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SÃO PAULO
2015
A Dúvida é o começo da sabedoria.
Ségur
1
DEDICATÓRIA
AGRADECIMENTOS
Mesmo sem saber, meu caminho foi marcado por Divas; Divas na versão de
Amigos que são muito mais que amigos; Amigos que são parte de minha família;
Família que faz por laço e afetos; A Busca pela Verdade tem um nome, Diva! E
todas as Divas da minha vida só posso saber que são especiais, pois, tenho em
minha memória a doçura do carinho, a capacidade de se reinventar, a garra da
superação, o amor ao próximo, a gentileza...
Para minha mãe Diva. Para as Luzes que iluminam o meu viver.
À minha família e amigos, que estiveram ao meu lado apoiando,
incentivando, instigando e vibrando positivamente na conquista deste resultado, e
consequentemente tornando minha vida muito mais significativa.
A todo o corpo docente do Departamento de Filosofia da Faculdade São
Bento, pessoas que transformam a vida de seus alunos esclarecendo com saber as
dúvidas que surgem na busca do conhecimento.
Ao Prof. Dr. Joel Gracioso, orientador, que com muita paciência soube guiar-
me na escuridão até que pudesse enxergar a luz, minha mais profunda gratidão.
3
RESUMO
ABSTRACT
The objective of this research is to discuss the structure of the book Against the
Academicians I, which, as the title implies, is a refutation of skepticism of the New
Scholars in which, said the man was unable to know the truth, since knowledge is
based on the senses and the senses are variable, providing inaccurate data that
cannot provide a basis for sure. The points made by St. Augustine in dialogue
Against the Academicians I, or the root of the Augustinian doctrine has in their
foundation that in this life man can have unconditional certainties thus proposes a
deepening of the relationship between Truth and Happiness, strongly refuting the
soffits of the skeptics of the New Academy. For this, we analyze aspects of
Augustinian thought with regard to the truth, to happiness, to error and wisdom,
fundamental issues that are presented in the work in dialogue form, the challenge to
clarify certain aspects of the Augustine desire to prove that the man would rather
know the truth, wisdom and reach the happy life.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 6
BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................... 73
6
INTRODUÇÃO
almejada pelo bem que, satisfazendo o seu desejo, traria paz ao seu coração. A
felicidade como algo a ser buscado motivou todo o seu pensamento filosófico; suas
experiências de vida se tornaram um rico material que deu origem aos seus escritos.
Na sequência analisaremos a estrutura do livro I Contra os Acadêmicos,
que, como o nome revela, é uma refutação do ceticismo dos Novos Acadêmicos. A
obra foi escrita depois da revelação nos jardins na casa em Milão, quando Agostinho
inicia uma nova etapa em sua vida, dedicando-se aos princípios do Cristianismo,
afastando-se, consequentemente, de sua vida passada. Ele se retira para uma casa
de campo em Cassicíaco, juntamente com sua mãe, Mônica; seu único filho,
Adeodato; seu irmão mais velho, Navígio; seus discípulos Licêncio e Trigécio. Nos
seis meses que permaneceram neste local, preenchiam o tempo com estudos,
orações, meditações, trabalhos agrícolas, afazeres domésticos, com a contemplação
da verdade e a busca pela sabedoria.
Após sua conversão, Agostinho dedicou-se primeiramente à verificação
da possibilidade de o homem conhecer a verdade. Para isso, teve que superar o
ceticismo dos Novos Acadêmicos, os quais apropriavam-se de uma definição de
Zenão de Cítio segundo a qual a verdade seria aparecer de modo a que não possa
parecer uma falsidade. Esta definição é a base para os diálogos e argumentações
que Agostinho constrói com seus discípulos, que dão origem a três livros,
constando, ainda, um prólogo à Romaniano.
O caminho inicial para refutar o ceticismo era apoiar as argumentações na
própria doutrina dos Acadêmicos, e desta forma provar que o homem poderia sim
conhecer a verdade e chegar à vida feliz. Logo, o método de exposição do
pensamento utilizado por Agostinho não poderia ser outro que não o dialético, onde
pretende entender o mundo como aquilo que lhe parece ser o mundo, determinando,
desta forma, poder saber que o mundo existe, ratificando a essência de seus
pensamentos sobre as coisas que podem ser conhecidas.
O segundo capítulo trata de questões inerentes ao Ceticismo Acadêmico,
compreendendo que nessa denominação estão incluídas diversas correntes
filosóficas que despontaram no decorrer da História. Por este motivo, optamos por
estabelecer um marco histórico, situando o Ceticismo (skeptikós) como uma corrente
filosófica fundada na Grécia Antiga (III e IV a.C.), cuja denominação, em grego,
significa investigar, olhar atentamente, examinar. Seus fundadores foram Pirro e seu
discípulo Tímon. Os céticos não estabelecem qualquer opinião sobre a natureza das
9
coisas, pois tanto o sentido como a razão não permitem conhecer as coisas tais
como elas são. Para eles, o homem chega a definições por cansaço, desgosto da
vida prática e das disputas dialéticas infinitas. Com a sua filosofia, buscam uma vida
feliz e tranquila; ou seja, o objetivo fundamental da filosofia do Ceticismo Pirrônico é
atingir a ataraxia, ausência de perturbações ou inquietações da mente, alcançando,
deste modo, a felicidade, eudaimonia.
Seguimos para a origem do ceticismo acadêmico, corrente rechaçada por
Santo Agostinho no livro Contra os Acadêmicos. O nome dado a essa corrente
filosófica relaciona-se com o fato de que ela se desenvolveu na escola de Platão,
posteriormente conhecida como Nova Academia, que tem como seus grandes
representantes Arcesilau e Carnéades.
