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Qualidade de vida e prática habitual de atividade física Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum.

2111; 21(2): 282-295


Rev Bras Crescimento Desenvolvimento Hum. 2011; 21(2): 282-295 PESQUISA ORIGINAL
ORIGINAL RESEARCH

QUALIDADE DE VIDA E PRÁTICA HABITUAL DE ATIVIDADE


FÍSICA EM ADOLESCENTES COM DEFICIÊNCIA
QUALITY OF LIFE AND PHYSICAL ACTIVITY IN ADOLESCENTS
WITH DISABILITIES
Giovanna Carla Interdonato 1
Márcia Greguol 2

Interdonato GC e Greguol M. Qualidade de vida e prática habitual de atividade física em


adolescentes com deficiência. Rev Bras Cresc e Desenv Hum 2011; 21(2): 282-295.

RESUMO
A prática regular de atividades físicas para pessoas com algum tipo de deficiência tem sido
reconhecida como poderoso instrumento de promoção de qualidade de vida. Trata-se, por
isso, de uma nova área de mercado, ocupando um espaço cada vez mais importante quer
nos campos profissionais que dela emergem, quer pela função humanizante que promove.
Muito embora o termo deficiência possa e deva ser estudado em toda sua complexidade,
optou-se neste estudo por um foco nos aspectos ligados à caracterização da deficiência
visual e auditiva numa ótica de saúde e qualidade de vida. O objetivo deste estudo foi
analisar a qualidade de vida percebida e os níveis de atividade física de adolescentes com
deficiência visual ou auditiva. Participaram do estudo 38 jovens com idade entre 14 e 18
anos, sendo 18 com deficiência visual e 20 com deficiência auditiva, todos moradores da
cidade de Londrina. Foram administrados dois instrumentos: o IPAQ versão curta para
verificar os hábitos de atividade física apresentados pelos adolescentes e o questionário
WHOQOL- bref, para analisar a percepção de qualidade de vida. Para a análise estatística
foi utilizado teste o Mann-Whitney para comparações entre os grupos e Kruskal-Wallis
para a comparação dos quatro domínios da qualidade de vida, adotando-se nível de
significância p< 0,05. Na comparação entre os grupos do WHOQOL e dos níveis de atividade
física não foram verificadas diferenças significativas. Isto pode ter ocorrido devidos ao
fato de todos os adolescentes pertencentes à amostra não serem sedentários e apresentarem
bons hábitos e estilo de vida.

Palavras-chave: qualidade de vida; atividade física; deficiência.

1 Mestranda em Educação Física, Universidade Estadual de Londrina - UEL


2 Professora Doutora do Departamento de Esporte da Universidade Estadual de Londrina – UEL Centro de Educação Física e
Esporte, CEFE - UEL. Rodovia Celso Garcia Cid, PR 445 Km 380, Campus Universitário CEP 86051-980 - Londrina - PR.
Correspondência para: Giovanna Carla Interdonato. Rua Borba Gato, 1158 - Vila Ipiranga, Londrina – PR, Brasil,
CEP: 86010-630. E-mail: giointerdonato@hotmail.com

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ABSTRACT
The regular practice of physical activities for people with some kind of disability has been
recognized as a powerful tool in order to promote the quality of life. It is, therefore, a new
market area, occupying a space which is getting more and more important in both professional
fields that emerge from it and the humanizing function that it promotes. Although the term
disability can and must be studied in all its complexity, it has been decided in this study to
give an emphasis on the aspects related to the characterization of visual and hearing disability
considering health and quality of life. The purpose of this study was to analyze the quality
of life perceived and the levels of physical activities in teenagers with visual or hearing
disability the sample involved. 38 teenagers between 14 and 18 years old participated in
the study, 18 with visual disability and 20 with hearing disability, all of them from Londrina.
Two instruments were administrated: IPAQ short version to verify the level of physical
activities presented by the teenagers and the WHOQOLbref questionnaire to analyze the
perception of the quality of life. Considering the statistic analysis, Mann-Whitney test was
used for comparisons between the groups and Kruskal-Wallis for comparisons of the four
domains of quality of life. It has been adopted a significance level of p< 0.05. In the
comparison between the WHOQOL groups and the levels of physical activities, no significant
differences were verified in the study. It could have happened due to the fact that all the
teenagers in the sample were not sedentary and showed good habits and a healthy lifestyle.

Key words: quality of life; physical activity; disability.

