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A discrepância em relação a oportunidades entre mulheres e homens

nos cursos de ciências exatas


As mulheres brasileiras são mais instruídas que os homens e com mais acesso ao
ensino superior, mas ainda são minoria em áreas ligadas às ciências exatas, como
engenharia e tecnologia da informação, e também entre os docentes de universidade. O
retrato está presente na pesquisa “Estatísticas de Gênero: indicadores sociais das
mulheres no Brasil”, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) em 2021.
Na população com 25 anos ou mais, 19,4% das mulheres e 15,1% dos homens tinham
nível superior completo em 2019. A parcela da população com instrução vem
avançando, mas as mulheres se mantêm nos últimos anos com maior grau de instrução.
Em 2012, eram 14% das mulheres com ensino superior e 10,9% dos homens. A única
faixa etária em que há mais homens que mulheres com ensino superior é aquela acima
dos 65 anos ou mais, o que mostra as restrições do acesso à educação em décadas
passadas, aponta o IBGE.

A maior parte dos universitários brasileiros são mulheres (cerca de 59%). No entanto,
nos cursos de ciências exatas, a participação feminina cai para 41%, segundo o censo da
educação superior 2015 (do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
Em cursos de engenharia o valor é ainda menor sendo 70,7% homens e 29,3%
mulheres.
A socióloga Márcia Guedes crítica a discrepância salarial entre os sexos ‘’Embora
estudos apontem que as estudantes são maioria nos cursos universitários elas ainda
recebem salários menores do que os homens para desempenhar as mesmas funções’’.
Em época de crise e de corte orçamentário destinado à pesquisa, a mulher brasileira é
duplamente prejudicada. Além de driblar a pouca verba vinda de órgãos governamentais
que atinge ambos os sexos, a concessão de financiamentos é ainda menor para elas no
meio científico, principalmente em áreas nas quais, culturalmente, sempre prevaleceu a
hegemonia masculina. Para mostrar a existência desta desigualdade, uma pesquisa feita
no Instituto de Psicologia (IP) da USP comparou a participação dos dois gêneros na
ciência por área de conhecimento.
Os números de pesquisadores financiados com a chamada Bolsa de Produtividade em
Pesquisa por área foram coletados no Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) entre os anos de 2013 e 2014. Também foi verificada
a proporção, no período, de membros na Academia Brasileira de Ciências (ABC), por
sexo e por área.
A área mais discrepante foi a de “Engenharia, Ciências Exatas e da Terra”. Não houve
nenhuma das sub-áreas deste grupo em que a mulher foi melhor representada. Em
engenharia elétrica, por exemplo, o número de mulheres inseridas no setor foi de 13
para 269 homens; em engenharia civil e engenharia biomédica, a proporção foi de 56
para 210 e de 4 para 60, respectivamente. A segregação não ficou somente nas
engenharias. Em física e matemática, o número de mulher também foi infinitamente
menor: 101 mulheres para 806 homens, na primeira categoria, e de 29 para 271 na
segunda.
O cenário se inverteu quando o financiamento por produtividade científica se deu em
áreas relacionadas às “Ciências da vida”, associadas à saúde, o que reforça o estereótipo
de papel de mulher cuidadora. Enfermagem, teve 165 mulheres para 8 homens;
fisioterapia, 43 para 23; nutrição, 54 para 27; e farmácia, 88 para 68. No entanto, nesta
mesma categoria, para outras áreas com mais “glamour” e cujas profissões remuneram
melhor no mercado de trabalho, a participação da mulher volta a cair: em medicina, 205
mulheres para 333 homens; e odontologia, 82 para 129.
Em “Humanidades e serviço social”, a presença da mulher também foi maior quando
comparada a do homem: Linguística, 152 para 59; Letras, 126 para 102; Serviço social,
62 para 9; Psicologia, 175 para 138; Educação, 242 para 136 e Arquitetura e
Urbanismo, 54 para 42. Houve um equilíbrio para Comunicação, 61 para 61;
Arqueologia, 23 para 19; e Turismo, 8 para 6. Porém, os números voltam a se inverter
quando foram analisados dados sobre Direito, 26 para 42; e Economia, 29 mulheres
para 178 homens.
Os desequilíbrios de gênero no meio científico não param por aí. Sobre os níveis de
bolsas concedidas pelas agências de fomentos que estão relacionados ao valor que o
cientista irá ganhar para se dedicar a pesquisa, os dados também foram diferentes. As
cientistas foram mais frequentemente representadas entre os que obtiveram bolsas com
níveis mais baixos do sistema de classificação de pesquisa (PS-2), enquanto que
cientistas masculinos ficaram com as bolsas de níveis mais altos (PS1A e PS1B) nas
categorias “Engenharia, Ciências Exatas e Ciências da Terra” e “Ciências da Vida”

