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A maior parte dos universitários brasileiros são mulheres (cerca de 59%). No entanto,
nos cursos de ciências exatas, a participação feminina cai para 41%, segundo o censo da
educação superior 2015 (do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais).
Em cursos de engenharia o valor é ainda menor sendo 70,7% homens e 29,3%
mulheres.
A socióloga Márcia Guedes crítica a discrepância salarial entre os sexos ‘’Embora
estudos apontem que as estudantes são maioria nos cursos universitários elas ainda
recebem salários menores do que os homens para desempenhar as mesmas funções’’.
Em época de crise e de corte orçamentário destinado à pesquisa, a mulher brasileira é
duplamente prejudicada. Além de driblar a pouca verba vinda de órgãos governamentais
que atinge ambos os sexos, a concessão de financiamentos é ainda menor para elas no
meio científico, principalmente em áreas nas quais, culturalmente, sempre prevaleceu a
hegemonia masculina. Para mostrar a existência desta desigualdade, uma pesquisa feita
no Instituto de Psicologia (IP) da USP comparou a participação dos dois gêneros na
ciência por área de conhecimento.
Os números de pesquisadores financiados com a chamada Bolsa de Produtividade em
Pesquisa por área foram coletados no Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico (CNPq) entre os anos de 2013 e 2014. Também foi verificada
a proporção, no período, de membros na Academia Brasileira de Ciências (ABC), por
sexo e por área.
A área mais discrepante foi a de “Engenharia, Ciências Exatas e da Terra”. Não houve
nenhuma das sub-áreas deste grupo em que a mulher foi melhor representada. Em
engenharia elétrica, por exemplo, o número de mulheres inseridas no setor foi de 13
para 269 homens; em engenharia civil e engenharia biomédica, a proporção foi de 56
para 210 e de 4 para 60, respectivamente. A segregação não ficou somente nas
engenharias. Em física e matemática, o número de mulher também foi infinitamente
menor: 101 mulheres para 806 homens, na primeira categoria, e de 29 para 271 na
segunda.
O cenário se inverteu quando o financiamento por produtividade científica se deu em
áreas relacionadas às “Ciências da vida”, associadas à saúde, o que reforça o estereótipo
de papel de mulher cuidadora. Enfermagem, teve 165 mulheres para 8 homens;
fisioterapia, 43 para 23; nutrição, 54 para 27; e farmácia, 88 para 68. No entanto, nesta
mesma categoria, para outras áreas com mais “glamour” e cujas profissões remuneram
melhor no mercado de trabalho, a participação da mulher volta a cair: em medicina, 205
mulheres para 333 homens; e odontologia, 82 para 129.
Em “Humanidades e serviço social”, a presença da mulher também foi maior quando
comparada a do homem: Linguística, 152 para 59; Letras, 126 para 102; Serviço social,
62 para 9; Psicologia, 175 para 138; Educação, 242 para 136 e Arquitetura e
Urbanismo, 54 para 42. Houve um equilíbrio para Comunicação, 61 para 61;
Arqueologia, 23 para 19; e Turismo, 8 para 6. Porém, os números voltam a se inverter
quando foram analisados dados sobre Direito, 26 para 42; e Economia, 29 mulheres
para 178 homens.
Os desequilíbrios de gênero no meio científico não param por aí. Sobre os níveis de
bolsas concedidas pelas agências de fomentos que estão relacionados ao valor que o
cientista irá ganhar para se dedicar a pesquisa, os dados também foram diferentes. As
cientistas foram mais frequentemente representadas entre os que obtiveram bolsas com
níveis mais baixos do sistema de classificação de pesquisa (PS-2), enquanto que
cientistas masculinos ficaram com as bolsas de níveis mais altos (PS1A e PS1B) nas
categorias “Engenharia, Ciências Exatas e Ciências da Terra” e “Ciências da Vida”
Cientistas Internacionais
Você já ouviu falar de nomes como Elizabeth Fulhame, Marie Curie e Hedy Lamarr?
Elizabeth Fulhame foi uma das primeiras pesquisadoras profissionais na área da
química, realizando três descobertas primordiais: as reduções metálicas, a catálise e a
fotorredução, primeiro passo rumo à fotografia.
Já a polonesa Marie Curie, foi uma das poucas cientistas que conseguiu destaque e
reconhecimento enquanto viva. A cientista realizou pesquisas pioneiras sobre a
radioatividade e descobriu e conseguiu isolar isótopos dos elementos polônio e rádio.
Curie se tornou a primeira mulher a receber o prêmio Nobel de Física e, em 1911, foi
agraciada com o Nobel de Química, tornando-se a primeira pessoa a conquistar o
prêmio duas vezes.
A austríaca Hedwig Eva Maria Kiesler – conhecida como Hedy Lamarr – foi
responsável por diversas invenções e descobertas que revolucionaram a tecnologia da
comunicação. Considera “mãe do wi-fi”, durante a Segunda Guerra Mundial, ela
inventou, em parceria com George Anthiel, um aparelho de interferência em rádio para
despistar os radares nazistas. Essa tecnologia ainda é usada nos dias de hoje nas redes
móveis, dispositivos bluetooth e wi-fi.