INTRODUÇÃO tudo a busca pela felicidade e satisfação pes-


soal diante todos os aspectos da vida 1.
Estudar sobre o tema qualidade de vida Segundo Dantas, Sawada e Malerbo 2, a
de pessoas com algum tipo de deficiência, ba- qualidade de vida é uma noção eminentemen-
seando-se na perspectiva de nossa sociedade te humana e abrange muitos significados que
atual dita inclusiva, pode parecer contraditó- refletem conhecimentos, experiências e valo-
rio se avaliado da forma superficial como tem res de indivíduos e coletividades. O reconhe-
sido feito ultimamente. É certo que estes dois cimento deste tema é evidenciado em vários
universos podem estar totalmente interligados estudos a fim de se obter cada vez mais infor-
– qualidade de vida e deficiência – e isto é evi- mações a respeito, principalmente envolvendo
denciado quando retiramos o olhar daqueles a relação entre qualidade de vida e saúde nos
que são ditos “normais”, e abrimos a lente (e diferentes tipos de populações 3,4,5,6,7.
também nossas mentes) para focarmos todas No entanto, constata-se que dentro des-
as interfaces que propiciam ao indivíduo uma tas populações estudadas existe uma carência
melhor qualidade de vida. de estudos realizados com pessoas que apre-
Nos últimos anos muito se tem discuti- sentam algum tipo de deficiência. Este fato
do dentro de diversas áreas – científica, políti- acaba gerando certa preocupação, pois, segun-
ca, acadêmica e social – a respeito da busca do o Censo Demográfico realizado pelo IBGE
pela melhor qualidade de vida dos seres huma- 8
em 2000, cerca de 34.580.721 indivíduos na
nos. A qualidade de vida deixou de representar população brasileira têm algum tipo de defi-
apenas uma vida sem doenças, mas acima de ciência. Outras preocupações relacionadas a

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esta população e à sua qualidade de vida co- A população deste estudo foi composta
meçam a se expressar quando analisamos as por 38 adolescentes com idade média de 16,13
variáveis que influenciam e dizem respeito à anos (± 1,14), sendo 18 com deficiência visual
qualidade de vida, tais como hábitos de ativi- (11 rapazes e 7 moças) e 20 com deficiência
dade física e níveis socioeconômicos, dentre auditiva (13 rapazes e 7 moças), todos matri-
outros fatores ligados ao estilo de vida. culados em escolas do ensino médio da cidade
Na medida em que se avançam e apro- de Londrina – PR. Para a seleção dos sujeitos,
fundam os estudos a cerca da atividade físi- durante um primeiro momento da pesquisa,
ca, principalmente esta quando relacionada foram levantados dados referentes à quantida-
a pessoas com deficiência, percebe-se certa de de unidades escolares na cidade que pos-
preocupação em estudos voltados a temas li- suíam alunos que apresentavam deficiência
gados a saúde nos seus aspectos fisiológi- visual ou auditiva e o número de alunos em
cos, sociais e emocionais, o que também tem cada uma das mesmas. Os dados indicaram que
sido alvo de preocupação dos pesquisadores de todas as escolas da cidade, apenas três aten-
e, acima de tudo, uma questão social na bus- diam os adolescentes que poderiam ser inclu-
ca de uma melhor qualidade de vida apre- sos no estudo.
sentada pelo indivíduo 1. A inclusão dos adolescentes no estudo
Logo, se existe alguém que deverá jul- ocorreu por desejo em participar do experimen-
gar e avaliar se a qualidade de vida está boa ou to. Para tanto, todos os escolares matriculados
não e os hábitos de atividade física, sob as mais e que frequentavam as escolas foram
diferentes perspectivas, este alguém com cer- contatados e informados quanto à natureza e
teza é o próprio indivíduo com deficiência. objetivos do estudo e convidados a participar.
Muitos estigmas e afirmações são ditos a res- Mediante confirmação pelo Termo de Consen-
peito e, infelizmente, na maior parte das vezes timento Livre e Esclarecido buscou-se entre-
por pessoas que não apresentam tais deficiên- vistar todos aqueles cujos responsáveis permi-
cias e que desconhecem a realidade enfrenta- tiram participar. Sendo assim, considerando o
da por estes indivíduos, o que acaba limitando tamanho pequeno da amostra apresentado na
e muitas vezes distorcendo as informações re- cidade, este estudo buscou analisar todos os
ferentes a esta população. adolescentes com deficiência visual ou auditi-
Assim, o objetivo é analisar a percep- va matriculados no ensino médio das escolas
ção da qualidade de vida e dos hábitos de ati- de Londrina – PR. Foram excluídos da amos-
vidade física e fatores associados ao estilo de tra adolescentes que apresentassem outras de-
vida em adolescentes com deficiência visual ficiências motoras ou cognitivas associadas.
ou auditiva da cidade de Londrina - PR. trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade de Estadual de Lon-
drina - UEL (nº do protocolo 230/09 ).
MÉTODO Para se obter as informações preten-
didas na coleta dos dados foram utilizados
O presente estudo é um levantamento instrumentos de medida constituídos de fa-
descritivo de corte transversal, de base po- tores sócio-demográficos, classe econômica
pulacional, envolvendo indicadores relacio- familiar, percepção quanto à qualidade de
nados à qualidade de vida e o hábito de ati- vida e níveis de atividade física. As infor-
vidade física de adolescentes escolares da mações relacionadas aos fatores sócio-demo-
cidade de Londrina, no estado de Paraná, gráficos foram levantadas mediante questões
Brasil. padronizadas e pré-codificadas, envolvendo