As mulheres na história da ciência


Mesmo que a ciência tenha sido por muito tempo vista como uma atividade
masculina, muitas mulheres fizeram história e promoveram a propagação do
conhecimento. Existem diversas descobertas feitas por mulheres que serviram de base
para o desenvolvimento e continuidade de estudos em áreas como tecnologia, saúde e
ciência. Mas o que aconteceu com essas mulheres? Grande parte delas foi esquecida e
tratadas como se fossem invisíveis ao decorrer da história. Por exemplo: possivelmente,
você nem sonha, mas o Wi-Fi que você tem em casa e no trabalho é consequência de
uma pesquisa desenvolvida por uma mulher. As mulheres sempre estiveram presentes
na ciência, mesmo que em menor número, se comparadas aos homens. Contudo, os
preconceitos, a estrutura patriarcal da sociedade e a falta de reconhecimento foram
alguns dos principais empecilhos que atrasaram a participação feminina no meio
científico.
Não são poucas as histórias de pioneiras que venceram os preconceitos de seus tempos
para se tornarem parte essencial em descobertas que ainda hoje mudam o mundo.
Segundo Nadia Kovaleski, Cíntia Tortato e Marília de Carvalho, autoras do artigo “As
relações de gênero na história das ciências: a participação feminina no progresso
científico e tecnológico”, existem relatos da presença feminina na pesquisa científica
desde o Antigo Egito. Elas citam Hatexepsute no Egito, uma faraó médica que
organizava expedições para buscar plantas curativas e Theano na Grécia, aluna de
Pitágoras que mais tarde se tornou sua esposa e escritora de livros sobre matemática e
física. A mais famosa das pesquisadoras da antiguidade é Hipátia de Alexandria, que
estudava astronomia e matemática e ficou conhecia por inventar o densímetro,
instrumento que permite medir a densidade de líquidos.

Cientistas Internacionais
Você já ouviu falar de nomes como Elizabeth Fulhame, Marie Curie e Hedy Lamarr?
Elizabeth Fulhame foi uma das primeiras pesquisadoras profissionais na área da
química, realizando três descobertas primordiais: as reduções metálicas, a catálise e a
fotorredução, primeiro passo rumo à fotografia. 
Já a polonesa Marie Curie, foi uma das poucas cientistas que conseguiu destaque e
reconhecimento enquanto viva. A cientista realizou pesquisas pioneiras sobre a
radioatividade e descobriu e conseguiu isolar isótopos dos elementos polônio e rádio.
Curie se tornou a primeira mulher a receber o prêmio Nobel de Física e, em 1911, foi
agraciada com o Nobel de Química, tornando-se a primeira pessoa a conquistar o
prêmio duas vezes. 
A austríaca Hedwig Eva Maria Kiesler – conhecida como Hedy Lamarr – foi
responsável por diversas invenções e descobertas que revolucionaram a tecnologia da
comunicação.  Considera “mãe do wi-fi”, durante a Segunda Guerra Mundial, ela
inventou, em parceria com George Anthiel, um aparelho de interferência em rádio para
despistar os radares nazistas. Essa tecnologia ainda é usada nos dias de hoje nas redes
móveis, dispositivos bluetooth e wi-fi.
Todas as mulheres citadas acima foram cientistas importantes para a história da
humanidade. Contudo, seus nomes ainda não aparecem com tanta frequência nas
pesquisas e nos livros de História quanto os masculinos. Publicado na Science, em
1965, o artigo Women in Science: Why So Few?, de Alice Rossi, discutiu a participação
das mulheres na ciência e tecnologia nos EUA nos anos de 1950 e 1960. Os dados
mostraram uma participação reduzida nas seguintes áreas: nas engenharias, elas
representavam cerca de 1% do total de empregados; já nas ciências naturais, a
participação foi de aproximadamente 10%, oscilando entre 5% na física e 27% na
biologia.

