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As eleitoras de Acary em agosto de 1928

Nas primeiras décadas do século XX, as discussões sobre os direitos femininos


ganham mais espaço nos debates intelectuais e políticos. É nesse contexto que em 1922
é criada no Rio de Janeiro, a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, tendo como
presidenta Bertha Lutz, que buscava apoio, entre os deputados para a causa do sufrágio
feminino.

No Rio Grande do Norte Juvenal Lamartine era um grande apoiador da causa


feminina. Em 1925 quando o a lei eleitoral do estado estava para ser revisada, Juvenal
conseguiu adicionar o artigo 77, que dizia “que todos podiam votar sem distinção de
sexo, todos que reunissem condições perante a lei”

Então a mossoroense Celina Guimarães Viana procurou a justiça eleitoral e


tornou-se uma das primeiras mulheres da América do Sul a se alistar e possuir título
eleitoral em 25 de novembro de 1927. Nesse momento cria-se no RN a Associação de
Eleitoras Norte Rio-Grandenses, presidida por Celina Viana, e que visava difundir e
divulgar os direitos civis femininos e o voto.

Seguido a esse fato alistam-se Beatriz Leite também em Mossoró e a professora


Julia Barbosa, considerada a primeira eleitora da Capital. No que se refere ao Seridó, a
primeira eleitora alistada foi a acariense Martha Maria de Medeiros, moradora da
Rajada e filha de Joaquim Paulino de Medeiros (cel. Quincó) e Maria Florentina de
Medeiros. O alistamento da mesma foi publicado no diário oficial de 10 de dezembro
de 1927.
Martha Medeiros primeira seridoense a se inscrever como eleitora

Em agosto de 1928, a convite de Juvenal Lamartine e de Celina Viana, Bertha


Lutz vem ao Rio Grande do Norte ´promover a divulgação do direito ao voto feminino.
Em terras potiguares a comitiva fez sua propaganda em Natal, Macaíba e depois rumou
para o interior onde promoveu palestras e alistamentos em Santa Cruz, Caicó e Acari.

Sua estadia em Acari foi narrada nas páginas do jornal carioca O Paiz em sua
edição de 14 de setembro de 1928 e segue transcrito abaixo:

“Na fronteira do progressista município aguardava a comitiva, um grande


número de famílias e pessoas de destaque, inclusive a senhorita Martha Medeiros,
primeira eleitora do Acary, e uma das primeiras do Estado.
Nas proximidades da cidade, notava-se o enthusiasmo da população, pelas
girandolas de foguetes que estouravam no ar.

Na residência do coronel Cypriano Pereira, a Dra. Bertha Lutz e comitiva foram


recebidas com uma manifestação fora do comum.

Senhoritas da melhor sociedade cobriram-na de flores e após fez-se ouvir a


palavra do promotor público Dr. João de Britto, saudando em nome do município a
ilustre visitante.

A Dra. Bertha Lutz agradeceu as gentilezas que vinha recebendo desde os


primeiros instantes que pisava o solo de Acary.

A noite foi-lhe oferecido um na confortável vivenda do cel. Cypriano Pereira,


onde se achava hospedada.

Foi enorme o brilhantismo desta festa, que reuniu a melhor elite acaryense,
terminando nas primeiras horas do dia seguinte.

As 14 horas do dia 15, realizou-se no edifício da Intendência Municipal a sessão


cívica, para inauguração dos retratos do governador Juvenal Lamartine e Senador José
Augusto, e a entrega dos títulos eleitorais as senhoras Josepha de Araújo Gomes,
Jacynta Veras Lopes, Josepha Auta de Araújo e as senhoritas Beatriz Mirtes de Araújo,
Georgina Medeiros, Maria Christina Mangabeira, Almira Arêas Marçal e Maria Amelia
de Oliveira, pertencentes a fina flora local.

Aberta a sessão que teve o comparecimento de distintas famílias, o orador


oficial, Dr. Eurico Montenegro, após declarar inaugurar os retratos, fez algumas
considerações a respeito dos direitos de cidadania da mulher brasileira, terminando por
fazer uma saudação a Bertha Lutz, a quem pediu para fazer a entrega dos títulos das
novas eleitoras.

Em formoso discurso, D. Bertha Lutz agradeceu aquella prova de muita


consideração, as palavras elogiosas do distincto orador e finalizou saudando as novas
eleitoras.
Beatriz Mirtes, oradora por ocasião da entrega de títulos

Falou a senhorita Beatriz Myrthes de Araújo, professora do grupo escolar


Thomaz de Araújo e eleitora pelo município, cujo discurso foi o seguinte:

“Exma presidenta da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino – Exmo, Sr.