Os Novos Acadêmicos afirmavam que o homem era incapaz de conhecer
a verdade, pois o conhecimento é baseado nos sentidos, sendo, desta forma,
impossível o assentimento do homem ou do sábio. Para os céticos, todo
conhecimento está ligado à percepção do sensível, e os sentidos são variáveis,
fornecendo dados imprecisos, não podendo fornecer base para a certeza. Assim,
eles deveriam evitar assumir posicionamentos perante as coisas, mantendo-se em
dúvida. O posicionamento do cético é manter uma atitude crítica diante da pretensão
dogmática de ter descoberto a verdade, afirmando que a verdade não foi e não será
descoberta.
No terceiro capítulo, discutimos a Verdade, se ela é necessária para
chegar ao sonhado caminho da Felicidade, iniciando com uma exortação a
Romaniano, um homem destinado à virtude. Tentamos nos aproximar da expressão
usada por Agostinho, “porto da sabedoria”1 e seguimos para os bens materiais, os
quais trazem o temor da perda da fortuna.
Passamos ao questionamento de Agostinho, que apresenta uma reflexão
em forma de pergunta sobre a necessidade de conhecer a verdade para ser feliz:
“Pode-se viver de modo feliz somente procurando a verdade, sem encontrá-la?”2. E
o diálogo entre Licêncio, que defende os Acadêmicos, e Trigécio, que combate a
filosofia dos Acadêmicos, tendo Alípio e Santo Agostinho como juízes.
1
AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos. Tradução Frei Agustinho Belmonte. Introdução Bento
Silva Santos. Coleção Patrística. São Paulo: Paulus, 2008, I, 1.
2
Idem, Ibidem, II, 5.
10
3
Sobre Mônica, Brown comenta que poucas são as mães que conseguem destaque quando são
apresentadas pelos seus filhos, em relação ao que significaram e do que passaram a significar. Ainda
mais frente à tamanha complexidade de ter um filho como Agostinho antes de sua conversão.
Ressalta que existe a necessidade de separar o que Agostinho fala sobre sua mãe, e o que o
mesmo, falando sobre a mãe, fala sobre si mesmo, que consiste em dois tipos de relação. As
palavras que Agostinho diz sobre Mônica, “lança tanta luz sobre seu próprio caráter quanto sobre o
de sua mãe”, na medida em que, o que Agostinho diz é menos importante do que a forma como o
mesmo diz. Um exemplo desta forma de apresentação de sua mãe ocorre quando Agostinho
descreve Mônica como uma mulher autenticamente impressionante. Esta é a forma como Agostinho
gostaria de ser visto pelas outras pessoas, um bispo digno, indiferente aos boatos e intrigo; um
pacificador atuante entre seus conhecidos. BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma biografia, Rio de
Janeiro, São Paulo: Record, 2012, p. 34.
4
Idem, Ibidem, p.35.
5
MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho. Tradução Hugo Chelo. Lisboa: Edições 70, 2008, p. 25.
12
6
Do lat. manichaeus, do gr. Tardio manichaios, de Manichaios: Maniqueu, do persa Manes, o
fundador da seita. Doutrina criada por Manes (séc. III), que se difundiu pelo Império romano e pelo
Ocidente cristão, florescendo nesse período. Combina elementos do zoroastrismo, antiga religião
persa, e de outras religiões orientais, além do próprio cristianismo. Mantém uma visão dualista
radical, segundo a qual se encontram no mundo as forças bem ou da luz, e do mal, ou da escuridão,
consideradas princípios absolutos, em permanente e eterno confronto. O maniqueísmo teve grande
influência nos primórdios do cristianismo, sendo combatido por Santo Agostinho, que inicialmente o
havia adotado. JAPIASSÚ, Hilton. MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia, Rio de
Janeiro: Zahar, 2006, p. 177.
7
C.f. BROWN, Peter, Santo Agostinho Uma Biografia, 2008, p. 59.
8
AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução In. J. Oliveira santos, S.J., e A. Ambrósio de Pina, S.J.
Angelo Ricci. Introdução José Américo Motta Pessanha. São Paulo: Abril Cultural, 1980. V, 6, 10.
9
BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, Paris: Beauchesne et ses
fils, 1939, p. 25.
10
AGOSTINHO, Santo. A Vida Feliz. Tradução Nair Assis de Oliveira. Introdução, notas, Roque
Frangiotti. São Paulo: Paulinas, 1993, I, 4.
11
C.f. BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma Biografia, 2008, p. 68.
13
12
C.f. BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma Biografia, 2008, p. 68.
13
Idem, Ibidem, p. 83.
14
GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho. Tradução Cristiane Negreiros Abbud
Ayoub. São Paulo: Paulus, 2006, p. 438.
15
C.f. BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma Biografia, 2008, p. 100.
16
C.f. AGOSTINHO, Santo. Confissões, 1980, V, 23.
17
C.f. MATTHEWS Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 27.
18
MARTINS, Maria Mansela Brio. Deus como beatitude e outras felicidades, Centro de Formação e
Cultura Diocese de Leiria-Fatima. Actas do Congresso. 11 a 15 de Novembro de 2004. Disponível
em: <http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4688/1/2004_TEOLOGIA_Brito_Manuela-
dig4.PDF>. Acesso em: 15. 11. 2014.
14
desejo pela busca da sabedoria19. Esta se inicia nas Sagradas Escrituras, mas sua
decepção com a forma de escrita o leva a argumentar que a elegância de estilo
ciceroniana chamou mais a sua atenção. Relata este momento no livro Confissões:
19
NOVAES, Moacyr; SOUZA NETO, Francisco Benjamin de; NASCIMENTO, Carlos Arthur Ribeiro
do; MAMMÌ, Lorenzo. Linguagem e verdade nas Confissões. In: PALACIOS, Pelayo Moreno (org.).
Tempo e razão: 1600 anos das Confissões. São Paulo: Loyola, 2002, pp. 29-54.