As mudanças no meio da ciência


Felizmente, o quadro atual da participação das mulheres na ciência hoje difere daquele
apresentado por Rossi para os EUA nos anos de 1950-1960. Foi a segunda metade do
século XX que trouxe mudanças significativas nesse quesito.
Um estudo da Unesco mostrou que a participação de mulheres em instituições de
educação superior cresceu de forma significativa nas décadas de 1970, 1980 e 1990 em
países da América Latina, Ásia e Europa Ocidental. Esse crescimento aponta para uma
maior entrada de mulheres no sistema de produção científica, considerando que as
universidades são responsáveis por grande parte da ciência mundial. De acordo com o
CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), as mulheres
constituem 43,7% dos pesquisadores científicos no Brasil. A nível mundial, esse valor
desce para 30%, segundo a ONU.
No CNPq, a curva é otimista e aponta que o número de mulheres pesquisadoras vai
superar o de pesquisadores do gênero masculino dentro de uma década. Porém, o
mesmo não acontece em cargos de liderança dentro da pesquisa científica. Menos de
10% dos membros da Academia Brasileira de Ciências (ABC) é mulher e apenas 21%
dos coordenadores de projetos temáticos da FAPESP pertence ao gênero feminino, para
dar alguns exemplos.

Preconceito no ambiente de trabalho


Isso acontece por diversos fatores, mas o principal é a discriminação contra
pesquisadoras. Segundo um relatório da Elsevier intitulado “A jornada do pesquisador
através de lentes de gênero” divulgado em 2020, um estudo que envolveu 15 países,
incluindo o Brasil, embora a participação feminina nas ciências exatas esteja
aumentando, a desigualdade permanece quando o assunto são publicações, citações,
bolsas concedidas e colaborações. Apesar de avanços ocorridos no século 20 em direção
à igualdade de gênero e ao empoderamento das mulheres, o progresso tem sido lento e
as disparidades persistem em todo o mundo, mesmo estando presentes como maioria no
ambiente de pesquisa, da universidade, as mulheres ainda são vistas na área de exatas
como algo fora do lugar. Por que isso acontece?
O primeiro palpite de pesquisadoras da área é que esta é uma questão de aprendizado
social, uma falsa noção perpetuada de que as ciências exatas não são coisa de menina.
Um exemplo simples desses estímulos seriam os brinquedos dados à meninos e
meninas, que enalteceriam diferentes habilidades. Por exemplo, aos meninos são dados
brinquedos que estimulam a construção (blocos de montar e caixas de ferramentas) e
atividades ao ar livre (como bolas e carrinhos, por exemplo). Já para as meninas, o
brinquedo que as acompanha desde a primeira infância são as bonecas e o brincar de
casinha, que estimulam o cuidado, o uso da imaginação e da linguagem.
Esses seriam, então, aprendizados que as meninas trariam desde a infância e que
culminariam em elas optarem por cursos de humanas ou biológicas quando chegassem
ao vestibular. Além da influência que os valores sociais podem ter sobre a escolha da
profissão por uma vestibulanda, ainda existem outros fatores que a acompanham na vida
adulta que podem dificultar ou até impedir sua atuação como pesquisadora.
O relatório da Elsevier intitulado A jornada do pesquisador através de lentes de
gênero traz alguns detalhes sobre a participação das mulheres na ciência. O estudo
examinou a participação em pesquisas, progressão na carreira e percepções em 26 áreas
temáticas de toda a União Europeia e em 15 países, incluindo o Brasil. De acordo com o
levantamento, embora a participação das mulheres na pesquisa esteja aumentando em
geral, a desigualdade ainda permanece. Em todos os países, a porcentagem de mulheres
que publicam internacionalmente é menor do que a de homens. Em termos de citações –
que apontam o quanto uma publicação é relevante para os pares – também há uma
diferença de gênero sobre como são acumuladas: trabalhos de autoria de mulheres são
citados com menos frequência do que de homens.
Os preconceitos, principalmente o machismo, são os principais entraves que as
mulheres enfrentam no meio acadêmico. Em vez de ser um espaço plural, a
universidade se revela muitas vezes como um lugar de preconceito implícito à mulher,
principalmente no que diz respeito à progressão na carreira acadêmica e científica. A
pesquisa Women in Science, organizada pela Fundação L’Oreal, revelou que 67% dos
entrevistados acreditam que as mulheres não estão qualificadas para alcançar êxito em
uma carreira científica. Somente 33% disseram que as mulheres possuem as qualidades
ideais para se juntar às linhas dos maiores físicos, químicos e biólogos do mundo das
pesquisas. Esse tipo de preconceito é o que impede milhares de cientistas qualificadas
de obter o reconhecimento e o espaço no meio científico que elas merecem.
Apesar dos preconceitos enfrentados e da falta de reconhecimento, a participação das
mulheres na ciência está aumentando. Não é à toa que existem diversas áreas em que as
mulheres já são maioria no meio científico.  De acordo com o estudo da Elsevier que
mencionamos anteriormente, as mulheres já são maioria nos seguintes campos da
ciência:
• Bioquímica: 52.7%
• Odontologia: 52.4%
• Imunologia e Microbiologia: 57.7%
• Medicina: 52.7%
• Neurociência: 54.3%
• Enfermagem: 73%
• Farmacologia: 57.6%
No período de 2009 a 2013, as cientistas brasileiras publicaram até dez vezes mais o
primeiro artigo de suas carreiras do que em anos anteriores. A área médica teve 11.911
primeiras publicações entre mulheres, contra 10.956 entre homens. Segundo o estudo, o
maior aumento na proporção de mulheres entre os autores foi visto na enfermagem e na
psicologia, e o menor foi nas ciências físicas.

