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INTRODUÇÃO

A psicometria ofereceu importantes contribuições para as mais diversas áreas.


No campo da avaliação educacional, principalmente com a teoria de resposta
ao item, permitiu avanços importantes como a comparação de resultados,
mesmo quando utilizados testes distintos e aplicados em populações
diferentes.

É importante ressaltar que, embora isso tenha ocorrido, a teoria clássica dos
testes não foi simplesmente descartada, ela é ainda muito utilizada e diversos
contextos, inclusive o da avaliação, principalmente quando não é possível a
aplicação da teoria de resposta ao item. Na verdade, as duas são na maioria
das vezes complementares e oferecem informações úteis para análise de
instrumentos de medidas educacionais como de seus resultados.

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I – A TEORIA CLÁSSICA DOS TESTES E TEORIA DE RESPOSTA AO ITEM
1.1. Conceito da Teoria Clássica dos Testes

A Teoria Clássica dos Testes (TCT) procura conhecer o comportamento que os


respondentes de um teste apresentam, por meio de seu resultado final, ou seja,
de seu escore total (Maia, 2009). A TCT baseia-se em parâmetros descritivos,
que auxiliam na interpretação da distribuição das respostas de acordo com
cada alternativa. As propriedades psicométricas dos itens de uma prova
relacionam-se aos parâmetros a seguir: índice de dificuldade, índice de
discriminação e correlação bisserial (Borgatto & Andrade, 2012).

O índice de dificuldade analisa o grau de dificuldade de cada item por meio da


porcentagem de acerto. Quanto menor for a porcentagem de acertos, maior
será o grau de dificuldade. O índice de discriminação mede a capacidade de
um item de distinguir os participantes com maior habilidade (27% dos
respondentes com notas mais altas) daqueles com menor habilidade (27% dos
respondentes com notas mais baixas). Corresponde à diferença entre a
proporção de acertos do primeiro grupo (notas mais altas) e a do segundo
grupo (notas mais baixas). Já, o coeficiente de correlação bisserial é uma
medida que de associação entre o desempenho no item e o desempenho na
prova (Borgatto & Andrade, 2012).

1.2.1. Parâmetros dos itens: dificuldade e discriminação

Para a teoria clássica a dificuldade de um item é definida como a proporção de


sujeitos que respondem corretamente ao item (ANDRIOLA, 1998; VIANNA,
1976). A partir disso, um item é mais fácil quando mais pessoas o acertam. Por
isso, esse tipo de item, que a resposta pode ser certa ou errada, ou seja
dicotômica, é utilizado frequentemente em testes de desempenho ou aptidão
em determinada área (PASQUALI, 2009). Por exemplo, um item que apenas
20% dos respondentes o acertam é mais difícil que um item que 80% acertam.

A discriminação, para a teoria clássica, quando entendida no âmbito da


avaliação de desempenho escolar, é definida como a capacidade do item
distinguir sujeitos de desempenho diferentes, ou seja, aqueles de escores altos
em relação àqueles de escores baixos (PASQUALI, 2009; VIANNA, 1976). Este

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parâmetro também indica a coerência do escore do item com o escore do teste,
assim, quanto maior for o índice dos itens, maior será a homogeneidade do
teste (SILVEIRA, 1983). O parâmetro de discriminação de um item pode ser
obtido pela correlação do item com o escore total menos o escore do item
(correlação item-total), que pode ser obtido através da correlação bisserial por
ponto.(PASQUALI, 2009).

Esses parâmetros dos itens podem ser facilmente observados em contextos de


avaliação do ensino e aprendizagem em sala de aula, ou mesmo em
avaliações de larga escola e concursos para seleção de candidatos em
determinada área. A dificuldade dos itens desejável pode variar de acordo com
o objetivo da avaliação. Por exemplo, em contextos de avaliação de sala de
aula, é interessante que os itens apresentem dificuldade média, no entanto, em
contextos de seleção em que há vários candidatos para poucas vagas, é
importante que os itens tenham índice de dificuldade alta, de forma que apenas
os candidatos de alto desempenho consigam acertá-lo. Já a discriminação é
desejável que o item seja o mais discriminativo quando possível.

1.2. Teoria de Resposta ao Item

A Teoria da Resposta ao Item (TRI) é um conjunto de modelos matemáticos


que procuram representar a probabilidade de um indivíduo dar uma certa
resposta como função dos parâmetros do item e da habilidade do
respondente . Esta função especifica que, quanto maior a habilidade, a
probabilidade de uma resposta correta no ítem também é maior (Andrade,
Tavares & Valle, 2000).

