a construção do
Tabernáculo e o início da marcha depois do Sinai. No mesmo período,
ainda, o povo celebrou a primeira Páscoa após a saída do
Egito (Nm 9.1-12), o que nos dá a relativa certeza de que os
fatos aconteceram cerca de 12 meses após o êxodo.

Panorama geográfico
Deserto do Sinai.

1.4. NÚMEROS

Introdução
Como o próprio nome sugere, o livro é assim designado
por registrar duas ordens divinas de realização de dois
censos de Israel antes da entrada na terra prometida:
“Levantem o censo de toda a congregação dos filhos de
Israel, segundo as suas famílias, segundo a casa de seus
pais, contando todos os homens, nominalmente, cabeça por cabeça”, Nm
1.2; “Passada a praga, o Senhor falou a Moisés e a Eleazar, filho do
sacerdote Arão, dizendo: Levantem o censo da de toda a congregação dos
filhos de Israel, da idade de vinte anos para cima, segundo as casas de
seus pais, todos os que, em Israel, forem capazes de sair à guerra”, 26.1,2.

33
PA N O R A M A D O AT

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Secundariamente, Números registra as listas e informações de
recenseamento e a passagem da velha geração — que pereceu no
deserto — para a nova, que herdou e entrou na Terra Prometida. Contém,
também, trechos de sua narrativa que parecem reforçar a tese da autoria
fragmentária das fontes, pois registra um poema (Nm 21.14) retirado do
“livro das guerras do Senhor” e registra certas atividades realizadas após a
passagem do Jordão (Nm 33.34-42).

Panorama histórico e geográfico


O próprio texto permite identificar, com certa precisão, o período histórico
que registra. O livro começa com a ordem de recenseamento: “Falou mais
o SENHOR a Moisés no deserto de Sinai, na tenda da congregação, no
primeiro dia do segundo mês, no segundo ano da sua saída da terra do
Egito”, Nm 1.1. Já o término do relato histórico acontece às margens do
Rio Jordão, na fronteira da Terra Prometida: “E falou o SENHOR a Moisés
nas campinas de Moabe, junto ao Jordão na direção de Jericó”, Nm 35.1,
cobrindo, portanto, cerca de 40 anos de caminhada do povo no deserto.

Esboço
Como qualquer outro livro, Números pode ser esboçado de acordo com o
foco que deseja ser dado. Por exemplo, uma das formas de se dividir o
texto é enxergar nele duas grandes seções: a história da primeira geração
do deserto (Nm 1-25) e da segunda (Nm 26-36), representando, de forma
teológica ou espiritual ou alegórica, o fim do antigo e o
nascimento do novo.

Modo de contagem do povo


Há uma diferença na forma de contar o povo de Israel em
tempos de paz, de guerra e para efeito de culto. Jacó teve
doze filhos homens (chamados de Patriarcas), porém os
descendentes de Levi foram escolhidos para o serviço do
Tabernáculo e excluídos da contagem do povo em tempos
de guerra e na hora do culto (Lv 1.47-50). Por outro lado,
quando Jacó foi abençoar a José, ele profetizou que os
seus filhos seriam “povo”, dando, portanto, aos dois
porção em meio à Israel (Gn 48.13,14,18-20).

Em resumo, em tempos de paz, a nação israelita era


formada pelas doze tribos descendentes dos filhos de Jacó, incluindo-se
na lista os levitas (Levi) e a casa de Efraim (José). Por outro lado, como os
levitas foram consagrados para o culto do Senhor e, inclusive, não
receberam qualquer parcela da Terra Prometida para congregar-se (Dt
18.1,2), no momento da adoração, bem como em tempos de guerra, a
tribo de José e de Levi eram substituídas pelas tribos de Efraim e
Manassés, descendentes de José.
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PA N O R A M A D O AT

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Modo de contagem do povo
Há uma diferença na forma de contar o povo de Israel em tempos de paz,
de guerra e para efeito de culto. Jacó teve doze filhos homens (chamados
de Patriarcas), porém os descendentes de Levi foram escolhidos para o
serviço do Tabernáculo e excluídos da contagem do povo em tempos de
guerra e na hora do culto (Lv 1.47-50). Por outro lado, quando Jacó foi
abençoar a José, ele profetizou que os seus filhos seriam “povo”, dando,
portanto, aos dois porção em meio à Israel (Gn 48.13,14,18-20).

Em resumo, em tempos de paz, a nação israelita era formada pelas doze


tribos descendentes dos filhos de Jacó, incluindo-se na lista os levitas
(Levi) e a casa de Efraim (José). Por outro lado, como os levitas foram
consagrados para o culto do Senhor e, inclusive, não receberam qualquer
parcela da Terra Prometida para congregar-se (Dt 18.1,2), no momento da
adoração, bem como em tempos de guerra, a tribo de José e de Levi eram
substituídas pelas tribos de Efraim e Manassés, descendentes de José.

Ordem da marcha e do acampamento dos israelitas (Nm 2)


Durante a caminhada no deserto, Deus determinou a exata ordem que os
israelitas deveriam ter, tanto durante o acampamento quanto na hora da
marcha. No primeiro caso, à frente dos exércitos, deveria seguir a Arca da
Aliança. Após o primeiro batalhão (Judá, Issacar e Zebu lom), os levitas
(gersonitas e meratitas) carregariam as partes da Tenda da Congregação,
seguidos pelo segundo batalhão (Rúbens, Simeão e Gade). Logo atrás, os
coatitas (descendentes de Coate, filho de Levi) levariam os utensílios
(mobiliário), seguidos pelas demais tribos (Nm 2.17).

Quando acampados, somente os levitas poderiam acampar em torno do


Tabernáculo (Nm 1.53), e as demais tribos, tal qual durante a marcha,
organizar-se-iam em torno da tenda, sendo que o portal de acesso
deveria sempre estar voltado para o oriente.

Interessante registrar que em Números estão registrados três eventos que


formam tipos espirituais notáveis e aplicáveis à vida espiritual da igreja de
Cristo atualmente: a) Moisés ferindo a rocha, 20.7-11 cf. 1Co 10.4; b) a
serpente de bronze, 21.6-9 cf. Jo 3.14; c) as cidades de refúgio, 35 cf. Hb
6.18. Ele também registra as murmurações do povo contra o caminho, o
maná, os gigantes, contra liderança espiritual de Moisés e Arão, contra os
juízos divinos, dentre outras, o que impediu a entrada imediata na terra
prometida, o que é utilizado pelo escritor da carta aos Hebreus para
advertir a igreja de Cristo atualmente: “Por isso, como diz o Espírito Santo:
Hoje, se ouvirem a sua voz, não endureçam o coração como foi na
rebelião, no dia da tentação no deserto, ... Assim, vemos que não puderam
entrar por causa da incredulidade”, Hb 3.7-19.

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1.5. DEUTERONÔMIO

O vocábulo “Deuteronômio” provém de duas palavras gregas: “deuteros”,


segunda, “nomos”, lei. Como registrado no livro de Números, quase todos
os adultos saídos do Egito pereceram no deserto, ao ponto de Deus ter
determinado a realização do segundo censo. A nova geração se preparava
para entrar na terra prometida, o que motivou a Moisés repetir a lei e
chamar a lembrança de acontecimentos passados durante os quarenta
anos de caminhada no deserto: “São estas as palavras que Moisés falou a
todo o Israel, a leste do Jordão, no deserto, na Arabá, diante de Sufe, entre
Parã, Tofel, Labã, Hazerote e Di-Zaabe”, 1.1.

O livro contém uma segunda versão da Lei que havia sido registrada
anteriormente, sendo, portanto, um compilado de vários discursos
mosaicos. Pode ser considerando, portanto, como a carta testamento de
Moisés para o seu povo, na qual ele oferece ao povo orientações
importantes para a entrada em Canaã. Poucos livros causaram maior
impacto no Novo Testamento, sendo um dos mais citados pelos autores
neotestamentários.

Nele, Moisés, ainda, funda as bases do sistema legal israelita composto de


juízes, tribunais, sacerdotes, levitas, reis e profetas (Dt 16.18 – 18.22).

O livro está organizado em torno de três temas principais: 1) dos capítulos


1 ao 4, Moisés faz um resumo de toda a caminhada no deserto por
quarenta anos; 2) dos capítulos 5 ao 27, Moisés repete a lei que Deus lhe
entregou para o povo; 3) dos capítulos 28 ao 34, Moisés, como verdadeiro
profeta de Deus, profere mensagens proféticas acerca do futuro de Israel,
advertindo-lhe quanto aos riscos e danos causados pela desobediência:
“Se vocês ouvirem atentamente a voz do Senhor, seu Deus, tendo o
cuidado de guardar todos os seus mandamentos ... Porém, se não derem
ouvidos à voz do Senhor, seu Deus, deixando de cumprir todos os seus
mandamentos ...”, 28.1,15.

Como profeta, anunciou a vinda de um “profeta semelhante a mim”: “O


Senhor, seu Deus, fará com que do meio de vocês, do meio de seus
irmãos, se levante um profeta semelhante a mim; a ele vocês devem
ouvir”, Dt 18.15, o qual, segundo o apóstolo Pedro, é Jesus: “Tendo Deus
ressuscitado o seu Servo, enviou-o primeiramente a vocês para abençoá-
los, no sentido de que cada um abandone as suas maldades”, At 3.22.

De forma extraordinária, Moisés falou acerca da igreja de Cristo, formada


em sua maioria por aqueles tidos como “gentios” ou não judeus, tendo o
mesmo status espiritual na terra, em lugar de Israel, com as seguintes

36
PA N O R A M A D O AT

2024
Portanto, podemos considerar que o quinto livro do Pentateuco é, ne
verdade, a Constituição do antigo Israel, definindo sua ordem social
(protegendo os mais fracos da opressão e do abuso), seus procedimentos
jurídicos (formas de acusação e defesa nos tribunais), e sua relação com
Deus. Procura, enfim, apresentar uma imagem do que seria o Israel ideal,
apresentando-o como uma nação com um Deus, um povo, uma terra, um
santuário e uma lei.

Panorama histórico e geográfico


A história registrada em Deuteronômio acontece nos trinta dias que
antecedem a morte de um dos maiores líderes civis de Israel (se não o
maior). De maneira formal, é o registro da renovação da aliança entre
Deus e Israel, realizado por Moisés nas fronteiras de Canaã.

2. LIVROS HISTÓRICOS
Dos juízes aos reis: nascimento e queda do Reino de Israel

INTRODUÇÃO E AUTORIA

São doze livros, de Josué a Ester, que contam a história do povo de Israel
desde a conquista da terra prometida sob a liderança de Josué até a
restauração de Jerusalém após o cativeiro babilônicos. São vários séculos
de histórias que dão testemunho da eterna fidelidade de Deus aos
compromissos por Ele assumidos, que se resumem na seguinte
mensagem: “Desta maneira deu o Senhor a Israel toda a terra que jurara
dar a seus pais; e a possuíram e habitaram nela ... Palavra alguma falhou
de todas as boas coisas que o Senhor falou à casa de Israel; tudo se
cumpriu”, Js 21.43-45. Esses livros mostram que a história de Israel
depende da atitude que o povo toma na aliança com Deus. Se o povo é
fiel à aliança, Deus lhe concede à benção.

Os livros históricos não declaram o nome ou os nomes dos autores.


Muitos consideram que o nome do livro signifique, implicitamente, o
nome da pessoa que o escreveu, mas, tomando como exemplo o livro de
Josué, é possível de se verificar a inexatidão do pensamento. Em muitos
trechos há a expressão “até os dias de hoje”, Js 4.9. Em resumo, todos os
livros históricos são silentes quanto a sua autoria, sendo a tese mais aceita
de que um grupo de indivíduos (escribas ou profetas) compilaram e
escreveram o texto.

Os seguintes autores são mais ou menos considerados: Josué, Samuel


Natã, Gade, Jeremias, Baruque e Esdras. Os defensores da teoria
fragmentária acreditam que, a partir de elementos contidos nos livros
históricos, seria possível determinar que seus autores relataram os fatos
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PA N O R A M A D O AT

2024
narrados a partir de tradições históricas contadas pelos israelitas,
podendo identificá-lo como tendo vivido em algum ponto recente da
história da monarquia do povo de Deus. Por último, alguns defendem o
ponto de vista da História Deuteronomística1, que analisa a relação entre
o livro do Deuteronômio com os “profetas anteriores”: Josué, Juízes,
Samuel e Reis, considerando o último livro do Pentateuco como sendo, na
verdade, introdução à nova seção do AT.

Eles também registram o estabelecimento da monarquia em Israel


unificado à época do profeta Samuel, a divisão do reino em dois, Reino do
norte, capital Samaria, Reino do Sul, capital Jerusalém, e as quedas de
ambos diante dos impérios assírio e babilônico, respectivamente.
Entender o papel dos Livros Históricos é importante para a compreensão
do relacionamento de Deus com o povo da aliança.

O estudo dos doze Livros Históricos estabelece que eles não esboçam a
lei de Moisés, como Levítico e Deuteronômio. Também não foi o de
expressar louvor ou lamentação de maneira poética como em Salmos e
Lamentações. Eles também não são um registro das palavras dos profetas,
como os livros de Isaías e Ezequiel. Em vez disso, os livros históricos
narram praticamente uma história: a do relacionamento e o
comportamento do povo da promessa com o Deus que fez a promessa e
a celebrou com o mais célebre ancestral, Abraão. É a demonstração da
eterna fidelidade de Deus versus a infidelidade dos humanos.

Inquestionavelmente que as mensagens dos Livros Históricos apontam


invariavelmente para a vinda do Messias, o rei perfeito, até hoje esperado
por Israel, como o verdadeiro Filho de Davi, no qual se cumprem todas as
esperanças acerca de um reino perfeito, eterno e glorioso.

Nas Bíblias de edição católica eles são: Josué, Juízes, Rute, 1 e 2 Samuel, 1
e 2 Reis, 1 e 2 Crônicas, Esdras, Neemias, Tobias, Judite, Ester e 1 e 2
Macabeus. Entretanto, nas de edição evangélica os livros de Tobias, Judite,
e 1 e 2 Macabeus não são incluídos, em razão da sua não canonicidade,
pelo que são denominados de apócrifos.