Maternidade
Também podemos citar a maternidade e o peso que a criação de filhos tem sobre a
mulher socialmente. Embora o número de mulheres bolsistas de pesquisa seja
expressivo em período de graduação e pós-graduação, esse número diminui conforme a
faixa etária vai aumentando. Dentre as bolsas de produtividade oferecidas pelo CNPq,
por exemplo, apenas 19% foram concedidas para mulheres entre 30 e 34 anos e 25%
para mulheres entre 35 e 39 anos. A porcentagem volta a aumentar conforme a faixa
etária da mulher aumenta também, atingindo o maior número na faixa etária de 45 a 54
anos. A pequena porcentagem de bolsas concedidas para mulheres entre 30 e 39 anos
coincide com o período da maternidade. Entre 2000 e 2019, a parcela de mulheres que
se tornam mães nesta faixa etária no Brasil subiu de 26% para 39%, ou seja, conforme
uma mulher se aproxima da maternidade, menos chances como pesquisadora ela terá. E
devido a essa realidade, diversos movimentos sociais têm buscado uma solução para
vencer esse obstáculo.
Sem o documento, o pesquisador praticamente não existe, e uma das formas de
avaliação para bolsas de pesquisa é a produção científica, medida principalmente pela
publicação de artigos e participação em eventos. Se um pesquisador passa muito tempo
sem publicar artigos ou participar de eventos, ele pode ser considerado como alguém
que não produz ciência. Logo, uma mulher que precisou pausar sua carreira acadêmica
para cuidar de um bebê perde muitas chances de conseguir bolsas, mesmo depois que o
filho cresce e ela pode voltar à pesquisa.

Uma conquista que pode facilitar a vida das pesquisadoras que optam por serem mães
é a presença da licença-maternidade no Currículo Lattes. Intitulada como “Licenças”, a
nova seção do Currículo Lattes é uma demanda de mulheres pesquisadoras, mas
principalmente uma pressão de organizações que buscam equidade, como o Movimento
Parent in Science. É importante destacar que embora a pressão tenha vindo
principalmente das pesquisadoras, a medida também beneficia a licença-paternidade. 

Mulheres X Covid-19
Durante a pandemia provocada pela Covid-19, a ciência e as pesquisas demonstraram
ainda mais sua relevância, não apenas para o desenvolvimento de vacinas, mas
contribuindo para a sociedade em diferentes áreas. Nesse sentido, diversos cientistas se
destacaram, trabalhando em diferentes linhas de pesquisa e projetos, desde a
identificação do corona vírus até a produção das vacinas e a divulgação científica.
Conheça mais sobre o trabalho de algumas das principais cientistas brasileiras
dedicadas ao combate à Covid-19
• Ester Cerdeira Sabino: liderou o grupo de pesquisa que realizou o sequenciamento
completo do genoma do coronavírus (SARS-CoV2) em apenas 48h, após o primeiro
caso confirmado de coronavírus na América Latina.
• Jaqueline Góes de Jesus: parte do grupo da Dra. Ester, a pesquisadora utilizou seus
conhecimentos no desenvolvimento e aprimoramento de protocolos de sequenciamento
de genomas de vírus para o rápido sequenciamento do coronavírus (SARS-CoV2), no
tempo recorde de 48h. No final de 2020, a cientista foi convidada pela Organização das
Nações Unidas (ONU) para integrar o #TeamHalo, iniciativa que reúne diversos
pesquisadores com o objetivo de promover a divulgação científica sobre a Covid-19 no
TikTok.
• Daniela Trivella: coordena a força-tarefa da Covid-19 do LNBio/CNPEM, que
abrange projetos de estudos estruturais e biofísicos com proteínas do SARS-CoV-2 e
reposicionamento de fármacos contra a Covid-19.
• Nísia Trindade: presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a primeira mulher a
ocupar esse cargo em 120 anos da instituição. A Dra. Nísia lidera as ações da Fiocruz
durante a pandemia, incluindo ensaios clínicos da vacina desenvolvida pela
Universidade de Oxford.

