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PORTUGUÊS
MANUAL DE SOCIOLINGUÍSTICA
MANUAL DE SOCIOLINGUÍSTICA
1º ANO
CÓDIGO
CRÉDITOS (SNATCA) 6
NÚMERO DE TEMAS 6
UnISCED CURSO: Ensino de Português ; 30 Ano Disciplina/Módulo: Sociolinguística
Este manual é propriedade da Universidade Aberta ISCED (UnISCED), e contém reservados todos os
direitos. É proibida a duplicação ou reprodução parcial ou total deste manual, sob quaisquer formas
ou por quaisquer meios (electrónicos, mecânico, gravação, fotocópia ou outros), sem permissão
expressa de entidade editora Universidade Aberta ISCED (UnISCED).
Agradecimentos
Revisão Científica e
2021
Linguística
2022
Ano de Publicação
UnISCED – BEIRA
Ano de actualizaão
Local de Publicação
UnISCED CURSO: Ensino de Português ; 30 Ano Disciplina/Módulo: Sociolinguística
Visão geral
Objectivos do módulo
Páginas introdutórias
UnISCED CURSO: Ensino de Português ; 30 Ano Disciplina/Módulo: Sociolinguística
▪
▪ Um índice completo.
▪ Uma visão geral detalhada dos conteúdos do módulo, resumindo os aspectos-
chave que você precisa conhecer para melhor estudar. Recomendamos vivamente que
leia esta secção com atenção ção antes de começar o seu estudo, como componente de
habilidades de estudos.
Conteúdo deste módulo
Este módulo está estruturado em temas. Cada tema, por sua vez
comporta certo número de unidades temáticas ou simplesmente
unidades, cada unidade temática se caracteriza por conter uma
introdução, objectivos, conteúdos.
No final de cada unidade temática ou do próprio tema, são incorporados
antes o sumário, exercícios de auto-avaliação, só depois é que aparecem
os exercícios de avaliação.
Os exercícios de avaliação têm as seguintes características: puros
exercícios teóricos/práticos e actividades práticas.
Outros recursos
Use este espaço para dar sugestões valiosas, sobre determinados aspectos, quer
de natureza científica, quer de natureza didáctico-Pedagógica, etc, sobre como
deveriam ser ou estar apresentadas. Pode ser que graças as suas observações que,
em gozo de confiança, classificamo-las de úteis, o próximo módulo venha a ser
melhorado.
Ícones de actividade
Ao longo deste manual irá encontrar uma série de ícones nas margens das
folhas. Estes ícones servem para identificar diferentes partes do processo de
aprendizagem. Podem indicar uma parcela específica de texto, uma nova
actividade ou tarefa, uma mudança de actividade, etc.
Habilidades de estudo
3º Voltar a fazer leitura, desta vez para a compreensão e assimilação crítica dos
conteúdos (ESTUDAR).
É impossível estudar numa noite tudo o que devia ter sido estudado durante
um determinado período de tempo; Deve estudar cada ponto da matéria em
profundidade e passar só ao seguinte quando achar que já domina bem o
anterior.
Privilegia-se saber bem (com profundidade), o pouco que puder ler e estudar,
que saber tudo superficialmente! Mas a melhor opção é juntar o útil ao
agradável: saber com profundidade todos conteúdos de cada tema, no
módulo.
Organize na sua agenda um horário onde define a que horas e que matérias
deve estudar durante a semana; Face ao tempo livre que resta, deve decidir
como o utilizar produtivamente, decidindo quanto tempo será dedicado ao
estudo e a outras actividades.
que seja mais fácil identificar as partes que está a estudar e pode escrever
conclusões, exemplos, vantagens, definições, datas, nomes, pode também
utilizar a margem para colocar comentários seus relacionados com o que está
a ler; a melhor altura para sublinhar é imediatamente a seguir à compreensão
do texto e não depois de uma primeira leitura; Utilizar o dicionário sempre
que surja um conceito cujo significado não conhece ou não lhe é familiar;
Precisa de apoio?
Caro estudante, temos a certeza que por uma ou por outra razão, o material
de estudos impresso, lhe pode suscitar algumas dúvidas como falta de clareza,
alguns erros de concordância, prováveis erros ortográficos, falta de clareza,
fraca visibilidade, página trocada ou invertidas, etc.). Nestes casos, contacte
os serviços de atendimento e apoio ao estudante do seu Centro de Recursos
(CR), via telefone, sms, E-mail, se tiver tempo, escreva mesmo uma carta
participando a preocupação.
Uma das atribuições dos Gestores dos CR e seus assistentes (Pedagógico e
Administrativo), é a de monitorar e garantir a sua aprendizagem com
qualidade e sucesso. Dai a relevância da comunicação no Ensino a Distância
(EAD), onde o recurso as TIC se torna incontornável: entre estudantes,
estudante – Tutor, estudante – CR, etc.
As sessões presenciais são um momento em que você caro estudante, tem a
oportunidade de interagir fisicamente com staff do seu CR, com tutores ou
com parte da equipa central da UnISCED indigetada para acompanhar as sua
sessões presenciais. Neste período pode apresentar dúvidas, tratar assuntos
de natureza pedagógica e/ou administrativa.
O estudo em grupo, que está estimado para ocupar cerca de 30% do tempo
de estudos a distância, é muita importância, na medida em que permite lhe
situar, em termos do grau de aprendizagem com relação aos outros colegas.
Desta maneira ficará a saber se precisa de apoio ou precisa de apoiar aos
colegas. Desenvolver hábito de debater assuntos relacionados com os
conteúdos programáticos, constantes nos diferentes temas e unidade
temática, no módulo.
Avaliação
1
Plágio - copiar ou assinar parcial ou totalmente uma obra literária, propriedade intelectual de outras pessoas, sem
prévia autorização.
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LP - Língua Portuguesa
PB - Português Brasileiro
PE - Português Europeu
PL - Política Linguística
PL - Planificação Linguística
PM - Português de Moçambique
Introdução
Sumário
Auto-valiação
1. O que é sociolinguística?
a) Sociolinguistica estuda a relação entre a língua e a
sociedade.
b) Sociolinguistica estuda a relação entre a língua e o
homem.
c) Sociolinguistica estauda a relação entre a língua e as
plantas.
d) Todas as alternativas estão correctas.
Questões de Reflexão
11. Fale sa relação entre a língua e a cultura.
12. O que se pode dizer da Hipotese de Sapir e Worf?
Respostas:
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1.A
2.A
3.B
4. A
5. A
6. Falso
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10. Verdadeiro
Referências Bibliográficas
Introdução
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O relativismo linguístico é uma variedade moderna do relativismo cognitivo: a verdade é criada pela
gramática e pela semântica de uma determinada língua. Esta ideia tem sua origem filosófica em
Ludwig Wittgenstein, mas adquire independência na Linguística com a teoria de Benjamin Lee
Whorf. Segundo ele, o mundo não tem estrutura própria; a estrutura é imposta pela linguagem. A
aprendizagem de outra língua significa criar um mundo novo, onde tudo é completamente
diferente. Para Wittgenstein, as regras de uma determinada língua eram um “jogo” que se joga
quando se fala. Enquanto “jogamos”, praticamos alguma “forma de vida”.
O grande linguista e antropólogo norte-americano Edward Sapir (1844 -1939) e seu discípulo
Benjamim Lee Whorf (1897 – 1941) eram herdeiros de uma tradição do pensamento europeu, que
embora não negasse a existência de universais linguísticos, enfatiza o valor positivo da diversidade
linguística e cultural, sem deixar de lado os princípios do idealismo romântico. Esta tradição
remonta a J. G. Herder, Wilhelm von Humboldt e, possivelmente, a Franz Boas.
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Uma versão de linguagem e pensamento baseada nesta tradição, na década de 1950, foi rotulada
de “hipótese Sapir-Whorf” e é associada ao relativismo linguístico. É uma das versões mais notáveis
das características do pensamento linguístico do estruturalismo norte-americano, inclusive da
escola pós-bloomfieldiana.
Embora a hipótese Sapir-Whorf seja considerada forte, ela não exclui a possibilidade do bilinguismo
nem da tradução. Embora ninguém defenderia o determinismo extremo nem a relatividade
extrema, é possível considerar uma versão mais fraca da hipótese levando-se em conta experiências
que vêm sendo feitas desde então. Os vocabulários de línguas diferentes costumam não ser
totalmente isomórficos e existem realidades mais facilmente codificáveis numa língua que em
outra.
Parece que ainda não foi achado um bom motivo para descartar a ideia de que falantes de línguas
diferentes têm a mesma visão do mundo no que diz respeito a conceitos fundamentais como
tempo, espaço, número, matéria, etc., porém podem ter visão diferente quanto a outros conceitos,
principalmente os vinculados à cultura, porque estes implicam conhecimento da mesma.
O problema da tradução exacta é difícil e, às vezes, impossível, pelo não isomorfismo lexical e
gramatical (até no tempo gramatical, modo e número). Franz Boas (1911) apresentou o conhecido
exemplo de que o esquimó não dispunha de uma única palavra para neve e sim de diversas, uma
para cada modalidade de neve, devido à importância que este elemento tem na sua cultura.
As diferenças lexicais e gramaticais entre as línguas nem sempre se devem a diferenças culturais,
mas elas existem na estrutura gramatical e no léxico e, muitas delas podem ser atribuídas a estas
diferenças.
Contrariamente aos relativistas, que defendem a teoria de que cada língua corresponde a uma
cultura e, na sua versão mais forte, a tradução seria impossível, os universalistas acreditam que
todas as línguas humanas possuem propriedades comuns, mesmo não tendo tido qualquer
contacto que permita atribuir essas características comuns à difusão cultural .
O homem viria com algum equipamento inato, que lhe permitiria adquirir nos primeiros anos de
vida a língua de seu ambiente familiar, qualquer que ela fosse, pois já viria conhecendo as condições
básicas da língua humana, condições que lhe permitiriam a aquisição rápida da modalidade da
língua falada no ambiente que o rodeia, naqueles primeiros anos de vida. Essas propriedades gerais
da língua humana são denominadas universais linguísticos. Pelo menos quatro dessas propriedades
aparecem em todas as línguas, e podem estar interligadas de diversas maneiras. São elas a
arbitrariedade, a dualidade, a descontinuidade e a produtividade.
tratados sobre a linguagem no século XVIII. A dificuldade tem sido o saber que propriedades das
línguas humanas podem realmente ser consideradas universais. Existem propriedades comuns a
muitas línguas mas, com o conhecimento e estudo de outras línguas, verifica-se que existem
propriedades que na verdade não são universais, ou seja, inerentes a todas as línguas humanas e
sim que sua coincidência nas línguas conhecidas deve ocorrer devido à difusão cultural.
Os estruturalistas, de um modo geral, enfatizavam a diversidade estrutural das línguas. Nos Estados
Unidos, ao estruturalismo bloomfieldiano veio a opor-se, no fim da década de 1950, o gerativismo
de Noam Chomsky. Enquanto o estruturalismo norte-americano tinha por base o materialismo e
acreditava na filosofia behaviorista segundo a qual o cérebro do aprendiz era uma tábua rasa sem
qualquer qualidade inata para adquirir conhecimento, Chomsky acredita em alguma espécie de
inatismo e nas propriedades universais da linguagem. De certa forma ocorre uma volta aos
princípios universalistas da antiguidade e à gramática de Port-Royal, pois Chomsky acredita que a
linguagem humana é, ao menos nos primeiros anos de vida, transmitida geneticamente. Esta
condição é inata e específica da espécie. Assim, acredita que existem propriedades formais que são
encontradas em todas as línguas, porém essas propriedades são arbitrárias. A busca dessas
propriedades tem sido responsável por interessantes trabalhos, tanto na linguística teórica como
na descritiva.
A gramática universal tradicional também poderia ser considerada uma teoria de universais
substantivos não só no que respeita à fonética universal mas também pelas categorias fixas (nome,
verbo, etc.), que se encontram na estrutura sintáctica subjacente de qualquer língua.
Ainda como propriedade universal substantiva se poderia defender uma teoria de universais
semânticos que realizam certas funções de designação em todas as línguas. Cada língua tem de
conter itens lexicais para designar pessoas, certos objectos relacionados com o ser humano, certos
comportamentos, sentimentos, etc.
Podem existir, no entanto, propriedades linguísticas universais mais abstractas. Basta que se prove
que uma propriedade abstracta é geral nas línguas humanas. Estudos recentes permitiram a
apresentação de diversas propostas acerca de universais formais nesse sentido. Uma dessas
propostas é a de que o componente sintáctico de uma gramática deve conter regras
transformacionais que projectem estruturas profundas interpretadas semanticamente em
estruturas superficiais interpretadas foneticamente. Essas propostas encaram de maneira diferente
as propriedades universais das línguas: os elementos fonéticos compõem a camada fonética em
todas as línguas, determinadas categorias específicas devem ser fundamentais para a sintaxe de
todas as línguas e determinados traços ou categorias semânticas fornecem um quadro universal
para a descrição semântica. Estes universais são substantivos porque têm a ver com o vocabulário,
enquanto os universais formais se relacionam mais com as regras que regem as gramáticas e com
suas interconexões.
