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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE

CIÊNCIAS DA VIDA E DA NATUREZA


(ILACVN)

FAL - MEDICINA

RESENHA
SAÚDE E DIVERSIDADE MUNANGA, Kabengele

Discente: DIEGO SALVADOR


ANDRADES
Docente: ANIBAL ORUE POZZO

Foz do Iguaçu
2023
A Importância da colaboração entre médicos sem fronteiras e
antropólogos em contextos não ocidentais.

O ar�go demonstra a necessidade e importância da colaboração entre


profissionais de saúde, como os Médicos Sem Fronteiras, e antropólogos em países não
ocidentais, especialmente na África subsaariana. Essa abordagem interdisciplinar surge
da percepção de que os médicos ocidentais se sentem limitados em suas intervenções
nessas sociedades devido à diferença cultural e visão de mundo. Os conceitos de saúde,
vida, doença, cura e morte desses médicos são baseados em uma educação e formação
ocidentais, que muitas vezes não se alinham com as realidades das sociedades em que
trabalham.
RESENHA

Nas sociedades africanas, que são antropocêntricas, onde tudo


gira em torno do ser humano, a saúde, vida e morte têm origem no próprio ser
humano e em sua cultura. Diferentemente da visão ocidental, a doença, vida e
morte não são consideradas fenômenos naturais, mas sim humanos e culturais,
tendo no ser humano e em sua cultura a explicação fundamental. No artigo,
Muganga aponta três principais causas da doença e morte: a contratação de um
feiticeiro para causar doenças ou morte por inveja ou vingança; a transgressão
das normas do grupo, ofendendo os ancestrais ou espíritos familiares,
resultando em doença ou morte como punição; e a manifestação de
descontentamento dos deuses, espíritos da família ou ancestrais, enviando uma
doença como mensagem ou advertência para regularizar a situação.

Na concepção dessas sociedades, boa saúde, prosperidade,


riqueza, felicidade e progenitura numerosa são interpretadas como crescimento
da força vital ou axé, enquanto doença, morte, calamidade, infelicidade, pobreza
e miséria são entendidas como diminuição da força vital ou axé. Embora
reconheçam causas naturais das doenças, como alimentação insuficiente ou
agentes patogênicos, essas sociedades enfatizam as causas humanas e
culturais. Para eles, as causas científicas são apenas materializações e meios
escolhidos para manifestar a doença. Ao invés de perguntar "como aconteceu",
como a ciência ocidental faria, eles questionam "por que só essa pessoa e não
aquela outra". Assim, fatores sociais, como inveja, crime e vingança,
desempenham um papel importante na explicação das doenças.

O artigo ainda destaca que um sistema de saúde e medicina que


ignore essas formas de pensamento ou as considere anticientíficas rejeita os
fundamentos culturais das sociedades em que atua. É importante compreender
que as crenças, religiões e medicinas das diferentes sociedades são
inseparáveis de seus contextos culturais. Mesmo nas sociedades modernas
contemporâneas, com suas diversidades culturais, religiosas, educacionais,
étnicas, de gênero, de classe social, entre outras, os sistemas de saúde e
medicina também precisam ser sensíveis a essas diversidades para fornecer um
cuidado efetivo e culturalmente apropriado.

Nesse sentido, a colaboração entre Médicos Sem Fronteiras e


antropólogos se torna crucial. Os antropólogos possuem expertise no estudo das
culturas e sistemas de crenças, o que lhes permite compreender e interpretar as
perspectivas culturais dos pacientes e das comunidades em que trabalham. Eles
podem desempenhar um papel fundamental na mediação entre os profissionais
de saúde ocidentais e as comunidades locais, auxiliando na construção de
relações de confiança e na superação de barreiras culturais.

Trabalhando em conjunto, médicos e antropólogos podem


identificar as percepções e concepções locais de saúde e doença, incorporando-
as em estratégias de intervenção. Essa colaboração permite que os profissionais
de saúde entendam as causas sociais e culturais das doenças e ofereçam
cuidados que sejam mais aceitáveis e efetivos para as comunidades. Além disso,
a parceria com antropólogos pode ajudar a evitar a imposição de práticas e
tratamentos que não sejam culturalmente apropriados ou que possam ser mal
compreendidos pelas comunidades locais.

É importante ressaltar que essa colaboração não se trata de uma


substituição dos conhecimentos médicos, mas sim de uma integração e
complementaridade entre as abordagens médicas e antropológicas. Os médicos
trazem consigo conhecimentos científicos e técnicos essenciais para o
diagnóstico e tratamento das doenças, enquanto os antropólogos contribuem
com uma compreensão mais profunda das realidades culturais e sociais em que
essas doenças estão inseridas.

Conclusão:

A colaboração entre Médicos Sem Fronteiras e antropólogos em


contextos não ocidentais é de extrema importância para garantir um cuidado de
saúde mais efetivo e culturalmente sensível. Compreender e respeitar as
perspectivas culturais das comunidades locais é essencial para superar as
barreiras e desafios encontrados pelos profissionais de saúde ocidentais.
Através dessa colaboração, é possível desenvolver abordagens mais integradas
e abrangentes, que considerem tanto os aspectos científicos quanto os
contextos culturais das doenças. Dessa forma, é possível promover um cuidado
de saúde mais inclusivo e empático, contribuindo para a melhoria da saúde das
populações atendidas.

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