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informações quanto ao sexo, à idade, ao es- apresenta inferências relacionadas à qualida-


tado civil, ao número de filhos, à moradia, à de de vida global, mediante resposta de duas
distância e ao meio de transporte para a Ins- questões de âmbito mais genérico, sendo uma
tituição, à jornada de trabalho, ao uso de ta- relacionada à auto-percepção da qualidade de
baco e de bebidas alcoólicas. vida e a outra sobre a satisfação com a saúde.
Para a classificação econômica das fa- Os escores de cada domínio são calcu-
mílias dos entrevistados, recorreu – se às dire- lados mediante uma sintaxe, que considera as
trizes propostas pela Associação Nacional de respostas do grupo de questões que compõe o
Empresas de Pesquisa, com base no nível de domínio. Os escores finais equivalentes a cada
escolaridade do chefe da família, condições de domínio são recodificados em uma escala de
moradia, posse de utensílios domésticos, auto- medida com variação entre zero e 100, sendo
móveis e número de empregados domésticos. zero a menor percepção e 100 a maior percep-
Mediante pontuações computadas em cada um ção do indicador de qualidade de vida daquele
dos itens considerados foi definida a classe domínio em questão 10.
econômica familiar categorizada do menor ní- Para a análise dos níveis de atividade
vel (classe E) para o maior nível (classe A). física foi utilizado o International Physical
Cabe ressaltar que os estratos econômicos, ori- Activity Questionnarie – IPAQ (versão curta).
ginalmente considerados pelos critérios da Ele pode ser aplicado em população maior de
ANEP como A1 e A2, e B1 e B2, no presente quatorze anos de idade, assim como foi feito
estudo, foram reunidos nas classes econômi- em sua validação.11 Este instrumento analisa
cas A e B, respectivamente. os tipos de atividades físicas que as pessoas
A percepção da qualidade de vida foi realizam em seu dia a dia. As perguntas rela-
identificada a partir da aplicação do questio- cionam-se ao tempo gasto com a atividade no
nário Word Health Organization Quality of Life intervalo de sete dias passados desde a data de
Bref (WHOQOL-Bref), adaptado e traduzido aplicação do instrumento.
para a língua portuguesa 9. O WHOQOL - Bref Para analisar os dados do nível de
é uma versão reduzida do Word Health atividade física foi usado o consenso realizado
Organization Quality of Life 100 e envolve 26 entre o CELAFISCS e o Center for Disease
questões. Neste caso, considerando os últimos Control (CDC) de Atlanta em 2002, conside-
quinze dias vividos, o respondente indica uma rando os critérios de frequência e duração.
das cinco opções de resposta em cada questão, O tratamento estatístico das informa-
por meio de escores que variam de um a cinco, ções foi realizado utilizando o pacote
procurando dimensionar atributos relacionados computadorizado Statistical Package for the
à sua qualidade de vida. Social Science (SPSS), versão 15.0. Para ca-
A análise do WHOQOL-Bref aborda racterização da amostra selecionada utilizou-
quatro domínios da qualidade de vida, sendo se dos procedimentos da estatística descriti-
que cada domínio procura apresentar va (média ± desvio-padrão e mediana) Para
inferências específicas quanto à capacidade comparar os resultados obtidos da qualidade
física (domínio físico), ao bem-estar psicoló- de vida percebida em cada domínio e do ní-
gico (domínio psicológico), aos relacionamen- vel de atividade física entre os grupos, utili-
tos sociais e pessoais (domínio relações sociais) zou-se o teste de Mann – Whitney. Já para
e ao meio ambiente em que o indivíduo está verificar possíveis diferenças entre os quatro
inserido (domínio meio ambiente). Além des- domínios da qualidade de vida para os gru-
tes quatro domínios específicos, o WHOQOL- pos pesquisados, adotou-se o teste de Kruskal-
Bref propõe também um domínio adicional que Wallis.