2.1. JOSUÉ

Introdução
O nome do livro deriva, sem dúvidas, do seu principal personagem, Josué.
Em hebraico, seu nome é Yeoshua: Jeová salva. É traduzido na Vulgata
Latina como Iesous ou, simplesmente, Jesus. Nada mais simbólica,
entretanto. Da mesma forma que o Jesus do Antigo Pacto teve como
missão levar o povo de Israel a entrar em Canaã (a Terra Prometida, o

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PA N O R A M A D O AT

2024
o Descanso Prometido), o Josué do Novo Testamento tem a missão de
conduzir o novo Israel de Deus ao descanso prometido: “Porque, se Josué
lhes houvesse dado repouso, não falaria depois disso de outro dia.
Portanto, resta ainda um repouso para o povo de Deus. Porque aquele
que entrou no seu repouso, ele próprio repousou de suas obras, como
Deus das suas. Procuremos, pois, entrar naquele repouso, para que
ninguém caia no mesmo exemplo de desobediência”, Hb 4.8-11.

Assim, o livro de Josué serve como um complemento ao relato do Êxodo,


esclarecendo como a nação israelita conquistou a terra que Deus havia
prometido, é um relato da grande obra de redenção da escravidão do
Egito, e um rico registro histórico do sucessor de Moisés e da geração
seguinte à da saída do cativeiro.

Esboço de Josué
De forma breve, o livro de Josué pode ser dividido conforme o avanço de
Israel na tomada da Terra Prometida. Dessa maneira, tem-se:

(1) Josué é ordenado (Js 1);


(2) as cidades de Jericó e Ai são tomadas (Js 2-8);
(3) a região Sul é a primeira área controlada (Js 9-10),
seguida do Norte (Js 11);
(4) a morte de Josué é registrada (Js 23-24).

Em um breve parêntesis, são listadas as cidades derrotadas (Js 12). Após as


guerras, a terra é dividida entre as tribos (Js 13-22).

Panorama histórico e geográfico


Sendo plausível que Josué tenha entrado na terra de Canaã com cerca de
80 anos e que faleceu aos 110, temos que o período histórico coberto
pelo livro é de cerca de 30 anos.

2.2. JUÍZES

Introdução
O título do livro em hebraico ou português reflete a
atuação de líderes (militares ou de clãs) levantados
por Deus para livrar o Seu povo da opressão militar e
para resolver disputas entre os patrícios. Todas as
histórias do livro estão permeadas com um único
tema: a fidelidade de Deus em oposição à infidelidade
de seu povo. Ao mesmo tempo que pode ser
observado os firmes princípios da Justiça divina, o que
revela a sua misericórdia.

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Autoria
É certo que a tradição hebraica atribui a autoria do livro ao profeta
Samuel, que também teria escrito os livros homônimos. Aparentemente,
pode-se, de qualquer maneira, datar a sua escrita aos estágios iniciais da
monarquia israelita, anterior a conquista de Jebus (Jerusalém).

Panorama histórico e geográfico


O livro cobre cerca de 300 anos de história do povo hebreu, indo desde o
falecimento de Josué até a chegada de Eli, penúltimo juiz da terra. A área
geográfica coberta é a mesma do livro de Josué.

2.3. RUTE

Introdução
O título do livro em hebraico ou em português põe em ênfase o
personagem principal. Seu nome pode ser traduzido por amizade, o que,
aliás, parece refletir, de forma inconteste, um dos melhores atributos do
seu caráter. Ela era uma gentia, moabita. Sua sogra, Noemi, em uma época
de fome, migrou com seu esposo Elimeleque para Moabe, onde seus
filhos se casaram. Mais tarde, o marido e os filhos de Noemi morrem e é
deixada por todos, menos por sua nora.

O livro homenageia um personagem feminino, algo bastante inusitado na


cultura oriental da época. Ainda mais quando colocamos mais uma
informação essencial: foi a bondade de Noemi, sogra de Rute que
conquista sua fidelidade. Então, com exceção de Boaz, o livro tem como
principais personagens duas mulheres.

Outra informação essencial para a compreensão do fundo histórico que


permeia o livro, devemos observar, ainda que de forma incidental, a lei do
levirato aplicada. Primeiro, deve-se compreender que esta era uma prática
antiga, comum a muitas culturas orientais.

Autoria
É certo que a tradição hebraica atribui a autoria do livro ao profeta
Samuel, que também teria escrito os dois livros homônimos. Pode-se, de
qualquer maneira, datar a sua escrita aos estágios iniciais da monarquia
israelita, anterior a conquista de Jebus (Jerusalém).

Panorama histórico
O versículo 1 do capítulo revela, claramente, que a história se processa
durante o período dos juízes, sem, contudo, especificar o ano com
exatidão. Mas, é preciso observar que se a história foi escrita após a queda

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PA N O R A M A D O AT

2024
de Saul e a subida de Davi ao trono, o interesse do escritor seria registrar a
história da família real, escolhendo, entre tantas, uma das mais marcantes.

2.4. 1º e 2º SAMUEL

Introdução
O nome Samuel significa ouvido por Deus ou nome de Deus. Ora, dado o
contexto da história de seu nascimento, a primeira tradução parece ser
mais coerente.

Novamente, deparamo-nos com mais um livro que o título pode levar o


estudante menos avisado a assumir que revela sua autoria. Mas, antes de
tudo, o livro é muito mais uma homenagem ao ator principal do primeiro
livro do que uma declaração de autoria. Até porque, na versão da
Septuaginta, eles eram nomeados 1 e 2 Reinos ou Reis).
Todo o caos
Deve-se considerar, ainda, que toda a história do segundo livro acontece
após a morte de Samuel. Os estudiosos identificam, então, uma
relatado
confirmação da teoria da história Deuteronomística: o livro teria sido desaguou em um
composto, pelo menos na versão atual, por um conjunto de editores- sentimento
autores em um período próximo ou posterior ao exílio babilônico. nacional: a
necessidade de
Panorama histórico
um rei.
Tem-se, neste momento, que abandonar os aspectos espirituais que
permeiam a história dos livros de Samuel e concentrar, por pouco tempo, Compreendida a
nos aspectos sociais e econômicos vivenciados pelo povo, por duas conjuntura social,
situações: na primeira, Israel havia atravessado um período de intensa podemos,
turbulência social, com a sucessão de governos temporários, seguidos por finalmente,
longos períodos de anarquia; na segunda, pelo crescimento e até entender o
fortalecimento de nações inimigas, que invadiam constantemente a
nação, jogando-a, constantemente, em uma espiral de dificuldades
caminho que
econômicas. Assim, não havia propriamente uma nação israelita, mas um tomou o Senhor
grupo de tribos, que não tinha unidade religiosa ou instituição política para conduzir,
que favorecesse a coesão nacional. mais uma vez, a
história do seu
Claro que toda essa desunião civil era um claro reflexo do estado precário
povo.
da religiosidade nacional. A arca e o templo ficaram em Siló desde os
tempos de Josué até a morte de Eli, quando foi roubada pelos filisteus.
Sem esse importante item da identidade religiosa nacional, a situação
somente se degenerou. Todo o caos relatado desaguou em um
sentimento nacional: a necessidade de um rei. Compreendida a
conjuntura social, podemos, finalmente, entender o caminho que tomou
o Senhor para conduzir, mais uma vez, a história do seu povo.

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De igual maneira, a historicidade da ascensão de Davi ao trono de Israel é
amplamente ignorada em seus detalhes, restando, pelo menos para a
maioria dos leitores, uma vaga versão dos fatos. Algumas considerações
importantes: (1) Davi foi ungido como Rei por Samuel, ainda em sua
juventude, mas teve que aguardar por cerca de sete anos para assumir o
reinado sobre Judá, pois, (2) após a morte de Saul, os israelitas não
aceitaram imediatamente o governo de Davi, mas este foi ungido rei
sobre a casa de Judá primeiro e somente após mais sete anos após sobre
todo o reino. Durante todo este período, e até o homicídio de Isbosete
houve guerra entre as duas casas (casa de Saul — reino do Norte e casa de
Davi — reino do Sul). Portanto, entre a unção e o trono passaram-se cerca
de 14 anos.

2.5. 1º e 2º REIS

Introdução
O primeiro e o segundo livros dos Reis apresentam a história do povo de
Israel desde a morte de Davi até a libertação de Jeoaquim do cativeiro
babilônico. Como foi relatado na introdução aos livros de Samuel,
anteriormente todo o material contido em Samuel e Reis faziam parte de
uma única seção do Tanak. Na septuaginta eram conhecidos como 1º, 2º,
3º e 4º Reis ou Reinos. Mais tarde, foram divididos em Samuel e Reis.

Como os livros se encerram com a soltura de Joaquim após 37 anos de


cativeiro, podemos concluir que sua forma final foi obra de um judeu que
viveu durante o cativeiro da Babilônia, e parecem referendar a teoria das
fontes, pois cita textualmente que foi formado a partir dos seguintes
materiais: Atos de Salomão (1Re 14.29) e Crônicas dos Reis de Israel (1Re
14.19) e teriam, entre outros, os seguintes autores: Natã, Aías, Ido, o
vidente e Ido, o profeta, Semaías, Isaías e Jéu. O uso variado de fontes
explica a razão de serem relatados fatos que desabonam a conduta dos
soberanos, como Davi e Salomão.

O grande marco histórico dos livros dos Reis é a história da separação do


reino de Israel e a criação do reino dividido: Israel (ao Norte) e Judá (ao
Sul). Não podemos deixar de citar a construção do templo de Salomão e
as histórias de Elias e Eliseu.

2.6. 1º e 2º CRÔNICAS

Introdução
O livro em hebraico é chamado divrei-hayamim (as palavras dos dias). Ou
seja, os anais, as crônicas dos dias, segundo tradução dada por Jerônimo e
aceita pela Igreja. A forma final do livro de Crônicas foi alcançada cerca de
42
PA N O R A M A D O AT

2024
100 anos após a edição do livro dos Reis. Como outros livros da Bíblia, no
passado era um só volume. Antes de sequer analisarmos o panorama
histórico ou geográfico do livro, surge a pergunta: por que uma outra
versão da mesma história? Afinal de contas, a história dos Reis de Israel e
Judá já foi contada nos livros dos Reis (Samuel e Reis).

Devemos observar que o livro das Crônicas foi escrito entre os anos 500 e
450 a.C. (1Cr 3.21), logo no final do período do cativeiro babilônico. Assim,
o autor ou os autores, com as suas longas genealogias, procuram
preservar a pureza racial. Fato comum ao livro de Esdras, revelando as
preocupações da época (Ed 10.18): pureza racial e religiosa. Assim, são
omitidas o detalhamento das histórias dos reis e os oráculos proféticos,
pois o alvo do relato das Crônicas é encorajar o restolho que voltava do
cativeiro.

Autoria
O autor preferiu não se identificar, mas algumas pistas são dadas de sua
identidade. Primeiro, a época: ele, provavelmente, viveu na época do
retorno do exílio, pois cita o decreto de Ciro (2Cr 36.22,23). Outra pista
está na lista das genealogias de Davi: o autor cita duas gerações após
Zorobabel (1Cr 3.17-24), permitindo datar o livro próximo ao ano 500 a.C.

A tradição judaica indica Esdras como seu autor. Fato que é corroborado
pela análise literária do texto que mostra uma marcante identidade com o
livro homônimo do escriba (Ed 7.6): longas listas genealógicas, ênfase
sobre os aspectos ritualísticos da lei, revelando um grande apego pelas
tradições mosaicas. Além disso, os versículos finais do Crônicas (2Cr
36.22,23) repetem-se textualmente em Esdras (Ed 1.1-3a), que dão
indícios de que na antiguidade os dois livros fariam um único volume.

Exílio do Reino do Sul


Fica claro, na análise da história do povo judeu, que a mão do Senhor atua
sobre os povos determinando o seu destino através dos fatos sociais,
econômicos e históricos que permeiam a sua história. Desorganização
social, falta de recursos, perda do poderio militar, dívida externa
descontrolada, conduziram o reino de Judá ao cativeiro. Além da política
externa da Babilônia, que consistia em invasões e estabelecimentos de
reinos vassalos como base do estabelecimento do império. A semente da
invasão foi plantada pela ação imprudente de Ezequias (2Re 20.12-13)9.
Depois, escolha de estratégias políticas desencontradas e afastadas da
realidade levaram ao cativeiro (2Re 24.1-2 c/c 2Cr 36.11-20).

Mas sob o ponto de vista espiritual, a queda dos judeus se deve à


constante desobediência ao mandado do Senhor. Os governantes fizeram

43
PA N O R A M A D O AT

2024
o que era mau aos olhos do Senhor: idolatria e assassinato de pessoas
inocentes (2Re 21.10-16); práticas do mal (2Re 24.18-20); ouvidos
fechados à voz de Deus (Jr 3.13) e zombarias e desprezo para com os
profetas de Deus (ver 2Cr 36.15-17). Os profetas (Jr 9.14; 17.19-27; 22.1-5;
Ez 8.1-18) relatam atos de desonestidade, injustiças para com os pobres,
assassinatos, transgressões do Sábado, perseguições aos verdadeiros
profetas de Deus e cultos praticados ao deus sol. Privilégios concedidos
aos profetas que prometiam prosperidade, sem condenar
simultaneamente o pecado e a adoração a Baal.

Já o período do cativeiro, 70 anos (Jr 25.11) foi determinado pela


desobediência ao mandamento do ano sabático (2Cr 36.20-21 c/c Lv
25.2,8).

2.7. ESDRAS e NEEMIAS

Introdução
Esdras significa ajudador, nome mais do que apropriado ao personagem
que ajudou no restabelecimento do reino de Israel. Já Neemias significa
confortado por ou conforto de Deus. Nas Bíblias contemporâneas, os
livros de Esdras e Neemias são apresentados de forma separada. Mas,
existem evidências antigas que ambos eram uma unidade. Só após a
Idade Média, o Tanakh foi impresso com os livros separados, por isso, para
efeito de estudo, faremos uma análise conjunta.