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Universais formais também é possível procurá-los no campo semântico: nomes próprios (existem
em qualquer língua), nomes para designar objectos relativos a espaço e tempo, nomes de cores,
termos de determinados objectivos, necessidades e funções humanas, etc.
A existência de universais formais profundos, no sentido sugerido por exemplos tais como estes,
implica que todas as línguas são construídas obedecendo ao mesmo padrão, mas não implica que
exista uma correspondência ponto por ponto entre línguas particulares. Não implica, por exemplo,
que exista qualquer processo razoável de tradução entre as línguas.
A opinião de Chomsky sobre os universais linguísticos, que vimos seguindo aqui, foi manifestada
em 1965 e aqui ele já admite restrições em muitos universais. Os linguistas vêm acrescentando
outras restrições, inclusive à teoria da gramática universal, o que enfraquece a teoria, com o que
não estão de acordo alguns partidários do gerativismo. Em 1973, Kimbal comenta:
Quanto mais limitada a capacidade gerativa da classe de gramáticas disponíveis, como gramáticas
potenciais das línguas humanas, tanto mais próximo da explicação da aquisição da linguagem pela
criança chegou o linguista. Acrescentar novos mecanismos à gramática aumenta a capacidade
gerativa da classe de gramáticas resultante é uma perda completa de poder explicatório da
gramática universal; e cada acréscimo deve ser justificado por considerações empíricas.
Em 1969, Berlin e Kay estudaram a divisão do continuum visual do espectro das cores em vinte
línguas, o que resultou na publicação de um livro importante denominado Basic Color Terms.
Segundo sua teoria, denominada teoria de Berlin-Kay, as diferenças na divisão dos conceitos básicos
de cores não são tão arbitrárias como se pensava. Preocuparam-se com o que chamaram de
significado focal de um termo de cor e chegaram à conclusão de que havia onze cores básicas e que
a divisão do espectro nessas onze cores ocorria nas línguas estudadas, o que provaria seu
universalismo. O problema das diferenças situa-se na fronteira entre as diversas cores. Os falantes
do inglês não parecem ter dificuldade entre a distinção das diversas tonalidades e os das outras 19
línguas por eles estudadas tendem a fazer concordar os termos designativos de cores nas áreas
focais.
Qualquer língua com apenas três termos designará os focos correspondentes ao preto, branco e
vermelho; com seis acrescentará o verde, o amarelo e o azul. Com mais uma cor, o sétimo termo
corresponderá ao marrom. A seguir vêm o roxo, o rosa, o laranja e o cinza, que, num sistema de
oito cores básicas, se completará com qualquer uma destas, mas sem qualquer ordem de
preferência.
A hipótese Berlin-Kay tinha por finalidade combater o relativismo, provando que também no campo
semântico alguma forma de universalismo era possível. A hipótese tem sido muito discutida e
contestada, à medida que se iam realizando novas pesquisas em línguas pertencentes a outras
culturas, cuja lexicalização do espectro visual se realiza de formas diferentes. As restrições à teoria
começaram a aparecer e até a metodologia que empregaram é questionada, pois, se no inglês
americano, mesmo nas camadas populares, a identificação das onze cores básicas não sofre
restrições, não ocorre o mesmo nas demais. As 19 línguas restantes foram testadas cada uma em
apenas em um indivíduo bilíngue, o que não parece garantir representatividade. Berlin e Kay
continuaram defendendo sua hipótese, juntos, individualmente ou com outros colaboradores. Sua
última referência bibliográfica é de 1991.
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O problema da lexicalização do espectro visual está longe de estar resolvido. Num exaustivo
estudo que está sendo realizado por B. A. C. Saunders & J. van Brakel, na Universidade de
Leuven (Bélgica), estes linguistas solicitam a colaboração de estudiosos de todo o mundo
até seu estudo ser publicado, que pode ser enviada para seu site na Internet, onde
obtivemos estas informações. Eles dispõem de uma vasta bibliografia, parte dela bem
recente, inclusive muitas pesquisas próprias, abordando e discutindo diversos aspectos, não
só linguísticos, da lexicalização da cor nas línguas humanas naturais. Apresentamos
sucintamente suas conclusões provisórias, donde se deduz que o debate está longe de ser
concluído:
2. A história da arte e da ciência do Ocidente e seu cruzamento cultural indicam que não é
confiável o processo de acreditar na percepção popular para estabelecer a divisão em
quatro tonalidades e onze categorias básicas de cor ou em qualquer outra caracterização
perceptual da cor tida como universal;
Os universais semânticos são ainda mais discutidos que os dos demais atributos linguísticos,
como os fonológicos e sintácticos. O campo semântico que se relaciona ao léxico das cores
é um dos preferidos, tanto de relativistas como de universalistas, no plano da semântica.
Em 1981, John Lyons, depois de analisar os estudos que até então se tinham realizado na
área, conclui:
O que é verdadeiro em relação ao vocabulário de cores parece sê-lo também em relação a qualquer
domínio lexical que se escolha. Se existe uma subestrutura universal de distinções semânticas no
âmbito de tal domínio, haverá também uma superestrutura dependente de cultura, não universal
e talvez mais ampla.
Sumário
Nesta unidade referimos sobre a relação entre a língua, cultura e sociedade, o determinismo e
relativismo linguístico, não deixando de lado o cerne da unidade, a hipótese de Sapir-whorf.
AUTO-AVALIAÇÃO
7) A hipótese não Sapir-Whorf tem nada a ver com determinismo linguístico e nem com a
relatividade linguística.
10) A gramática universal tradicional também poderia ser considerada uma teoria de universais
substantivos não só no que respeita à fonética universal mas também pelas categorias fixas (nome,
verbo, etc.), que se encontram na estrutura sintáctica subjacente de qualquer língua.
Respostas:
1. A
2. B
3. A
4. B
5. A
6. Verdadeiro
7. Verdadeiro
8. Falso
9. Verdadeiro
10. Verdadeiro
Referências Bibliográficas
ATKINSON, M.; HERITAGE, J. (Ed.). Structures of social action: studies in conversation analysis.
Cambridge: Maison de Sciences de l'Homme & Cambridge University Press. 1984.
Introdução
Caro estudante, tendo em conta que qualquer língua existente em qualquer sociedade está sujeita
a variação, nesta unidade vamos falar acerca das variedades linguísticas, concretamente em
Moçambique.
Há alguns termos importantes para a sociolinguística que podem ser facilmente confundidos entre
si, nomeadamente: variedade, variante e variável. Embora alguns linguistas os utilizem
indiscriminadamente ou sem critérios bem definidos, é interessante fundamentar, com base no
conceito apropriadamente já associado a determinado fenómeno linguístico, seus limites
semânticos.
Denominamos variedade cada uma das modalidades em que uma língua se diversifica, em razão
das possibilidades de variação dos elementos do seu sistema (vocabulário, pronúncia, sintaxe)
ligadas a factores sociais e/ou culturais (escolaridade, profissão, sexo, idade, entre outros) e
geográficos. E o que se convencionou chamar de dialecto.
São exemplos de variedades socioeconómicas ou culturais: a língua culta e a língua popular, o jargão
dos médicos e o dos jogadores de futebol. São variedades geográficas: o português do Brasil em
relação ao português de Portugal e também os falares regionais como o paulista, o carioca, o sulista
e o nordestino. Embora algumas variedades sejam extremamente acentuadas, não chegam a
impedir a intercomunicação dos seus falantes com os de outras regiões ou estratos sociais.
Em relação à variante constitui a forma linguística específica (fonema, morfema, lexema ou palavra)
que é admitida na língua como alternativa de outra, com mesmo valor e mesma função.
O alofone, por exemplo, é uma variante fonética e representa uma forma possível de realização
concreta do fonema. As diferentes formas de se pronunciar a consoante “d” em determinadas
regiões do Brasil constituem alofones.
Quanto à variável, é cada uma das formas linguísticas (fonema, morfema, lexema ou palavra) que,
de acordo com o linguista norte-americano William Labov (1927), estão mais sujeitas à variação
regional, estilística, socioeconómica ou cultural. Essas formas também se alteram para expressar
mudança de função sintáctica, de sentido, de classe gramatical, de pessoa, de número e de género.
A mudança linguística está ao alcance de qualquer falante, porque pertence à experiência corrente
sobre a linguagem, que é sempre um acto individual em sua interacção com o sistema. Além desse
aspecto individual de manifestação da intersubjectividade do ser com o outro, a mudança também
decorre das condições sistemáticas e extrassistemáticas da língua, constituindo-se num problema
histórico na sua realidade dinâmica.
As línguas mudam simplesmente porque não estão definitivamente prontas ou feitas, mas vão se
fazendo continuamente por meio da fala, da actividade linguística em que um indivíduo interage
com outro ou outros.
A fala, embora obedeça às regras estabelecidas pela língua padrão e se estruture em torno das
finitas possibilidades abstractas do sistema, é uma actividade criadora. O usuário, portanto, é o
criador e estruturador da sua expressão. O falante, na sua interacção com o outro, realiza os
fonemas da língua, adaptando-os às peculiaridades das suas necessidades expressivas. Como são
sempre utilizados basicamente modelos anteriores, a língua nunca muda de modo completo as suas
formas de expressão.
Uma vez que variados factores externos em um dinamismo constante exercem influência sobre as
línguas, estas sofrem mudanças que são reflexos desses factores. É inerente à natureza das línguas
que elas sofram mudanças e é por isso também que são chamadas de línguas naturais.
Qualquer desvio em relação à norma, mesmo que literário (do escritor) ou involuntário (do homem
comum), é o início provável de uma mudança. Em períodos de baixa temperatura cultural ou
informacional, criam-se condições apropriadas ou ideais para a consecução de certas mudanças,
podendo fazer com que determinadas variações ocorram com mais rapidez e com resultados mais
efectivos e duradouros.
As aquisições ou adopções diárias, cotidianas, que se actualizam no ato mesmo da realização dos
fonemas é o plano em que as mudanças podem ocorrer. Todo o processo se dá experimentalmente.
Há uma liberdade intrínseca ao falar que o falante aplica na realização ou composição da sua
expressividade linguística.
O dialecto, forma específica como uma língua é falada em determinada região, é também chamado
de variação dialectal ou diatópica. Não se deve confundir dialecto com idioma diferente. Só
podemos chamar de dialecto se houver na língua uma primeira forma linguística de referência. As
comunidades a que essas duas falas se referem devem conseguir compreender-se mutuamente,
ainda que com algumas dificuldades.
As diferenças linguísticas entre os falares das diversas regiões são às vezes evidentes, às vezes
graduais, e nem sempre correspondem exactamente às fronteiras ou aos limites geográficos.
Isoglossa - É a linha que, num mapa linguístico, indica as áreas em que se concentram determinados
traços de linguagem comuns. Estes podem ser de natureza fônica, morfológica, léxica ou sintática,
de acordo com a maneira específica de realização do elemento linguístico focalizado. O uso
característico de determinadas palavras ou expressões e a forma de pronunciar algumas vogais
determinam isoglossas. Há linhas específicas para cada tipo de isoglossa. As duas mais
características são as isoléxicas e as isófonas. As chamadas isoléxicas marcam regiões em que
determinada palavra é preferida em detrimento de outra para denominar o mesmo objecto. Por
exemplo, na região Sul do Brasil, mais precisamente no estado do Rio Grande do Sul, emprega- -se
“bergamota” em vez de “tangerina”, esta de uso mais frequente em todo o país. Nas regiões Norte
e Nordeste, é comum o emprego de “jerimum” para a palavra “abóbora” e “macaxeira” para
“mandioca”.
Todo agrupamento de pessoas que convivem em estado gregário, em colaboração mútua e que
estão unidas pelo sentimento de colectividade apresenta características de linguagem específicas
constantemente realimentadas pelo idioma comum usado pelos falantes. Língua e sociedade
seguem inexoravelmente ligadas.
Dependendo do contexto, uma pessoa pode empregar diferentes variedades do idioma. Essas
variedades representam os diversos modos de funcionamento da linguagem na sua realização entre
emissor e receptor. Os modos associados à faixa etária, classe social, cultura e profissão
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Embora existam modos mais prestigiados de usar a língua, não há melhores nem piores, mas
diferentes. O que se deve enfatizar é a adequação. Essas variedades expressam, enfim, a
diversidade de contexto e de cultura existente no grupo.
O ajustamento com que a peculiaridade expressiva de cada um dos falantes se realiza denota seu
“saber” linguístico.