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Para estabelecer a extensão das associa- Contudo, as magnitudes dos valores en-
ções estatísticas entre os fatores contrados destacam que tanto os adolescentes
sociodemográficos, percepção da qualidade de com deficiência visual quanto os com deficiên-
vida e níveis de atividade física, recorreu-se cia auditiva apresentam alguns hábitos de vida
ao cálculo do coeficiente de correlação de saudáveis, tendo em vista que nenhum entre-
Pearson. Em todas as situações, foi adotado vistado disse consumir bebidas alcoólicas, ser
nível de significância p< 0,05. fumante e sedentário, além do que os valores
apresentados permitem inferir que eles pos-
suem uma boa percepção de qualidade de vida
RESULTADOS global.
Na Tabela 1 a seguir serão apresentados
Com relação aos fatores sócio-demo- os valores percentuais de algumas destas va-
gráficos, dos 38 adolescentes envolvidos no riáveis sociodemográficas:
estudo, 20 apresentavam deficiência auditi- Na Tabela 2 serão apresentadas as in-
va, sendo 13 rapazes e 7 moças, com idade formações estatísticas equivalentes à percep-
média de 16,30 anos (±1,14) e os outros 18 ção da qualidade de vida que caracterizam a
apresentavam deficiência visual, sendo 11 amostra de adolescentes, separados por defi-
rapazes e 7 moças, com idade média de 15,94 ciência.
anos (± 1,16). Quanto à situação conjugal, 100 Os valores médios encontrados possibi-
% são solteiros e residem com os pais ou res- litam estabelecer inferências no sentido de que
ponsáveis. os domínios: físico e relações sociais são aque-
Além dos estudos, 100% dos adolescen- les em que os adolescentes apresentaram me-
tes analisados disseram não possuir uma jor- lhor aspecto relacionado à percepção da quali-
nada de trabalho remunerado. No que se refe- dade de vida. Na seqüência, têm-se com os
re à classe econômica familiar, 31,57% são menores escores os domínios psicológico e
categorizados nas classes A, B e C (maior ní- meio-ambiente. Ao estabelecer comparações
vel econômico) e 68,43% nas classes D e E entre os valores médios observados em ambas
(menor nível econômico). Na época em que os as deficiências, constatou-se a ocorrência de
dados do estudo foram coletados, 100% dos diferença estatisticamente significativa somen-
adolescentes admitiram não serem fumantes e te no escore encontrado no domínio meio am-
serem abstêmios do uso de bebidas alcoólicas. biente (t = 4,767; p = 0,036). Os adolescentes
Com relação à situação conjugal, constatou-se também apresentaram uma boa percepção de
que todos os adolescentes são solteiros. Ao qualidade de vida global, independente do tipo
considerar o tipo de transporte que os adoles- de deficiência manifestada.
centes utilizam para se deslocarem até a Insti- Os valores relacionados aos níveis de
tuição de ensino, verificou-se que tanto aque- atividade física apresentados pelos adolescen-
les com deficiência visual quanto os com tes são apresentados na Tabela 3. Para classifi-
deficiência auditiva utilizam meios de trans- cação dos dados foi utilizado o consenso reali-
portes motorizados em sua maioria, provavel- zado entre o CELAFISCS e o Center for
mente pela distância de suas casas até as insti- Disease Control (CDC) de Atlanta em 2002,
tuições. Foram observados ainda somente que considera os critérios de frequência e du-
quatro casos entre os adolescentes com defi- ração das atividades físicas realizadas para
ciência visual e cinco entre os com deficiência então classificar as pessoas em cinco catego-
auditiva em que os mesmos relataram se des- rias. Quando realizada a comparação entre as
locar caminhando até as escolas. deficiências através do teste Mann – Whitney,

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Tabela 1: Valores dos percentuais entre os escores de percepção associados ao comprometimento


da qualidade de vida global e fatores sóciodemográficos de adolescentes escolares com deficiên-
cia visual e adolescentes com deficiência auditiva de Londrina, Paraná 2009

Deficiência Deficiência
Visual % Auditiva %
(n = 20) (n = 18)
Situação Conjugal
Solteiro 100 100
Casado 0 0
Separados/divorciado/viúvo 0 0
Moradia
Pais e/ou outros parentes 100 100
Cônjuge e filhos 0 0
Sozinho 0 0
Número de Filhos
Nenhum 100 100
1 – 2 Filhos 0 0
> 3 Filhos 0 0
Escolaridade Média dos Pais
< 4 Anos 5,6 0
8 – 5 Anos 22,2 20,0
> 12 Anos 33,3 35,0
Classe Econômica Familiar
Classe A + B Classe C 1325,89 1015
Classe D + E 61,11 75
Transporte para Instituição
Carro ou Motocicleta Próprios 38,9 30,0
Transporte Coletivo 38,9 45,0
A pé 22,2 25,0
Distância Residência-Instituição
< 1 km 16,7 15,0
1 – 5 km 22,2 15,0
5 – 10 km 38,9 45,0
10 – 20 km 22,2 25,0
Trabalho Remunerado
Não trabalha 100 100
Trabalho eventual 0 0
Trabalha < 20 horas/semana 0 0
Trabalha 20 – 40 horas/semana 0 0
Uso de Tabaco
Nunca fumou 100 100
Parou de fumar 0 0
Fuma < 10 cigarros/dia 0 0
Fuma 10-20 cigarros/dia 0 0
Uso de Bebidas Alcoólicas
Não bebe 100 100
Bebe < 6 doses/semana 0 0
Bebe de 7 a 13 doses/semana 0 0
Bebe > 13 doses/semana 0 0

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Tabela 2: Valores de média, desvio-padrão e estatística “t” equivalentes aos domínios relaciona-
dos à percepção da qualidade de vida de adolescentes escolares com deficiência visual ou defi-
ciência auditiva de Londrina, Paraná, Brasil, 2009.
DEFICIÊNCIA
Visual (N=18) Auditiva (N=20)
Domínio da
Qualidade de Vida Média (DP) Média (DP) Teste ”t” p<t
(WHOQOL/breve)
Físico 71,63 ± 8,26 76,43 ± 7,36 0,63 30,431
Psicológico 56,25 ± 8,84 57,50 ± 6,28 0,68 10,415
Relações Sociais 71,76 ± 9,96 66,25 ± 12,33 0,172 0,681
Meio Ambiente6 4,41 ± 10,45 57,50 ± 5,59 4,767 *0,036
Questão – Como você
avalia sua qualidade 4,2 ± 0,5 4,1 ± 0,5
de vida?
* p < 0,05

constatou-se a ocorrência de diferenças esta- ligeiramente mais ativos que os adolescentes


tisticamente significativas no escore do IPAQ com deficiência visual. No entanto é válido
(t = 12,374; p = 0,001). Nota-se que os indiví- ressaltar que nenhum indivíduo da amostra se
duos com deficiência auditiva se apresentaram encontrou sedentário.