Autoria
Conforme já afirmado anteriormente, a tradição aponta Esdras como o
autor deste conjunto de livros. Mesmo que se levem em considerações
que trechos de Neemias sejam redigidos na primeira pessoa (Ne 6.10), tal
fato é explicado pelo uso dos registros realizados pelo seu personagem,
talvez um diário.

Panorama histórico geográfico


Os livros de Crônicas, Esdras e Neemias abrangem os últimos eventos do
Antigo Testamento, cobrindo desde o estabelecimento da monarquia
judia até a época da obra realizada por Neemias, após o exílio babilônico.
Mais exatamente, a missão de Neemias em Jerusalém encontra-se
esclarecida em Ne 1.1 (o vigésimo ano de Artaxerxes I). Já localizar o livro
de Esdras na história é um pouco mais complexo.

De qualquer maneira, a data mais aceita poria os livros na exata sequência


histórica dos fatos (Esdras e, depois, Neemias). Assim, os eventos de
Esdras 10 teriam se sucedido no ano de 456 a.C. e 444 a. C., quando
Neemias chega à terra santa.

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PA N O R A M A D O AT

2024
Mesmo que não esteja clara a data dos eventos ocorridas em Esdras, o
livro se inicia com a informação do edito feito por Ciro (538 a.C.) que
determinou a reconstrução do templo. Somente um pequeno grupo,
anterior a Esdras, escolhe retornar à pátria destruída, juntamente com
Zorobabel (1Cr 3.19). O movimento inaugurado por Ciro era,
aparentemente, um gesto político que buscava a simpatia dos povos
oprimidos pela Babilônia. Porém, a razão para a reconstrução dos muros
de Jerusalém (um risco sob o ponto de vista de governo persa) parece
estar fundada na necessidade de estabelecer-se uma fortaleza no Oriente
Médio que pudesse impedir os avanços egípcios e gregos, bem como, no
ideário de que o império precisava de paz.

Outro aspecto que pode ser diretamente relacionado ao apoio persa no


estabelecimento de Israel pode ser explicado na forte influência que
determinados personagens judeus exerceram no governo: Daniel, Ester,
Mordecai, entre outros.

Pelo relato contido em Esdras e Neemias, houve vários decretos relativos a A Bíblia tem um
Jerusalém: o primeiro foi emitido por Ciro, em 538 a.C. (Ed 1.1). Anos
depois (520 a.C.), com Esdras já estabelecido na Terra Santa, por causa da
propósito
oposição, Dario I confirma o primeiro decreto (Ed 6.1,2). Já em 457 a.C., kerigmático, isto
Artaxerxes I emite novo decreto, permitindo a realização das cerimônias é, foi escrita
religiosas em Jerusalém (Ed 7.11-13). Mas, finalmente, em 445 a.C., o
com o propósito
mesmo Artaxerxes I determina que Neemias retorne à cidade para
reedificar e restaurar não somente o Templo, mas a cidade (Ne 2.5,7-8). de revelar a
Deus para o
2.8. ESTER homem.
Introdução
O título do livro deriva do nome do seu personagem principal. A origem
do nome Ester ainda é debatida. Alguns entendem que sua origem está na
palavra persa traduzida por estrela, significado apoiado no Talmude11;
outros, que deriva do nome da deusa Ishtar. No entanto, em hebraico, o
seu nome, Hadassa filha de Abigail, significa mirta, um arbusto originado
do norte da África, com folhas conhecidas por exalarem um cheiro
agradável quando são esmagadas. É o segundo livro da Bíblia Sagrada
que recebe o nome de uma mulher.

É um livro bastante incomum dentro do cânon sagrado. A Bíblia tem um


propósito kerigmático, isto é, foi escrita com o propósito de revelar a Deus
para o homem. Em Ester, entretanto, o nome de Deus não é sequer citado.
Por essa razão, o texto apócrifo de Ester inclui 6 capítulos (cerca de 100
versículos), para incluir o nome de Deus.

45
PA N O R A M A D O AT

2024
Os objetivos mais aparentes do livro são, em primeiro lugar, relatar a
origem da festa de Purim, comemorada no mês A ֲ dar, primeiro mês do
calendário civil judaico, entre os meses de fevereiro e março, e encorajar
os judeus a crerem na intervenção e o cuidado do Senhor, mesmo quando
ele parece estar ausente, nele é dado testemunho da infinita fidelidade de
Deus aos concertos assumidos, mesmo quando seu nome não é posto no
destaque merecido. Convém lembrar a palavra do apóstolo Paulo: “Pois
sabemos que todas as coisas trabalham juntas para o bem daqueles que
amam a Deus, daqueles a quem ele chamou de acordo com o seu plano”
ou “Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que
o amam, dos que foram chamados de acordo com o seu propósito”, Rm
8.28.

Autoria
O livro, na linha dos demais históricos, não revela o nome e tampouco dá
indícios de autoria. A tradição judaico-cristã aponta Mordecai, como o
mais provável autor, e, opcionalmente, Esdras e Neemias.

Fundo histórico
A história relatada no livro ocorre entre os anos 483 e 473 a.C., durante o
reinado de Assuero, conhecido na história como Xerxes ou Artaxerxes I.
Cronologicamente, os eventos se processam entre os capítulos 6 e 7 de
Esdras.

De forma breve, o livro de Ester pode assim ser dividido:

(1) A festa do rei Xerxes (Assuero);

(2) A festa de Ester;

(3) A festa de Purim.

46
62ª ESCOLA BÍBLICA
DE OBREIROS

3
HERMENÊUTICA

PR JOSÉ LOPES
SUMÁRIO
HERMENÊUTICA

Introdução

I - DEFINIÇÃO DE HERMENÊUTICA

1.1. EXEGESE
1.2. A HERMENÊUTICA E A EXEGESE

II - AS TRADUÇÕES E AS VERSÕES - DOS PRIMÓRDIOS AOS DIAS


ATUAIS

2.1. A VULGATA LATINA


2.2. A FORMAÇÃO DA LÍNGUA INGLESA
2.3. TRADUÇÕES INICIAIS
2.4. VERSÕES MODERNAS
2.5. A TRADUÇÃO DA BÍBLIA PARA O PORTUGUÊS

III - QUESTÕES HERMENÊUTICAS ENVOLVIDAS NA TRADUÇÃO

3.1. NÃO HÁ CORRESPONDÊNCIA DIRETA ENTRE IDIOMAS


3.2. OUTRAS QUESTÕES ENVOLVIDAS NA TRADUÇÃO

PR. JOSÉ LOPES

Doutorando em Psicologia na Universidade de São Paulo – USP; Mestre


em Ciência da Religião – PUC/SP; Bacharel em Psicologia e Teologia.

Docente do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul –


UNICSUL/SP. Possui estágio de pesquisa e investigação doutoral na
Universidade de Coimbra (Portugal). Escritor e Palestrante.

03 48
HERMENÊUTICA

2024
1. DEFINIÇÃO DE HERMENÊUTICA

Hermenêutica é um termo grego que vem da palavra grega " ρμηνε ω"
(erminévo), significando naturalmente interpretação. No contexto da
Bíblia, a palavra hermenêutica adquire algumas acepções importantes. Em
1 Coríntios 14.13, por exemplo, "Por isso, o que fala em língua
desconhecida, ore para que a possa interpretar." utiliza o termo grego
"διερμηνε ω" (6X) (dierminévo), que se traduz como "através da
interpretação". Aqui, hermenêutica carrega o sentido de interpretar,
derivado do verbo grego " ρμηνε ω" (4X).

Em Lucas 24.27, encontramos o termo grego "διηρμ νευεν"


(diirminéven), que significa "E, começando por Moisés, e por todos os
profetas, explicava-lhes o que dele se achava em todas as Escrituras." Em
Marcos 5.40, utiliza-se a palavra "μεθερμηνευ μενον"
(metherminévomenon) quando Marcos explica uma palavra em aramaico,
como no caso de Jesus dizendo "Talita" (menina) Kumi (levanta-te). Neste
contexto, "metherminévomenon" significa tradução. Assim, no Novo
Testamento, hermenêutica abrange os significados de interpretar, traduzir
e explicar.

Na teologia bíblica, hermenêutica é a ciência da teologia exegética que


ensina técnicas e regras para interpretar corretamente a Escritura. A
hermenêutica visa normatizar a interpretação por meio de regras para
garantir uma interpretação confiável.

A hermenêutica é a técnica, e a exegese é o resultado


prático.

Qual a raiz da palavra? Hermenêutica é uma referência a


um deus da mitologia grega, Hermes. Quem é Hermes?
Hermes é o fruto da união entre dois deuses, Zeus e Maia.
Diferentemente dos outros deuses, Hermes cresce
rapidamente, mas é travesso. Um dia, ele rouba duas vacas
de Apolo e é pego. Levado à reunião suprema dos deuses
no Olimpo, Hermes faz um acordo para nunca falar uma
mentira como punição. Zeus o designa como agente para
a comunicação dos deuses com os humanos,
especialmente para comunicar a morte aos moribundos. A
natureza comunicativa de Hermes é considerada uma
possível origem da terminologia hermenêutica.

Raiz desta palavra é: “ ρ ω” éréo, que significa: pronunciar, falar dizer.


Essa raiz aparece 71 vezes no Novo Testamento Grego.
49
HERMENÊUTICA

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1.1. EXEGESE

A palavra grega "exegese" origina-se da junção da preposição "ex",


indicando movimento de dentro para fora, e do verbo "hegeomai"
( γ ομαι), significando "eu conduzo" ou "eu guio". Portanto, "exegese"
literalmente significa "eu conduzo para fora".

Historicamente, no contexto da interpretação bíblica e textual, "exegese"


associa-se à tarefa de explicar ou interpretar um texto, destacando o
significado original e profundo das palavras. Na teologia e nos estudos
bíblicos, a exegese é frequentemente utilizada para compreender o
contexto cultural, histórico e linguístico dos escritos sagrados, buscando
uma interpretação mais precisa. Essa abordagem visa extrair o significado
original do texto, considerando o contexto em que foi escrito e as nuances
linguísticas da época, sendo essencial para uma compreensão mais
profunda e precisa das Escrituras e de outros textos antigos.

Platão, o filósofo grego que viveu por volta de 428-347 a.C., é creditado
por ter introduzido pela primeira vez o termo “hermenêutica”
(hermenetike) como um conceito técnico.

No ano de 1567, Flácio Ilírico introduziu a hermenêutica como uma


disciplina científica, marcando o nascimento formal da hermenêutica
como ciência.

1.2. A HERMENÊUTICA E A EXEGESE

A hermenêutica e a exegese, embora intimamente relacionadas, são


distintas em sua abordagem e finalidade. Nos compêndios clássicos de
interpretação bíblica, a hermenêutica é definida como a
disciplina que estuda e sistematiza a teoria da interpretação
das Escrituras, visando compreender o significado
pretendido pelo autor para os leitores originais. Nesse
sentido, a exegese é a prática concreta desses princípios e
técnicas estabelecidos pela hermenêutica.

No entanto, em tempos mais recentes, a exegese assumiu o


papel de descobrir o significado original pretendido pelo
autor e compreender como os leitores originais teriam
entendido a mensagem. Isso resultou na hermenêutica
assumindo o papel de contextualização contemporânea, ou
seja, explicar a relevância da mensagem para os leitores
modernos em seus contextos específicos.

50
HERMENÊUTICA

2024
No âmbito deste estudo, entretanto, o foco será principalmente no
primeiro caso. Neste contexto da hermenêutica sagrada, são
sistematizados princípios e técnicas que ajudam a compreender o
significado original do texto bíblico, com a exegese servindo como a
aplicação prática desses princípios e técnicas. A relação entre
hermenêutica e exegese pode ser comparada à relação entre teoria e
prática, em que ambas desempenham papéis complementares.

Unindo teoria e prática, a hermenêutica e a exegese abrem caminho para


a aplicação prática do texto bíblico. Uma vez que a mensagem é
compreendida, o próximo passo é descobrir de que maneira ela pode ser
aplicada atualmente e em contextos contemporâneos.

2. AS TRADUÇÕES E AS VERSÕES - DOS PRIMÓRDIOS AOS DIAS


ATUAIS

2.1. A VULGATA LATINA

A Vulgata Latina, também conhecida simplesmente como Vulgata, é uma


tradução da Bíblia para o latim que se tornou a versão padrão da Escritura
para a Igreja Católica Romana por muitos séculos. A história da Vulgata
Latina está associada ao trabalho de São Jerônimo, um erudito cristão e
tradutor que viveu no final do século IV e início do século V.

A encomenda para criar a Vulgata ocorreu no final do século IV, quando o


Papa Dâmaso I pediu a São Jerônimo que revisasse as traduções latinas
existentes da Bíblia. Jerônimo começou a trabalhar na Vulgata por volta
do ano 382 d.C. em Belém, onde viveu em um mosteiro. Ele não apenas
revisou as traduções existentes, mas também consultou manuscritos
hebraicos e gregos originais para produzir uma tradução mais precisa.

O termo "Vulgata" deriva do latim "vulgatus", que significa "comum" ou


"divulgado". A intenção de Jerônimo era criar uma versão da Bíblia em
latim que pudesse ser compreendida pelo povo comum da época. A
Vulgata se tornou a versão padrão da Bíblia para a Igreja Católica Romana
e desempenhou um papel crucial na disseminação do Cristianismo na
Idade Média.

A Vulgata Latina foi declarada a versão autêntica da Bíblia pela Igreja


Católica no Concílio de Trento (1545-1563). No entanto, com o passar do
tempo e o desenvolvimento dos estudos bíblicos, a Vulgata foi perdendo
sua posição central, especialmente com a redescoberta e aprimoramento
do estudo das línguas originais da Bíblia, como o hebraico e o grego.

