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A LG LM A S CONSIDERA CO ES $

SOBRE A ATMOSFERA.

THESE
Apresentada , e defendida aos 21 de Fevereiro
v<
Para o Concurso da Cadeira de Physica Medica , -
Na Academia Medico- Cirurgica do Rio do Janeiro ,

TOR

FRANCISCO DE PAULA C ÂNDIDO ,


î ACDAREL EM SCIERCIAS , E DOUTOR EJI MEDICINA TELA ACADEMIA D ß PARIS
.

RIO DE JANEIRO ,
y A T y r o G n A r JI I A n E G U E FFI ER E C1 ,
UA DA QUITAWDA , »° . 70 '

1 Ö 33 .
à> DO CONCURSO.

ROFESSORES D.\ ACADEMIA MEDICO - CIR ÜRGICA . ,


Os Si’s . Doutores DOMINGOS RIBEIRO DOS GUIMARAENS PEIXOTO ,
Presidente.
ANTONIO AM é RICO D URGEDO.
JERONIMO ALVES DE MOURA .
JOAQUIM JOSé MARQUES .

C O N V O C A D O S.

Os Srs. Doutores C â NDIDO BAPTISTA DE OLIVEIRA.


JOSé FLORINDO DE FIGUEIREDO ROCHA .
FR . CUSTODIO ALVES SIMAõ.
JOSé MARIA ROMTEMPO , Professor Jubilado da
mesma Academia .

oooo
-
C O N C U R R E N T E S.

Os Srs. Doutores J . J . CARVALHO .


.
F PAULA C â NDIDO .
\I (« I M A S C O N SIDE R ACÒES

SOBKE

A ATMOSFERA.