Tabela 3: Classificação da prática habitual de atividade física no total da amostra de acordo com
as deficiências.
Classificação dos DeficiênciaVisual Deficiência Auditiva Total
níveis deatividade física 18 20 38
F % F % F %
Muito Ativo 0 0 3 15 3 7,90
Ativo 0 0 5 25 5 13,15
Irregularmente Ativo A 18 100 12 60 30 78,95
Irregularmente Ativo B 0 0 0 0 0 0

Na Figura 1 são apresentados os esco- lescentes com deficiência auditiva apresenta-


res (em unidades de METs.minuto/semana) dos ram em média um dispêndio energético maior
adolescentes com deficiência visual e dos ado- quando comparado àqueles com deficiência
lescentes com deficiência auditiva. As diferen- visual.
ças observadas através do Mann - Whitney não Os valores referentes à correlação exis-
foram estatisticamente significativas (t = 1,754; tente entre as variáveis: qualidade de vida, ní-
p = 0,194). No entanto observa-se que os ado- vel de atividade física (IPAQ e METs) e nível

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1800
1600
METs.Minuto/Semana 1400
1200
1000 Deficientes Visuais
800 Deficientes Auditivos
600
400
200
0
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19
Individuos

Figura 1: Dispêndio energético (METs.minuto/semana) total dos adolescentes

socioeconômico serão mostrados a seguir. Na social e ambiental, e também se verificou uma


Tabela 4, serão apresentados os valores das relação com o nível socioeconômico. Outras
correlações referentes à deficiência visual. relações também foram notadas como podemos
Nota-se que os valores apresentados pelo do- observar na tabela a seguir:
mínio físico da variável qualidade de vida in- Ainda com relação aos valores referen-
dicaram uma relação positiva com o domínio tes às correlações, a Tabela 5 apresenta os va-

Tabela 4: Valores das correlações (R) entre os domínios de qualidade de vida, nível de atividade
física (METs) e nível socioeconômico para a deficiência visual (n = 18)
Domínio Domínio Domínio Domínio Nível
METs
Físico Psicológico Social Ambiental SE
Domínio Físico 1
Domínio Psicológico 0,282 1
Domínio Social 0,838(**) 0,151 1
DomínioAmbiental 0,611(**) 0,211 0,519(*) 1
METs 0,247 0,273 0,338 0,500(*) 1
Nível SE -0,437(*) -0,138 -0,365 -0,341 -,464(*) 1
* < 0,05. ** < 0,01

Tabela 5: Valores das correlações (R) entre os domínios de qualidade de vida, nível de atividade
física (METs) e nível socioeconômico para a deficiência auditiva (n = 20)0
Domínio Domínio Domínio Domínio Nível
METs
Físico Psicológico Social Ambiental SE
DomínioFísico 1
DomínioPsicológico 0,620(**) 1
DomínioSocial 0,163 0,233 1
DomínioAmbiental 0,054 0,324 0,088 1
METs 0,071 -0,288 0,116 -0,114 1
Nível SE -0,115 0,078 0,303 0,464(*) 0,255 1
* < 0,05. ** < 0,01