20
C.f. AGOSTINHO, Santo. Confissões, 1980, III, 5, 9 .
21
C.f. FRANGIOTTI, Roque. Introdução. In: AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz. São Paulo, 1993, p.
112.
22
Idem, Ibidem, p. 112.
23
C.f. MATTHEWS. Gareth B. Santo Agostinho, 2008, p. 23.
24
C.f. BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma biografia, 2012, p.113.
25
C.f. PESSANHA, José Américo. Introdução. In: AGOSTINHO, Santo. Confissões, 1980, p. VI.
15
a voz de uma criança que cantava de modo que parecia uma reflexão, repetindo
diversas vezes: "Tolle, lege, tolle, lege"26. Após este acontecimento, desligou-se do
cargo de professor municipal. Na Páscoa foi batizado seguindo os dogmas do
cristianismo para a santificação da alma27.
26
Toma e lê, tome e lê.
27
C.f. PESSANHA, José Américo. Introdução. In: AGOSTINHO, Santo. Confissões, 1980, p. X.
28
Idem, Ibidem, p. VI.
29
PADOVANI, Humberto; CASTAGNOLA, Luís. História da Filosofia, São Paulo: Melhoramentos,
1954, p. 200.
30
C.f. MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 22.
16
Viveu seus dias em uma busca permanente por respostas para alcançar
uma vida feliz. A questão da felicidade como algo a ser solucionado motivou todo o
seu pensamento filosófico; suas experiências de vida se tornaram um rico material
que deu origem aos seus escritos. Agostinho surpreende pela sua biografia, assim
como pela sua escrita, podendo ser considerado um homem à frente de seu
tempo31.
Assim, ao acompanhar a saga de Agostinho, o que se vê é um homem
em constante transformação, tanto no que concerne ao campo intelectual quanto ao
campo moral. Parte da condição de leitor de Cícero na juventude até chegar a Bispo
interessado pelo neoplatonismo. Ele almejava o bem que, satisfazendo o seu
desejo, traria a paz ao seu coração32. Logicamente, para isso, o conhecimento sobre
o seu destino era um desafio a ser elucidado.
31
C.f. MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 23.
32
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 17.
33
C.f. BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma biografia, 2012, p. 144.
34
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 10.
17
Santo Agostinho queria limpar sua mente dos vestígios deixados pelos
erros que cometeu36, e libertar todos do “pirronismo” do qual ele mesmo sofreu37,
sabendo que o ceticismo é o obstáculo que bloqueia o caminho para a filosofia38. Ou
seja, para que ele pudesse evoluir com seus pensamentos e com a sua filosofia,
seria preciso superar o ceticismo.
35
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 17.
36
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 23.
37
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 84.
38
C.f. Idem, Ibidem, p. 90.
39
PALACIOS, Pelayo Moreno. O estamento da verdade no Contra Acadêmicos de Agostinho. 2006.
Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas - Departamento de Filosofia. Disponível em:
www.teses.usp.br/teses/.../TESE_PELAYO_MORENO_PALACIOS.pdf. Acesso em: 10. 10. 2014. p.
10.
18
Agostinho como rétor que era, sabia muito bem, como a força
persuasiva da retórica se transforma numa arma usada com maestria
pelos acadêmicos, para convencer as pessoas da impossibilidade de
encontrar a verdade, e o que pretende é ajudar a aqueles que como
ele podem ter caído na sua rede, valendo-se para isto dos seus
conhecimentos, para que, ao lado de uma destreza literária,
adquiram uma destreza dialética através do exercício, que lhes
40
MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 35.
41
Idem, Ibidem, p. 36.
42
C.f. PESSANHA, José Américo. Introdução. In: AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmico, 2008,
p. 18.
43
AGOSTINHO, Santo. Solilóquios. Tradução Adaury Fiorotti. Coleção Patrística. São Paulo: Paulus,
1998, XIII, 22.
44
C.f. SOUZA, José Zacarias. Agostinho Buscador inquieto da verdade, Coleção Filosofia, n. 124.
Porto Alegre: EDIPURS, 2001, p. 39.
19
45
PALACIOS, Pelayo Moreno. O estamento da verdade no Contra Acadêmicos de Agostinho. 2006.
Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas - Departamento de Filosofia. Disponível em:
www.teses.usp.br/teses/.../TESE_PELAYO_MORENO_PALACIOS.pdf. Acesso em: 10. 10. 2014. p.
24.
46
C.f. SANTOS, Bento Silva. Introdução. In: AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, p.
14.
47
C.f. Idem, Ibidem, p. 14.
48
C.f. AGOSTINHO, Santo. Solilóquios, 1998, VII, 4.
49
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, II,
50
C.f. SANTOS, Bento Silva. Introdução. In: AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, p.
28.
51
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 10.
20
52
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 36.
53
C.f. SANTOS, Bento Silva. Introdução. In: AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, p.
14.
54
C.f. MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 45.
55
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 25.
56
C.f. Idem, Ibidem, p. 28.
57
C.f. SOUZA, José Zacarias. Agostinho Buscador inquieto da verdade, 2001, p. 44.
21
58
C.f. MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 220.
59
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, III, 21.
60
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 27.
61
Idem, Ibidem, p. 27.
62
C.f. SOUZA, José Zacarias. Agostinho Buscador inquieto da verdade, 2001, p. 38.
22
63
C.f. BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma biografia, 2012, p. 147.
64
C.f. MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 34.
65
Idem, Ibidem, p. 236.
66
BERMON, Emmanuel. Le Cogito Dans La Pensée de Saint Augustin. Paris: J. Vrin, 2001, p. 108.
23
67
C.f. BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma biografia, 2012, p. 96.
68
C.f. MATTHEWS. Gareth. Santo Agostino, 2012, p. 21.