51
HERMENÊUTICA

2024
Hoje em dia, a Vulgata Latina continua sendo uma parte importante da
tradição católica, mas muitas traduções modernas da Bíblia baseiam-se
nos manuscritos originais hebraicos e gregos, em vez de dependerem
exclusivamente da Vulgata.

2.2. A FORMAÇÃO DA LÍNGUA INGLESA.

i. Dialeto Anglo-Saxão. O dialeto Anglo-Saxão teve início no século V


como uma amalgamação de idiomas. Às vezes referido como Antigo
Inglês, tornou-se o dialeto comum da Inglaterra.

ii. Influência Francesa. No século XI, Guilherme, o Conquistador, da França,


conquistou a Inglaterra e trouxe uma influência francesa, que
eventualmente se tornou a língua inglesa.

2.3. TRADUÇÕES INICIAIS

A Vulgata Latina era a Bíblia da igreja a partir do século V, mas a maioria


das pessoas na Inglaterra não sabia ler nem escrever. As histórias bíblicas
eram aprendidas por meio da arte, como pinturas, vitrais e trovadores
itinerantes que contavam histórias por meio de canções.

i. John Wycliffe. John Wycliffe traduziu a 1ª Bíblia para o idioma inglês a


partir da Vulgata Latina em 1382. Ele foi um reformador pré-
Lutero/Calvino. Essa tradução ocorreu antes da invenção da prensa e,
portanto, foi manuscrita. Essa tradução levou a críticas ao clero, pois as
pessoas começaram a ler a Bíblia pela primeira vez e reconheceram
discrepâncias no caráter e nas práticas dos líderes religiosos. Em resposta,
houve uma "repressão" ao uso de traduções na linguagem comum. Em
1414, tornou-se um crime capital ser pego lendo a Bíblia em inglês.

ii. William Tyndale Em 1526, William Tyndale publicou a 1ª Bíblia em inglês


traduzida a partir de textos em grego e hebraico. Foi impressa na
Alemanha devido à oposição de Henrique VIII na Inglaterra.

Esta foi uma excelente tradução que serviu de base para a maioria das
traduções em inglês que se seguiram, incluindo a KJV. Tyndale foi
sequestrado por seguidores do Rei Henrique VIII e queimado na fogueira
fora de Bruxelas em 1536.

iii. Miles Coverdale. Coverdale foi discípulo de Tyndale e imprimiu a 1ª


Bíblia em inglês completa. Ele foi a primeira pessoa a separar os Apócrifos
do restante do Antigo Testamento.

52
HERMENÊUTICA

2024
Anteriormente, esses livros estavam intercalados com os livros do Antigo
Testamento em hebraico original. A Bíblia de Coverdale foi também a
primeira a usar versificação. Traduções anteriores dividiam os livros em
capítulos, mas não em versículos.

iv. Thomas Matthew (John Rogers) John Rogers foi outro seguidor de
Tyndale que publicou a Bíblia Matthew em 1537. Ele também foi
martirizado depois que sua verdadeira identidade foi descoberta.

v. Richard Taverner. A Bíblia de Taverner foi publicada em 1539 com a


aprovação do Rei Henrique VIII. Esta foi amplamente uma revisão da Bíblia
de Matthew. Henrique VIII tornou-se apoiador dos reformadores devido
ao seu desejo de divórcio. Na época de sua morte, em 1545, a Inglaterra
havia se tornado uma sociedade predominantemente protestante.

vi. A Grande Bíblia. Publicada em 1539, esta Bíblia recebeu esse nome
devido ao seu tamanho. Foi a primeira Bíblia autorizada (autorizada por
Henrique VIII). Esta Bíblia buscou ser mais aceitável para o clero católico
romano ao voltar à ordem tradicional dos livros do Novo Testamento.

vii. A Bíblia de Genebra. Publicada em Genebra, esta Bíblia era muito


calvinista (como evidenciado nas notas marginais substanciais) e foi a
tradução popular durante o reinado da Rainha Elizabeth.

viii. A Bíblia dos Bispos. A Bíblia dos Bispos foi autorizada pela Igreja da
Inglaterra e publicada em 1568. Foi o resultado da rejeição da Bíblia de
Genebra pelos Bispos na Inglaterra.

ix. A Versão Rei Tiago Em 1604, o Rei Tiago I ordenou uma


nova tradução oficial sem notas de rodapé, a ser compilada
pelos principais estudiosos da Inglaterra. A KJV foi
publicada em 1611 e tornou-se uma das maiores traduções
na língua inglesa, superando todas as traduções anteriores.
Nota interessante: quase 90% desta tradução tinha raízes
em Tyndale.

x. A Versão Douay-Rheims. Esta versão foi um resultado


direto do Concílio de Trento. Na tentativa de satisfazer os
católicos romanos que falavam inglês, foi derivada da
Vulgata Latina em vez dos textos originais em
hebraico/grego. Segundo o Concílio de Trento, a Vulgata
Latina foi considerada a autoridade final. Essa não é mais a
posição dos estudiosos católicos romanos.

53
HERMENÊUTICA

2024
2.4. VERSÕES MODERNAS

Ao longo dos anos, o número de novas traduções aumentou


drasticamente. Traduções existentes estão constantemente sendo
revisadas com pequenas atualizações, geralmente resultando em
mudanças graduais e menos dramáticas.

2.5. A TRADUÇÃO DA BÍBLIA PARA O PORTUGUÊS

É uma história fascinante que abrange vários séculos. Aqui estão alguns
marcos importantes:

i. Primeiras Traduções: As primeiras traduções da Bíblia para o português


datam do século XIII. A mais antiga conhecida é o "Testamento de Afonso
X", uma tradução parcial do Antigo Testamento feita no século XIII. No
entanto, o trabalho de tradução da Bíblia para o português foi
inicialmente limitado e muitas vezes feito por clérigos para uso litúrgico.

ii. Tradução de João Ferreira de Almeida: A tradução mais influente e


conhecida da Bíblia para o português é a de João Ferreira de Almeida. Ele,
um cristão de origem portuguesa nascido em 1628, converteu-se ao
protestantismo e dedicou-se à tradução da Bíblia para o português.
Almeida começou seu trabalho no Novo Testamento, e a primeira edição
foi publicada em 1681. Posteriormente, ele também traduziu o Antigo
Testamento, mas não conseguiu concluir a tradução antes de sua morte
em 1691. O trabalho foi concluído por outros e publicado em 1753.

iii. Revisões e Outras Traduções: Ao longo dos séculos, houve várias


revisões e novas traduções da Bíblia para o português. Algumas delas
foram feitas por organizações cristãs, enquanto outras foram
empreendidas por indivíduos ou grupos específicos.

3. QUESTÕES HERMENÊUTICAS ENVOLVIDAS NA TRADUÇÃO

3.1. NÃO HÁ CORRESPONDÊNCIA DIRETA ENTRE IDIOMAS

De acordo com C.H. Dodd, o primeiro axioma da tradução é: Não existe tal
coisa como um equivalente exato de palavras ao passar de um idioma
para outro. Diferentes idiomas, assim como diferentes culturas,
apresentam problemas para os tradutores. Por exemplo, em Mateus 1:18,
Maria é dita estar prometida a José. Mais tarde, no versículo 24, Maria é
referida como sua esposa. Naquela cultura, um noivado era legalmente
vinculativo e exigia um divórcio para ser rompido. Nossa cultura tem uma
compreensão completamente diferente de um noivado.
54
HERMENÊUTICA

2024
Uma boa tradução deve:

i. Basear-se nos melhores manuscritos. Geralmente, manuscritos datando


mais próximo da escrita original são preferidos, simplesmente com
relação à probabilidade de erros de cópia. Tyndale e tradutores
posteriores para a Bíblia de Genebra e a King James Bible usaram um
Novo Testamento grego publicado por Erasmo de Roterdã no século XVI.
Erasmo usou os melhores manuscritos gregos disponíveis na época.
Posteriormente, milhares de manuscritos gregos do NT, datando de
séculos anteriores, foram descobertos. Assim, as traduções modernas têm
a vantagem de usar esses manuscritos.

ii. Basear-se no conhecimento mais recente da língua e cultura. Por


exemplo, a poesia bíblica não foi reconhecida ou compreendida até o
século XVII.

iii. Ser precisa. Liberdades tomadas pelos tradutores podem levar a


imprecisões. Existem também exemplos em que as traduções foram
cuidadosamente feitas, mas erros foram introduzidos inadvertidamente
na impressão.

iv. Ser compreensível. Algumas traduções podem ser precisas em sua


equivalência formal de palavras, mas as frases resultantes podem ser
difíceis de entender.

v. Ser contemporânea. Significados de palavras/termos tendem a evoluir


ao longo do tempo. Isso é especialmente verdadeiro nos tempos
modernos, onde os significados das palavras podem mudar ao longo de
um período relativamente curto. Isso resultará na necessidade de
traduções novas ou revisadas com mais frequência.

vi. Ser universal. Algumas traduções têm como alvo grupos específicos.
Isso se torna problemático e pode levar a interpretações equivocadas
quando outros grupos são expostos a ela. Comitês de tradução devem ser
diversificados para ajudar a minimizar esse problema.

vii. Ser digna. Uma tradução deve ser precisa, mas evitar ser
desnecessariamente áspera ou grosseira.

viii. Evitar viés teológico. Isso é difícil de fazer, mas, mesmo assim, deve ser
um objetivo na tradução. Algumas traduções são flagrantemente
tendenciosas. Por exemplo, A Tradução do Novo Mundo é a Bíblia oficial
das Testemunhas de Jeová. Essa tradução faz grandes esforços para
reescrever ou evitar referências à divindade de Cristo.

55
HERMENÊUTICA

2024
3.2. OUTRAS QUESTÕES ENVOLVIDAS NA TRADUÇÃO

a. Necessidade de Novas Traduções. Nenhuma tradução pode ser a


última, devido à natureza em constante evolução da linguagem.
Mudanças no significado das palavras ocorrem ainda mais
frequentemente hoje do que nunca.

b. O que significa ser "sem erro"? A inerrância refere-se ao que os autores


originais pretendiam com suas palavras. Uma tradução é livre de erros na
medida em que os tradutores reproduziram fielmente o que os autores
originais pretendiam.

c. Filosofia de Tradução
i. Palavra por palavra. Uma tradução palavra por palavra busca encontrar o
equivalente mais próximo em português, palavra por palavra. A Grande
Bíblia de Tyndale, a KJV, a RSV e a NAS seriam todas consideradas
traduções palavra por palavra.

ii. Pensamento por pensamento. Em uma tradução pensamento por


pensamento, o objetivo é reproduzir o que o autor estava expressando,
em vez de simplesmente encontrar a palavra mais próxima equivalente.
Exemplos de traduções pensamento por pensamento incluem a NIV e a
Revised English Bible.

d. Preferência de Tradução. Traduções pensamento por pensamento são


preferíveis para a leitura de porções maiores das
Escrituras, com base na legibilidade e
compreensão. No entanto, para estudos mais
detalhados (por exemplo, análise literária e
comparações dos Evangelhos), é necessária uma
versão palavra por palavra.

e. Traduções Individuais vs. de Comitê. Traduções


de comitê são mais confiáveis pelo simples fato
de que um grupo pode resistir às preferências ou
erros de um único indivíduo.

g. O Uso de Notas de Rodapé. Deve-se ter cautela


com relação às notas de rodapé, especialmente
em uma Bíblia de estudo. Muita importância pode
ser atribuída a um comentário simplesmente
porque "está na minha Bíblia". É bom lembrar que é a Escritura que é
infalível e não a opinião de alguém que acontece de estar incluída como
uma nota no rodapé da página.

56
62ª ESCOLA BÍBLICA
DE OBREIROS

4
QUALIFICAÇÃO
DO MINISTRO

PR MARTIM ALVES SILVA


SUMÁRIO
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Introdução

I - QUALIFICAÇÃO MINISTERIAL
1.1. Qualificação Geral
1.1.1. Irrepreensibilidade

II - QUALIFICAÇÕES FAMILIARES
1.2. Qualificações familiares
1.2.1. Marido de uma só mulher
1.2.2. Governar bem sua casa
1.2.3. Criar seus filhos sob disciplina, com toda a modéstia

III - QUALIFICAÇÕES PESSOAIS


3.1. Vigilância
3.2. Sobriedade
3.3. Honestidade
3.4. Não espancador
3.5. Não ser cobiçoso de torpe ganância
3.6. Moderado

IV - QUALIFICAÇÕES SOCIAIS
4.1. Deve ser Hospitaleiro
4.2. Não dado ao vinho
4.3.Não contencioso
4.4. Não Avarento

V - QUALIFICAÇÕES ESPIRITUAIS
5.1.Não Neófito
5.2. Bom testemunho dos de fora
5.3. Deve ser Apto para ensinar
5.3.1. Ortopraxia
5.3.2. Ortodoxia
5.3.3. Didática

CONCLUSÃO

PR. Martin

Licenciado em Letras pela Fundação Universidade Regional do Rio Grande


do Norte – FURRN; Bacharel em Ciências Jurídicas E Sociais pela
Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN); Bacharelado em
Teologia pelo Seminário Teológico do Brasil em São Paulo/SP. Doutor
Honoris Causa pela Faculdade Teológica da Bahia e Doutor em Divindade
pela Faculdade Teológica da Bahia (1998).

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INTRODUÇÃO

Todos os seres humanos, por causa da graça de Deus, foram dotados de


habilidades intrínsecas, as quais se denominam dons naturais. O Criador
não é, diferentemente do que ensinam os deístas, um relojoeiro que nos
deixou entregues à própria sor te. Absolutamente. Deus é
maravilhosamente transcendente, mas, também, cuidadosamente
imanente e, no afã de ver o progresso do homem, o qual recebeu a missão
de povoar a terra e governá-la, deu dons naturais às suas criaturas mais
ilustres, os homens. Essas qualificações são inatas, tais como: inteligência,
criatividade, musicalidade, aptidão às artes, à escrita etc.. Paulo, nesse
diapasão, assevera: “Não que sejamos capazes, por nós, de pensar alguma
coisa, como de nós mesmos; mas a nossa capacidade vem de Deus” (2Co
3.5). Como seria maravilhoso se todos reconhecessem e fossem gratos ao
Senhor por Sua infinita graça e bondade... Haveria poucos arrogantes.