Situação é o estado ou condição de carácter económico, profissional, social ou afectivo que envolve
os usuários da língua. O repertório lexical e o tipo de estruturas sintácticas com que o falante se
dirige ao interlocutor assinalam preferências que evidenciam maior ou menor formalidade. Essas
escolhas revelam a tendência para afinar o modo operacional como a língua será empregada (para
mais ou para menos convencionalismo) e podem garantir maior eficácia na interacção e
compreensão da mensagem numa dada situação.
A cada momento, em qualquer contexto, há contacto entre murtas pessoas de diferentes estratos
socioeconómicos em diferentes situações que vão exigir na conversação, mesmo que difusa,
mínima ou monossilábica, um nível de convenção predeterminado. Até as pausas ou a duração dos
silêncios são elementos significativos durante uma conversação. Aquilo que parece apropriado, e
oportuno, do ponto de vista estrutural, em determinado instante da fala define os limites do grau
de formalidade.
Qualquer pessoa pode empregar diferentes registros da fala em função de suas necessidades,
calculadas com antecedência ou no exacto momento em que ocorre a enunciação. Mais formal ou
menos formal são apenas dois aspectos de uma série de modos de amoldamento da linguagem.
Uma adolescente pode utilizar registros bem diferentes em um único dia, como, por exemplo,
quando fala com suas amigas ou com seu namorado, com um pretendente ou com a mãe, com o
pai ou com o director da escola, com um professor ou alguém na rua a quem pede uma informação.
A linguagem coloquial (do latim colloquium: “ação de falar junto”, “conversa”) é aquela em que
ocorre a troca de palavras, de ideias entre duas ou mais pessoas numa situação de conversação
sobre assunto definido ou não. E um fenômeno típico entre pessoas que por algum motivo passam
a conviver por um breve momento ou a frequentar um mesmo lugar, instaurando uma certa
familiaridade.
Não se deve confundir língua culta com língua coloquial. A fronteira entre a língua culta (falada) e
a língua coloquial (também falada) é muito tênue, mas o estudo desse assunto não deve trazer
confusão. Uma característica típica da linguagem coloquial é o uso do discurso repetido.
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A palavra “idiotismo” vem do grego (idiotismos) e significa “gênero de vida simples e particular”.
Era a linguagem específica das pessoas simples. Mais tarde passou a significar linguagem corrente
ou vulgar. No latim, com uma pequena variação semântica, era empregada com o significado de
“estilo familiar”. Tem a mesma raiz de idioma (“característica própria do indivíduo”, mais tarde com
a acepção de “língua própria de um povo”) e idiota (“indivíduo simples, do povo”).
Foi também Coseriu quem mais pertinentemente chamou a atenção para a intertextualidade,
fenômeno estudado como formas do discurso repetido. Essas formas constituem superposição de
um texto em relação a outro. Muitos textos preexistentes na língua são constantemente
resgatados, recuperados, relidos, reinterpretados, restabelecendo-se como disponíveis para
contínua reintegração no discurso.
(a) Textemas ou unidades de texto; que são representados pelos provérbios, brocardos, slogans,
ditados populares, citações de vários tipos, consagradas pela tradição cultural de uma comunidade.
(b) Sintagmas estereotipados ou expressões idiomáticas; que são representados por frases que
somente têm sentido para os falantes de determinada língua. Embora seja possível traduzir
literalmente de uma língua para outra, essas frases parecem sem sentido, já que, na própria língua
em que foram criadas, remetem a um sentido conotativo, metafórico.
Mãos à obra!
(c)Perífrases léxicas; que são representadas por alianças usuais de vocábulos, formando aquilo que
chamamos de clichês ou frases feitas. Essas unidades plurivocabulares são assim chamadas porque
são elaboradas com duas ou três palavras de uso muito frequente. A listagem desses sintagmas é
extensa. Geralmente não são lexicalizadas nem dicionarizadas (como ocorre com as frases
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idiomáticas incluídas em qualquer bom dicionário), e são desaconselhadas nas redações dos
grandes jornais.
O jargão tem um conceito mais restrito. É o dialecto usado por determinado grupo social que busca
se destacar por meio de características particulares e marcas linguísticas também exclusivas. Há o
jargão dos médicos, o jargão dos advogados, o jargão dos economistas, entre outros.
Esses grupos, em geral mais prestigiados na hierarquia social, buscam, consciente e ao mesmo
tempo involuntariamente, a não-inserção daqueles que compartilham dessa iniciação.
A palavra “gíria” tem uma origem controvertida que se confunde com a origem de “jargão”. Ambas
provavelmente vieram do espanhol jerga, com o significado de “linguagem difícil”, “linguagem
vulgar”, ou do occitano gergon, “gorjeio dos pássaros”, que mais tarde passou também a significar
“geringonça”, “linguagem vulgar”, “calão” e “jargão”.
A gíria é a linguagem informal caracterizada por um repertório lexical diminuto, mas com uma rica
força expressiva. Constituída de idiotismos e expressões metafóricas ou metonímícas curtas, cujos
significados remetem a ditos de anuência geralmente jocosos ou lúdicos, a gíria apresenta uma
estrutura concisa e desembaraçada. É eficiente em seu dinamismo efêmero, Costuma ser usada por
todo grupo social que pretende se diferenciar por meio de características particulares e marcas
linguísticas exclusivas.
No passado, a gíria esteve associada à linguagem de bandidos, de marginais, dos párias sociais.
Embora não devesse, a princípio, ser compreendida por outros indivíduos de classes sociais
diferentes, acabou se tomando, na sociedade de massas de nosso tempo, um fenômeno de
comunicação. É ainda hoje um mecanismo de diferenciação e de coesão dos grupos em que ela se
origina. E constitui-se, de fato, em um elemento fundamental na evolução de qualquer idioma.
O tabuísmo vem da palavra “tabu” (do inglês taboo), de origem polinésia, segundo o aventureiro
inglês James Cook (1728-1779), para referir-se a ritos sagrados e proibições religiosas. Mais tarde,
Sigmund Freud (1856-1939) usou-a para designar a proibição de atos contrários aos padrões morais
da época.
Hoje, além desses sentidos, tabu também pode significar “proibição de tocar, fazer ou dizer algo”.
Essa interdição de ordem socioeconômica e cultural, sobre a qual se evita falar por pudor, ou por
respeito ao interlocutor ou à situação, faz com que o falante busque alternativas lexicais para as
palavras consideradas chulas, grosseiras ou ofensivas demais na maioria dos contextos. Nesse
conjunto estão os chamados palavrões. Geralmente, referem-se ao metabolismo humano ou
animal (“peidar”) e aos órgãos e às funções sexuais.
(i) Variação histórica - É a comparação das diferentes etapas da história de uma língua, quer
dizer, aquela que se dá através do tempo comparando gerações. É através do estudo da variação
diacrónica que percebemos que as línguas que falamos hoje são resultados longos anos ou épocas
diferentes. Em muitos estudos , o estudo da variação e da mudança se faz com a observação da fala
e de textos escritos antigos. Há que mostrar a relação fala e escrita na documentação do passado
(CEZARIO, 2009).
“Para alguns autores, a linguística histórica é a história da língua escrita, mas sem a fala não se
escreve, pode-se entrever ou entreouvir a voz através dos textos: tarefa difícil e apenas
aproximativa, ouvir o inaudível”. (CEZARIO, 2009).
As LB's moçambicanas por terem sido ágrafas desde a origem é quase impossível estudar como era
a língua no séc. XIV, por exemplo. A obtenção de fontes, segundo Berlinck; Barbosa; Marine (2008,
p.170) é um dos grandes problemas que os pesquisadores de língua enfrentam nos seus trabalhos.
(iii) Variação diastrática ou social - relaciona-se a um conjunto de factores que têm a ver
com a identidade dos falantes e também com a organização sociocultural da comunidade
de fala.
As variações de natureza social são factores que estão associados à classe social, idade,
sexo e situação ou contexto social. A seguir, demonstramos como cada variável interfere
na variação social:
(a) Classe social- a classe social a que pertence o indivíduo exerce fortes influências na
maneira de falar do mesmo. É bastante fácil apontar exemplos de variantes linguísticas usadas
preferencialmente numa determinada classe e isso pode ser objecto de estudo empírico. Um
médico e o porteiro do seu prédio possuem falares diferentes.
Como em qualquer outro domínio social, também na sala de aula encontramos grande
variação no uso da língua. Essa variação pode se dar na fala entre colegas e mesmo na
linguagem da professora que, por exercer um papel social de ascendência sobre seus
alunos, está submetida a regras mais rigorosas no seu comportamento verbal e não
verbal.
(b) Idade - a variação de linguagem ligada à idade pode ser facilmente observada no seio das
famílias. Os avós falam diferentes dos filhos e dos netos; o uso de léxico particular, como
presente em certas gírias (“maneiro”, com sentido de uma avaliação positiva) denota uma
faixa etária mais jovem. A gíria é um exemplo perfeito para demonstrar essa variação.
(c)Sexo - é ponto pacífico que mulheres e homens não falam de maneira igual. Além das
diferenças observáveis no tom de voz, no ritmo, podemos perceber, também, que há
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(d) Situação ou contexto social - qualquer pessoa altera a sua fala, de acordo com o(s)
seu(s) interlocutor (es) – se este é mais velho ou hierarquicamente superior, ou ainda,
segundo o lugar em que se encontra: um bar ou uma conferência. Todo falante varia sua
fala segundo a situação em que se encontra. Uma situação é definida pela concorrência
de dois (ou mais) interlocutores mutuamente relacionados de uma maneira determinada,
comunicando sobre um determinado tópico, num contexto determinado.
Cada grupo social estabelece um contínuo de situações cujos pólos extremos e opostos
são representados pela formalidade e informalidade. O grau dessa variação será menor em
alguns domínios do que em outros. Por exemplo, no domínio do lar ou das actividades de
lazer, observamos maior variação linguística do que na escola ou na igreja. Mas em todos
eles há variação, porque a variação é inerente a toda comunidade linguística.
Exemplo: A situação de uma defesa de trabalho ou entrevista de emprego, em que a
linguagem deve ser formal e obedecer a certos critérios versus a comemoração que ocorre
à aprovação ou à admissão, envolvendo as mesmas pessoas num ambiente de
informalidade, com uso mais “frouxo” da linguagem.
As variedades linguísticas utilizadas pelos participantes das situações devem
corresponder às expectativas sociais convencionais. Aprende-se a falar na convivência.
Aprendemos quando devemos falar de um determinado modo, quando devemos falar de
outro e, ainda, quando devemos ficar em silêncio. Isso porque os membros de qual- quer
comunidade adquirem lenta e inconscientemente as competências comunicativas e
sociolinguística, com respeito ao uso apropriado da língua.
(iv)Variação diafásica/Estilística ou Registos – são as variações linguísticas relacionadas
ao contexto, ocorrem quando os falantes diversificam sua fala, usam estilos ou registros
distintos, em função das circunstâncias em que ocorrem suas interacções verbais.
Os falantes adequam suas formas de expressão às finalidades específicas de seu acto
enunciativo, sendo que tal adequação decorre de uma selecção dentre o conjunto de formas
que constitui o saber linguístico individual, de um modo mais ou menos consciente. A
selecção de formas envolve, naturalmente, um grau maior ou menor de reflexão por parte do
falante: o uso do estilo formal, em relação ao informal requer uma actuação mais consciente.
Esta variação centra - se na comparação entre a língua falada e língua escrita.
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Os grupos situados em baixo na escala social não adquirem a língua de modo imperfeito,
não deturpam a língua “comum”. Pensar que a diferença linguística é um mal a ser
erradicado justifica a prática da exclusão e do bloqueio ao acesso a bens sociais. Trata-se
sempre de impor a cultura dos grupos detentores do poder aos outros grupos e a língua
é um dos comportamentos do sistema cultural.
Cabe aos usuários das variedades não padrões adoptarem a variedade socialmente aceitável
pelo menos, em certas circunstâncias, como em situação de fala pública ou durante uma
entrevista de emprego.
A motivação para falar de um outro modo é sempre social, e isso pode ser produzido
pela escola, ou pela experiência social.
gerações vão progressivamente desprezando. São, de fato, os povos que, seduzidos pelo superior
prestígio de uma outra língua, adoptam-na em prejuízo daquela que haviam recebido dos
antepassados.
As mudanças linguísticas são exclusivamente funcionais e culturais. Essas mudanças só ocorrem
porque apresentam maior eficácia nas funções que são próprias à língua. São, nesse sentido,
utilitárias e práticas, e podem ser comprovadas em qualquer aspecto da língua. Por oposição a
outros elementos, ocorre uma eliminação do acessório (ou acidental), ficando apenas o que
distingue ou apresenta traço distintivo.