24
gimnosofistas, “uma espécie de sábios da Índia, que levavam uma vida de tipo
monástico”69. Um fato que marcou sua viagem foi observar um gimnosofista, de
nome Calano, voluntariamente jogar-se entre labaredas, e calmamente suportar as
queimaduras até morrer. Logo, Pirro no testemunho de Calano, assistiu à
demonstração ao vivo da ideia que o sábio pode suportar todo o tipo de dor e ser
70
feliz, “mesmo em meio a tormentos” . Frequentou a escola de Fédon, seguidor de
Platão, e posteriormente a escola de Megárica. Lá, afirma: “descobri a
impossibilidade do discurso e do pensamento para apreender o ser”,71 em seguida,
tem aulas com Anaxarco de Abdera que o introduziu aos pensamentos de
Demócrito. Brochard comenta:
69
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística. Tradução de
Marcelo Perine, 1994, p. 394.
70
Idem, Ibidem, p. 395.
71
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: as escolas helenísticas - Volume II, São Paulo:
Companhia das Letras, 2010, p. 52.
72
BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos. Tradução Jaimir Conte, 2009, p. 65. Odysseus, 2009, I, II.
73
Pirro não fundou uma verdadeira escola, não acolheu discípulos e não quis nem mesmo fixar por
escrito a sua palavra. Quis, ao contrário, retomar o exemplo de Sócrates, convencido de que através
da palavra e, antes, nem mesmo através da palavra, mas sobretudo pelo testemunho da vida, dever-
se-ia e poder-se-ia comunicar a mais autêntica mensagem de sabedoria filosófica. REALE, Giovanni.
História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística. Tradução de Marcelo Perine, p. 391.
25
Pirro dava maior importância à vida prática do que aos debates, pois
respondia aos questionamentos com: “eu não sei nada”; alegando que nada sabia
por ser impossível o conhecimento ou o acesso à verdade, justamente porque não
existe conhecimento da natureza das coisas. A doutrina pirroniana é antes de tudo
“uma reação contra a dialética”81.
Logo, para o pirrônico, tudo é indiferente, não consegue estipular se uma
coisa é boa ou má, não existindo nada que não seja “indiferença à própria
indiferença” como comenta Hadot82. Chaui83 ratifica esse entendimento ao afirmar
que esta fase estabeleceu-se como o momento mais radical do ceticismo, que
negava tudo, inclusive os próprios fenômenos que estariam ligados ao sensível.
Esses dois autores esclarecem assim o conceito de adiaforia, tão importante na obra
de Pirro.
Pirro não escreveu nenhum texto filosófico sobre o ceticismo, mas o modo
de vida que havia estabelecido garantiu seguidores; discípulos que estavam ligados
ao mestre diferentemente dos esquemas clássicos, eram apreciadores, admiradores
e imitadores, “homens que buscavam no mestre, sobretudo um novo modo de vida,
um paradigma existencial ao qual referir-se constantemente”, na busca da felicidade
e serenidade. O que diferencia Pirro dos outros filósofos antigos consiste no fato de
que ele não buscava soluções para os problemas existenciais e da vida, logo, o
homem poderia viver “‘com arte’ uma vida feliz, mesmo sem a verdade e sem
valores”84. Com sua morte, a escola continua com seu discípulo Timon, nascido em
325 a. C., em Fliunde. Como Pirro, sua família tinha poucos recursos, e ele
sobrevivia como dançarino. Posteriormente, Timon foi estudar filosofia em Megara
com Estilpão, retornou a Fliunte, e seguiu para Élis, onde se torna discípulo de Pirro.
Morre em Atenas em 235 A.C..
80
RUSSEL, Bertrande. História da filosofia ocidental. Tradução Breno Silveira. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1957, p. 272.
81
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 81.
82
C.f. HADOT, Pierre. O que é Filosofia Antiga, 1999, p. 196.
83
C.f. CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: as escolas helenísticas - Volume II, 2010, p.
52.
84
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p.
392.
27
85
REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p 402.
Aristócles, fr. 6 Heiland ( = Decleva Caizzi, test. 53).
86
Idem, Ibidem, p 412.
87
CARVALHO, Mário Santiago de. Vieira de Almeida e a ‘Tranchée’ de Agostinho: sobre a história da
filosofia. Revista Filosófica de Coimbra, v.19, n.38, 2010. Disponível em: <https://digitalis.uc.pt/pt-
pt/node/106201?hdl=29645>. Acesso em: 12 de out. de 2014, p. 254.
28
88
C.f. RUSSEL, Bertrande. História da filosofia ocidental, 1957, p. 273.
89
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 85.
90
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenístic,. 1994, p.
416.
91
Idem, Ibidem, p. 418.
92
C.f. HADOT, Pierre. O que é Filosofia Antiga, 1999, p. 210. Hipotiposes, I, 36-39, Dumont, p. 49; D.
L., IX, 79-88.
93
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 89.
29
94
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 125.
95
GÉLIO, Aulo. Noites Áticas. Londrina: EDUEL, 2010, p. 379.
96
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p.111.
30
97
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenísti,. 1994, p. 427.
98
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p.113.
99
Idem, Ibidem, p. 113.
100
C.f. PADOVANI, Humberto; CASTAGNOLA, Luís. História da Filosofia, 1954, p. 71.
101
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenístico, 1994, p.
421. Cícero, Acad. Post. I, 12, 45.
31
102
PALACIOS, Pelayo Moreno. O estamento da verdade no Contra Acadêmicos de Agostinho. 2006.
Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas - Departamento de Filosofia. Disponível em:
www.teses.usp.br/teses/.../TESE_PELAYO_MORENO_PALACIOS.pdf. Acesso em: 10. 10. 2014. p.
94.
103
C.f. RUSSEL, Bertrande. História da filosofia ocidental, 1957, p. 275.
32
104
CORBISIER, Roland. Enciclopédia Filosófica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1987, p.82.