Por outro lado, para os indivíduos que entregaram suas vidas a Cristo, o
Espírito Santo os ornamentou com dons indispensáveis para o
desempenho de funções específicas na Sua obra, como Ele quis, por Sua
soberania. Jesus falou como o Espírito Santo administra essa distribuição:
de acordo com a capacidade de cada um, como está escrito: “E a um deu
cinco talentos, e a outro dois, e a outro um, a cada um segundo a sua
capacidade, e ausentou-se logo para longe” (Mt 25.15). Doutra banda,
olhando pelo prisma da parábola, observa-se que esses “talentos” não
pertencem a quem os recebem (ninguém pode administrá-los ao seu bel
prazer, ou renegá-los), mas devem ser usados prudente e diligentemente.
Os teólogos dividiram essas dádivas espirituais entregues aos cristãos em
três categorias: dons de serviço, dons espirituais e dons ministeriais. A
seguir, as relações mencionadas na Bíblia:

a) Dons do serviço cristão (Rm 12.6-8), que são dados para que haja
cuidado e crescimento da comunhão entre os irmãos, igualmente
chamados de "Dons da Graça": profecia (não deve ser confundido com as
manifestações proféticas veterotestamentárias, nem com o dom
espiritual (1 Co 12.10) ou tampouco com o dom ministerial homônimo (Ef
4.11), ministério, ensino, exortação, liberalidade, liderança, misericórdia.

b) Dons espirituais (1 Co 12.8-10), que são: palavra do conhecimento,


palavra da sabedoria, discernimento de espíritos, profecia, variedade de
línguas, interpretação de línguas, dom da fé: dons de curar, operação de
maravilhas.

c) Dons ministeriais (Ef. 4.11), são aqueles concedidos pelo Senhor para “o
aperfeiçoamento dos santos… para edificação do corpo de Cristo” (Ef

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4.12): apóstolo, profeta, evangelista, pastor, mestre. Para os fins deste
singelo estudo, reveste-se essa categoria na mais importante, haja vista
que nosso foco será a chamada divina para ser pastor (denominado
também, na Bíblia, como bispo, presbítero ou ancião).

Na seara dos dons ministeriais, visualiza-se que, desde o Antigo


Testamento, quando Deus estabeleceu o culto de maneira ritualística,
litúrgica, a partir da instituição do tabernáculo, no deserto, existem
responsabilidades ministeriais distintas na obra de Deus. Ali, no início de
tudo, as famílias dos levitas ficaram encarregadas por cada atividade,
visando o transporte e cuidado da tenda da congregação, como também
do culto em si. Todas as tarefas realizadas exigiam pureza e compromisso
espiritual dos obreiros. Ninguém podia fazer a obra de Deus de qualquer
jeito, sob pena de morrer. Dessa forma, os descendentes de Coate, Gérson
e Merari empenhavam-se naquilo que faziam, como, sobretudo,
adoradores.

No Novo Testamento, igualmente, Deus escolheu e chamou pessoas para


trabalharem no ministério do Filho, entretanto não o fez por
consanguinidade. O Senhor chamou para Si os que Ele quis, conforme
está escrito: “E subiu ao monte, e chamou para si os que ele quis; e vieram
a ele. E nomeou doze para que estivessem com ele e os mandasse a
pregar” (Mc 3.13,14). Como sabemos, Jesus passou a noite em oração e,
após, chamou seus obreiros, deixando o modelo para a igreja de todos os
tempos.

Como mencionado anteriormente, a Bíblia ensina que o Senhor assim


estabeleceu os dons ministeriais: “deu uns para apóstolos, e outros para
profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, (…)
para a obra do ministério” (Ef 4.11,12). Deus, com isso, estabelecia líderes
para levarem as pessoas a terem um contato vital com
Ele, como acontecia com o sacerdote na antiga Aliança.

1. QUALIFICAÇÃO MINISTERIAL

O apóstolo Paulo, com a inspiração do Céu, informou


quais as qualidades mínimas daqueles que são
pastores na Casa de Deus, as quais “abrangem a
conduta pessoal e o comportamento público, sobre as
quais a igreja não tem nenhuma autoridade, seja para
alterar, seja para ignorar. Levar em conta uma
qualificação inferior seria falsificar a palavra de Deus e
mostrar desrespeito à direta autoridade do Cabeça da
Igreja”1. Ei-las:

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“Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível,
marido de uma só mulher, vigilante, sóbrio, honesto,
hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho,
não espancador, não cobiçoso de torpe ganância,
mas moderado, não contencioso, não avarento; que
governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos
em sujeição, com toda modéstia (porque, se alguém
não sabe governar sua própria casa, terá cuidado da
igreja de Deus?); não neófito, para que,
ensoberbecendo-se, não cai na condenação do
diabo. Convém também que tenha bom testemunho
dos que estão de fora, para que não caiam em
afronta e no laço do diabo”
(1Tm 3.2-7).
Assim, por questões didático-pedagógicas, dividiremos as qualificações
estabelecidas pelo apóstolo Paulo em quatro partes:

1. Geral e Familiares, nas quais estão inseridas a necessidade de o obreiro


ser irrepreensível, não divorciado, que governe bem a sua casa e saiba
conduzir disciplinadamente seus filhos; 2. Pessoais, que são a necessidade
da vigilância, da sobriedade, honestidade, de não ser espancador
(violento) e não ganancioso, mas moderado; 3. Sociais: hospitaleiro, não
dado ao vinho, não contencioso e não avarento. E, 4. Espirituais: Não
neófito (maduro), de bom testemunho e apto para ensinar.

1.1. Qualificação Geral.


1.1.1. Irrepreensibilidade

A palavra utilizada por Paulo, traduzida por irrepreensível, é


“anepileptos”, do grego, que significa alguém que não pode ser
repreendido, não censurável. Essa expressão traz consigo um rigorismo 1. BRIDGES, James K..
acentuado: alguém que não tenha nódoa moral na sua vida, de conduta TRASK, Thomas E. (org).
ilibada, que não apresente margens para repreensão, que não tenha O Pastor Pentecostal. 1ª
falhas a serem apontadas, que seja correto com tudo e com todos, que ed., Rio de Janeiro:
CPAD, 1999, pp. 110,111.
não tenha implicações, seja inculpável, tenha um viver ético entre o povo,
sem manchas ou máculas e que não dê motivos de escândalo em nada.

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Paulo sabia muito bem que a reputação precede a pessoa, por isto esta
qualidade por ele apontada ressai imprescindível ao ministro, referência
de servo fiel ao Senhor na igreja, razão pela qual escrevendo aos coríntios,
ensina: “Antes subjugo o meu corpo, e o reduzo à servidão, para que,
pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira a ficar
reprovado“ (1Co 9.27) e, noutro lugar, arremata: “Não dando nós
escândalo em coisa alguma, para que o nosso ministério não seja
censurado; Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis
em tudo (2Co 6.3.4). Assim, a questão primordial que emerge é: somos
irrepreensíveis? Nosso padrão, diante da nossa família, da igreja e do
mundo, é de fidelidade total ao Senhor? Sabemos que Deus é fiel. Isso é
uma realidade. Mas nós, somos fiéis? Paulo diz que Deus o reputou por
fiel e, por isso, colocou-o no ministério (1Tm 1.12).
2. BRIDGES, James K..
TRASK, Thomas E. (org). 2. QUALIFICAÇÕES FAMILIARES
O Pastor Pentecostal. 1ª
ed., Rio de Janeiro:
2.1. Marido de uma só mulher
CPAD, 1999, pp. 110,111.

Há quem defenda que esse texto diz respeito a que o ministro não deveria
se envolver com poligamia. Será? A Bíblia não deixa suficientemente claro
que a poligamia é pecado e leva ao inferno? Por óbvio! Os melhores
exegetas da Bíblia compreendem, de maneira solar, que a orientação de
Paulo, neste caso, é que o divorciado não seja pastor. O teólogo
americano James K. Bridges, ao comentar esse versículo, afirma: “Os
líderes da igreja não deviam se divorciar e casar de novo. À medida que
nossa sociedade avança em seu declínio moral, a necessidade de
casamentos e famílias exemplares é cada vez
2
maior” . Sem dúvida, essa era a visão que o apóstolo
Paulo externava para o rebanho do Senhor, na
esteira da pureza familiar e social. Ora, sabe-se que
existem muitas dificuldades entre casais e famílias
no seio da igreja e, por tal razão, o pastor deve ser o
modelo para poder aconselhar os que estão
desajustados. Como alguém que não soube resolver
os seus problemas conjugais terá autoridade para
orientar uma família, bem como uma igreja?

O fato é que o padrão santo de Deus para o


casamento é que ele seja monogâmico (cada
parceiro deve ter apenas um cônjuge),
heterossexual (realizado entre homem e mulher),
monossomático (os cônjuges devem se tornar em uma só carne) e
indissolúvel (deve durar para sempre). Tudo que passar disso é de
procedência maligna!
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2.2. Governar bem sua casa

Na Bíblia, a cultura familiar era eminentemente patriarcal, ou seja, o pai


era o chefe da família. Isso estava na raiz da prática social (Gn 3.16). Não se
encontra, por outro lado, nenhuma referência bíblica de sociedade que
fosse matriarcal. O pai, assim, no Antigo Testamento tinha direitos de vida
e morte sobre os membros da sua família (Dt 21.11-21). Por outro lado, o
mais antigo ascendente paterno no clã familiar (avô, bisavô etc) detinha
autoridade sobre toda a descendência (Gn 9.25,27; 27.27-40; 48.15,20; 49)
e caso houvesse desobediência, a morte poderia ser o castigo (Dt 21.18).
Cabia, ainda, ao pai a instrução religiosa e secular dos membros da família
(Ex 12.12.26; Dt 6.20). No Novo Testamento, o princípio se manteve. O pai
continuou sendo o cabeça da família, devendo a esposa e os filhos serem
submissos a ele.

Apesar de tudo, o marido não é mais especial para o Eterno do que sua
esposa e filhos. O preço de sangue que Jesus pagou foi o mesmo por
todos. A diferença está na posição hierárquica que o Todo-Poderoso
colocou cada um na família. Ocorre que, caso não exista submissão na
família, não haverá família. Aliás, Jesus disse que uma casa dividida contra
si não subsistiria (Mc 3.25).

Sabemos que sem governo, sem hierarquia, não há ordem, não há


progresso, não há crescimento. O mandamento, assim, de Deus, para
aquele que assume posto relevante na obra de Deus, como pastor, é que
ele saiba administrar bem o seu lar, de maneira que a sua casa seja forte,
equilibrada e feliz.

Um pastor que tenha ao seu lado uma esposa triste e filhos infelizes,
jamais poderá ser considerado obreiro aprovado, pois deixou de cumprir
sua missão precípua: cuidar e salvar sua própria família (projeto cumprido,
com louvor, pelo patriarca Noé).

2.3. Criar seus filhos sob disciplina, com toda a modéstia

O último dos requisitos familiares, mas não menos importante, é o


cuidado com os filhos. No fim, Paulo utiliza-se de um elemento de retórica
para arrematar, concluindo o conselho: “Pois, se alguém não sabe
governar sua casa, como cuidará da igreja?”(1Tm 3.4,5 ARA).

A Bíblia diz que o pai deve exercer liderança sobre os filhos (Ex 20.12; Dt
21.18-21; Mt 15.4; 19.19; Mc 7.10; Ef 6.2) e que eles são como flechas nas
mãos do valente (Sl 127.4). Isso conduz a duas conclusões: 1) O pai precisa
ser valente para exercer a liderança, pois deverá deixar herança para seus
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filhos (Pv 13.22; 2Co 12.14) – e principalmente um bom nome, a maior
herança (Pv 22.1); também deverá ser valente para protegê-los (Lc 11.21),
para suprir suas necessidades materiais (Lc 11.11; 15.17), para cuidar nas
doenças (2Sm 13.5), bem como para interceder por eles e instruí-los no
caminho do Senhor (1Sm 1.27; Jó 1.5; Pv 22.6; Ef 6.4). 2) Em segundo lugar,
a liderança do “valente” deve ser capaz de “lançá-los” bem mais longe que
os pais foram, afinal de contas são como “flechas nas mãos do valente”,
que seguem adiante. As flechas sempre vão além do arqueiro, rumo a um
alvo que este não consegue alcançar. Isso fala sobre o futuro.

Entretanto, os pais não devem irritar os filhos (Cl 3.21), querendo que os
filhos realizem os projetos que os pais não conseguiram atingir, ou
exigindo condutas que não concretizaram. É de se observar, igualmente,
que a autoridade sobre os filhos deve ser exercida em amor, com
comedimento, sem humilhações… “com toda a modéstia”, como diz Paulo.
Na esteira deste mandamento, há outra recomendação imprescindível.
Está escrito: “E vós, pais, não provoqueis a ira a vossos filhos, mas criai-os
na doutrina e admoestação do Senhor” (grifo acrescido - Ef 6.4). A parte
final do versículo mostra pesar sobre os pais o sacerdócio do lar, ou seja,
os pais não podem ser um “barril de pólvora” na família, todavia como
sacerdotes devem ofertar uma educação de qualidade aos seus filhos,
baseada na palavra de Deus, e também possuem a obrigação de
repreender (admoestar) os desobedientes.

Neste quadrante, o Altíssimo fala sobre a necessidade de correção aos


filhos. Está escrito: “Além do que, tivemos nossos pais segundo a carne,
para nos corrigirem, e nós os reverenciamos...”. (Hb 12.9). Disciplinar,
então é um ato de amor e obediência à palavra de Deus.

Mas qual é o limite da disciplina dos pais? A correção do filho deve ser
correspondente ao erro... justa, portanto. A disciplina deve ser sentida,
porém não pode ferir, pois isso seria pecado do pai ou da mãe. O
mandamento de “amar ao próximo” alcança também os filhos.