Além disso, aquilo que é cultural cria mais condições para que a mudança ocorra. A normatividade,
que caracteriza o sistema linguístico, e a adesão dos falantes à sua própria tradição linguística fazem
com que a língua apresente condições de relativa estabilidade e, portanto, de resistência à
mudança. Nenhum elemento se insere ao sistema se não tiver existido antes na fala e, por extensão,
na norma.
As circunstâncias históricas não são causas determinantes da mudança. Esses factores que se
constituem no conjunto de modos e princípios de comportamento, conhecimentos, crenças,
costumes, valores intelectuais, morais e espirituais afectam, mas não se reflectem de forma
paralela ou automática na estrutura interna da língua.
Nesta parte tentaremos demonstrar quais os problemas que o professor moçambicano enfrenta
diante dos seus alunos, no ensino da disciplina de português.
As frases apresentadas em 2.3 e 2.6 mostram a diferença na relação à PE e o PM, pois “não existe
comunidade linguística alguma em que todos falem do mesmo modo e porque, por outro lado, a
variação é o reflexo de diferenças sociais, como origem geográfica e classe social, e de
circunstâncias da comunicação.” (CAMACHO, 2011, p.35). Vimos também que mesmo em Portugal
onde seria referência tem vários “dialectos” espalhados pelo país, facto que ilustra que nenhuma
língua é falada de forma homogénea.
Esta é uma tradução linear do xichangana para português. O aluno transfere construções
gramaticais da sua língua materna para português, mas enfim a frase se torna agramatical.
Tem problemas de coordenação por que a LM do aluno não respeita as normas da LP. Segundo Dias
os verbos kulelelana (despedir-se) e kuhambana (divorviar-se) selecionam a preposição ni que
exprime companhia, o que contrasta com a LP que para os seus equivalentes seleciona a preposição
de que exprime afastamento. Porque o aluno se habituou, em tsonga, a associar a noção de
companhia aos verbos anteriormente referidos, ao usar a LP vai juntar aos seus equivalentes
preposições que exprimem companhia. (DIAS, 2009, p.241)
Várias construções transferidas das LB para PM passamos a citar exemplos de Dias (2009). O
asterisco diante de um enunciado ou palavra representa uma forma agramatical, isto é, uma
ocorrência inexistente no PE e no PB.:
*Ele negou com o pão dele. (xichangana: yena ayalile ni pawu rakwe.)
*Ela não quer com a casa dela (xichangana: yena angalavi ni kaya kakwe)
fui dito que não ias); acrescimento de vogal de palavra que terminam com consoantes
(ex. *Encontrari); problemas de concordância nominal (ex. *A maior parte fizeram); dificuldades de
concordância verbal (ex.* Existe pessoas.);
Aparecimento de passivas dativas (ex. *Eu fui dito não ias) dentre vários outros casos.(Dias, 2009,
p. 405-406). Por fim, há que considerar muitos empréstimos vindos do xichangana: *tchovar
(empurrar) e *timbileiro (xilofone) e estrangeirismos:
*tseque (folhas comestíveis dos quais se prepara um molho), *mulala (raiz usada para escovar e
tratar a cárie nos dentes).
Se o professor não percebe o “desvio” ao PE como poderá corrigir estas frases ou unidades lexicais
nos cadernos ou na fala dos seus alunos? É claro que vai perpetuar normas do PM mesmo pensando
que está falando/escrevendo o PE. Infelizmente, ainda há preconceito linguístico em Moçambique
no que diz respeito à variação/mudança. Muitos professores ainda reprimem qualquer tipo de
variação. Contrariamente a essa ideia, a escola não pode ignorar as diferenças sociolinguísticas e os
alunos têm de estar bem conscientes de que existem duas ou mais maneiras de dizer a mesma coisa
e que não podem desprezar nem ter preconceito para quem fala de forma diferente da sua. O
importante é sublinhar que é “papel da escola, portanto, facilitar a ampliação da competência
comunicativa dos alunos, permitindo-lhes apropriarem-se dos recursos necessários para se
desempenharem bem, e com segurança, nas mais distintas tarefas linguísticas.” (cf. BORTONI-
RICARDO, 2009, p.74). Desta forma, os professores acham que punindo os erros dos alunos, através
de reprovações resolve-se os problemas de aprendizagem.
Acredita-se que a norma europeia é a “mais certa” e essa que é exigida aos alunos. Até parece para
professores falam como “portugueses nativos”. Sobre o ensino da variação, Bagno (2009) defende
que
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Devemos apresentar aos nossos alunos todas as opções que a língua oferece, explicar o
funcionamento dessas regras, os processos gramaticais que ocorrem em cada uma e os produtos
que deles resultam. Devemos também ter a honestidade de explicar o valor social atribuído pelos
falantes culturas a cada uma dessas estratégias [...] o ensino dessas formas padronizadas
conservadoras não pode vir acompanhado da atitude tradicional da escola de negar todo e
qualquer valor às regras não-padrão, de despejar uma enorme carga de preconceito contra as
opções sintácticas mais antigas ou mais inovadoras da língua, acusando elas de serem feias, erradas,
estropiadas, etc. (BAGNO, 2009, 157-158).
Falta um pouco de “honestidade” do sistema educativo moçambicano e por parte dos professores
de português porque se enganam quando afirmam que a norma mais correcta é a portuguesa,
como se eles falassem tal como em Lisboa. Resultados dessa atitude são as reprovações “em massa”
dos alunos
na disciplina de português. Concordamos com Cagliari (2009, p.24) quando A variação linguística e
o ensino do português em Moçambique 273 afirma que “o professor de língua portuguesa deve
ensinar aos alunos o que é uma língua, quais as propriedades e usos que ela realmente tem, qual é
o comportamento da sociedade e dos indivíduos com relação aos usos linguísticos, nas mais
variadas situações de sua vida.” O que acontece em Moçambique com relação a variação linguística
é muito bem discutido pela Bortoni-Ricardo (2009) no livro Educação em língua materna: A
sociolinguística na sala de
aula onde a autora apresenta resultados de uma pesquisa realizada em sala de aula, da qual
concluiu que: O professor identifica “erros de leitura”, isto é, erros na decodificação do material
que está sendo lido, mas não faz distinção entre diferenças dialectais e erros de decodificação na
leitura, tratando-os todos da mesma forma; O professor não percebe uso de regras não padrão.
Isto se dá por duas razões: ou o professor não está atento ou o professor não identifica naquela
regra uma transgressão porque ele próprio a tem em ser repertório. A regra é, pois, invisível para
ele; O professor percebe o uso de regras não padrão e prefere não intervir para não constranger o
aluno; O professor percebe o uso de regras não padrão, não intervém, e apresenta, logo em
seguida, o modelo da variante padrão. (BORTONI-RICARDO, 2009, p.38).
Estes aspectos constituem peça fundamental para as “reprovações em massa” ou ainda na fraca
qualidade dos alunos moçambicanos. É frequente o aluno chegar ao fim do ensino médio, com
dificuldades enormes de utilizar a norma-padrão.
Outra observação é a de que os professores não percebem que estão diante de uma variante do
PE, isto é, estão diante do PM.
Um facto mais marcante é a preferência dos alunos em outras disciplinas excepto a disciplina da LP.
Outro aspecto a remarcar é que professores cuja sua LM é diferente com a do aluno tendem a
corrigir mais a fonética/pronúncia dos alunos. Este aspecto mostra que as diferenças da LM fazem
como que “falsos erros” dos alunos sejam detectados imediatamente. A gramática ainda é
aprendida como “camisa-de força” faltando a ideia de que saber falar português não é saber recitar
as normas da gramática. Falta este espírito, pois na maioria dos casos, se perde muito tempo com
gramática n ormativa ao invés de se tentar perceber como a variante moçambicana funciona. O
léxico do PM precisa ser explicado aos alunos, de forma clara e concisa, porque a escola é o espaço
de partilha dos saberes. De forma alguma devemos considerar as construções típicas como
“incorrectas” pois, elas são bem conhecidas pelos alunos, são ouvidas todos dias, aparecem nos
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meios de comunicação e fazem parte do português falado naquele ponto geográfico. Acreditamos
que em Angola, na Guiné-Bissau, em Cabo Verde hajam características linguísticas específicas,
porque para aqueles que esperam que os indivíduos saiam da escola dominando um padrão
linguístico que eles chamam de correto, isto é, de acordo com uma norma linguística idealizada,
imposta e, em parte, configurada nos manuais tradicionais de ensino, o ensino do português está
em crise, faliu, porque, a não ser alguns poucos - por já trazerem do berço na sua fala o essencial
desse padrão – dos milhões de escolarizados não sairão da escola, tal como hoje ela é, dominando
esse padrão idealizado e considerado o correto. (MATTOS e SILVA, 2004, p.73).
Pode-se trabalhar questões de variação nas aulas de português. O maior problema está com os
alunos das grandes cidades. Referimo-nos às crianças que têm o português como língua materna,
cujo número vem crescendo de forma acelerada ao longo destes últimos dez anos. Da pesquisa que
se fez em crianças das escolas da Cidade de Maputo, por exemplo, concluiu-se que elas entram na
escola com conhecimento da LP, aliás, do PM. (cf. TIMBANE, 2009). A LP tem causado muitos
problemas de aproveitamento escolar deste o início da nova era (Moçambique independente). Por
sua vez a escola se sente confiante de estar no “caminho certo” pois considera a gramática como
uma “receita mágica” para que os alunos saibam falar muito bem a LP. Para Perini (2005) é um mito
pensar que o conhecimento da gramática é a condição fundamental para saber falar uma língua.
Comentando sobre este mesmo assunto, Neves defende que o tratamento da gramática no espaço
escolar deve respeitar a natureza da linguagem, sempre activada para a produção de sentidos, o
que se opera nesse jogo entre restrições e “escolhas que equilibram o sistema [..] pois a língua é
dinâmica e variável, é um sistema adaptável, sempre em acomodação, de tal modo que só na sua
face sociocultural se poderá admitir a existência de moldes e modelos.” (NEVES, 2009, p.85). Neves
conclui dizendo que a gramática não pode ser oferecida como uma “camisa-de-força” para os
alunos facto que infelizmente acontece também na escola moçambicana. Por outro lado, a maior
parte da população de Moçambique usa as LB e assim, seria importante que se avançasse para uma
educação bilingue em que a LP é estudada em paralelo
com a LP, principalmente nas classes iniciais. Ngunga afirma que é injusto que uma criança não
avance na sua carreira escolar só porque lhe é imposta uma A variação linguística e o ensino do
português em Moçambique 275 barreira que é o português. “O uso na escola de uma língua
desconhecida como
Para Bortoni-Ricardo (2006) e para Bagno (2008) a escola não pode ignorar as diferenças
sociolinguísticas. Os professores e, por meio deles, os alunos têm de estar bem conscientes de que
existem duas ou mais maneiras de falar a LP e assim, é preciso transformar a escola num lugar de
inserção inevitável entre o saber erudito-científico e o senso comum, e que isso deve ser usado em
favor
do aluno e da sua formação como membro da sociedade. Apesar da escola ser considerada a
guardiã da norma e do bom-uso linguístico não consegue controlar certas formas características no
meio social em que o indivíduo está envolvido.
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As frases em asterisco (*) mostram a agramaticalidade com relação á norma nos PE. As frases em
asterisco mostram uma das características do PM e resultam de certo modo da transposição de
construções sintácticas da LB para PM, facto que é normal em Moçambique. Se o professor está
pouco avisado pode deixar passar estas frases em redacções e em outros textos. Aliás, ser professor
não é sinónimo de ser “especialista em gramática” da LP. Contestar estas frases seria o mesmo que
dizer os “moçambicanos não sabem falar português”. É o 2º mito apresentado por Marcos Bagno
no seu livro Preconceito linguístico: O que é, como se faz”. Bagno (2009, p.40) se defende
explicando que o “brasileiro sabe português, sim”. Quando dizemos que Brasil se fala português,
usamos esse nome simplesmente por comodidade e por uma razão histórica, justamente a de
termos sido uma colónia
de Portugal. Muitas pessoas ainda não percebem que o PM existe e precisa ser estudado e
apresentado em forma de gramática e dicionários. Matosse (2013) num artigo publicado no Jornal
“Notícias” (08 e 09/03/2013) escreve sobre os erros que são cometidos ao falar “português”.
Matosse escreve: Frequentemente, oiço professores de português, talvez por gravíssima
distracção, a dizer aos seus alunos, ainda que com algum carinho: *Meus meninos, abrem vossos
cadernos. Análise: esta frase não se enquadra em nenhum dos tipos de frase, 276 Alexandre
António Timbane que certamente o leitor terá aprendido: declarativo, exclamativo, interrogativo e
imperativo. Sem dúvida, à primeira análise, parece-nos adequar-se ao imperativo. (MATOSSE, 2013,
Grifo nosso).
Esta afirmação do Matosse prova mais uma vez de que o preconceito linguístico é uma realidade
em Moçambique. A norma européia é a mais exigida e há impressão de que moçambicanos devem
falar tal como se fala em Portugal.