105
C.f. HADOT, Pierre. O que é Filosofia Antiga, 1999, p. 194. SVF, II, § 91 Sexto Empírico, Contra os
lógicos, II, 397, traduzido in P. Hadot, La Citadelle intérieure, p. 124.
106
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p.
422.
107
Idem, Ibidem, p. 422.
108
Idem, Ibidem, p. 422.
33
109
C.f. LAÊRTIOS, Diôgenes. Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, 1988, p. 275.
110
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p.
424.
111
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 119.
112
Idem, Ibidem, p. 119.
34
113
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p.
424.
114
Idem, Ibidem, p. 429.
115
Idem, Ibidem, p. 431.
116
C.f. CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia: as escolas helenísticas - Volume II, 2010,
p. 173.
35
117
C.f. MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 34.
118
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p.
261.
119
C.f. HADOT, Pierre. O que é Filosofia Antiga, 1999, p. 187.
120
C.f. PADOVANI, Humberto; CASTAGNOLA, Luís. História da Filosofia, 1954, p. 95.
121
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 118.
122
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 84.
36
razão, sendo que “sua verdadeira fonte é a experiência: a razão não faz mais que
exercer um controle”. Ou seja, para Arcesilau o racional transforma-se em critério
prático da conduta. Já para Carnéades, significa o “provável”.123 Desta forma:
123
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 124.
124
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p.
432.
125
Idem, Ibidem, p. 433.
126
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 135.
37
127
C.f. HADOT, Pierre. O que é Filosofia Antiga, 1999, p. 207.
128
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 122.
129
C.f. HADOT, Pierre. O que é Filosofia Antiga, 1999, p. 212.
130
C.f. RUSSEL, Bertrande. História da filosofia ocidental, 1957, p. 273.
131
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 121.
38
137
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 58.
138
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p.
389. LAÊRTIOS, Diógenes, IX, 107.
139
Idem, Ibidem, p. 405.
40
140
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, I, 1.
141
C.f. FRANGIOTTI, Roque. Introdução. In: AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, p. 115.
142
Idem, Ibidem, p. 111.
41
Por isso, Agostinho roga a Deus que devolva o amigo a si mesmo, e que
seu espírito se eleve à verdadeira liberdade, pois, “se a divina providência se
estende até nós”, o que está acontecendo ao amigo “é o que é necessário
143
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, I, I, 1.
144
Idem, Ibidem, I, I, 2.
145
Idem, Ibidem, I, I, 2.
146
. “dos que assim tendem à felicidade pelo conhecimento, alguns têm a prudência de procurá-la
desde a juventude e têm a felicidade de atingirem logo; outros, ao contrário, têm a felicidade de a
atingirem logo; outros, ao contrário, tentam encontrá-la com paixão em vias falsas e só voltam a si
mesmo sob o golpe de provas por vezes trágicas; outros, enfim, sem mostrar nem tal prudência, nem
essa loucura, desde a juventude, fixam os olhos no fim a atingir e, ao mesmo tempo em que vagam
ao longe, voltam os olhos para ele; em meio a ondas, estes guardam as lembranças de tão doce
pátria onde terminarão por abordar um dia. Todos, quaisquer que sejam, estão ameaçados por um
temível obstáculo que guarda entrada do porto: o orgulho e a paixão da vanglória. Se algo merece ser
chamado ’dom de Deus’, é seguramente a vida feliz. Cumpre, portanto, busca-la com modéstia e
pedir para recebê-la. Aceitá-la é a verdadeira maneira de conquistá-la”. GILSON, Étienne. Introdução
ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 18.
147
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, I, 5.
42
Ora, para o autor, quando o homem ama os bens materiais, reside neles
um temor, o medo da perda da fortuna material, que os leva a viver de um modo
perturbador para sempre, eternamente, em uma constante tempestade: “esses bens
sujeitos à mudança podem vir a ser perdidos. Por conseguinte, aquele que os ama e
possui não pode ser feliz de modo absoluto”150. Esses bens temporários não trazem
senão a ilusão da felicidade. Na sua visão, não haveria sentido falar a Romaniano
sobre outra vida feliz se a fortuna sempre lhe sorrisse; mas no momento em que
este amigo experimentar as agruras da vida presente, sua própria experiência
demonstrará que os bens que os mortais apreciam são frágeis, transitórios e cheios
de calamidades. Em suas palavras:
148
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, I, 1.
149
Idem, Ibidem, I, I, 1.
150
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, I, 11.
151
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, I, 2.
43
menos conhecesses a tua infelicidade?”152. Com efeito, a doença da alma não é ver
como ela está, mas imaginar como ela gostaria de estar. O remédio para esta
doença é um despertar da falsa consciência para a verdade, sendo o ato de filosofar
a cura da Alma.
O alimento para a Alma do homem consistiria em manter a virtude, a
permanência. As coisas são boas em si mesmas, porque foram criadas por Deus,
mas são mutáveis e transitórias153. Basta ao homem escolher o caminho que deseja,
e para Agostinho só existe um caminho, Deus. Logo, “Se algo merece ser chamado
“dom de Deus”, é seguramente a vida feliz. Cumpre, portanto, buscá-la com
modéstia e pedir para recebê-la. Aceitá-la é a verdadeira maneira de conquistá-
la”154.
Mais ao final do Prólogo, numa espécie de elogio a Romaniano,
Agostinho afirma que este tem a disposição de desejar o que é belo e honesto, além
de ser generoso, justo antes que poderoso, e que a Providência despertou nele,
graças às rudes provas pelas quais ele tem passado, um “quê” de divino. Por isso,
insiste: “crê que hás de congratular-te profundamente, porque quase não te
afagaram os bens deste mundo que seduzem os incautos”.155 Destaca que
Romaniano, com sua experiência de vida sobre os bens deste mundo e suas
desilusões, poderia persuadir outras pessoas para o caminho da verdade.