Importantes cientistas brasileiras


A lista que reunimos abaixo contém mulheres de diversas áreas, desde as ciências
biológicas até a física, que contribuíram como ninguém para o avanço científico do
Brasil e do mundo.
Nise da Silveira foi uma médica que mudou completamente a maneira como doenças
psiquiátricas são vistas. Nascida em 1905, ela se formou em medicina em 1931 na
Bahia, sendo a única mulher entre outros 157 estudantes do sexo masculino. Contrata
em 1944 para trabalhar no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, Nise se opôs às
práticas usadas para tratar os internos: técnicas como eletrochoque, camisas de força e
isolamentos eram comuns. Devido à sua oposição, ela foi transferida para a ala de
terapia ocupacional do centro psiquiátrico como forma de punição, já que esta era uma
área com poucos recursos e prestígio, porém é lá que Nise começa sua revolução. Em
vez de terapias baseadas em surras e limpeza pesada do local, Nise propôs a pintura. Ela
trocou os castigos pela expressão através da arte e isso trouxe resultados surpreendentes.
Os pacientes não apenas apresentaram melhora, mas também produziram obras de artes.
Nise também foi pioneira em entender os benefícios de terapias com animais,
permitindo que seus pacientes cuidassem dos cachorros que viviam no pátio do centro
psiquiátrico. Nise da Silveira não só foi uma pioneira, mas uma mulher que buscou a
humanização em tudo o que propôs a fazer. Ela foi uma mulher forte e inteligente, que
marcou para sempre a psiquiatria e é um exemplo para as mulheres na ciência.
Sônia Guimarães aos 64 anos, a paulista Sônia Guimarães é uma mulher pioneira na
ciência brasileira por conta de suas conquistas no universo da física. Uma mulher negra
que concluiu a faculdade de física em 1979 e em 1989 se tornou a primeira mulher
negra brasileira a se tornar doutora pela University of Manchester Institute of Science
and Technology, na Inglaterra. Ela entrou para o quadro de professores do ITA,
Instituto Tecnológico da Aeronáutica, em 1993, uma época em que era uma das poucas
mulheres no campus. Isso porque o instituto só passou a aceitar o ingresso de alunas em
1996.
Por conhecer os desafios que uma mulher negra enfrenta no ambiente acadêmico,
Sônia é uma voz poderosa na busca pelo fim das desigualdades raciais e de gênero nas
ciências. Ela participa de projetos que visam incentivar as meninas a se interessarem
pelas exatas e também ao empreendedorismo. Além disso, Sônia também é
mantenedora da Universidade Zumbi dos Palmares e conselheira do Conselho
Municipal Para a Promoção de Igualdade Racial (COMPIR), da prefeitura de São José
dos Campos.
Graziela Maciel Barroso nascida em 1912, Graziela Maciel Barroso é um nome
essencial para a botânica, sendo conhecida como a principal taxonomista de plantas do
país.
Graziela foi educada para ser dona de casa, casando-se aos 16 anos com o agrônomo
Liberato Joaquim Barroso. Devido ao trabalho do marido, ela conheceu diversas regiões
do Brasil e aos poucos começou a se interessar pelo campo. Aos 30 anos, ela começou a
estudar botânica em casa com o marido e em 1946 se tornou a primeira mulher a fazer
concurso para naturalista no Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Graziela trabalhava
com sistemática de plantas e, embora não tivesse curso superior, treinava estagiários,
mestrandos e doutorandos. Foi apenas aos 47 anos que Graziela ingressou no curso
superior de biologia da Universidade do Estado da Guanabara, e aos 60 defendeu sua
tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas.
Durante sua atuação profissional, ela foi responsável por identificar 25 espécies de
vegetais, batizados com seu nome, como Dorstenia grazielae (caiapiá-da-graziela) e
Baubinia grazielae (pata-de-vaca). Graziela teve suas conquistas reconhecidas em vida,
recebendo a medalha Millenium Botany Award e sendo convidada para fazer parte da
Academia Brasileira de Ciências. Infelizmente, a cientista faleceu em 2003, um mês
antes de poder assumir seu lugar na ABC (Academia Brasileira de Ciências).

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