Aqui, nesses três requisitos para o desempenho do ministério pastoral, vê-


se o radar indelével de Deus sobre a família do obreiro. E, então, surgem
algumas perguntas: como está nossa família? Nossa esposa se sente
amada, não apenas com palavras, mas também através das nossas
condutas cotidianas? Temos tempo para ouvi-la? Afinal, sabemos que a
boa comunicação entre os cônjuges é um elemento essencial para a
felicidade numa família. E nossos filhos, compartilham de nossa vida e
emoções, ou os tratamos como estranhos? Será que a igreja tem tomado
todo o tempo de lazer que deveria ser de nossa esposa e filhos?
Dedicamos, ao menos, um dia na semana, para dar atenção exclusiva e
especial à nossa família?
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3. QUALIFICAÇÕES PESSOAIS

3.1. Vigilância

Jesus sempre exortou os seus servos à vigilância. O ministro, com muito


mais razão, precisa ser vigilante em tudo. Não implica em cuidar bem de
tudo apenas em relação ao que está em sua volta, mas também quanto ao
rebanho do Senhor. Quem vigia está sempre atento, sempre pronto para
atender o que lhe for solicitado e a se antecipar aos perigos iminentes que
foram detectados na vigilância.

O ministro também precisa estar vigilante no que diz respeito ao


arrebatamento da igreja. Se o pastor não estiver atento, o rebanho pode
ser enganado. Os crentes do Antigo Testamento esperavam, com muita
expectativa, a chegada do Messias, promessa feita ao primeiro casal, aos
patriarcas e aos reis fiéis. O profeta Malaquias, 400 anos antes, ratificou
que nasceria “o sol da justiça” e salvação traria “debaixo das suas asas”
(4.2). No tempo em que o Senhor se manifestou a Israel, entretanto, foi
considerado um impostor pelos representantes do povo, os quais O
mataram.

Quase dois mil anos são passados, e aqui estamos nós, no Século XXI,
esperando novamente a vinda do Messias, mas será que daremos a Ele
uma “recepção” igual à dos judeus? Jesus perguntou se, quando voltasse,
encontraria fé na Terra (Lc 18.8). A advertência para que vigiemos para Sua
vinda é veemente na Bíblia: “E as coisas que vos digo digo-as a todos:
Vigiai” (Mc 13.37). Por isso, ao concluir o Apocalipse, o Senhor disse, três
vezes, “cedo venho” (22.7,10,20). Devemos ficar vigilantes, preparando a
Noiva do Cordeiro… esperando Jesus para hoje! Maranata!

3.2. Sobriedade

Sobriedade é qualidade daquele que é sóbrio, o qual possui


comportamento contido, equilibrado, não impulsivo, que pensa antes de
agir. Quem se é sóbrio caminha, pela vida com discrição, tendo o
autocontrole em tudo, temperança, para não dar escândalo em nada. Não
é deselegante, mal educado, com os outros, nem glutão, mexeriqueiro,
interesseiro.

A sobriedade habilita o ministro a guardar confidências, a evitar “contato


físico significativo” ou olhar lascivo para pessoas do sexo oposto, a não
usar os discípulos para atender aos próprios desejos, a reconhecer suas
próprias limitações, a cumprir os compromissos e responsabilidades, a ser
comunicativo (principalmente com os humildes) e, também a, como Jesus,
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usar as coisas e amar as pessoas, e nunca fazer o contrário. A sobriedade
de um ministro torna-o confiável ao ministério, ao rebanho, bem como às
pessoas do mundo. A Bíblia ainda recomenda: “Mas tu, sê sóbrio em tudo,
sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu ministério.”
(2Tm 4.5). Ou seja, o bom ministro do evangelho, em todas as coisas, em
todo o tempo, age com sobriedade.

3.3. Honestidade

Deus procura homens honestos, fiéis, para colocá-los em lugares de


decisão, destaque e influência. Foi assim com Moisés. O Eterno, em certo
episódio, afirmou que ele era fiel em toda a sua casa (Nm 12.7), ou seja, a
honestidade de Moisés (havia administrado muito dinheiro para a
construção do tabernáculo) era atestada no Céu, porém em Nm 20.14-21
narra-se que, ao Moisés fazer um pedido aos edomitas, eles não quiseram
sequer dialogar. Duvidaram da sua honestidade, boa fé, e, por isso,
arregimentaram um grande exercito para afugentar o povo de Israel para
longe de suas terras. Até quando o ministro anda em retidão, é honesto,
surgem críticas e, de maneira indevida, sua má fama pode se propagar,
inclusive para além dos limites do povo de Deus, como foi no caso de
Moisés.

A honestidade, integridade, sinceridade, pureza de propósitos, estavam


no coração de Moisés e era, certamente, o maior patrimônio do grande
legislador, entretanto homens maus questionaram esse vultoso bem
imaterial, quanto mais se sua índole fosse, de fato, ruim, cruel e traiçoeira?
O mundo é um ambiente cheio de perigos espirituais, morais e físicos, no
qual as pessoas, em regra, desconfiam de tudo. Nesse passo, muitas
vezes, surpresas, algumas delas desagradáveis, acometem o ministro de
Deus (quem não tem uma história de injustiça para contar?), porém o
servo do Altíssimo que age com honestidade, decorosamente,
decentemente, nobremente em todas as suas tratativas, que não lesa a
ninguém, é organizado em seus compromissos, respeitoso em seu
comportamento com todos, cumpridor de suas obrigações, fiel e leal,
verdadeiro e sincero, será honrado pelo Senhor.

Um grande jurista brasileiro, escreveu que, diante de tantas mazelas, “o


homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de
ser honesto”, mas não é assim com o ministro chamado pelo Senhor. Ele
permanece firme, com o coração cheio de esperança, confiando que o seu
Redentor, que é justo e fiel, está vivo! Com Jó aconteceu exatamente isso.
No primeiro versículo do seu livro, há informação sobre sua honestidade,
integridade, todavia, logo em seguida, são narrados inúmeros
sofrimentos seus; ele padece muito e é fortemente injuriado por seus
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melhores amigos… No fim da história, porém, todos sabemos, pois está
escrito: “E, depois disto, viveu Jó cento e quarenta anos; e viu a seus filhos
e aos filhos de seus filhos, até à quarta geração. Então, morreu Jó,
velho e farto de dias” (Jó 42.16,17). Ele suportou a injustiça, mas
em face de sua inocência, o Altíssimo restaurou sua honra e
reputação. Cedo ou tarde, a verdade triunfará na vida de quem é
ministro fiel.

3.4. Não espancador

A palavra espancador (gr. “plektes”) identifica a pessoa violenta,


encrenqueira, briguenta. Conhecemos alguém assim no
ministério? Bem, talvez ela não devesse estar entre nós! A índole
de quem é violento não se coaduna “com o reino do Filho do Seu
amor”, lugar espiritual onde habita a igreja (Cl 1.13). Na verdade,
“o líder deve ser um servo, mesmo quando é um governante ou
mestre (Mt 20.26,27). As palavras que se referem às diferentes
funções e posições de liderança implicam em servir em uma
abnegada dedicação, e nunca em poder ditatorial ou egoísta. Ele deve
amar as pessoas e aprender a conhecer seus seguidores individualmente,
além de estar pronto para lhes oferecer um adequado reconhecimento de
seu desenvolvimento e realizações (…) Acima de tudo, o líder deve ser um
3
homem cheio do Espírito Santo”.

As pessoas que são descontroladas emocionalmente, que atacam aqueles


que não lhe agradam, perseguem os desafetos, e não toleram os quem
agem ou pensam diferente dele, não se coadunam com o ministério
cristão, que é marcado pela longanimidade. Como Deus tem paciência
conosco, também devemos ser pacientes, como ensinou Paulo: ”Rogamo-
vos também, irmãos, que admoesteis os desordeiros, consoleis os de
pouco ânimo, sustenteis os fracos e sejais pacientes para com todos. Vede
que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui, sempre, o bem, tanto
uns para com os outros como para com todos” (1Ts 5.14,15).

3.5. Não ser cobiçoso de torpe ganância

O ministro do evangelho deve ter um caráter que glorifique a Deus, mas


3. PFEIFFER, Charles F.;
tal característica nunca será comprovada por uma profissão de fé escrita
VOS, Howard F.; REA,
ou oral, todavia pelo modo que se vive, — pelas escolhas e decisões da
John. Dicionário Wycliffe.
vida. Assim, o homem de Deus não deve ser movido pelo desejo de ganho Rio de Janeiro: CPAD,
ilícito, sentimento que envolveu o coração de Acã, Geazi, Ananias e Safira 2012, p. 1162.
— a isso denomina-se ganância! Esses personagens que usaram métodos
errados, mentiram, enganaram, para auferir vantagens indevidas, não
tiveram um final feliz.
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Não deve haver lugar no púlpito para os “cobiçosos de torpe ganância”,
ou seja, pessoas que, agindo com torpeza, levam os incautos a serem
contrários àquilo que é o certo, causando a inversão dos valores,
conduzindo-os a querer possuir tudo o que se admira, para si mesmos…
Esse desejo exagerado, desenfreado, de obter riquezas materiais é terreno
fértil para a atuação de Mamom.

3.6. Moderado

A palavra moderado (gr. “epieikes”) pode ser traduzido por equitativo,


suave, gentil. Paulo recomenda noutro lugar: “Seja a vossa equidade
notória a todos os homens” (Fl 4.5) em contraste, com a avareza, a cobiça
por torpe ganância, com o sentimento de violência, ressai como um
luzeiro a iluminar uma densa escuridão.

Por óbvio, o ministro pode e deve desejar dias melhores para ele próprio,
sua familia e para a igreja do Senhor, inclusive estimular seus ouvintes a
buscarem posições sociais destacadas, cujas remunerações sejam
maiores… Igualmente ressai importante que o pastor oriente ao povo de
Deus a agir com coragem, como fez Deus com Josué, mas sem nenhuma
ira no coração. Como regular tudo isso? A moderação, equidade,
amabilidade, gentileza. Esse ímpeto, em regra, abriga-se com mais
facilidades nas emoções dos mais jovens, por isso Paulo diz: ”Exorta
semelhantemente os jovens a que sejam moderados” (Tt 2.6). Entretanto,
a advertência pelo comedimento em todos os sentidos é regra que se
impõe a todos os que desejam integrar o santo ministério episcopal.

4 - QUALIFICAÇÕES SOCIAIS

4.1. Deve ser Hospitaleiro.

Esta qualidade, — hospitaleiro (gr.“ philoxenos”) faz alusão


à fraternidade, à prática do amor, e pode significar ser
gentil com estranhos, aquele que ama os estrangeiros, ou
mesmo aquele que é bondoso, acolhedor, gracioso,
a g r a d á v e l , s i m pá t i c o . Q u a n t a s c a r a c t e r í s t i c a s
indispensáveis para o ministro do evangelho!

A maneira como Jesus amou a todos que se chegavam a


Ele era incomparável, até mesmo com o traidor que lhe
vendeu… Como ser tão hospitaleiro assim? Só Jesus
consegue chegar a este nível, mas nós, seguindo suas
pisadas, devemos imitá-lo no tratamento com as pessoas.

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4.2. Não dado ao vinho

Há algumas práticas sociais que, embora absorvidas com relativa


naturalidade, para um ministro do evangelho não são admissíveis. Dentre
elas está a ingestão de bebida alcoólica. O que almeja o episcopado não
deve ser dado ao vinho, nem muito, nem pouco. Essa abstinência do
vinho faz-se necessária porque é mandamento bíblico (Pv 23.31 -
tradução VFL - ”Não seja tentado pelo vinho tinto que brilha no copo, que
se bebe suavemente”). Ademais, porque a bebida com teor alcoólico
causa embriaguez, e devemos nos abster de toda a aparência do mal (1Ts
5.22). Mister lembrar, também, o que Paulo escreveu aos coríntios: ”Mas
vede que essa liberdade não seja de alguma maneira escândalo para os
fracos (…). Ora, pecando assim contra os irmãos e ferindo a sua fraca
consciência, pecais contra Cristo. Pelo que, se o manjar escandalizar a
meu irmão, nunca mais comerei carne, para que meu irmão não se
escandalize” (1Co 8.9, 12,13).

Assim, o pastor não deve ingerir, em hipótese alguma, bebida alcoólica,


pois isso o desqualifica ao ministério episcopal. Há, ainda, outra
ponderação: por qual motivo ingerir algo que possa o prejudicar e causar
escândalo aos fracos? Para sentir prazer degustativo, ou para ficar menos
contido, com menos comedimento”? No fim, como diz Salomão: “o vinho
fará você ver coisas estranhas e dizer tolices” (Pv 23.33 - VFL). Há, nesse
passo, outra recomendação bíblica: “Não vos embriagueis com o vinho,
em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).

4.3.Não contencioso

Uma liderança conflitiva traz, em regra, muita perturbação


para o ministério, como também para a igreja. Somos
protestantes contra o pecado, não contra os
companheiros de ministério e a própria igreja. Para tanto,
faz-se necessário que, em primeiro lugar, o ministro
entenda sua missão, como aconteceu com João Batista.
Este é o primeiro requisito. Se Deus lhe colocou como
pastor auxiliar, então, certamente, Ele queria que você se
submetesse, em amor, voluntariamente, a outrem, afinal
Deus não cria lideranças sobrepostas. Ele é organizado.
Há, sempre, uma definição bastante clara. Assim, João
Batista não estava interessado em ter sucesso, mas em ser
obediente, pois compreendia que ele era apenas uma voz
e que Jesus era o Esperado das Nações. Metaxas Eric, forte
em Bonhoeffer, faz um paralelo entre o olhar de Deus
sobre o sucesso e a obediência:
69
Q UA L I F I C A Ç Ã O D O M I N I S T R O

2024
Deus não tem interesse no sucesso, mas na
obediência. Caso se obedeça a Deus e haja
disposição para sofrer derrotas e o que mais
surgir no caminho, Deus mostrará um tipo de
sucesso que o mundo não é capaz de imaginar.
Mas esse é o caminho estreito, e poucos iriam
atravessá-lo”4.
Diante do fato de João Batista ser obediente, e não visar o sucesso
humano, quando surgiram os primeiros sinais de ciúmes nos seus
discípulos, haja vista o crescimento do Ministério de Jesus, o maior profeta
do tempo da lei colocou "panos quentes": convém que eu diminua e ele
cresça. Aliás, João vaticinara anteriormente que não seria digno de,
sequer, desatar as correias das sandálias de Jesus. Como sofre menos
dramas emocionais aquele que é obediente!