Ao falar da experiência de Romaniano, a quem aparentemente os bens
deste mundo não afagam no momento, remete à sua própria experiência, uma vez
que ele também, como sabemos, viu-se quase preso aos bens materiais e ao
maniqueísmo agora considerado por ele como superstição. Porem, em fase
posterior despertou para a filosofia que promete mostrar o “Deus verdadeiro”.
152
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, I, 2.
153
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 19.
154
Idem, Ibidem, p. 18.
155
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, I, 3.
44
156
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, I, 3.
157
PALACIOS, Pelayo Moreno. O estamento da verdade no Contra Acadêmicos de Agostinho. 2006.
Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas - Departamento de Filosofia. Disponível em:
www.teses.usp.br/teses/.../TESE_PELAYO_MORENO_PALACIOS.pdf. Acesso em: 10. 10. 2014, p.
32.
158
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 18.
159
“o preceito fundamental do socratismo é, num sentido, o ponto de partida se Santo Agostinho;
entretanto, ele o adota somente para fazê-lo sofrer uma transformação cuja profundidade aparecerá
melhor à medida que precisará o sentido da doutrina”. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de
Santo Agostinho, 2006, p. 18.
160
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, II, 11.
161
C.f. SOUZA, José Zacarias. Agostinho Buscador inquieto da verdade, 2001, p.45.
162
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, V, 27.
45
163
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, I, 4.
164
Idem, Ibidem, I, I, 4.
165
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, II, 10.
166
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 449.
167
Idem, Ibidem, p. 449.
46
Ora, é pela razão que o homem obtém o conhecimento, pela razão que
consegue guiar sua vida, logo, buscar conhecer é, antes de tudo, buscar o objeto
cujo encontro apaziguará nosso apetite de conhecer e, por isso, estabelecer nosso
estado de beatitude175. Com efeito, a definição de Agostinho contradiz os
argumentos dos Acadêmicos, pois, segundo os mesmos, não existe como ter razão
se não se chega a obter conhecimentos, o que leva à impossibilidade de o homem
171
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 37.
172
AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos. Tradução e prefacio de Vieira de Almeida. Coimbra:
MCMLVII. Disponível em: <https://ebrael.files.wordpress.com/2014/05/contra-os-acadc3aamicos-
santo-agostinho.pdf>. Acesso em: 2 de out. de 2014, p. 13.
173
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, II, 5.
174
Idem, Ibidem, I, II, 5.
175
C.f. BOYER, Charles S. J. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 224.
48
[...] parece-te que se pode viver feliz sem ter encontrado a verdade,
mas com a condição de procurá-la?
[...] Licêncio:
- A mim me parece que sim, pois os nossos antepassados, que a
tradição apresenta como sábios e felizes, viveram bem e felizes só
porque procuravam a verdade177.
176
C.f. SOUZA, José Zacarias. Agostinho Buscador inquieto da verdade, 2001, p.38.
177
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, II, 6.
178
PALACIOS, Pelayo Moreno. O estamento da verdade no Contra Acadêmicos de Agostinho. 2006.
Tese (Doutorado em Filosofia) – Universidade de São Paulo. Faculdade de Filosofia, Letras e
Ciências Humanas - Departamento de Filosofia. Disponível em:
www.teses.usp.br/teses/.../TESE_PELAYO_MORENO_PALACIOS.pdf. Acesso em: 10. 10. 2014, p.
46.
49
Licêncio:
[...] O nosso Cícero pensava que é feliz quem busca a verdade,
ainda que não consiga encontrá-la.
Trigécio:
- Onde Cícero disse isso?
Licêncio:
- Quem ignora que ele afirmou enfaticamente que o homem não
pode saber nada ao certo e que a única coisa que resta ao sábio é
buscar diligentemente a verdade, pois se der seu assentimento às
coisas incertas, ainda que talvez sejam verdadeiras, não pode estar
livre de erro, o que para o sábio é a falta máxima. Portanto, se, por
um lado, devemos crer que o sábio é necessariamente feliz e, se por
outro, só a procura da verdade constitui na sua perfeição o ofício da
sabedoria, por que hesitaríamos em pensar que a felicidade da vida
possa resultar da simples busca da verdade?
[...] Trigécio:
- Quero que tu, nosso juiz, te lembres como há pouco definiste a vida
feliz. Disseste que feliz era aquele que vive conforme aquela parte da
alma que deve comandar todas as outras. Quanto a ti, Licêncio,
quero que me concedas – pois em nome da liberdade que a filosofia
promete dar-nos já sacudi o julgo da autoridade – que não é perfeito
quem ainda procura a verdade181.
183
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, II, 10.
184
DROIT, Roger-Pol. Um Passeio pela Antiguidade: na companhia de Sócrates, Epicuro, Sêneca e
outros pensadores. Rio de Janeiro: Difel, 2012, p. 53.
51
185
C.f. AGOSTINHO, Santo. Solilóquios, 1998, XV, 27.
186
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, V, 21.
187
C.f. SOUZA, José Zacarias. Agostinho Buscador inquieto da verdade, 2001, p.40.
188
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 33.
52
“quem é feliz não pode estar em erro”, logo, “quem procura não está em erro, pois
procura para não errar”189. Trigécio responde:
- Sem dúvida procura para não errar, mas como não encontra, não
deixa de estar em erro. Julgaste favorecer tua posição dizendo que o
homem não quer enganar-se, como se ninguém se enganasse sem
querer, ou como se só nos enganássemos contra nossa vontade190.
está pautado pela definição retirada dos Acadêmicos. Ainda que estas questões não
sejam apresentadas de modo explícito no Primeiro Livro, elas estão subjacentes às
discussões travadas pelos dois jovens discípulos de Agostinho. Procuraremos, pois,
na medida do possível, fazê-las emergir do texto. Dizer o que é falso é negar a
verdade, e como isso poderia ser feito uma vez que o homem não sabe qual é a
verdade?195 Gilson comenta sobre a origem do erro que Licêncio se baseia:
195
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 38.