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lores relacionados aos adolescentes com defi- cia da associação da qualidade de vida com o
ciência auditiva. Os resultados encontrados aparecimento e o desenvolvimento de eventos
apontam que existe uma correlação positiva predisponentes à instauração de desfechos que
entre os domínios físico e psicológico e nega- possam comprometer o melhor estado de saú-
tiva entre o nível socioeconômico e o domínio de dos indivíduos. É válido destacar ainda que
ambiental. raros foram os estudos que envolveram a po-
Os resultados encontrados sugerem que, pulação de adolescentes principalmente estes
tanto entre os adolescentes com deficiência quando possuíam algum tipo de deficiência, o
visual quanto os que apresentam deficiência que nos permite supor que esta se constitui em
auditiva, valores significativos nos domínios uma importante lacuna na literatura.
físico e ambiental da variável qualidade de vida É importante ressaltar que, para o nos-
foram encontrados. Estes resultados podem so conhecimento, esta parece ser a primeira
estar associados a algumas variáveis que po- pesquisa realizada em que se procurou anali-
derão interferir na sua qualidade de vida. sar indicadores relacionados à qualidade de
vida e níveis de atividade física especificamen-
te de adolescentes com deficiência visual ou
DISCUSSÃO auditiva, mediante instrumentos de medida re-
conhecidos e validados internacionalmente
No estudo participaram adolescentes (WHOQOL – Bref) e IPAQ (versão curta).
escolares que apresentam deficiência visual ou Neste contexto, o presente estudo pro-
auditiva do município de Londrina, Paraná, cura disponibilizar dados até então desconhe-
Brasil. A cidade, de acordo com dados do IBGE cidos e, por conseqüência, deverá apresentar
de 2007, possui cerca de 497.833 habitantes. dificuldade para estabelecer eventuais compa-
Neste particular, assumindo como referência o rações. O que pode ser evidenciado é que a
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), percepção de indicadores relacionados à qua-
verifica-se que a cidade de Londrina se sobres- lidade de vida dos adolescentes aqui analisa-
sai por apresentar IDH-M (Índice de Desen- dos, nos quatro domínios considerados (físi-
volvimento Humano Municipal) superior a co, psicológico, relações sociais e
0,800, classificado como de alto desenvolvi- meio-ambiente) e na qualidade de vida global,
mento humano e obtendo posição de destaque demonstrou escores bons, considerando-se va-
no âmbito estadual. lores mínimos (menor percepção) e máximos
O IDH-2006 médio das cidades locali- (maior percepção) entre 0-100, respectivamen-
zadas nas regiões sudeste e sul é 0, 844 e 0,825, te. Além disso, os níveis de atividade física se
respectivamente, e o IDH-2006 brasileiro apresentaram medianos tendo em vista as de-
0,800. Logo, os resultados encontrados no pre- ficiências que esta população apresenta, pois
sente estudo não devem ser generalizados para muitas vezes não se encontram profissionais
os adolescentes escolares com deficiência vi- capacitados e estruturas adaptadas que possi-
sual ou auditiva, mas a uma parcela significa- bilitem a realização de atividades físicas por
tiva e contextualizada desse segmento especí- estes indivíduos.
fico da população. Analisando os domínios de qualidade de
Verificamos que na última década é cres- vida podemos perceber que o domínio físico
cente o número de estudos relacionados à per- apresentou escores médios mais elevados em
cepção da qualidade de vida envolvendo dife- ambas as deficiências, com diferenças estatis-
rentes segmentos da população 3,4,5,6,12 . ticamente não significativas entre as deficiên-
Possivelmente, tal fato se deva em decorrên- cias (t = 0,633; p = 0,431). Outros estudos en-

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volvendo adolescentes de diferentes popula- mo domínio, foi verificada a insatisfação dos


ções que não possuem deficiência visual nem adolescentes com deficiência auditiva com re-
auditiva constatou - se que os valores referen- lação à disponibilidade das informações em seu
tes ao domino físico são satisfatórios, tendo em dia a dia. Segundo estes jovens este item pre-
vista que adolescentes, em geral, são saudá- sente no domínio meio ambiente de qualidade
veis e não apresentam limitações físicas. Estes de vida ainda está bastante distante do deseja-
estudos também reportam que o domínio físi- do por eles.
co é um forte contribuinte para QV positiva Outro item que contribuiu para os me-
entre jovens13,14,15. Neste domínio os itens prin- nores escores médios observados no domínio
cipais de qualidade de vida enfocam presença meio ambiente refere-se à satisfação com o
de dor ou desconforto, dependência de medi- meio de transporte, sendo que 76,31% de to-
cação, satisfação com o sono, capacidade para dos os adolescentes alegaram esta insatisfação.
o trabalho e atividades diárias, entre outros. Este fato também pode ser explicado devido à
Considerando-se que a amostra selecionada no falta de acessibilidade e condições destes meios
estudo foi constituída por adolescentes com de transportes, muitas vezes não adaptados e
deficiência visual ou auditiva, a princípio, es- também com profissionais não preparados para
perava-se que os escores encontrados pudes- lidarem com esta população.
sem sofrer alguma interferência decorrente do O domínio psicológico apresentou es-
fato destes adolescentes possuírem um tipo de cores médios similares em ambos os grupos,
deficiência. No entanto, os escores com magnitudes de 56,25 e 57,50 para adoles-
satisfatórios encontrados revelam que a defi- centes com deficiência visual e com deficiên-
ciência não compromete o domínio físico de cia auditiva, respectivamente. Vale ressaltar
qualidade de vida destes jovens, ao contrário que, nesse domínio, procura-se obter informa-
do que muitos pensam. ções que se referem ao fato destes jovens esta-
O domínio meio-ambiente, juntamente rem satisfeitos consigo mesmos, com sua apa-
com o domínio psicológico, foi o que apresen- rência, e a freqüência de sentimentos negativos
tou menor escore na qualidade de vida. Quan- Os escores médios observados nesta amostra
do comparado através do teste de Mann- de adolescentes foi superior ao encontrado em
Whitney entre as deficiências, foi o único um estudo de qualidade de vida com adultos
domínio que apresentou uma diferença esta- sedentários com deficiência física e inferior aos
tisticamente significativa (t = 4,767; p = 0,036). indivíduos deste mesmo estudo com deficiên-
Estudos realizados sobre qualidade de vida em cia física fisicamente ativos19. Neste estudo foi
diferentes populações mostram que os escores verificada a percepção de qualidade de vida de
do domínio meio ambiente se apresentam in- indivíduos com deficiência física fisicamente
feriores quando comparados aos outros domí- ativos e sedentários e curiosamente o domínio
nios de qualidade de vida9,14,16,12,17,18. Ao copilar psicológico foi o que obteve melhor pontua-
as respostas apresentadas pelos adolescentes ção no geral, principalmente entre os fisica-
aqui analisados, constatou-se que 61,11% da- mente ativos.
queles com deficiência visual estão insatisfei- De acordo com Zuchetto e Castro20, para
tos com o ambiente físico em que passam a o individuo que possui algum tipo de deficiên-
maior parte do dia, talvez pelo fato das condi- cia que se envolve constantemente em ativida-
ções deste ambiente para estes jovens apresen- des físicas ou esportivas, ocorre uma “sensa-
tar falta de acessibilidade, pela dificuldade ção” de estar vivendo uma vida mais saudável,
deles se locomoverem e também se adaptarem percepção de possuir melhor imagem corporal
às informações disponíveis. Ainda neste mes- e o reforço de sua auto-estima; a vida lhe fa-