4.4. Não Avarento

O amor ao dinheiro é um problema que remonta aos conflitos mais


antigos e profundos da humanidade. A isso é dado o nome de avareza (gr.
“aphilargyros”). A avareza colide frontalmente com a ação do Espírito
porque ela estimula a buscar a glória dos reinos deste mundo (aquela que
foi oferecida a Jesus, quando da tentação no deserto, pelo Diabo). Ajuntar
tesouros na Terra é o seu mote, mas o Senhor Jesus mandou que o
fizéssemos no Céu, daí o grande abismo conceitual entre o Reino de Deus
e o de Mamom. Em um mundo tão materialista este, talvez seja um dos
maiores desafios atuais de um ministro: servir a Deus altruisticamente.
Infelizmente, na atualidade, encontramos muitos ministros pouco
comprometidos, – amantes de si mesmos, sem nenhuma generosidade, e
sem afeição natural.

Paulo deixa claro que o avarento não tem parte no Reino de Deus, (Ef 5.5;
4. ERIC, Metaxas.
1Co 6.9,10), quanto mais no santo ministério. Aliás Jetro, o sogro de
“Bonhoeffer - Pastor,
Mártir, Profeta, Espião” Moisés, aconselhou que, para compor o corpo de “ministros” auxiliares,
(iBook), 1ª ed. eletrônica, seu genro escolhesse “homens capazes, tementes a Deus, homens de
São Paulo: Mundo verdade, que odeiem a avareza” (Ex 18.21). Observe-se que os auxiliares
Cristão, 2012, p. 323. de Moisés deveriam odiar (hb. sane'), de modo completo e absoluto, o
desejo de possuir desenfreadamente bens materiais.

Fato digno de destaque, nesta seara, no Novo Testamento, aconteceu


com Simão, o mágico de Samaria, o qual queria fazer parte do ministério

70
Q UA L I F I C A Ç Ã O D O M I N I S T R O

2024
da igreja primitiva, e, para tanto, ofereceu dinheiro aos apóstolos, ao que
Pedro lhe respondeu: “O teu dinheiro seja contigo para perdição, pois
cuidaste que o dom de Deus se alcança por dinheiro. Tu não tens parte
nem sorte nesta palavra, porque o teu coração não é reto diante de Deus”
(At 8.20,21). O ministro do evangelho deve ser um elo entre Deus e as
pessoas que lhe cercam ou que façam parte de seu convívio pessoal,
colocando sempre, em primeiro lugar, o Reino de Deus e sua justiça,
nunca o dinheiro. Se isso se der, – o dinheiro for a fonte de inspiração das
ações – o coração desse tal homem não será reto diante de Deus e,
portanto, não estará apto para o ministério.

5. QUALIFICAÇÕES ESPIRITUAIS

5.1.Não Neófito.

Permitam-me abordar essa qualificação de forma inversa (que


era o objetivo de Paulo): o obreiro deve ter maturidade cristã!
O neófito (gr. neophutos) denota alguém que não tem
maturidade cristã. Paulo está, aqui, orientando ao jovem
obreiro Timóteo que não se impressione como os arroubos de
quem é imaturo. J. Melvyn Ming, nesse passo, aduz que “essa
maturidade em Cristo é demonstrada pela “unidade da fé” é
pelo “conhecimento do Filho de Deus”. (…) O crente maduro
deve poder combinar “verdade” e “amor”… discernir a verdade
e detectar e evitar o erro”5. O rei Roboão, de Israel, porém,
imaturamente, na primeira crise política, não quis saber a
verdade, nem agir em amor, e, assim, preferiu ouvir os
conselhos de pessoas que não conheciam a Deus,
inexperientes, e o resultado foi o pior possível: a divisão do
reino. Como pessoas imaturas causam transtornos!

O fato inquestionável, na vida, e também no ministério, é que nada


substitui a experiência. Títulos acadêmicos, grande inteligência, boa
oratória, carisma… etc., tudo isso não se compara ao caminhar diário,
contínuo, por um longo caminho, com o Senhor Jesus, pois é nessa
estrada que conhecemos quem são realmente as pessoas, e os frutos que
eles produzem.
5. MING, J. Melvyn.
TRASK, Thomas E. (org).
Aliás, já foi dito que é possível alguém enganar a muitos, durante muito
O Pastor Pentecostal. 1ª
tempo, mas ninguém é capaz de enganar a todos, durante todo o tempo. ed., Rio de Janeiro:
Assim, vislumbra-se imperioso dar tempo e oportunidade para, os que CPAD, 1999, p. 461.
ingressam nas fileiras do exército cristão, demonstrarem suas qualidades
inerentes e, por isso, o neófito deve ser primeiramente testado e
aprovado para, só depois, entrar no ministério.
71
Q UA L I F I C A Ç Ã O D O M I N I S T R O

2024
Paulo assevera, ademais, que esse cuidado mostrava-se indispensável
para que esse crente imaturo, ao ser alçado precocemente aos lugares de
decisão da igreja, não viesse a ficar cheio de soberba, igual ao Diabo. A
ideia paulina, aqui, visa poupar a igreja de sérios danos pela ação
impulsiva, desmedida, inconsequente, de alguém que não teve sua
formação ministerial concluída. O próprio Jesus fez um curso intensivo
com seus discípulos por três anos e meio e, ainda assim, um deles o traiu
(Judas), outro o negou (Pedro), um terceiro não sabia que Ele e o Pai eram
Um (Filipe) e outro ainda era quase agnóstico (Tomé). Imaginem se Jesus
não os tivessem treinado... A verdade é que é melhor não ter obreiros, do
que obreiros mal formados.

5.2. Bom testemunho dos de fora

Quando Paulo instruía a igreja de Corinto, acerca do testemunho pessoal,


dizendo que os crentes são a carta lida de Cristo pelos homens (2Co.3.3),
tencionava lembrá-los de que não basta dizer que é um seguidor de
Cristo, mas demonstrar com atitudes de verdadeiros seguidores, tendo
uma vida pautada no que Cristo ensinou. O ministro deve ser alguém com
a mesma reputação de Eliseu: “Eis que tenho observado que este que
passa sempre por nós é um santo homem de Deus” (2 Rs 4.9). Jesus
determinou que as nossas obras fossem uma referência de Cristo num
mundo que vive em densas trevas: ”Assim resplandeça a vossa luz diante
dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso
Pai, que está nos céus” (Mt 5.16) e Paulo corroborou tal
afirmativa: ”Fazei todas as coisas sem murmurações nem
contendas; para que sejais irrepreensíveis e sinceros, filhos
de Deus inculpáveis no meio duma geração corrompida e
perversa, entre a qual resplandeceis como astros no mundo”
(Fl 2.14,15).

Inequivocamente, o bom testemunho, dentro e fora da


igreja, apresenta-se indispensável àqueles que vão ocupar
o altar e a tribuna santa. Se numa comunidade houver a
ascensão institucional eclesiástica de alguém que é
considerado como uma pessoa de mau caráter, que não
cumpre seus compromissos financeiros, não é fiel à sua
esposa, trata mal os vizinhos etc., o crescimento do
evangelho será negativamente impactado e os próprios
crentes vão sofrer e talvez, alguns fracos, podem até abandonar a fé. O
“Acusador-mor” de nossos irmãos não vai perder a oportunidade de
noticiar esses boatos (não precisa nem ser verdade), no afã de trazer
escândalo, maculando a reputação do bom nome do evangelho de Cristo.

72
Q UA L I F I C A Ç Ã O D O M I N I S T R O

2024
5.3. Deve ser Apto para ensinar

A aptidão para ensinar, um dos requisitos essenciais aos que almejam o


ministério episcopal, deriva de três condições: ortopraxia (1Co 9.27),
ortodoxia e didática (Rm 12.7).

5.3.1. Ortopraxia

Dessa forma, vislumbra-se que o ministro do evangelho precisa, em um


primeiro momento, viver irrepreensivelmente para poder ensinar a
palavra de Deus. O apóstolo Paulo, ao escrever aos coríntios, diz que
esmurrava o seu corpo e o reduzia à servidão para que, pregando ele a
outros, ele mesmo não ficasse envergonhado (1Co 9.27). Assim, ressai
como requisito mínimo, básico, elementar, para aqueles que almejam ser
líderes da igreja, viverem o evangelho em profundidade, para, assim,
poder ensinar a outros.

O apóstolo Paulo, ainda, demonstra a importância desse requisito ao


dizer para seu filho Timóteo, no outro lugar: “E o que de mim, entre
muitas testemunhas, ouviste, confia-o a homens fiéis, que sejam idôneos
para também ensinarem os outros” (2Tm 2.2). A ortopraxia, que também
pode ser traduzida como fidelidade, portanto, figura como elemento
essencial para que o bom cheiro do evangelho seja difundido por todos
os lugares e a obra de Deus floresça constantemente.

5.3.2. Ortodoxia

O apóstolo Paulo, escrevendo aos gálatas, ensinou que se alguém


trouxesse outro evangelho, ainda que se tratasse de um anjo, que fosse
considerado anátema. E, de fato, deparamo-nos em muitos púlpitos nos
dias atuais, com a pregação de um evangelho carnal, com enfoque
contundente na aquisição de bens materiais. Acerca disso, mister
transcrever a seguinte citação:

"O verdadeiro Cristo e a verdadeira fé bíblica estão


sendo rapidamente substituídos por altenativas
doentias, oferecidas por um grupo de mestres que
pertencem ao denominado"Movimento da Fé".
Este câncer vem sendo alimentado por uma constante
dieta que poderia ser chamada de"cristianismo das
refeições rápidas"- belas na aparência, mas fracas em
substância. Os provedores dessa dieta cancerígena têm
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Q UA L I F I C A Ç Ã O D O M I N I S T R O

2024
têm utilizado o poder das ondas de rádio e televisão,
bem como uma pletora de livros e fitas criteriosa e
agradavelmente embalados, a fim de atrair suas presas
para o jantar. E os desavisados têm sido chamados a
amar não o Mestre, mas aquele que está na mesa do
Mestre.
(…)
Para evitar esta crise, precisamos mudar nossa
percepção de Deus como um meio para se chegar a
um fim, reconhecendo que Ele é um fim em si mesmo.
Precisamos mudar a teologia baseada em perspectivas
temporais para uma teologia alicerçada sobre verdades
eternas”6.

Faz-se inevitável que, no altar do Senhor, a ortodoxia bíblica refulja como


o principal (e único) norte teórico para o viver cristão. Aquele que se
encontra apto para ensinar, dessa forma, deve ter a iluminação do seu
entendimento para trazer a mente e os corações dos filhos de Deus todo
o ensino vindo do Céu, e não desejarmos as “bolotas que os porcos
abominam”. A mistura da doutrina bíblica com precitos humanos traz
prejuízos nefastos, incalculáveis.

Neste passo, a lei mosaica preconizava: ”não semearás a tua vinha de


diferentes espécies de semente, para que se não profane o fruto da
semente que semeares e a novidade da vinha” (Dt 22.9), dando a
entender, para os nossos dias, sobre o cuidado que se deve ter de a
semente, que é a palavra de Deus, não ter mistura, – sem variedade de
sementes – quando plantada, para que não houvesse corrupção do fruto.
Por fim, o mesmo Moisés, em seu último discurso, faz menção —
repetindo o ensinamento — à necessidade da pureza doutrinária: “Goteje
a minha doutrina como a chuva, destile o meu dito como o orvalho, como
chuvisco sobre a erva e como gotas de água sobre a relva” (Dt 32.2).
6. HANEGRAAFF, Hank.
Cristianismo em Crise. 1ª
ed., Rio de Janeiro:
5.3.3. Didática
CPAD, 1996, pp. 14,15.
A Bíblia ensina que a pessoa que foi chamada para ensinar deve ter
dedicação (Rm 12.7). Assim, a dedicação ao ensino gera condições de ser
aplicada uma didática que funcione perfeitamente com o poder de
penetração da palavra de Deus, a qual se imiscui até “a divisão da alma e
do espírito, das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos
e as intenções do coração” (Hb 4.12).
74
Q UA L I F I C A Ç Ã O D O M I N I S T R O

2024
O Senhor Jesus, por exemplo, dedicava-se bastante ao ensino. Claro, ele
não precisava estudar as escrituras, pois ele é palavra encarnada, todavia
tinha momentos bastante acentuados de oração, às vezes, à noite inteira,
para sempre estar em comunhão constante com o Céu e, assim, quando
abrisse a sua boca, o dito do Senhor alcançasse as mentes e os corações e,
não por acaso, em certa ocasião, os soldados que foram enviados para
prendê-lo, voltaram sem nada fazer ao sacerdotes e justificaram sua
inércia, dizendo: nunca homem algum falou como Jesus (Jo 7.46). Seu
segredo, sem dúvida, era porque cumpria perfeitamente todos os
requisitos estabelecidos pelo Pai, dentre os quais, a oração.

Doutra banda, como ensinar é a arte de transmitir conhecimentos


adquiridos e, por conseguinte, só se ensina aquilo que um dia foi
aprendido, todo ministro deve buscar o conhecimento, de maneira
contumaz, sendo aluno assíduo da escola dominical, participar das
escolas bíblicas, fazer curso de teologia, quiçá especialização, mestrado,
doutorado, além de investir, igualmente, em conhecer profundamente o
idioma pátrio, as línguas originais em que as escrituras foram escritas e,
sendo possível, deve fazer investimento em sua formação secular,
notadamente em cursos superiores nas áreas de ciências humanas e
sociais, o que, inequivocamente, será bastante útil para o serviço do
Senhor. Fazendo isso, o ministro construirá, em cumprimento ao
mandamento bíblico da dedicação ao ensino - Rm 12.7, um curriculum
vitae que glorificará ao Altíssimo, qualificando-o para, a critério da sua
liderança maior, ser usado por Deus em qualquer tempo e lugar, seja qual
for o povo.