So admittirmos , quo, segundo as leis primarias da existencin ,


ou criar ã o da materia, o fragmento material, que constitue a massa
terrestre se achou primitivamen í e em estado gazozo , dissolvido cm
grande quantidade de calorico , como parece comprovado pelos
phenomenos observados, segue se que , â medida que .pela irradia
- .
-
I riu sua propriedade essencial , o calorico, foi pouco á pouco abando
nando a massa gazoza , as substancias por este modo --s olidificadas fo
--
r â t' cm raz ã o de suas densidades occupando o centre , em torno do
qual se furã o pelas mesmas leis arranjando as outras depois solidifi
cadas. Eis porque se observa a densidade cm razã o directada profun
--
-
didade da terra , eis porque os fluidos cobrem huma grande parte da
Mipis í icic terrestre , e hum Oceano gazozo nos envolve dc toda
parte , e n ós nelle vivemos como os peixes nos mares.
Limite. Durante longo tempo suppoz sc a atmosfera sem li
-
mu es , occupando por consequ ê ncia a infinita profundidade dos
-
f . co « . Laplace foi o primeiro , que, partindo do principio de gra
- '
-
' ila ão universal , ( hmonstrou , que cila nã o podia eslender se ale
,
" infinito pois que então cada planeta releria cm torno de si
u m a i pMiitidade proporcional á sua grandeza , e YNaHaê tóti d é -
mo • irou r I H « • Venus , observada durante a sua passagem diante
do d isco solar , niio apresenta rclVacçà o alguma dos raios lumi -
#'
IP
4
nosos , o que teria necessariamente lugar se huma alhmosfera o I
envolvesse : o mesmo resultado se olitcin observando Jupiter ç I
scos sat é lites. A atmosfera tem pois hum limite , e este achasse I
a ao legoas geogra í icas acima da superfí cie dos marcs ( Laplace ) j|
al é m d’essas \ inle legoas comera o que se chama o vacuo dos |
Ceos : l á d essas regi ões profundas observa-se, durante o mais claro I
dia , huma vasta escurid ã o oude espalhados brilhã o com mais I
fulgor os outros planetas , como observou Mr. Gay-Lussac na I
sua viagem acroslalica a sete mil , c deseseis metros acima de I
-I
nós : l á d’essas regi ões visinhas do Ntf íía, O viandante parece dei
xar a terra ,- hum sentimento de tristeza se apodera cie seo co-
-
ra çejo ; todos os l í quidos do corpo, n ã o contrabalan çados pela pres
sã o exterior , tendem a reduzirem-se em gaz ; cm lim , phenome
non sc desenvolvem , que Mr . Gay -Lussac só pode clcscreyer ,
-
n ós os ignoramos , e com nosco ignora o mais hypolhelico , e
Je í inado Metaf í sico.
Press ão . He principalm.cnte de Aristolcs que dalão as pri
meiras suspeitas sobre o peso do ar : elle observou que huma be-
-
xiga cheia de ar pezava mais do que esl ndo vazia . Galileo o
demonstrou comprimindo o ar cm hum bal ã o , que tornou -se
mais pesado . Joã o Ley , medico Fiancez , já tinha avan çado res :
pondendo á hum boticá rio , que o estanho tornava -se mais pe -
-
sado pela calcina çã o , por se misturar com o ar . Paschal c Tori -
cclli , disc í pulo de Galileo, confirmarão este principio, demonstran -
do , que o horror do vacuo , n ã o era nada menos do que huma
pressão de 28 pollcgadas cie mercú rio , ou 3 a pés d agoa . Mas
sc o ar hc pesado, deve exercer huma pressã o sobre os corpos da
terra , c esta press ã o esl á sujeita com clfeilo á huma lei rigoro-
sa , q ic vamos expor.
.
A pre ^ ï o diminue ein razã o inversa da altura atmosférica ,
•sto he siipponhamos huma perpendicular baixada sobre a super»
hue das agoas li anquillus ,• mais distante dVsla superfície será
5
o ponto sobre o qual
da ;1 de sorte que hum
se exerce a pressão, menor esta se lorna
bar ó metro no cume do Corcovado indi
--
cara huma pressã o menor do que no Campo da Honra : secon -
sdciar- mos a perpendicular prolongada para o outro lado da
superficie , esta perpendicular liirá passar pelo centro da terra ;
pois que será perpendicular ao plano tangente a esse ponto da
superfí cie das agoas , que lie esfcrica ), e se tornará burn raio :
-
piocuiando sc a pressã o atmosfi rica nós differentes pontos desta
piolonga çã o, acha-se que cila augmenta á medida que se apro -
xima tio centro da leira : este augmcnlo de pressão produz nas
camadas de ar huma diminui ção de volume , e por consequen -
cia ltum augmcnlo de densidade ; cisto na mesma rela çã o : pois
o volume estando na razã o invnsa da pressã o , e a densidade na
razã o inversa do volume , segue-se que a densidade est á na razã o
tiirccta da pressã o : o que se pode traduzir ainda nesta ex pres -
sao que a altura crescendo cm progressã o ai itlimclica , a densi -
dade diminue em progressã o geom é trica ; porque a diminui çã o
da pressã o em progressã o geom é trica corresponde á diminui çã o
da altura cm progressã o arithmelica . A hi lemos o que se chama
bei de Mariollc , Supponhamos;, para lixar ideas , a atmosfera
ile 20 liguas geogr á ficas tie altura , a pressã o exercida pelo ar na
superficie da teria sendo equivalente á que exerema huma co -
luimia de merc ú rio 28 polegadas sobre a mesma base. Se bom volu
me de ar 11a superficie tla terra for tomado por unidade , teremos
-
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' .g do I i m i l c MIJK I ior da a l m o s f u j a 'M i j r i f. da teria ) Pressai»
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l’otl « mos dar í 1 m . hum valor hastanti mente grande ,
para que
' ar foi nc »
-
c I * pi ' ilicami nie mais pejado do que a agoa ; de ma -
1 ,1 i • qilf f e pireipilc l » 0 fiimhi , S 0 t ot ífli rva ndo sua densidade ad -
»
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qutritla pela prrssà o m , podcssé ser Inn rod o no agoa que 8Ò sup
.
portasse 76 **" He assim que chegamos nmilas > < /es a ohler id
sulludoa , que parecendo contr á rios á s eternas leis da materia , riflo
--
sã o outra cousa mais do que consequ ê ncia d essas mesmas leis.
Este augmente de pressã o dependente tio valor tie tn tem luliti
limite , que he o centro da terra , al é m tio qual tudo sc repr ó
tlnr. do outro lado debaixo das mesmas Leis .
-
A pressã o atmosf é rica varia quotidiana , e periodicamente.
Ella augmenta das \f li . da manb ã a alé meio dia .
Diminue desde meio dia at é 4 h . da tarde,
Depois augmenta desde 4 h . da tarde até 10 li . da noite,
Depois fica estacionaria at é meia noite ,
Depois diminue desde meia noite . . . .
nté /j li . dainanlifla
E assim começa outra vez sua serie de varia çã o.