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zendo mais sentido. Esses benefícios psicoló- de de vida global como “ruim” ou “boa”, quan-
gicos conseguidos por influência da prática do comparados os escores apresentados nos
regular de atividades físicas e/ou esportivas se domínios observados entre os dois grupos pes-
refletem, de modo geral, nas relações de traba- quisados, encontra-se indícios de que os ado-
lho, na vida afetiva e social. lescentes apresentaram escores de média a ele-
É válido destacar ainda que o bem-estar vada magnitude. Com relação à questão
psicológico pode promover comportamentos direcionada à auto-percepção da qualidade de
saudáveis, uma vez que pessoas dotadas de vida, todos assinalaram como “boa” ou “mui-
senso de auto valor acreditam em seu poder de to boa”. Quanto à satisfação com a saúde,
controle e são otimistas quanto a seu futuro, 94,44% dos adolescentes com deficiência vi-
além de mais propensas a adotar hábitos mais sual e 90% daqueles com deficiência auditiva
saudáveis e conscientes21,22. No domínio rela- apontaram estar “satisfeitos” ou “muito satis-
ções sociais se procurou abordar o quanto os feitos”, enquanto 5,56% e 10%, respectivamen-
adolescentes estão satisfeitos com os pares do te, consideravam-se entre “insatisfeitos” ou
círculo social, ao apoio que recebem dos ami- “muito insatisfeitos”.
gos e à satisfação com a vida sexual. Os esco- Quando analisados os níveis de ativida-
res médios da amostra analisada foram em de física apresentados pelos adolescentes, cons-
média de 71,76 para aqueles com deficiência tatou-se que aqueles com deficiência auditiva
visual e 66,25 para os com deficiência auditi- mostraram-se um pouco mais ativos que aque-
va. Quando verificado na literatura, o escore les com deficiência visual, no entanto é válido
médio observado nesta amostra foi superior ressaltar que mesmo não havendo significân-
quando comparado com o valor apresentado cia nem correlação entre os domínios de QV e
por idosos com depressão19. os níveis de atividade física, destaca-se que dos
O item de qualidade de vida que menos 38 adolescentes entrevistados nenhum pode ser
contribuiu para elevar o escore final do domí- classificado como sedentário. Este fato é de
nio relações social na amostra analisada foi grande relevância tendo em vista a importân-
equivalente ao apoio satisfação com a vida se- cia da prática de atividades físicas para os as-
xual. Neste item 61,11% dos adolescentes com pectos biopsicossociais destes jovens, além do
deficiência visual e 55% daqueles com defi- que tal achado revela que a deficiência não é
ciência auditiva assinalaram estar “insatisfei- um obstáculo para a prática de atividades físi-
to” ou “nem satisfeito nem insatisfeito” com cas para estes jovens.
sua vida sexual. Por outro lado, o item que mais Estes resultados do presente estudo,
contribuiu para elevar o escore deste domínio embasados por demais pesquisas, talvez supor-
foi a satisfação referente às relações com ami- tem que a prática regular da atividade física
gos, parentes, conhecidos e colegas. Por volta pode auxiliar na melhoria da QV de adoles-
de 100% daqueles com deficiência visual e centes14. Estes achados são de suma importân-
75% dos com deficiência auditiva interroga- cia por estabelecer talvez uma relação concre-
dos se manifestaram “satisfeito” ou “muito ta entre a atividade física e a QV de
satisfeito”. adolescentes, podendo servir como suporte
No que se refere à percepção da quali- para que projetos de saúde pública.
dade de vida global, constatou-se que ambos Em um estudo realizado por Chen et al.23
os grupos apresentam uma boa percepção. Ape- buscou-se examinar a extensão das mudanças
sar do WHOQOL-Bref não sugerir pontos de no estilo de vida no final da infância e início
corte que possam apontar um escore abaixo ou da adolescência durante um período de acom-
acima do qual se venha assumir uma qualida- panhamento de três anos, bem como analisar