A norma é artificial e nem mesmo em Portugal todos conhecem a gramática ou falam tal como está
previsto nas gramáticas. Ainda bem que o Matosse percebe que “muitos professores” falam da
forma como ele considera errado. A língua é propriedade do colectivo e não da individualidade. Se
há muitos que falam ou escrevem assim, é prova mais que suficiente de que a variante
moçambicana está a se consolidar de forma mais acelerada.
Voltando para os debates no Brasil, é importante sublinhar que a questão de preconceito linguístico
resiste no meio de alguns linguístas e no meio da sociedade em geral, tal como se viu nos debates
sobre o livro escola Por uma vida melhor. Como ficou esclarecido, com a temática pretende-se
mostrar que há variedades de língua para cada contexto social, cultural, económico, tecnológico,
geográfico e até mesmo político. O importante é saber enquadrar os falares para cada contexto. A
escola não pode ficar reprimindo, mas sim devia apoiar a diversidade linguística para que o
preconceito não prevaleça na nossa sociedade porque a escola deve “contribuir para o
desenvolvimento de uma pedagogia sensível às diferenças sociolinguísticas e culturais dos alunos e
isto requer uma mudança de postura da escola, dos professores, dos alunos e da sociedade em
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geral”. (cf. BORTONI-RICARDO, 2006, p.130). Quem disse que em Portugal se fala português da
mesma forma em todas as regiões? Aí a situação se complica ainda mais.
A escola deve ser o local que propicia e conduz uma reflexão profunda sobre o funcionamento da
linguagem e ela tem de garantir que seus alunos entendam que têm de adequar registros segundo
os contextos; garantir que hajam condições de mover-se nos diferentes padrões de tensões ou de
frouxidão, em conformidade com as situações de produção. (cf. NEVES, 2009, p.128). Não é
camuflando situações que podemos formar um cidadão linguisticamente são, porque se assim for
a educação em Moçambique continuará a ser “falsamente democratizada”, seguindo “a tradição
normativo-prescritiva cujo modelo é a um português padrão idealizado, fundado originalmente no
português europeu.” (MATTOS e SILVA, 2004, p.137). A questão é variação é muito profundo sendo
que a escola moçambicana pouco faz. Cagliari (2010) escreveu uma obra intitulada Alfabetização e
A variação linguística e o ensino do português em Moçambique linguística onde defende que “para
a escola aceitar a variação linguística como um facto linguístico, precisa mudar toda a sua visão de
valores educacionais.”
Enquanto isso, não acontece, o autor acrescenta que “os professores mais bem esclarecidos
deveriam pelo menos discutir o problema da variação linguística com seus alunos e mostrar-lhes
como os diferentes dialectos são, por que são diferentes, o que isso representa em termos das
estruturas linguísticas das línguas”. (opt.cit, 2010, p.71). Por conseguinte, a sociedade em geral
devia abandonar o preconceito linguístico que se verifica, principalmente na educação. A língua é
propriedade colectiva e espelha a realidade da sociedade. Sendo assim, ela vai de acordo com as
ansiedades dos falantes, dos contextos socioculturais facto que faz com que seja não seja estático
evoluindo ao longo do tempo. Portanto, conforme frisamos num dos capítulos anteriores, qualquer
língua varia, e o fenómeno variação é universal.
3.1.9. Características do léxico presente nos livros escolares e debates sobre ensino
Mas, o ensino primário em Moçambique tem enfrentado sérios problemas: primeiro, o tipo de
ensino (alunos com LP como língua materna usam o mesmo livro com aqueles que têm a LP como
língua segunda); segundo, os conteúdos (seguem a norma europeia e não toleram nenhuma
variação). Os conteúdos dos livros tentam convencer ao aluno que a norma-padrão é a mais correta
e que a gramática seria o “único remédio mágico” para “saber falar” português. Ao analisarmos os
livros de 1ª a 7ª classes constatamos que há estrangeirismos e empréstimos vindos das LB bem
como da língua inglesa. Os textos são adaptados para que se aproximem ao PE o que é, ao nosso
ver, uma tentativa de “apagar” a realidade sociolinguística moçambicana. Há uma tentativa da
parte dos autores de apagar estrangeirismos e empréstimos linguísticos presentes nos textos dos
escritores moçambicanos. Por vezes essas tentativas são fracassadas.
a) “Para festa eu levei o frango à zambeziana, mucapata e mucuane.” (4ª classe, p.51)
b) “Algumas dessas madeiras são muito valiosas, como a chanfuta, o pau-preto, a umbila e o
jambirre.” (4ª classe, p.52)
4. O livro da 4ª classe, por exemplo tem os subtítulos “falar e escrever bem” que se dedicam ao
ensino da gramática normativa. Tem 33 tópicos gramaticais. O livro da 5ª classe tem 38 tópicos
h) “Pr’a semana prometo talvez nos vejamos, quem sabe?” (6ª classe, p.20).
i) “Nhamussoro foi chamado e com o seu soco enorme contendo bugigangas diversas chegou.” (6ª
classe, p.90).
j) “E para ele somos todos misters e misses - Acrescentou Toshiro.” (6ª classe, p.128).
k) “Em que período do dia matabichas, almoças e jantas?” (1ª classe, p.29).
As unidades lexicais em itálico nas frases de (a) à (k) representam um pouco do tipo do léxico que
os manuais dos alunos apresentam. São palavras inseridas no contexto do PM e só são percebidas
com muita facilidade pelos falantes da variante moçambicana. Temos aqui a presença de palavras
vindas das LB (madala, nhamussoro, mucuane, timbilas, etc) do inglês (machimbombo, misters,
misses).
A nível lexical a situação é mais visível, mas a nível sintáctico aparece um “pouco camuflado” para
quem não tem domínio da norma-padrão. Segundo Stroud e Gonçalves (1997, p.13) um teste
recente sobre aceitabilidade e correcção de frases entre falantes letrados de Português, conduzido
pelo do Instituto Nacional do Desenvolvimento da Educação (INDE), revelou que partes de frases
que de facto estavam corretas, segundo a Norma-Padrão Europeia (NPE) eram consideradas
inaceitáveis e corrigidas pelos sujeitos testados. Esse teste é mais uma prova de que o NPE está
pouco presente na fala dos moçambicanos apesar da insistência dos professores em sala de aula.
Se os professores não dominam o NPE como corrigirão as redacções dos alunos? Nota-se que os
professores nasceram, cresceram e aprenderam neste contexto sociolinguístico, o que são
“anormalidades” em relação à NPE parecem “normais”, quer dizer, professores não chegam a
identificar “os erros”. E mais, os professores do ensino primário não têm ensino superior, se
seguíssemos o conceito de “norma-culta” não estariam aptos a falar, nem a ensinar a NPE.
Estas orientações abrem espaço para que o professor e os alunos usufruam da literatura
moçambicana que está bem recheada de empréstimos, neologismos, estrangeirismos de todo tipo.
É preciso que a sala de aulas seja um espaço de debate de discussão das diferentes variedades
linguísticas que a LP apresenta.
É preciso aproveitar esta prorrogativa das orientações do MINED dar oportunidade ao aluno de
fazer uma reflexão aprofundada sobre a LP bem como das LB que fala ou conhece.
Atribulações históricas têm feito com que numerosos povos mudem de língua no curso dos
tempos. A adopção de um idioma novo acarreta o esquecimento, a morte do antigo, que as
novas gerações vão progressivamente desprezando. São, de fato, os povos que, seduzidos pelo
superior prestígio de uma outra língua, adoptam-na em prejuízo daquela que haviam recebido
dos antepassados.
Uma família de línguas é um grupo de línguas aparentadas historicamente e que parecem derivar
de uma língua mais antiga que, por diversificação dialetal, deu lugar a diferentes línguas,
normalmente ininteligíveis entre si. Em sentido estrito, uma família de línguas é agrupamento de
línguas que derivam de um ancestral comum.
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Os estudos comparativos mediante os métodos da linguística histórica têm permitido provar que a
maioria das línguas não estão isoladas, elas formam grupos ou famílias. O estudo de muitas famílias
tem permitido reconstruir as diversas protolínguas ou línguas ancestrais.
O ancestral comum à maioria de famílias não é conhecido ou conhecido só de forma directa em
poucas ocasiões, já que o registo histórico da maioria das línguas é muito curto. No entanto, é
possível recuperar muitas das características do ancestral comum de línguas relacionadas
aplicando o método comparativo – um procedimento de reconstrução desenvolvido no século XIX
pelo linguista August Schleicher.
As famílias de línguas podem ser subdivididas em unidades menores, normalmente denominadas
ramos (a história de uma família de línguas representa-se frequentemente como uma árvore
genealógica).
O ancestral comum de uma família (ou um ramo) conhece-se como "protolíngua". Por exemplo, a
protolíngua reconstruída da bem conhecida família indo-europea é o proto-indoeuropeu (desta
língua, no entanto, não se conservam restos escritos, já que foi usada antes da invenção da escrita).
A seguir, apresentamos algumas famílias de linguas indo – europeia:
Grande Família: Indo-Europeu
As linguas de sinais também apresentam conexões históricas. Assim, por exemplo, a moderna língua
de sinais francesa, a língua de sinais norte-americana e a língua de sinais mexicana têm evoluído a
partir de variantes da mesma língua: a antiga língua de sinais francesa (usada pela comunidade de
surdos de Paris durante o século XVIII). Já a língua de sinais britânica não tem parentesco com a
UnISCED CURSO: Ensino de Português ; 30 Ano Disciplina/Módulo: Sociolinguística
Fonte:
http://planetageo.sites.uol.com.br/f
mapas.htm
Antiga LSF
ASL LSM
LIBRAS
LS LSC
V H
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Fonte:
http://planetageo.sites.uol.com.br/f
mapas.htm
BSL
Baseadas na língua de sinais alemã (DGS). Línguas originadas na língua de sinais alemã (DGS),
que se considera relacionada com a língua de sinais da Suíça alemã (DSGS), a língua de sinais
austríaca (ÖGS) e provavelmente a língua de sinais israelita (ISL).
Fonte:
UnISCED CURSO: Ensino de Português ; 30 Ano Disciplina/Módulo: Sociolinguística
Fonte: http://planetageo.sites.uol.com.br/fmapas.htm
UnISCED CURSO: Ensino de Português ; 30 Ano Disciplina/Módulo: Sociolinguística
ÖGS
Fonte:
http://planetag
eo.sites.uol.co
m.br/fmapas.ht
m
“Antigamente havia muito mais línguas no mundo, apesar de a população ser menor. Cada local,
cada grupo, tinha sua língua. A hegemonia das "grandes línguas" começou com a tecnologia da
escrita e o estabelecimento das civilizações que dominavam grandes áreas geográficas e impunham
suas línguas. Só no Brasil, estima-se que na época do descobrimento havia por volta de
1.175 línguas indígenas. Hoje há pouco mais de 180. Isso quer dizer que, nos últimos 500 anos, com
a dominação da civilização européia no Brasil, 1.000 línguas foram perdidas. Ainda hoje dezenas de
línguas indígenas brasileiras estão ameaçadas de extinção. A morte de línguas continua
acontecendo. Alguns linguistas estimam que, nos próximos 50 anos, 50% das línguas que existem
hoje – 3500 dos quase 7000 línguas – vão morrer” (p. 9).
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
11. “A sociolinguística concebe a diversidade da linguística não como
um problema, mas como qualidade constitutiva do fenómeno
linguístico.” Comente.
12. Fale sobre a variação linguística.
Respostas:
1. A
2. B
3. A
4. D
5. C
6. Falso
7. Falso
8. Verdadeiro
9. Verdadeiro
10. Verdadeiro
Referências Bibliográficas
FIORIN, José Luiz et al. Introdução à Linguistica I. Objetos teóricos. 5. Ed. São
Paulo: Editora contexto, 2006.
UnISCED CURSO: Ensino de Português ; 30 Ano Disciplina/Módulo: Sociolinguística
WEINREICH, U.; LABOV, W.; HERZOG, M. Fundamentos empíricos para uma teoria
da mudança linguística. Trad. de Marcos Bagno. São Paulo: Parábola, 2006
[1968].
Introdução
factores biológicos, seu corpo físico, seus traços, sua psiquê que envolve
emoções, sentimentos, volições, temperamento.
Vimos que fazemos parte de diversos grupos sociais e que é por meio desses
grupos que o nosso processo de socialização ocorre.
De acordo com Savoia (1989) temos, como agentes socializadores, três grupos,
que são : a família, a escola (agentes básicos) e os meios de comunicação em
massa.
