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ISSN: 0101-9031
ISSN: 1984-6444
revistaeducacaoufsm@gmail.com
Universidade Federal de Santa Maria
Brasil
RESUMO
Este artigo busca analisar o trato, o direito e o reconhecimento das crianças
pomeranas que chegam às instituições de educação infantil monolíngues falando
somente sua língua materna (pomerana) ou na condição de bilíngues, falando
também a língua portuguesa. A partir de pesquisa bibliográfico-documental, foi
possível perceber, no âmbito dos documentos normativos, que, no Brasil, são
recentes a conquista de direitos que garantem uma educação infantil diferenciada,
intercultural e bilíngue e as políticas públicas que priorizam, na escola, o uso da língua
materna das crianças pomeranas. Concluiu-se que este modelo de educação que se
busca construir deve, principalmente, incorporar a língua, mantenedora da memória e
da identidade do povo pomerano, como um patrimônio a ser estudado e valorizado.
Isso precisa ocorrer, sobretudo, mas não somente nas instituições de educação
infantil situadas nas comunidades pomeranas, reafirmando o direito à diferença, o qual
ainda constitui um grande desafio, que requer o engajamento de todos nós.
Palavras-chave: Infância; Criança pomerana; Bilinguismo.
ABSTRACT
The paper endeavors to analyze the contact, right and recognition of Pomeranian
children that arrives at monolingual preschool institutions speaking only their mother
tongue (Pomeranian) or in the condition of bilinguals, also speaking the Portuguese
language. Based on the bibliographic and documentary research, it was possible to
identify, in the sphere of normative documents, that it is recent in Brazil the conquest
of rights that guarantee a differentiated, intercultural and bilingual childhood education
and the public policies that prioritize, in the school, the use of the mother tongue of
Pomeranian children. It was concluded that this model of education that is attempted
to be built, must, mainly incorporate the language, which maintains the memory and
identity of the Pomeranian people, as a heritage to be studied and valued. It needs to
happen, above all, but not only in the institutions of early childhood education in the
Pomeranian communities, reaffirming the right to difference, which is still a great
challenge that requires the commitment of all of us.
Keywords: Childhood; Pomeranian child; Bilingualism.
Introdução
A política de colonização estabelecida pelo Governo Imperial antes mesmo da
Independência do Brasil (1822), a qual consistia no estabelecimento de núcleos
coloniais formados por imigrantes livres e de origem europeia instalados em
pequenas propriedades rurais, atraiu milhares de pessoas, provenientes de
diferentes lugares e grupos étnicos, etários, de classe, gênero, em épocas distintas
desse período histórico.
Um número expressivo de imigrantes chegou ao País no período de 1908 a
1859, dirigindo-se às regiões Sul e Sudeste, onde formaram os primeiros núcleos
coloniais. Fundados na tradição da pequena propriedade rural e da agricultura
familiar, esses núcleos permitiram uma agricultura diversificada e distinta da
monocultura dos grandes latifúndios, prosperaram e transformaram- se em vilas e
cidades. Localizavam-se, em geral, nas proximidades de vales de rios, isolados dos
hábitos das áreas urbanas.
Decorre daí o fato de que esses imigrantes tenham mantido relativa
homogeneidade e, em sua maioria, conservassem, de forma muito semelhante ao
que ocorria em seus lugares de origem, suas línguas maternas, características
Por outro lado, as identidades culturais vão sendo construídas a partir de uma
espécie de recusa aos modelos dominantes de construção pessoal e cultural aos
quais estão continuamente sendo expostas (HALL, 2003). A coesão grupal, a
identificação coletiva e as normas comuns (ELIAS; SCOTON, 2000), existentes entre
crianças pomeranas4 e suas famílias, embora se articulando ao mundo de força,
fizeram com que seus padrões culturais fossem mantidos e percebidos até os dias
atuais.
Nessa perspectiva, os pomeranos compartilham de um passado comum e um
grande grau de coesão grupal, verificado principalmente pelo uso de sua primeira
língua, a pomerana. Tais aspectos os tornam semelhantes e os diferenciam de outros
grupos étnicos. Portanto, para não se hierarquizar culturas, línguas ou classificá-las
como superiores ou inferiores, é importante reconhecer que todas as culturas
possuem elementos significativos e podem contribuir para a qualificação e o
crescimento nas esferas individual e coletiva.
Frente a esse contexto, perguntamos: como essas diferentes marcas culturais
estão sendo visibilizadas pelas políticas públicas registradas nos documentos
normativos em nosso País? Como crianças originárias desses diferentes grupos
étnicos são acolhidas nas creches e nas pré-escolas brasileiras? Partimos do
pressuposto de que contextos como esses não podem ser tratados de forma alinhada
a padrões culturais eleitos como hegemônicos pelos grupos dominantes, tampouco
5 As falas das crianças registradas com o uso de gravador e sua transcrição na língua escrita pomerana
foi realizada pelo etnolinguista Dr. Ismael Tressmann, autor do Dicionário Enciclopédico Pomerano -
Português (Pomerich-Portugijsisch), que contêm cerca de 16 mil entradas, além de locuções.
6Essas minorias étnicas são obrigadas a aprender o português e, com isso, tornarem-se bilíngues,
enquanto que para a maioria das crianças brasileiras o bilinguismo é facultativo (MAHER, 2007).
Referências
FARIA, Ana Lúcia Goulart de. Prefácio. In: SILLER, Rosali Rauta. Infância,
educação infantil e migração. Curitiba: Apris, 2016. p.24-25.
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