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Encristus 2023 – Tema Geral

Arrependimento para a vida

A expressão "arrependimento para a vida" aparece no texto de Atos 11:18, onde lemos:
"E, ouvindo eles estas coisas, apaziguaram-se e glorificaram a Deus, dizendo: Logo,
também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento para a vida".
O contexto é bem conhecido: Pedro havia sido conduzido pelo Espírito Santo à casa do
gentio Cornélio, ao qual o apóstolo apresentou a mensagem de salvação (Atos 10). No
retorno a Jerusalém, contudo, Pedro foi acusado por alguns irmãos, que ainda não
compreendiam o caráter abrangente e universal do evangelho (Atos 11:1-3). Pedro se
explicou, indicando que toda a ação de inclusão dos gentios era obra do Espírito Santo
(Atos 11:4-17): foi Deus quem ordenou que Cornélio mandasse procurá-lo, foi Deus
quem preparou o coração de Pedro, através de uma visão, no sentido de que ele
acolhesse bem os emissários de Cornélio; foi o próprio Espírito Santo, sem qualquer
intervenção de Pedro, que caiu sobre as pessoas reunidas na casa de Cornélio, antes
mesmo que Pedro concluísse seu discurso. Diante desses fatos, aqueles homens, que
antes criticavam Pedro, se renderam: deram glória a Deus e reconheceram, com
assombro, que até mesmo aos gentios, ou seja, aos não judeus, o Senhor concedera o
arrependimento para a vida.
Escolhemos esse versículo como tema para nosso Encontro Anual de 2023 porque
entendemos que ele resume muito bem o que significa o verdadeiro arrependimento.
Acreditamos que arrependimento, em primeiro lugar, é a ordem mais básica que Deus
dirige ao ser humano. É por ele que o evangelho começa: "Depois de João ter sido
preso, foi Jesus para a Galileia, pregando o evangelho de Deus, dizendo: O tempo está
cumprido e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho"
(Marcos 1:14-15). A palavra aramaica para "arrependimento", schûb, poderia ser
traduzida literalmente como "meia-volta", "conversão". É também esse o sentido do
termo grego metanoia, que indica uma "mudança de mente", uma mudança na maneira
de ver as coisas. Se queremos ver o Reino de Deus (João 3:3), precisamos dar meia-
volta, abandonar os modos de uma vida vivida longe de Deus, abandonar os conceitos
que regem uma vida longe de Deus, e nos convertermos de coração e mente a Ele.
Mas o arrependimento não é apenas a primeira palavra que Deus nos dirige mediante o
evangelho, uma palavra de ordem e que precisa ser obedecida por todo ser humano. O
arrependimento é, também, uma necessidade constante da igreja. Em sua sabedoria, a
tradição cristã nos lembra disso anualmente, através do chamado ao arrependimento que
é o próprio coração do período quaresmal; somente movidos por esse arrependimento é
que podemos nos aproximar convenientemente do sacrifício do Senhor no Calvário. A
vida cristã, embora vivida no poder da vida ressuscitada de Jesus Cristo, é uma vida de
luta contra o pecado. O chamado ao arrependimento, renovado a cada ano quando nos
preparamos para celebrar a Páscoa do Senhor, indica essa necessidade de continuamente
"lavarmos nossos pés" (João 13:10): considerarmos nossos caminhos, confessarmos
nossos pecados e recebermos, do Senhor, perdão e cura.
Há também, por fim, uma dimensão comunitária que não pode ser ignorada. A
dimensão individual é de importância central, mas estamos convencidos de que o
Senhor está nos chamando coletivamente, como igreja, para um tempo de
arrependimento. É o que encontramos em Joel 2:12-17 – 
Ainda assim, agora mesmo diz o Senhor: Convertei-vos a mim de todo o vosso coração;
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e isso com jejuns, com choro e com pranto. Rasgai o vosso coração, e não as vossas
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vestes, e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo,


e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal. Quem sabe se não
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se voltará e se arrependerá, e deixará após si uma bênção, uma oferta de manjares e


libação para o Senhor vosso Deus? Tocai a trombeta em Sião, promulgai um santo
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jejum, proclamai uma assembléia solene. Congregai o povo, santificai a congregação,


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ajuntai os anciãos, reuni os filhinhos e os que mamam; saia o noivo da sua recâmara, e a
noiva do seu aposento. Chorem os sacerdotes, ministros do Senhor, entre o pórtico e o
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altar, e orem: Poupa o teu povo, ó Senhor, e não entregues a tua herança ao opróbrio, para
que as nações façam escárnio dele. Por que hão de dizer entre os povos: Onde está o seu
Deus?

Assim como nós fazemos enquanto indivíduos, também a igreja, coletivamente, pode
tomar caminhos equivocados. A história do povo de Israel e a história da igreja cristã
estão repletos de evidências quanto a isso. O que podemos dizer, quanto a nós mesmos,
em relação ao tempo em que vivemos? Como igreja, quais são as coisas de que devemos
nos arrepender?
A igreja precisa se arrepender de sua idolatria. Temos colocado o ser humano no centro,
naquele lugar que só pode ser ocupado por Deus. Seja pelo estabelecimento de alianças
duvidosas com os poderes políticos, seja pela pretensão de nos aliançarmos com a
sabedoria do presente século em suas filosofias e vãs sutilezas, nós temos nos esquecido
de que apenas em Deus encontra-se a nossa força. Para nós, que cremos no poder do
Espírito Santo e acreditamos na verdade bíblica do batismo com o Espírito Santo, isso é
ainda mais grave. Se pretendemos que o mundo incrédulo seja impactado pela pregação
da Palavra, se queremos que as pessoas ouçam a mensagem do evangelho e se
convertam, precisamos entender que isso nunca se fará por nossa força humana, ou pela
força de quaisquer recursos humanos que pudermos invocar. Isso se fará apenas pelo
poder do Espírito.
A igreja precisa se arrepender de sua divisão. Unidade é o chamado que o Senhor nos
faz (João 17). A unidade difere muito da mera "união". "União" é algo não orgânico,
temporário, que produzimos com vistas a certas finalidades (alcançar um objetivo,
desempenhar uma tarefa). Unidade é realidade viva, orgânica. Indivíduos apenas
"reunidos" num propósito qualquer podem ser separados; no entanto, quando
experimentamos unidade autêntica com nossos irmãos, a separação se torna fisicamente
dolorosa – é como o cortar de um membro. Unidade tem a ver com relacionamento:
entre nós e com o Deus triuno (João 1:18; 17:24). 
Através do chamado ao arrependimento, esse chamado a ser recebido coletivamente por
nós como igreja, o Senhor pretende nos levar mais longe em Seu propósito de responder
à oração do Senhor Jesus registrada em João 17. Peçamos ao Pai, em oração, que nos
revele aspectos específicos dos quais devemos, como igreja, nos arrepender. Peçamos
ao Pai, enquanto preparamos as palestras do próximo Encontro, direção e sabedoria para
que, através de nossos ministérios, o Senhor supra as necessidades da geração que vai
nos escutar. Peçamos ao Pai que Ele use nossas pobres vidas para conclamar os irmãos e
irmãs a uma reconsagração de suas vidas ao Senhor. Oremos uns pelos outros e
clamemos ao Senhor por esse tempo precioso que teremos em agosto! 

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