Todas as mulheres citadas acima foram cientistas importantes para a história da
humanidade. Contudo, seus nomes ainda não aparecem com tanta frequência nas
pesquisas e nos livros de História quanto os masculinos. Publicado na Science, em
1965, o artigo Women in Science: Why So Few?, de Alice Rossi, discutiu a participação
das mulheres na ciência e tecnologia nos EUA nos anos de 1950 e 1960. Os dados
mostraram uma participação reduzida nas seguintes áreas: nas engenharias, elas
representavam cerca de 1% do total de empregados; já nas ciências naturais, a
participação foi de aproximadamente 10%, oscilando entre 5% na física e 27% na
biologia.
Maternidade
Também podemos citar a maternidade e o peso que a criação de filhos tem sobre a
mulher socialmente. Embora o número de mulheres bolsistas de pesquisa seja
expressivo em período de graduação e pós-graduação, esse número diminui conforme a
faixa etária vai aumentando. Dentre as bolsas de produtividade oferecidas pelo CNPq,
por exemplo, apenas 19% foram concedidas para mulheres entre 30 e 34 anos e 25%
para mulheres entre 35 e 39 anos. A porcentagem volta a aumentar conforme a faixa
etária da mulher aumenta também, atingindo o maior número na faixa etária de 45 a 54
anos. A pequena porcentagem de bolsas concedidas para mulheres entre 30 e 39 anos
coincide com o período da maternidade. Entre 2000 e 2019, a parcela de mulheres que
se tornam mães nesta faixa etária no Brasil subiu de 26% para 39%, ou seja, conforme
uma mulher se aproxima da maternidade, menos chances como pesquisadora ela terá. E
devido a essa realidade, diversos movimentos sociais têm buscado uma solução para
vencer esse obstáculo.
Sem o documento, o pesquisador praticamente não existe, e uma das formas de
avaliação para bolsas de pesquisa é a produção científica, medida principalmente pela
publicação de artigos e participação em eventos. Se um pesquisador passa muito tempo
sem publicar artigos ou participar de eventos, ele pode ser considerado como alguém
que não produz ciência. Logo, uma mulher que precisou pausar sua carreira acadêmica
para cuidar de um bebê perde muitas chances de conseguir bolsas, mesmo depois que o
filho cresce e ela pode voltar à pesquisa.
Uma conquista que pode facilitar a vida das pesquisadoras que optam por serem mães
é a presença da licença-maternidade no Currículo Lattes. Intitulada como “Licenças”, a
nova seção do Currículo Lattes é uma demanda de mulheres pesquisadoras, mas
principalmente uma pressão de organizações que buscam equidade, como o Movimento
Parent in Science. É importante destacar que embora a pressão tenha vindo
principalmente das pesquisadoras, a medida também beneficia a licença-paternidade.
Mulheres X Covid-19
Durante a pandemia provocada pela Covid-19, a ciência e as pesquisas demonstraram
ainda mais sua relevância, não apenas para o desenvolvimento de vacinas, mas
contribuindo para a sociedade em diferentes áreas. Nesse sentido, diversos cientistas se
destacaram, trabalhando em diferentes linhas de pesquisa e projetos, desde a
identificação do corona vírus até a produção das vacinas e a divulgação científica.
Conheça mais sobre o trabalho de algumas das principais cientistas brasileiras
dedicadas ao combate à Covid-19
• Ester Cerdeira Sabino: liderou o grupo de pesquisa que realizou o sequenciamento
completo do genoma do coronavírus (SARS-CoV2) em apenas 48h, após o primeiro
caso confirmado de coronavírus na América Latina.
• Jaqueline Góes de Jesus: parte do grupo da Dra. Ester, a pesquisadora utilizou seus
conhecimentos no desenvolvimento e aprimoramento de protocolos de sequenciamento
de genomas de vírus para o rápido sequenciamento do coronavírus (SARS-CoV2), no
tempo recorde de 48h. No final de 2020, a cientista foi convidada pela Organização das
Nações Unidas (ONU) para integrar o #TeamHalo, iniciativa que reúne diversos
pesquisadores com o objetivo de promover a divulgação científica sobre a Covid-19 no
TikTok.
• Daniela Trivella: coordena a força-tarefa da Covid-19 do LNBio/CNPEM, que
abrange projetos de estudos estruturais e biofísicos com proteínas do SARS-CoV-2 e
reposicionamento de fármacos contra a Covid-19.
• Nísia Trindade: presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a primeira mulher a
ocupar esse cargo em 120 anos da instituição. A Dra. Nísia lidera as ações da Fiocruz
durante a pandemia, incluindo ensaios clínicos da vacina desenvolvida pela
Universidade de Oxford.