Isso faz com que criemos expectativas sobre esses comportamentos diante do
grupo social, desenvolvendo papéis sociais, pois o processo de socialização pode
ser visto também como um processo pelo qual cada indivíduo configura seu
conjunto de papéis.
cientista pode perceber que seus valores religiosos não se coadunam com a
experiência de laboratório que precisa desenvolver”. O que se percebe é que o
conflito de papéis pode variar quanto à intensidade, diante da importância que
se dá a cada papel de conflito, o que pode provocar perturbações na pessoa.
Além disso, dependendo do papel que o indivíduo exerce, ele adquire um lugar
na sociedade que é denominado de status, que, juntamente com os papéis
sociais, determinam sua posição social (PISANI, 1996). Então, papel é o
UnISCED CURSO: Ensino de Português ; 30 Ano Disciplina/Módulo: Sociolinguística
A forma linguística do falante reflecte sua posição social, muito embora a ascensão social
não apague por completo as marcas linguísticas da classe originária ou grupo social do qual
o falante pertencia.
O motor dessas lutas são as desigualdades sociais, sendo que grupos que possuem um
maior quantitativo de poder lutam para manter o seu nível de poder, enquanto os
grupos com menor quantitativo de poder resistem às acções de manutenção de poder
dos grupos considerados dominantes.
Os movimentos originam-se tanto nos grupos dominantes como nos grupos que se
posicionam contra a dominação e o resultado da luta entre esses grupos é o
fortalecimento de um grupo e o enfraquecimento do outro.
Conforme fizemos menção numa das partes deste manual, a língua não se realiza
num vácuo social. Ela não existe fora da sociedade, da mesma forma que a
sociedade não existe sem ela. A relação entre língua e sociedade não é uma
relação em que uma determina a outra, mas de interacção entre elas, em que uma se
reflecte na outra, num sistema de influências. Numa sociedade estratificada, a língua
não foge à estratificação. Ela não é um corpo à parte, ela reflecte a estruturaestratificada
da sociedade, pois “correlacionando-se o complexo padrão linguístico com diferenças
concomitantes na estrutura social, será possível isolar os factores sociais que incidem
directamente sobre o processo linguístico” (LABOV, 2008, p. 19). A língua é um
espelho pelo qual se pode observar o desenho da sociedade. Esta não é estática, da
mesma forma que a língua não o é, ambas evoluem constantemente num processo
de interactividade.
A evolução linguística não ocorre por si só. A mudança linguística não é autónoma,
ela não engendra a si mesma, ela faz parte de um processo de interacção social.
“Sabemos que cada palavra se apresenta como uma arena em miniatura onde se
entrecruzam e lutam os valores sociais de orientação contraditória. A palavra revela-se
no momento de sua expressão, como um produto da interacção viva das forças
sociais” (BAKHITIN, 2009, p. 67). A palavra é a materialidade da língua, é nela que a língua
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se realiza, mas não só na palavra em si, mas em todo um contexto no qual está
envolto o falante. O contexto de fala não pode ser excluído da significação linguística
e é em decorrência desse contexto que a língua evolui, transforma-se.
[...] não se pode entender o desenvolvimento de uma mudança
linguística sem levar em conta a vida social da comunidade
em que ela ocorre. Ou, dizendo de outro modo, as pressões
sociais estão operando continuamente sobre a língua, não
de algum ponto remoto no passado, mas como uma força
social ima- nente agindo no presente vivo (LABOV, 2008, p.21).
O desenvolvimento linguístico de uma comunidade tem relação com a sua vida social,
as pressões sociais operam também sobre a língua. Toda mudança social se propaga
também na língua da comunidade, há uma inter-relação entre uma e outra, sendo que
tanto uma como a outra vivem continuamente em processo de transformação, que
não são autónomos, mas interdependentes. Se a língua muda, não pode ser por si só.
Se ela surge por necessidade social, também é necessário que ela se transforme em
decorrência dela.
O desenvolvimento linguístico de um falante não é um processo centrado na sua
individualidade. O falante em si não é o senhor de sua língua, ele não fala a língua que
deseja, mas a língua que lhe é possível falar, com as formas verbais próprias de sua
comunidade linguística, que também é social, cultural e económica. A língua só se
constitui como tal devido às necessidades sociais, económicas e culturais, é só em
decorrência dessas necessidades que ela existe, e é em decorrência delas que ela se
desenvolve, sendoquenão sepodedeslocá-la deseu contextode realização sem que
ela perca significação.
A linguagem não é objectiva. Deve-se considerar a posição do sujeito em relação ao
tempo e ao espaço. Ela não visa à tradução objectiva das coisas, mas também não é
produto de um subjectivismo fundamentado na consciência de um sujeito deslocado
do tempo e do espaço. Em tododiscurso está presente o sujeito que o produz, masnão
é um sujeito que fala por si mesmo, ele fala a partir de uma determinada posição
social, o seu discurso ultrapassa a sua individualidade para se tornar voz de uma
colectividade, ou melhor, de um grupo social. O sujeito não se sobrepõe ao tempo e
ao espaço, mas ele é o que é em decorrência desses factores e de outros mais, por isso
que em um discurso encontra-se a presença do sujeito que fala, mas também do
contexto sociocultural no qual ele está inserido, o qual é parte constitutiva do
próprio sujeito. Assim, através do discurso, o sujeito não só revela algo, como também
a si mesmo e ao contexto sociocultural no qual ocupa determinadas posições
sociais.
O falante não muda por si só sua maneira de falar. Não é a fala em si mesma que faz
com que o falante mude de posição social, mas, ao contrário,é amudançadeposição
social que faz o falante mudar sua maneira de falar. Porém essa mudança é relativa,
pois mesmo que o falante mude de posição social, sua língua não muda por
completo. Há marcas linguísticas que permanecem e fazem com que se perceba a
sua origem social. Há sempre uma barreira linguística a transpor quando se muda de
posição social, pois existe entre os diversos grupos ou classes de uma sociedade
barreiras que impedem o acesso dos grupos de status inferior a participarem
activamente das relações sociais de poder, uma delas é a barreira linguística, que se
constitui devido os grupos de status inferior não dominarem os códigos linguísticos
usados nas relações sociais da classe dominante. Consequentemente, quem não tem
acesso a esses códigos fica à margem também das relações de poder.
Não se pode dissociar a forma linguística da posição social do falante, pois uma se
reflecte na outra. Numa sociedade de classe, as mobilidades sociais se reflectem na
língua, muito embora, numa análise mais apurada, seja possível identificar a origem
social do falante que ascendeu a uma classe de status mais elevado. As marcas
linguísticas não se resumem à posição de classe, mas também às relações de género
e etnia, entre outras.
A ascensão de um sujeito a uma classe de maior status não se completa apenas no
âmbito económico, entre outras mudanças. Faz - se necessário também a do padrão
linguístico. Com isso se torna mais difícil transpor a barreira que separa as classes ou
grupos sociais. Para transpô-la é necessário que se distancie da classe de origem e se
nivele à classe que se deseja fazer parte. É um processo que se movimenta entre a
distinção e a identificação. “Passar de uma para outra classe é desligar-se da antiga,
sem que não se é aceito na nova, a qual não admite uma sociedade misturada”
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grupo social, pois a fala carrega em si o acúmulo cultural e social do grupo ao qual
pertence e não só o desejo e as aspirações do falante comomembro desse grupo.
Diacronicamente, na estrutura social, hipercorreção inscreve – se como vimos, na
lógica da pretensão dos pequeno-burgueses que tendem a se apropriar antes da hora,
ao preço duma tensão constante, das propriedades das classes dominantes;
intensificando, particularmente, a insegurança e angústia em matéria de linguagem.
O poder das palavras reside no facto que elas não são pronunciadas a título
pessoal por aquele que não é seu “portador”: o porta-voz autorizado não age por suas
próprias palavras sobre as coisas, porque sua palavra concentra o capital simbólico
acumulado pelo grupo que lhe mandatou e que ele é o mandatário.
O capital cultural de um grupo social está presente na fala de um falante desse
grupo, o qual não fala por si só; ele fala em nome do grupo.Em uma comunidade
de fala existem vário s grupos sociais que se identificam a partir de aspectos
socioculturais inerentes a cada grupo. A forma linguística é um desses aspectos, pois
uma comunidadede fala não se caracteriza pela homogeneidade linguística, podendo
existir, em vez disso, uma estratificação linguística que se relaciona com a estratificação
social existente nessa comunidade.
Fica nítida a existência de barreira e nível dentro de uma comunidade de fala, pois “uma
comunidade de fala não pode ser concebida como um grupo de falantes que usam
todos as mesmas formas; ela é mais bem definida como um grupo que compartilha as
mesmas normas a respeito da língua” (LABOV, 2008, p. 188t). Isso quer dizer que a
língua de uma comunidade de fala não é homogênea, existem variações e
estratificações linguísticas dentro dela, pois o que constitui uma comunidade de fala não
é a unicidade da forma linguística, mas o compartilhamento de uma norma linguística
que se universaliza para essa comunidade, mas que não exclui a diversidade de formas
linguísticas no seu interior. Essa diversidade possibilita a existência de grupos sociais
distin- tos dentro da mesma comunidade de fala.
Cada grupo possui formas linguísticas diferenciadas e são elas que o identificam
como grupo. O que faz grupos distintos pertencerem a uma mesma comunidade de fala
é a possibilidade de interacção entre eles, pois compartilham das mesmas normas
linguísticas, mas se distinguem no uso particular da língua, ou seja, cada grupo cria
formas linguísticas próprias que possibilitam a sua distinção como grupo social. Daí
existirem formas linguísticas de prestígio e formas estigmatizadas dentro de uma
comunidade de fala. A existência dessa estratificação linguística dentro de uma
comunidade de fala correlaciona-se à estratificação sociocultural dessa comunidade. As
formas linguísticas de prestígio são consideradas códigos elaborados, que possibilitam
ao sujeito influir nas relacções sociais de poder. Quem não consegue produzir esses
códigos permanece em situação inferiorizada nas relacções de poder.
As condições de produção dos discursos são diversificadas, assim como o sujeito do
discurso não é um sujeito ideal, mas um sujeito real, que está submetido a certas
condições e circunstâncias. Quando ele profere um discurso, não fala de um lugar
vazio; ele ocupa uma posição social e a sua fala é um reflexo dessa posição. Sendo que
o processo de escolarização leva o sujeito a ter consciência do significado social da fala
e, com isso, desenvolver formas prestigiadas de falar, porém aque- les que pertencem
a grupos que não possuem prestígio social e cuja forma linguística não se aproxima
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nível que pressupõe a superação de uma barreira, esta superação recoloca o indivíduo
em outro nível que exige o seu desligamento com o nível suplantado.
As mudanças sociais são reflectidas no padrão linguístico e, da mesma forma que
estas, as mudanças linguísticas podem acontecer de baixo para cima ou de cima
para baixo como reflexo das lutas sociais no âmbito linguístico. Como não se pode
correlacionar os dados linguísticos com medidas de comportamento social que não
se pode fazer a comparação ao longo do tempo, o mais viável é “conectar o
comportamento linguístico com a medida do status atribuído ou adquirido pelos
falantes” (LABOV, 2008, p. 327), pois as mudanças na língua parecem “estar
correlacionadas com mudanças na posição dos subgrupos com os quais o falante se
identifica” (LABOV, 2008, p. 327), ou seja, a identificação social do falante interfere no
seu padrão linguístico, sendo que a língua pode ser considerada como identificador
de grupo ou classe social e há uma correlação entre mudança linguística e
movimento de classe.
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
Questões de Reflexão
11. Diga por palavras suas, o que acontece quando um grupo não tem força
suficiente para a implementação da mudança linguística.
12. Fale sobre a mudança linguística.
Respostas:
1. A
2. A
3. B
4. A
5. A
6. Verdadeiro
7. Falso
8. Falso
9. Verdadeiro
10. Falso
Referências Bibliográficas
LYON, John. Lingua(gem) e Linguística: Uma introdução. Rio de Janeiro: LTC. Pp.
223-243, 2009.
PISANI, Elaine Maria. Temas de psicologia social. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 1996.
TEMA V: O BILINGUISMO
Introdução
Para esta unidade associada aos objectivos da mesma, vamos abordar acerca do
conceito de bilinguismo, graus de bilinguismo e tipos de bilinguismo, sem
deixarmos de lado a grande questão do ensino bilingue em Moçambique.
meio do social amplo onde a criança está inserida sendo a língua do pai alógena,
ou então situação contrária, a língua do pai é a do meio onde a criança está
integrada, e a da mãe é de fora. Neste segundo caso, a língua “materna” da
criança, no sentido amplo do termo é colocada em minoria pelo meio, facto que
pode originar situações conflituosas.
Esse critério diz respeito à capacidade do indivíduo no uso das duas línguas em
questão. A partir desse critério, é possível chegar a dois tipos de falantes bilíngues,
os balanceados e os dominantes:
a)Falante bilíngue balanceado: tem competência similar no uso das duas línguas.