196
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 89.
197
C.f. SOUZA, José Zacarias. Agostinho Buscador inquieto da verdade, 2001, p. 47.
198
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 88.
199
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, IV, 12.
54
200
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 157.
201
Idem, Ibidem, p. 38.
202
Idem, Ibidem, p. 89.
203
C.f. LAÊRTIOS, Diôgenes. Vidas e Doutrinas dos Filósofos Ilustres, 1988, p. 272.
204
GRACIOSO, Joel. Matéria e espírito, São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 41.
205
MARTINS, Maria Mansela Brio. Deus como beatitude e outras felicidades. Centro de Formação e
Cultura Diocese de Leiria-Fatima. Actas do Congresso 11 a 15 de Novembro de 2004. Disponível em:
55
http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4688/1/2004_TEOLOGIA_Brito_Manuela-dig4.PDF.
Acesso em: 15 de Nov. de 2014, p. 185.
206
C.f. MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 37.
207
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 86.
208
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 59.
209
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 86.
56
217
C.f. MATTHEWS. Gareth. Santo Agostino, 2008, p. 61.
218
Idem, Ibidem, p. 70.
219
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 90.
220
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 47.
221
Idem, Ibidem, p. 53.
222
Idem, Ibidem, p. 54.
223
Idem, Ibidem, p. 58.
58
224
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, IV, 11.
225
Idem, Ibidem, I, V, 13.
226
Idem, Ibidem, I, V, 13.
227
Idem, Ibidem, I, V, 14.
59
228
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, V, 14.
229
Idem, Ibidem, I, V, 14.
230
Idem, Ibidem, I, V, 14.
231
Idem, Ibidem, I, IV, 14.
232
Idem, Ibidem, I, V, 15.
233
Idem, Ibidem, I, V, 5.
234
Idem, Ibidem, I, VI, 16.
60
Ora, sabemos que esse de que falaste disse muitas coisas falsas, o
que sei não só de ouvir dizer, mas também por havê-lo
testemunhado. Chamaria eu de sábio quem muitas vezes disse
coisas falsas? Não o chamaria por esse nome, mesmo que tivesse
dito a verdade, mas com hesitação. Aplicai o mesmo aos arúspices,
aos áugures e a todos os que consultam as estrelas e aos que
interpretam os sonhos. Ou então citai-me alguém dessa espécie de
235
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 225.
236
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, VI, 17.
61
237
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, VII, 19.
238
Idem, Ibidem, I, VII, 19.
239
Idem, Ibidem, I, VII, 20.
240
Idem, Ibidem, I, VII, 20.
241
Idem, Ibidem, I, VIII, 23.
62
242
MARTINS, Maria Mansela Brio. Deus como beatitude e outras felicidades. Centro de Formação e
Cultura Diocese de Leiria-Fatima. Actas do Congresso 11 a 15 de Novembro de 2004. Disponível em:
http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4688/1/2004_TEOLOGIA_Brito_Manuela-dig4.PDF.
Acesso em: 15 de Nov. de 2014, p. 189.
243
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, VIII, 23.
244
Idem, Ibidem, I, IX, 24.
63
são felizes. Ora, ninguém é sábio, se não for feliz. Logo, o acadêmico
não é sábio!245
245
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, II, 14.
246
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 33.
247
AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos. Tradução e prefacio de Vieira de Almeida. Coimbra:
MCMLVII. Disponível em: <https://ebrael.files.wordpress.com/2014/05/contra-os-acadc3aamicos-
santo-agostinho.pdf>. Acesso em: 2 de out. de 2014, p. 18.
248
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p.
395.
64
249
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, V, 25.
250
C.f. BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma biografia, 2012, p. 48.
251
C.f. SOUZA, José Zacarias. Agostinho Buscador inquieto da verdade, 2001, p. 56.
252
C.f. AGOSTINHO, Santo. Solilóquios, 1998, I, 2.
253
C.f. HADOT, Pierre. O que é Filosofia Antiga, 1999, p. 327.
254
C.f. AGOSTINHO, Santo. A Vida feliz, 1993, V, 25.
255
Idem, Ibidem, V, 328.
65
256
C.f. AGOSTINHO, Santo. Solilóquios, 1998, VIII, 15.
257
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, IX, 24.
66
CONSIDERAÇÕES FINAIS
258
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 25.
259
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1939, p. 224
260
C.f. SOUZA, José Zacarias. Agostinho Buscador inquieto da verdade, 2001, p. 38.
261
C.f. GILSON, Étienne. Introdução ao estudo de Santo Agostinho, 2006, p. 18.
67
caminho da sabedoria. Neste caso, quem poderia conter este predicado seria
somente o “Deus verdadeiro”, pois a verdade é um meio, não o fim.
O sistema filosófico do ceticismo acadêmico estava baseado no
argumento de que a certeza é impossível e, desta forma, devemos suspender nosso
juízo sobre as coisas, pois todo o conhecimento está ligado à percepção sensível, e
os sentidos são variáveis, fornecendo dados imprecisos, não podendo encontrar
bases para a certeza. Estas definições impedem Agostinho de avançar com seus
pensamentos sobre o “Deus verdadeiro”. Desta forma, a doutrina agostiniana tem
em seu fundamento princípios contrários aos preconizados pelos Acadêmicos, os
quais justificavam que a busca pela verdade já bastava para ser feliz.
Ainda que algumas questões que foram tratadas na pesquisa não tenham
sido apresentadas de modo explícito no primeiro livro, elas estão subjacentes às
discussões travadas pelos dois jovens discípulos de Agostinho. Procuramos, pois,
na medida do possível, fazê-las emergir do texto, questões que se desdobraram em
outras indagações filosóficas, evocando aspectos do pensamento agostiniano no
que se refere à verdade, à felicidade, ao erro e à sabedoria.
