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A tecnologia em Arton
João Paulo Francisconi 8 anos atrás

Já comentei várias vezes em fóruns e conversas nas redes sociais que Arton, o mundo de
Tormenta RPG, não é um cenário de fantasia medieval. Na maior parte de Arton nobres
existem, mas o poder do regente é muito maior que o da nobreza, num esquema mais
absolutista que feudal. O esquema de servidão também está basicamente extinto, com
apenas algumas poucas nações ainda utilizando-o, e por isto restrições às viagens entre
reinos são quase inexistentes, em contraste com as dificuldades que se esperaria de viajar
mesmo entre feudos de um mesmo reino na era medieval. Não há, portanto, muito de
medieval em Arton, as estruturas sociais e políticas na maior parte das nações se
assemelham mais à idade moderna (1453~1789) do que à idade média (476~1453). No
máximo há ilhas de atraso, como Bielefeld e Ahlen, da mesma forma que aconteceu com a
Rússia na Europa (cujo sistema de servidão feudal só foi abolido em 1861!).
Mas é claro que existe uma outra razão, além das discrepâncias sociais e políticas, para
dizer que Arton não é nem um pouco medieval: tecnologia. Arton possui tecnologia muito
acima do que você esperaria da era medieval, e não estou só falando de itens mágicos que
fazem coisas maravilhosas, mas de tecnologia baseada em ciência, que realmente pode
fazer a diferença para a continuidade do cenário em seus próximos séculos de cronologia.
A primeira evidência disto são as armas de fogo. No mundo real o surgimento das armas
de fogo no período final da idade média não mudou muito a maneira como se fazia
combate num primeiro momento, mas a evolução delas ao longo do tempo e a facilidade
com que qualquer um poderia ser treinado com uma delas para lutar efetivamente em
um exército levaria a mudanças profundas ao longo da idade moderna que culminariam
nos grandes exércitos de centenas de milhares ou mesmo milhões da idade
contemporânea. Hoje em dia, Arton possui armas de fogo dignas da Renascença, como
mosquetes e pistolas de fecho de mecha, além de canhões simples. Tapista já utiliza
canhões em sua marinha de guerra há tempos, e com a criação da Liga Independente e
Malpetrim como uma cidade-estado, surgem os primeiros estados que utilizam mosquetes
e pistolas em seus exércitos. Somado ao centralismo político que já acontece na maioria
dos reinos artonianos, o cenário caminha para os mesmos grandes exércitos nacionais
que vimos no mundo real a partir das guerras napoleônicas.
E já que falamos indiretamente de Napoleão, isso me lembra de uma das paixões dele,
balões. Balões são uma invenção realmente avançada. Apesar do conceito geral ter sido
teorizado por gênios renascentistas como Da Vinci, a primeira viagem experimental de
balão só aconteceria em 1709 e o primeiro balão capaz de transportar pessoas largamente
conhecido é do final da Idade Moderna, em 1783. Em um mundo como Arton, cheio de
magia, o voo não é exatamente algo tão especial e balões podem não parecer tão
importantes. Mas é preciso lembrar da velocidade entre os primeiros voos não
controlados em 1783 e a invenção do primeiro dirigível em 1852 e então do primeiro
dirigível com motor à gasolina em 1898 por Santos Dumont. Em cerca de 70 à 120 anos,
portanto, Arton pode sofrer uma revolução de transportes quase tão poderosa quanto a
que vimos no século XIX com as ferrovias. Imagine um mundo onde, por alguns tibares de
ouro, prata ou cobre (dependendo se estamos falando de 1ª, 2ª ou 3ª classe), nobres,
burgueses e plebeus podem viajar entre Valkaria e alguma outra capital em apenas
algumas horas ou dias de viagem pelos céus, em vez de meses através das rotas
terrestres?
E já que estamos falando de transportes, o que dizer então de navegação oceânica? É dito
que a costa artoniana não é muito propensa para a navegação oceânica, mas ao mesmo