Este critério organiza o bilinguismo de acordo com o status social e político das
línguas dentro da sociedade em que são faladas. São propostos dois tipos:
Este critério diz respeito à manutenção (ou não) da língua materna no processo
de aquisição de segunda língua. Com relação a esse critério, o bilinguismo pode
ser de dois tipos:
12.1.5. Diglossia/Bilinguismo
Mas, em todos os países, existem minorias Linguísticas que por motivo de etnia
e/ou imigração, mantém suas línguas de origem, embora as línguas oficiais dos
países, onde estas minorias coabitam, ou politicamente fazem parte, sejam
outras. Este é o caso das tribos indígenas no Brasil e nos Estados Unidos e dos
imigrantes que se organizam e continuam utilizando suas línguas de origem,
como nos Estados Unidos e na França. Os indivíduos destas minorias geralmente
são discriminados e precisam se tornar bilíngues para poderem participar das
duas comunidades por estarem inseridos em comunidades Linguísticas que
utilizam línguas distintas.
Nesses casos pode-se falar de bilinguismo social, já que uma comunidade, por
algum motivo, precisa utilizar duas línguas.
Trazendo essa temática para os Surdos, em todos os países, eles são minorias
Linguísticas como outras, mas não devido à imigração ou à etnia, já que a maioria
nasce de famílias que falam a língua oficial da comunidade maior, a qual também
pertencem por etnia; eles são minoria Linguística por se organizarem em
associações onde o fator principal de agregação é a utilização de uma língua
gestual-visual por todos os associados. Sua integração está no fato de poderem
ter um espaço onde não há repressão ou discriminação devido ao fato de
poderem se expressar da maneira que mais lhes satisfazem para manterem entre
si uma situação prazerosa no ato de comunicação.
Quando imigrantes vão para outros países, formando minorias Linguísticas ou
guetos, a língua que trazem, geralmente, é a língua oficial de sua cultura, sendo
respeitada, enquanto língua, no país para onde imigram, mas as línguas dos
Surdos, por serem de outra modalidade - gestual-visual - e por serem utilizadas
por pessoas consideradas "deficientes" - por não poderem, na maioria das vezes,
expressarem-se como ouvintes - eram desprestigiadas e, até bem pouco tempo,
proibidas de serem usadas nas escolas e em casa de criança surda com pais
ouvintes.
Cada nação tem sua língua ou línguas oficiais como, por exemplo, o Canadá que
possui a língua inglesa e a francesa. Os países que possuem somente uma língua
oficial são, politicamente, monolíngües, os que possuem duas ou mais são
bilíngues.
Mas, em todos os países, existem minorias linguísticas que por motivo de etnia
e/ou imigração, mantém suas línguas de origem, embora as línguas oficiais dos
países, onde estas minorias coabitam, ou politicamente fazem parte, sejam
outras. Este é o caso das tribos indígenas no Brasil e nos Estados Unidos e dos
imigrantes que se organizam e continuam utilizando suas línguas de origem,
como nos Estados Unidos e na França. Os indivíduos destas minorias geralmente
são discriminados e precisam se tornar bilíngues para poderem participar das
duas comunidades por estarem inseridos em comunidades linguísticas que
utilizam línguas distintas.
Nesses casos pode-se falar de bilinguismo social, já que uma comunidade, por
algum motivo, precisa utilizar duas línguas.
Trazendo essa temática para os surdos, em todos os países, eles são minorias
linguísticas como outras, mas não devido à imigração ou à etnia, já que a maioria
nasce de famílias que falam a língua oficial da comunidade maior, a qual também
pertencem por etnia; eles são minoria Linguística por se organizarem em
associações onde o fator principal de agregação é a utilização de uma língua
gestual-visual por todos os associados. Sua integração está no fato de poderem
ter um espaço onde não há repressão ou discriminação devido ao fato de
poderem se expressar da maneira que mais lhes satisfazem para manterem entre
si uma situação prazerosa no ato de comunicação.
Quando imigrantes vão para outros países, formando minorias Linguísticas ou
guetos, a língua que trazem, geralmente, é a língua oficial de sua cultura, sendo
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respeitada, enquanto língua, no país para onde imigram, mas as línguas dos
surdos, por serem de outra modalidade - gestual-visual - e por serem utilizadas
por pessoas consideradas "deficientes" - por não poderem, na maioria das vezes,
expressarem-se como ouvintes - eram desprestigiadas e, até bem pouco tempo,
proibidas de serem usadas nas escolas e em casa de criança surda com pais
ouvintes.
África (Hamel, 1989; Benson 1997, 2004). Cavalcanti (1999: 387), refere-se a
outro tipo de programas de educação bilingue que se considera de escolha como,
por exemplo, os que envolvem línguas dominantes como o Francês e o Inglês.
Hamel, (1989: 35), agrupa os vários tipos de programas de educação bilingue em
programas de enriquecimento, segregação e assimilação, de acordo com os seus
objectivos sociolinguísticos, culturais e estruturais.
BAXTER (1996: 541) “crioulo é língua nativa que surge em situações especiais que
conduzem à aquisição de uma L1 com base num modelo de L2 defectiva, tipo
pré –pidgin/pidgin”.
Uma língua crioula é uma língua gerada habitualmente numa comunidade
composta de diversas origens. Esta comunidade não partilha previamente uma
língua e como tem necessidade de se comunicar vê – se obrigada a valer – se de
uma língua que não é de nenhuma delas. O resultado é uma língua que toma o
léxico (normalmente muito deformado) da língua imposta e que, no entanto, tem
uma sintaxe que se parece mais a de outras línguas crioulas que à da língua
materna. Os países africanos vivem esta realidade.
Sumário
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AUTO-AVALIAÇÃO
d. aceitabilidade
a. mudança linguística;
c. variação linguística;
1.Defina diglossia.
Respostas:
1) F;
2) V);
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3) V
4) F
5) V
1) D
2) C
3) B
4) A
5) D
Referências Bibliográficas
Introdução
vezes, foi planeada com considerável sucesso. Por fim, está claro que a língua
continuará sendo planeada no futuro, tanto em conexão com o cultivo de uma
língua previamente modernizada, quanto em conexão com a modernização de
línguas até então utilizadas apenas para actividades tradicionais. Assim, a
questão a ser enfrentada no futuro não é se a língua deve ou pode ser planejada
mas, sim, como fazer isso mais efectivamente, em conexão com critérios de
sucesso pré-estabelecidos (FISHMAN, 1974b, p. 25-26).
Como se depreende desse excerto, a possibilidade de se manipular ou planear as
línguas é/era algo evidente para Fishman, autor que, como aponta Estman (1983,
p. 3), é considerado o fundador da área. Também transparece a ideia segundo a
qual o que importa, de facto, é discutir a eficiência dos processos de planeamento
linguístico. Na mesma direcção, Neustupný (1974), outro dos pioneiros da
pesquisa na área, ao discutir o que ele define como "tratamento de problemas
linguísticos" (treatment of language problems), afirma:
o tratamento racional (dos problemas linguísticos) é caracterizado por
neutralidade afectiva, por especificidade de metas e soluções, por universalismo,
por ênfase na efectividade e por objectivos de longo prazo. Por outro lado, a falta
de racionalidade é marcada por afectividade, difusão, particularismo, por ênfase
na qualidade, em vez de na efectividade, e por preocupação com metas de curto
prazo (NEUSTUPNÝ, 1974, p. 38).
Como se pode observar, Neustupný, além de se posicionar favoravelmente
quanto à manipulação linguística no âmbito de processos de planeamento
linguístico, entende que se trata de um procedimento fundamentado no
raciocínio lógico e prático. Assim, podemos afirmar seguramente que a posição
de Fishman e de Neustupný era compartilhada pela maioria dos seus pares, pois,
como lembram Kaplan e Widdowson (1992)
[a] questão da modernização está necessariamente incluída no planeamento
linguístico; à medida que novas nações emergem, surgem preocupações quanto
à capacidade de o sistema político subsidiar seus cidadãos. Modernização implica
disponibilidade de informação científica e técnica, além de preocupação com
tecnologia apropriada e com sua transferência (KAPLAN e WIDDOWSON, 1992,
p. 78).
Como se apontou anteriormente, a modernização linguística (segundo dos três
postulados fundamentais da área de Política Linguística em seus primeiros anos)
era percebida como uma prática necessária nos contextos de descolonização,
pois se acreditava que as nações liberadas da dominação política e linguística
dificilmente poderiam se gerir, dada sua heterogeneidade étnica e linguística.
Frente a essa necessidade (e a esse pressuposto "científico"), as lideranças desses
novos países desenvolviam e implementavam, com base no parecer de linguistas,
políticas linguísticas visando alçar uma das línguas ou das variedades linguísticas
faladas pela população à condição de língua nacional.
língua portuguesa foi expandida por meio das escolas com o alicerce da Igreja
Católica e, posteriormente, com o apoio das Igrejas Pro- testantes que também
ensinavam a língua inglesa. Com isto, pode-se dizer que à Igreja Católica cabe o
mérito, em parte, da massificação do Português, às Igrejas Protestantes do Inglês.
É caso para dizer que os católicos idolatraram o Português e os protestantes o
Inglês.
O ensino e a aprendizagem do Português em larga escala constituíam, para
Portugal, um desiderato patriótico, nacionalista e mercantilista para gerenciar o
mercado das trocas linguísticas e também como um mecanismo de domínio
social, ideológico, econômico, político, cultural e simbólico dos moçambicanos.
Para além disso, visava responder, de forma firme, ao avanço vertiginoso da
aprendizagem do Inglês por parte de moçambicanos que almejavam trabalhar
nas minas sul-africanas, mal necessário, já que entre Portugal e a África do Sul
existia um acordo de fornecimento de mão-de-obra, negócio muito rentável para
os cofres da metrópole.
Apesar de todos os esforços, a dominação portuguesa sofreu revés por conta do
grupo dos assimilados e de outros compatriotas nacionalistas no território
nacional e na diáspora que, impulsionados pelo contacto de línguas e culturas, e
também pelos movimentos de libertação nacional que levaram alguns países
africanos a alcançarem as suas independências a partir da década de 1960,
ampliaram o seu ângulo de cosmovisão do mundo e, com isso, uma nova forma
de estar, de ser, de sentir, de ver e de fazer na sociedade que os despertou das
crueldades a que o povo fora submetido.
Foi uma etapa de nova (re)orientação que permitiu a “limpeza psicológica” dos
vestígios do colonialismo, sobretudo aqueles que foram considerados maléficos,
porque o objectivo do discurso colonial, segundo Bhabha (1998, p. 111), era de
“apresentar o colonizado como uma população de tipos degenerados com base na
origem racial de modo a justificar a conquista e estabelecer sistema de
administração e instrução”. A este respeito, Fanon (2005) refere que o colonialismo
não se satisfaz em prender o povo nas suas redes, em esvaziar o cérebro do
colonizado com o recurso à opressão de toda forma e de todo o conteúdo, e
defende que
A tomada de uma nova consciência por uma parte dos moçambicanos, cuja
negritude é bem descrita por Fanon, foi expressa, por exemplo, com o recurso à
denúncia dos males do colonialismo nos jornais e a formação de movimentos
cívicos e políticos contra a presença colonial, facto que originou a desculturação
que, segundo Cuche (2002), ocorre quando os povos se manifestam contrários
aos valores impostos.
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assente na trilogia um povo, uma língua e uma cultura, facto que não passa,
segundo Geertz (1989), de uma utopia, uma esperança alimentada pelas
tradições inven- tadas (Hobsbawn, 1984).
No entanto, apesar de tudo isso, interessa à política do Estado-Nação disse-
minar estas ideologias, crenças e ritualizações, pois as “culturas nacionais são
sistemas de representações” (SARUP, 1996, p. 152). Por isso, as identidades
únicas e fixas no território do Estado-Nação são uma crença, uma construção
socios- simbólica do que é política e ideologicamente ideal, pelo que não passa
de um estereótipo, segundo Bhabha (1998), até porque “nenhuma sociedade
consiste unicamente de excêntricos anônimos que se tocam e ricocheteiam
como bolas de bilhar” (Geertz, 2008, p. 99).
É neste quadro que Lopes (2004, p. 21), que cita Machel (1979), refere que “a
necessidade de combatermos o opressor exigia um combate intransigente
contra o tribalismo e o regionalismo. Foi esta necessidade de unidade que nos
impôs que a única língua comum – a que servia para oprimir – assumisse uma
nova dimensão”, consagrando-se assim a herança tácita da política linguística do
período colonial e adaptada para o período pós-colonial. Com a independência
nacional, novos valores culturais e ideológicos foram colocados em prática, e é
neste contexto que o país adota o Português como língua oficial e de unidade
nacional, tendo em vista consolidar os propósitos da construção do Estado-
Nação assentes na homogeneização linguística e cultural.