Analisando o posicionamento dos Novos Acadêmicos, Agostinho se
admira que filósofos tão ilustres possam conceber um sistema que se demonstra
claramente insustentável. Um filósofo cético, se questionado sobre um determinado
assunto, responderia: “Ninguém sabe, e ninguém poderá jamais saber”262, mas,
como salienta Reale, “sobre o credo do nada, nada se sustenta”263. Desta forma, a
base do ceticismo torna-se vulnerável, pela negação de poder conhecer. “Não se
pode evitar pronunciar-se sobre as coisas da vida prática, e recusar-se a decidir
ainda seria decidir”264. A evidência de determinadas percepções comporta
naturalmente o assentimento e, sem esses assentimentos toda a memória e
experiência de vida estariam comprometidas:
262
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos Gregos, 2009, p. 121.
263
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística. 1994, p.
436.
264
C.f. BROCHARD, Victor. Os Céticos GregosI, 2009, p. 121.
68
265
C.f. REALE, Giovanni. História da Filosofia Antiga. V.3. Os Sistemas da era helenística, 1994, p.
451.
266
Idem, Ibidem, p. 422.
267
C.f. HADOT, Pierre. O que é Filosofia Antiga, 1999, p. 212.
268
Idem, Ibidem, p. 452.
69
269
MATTHEWS. Gareth. Santo Agostinho, 2008, p. 35.
270
SOUZA NETO, Francisco Benjamim. Tempo e Memória no pensamento de Agostinho. In:
PALACIOS, Pelayo Moreno (Org.). Tempo e razão. 1600 anos das Confissões de Agostinho. São
Paulo: Loyola, 2002, p. 12.
271
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1934, p. 54.
70
272
C.f. BOYER, Charles. L’idée de Vérité Dans La Philosophie de Saint Augustin, 1934, p. 293.
71
entende e conhece Deus. Com efeito, o laço que liga a contemplação do mundo e o
sábio encontra-se na concepção do caráter sagrado.
Podemos analisar, ainda, a definição da sabedoria como a ciência das
coisas humanas e divinas como o primeiro passo para Agostinho definir a existência
de um Mundo dos homens, Mundo sensível. Logo, a superação deste mundo é
importante para acessar o Mundo divino. Este assunto Agostinho trata em seus
próximos diálogos e livros.
Ao final deste Primeiro Livro Agostinho conclui: “pois desejamos a
felicidade. Quer esta consista em encontrar a verdade, quer em buscá-la
diligentemente, devemos em todo caso, se quisermos ser felizes, fazer passar antes
de tudo a busca da verdade”273.
A superação do ceticismo foi um passo decisivo na evolução da filosofia
de Agostinho, o qual necessitava de discípulos bem treinados para disseminar seus
fundamentos. Como analisamos no Prólogo a Romaniano, para o filósofo, precisam
ser superados os bens materiais que trazem somente a infelicidade. Agostinho
entende que o homem que ama algo que pode perder, viveria temendo, perturbado
para sempre, eternamente. A busca pela felicidade está no que é permanente,
independentemente do acaso e da fortuna, ou seja, a verdadeira felicidade está no
que é eterno, neste caso, em Deus. Comprovar que o homem pode alcançar a
verdade é, acima de tudo, para Agostinho, comprovar que Deus existe.
Santo Agostinho viveu seus dias em busca permanente de respostas para
uma vida feliz. A questão da felicidade constitui algo a ser solucionado que motivou
todo o seu pensamento filosófico e suas experiências de vida se tornaram rico
material que deram origem aos seus escritos. Deste modo, ao acompanharmos a
saga de Agostinho, o que vemos é um homem em constante transformação, tanto
no que concerne ao campo intelectual quanto ao campo moral: da condição de leitor
de Cícero na juventude até a condição de Bispo interessado pelo neoplatonismo,
almejando o bem que, satisfazendo o seu desejo, traria a paz ao seu coração.
Superou o materialismo, a escravidão do prazer corpóreo, descobriu que a verdade
está na busca do homem em seu interior, deparou-se com o fato de que a riqueza
torna o homem insensato, afirmando, depois, que o homem que deseja viver feliz
deve viver segundo a razão, não segundo a riqueza.
273
C.f. AGOSTINHO, Santo. Contra os Acadêmicos, 2008, I, IX, 24.
72
A dificuldade inerente à linguagem não pode ser base para o ceticismo. Com
efeito, nem deve ser elemento que se impeça dizer a verdade, logo, o desafio da
filosofia “não é aplainar o terreno, mas sim assinalar com nitidez os acidentes, as
dificuldades, os desafios. Cabe ao filósofo, se busca a sabedoria, fazer com que os
problemas aflorem, e não compor uma doutrina apaziguadora” 275.
274
C.f. PALACIOS, Pelayo Moreno (Org.). Tempo e razão. 1600 anos das Confissões de Agostinho,
2002, p. 33.
275
NOVAES, Moacyr. Linguagem e Verdade nas Confissões In: PALACIOS, Pelayo Moreno (Org.).
Tempo e razão. 1600 anos das Confissões de Agostinho, 2002, p. 43.
73
BIBLIOGRAFIA
BROWN, Peter. Santo Agostinho Uma biografia. Rio de Janeiro, São Paulo:
Record, 2012.
MARTINS, Maria Mansela Brio. Deus como beatitude e outras felicidades. Centro
de Formação e Cultura Diocese de Leiria-Fatima. Actas do Congresso 11 a 15 de
Novembro de 2004. Disponível em:
http://repositorio.ucp.pt/bitstream/10400.14/4688/1/2004_TEOLOGIA_Brito_Manuela
-dig4.PDF. Acesso em: 15 de Nov. de 2014.