tempo as opções para navios apresentados no suplemento Piratas & Pistoleiros trazem
caravelas e galeões, ambos navios tipicamente usados pelos impérios ultramarinos
europeus para realizar as longas viagens oceânicas entre a Europa e regiões coloniais das
Américas, África e Ásia entre os séculos XVI e XVIII. Apesar de contrariar a ideia de um
litoral acidentado pouco propenso a portos naturais, não é exatamente uma surpresa
quando lembramos que o subcontinente de Galrasia é repleto de tesouros valendo
dezenas de milhares de tibares de ouro a peça e está a apenas cerca de 800 quilômetros
de mar aberto de distância. Galrasia tem o mesmo papel para o desenvolvimento da
ciência náutica artoniana que os frotas espanholas entupidas de ouro do Novo Mundo
tiveram na era colonial. E se Galrasia age como as nossas Américas, o que são os Reinos
de Moreania? Vejamos, eles viajaram por meses através do oceano, encontraram Arton, e
montaram uma rede de comércio intercontinental. Parece que o caso aqui é que Arton é a
Ásia, e os Reinos de Moreania são a Europa. Eita! Mas calma, só porque Arton não possui
uma navegação oceânica tão avançada quanto a moreana não quer dizer que o
continente vá ser colonizado no futuro pelos homens-fera de lá… talvez. De qualquer
maneira, essas viagens oceânicas causam um contato de culturas externas da mesma
maneira que Vectora faz com Arton internamente, diminuindo o mundo num processo
que todos nós conhecemos muito bem hoje em dia mas começou lá no século XV com a
Era das Grandes Navegações: a Globalização.
Mas falta algo nessa mistura ainda, certo? Globalização envolve uma diminuição do
tempo de viagem entre locais distantes, é verdade, mas também envolve trocas culturais
em escala global. Então, em que pé está a “tecnologia cultural” de Arton? Em alguns
aspectos, academicamente falando, Arton está bastante avançada em relação ao mundo
real. A medicina de Sallistick é descrita de maneira tal que lembra nosso entendimento
médico do século XIX, e graças à Academia Arcana o método científico já existe em Arton
(vejam os talentos de Teoria Arcana do Manual do Arcano). O fato de que a igreja de
Tanna-Toh foi capaz de ensinar a todos ao menos a ler e escrever também é algo
muito avançado, mesmo se você considerar que existam uma cacetada de tribos bárbaras
que levam o índice de alfabetização artoniano para, sei lá, 40% da população mundial,
esse é mais ou menos o nível de alfabetização no mundo real na década de 1960! Com
esse nível de alfabetização mundial nós colocamos um homem na Lua!
Então, se Arton é tão avançada, o que falta exatamente para a tecnologia decolar de vez?
Bem, uma coisa muito simples, mas que ninguém fez ainda: imprensa de tipos
móveis. Sem a imprensa de tipos móveis, a produção literária fica limitada em números, e
assim mesmo os livros mais populares só terão algumas centenas de unidades produzidas
por copistas e seu valor será altíssimo. Isto torna a viagem de ideias muito difícil, e se um
engenheiro de Tapista não entra em contato com o trabalho teórico de um professor
quase desconhecido de Sallistick, um dirigível não será construído em 50 anos, mas em
500 em vez disto. Sem imprensa móvel para espalhar os escritos de um explorador sobre
os Reinos de Moreania, menos aventureiros e mercadores tentarão estabelecer rotas
comerciais os Moreau. Enfim, ponto central sendo que quanto maior a troca de ideias,
maior o desenvolvimento tecnológico, e a imprensa móvel é o multiplicador de ideias que
separa a Arton de Tormenta RPG de uma Immoren Ocidental de Reinos de Ferro RPG.
Então, esse é meu entendimento sobre a tecnologia em Arton, dúvidas?

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Categorias: Opinião, RPG, Tormenta

Tags: Arton, História, Jambô Editora, Tecnologia

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