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ANÁLISE DE ITENS:

Os itens são representações do nosso comportamento ou traço


latente e vale ressaltar que, em Psicologia, esses comportamentos,
respostas a tarefas determinadas e atividades representativas do traço
latente, são de fato os únicos passíveis de medição.

A análise de itens possui duas vias: a análise teórica e a análise


empírica.
A análise teórica diz respeito àquela realizada em um primeiro
momento por juízes, os quais devem ter conhecimentos avançados
tanto em psicometria quanto acerca daquele constructo que desejam
avaliar.
A função destes juízes é analisar se os itens em questão são
compreensíveis, de fato, a quem fará o teste. Esta etapa, chamada
particularmente de análise semântica, também pode ser avaliada por
juízes da população.
Tal análise semântica ocorre a partir da análise dos extremos, ou
seja, dos resultados mais baixo e mais alto – o que, além de avaliar se o
teste é compreensível a todos, também ajuda a evitar situações em que
o teste pareça inferior à capacidade de determinados indivíduos, o que
acarretaria um sentimento de desmerecimento, por exemplo. Em outras
palavras, evitaria que tais indivíduos considerassem o teste muito
aquém de sua capacidade.
Um outro aspecto fundamental da análise de itens é avaliar
justamente a pertinência do item ao que se deseja medir. Esta etapa
deve ser feita por juízes técnicos (também chamados ‘juízes de
conteúdo’).
Os juízes de conteúdo têm o papel de analisar se o conteúdo dos
itens está adequado ao constructo a ser mensurado, de modo que é
fundamental que estes julgadores sejam especializados no traço latente
em questão.
A análise empírica, por sua vez, complementa a análise teórica à
medida que se apóia nos parâmetros que os itens precisam ter para que
sejam considerados adequados ao que se propõem mensurar.
Feita com base nos dados coletados e aplicações realizadas sobre
a população em questão, ou seja, de acordo com informações de uma
amostra daquela população, a análise empírica se calca nos seguintes
parâmetros:

 Unidimensionalidade:
Indaga-se se o teste mede, de fato, apenas o que se propõe a
medir;
 Dificuldade dos Itens (ID = índice de dificuldade):
- Na Teoria Clássica dos Testes (TCT), o índice de dificuldade
depende da amostra, sendo caracterizado pela percentagem de sujeitos
que respondem corretamente.
Em testes cujas alternativas se dão no modo Certo/Errado, o ID se
calcula dividindo os acertos pelo número total de questionamentos, mas
em testes cujas opções de respostas são várias (como testes de aptidão
e personalidade), usa-se uma outra forma de cálculo – a qual também
considera possíveis vieses de erro.
O resultado do ID é um número que afirma o quão difícil é o item,
de modo que seja possível, posteriormente, definir o grau de dificuldade
com o qual se vai trabalhar; e, também, a ordem em que esses itens –
caso possuam dificuldade heterogênea – vão se apresentar no
instrumento. Há casos em que se conclui que tal item não possui
nenhum grau de dificuldade e, nesses casos, pode-se usá-lo como treino
de tarefa, ou seja, para ensinar o sujeito a realizar tal teste.
- Na Teoria de Resposta (TRI) ao Item, ao contrário, a dificuldade
independe da amostra, de modo que os itens sejam analisados em sua
relação com o traço latente em questão. Dito de outra forma, a
dificuldade é, então, proporcional ao tamanho do traço latente
necessário para que determinado item seja realizado.
O índice de dificuldade para a TRI é o “Parâmetro b”, definido pela
reta perpendicular sobre a abscissa que cruza a curva de CCI (ou seja, a
Curva Característica do Item) no momento da inflexão;