A ideia de moçambicanidade não está dissociada das representações que estão
por detrás da construção do Estado-Nação. Por isso, a construção do Estado-
Nação em Moçambique é um processo contínuo e permanente, visto que Estado
e Nação são duas categorias que estão intimamente ligadas ao nacionalismo,
com- pondo facetas da mesma moeda quando falamos do processo de formação
de um Estado Nacional, pois “o nacionalismo não é o despertar das nações para
a auto- consciência: ele inventa nações onde elas não existem” (Anderson, 2008,
p. 32). Por isso, Bauer (1996, p. 81) defende que “a nação apresenta-se como um
modelo natural, e o Estado um produto artificial. […]. O Estado, portanto, deve
seguir a nação e uni-la politicamente”. Ainda de acordo com Bauer (op. cit.), a nação
tem um carácter nacional. Todavia, tal carácter não significa que haja uma
comunhão, a priori, pré-estabelecida. Pelo contrário, existe um esforço para se
estabelecer a comunhão, mesmo reconhecendo-se as diferenças individuais e
grupais, pelo que “nação é comumente entendida como a totalidade dos cidadãos
do Estado, ou a totalidade dos habitantes de um espaço econômico” (Bauer,
1996. p. 76).
A este propósito, Weber (1994, p. 72) defende que a nação não é simétrica a uma
comunidade linguística e defende que “a nação, no uso linguístico habitual, não
é idêntica ao povo de um Estado”, até porque no mesmo Estado podem existir
várias nações, facto que também caracteriza Moçambique, visto que ela é, acima
de tudo, uma construção simbólica que decorre de sentimentos, expectativas,
esperanças, pertencimento e adesão, por vezes obrigatória, a uma colectividade
com a qual se pode compartilhar um passado comum, valores históricos, sociais,
culturais, ou sofrimento suscetíveis de serem intelegíveis.
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Por essa razão, uma pessoa pode pertencer a múltiplas e variadas nações no
interior do seu país, porém cabe à política ideológica e hegemônica do Estado
Nacional perseguir estes sentimentos, por vezes dispersos e fragmentados,
condensá-los na mesma base de harmonização colectiva e reproduzir a
hegemonia conducente à mesma jurisdição do território no qual vegetam estes
sentimentos para integrá-los ao exercício da soberania do Estado.
Segundo Hall (2006, p. 62), a etnia é um termo que se usa para referir às
características culturais, tais como língua, religião, costume e tradições, e
aponta que “essa crença acaba, no mundo moderno, por ser um mito. A Europa
Ocidental não tem qualquer nação que seja composta de apenas um único povo,
uma única cultura ou etnia. As nações modernas são, todas, híbridos culturais”.
O mesmo autor (op. cit. p. 62-63) enfatiza também que “é ainda mais difícil
unificar a identidade nacional em torno de uma raça. […] A raça não é uma
categoria biológica ou genética que tenha qualquer validade científica. […]. A
raça é uma categoria discursiva e não uma categoria biológica”.
Com a ideia de que a nação não se funda unicamente por pressupostos étnicos
e nem raciais, uma vez que a raça não explica, por exemplo, que o ser branco
ariano significa ser alemão, ou então que ser negro é ser africano, até porque
existem em África Estados cuja população é maioritariamente branca, como são
os casos do Egipto, Tunísia, Líbia e Argélia, que fazem parte da denominada
“África Branca”, Renan (1997) coloca em causa o mito de formação das nações
com base na raça e na língua ao defender que “as línguas são formações históricas
que indicam pouco sobre o sangue dos que as falam e que, em todo o caso, não
poderiam agrilhoar a liberdade humana de escolher a família com a qual deseja
unir-se para a vida e para a morte” (Renan, 1997, p. 169-170).
Ainda no mesmo diapasão, Bauer (1996, p. 45) refere que “os ingleses e
irlandeses, os dinamarqueses e noruegueses, os sérvios e os croatas, falam, em
cada um dos casos, a mesma língua, e nem por isso são um único povo. Os judeus,
por outro lado, não têm uma língua comum mas são uma nação”. A propósito da
impossibilidade de qualificar sentimentos de pertença tomando a língua como
base para a formação de uma nação, Hobsbawn (1990, p. 75) faz a seguinte
consideração: “o que sabemos é que lutas nacionalistas foram agravadas
algumas vezes, nos tempos modernos, pela recusa de frações de grupos
linguísticos em aceitar a unidade política com outros que falam a mesma língua”.
Weber (1994, p. 173), no mesmo sentido, refere que os “alsacianos de língua
alemã que rejeitam a pertinência à ‘nação’ alemã não se consideram, por isso,
simples membros da ‘nação’ francesa”.
Assim sendo, afigura-se pouco consistente a percepção de algumas correntes
de opinião de que Moçambique não é uma nação devido à sua diversidade ético-
linguística que traduz-se nas acentuadas assimetrias e heterogeneidades para a
formação da colectividade, até porque a nação é um sentimento de pertença
que não está diretamente indexado a questões étnicas, raciais, culturais,
linguísticas e um dos seus sustentáculos é o sofrimento e o desejo de as pessoas
alcança- rem objetivos comuns, o que justifica o fato de inúmeros e
diversificados grupos étnico-linguísticos e culturais se terem unido e superado
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No contexto da formação dos Estados Nacionais, cada país adota as suas políticas
linguísticas em função dos objetivos que pretende alcançar, o que faz da política
linguística e da planificação linguística dois complementos importantes na
materialização das políticas públicas dos Estados tendo em conta as implicações
político-ideológicas a partir das quais se estrutura todo o processo de
desenvolvimento. Neste sentido, partimos do mote lançado por Bourdieu (2008,
p.31) segundo o qual “os linguistas incorporam à teoria um objeto pré-construído
cujas leis sociais de construção esquecem e cuja génese social em todo o caso
mascaram” e defende que não é o espaço que determina a língua, pelo contrário,
é a língua que define o seu espaço.
Segundo Calvet (1987), citado por Fiorin (2009, p. 15), política linguística é um
“conjunto de escolhas conscientes efectuadas no domínio das relações entre
língua e vida social, e mais particularmente entre língua e vida nacional”. E por
que a existência de uma política linguística pressupõe, a priori, a existência de
uma planificação linguística, Fiorin (ibidem) define-a como “a busca e o emprego
dos meios necessários para a aplicação de uma política linguística”, o que nos
leva a concluir que a primeira implica, necessariamente, a existência da segunda,
pois é o seu instrumento materializador, porém o inverso não procede. Em
Moçambique, o contexto político-ideológico da escolha da língua portuguesa
como língua oficial, língua de Estado e língua de unidade nacional, a partir da qual
se estruturam as ações do Estado Nacional é ancorada na seguinte passagem de
Ga- nhão (1979) citado por Lopes (2004)
A decisão de se optar pela língua portuguesa, como língua oficial na República
Popular de Moçambique, foi uma decisão política meditada e ponderada
visando atingir um objectivo – a preservação da unidade nacional e
integridade do território. A história da apropriação da língua portuguesa, como
fac- tor de unidade, nivelador das diferenças veio desde a criação da Frelimo
em 1962 (Lopes, 2004, p. 21).
Como se pode constatar, a escolha, não linguística, mas política, é herança de uma
política linguística implementada pela própria FRELIMO durante a luta armada.
Produto de um território caracterizado pela diversidade social, linguística, étnica
e cultural, a FRELIMO, desde cedo, adotou, no seu seio, uma política linguística
de emancipação do Português como língua de comunicação tendo em vista a
neutralizar divisionismos intra e inter-étnicos de base tribal, pois a orientação
era clara: matar a tribo para fazer nascer a nação e, como tal, era necessário
reproduzir semelhanças de pertencimento da mesma terra de acolhimento, já
que não se lutava pela terra pré-chegada dos portugueses visto que as fronteiras
foram desarticuladas pelas dinâmicas da ocupação das potências imperialistas.
Com isso, a escolha da norma europeia como padrão em Moçambique foi
decorrente das contingências de uma realidade específica: a diversidade
linguística constituía um entrave para os propósitos da consolidação do jovem
Estado-Nação na visão político-ideológica, como também para a materialização
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▪ Que língua (s) deve (m) ser adoptada (s) como oficia (is) em África?
A (s) língua (s) deve (m) ser concebidas como tendo esse papel em África são:
3.Línguas africanas que podem ser consideradas como maioritárias, tais como:
Wolof em Senegal ou Hausa em Níger; uma língua maioritária que tem de ser
estendida a um grande segmento populacional tal como o Krio , na Serra Leoa;
uma língua artificial sempre concebida como uma língua de união de pessoas de
línguas diferentes, como o Guosa em Nigéria;
a)Nacionalismo vs Nacionismo;
A língua do nacionismo é uma das LWC termo que pressupõe a existência de LNC
(Língua de comunicação menos ampla) tais como: Danish, Czech, Dutch, estas
que não são faladas ou conhecidas por falantes de outras línguas.
Segundo a perspectiva para a escolha de uma língua nacional nos países africanos
Fishman (1971) apresenta três decisões correspondentes a três divisões
possíveis:
(i) Decisões do tipo A; que correspondem a decisões de países que não têm
grande tradição e a população pode apelar pela integração. Desde modo, são
decisões de países que não se fala muito em integração, são decisões feitas tendo
em conta o nacionismo, desta forma, escolhe- se uma LWC como símbolo
nacional permanente. Exemplo: Camarões, Ghana, Gâmbia e Tanzânia.
(iii)Decisões do tipo C; que acontece entre países que têm várias outras
tradições. Sendo assim, em via de conflito ou reivindicação destas tradições,
assume – se nestes países um compromisso entre a integração nacional e a
identidade étnica que são a conciliação entre o nacionismo e nacionalismo.
Exemplo: India e Malásia. Não tem exemplo de nenhum pais africano.
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2)Integração vertical;
Consiste em adoptar uma língua estrangeira como oficial de modo a que nela
participem tanto as massas de um determinado grupo étnico como as elites de
outro grupo étnico. A integração vertical nem sempre é satisfatória visto que
limita a participação de um determinado grupo étnico privilegiando o outro.
3)Aceitabilidade;
Tem a ver com a integração vertical visto que para que uma língua seja aceite
num país deve ser aceite por diferentes componentes do mesmo.
4) População;
Neste tipo de indicador, de acordo com exercícios feitos, o uso de língua é feita
em diferentes infra – estruturas que são: jornais, rádio, gramática, dicionário,
ortografia, alfabetização, tradução, etc, Brann (1975) após o estudo feito,
concluiu que das 51 línguas existentes na Nigéria, as línguas que apresentavam
um estado de desenvolvimento mais avançado são: Yoruba com (26); Hausa com
(25); Igbo (23.5) e Efik (20).
Sendo assim, é a partir de uso ou não de uma língua em diferentes contextos que
podemos afirmar se determinadas línguas estão ou não num grande estado de
desenvolvimento linguístico.
(i) LWC, que apresenta uma grande vantagem uma vez que é usada
internacionalmente e particularmente em diferentes infra – estruturas de um
determinado pais;
(ii) Arabic, que já está sendo usada em diferentes domínios;
(iii) As línguas indígenas africanas, que não competem como uma LWC em termos
de uso, excepto o Somali.
Sumário
AUTO-AVALIAÇÃO
4)A revitalização do Citswa pelo município da cidade de Maputo foi no ano 2000.
a. diglossia;
b. endoglossia;
c.exoglossia;
d. mudança linguística
a. citswa;
b. emakuwa;
c. xirhonga;
d. cisena
5. Mencione pelo menos dois (2) factores que concorrem para eleição de uma
língua como nacional ou oficial.
Respostas:
I. 1) V; 2) V; 3) F; 4) F; 5) F
II. 1) C; 2) C; 3)D; 4)A; 5) B
4. LWC/ Língua de Comunicação mais ampla é uma língua que é usada por maior
parte de população no mundo.
5. Dois (2) factores que concorrem para eleição de uma língua como nacional ou
oficial são nacionismo e integração vertical.
4)A revitalização do Citswa pelo município da cidade de Maputo foi no ano 2000.
Respostas:
I.1) V; 2) V; 3) F; 4) F; 5) F
a. diglossia;
b. endoglossia;
c.exoglossia;
d. mudança linguística
a. citswa;
b. emakuwa;
c. xirhonga;
d. cisena
d) aceitabilidade
5. De entre as linguas abaixo, somente uma se integra nas linguas
minoritárias, que é:
a) cisena;
b) gitonga;
c) emakuwa;
d) xichangana
Respostas:
5. Mencione pelo menos dois (2) factores que concorrem para eleição de uma
língua como nacional ou oficial.
II. Respostas:
4. LWC/ Língua de Comunicação mais ampla é uma língua que é usada por maior
parte de população no mundo.
5. Dois (2) factores que concorrem para eleição de uma língua como nacional ou
oficial são nacionismo e integração vertical.
Referências Bibliográficas
APÊNDICES
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