Na verdade, “a integridade e a fidelidade para com a tarefa do ensino são


enfaticamente ordenadas (Rm 12.7; 1 Tm 4.11,13,16), tanto em sua
preparação como em seu conteúdo (Tt 2.1,7; 2 Tm 4.2). Aqueles que
ensinam devem ser considerados dignos de duplicada honra e merecem
o apoio daqueles que são ensinados”7. Assim, seguindo todos esses
passos, em submissão, o ministro estará cumprindo o propósito de Deus:
“para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para
toda boa obra” (2Tm 3.17), estando apto a ensinar eficazmente, com
autoridade, aquilo que vive, crê e transmite.

CONCLUSÃO 7. PFEIFFER, Charles F.;


VOS, Howard F.; REA,
John. Dicionário Wycliffe.
Aquele que deseja participar do episcopado há que entender,
Rio de Janeiro: CPAD,
primeiramente, do alto padrão (não segundo os homens, mas segundo
2012, p. 649.
Deus) exigido para o desempenho dessa excelente atividade, e que a
capacidade vem de Deus. Não se trata, por óbvio, como dito, de uma
escolha com base em parâmetros humanos, todavia conforme a vontade

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Q UA L I F I C A Ç Ã O D O M I N I S T R O

2024
e os critérios do Altíssimo, que dá a capacitação e chama para o
ministério.

Observe-se que essas qualificações são sumamente importantes para um


pastor, porém elas, pelo menos não todas, apresentam-se inadequadas
para o serviço do mundo corporativo. As empresas, em regra, elegem
seus CEO's com bases bastante distintas, e isso se dá porque, obviamente,
como disse Jesus: “…o que entre os homens é elevado, perante Deus é
abominação” (Lc 16.15). Inegavelmente, a igreja precisa de
administradores, psicólogos, advogados, professores, arquitetos etc., mas
a chamada de Deus para a obra do ministério não inclui, necessariamente,
essas habilidades; por óbvio, também, tê-las não exclui a possibilidade de
a chamada acontecer, antes pelo contrário. Prova disso é que Deus
chamou o intelectual Saulo, de Tarso, e o pescador Pedro, filho de Simão,
para coordenarem, no nascedouro da igreja, a maior revolução moral,
social, cultural e espiritual de todos os tempos, denominada cristianismo.

No trabalho do Senhor, as qualidades devem ser mais rigorosas do que


em qualquer outro lugar, pois quem vai ocupar o ministério será também
um modelo de excelência a ser seguido pela membresia e congregados,
razão pela qual Paulo assevera: “Esta é uma palavra fiel: se alguém deseja
o episcopado, excelente obra deseja” (1Tm 3.1). Dessa maneira, se a obra
ressai-se como excelente, então os que a dirigem igualmente devem o ser,
padrão exigido por Deus a Abraão: “anda na minha presença e sê perfeito”
(Gn 17.1), e pelo Senhor Jesus: “sede vós perfeitos, como é perfeito vosso
Pai que está nos céus” (Mt 5.48).

76
SUMÁRIO
Te m a d o A n o e P r o s p e r i d a d e d a I g r e j a

AULA 1

TEMA DO ANO
2024 - TEMPO DE AMPLIAR A NOSSA
TENDA E FIRMAR BEM AS ESTACAS

AULA 2

UNIDADE PARA A PROSPERIDADE DA


IGREJA

JOSÉ WELLINGTON COSTA JUNIOR

José Wellington Costa Junior é Bacharel em Teologia e Analista de


Sistemas.
No Ministério serve como vice-presidente da Igreja Evangélica
Assembleia de Deus em São Paulo (IEADSP) – Ministério do Belém; 1º
vice-presidente da Convenção Fraternal das Assembleias de Deus no
Estado de São Paulo (CONFRADESP); há 27 anos está à frente da
Assembleia de Deus – Ministério do Belém – Setor 19 sediado na cidade
de Guarulhos/SP composto por 98 congregações, onde juntamente com
sua esposa, Lídia Dantas Costa que lidera o Departamento Feminino,
fundou a Associação Beneficente e Promocional Estrela da Manhã a
(ABEM).

Foi por 20 anos membros do Conselho Administrativo da Casa


Publicadora das Assembleias de Deus e por 14 anos presidente deste
mesmo conselho, até 09 de abril de 2017; Foi eleito presidente da CGADB
- Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB). Em 21 de
abril de 2021, foi reeleito Presidente da CGADB, por aclamação.

77
AU L A 1 - F I R M A R E S TAC A S

2024
Texto: Is 54.2
Fortalecer a Base da Igreja: At 6.1-7

· Existem mensagens ou ensinos, que parece, mais fáceis de serem


pregadas.
· Existem mensagens ou ensinos que, parece, mais facilmente aceitas
pelos ouvintes.
· Por conta disso: existem mensagens ou ensinos, necessários para Igreja
que são postergadas.
· São ensinamentos que se fazem necessários, que estão na Bíblia,
inseridos nos ensinos do Senhor Jesus.
· Outros ensinamentos, que são dos apóstolos, registrados claramente na
palavra de Deus, que também são importantes
· Quando falamos de crescimento ou expansão da Igreja é necessário que
ela tenha suporte para isso.
·A liderança em geral deve estar apta a acompanhar o crescimento ou
ampliação da Igreja.
· Para tanto é necessário ter ciência do que representa a Igreja:
· A primeira Igreja ou Igreja Primitiva, nos serve como base para falarmos a
respeito de crescimento. At 2.46,47
· Após a pregação do Apóstolo Pedro, no dia de Pentecostes, quase três
mil pessoas aceitaram a Jesus. At 4.4
· Após o milagre na porta do Templo, o Apóstolo Pedro pregou mais uma
vez e quase cinco mil pessoas aceitaram a Jesus.
· Algumas razões justificavam o crescimento da Igreja:

- Batismo no Espírito Santo,


- Coragem de Pedro para pregar a respeito de Jesus,
- Conhecimento da palavra de Deus
- Testemunho dos Milagres de Jesus, que presenciou,
- Falou da morte e ressurreição de Jesus,
- O milagre da cura do coxo, atribuído a Jesus,
- Perseveravam em união,
- Frequentavam o Templo diariamente,
- Havia alegria entre eles,
- Havia singeleza de coração entre eles,
- Comiam juntos,
- Louvavam a Deus,
- Tinham o mesmo sentimento,
- Eram amados pelo povo.

· Ao lermos os primeiros versículos do capítulo seis de Atos.


· Temos a ideia de como os apóstolos estavam envolvidos com a Igreja.
· Surge o primeiro desafio para os apóstolos.
78
AU L A 1 - F I R M A R E S TAC A S

2024
· De que maneira os apóstolos procuraram resolver?
· Quero destacar alguns detalhes para a nossa reflexão:
Nos versículos 3 e 4 está a solução:
· A Igreja não poderia parar de crescer:
A ministração da palavra é um dos motivos do crescimento da Igreja, em
todos os sentidos.
A escolha de pessoas capacitadas para exercerem cargos na Igreja, é outro
motivo.
· Todas as decisões tomadas pela direção da Igreja, devem resultar em
solução de paz e não de confusão.
· Numa Igreja onde prevalece a paz, a tendencia é crescer.
· Vamos falar um pouco a respeito da escolha de pessoas capacitadas para
servirem na Igreja.
· Vamos enumerar os critérios de acordo com o texto.
· Se queremos prosperar temos de solidificar a nossa base, observando
pontos importantes.
· Isso só é possível quando priorizarmos a oração e a
ministração da palavra.
· A Igreja primitiva passou por alguns desafios
· No livro de Atos 6.1-7 temos exemplos de uma solução
que impediu a ação do inimigo da Igreja.
· A Igreja precisa de líderes e obreiros não somente
capacitados e sim comprometidos com a sua chamada.

79
AU L A 2 - P R O S P E R I DA D E DA I G R E JA

2024
Texto: Ne 2.20

· Destaco a segunda parte do versículo que temos lido, tomando como


um tema para a nossa meditação. “O Deus dos céus é o que nos fará
prosperar”
· Quando se fala em expansão, em crescimento se pensa em prosperidade.
· Os projetos estabelecidos pela liderança da Igreja, com o propósito de
crescimento ou prosperidade, sempre vão encontrar desafios a serem
vencidos.
· O início da Assembleia de Deus no Brasil, muitos desafios foram
levantados.
Eram desafios de ordem externa, o que a nossa história registra:
As propriedades onde os nossos irmãos se reunião eram apedrejadas.
Havia desavença em famílias quando um de seus membros se convertia.
Em alguns lugares, crentes falecidos não podiam ser sepultados no
cemitério da cidade.
Os cultos ao ar livre – marca da Assembleia de Deus, eram impedidos.
E muitas outras perseguições.
· Esses desafios foram superados e vencidos.
· A Assembleia de Deus tornou-se a maior Igreja Pentecostal no Brasil.
· Poderíamos afirmar então, que:
A Assembleia de Deus de hoje não tem mais desafios.
· Alguns falam em perseguições, porém, ainda temos liberdade para
pregar o Evangelho.
Temos de ser prudentes.
· A Igreja ainda encontra desafios, mas internos.
· Desafios para Igreja não são de hoje, sempre existiram:
Desde a Primeira Igreja. At 6.1
Numa das Igrejas mais fervorosas, a que estava em Corinto, o apóstolo
Paulo alerta na carta enviada a ela.
· Tudo isso nos faz entender
Que cabe a nós obreiros, chamados para conduzir
essa Igreja ter estrutura ministerial para conduzi-la.
Preparo para um bom serviço, na função atribuída a
cada um.
· Estou me dirigindo a homens de Deus escolhido
para servirem a Igreja do Senhor Jesus Cristo.
· Qual é a expectativa diante da nossa chamada?
· O que esperamos no desenvolvimento do nosso
ministério?
· O que esperamos no desenvolvimento do nosso
ministério?
· Certamente que a nossa expectativa é a mais
positiva possível:

78
AU L A 2 - P R O S P E R I DA D E DA I G R E JA

2024
Por que fomos escolhidos?
O que foi visto em nós para termos sido escolhidos?
O que podemos dizer, é que o Senhor Jesus tem seus próprios critérios
para a escolha.

· É muito bom ter a oportunidade de servir a Igreja de Deus.


· Quando lemos o que Jesus disse diante do projeto a respeito da Igreja,
deduzimos que, o que esperamos, são desafios a serem vencidos, o que
disse Jesus: Mt 16.15
· Há prenuncio de que a Igreja e os que a servem terão desafios a serem
vencidos.
O que a Igreja representa?
Não deixa de ser uma missão deixada por Jesus.
Os que servem a Igreja, são os escolhidos, os chamados, os vocacionados,
são os que receberam uma missão.
Naturalmente não é para qualquer um.
· Quando lemos o livro de Neemias, podemos identificar a sua escolha.
· O trabalho não era somente reconstruir o muro de Jerusalém
· Quem era Neemias?
Qual a sua profissão?
· Quando o Senhor escolhe, muda a especialidade.
· Neemias se propõe a realizar essa grande obra.
Por incrível que pareça encontrou oposição ao seu intento.
Em sã consciência, não conseguimos imaginar que existem esse tipo de
oposição.
· Não nos enganemos existem inimigos da obra do Senhor.
Mas a mensagem para todos nós, é:
O Deus dos céus é o que nos fará prosperar
· O livro de Neemias nos traz lições importantes.
· Essas lições servem de base para qualquer projeto da Igreja.
· Os desafios vencidos por Neemias motivam a cada um de nós.
· Se queremos prosperar temos de focar no alvo estabelecido.
· Ao receber a permissão para executar a sua missão, Neemias se dirige a
Jerusalém.
· Após se conscientizar a obra que tinha de fazer, reúne os que viviam em
Jerusalém, fala de seu projeto e os motiva: Ne 2.18
· Quando há motivação para o trabalho do Senhor, a oposição se
manifesta: Ne 2.19
· Inicialmente tentam desfazer os propósitos, com as mensagens
desmotivadoras:
· Quem são estes?
Sambalate,
Tobias,
Gesém

81
AU L A 2 - P R O S P E R I DA D E DA I G R E JA

2024
· Durante a reconstrução dos muros de Jerusalém, foram muitos os
desafios de várias natureza ou artimanhas.
· Neemias conseguiu, equilibradamente vencer e concluir a obra.
· O livro de Neemias nos mostra algo muito interessante: não somente os
muros de Jerusalém foram restaurados.
· Jerusalém e seus moradores voltaram a viver em segurança.
· Os benefícios foram sociais e espirituais.
· O Deus dos céus nos garante a prosperidade

82
INSCRIÇÕES ABERTAS

VES UMA DECISÃO DE

IMPACTO

2024
URO.
SEU CHAMADO, SEU FUT

BACHARELADO PÓS-GRADUAÇÃO CURSOS DE EXTENSÃO


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ambiente de aprendizagem PERSPECTIVAS DA
04 anos
inovador. ESCATOLOGIA PENTECOSTAL
EAD SÍNCRONA: Aulas ministradas BATISMO COM O ESPÍRITO
Aulas ministradas totalmente a ao vivo, acontecem por vídeo SANTO, DONS E FRUTO DO
distância, em um ambiente de chamada. Possui a tecnologia ESPÍRITO
aprendizagem inovador. como facilitadora de todo o
processo para que os alunos RAÍZES DA TEOLOGIA
Duração: consigam acompanhar e PENTECOSTAL
03 anos participar em tempo real, como
se realmente estivessem dentro
de uma sala de aula.

FACULDADE
CRISTÃ DECURITIBA

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