A idéia básica da TRI apóia-se em dois postulados fundamentais. O primeiro é


que o desempenho do examinando em um item pode ser predito a partir de um
conjunto de fatores (traços latentes). Outro postulado é de que a relação entre
o desempenho e os traços latentes pode ser descrita por uma função
monotônica crescente, cujo gráfico é chamado de Curva Característica do Item
(Pasquali, 2007).

Segundo (Josemberg, 2010) os vários modelos de TRI dependem


fundamentalmente do número de atributos ou dimensões assumidas (uma ou

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mais); do formato dos itens (por exemplo, múltipla escolha/resposta aberta,
dicotômico/politômico) e do número de parâmetros dos itens a serem
estimados. Na educação prevalecem os modelos logísticos de um, dois e três
parâmetros para itens dicotômicos, que consideram respectivamente: somente
a dificuldade do item; a dificuldade e a discriminação; a dificuldade, a
discriminação e a probabilidade de resposta correta dada por indivíduos de
baixa habilidade (Andrade et al. 2000).

Todavia, antes de empregar os modelos matemáticos da TRI, deve-se


comprovar o cumprimento de dois pressupostos teóricos fundamentais para a
utilização de modelos unidimensionais que são: o critério da
unidimensionalidade e o critério da independência. Para a unidimensionalidade
verifica-se se o teste possui somente um único construto (traço latente). Já no
critério da independência local, as respostas dos participantes aos itens não
devem ser influenciadas pelas respostas fornecidas a outros itens, para
indivíduos com uma mesma habilidade.

1.2.1. Histórico da Teoria de Resposta ao Item

A história da TRI remonta aos anos 1940, quando Frederic Lord e seus colegas
começaram a desenvolver modelos matemáticos para avaliar a habilidade dos
indivíduos em testes padronizados. Lord é frequentemente considerado o pai
da TRI, tendo publicado vários artigos importantes sobre o tema na década de
1950.

Nos anos 1960 e 1970, a TRI começou a se tornar uma abordagem popular na
área de avaliação educacional. Vários modelos de TRI foram desenvolvidos,
incluindo o Modelo de Dois Parâmetros (2PL), o Modelo de Três Parâmetros
(3PL) e o Modelo de Quatro Parâmetros (4PL). Cada modelo de TRI é
projetado para lidar com diferentes tipos de itens e para fornecer informações
específicas sobre a habilidade dos indivíduos.

1.2.2. Modelos da Teoria de Resposta ao Item

A TRI apresenta diferentes modelos, cada um com suas próprias suposições e


propriedades matemáticas. A escolha do modelo de TRI depende do tipo de
item que está sendo avaliado e dos objetivos da avaliação.

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Antes de descrevermos os principais modelos de TRI, precisamos ter em
mente quatro conceitos ou terminologias utilizadas na TRI:

1. Dificuldade (b): refere-se ao nível de habilidade necessário para


responder corretamente ao item. Quanto maior o valor de b, maior é a
dificuldade do item.
2. Discriminação (a): refere-se à capacidade do item de discriminar entre
indivíduos com habilidades diferentes. Quanto maior o valor de a, maior
é a capacidade de discriminação do item.
3. Acerto ao acaso (c): refere-se ao grau de acerto do item pelos
estudantes que não possuem a habilidade necessária para respondê-lo
corretamente. Quanto menor o valor de c, menor é a chance de um
estudante responder corretamente ao item por “chute”.
4. Erros aleatórios (d): também denominado como desatenção, são os
erros em algumas questões por distratores externos.

Modelo de Dois Parâmetros (2PL)

O Modelo de Dois Parâmetros (2PL) é um modelo que leva em consideração a


dificuldade do item e a capacidade do item para discriminar entre indivíduos
com habilidades diferentes. Portanto, o 2PL permite a estimativa da habilidade
do indivíduo e da dificuldade do item.

Modelo de Três Parâmetros (3PL)

O Modelo de Três Parâmetros (3PL) é um modelo que leva em consideração a


dificuldade do item, a capacidade do item para discriminar entre indivíduos com
habilidades diferentes e a probabilidade de acerto ao acaso.

Modelo de Quatro Parâmetros (4PL)

O Modelo de Quatro Parâmetros (4PL) é o modelo mais complexo de TRI e


leva em consideração a dificuldade do item, a capacidade do item para
discriminar entre indivíduos com habilidades diferentes, a probabilidade de
acerto ao acaso e um parâmetro que controla a taxa de acerto no nível superior
da habilidade.

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A seguir vamos ver um exemplo simples, porém didático sobre como a TRI
pode ser aplicada na área da educação.