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as associações entre hábitos de vida e QV. Os Neste sentido, os resultados observados


achados dos autores mostraram que durante a no presente estudo precisam ser analisados com
transição da infância para o início da adoles- cautela, tendo em vista que a medida “objeti-
cência ocorreram consideráveis mudanças dos va” da QV foi mensurada de forma subjetiva
hábitos de vida, sendo que o nível de atividade através de questionário. No entanto, é impor-
física baixo na infância foi diretamente rela- tante ressaltar que o instrumento utilizado tem
cionado à QV ruim na adolescência. se apresentado como uma possibilidade de aná-
Quando verificadas as características lise da QV prática e confiável; em adição, o
sociodemográficas que podem influenciar na WHOQOL-Bref é recomendado pela OMS
percepção de qualidade de vida destes jovens, para avaliação da QV.
como por exemplo uso de tabaco, bebidas al- Além da dificuldade para mensurar a
coólicas, nível socioeconômico, carga de tra- QV, outra limitação do presente estudo consis-
balho entre outras, nota-se que os adolescen- te no fato de que a atividade física foi avaliada
tes entrevistados possuem hábitos e estilos de por meio de questionário, ao invés de métodos
vida saudáveis, o que deve ser levado em con- diretos como, por exemplo, acelerômetros
sideração quando verificada a percepção total triaxiais ou uniaxiais ou a utilização de
de qualidade de vida apresentada pelos mes- pedômetros. Desta forma, pode ter ocorrido
mos. subestimação ou superestimação do NAF dos
Com base nos achados referentes aos adolescentes investigados.
domínios de QV dos adolescentes investiga- Entretanto, questionários são métodos
dos, podemos traçar algumas alternativas que atrativos devido ao baixo custo e rapidez na
visem melhorar as condições de vida desta obtenção dos dados. Em adição, o IPAQ é uti-
população, idéias estas que podem ser empre- lizado internacionalmente para avaliar a ativi-
gadas dentro do próprio ambiente escolar por dade física, e tem vantagens em comparação a
se tratar de um meio propício para interven- outros instrumentos, principalmente no que se
ções. Neste sentido, sugere-se o incentivo e refere à possibilidade de comparação com ou-
auxilio à prática de todos os tipos de ativida- tras pesquisas.
des físicas, visando o aumento e também a O presente estudo buscou contribuir para
manutenção dos NAF ( níveis de atividade fí- o progresso científico da área, em especial, por
sica) entre adolescentes. É válido destacar ain- apresentar dados inéditos referentes a variáveis
da que estas atividades devem ser adaptadas determinantes de aspectos relacionados à per-
às capacidades apresentadas por estes indiví- cepção da QV e dos níveis de atividade física
duos, respeitando seus limites. de adolescentes escolares com deficiência vi-
Esta tarefa é, em especial, destinada aos sual ou auditiva, resultados estes que podem
profissionais de Educação Física e Esporte, ser utilizados em programas de saúde pública.
tendo em vista sua participação ativa na vida Cabe salientar que a reprodução do presente
destes jovens dentro de escolas, clubes, estudo seria de grande valia para a realização
escolinhas, etc. Evidentemente, torna-se limi- de um mapeamento de fatores positivos e ne-
tado avaliar exclusivamente por meio de gativos destes aspectos da QV e de níveis de
quantificações um conceito intrinsecamente atividade física apresentados por adolescentes
marcado pela subjetividade, como o construto com algum tipo de deficiência, bem como iden-
QV. É preciso ter em mente que os indicadores tificação da percepção de QV e NAF em fai-
e índices medem sempre “aspectos” da QV, xas etárias diferentes, comparação entre gêne-
tendo méritos e limitações uns em relação aos ros ou entre tipos de deficiência, entre outras
outros. variáveis.

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Os adolescentes entrevistados possuem nios de QV apresentados.


uma boa percepção de qualidade de vida, e Assim, destaca-se a necessidade da rea-
apresentam níveis satisfatórios de prática de lização de novos estudos, com o intuito de ve-
atividade física. Não foram verificadas dife- rificar quais outros fatores como acessibilida-
renças entre as percepções de adolescentes com de, profissionais capacitados para trabalhar
deficiência visual e auditiva. com esta população, aspectos familiares den-
Contudo, também é importante desta- tre outros, além dos já verificados podem in-
car que algumas variáveis como nível socio- terferir ou promover a percepção de qualidade
econômico, nível de instrução do responsá- de vida e a prática de atividade física por indi-
vel, bons hábitos e estilo de vida víduos com deficiência visual, auditiva ou ou-
apresentados por estes jovens podem ter con- tras deficiências.
tribuído para uma melhor percepção de qua-
lidade de vida, visto pelos valores dos domí-

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Recebido em: 08/ago./2010


Modificado em 26/nov./2010
Aceito em 16/mar./2011

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