 Discriminação:
A discriminação é a capacidade de diferenciar aqueles sujeitos que
obtiveram escores altos no teste daqueles que obtiveram escores baixos
e se identifica como “Parâmetro a”.
- Na TCT o teste é avaliado em sua totalidade, havendo a
comparação do resultado de um indivíduo naquele item em relação ao
resultado do restante dos sujeitos que também fizeram o teste. O índice
de poder discriminativo (IPD) é encontrado através do cálculo da
correlação bi-serial dos pontos no gráfico. Sem entrar muito em
detalhes, cabe salientar que quanto mais discriminativo for um tal item,
mais positivo tende a ser seu IPD.
- Já na TRI, o índice de discriminação se refere à capacidade de
avaliar sujeitos cujas magnitudes são diferentes do traço avaliado pelo
teste, de modo que quanto maior a magnitude, mais discriminativo o
item será.
Este cálculo é feito pelo algoritmo da função da CCI, de acordo
com o ângulo de incidência dessa curva no momento da inflexão;
 Vieses:
Os vieses de erro consideram aquelas respostas que podem não
representar a realidade do sujeito, ou seja, podem ser respostas
marcadas aleatoriamente ou mesmo “forjadas” (no sentido de se
responder pensando nos benefícios que tal resposta traria no resultado
do teste, ainda que não corresponda à verdade). Ou seja, os vieses se
explicam pela invalidez ou erro presente, o que gera distorções nos
resultados dos testes.
Por exemplo, a TRI possui uma forma particular de calcular a
possibilidade de respostas dadas aleatoriamente (“chutes”): considera-
se ‘chute’ quando a curva de CCI se inicia acima do ponto zero, no eixo
das ordenadas (Y). A constatação de chute afeta a confiabilidade do
item.

 Validade:
Este ponto será ressaltado mais adiante, mas se refere à
indagação de se o teste mede, de fato, o que se propõe a medir.

 Precisão ou Fidedignidade:
Este é mais um ponto que será ressaltado mais adiante, mas se
refere à indagação de se o teste, como um instrumento, é preciso.

NORMAS:

A norma é construída empiricamente, a partir dos resultados da


amostra representativa na etapa de construção do instrumento de teste,
indicando a posição do indivíduo testado na distribuição. Sua
importância, portanto, é que permite uma comparação do indivíduo com
outras pessoas.
Em outras palavras, tais normas fornecem um ponto de referência
ao qual se podem fazer comparações e, assim, chegar a uma conclusão
confiável sobre os testes psicológicos aplicados. No entanto, é
necessário que as normas do teste estejam baseadas em uma amostra
de pessoas cujas características se assemelham aos testados, para que
não ocorra uma supervalorização nem subestimação da capacidade dos
sujeitos.
Assim, as normas de interpretação transformam o resultado bruto
do teste em graus elaborados, estabelecendo um intervalo fixo que
possa fornecer a posição do indivíduo em relação ao grupo normativo.
São dois tipos de normas. Nas normas de idade, o critério de
transformação dos graus brutos é a idade mental ou o quociente de
inteligência dos sujeitos. Nas normas de escore-padrão, o resultado
bruto individual é comparado à média do grupo, tendo como base a
média e o desvio padrão da distribuição, de acordo com transformações
lineares ou não lineares.

 Normas de Idade:
- A idade mental está baseada na hipótese de que à medida que
aumenta a idade cronológica, aumenta o nível de inteligência. A partir
desta compreensão, o sistema de normas em questão compara o
resultado do indivíduo em termos de idade mental com sua idade
cronológica. A média representativa de uma idade X é tirada a partir da
aplicação de testes em sujeitos com aquela idade cronológica, cujos
erros e acertos serão considerados representativos da idade – deste
modo são construídas escalas de desenvolvimento por níveis de idade.
Assim, é possível comparar resultados individuais a essa escala, fazendo
a correspondência daqueles resultados a uma certa idade.
No entanto, este tipo de norma se limita no momento em que a
idade na escala vai avançando, pois, por exemplo, o ritmo de
desenvolvimento vai se modificando de acordo com o avanço da idade –
sendo, por exemplo, mais rápido nos primeiros anos de vida. Mas,
embora haja impasses, o critério da idade mental é utilizado.
- O sistema de medida por quociente de inteligência tenta
compensar as limitações do critério pela idade mental, indicando o
índice de crescimento médio de uma determinada criança através de
uma fórmula que se dá pela divisão da Idade mental pela idade
cronológica e pela multiplicação do resultado por 100. Esta fórmula
implica no estabelecimento de uma unidade da idade mental.
Um ponto relevante é que quando o desvio padrão das idades
mentais aumenta proporcionalmente à idade cronológica, o quociente de
inteligência dos indivíduos se mantém constante, de modo que se não
há crescimento da idade mental nas idades cronológicas, o quociente de
inteligência não representa o mesmo grau – superior, normal, inferior –
adequadamente. Uma limitação desde sistema é que deveria apresentar
valores de médias e desvios padrões referentes a cada idade, o que não
ocorre; além disso, embora tente eliminar a questão da idade, ao
mesmo tempo necessita da idade para fornecer o quociente de
inteligência. Por fim, mais um ponto é que o quociente individual
representa a quantos desvios padrões o indivíduo está acima ou abaixo
da média, mas não considerando uma escala de razão que possua zero
absoluto.