Cada polegada cubica dear pesa 0 , 4681 gr ão 1 / 2 gr . ; por con
sequ ê ncia o ar he mais tie çç o vezes mais leve que a agoa .
-
Cada superficie î le hum pé quadrado no nivel do mar supporta
22 i 6 2 / 3 libras.
lie 11a pressã o atmosfé rica que sé funda toda a theoria dos tubos
de seguran ça , com os quaes os Chimicos podem a seu salvo eon -
templar Lranquillamente as suas retortas , sem temer que , prcci -
-
pilando se a agoa no seu interior incandescente, determine a ex
plozao do apparelho.
-
lie n’ella que se funda a construcçã o dos bar ó metros , tjuc
al é m de suas applica ções cm P bysi ca nos annuncia o boni ou mao
tempo , segundo se eleva , ou abaixa a columna mercurial que
se conjuga assim com o tempo . Ella abaixa quando o ( empo an » -
nuncia chuva , o que indica diminui çã o cie pressã o , o que se
explica tlc dilferentes maneiras : 1 .* ou porque duas correntes dc
ar opposing sc encontr ã o e adirecçao resultante marchando supe -
--
rioi mente diminue inferionnenlc a press ã o , ou - porque a dif
.
M í n ç a dc temperatura das camadas dc ar que circul à o uelundo
f se nu huma temperatura mais elevada , produzeni Imina dioii -
uUi ,;ã o ilc pressã o j 3.* ou cm fun , porque os vapores aquosos
-
t s prei li ça meu te
mais leves do que ar, occupà o o sco lugar e o rc -
siilUulo dilinitivo lie abaixar- se a eolumna baromé trica ; llieoiiu
a mais eon forme aos factos .
A temperatura da atmosfera diminue á medida que a conside -
rai mos cm pontos mais elevados , e diminue segundo huma Lei
determinada por Laplace ( Systema do Mundo ) que he de 16 a iy°
cent , por mil e trezentos metros : esta diminui çã o de têmpera lura
depende da fraca conductibilidadc para oealorico, que possucoar .
A faculdade de reflcctir , c de refractor os raios luminosos do
sol , que possuc a athmosfera durante a chuva , cujas gottas fa-
zem as funeções de prismas , nos explica a appari çã o do curioso
phenomeno do Arco Í ris ( Arco da Velha ) cujo numero pode ser
infinito .
Composição.

í ) ar lie composto de
E
21

78
partes d oxigcneo
dazoto
—— vol .
vol .
ou 25 , 32 pezo
ou 75,55 pezo
.Mais ^
IOCO
acido carb. — vol . ou 0 , 10 pezo
Mais vapor dagoa em quantidade Variavcl .
Estes d i Deren les gazes achà o sc em simples mistura , e n ã o com
-
binados, como já se avan çou mesmo com argumentos solidos sobre
-
0 oxigcneo , c o azoto .

As propor ções de oxigcneo , e n ilrogcnco da atmosfera n ã o tem


soflYido varia ção alguma : Iodas as analyses sã o unanimes para o
provar : de soi te que os Cbimicos at é boje igriorâ o como podesse
s,‘ ter enganado 0 Grande Lavoisier , e mesmo Scheele, com t ã o sen -
s í vel difleren ça mis propor ções dos dons gazes , quando sco ge -
penetrou o uiyslerio da composi ção do ar .
“ 10Decente
mente em J >a » is o Instituto de fran ç a proccdco nesta
analyse para ver sc obtinha algum dado sobre o principio da de -
8
saMroza rptdenda da Cholera -
Morl
-
ms : o rcMiIludo foi o rjnc to-
do* esprrav ão , isto lie , ncliar ã o se as propor ções conhecidas , <* ,
wul i mais. !
Qnamlo Lavoisier avan çou a rombuslibilidade do Carbono d #
sangue venoso durante a respirar ã o de todos nnimaes , pareceo
extraordiná rio que a atmosfera permanecesse intacla no equil í
brio dc seos elementos, visto a dcsmarcada porçã o d'oxigeneô que
-
os nnimaes em pregã o conti nu a mente , pois n ão fazendo at ten çã o
; i quantidade d’oxigeneo, que se transforma ein agoa durante a res