Suponha que estamos avaliando a habilidade em matemática de um grupo de


estudantes utilizando um teste de múltipla escolha. O teste consiste em 20
itens, cada um com quatro opções de resposta.

Para aplicar a TRI neste teste, precisamos primeiro calibrar os itens. Isso
envolve a administração do teste para um grupo de estudantes representativo e
a análise das respostas para cada item. A análise pode ser realizada com a
ajuda de um software especializado em TRI (por exemplo na Academy
utilizamos o Winsteps e R com pacote IRT), que estima os parâmetros dos
itens.

Suponha que as análises do teste resultaram nos seguintes parâmetros para


um dos itens:

 Dificuldade do item: 0,5


 Discriminação do item: 0,8
 Probabilidade de acerto ao acaso: 0,25

A dificuldade do item indica o nível de habilidade necessário para responder


corretamente ao item. Neste caso, um estudante com uma habilidade de 0,5
tem 50% de chance de responder corretamente a este item.

A discriminação do item indica o quanto o item é capaz de diferenciar entre


estudantes com habilidades diferentes. Neste caso, o item tem uma boa
capacidade de discriminação.

A probabilidade de acerto ao acaso indica a probabilidade de um estudante


acertar o item por acaso. Neste caso, a probabilidade é relativamente baixa.

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CONCLUSÃO

A Teoria Clássica de Teste (TCT), modelo que utiliza o escore total proveniente
de um teste (questionário) para fazer as avaliações, tem sido por muitos anos a
modelagem estatística mais utilizada para avaliar a proficiência de indivíduos.
Esse modelo, muito usado na área da educação procura analisar de tempos
em tempos o desempenho da escola na educação dos alunos, e dessa forma
obter informações que possam conduzir a uma orientação eficiente durante o
processo educacional. Esse método possui suas limitações,pois não identifica
os itens que captam melhor a habilidade do respondente. Muitas vezes
questões que exigem mais conhecimento tem o mesmo valor de questões que
exigem menos.Neste cenário surgiu o modelo chamado Teoria de Resposta ao
Item (TRI), que solucionou alguns dos problemas encontrados na TCT.

Além da área educacional, a TRI também vem sendo muito utilizada na área
psiquiátrica, onde a “habilidade do indivíduo” é interpretada como “traço latente
do indivíduo” e a resposta que o sujeito dá ao item depende do nível que ele
possui no traço latente. Alguns artigos mostram essa teoria nessa área de
aplicação. Um tema que também tem sido abordado pela TRI é o transtorno do
déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), esse transtorno é um dos muitos
estudados no campo da psiquiatria infantil e que frequentemente persistem na
idade adulta.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

 ANDRIOLA, Wagner Bandeira. Psicometria Moderna:características e


tendências. Estudos em Avaliação Educacional, v. 20, n. 43, p. 319,
2009. DOI: https://doi.org/10.18222/eae204320092052
 ANDRIOLA, Waner Bandeira. Avaliação da aprendizagem: uma análise
descritiva segundo a teoria de resposta ao item (TRI). Educação em
Debate, v. 20, n. 36, p. 93–102, 1998.
 Borgatto, A. & Andrade, D. (2012) Análise Clássica de Testes com
diferentes graus de dificuldade. Estudos em Avaliação Educacional, São
Paulo, 23 (52), 146-156.
 Josemberg, M.(2010). O uso da teoria de resposta ao item em
avaliações educacionais: diretrizes para pesquisadores, 9 (3), 421-435.
 Maia, J. (2009). Uso da Teoria Clássica dos Testes e da Teoria de
Resposta ao Item na Avaliação da Qualidade Métrica de Testes de
Seleção. Programa de Pósgraduação em Educação Brasileira.
Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Brasil.
 Para se aprofundar nessa teoria sugerimos as referências dos livros:
Embretson, S. E., & Reise, S. P. (2013). Item response theory.
Psychology Press. e o outro de Hambleton, R. K., Swaminathan, H., &
Rogers, H. J. (1991). Fundamentals of item response theory (Vol. 1).
Sage.
 Pasquali, L. (2007). Teoria de resposta ao item: teoria, procedimentos e
aplicações. Brasília: LabPAM/UnB.
 PASQUALI, Luiz. Psicometria: teoria dos testes na psicologia e na
educação. 3. ed. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2009.
 SILVEIRA, Fernado Lang da. Consideraçóes sobre o índice de
discriminação de itens em testes educacionais. Educação & Seleção, v.
7, 1983.
 Valle, R. (2000) Teoria da Resposta ao Item. Estudos em Avaliação
Educacional, 21,7- 88.

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