 Normas de Escore-Padrão:
As normas de escore-padrão também comparam os resultados
brutos dos testes individuais com a média e o desvio padrão da
distribuição. Os escores-padrão podem ser obtidos, conforme já citado,
por transformações lineares ou não lineares, ambas objetivando
normalizar a distribuição de dados.
- As transformações lineares também são chamadas de Escores-
padrão Não Normatizados, implicando em notas-padrão não tão
confiáveis quanto às normalizadas. Embora haja modificação da média e
do desvio-padrão, não modificam a forma da distribuição, de forma de
que os indivíduos se mantenham na mesma posição relativa.
Um tipo de transformação linear é a Tetronagem, que utiliza a
média zero e o desvio padrão relativo a ¼ da distribuição de escores
brutos – ou seja, dividindo o desvio padrão em quatro partes. Mais um
tipo é o Desvio Reduzido ou Escore Z, calculado pela diferença entre
‘escore bruto individual’ e ‘média do grupo normativo’ e pela sua
posterior divisão pela diferença do desvio padrão da distribuição. Ambos
os sistemas citados permitem resultados de escores negativos, sendo,
por isso, problemáticos quando a curva em questão não é simétrica,
dificultando a interpretação dos dados – este problema não ocorre no
terceiro tipo de transformação linear: a Nota Derivada ou Nota Z.
- Quando as distribuições de escores originais são transformados
em distribuições normais, com média e desvio padrão arbitrários, a
forma da distribuição se modifica. É o que ocorre nas transformações
não-lineares ou normalizadas, as quais são muito utilizadas por
facilitarem a interpretação dos testes, embora os escores brutos nunca
serem de fato normais.
O modo do Percentil divide a distribuição em 100 partes iguais,
embora não exista percentil zero nem 100, e utiliza o dado bruto. A
vantagem do Percentil é que, além de simples por apenas fixar normas
para um grupo e considerar a equivalência de cada pessoa em termos
de percentil, é de fácil cálculo e interpretação. Seu resultado é universal
e, por isso, pode ser comparado a qualquer outro teste o qual tenha
sido normalizado da mesma maneira, também permitindo a comparação
de diferentes indivíduos expostos ao mesmo teste. No entanto, não
permite o cálculo da média e do desvio padrão, já que é uma escala
ordinal que não possui valor constante.
A Ordem Percentílica de um escore, outro modo de transformação
não linear, emprega uma percentagem correspondente ao ponto médio,
ou seja, de acordo com elementos de um grupo que possui resultados
iguais ou inferiores a um resultado dado. Mais uma outra forma é o
Estanino, escala dividida em 9 faixas, não utiliza números altos e que
permite encontrar a posição do sujeito no grupo assim que se conhece o
seu escore. Por último, o Esteno se mostra um modo mais exato por
dividir a distribuição em dez partes; e, assim como no Estanino, no
Esteno se calcula o percentual de cada parte, adicionando cada área da
curva normal com a seguinte.
- Há, por fim, o que se chama de transformação mista, que
contém ambas as transformações anteriores. A Nota T visa comparar
indivíduos, a partir da normalização de uma distribuição de dados
brutos; os Escores Centróides são uma distribuição por pontos, de
acordo com a proximidade ou afastamento dos escores em relação à
média em termos qualitativos, usados para selecionar sujeitos que se
sejam mais adequados a um determinado perfil.

CONCLUSÃO:

Em suma, para se fazer psicometria e determinar a posição de um


indivíduo com referência à amostra da padronização, tanto o escore
bruto quanto a análise que se faz sobre eles. E é justamente por este
motivo que as normas e sua aplicação aos escores dos testes são tão
importantes que, sem estes dados interpretativos, os escores brutos não
possuiriam nenhum valor.
Fica clara também a importância de uma análise de itens
adequada e consciente, assim como a compreensão de todos os seus
aspectos para a certificação da validade, fidedignidade, enfim, da
confiabilidade do teste e da interpretação que se tem dele.
Mais do que necessária, também é fundamental que se esteja
atento às condições de aplicação dos testes, em prol de uma
padronização eficaz e justa. Para uma psicometria bem aplicada, tanto
as condições anteriores quanto as posteriores à aplicação do teste
merecem total cuidado na manipulação.

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