Juiz de Direito – Meus senhores – momentos como estes arrebatam a alma, fazem-na
vibrar de enthusiasmo! Acabamos de receber das mãos autorizadas da excelsa Mulher
Brasileira, Leader do movimento feminista no nosso país, a qual o Rio Grande do Norte
e hoje o Acary tem a subida honra de hospedar, o título de eleitora, que nos confere esse
direito de cidadania, assegurado pela Carta Magna. Não me cabe falar sobre a
constitucionalidade do voto da mulher, porque alguns fulminares da sciencia de Ulpiano
já se pronunciaram de maneira inequívoca e precisa. Já se leu o magistral parecer do
inconfundível meste Dr. Clovis Bevillaoqu, que o deu por solicitação do eminentíssimo,
homem público que em tão feliz hora dirige nosso Rio Grande do Norte; já se conhece,
a opinião do sábio cathedrático Affonso Celso, já se ouviu a palavra do senador
Adolpho Gordo, o qual veio, com um discurso saturado de verdades constitucionais,
pronunciado na Câmara Alta, já temos jurisprudência firmada por quais todos os juízes
deste Estado, notando-se particularmente que nesta comarca dois magistrados de
reconhecido valor, o actual juiz de direito e o seu antecessor , se manifestaram
favoráveis ao direito do voto da mulher em sentenças bem elaboradas.
Destarte somos sabedoras que não nos é vedado exercer o direito do voto e por
isso requeremos os nossos títulos que vamos receber neste instante, cabendo-nos a
indizível honra de nos entrega-los a Exma. Presidenta da Federação Brasileira pelo
Progresso Feminino, que é uma instituição bela e sublime, alicerce inabalável em que
assenta a gigantesca coluna do progresso social brasileiro.

Portanto, uma vez sabido que a constituição federal não inibe a mulher brasileira
de votar, muito avisado foi o Dr.José Augusto quando sancionou a lei que manda em
termos claros a mulher votar nas eleições estaduais, merece todos os salmos dos nossos
corações o Exmo. Governador Juvenal Lamartine, por ter sempre sido sempre
batalhador incansável na defesa dos nossos direitos; adquire todo o nosso carinho,
estima e respeito a Exma. Bertha Lutz, que não tem medido esforços nem sacrifícios
afim de ver concretizadas as mais justas aspirações da mulher brasileira.

Nós que recebemos agora o nosso título de eleitoras, orgulhamo-nos por isto e
prestamos o compromisso solene de unidas sob o pendão sagrado da Pátria, trabalhar
sem tréguas para vermos o Brasil cada vez maior, mais unido e mais forte, tenho dito.”

Beathiz Myrtes, Acary, 15 de agosto de 1928

Mulheres inscritas como eleitoras em Acary no dia 15 de agosto de 1928

Josefa de Araújo Gomes filha de Joaquim Lopes Pequeno e Thereza Brasileira


de Jesus, casada com Severino Gomes da Costa

Jacynta Veras Lopes nascida em 19 de abril de 1896, esposa de Joaquim Lopes


Pequeno Filho (Baé) ex´prefeito de Cruzeta) era Natural de Campo Grande

Josepha Auta de Araujo nascida em 19 de novembro de 1886 e falecida em 6 de


março de 1939, Filha de Joaquim Lopes Pequeno e Thereza Brasileira de Jesus, foi a
segunda esposa de Cipriano Pereira de Araujo, era mãe de Terezinha Pereira Galvão e
Tia de Iracema Brandão de Araujo.

Beathriz Mirtes, esposa de Satiro Bezerra, foi uma figura muito proeminente na
educação acariense, por longo período foi professora e diretora do Grupo Escolar
Tomaz de Araújo.
Georgina Medeiros, irmã de Antonio Emiliano e prima em segundo grau do
professor Thomaz Sebastião

Maria Cristina Mangabeira, professora do Grupo Escolar Thomaz de Araujo, o


antigo, oriunda de Macaíba.

Almira Arêas Marçal, filha de Manoel Marçal e de Zulmira Arêas Marçal

Maria Amelia de Oliveira (1888- 26/07/1980) natural de Brejo do Cruz-PB, residia em


frente a matriz, zeladora do cemitério, instrutora dos sacristãos, filha adotiva de Thomaz
Pereira de Medeiros

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