pira çã o, achamos que cada homem gasta por dia 7 5o drei metros cu
-
bicos d’ oxigeneo ; porque a sua respira çã o forma 700 decirnctros
^
c ú bicos de acido carbó nico, cujo volume representa o do oxigeneo
entrado cm sua composi çã o. At tendendo pois ao sem numero de
animaes , que respirã o , sem cxccptuar os peixes , e ns combus
t ões accidcntaes , nas quaes este gaz perde sro estado elementar ,
-
-
parccc rigoroso admitlir se a priori huma causa geral que com -
-
penso esta perda . Suppõein se que a acçà o reparadora reside nos
vegetaes , que mediando a influencia solar decompõem o acido car
b ó nico , se apodei ã o do Carbono, epie vai fazer parte integrante
-
dc seu todo , entretanto que o oxigeneo lie restitu ído ao ar : c
assim se explica , porque este lie mais puro , e mais activo no
Campo , do que nas Cidades. Ma * esta hypothèse ainda n ã o pas
sou n llicorema , c muitos a combatem : Mr. Pr é vost calculou
-
que lodos os seres orgâ nicos do mundo gaslão em bum scculo
1 / 7200 do oxigeneo do ar , frne çã o que deve escapar á mais deli -
cada analyse ; por consequê ncia o ar pode 1er sofirido diminui çã o
de oxigeneo, mas t ã o diminuta , que os nossos meios de analyse n ã o
*

tem podido altingir .


Ilc o ar que nos vivi íica , fornccepdo o elemento indispens á vel
á respira çã o , mas ao mesmo tempo elle be muitas vezes o vehi
*

r f do da morte , quando ou infectado por miasmas , ou percando


-
por algum outro prin ipio , dedroc d i reel a men to o equil í brio xi -
0
tal , ou indircctamente negando a economia , os princí pios sem
.‘ll,c nã o vivemos hum só instante ; ou cm fim , obra de mil ilia -
neiras , que tem escapado á penetra çã o dos Medicos.
-
Durante a epidemia da Cbolera Mo í bus em Paris , a atmosfera
tico sempre iiulicios deelcclricidade negativa : seria pois curioso que
se observasse , se nos paizes aonde rcin ã o endé mica , ou epidcmica -
mente as lebres intermittentes , que, segundo a opiniã o geral , são
occasionadas por miasmas vcgetaes , ou nnimacs ; seria curioso ,
digo , c util , < pic se observasse nYsses lugares o estado eleclrico da
atmosfera , que podia confirmar para sempre a presença dos
miasmas , que tem escapado á mais refinada analyse , ainda que
parecendo manifestos por caracteres pliysicos.
Assim se o estado eleclrico da atmosfera podesse ser destru í do,
ou mudado por bum agente, como o cbloro , por exemplo , lie ,
para assim o dizer, evidente que existem miasmas no ar . Isto huma
vez demonstrado , a hygiena publica e particular ganharia gran -
demente, c os medicos raciocinari ão sobre dados positivos.
10

II1 PP0 CKAT ÍS APHOMSM Ï.

I.

At! extremos moi bos , extrema rem é dia exquisité optima . Seel , i ,
. o.
t: ph

I I.

Duobnsdoloribns simul obortis, non in codeni loco , vcliemenlior


obscurat altcrum . Sect . 2 , aph . l\G .
III.

Spasmo ant tetnno detento febris si aceesserit , morbum solvit.


Sect . 4 , aph. 57.
IV.
,
Somnus , \ igilia utraque modum excedenlia, malum . Sect . 2 ,
ap!i 2 . . v

V.
Spontanere lassitudincs morbos denuntiant. Ibid , aph 5. . .

.
tri'OCfUPulA UK «;i;erni ii t f.OMi’ ., UIA uA «JCITAM< A ,

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